Organização Da Educacao Escolar
Organização Da Educacao Escolar
Organização Da Educacao Escolar
Martins (1994, p. 22) define a administração como “processo de planejar para organizar, dirigir e
controlar recursos humanos, materiais, financeiros e informacionais, visando à realização de
objetivos”.
Observando os conceitos acima, notamos que termos como controle, produtividade e eficiência,
característicos do modo de produção capitalista, estão presentes neles. No entanto, a
administração enquanto atividade essencialmente humana precede a organização da sociedade
sob a ótica capitalista.
Nesse sentido, Paro (1999, p. 18), ao discutir o conceito de administração abstraído dos
determinantes sociais, a define como “utilização racional de recursos para a realização de fins
determinados”. Assim, tanto os princípios quanto a função da administração estão diretamente
relacionados aos fins e à natureza da organização em uma dada realidade social.
Por exemplo, na empresa capitalista, que tem como objetivo a acumulação do capital, a função da
administração é organizar os trabalhadores no processo de produção, otimizar o instrumental de
trabalho e disponibilizar as matérias-primas, objetivando o controle das forças produtivas do
planejamento à execução das operações, visando à maximização da produção e do lucro.
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Políticas e Gestão na Educação
A escola é uma instituição social dotada de especificidades e, como tal, sua administração deve ser
diferenciada da administração empresarial. A natureza do processo pedagógico da escola
impossibilita a generalização do modo de produção autenticamente capitalista, uma vez que o
estudante é, ao mesmo tempo, objeto (beneficiário, estando presente no ato da produção) e
sujeito do ato educativo, já que participa ativamente da atividade pedagógica.
Assim, o estudo que vamos fazer sobre as concepções teórico-metodológicas que permeiam as
discussões acerca da administração educacional, busca identificar e discutir os argumentos
utilizados por correntes teóricas as quais indicam que os princípios utilizados na administração
escolar devem ser os mesmos empregados na empresa, bem como os argumentos utilizados por
correntes contrárias a essa indicação.
Este estudo, portanto, busca analisar as teorias e tendências presentes nessas discussões, visando
a levantar elementos que possibilitem aos gestores repensar seu papel nos processos
eminentemente educativos, tendo em vista que o fazer político-administrativo da escola é um fazer
pedagógico, já que se desenvolve “nos diversos momentos da prática pedagógica, ou seja, no ato
de ensinar, nas lutas políticas, no planejamento, na organização pedagógica da escola, na gestão,
na relação com a comunidade” (DOURADO, 1998, p. 90).
A educação pode ser entendida como a apropriação da cultura, historicamente produzida pelo
homem, e a escola enquanto locus privilegiado de produção sistematizado do saber. Isso significa
que a escola precisa ser organizada no sentido de que suas ações, que devem ser eminentemente
educativas, atinjam os objetivos da instituição de formar sujeitos concretos: participativos, críticos
e criativos.
Nesse sentido, administrar uma escola não se resume à aplicação dos métodos, das técnicas e dos
princípios utilizados nas empresas, devido à sua especificidade e aos fins a serem alcançados.
Nesse contexto, Paro (1996, p. 7) sinaliza que, se considerarmos que a administração implica a
“utilização racional de recursos, para a realização de fins determinados”, a administração da escola
“exige a permanente impregnação de seus fins pedagógicos na forma de alcançá-los”.
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Políticas e Gestão na Educação
Uma outra corrente defende a não transposição dos princípios da administração empresarial para
a escola, pois entende que a administração educacional traz, em si, especificidades que a
diferenciam da administração empresarial, devido à natureza (às particularidades) do trabalho
pedagógico e da instituição escolar.
Assim, os procedimentos adotados na escola não podem ser idênticos aos adotados na empresa,
pois administrar uma escola não se resume à aplicação de métodos e técnicas transpostos do
sistema administrativo empresarial, que não tem como objetivos alcançar fins político-
pedagógicos. Nessa ótica, Paro (1996) indica que a administração escolar é portadora de uma
especificidade que a diferencia da administração especificamente capitalista, cujo objetivo é o
lucro.
