Resumo o Jeitinho Brasileiro1

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O Jeitinho Brasileiro A arte de ser mais igual

forma autoritria. Afirmaes do tipo s porque

do que os outros. (Texto 03)

tem dinheiro, pensa que melhor, est enganado

Lvia Barbosa Resumo e comentrios de

ou quis bancar a gr-fina e quebrou a cara so

Marcelo Loyola Fraga

bastante utilizadas para exemplificar pessoas que


tentaram lanar mo desse atributo social para
obterem um jeitinho ou qualquer outra coisa. Por

O que o jeitinho

outro lado, se as pessoas souberem canalizar esses


O jeitinho sempre uma forma especial de se

atributos

resolver algum problema ou situao difcil ou

justamente a sua no-importncia, sero alvos

proibida; ou uma soluo criativa para alguma

de comentrios justamente opostos. Por exemplo,

urgncia, seja sob a forma de burla a alguma regra

ele to simples ou nem parece rica, to

ou norma preestabelecida, seja sob a forma de

simptica, voc no d nada por ele, mas

conciliao, esperteza ou habilidade. O jeitinho

milionrio. de bom tom para o rico, no Brasil,

demais pode levar corrupo. O que caracteriza a

proceder como a sua situao social nem contasse

passagem de uma categoria para outra muito

como fato relevante, apesar de ser uma situao a

mais o contexto em que a situao ocorre e o tipo

que todos almejam. Ou seja, essa situao social

de relao existente entre as pessoas envolvidas

nunca pode ser bem explicitada ou admitida por

do que, propriamente, uma natureza peculiar a

quem a possui. Um rico que se comporta de acordo

cada uma. Por exemplo, o favor uma situao

com a sua condio de riqueza caracterizado

que,

negativamente,

para

maioria

das

pessoas,

implica

sociais

de

uma

embora

forma

seja

que

visto

enfatize

de

forma

reciprocidade direta. Quem recebe um favor fica

positiva caso se comporte como se no fosse rico.

devedor de que o fez e se sente obrigado a

Admitir o sucesso de forma clara, seja de que tipo

retribu-lo na primeira oportunidade. Essa noo de

for, no bem-visto. Isso contrasta com os pases

reciprocidade to forte que, muitas vezes, a

anglo-saxes

pessoa que faz o favor procura evitar quem o

protestante.

recebeu para que no se julgue obrigada ou

materiais no so vistos como culpa, mas como

constrangida. Os argumentos a favor da prtica

recompensa pelo trabalho duro e bom desempenho

do jeitinho so normalmente todo mundo faz, no

da pessoa. No motivo de justificativas. No Brasil

vou ficar de fora, uso o jeitinho forado pelas

o sucesso material tem implicaes de ordem

circunstncias etc.

moral bastante negativas e intimamente ligadas


religio

que passaram
Por

catlica,

exemplo,

que

por
nos

atribui

uma
EUA

reforma
os

bens

caractersticas

perversas a situaes de sucesso material. O rico

Os idiomas do jeitinho

foi bem-sucedido do ponto de vista material,


O jeito um elemento universalmente conhecido

portanto, no deve s-lo moral e espiritualmente.

na sociedade brasileira. Alm disso, em termos de

Isso permite que as pessoas se compensem,

representao

acionando diferentes sistemas de valores.

simblica,

utilizado

indistintamente por todos os segmentos sociais e


depende, portanto, para concesso e sucesso, de

Um exemplo interessante de como isso funciona

fatores que no fazem parte da identidade social de

o caso do motorista de txi que, ao deixar uma

cada um. Um dos fatores que mais mobilizam as

passageira em frente a um prdio de luxo, afirmou

pessoas para darem um jeitinho para algum ser

que quem morava ali no poderia t-lo conseguido

simptico. Outro aspecto que pode ser mencionado

pelo trabalho, mas s roubando. Implicitamente

status, a maneira de se vestir e dinheiro. Embora

dizia que ele era pobre, mas honesto, e o outro

todas as pessoas reconheam que esses fatores

rico, mas ladro. E no s isso. A carncia

influem, nunca chegam a ser apontados como

material das pessoas tem um significado bastante

elementos decisivos. So importantes sim, mas at

distinto aqui no Brasil e, por exemplo, nos EUA. A

certo ponto, e podem ser utilizados contras as

misria, a pobreza do cidado no Brasil, o exime de

pessoas, caso elas manipulem essas categorias de

qualquer responsabilidade individual na alterao


1

da

situao

em

que

se

encontra.

