Degustacao Ilhas de Calor

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Ilhas de

calor Lisa Gartland


como mitigar zonas de calor em reas urbanas

traduo | Silvia Helena Gonalves

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Copyright original 2008 by Lisa Gartland
Copyright da traduo em portugus 2010 Oficina de Textos

Grafia atualizada conforme o Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa de 1990,


em vigor no Brasil a partir de 2009.

Capa e projeto grfico Malu Vallim


Diagramao Douglas da Rocha Yoshida
Preparao de figuras Mauro Gregolin
Reviso de texto Carol Mangione
Traduo Silvia Helena Gonalves
Impresso e acabamento Grfica Vida e Conscincia

Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)


(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Gartland, Lisa
Ilhas de calor : como mitigar zonas de calor em
reas urbanas / Lisa Gartland ; traduo Silvia
Helena Gonalves. -- So Paulo : Oficina de Textos,
2010.

Ttulo original: Heat islands : understanding


and mitigating heat in urban areas
Bibliografi a
ISBN 978-85-86238-99-4

1. Ilha de calor urbano I. Ttulo.

10-04294 CDD-555.525091732

ndices para catlogo sistemtico:

1. reas urbanas : Ilha de calor : Meteorologia


555.525091732
2. Ilha de calor urbano : Meteorologia
555.525091732

Todos os direitos reservados Editora Ocina de Textos


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CEP 04013-043 So Paulo SP
tel. (11) 3085 7933 fax (11) 3083 0849
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A
Apresentao
edio brasileira
A experincia prtica brasileira na mitigao dos efeitos das ilhas de calor
deveras reduzida. Por outro lado, h substanciais pesquisas na rea acadmica,
apontando para a importncia da questo no panorama urbano brasileiro.
Dado o peso da produo cientfica nacional, dois pontos interessantes devem
ser observados. Primeiro, essa produo cientfica volta-se para modelos teri-
cos e, na maior parte dos casos, para estudos de casos nacionais pontuais,
devido inexistncia de intervenes efetivas. Segundo, no existe divulgao
desse conhecimento no mercado editorial brasileiro, tampouco esse conheci-
mento posto em prtica para alterar o quadro de falta de atuao na realidade
brasileira no que diz respeito mitigao dos efeitos das ilhas de calor.

Nesses dois sentidos, Ilhas de calor: como mitigar zonas de calor em reas urba-
nas, de Lisa Gartland, vem ocupar espao de destaque no mercado editorial
brasileiro. Com relao ao primeiro ponto levantado, se, por um lado, apre-
senta embasamento terico consistente acerca dos fenmenos envolvidos no
fenmeno da ilha de calor, por outro, no apenas considera detidamente os
elementos que na prtica podero mitig-la, mas tambm ilustra de forma
extensiva com exemplos efetivos de intervenes realizadas em cidades norte-
-americanas e de outros pases. Quanto ao segundo ponto considerado, por se
tratar de uma primeira divulgao especfica no mbito do nosso mercado edito-
rial, abre campo para a publicao das relevantes pesquisas nacionais e, assim,
em conjunto, constituir um campo de discusso e efetiva condio prvia para a
realizao consciente de intervenes no espao construdo urbano brasileiro.

A contribuio da obra estrutura-se em trs partes principais, ainda que o


texto no esteja assim dividido.

A primeira abrange os captulos primeiro a quarto, apresentando desde o que


ilha de calor at como migrar, em linhas gerais, para uma situao de miti-
gao. Assim, no captulo primeiro apresenta-se a definio de ilha de calor,
os seus impactos e suas principais caractersticas. O captulo segundo traz as

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causas da ilha de calor, considerando um modelo clssico de balano de ener-
gia, as trocas sensveis e latentes e o calor resultante acumulado, dando ainda
nfase para a questo do calor antropognico. No captulo terceiro apresen-
tam-se as formas predominantemente empricas e tericas de se considerar as
ilhas de calor, por meio de levantamentos em campo e de modelagens mate-
mticas, respectivamente. Por fim, o captulo quarto encerra essa primeira
parte da obra, considerada aqui como introdutria, em que se expem diver-
sas possibilidades de interveno para mitigar ilhas de calor.

A segunda e central parte da obra inclui o captulo quinto ao stimo. Trata


especificamente, em cada um dos seus trs captulos, entre as possibilidades de
interveno elencadas no captulo quarto, as trs questes que efetivamente
acabam por permitir maior grau de interveno na prtica e, por conseguinte,
resultados mais significativos em termos de mitigao nos efeitos da ilha de
calor. Dessa forma, o captulo quinto trata especificamente sobre coberturas
frias, trazendo a definio, os tipos existentes e seus benefcios. O captulo
sexto aborda os pavimentos frios, trazendo tambm esses mesmos tpicos.
Por fim, o captulo stimo considera o resfriamento por meio de rvores e
vegetao em geral, discutindo benefcios e custos, paisagismo em geral e,
ainda, as solues especficas de coberturas verdes e tetos-jardim.

A terceira e final parte da obra abrange os captulos oitavo e nono, que


constituem um fechamento do texto e, por assim dizer, um apndice de como
colocar em prtica o que foi tratado. O captulo oitavo apresenta os benefcios
da mitigao das ilhas de calor para a comunidade, desde redues nas tempera-
turas superficiais e, por conseguinte, na temperatura do ar, tratando ento das
consequentes economia de energia, melhoria na qualidade do ar e condies de
conforto trmico portanto, da qualidade de vida. Finalmente, o captulo nono
apresenta possibilidades para implementao e manuteno de planos de ao
para efetivamente pr em prtica instrumentos para mitigar os efeitos das ilhas
de calor e beneficiar-se da melhor qualidade de vida no espao urbano resultante.

Com linguagem acessvel, de eloquncia didtica, mas com conceitos tericos


precisos e exemplos prticos relevantes e referenciados, a obra no apenas
serve de leitura para uma primeira aproximao do pblico leigo ao assunto,
mas tambm contribui para profissionais, estudantes e pesquisadores da rea,
devido clareza com que os tpicos so apresentados e estruturados e, prin-
cipalmente, quantidade de exemplos com solues prticas efetivamente
realizadas e a considerao crtica acerca dos resultados alcanados.

