Fundamentos Da Matemática
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Crditos: 04
Ementa
O Mtodo Axiomtico, Conjuntos, Conjuntos Parcialmente Ordenados, Axioma da Escolha e
Aplicaes, Nmeros Naturais, Nmeros Cardinais.
Descrio
Esta disciplina tem como objetivo levar o aluno a compreender os axiomas da Teoria dos Conjuntos,
segundo Zermelo-Fraenkel, a ponto de aplic-los em diferentes contextos tais como o axioma da escolha,
modelagem de situaes-problema envolvendo o princpio do mximo de Hausdorff, Lema de Zorn,
conjuntos bem ordenados, construo dos nmeros naturais, nmeros cardinais.
O programa da disciplina divide-se em seis unidades, das quais a primeira responsvel pela
introduo do mtodo axiomtico e resultados utilizados em todo o texto. Em cada estudo especfico, buscase a caracterizao do objeto por meio de propriedades que possibilitem ao estudante estabelecer
correspondncias entre determinadas situaes-problema da vida real e a espcie de funo focalizada,
objetivando sua utilizao na construo de uma traduo matemtica da respectiva situao.
Objetivos
Uniformizar o conhecimento da Teoria dos Conjuntos via mtodos axiomticos e aplicar os mesmos
ao estudo dos conjuntos, axioma da escolha e nmeros. Assim, servir como ferramenta importante em outras
disciplinas tais como lgebra, Anlise e Equaes Diferenciais. Alm disso, tem como finalidade
desenvolver habilidades e atitudes no aluno que lhe permitam acompanhar e se adaptar ao desenvolvimento
no mbito da educao, cincia e tecnologia.
Objetivos Especficos
Ao final do curso, espera-se que o aluno esteja apto a:
Construir os axiomas da Teoria dos Conjuntos, compreender as suas diferentes representaes e
aplic-los a problemas relacionados;
Construir o conceito de relao de ordem, ter ideia clara das suas diferentes representaes e
aplic-lo a problemas relacionados;
Interpretar o Axioma da Escolha e utiliz-lo nas aplicaes;
Compreender o conceito de nmeros naturais;
Construir via o mtodo axiomtico o conjunto dos nmeros naturais;
Ler, interpretar e comunicar ideias matemticas.
Conhecimentos Prvios
Noes Bsicas de Conjuntos, Relaes e Funes, Conjuntos Enumerveis e No-Enumerveis.
Unidade I
O Mtodo Axiomtico
Introduo Histrica
O Mtodo Axiomtico
Caractersticas de um Sistema de Axiomas
Independncia de um Sistema de Axiomas
Unidade II
Conjuntos
Introduo Histrica
Conjunto
Grfico e Famlias
Funes
Unidade III
Ordem
Isomorfismos
Elementos Notveis e Dualidade
Conjuntos Bem Ordenados
Unidade IV
Axioma da Escolha
Aplicaes, Princpio do Mximo de Hausdorff e Lema de Zorn
Princpio da Boa Ordenao
Unidade V
Nmeros Naturais
Nmeros Naturais
Aritmticas dos Nmeros Naturais
Unidade VI
Nmeros Cardinais
Conjuntos Equipotentes
Nmeros Cardinais
Aritmticas dos Nmeros Cardinais
2. Problematizando a Temtica
No nosso dia-a-dia, os axiomas e postulados aparecem com mais frequncia na Geometria Plana.
Considere, por exemplo,
Se uma linha reta intercepta duas outras linhas retas formando ngulos interiores no mesmo lado
menor do que dois ngulos retos, as duas linhas retas, se prolongadas indefinidamente se interceptaro no
lado em que a soma menor que dois ngulos retos.
Este e outros axiomas da Geometria Plana sero tratados nesta unidade.
3. Conhecendo a Temtica
3.1 Introduo Histrica
Nesta seo apresentaremos um pouco da histria do surgimento do mtodo axiomtico na
matemtica. O leitor interessado em mais detalhes pode consultar Wilder, R. L., [6].
Nos textos de Geometria Plana, visto no ensino fundamental, encontramos dois grupos fundamentais
de afirmaes, um chamado de axiomas e outro chamado de postulados. Formalmente:
Um axioma uma afirmao que dispensa explicao, ou seja, uma verdade universal.
1.
2.
3.
Exemplo 1.1.
O todo maior do que cada uma de suas partes.
O todo a soma de suas partes.
Coisas iguais a uma outra coisa so iguais entre si.
Um postulado um fato geomtrico simples e bvio que podemos supor sua validade.
1.
2.
3.
P.
Exemplo 1.2.
Dois pontos distintos determinam uma e somente uma reta.
Uma reta pode ser estendida indefinidamente.
Se r uma reta e P um ponto fora de r, ento existe uma nica reta s paralela reta r e passando por
Um teorema uma verdade que no se torna evidente seno por meio de uma prova.
E5 - Se uma linha reta intercepta duas outras linhas retas formando ngulos interiores no mesmo
lado menor do que dois ngulos retos, as duas linhas retas, se prolongadas indefinidamente se interceptaro
no lado em que a soma menor que dois ngulos retos.
Proclus (Proclus Lycaeus, 412-485, d. C, filsofo grego) descreveu a controvrsia que estava se
formando com relao a esse postulado mesmo nessa poca, sendo ele prprio a favor da eliminao do
postulado por classific-lo de ingnuo, plausvel e sem carter de necessidade lgica.
No perodo Renascentista inciou-se novo perodo de controvrcias com relao ao quinto postulado a
partir dos outros postulados, ou seja, domonstr-lo a partir dos outros postulados e axiomas da geometria
usando princpios da lgica.
Duas retas distintas r e s, em Geometria Plana, so chamadas de paralelas se elas no se
interceptam, isto , r s = . Assim, atualmente, o quinto postulado de Euclides enunciado como:
E5 - Dada uma reta r e um ponto P fora de r, existe uma e somente uma reta s que contm P e
parelela reta r.
1.
( x + y ) 2 = x 2 + xy + yx + y 2 ,
com x e y representando qualquer objeto (nmero, matriz, etc.) de um certo conjunto especificado.
2. Note que o axioma E1 estabelece uma relao entre os termos indefinidos ponto e reta.
3. Vamos provar, com um exemplo, que o sistema de axiomas S no adequado para a Geometria
Plana. Seja C um cidade com duas bibliotecas distintas
C = {b1 , b2 },
Em que os termos indefinidos so: livro = ponto e biblioteca = reta. Note que, o axioma E3 no
satisfeito, enquanto os outros o so.
4. Seja Z uma comunidade (um tetraedro) formada de quatro pessoas ( vrtices)
Z = {a, b, c, d }
r s , com r s = {P} .
(Q r e Q s) ou (Q r e Q s ).
Se Q r , o Teorema est provado. Se Q s , ento, pelo axioma E4 existe um ponto R fora de s. Assim,
temos duas possibilidades: se R r , o Teorema est provado. Se R r , ento, pelo axioma E5 existe uma
que contradiz o axioma E5 . Seja X r t . Ento X distinto de P, pois P t . Portanto, r contm pelo
menos dois pontos P e X.
(r , P, Q,) bem como, seus significados de maneira mais fcil. No obstante, nenhum significado especial
foi dado aos termos ponto e reta, e, consequentemente, so vlidas se substituirmos pessoas por pontos e
duas pessoas por reta. Alm disso, claro que no provamos acima todos os teoremas possveis.
Finalizaremos esta seo apresentado mais um exemplo de sistema de axiomas para definirmos um
corpo.
Exemplo 2.9. O sistema axiomas F formado por um conjunto no vazio K de objetos (estruturas
algbricas).
Termos indefinidos: Elementos.
O conjunto K munido com duas operaes binrias:
+:KK K
( a, b) a + b
: K K K
(a, b) a b,
F3
F4
F5
F6
F7
F8
Portanto, a 0 = 0.
q
V
F
V
F
pq
V
F
F
V
(-p) q
V
F
V
V
Seja um sistema de axiomas. Diremos que satisfatrio se ele admitir uma interpretao.
Toda (,I)-proposio, tal que a correspondente -proposio implicada por , verdadeira para
M(I).
II.
(,I)-proposies contraditrias no podem ser ambas verdadeiras para M(I).
Teorema 3.10. Seja um sistema de axiomas. Se satisfatrio, ento ele consistente.
Prova. Suponhamos, por absurdo, que seja inconsistente. Ento existem duas -proposies contraditrias
em . Logo, pelo princpio (I), essas proposies podem ser vistas como (,I)-proposies e so ambas
verdadeiras para M(I), o que contradiz o princpio (II). Portanto, um sistema consistente.
( Aj ) + ( Aj ), j = 1, , n,
for satisfatrio.
10
Aj satisfaz necessariamente Aj (prove isso!). Portanto, no podemos achar uma interpretao para
Aj , que no seja interpretao de Aj .
Exemplo 3.14. O axioma E5 do sistema de axiomas S da Observao 2.2 independente.
Soluo. Seja E6 o seguinte axioma: existe uma reta r e um ponto P fora de r tal que no existe nenhuma
reta s contendo P e paralela reta r.
Afirmao. E6 = E5 e (S - E6 ) + ( E6 ) um sistema de axiomas satisfatrio.
De fato, seja T o conjunto dos vrtices de um tringulo equiltero, onde vrtice = ponto e aresta = reta.
Ento T uma interpretao para (S - E6 ) + ( E6 ) . Portanto, (S - E6 ) + ( E6 ) um sistema de axiomas
satisfatrio e E5 independente em S.
F9 independente em F.
a + b = [0 + (a + b)] + 0 = ( a) + [a + (a + b) + b] + (b)
= (a ) + [a + (b + a) + b] + (b) = [0 + (b + a)] + 0 = b + a,
Sabemos que com o sistema axiomas S no podemos provar todos os teoremas da Geometria Plana
(Euclidiana). Na realidade vimos uma interpretao para o sistema S com apenas um nmero finito de
pontos. claro que isto no deveria ocorrer se fosse um sistema adequado para o estudo da Geometria Plana.
Agora, vamos iniciar a noo de completividade de um sistema de axiomas, com a ideia de serem os
axiomas desses sistemas suficientes para provarmos todos os teoremas, podemos afirmar que se
encontrarmos um teorema tal que, tanto ele como sua negao no podem ser provados no sistema, ento
esse teorema um candidato a um novo axioma do sistema.
Seja um sistema de axiomas. Diremos que independente se todos os axiomas de o so.
Exemplo 3.17. O sistema axiomas F do exemplo 2.9 no independente.
Seja um sistema de axiomas. Diremos que completo se no existir uma -proposio p tal que
11
: M ( I1 ) M ( I 2 )
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12
Unidade II
Conjuntos
1. Situando a Temtica
A teoria avanada dos conjuntos foi desenvolvida por volta do ano 1872 por Cantor (Georg
Cantor, 1845-1918, matemtico alemo) e aperfeioada no incio do sculo XX por outros
matemticos, entre eles, Zermelo (Ernst Zermelo, 1871-1956, matemtico alemo), Skolem (Thoralf
Albert Skolem, 1887-1963, matemtico noruegus), Fraenkel (Adolf Fraenkel, 1891-1965, matemtico
alemo), Gdel (Kurt Gdel, 1906-1978, matemtico austraco), von Neumann (John von Neumann,
1903-1957, matemtico hngaro), entre outros.
O que se estuda deste assunto no ensino fundamental, to somente uma introduo
elementar teoria dos conjuntos, base para o desenvolvimento de temas futuros, a exemplo de
relaes, funes, anlise combinatria, probabilidades, etc.
Nesta unidade vamos nos dedicar ao estudo dos conjuntos via mtodo axiomtico.
2. Problematizando a Temtica
comum na Teoria dos Conjuntos, se ouvirem frases como:
(...) um conjunto qualquer coleo, dentro de um todo de objetos definidos e distinguveis,
chamados de elementos ou membros, de nossa intuio ou pensamento.
