O Tempo Das Tribos
O Tempo Das Tribos
O Tempo Das Tribos
O Tempo
das Tribos
~
O declnio do
individualismo
nas sociedades
de massa
~~
FORENSE
UNIVERSITRIA
2 1 edio - 1998
Copyright
Michel Maffesoli
Traduzido de:
LI Tempstks Trtbus
Capa:
Ampersa..d Comunicao Grfica
CIP-Bnosil. Catalogao-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
Ml62t
2.ed.
Maffesoli, Michel, 1944O tempo dos tribos: o decfinio do individualismo nas sociedades de masso/ Michel Maffesoli;
apresentao de Luiz Felipe Bata Neves; 1Illduo de Maria de Lourdes Menezes; reviso
tcnica de Amo Vogel.- 2. ed.- Rio de Janeiro: Forense Univ=itria, 1998.
(Ensaio & teoria)
Traduo de: Le temps des tribus: le dcfin de l'individualisme dans les socits de masse
Inclui bibliografia
ISBN 85-21&-m26-9
qualquer forma u por qualquer meio eletrnico ou mecnico. inclusive atravs de processos xerogrficos,
de fotocpia e de gravaio, sem permisso expresso do Editor (Lei n 5.988 de 14.12. 73).
Para Raphaele,
Sarah-Marie, Emmanuelle
_,
J mencionei anteriormente que o que melhor poderia caracterizar a ps-modernidade era o vnculo que estava sendo estabelecido entre a tica e a esttica. 1 O que pretendia dizer com isso
que eu via o novo vnculo social (ethos) surgindo a partir da emoo
compartilhada ou do sentimento coletivo. Portanto, em vez de ver
a uma frivolidade qualquer disposio de alguns, vanguarda,
bomia artstica, talvez estivssemos mais inspirados se descobrssemos nesta coletivizao dos sentimentos um dos fatores
essenciais da vida social que est em vias de (re)nascer nas
sociedades contemporneas.
No nos esqueamos que tal perspectiva se insere, h muito
tempo, na tradio intelectual francesa: os surrealistas, certamente, mas tambm G. Bataille e, mais recentemente, Michel
Foucault. Em cada um desses casos, com nuanas de real importncia, o destaque dado a uma perspectiva global, holstica, que
integra a vivncia, a paixo e o sentimento comum. Reconhecemos
l uma mudana importante de paradigma: em vez de dominar o
mundo, em vez de querer transform-lo ou mud-lo- trs atitudes
prometeanas - ns nos dedicamos a nos unirmos a ele atravs da
"contemplao". A prevalncia da esttica, a perspectiva ecolgica, a no-atividade poltica, as diferentes formas do souci de soi e
os diversos cultos do corpo so, na realidade, no importa o que
possam parecer, formas desta "contemplao".
Em cada um de todos esses casos, ser a ambientao do
tempo e do lugar que ir determinar a atividade, a criao: quer
seja a crao maiscula das obras de cultura, ou a criao
microscpica da vida do cotidiano. Mas, no nos esqueamos, o
1
Cf. Aux Creux des Apparences (1990), trad. portugus Ed. Vozes, 1996.
.J
APRESENTAO
Luiz Felipe Bata Neva
SUMRIO
A Maneira de Introduo .
Captulo I -A Comunidade Emocional (Argumentos de uma
pesquisa) . . . . . . .
1.
2.
3.
. . . .
13
A Aura esttica .
A experincia tica .
O costume . . . . .
13
. 22
. 30
. 45
1.
2.
3.
Aspectos do vitalismo . . .
O divino social . . . . . . .
A "auto-referncia" popular
Captulo IV - O Tribalismo
1.
2.
3.
4.
5.
6.
A nebulosa afetual
O estar-junto " toa"
O modelo "religioso"
A socialidade eletiva .
A lei do segredo . . .
Massas e estilos de vida
Captulo V- O Policulturalismo
1.
2.
Da triplicidade . . . . .
Presena e afastamento
. 45
. 56
. 67
. 79
. 79
. 91
101
101
111
115
121
128
136
143
143
146
3.
4.
Notas
A comunidade de destino
Genius Zoei . . . .
Tribos e redes . .
A Rede das redes .
152
159
169
169
179
193
203
209
A MANEIRA DE INTRODUO
1.
MANEIRA DE INTRODUO
Quomodo
A MANEIRA
DE lJmtOJ)UO
temos por que nos preocupar com o que possa ser a verdade
ltima. No caso, a verdade relativa, tributria da situao.
Trata-:e de um "situacionismo" complexo, pois o observador
est, ao mesmo tempo, ainda que parcialmente, integrado em
tal ou qual das situaes descritas por ele. Competncia e apetncia caminham lado a lado. A hermenutica supe ser quem
descreve da mesma substnc'a que aquilo que descreve. Ela
requer uma "certa comunidade de perspectiva". 1 Os etnlogos
e os antroplogos can"aram-sw de insistir nesse fenmeno.
Creio que hora de aceit-lo tambm para as realid'ades que.
nos so prximas.
Mas como tudo aquilo que est nascendo frgil, incerto,
cheio de imperfeles, nossa aborlagem tem as mesmas qualidades. Da a aparncia de frivolidade. Um terreno movedio
neces"ita de um tratamento adequado e no vergonha fazer
"surf" sobre as ondas da socialidade. , inclusive, uma questo
de prudncia que no deixa de se mostrar efica~. Desse ponto
de v:sta, a utiliza&o da metfora perfeitamente "relev~nte"
Alm do fato de ter ela os seus tt.;;_los de nobreza e de se~
utilizada na produo intelectual de todos os perod~s de efervesc~cia, ela permite tambm essas cristalizaes especficas
que sao as verdades aproximativas e momentneas. Disseram de
Beethoven que ele encontrava na rua os temas de suas mais
belas p~ssagens.. o resultado no desprezvel. Por que no
escrever1amos nos as nossas partituras a partir do mesmo cho?
. . Assim co~o. a pers~na e suas mscaras, na teatralidade quotidiana, a so~1alldade e estruturalmente ardilosa, inapreensvel,
dai a confusao dos universitrios, dos polticos, dos jornal;stas
que a descobrem alhures, quando acreditam t-la apreendido
Numa cornda
desvairada,
os mais hone~tos vo subrepticia-
mente, mudar de teoria, e produzir um outro s;stema, explicativo e completo, para aprend-la de novo. No seria melhor
como
. h'a pouco, "estar nela" e praticar tambm a,
, eu d'IZia
a""tucia?
de a bord -la de frente, positivando ou criti Ao mves
cando um dado social fugidio, utilizar uma ttica de matizes
e _atacar de vis. a prtica da teologia apoftica: de De~
nao se fala senao
- por ev1 t aoes.
Desse modo, ao invs de querer,
MANEIRA DE INTRODUO
por sua vez, permite dar conta do processo de desindivldualizao, da saturao da funo que lhe inerente, e da valorizao do papel que cada pessoa (persona) chamada a representar dentro dela. Claro est que, como as massas em
permanente agitao, as tribos, que nelas se cristalizam tampouco so estveis. As pessoas que compem es~as tribos ~dem
evoluir de uma para a outra.
Podemos dar conta do deslocamento que est ocorrend:> e
da tenso que ele suscita atravs do seguinte esquema:
Social
Socialidade
Estrutura mecnica
Estrutura complexa ou
orgnica
(Modernidade)
(Ps-Modernidade)
organizao econmico-pol.
3.
Ouverture
Indivduos
(funo)
grupos contratuais
massas
(versus)
Pessoas
(papel)
tribos afetuais
----
A MANEIRA DE INTRonuAo
ela a ao dos homens, muito menos para aqueles que, confundindo o erudito e o poltico, pensam que pos~vel us-la como
instrumento. Ela antes uma forma de quietismo que se contenta em re-conhecer aquilo que , aquilo que ocorre. De certa
forma, uma valorlzao do "primus vivere". Como disse antes,
seguramente para os happy few, que estas pginas esto
reservadas. Re-conhecer a nobreza das ma~sas e das tribos exige
uma certa aristocracia de esprito. Mas quero esclarecer que
essa aristocracia no apangio de uma camada social, de um
grupo profissional e menos ainda dos especialistas. Debates,
colquios, entrevistas me ensinaram que podemos encontr-la
equitativamente distribuda entre numerosos estudantes, trabalhadores so~iais, executivos, jornalistas, sem esquecer, logicam~nte, aqueles que so simplesmente homens de cultura. a
estes que me dirijo e digo que este livro se pretende uma simples
iniciao para penetrar naquilo que . Se ele fico, isto ,
se leva s ltimas conseqncias uma certa lgica, ele no
"inventa" seno o que ex;ste, e isso, certamente, lhe veda propor
qualquer soluo ainda que para o futuro. Em contrapartida,
tentando colocar questes supostamente essenciais, prope um
debate que no se presta s tergiversaes, s aprovaes medocres, sem falar, naturalmente, dos silncios dissimulados.
pocas efervescentes necessitam de impertinncias confirmatrias. Espero ter colabo~ado com algumas. Da mesma forma
os perodos em que as utopias se banalizam, se realizam, e em
que pululam os devaneios. Algum disse que esses momentos
sonham os seguintes? Sonham sim, mas menos enquanto projees do que enquanto fices feitas, de migalhas esparsas, de
construes inacabadas, de tentativas mais ou menos bem sucedidas. Na verdade preciso fazer uma nova interpretao desses
SOnhos quotidianos. Essa a ambio deste livro. Sociologia
SOnhadora!
10
11
li
CAPiTULO 1
A COMUNIDADE EMOCIONAL
Argumentos de uma Pesquisa
1.
