Silva Chibante AM e cols.

Clula mesotelial

Atualizao

Papel da clula mesotelial pleural

nos processos inflamatrios
Pleural mesothelial cell and inflammation

Antonio M. S. Chibante

RESUMO
O autor descreve os aspectos morfolgicos e funcionais da clula mesotelial pleural assim como seu comportamento e as reaes que
a mesma desenvolve frente s diferentes agresses que sobre ela incidem. So assinaladas as principais citocinas envolvidas nos processos
pleurticos e o perfil reacional da clula mesotelial a cada uma delas atravs a mobilizao de outras citocinas de resposta. Por fim so
abordadas sucintamente as conseqncias pleurais decorrentes destes fenmenos inflamatrios.

Descritores: derrame pleural, citocinas, inflamao.

ABSTRACT
The author describes the morphological and functional aspects of pleural mesothelial cells as well its behavior after being injured by
several different aggressions. The involved cytokines and the proportional pleuritic processes are point out and related with the mesothelial
pleural cell answer to each one of them trough the mobilization of other cytokines. The consequences of the inflammatory mechanisms
over the pleural mesothelial layer are summarized.

Keywords: pleural effusion, cytokines, inflammation.

Introduo permeabilidade intercelular. So alongadas, de ncleo

A clula mesotelial pleural uma clula bastante proeminente e contm microvilosidades, mais comuns
diferenciada no apenas por suas particularidades de na camada visceral, que permitem aumentar a
recuperao ou degenerao neoplsica mas, superfcie de contato, maior absoro celular e menor
tambm, pela mltipla capacidade funcional, que atrito entre as duas membranas - visceral e parietal.
tanto pode envolver um papel imunorregulador como Seu papel de absoro fundamental para impedir o
fagoctico1. acmulo de lquido no espao pleural. A absoro de
Estas clulas apresentam a particularidade de se elementos estranhos pela clula mesotelial pode ser
unirem vigorosamente umas s outras sem afetarem a identificada em determinadas situaes.

Professor Adjunto de Pneumologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Doutor em Pneumologia pela Universidade de
So Paulo (USP).
Local de realizao do trabalho: Disciplina Cardiopulmonar do Hospital Universitrio Gaffre e Guinle da Universidade Federal do Estado do Rio
de Janeiro.

Endereo para correspondncia: Antonio M. S. Chibante. Av. Luiz Carlos Prestes, 350 sala 306 Barra da Tijuca 22775-000
Rio de Janeiro RJ. Tel.: (21) 2430-8954. E-mail: [email protected]
Artigo recebido para publicao no dia 23/11/2004 e aceito no dia17/12/2004, aps reviso.

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Devido aos prolongamentos celulares, podem em respostas imunomoduladoras. Um dos pontos