Diante de

burocrtico

brasileiro,

extremamente

rgido,

mendigos dormindo nas ruas, a reao normal de

ineficiente e intransigente, no dando espao

pena pelo indivduo e indignao pelo governo, que

prtica do que se costuma chamar de bom senso.

no toma providncias e no faz nada para alterar

Isso permite que os prprios executores desse

esse quadro. Para um norte-americano a reao

sistema, na ausncia de alguma regulamentao

seria de forma inversa: essa tarefa de alada

especfica, regulem, no tendo como base o bom

pessoal e que no deve ser compartilhada com

senso ou os chamados direitos do cidado ou o

terceiros. Por outro lado, o jeitinho no est ligado

esprito que instrui esta ou aquela regulamentao,

esfera da identidade social como dinheiro, status,

mas a prpria vontade pessoal. Isso nos permite

nome da famlia, religio, cor etc. Um indivduo que

mergulhar

no

est

decretos autoritrios e personalistas que diluem

igualmente habilitado a pedir um jeitinho, desde

quase que completamente qualquer possibilidade

que saiba pedir, tenha um bom papo, seja

de funcionamento do sistema com um esprito

simptico ou charmoso. Por outro lado, um general

universalizante.

ocupe

posio

social

privilegiada,

num

verdadeiro

emaranhado

de

poder ficar sem o seu jeitinho se tentar valer-se


de sua patente de forma autoritria. Para sair da

Fazendo um paralelo entre o Voc sabe com quem

situao, ter de recorrer fatalmente ao Voc sabe

est falando? enfatizado por Roberto DaMatta e o

com quem est falando?, que poder ser, tanto ou

jeitinho,

mais eficaz que o jeito, mas que depende de voc

primeiro um ritual de separao, radical e

ser algum dentro do universo social brasileiro.

autoritrio, de duas posies sociais bem distintas,

Portanto,

deputado,

tanto

desde

Joo-ningum

que

tenham

como

as

condies

individuais, esto qualificados para utilizar o jeito.

pode-se

segundo

afirmar

jeitinho

que

enquanto

identifica-se

com

cordialidade e a simpatia, sendo visto como um


ritual

de

aglutinao.

Ele

procura

justamente

juntar, e no separar, os participantes da situao.


Dizer

no

no

Brasil

terreno

E mais, em vez de marcar as diferenas existentes

desconhecido. A esse respeito, a revista Veja

entre as pessoas, que podem ou no existir do

(07/11/1984), na seo Ponto de Vista, publicou

ponto de vista social, ele procura justamente

ensaio intitulado preciso dizer no, de Fernando

anul-las, invocando a igualdade entre todos e da

de Oliveira, no qual o autor, baseado na sua

prpria condio humana afinal somos todos

experincia

recursos

irmos, filhos de Deus ou hoje sou eu, amanh

pblicos, afirmava que o Brasil precisava ter um

pode ser ele etc. O prprio vocabulrio utilizado

governante um brasileiro com vocao para no

em situaes de jeitinho enfatiza o seu aspecto

autorizar certos gastos e perder amigos. E mais, tal

aglutinador

indivduo deveria recusar convites para simpsios,

amigo, companheiro, gente boa, minha tia

jantares, inauguraes e outros eventos sociais...

etc. O jeitinho, tambm, pode estar associado

se tiver cara de poucos amigos tanto melhor. O

simultaneamente ao nosso lado cordial, simptico,

que o articulista queria dizer , para se cumprir a

malandro

lei, seria preciso dizer no aos amigos e depois

incompetente, subdesenvolvido que prefere o papo

evitar ou cortar todos os laos com a sociedade.

briga, a conciliao disputa. Outro trao

Essa postura est alicerada numa viso de mundo

importante do jeitinho que qualquer pessoa pode

em que a nfase na sociedade colocada nas

lanar mo dele, independente de sua identidade

relaes que se estabelecem entre as pessoas,

social, rico ou pobre, esposa de deputado ou

mais do que qualquer outra. Isso torna o Brasil um

diarista, patro ou operrio. O anonimato das

pas em que todos querem ser pessoas e no

pessoas envolvidas gera uma situao de igualdade

indivduos. Qualquer vantagem ou desvantagem

entre indivduos que, em outras circunstncias,

social que a pessoa tenha pode ser utilizada para

poderiam

promov-la a tal categoria. Confirmando ainda

complementares.

