Morfologia
Morfologia
alomorfes, incluindo-se, entre eles, o morfema zero. Da mesma maneira, nesse quadro,
esto relacionadas as desinncias nmero-pessoais e as modo-temporais, todas seguidas
da ilustrao de seus processos de alomorfia. Para formao do quadro com o padro
geral dos verbos do portugus, Henriques vale-se da anlise das estruturas
paradigmticas, atravs do procedimento de comutao, do que resulta o paradigma ou
modelo de conjugao demonstrado pelo autor. Conforme ressalta Henriques, esse
paradigma relevante medida que permite formatar os verbos da lngua de acordo
com sua conjugao e identificar os casos de irregularidade de conjugao existentes.
Para finalizar o captulo, o autor ainda relaciona tabelas cujo propsito expor os trs
paradigmas anteriormente descritos e enseja, por uma sucinta exemplificao do
procedimento de anlise, a possibilidade de se realizarem estudos especificamente
centrados nas aparentes irregularidades que, segundo ele, e como j propusera Joaquim
Mattoso Cmara Junior, poderiam formar paradigmas secundrios do sistema verbal do
portugus, uma vez que, em certos agrupamentos verbais, tais irregularidades so
sistemticas e recorrentes.
No captulo A Classe dos Nomes, Henriques realiza uma rpida retomada de
como, ao longo da tradio gramatical, a conceituao das classes de palavras gerou
questionamentos. Em geral, segundo o autor, os agrupamentos foram equivocadamente
formados a partir da mistura de critrios semnticos, sintticos e morfolgicos. Quanto
diferenciao entre substantivos e adjetivos seja na definio primria das duas classes
seja na classificao dos termos de sintagmas duais do tipo pobres colaboradores, nos
quais apenas informaes contextuais so capazes de definir qual a classificao de cada
termo , Henriques sustenta que o critrio para definio das classes obedea a
consideraes semntico-funcionais, uma vez que nos casos em que uma mesma palavra
ora funciona como adjetivo ora como substantivo parecem ser pertinentes para o
estabelecimento da classe da palavra os valores semnticos. Para o autor, essa
ambivalncia decorre do fato de tanto adjetivos quanto substantivos serem
representativos de seres, enquanto um os nomeia, o outro os caracteriza. A respeito da
flexo dos nomes, o autor questiona a concepo que sustenta gnero, nmero e grau
como marcas flexionais nominais e defende que apenas gnero e nmero esto entre os
processos flexionais do portugus, sendo grau um processo derivacional. Dentre outros
pesquisadores que embasam seu posicionamento, Henriques conta com o argumento por
autoridade de Mattoso Cmara Junior, em quem tambm sustenta as afirmaes sobre a
presena de vogal temtica nos nomes, sobre a existncia de nomes atemticos (ao
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contrrio dos verbos, que so todos temticos) e sobre a descrio das flexes nominais
de gnero e de nmero. A respeito da classe dos advrbios, Henriques faz referncia ao
problemtico agrupamento de termos com funes sintticas e semnticas radicalmente
diferentes que a tradio gramatical difundiu para essa classe. O autor assume a posio
de que os advrbios sejam definidos como [] palavras suplementares modificadoras
no-qualificativas e no-denominativas, [as quais se distinguiriam dos adjetivos por
estes serem] palavras suplementares modificadoras qualificativas e denominativas[]
(p. 90, itlico do autor).
No ltimo captulo da segunda parte da obra, Demais Classes, Henriques
descreve as classes numeral, pronome, artigo, preposio, conjuno e interjeio. Para
essas categorias de palavras, o autor segue a orientao difundida pela gramtica
tradicional de classificao e listagem dos termos integrantes de cada classe. Exceo
feita somente classe dos pronomes para a qual, novamente com base em Mattoso
Cmara Junior, Henriques cita a caracterizao segundo os mesmos critrios definidores
da classe dos nomes (a relao entre termo determinante e termo determinado).
Divididos entre pessoais e no-pessoais, os pronomes, conforme aponta o autor,
possuem as mesmas desinncias de gnero e nmero descritas para os nomes e so []
matrizes de mesma potencialidade que os nomes [] (p. 104, itlico do autor).