Leonardo Marques Monteiro


Professor Doutor de Conforto Ambientall e Eficincia Energtica

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O que uma ilha de calor? ...........................................................................11
Definio de ilha de calor...............................................................................11
S
Sumrio

Impactos das ilhas de calor ............................................................................12


Caractersticas das ilhas de calor ...................................................................13
Observao ...................................................................................................25

Causas da ilha de calor .................................................................................27


Balano de energia ........................................................................................29
Evaporao reduzida .....................................................................................30
Armazenamento de calor aumentado ............................................................ 32
Saldo de Radiao aumentado ....................................................................... 32
Conveco Reduzida ......................................................................................36
Calor antropognico aumentado ....................................................................36
A interao das causas das ilhas de calor ........................................................38

Medio e simulao das ilhas de calor.......................................................39


Medio das ilhas de calor .............................................................................39
Simulao das ilhas de calor ..........................................................................50
Observao ...................................................................................................54

De ilhas de calor para comunidades frescas ...............................................55


Caractersticas tpicas de utilizao de terreno ..............................................55
Materiais tpicos para coberturas .................................................................. 59
Materiais para coberturas frescas .................................................................. 62
Materiais tpicos para pavimentao .............................................................63
Materiais frescos para pavimentao .............................................................64
Propriedades trmicas dos materiais .............................................................66
Arrefecimento com rvores e vegetao .........................................................66
Potencial de arrefecimento ............................................................................69
Observao ...................................................................................................69

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Tudo sobre coberturas frescas .....................................................................71
Definio de cobertura fresca ........................................................................72
Tipos de coberturas frescas ...........................................................................80
Os benefcios das coberturas frescas..............................................................90
Outras consideraes sobre coberturas frescas ............................................100

Tudo sobre pavimentos frescos ..................................................................107


O que pavimento fresco? ...........................................................................107
Tipos de pavimentos frescos ........................................................................108
Benefcios dos pavimentos frescos ...............................................................125
Outras consideraes sobre pavimentos frescos ...........................................129

Arrefecimento com rvores e vegetao ...................................................137


Benefcios e custos de rvores e vegetao ...................................................138
Anlise de custo-benefcio das rvores ........................................................150
Paisagismo eficaz para o arrefecimento .......................................................153
Coberturas verdes ou tetos jardim ...............................................................162
Observaes ................................................................................................ 172

Benefcios da mitigao das ilhas de calor para as comunidades ............ 173


Reduo de temperaturas ............................................................................ 173
Economia de energia ................................................................................... 175
Melhoria da qualidade do ar ........................................................................ 176
Conforto humano e melhorias para a sade .................................................180
Reduo de enchentes..................................................................................184
Manuteno e reduo de resduos ...............................................................186
Benefcios para a qualidade de vida..............................................................188

Plano de ao para uma comunidade fresca .............................................189


Motive ........................................................................................................190
Investigue ...................................................................................................193
Conscientize ...............................................................................................199
Demonstre ..................................................................................................201
Tome a iniciativa .........................................................................................204
Legislao ...................................................................................................211
Mais oportunidades de ao ........................................................................216
A revoluo fresca........................................................................................225

Referncias bibliogrficas...............................................................227

ndice Remissivo...................................................................................... 247

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Definio de ilha de calor


H tempos observa-se que reas urbanas e
suburbanas possuem ilhas de calor, um osis
inverso, onde o ar e as temperaturas da
superfcie so mais quentes do que em reas
rurais circundantes. O fenmeno da ilha de
calor vem sendo observado em cidades em
todo o mundo.

A primeira documentao de calor urbano


aconteceu em 1818, quando o estudo revo-
lucionrio sobre o clima de Londres (ver
Fig.1.1) realizado por Luke Howard detectou
um excesso de calor artificial na cidade,

Um
O que uma ilha de calor?
em comparao com o campo (Howard,
1833). Emilien Renou fez descobertas simi-
lares sobre Paris durante a segunda metade
do sculo XIX (Renou, 1855, 1862, 1868), e
Wilhelm Schmidt encontrou essas condies
em Viena no incio do sculo XX (Schmidt,
1917, 1929). Nos Estados Unidos, estudos
sobre ilhas de calor comearam na primeira
metade do sculo XX (Mitchell, 1953, 1961).

Ilhas de calor so formadas em reas urba-


nas e suburbanas porque muitos materiais
de construo comuns absorvem e retm
mais calor do sol do que materiais naturais
em reas rurais menos urbanizadas. Existem
duas razes principais para esse aquecimento.
A primeira que a maior parte dos materiais
de construo impermevel e estanque, e

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1 O que uma ilha de calor? | 17

vero. A vegetao costuma manter a tempe-


ratura igual ou inferior temperatura do ar,
desde que esteja devidamente hidratada.

A magnitude e a importncia das tempera-


turas de superfcies urbanas em uma ilha de
calor no eram totalmente compreendidas
at serem visualizadas do alto, no sculo XX.
Satlites e aeronaves especialmente equi-
padas podem mapear as temperaturas da Fig. . Variaes de temperatura do ar ao
superfcie terrestre e j mostraram pontos de longo da linha tracejada AB na Fig. 1.8 medidas
calor bastante distinguveis em reas urba- sucessivamente em uma nica noite de inverno em
nas bem com em seus arredores por todo Granada, Espanha
o mundo. Fonte: Montavez et al.,2000.

O programa Explorer Mission 1 de 1978 foi um dos primeiros a ter os


dados gerados por um satlite utilizado para observar o calor urbano. Um
equipamento especial, chamado radimetro de mapeamento de capaci-
dade calorfica, mediu as temperaturas de superfcie na regio de Buffalo,
no Estado de Nova York. A Fig. 1.10 mostra contornos trmicos desenhados
sobre a imagem visvel de Buffalo em uma tarde clara de vero em 1978. As
temperaturas so mais elevadas nos quarteires da cidade do que em parques
urbanos e reas suburbanas.