G. Cantor (1895).
(...) por conjunto nada mais do que um objeto do qual se sabe no mais e quer-se saber no mais
do que aquilo que se segue dos postulados.
J. von Neumann (1928).
Esta e outras afirmaes sobre definies de conjuntos vo ser contornadas via mtodo axiomtico,
em que conjunto um termo indefinido.
3. Conhecendo a Temtica
3.1 Introduo Histrica
importante observar que o matemtico usa a palavra definio em um sentido diferente daquele
do dicionrio, ou seja, quando um matemtico d uma definio, pretende-se que no ser um mero
sinnimo que o leitor possa saber o significado, mas um critrio para identificao; uma caracterizao da
coisa definida.
Um paradoxo ou antinomia uma contradio entre duas proposies ou princpios. Tomando
uma abordagem informal ou ingnua que qualquer coleo de objetos um conjunto, podem ocorrer os
seguintes fatos:
1)
2)
3)
4)
R = { A C : A A} .
13
Ento:
1. R R .
2. R R .
Soluo. (1) R R impossvel, pois se R R , ento, por definio, R R , o que uma contradio. (2)
R R impossvel, pois se R R , ento, por definio, R R , o que uma contradio. Portanto,
RR RR ,
o que contradiz o princpio do terceiro excludo.
x0 T .
2.
x0 T .
Soluo. Suponhamos que as palavras da lngua portuguesa estejam catalogadas em um dicionrio. Ento T
finito, pois um dicionrio contm apenas um nmero finito de palavras e o nmero de frases envolvendo
menos de vinte palavras finito. Assim, existem inteiros positivos que so maiores do que todos os outros
inteiros positivos de T. Portanto, existe um menor inteiro positivo x0 que maior do que todos os inteiros
positivos de T. Ento x0 T . Por outro lado, como x0 = menor inteiro positivo que no pode ser
descrito por uma frase com menos de vinte palavras da lngua portuguesa (19 palavras) temos que
x0 T , o que contradiz o princpio do terceiro excludo.
Com o surgimento dos paradoxos houve muita controvrsia por parte dos matemticos da poca.
Mas, com o trabalho de Dedekind (Julius Wilhelm Richard Dedekind, 1831-1916, matemtico alemo) em
1888 mostrando que os nossos nmeros naturais podem ser construdos por meio da teoria elementar dos
conjuntos:
0 = , 1 = {}, 2 = {,{}}, ,
a teoria passou a ser aceita.
Enunciaram-se, em 1905, vrias correntes para contornar os paradoxos, as quais podemos classificar
em trs grupos: Axiomtico, Logicista e Intuicionista.
A primeira axiomatizao da Teoria dos Conjuntos foi dada por Zermelo em 1908, com certas
modificaes em 1922 devidas a Skolem e Fraenkel. No sistema de axiomas ZF os termos indefinidos e
relaes indefinidas so: Conjunto e Pertinncia.
3.2 Conjuntos
Embora a ideia intuitiva de conjunto dada, no curso de Matemtica Elementar, seja suficiente para
os nossos propsitos, uma exposio geral da Teoria dos Conjuntos requer mais preciso, pois a no
axiomatizao da Teoria dos Conjuntos nos leva a vrias contradies. Sendo assim, nesta seo iniciaremos
o estudo formal da Teoria dos Conjuntos segundo Zermelo-Fraenkel.
Intuitivamente um conjunto uma coleo de objetos A tal que dado qualquer objeto X possvel
determinar se X A ou se X A .
As letras a,b,c, sero usadas somente para indicar elementos e A, B, C, elementos ou conjuntos.
Assim, se x um conjunto e existe um conjunto A tal que x A , diremos que x um elemento. Alm disso,
uma sentena do tipo
x y z : p ( x, y , z ) .
L-se para cada x existe um y tal que, para cada z, p(x,y,z) verdadeira, sua negao
x y z : p ( x, y , z ) .
L-se existe um x para cada y tal que, existe z, p(x,y,z) falsa. Note que na negao mantivemos a ordem
das variveis.
14
Sejam A e B dois conjuntos. Diremos que A e B so iguais se, e somente se, eles tm os mesmos
elementos. Em smbolos,
A = B x [ x A x B e x B x A] .
Esta definio implica a seguinte propriedade:
[ x A e A = B] x B .
Essa propriedade nosso primeiro axioma.
1.
2.
3.
4.
5.
6.
A= A.
A= B B = A.
A= B eB=C A=C.
A A.
A B e B A A= B
A B e BC AC .
A = B x [ x A x B e x B x A]
B = C x [ x B x C e x C x B] .
x [x A x C] A C .
x [ x C x A] C A .
Portanto, A = C .
ZF2 - Axioma da construo de conjuntos. Seja P(x) uma propriedade ou uma afirmao com relao a
x, a qual pode ser expressa inteiramente em termos dos smbolos
Ento existe um conjunto C que consiste de todos os elementos x que satisfazem P(x) e denotaremos por
C = {x : P( x)}
1.
2.
3.
Observao 2.2.
O axioma ZF2 tambm conhecido como Axioma da separao, Axioma da compreenso, ou ainda,
Axioma de especificao. Esse axioma na verdade uma famlia de axiomas, pois para cada
propriedade P(x) temos um axioma.
Note que o axioma ZF1 , garante que o conjunto C unicamente determinado, pois se D o conjunto de
todos os elementos x que satisfazem P(x), ento qualquer elemento de C um elemento de D e viceversa. Portanto, C = D .
Em geral, a propriedade P(x) uma frmula.
15
4.
5.
O axioma ZF2 nos permite formar o conjunto de todos os elementos x que satisfazem P(x), mas no
o conjunto de todas os conjuntos x que satisfazem P(x). Assim, eliminamos todos os paradoxos
lgicos.
O axioma ZF2 admite somente as afirmaes P(x) que podem ser escritas inteiramente em forma de
smbolos
x [ x A x B] ,
uma afirmao verdadeira, pois uma implicao com um antecedente falso (confira Exemplo 3.5 da
unidade I). De modo inteiramente anlogo, prova-se a outra incluso.
Sejam A e B dois conjuntos. Diremos que A e B so disjuntos se eles no tm elementos em comum.
Em smbolos,
A B = .
O complementar de A o conjunto de todos os elementos que no pertencem a A. Em smbolos,
A = {x : x A} .
Assim,
x [ x A x A] .
A diferena de A e B o conjunto de todos os elementos de A que no pertencem a B. Em smbolos,
A B = {x : x A e x B} .
Assim,
x [ x A B x A e x B] .
Note que A B = A B e, pelo axioma ZF2 , o conjunto A B est bem definido.
instrutivo observar que o relacionamento entre os conjuntos pode ser representado graficamente
por meio de uma linha fechada e no entrelaada, quando a linha fechada um crculo, chamaremos de
diagrama de Venn.
Teorema 2.5. Sejam A, B e C trs conjuntos. Ento:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
A e AU .
A A B e B A B .
A B A e A B B ,
A B A B = B A B = A
A ( A B) = A e A ( A B) = A .
( A B) = A B e ( A B) = A B . (Lei de De Morgan)
A ( B C ) = ( A B) C e A ( B C ) = A B C
16
x [ x ( A B) x ( A B) x A ou x B x A e x B x ( A B )] ,
{a} = {x : x = a} .
Assim, a o nico elemento do conjunto {a} .
Sejam a e b elementos. Ento, pelo axioma ZF2 , obtemos o conjunto
{a, b} = {x : x = a ou x = b} .
De modo inteiramente anlogo, obtemos os conjuntos
1.
Observao 3.1
O axioma ZF3 equivalente a: dados dois conjuntos quaisquer existe um conjunto ao qual eles
pertencem. Mais precisamente, dados dois conjuntos quaisq uer A e B, existe um conjunto C tal que
2.
x [ x C x = A ou x = B]
claro que {a, a} = {a} . Assim, fazendo a = b no axioma ZF3 , obtemos se a um elemento, ento
{a} um elemento, ou seja, existem conjuntos unitrios. Em particular, e {} so conjuntos
3.
4.
17
1.
2.
3.
A ( B C ) = ( A B) ( A C ) .
A ( B C ) = ( A B) ( A C ) .
( A B) (C D) = ( A C ) ( B D) .
( x, y ) [( x, y ) ( A B) (C D) ( x, y ) A B e ( x, y ) C D
( x A e y B) e ( x C e y D)
( x A e x C ) e ( y B e y D)
x A C e y B D ( x, y ) ( A C ) ( B D)],
G H = {( x, y ) : z tal que ( x, z ) H e ( z , y ) G} .
1.
2.
3.
4.
5.
G ( H J ) = (G H ) J .
(G 1 ) 1 = G .
(G H ) 1 = H 1 G 1 .
Dom(G ) = Im(G 1 ) e Im(G ) = Dom(G 1 ) .
Dom(G H ) Dom( H ) e Im(G H ) Im(G ) .
( x, y ) [( x, y ) (G H ) 1 ( y, x) G H z tal que ( y, z ) H e ( z , x) G
z tal que ( x, z ) G 1 e ( z , y ) H 1 ( x, y ) H 1 G 1 ],
{ A i }iI = { A i : i I } ,
18
chama-se famlia de conjuntos (indexada), e I chama-se conjunto de ndices para a famlia. Observe que
qualquer conjunto C cujos elementos so conjuntos pode ser convertido para uma famlia de conjuntos pelo
autondice, ou seja, usaremos o conjunto C ele prprio como conjunto de ndices e associaremos a cada
elemento do conjunto o conjunto que o representa. Em smbolos,
{ A}AC = { A : A C} .
Note que a famlia de conjuntos
pode ser considerada como uma famlia de conjuntos indexada pelo conjunto dos nmeros naturais N , em
que A n = {2n 1, 2n} , para todo n N . Portanto,
{ A n }nN = { A n : n N}
Observao 3.7. Formalmente, uma famlia { A i }iI um grfico G, cujo Dom(G ) = I e
A i = {x : (i, x) G} .
Exemplo 3.8. Se I = {1, 2} , A 1 = {a, b} e A 2 = {c, d } , ento
ou ainda,
iI
iI
A i = {x : i I , com x A i } ,
A i = {x : x A i , para algum i I } .
A interseo dos conjuntos A i o conjunto de todos os elementos que pertencem a todas os conjuntos A i
da famlia. Em smbolos,
ou ainda,
iI
iI
A i = {x : i I , x A i } ,
A i = {x : x A i , para todo i I } .
AC
A = {x : x A, para algum A C}
um conjunto.
Observao 3.10. Sejam A e B dois conjuntos. Ento, pelo axioma ZF3 , { A, B} um conjunto.
Assim, por definio,
X = {x : x X , para algum X { A, B}} = A B .
X { A, B}
19
(a, b) . Seja
B = { X : X A e P( X )} .
um conjunto. Assim, se X B , ento X P( A) . Logo, B P( A) . Portanto, pelos axiomas ZF6 e
ZF4 , B um conjunto, ou seja, se A um conjunto e P( X ) uma propriedade de X, ento o conjunto de
todas os subconjuntos de A um conjunto.
Teorema 3.14. Se A e B so conjuntos, ento A B um conjunto.
Prova. Note, pelos axiomas ZF5 e ZF6 , que P( A B ) um conjunto. Novamente, pelo axioma ZF6 ,
3.4 Funes
O conceito de funo um dos mais bsicos em toda a Matemtica. Assim, nesta seo, vamos
apresentar formalmente o conceito de funo via grfico.
Sejam A e B dois conjuntos. Uma funo de A em B um subconjunto f de A B que satisfaz s
seguintes condies:
20
Observao 4.1. Cada x A possui uma imagem unicamente determinada por y B . Alm disso,
a condio F2 afirma que a funo f est bem definida, ou seja, elementos iguais possuem imagens iguais.
Teorema 4.2. Sejam A e B dois conjuntos e f um grfico. Ento f : A B uma funo se, e
somente se,
1. A condio F2 est satisfeita.
2.
3.
Dom( f ) = A .
Im( f ) B .