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Políticas e Gestão na Educação
Tendo em vista que a instituição escolar tem como principal finalidade a formação cidadã, por
meio da apropriação do saber historicamente produzido, e a administração é a utilização
racional de recursos na realização de fins almejados, os meios utilizados para atingir tal
finalidade não podem ser os mesmos utilizados na empresa. Conforme Paro (1999), o princípio
básico da administração é a coerência entre meios e fins. Como os fins da empresa capitalista, por
seu caráter de dominação, são não apenas diversos, mas antagônicos aos fins de uma educação
emancipadora, não é possível que os meios utilizados no primeiro caso possam ser transpostos
acriticamente para a escola, sem comprometer irremediavelmente os fins humanos que aí se
buscam.
A escola, enquanto instituição social, é parte constituinte e constitutiva da sociedade na qual está
inserida. Assim, estando a sociedade organizada sob o modo de produção capitalista, a escola,
enquanto instância dessa sociedade contribui tanto para a manutenção desse modo de produção,
como também para a sua superação, tendo em vista que é constituída por relações sociais
contraditórias.
Vista por esse prisma, a administração configura-se como sinônimo de gestão que, numa
concepção democrática, se efetiva mediante participação dos atores sociais envolvidos na
elaboração e na construção dos projetos escolares, como também nos processos de tomada de
decisão.
Assim, essa concepção de administração escolar, voltada para transformação social, contrapõe-se
à manutenção da centralização do poder na instituição escolar e nas demais organizações,
primando, portanto, pela participação dos seus usuários, na gestão da escola e na luta pela
superação da forma como a sociedade está organizada. Isso implica repensar a concepção de
trabalho, as relações sociais estabelecidas no interior da escola, a forma como ela está organizada,
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Políticas e Gestão na Educação
A palavra trabalho originou-se da palavra latina tripalium. Tripalium era um instrumento utilizado
por agricultores para bater os cereais, sendo associado, posteriormente, a ação de torturar. Daí
surgiu a relação entre trabalho e labor, trabalho e tortura.
O próprio significado da palavra trabalho indica o processo de alterações por que passa a relação
entre o homem, a natureza e os meios de produção ao longo do capitalismo. Observemos alguns
de seus significados historicamente construídos:
Novos significados são atribuídos à palavra trabalho, gerados por essa modificação entre a
relação homem/natureza, em conseqüência do processo capitalista de produção, tais como:
resultado útil do funcionamento de qualquer máquina e atividade humana, realizada ou não com o
auxílio de máquinas e destinada à produção de bens e serviços.
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Políticas e Gestão na Educação
Destaca-se, nesse processo, a exploração do capital sobre o trabalho, que, ao valorizar o trabalho
de produção em série de máquinas e não o do homem enquanto processo de humanização,
expropriou-o de sua força de trabalho e de sua capacidade em pensá-lo. Visto que a exploração do
trabalhador é um fato inerente ao modo de produção capitalista, identifica-se na estrutura
hierárquica do processo de produção capitalista a consolidação de mecanismos destinados ao
controle tanto da produção como do próprio trabalhador, como a divisão
pormenorizada/individualizada do trabalho, a especialização em atividades dentro da própria
empresa, a separação entre trabalho manual e intelectual, os processos de gerenciamento, entre
outros (FÉLIX, 1989; PARO, 1999).
O trabalho escolar situa-se numa esfera não-material, voltando-se, portanto, para a formação de
seres humanos enquanto sujeitos históricos. A escola, nessa ótica, caracteriza-se como uma
instituição social cuja especificidade consiste em seu caráter criador, como geradora do
conhecimento, consubstanciada na indissociabilidade entre teoria e prática, tendo como objetivos:
Portanto, se os objetivos da escola não são os mesmos que os de uma empresa, a forma de
organizar o seu trabalho pedagógico precisa, também, ter um caráter diferenciado, segundo sua
natureza e especificidade.
Frente a essa concepção, é necessário romper com a lógica organizativa predominante na gestão
caracterizada pela:
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Políticas e Gestão na Educação
A (re)constituição de uma nova forma de organização e gestão é fundamental para que a escola
cumpra bem suas principais funções: a produção e a disseminação do saber historicamente
produzido.