Uma viso mais detalhada de temperaturas de superfcie urbana pode ser


obtida a partir de uma aeronave, uma vez que esta pode voar mais prxima
superfcie terrestre e assim pode coletar imagens com maior resoluo.
Um exemplo de um sobrevo de Sacramento, na Califrnia, mostrado na
Fig. 1.11. Essa imagem foi obtida pela NASA (National Aeronautics and
Space Administration), por meio de um Lear Jet equipado com um ATLAS
(sensor avanado de aplicativos trmicos e terrestres). A resoluo de 10m
por pixel permite identificar construes individualmente. Por exemplo,
na parte inferior da figura, a imagem vermelha dentro de um retngulo
azul e verde mostra a cobertura do edifcio do Capitlio do Estado da
Califrnia, cercado por rvores e gramados em seu terreno. Na curva de
convergncia dos rios American e Sacramento, uma extensa rea verme-
lha representa as coberturas de construes industriais, estacionamentos e
ptios ferrovirios.

Diversos estudos foram realizados para determinar como as temperaturas


das superfcies afetam as temperaturas do ar em reas urbanas (Imamura,

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18 | Ilhas de Calor

Fig. . Contornos de
temperatura da superfcie sobre
um mapa de Buffalo, Nova
York, em 6 de junho de 1978
s 14h EDT feitos durante a
misso do satlite Explorer para
o mapeamento de capacidade
calorfica
Fonte: Schott e Schimminger,
1981.

1989; Kawashima et al., 2000; Watkins et al., 2002). Foram encontradas


relaes entre as temperaturas de superfcies medidas a partir de senso-
res remotos e as temperaturas do ar em diferentes cidades. Essas relaes
dependem bastante das condies meteorolgicas, portanto em dias nubla-
dos, com ventos, os efeitos da temperatura de superfcie sobre a temperatura
do ar so menores.

Essas relaes geralmente se aplicam apenas a uma rea urbana especfica,


portanto, infelizmente, a correlao de Tquio no pode ser estendida a uma
cidade com clima, geografia ou padro de urbanizao diferente.

Efeitos mais intensos em dias claros e calmos


O efeito da ilha de calor mais intenso em dias calmos e claros, e mais fraco
em dias nublados e com ventos, uma vez que mais energia solar capturada
em dias claros, e ventos mais brandos removem o calor de maneira mais vaga-
rosa, fazendo com que a ilha de calor se torne mais intensa. A Fig. 1.12 mostra
como as condies meteorolgicas podem afetar a ilha de calor. Foram feitas
medies em duas estaes urbano-rurais em Bucareste, na Romnia em 1994
(Tumanov et al., 1999). Em dias nublados e com ventos, a diferena entre as
temperaturas urbana e rural de apenas 1C noite. Em dias claros e calmos,
a intensidade da ilha de calor bem maior, chegando a 3,6C.

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1 O que uma ilha de calor? | 19

Fig. . Imagem trmica


do centro de Sacramento,
Califrnia, em 29 de junho de
1998 ao meio-dia, obtida por um
sobrevoo em um Lear Jet pelo
programa ATLAS da NASA
Fonte: Gorsevski et al., 1998.

Fig. . Diferena de temperatura entre a rea urbana de Filaret e a rea rural de Banasea em Bucareste,
Romnia. esquerda, tempo nublado e com ventos (linha contnua - Primavera, linha tracejada Vero,
pontilhada Vero com nuvens de manh). direita, dia calmo e claro (linha contnua Inverno, linha
tracejada Primavera, pontilhada - Vero ). O tempo relativo ao pr do sol, de modo que 0 o pr do sol, 2
representa duas horas aps o pr do sol e -2 representa duas horas antes do pr do sol
Fonte: Tumanov et al., 1999.

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| 25

Para reduzir os efeitos das ilhas de calor,


deve-se primeiro entender as suas causas.
Em 1833, Luke Howard hipotetizou que o
excesso de calor nas cidades era causado por
pessoas, animais e fogos (diversas fontes de
combusto) durante o inverno. Ao notar que
as reas urbanas eram mais quentes tambm
durante o vero, Howard atribuiu essa condi-
o maior absoro da radiao solar pelo
conjunto de superfcies verticais da cidade
e falta de umidade disponvel para evapora-
o (Howard, 1833).

Dois
Causas da ilha de calor
As teorias de Howard eram surpreenden-
temente precisas. Estudos realizados ao
longo do sculo XX determinaram que as
superfcies urbanas so mais quentes do
que as superfcies rurais por dois principais
motivos. O primeiro que as superfcies
construdas pelo homem so compostas por
materiais escuros que prontamente absor-
vem e armazenam o calor do sol. E para
exacerbar essa alta absoro do calor solar, as
construes e pavimentos formam cnions
que tendem a refletir o calor. O segundo a
maioria dos materiais de construo resis-
tente gua, portanto a gua de chuva corre
e vai embora, e no consegue dissipar o calor
por meio da evaporao (ou evapotranspi-
rao quando existem plantas envolvidas).
Durante o dia, as temperaturas de superf-
cies insustentveis e impermeveis podem
chegar a 87,7C; as superfcies com vegetao

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2 Causas da ilha de calor | 33