A Aura esttica
14
COMUNIDADE EMOCIONAL
15
16
A COI\'!UNIDADE EMOCIONAL
17
18
O TEMPO
DAS
TtUBos
de sua anlise que a ligao entre a emoo partilhada e acomunalizao aberta que suscita essa multiplicidade de
grupos, que chegam a constituir uma forma de lao ~cial, no
fim das contas, bem slido. Trata-se de uma modulaao permanente, que, tal como fio conduto:, percor:e ~do o corpo social.
Permannc a e instabilidade serao os dms polos em torno dos
quais se articular o emocional.
J!: conveniente esclarecer, desde o inicio, que a emoo da
qual se trata no pode ser assimilada a um "pat~o~' _qualquer.
Parece-me equivocado interpretar os valores dioms1acos, aos
quais esta temtica remete, como sendo manifestaes Wmas
do ativismo coletivo prprio d-o burguesismo. Primeiro foi
marcha comum para o esprito, depois o dominio orquestrado
da natureza e d-o desenvolv~mento tecnolgico, finalmente, a
instrumenho coordenada dos afetos sociais. Esta perspectiva
exce~sivamente teleolgica ou dialtica. Certamente algumas
realizaes, como este paradigma qu~ o Club Mditerranne,
militam neste sentido. Mas nossa anlise deve estar atenta ao
fatJ de que aquilo que predomina, maciamente, na atitude
grupal, o dispndio, o acaso, a desindividualizao, o que no
permite ver na comunidade emocional uma etapa nova da pattica e linear marcha histrica da humanidade. Vrias conversas com o filsofo italiano Mario Perniola chamaram minha
ateno para este ponto. 5 E, prolongando seus trabalhos, sob
um ponto de vista sociolgico, direi que a esttica do "ns"
um misto de indiferena e de energia pontual. Paradoxalmente
encontra-se a um singular desprezo por toda atitude projetiva
e uma inegvel intensidade na prpria ao. isso que caracteriza a potnc~a impessoal da proxemia.
, A sua maneira, Durkheim no deixou de sublinhar e~se
fato. E se, como de hbito, permanece prudente, nem por isso
deixa de falar da "natureza social dos sentimentos" e enfatizar
sua eficcia. "Indignamo-nos em comum" escreve, e sua descrio remete proximidade do bairro e sua misteriosa "fora
de atrao" que faz com que alguma coisa tome corpo. neste
quadro que se exprime a paixo, que as crenas comuns so
A COMUNIDADE EMOCIONAL
lf'
20
A COMUNIDADE EMOCIONAL
21
22
A experincia tica
A COMUNIDADE EMOCIONAL
23
24
0 TEMPO
DAS
TRIBos
vando expresses da vida quotidiana, tais como dar calor humano, cerrar fileiras, fazer uma corrente pra frente, podemos
pensar que talvez esteja ai o fundamel}.to mais simples da tica
comunitria. Alguns psiclogos destacaram que existe uma tendncia "gliScromorta" nas relaes humanas..Sem entrar no
mrito da questo, parece-me que esta a viscosidade que se
exprime no estar-junto comunitrio. Assim sendo, insisto, para
evitar qualquer desvio moralizante, que, por fora das circunstncias, porque existe proximidade (promiscuidade), porque
existe a partilha de um mesmo territrio (seja ele real ou simblico), que vemos nascer a idia comunitria e a tica que
o seu corolrio.
Para invalidar esses termos, dando-lhes uma conotao
passadista, chegou-se a falar de tica de aldeia ou de bairro.
Podemos lembrar ainda, que este ideal comun~trio encontrado tambm na ideologia populista e, mais tarde, no anarquismo, cuja bafe exatamente o ajuntamento proxmico.
Para os anarquistas, em particular os russos Baknin e Herzen,
a comunidade alde (obrotchina ou mir) a prpria base do
socialismo em marcha. Complementada pelas associaes de
artesos (artels), ela prepara uma civilizao fundamentada no
solidarismo. 1s o interesse dessa viso romntica ultrapassa a
habitual dicotomia prpria do burguesismo da poca, tanto na
sua verso capitalista, quanto na sua verso marxista. Com
efeito, o devir humano considerado como um todo. ~ isto que
d "obrotchina" seu aspecto prospectivo. Notamos ainda que
esta forma social pde, com razo, seF comparada com o fourierismo e, em particular, com o falanstrio. F. Venturi, em seu
livro, agora clssico, sobre o populismo russo no sculo XIX,
faz essa aproximao. E, o que serve muito bem .ao nosso propsito, repara na ligao que existe entre essas formas sociais
e a busca "de uma moralidade diferente". Ele o faz com alguma reticncia. Para ele, sobretudo no que concerne ao falans14
trio, essa busca faz parte do reino das "extravagncias".
o que o digno historiador italiano no viu, que, para alm
de sua aparente funciDnaEdade, todo conjunto social possui um
A COMUNIDADE
EMOCIONAL
25
A COMUNIDADE ~MOCIONAL
26
o Destino, a
0 TEMPO
DAS
27
TRIBOS
28
0 TDIPo
DAS.
TuBos
A COMUNIDADE EMOCIONAL
29
3C
rado ao perodo de gestao: alguma coisa aperfeiada, provada, experimentada, antes de decolar para uma expanso
maior. Neste sentido, a vida quotidiana poderia ser, segundo a
expresso de W. Benjamin o "concreto mais extremo", Esta
sntese permite compreender que o vivido e a experincia partilhada podem ser o fogo depurador do processo alquimico que
permite a transmutao. O nada ou o quase J)ada se torna
uma totalidade. Os rituais minsculos se invertem at se tor-.
narem base da socialidade. Multum in parvo. Na verdade, o resduo to importante que difcil prever o que de m)nsculo
se tornar macroscpico. Mas no se trata d~sto, basta, como
eu disse, indicar a "forma" om que nascem e crescem os
valores sociais.
Podemos, ento, dizer que a tica , de certa for.ma, o cimento que far com que diversos elementos de um conjunto dado
formem um todo. Mas, se foi bem compreend:do o que acabo
de explicar preciso dar a este termo, seu ~entido mais simples. No o sentido uma teorizao qualquer a priori, mas daquilo que no dia-a-dia, serve de cadinho s emoes e aos sentimentos coletivos. Aquilo que faz com que, bem ou mal, uns
se ajustem aos outros num territrio determinado, e que uns
e outro" se ajustem ao meio natural. Essa acomodao , certamente. relativa. Elaborada na felicidade e no infortnio, originria de retaes freqentemente conflituais, ela flexvel,
mas nem por isso deixa de apresentar uma longevidade espantosa. Ela , na verdade, a expresso mais caracterstica do
querer-viver social. Torna-se necessrio, portanto, falar um
pouco mais sobre algumas manifestaes dessa tica corriqueira,
porque, como expresso da sensibilidade coletiva, ela nos introduz, a pleno vapor, na vida dessas tribos que, na massa,
constituem a sociedade contempornea.
3.
o costume
A COMUNIDADE EMOCIONAL
31
transposto para a doxa sociolgica. 19 Isto timo, pois, configura uma temtica de importncia fundamental. Remete ao
banal, vida de todos os dias, em uma palavra, ao costume,
que se~endo G. Simmel "uma das formas mais tpicas da
vida soc;al". Quando sabemos a importncia que este ltimo
d . "forma", que eficcia ele lhe confere, podemos imaginar
que n8.o se trata de uma palavra v. Um pouco mais adiante
e1e esclarece: "o costume determina a vida social como o faria
uma potncia ideal." 20 Somos, ento, remetidos a uma ao
~-ertinaz que fe inscreve profundamente nos seres e nas coisas
a maneira pela qual eles aparecem. Trata-se quase de um cdigo
gentico que limita e delimita a maneira da estar oom os
outros muito mais do que poderia faz-lo a situao econmica ou poltica. ~ neste sentido que, depois da esttica (o
sentir em comum), e da tica (o lao coletivo), o costume ,
.:;eguramente, uma boa maneira de caracterizar a vida quotidiana dos grupo" contemporneos.
"Dar um sentido mais puro s palavras da tribo". Fa
m!nh:::. est2. preocupao de Mallarm_ e, como os outros "miniconceih1s"' empregados antes, pretendo dar palavra costume
sua ncepo mais ampla, a mais prxima tambm de sua etimolo~ia (consuetudo): o conjunto dos uws comuns que permikm a um conjunto social reconhecer-se como aquilo que .
Trata-se de um lao misterios-o, que no formalizado e verbalbmdo, como tal, seno acessria e raramente (os tratados de
ctiquctz~ ou de boas-maneiras, por exemplo). No {menos certo
que ele trabalha, que ele "agita" profundamente, toda a sociedade. O c:::stume, nes"e sentido, o no-dito, o "resduo" que
fundamenta o estar-junto. Propus chamar isto de centralidade
subterrnea ou "potncia" social em oposio a poder. Esta idia
reencontra-se em Goffman (A vida subterrnea) e, mais
adiante, em Halbwachs (a Sociedade silenciosa). 21 O que essas
expre<-ses pretendem sublinhar, que h uma boa parte da
existncia social que escapa ordem da racionalidade instrumental. A esta racionalidade no se pode atribuir um fim nem
se pode reduzi-h a uma simples Ig:ca da dominao. A dupli-
32
cidade, o ardil, o querer-viver, se exprimem atravs de uma multiplicidade de rituais, de situaes, de gestuais, de experinc;as,
que delimitam um espao de l;berdade. Por notar demais a
via alienada, por querer demais uma existncia perfeita ou
autntica, costuma-se esquecer, de maneira obstinada, que a
quotidianidade se fundamenta numa srie de liberdades intersticiais e relativas. Da mesma maneira como se reconheceu para
a economia, pode-se concordar com o fato de que existe uma
sociedade em negativo, da qual fcil seguir as pegadas nas
suas diversas e minsculas manifestaes.