Na terceira e ltima parte, Processos de Formao, esto os captulos
Composio e Derivao, Processos Especiais e Outros Casos. No primeiro
captulo dessa parte, Henriques elenca os dois principais processos de formao de
palavras: a composio e a derivao. No que tange composio o autor assume tratarse de um processo no qual dois radicais distintos se unem resultando em uma nova
palavra. A composio porm reconhecida ser de dois tipos: por justaposio ou por
aglutinao. No caso da justaposio, os radicais originrios do novo vocbulo mantm
sua integridade mrfica, [] consideradas suas realidades fonolgicas (p. 113), a
exemplo de beija-flor (beija + flor); mas no caso aglutinao um dos radicais sofre
alguma perda ou alterao fontica, a exemplo de planalto (plano + alto). Henriques
aborda, ainda que de passagem, casos em que uma palavra, a exemplo de comigoningum-pode, tem mais de um radical, casos esses que chama de supercomposio. J
no que tange derivao, o autor afirma tratar-se de um processo no qual a uma palavra
primitiva adjungido pelo menos um afixo e que tal processo pode ocorrer de trs
formas: prefixao, sufixao ou parassntese (ou circunfixao). Na prefixao tem-se
um radical ao qual adjungido um prefixo, como infeliz (in + feliz); na sufixao, um
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um radical
ao qual
adjungido
simultaneamente,
apenas
um nome prprio, desta recebe o seu nome mas no sofre tipo algum de personificao.
Ainda em relao ao neologismo Henriques lembra que uma palavra s perde esse
carter depois de incorporada a obras de referncia, mas para tal incorporao o ainda
neologismo deve ter [] a utilizao generalizada e a ampla atestao por escrito (p.
152).
No nono captulo h tambm uma breve abordagem sobre a combinao de
processos morfolgicos, que resultam na gerao de unidades lexicais complexas, a
exemplo de papaizinho, que formada por derivao sufixal (papai + zinho) cujo
primeiro elemento, papai, por sua vez, formado por reduplicao de (pa + pai). No
ltimo tpico do captulo, Henriques aborda ainda os processos de cruzamentos
morfolgicos e de fracionamento vocabular. Os cruzamentos morfolgicos, segundo o
autor, so em si processos de derivao e/ou composio pois adjungem a uma base um
afixo ou outra base, mas com o diferencial de [] explorar inovadoramente suas
cargas semnticas (p. 156), ou seja, so casos de derivao e composio neolgicos, a
exemplo de faxcilitar e chocotone. J quanto ao fracionamento vocabular, o autor diz
tratar-se de [] um processo de recorte abreviativo no-previsvel cujo intuito
surpreender o interlocutor. Difere da truncao por ter uma caracterstica extempornea,
de difcil propagao, tendo em vista suas finalidades discursivas e pragmticas (p.
158). Um dos exemplos usados pelo autor a msica Pas tropical de Jorge Benjor,
onde se encontra trs exemplos no verso M num p tropi, cujas formas no fracionadas
so Moro para M, pas para p e tropical para tropi. Claudio Cezar Henriques finda,
ento, o captulo lembrando muito brevemente de dois casos que ele diz demonstrarem a
existncia de uma estrita ligao entre morfologia e estilstica: a) itens lexicais cuja
referncia inter- ou hipertextual, como, por exemplo, vermelho significando
comunista; e b) itens fraseolgicos a exemplo de pau para toda obra.
Aps nove captulos o livro finda com um apndice, Exame Nacional de Cursos
Letras, nesse apndice h questes extradas do exame, mais conhecido como
provo, do ano de 1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003 e 2005. Henriques, nesse ponto
do livro, objetiva levar a uma reflexo acerca do modo como os formandos de Letras
so avaliados no Exame Nacional de Cursos e acerca de como tal exame pode
influenciar [] no ensino e na formao dos professores de lngua portuguesa (p.
178).
Um balano geral que se pode fazer de Morfologia, de Claudio Cezar
Henriques, que apesar de alguns pontos beirarem uma explicao vaga ao modo de
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REFERNCIAS
1. CMARA Jr, Joaquim Mattoso. Estrutura da Lngua Portuguesa. Petrpolis:
Vozes, 1970.
2. HENRIQUES, Cludio Cezar. Morfologia. Rio de Janeiro: Campus, 2007.
3. SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingstica geral. So Paulo: Cultrix, 2003.
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