Nessa direção, hoje novas formas de se organizar o trabalho pedagógico da escola têm sido
experimentadas, apontando para um horizonte de democratização do espaço escolar.
• Projeto Político-Pedagógico
• Conselho escolar
• Conselho de classe
• Grêmio estudantil
• Associação de pais e mestres
Nessas novas formas de organização do trabalho escolar, tem havido um esforço conjunto para
que seja valorizada a participação ativa de todos os membros da comunidade escolar (diretor,
coordenador, professores, pais, estudantes, funcionários e os demais interessados na escola),
principalmente por meio da construção e da efetivação do Projeto Político-Pedagógico e da
consolidação de conselhos escolares, objetivando:
A educação nacional, segundo a Constituição Federal de 1988 e a LDB, está organizada sob a
forma de sistemas de ensino. Mas o que é sistema? Segundo o Dicionário Aurélio, por sistema
pode-se entender:
• o conjunto de instituições políticas e/ou sociais, e dos métodos por elas adotados,
encarados do ponto de vista teórico ou de sua aplicação prática, tal como o sistema de
Deensino
acordo com as características levantadas acima, a existência de um sistema supõe:
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Políticas e Gestão na Educação
Saviani (1978) aponta três condições básicas para que haja um sistema de ensino:
a) conhecimento dos problemas educacionais de uma dada situação histórico-geográfica
b) conhecimento das estruturas da realidade social, política, cultural, religiosa etc. e
c) uma teoria da educação para dar significado humano à tarefa de integrar os problemas e o
conhecimento, indicando os objetivos e os meios para uma atividade coletiva intencional
Portanto, para Saviani (1978), no Brasil não existe sistema de ensino, devido aos seguintes
aspectos:
Sobre os sistemas de ensino, a LDB dispõe que estes: definirão as normas da gestão democrática
do ensino público na educação básica (art. 14); assegurarão às unidades escolares públicas de
educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e
de gestão financeira (art. 15). Além disso, afirma que a União é responsável pela coordenação da
política nacional de educação e da articulação entre os diferentes níveis e sistemas de ensino (art.
8º § 1º).
A educação nacional está, pois, organizada em três sistemas de ensino distintos, conforme a
dependência político-administrativa. Cada um deles é responsável pela organização e manutenção
das instituições de ensino de seu sistema e, também, pela elaboração e execução de políticas e
planos educacionais para o mesmo. Os sistemas de ensino são:
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Políticas e Gestão na Educação
Sistema federal
O governo federal mantém as
O sistema federal de ensino, sob a responsabilidade da seguintes instituições:
União, do Governo Federal, se refere às instituições,
aos órgãos, às leis e normas, concretizando-se nos • Universidades Federais
estados e municípios, nos seus sistemas de ensino. • Instituições isoladas de ensino
Segundo a LDB (art. 16), o sistema federal de ensino superior
compreende: as instituições de ensino mantidas pela • Centros Federais de Educação
União; as instituições de educação superior criadas e Tecnológica (CEFETs)
mantidas pela iniciativa privada; e os órgãos federais • Estabelecimentos de educação
de educação. básica (Colégios de Aplicação)
• Colégio Pedro II
• Instituições de educação especial
E mais: supervisiona e inspeciona as diversas
instituições privadas de educação superior.
Sistema estadual
O sistema estadual de ensino é responsável por grande parte dos estudantes de vários graus e
modalidades de ensino, professores, servidores, unidades escolares públicas e privadas, além de
exercer o controle sobre o ensino supletivo e os cursos livres que ocorrem fora do âmbito escolar,
assumindo ainda funções de manutenção do ensino nessa esfera, também exerce funções
normativas, deliberativas, consultivas e fiscalizadoras nas redes oficial e particular.