Fao minha a colocao de Durkheim e de sua escola que
sempre privilegiaram a sacralizao das relaes sociais. De
minha parte tenho dito em vrias ocasies, e vou repeti-lo
'
sempre: considero todo conjunto dado, desde o microgrupo at
a estruturao estatal, como uma expresso do divino social, de
uma transcendncia especifica, ainda que imanente. Sabemos.
no entanto, e numerosos historiadores das religies o moostraram bem, que o sagrado misterioso, assustador, inquietante,
e que necessrio cativ-lo e negociar com ele. Os costumes
tm es~a funo. Eles so para a vida quotidiana aquilo que
o ritual para a vida religiosa stricto sensu. 22 Alm disso,
importante observar que, particularmente, na rellgio popular.
muito difcil fazer uma separao entre costumes e rituais
canonicamente estabelecidos, o que, alis, tem sido a tarefa
constante da hierarquia eclesi~tica. Podemos dizer, ento, que
da mesma maneira que o ritual litrgico torna a igreja visveL
o costume faz uma comunidade existir como tal. Por outro lado,
num momento em que a separao no est totalmente ntida,
se podemos acreditar em P. Brown, trocando as relquias, na
forma do costume, que as diversas igrejas locais iro con~tituir
-se como rede. Essas relquias servem de cimento no interior de
uma pequena comunidade. Elas permitem que as comunidades
se unam e ass~m transformem "a distncia com relao ao sagrado em profunda alegria de proximidade".23
Toda organizao in statu nascendi algo de fascinante
para o socilogo. As relaes interindividuais ainda no esto
fixadas, e as estruturas sociais ainda tm a flexibilidade da
CoMUNIDADE EMOCIONAL
33
0 TEMPo
34
DAS TIUBOS
gente comum, e, por outro lado, no mais das vezes, ele falado
atravs dos esteretipos mais banais. A square, a rua, a tabacaria da esquina, o jornaleiro, etc. A esto, conforme os centros
de interesse ou de necessidade, outras tantas pontuaes triviais da socialidade. Entretanto, esta pontuao que suscita
a aura especifica de tal ou qual bairro. E de propsito que
emprego este termo, na medida em que ele traduz muit.o bem
o movimento complexo da atmosfera que emana dos lugares,
das atividades, e que lhes confere em retorno, uma colorao
e um odor particulares. Talvez seja essa espiritualidade materialista, de que E. Morin fala poeticamente a propsito de
certo bairro de New York, que destila talento, ainda que apoiado
na "ausncia de talento dos indivduos". E estende este talento
cldade inteira, que se toma obra-prima, ao passo que "as vidas
so lamentveis". Porm, prossegue ele, " ... se voc se deixa
possuir pela cidade, se voc se agarra aos fluxos de energia,
se as foras da morte que esto ai para triturar voc, lhe
despertam a vontade de viver, ento New York psicodeliza
voc". 26
~a
metfora exprime perfeitamente o vaivm constante entre o esteretipo consuetudinr:o e o arqutipo.. fundador.
A meu ver, esse processo de constante reversibilidade que
Gilbert Durand chama de "trajeto antropolgico". No caso a
estreita conexo que existe entre as grandes oqras da cultura
e aquela "cultura" vivida no dia-a-dia, constitui o cimento
essencial de toda vida societal. Essa "cultura" causa de grande
admirao para muitos, feita do conjunto desses pequenos
"nadas" que, por sedimentao, constituem um si~tema s'gnificante. ~ impossvel apresentar uma lista exaustiva deles, mas
essa lista constituiria um programa de pesquisa dos mais pertinentes para a atualidade. Ela pode ir do fato culinrio ao imaginrio do eletrodomstico, sem esquecer a publicidade, o turismo de massa, o ressurgimento e a multiplicao das ocasie:;
festivas.26 Bem se v que so coisas que do conta de uma sensibilidade coletiva, sem muito que ver com a dominncia econmico-poltica que caracterizou a Modernidade. Essa sensi-
CoMlmiDADE EMOCIONAL
35
A COKONIDADB EMOCIONAL
3'1
U:"
38
Udade, em suas diversas formas, toma visvel essa ligao complexa. Entretanto, bom lembrar que o divino oriundo das
realidades quotidianas, que ele se elabora, pouco a ~uco, na
partilha dos gestos simples e rotineiros. l: neste sentido que o
"habitus", ou 0 costume, servem para concretizar, para atualtzar , a dimenso tica de toda socialidade.
Basta lembrar que o costume 1 enquanto expresso da sensibilidade coletiva, permite, stricto sensu, um ex-tase no quotidiano. Beber junto, jogar conversa fora, falar dos assuntos banais
que pontuam a vida de todo dia provocam o "sair de si" e,
atravs disso, criam a aura especifica que Eerve de cimento
para 0 tribalismo. Como se v, no necessrio reduzir o xtase
a algumas situaes extremas particularmente tipificadas. O
dionisaco remete, seguramente, promiscuidade sexual e a
outras efervescncias afetuais e festivas, mas ta~bm permite
compreender a elaborao das opinies comuns, das crenas coletivas ou da doxa comum. Em resumo, so estes "quadros coletivos da memria", para retomar a expresso de M. Halbwachs, que permitem ressaltar as "correntes de experincia" o
que vivido.at Ao lado de um saber puramente int~lectu~,
existe um conhecimento que integra tambm uma d1mensao
sensvel, um conhecimento que, mais de acordo com a sua etimologia, permite "nascer junto". Este conhecimento encarnado
tem suas rzes em um corpus de costumes, que merecem, enquanto tais, uma anlise especfica. Isto permitiria apr~ciar
qual a modulao contempornea da "palabre", cujos div~r
sos rituais representaram um papel de importncia no eqUilbrio social da aldeia e da comunidade tradicionais. l: possvel
Imaginar que, correlativamente ao desenvolvimento tecnolgico,
o crescimento das tribos urbanas favorea uma "palabre informatizada" que retome os rituais da antiga Agora. No seramos ma~s confrontados, ento, como ocorreu no incio, com
os perigos do computador macroscpico e desconectado das
realidades prximas, mas, pelo contrrio, graas ao "micro"
ou televiso por cabo, seramos remetidos difractao infinita de uma oralidade que se dissemina cada vez mais. O sucea-
COliiUNIDADE EMOCIONAL
3D
40
TEMPO DAS
TRIBos
A COMUNWADE EMOCIONAL
41
Dai a ligao que se pode estabelecer entre o costume e a comunicao. O mundo aceito tal e qual , certamente, o "dado"
natural com o qual se vai lidar. Esse "dado" natural se inscreve num processo de reversibilidade, tal como a perspectiva
ecolgica, mas igualmente, o "dado" social com o qual cada
um ir, estruturalmente, contar, da o envolvimento orgnico
de uns com os outros. 1!: o que chamo aqui de tribalismo. E
a isto que nos remete a temtica geral do costume. O indivduo
importa meno8 do que a pessoa. E esta deve representar seu
papel numa cena global, em funo de regras bem precisas.
Tratar-se-ia de uma regresso? Pode ser, se considerarmos a
autonomia individual como sendo o horizonte intransponvel de
toda a vida em sociedade. Mas alm da antropologia nos mostrar que se trata de um valor que no geral, nem no tempo
nem no espao, podemos concordar quanto ao fato de que o
princ~pium individuationis cada vez mais contestado no prprio mundo oc~dental. O que se percebe atravs desse barmetro que a sensibilidade dos poetas ou dos romancistas (cf.
por exemplo o teatro de S. Beckett), ou, mais empiricamente,
atravs da multiplicao das atitudes grupais que salpicam a
vida de nossas soc;edades. Finalmente, e isto merece ser assinalado, ocorre que certos pases, que no fizeram do individualismo o fundamento de seu desenvolvimento, conhecem, atualmente, uma inegvel v~talidade. Alm do mais, exercem urna
fascinao que parece duradoura. O Japo um deles e, ainda
que isso pJssa parecer paradoxal, a ele podemos juntar o Brasil.
Tomemos um e outro destes pases como prottipos, cuja aura
essencialmente marcada pelo ritual, cuja estrutura de base
a "tribo" (ou, se no quisermos chocar, o agrupamento orgn:co), e que so, efetivamente para um, e potencialmente para
o outro, f-los de atrao do imaginrio coletivo, tanto do ponto
de v~ta ex'stencial, quanto econmico. cultural ou cultuai.
No se trata de apresent-los como modelos acabados, mas
de indicar que, alternativamente ao princpio de autonomia,
qua:quer que sejam os nomes que se lhes queira atribuir (auto-
A COKUKm.lDJ: EJ40CI01UL
CAPTULO
li
A POTNCIA SUBTERRNEA
1.
Aspectos do vitalsmo
48
O TEMPo
DAS
TRIBos
A PottNCIA SUBTERRNEA
10
11
52
A Pol'tNCIA SUBTERR!NEA
53
54
A PoTtNCIA SUBTERRNEA
55
56
O divino social
PoTtNCIA SUBTERRNEA
57
o ressurgimento do rel'gioso. Nem por um momento sequa, pretenderia apos::-ar-me de seu objeto. Vou me limitar a p2rmanecer na fluidez, na nebulosa do sentimento religioso. De propsito, alis, o que me permite ficar atento ao desenvolvlmento
religioso stricto sensu (em particular s suas manifestaes
no-;nstitucionais), importncia concedida ao imaginrio, ao
simblico, todas es~as coisas que incitam os espritos apressados
ou prec-onceituosos a falar de um retorno do irracionalismo.