Prova. Suponhamos que f : A B seja uma funo. Ento, por definio, F2 est satisfeita. Alm disso,
( x, y ) [( x, y ) f x Dom( f ) e y Im( f ) x A e y B ( x, y ) A B] .
Portanto, f A B . Agora, dado x Dom( f ) = A , existe y tal que ( x, y ) f . Como y Im( f ) B
comuta se h = g
1.
2.
f .
f 1 (Y ) = {x : f ( x) Y } A .
Assim,
21
y [ y Y1 = f ( X ) x X tal que y = f ( x) y Y2 = f ( X )] .
A = iI A i .
O produto cartesiano dos A i o conjunto
iI
iI
A i simplesmente o
iI
Ai = ,
iI
Logo,
i
1
2
f(i)
a
c
i
1
2
f(i)
a
d
i
1
2
iI
f(i)
b
c
i
1
2
f(i)
b
d
Se
iI
A i = A1 A 2
f = {a i }iI iI A i ,
iI
A i e a i A i a i-sima
coordenada da famlia.
A i . Para cada j I fixado, definimos uma funo p j de A em A j por
Seja A =
iI
22
Teorema 4.7 (Existncia do Produto Cartesiano). Seja { A i }iI uma famlia de conjuntos. Ento
existe um conjunto P e uma famlia de funes { p i : A A i }iI com a seguinte propriedade universal:
dados qualquer conjunto C e qualquer famlia de funes {g i : C A i }iI , existe uma nica funo
iI
p i f = h i e h i g = pi .
Assim,
pi = h i g = ( p i f ) g = p i ( f g ) .
Mas, pela comutatividade do diagrama (c), temos que I P : P P a nica funo tal que
pi I P = p i , i I .
Portanto, f
0, se x B
1, se x B.
B ( x) =
23
B = C B = C F ( B) = F (C ) .
A funo F injetora, pois dados B, C P( A) ,
F ( B) = F (C ) B = C {x A : B ( x) = 0} = {x A : C ( x) = 0} B = C .
Finalmente, a funo F sobrejetora, pois dado f 2 A , existe
B = f 1 (0) = {x A : f ( x) = 0} P( A)
tal que f = B = F ( B ) .
Note que se B um conjunto qualquer e se todo elemento de B for substitudo por um objeto de um
domnio qualquer A, ento B continua sendo um conjunto ou, equivalentemente, se alguma regra f, quando
aplicada ao conjunto A, tem a cara de uma funo, ento existe um conjunto f ( x) . Mais precisamente
temos o seguinte axioma.
ZF7 - Axioma da substituio. Seja P ( x, y ) a seguinte afirmao: para qualquer x existe um nico y tal
que P ( x, y ) verdadeira. Ento para qualquer conjunto A, existe um conjunto B tal que, para qualquer
x A , existe y B para que P ( x, y ) seja verdadeira.
1.
Observao 4.9.
O axioma ZF7 equivalente a: para qualquer conjunto A, existe uma funo f tal que Dom( f ) = A e
Se { A i }iI
f ( x) = { y B : P ( x, y ) verdadeira} .
uma famlia de conjuntos, ento a funo f : I { A i }iI definida por f (i ) = A i
claramente sobrejetora. Logo, pelo axioma ZF7 , { A i }iI um conjunto. Portanto, pelo axioma ZF6 ,
A = iI A i um conjunto.
3.
Se I e A so dois conjuntos e f : I A uma funo, ento, pelo axioma ZF4 , f um conjunto, pois f
um subconjunto de I A . Isto prova que nossa definio de funo legtima.
Teorema 4.10. Seja { A i }iI uma famlia de conjuntos. Ento o produto cartesiano
P = iI A i
um conjunto.
Prova. Pelo item (3) da Observao 4.9, a funo
f : I A = iI A i
24
No Moodle
No perca tempo. V plataforma MOODLE e dedique-se resoluo das tarefas relacionadas
ao assunto desta unidade. Saiba que o aprendizado em Matemtica deve ser sequencial, continuado e o
sucesso no estudo axiomtico da Teoria dos Conjuntos que viro pela frente depende dos conhecimentos
dos axiomas apresentados nesta unidade.
Rena-se com colegas para discutir temas estudados. Procure os Tutores para esclarecer algum
tpico que no tenha sido bem assimilado. Comunique-se!
25
2. Problematizando a Temtica
Da mesma forma que o conjunto de todos os nmeros reais R o modelo para todos os conceitos
nos cursos de Anlise Real, o conceito de conjuntos parcialmente ordenados pode ser utilizado como
eficiente ferramenta de modelagem em diversas situaes-problema, principalmente aquelas que possuem
como objetivo a limitao de determinados conjuntos. Vejamos um exemplo de uma situao dessa natureza.
Mostraremos a Lei Arquimediana (Archimedes de Syracuse, 287 a. C.-212 a. C., matemtico, fsico,
engenheiro, inventor e astrnomo grego):
Supondo que o conjunto de todos os nmeros reais R , com a ordem usual, seja completo,
mostraremos que dados a, b R , com a > 0 , existe n Z tal que na > b .
Em bem pouco tempo estaremos aptos a efetuar os clculos necessrios obteno da resposta a essa
questo.
3. Conhecendo a Temtica
3.1 Ordem
Seja A um conjunto. Diremos que uma relao sobre A uma pr-ordem se as seguintes
condies so satisfeitas:
1. x x , para todo x A . (reflexividade)
2. Se x y e y z , ento x z , para todos x, y, z A . (transitividade)
Se uma pr-ordem sobre A satisfaz a condio:
3. Se x y e y x , ento x = y , (antissimtrica)
diremos que uma ordem (parcial) sobre A.
Se uma pr-ordem sobre A satisfaz a condio:
4. x y ou y x , para todos x, y A , (x e y so comparveis)
diremos que uma ordem total (ordem linear) sobre A.
Notaes:
y x significa que x y .
x < y significa que x y e x y .
y > x significa que x < y .
A notao x y l-se x menor do que ou igual a y ou x precede y.
Exemplo 1.1. Seja Q o conjunto de todos os nmeros racionais. Dados r , s Q , diremos que r
divide s em Q se existir n Z tal que s = nr . Para r , s Q , definimos
r s , se e somente se, r divide s.
Ento uma pr-ordem sobre Q , mas no uma ordem, pois r r e r r , com r r .
26
R0 = R ( B B )
uma ordem sobre B. Neste caso, diremos que R0 a ordem induzida por R.
Sejam A um poset e B um subconjunto de A. Diremos que B um subconjunto totalmente
ordenado ou uma cadeia de A se a ordem induzida por A for total. Em particular, se quaisquer dois
elementos de A so comparveis, isto , x y ou y x , para todos x, y A , diremos que A um
conjunto totalmente ordenado ou ordenado linearmente. Assim, um conjunto A totalmente ordenado se
uma e apenas uma das condies ocorre:
x, y A [ x < y , x = y ou x > y ] (Lei da Tricotomia).
Observao 1.2. O conjunto de todos os nmeros reais R , com a ordem usual, totalmente
ordenado. Consequentemente, os subconjuntos N , Z e Q , com a ordem induzida, so totalmente
ordenados. Em particular, se N munido com a ordem r divide s em N , ento o conjunto
C = {2 0 , 2 1 , 2 2 ,}
uma cadeia de N (prove isto!).
Exemplo 1.3. Sejam A um conjunto e P( A) o conjunto das potncias. Para X , Y P( A) ,
definimos
X Y X Y .
Mostre que uma ordem sobre P( A) , chamada ordenao pela incluso. Note que esta ordem no
total. No entanto, se C uma cadeia de P( A) , ento X Y ou Y X , para todos X , Y C .
Soluo. Para provar que uma ordem, confira o Teorema 2.1 da Unidade II. Finalmente, se
X = {x} P( A) e Y = { y} P( A) , com x y , ento X e Y no so comparveis.
S a = {x A : x < a} .
O segmento final de A determinado por a o conjunto
S a = {x A : a < x} .
O intervalo aberto de A determinado por a e b o conjunto
[a, b] = {x A : a x b} .
P = {x A : x < a} e Q = {x P : x < b} ,
respectivamente. Seja
S b = {x A : b < x}
Ento, por definio, S b um segmento inicial de A.
Afirmao. Q = S b .
De fato, claro que Q S b . Por outro lado, se x S b , ento x A e x < b . Como b P temos que
27
28
3.2 Isomorfismos
importante lembrar que todos os resultados sobre funes vistos no curso de Matemtica
Elementar podem ser usados em tudo que segue.
Sejam A, B dois posets e f : A B uma funo. Diremos que f crescente ou preserva ordem se
x, y A [ x y f ( x) f ( y )] .
Diremos que f estritamente crescente se
x, y A [ x < y f ( x) < f ( y )] .
Diremos que f um isomorfismo se f for bijetora e crescente:
x, y A [ x y f ( x) f ( y )] .
1.
2.
Exemplo 2.1. Seja R o conjunto de todos os nmeros reais com a ordem usual. Ento:
A funo f : R R definida por f ( x) = 3 x + 4 um isomorfismo, pois f claramente bijetora e
x, y R [ x y 3x 3 y 3x + 4 3 y + 4 f ( x) f ( y )] ,
ou seja, f preserva ordem.
A funo f : R R definida por f ( x) = 3 x + 4 no um isomorfismo, pois f claramente bijetora,
mas
x, y R [ x y 3x 3 y 3x + 4 3 y + 4 f ( x) f ( y )] ,
ou seja, f no preserva ordem.
Teorema 2.2. Sejam A, B dois posets e f : A B uma funo. Se f um isomorfismo, ento
x, y A [ x < y f ( x) < f ( y )] .
Teorema 2.3. Sejam A, B dois posets e f : A B uma funo bijetora. Ento f um isomorfismo
se, e somente se, f e f
so funes crescentes.
x A [( f 1 f )( x) = x] .
Agora, dados z , w B , existem nicos x, y A tais que z = f ( x) e w = f ( y ) . Logo,
z w x y ( f 1 f )( x) = x y = ( f 1 f )( y ) f 1 ( z ) f 1 ( w) .
Logo, f 1 crescente.
Reciprocamente, como f crescente temos que
x, y A [ x y f ( x) f ( y )] .
f ( x) f ( y ) x = ( f
f )( x) ( f
f )( y ) = y .
Portanto, f um isomorfismo.
1.
2.
3.
29
: R I definidas por
x
x
e f 1 ( x) =
f ( x) =
1 x
1+ x
so crescentes. Portanto, pelo Teorema 2.3, R e I so isomorfos.
30
x B [ x a] .
Analogamente, uma cota inferior de B em A um elemento a A tal que
x B [ a x] .
Denotaremos por
e
1.
2.
inf A ( B) ou simplesmente inf( B) . Note que, se o supremo (o nfimo) existir, ele nico.
Exemplo 3.6. Sejam A o conjunto do Exemplo 3.1 e B = {2,3, 4,8,12} um subconjunto de A. Ento
S ( B) = {16, 24} , mas sup( B ) no existe em A. Agora, sejam C = {2,3, 4,8,12,16} e
D = {2,3, 4,8,12, 24} subconjuntos de A. Ento sup C ( B) = {16} e sup D ( B) = {24} . Portanto, o supremo
(nfimo) depende do conjunto.
31
Exemplo 3.7. Sejam P( A) o conjunto das partes de A, ordenado pela incluso, B = {B i }iI um
subconjunto de P( A) . Mostre que sup( B) =
Soluo. claro que
iI
iI
B i e inf( B) = iI B i .
iI
iI
B i C . Assim,
iI
Bi .
y [ x A x y ] ,
caso contrrio,
y tal que x y.
o que impossvel. Portanto, A s () e inf() o maior elemento de s () . Assim, se A possui um
maior elemento a A , ento a = inf() . De modo anlogo, se A possui um menor elemento b A , ento
b = sup( A) .