mais essa situao, temos o prprio sistema

perceber que de jeitinho a situao pode partir

como

aventura

administrador

no

de

igualitrio:

tambm

estar

em

meu

pas

que

situaes
verdade

irmo,

no

desiguais
e

meu

srio,

e/ou

importante
2

para o Voc sabe com quem est falando?, toda

observa-se, cada vez mais, o estabelecimento de

vez que o coronel, tendo seu pedido rejeitado,

idias que negam e condenam a existncia de

declara a sua identidade exercendo presso sobre o

qualquer tipo de proposta de diferenciao.

caixa,

confronto.

exemplo, dois professores que iniciaram a carreira

Provavelmente, este mandar chamar o gerente,

em 1980, chegaro juntos em 1990 ao mesmo

que apaziguar a situao, providenciando para

nvel funcional, a despeito do fato de que um tenha

que o cheque do cliente seja descontado, sem o

publicado livros, artigos, participado de congressos,

custo de o mesmo entrar na fila, mas, ao mesmo

reunies cientficas e realizado pesquisas, e o outro

tempo, sem obrigar o caixa a descont-lo.

tenha se limitado apenas a escrever algumas linhas

estabelecendo-se

assim

no
Em resumo:

quadro-negro.

Ambos

recebero

Por

mesmo

salrio, tero os mesmos direitos e obrigaes. Em


relao aos alunos, a situao no diferente. Um

Voc sabe com quem est falando

bom desempenho acadmico no abrir para o


aluno qualquer porta no que diz respeito a bolsas

1. Faz uso da autoridade e do poder.

de estudo, oportunidade de iniciao profissional,

2. Parte do pressuposto que as desigualdades

associaes culturais e de pesquisa. O mesmo se

sociais tm valor.

aplica aos funcionrios em relao s promoes

3. No acessvel a todos da sociedade em


todas as situaes.

por mrito.

Com relao aos corpos sociais que

compem a comunidade acadmica professores,

4. Baseia-se, para a sua eficcia, na identidade


social.

alunos e funcionrios -, a ideologia igualitria se


coloca

5. A identidade social dos participantes sempre

como

moldura

bsica

pela

qual

se

orientam todas as relaes. A todos so atribudos

termina desvendada.

o mesmo status e a mesma importncia, de modo

6. um rito de separao.

que, do ponto de vista da representao e tambm

7. A reao ao uso da expresso sempre

da

enftica e negativa.

prtica

social,

nenhum

grupo

tenha

mais

direitos do que os outros. Isso fica evidente no

8. Estabelece sempre uma relao negativa.

processo eleitoral que se disseminou aps 1985,


para escolher desde chefes de departamento at o

Jeitinho

reitor, no qual alunos, funcionrios e professores


so chamados a votar, mesmo sendo pessoas com

1. Faz uso da barganha e da argumentao.

as

2. Parte do pressuposto igualitrio.

professores, a quem cabem a responsabilidade do

3. acessvel a todos da sociedade.

ensino e da pesquisa e cujo desempenho d

4. No

depende,

exclusivamente,

de

laos

mais

prestgio

diferentes

responsabilidades,

instituio;

os

alunos,

como

membros

mais profundos com a sociedade. Depende

transitrios numa instituio permanente e os

basicamente de atributos individuais, da

funcionrios que so elementos no especializados

personalidade.

chamados

opinar

num

foro

de

debate

5. Pode comear e terminar anonimamente.

especializado.

6. um rito aglutinador.

universidade renomada, onde o Departamento de

7. A

reao

ao

uso

da

expresso

Antropologia

Outro
props

exemplo
que

vem
partir

de
de

uma
uma

predominantemente positiva; a negativa

determinada data, todos os trabalhos acadmicos

sempre expressa de forma branda.

individuais

8. Estabelece sempre uma relao positiva.

fossem

assinados

em

conjunto.