de radiao em reas urbanas. Os chamados


cnions dificultam o arrefecimento de reas
urbanas, principalmente aps o pr do sol.
A Fig. 2.4 mostra resultados de um teste em
escala reduzida onde as propores de altura
para a largura dos edifcios eram variadas
(Oke, 1981). A diferena entre temperatura
urbana e rural bem maior aps o pr do sol
em reas com edifcios altos, e o ar urbano
resfriado mais lentamente durante a
noite. Esses resultados foram verificados
por meio de mtodos numricos (Arnfield,
1990; Voogt e Oke, 1991) e observaes de
campo em vrias cidades (Oke e Maxwell,
1975; Oke, 1981; Voogt e Oke, 1991; Mills e
Arnfield, 1993).
Fig. . Alterao na intensidade da ilha de calor
Outro fator que afeta o saldo de radiao
(a temperatura do ar urbano menos a temperatura
a poluio do ar. A poluio afeta o saldo de
do ar rural) logo aps o pr do sol (tempo = 0) para
radiao de uma cidade de duas maneiras.
vrias propores de altura e largura da construo
Primeiro, durante o dia a poluio diminui a
em uma experincia com modelo em escala, e por
quantidade de radiao solar que chega at a
uma laje de concreto comparada a uma placa de
superfcie terrestre. Antes da disseminao
madeira (representando uma rea rural)
dos mtodos de controle da poluio do ar,
Fonte: Oke, 1981.
redues de at 50% da radiao solar foram
observadas em vrias cidades (Landsberg, radiao. Isso eleva a temperatura atmosf-
1981). Hoje, a poluio ainda reduz a ener- rica e aumenta a quantidade de energia que
gia solar de maneira significativa em muitas ela emite. Diversos estudos detectaram que os
cidades. Poluentes aerossis, em particular, nveis de radiao atmosfrica so aumenta-
bloqueiam a energia do sol. Por exemplo, um dos em at 15% na presena de poluio do ar.
estudo feito na Cidade do Mxico detectou
que a presena de aerossis diminui o ganho Esses dois efeitos causados pela poluio,
de energia solar da cidade em at 22% (Jaure- radiao solar reduzida e emisses atmosfri-
gui e Luyando, 1999). cas aumentadas, operam em oposio sobre o
termo de saldo de radiao. Os nveis e tipos
A poluio do ar tambm aumenta a quan- de poluio variam tremendamente, por isso
tidade total de radiao infravermelha, de bastante difcil determinar, durante o dia,
ondas longas, emitida a partir da atmosfera quais so os efeitos reais da poluio. Mas
terrestre. Partculas de poluio refletem, sim, durante a noite, quando a energia solar deixa
muita radiao, tanto do sol como da terra. de ser um fator, a poluio do ar urbano defi-
Mas elas tambm tendem a absorver mais nitivamente aumenta os nveis de radiao.

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34 | Ilhas de Calor

Conveco Reduzida Calor antropognico


J foi mostrado que as ilhas de calor so aumentado
mais intensas em dias claros e calmos O calor antropognico gerado pelas ativi-
(Landsberg, 1981; Tumanov et al., 1999). dades humanas e proveniente de diversas
De maneira geral, isso ocorre porque h fontes, como edifcios, processos industriais,
menor conveco do calor das superfcies carros e at mesmo as prprias pessoas. Para
para o ar quando a velocidade dos ventos determinar quanto calor antropognico
menor. Velocidades de ventos menores produzido em uma determinada regio,
tendem a aumentar o armazenamento de toda a utilizao de energia (comercial,
calor durante o dia e sua lenta liberao residencial, industrial e transporte) deve ser
durante a noite. somada. A soma ento dividida pela rea
da regio para permitir a comparao entre
Cidades tambm tendem a ter ventos com diferentes cidades.
menor velocidade do que as reas rurais.
Os edifcios em reas urbanas e suburba- Os ganhos de calor antropognico so geral-
nas agem como barreiras contra o vento, mente maiores no inverno do que no vero.
diminuindo at 60% a velocidade dos ventos De acordo com estimativas feitas anterior-
(Landsberg, 1981). No entanto, em alguns mente a 1980, acreditava-se que os ganhos
casos, a velocidade do vento pode aumentar de calor antropognico variavam de 20 a
nas bases dos edifcios. Os ventos podem ser 40 W/m2 no vero e de 70 a 210 W/m2 no
afunilados pelas laterais dos edifcios at o inverno (Taha, 1997b) e seguiam um padro
nvel das ruas em algumas situaes (Bossel- de picos duplos parecido com a representao
mann et al., 1995). da Fig.2.6. Trabalhos mais recentes mostram
que os ganhos de calor antropognico so
sabido tambm que as Ilhas de calor so significativamente maiores hoje em dia, por
capazes de criar suas prprias brisas. O causa da crescente utilizao de energia, e
ar quente tende a subir acima da cidade, principalmente em razo da crescente utili-
atraindo ar mais fresco ao seu redor. Duas zao de ar-condicionado durante o vero.
cidades costeiras Houston, no Texas e
Tquio, no Japo so conhecidas por atrair A Fig. 2.5 mostra o aumento anual do
o ar fresco do mar conforme elas se aquecem consumo de energia nos Estados Unidos de
ao longo do dia (Yoshikado, 1990; Nielsen- 1950 at 2000. De 1980 a 2000, o consumo
-Gammon, 2000). de energia nos Estados Unidos aumentou
25%. Esse aumento ocorreu simultanea-
difcil prever as ocorrncias de ventos mente ao crescimento da rea metropolitana,
mais lentos e/ou de brisas induzidas, e portanto o ganho de calor antropognico
esses efeitos tendem a anular uns aos nas cidades, que agora esto espalhados por
outros. Estudos detalhados feitos indivi- reas maiores, ser aproximadamente menor
dualmente por cidade podem esclarecer do que 15%. Uma poro desse aumento de
os efeitos que os ventos exercem sobre as uso de energia se d pela maior utilizao de
cidades e vice versa. ar-condicionado durante o vero, portanto,

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A maneira ideal de medir uma ilha de calor em


qualquer cidade seria examinar os padres
do clima regional com e sem a cidade. Clara-
mente, seria impossvel remover a cidade
e voltar a coloc-la no lugar, portanto no
mundo real, existem cinco mtodos bsicos
que so utilizados para medir os efeitos da
urbanizao sobre os climas urbanos.
Estaes fi xas.
Transectos mveis.
Sensoriamento remoto.
Sensoriamento vertical.
Balanos de energia.

Trs
Medio e simulao
das ilhas de calor A medio dos efeitos de uma ilha de calor
sobre um clima regional de grande utilidade
e interessante, mas no um indicativo do
quo eficaz seriam as medidas de mitigao
para reduzir os impactos da ilha de calor. a
que a simulao se faz necessria. Diferentes
tipos de modelos vm sendo utilizados para
prever como as medidas de mitigao pode-
riam reduzir as temperaturas, o consumo de
energia e a poluio do ar. Existem modelos
especficos para observar edifcios individu-
almente, cnions urbanos e reas urbanas
mais extensas. Este captulo aborda diversas
tcnicas de medio e simulao de ilhas de
calor.