Podemos, inicialmente, dizer que existe uma indubitvel
relao entre a recuperao do natural (do naturalismo) e o
reencantamento do mundo que observamos hoje. Para alm
das desmistificaes, das "desmitol-ogizaes" que encontraram
adeptos no prprio seio das reflexes te-olgicas, este renifleur *
soc;al que o socilogo no pode desconsiderar todos esses mltiplos elementos que privilegiam o acaso, o destino, os astros,
a magia, o tar, os horscopos, os cultos da natureza etc. 11:
Inclusive certo que o desenvolvimento dos jogos de azar tal
como se conhece em Frana, dos jogos populares (loto, tacotae,
tierc, loteria nacional), maneira dos cass}nos, faz parte deste
mesmo procesm. Todas estas so pistas que mereceriam pes
quisas detalhadas. Desse ponto de vista, no se trata de desferir gritos de harpia. Lembramos, com efeito, que este um
"postulado essencial da sociologia" para E. Durkheim: uma
instituio humana no poderia basear-~e no erro e na mentira, do contrr;o no p-oderia durar. Se ela no estivesse fundamentn.da na natureza das coisas teria encontrado ... resistncias
rubrc as quais no teria podido triunfar". 18 Esta sbia observao pode aplicar-se ao n-oss-o assunto. O senso comum, a
constatao emprica, os artigos jornalst:cos, todos concordam
a respelto da multiplicao dos fenmenos religiosos. Convm,
pois, abord-los, naturalmente, sem exagerar seu alcance, mas
sem de~qualific-los de sada, tampouco.
Preferimos manter o termo franc.3 que caracteriza a atitude
do socilogo como a de quem torce o nariz a propsito do social, mas
que , tambm, o seu farejador e fuador. <N. da Trad.)
58
PoTtNCIA SUBTERRNEA
59
60
61
pria fragmentao far ressaltar ainda mais a colorao religiosa. Assim, a "religio civil", que difcil aplicar a toda
uma nao. pode muito bem ser vivida, a nvel local, por uma
multiplicidade de cidades (exemplo grego) ou de grupamentos
particulares. Neste momento, a solidariedade engendrada pela
religio civil toma um sentido concreto. 11: neste sentido que
uma certa indiferenciao consecutiva mundializao e
uniformizao dos modos de vida e, s vezes, de pensamentos
abstratos, pode caminhar lado a lado com a enfatizao de
valores particulares intensamente recuperados por alguns. Dessa
maneira podemos assistir a uma mass-mediao crescente, a um
figurino padronizado, a um "fast food" invasor, e, ao mesmo
tempo, ao desenvolvimento de uma comunicao local (rdios
livres, TV por cabo) ao sucesso das roupas idiossincrsicas, de
produtos ou pratos locais, quando se trata, em determinados
momentos, de reapropriar-se de sua existncia. Ressalta dai
que o avano tecnolgico no chega a erradicar a potncia da
ligao (da re-ligio), e, s vezes, serve-lhe at de coadjuvante.
POl'tNCIA SUBTERR!NEA
A Pol'bCIA SUBTERRNEA
A PoTJ!:NCIA SUBTERRNEA
64
(l5
Desse ponto de vista a fico cientfica um exemplo instrutivo. Nela encontramos, sob uma roupagem tecnolgico-gtica, a heterogeneizao e a insolncia com relao aos conformismos de que acabamos de falar. 29
1!: atravs dessa atomizao frente aos poderes aambarcadorcs que se pode exprimir a divindade social. Com efeito,
sem colocar a questo sobre o que "deve ser" a sociedade futura,
sacrificam-os a "deuses" locais (amor, comrcio, violncia, territrio. festa, atividades industriosas, alimenbo, lx~leza etc.)
que pedem ter mudado de nome desde a ant:guidad8 greco-romana, mas cuja carga emblemtica permanece idnt'ca.
Neste sentido, justamente, opera-se a reapropriao da ex!stncia "real", que con~titui a base do que chamo de potncia
popul:lr. Com segurana e obstinao, de maneira talvez um
tanto animal, quer dizer, exprimindo mais um instinto vital
do qu~ uma faculdade crtica- os grupos, as pequenas comunidad.~s, as redes de afintdade ou de vizinhana se preocupam
com as relaes wciais prximas, as:.;im como, tambm, com
o meio ambiente natural. Dessa maneira, mesmo que pareamos
alienados pela distante ordem econmico-poltica, asseguramos
a noss'2 soberania sobre a existncia irr..ed!c~a. Eis ai o alcunce
66
A PoT!NciA SUBTERR!NEA
do "divino social", que ao mesmo tempo o segredo da perdurnc:a. :t=.: no segredo, no prximo, no insignificante naquilo
que escapa finalidade macroscpica que se exerce o domnio
da wcialidade. Podemos mesmo dizer que os poderes no podem
se exercer seno na medida em que no se distanciem demasiado dessa soberania. O termo "soberano" pode ser compreendido, na perspectiva contratual de J. J. Rousseau, o que lhe
d uma dimenso unanimista e um tanto idlica. 30
Pode ser encarado, tambm, como sendo esta "harmonia
conflitual" em que, pelo efeito de ao-retroao, um conjunto
ajusta, bem ou mal, os elementos naturais, sociais e biolgicos
que o compem, e dessa forma garante sua estabilidade. A
teoria dos sistemas ou a reflexo de E. Morin mostram, com
rigor, a atualidade e a pertinncia de uma tal perspectiva.
Dessa maneira, mesmo que para muitos se trate de uma figura
de estilo, a aproximao que pode ~er feita entre o povo e o
soberano perfeitamente fundamentada. E, alm disso, pelo
levante, pela ao violenta, pela via democrtica, pelo silncio
e pela absteno, peb desconhecimento desdenhoso, pelo humor
ou pela ironia, mltiplas so as maneiras que o povo tem de
expressar sua potncia soberana. E toda a arte do poltico
fazer que esms expresses no assumam demasiada amplitude.
o poder abstrato pode, em determinados pontos, triunfar.
E ve;dade que se pode colocar a questo de La Botie: O
que que fundamenta a "servido voluntria"? A resposta est,
certamente, nesta segurana incorporada que d ao corp:> sd'c!al
a certeza de que, a longo prazo, o Prncipe, qualquer que seja
a sua forma (aristocracia, tirania, democracia etc.), sempre
tributrio do veredito popular. Se o poder do indivduo ou
de uma srie de ind~vduos, a potncia o apangio do "phylum"
e se inscreve na continuidade. neste sentido que esta ltima
um~ caracterstica do que se pode chamar o "divino social".
Tudo uma questo de anterioridade. Falar de potncia, de
soberania, de divino a propsito do povo reconhecer, para
retomar uma expresso de Durkheim, "que o direito se origina
nos costumes, ou seja, na prpria vida," 31 ou ainda que so
"os costumes que fazem a verdadeira constituio dos Estados".
67
3.
A "auto-referncia" popular
68
0 TEMPO
DAS
TRIBOS
A PoTtNCIA SUBTERRNEA
69
70
A POT!NCIA SUBTERRlNEA
71
72
POTf:NCIA SUBTERR!NEA
73
"sa-nJ..,
... o,. e udemens" ao mesmo te mpo. Ap1'~can do-a a um
11 ~,,..
outro objeto, E. Morin fala de "participao esttica" 38 para
mostrar bem esse jogo duplo. E podemos pensar que o entusia~mo popular pelos folhetins televisivos como "Dallas" seja
a expresso desse ludismo profundamente incorporado. Se tal
atitude "esttica" se exerce frente a estes poderes simblicos
que so a televiso, a arte ou a escola, no existe razo para
que no se aplique ao domnio do poltico, mesmo que fosse
apenas em funo daquilo que dissemos sobre o seu devir espetacular ou teatral. O voto para tal deputado ou partido pode
caminhar lado a lado com a profunda convico de que nada
mudar quanto crise econmica, quanto ao que se convencionou chamar de insegurana ou quanto ao aumento do desemprego. Mas ao "fazer de conta" participamos, magicamente,
de um jogo coletivo. Este lembra que algo como a "comunidade" pde, pode ou poder existir. Tem a ver, ao mesmo tempo,
com esteticismo e com escrnio, com participao e com reticncia.
.1!: sobretudo a afirmao mtica de que o povo fonte de
poder. Este jogo, ou e~te sentimento esttico, coletivamente
encenado tanto para si mesmo quanto para o poder pelo qual
orquestrado. Isso permite lembrar a este ltimo, ao mesmo
tempo, que se trata de um jogo e que ex!stem limites que no
podem ser ultrapassados. O que se chama de a versatilidade
das m~sas (um voto para a esquerda, um voto para a direita)
pode ser interpretado nesse sentido e no deixa de. exprimir-se
ocasionalmente de modo extremado. Todos os pensadores polticos ~::e interrogam a respeito desse fenmeno. Essa versatilidade, verdadeira espada de Dmocles, a perptua comandante
do jogo, j que ela obseda os pensamentos dos polticos que
vo determinar sua estratgia ou sua ttica em funo dela.
, portanto, uma das modulaes da Potncia que, stricto
sensu, determina o Poder. Uma observao singular de Monte<::quieu resume bem o assunto: "o povo age sempre de mais
ou de menos. Algumas vezes com cem mil braos derruba tud::>;
algumas vezes com cem mil ps caminhar como os insetos"
74
0 TEMPO
DAS
TRIBOS
(De l'esprit des zois, 1.a parte, Livro li, cap. II): P~ividade
ou atividade, e isto de uma maneira que escapa a ma1or pa~te
dos raciocnios lgicos. De uma perspectiva puramente racional no se pode confiar no povo. Apoiando-se. em al~uns ex~m1 histricos J. Freund ressalta esta ambivalncia especml~~nte notv~l durante as situaes parox1sticas: guerras,
motins, lutas de faces, revolues. 39 Na verdade, dentro d:
perspectiva que desenvolvo aqui, aquilo que se po~e chama
de procedimento estocstico da massa a expressao de um
verdadeiro instinto vital: assim como os combatentes no campo
de batalha, seus ziguezagues lhe permitem escapar s balas dos
poderes.