Propunha-se que um trabalho feito individualmente


fosse publicado como de autoria coletiva de todos
os membros do departamento. Um outro caso cita

A ideologia da igualdade radical

uma matria do Jornal do Brasil, em novembro de


Pode-se

exemplificar

sistema

universitrio

este

item,

pblico

por

meio

brasileiro.

do

1985, em que os servidores das universidades

Nele

federais entrariam em greve se a gratificao de


3

nvel superior no fosse estendida para servidores

socialmente

de ensino mdio. Ora, sabemos que a gratificao

necessitada

de

de nvel universitrio uma das nicas formas de

psiquitrica.

Dentro

se premiar, de forma capenga, o desempenho da

independncia estimulada desde cedo pelos pais.

melhor qualificao pessoal. uma verdadeira

A criana induzida a desempenhar pequenas

sndrome da isonomia, o que pode ser chamada de

tarefas que lhe forneam algum tipo de ganho

igualdade radical.

pecunirio. A permanncia na casa dos pais depois

malvista,

como

algum
da

tipo

considerada
de

famlia,

assistncia

busca

de

de uma determinada idade no estimulada nem


Um outro aspecto que ilustra a nfase no ideal

desejada.

igualitrio a negao da universidade como uma

universitrias para constar que, a maioria dos

instituio de elite. Em todos os pases do mundo,

jovens no estudam em lugares prximos a sua

independentemente do sistema poltico vigente, o

casa e sim em lugares bem distantes.

Basta

verificarmos

as

estatsticas

ensino universitrio o mais caro e de mais difcil


acesso. Entretanto, no Brasil, afirmar que este no
deve

ser

um

ensino

de

massa,

Igualdade moral e igualdade legal

mesmo

resguardando a possibilidade de livre acesso a

A igualdade nos EUA percebida como um direito e

todos, quase sinnimo de suicdio profissional

no como um fato. Consequentemente funciona

para quem do ramo. Admitir a existncia de

como uma moldura para o desenrolar de todos os

diferenciaes

dramas sociais. Na sociedade norte-americana,

internas,

de

hierarquias,

em

formaes sociais fascinadas com o igualitarismo

igualamos

do ponto de vista simblico, associar-se aos

desempenho por parte dos indivduos ou de um

piores tipos de representaes polticas e sociais.

grupo os intitula a uma posio diferenciada em

arriscar-se a ser visto, no mnimo, como Fascista.

relao aos demais. Assim, na sociedade norte-

E ainda, no Brasil, exigir que os alunos se dirijam

americana, a partir de sua idia de igualdade

aos professores pelos seus respectivos ttulos ou

concebida como um direito consubstanciado na

outro termo que no seja o seu prprio nome soa

existncia de uma lei universalizante que, em

extremamente

antiptico,

desagradvel

para

diferenciar.

Um

melhor

determinado nvel e momento, iguala todos -, os

autoritrio, quando no tem conotaes jocosas.

indivduos diferenciam-se uns dos outros. Por outro

Essa forma s alterada pela idade do professor

lado, a igualdade no Brasil se apresenta sob outras

ou professora. Se esta for mais idosa, poder ser

formas. Principalmente na igualdade biolgica do

contemplada com um Professora ou sra.; caso

gnero humano, quando dizemos quando morrer,

contrrio ser chamada pelo seu prprio nome.

vai todo mundo para o mesmo lugar, meu sangue


to vermelho quanto o dele, gente tudo igual

O atributo da igualdade e da liberdade nos

etc. expressam a idia de que a existncia de uma

EUA

constituio

fsica

comum

todos

os

seres

humanos e um destino final idntico e inexorvel


O self-reliance o princpio de que cada indivduo

para todos conferem-lhes uma humanidade no

o seu prprio mestre, tem controle absoluto de seu

sentido de valor.

prprio destino e, portanto, absolutamente livre.

igualdade norte-americana, a brasileira se coloca

Os avanos e os recuos na vida de cada pessoa

como um fato, como algo dotado de substncia, e

esto condicionados aos seus prprios mritos. O

no apenas e exclusivamente como um direito.

self-reliance

nega

importncia

de

Ao contrrio da concepo da

outros

indivduos na vida de cada um e acredita que a

Implicaes

capacidade de se valer de si mesmo fundamental.

sociedade brasileira

de

igualdade

moral

para

Qualquer trao ou indcio de dependncia, em que


domnio

for,

A noo de igualdade entendida no Brasil como

pessoa

um fato, e no como um direito, imprime a essa

possuidora de um carter dependente no s

categoria um carter radical e absoluto que no

considerado

econmico,
altamente

emocional

humilhante.