Seja A um poset. Se R uma ordem sobre A, ento fcil verificar que R 1 tambm uma ordem
sobre A, a qual chamada de ordem inversa. Neste caso, existe um isomorfismo entre o conjunto de todas
as ordens R sobre A e o conjunto de todas as ordens inversas R 1 sobre A.
Se intercalarmos e ; R e R 1 ; A e , etc., em qualquer afirmao sobre conjuntos, a nova
afirmao chamada de dual da original. Este conceito de dualidade de grande importncia ecnomica na
prova dos teoremas, pois provando um teorema sabemos que o dual do teorema tambm verdadeiro.
Teorema 3.9. Sejam A poset e B um subconjunto de A. Ento B S ( s ( B)) . Afirmao dual:
B s( S ( B)) .
Prova. Dado x B , obtemos y x , para todo y s ( B) . Portanto, por definio, x S ( s ( B)) , ou seja,
B S ( s( B)) .
1.
2.
Prova. (1 2) Seja B uma subconjunto no vazio de A que seja limitado inferiormente. Ento s ( B) .
32
Como cada elemento de B uma cota superior de s ( B) temos que s ( B) limitado superiormente. Assim,
por hiptese, s ( B) possui um supremo em A. Portanto, pelo Lema 3.10, B possui um nfimo em A.
A recproca a afirmao dual.
Exemplo 3.12 (Lei Arquimediana). Suponhamos que o conjunto de todos os nmeros reais R ,
com a ordem usual, seja completo. Mostre que dados a, b R , com a > 0 , existe n Z tal que na > b .
Soluo. Suponhamos, por absurdo, que na b , para todo n Z . Ento
B = {na : n Z}
R = [na, (n + 1)a [ ,
nZ
uma unio disjunta de intervalos, onde a R , com a > 0 . Neste caso, dado b R , existe (um nico)
q Z tal que
b = qa + r , com 0 r < a .
Seja A um poset. Diremos que A um reticulado se sup{a, b} e inf{a, b} existem, para todos
a, b A . Quando lidamos com reticulados conveniente escrevermos sup{a, b} = a b e
inf{a, b} = a b .
Exemplo 3.14. Seja P( A) o conjunto das partes de A, ordenado pela incluso. Mostre que P( A)
um reticulado.
Soluo. Dados X , Y P( A) , fcil verificar que sup{ X , Y } = X Y e inf{ X , Y } = X Y . Portanto,
P( A) um reticulado.
1.
2.
3.
4.
Prova. Vamos provar apenas o item (3). Se a c e b c , ento c S ({a, b}) . Logo, a b c , pois
a b a menor das cotas superiores do conjunto {a, b} .
1.
2.
3.
4.
33
(a b) a (b c) e c (b c) a (b c)
Assim, (a b) c a (b c) . Por um argumento simtrico, prova-se que a (b c) (a b) c .
(4) Devemos provar que a = inf{a, a b} . claro que a uma cota inferior de {a, a b} , pois
a a b . Por outro lado, seja c qualquer cota inferior de {a, a b} . Ento c a . Assim, a a maior das
a ( a b) = ( a a ) b = a b
temos, por definio, que a a b . Por um argumento simtrico, obtemos b a b , ou seja, a b uma
cota superior de {a, b} . Por outro lado, seja c qualquer cota superior de {a, b} . Ento a c e b c .
Assim, por definio,
ac = c e bc = c .
Logo, pelo item (3),
(a b) c = a (b c) = a c = c
e, por definio, a b c . Portanto, a b a menor das cotas superiores de {a, b} , isto ,
a b = sup{a, b} . De modo inteiramente anlogo, prova-se que a b = inf{a, b} .
1.
2.
34
R 1 = {R i }iI
iI
R i R e inf( R 1 ) = iI R i .
1.
2.
Observao 4.1.
Todo CBO A totalmente ordenado.
Todo CBO A um reticulado completo.
n 1
1
n 1
1
n 1
1
A = 0, , ,
, ; 1,1 + , ,1 +
, ; 2, 2 + , , 2 +
, ;
n
2
n
2
n
2
n 1
= m +
: m, n Z + , n > 1 ,
n
35
Exemplo 4.5. Seja R o conjunto de todos os nmeros reais , com a ordem usual. Mostre que dados
a, b R , com a < b , existe r Q tal que a < r < b . Neste caso, diremos que Q denso em R .
Soluo. Como b a > 0 temos, pelo Exemplo 3.12, que existe n N tal que
n(a b) > 1 ou
Consideremos o conjunto
1
< a b.
n
S = {k N : na < k} .
Novamente, pelo Exemplo 3.12, S . Logo, S contm um menor elemento, digamos m S , pois N
um CBO. Assim,
na < m a
Portanto,
r=
m 1
.
n
m m 1 1
=
+ < a + (b a ) = b ,
n
n
n
Observao 4.6. Qualquer nmero real o supremo de algum conjunto de nmeros racionais. De
fato, dado a R . Consideremos o segmento inicial
m
m
S a = Q : < a .
n
n
a A fixado, o conjunto
B = {x A : x < a}
uma seo de A.
Teorema 4.8. Seja A um CBO. Ento B uma seo de A se, e somente se, B = A ou B um
segmento inicial de A.
Prova. Suponhamos que B seja uma seo de A. Se B = A , nada h para ser provado. Se B A , ento
A B . Logo, por hiptese, A B contm um menor elemento, digamos m A B .
Afirmao. B = S m .
De fato, se x S m , ento x < m . Logo, x A B , isto , x B . Portanto, S m B . Por outro lado,
dado x B , devemos provar que x < m . Se x m , ento m B . Assim,
m B ( A B) = ,
o que impossvel. Portanto, x < m e B S m , ou seja, B = S m .
A recproca clara.
Exemplo 4.9. Seja A = {3, 4,8,10} , com a ordem induzida por N , ento S 3 = , {3} , {3, 4} ,
36
x N [ x f ( x)] .
Mais geralmente, temos o seguinte resultado.
Lema 4.10. Sejam A um CBO e f : A A um isomorfismo de A sobre um subconjunto de A. Ento
x A [ x f ( x)] .
Prova. Seja
S = {x A : x > f ( x)} .
Suponhamos, por absurdo, que S . Ento, por hiptese, S contm um menor elemento, digamos m S .
Em particular, f (m) < m . Logo,
f ( f (m)) < f (m) < m .
de B sobre uma subconjunto de S b (prove isto!), o que impossvel, pelo Lema 4.11.
yS a e x y x a xS a .
Assim, pelo Teorema 4.6, S a uma seo de um segmento inicial de S b e, pelo Corolrio 4.12, S a no
isomorfo a S b .
Sb e Sa
S c . Assim,
37
Lema 4.16. Sejam A e B dois CBO tais que cada segmento inicial S a de A isomorfo a um
segmento inicial S b de B. Ento cada segmento inicial de S a isomorfo a um segmento inicial de S b , ou
seja,
xaSx
S y , em que y b .
: S x S y um isomorfismo, com
S y = f (S x ) .
Prova. Seja y = f ( x) . Ento fcil verificar que g injetora e crescente. Logo, S x
f ( S x ) . Por outro
Sy.
Lema 4.17. Sejam A, B dois CBO e C o conjunto de todos os elementos x em A tal que S x
Sy,
Sy,
D.
S y1 e S x 2
1.a Possibilidade. S x 2
2.a Possibilidade. S y 1
Teorema 4.19. Sejam A e B dois CBO. Ento exatamente uma e apenas uma das afirmaes a
seguir pode ocorrer:
1. A B .
2. A isomorfo a um segmento inicial de B..
3. B isomorfo a um segmento inicial de A..
Prova.. Sejam C e D os conjuntos definidas no Lema 4.18. Ento C
Teorema 4.8, existem quatro possibilidades:
1.a Possibilidade. Se C = A e D = B , ento A B .
2.a Possibilidade. Se C = A e D = S y B , ento A S y .
B.
38
Sy.
Ento S = A .
Prova. Suponhamos, por absurdo, que S A . Ento T = A S . Logo, por hiptese, T contm um
menor elemento t 0 . Assim, x < t 0 , para todo x S t 0 , isto implica que x T , ou seja, S t 0 S . Logo,
pela propriedade (2), t 0 S . Portanto, t 0 S T = , o que uma contradio, ou seja, S = A .
Observao 4.22. Note que a propriedade (1) uma consequncia da propriedade (2), pois
= S a0 S a0 S .
Teorema 4.23 (Segundo Princpio de Induo Transfinita). Sejam A CBO e P ( x) uma afirmao
que verdadeira ou falsa para cada x A . Suponhamos que a seguinte propriedade satisfeita:
Se P ( y ) verdadeira para cada y, com y < x , ento P ( x) verdadeira. (PIT)
Ento P( x) verdadeira, para todo x A .
Prova. Consideremos o conjunto
S = {x A : P ( x) falsa}
Suponhamos, por absurdo, que S . Ento, por hiptese, S contm um menor elemento, digamos m .
Como P ( y ) verdadeira para cada y, com y < m , temos, pela propridade PIT, que P(m) verdadeira, o
que contradiz a escolha de m. Portanto, P ( x) verdadeira para todo x A .
I n = {k N : k < n + 1} , ou seja,
X n = {( x 1 , x 2 , , x n ) : x i X } .
Seja
F = nN X n .
Ento, dada uma funo qualquer g : F X , existe uma nica funo f : A X tal que
n N [ f (n + 1) = g ( f
) = g ( f n )] ,
F = aA X
Seja g : F X uma funo qualquer. Ento existe uma nica funo f : A X tal que
a A [ f (a) = g ( f
39
) = g ( f a )] .
f = BC B ,
fcil verificar que f C . Assim, basta provar que f a funo desejada. Para isto, seja S o conjunto de
todos os elementos c A tal que exista no mximo um x X , com (c, x) f . Logo, devemos provar que
se S a S , ento a S . Note que S a S significa que se c < a em A, ento existe um nico elemento
f b f {(a, y )} , ento
(b, g ( f b )) f {(a, y )} .
De fato, se a = b , ento f a = f b . Logo, (b, g ( f b )) f {(a, y )} , pois y g ( f a ) = g ( f b ) . Assim,
f {(a, y )} C e
f f {(a, y )} , o que uma contradio. Se a b , ento
(b, g ( f b )) f {(a, y )} , pois f C e a b . Assim, f {(a, y )} C e f f {(a, y )} , o que
uma contradio. Portanto, S = A .
(Unicidade) Suponhamos que h : A X seja uma funo tal que
a A [h(a ) = g (h S ) = g (h a )] .
a
Consideremos o conjunto
T = {b A : f (b) = h(b)} .
Suponhamos que a A e S a T , ento a T , pois
f (a) = g ( f
) = g ( h S ) = h(a ) .
a
Portanto, T = A e f = h .
Exemplo 4.25. Sejam N o conjunto dos nmeros natunais e {x n }nN uma famlia em R . Mostre
que existe uma nica funo f : N R tal que
x ( n) = x 1 x 2
x n , para todo n N . Ento, pelo Teorema 4.25, existe uma nica funo f : N R com
40
No Moodle
A transformao de todo este contedo em conhecimento s se dar com a sua participao
efetiva nas atividades propostas no MOODLE. Portanto, programe-se. Planeje seus estudos. J h muito
que estudar sobre este assunto.
41
2. Problematizando a Temtica
Uma forma do axioma da escolha pode ser enunciada como: seja P um conjunto no vazio, de
subconjuntos no vazios de um conjunto dado A. Ento existe um subconjunto B de A tal que, para todo
C P , C B um conjunto unitrio.
Da mesma forma que o Princpio da Boa Ordenao, o Axioma da Escolha pode ser utilizado como
eficiente ferramenta de modelagem em diversas situaes-problema, principalmente aquelas que possuem
como objetivo a existncia de determinados objetos. Vejamos um exemplo de uma situao dessa natureza.
Mostre que qualquer espao vetorial possui uma base.
Em bem pouco tempo estaremos aptos a responder esta e outras questes semelhantes.
