A Magia Da Metáfora

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A Magia da Metfora

Escrito por:
James Lawley
Penny Tompkins
Publicado em:
ter, 15/05/2007
"Aprender a ler a linguagem dos smbolos tem um efeito positivo
na nossa autoimagem e na nossa energia.
Voc no tem que esperar uma crise para passar a enxergar as coisas
de um modo simblico e corretamente.
Voc pode comear onde quer que esteja."
Caroline Myss, Sacred Contracts
Esse artigo sobre aprender a usar as suas metforas e smbolos pessoais
para ler e entender a sua prpria simbologia. As suas metforas permitem que
voc se conhea e entenda a sua vida de uma maneira nova. Perceba a
riqueza das palavras na seguinte declarao:
"A minha raiva como danar com um tigre. Eu posso enxerg-la toda agora, a
sala, o lustre, ouvir a msica, sentir meu corao batendo enquanto ns
rodopiamos entre os outros casais no salo de baile... Eu estou no limiar entre
a vida e a morte."
A metfora indispensvel. No podemos falar sem metfora. No
conseguimos pensar semmetfora. E nunca teramos evoludo como seres
humanos conscientes sem metfora.
A nossa linguagem recheada com metforas. Pesquisa recente sobre a
nossa conversa do dia a dia mostra que ns usamos quatro metforas por
minuto. Por que a surpresa dessa estatstica? Porque no estamos conscientes
da grande maioria das metforas que usamos. A metfora to fundamental
para a nossa maneira de pensar e de falar que somente as mais bvias que
so registradas pela nossa conscincia:
Eu
estou
sempre
dando
murro
em
Eu
carrego
o
mundo
nos
Eu vejo uma luz no fim do tnel.

ponta
meus

de

faca.
ombros.

Essas expresses so obviamente metafricas. Ns sabemos que na realidade


no existe nenhuma faca, que o locutor no se transformou num Atlas, e que
ele de fato no est num tnel. Pelo contrrio. Ns temos um mecanismo inato
que registra a natureza figurativa dessas expresses e as aceita simbolizando
uma experincia mais do que a experincia em si. Ns sabemos intuitivamente
que no dia a dia, as coisas e os comportamentos (a faca, o murro, os ombros, o
mundo, uma luz e o tnel) esto sendo usados para representar outras
experincias: a falta de progresso, a excessiva responsabilidade, e achar que
ainda tem esperana.

As metforas evocam abundantes imagens e a percepo do sentido do que


est sendo descrito. Elas podem expressar, com muita nitidez, uma nica ideia
ou uma experincia de vida. Apesar de que muitos linguistas costumam rejeitlas como "meramente figurativas", elas hoje so aceitas como uma descrio
altamente correta da percepo do orador. Quando falamos sobre nossos
problemas, nossas emoes, nossos desejos, nossos relacionamentos
aquelas coisas mais importantes para ns ainda mais provvel que
faamos uso da metfora para nos ajudar a descrever a profundidade e a
complexidade da nossa experincia.
O que exatamente uma metfora?
No livro de George Lakoff e Mark Johnson, Metforas da Vida Cotidiana, eles
declaram:
"A essncia da metfora a compreenso e a experincia de uma coisa em
termos de outra".
Ns gostamos dessa simples definio por inmeras razes. Primeiro, ela
reconhece que ametfora captura a natureza essencial de uma experincia.
Por exemplo, quando um cliente descreve a sua situao: " como se eu fosse
um peixe-dourado num tanque sem oxignio tendo que subir para respirar", os
seus sensos de futilidade e da iminente destruio ficam aparentes no mesmo
instante. Segundo, a definio reconhece que a metfora um processo ativo
que est exatamente no centro da nossa prpria compreenso, na nossa
compreenso dos outros e de todo o mundo a nossa volta. Terceiro, ela admite
que a metfora mais do que uma expresso verbal. As metforas tambm
so expressas no verbalmente por gestos, sons, objetos e imagens. Em
outras palavras, tudo o que a pessoa diz, v, ouve, sente ou imagina tem
potencial para ser uma metfora que representa outra experincia.
A palavra metfora tem a mesma raiz de "nfora", um recipiente usado para
guardar leos e condimentos valiosos, e para carreg-los de um lugar para
outro. De modo semelhante, as metforas guardam informaes valiosas e tm
a capacidade inata de carreg-las do comum para o extraordinrio, ou na
verdade, para algo sagrado.
A metfora em si consiste de diversos componentes relacionados que
chamamos de "smbolos". Por isto, a metfora um todo e o smbolo uma
parte deste todo. Por exemplo, "Eu me sinto como se as minhas costas
estivessem pregadas na parede" se refere a trs smbolos (eu, minhas costas e
a parede), com o quarto estando implcito (o que quer ou quem quer que esteja
me "pregando").
No livro O Homem e seus Smbolos (Ed. Nova Fronteira), Carl Jung observou
que o smbolo sempre tem algo a mais do que est diante dos olhos e no
importa quanto um smbolo descrito, seu significado completo permanece
evasivo: "O que ns chamamos de smbolo um termo, um nome ou mesmo
uma imagem que pode ser familiar na vida diria, ainda que possua