Medio das ilhas de calor


Aqui apresentamos as cinco abordagens dife-
rentes comumente utilizadas para investigar

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| 53

Neste captulo, estudaremos as caracters-


ticas de utilizaes de terrenos para avaliar
como mtodos tpicos de construo propi-
ciam a formao de ilhas de calor. reas
urbanas e suburbanas possuem uma alta
concentrao de coberturas e pavimentos e
uma pequena quantidade de rvores e vege-
tao. A tendncia na maioria das reas
vai em direo a cidades maiores e menos
rvores.

QuatroDe ilhas de calor para


comunidades frescas
Os tipos de materiais utilizados em cobertu-
ras e pavimentos so, na maioria dos casos,
slidos e escuros, o que contribui para a
pronta absoro e reteno do calor. A falta
de rvores tambm reduz o arrefecimento
por meio da evapotranspirao. Esses mate-
riais tradicionais e os padres de urbanizao
contribuem para os efeitos das ilhas de calor.
Ns investigamos como trs estratgias de
mitigao de ilhas de calor utilizao de
coberturas frescas, pavimentos frescos, e
rvores e vegetao podem ser usadas para
reverter as tendncias de aquecimento em
nossas cidades e subrbios.

Caractersticas tpicas de
utilizao de terreno
O Lawrence Berkeley National Laboratory
conduziu anlises de malha urbana por
meio do estudo de imagens de satlite e
mtodos consistentes para identificar os
tipos de cobertura/utilizao de terrenos em

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54 | Ilhas de Calor

quatro cidades dos EUA (Akbari e Rose, 1999, 2001a, 2001b, Rose et al., 2003).
Os padres de utilizao de terreno encontrados em Chicago, Houston, Salt
Lake City e Sacramento mostram algumas caractersticas interessantes. A
Fig. 4.1 mostra o quanto de coberturas, pavimentos e vegetao cobrem uma
amostra de reas residenciais nessas cidades. A Fig. 4.2 mostra a utilizao
de terrenos em reas no residenciais, incluindo espaos comerciais, indus-
triais, escritrios e o centro comercial. A Tab. 4.1 resume os dados numricos
de ambas as figuras.

Fig. . reas ocupadas por


coberturas, pavimentao e
vegetao em reas residenciais
de Chicago, Houston, Salt Lake
City e Sacramento
Fonte: Akbari e Rose, 1999,
2001a, 2001b; Rose et al., 2003.

Fig. . reas ocupadas por


coberturas, pavimentao
e vegetao em reas no
residenciais de Chicago, Houston,
Salt Lake City e Sacramento
Fonte: Akbari e Rose, 1999,
2001a, 2001b; Rose et al., 2003.

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| 69

Materiais de coberturas tradicionais tendem


a esquentar sob o sol, atingindo temperatu-
ras entre 50-90C. Materiais de coberturas
quentes criam problemas para o edifcio que
est abaixo, inclusive:
Temperaturas internas mais elevadas.
Conforto interno reduzido.
Maior demanda de energia para arre-
fecimento.
Mais gastos com eletricidade/gua.
Mais desgaste dos sistemas de arrefe-
cimento/refrigerao.
Deteriorao mais rpida da cober-

Cinco
tura.

Tudo sobre
Coberturas Frescas
Coberturas quentes tambm criam proble-
mas para suas comunidades, inclusive:
Maior demanda de eletricidade, prin-
cipalmente durante os perodos de
pico vespertinos.
Maior potencial para brownouts
(subtenso) e blecautes na rede de
fora.
Maior emisso da central eltrica.
Temperaturas urbanas e suburbanas
mais elevadas.
Mais formao de smog, pela combina-
o de mais emisses e temperaturas
mais altas.
Mais resduos de coberturas enviados
aos aterros.

Substituir materiais de cobertura quentes


por materiais frescos pode contribuir para o

cap05.indd 69 3/5/2010 11:56:23


5 Tudo sobre coberturas frescas | 93

Tab. . Comparao de custos entre cobertura fresca e cobertura convencional


ao longo de vinte anos
Revestimento fresco (U$) Cobertura Convencional (U$)
Novo revestimento/
+ $1,00/ft2 + $1,50/ft2
nova cobertura no ano 0
Novo revestimento/
+ $1,00/ft2 + $1,50/ft2
nova cobertura no 10 ano
Novo revestimento/
+ $1,00/ft2 + $3,50/ft2
nova cobertura no 20 ano
Economia de energia em 20 anos - $0,40 a - $1,40/ft2 nenhuma
Custo total $1,60 a $2,60/ft2 $6,50/ft2
Economia $3,90 a $4,90/ft2

tudas por um novo material em camada nica (ao preo de U$ 3,50 por
p quadrado). Comparativamente, uma cobertura fresca recebe uma nova
camada de revestimento fresco a cada dez anos ( ao preo de U$ 1,00 por p
quadrado). Uma vez que esse revestimento bem mais fi no e leve do que o
material da cobertura tradicional, no h previso da necessidade de arran-
car e substituir essa cobertura ao longo de sua vida til. Ao longo dos vinte
anos, a cobertura fresca ir tambm economizar com gastos de eletricidade
(entre U$ 0,02 e 0,07 por p quadrado por ano). A simples soma desses valo-
res, sem a correo para valores atuais, demonstra uma economia vitalcia
entre U$ 3,90 e 4,90 por p quadrado, de acordo com os nveis de economia
de energia.

Se um revestimento fresco para cobertura for utilizado, pode haver tambm


mais benefcios financeiros. Trabalhos em coberturas so geralmente clas-
sificados como despesas de capital e devem ser depreciados para clculo dos
impostos anuais. Ao aplicar um revestimento fresco em uma cobertura, isso
pode muitas vezes ser classificado como gasto de manuteno do edifcio e ser
totalmente dedutvel no ano em que for aplicado.

Alm de economizar em manuteno do edifcio, uma cobertura fresca pode


economizar quantias despendidas com equipamentos de arrefecimento. Utili-
zar menos arrefecimento por causa de uma cobertura fresca significa que o
equipamento de arrefecimento ser usado menos frequentemente e durar
por mais tempo. Quando o equipamento tiver que ser eventualmente subs-
titudo, o novo equipamento poder ter menor capacidade, uma vez que a
cobertura fresca reduz significativamente as cargas de arrefecimento de um
edifcio. Equipamentos menores custam menos e representam economia em
altos investimentos para despesas de capital.

cap05.indd 93 3/5/2010 11:57:53


| 105

O que pavimento fresco?