3. Conhecendo a Temtica
3.1 Axioma da Escolha
Nesta seo discutiremos um conceito que um dos mais importantes, e ao mesmo tempo um dos
mais controversos, princpios da matemtica.
ZF8 - Axioma da escolha. Seja { A i }iI uma famlia de conjuntos no vazios. Ento
A = iI A i .
Observao 1.1. Sejam { A i }iI uma famlia de conjuntos no vazios e A =
iI
Ai .
1.
2.
3.
Intuitivamente, o axioma ZF8 diz que podemos simultaneamente escolher algum elemento de cada
subconjunto no vazio de um conjunto.
Se A i = B , para todo i I , ento A simplesmente o conjunto de todas as funes f : I B .
4.
Se I um conjunto finito, ento no h a necessidade de usar o axioma ZF8 , para provar que A .
De fato, se A 1 e A 2 , ento existe x 1 A 1 e x 2 A 2 . Logo, ( x 1 , x 2 ) A 1 A 2 e
f : I iI A i
42
g : I iI A i
definida por g (i ) = a i , pode no estar bem definida, pode no ser injetora.
6.
h : I iI A i
por h(i ) = min{ A i } , sem usar ZF8 .
Sejam A um conjunto qualquer e P( A)* = P( A) {} . Uma funo escolha para A uma funo
r : P( A)* A
tal que
r ( B) B, B P( A)* .
Observao 1.2. Se r B = r ( B ) , diremos que r B um representante de B.
Exemplo 1.3. Seja A = {a, b, c} . Ento uma funo escolha para A dada pela tabela. Note que
existem 24 tais funes.
B
A
{a, b}
{a, c}
{b, c}
{a}
{b}
{c}
r(B)
a
a
a
b
a
b
c
Exemplo 1.4. Seja A um CBO. Ento uma funo escolha r : P( A)* A para A dada por
r ( B) = min{B} .
Teorema 1.5. As seguintes condies so equivalentes:
1. Vale o axioma da escolha ZF8 ;
2.
BI
Assim, existe f X , com f ( B ) B , para todo B I , isto , f uma funo escolha para A. Portanto, F 1
est satisfeita.
Reciprocamente, sejam { A i }iI uma famlia no vazia de conjuntos no vazios e
A = iI A i .
Ento, por hiptese, existe uma funo escolha r : P( A)* A para A, isto , r ( B ) B , para todo
g iI A i iI A i .
43
C A i = {a i }, i I .
O conjunto C chama-se conjunto escolha da famlia { A i }iI .
Exemplo 1.6. Sejam A um CBO e P = {x : x A} uma partio de A. Mostre que
A = {1, 2,3, 4} , com a ordem induzida de N , e P = {{1, 2},{3, 4}} uma partio de A, ento C = {1,3}
um conjunto escolha para A.
Teorema 1.7. As afirmaes F 1 e F 2 so equivalentes.
Prova. Sejam { A i }iI uma famlia no vazia de conjuntos no vazios, disjuntos aos pares e
A = iI A i .
Ento { A i }iI P( A) . Assim, por hiptese, existe uma funo escolha r : P( A)* A para A tal que
*
r ( B) B, B P( A)* .
Logo, o conjunto C = r ({ A i }iI ) tem as propriedades desejadas, pois
C A i = {a i }, i I .
Reciprocamente, sejam A um conjunto no vazio, B A e
X B = {( B, x) : x B} .
Ento X
CX
= {( B, x)}, B P( A)* .
escolha para A.
f : I iI A i ,
tal que f (i ) A i , para todo i I . A funo f chama-se funoo escolha para a famlia { A i }iI .
Note que a afirmao F 2 equivalente a afirmao F 3 . De fato, se { A i }iI uma famlia no
vazia de conjuntos no vazios, ento a famlia
44
F = { A i {i} : i I }
no vazia de conjuntos no vazios e disjuntos aos pares. Assim, existe um conjunto escolha C tal que
C ( A i {i}) = {(a i , i )}, i I .
Portanto, a funo
f : I iI A i
(a i , i ) C ( A i {i}) ,
tem as propriedades desejadas. Reciprocamente, se { A i }iI uma famlia no vazia de conjuntos no vazios
e disjuntos aos pares. Ento existe uma funo
f : I iI A i
tal que f (i ) A i , para todo i I . Portanto, fcil verificar que C = f ( I ) um conjunto escolha da
famlia { A i }iI .
Exemplo 1.8. Consideremos a famlia
{ A n }nN = { A n : n N}
em que A n = {2n 1, 2n} . claro que { A n }nN uma famlia no vazia de conjuntos no vazios e
disjuntos aos pares. Ento existe uma funo escolha
f : N nN A n
Exemplo 1.10. Seja A um conjunto infinito. Mostre que existe uma funo injetora f : N A ,
com N o conjunto de todos os nmeros naturais. Em particular, A contm um subconjunto enumervel.
Soluo. Como A , podemos escolher x 1 A . Novamente, como A um conjunto infinito temos que
B n = A {x 1 , x 2 , , x n 1} ,
pois A um conjunto infinito. Agora, Seja
F = { A n }n = {( B n , x) : x B n }n .
Ento F uma famlia de conjuntos no vazios e disjuntos aos pares. Assim, pela afirmao F 2 , existe um
conjunto escolha C para F , isto ,
C = {( B n , x n ) : x n B n } .
Agora, vamos definir f : N A por f (1) = x 1 e f (n) = x n B n , em que
(B n , x n ) C A n .
45
Exemplo 1.11. Sejam A um conjunto e f : A B uma funo. Mostre que f sobrejetora se, e
somente se, existe uma funo g : B A tal que f
se, g injetora.
Soluo. Suponhamos que f : A B seja uma funo sobrejetora. Ento X b = f 1 (b) um subconjunto
no vazio de A, para todo b B . Seja
r : P( A)* A
uma funo escolha para A. A funo g : B A definida por g (b) = r ( X b ) X b , para todo b B , tem
as propriedades desejadas, pois
g = I B . Ento, dado
3.2 Aplicaes
Nesta seo provaremos, como consequncia do axioma da escolha ZF8 , os princpios maximais.
Alm disso, provaremos que eles so equivalentes a ZF8 .
Com o objetivo de provarmos o Lema de Zorn primeiro provaremos o seguinte teorema.
Teorema 2.1. Seja A um poset satisfazendo as seguintes condies:
1.
A contm um menor elemento p.
2.
Qualquer cadeia de A tem um supremo em A.
Ento existe xA sem sucessor imediato.
Prova. Suponhamos, por absurdo, que qualquer elemento x A tenha um sucessor imediato. Ento o
conjunto
T x = { y A : y um sucessor imediato de x} ,
pois qualquer elemento de A tem um sucessor imediato. Logo, pelo axioma ZF8 , existe uma funo escolha
r para A tal que r (T x ) T x . Vamos definir uma funo f : A A por f ( x) = r (T x ) . Ento claro que
46
Observao 2.2. Note que p-sequncias existem. Por exemplo, A uma p-sequncia.
Lema 2.3. A interseo qualquer de p-sequncias uma p-sequncia.
Prova. Seja
P = B A B
B x = { y P : y x ou y f ( x)} .
Ento B x uma p-sequncia.
Prova. Como p o menor elemento de A temos que p B x . Se y B x , ento devemos provar que
B = {x P : x um elemento normal} .
Ento p B , pois p y , para todo y A , em particular, para todo y P . Se x B , ento, pelo
Corolrio 2.5, y x ou y f ( x) , para todo y P . Logo, y f ( x) ou y f ( x) . Portanto f ( x) B .
47
B = {x P : x um elemento normal} .
uma p-sequncia temos que P B . Assim, P = B . Portanto, qualquer elemento de P um elemento
Finalmente, para completarmos a prova do teorema, seja m = sup( P ) . Ento m P , pois P uma
p-sequncia e uma cadeia. Logo, f (m) P , pois P uma p-sequncia. Portanto,
f ( m) m ,
o que uma contradio, pois m < f (m) .
Teorema 2.9 (Princpio do Mximo de Hausdorff). Qualquer poset possui uma cadeia maximal.
Prova. Sejam A um poset no vazio e
F = {C A : C uma cadeia de A}
Dados C 1 , C 2 F , definimos
C1 C 2 C1 C 2
Ento F um poset e contm um menor elemento . Agora, seja C qualquer cadeia de F e
M = CC C .
Afirmao. M F .
De fato, dados x, y M . Ento existem C 1 , C 2 C tais que x C 1 e y C 2 . Como C uma cadeia
temos que C 1 C 2 ou C 2 C 1 , digamos C 1 C 2 . Logo, x, y C 2 . Neste caso, x y ou y x ,
pois C 2 uma cadeia. Portanto, M uma cadeia. fcil verificar que M = sup(C ) . Assim, pelo Teorema
2.8, existe C F sem sucessor imediato, isto , no existe x F C tal que C {x} seja uma cadeia de
A. Portanto, C uma cadeia maximal de A.
Seja A um poset. Diremos que A um conjunto indutivamente ordenado se toda cadeia de A tem
uma cota superior em A.
Exemplo 2.10. Sejam A uma cadeia e S = {x 1 , , x n } um subconjunto de A. Mostre que existe x j ,
com 1 j n , tal que x i x j , para todo x i S . Portanto, qualquer subconjunto finito de uma cadeia
possui uma cota superior.
Soluo. Vamos usar induo sobre n. Se n = 1 , nada h para ser provado. Sejam
S = {x 1 , , x n , x n +1} e T = {x 1 , , x n } .
Ento, pela hiptese de induo, existe x j , com 1 j n , tal que x i x j , para todo x i T . Como A
uma cadeia temos que x j x n +1 ou x n +1 x j . Portanto, em qualquer caso, existe x j , com 1 j n + 1 ,
tal que x i x j , para todo x i S .
48
Prova. Seja A um conjunto indutivamente ordenado. Ento, pelo Teorema 2.9, A contm uma cadeia
maximal C. Assim, por definio, C contm uma cota superior m.
Afirmao. m um elemento maximal de A.
De fato, suponhamos, por absurdo, que exista x A tal que m < x . Ento x C , mas y < x , para todo
y C . Assim, C {x} uma cadeia de A com C C {x} , o que contradiz a maximalidade de C.
Portanto, m um elemento maximal de A.
x 1u 1 +
+ x mu m + yu = 0 .
x1
u = u 1 +
y
xm
+
y
x 1u 1 +
u m u ,
+ x mu m = 0 .
x1 =
= xm =0.
Teorema 2.13. Qualquer espao vetorial possui uma base. Mais geralmente, qualquer subconjunto
de vetores LI de um espao vetorial parte de uma base.
Prova. Seja V um espao vetorial sobre um corpo F. Se V = {0} , ento uma base de V. Se V {0} ,
ento a famlia
F = { : um subconjunto LI de V } .
Dados , F , definimos
.
Logo, F um poset. Sejam C qualquer cadeia de F e
L = C .
Afirmao. L F
De fato, sejam u 1 , , u n vetores distintos de L e x 1 , , x n escalares de F tais que
x 1u 1 +
+ x nu n = 0 .
Como u i L temos que existe i C tal que u i i . Logo, pelo Exemplo 2.10, existe j , com
= xn = 0.
claro que L uma cota superior de C. Assim, pelo Lema de Zorn, F contm um elemento maximal,
digamos M. Portanto, pelo Lema 2.12, M uma base de V.
49
Exemplo 3.1. Qualquer conjunto finito bem ordenado. Por exemplo, se A = {a, b, c} , ento
a < b < c , b < c < a , c < a < b , b < a < c , a < c < b e c < b < a so ordenaes diferentes de A.
Exemplo 3.2. Qualquer conjunto contvel A pode ser bem ordenado, pois se f : A N uma
bijeo qualquer, ento existe uma ordem sobre A definida por
x, y A [ x y f ( x) f ( y )] .