conotaes especficas alm do seu sentido convencional e bvio. Isso implica


em algo vago, desconhecido ou escondido de ns".
A maneira que nos relacionamos com um smbolo muito importante.
Smbolos como a bandeira nacional ou cones religiosos podem ter um
significado cultural compartilhado, mas a nossa conexo pessoal com eles
que os impregna com um significado. Embora possamos usar metforas
comuns, quando elas so examinadas mais de perto, sempre aparece um
significado pessoal exclusivo. Nosso simbolismo pessoal nos conecta com a
nossa histria, nossa natureza espiritual, nosso senso de destino e aos
aspectos "vagos, desconhecidos e escondidos" da nossa vida. Quanto mais
explorarmos esse simbolismo mais o seu significado vai aparecer, e podemos
us-lo mais e mais como guia para a conscincia e a ao.
Fazendo uso das metforas
Logo que comear a reconhecer as metforas que voc e os outros usam, ir
perceb-las em toda parte. De fato "duro" "formar" uma frase do "dia a dia"
que no "contenha" uma metfora"escondida". Contudo a penetrao
da metfora na linguagem s a metade da histria. Ns tambm pensamos,
raciocinamos, tomamos decises e baseamos nossas aes nestas metforas.
Desse modo, as nossas metforas determinam como vivemos a nossa vida, e
que tipo de vida ns vivemos.
Se voc toma as metforas como descries literais do processamento
do inconsciente, elas se tornam uma passagem para uma maior conscincia,
compreenso e mudana.
Tome a "raiva" como exemplo. Qual o tipo de raiva que voc experimenta?
Voc:

Atinge o ponto de ebulio e a a cabea explode.

Tem um temperamento feroz e tenta resistir.

Descarrega a raiva expirando com fora.


ou algo mais simples?
No primeiro exemplo, a raiva simbolizada como um lquido fervendo. Por isso
a sua reao natural pode ser "acalmar as coisas" ou "reduzir a presso". No
segundo exemplo, a raiva representada como um oponente ou animal
selvagem, e a voc pode querer to "derrot-la" ou "mant-la sob controle". No
terceiro exemplo, a raiva considerada como um peso a ser removido; por isso
voc pode querer parar de "aument-la" ou de "segur-la por tanto tempo". As
aes que ns tomamos sero inevitavelmente consistentes com as metforas
que ns usamos.