Como discutimos no Cap. 4, superfcies pavi-
mentadas cobrem grande parte de reas
urbanas e suburbanas. Os pavimentos contri-
buem para os efeitos das ilhas de calor, pois
se aquecem sob o sol e liberam esta energia
armazenada para seus arredores ao entarde-
cer e durante a noite.

Seis Tudo sobre


pavimentos frescos Os pavimentos mais quentes tendem a ser
impermeveis e de cor escura, com valores de
refletncia solar abaixo de 25%. Esses pavi-
mentos podem esquentar a at 65C ou mais
sob o sol de vero. Inversamente, as tempe-
raturas de pavimentos frescos so reduzidas
em 15C ou mais (Asaeda et al., 1996; Pome-
rantz et al., 2000c; Gartland, 2001),
mantendo os picos de temperatura abaixo de
50C. Existem duas maneiras de tornar pavi-
mentos mais frescos: (1) o aumento de sua
refletncia solar e/ou (2) o aumento da sua
capacidade de armazenar e evaporar gua.

Pavimentos com refletncia solar de mode-


rados 25% ou mais podem ser considerados
frescos. O aumento da refletncia solar signi-
fica tornar pavimentos mais claros em sua
colorao por meio do uso de ingredientes de
cor mais clara em sua composio ou aplicar
revestimentos mais claros sobre a superf-
cie do pavimento. Uma vez que a colorao
exerce o maior efeito sobre a refletncia solar,
os pavimentos de cor mais clara so normal-

cap06.indd 105 3/5/2010 11:59:42


116 | Ilhas de Calor

PCC poroso ((concreto, novo)


Descrio: o PCC poroso ou permevel exatamente igual ao seu equivalente
impermevel, s que os finos pequenas partculas como areia e agregados
menores no so includos na mistura. Isso deixa espaos vazios entre os
agregados maiores e permite o escoamento da gua por entre a superfcie do
pavimento. Os espaos vazios podem ocupar de 10 a 25% do pavimento. Esses
espaos no ficam obstrudos facilmente se seus tamanhos forem calculados
corretamente. O Trfego sobre o pavimento tambm ajuda a eliminar resduos
da superfcie.

Construo: O concreto poroso instalado e mantido da mesma maneira que


o PCC comum.

Aplicaes: Rodovias, estacionamentos e outras aplicaes. apropriado para


a maior parte das superfcies desde que a base seja composta adequadamente
e o concreto tenha a espessura correta. A Fig. 6.13 mostra um pavimento de
concreto poroso usado em um estacionamento de Bannister Park, em Fair
Oaks, na Califrnia.

Refletncia solar: Os concretos permeveis so apresentados na mesma


variedade de cores que os outros tipos de pavimentos de concreto, mas sua
superfcie ligeiramente mais spera e pode diminuir sua refletncia solar em
at 5%. No entanto, sua habilidade de reter umidade mantm os pavimentos
permeveis mais frescos que as superfcies impermeveis.

Custo inicial: U$ 2,00 a 6,00 por p quadrado para materiais e instalao. Se


forem utilizados materiais altamente refletivos os custos pode dobrar. Existe

Fig. . Estacionamento com


concreto poroso de Bannister
Park, em Fair Oaks, Califrnia
Fonte: Youngs, 2005.

cap06.indd 116 3/5/2010 12:00:14


| 135

rvores e vegetao so componentes


funcionais vitais para uma cidade ou subr-
bio saudvel. rvores e vegetao saudveis
trazem inmeros benefcios, inclusive comu-
nidades mais confortveis, menos consumo
de energia, reduo da poluio do ar, menos
enchentes e melhorias para o ecossistema,
e ainda aumentam os valores de proprieda-
des. Apesar de serem vistas como despesas
adicionais, rvores podem realmente gerar

Sete
benefcios financeiros durante suas vidas.

Arrefecimento com
rvores e vegetao rvores e vegetao reduzem as ilhas de
calor de duas maneiras. Primeiro, elas
produzem sombras para edifcios, pavimen-
tos e pessoas, protegendo-os do sol. Isso
mantm superfcies mais frescas, reduz o
calor que transferido para o ar acima e
reduz o consumo de energia dos edifcios
abaixo delas. O sombreamento das rvores
tambm mantm as pessoas mais refrescadas
e confortveis, reduzem os riscos de insolao
e protegem-nas dos raios ultravioleta.

Segundo, durante o processo de fotossntese,


as rvores e vegetaes utilizam um processo
chamado evapotranspirao para mant-
-las frescas. As plantas utilizam a energia
solar para evaporar gua, evitando que essa
energia seja usada para aquecer a cidade. As
temperaturas do ar ao redor e a sotavento
de reas bem vegetadas so mais frescas por
causa da evapotranspirao.

cap07.indd 135 3/5/2010 12:02:53


150 | Ilhas de Calor

Tab. . Custos e benefcios anuais mdios de rvores urbanas ao longo de 40 anos


em trs regies da Califrnia
Benefcios anuais Custos anuais Valor lquido anuala
(por rvore) (U$) (por rvore) (U$) (por rvore) (U$)
Vale de San Joaquin
rvore pequena $9 - $12 $4 - $9 $1 - $8
rvore mdia $37 - $44 $7 - $15 $26 - $37
rvore grande $63 - $73 $11 - $21 $48 - $63
Inland Empire (leste de LA)
rvore pequena $15 - $22 $8 - $17 -$2 - $14
rvore mdia $60 - $75 $18 - $27 $63 - $73
rvore grande $97 - $109 $24 - $31 $66 - $85
Sul da Califrnia
rvore pequena $17 - $22 $13 - $21 $1 - $7
rvore mdia $42 - $48 $16 - $23 $25 - $28
rvore grande $78 - $93 $17 - $28 $60 - $68
Nota: a A abrangncia dos valores lquidos no podem necessariamente ser calculados a partir dos benefcios e
custos, uma vez que os valores representam quatro conjuntos de rvores, ao leste, ao sul e a oeste do edifcio mais
as rvores pblicas.
Fonte: McPherson et al., 1999b, 2000, 2001.