Com referncia a uma figura emblemtica particularmente
Itlia podemos comparar a versatilidade do povo a
vi va na
,
t ,
Polichinelo que resume nele mesmo a unidade dos con ran~:
"meu destino ser um catavento; servidor e rebelde, cret1~o
e genial, corajoso e covarde". Algum.as verse.s do se~ m1t~
fazem dele at mesmo um hermatrodlta. Ou amda o filho d ..
um nobre e/ou uma criana da plebe. O certo que ele encarna
muito bem a duplicidade absoluta (dobrez e dualida~e), qu,e
perm1te escapar s diversas apropriaes ou recuperaoes pohticas. No foi toa que esta figura encontrou sua querncia
na populosa e viva Npoles. 40
Alm disso, parece que sua perptua ambigidade se exprime pela zombaria frente aos pod~r.es ou a to~a~ as forma~
de instituio. Sejam polticas, fam!lmres, econo~ICas o~ so
ciais. Extrapolando podemos dizer que com esta atitude nao se
trata de enfrentar frontalmente os poderes avassaladores o que
cabe s organizaes polticas, mas de usar ardis, de usar rodeios. Para retomar uma expresso situacion;sta, antes de "l~tar
contra a alienao com meios alien3.dos" (burJcracia, part.Idos,
militncia atraso dos pagamentos), pratica-se a wmban.a, a
iron~a. 0 ~iso, todas essas coisas que de maneira subterranca
se contrapem normalizao e domesticao que resultam
de todas as garantias da Ordem imposta de fora, e portanto
abstrata. No que diz respeito s nossas sociedad<~s esta domes-
A Pol'!KCIA 8UBTEIUt11oA
75
76
A Pol'tNCIA SUBTERRNEA
77
t~mbm
o papel lenificante, que se atribui aos diversos e1'ipetaculos, esportes e outras emisses televisivas de grande audincia. Com o totalitarismo suave que connecemos, "os nmeros e
as letras" tomaram o lugar dos sangrentos jogos do circo. Essa
temtica no est equivocada; porm, ela no se d conta da
ambivalncia estrutural da existncia humana que , ao mesmo
tempo, isto e aquilo._ O tudo ou nada que prevaleceu na perspectiva critica, originria do Duminismo e que ainda se mantm
nas noesas disciplinas, no d margem apreenso do conflito de valores que perpassa em profundidade toda a existncia
social. Podemos, entretanto, estar persuadidos de que a fecundidade da sociologia segue por este caminho. Desse ponto de
vista, interessante indicar uma belssima anlise do socilogo
H. Lefebvre, representante emrito dessa perspectiva crtica, e
que no pode impedir-se de sublinhar a "dupla dimenso do
quotidiano: monotonia e profundidade". Numa linguagem meio
fora de moda, e minorando um pouco suas constataes, ele
obrigado a reconhecer que "nas quotidianidades as alienaes, os fetichismos, as reificaes. . . todos produzem (}S seus
efeitos. Ao mesmo tempo, as necessidades af transformadas em
(at certo ponto) desejo reencontram os bens e apropriam-se
deles". 43
Com esta referncia pretendo antes de tudo acentuar o fato
de que impossvel reduzir a polissemia da existncia soc 1al.
Sua "Potncia" est justamente no fato de que cada um dos
seus atos , ao mesmo tempo, a expresso de uma certa alienao e de uma certa resistncia. Ela um misto de banalidade
e exceo, de morosidade e excitao, de efervescncia e de
repouso. E isto particularmente sensvel no ldico que pode
ser, ao mesmo tempo, "merchandisado" e o lugar de um real
sentimento coletivo de reapropriao da existncia. Em todos
os meus livros precedentes tratei desse problema. Ele me parece
ser uma das caractersticas essenciais do povo. Caracterstica
mais ou menos evidente, mas que traduz, para alm da separao herdada do judeu-cristianismo (bem-mal, Deus-Diabo,
verdadeiro-falso), o fato de que existe uma organicidade das
78
CAPTULO III
1.
nota 1).
80
81
82
83
84
TEMPO DAS
TRIBos
85
86
nalizao"
(Vergemeinschattung)
e "sociao"
(Ve-rgeseUs-
chaftung).
87
88
89
90
0 TEMPo
DAS
TRIBos
91
2.
Um "familalismo" natural
92
93
94
Encontramos a a origem do conformismo, o carter marcante do sentimento cujo impacto na vida social recm comea
a ser avaliado, ou ainda, uma espcie de vitalismo ontolgico
que se manifesta no ecologismo que impregna a ambincia do
momento.
Parece-me que esta preocupao de imitao e de conforo vitalismo de que acabo de falar, em suma, essa "correspondncia" um tanto mstica que est emergindo, pode ser uma
das caractersticas essenciais da massa popular. Se retomarmos
a distino apresentada acima, podemos dizer que ao indivduo
unificado corresponde a pessoa heterognea capaz de uma mui
tiplicid.ade de papis.
m~smo,
95
A constatao potica ou, mais tarde, psicolgica da pluralidade da pessoa ("eu um outro"), pode ser interpretada,
de um ponto de vista scio-antropolgico como expresso de um
conti.nuum intangvel. S temos valor pelo fato de pertencermos
a um grupo. E evidente que importa pouco se esta ligao
real ou fantasmtica. Recordamos como Proust, aps a morte
de sua av, v os traos dela se transportarem para sua me.
Retomando a imagem da av, identificando-se com ela, a me
toma a seu cargo, atravs das geraes, um tipo que deve se
perpetuar. Com sua sensibilidade o romancista mostra como a
morte se inscreve numa vitalidade indestrutvel. No se trata
de um imperialismo sociologista, mas de reconhecer como o faz
Halbwachs "que na verdade nunca estamos sozinhos. . . pois
sentimos sempre em ns uma poro de pessoas". 28 A memria ou as lembranas coletivas, sejam elas pblicas, privadas ou familiares, que fazem de um bairro, de uma cidade,
lugares onde vidas se sedimentam, transformando-os em lugares
habitveis, o mostram bem. Eis o que permite estabelecer um
feed-back entre o grupo e a pe~soa. E isso, naturalmente, de
maneira orgnica e no mais conforme a equivalncia racional
da ordem poltica. E. Renan demonstrou que para os primeiros
cristos a fora da comunidade, eu diria que a sua po~ncia,
apoiou-se nos "grandes homens-base" (Megala Stoikeia). Foi
em torno de suas tumbas que se constituram as igrejas. Por
sua vez, P. Brown mostrou que esse tipo de santurio foi chamado, simplesmente, "o lugar" (Topos) e que, progressivamente,
esses lugares foram constituindo verdadeiras redes ao redor do
Mediterrneo. Seja sob forma religiosa, ou profana, essa prtica
de fundao ocorre, secularmente, no decorrer das histrias
humanas. E, para alm da monumentalidade urbana ou rural
(palcio, igreja, monumentos diversos), este feed-back se exprime em todas as cerimnias de comemorao. Do culto da
Anglaura da cidade ateniense at s festas nacionais contemporneas, passando, claro, pelo calendrio litrgico do ritual
96
TEMPO DAS
TRmos
97
98
99
CAPTULO
IV
O TRIDALISMO
1.
A nebulosa atetual
102
TRmALISMO
103
104
TRmALISMo
105
106
multo~>
TRmALISMo
107
dessas "doxa" que so a marca do conformismo e que encontramos em todos os grupos particulares, inclusive naquele que
se considera o mais isento disto, o dos intelectuais.
Essa nebulosa "afetual" permite compreender(a forma especfica assumida pela socialidade em nossos dias: o vaivm
massas-tribos. Com efeito, a diferena do que prevaleceu durante os anos setent~ - com esses marcos que foram a contracultura californiana e as comunas estudantis europias - trata-se antes do ir-e-vir de um grupo a outro do que da agregao
a um bando, a uma famlia, a uma comunidade. isso que pode
dar a impresso de atomizao. por isso que se pode falar,
o, equivocadamente, de narcisismo. De fato, (ao contrrio da estab;lidade induzida pelo tribalismo clssico, o neotribali~mo
caracterizado pela fluidez, pelos ajuntamentos pontuais e pela
disperso. E assim que podemos descrever o espetculo da
rua nas megalpoles modernas. O adepto do jogging, o punk,
o look rtro, os "gente-bem", os animadores pblicos, nos convidam a um incessante travelling) Atravs de sucessivas sedimen. taes constitui-se a ambincia esttica da qual falamos. (E no
seio de uma tal ambincia que, pontualmente, podem ocorrer
essas "condensaes instantneas" (Hocquenghem-Scherer), to
frge!s, mas que, no seu momentQ, so objeto de forte envolvimento emocional. este aspecto sequencial que permite falar de
ultrapassagem do princpio de individuao. Vamos recorrer a
uma imagem: numa bela descrio das auto-estradas americanas e de seu trfego, J. Baudrillard observa esse estranho ritual
e a "regularidade de(sses) fluxos (que) pe fim aos destinos
individuais". Para ele a "nica verdadeira sociedade, (o) nico
calor aqui, () o de uma propulso, de uma compulso coletiva". 10 Essa imagem nos ajuda a pensar.(De maneira quase ani~al sentimos uma fora que transcende as trajetrias individuais, ou antes, que faz com que estas se inscrevam num grande
bal cujas figuras, por mais estocsticas que sejam, no fim das
contas, nem por isso deixam de formar uma constelao cujos
diversos elementos se ajustam sob forma de sistema sem que a
vontade ou a conscincia tenham nisso a menor importncia.
este o arabesco da socialidade.
