Especial Antonio Barros de Castro
Especial Antonio Barros de Castro
Especial Antonio Barros de Castro
Ao mestre,
com saudade
C
Anotaes feitas por Castro para
a sua apresentao no Frum
Nacional, em maio de 2011. A
mesa de que ele participou tinha
como tema: A Competio do
Sculo China, ndia e
Brasil? Lideranas.
Acervo Pessoal
Fazenda) e Luciano Coutinho. Entre 1963 e 1973, ele trabalhou na Comisso Econmica para a Amrica Latina e o
Caribe (Cepal), no Chile, onde funcionava a sede da instituio, ligada Organizao das Naes Unidas (ONU).
Naquela oportunidade, formou, com Maria da Conceio Tavares e Carlos Lessa, o trio do pensamento cepalino
no Brasil. Foi quando publicou, em parceria com Lessa, o seu primeiro livro: Introduo Economia: Uma Abordagem
Estruturalista (1967). Considerado uma referncia na academia, o livro chegou a ser reeditado mais de 40 vezes. O
brilhantismo de Castro foi eternizado em outras obras, tais como: 7 Ensaios Sobre a Economia Brasileira e A Economia
Brasileira em Marcha Forada, esta ltima escrita em parceria com Francisco Eduardo Pires de Souza.
Aos 73 anos, o economista mantinha uma vida intelectual intensa, e sempre pensou o mundo, a economia e a
sociedade a servio do sonho de uma civilizao brasileira sem xenofobia e sem prepotncias, como uma outorga
de nossas qualidades potenciais. Atualmente, debruado sobre a China, ele considerava que o desenvolvimento do
pas asitico alterou radicalmente a economia mundial e que o Brasil tinha que se reinventar para se manter competitivo. Seus estudos mais recentes apontam um Brasil estruturalmente diferente da China, da ndia e da Rssia em
funo de termos gua, enorme potencial energtico, sol, chuva e terra para produzir alimentos , e que deve perseguir, sem cessar, a rota de um estruturado plano de desenvolvimento sustentvel. E para tornar esse grande projeto
brasileiro exequvel, necessrio, sem dvida, realizar grandes mudanas estruturais, mensagem essa grafada na
primeira linha de um recente manuscrito de Castro, publicado na pgina anterior.
Para homenagear o acadmico e o respeitvel homem pblico Rumos encomendou artigos (depoimentos) a um
seleto grupo de pessoas que tiveram o privilgio de compartilhar, em vrios e diferentes momentos, suas ideias e
emoes com aquele que se tornou uma referncia no pensamento econmico brasileiro.
RUMOS - 5 Novembro/Dezembro 2011
ESPECIAL
Emilson Corra/Corecon-MG
O professor Antonio Barros de Castro deu em vida diversas entrevistas. Aps conced-las, no sossegava enquanto no
tinha acesso ao texto para verificar se era fiel ao que havia dito
e se a forma estava redonda. Mas, tratando-se da professora
Leda Paulani, no foi necessrio. A entrevista intitulada A Solido do Corredor de Longa Distncia, Antonio Barros de Castr o, publicada em Economia Aplicada, USP, em dezembro de 2000, seria
uma verdadeira contribuio s reflexes do autor.
Nela, Castro diz: O Paul Baran tinha dito que o Japo era
o anlogo do besouro: pelas leis da aerodinmica, no pode
voar, mas voa. Essa frase nunca saiu da minha cabea. Eu acredito que isso (ou deveria ser) uma espcie de ideal cientfico,
ou seja, descobrir besouros, perceber aquilo que no pode
acontecer, mas acontece, para tentar com isso entender o que
realmente se passa.
De fato, grande parte da obra de Castro pode ser compreendida como uma busca constante por novos besouros. Isto ,
por achados inusitados, que, para a surpresa de todos, de
repente alam voo. Este artigo procura apontar alguns dos
besouros que rodearam a cabea do pensador Antonio Barros
de Castro, reunindo-os aqui numa peculiar confraria.
O primeiro dos besouros de Castro foi o stimo ensaio, do
livro 7 Ensaios sobre a Economia Brasileira, que no foi publicado
(tendo o livro, na realidade, apenas seis ensaios). Castro esperava os ltimos dados do Censo do IBGE, prometidos por Isaac Kerstenetzky, por isso acabou no publicando, mas deu
uma aula/conferncia, onde Luiz Carlos Bresser-Pereira regis-
trou o besouro: a concentrao de renda deveria ser um entrave ao crescimento da economia brasileira, entretanto, no era.