Os custos de vida e benefcios das rvores foram avaliados em muitas outras


comunidades, e uma lista de referncia dos estudos dada no Quadro 7.1 a
seguir. Veja tambm a descrio das ferramentas para avaliar os custos e bene-
fcios das florestas urbanas abaixo.

Quadro . Estudos de custo-benefcio de rvores urbanas em diversas comunidades


Estudo Comunidades
Atlanta, Chicago, Dallas, Houston, Los Angeles, Miami, Nova York,
Akbari, 1997
Filadlfia, Phoenix e Washington, DC
McPherson, 1998b Sacramento, CA
McPherson et al., 1999b Vale de San Joaquin, CA
McPherson et al., 1999a Modesto, CA
McPherson et al., 2000 Litoral Sul da Califrnia
McPherson et al., 2001 Inland Empire, CA
McPherson et al., 2002 Oeste do Oregon e Washington
Maco e McPherson, 2003 Davis, CA

Existem vrias ferramentas disponveis para o clculo dos custos e bene-


fcios das rvores nas comunidades. Em primeiro lugar, o relatrio Uma
abordagem prtica para avaliar a estrutura, funo e valor das populaes de

cap07.indd 150 3/5/2010 12:02:58


7 Arrefecimento com rvores e vegetao | 151

rvores de rua em comunidades pequenas Paisagismo eficaz para o


((A practical approach to assessing structure, arrefecimento
function and value of street tree populations A seguir apresentamos os locais mais efica-
in small communities Maco e Mcpherson, zes para adicionar paisagismo: em torno
2003) uma leitura til para a compreen- dos edifcios, ao longo das ruas, em esta-
so dos passos necessrios para calcular cionamento e nas reas onde as pessoas se
os custos e benefcios das rvores em sua reunem. Em seguida aconselhamos sobre
prpria comunidade. seleo, plantio e manuteno de rvores e
outros tipos de vegetao.
Uma coleo de ferramentas para engenha-
ria florestal do USDA Forest Service pode Paisagismo em torno dos edifcios
ser encontrada em <www.itreetools.org>, Os benefcios relativos do plantio de rvo-
inclusive o programa STRATUM (USDA res decduas em torno dos edifcios foram
Forest Service, 2002) para anlise de custo- apresentados na Fig. 7.3 para cinco regies
-benefcio de rvores. climticas dos EUA. A reduo das emisses
de CO2 resultante dos efeitos lquidos das
Outra ferramenta, o Programa de Inven- rvores sobre o consumo anual de energia
trio e Gerenciamento de Comunidades e para aquecimento e arrefecimento de um
Florestas Urbanas (Community and Urban edifcio.
Forest Inventory and Management Program
- Pillsbury e Gill, 2003), produzido pela As maiores redues de emisses de CO2, ou
Urban Forest Ecosystems Institute of Cali- seja, os maiores benefcios de energia tendem
fornia Polytechnic State University, ajuda a ocorrer quando as rvores so plantadas
a inventariar florestas urbanas e a estimar para o oeste e leste dos edifcios. As rvo-
um valor econmico para a recuperao da res nestes locais bloqueiam o sol da manh
madeira. A documentao para o programa e da tarde quando o sol est em seu ngulo
est disponvel em <www.ufei.org/files/ufei- mais baixo. rvores para o norte tendem a
pubs/CUFIM_Report.pdf> e os arquivos do economizar energia, bloqueando os ventos
programa esto disponveis em <www.ufei. frios do inverno. As rvores ao sul tendem
org/fi les/ufeipubs/CUFIM.zip>. a ser menos teis. A sombra produzida pelas
rvores ao sul tende a ser muito rasa, pois o
CITYgreen, da American Forests, um sol est diretamente em cima delas ao meio
programa baseado no sistema de infor- do dia. rvores para o sul tambm tendem a
mao geogrfica (SIG) para calcular os bloquear energia solar til durante o inverno.
benefcios das rvores urbanas, incluindo
economia de energia, qualidade do ar, Orientaes para o plantio de rvores ao
melhor controle de enchentes, armazena- redor de casas e edifcios comerciais so apre-
mento de carbono e crescimento de florestas sentadas nas Figs. 7.8 e 7.9.
(American Forests, 2002a). Para obter mais
informaes, acesse <www.americanforests. O ideal que as rvores plantadas para
org/productsandpubs/citygreen/>. proporcionar sombras no vero protejam

cap07.indd 151 3/5/2010 12:02:58


152 | Ilhas de Calor

Fig. . Paisagismo eficaz para reduzir as ilhas de calor em bairros residenciais

Fig. . Paisagismo eficaz para reduzir a ilha de calor em torno de edifcios comerciais

cap07.indd 152 3/5/2010 12:02:59


| 171

Comunidades podem tornar-se as mais habi-


tveis com o emprego de estratgias para
mitigar ilhas de calor. A aplicao dissemi-
nada de coberturas e pavimentos frescos e o
plantio de rvores e vegetao em um bairro
podem torn-lo mais saudvel, mais bonito
e menos dispendioso para operar e manter.

Este captulo descreve os sete principais


benefcios que a reduo da ilha de calor pode
trazer a uma comunidade.

Oito
Benefcios da mitigao
das ilhas de calor para
as comunidades




reduo de temperaturas;
economia de energia;
melhoria da qualidade do ar;
conforto humano e melhorias para a
sade;
reduo de enchentes;
manuteno e reduo de resduos;
benefcios estticos.

Reduo de temperaturas
Os materiais de construo, tradicional-
mente utilizados na maioria das cidades
atualmente ficam muito quentes sob o sol do
vero. Medidas de mitigao de ilhas de calor
reduzem as temperaturas de superfcies de
coberturas e pavimentos. A Fig. 8.1 mostra
o quo quente estas superfcies podem ficar,
em comparao com suas contrapartes fres-
cas. Sem sombra, materiais de construo
podem se aquecer a at 90C e pavimentos
podem chegar a 70C. Coberturas e materiais

livro_ilhas de calor.indb 171 3/5/2010 12:04:22


| 187

Este captulo descreve os passos que uma


comunidade pode seguir para desenvolver e
executar um plano de ao para a mitigao
da ilha de calor. Aqui ns apresentamos seis
passos para estimular a mitigao de ilhas de
calor: motivar; investigar; educar; demons-
trar; legislar; e iniciar.