Ns usamos as metforas no somente para compreender as nossas prprias


emoes,
como
tambm
tentamos
encaixar
as
emoes
e
o comportamento das outras pessoas na nossa prpria maneira metafrica de
enxergar o mundo. O que ns achamos que elas devem fazer e os conselhos
que damos, iro se originar, em grande parte, das nossas prprias metforas.
Como voc bem pode adivinhar, quando duas pessoas tm muitas metforas
contrastantes, isso , muitas vezes, a receita para uma m comunicao. Por
exemplo, quando uma pessoa "anda em marcha lenta" e outra tem "pavio
curto" e quer "acabar logo com isto", elas certamente iro discordar em como
expressar suas emoes e provavelmente vo entrar em conflito.
A metfora cria insight, mas tambm cria maneiras que nos impedem de ver
as coisas. As metforas podem liberar, e tambm limitar. Elas podem fortalecer
ou enfraquecer. Elas podem ser uma ferramenta para a criatividade, ou uma
priso auto imposta. O exerccio abaixo oferece uma oportunidade de abrir as
portas desta priso e de liberar a sua criatividade.
Exerccio
O propsito desse exerccio capacit-lo a ter mais escolhas para reagir nas
situaes onde, no passado, voc achou que agiu de modo inapropriado.
Existe uma grande variedade de aes com base emocional que poderiam se
encaixar aqui, mas vamos continuar usando a "raiva" como exemplo.
O propsito do exerccio voc:
(1) identificar uma metfora para quando est com raiva e, em consequncia,
age de modo inapropriado;
(2) identificar uma segunda metfora de como voc gostaria de reagir;
(3) explorar como voc pode converter ou expandir a primeira metfora para
dentro da segunda;
(4) traduzir os seus insights em como mudar o seu comportamento no seu dia
a dia;
(5) ensaiar esse comportamento novo.
Voc vai precisar de papel e de canetas de cor. Voc pode ler todo o exerccio
e o exemplo para compreender o que estar fazendo antes de comear.
Quando responder as perguntas no exerccio, espere um pouco para as
imagens e as sensaes se desenvolverem na conscincia antes de escrever
ou desenhar.
1. Identifique uma metfora para quando voc estiver com raiva e, em
consequncia, agir de modo inapropriado:
a. Pergunte a voc mesmo: "Quando eu estou com raiva e ajo de modo
inapropriado, isso se parece com o que"?

b. Desenhe a metfora que lhe vem cabea.


c. Olhe para o seu desenho e se faa as seguintes perguntas para voc
comear a saber mais sobre os smbolos na metfora. Para cada parte do
desenho, pergunte:
"Que tipo de...?"
"Tem mais alguma coisa sobre isso...?"
Acrescente novas informaes ao desenho, e quando achar que conseguiu
todas as informaes possveis, v para a segunda metfora.
O propsito dessas perguntas da Linguagem Clara focar a sua ateno em
cada parte dametfora para voc refletir sobre as qualidades e as
caractersticas da metfora. Elas foram especialmente planejadas para
funcionar com smbolos pessoais. Existiro aspectos da suametfora que voc
no decidiu conscientemente. Ao colocar a sua ateno em cada parte da
suametfora voc provavelmente vai descobrir algo novo sobre voc mesmo
ou da situao. a partir desses elementos inesperados que podem surgir
novas mudanas.
2. Identifique uma segunda metfora para como voc gostaria de reagir:
a. Pergunte-se: "Com o que se parece a maneira como eu gostaria de reagir?"
b. Desenhe a metfora que lhe vem a cabea.
c. Para cada parte do desenho, faa as seguintes perguntas para comear a
saber mais sobre os smbolos nessa metfora:
"Que tipo de...?"
"Tem mais alguma coisa sobre isso...?"
Acrescente as novas informaes no desenho, e quando voc tiver conseguido
todas as possveis para o momento, v para a etapa 3.
3.
Explore
como
voc
pode
converter
primeira metfora para dentro da segunda:

ou

expandir

a. Coloque seus desenhos na sua frente.


b. Considere como a metfora 1 pode se expandir para dentro da metfora 2.
Perceba:
"Qual a PRIMEIRA coisa que precisa acontecer para a metfora 1 comear a
se tornar ametfora 2"?
"Qual a LTIMA coisa que precisa acontecer antes da metfora 1 se tornar
a metfora 2"?