O Brasil viveria um perodo de elevado crescimento nos anos
1970, porque a renda concentrada nos 10% do topo da pirmide constitua um importante mercado para a indstria, montada imagem e semelhana dos seus congneres internacionais.
Mais tarde, Maria da Conceio Tavares, em coautoria com
Jos Serra, em Alm da Estagnao, retomaria e desenvolveria
esse tema1.
O segundo besouro pode ser encontrado ainda nos 7
Ensaios, e se refere agricultura brasileira2. Antes de ser um
entrave ao desenvolvimento, tese corrente sua poca, a agricultura cumpria suas funes. A chamada inelasticidade da
oferta agrcola seria contestada por Castro. Ele estava certo e
anteviu a agricultura na fronteira do conhecimento, na vanguarda das tcnicas nos trpicos.
O terceiro besouro est no que viria a ser sua tese de doutorado: Escravos e Senhores nos Engenhos do Brasil.3 O sistema
colonial deveria, de acordo com a viso marxista predominante, ser incompatvel com o progresso tcnico. Mas, para
Castro, profundo estudioso e admirador de Marx, o escravismo brasileiro, desculpe a teoria, no o era. Havia inovaes
tcnicas importantes e essas tinham forte impacto nas relaes sociais da colnia. O artigo intitulado Brasil, 1610:
Mudanas Tcnicas e Conflitos Sociais, publicado pela primeira
vez na revista Planejamento e Poltica Econmica, em dezembro
de 1980, e agora no livro do Ipea, em homenagem ao Castro 4,
Antonio
Barros
de Castro
2 Castro, A. B.: 7 Ensaios sobre a Economia Brasileira. Rio de Janeiro: Forense, 1971.
3 Castro, A.B. Escravos e Senhores nos Engenhos do Brasil. Um Estudo sobre os Trabalhos do
Acar e a Poltica Econmica dos Senhores. Tese de Doutorado. Campinas: Unicamp, 1976.
Homenagem do Ipea ao Mestre. Ipea, 2011. O livro estar em breve disponvel no site da
instituio. Este artigo uma verso ampliada da fala da professora Ana Clia Castro,
por ocasio de seu lanamento, em 23/11/2011.
5 Castro, A.B. e Souza, F.E.P. A Economia Brasileira em Marcha Forada. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1985.
7 Castro, A.B. Renegate Development: Rise and Demise of State Led Development in Brazil in
SMITH, W. e ACUNA, C. (Eds.) Democracy, Markets and Structural Reforms in Latin
America: Argentina, Bolivia, Brasil, Chile and Mexico. Transition Publishers, 1994.
ESPECIAL
Ronaldo Guimares
Castro, um
argumentador
incisivo
Ricardo Bielschowsky
Economista. Professor
da UFRJ.
O triunfo do
inconformista
Fernando Cardim
Professor do Instituto de
Economia da Universidade
Federal do Rio de Janeiro
(IE-UFRJ)
Antonio
Barros
de Castro
ESPECIAL
Divulgao
Um estudioso
das estratgias
Rogrio Studart
Diretor executivo do Banco
Mundial
Marcelo Corra
Um sopro de
modernidade
duas etapas: de 1989 a 1994, a fase de Cir urgia e Reorganizao redimensionamento de quadros, enxugamento do
catlogo de vendas e o fechamento de instalaes, como tambm, destacadamente, a adoo de novas prticas gerenciais
tipicamente associadas gerncia de Qualidade Total (TQM) e
ao Just-in-Time (JIT). Em suma, preparao da empresa para a
maior competio, uma vez que tinha havido a abertura s
importaes e ao Investimento Direto Externo (IDE).
Na continuao, at o final da dcada, a fase de Catching-up
Produtivo, ou seja, a busca de padres internacionais de competitividade (sem preocupao maior com o esforo prprio
de inovao). Era a assimilao do novo paradigma industrial
tecnolgico (superao do paradigma fordista, de produo
em massa de produtos homogneos).
No terceiro momento, Castro fala da Semiestagnao ao
crescimento, num mercado sinocntrico. O ponto central
parte da constatao, pelas empresas, de no ser suficiente o
Catching up (emparelhamento). Tornava-se, pois, necessrio,
adquirir agilidade e flexibilidade em face dos concorrentes,
passando um nmero crescente de empresas a esforar-se
por redefinir, ou, at mesmo, literalmente, criar novos produtos, mercados e modelos de negcios. Em suma, passar a
estratgias mais ofensivas.