As trs principais estratgias de mitigao


da ilha de calor, coberturas frescas, pavi-
mentos frescos e rvores e vegetao, esto
longe de serem prticas padro na inds-

Nove
tria da construo. Por exemplo, nos EUA,

Plano de ao para uma


comunidade fresca coberturas frescas so instaladas em menos
de 10% das coberturas (Hinojosa e Kane,
2002); pavimentos frescos, com exceo de
pavimentos de concreto, so quase inexis-
tentes, e o concreto cobre menos de 25% das
superfcies pavimentadas (USDOT, 2000;
Hawbaker, 2002). O plantio de rvores e
vegetao foi adotado com um pouco mais de
sucesso, mas ainda h um dficit estimado de
634,4 milhes de rvores urbanas nos EUA
(American Forests, 2002).

A principal razo pela qual essas medidas


no so amplamente adotadas a falta de
conhecimento sobre ilhas de calor em geral, e
essas medidas e principalmente os benefcios
que essas medidas podem trazer. A educao
e a construo de uma rede de apoio devem
ser o ponto central para qualquer iniciativa
de mudana de sucesso. Embora seja tenta-
dor para um pequeno grupo de pessoas partir

livro_ilhas de calor.indb 187 3/5/2010 12:04:27


188 | Ilhas de Calor

diretamente para a elaborao de portarias o maior j tem legitimidade e conhecimento


e legislaes, esses esforos sero muito sobre a comunidade, colaboradores expe-
melhor sucedidos se um trabalho suplemen- rientes e alianas com outros grupos da
tar for feito primeiro. comunidade. Terceiro, a importante logstica
de espao e equipamentos para operao so
Motive geralmente fornecidos e as despesas gerais
Um programa de comunidade fresca bem de pessoal podem ser cobertas.
sucedido envolve os membros da comuni-
dade, os educa e os motiva, e usa sua energia Dependendo dos nveis de financiamento, um
e conhecimentos. Para um bom comeo do escritrio de comunidade fresca normal-
seu programa, os seguintes passos so alta- mente operado por um lder do programa
mente recomendados: em tempo integral e alguns colaboradores ou
estagirios em meio periodo. Para realmente
Forme uma organizao progredir em questes da comunidade fresca,
Um programa de comunidade fresca precisa recomenda-se que um programa seja operado
de uma base de operaes e de pessoal. por pelo menos um lder de projeto em tempo
Programas de comunidade fresca bem integral, que no tenha outras atribuies
sucedidos vm sendo operados a partir de conflitantes.
organizaes sem fins lucrativos ou de divi-
ses governamentais de meio ambiente e Encontre parceiros
energia. Por exemplo, o Sacramento Cool Um programa de comunidade fresca ser
Community Program (Programa de Comu- mais eficaz se operar com outros parceiros da
nidade Fresca de Sacramento) foi um projeto comunidade local para supervisionar, plane-
sem fins lucrativos da Sacramento Tree jar e participar nos trabalhos. Esses parceiros
Foundation, o programa de Salt Lake City podem fazer parte de uma comisso diretora
foi parte da Agncia de Servios de Ener- e/ou de grupos de trabalho relacionados a
gia do Estado de Utah e o Los Angeles Cool vrios projetos. importante ter parceiros
Community Program (Programa de Comuni- que representem o governo local, a indstria,
dade Fresca de Los Angeles) foi criado dentro organizaes sem fins lucrativos e associa-
do Departamento de sade ambiental de es de bairro para manter a comunidade
LosAngeles. ciente de seu progresso e para envolver todos
os setores nessa empreitada. Busque parcei-
Mesmo que um programa possa certamente ros dos seguintes locais:
funcionar por conta prpria, h certas vanta-
gens em fazer parte de uma organizao do governo local e distritos escolares:
maior. Primeiro, a organizao pode estar instalaes ou servios gerais;
disposta a assumir um compromisso com transporte;
o pessoal e financiar um novo programa, obras pblicas;
pelo menos at que tenha seu prprio finan- especialistas em rvore;
ciamento ou talvez at um determinado servios pblicos de eletricidade e
momento no futuro. Segundo, uma organiza- gua.

livro_ilhas de calor.indb 188 3/5/2010 12:04:27


200 | Ilhas de Calor

Fig. . Participantes
ganhando experincia
prtica no workshop
Ecohouse Living
(Vivendo em uma Casa
Ecolgica) em Berkeley,
Califrnia
Fonte: Dig City Coop.

Encontre projetos de demonstrao existentes


possvel que j existam diversas boas demonstraes de tecnologias fres-
cas em sua comunidade. Coberturas frescas com pequena inclinao j foram
instaladas na maioria das comunidades. Exemplos bem sucedidos de paisa-
gismo em torno de edifcios, ao longo de ruas, em estacionamentos, em ptios
de escolas e parques podem ser encontrados em qualquer comunidade. Pode
haver uma ou duas coberturas verdes ou algumas instalaes de pavimentos
frescos ou permeveis. Em casos raros, coberturas frescas com grande inclina-
o podem estar em uso em algumas casas.

Pesquise, investigue e documente o maior nmero de projetos frescos locais


que puder. Aborde os proprietrios dos edifcios e empreiteiros envolvidos
em cada projeto fresco para saber se eles podem compartilhar as informaes
do projeto. Tente obter informaes sobre os procedimentos de instalao,
manuteno, custos, economia de energia e outros benefcios percebidos. Se
os projetos no funcionam bem, aprenda com os erros deles. Se os projetos so
bem sucedidos e podem oferecer informaes valiosas, use-os para demons-
trar a tecnologia fresca.

Se no h um determinado tipo de projeto em sua comunidade, procure fora


de sua comunidade.

Junte todas as informaes que puder sobre os custos do projeto, instalao e


manuteno, e o desempenho em longo prazo.

livro_ilhas de calor.indb 200 3/5/2010 12:04:30

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