etc.

permite gradaes e hierarquias com base em

Nenhum grupo possui uma identidade acabada. As

valores calcados no desempenho individual. Isso

identidades

tem como conseqncia lgica a anulao do

culturais. So categorias que funcionam como

indivduo

irrepetvel,

sistema codificador de uma vasta teia de relaes.

permitindo a formao de totalidades mais amplas,

um sistema de classificao que separa e ordena

da quais o melhor exemplo seria a nossa idia de

uma populao numa srie de categorias que se

Estado. A nao-estado, em vez de ser concebida

opem e se complementam. Os mecanismos de

como uma coleo de indivduos, como no caso

poder e dominao so aspectos fundamentais na

francs, ao qual se acrescenta o exemplo norte-

construo de identidades sociais, pois hierarquias

americano, aprendida como um superindivduo,

econmicas, polticas e simblicas so constitutivas

ou melhor, como um indivduo coletivo, com

dessas respectivas atribuies e construes. A

superdireitos e deveres, hierarquicamente superior

identidade social, segundo Roberto Cardoso de

ao nosso indivduo-cidado, podendo dispor em

Oliveira,

todas as suas dimenses.

coletiva, por meio da manipulao de uma srie de

enquanto

carter

uno

smbolos

sociais

pode
sociais

so,

ser

portanto,

comparada

que

construes

conscincia

formam,

portanto,

A segunda conseqncia da nossa nfase igualitria

tornam-se a sua identidade. Neste estudo, Lvia

no plano simblico que, almejamos no o

Barbosa est mais interessada num tipo particular

reconhecimento dos aspectos individuais de cada

de identidade social a identidade nacional. A

um

identidade

sim

estabelecimento

de

um

estado

nacional

abarca

uma

srie

de

igualitrio, em que o que concedido a um deve

identidades menores e por meio dela que nos

ser estendido a todos, independentemente do

definimos e ao pas em que vivemos. o tipo de

desempenho

contrrio,

identidade que vemos emergir na poca dos jogos

desigualdades,

de futebol da Copa do Mundo. Nesse momento toda

gradaes, em suma hierarquias, que vo de

a diversidade interna da sociedade brasileira

encontro ao prprio objetivo do sistema. O nico

dissolvida e anulada em face da nossa identificao

valor a estabelecer graduaes o da antiguidade

com

ou senioridade. Isso quer dizer que, se permitimos

sintetizam milhes de brasileiros e uma unidade

que o princpio da antiguidade seja o nico a

geogrfica de mais de 8,5 milhes de Km2. Nesse

diferenciar os indivduos, temos a certeza que o

momento, as outras identidades construdas tendo

ideal da igualdade ser mantido, pois este critrio

como base a etnia, o gnero ou a classe so

algo que est ao alcance de todos e pode ser

englobadas pela identidade construda tendo como

estendido a todas as categorias. J o desempenho

base a nao, isto , o Brasil. Isso quer dizer que,

(mrito)

num jogo entre Brasil e Argentina as diferenas

individual,

estaramos

pois,

estabelecendo

depende

dos

caso

indivduos

suas

especificidades.

11

jogadores,

que

durante

90

minutos,

entre patro e empregado do lugar s diferenas


entre argentinos e brasileiros. Por outro lado, o

Jeitinho e identidade nacional

movimento englobador da identidade nacional no


significa

que

ela

promova

sempre

uma

Identidade social o conceito utilizado para se

homogeneizao positiva, como no caso do futebol,

pensar teoricamente, o processo de formao de

mas, ao contrrio, ela pode emergir em situaes

um grupo e a auto-atribuio de uma imagem,

de identificao negativa quando reprovamos ou

maneira de ser ou caracterstica que serve de

nos envergonhamos de ser parte deste pas:

moldura para a compreenso do mundo e de

decididamente, este pas no tem jeito, no

outros grupos sociais. O conceito de identidade

adianta, isso aqui no vai pra frente, com esse

social um rtulo geral para designar diversas

povo s matando, ta povinho ruim. Neste caso,

modalidades dessa dinmica. Isto , diferentes

diante de um acontecimento negativo, toda a

formas de percepo que se constroem no interior

sociedade brasileira homogeneizada a partir de

das sociedades e norteiam as relaes entre grupos

um ngulo negativo. Um aspecto importante da

e das pessoas enquanto membros do grupo.