O ponto central se completa, nesse momento, ao fazer-se
sentir mais diretamente a emergncia da China, avassaladoramente competitiva e voraz.
Nesse novo cenrio (mundo, talvez), h atividades que
recebem o efeito China positivo. Mas h tambm atividades
Antonio
Barros
de Castro
de e sustentabilidade. Por essa razo Castro era um profundo
estudioso das estratgias de crescimento, das empresas e dos
governos. Entender tais estratgias, e sua implementao,
seria para ele a nica forma de empreender cenrios. No
havia mecanicismos nas trajetrias, nem tampouco erros que
no pudessem ser corrigidos. O futuro sempre parecia pronto para ser criado. No momento em que o Brasil enfrenta
colossais desafios, ler e reler Castro deveria ser uma obrigao para quem quer, e sobretudo para quem deve, pensar o
futuro do nosso pas.
Que a morte do professor Antonio Barros de Castro deixou o Brasil mais pobre intelectualmente ningum duvida.
Mas para um amigo, sua partida difcil de ser mesmo mensurada. Tive o privilgio de poder, vez em quando, ligar para
ele do exterior, ou ao chegar ao Rio, e escut-lo dizer no
outro lado da linha: Oi, rapaz, o que voc conta de novo?.
No era uma frase de efeito: ele queria escutar, aprender, discutir e dividir ideias. E ele o fazia com a generosidade, o brilhantismo e um bom humor que encontrei em muitas poucas pessoas. Ele faz falta, muita falta.
e empresas cujos prximos passos requerem transformaes. E no se trata, aqui, de racionalizar e atualizar a dimenso operacional das empresas tarefa predominante por ocasio da abertura dos anos 1990. Entre as questes a serem
agora enfrentadas, destaca-se a redefinio da prpria estratgia individual das empresas.
Castro vai adiante: ... A evoluo da indstria (e at mesmo um estilo ou modelo de crescimento) foi interceptada ou
truncada. O reposicionamento diante deste fato maior... requer muitas vezes um nvel de colaborao entre empresas, e
destas com os poderes pblicos, sem paralelo na luta pela
sobrevivncia que caracterizou o longo perodo de semiestagnao.
O Resumo da pera em portugus parece ser que, para
haver adequado desenvolvimento, necessrio existir o domnio do paradigma industrial-tecnolgico da poca. E um Estado (e empresas, claro) capaz de conceber vises estratgicas e
definir mecanismos de ao com elas compatveis.
Por causa disso, o Frum Nacional fez homenagem a
Antonio Barros de Castro, publicando o livro O Desenvolvimento Brasileiro Da Era Geisel ao Nosso Tempo, que rene ensaios
escritos pelo autor desde 1986 at este ano.
E assim voltamos ao depoimento dado quando Castro se
foi (no h mais o amigo, nem o economista, nem o brasileiro. Uma tragdia): O Brasil ficou menor ( la John Donne).
1 Recesso Mundial, resultante da Primeira Crise do Petrleo (outubro de 1973).
2 Escrito em parceria com Francisco Eduardo Pires de Souza.
ESPECIAL
Fonte de energia
e inspirao
Ivo Gonzalez
Luciano Coutinho
Presidente do BNDES
Castro, um
economista
brasileiro original
Francisco Eduardo
Pires de Souza
Assessor da vice-presidncia
do BNDES
Antonio Barros de Castro nos deixou em agosto ltimo. Foi uma enorme perda pessoal para todos aqueles que
tiveram o privilgio de conviver com ele, alm de um desfalque igualmente grande para o pensamento econmico e
o debate de ideias em geral no Brasil.
Suas contribuies para a compreenso da evoluo e
dinmica da economia deste pas se devem sua capacidade de formular hipteses e interpretaes originais para os
fenmenos econmicos, tendo por pano de fundo um
mtodo histrico-estrutural. Sua incessante criatividade trazia sempre uma perspectiva indita, uma explicao ainda
no contemplada, e com isso enriquecia o debate sobre os
diversos temas da economia brasileira que ocuparam sua
ateno ao longo de sua trajetria de pensador do Brasil.
Como era ao mesmo tempo muito rigoroso, vivia imerso
em dvidas e inquietaes, que condenaram gaveta muitos argumentos e ideias instigantes, que s agora comeam
a vir luz, em edies pstumas.