Leve o tempo que precisar para completar a etapa 3. Voc no tem que aceitar
a primeira ideia que vem a mente o propsito voc considerar algo novo.
Voc pode se imaginar como um smbolo (como se estivesse dentro do
desenho) e se perguntar o que necessrio para ametfora 1 mudar para a 2.
Lembre que isso pode exigir alguns estgios intermedirios para acontecer.
No rejeite uma ideia s porque ela parece bizarra (a terra das metforas est,
muitas vezes, mais perto do mundo dos sonhos do que da realidade diria).
Voc ir saber quando descobriu a soluo certa para voc, e que
habitualmente contm um elemento de surpresa.
4. Tendo identificado uma maneira para a metfora 1 se tornar a 2, como isso
se traduz naquilo que voc precisa fazer na sua vida diria? Como essa
informao conduz o seu comportamentoda prxima vez que estiver numa
situao similar?
5. Para comear a se acostumar com essa nova maneira de reagir, repita
vivendo a metfora 2 ao incorporar AGORA as suas caractersticas:
Qual

a
sua
O
que
voc
sente
dentro
Onde
est
o
seu
foco
O que voc est dizendo e como est dizendo isso?

de
de

postura?
si?
ateno?

Exemplo
A seguir temos um breve resumo das respostas de uma pessoa que realizou o
exerccio. As suas respostas provavelmente sero muito diferentes.
1. Quando eu estou com raiva e agindo de maneira inapropriada, com o que se
parece
isto?
"Com um gladiador que est com um p atrs".
Que
tipo
"Um gladiador romano com um tridente".

de

Que
tipo
de
"Rgido, parece pequeno e pronto para golpear".

"gladiador"?
"tridente"?

Existe alguma coisa a mais sobre "estar com um p atrs"?


"Ele est com o p atrs porque est sob presso e desequilibrado".
E assim por diante.
2. Com o que se parece a maneira que eu gostaria de reagir?
Ficar forte como uma rvore capaz de se curvar com o vento
- A rvore flexvel, com profundas razes, imponente e bem firme na terra.
- O vento tempestuoso, mas eventualmente se abranda.
3. Como a metfora 1 pode vir a se tornar a metfora 2?

O gladiador, de p e com os dois ps no cho, introduz o tridente no cho e


dele
crescem
profundas
razes
para
dentro
da
terra.
Primeiro,
ele
faz
uma
respirao
profunda.
- Por ltimo, ele se sente orgulhoso ao comear a se curvar com o vento.
4. Como essa informao ir conduzir o seu comportamento da prxima vez
que estiver numa situao similar?
"Eu vou perceber que as palavras com as quais a pessoa est me atacando
podem passar voando por mim ao invs de irem para meu mago. Eu sei que
se eu permanecer de p, me sentir equilibrado e firme no cho, ento eu no
posso ser ofendido pelas palavras dela. Se eu ficar furioso com o que ela disse,
eu posso perguntar o que ela est tentando conseguir ao dizer estas coisas,
mas eu no tenho que revidar".
Para concluir
As nossas metforas e smbolos pessoais nos ajudam a compreender o
mundo. Elas do forma queles aspectos da nossa vida que so os mais
msticos nossos problemas e suas solues, nossos medos e desejos,
nossas doenas e sade, nossa pobreza e riqueza, e a nossacapacidade de
amar e ser amado. Quando so dadas formas a essas experincias, e elas so
vistas pelo lado simblico, a ento se tornam acessveis para a explorao e a
transformao.
Referncias:
Jung, Carl, O Homem e seus Smbolos (Man and his Symbols), Ed. Nova
Fronteira.
Lakoff, George & Johnson, Mark, Metforas da Vida Cotidiana.
James Lawley e Penny Tompkins so psicoterapeutas registrados na Gr
Bretanha pela United Kingdom Council for Psychotherapy (UKCP). Eles moram
em Londres e ensinam no mundo inteiro. So os autores de Metaphors in
Mind: Transformation through Symbolic Modelling. Podem ser contatados na
The Developing Company pelo e-mail [email protected](link sends
e-mail).
O
artigo
original
"The
Magic
of
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