confundir-se com macrfagos quando liberadas nos bsicos de resposta reside na produo local de fator
derrames e por vezes so falsamente identificadas como de crescimento do endotlio vascular (VEGF), citocina
clulas neoplsicas2. ligada no s angiognese como tambm a
Processos inflamatrios e infecciosos, com exceo fenestraes na parede vascular favorecendo, deste
da tuberculose, facilitam sua descamao promovendo modo, o acmulo de lquido no espao pleural10,11.
concentraes que, por vezes, se configuram como Sua participao na recuperao da camada mesotelial
grumos celulares. aps dano local, tenha ou no a membrana basal sido
Derrames mais protrados favorecem a atingida, demonstra o enorme potencial desta clula
degenerao destas clulas quando a presena de na captao de fibronectina e laminina aps a
vacolos pode ser observada com relativa freqncia3. expresso de integrinas12. A comprovao da liberao
Algumas atipias mesoteliais podem sugerir aspectos de fator de ativao plaquetria (PAF) e endotelinas
malignos enquanto que a apresentao hiperplsica, por clulas mesoteliais pleurais estimuladas pela
multinucleada e de longas microvilosidades pode ser trombina favorece a compreenso do desenvolvimento
observada em inflamaes variadas4,5. de pleurisias em determinadas situaes13. O papel das
O deslocamento da clula pleural pela gordura integrinas no parece estar relacionado unicamente a
da parede torcica um sinal sugestivo de malignidade adeses intercelulares uma vez que a clula mesotelial
enquanto que atpias celulares junto ao espao pleural pleural capaz de promover captao de colgeno
uma observao associada a processos benignos6. O atravs da adeso com matriz extra-celular14. Respostas
contedo destas clulas na cavidade pleural, em haptotxicas de clulas mesoteliais pleurais tm sido
condies fisiolgicas, da ordem de 1%7. confirmadas na recuperao do desnudamento pleural
A presena de aquaporina 1 - canal de gua na sob a influncia de protena-1 de quimioatrao do
clula mesotelial da camada visceral - parece favorecer o moncito (MCP-1) que permite o reparo da camada
rpido equilbrio osmtico atravs da superfcie pleural8. pleural sem o desenvolvimento de tecido fibrosante15.
A capacidade de resposta desta clula muito Por outro lado, a produo de xido ntrico (NO) pela
intensa e mesmo na ocorrncia de transtornos contra- clula mesotelial estimulada por fator a de necrose
laterais podem ser observadas modificaes qualitativas tumoral (TNF-), interleucina-1 (IL-1), interferon gama
e quantitativas subseqentes, no lado no atingido9. A (INF-) e lipopolissacarideos (LPS) parece ter um papel
facilidade de produo de citocinas pela clula pleural importante na inibio da sntese de colgeno a partir
tem sido exaustivamente comprovada e depende da desta clula16.
qualidade do estmulo que sobre ela incide demons- Estudos recentes tm avaliado seu comportamento
trando um potencial intensamente diversificado e rico frente ao fenmeno da apoptose, seja na mobilizao
de inibidores de protenas indutoras
Figura 1 - Resposta da clula mesotelial pleural aos estmulos inflamatrios. ou na identificao do desenvolvi-
mento de sua morte atravs do
arranjo celular de citoqueratina17,18.
A mobilizao da tenascina tem
sido ligada clula mesotelial como
marcador de inflamao e fibrose
pleural numa srie de situaes no
s clinico-cirrgicas como experi-
mentais19. A inibio da ativao do
plasminogneo (PAI) a partir de
estimulao da clula mesotelial
pleural por determinadas citocinas -
TNF- e fator de transformao do
crescimento (TGF-) explica o
espessamento pleural subseqente
aps desenvolvimento de determi-
nadas pleurisias20.
A clula mesotelial pleural
capaz de apresentar intensa atividade

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metablica seja qual for o estmulo, tanto in vivo como 9. Michailova KN. Electronmicroscopic observations on
in vitro, sendo imediatas as respostas s agresses, com the visceral and parietal rats pleura after contralateral
liberao de substncias inflamatrias, ou no, e pneumonectomy. Eur J Morphol 2001;39:47-56.
expresso de elementos que tendem a promover a 10. Gary-Lee YC, Melkerneker D, Thompson PJ, Light WR,
reverso do processo, com ou sem seqelas sobre a Lane KB. Transforming growth factor beta induces
camada pleural. Os estmulos e respostas ligados clula VEGF elaboration from pleural mesothelial cell in vivo
mesotelial pleural esto esquematizados na figura 1. and in vitro. Am J Respir Crit Care Med 2002;165:88-
A clula mesotelial pleural, por seu comportamento 94.
polivalente, apresenta um papel decisivo no controle 11. Mohammed KA, Nasreen N, Hardwick J, Logie CS,
dos processos irritativos que atingem a cavidade pleural. Patterson CE, Anthony VB. Bacterial induction of
Da mesma forma, ao responder a certos estmulos pleural mesothelial monolayer barrier dysfunction.
especficos pode, paradoxalmente, reagir de uma AmJ Physiol Lung Cell Mol Physiol 2001;281:119-25.
maneira proliferativa capaz de concorrer para o 12. Barth TF, Rinaldi N, Brderlein S, Mechtersheimer G,
desenvolvimento de espessamentos ou processos Strter J, Altevogt P, Mller P. Mesothelial cells in
neoplsicos. Por isso, torna-se necessrio estudar de suspension expose an enriched integrin repertoire
modo cada vez mais incisivo a resposta inflamatria desta capable of capturing soluble fibronectin and laminin.
clula para que sejam neutralizados os momentos Cell Commun Adhes 2002;9:1-14.
especiais que direcionam para as seqelas ou 13. Kimura I, Sakamoto Y, Shibasaki M, Kobayashi Y,
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