Castro era uma espcie de heterodoxo dentro da heterodoxia, uma vez que na busca pelo entendimento das questes mais intrigantes com que se defrontava no poupava
crticas tanto sabedoria convencional, como muitas vezes
tambm s teses caras ao pensamento heterodoxo. Ao longo deste processo, chegava muitas vezes a verdades inconvenientes, e terminava invariavelmente em grandes polmicas.
Foi assim com um de seus primeiros livros, os 7 Ensaios
sobre a Economia Brasileira, quando, entre outras questes,
desafiou, de dentro da corrente estruturalista, a tese de que
Antonio
Antonio
Barros
Barros
Castro
dedeCastro
Antonio
Barros
de Castro
acelerar a expanso dos investimentos para garantir a oferta futura, evitando-se desdobramentos inflacionrios,
estrangulamentos impeditivos e, ainda, dficits externos
indesejveis.
Ao contrrio da dificuldade dos pases desenvolvidos
em encontrar fontes de crescimento, o Brasil tem como
desafio principal impulsionar o crescimento dos investimentos de forma competitiva e eficiente. O professor Castro enxergava na inovao a varivel-chave e fundamental
para assegurar a sustentabilidade do crescimento. Por essa
razo, dedicou muita ateno e perspiccia compreenso
dos fatores e processos microeconmicos que diferenciam as empresas inovadoras vitoriosas.
Por fim, destaco que o precioso legado deixado pelo
professor Antonio Barros de Castro deve ser fonte de energia e inspirao nica forma de preencher o vazio que
sua ausncia prematura nos deixou.
ESPECIAL
Marcelo Corra
A aventura do
pensamento
Luiz Carlos
Bresser-Pereira
Professor emrito da
Fundao Getulio
Vargas (FGV)
Antonio Barros de
Castro: um obiturio
Luiz Carlos
Delorme Prado
Professor do Instituto de
Economia da UFRJ e
diretor-presidente do
Centro Internacional
Celso Furtado
de Polticas para o
Desenvolvimento
Por quase cinco dcadas, Antonio Barros de Castro participou ativamente da vida intelectual brasileira com uma
extensa obra acadmica, na qual se destacam interpretaes
originais, muitas vezes polmicas, sobre questes marcantes
da histria econmica do pas. Muito jovem, ganhou notoriedade com a publicao, com seu ex-colega do curso de economia da UFRJ, Carlos Lessa, de um grande sucesso editorial: o livro-texto Introduo Economia, Uma abordagem Estruturalista. Desde ento, participou de debates importantes, que
se refletiam nos livros que publicou.
Desde essa poca Castro fez regularmente contribuies
acadmicas importantes. Ao fim da dcada de 1960, o livro 7
Ensaios sobre a Economia Brasileira (Forense, RJ, 1969) apresentou, no segundo ensaio, uma interpretao ousada quanto ao
papel da agricultura no desenvolvimento econmico brasileiro. Para ele, a viso sustentada por muitos historiadores e economistas de sua poca, de que a agricultura brasileira era um
freio ao desenvolvimento do Brasil, estava equivocada. Ao
contrrio, sustentou Castro, ela cumpriu o papel de garantir a
oferta de alimentos e mo de obra para os centros urbanos
em expanso. Se no contribuiu como mercado para os produtos industriais, foi uma fonte de transferncia de capitais
para o investimento no setor urbano. No entanto, segundo
esse autor, a estrutura rural teve um efeito perverso na estrutura urbana: ao colocar nas cidades seus excedentes de populao despossudos e sem instruo, reproduziu a desigualdade que havia no campo.
Antonio
Barros
de Castro
prontas, a clichs, a rotinas e a modelos matemticos prtes porter. Castro no economizava pensamento. Ele no tinha medo
dos custos e riscos daqueles que se aventuram a pensar. Ao
invs disso, ele se dedicava ao pensamento, com carinho, com
cuidado, sem pressa. Ele partia de algum problema que lhe chamava a ateno, e ento se punha a pensar a fazer dedues e
submeter tudo crtica. Seu objetivo era compreender as estratgias envolvidas: as estratgias dos agentes econmicos, as dos
formuladores de poltica econmica e a sua.