108
TRIBALISMO
109
110
TRIBALISMO
111
2.
112
0 'rJuBALISMO
113
114
poral, sobre a importncia do rudo e da msica e sobre a proxemla, retomam, por -um lado as perspectivas mlsticas, poticas
e utpicas da correspondncia e da dimenso arquitetnica, e
por outro lado as consideraes da fsica terica sobre o infinitamente pequeno. 20 Que significa isso seno que a realidade
um vasto agenciamento de elementos homogneos e heterogneos, de contnuo e de descontnuo. Tempo houve em que se
realava tudo que era possvel distinguir num dado conjunto,
tudo que se podia separar e particularizar. Agora, cada vez mais,
nos damos conta de que mais vale considerar a sincronia ou a
sinergia das foras que agem na vida social. Isso posto, redescobrimos que o indivduo no pode existir isolado, mas que ele
est ligado, pela cultura, pela comunicao, pelo lazer, e pela
moda, a u~a -comunidade, que pode no ter as mesmas qualidades daquelas da idade mdia, mas que nem por isso deixa de
ser uma comunidade:) E esta que precisa ser destacada. Inspirado em G. Simmel, propus ver na forma o "lao de reciprocidade" que se tece entre os indivduos. Trata-se,'(de algum modo,
(ie um lao em que o entrecruzamento das aes, das situaes,
e dos afetos, formam um todo. Da a metfora: dinmica da
tecelagem, e esttica do tecido soclal. Assim, tal como a forma
artstica se cria a partir da multiplicidade dos fenmenos reais
ou fantasmticos, tambm a fonna societal poderia ser uma
criao especfica, partindo dos minsculos fatos que so os fatos
da vida corrente. )Esse processo faz, portanto, da vida comum
uma forma pura, um valor em si. "Impulso de socialidade"
(Gesselligkeit) irreprimvel e que, para se expreEsar usa, conforme a ocasio, o caminho real da poltica, do acontecimento
histrico, ou a via subterrnea, mas no menos intensa, da vida
banal.
Sob esse aspecto, a vida pode ser considerada uma obra de
arte coletiva. Seja ela de mau gosto, kitsch, folclore, ou uma
manifestao de "mass entertainment" contemporneo. Tudo isso
pode parecer futllidade.oca e vazia de sentido. Entretanto, se
inegvel que existe uma sociedade "poltica", e uma sociedade
"econmica", existe tambm uma realidade que dispensa qualificativos, e que a coexistncia social como tal que proponho
chamar soclalidade, e que poderia ser a "forma ldica da socla-
TRIBALISMO
O modelo "religioso"
116
TEMPO DAS
TRIBOS
de um imaginrio vivido em comum que se inauguram as histrias humanas. Mesmo que a etimologia esteja sujeita cauo, a religio (re-ligare), a "re-liana" uma maneira pertinente de compreender o lao social. Isso pode irritar o purista.
Eu, no entanto, me atenho proposio de P. Berger e T. Luckman: "The sociological understanding of "reality" falls somewhere in the middle between that of the man in the street and
that ot the philosopher." 23
Alm disso, quando obSrvamos a.s ceuras importantes na
histria das mentalidades, fcil notar que a efervescncia que
causa e efeito delas, freqentemente assumida pelos pequenos grupos religiosos que se vivenciam como totalidades, que
vivem e agem a partir de um ponto de vista de totalidade. A
separao poltica/ideal no tem mais sentido. Os modos de vida
so vividos como tais, como esse "concreto mais extremo", expresso de W. Benjamin, onde se representam, no dia-a-dia, a
banalidade e a utopia, a necessidade e o desejo, o fechamento
na "familia" e a abertura para o infinito. J se disse que os
"thiases" dionisacos do final do helenismo ou as pequenas seitas
do inicio do cristianismo foram a base da estruturao social
que se lhes seguiu. Talvez seja possvel dizer a mesma coisa da
multiplicao dos reagrupamen~os afetivo-religiosos que caracterizam a nossa poca. Assim, a utilizao da metfora religiosa
pode ser comparada de um raio lazer que permite uma leitura
das ma1s completas no prprio seio de uma estrutura dada.
Todos os que se interessaram pelo culto de Dionsio sublinharam sua chegada tardia ao panteo. grego, e sua, sob inmeros aspectos, estranheza. Quanto ao que nos diz respeito, e
reforando seu aspecto emblemtico, podemos consider-lo como
o paradigma da alteridade fundadora: aquilo que, ao mesmo
tempo, encerra e inaugura. interessante observar, desse ponto
de vista, que os "thiases", que so reagrupamentos religiosos
devotados a esta divindade estranha e estrangeira tm essa
dupla funo. Assim, ao contrrio da clivagem politica tradicional, os thiases so transversais. Recusam as discriminaes
sociais, raciais e sexuais, e vo, em seguida, integrar-se relig1o da cidade. 24 Por um lado reunem, constituem novas agregaes, novos grupos primrias. Por outro revivificam a nova
TltmALISMO
117
sociedade. Dplice atitude que caracteriza toda fundao. Trata-se de um procedimento que se repete regularmente, em .particular cada vez que ocorre a saturao de uma ideologia, ou,
mais precisamente, de uma "pistm" particular.
Para o perodo do nascimento do cristianismo, E. Renan
demonstra muito bem como so os pequenos grupos que vo
dar origem ao que vai ser o cristianismo: "nada como as seitas
pouco numerosas para conseguir fundar qualquer coisa". Ele
as compara a "pequenas franco-maonarias", e sua eficcia se
apia, eEsencialmente, no fato de que a proximidade de seus
membros cria laos profundos o que provoca uma verdadeira
sinergia das convices de cada um. 25 Isolados, ou o que vem
a dar no mesmo, perdidos numa estruturao muito ampla, um
indivduo e seu ideal, no fim das contas, tm pouco peso. Mas,
imbricados numa conexo estreita e prxima, pelo contrrio,
sua eficcia demultiplicada pela dos outros membros da "franco-maonaria". isso, alis, que nos leva a dizer que as idias
tm uma fecundidade prpria, ponto de vista que o positivismo
do sculo XIX, em suas diversas variantes (marxismo, funcionalism<J), questionou seriamente. verdade que a lgica econmica, que prevaleceu na Modernidade, e que privilegiou, ao mesmo tempo, o projeto poltico e a atomizao individual, no podia de forma alguma integrar a dimenso de um imaginrio
coletivo, quando muito podia conceb-la como um suplemento
da alma, um "figurante" para uso privado e suprfluo. O que
vem a dar, sem derramamento de sangue, no "desencantamento
do mundo" (Entzsuberung) que conhecemos, e que triunfou,
particularmente, na teoria social. O que no permitiu ver toda
a carga mstica (utpica) que estava em ao no movimento
operrio.
O pequeno grupo, pelo contrrio, tende a restaurar, estruturalmente, a eficcia simblica. E, pouco a pouco, vemos a constituio de uma rede mstica, com fios mais slidos, que permite
falar do ressurgimento do cultural na vida social. E:s a lio
essencial que nos d essa poca de massas. pocas como esta se
apam principalmente na concatenao de grupos com intensionalidades estilhaadas, mas ex;g.entes. isso o que proponho
chamar de reencantamento do mundo.
as
TRIBALISMO
119
120
o que se chamou de "tipo-seita" pode ser compreendido como uma alternativa para a mera gesto racional da insti-tuio. Retomando, regularmente, uma certa
importncia, essa alternativa acentua o papel do sentimento na vida social. O que vai favorecer o papel da
proximidade e o aspecto caloroso do que est em estado
nascente.
nesse sentido que o modelo religioso se revela pertinente
para a descrio do fenmeno das redes, que escapam a qualquer espcie de centralidade, s vezes at de racionalidade.
Os modos de vida contemporneos, necessrio diz-lo e repeti-lo, no se estruturam mais a partir de um plo unificado. De
maneira um tanto estocstica, so tributrios de ocorrncias,
de experincias e de situaes muito variadas. Todas elas in-
TRIBALISMO
121
A socialidade eletiva
122
O TRmALISMo
123
tan~o vitalista, ele atribui ao grupo uma "fonte de vida sui genens. Dele se desprende um calor que aquece ou reanima os
co:a,es, q,ue os abre simpatia ... " Eis a do que !)e trata.
Nao e poss1vel ser mais preciso. E ele faz o prognstico de que
as "ef~es de sentimento" tero, tambm, seu lugar nas "corporaoes do futuro". Quase poderamos ler em Durkheim uma.
an~ise das redes contemporneas. O que certo, que a famosa
t:ona ~os. corpos intermedirios, que talvez seja a contribui~o maiS :m~ortante de Durkheim, totalmente incompreenSivel se nao mtegrarmos essa dimenso afetiva. Alm d 1~so ,
'd
... ' e
~v1. e~ te ~ue a valorizao do grupo uma desconstruo do
md~:~~uahsmo que .pa.rece prevalecer entre os que se valem do
~suv1smo durkhelmmno. Esse individualismo existe ine~
ga;el.. Ele permite sociologia nascente explicar a dinmica
proprm da MOdernidade, mas , ao mesmo tempo, contrabal~nado pelo seu contrrio, ou mais exatamente pela remann~
Cla * de elementos alternativos. Alis, essa tenso paradoxal
que garante a tonicidade de uma dada sociedade.
dessa forma que precisamos compreender o vitalismo encontrado regularmente na obra de Durkheim. Nostalgia da co-
----
124
O TRmALisMo
125
126
TRlBALISMO
127
128
5.