Em particular, se A = Z , ento as funes f : A N e g : N A definidas por
n
se n um nmero par
2 ,
2
a
,
se
a
>
0
f (a) =
e g ( n) =
2a + 1, se a 0
1 n , se n um nmero mpar
2
so inversas. Neste caso, obtemos a boa ordenao para Z ;
{0,1, 1, 2, 2, , n, n,} .
Por exemplo, 1 < 2 0 = g (1) < g (2) = 1 e 2 < 3 1 = g (2) < g (3) = 1 , etc.
Exemplo 3.3. Sejam B um conjunto bem ordenado e a A , onde a B . fcil verificar que
B {a} ordenado por b a , para todo b B , um conjunto bem ordenado.
Exemplo 3.4. O intervalo fechado I = [0,1] com a ordem induzida de R no bem ordenado, pois
o intervalo ]0,1] um subconjunto no vazio de I sem menor elemento.
Seja A um conjunto qualquer. Consideremos o par ordenado ( B, R) , com B A e R uma relao
de ordem sobre B que bem ordena B. Seja F a famlia de todos os pares ( B, R ) , com esta propridade. Note
que F , pois qualquer subconjunto contvel de A pode ser bem ordenado, confira Exemplo 3.3. Dados
( B 1 , R 1 ), ( B 2 , R 2 ) F , definimos
(B 1, R 1) (B 2 , R 2 )
se, e somente se, as seguintes condies so satisfeitas:
1.
B1 B 2 .
2.
R1 R 2 . ( R1 = R 2
B1
C = {( B i , R i ) : i I } .
uma cadeia de F ,
B = iI B i e R = iI R i .
Ento ( B, R) F , em que
( B, R) = iI ( B i , R i ) .
Prova. Como B A , basta provar que R bem ordena B. fcil verificar que R uma ordem sobre B (prove
isto!). Agora, seja S B , com S . Ento existe i I tal que
S i = S Bi .
Como S i B i temos, por hiptese, que S i contm um menor elemento m em ( B i , R i ) , isto ,
50
(m, y ) R i , y S i .
Afirmao. m o menor elemento de S em ( B, R) .
De fato, dado x S . Se x B i , ento x S . Logo, (m, x) R i R . Se x B i , ento existe j I tal
que x B j . Logo,
B j B i e (B j , R j ) (B i , R i ) .
Assim, por hiptese,
(B i , R i ) (B j , R j ) .
Como m B i e x B j B i temos que (m, x) R j R . Portanto, m o menor elemento de S em
( B, R ) .
Lema 3.6. Sejam C, B e R definidos no Lema 3.5. Ento ( B, R ) uma cota superior de C.
y B j . Logo,
B j B i e (B j , R j ) (B i , R i ) .
Assim, por hiptese,
(B i , R i ) (B j , R j ) .
Como x B i e y B j B i temos que ( x, y ) R j R . Portanto,
( B i , R i ) ( B, R ) ,
1.
2.
3.
4.
Prova. Resta provar que (4 1) . Suponhamos que A seja um conjunto bem ordenado. Ento a funo
51
Exemplo 3.9. Seja A um conjunto infinito. Mostre que A possui uma cobertura contvel disjunta,
isto , existe uma famlia { A i }iI de conjuntos contveis disjuntos aos pares tal que
A = iI A i .
Soluo. Consideremos a famlia
52
2. Problematizando a Temtica
A importncia da construo dos nmeros conjuntos infinitos refletida por frases como:
() a conquista do infinito atual pode ser considerada uma expanso do nosso horizonte cientfico no
menos revolucionria do que o sistema Copernicano ou do que a teoria da relatividade, ou mesmo da teoria
quntica e da fsica nuclear. ()
A. A. Fraenkel, 1966.
Alm disso, provaremos os axiomas de Peano para o conjunto dos nmeros naturais N (Giuseppe Peano,
1858-1932, matemtico italiano) como consequncia do axioma da infinidade.
3. Conhecendo a Temtica
3.1 Nmeros Naturais
Seja A um conjunto qualquer. O sucessor de A definido como
A + = A { A} .
Definimos
0=
1 = 0 + = {} = {} = {0}
2 = 1 + = {} {{}} = {,{}} = {0,1}
3 = 2 + = {,{}} {{,{}}} = {,{},{,{}}} = {0,1, 2}
A ideia simplesmente definir um nmero natural n como o conjunto de todos os nmeros naturais
menores, isto ,
n = {0,1, 2, , n 1} .
Mas essa definio ainda deficiente. Por isso, vamos obter uma definio mais precisa, devida a von
Neumann.
Seja A um conjunto qualquer. Diremos que A um conjunto sucessor ou um conjunto indutivo se
ele satisfaz s seguintes condies:
1. A .
2. Se x A , ento x + A .
53
Observao 1.1. O axioma ZF9 garante a existncia do conjunto vazio . Portanto, se = 0 for
um conjunto, ento, pelo axioma ZF5 ,
n + = n {n} = {0,1, , n}
um conjunto e denotaremos por n + = n + 1 . Alm disso, claro que todo conjunto sucessor contm os
nossos nmeros naturais, os quais so construdos a partir do conjunto vazio.
Seja { A i }iI uma famlia de conjuntos sucessores. Ento
A = iI A i
um conjunto sucessor. De fato, 0 A , pois 0 A i , para todo i I . Se x A , ento x A i , para todo
B = AF A
um conjunto sucessor. Seja C qualquer conjunto sucessor. Ento C F e B C . Portanto, B o menor
conjunto sucessor.
Definio 1.2. O conjunto de todos os nmeros naturais definido como a interseo de todos
conjuntos sucessores e denotado por .
Observao 1.3.
1. Note que definido como um elemento do conjunto recursivo minimal.
2. A notao dos nmeros naturais por para diferenciar do nosso nmeros naturais N construdo via
os axiomas de Peano.
3. Qualquer elemento de chama-se nmero natural. Neste caso, cada nmero natural de igual a
n = {0,1, , n 1} .
Alm disso, pelo axioma ZF9 existe um conjunto sucessor A e, pela Definio 1.2, A . Assim, pelo
Axioma ZF3 , um conjunto. Portanto, todo nmero natural um conjunto.
Teorema 1.4. n + 0 , para todo n .
Prova. Como n + = n {n} , para todo n , temos que n n + , para todo n . Portanto, n + 0 .
S = {n : n = 0 ou n = k + , para algum k }
Ento 0 S . Suponhamos que o resultado seja vlido para algum n, isto , n S . Ento
n + = n + 1 = k + + 1 = (k + ) + ,
para algum k . Portanto, n + S e S = .
54
S = {n : n um conjunto transitivo} .
Ento 0 S , pois se 0 no fosse um conjunto transitivo, ento existiria y 0 tal que y 0 , mas isto
impossvel, uma vez que 0 = . Agora, suponhamos que n S . Ento devemos provar que n + S . Dado
m n + , temos, pelo Lema 1.7, que m n ou m = n . Se m n , ento m n . Logo, m m + , pois
n n + . Se m = n , ento m n + , pois n n + . Portanto, n + S . Assim, pelo Princpio de Induo
Finita, S = .
Prova. Note que n + = S n = {0,1, , n} um segmento inicial e confira a prova do Teorema 4.24 da
unidade III.
55
Prova. Devemos provar que se dados m, n , f (m) = f (n) , ento m = n . Para provar isso, vamos usar
induo sobre m. Se m = 0 e n = 0 , nada h para provar. Se n 0 , ento, pelo Exemplo 1.6, existe k
tal que n = k + . Assim,
c = f (0) = f (m) = f (n) = f (k + ) = g ( f (k )) c Im( g ) ,
o que impossvel. Portanto, m = 0 = n .
Suponhamos, como hiptese de induo, que o resultado seja vlido para algum m . Seja
+
f (m ) = f (n) . Se n = 0 , ento j vimos que f (m + ) = f (0) impossvel. Assim, n 0 e, pelo
Exemjplo 1.6, existe k tal que n = k + . Logo,
f m (0) = m .
2.
56
m + n = f m ( n) .
Assim, as condies (1) e (2), podem ser reescritas como:
1.
2.
m+0= m.
m + n + = ( m + n) + .
Lema 2.1. n + = 1 + n , em que 1 = 0 + , para todo n .
Prova. Seja
S = {n : n + = 1 + n} .
Ento 0 S , pois pela condio (1) 0 + = 1 = 1 + 0 . Suponhamos que o resultado seja vlido para algum n,
isto , n S . Ento, pela condio (2),
1 + n + = (1 + n) + = (n + ) + .
Portanto, n + S e S = .
Lema 2.2. 0 + n = n , para todo n , ou seja, 0 o elemento neutro da adio sobre .
Prova. Seja
S = {n : 0 + n = n} .
Ento 0 S , pois pela condio (1) 0 + 0 = 0 . Suponhamos que o resultado seja vlido para algum n, isto
, n S . Ento, pela condio (2),
0 + n + = (0 + n) + = n + .
Portanto, n + S e S = .
S = {k : m + (n + k ) = (m + n) + k} .
m + (n + 0) = m + n = (m + n) + 0 .
Suponhamos que o resultado seja vlido para algum k, isto , k S . Ento, pela condio (2),
m + (n + k + ) = m + (n + k ) + = [m + (n + k )] + = [(m + n) + k ] + = (m + n) + k + .
Portanto, n + S e S = .
S = {n : m + n = n + m} .
m+0 = m = 0+m.
Suponhamos que o resultado seja vlido para algum n, isto , n S . Ento, pela condio (2) e os Lemas
2.1 e 2.3,
m + n + = (m + n) + = (n + m) + = 1 + (n + m) = (1 + n) + m = n + + m .
Portanto, n + S e S = .
Seja m fixado. Ento, pelo Teorema 1.12, existe uma nica funo f m : tal que
57
1.
f m (0) = 0 .
2.
m n = f m (n) .
Assim, as condies (1) e (2), podem ser reescritas como:
1.
2.
m0 = 0.
mn+ = m+ mn .
S = {n : 0 n = 0} .
Ento 0 S , pois pela condio (1) 0 0 = 0 . Suponhamos que o resultado seja vlido para algum n, isto ,
n S . Ento, pela condio (2) e o Lema 2.2,
0n+ = 0+ 0n = 0+ 0 = 0.
Portanto, n + S e S = .
S = {n : 1 n = n} .
Ento 0 S , pois pela condio (1) 10 = 0 . Suponhamos que o resultado seja vlido para algum n, isto ,
n S . Ento, pela condio (2),
1n + = 1 + 1n = 1 + n + .
Portanto, n + S e S = .
Lema 2.7. Dados m, n, k ,
1. m(n + k ) = m n + m k .
2. (m + n)k = m k + n k ,
ou seja, a adio e a multiplicao sobre so distributivas.
Prova. Vamos provar apenas o item (1). Para m e n fixados, seja
S = {k : m(n + k ) = m n + n k} .
m(n + 0) = m n = m n + 0 = m n + m 0 .
Suponhamos que o resultado seja vlido para algum k, isto , k S . Ento, pela condio (2) e o Lema 2.4,
m(n + k + ) = m(n + k ) + = m + [m(n + k )] = (m n + m k ) + m = m n + (m k + m) = m n + m k + .
Portanto, k + S e S = .
58
S = {k : m(n k ) = (m n)k} .
Ento 0 S , pois pela condio (1)
m(n 0) = m 0 = 0 = (m n)0 .
Suponhamos que o resultado seja vlido para algum k, isto , k S . Ento, pela condio (2) e o Lema 2.7,
m( n k + ) = m( n + n k ) = m n + m( n k ) = m n + ( m n ) k = ( m n ) k + .
Portanto, k + S e S = .
S = {n : m n = n m} .
m0 = m = 0m .
Suponhamos que o resultado seja vlido para algum n, isto , n S . Ento, pela condio (2) e os Lemas
2.6 e 2.7,
m n + = m + m n = m + n m = 1 m + n m = (1 + n)m = n + m .
Portanto, n + S e S = .
m n m n ou m = n .
S = {n : n 0} .
Ento 0 S , pois 0 0 Suponhamos que o resultado seja vlido para algum n, isto , n S . Ento
nn+ n n+ .