Nos 7 Ensaios sobre a Economia Brasileira (1969), que o lanaram como economista de primeira grandeza, este mtodo j est
presente. Mas neles faltaram o stimo ensaio, que me coube referir, depois de ter assistido a uma conferncia sua na PUC-SP. Em
meu Dividir ou Multiplicar? A Distribuio da Renda e a Recuperao
da Economia Brasileira (1970), mostrei que a partir de uma pesquisa que havia sido realizada no ano anterior, nas principais capitais dos estados brasileiros, como a concentrao da renda da classe mdia para cima estava, ento, criando mercado para os bens
de luxo produzidos pelas empresas multinacionais no Brasil, em
particular pela indstria automobilstica, e, dessa forma, compatibilizando perversamente o aumento da desigualdade com o
milagre econmico que estava ento em curso, caracterizado
por taxas de crescimento superiores a 10%.
O pensamento voltou a se manifestar quando escreveu com
Francisco Eduardo Pires de Souza seu instigante A Economia Brasileira em Marcha Forada (1985), publicado em um momento de
grande euforia nacional, como o da transio democrtica. A previso contida no ttulo do livro no se materializou porque seus
ESPECIAL
Contribuies
equivocadamente
ignoradas
Czar Manoel
de Medeiros
Doutor em Economia
pelo Instituto de
Economia da Universidade
Federal do Rio de Janeiro
(IE-UFRJ)
Antonio Barros de Castro um raro exemplo de integridade em seu mais amplo sentido: moral, familiar, intelectual (Prmio Jabuti) e profissional. Professor emrito da UFRJ, Castro
reconhecido internacionalmente como um dos mais criativos e instigantes entre os brilhantes economistas brasileiros. O
legado de suas contribuies para promover o desenvolvimento brasileiro merecer a organizao de ciclos de debates e
a edio de livros sobre os temas por ele abordados. Cabe destacar tambm a sua atuao como presidente (1992/93) e diretor de Planejamento do BNDES (no governo Lula) e como
consultor/orientador de estratgias governamentais, setoriais
e empresariais em sintonia com rigorosa concepo terica.
Castro sempre foi capaz de demonstrar que, quanto maior
o rigor terico na montagem de estratgias governamentais,
setoriais e empresariais, maiores as probabilidades de sucesso
operacional de suas proposies, desmentindo o senso
comum que coloca dvidas entre a teoria e a prtica.
Tive a honra de contar com a efetiva colaborao dele em
trs ricas experincias de minha carreira profissional e acadmica. Como vice-presidente Financeiro da Acesita, contei, em
1986 e 1987, com o envolvimento de Castro em projees de
cenrios para o Brasil e para a economia internacional e na
modelagem de privatizao da empresa visando implementao de um programa estratgico de investimentos para a
dcada de 1990. A Acesita j exportava para mais de 30 pases e
reunia condies para participar do processo de globalizao
em curso como uma multinacional verde-amarela. O Banco
do Brasil (BB), acionista majoritrio da empresa, aprovou junto Comisso de Desestatizao do governo federal, um inovador modelo de privatizao capaz de canalizar recursos suficientes para viabilizar os investimentos necessrios em expanso, diversificao e modernizao contemplados no referido
plano estratgico. O BB chamaria aumento de capital e renunciaria, atravs de leilo, a seus direitos de subscrio, o que
garantiria a captao de recursos junto a investidores institucionais e a empresas do ramo com capacidade de gesto. Infelizmente, o processo de privatizao, redefinido em 1991 pelo
governo Collor, seguiu o modelo do BNDES via leilo de par ticipaes do acionista controlador, o que causou significativos prejuzos financeiros e patrimoniais ao BB e, o que mais
grave, interrompeu a execuo do plano estratgico da empresa, resultando na perda de oportunidade para o Brasil estruturar um dos principais players mundiais de aos especiais.
Em 1988, o presidente do BB, Mrio J. G. Berard, convocou-me para coordenar a elaborao de um novo planejamento estratgico do banco para a dcada de 1990. Identificamos
que um novo plano estratgico para o BB deveria contemplar
mecanismos para sua maior participao como ativo instrumento no processo de desenvolvimento nacional. Convidamos Castro para definir as diretrizes do novo modelo de
desenvolvimento e para orientar a elaborao do novo Plano
Nacional de Desenvolvimento (PND) para o Brasil. Ele props o modelo Consumo de Massas e Retomada do Crescimento, como fio condutor para orientar o novo PND e para
as aes estratgicas do BB. Somente a partir de 2004, j no
governo Lula, o modelo comeou a ser implantado.
Castro chamou a ateno para a necessidade de simultneo
e adequado tratamento de quatro restries para a retomada
Antonio
Barros
de Castro