O TRmALISMo
A lei do segredo
..
129
existe a "des-individualizao", a participao, no sentido mstico do termo, a um conjunto mais vasto. 'f! 7 veremos mais
adiante que a mscara faz de mim um conspirador contra os
poderes estabelecidos, mas desde j pode-se dizer que esta conspirao me une a outros, e isso no acontece de maneira
acidental, mas estruturalmente operante.
1
.
(Nunca ser demais reforar a funo unificadora do silllcio, que os grandes msticos compreenderam como a forma po;
excelncia da comunicao. E ainda que sua comparao etimolgica se preste controvrsia, podemos lembrar que existe um
lao entre o mistrio, o mstico e o mudo; este lao o da iniciao que permite partilhar um segredo. Que este ltimo seja insignificante ou mesmo, objetivamente inexlstente, no essencial. Basta que, embora de maneira fantasmtica, os iniciados
pQssam partilhar qualquer coisa) isso que lhes d fora e dinamiza sua ao. E. Renan demonstrou o papel do secreto na
constituio da rede crist, no seu nascedouro: o que provocou
inquietaes, mas, ao mesmo tempo, seduziu, contribuindo para o
...-/?'Sucesso que conhecido de todos. 38/Cada vez que se deseja instaurar, restaurar, corrigir uma ordem de cois.as, ou uma comunidade, toma-se por base o segredo que refora e confirma a solidariedade fundamental.\, talvez, este o nico ponto que aqueles
que falam de retraimento para a vida quotidiana, viram com
clareza. Mas sua interpretao errnea: o recentramento no
que est prximo, a partilha inicitica induzida por e~t~ no
so um sinal de fraqueza, pelo contrrio, o indcio- mais seguro
de um 13;to fundador. O silncio relativo ao poltico fala do
regsurgimento da socialidade.
Nos antigos sodalicios, a refeio em comum :mnlicava em
que se soubesse guardar o segredo frente ao exterior. Dos
"asSUntos da famlia", quer fossem os da famlia stricto sensu
o.s da famlia ampliada, ou os da mfia. Dos assuntos d:i famlia'
~rtanto, no se fala. Os policiais, os educadores ou os jorna:
listas so, freqentemente, confrontados com esse segredo. E
certo que as travessuras infantis os crimes de aldeia f\U ::1s
mltiplas efemrides nunca so de ~cesso fc:I. Ocorre a mesma
'bco~a com a pesquisa sociolgica.( Ainda que de maneira alus:va,
assinalamos que existe sempre uma reticncia a se expor aos
130
TRmALISMo
131
I\
132
TRIBALISMO
133
i\
134
TRIBALISMO
135
137
O TRmALISMO
136
6.
..
138
. .
ior necessano
.
.
uotidianamente. Para o me1hor e para O P- .
q
tar Pois se a tribo o penhor da solldanedade, e
acrescen .
,
t b
tambm a pogsibilidade do controle, e _ela pode ser, am em.
a fonte do racismo e do ostracismo aldeao. ser membro de um~
tribo pode levar algum a sacrificar-se pelo outro,_ :nas possibilita-lhe ao mesmo tempo, tanta abertura de espmto ~uanto
ermit~ o chauvinismo do dono do arma~m. A cancat~ra
~ ~carneiro" feita por Cabu muito instrutiVa a esse respeito.
0
Seja como for, para alm de qualquer atitude judicativa:
o tribalismo, sob seus aspectos mais ou menos reluzent~s, ~sta
impregnando cada vez mais os modos. de vid_a. E~ t~ndena dizer
que ele est l)e tornando um fim Em SL Isto e, atraves ~e ban~os,
cls e gangs ele recorda a importncia do afe.to na vida socral.
como observa, com pertinncia, uma ~esqUisa re~cnte sobre
os "grupos secundrios", as mes solteiras, o mov1m:~to d~s
mulheres ou dos homossexuais, no procuram um "arranJ?
pontual de situaces individuais". Trata-se de uma reconsiderao do conju'nto das regras de solidariedades". 53
benefcio secundrio. No sequer certo que o sucesso seJa dese-
TRmALISMo
139
140
TRIBALISMO
141
deve aos diversos espetculos de rua, e, por outro, o desenvolvimento do "teatro brbaro", e o (res)surg:mento dos diversos
cultos de posf>e~so de origem africana, brasileira ou hindu.
N:> se trata d<:~ anali<ar, aqui, esses fenmenos. Quero, apenas,
indicar que eles se apiam numa lgica tribal, que no pode
existir sene> inserid3. na massa, atravs do encadeamento da
rede. r; 6
Todas e~sas coisas se contrapem seriedade, ao individualismo, "separao" (no sentido hegeliano do termo) que
ca.racterizam o produtiv:smo e o burgues!smo modernos. Estes
fizeram de tudo para controlar ou para asseptizar as danas
de possc~so e as demais formas de efervescncia popular. Ora,
talvez seja necessrio ver n:sso a justa vingana dos valores
do sul contra os do norte. As "epidemias coreogrficas" (E. de
Martir.o) tm tendncia a se desenvolver. preciso lembrar que
elas tinham uma funo agregadora. O fato de lamentar-se e
alegrar-se em grupo tinha por resultado, ao mesmo tempo,
cuidar e reintegrar na comunidade o membro doente. Estes
fenmc:no.s caractersticos do circu:to mediterrn:co (m::nadismo, tarcntismo, bacanais diversas), da ndia (tantrismo) ou do
espao afr:cnno ou latino-africano (Candombl, Xang), so
do mais alto intere.s.se para compreender as terapias de grupo,
as redes de medicina paralela, as dlversa.s manifestaes do que
Schu~z chamou: "malcing music together", ou ainda o desenvolvimento sectrio, todas elas modulaes contemporneas da
"epidemia coreogrfica".
De fato, no so tais ou qua's estilcs de vida que podem
ser considerados prortico.s. A sua misturada que proftica.
Com efeito, se impossvel dizer o .que va destacar-se para
formar uma nova cultura, podemos, em contrapartida, afirmar
que es~a ser, SSencia 1mente, plural, contraditria. Bougl via,
no sis:ema de castas, a unio no culto da diviso. Tenso paradoxal que suscita esses sentimentos coletivos intensos "que se
elevam acima dessa poeira de grupos. 67
Linda lucidez essa, que, para alm do julgamento m:Jral,
pode ver a slida organicidade de um conjunto! Poderamos
dizer, por nossa vez, que a Modernidade viveu um outro paradoxo: o de unir, apagando a diferena, e a diviso que esta
142
CAPTULO
O POLICULTURALISMO
L.
Da triplicidade
144
,' Jl
POLICULTURALlSMO
145
146
147
tudo que lhe vem do exterior, o que no a impede de permanecer ela mesma.
necessrio, desse ponto de vista, remeter a todos os exemplos que nos fornecem as histrias humanas: estar seguro de
si- o que uma forma de autonomia, e portanto, a excluso
do outro - favorece o acolhimento deste outro. Lou;s Rau,
analisando com erudio o desenvolvimento da lingua e da
cultura francesa na Europa, sublinha que nos sculos XVII e
XVIII, os estrangeiros estavam seguros de receber, na Frana,
o acolhimento "o mais amvel e o mais lisonjeiro. Nunca a
xenofilia, eu diria quase a xenomania, foi levada to longe". 9
Eis alguma coisa que no deixa de ser instrutiva: os "estrangeiros so mimados", e, ao mesmo tempo, um modo de vida e
um modo de pensar especificamente francs tm tendncia a
se tornar hegemnicos. Podemos dizer que assim cada vez
que alguma coisa autenticamente forte est nascendo. A potncia, j tive ocasio de demonstr-lo, 10 no tem nada a ver
com o poder e com o que lh8 ligado: a saber, o temor e o medo,
sofridos e infligidcs. a fraqueza que engendra, ao mesmo
te:mpo, o retraimento e a agressividade. Agora, que a civilizao
se enclausura enregelada de medo, a cultura pode se expandir
e aceitar o terceiro. isto certamente que explica o que Rau
8ublinha com espanto (ibid., p. 314): nenhum esforo feito
para expandir o uso do francs no sculo XVIII, quando se
sabe de sua formidvel expanso nesse momento.
De Atenas, no mundo ant!go, New York de nossos dias,
passando pela Florena do Qnattrocento, encontramos, constantemente, estes palas de atrao, que funcionam, de fato,
como processos de metabolizao de elementos estrangeiros.
Desse modo foi possvel estabelecer uma relao entre a
vitalidade de uma regio como a Alscia e "a contribuio
constante de sangue estrangeiro". Segundo F. Hoffet, essa
mestiagem que e.st na origem das "obras cap:tais" produzidas
na regio. 11
certo que t:e exista uma tragdia da fronteira (Grenzen
- Tragod:e), ela no de;xa de ser dinmica. Pontes e Portas,
Para retDmar uma imagem de G. Simmel, as regies frontei.ri-
em todas as suas formas, em nossas sociedades. O pluriculturalismo que isto induz no , certamente, sem risco. Mas sen.do
originrio da conjuno de um princpio lgico co.m um_ pn~
cpio de realidade, , no mnimo intil, negar a sua 1mportanc1a.
Como para qualquer perodo de efervescncia, essa heterog-ene;zao a matriz dos valores sociais que viro: ... Assim,
constatando inicialmente a heterogeneizao, e analiSando, em
seguida, seus componentes, poderemos apontar tudo o que constitui a questo social do nosso final de sculo, e que se esbo~a,
pouco a pouco, nesta nebulosa que podemos chamar de soctalidade.