Portanto, n + S e S = .
S = {n : m < n m + n} .
Ento 0 S , pois se 0 S , ento m < 0 e m + 0. Assim, m 0 e m + 0, o que impossvel.
Suponhamos que o resultado seja vlido para algum n, isto , n S . Se m < n + , ento m n + . Logo, pelo
Lema 1.6, m n ou m = n . Se m = n , ento m + = n + e n + S . Se m n , ento m < n . Portanto,
n + S , pois m + n < n + , e S = .
59
Exemplo 2.14. Mostre que se um subconjunto no vazio B de possui uma cota superior, ento ele
possui um maior elemento.
Soluo. Seja
Ento S . Assim, pelo Teorema 2.13, S contm um menor elemento, digamos n S . Neste caso,
n = sup( B) .
Afirmao. n B .
De fato, suponhamos, por absurdo, que n B . Ento n > m , para todo m B . Logo, n 0 , pois B ,
e pelo Exemplo 1.6, n = k + = k + 1 , para algum k . Assim, pelo Lema 2.12, k m , para todo m B .
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
Se
Se
Se
Se
Se
Se
Se
Se
Se
Soluo. Vamos provar apenas os itens (1) e (5): (1) Para m, n fixados, seja
S = {k : m = n m + k = n + k} .
Ento 0 S Suponhamos que o resultado seja vlido para algum k, isto , k S . Ento
m + k + = m + (k + 1) = (m + k ) + 1 = (n + k ) + 1 = n + (k + 1) = n + k + .
Portanto, k + S e S = .
(5) Para m, n fixados, consideremos a afirmao P (k ) :
m < n km < kn , para cada k , com k 0 .
Ento P (1) verdadeira, pois 1 m = m < n = 1 n . Suponhamos que a afirmao P (k ) seja verdadeira.
Ento, pelo item (3),
60
k + m = (1 + k )m = m + km < n + km < n + k n = (1 + k )n = k + n .
Logo, P (k + ) verdadeira. Portanto, P (k + ) verdadeira, para todo k .
Exemplo 2.17. Seja n . Mostre que se n < 1 , ento n = 0 . Conclua que no existe k tal
que n < k < n + .
Soluo. Seja
S = {n : 0 < n < 1} .
Ento S = . Caso contrrio, pelo Teorema 2.13, existe n 0 S tal que n 0 n , para todo n S . Como
n 0 S temos que
0 < n 0 < 1 0 < n 02 < n 0 < 1 ,
Seja m fixado. Ento, pelo Teorema 1.12, existe uma nica funo f m : tal que
1.
f m (0) = 1 .
2.
m n = f m ( n) .
Assim, as condies (1) e (2), podem ser reescritas como:
1. m 0 = 1 .
2. m n +1 = m n m .
Lema 2.18. Sejam k , m, n . Mostre que:
n+k
m = m nm k .
(mn) k = m k n k .
3. (m n ) k = m nk .
1.
2.
S = {k : m n + k = m n m k } .
Ento 0 S . Suponhamos que o resultado seja vlido para algum k, isto , k S . Ento
+
m n + k = m n + k +1 = m ( n + k )+1 = m ( n + k ) m = (m n m k )m = m n (m k m) = m n m k +1 = m n m k .
Portanto, k + S e S = .
Finalizaremos esta seo com mais uma aplicao da Frmula de Recorrncia. Observe, pelo
Teorema 3.14 da unidade II, que um conjunto, pois um conjunto. Agora, consideremos a
funo g : definida por
se n = 0
(0, m + 1),
g (m, n) =
(m + 1, n 1), se n 0.
Ento g injetora e (0, 0) Im( g ) , pois dados (m, n), ( p, q ) , se g (m, n) = g ( p, q) = (r , s ) , ento
h dois casos a serem considerados:
1.o Caso. Se r = 0 , ento por definio n = 0 = q . Logo,
(0, s) = g (m, n) = (0, m + 1) e (0, s) = g ( p, q) = (0, p + 1) .
Assim, s = m + 1 e s = p + 1 , ou seja, m = p.
61
( p, q) = g (q 1, 0) = g ( f (m)) = f (m + ) .
2.o Caso. Se p 0 , ento por definio ( p, q) = g ( p 1, q + 1) . Pela hiptese de induo, existe
n tal que ( p + q 1, 0) = f (n) . Assim,
f (n + 1) = g ( f (n)) = g ( p + q 1, 0) = (0, p + q ),
f (n + 2) = (1, p + q 1), , f (n + p + 1) = ( p, q ).
Portanto, em qualquer caso, dado ( p, q) , existe n tal que f (n) = ( p, q ) , ou seja, f
uma funo bijetora. Neste caso, obtemos a boa ordenao para ;
{(0, 0), (0,1), (0, 2), (1,1), (2, 0), (0,3),} .
Note que qualquer nmero racional r Q pode ser escrito de modo nico sob a forma
m
r = , onde m, n Z , n > 0 e mdc(m, n) = 1 .
n
*
Assim, a funo f : Q + definida por
g (r ) = (m, n)
claramente injetora. Portanto, pelo axioma ZF 4 , Q*+ um conjunto. Consequentemente, pelo axioma
ZF 5 ,
Q = Q*+ {0} Q*
um conjunto. Na prxima unidade provaremos que existe uma correspondncia biunvoca entre 2 e R .
Portanto, pelo axioma ZF 6 , os nmeros reais R um conjunto. Neste caso, os nmeros complexos C um
conjunto, pois R R um conjunto.
62
2. Problematizando a Temtica
Seja A um conjunto qualquer. J vimos, na unidade II Teorema 4.8, que existe uma correspondncia
biunvoca entre os conjuntos P( A) e 2 A . Nesta unidade caracterizaremos todos os conjuntos com esta
propriedade. Alm disso, provaremos o seguinte teorema Cantor:
No existe funo bijetora entre os conjuntos A e P( A) .
A grande importncia deste teorema o seguinte resultado: se fizermos
A 1 = , A 2 = P( A 1 ), A 3 = P( A 2 ), ,
ento obtemos uma famlia (sequncia) estritamente crescente de conjuntos infinitos
f ( x) = a + (b a) x
bijetora. Dados x, y [0,1] , se f ( x) = f ( y ) , ento
a + (b a ) x = a + (b a) y (b a ) x = (b a ) y x = y ,
pois a b . Logo, f injetora. Agora, dado y [a, b] , obtemos
ya
a y b 0 ya ba 0
1.
ba
Assim, dado y [a, b] , existe
ya
x=
[0,1]
ba
tal que y = f ( x) . Portanto, f sobrejetora.
Exemplo 1.2. Os conjuntos [0,1] e ]0,1 [ so equipotentes.
Soluo. Primeiro note que
1 1 1
1 1 1
[0,1] = 0,1, , , , A e ]0,1 [= , , , A ,
2 3 4
2 3 4
63
com
1 1 1
1 1 1
A = [0,1] 0,1, , , , = ]0,1 [ , , ,
2 3 4
2 3 4
Agora, vamos definir a funo f : [0,1] ]0,1 [ por
1
se x = 0
2,
1
1
f ( x) =
,
se x =
n
n+2
1
x, se x 0 e x n ,
para todo n {0} . Ento fcil verificar que f bijetora.
Observao 1.3. J vimos, no Exemplo 2.5 da unidade III, que os conjuntos R e ] 1,1 [ so
equipotentes. Portanto, o conjunto dos nmeros reais e todos os intervalos no degenerados so
equipotentes, por exemplo, a funo f : ] 0, + [ ]0,1 [ definida por
f ( x) =
bijetora, pois
lim f ( x) = 0 e lim f ( x) = 1
x 0+
x +
x
1+ x
( lim f
x 0+
( x) =
1 x
( x) = 0 e lim f
x 1
( x) = + .
f ( x, y ) = (a, b) + r ( x, y ) = (a + rx, b + ry )
bijetora.
2a 1, se a > 0
f (a) =
2a, se a 0
claramente bijetora e a funo g : definida por g (0, 0) = 0 e g (m, n) = 2m (2n + 1)
bijetora, pois cada a {0} , pode ser escrito de modo nico sob a forma a = 2m (2n + 1) .
Exemplo 1.6 (Princpio de Dirichlet). m, n so equipotentes se, e somente se, m = n Em
particular, se f : n n uma funo injetora, ento f sobrejetora (bijetora).
Soluo. Para um m fixado, seja
S = {n : m n m = n}
Ento 0 S , pois se m 0 , ento existe uma funo bijetora f : m 0 . Como 0 = temos que
m = = 0 . Suponhamos que o resultado seja vlido para algum n, isto , n S . Sejam f : m n + uma
funo bijetora e k = f (m 1) . Consideremos a funo g : n + n + definida por
64
x=k
n, se
g ( x) = k , se
x=n
x, se x {k , n}.
Se k = n , ento
h = g f : m n + uma a funo bijetora tal que h(m 1) = n , isto , h aplica m 1 sobre n . Assim,
por hiptese, m 1 = n . Logo,
m = {0,1, , m 1} = {0,1, , n} = n + 1 = n + ,
ou seja, n + S . Portanto, S = .
Sejam A e B dois conjuntos. Diremos que A de uma potncia menor do que B se existir uma
funo injetora f : A B e denotaremos por A B . Finalmente, diremos que A de uma potncia
estritamente menor do que B se existir uma funo injetora f : A B e no existir g : A B
sobrejetora. Denotaremos por A B .
Teorema 1.7 (Teorema de Cantor). Seja A um conjunto qualquer. Ento A P( A) .
Prova. Primeiro note que a funo j : A P( A) definida por j ( x) = {x} claramente injetora. Portanto,
A P( A) . Agora, suponhamos, por absurdo, que exista uma funo f : A P( A) sobrejetora. Para
cada x A , temos que f ( x) A . Assim, x f ( x) ou x f ( x) . Consideremos o conjunto
S = {x A : x f ( x)} .
Ento S P( A) . Logo, por hiptese, existe y A tal que f ( y ) = S . Como S A temos que y S ou
y S . Se y S , ento y f ( y ) = S , o que uma contradio. Se y S , ento y f ( y ) = S , o que
1.
2.
Seja A um conjunto. Diremos que A um conjunto infinito se ele for equipotente com um
subconjunto prprio ou, equivalentemente, existir uma funo f : A A injetora tal que f ( A) A . Caso
contrrio, ele um conjunto finito.
Exemplo 1.9. O conjunto dos nmeros naturais infinto, pois a funo
por f (n) = 2n (ou f (n) = 2n + 1) claramente injetora.
1.
2.
f : definida
Prova. Vamos provar apenas o item (1). Como B um conjunto infinito temos que existe uma funo
f : B B injetora tal que f ( B ) B . Seja g : A A a funo definida por
f (a ), se a B
g (a) =
se a B.
a,
65
g : A {a 0 } A {a 0 } definida por
se
x a1
f ( x),
g ( x) =
b, se x = a 1 A {a 0 },
em que b um elemento qualquer de A f ( A) fixado, tem as propriedades desejadas.
I n = {k : k < n + 1} = {0,1, , n}
Soluo. Vamos usar induo sobre n. Se n = 0 , nada h para ser provado. Suponhamos que o resultado seja
vlido para algum n. Consideremos o conjunto
I n +1 = {k : k < n + 2} = I n {n + 1} .
Ento I n +1 um conjunto finito. Caso contrrio, pelo Teorema 1.11, I n +1 {n + 1} = I n um conjunto
infinito, o que contradiz a hiptese de induo. Portanto, I n um conjunto finito, para todo n .
Lema 1.13. Sejam x ] 0,1 [ e d , com d 2 . Ento para cada n existe uma nica
expresso
x=
onde os a i satisfazem
a1
d
a2
d
0 ai < d e 0 qn <
an
dn
+qn,
1
.
dn
x = m + q, onde q [0,1 [ Q .
m = c 0 d 0 + c 1d 1 +
+ c nd n ,
onde os c i satisfazem
0 c i < d e n = log d m .