identidade nacional que, para os seus membros,


5

ela caracteriza o que o indivduo , ao invs do que

brasileiro promove uma homogeneizao positiva,

ele

de

anulando toda a nossa diversidade interna a partir

por

da enfatizao de determinadas qualidades do

faz,

como

coletividade de

acontece
funes

com

identidade

especficas,

como

exemplo de uma classe trabalhadora. justamente

povo.

nesse contexto que se insere o jeitinho enquanto


elemento definidor de nossa brasilidade. Quando
qualificamos

determinado

tipo

de

ao

A Identidade social brasileira negativa

comportamento como jeitinho brasileiro, estamos

Em contraste com a frase atribuda ao presidente

anulando toda a diversidade interna da nossa

De Gaulle Esse no um pas srio. Por que no

sociedade,

somos srios? No somos srios porque permitimos

adotando

homogeneizante,

uma

partir

da

classificao

qual

definimos

milhes de pessoas.

que

amizade

tenha

mais

valor

do

que

cumprimento da lei; porque relaes pessoais, uma


vez

estabelecidas,

tomam

precedncia

sobre

Ao jeitinho brasileiro contraponho a falta de jogo

qualquer outro critrio; porque o cidado brasileiro

de cintura do anglo-saxo, a rigidez do alemo, a

tem vrios parentes prximos que no o deixam

sovinice do francs etc. Ao mesmo tempo, por

reinar sozinho em nosso ambiente social. Em

meio

suma,

dessas

categorias,

que

funcionam

como

no

somos

srios

porque

todos

os

smbolo, expresso valores a respeito das demais a

parmetros

partir do contexto que utilizo, produzindo um

consubstanciados num tratamento igualitrio de

discurso

um

todos perante a lei, so permanentemente vazados

determinado conjunto de relaes que considero

na prtica social de vrios domnios da sociedade

como

ser

brasileira pela nossa perspectiva relacional, que

brasileiro. Quando nos referimos como jeitinho

transforma o pblico em privado e, assim, torna

brasileiro como um elemento de identidade social,

legtimo

no

ele

perspectiva. Somos originrios de um pas que

simbolize a totalidade da sociedade brasileira e

sempre foi incompetente e inepto na conduo de

nem que seja uma exclusividade nossa. Significa

seus prprios negcios e na nossa colonizao.

apenas,

Sintetizando, utilizamos o jeitinho como smbolo da

coerente

representativas

significa

que

dizer

em

ideolgico
daquilo

que

sobre

que

julgo

acreditamos

determinados

que

contextos

ele

da

que

ideologia

seria

esprio

individualista,

sob

aquela

sintetiza um conjunto de relaes e procedimentos

nossa

que os brasileiros percebem como sendo deles. E

ineficincia e da pouca presena do cidado no

essa totalidade expressa na categoria brasileiro s

nosso universo social, reafirmando nosso eterno

se mantm intacta, a uma certa distncia de um

casamento com uma viso de mundo relacional.

desordem

institucional,

incompetncia,

determinado ponto especfico.


A Identidade social brasileira positiva
O jeitinho encarna o nosso esprito cordial, alegre,
simptico, caloroso, humano etc. de um pas
tropical,

bonito,

sensual,

jovem

cheio

de

Exerccio: Segundo Lvia Barbosa As identidades sociais so,


portanto construes culturais. So categorias que funcionam
como sistema codificador de uma vasta teia de relaes. De
acordo com a ampla discusso em sala de aula sobre a
identidade social brasileira, trace os principais aspectos que
melhor representam a cultura do brasileiro, e como o
conhecimento dessas caractersticas pode contribuir como
estratgia eficaz de um Gestor nas empresas.

possibilidades. Justamente os aspectos que so


contrastados com os pases anglo-saxes e que nos
fornecem uma leitura deles como frios, rgidos,
quadrados etc. Nesse contexto, nossa identidade
histrica manipulada de forma bastante positiva,
pois a nossa mistura racial, o nosso clima, a
maneira de o portugus lidar com as outras etnias
so cotados como uma das causas possveis desse
nosso modo de ser. Nesse sentido, o jeitinho
6

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