• a Constituição Federal
• a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
• os pareceres e resoluções do Conselho Nacional de Educação
• resoluções, portarias e pareceres do Conselho Estadual de Educação
• a Legislação Estadual de Diretrizes e Bases do Sistema Educativo
• decretos e atos administrativos do Poder Executivo
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Políticas e Gestão na Educação
Sistema municipal
Os sistemas municipais de ensino
A Constituição Federal de 1988 reconheceu o município compreendem:
como uma instância administrativa, possibilitando-lhe, no
campo educacional, a organização de seus sistemas de • as instituições do ensino
ensino em colaboração com a União e os Estados. fundamental, médio e de
educação infantil mantidas pelo
A Constituição Federal prescreveu que os municípios poder público municipal
deverão atuar, sobretudo no ensino fundamental, tanto na • as instituições de ensino
zona urbana, quanto na zona rural e na pré-escola, infantil criadas e mantidas pela
priorizando o atendimento às crianças de 0 a 5 anos, nas iniciativa privada
creches e pré-escolas. • os órgãos municipais de
educação.
A educação escolar no Brasil está organizada em dois níveis: educação básica e educação superior.
A educação superior está organizada nos seguintes cursos e programas: cursos de graduação;
programas de mestrado e doutorado e cursos de especialização, aperfeiçoamento e atualização,
no nível de pós-graduação; cursos seqüenciais de diferentes campos e níveis; e cursos e
programas de extensão.
Quanto à categoria administrativa (art.19), as instituições de ensino nos diferentes níveis poderão
ser públicas (mantidas e administradas pelo poder público) ou privadas (mantidas e administradas
por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado).
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Políticas e Gestão na Educação
Como você pôde observar, a LDB estruturou a educação nacional sob o modelo de sistemas. Ela
definiu, em consonância com a Constituição Federal (art. 211), a organização do sistema
educacional, indicando quais seriam as incumbências de cada um dos três sistemas de ensino.
Com a política de descentralização da educação, a União repassou aos Estados e aos Municípios
muitas de suas atribuições. A LDB regulamentou a criação de sistemas, objetivando o
estabelecimento de metas, a gestão de recursos financeiros destinados à educação, a supervisão
de suas unidades de ensino e seu padrão de qualidade, entre outras necessidades, preconizando a
existência de conselhos de educação em nível nacional, estadual e municipal.
O que diferencia o CNE atual de sua primeira versão e do antigo Conselho Federal de Educação é
a participação da sociedade civil em sua composição. O CNE é composto por 24 membros, sendo
12 desses indicados por associações científicas e profissionais e depois nomeados pelo Presidente
da República.
Conselho estadual
• emitir parecer sobre assuntos de natureza pedagógica e educacional que lhe forem
submetidos pelo governador do estado, pelo secretário da educação, pela Assembléia
Legislativa ou pelas unidades escolares
• interpretar, no âmbito de sua jurisdição, as disposições legais que fixem diretrizes e bases
da educação
• manter intercâmbio com o Conselho Nacional de Educação e com os demais conselhos
estaduais e municipais, visando à consecução dos seus objetivos
• articular-se com órgãos e entidades federais, estaduais e municipais, para assegurar a
coordenação, a divulgação e a execução de planos e programas educacionais
Conselho municipal
Com a descentralização do ensino público, via municipalização, foram atribuídas, pela LDB,
funções ao sistema municipal de ensino (art. 11).
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Políticas e Gestão na Educação
Em seu livro "Poder Local e Educação", Romão (1992) faz alguns alertas acerca do papel dos
Conselhos Municipais de Educação:
• a educação nacional está organizada sob o modelo de sistemas de ensino por esfera
administrativa
• o sistema nacional de educação encontra-se organizado em três sistemas de ensino distintos:
federal, estadual e municipal
• a educação brasileira encontra-se organizada em dois níveis: educação básica e educação
superior
• cada sistema é responsável pela organização e pela manutenção de sua rede de ensino, e
também pela elaboração e pela execução de suas políticas e planos educacionais
• em cada esfera administrativa, existe um conselho de educação
• os conselhos de educação exercem funções normativas, deliberativas, de fiscalização e de
planejamento
• o conselho nacional é um órgão colegiado do MEC que normatiza o sistema federal de ensino
e promove a articulação entre os demais sistemas
• o MEC é o órgão responsável pela elaboração e pela implementação de políticas educacionais
em âmbito nacional
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