Portanto, dividindo a expresso de m por d n , obtemos
66
x=
onde a i = c n i satisfazem
a1
a2
d
an
dn
+qn,
1
.
dn
0 ai < d e 0 qn <
(Unicidade) Seja
x=
onde b i satisfazem
b1
b2
d
bn
dn
+ rn ,
0 b i < d e 0 rn <
1
dn
a1
a2
d2
an
dn
+qn =
b1
d
b2
bn
+ rn .
d2
dn
Assim, pela unicidade da representao na base d, obtemos a i = b i e q n = r n .
d
x=
x1
2
x2
2
x3
23
onde x i {0,1} . Assim, para cada x I fixado, obtemos uma funo x : {0,1} definida por
x i , se i 0
0, se i = 0,
x (i ) =
f (0, x 1 x 2 x 3 ; 0, y 1 y 2 y 3 ) = (0, x 1 y 1 x 2 y 2 x 3 y 3 )
bijetora.
Finalizaremos esta seo com o seguinte comentrio: Seja A um conjunto qualquer. Ento, pelo
Teorema 4.8 da unidade II, os conjuntos P( A) e 2 A so equipotentes. Portanto, A 2 A . Agora, se
fizermos
A 1 = , A 2 = P( A 1 ), A 3 = P( A 2 ), ,
ento obtemos uma famlia (sequncia) estritamente crescente de conjuntos infinitos
Consideremos
B 1 = i A i +1
Ento P( A i +1 ) B 1 , pois A i +1 B 1 , para todo i . Assim, pelo item (2) do Corolrio 1.8,
A i +1 B 1 , i .
Logo, se fizermos
67
B 2 = P( B 1 ), B 3 = P( B 2 ), B 4 = P( B 3 ), ,
ento obtemos uma sequncia estritamente crescente de conjuntos infinitos
Portanto, de modo intuitivo, existem mais "medidas" de conjuntos infinitos que diferentes "medidas" de
conjuntos finitos. No entanto, toda a matemtica clssica, trabalha apenas com duas "medidas" de conjuntos
infinitos, a saber, os conjuntos equipotentes a e os conjuntos equipotentes a 2 . A potncia 2
frequentemente chamada de potncia do contnuo.
3.2 Nmeros cardinais
J vimos que a relao entre conjuntos
A B
uma relao de equivalncia. Assim, esta definio nos permite comparar medidas de conjuntos, mas no
explica o que significa a medida. De fato, a essncia da medida mais filosfica do que matemtica, ou
seja, intuitivamente, a medida de um conjunto A a propriedade que comum a todos os conjuntos que so
equipotentes a ele. Formalmente, temos o seguinte axioma.
ZF10 - Axioma dos nmeros cardinais. Existe uma classe de conjuntos C , chamada de nmeros
cardinais, com as seguintes propriedades:
1. Se A um conjunto qualquer, ento existe um nmero cardinal tal que A .
2. Se A um conjunto e , so nmeros cardinais, ento A e A implicam = .
Notaes: = # A , = card( A) ou = A .
Observao 2.1. Infelizmente, a classe de nmeros cardinais C no um conjunto. De fato,
suponhamos, por absurdo, que C seja um conjunto. Ento, pelo axioma ZF5 ,
K = C
um conjunto. Assim, pelo axioma ZF6 , P( K ) um conjunto. Logo, pelo item (1) do axioma ZF10 , existe
um nmero cardinal tal que P( K ) , o que uma contradio, pois K e K P( K ) .
Definimos os cardinais finitos como
0=
1 = {0}
2 = {0,1}
Alm disso, denotaremos
0 =
1 = P( )
2 = P(P( ))
Finalmente, denotaremos c = R . Neste caso, pelo Exemplo 1.14, c = R = 2 = P( ) = 1 .
Sejam , nmeros cardinais e A, B conjuntos tais que = A e = B . Diremos que que
menor do que ou igual a , em smbolos, , se A B , ou seja, se existir uma funo injetora
f : A B . fcil verificar que uma pr-ordem entre os nmeros cardinais.
Notao: < significa que e .
68
g = I A . Agora, fcil
a A e bB .
Prova. Seja f : A B uma funo injetora. Vamos definir g : A {a} B {b} por
f ( x), se x a e b f (a)
g ( x) =
f (a), se x a e b = f (a).
Ento fcil verificar que g uma funo injetora e Dom( g ) = A {a} .
Lema 2.4. Sejam A conjunto qualquer e B um subconjunto de A. Se existir uma funo injetora
f : A B , ento A = B .
Prova. (R. H. Cox) Se A = B , nada h para ser provado. Suponhamos que B A . Ento A B .
Consideremos o conjunto
C = n f n ( A B ) A ,
em que f ( A B) = ( A B) e f ( x) = f ( f
que
n
n 1
A B C e f (C ) C .
Alm disso, para cada m, n , com m n , obtemos
f m ( A B) f n ( A B) = ,
pois se m < n e
f m ( A B) f n ( A B) ,
ento existem x, y A B tais que
f m ( x) = f n ( y ) f n m ( y ) = x B .
Logo, x B ( A B) = , o que impossvel. Agora, vamos definir a funo g : A B por
f ( x), se x C
g ( x) =
se x C.
x,
Ento, por definio, g injetora. Como ( A X ) Y = ( A Y ) ( X Y ) temos que
g ( A) = ( A C ) f (C )
(
= (A
= ( A
) (
( A B) ) (
( A B) ) (
= A n f n ( A B) f
n
n +1
)
( A B) )
f n ( A B)
n +1
f n ( A B) n f
n +1
( A B)
= A ( A B)
= B.
Portanto, g sobrejetora e A = B .
69
A= B.
Observao 2.6. J vimos que era uma pr-ordem entre os nmeros cardinais. Portanto, pelo
Teorema 2.5, uma ordem entre os nmeros cardinais. Pode ser provada que para quaisquer nmeros
cardinais e uma e apenas uma das condies ocorre:
< , = ou > (Lei da Tricotomia).
Exemplo 2.7. Os conjuntos ] 0,1 [ e [0,1] so equipotentes.
Soluo. A funo j : ] 0,1 [ [0,1] definida por j ( x) = x claramente injetora. Por outro lado, a funo
f : [0,1] ] 0,1 [ definida por
f ( x) =
1
1
x+
2
4
r=
m
, onde m, n Z , n > 0 e mdc(m, n) = 1
n
2n3m , se m 0
g (r ) = n m
2 5 , se m < 0
injetora. Portanto, pelo Teorema 2.5, os conjuntos e Q so equipotentes.
70
0 = e c = 2 .
3.3 Aritmtica dos Nmeros Cardinais
Nesta seo provaremos que os nmeros cardinais possuem quase todas as propriedades
algbricas dos nmeros naturais.
Lema 3.1. Sejam f : A X e g : B X funes quaisquer tais que
f ( A B) = g ( A B) .
Ento existe uma nica funo h : A B X tal que h A = f e h B = g .
Prova. (Existncia) Dado x A B , vamos definir h( x) = f ( x) se x A e h( x) = g ( x) se x B .
Assim, se x A B , ento por hiptese h( x) = f ( x) = g ( x) . Portanto, h est bem definida e h A = f e
h B=g.
(Unicidade) Seja h 1 : A B X outra funo tal que h 1 A = f e h 1 B = g . Ento dado
A C e B D , ento A B C D .
f ( A B) = g ( A B) .
Logo, pelo Lema 3.1, existe uma nica funo h : A B C D tal que h A = f e h B = g . Por outro
lado, pelo Corolrio 4.3 da unidade II, f
1
1
Logo, pelo Lema 3.1, existe uma nica funo k : C D A B tal que k C = f
e k D = g 1 .
A B
bijetora e A B C D .
+ = A B .
1.
2.
Observao 3.3.
Pelo Teorema 3.2 esta operao bem definida.
Note que se A e B so dois conjuntos quaisquer, ento A equipotente A {1} e B equipotente B {2} ,
com
71
( A {1}) ( B {2}) = ,
mesmo que A e B no sejam disjuntos. Portanto,
+ = ( A {1}) ( B {2}) ,
em que = A e = B . Assim, a definio da adio de nmeros cardinais pode ser substiuda por esta.
3.
1.
2.
3.
4.
5.
Prova. Vamos provar apenas o item (1). Basta observar que A ( B C ) = ( A B) C , para todos os
conjuntos A, B e C.
0 + 0 = 0 = 0 + 1 , mas 0 1 ,
confira exemplo a seguir. Portanto, a lei do cancelamento vale no conjunto dos nmeros naturais, mas no
nos nmeros cardinais.
Exemplo 3.6. Sejam p = {0, 2, 4, 6,} e i = {1,3,5, 7,} , ento pelo Exemplo 1.9,
p = 0 = i . Em particular,
0 + 0 = p i = = 0 .
Teorema 3.7. Sejam A, B, C e D conjuntos quaisquer. Se A C e B D , ento A B C D .
Prova. Suponhamos que A C e B D . Ento existem funes bijetoras f : A C e g : B D .
Assim, a funo h : A B C D definida por
h( x, y ) = ( f ( x), f ( y ))
claramente bijetora. Portanto, A B C D .
Sejam , nmeros cardinais e A, B conjuntos que = A
e = B . Definimos a
= A B .
1.
2.
Observao 3.8.
Pelo Teorema 3.7 esta operao bem definida.
Note que se A = {a, b, c} e B = {1, 2,3} , ento
3i3 = A B = {(a,1), (a, 2), (a,3), (b,1), (b, 2), (b,3), (c,1), (c, 2), (c,3)} = 9 .
Neste caso, a multiplicao dos nmeros cardinais coincide com a multiplicao usual dos nmeros
naturais.
72
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
Prova. Vamos provar apenas os itens (1), (4) e (7): (1) A funo f : A ( B C ) ( A B) C definida
por
f ( x, ( y, z ) = (( x, y ), z )
claramente bijetora.
(4) Basta observar, pelo Teorema 3.5 da unidade II, que ( A B) C = ( A C ) ( B C ) , para
todos os conjuntos A, B e C.
(7) Se = A , ento 2i = {1, 2} A . Por outro lado, como
0 0 = = = 0 = 0 i1 , mas 0 1 .
Portanto, a lei do cancelamento vale no conjunto dos nmeros naturais, mas no nos nmeros cardinais.
Exemplo 3.11. Mostre que 0 c = c .
Soluo. A funo f : Z [0,1 [ R definida por f (n, x) = x + n , pela Observao 3.13 da unidade III,
bijetora. Portanto, 0 c = c .
= BA ,
73
Observao 3.13. Pelo Teorema 3.12 esta operao bem definida. Convencionamos 0 = 0 e
0 = 1.
Teorema 3.14. Sejam , , e nmeros cardinais. Ento:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
= + .
( )
= .
( ) = .
, se > 0 .
, se > 1 .
Se e , ento .
= 2 .
Prova. Vamos provar apenas os itens (1), (2) e (7): (1) Sejam A, B e C conjuntos tais que = A , = B
e = C , em que B C = . Primeiro note que se f : B A e g : C A so funes quaisquer,
ento, pelo o diagrama,
fcil verificar que existe uma nica funo h tal que h f 1 = f e h g 1 = g . Agora, a funo
F : A B C A B A C definida por
F ( h) = ( h f 1 , h g 1 )
tem as propriedades desejadas. Portanto, A B C A B A C .
(2) Sejam f : B C A uma funo qualquer e y C fixado. Ento f
: B A definida por
definida por F ( y ) = f
uma
( )
( )
iI
A i = A1 A 2 ,
em que I = {1, 2} .
74
No Moodle
Voc pode procurar a plataforma MOODLE para trabalhar no desenvolvimento de resultados
relacionados. Voc ainda ter oportunidade de por em prtica seus conhecimentos nas aplicaes
elaboradas sobre o tema.
5. Referncias Bibliogrficas
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Wilder, R. L. - Introduction to the Foundation of Mathematics, John Wiley & Sons, 1965.
75