POLICULTURALISMO
Presena c afastamento
...
148
as vivam, por atacado, as braagens, desequilbrios e inquietudes consecutivas aos movimentos de populaes. Mas ao mesmo tempo, ao lado da exogamia que isso suscita, vemos nascer
criaes originais que exprimem, da melhor maneira pos.sfvel,
a sinergia das qualidades prprias esttica e labilidade do
dado social. Sinergia que se encontra resumida na expresso
"enraizamento dinmico". preciso no esquecer que esta
tenso "fronteiria" que permite explicar pensamentos como
os de Spinoza, Marx, Freud, Kafka ... todos, ao mesmo tempo,
integrados e distantes. A fora de seus pensamentos vem, talvez, de fato dei~ se apoiarem numa polaridade dupla. 12 Presena e afastamento. Essas regies determinadas e es.sas obras
genia~s vivem ou indicam, de maneira extrema, o que, alis,
constitui, a varejo, a vida corrente do povo. Antes de ser o
racista, o nacionalista, ou, de uma maneira mais trivial, o
"carneiro" que tanto se gosta de descrever, "sabe" por um saber
incorporado que, aqum (ou alm) dos grandes idea1a bem
longnquos e mais ou menos impostos, sua vida quotidiana
constituda pela mistura, pela diferena, pelo ajustamento com
o outro, seja esse "outro" o estrangeiro ou o anmico de costumes estrangeiros.
Primeiramente, liguemos pois a massa e a cultura em
seu momento fundador. No se trata de uma ligao fortuita
ou abstrata: cada vez que uma poca comea, que uma cidade
se expande ou que um pas se epifaniza, a partir de uma
potncia popular que isso pode acontecer. E no Eeno em
seguida que ocorre a confiscao (da poca, da cidade, do pais ... )
por alguns que se fazem de gerentes, proprietrios ou letrados
detentbres da legitimidade do saber.
Em segundo lugar, reconheamos a esta conjuno, ao mesmo tempo, uma capacidade de absoro e outra de difuso. Os
exemplos acima provam-no suficientemente, uma entidade segura de si mesma integra e irradia. Arrisquemos uma imagem
organicista, um corpo em forma sabe ser flexvel. Nada de
rigidez e de prudncia, nada de precaues e de mesquinharias! Para empregar um termo bem ilustrado por G. Bataille,
PoLICULTURALisMo
149
150
g.~nal
de
POLICULTURALISMO
151
Em suma, para retomar nosso propsito inicial "a civilizao enlanguescente necessita dos brbaros para regener-la". 16 Seria paradoxal observar que o Estrangeiro permite que
se instaure uma nova cultura? O papel dos romanos com relao civilizao grega, e dos brbaros do imprio romano agonizant-e, mais perto de ns a denominao de "Hunos do Ocidente" (die Westhunnen) que foi dada aos protagonistas da
Revoluo Francesa, ou ainda este toque de recolher "Hourra la
rvolution par les co saques", que foi o grito de certos anarquistas cansados da fraqueza do burguesismo, tudo isso sublinha a
importncia cultural da estranheza fundadora. E o recente
filme de Moscou "Des terroristes la retraite" mostra, vontade, que, durante a res!stncia contra a opresso nazista, inmeros defensores da idia Frana, e alguns dos ma~s vigorosos,
foram aptridas de vrios pases. Menos entorpecidos do que
certos bons franceses, eles lutaram e ofereceram suas vidas em
nome dos ideais que, para eles, simbolizavam este pas escolhido como. t-erra que os acolheu.
O certo, porm, que todos os grandes impr:os de que
nos falam as histrias humanas se originaram desses caldeamentos. As tantas notaes superficiais feitas aqui dizem respeito a trabalhos de historiadores que abordaram esse problema.
E que podemos resumir nesta citao do notvel livro de
Marie Franoise Baslez que, com matiz e erudio, observa
que "muitas cidades deveram sua fortuna a um povoamento
heterogneo". 16 O que se pode completar apresentando a hiptese de que foi a falta de abertura, o temor frente ao estrangeiro que conduziram inmeras cidades sua perda. Sabe-se
que "Roma no es~ mais em Roma", mas a partir de um momento deve medir-se com a alteridade, quer dizer, com seu
prio heterogneo. Tentei mostrar que se tratava de uma estrutura sc:o-antropolgica. No vale a pena retornar anlise
que G. s:mmel consagrou ao Estranho, ela por demais conhecida. Em compensao, fiel ao seu esprito (e, no caso, liter~Imente) necessrio que o socilogo saiba repensar a importancla dessa "forma" social. Ela no peltence, apcnns, ao
im-
152
' i
I
POLICULTURALISMO
153
154
0 POLICULTURALISMO
155
!56
POLICULTURALISMO
157
complexidade de que nos fala E. Morin, possui as mesmas caractersticas, e neste sentido, o desvio que propomos no to
intil quanto poderia parecer primeira vista. Posto que, juntamente com o medo ou a realidade do racismo, a multiplicao
dos grupos religiosos, o pluriculturalismo, as redes afetivas,.
ocupam cada vez mais espao na complexidade das megalpoles
contemporneas.
Obcecados pelo modelo individualista e economicista, dominante durante a modernidade, esquecemos que as agregaes
sociais se apiam, igualmente, na atrao e na rejeio afetivas.
A paixo social, pensem a respeito dela o que quiserem, uma
realidad-e incontornvel. E, a no ser que nos decidamos a transform-la num engrama de nossas anlises, estaremos nos impedindo de compreender as mltiplas situaes que no podem
ser relegadas rubrica "crnicas" de nossos jornais. E
posto que, nos momentos de fundao "cultural", irrompe o
acontecimento multirracial. Sem nos escondermos por detrs
de um ancestral fundador, poderamos ler nessa perspectiva
uma parte da Diviso do trabalho social, de Durkheim. Apesar dos seus epigonos, autodesignados guardies do templo, a
amizade, a simpatia e naturalmente, os seus contrrios fazem
parte, de maneira no negligencivel, da anlise da solidariedade. So testemunha disso frases do gnero: "Todo mundo
sabe que gostamos daqueles que so parecidos conosco, que
pensam e sentem como ns. Mas o fenmeno contrrio tambm
freqente. Acontece muitas vezes que nos sentimos atrados
por pessoas que no se parecem conosco, exatamente porque
elas no se parecem conosco" (p. 17). Ou ainda "Herclito
acha que no se ajusta seno aquilo que se ope, que a mais
,bela harmonia nasce das diferenas, que a discrdia a lei de
todo futuro. A dessemelhana, da mesma forma que a semelhana, pode ser uma causa de atrao mtua" (p. 18). Ele
chama isso de "uma e a outra amizade" que Eeriam da natureza.24 Colocar como prel;minar do seu trabalho i.sto que eu
chamaria de uma amizade contraditria, explicaria essa solidariedade que permite compreender de maneira lgica que
aquilo que difere se completa.
158
O PoLICULTURALISMO
Sem dvida, existe um tanto de funcionalismo nessa perspectiva, mas isso pouco importa, na medida em que ela no
elimina a contradio de uma maneira abstrata, e nos permite
pensar a Alteridade e sua dinmica especfica. At agora havamos deixado antropologia ou etnologia o monoplio da
pesquisa sobre o outro. Tal como a teologia deveria se interessar
pelo Outro absoluto. Atualmente est difcil manter essas separaes. Particularmente a sociologia do quotidiano soube
atrair a ateno para a duplicidade, o aspecto dplice e duplo
de tOda situao social, para o autocentramento e a pluralidade intrnseca daquilo que parecia homogneo. No voltaremos mais a isso. 25 Em compensao, daqui por diante, podemos
orientar a nossa reflexo firmemente no sentido da arquitetura
fabulosa que se constri, a partir de suas duplicidades e de suas
sinergias. Tudo isso .est cheio de vitalidade. Vitalidade desordenada, cacofnica como j foi dito anteriormente, efervescente
tambm, mas que muito difcil negar.
J fiz referncia Antiguidade tardia, e sua anlise,
como paradigma para nos ajudar a pensar o nosso tempo. Foi
uma poca repleta de "deuses falantes" como os chama P.
Brown. E ele acrescenta que, quando os deuses falam "podemos
estar' seguros que temos algo a ver com grupos que podem ainda
encontrar uma expresso coletiva". 26 Aplicando isso ao nosso
tema, podemos dizer que a polifonia contempornea d conta
de uma pluralidade de deuses em ao no construir de uma nova
"cultura". Usei o termo paradigma para melhor insistir na eficcia dessa referncia histrica, pois ns que estamos realizando
a conquista do espao, freqentemente, esquecemos que possvel reduzir tambm o afastamento do tempo. "Tempo einsteinizado", que subitamente nos permite ler o presente "transportando imagens" (meta-phores) do passado. Assim, insistindo na vitalidade dos deuses, na sua diversidade, no fazemos
seno estilizar a efervescncia de nossas cidades. Mas deixemos, aqui, falar o poeta:
"Parece-me que o homem est cheio de deuses como
uma esponja embebida no cu. Esses deuses vivem, atingem
o apogeu de sua fora, depois morrem, deixando para ou-
1~9
4.
o equilbrio orgnico
160
torial, ou ainda, como prtica quotidiana onde o "mal", o estrangeiro, o outro, no sejam mais exorcizados, mas integrados
segundo medidas e regras variveis, ainda que homeopticas.
Vamos deixar claro, ainda, que na perspectiva da paixo
.social, que no pode ser desprezada, o problema, que se coloca
para nossas sociedades, o de equilibrar essas paixes que se
opem e cujo antagonismo se acentua a partir do momento
em que se reconhece uma pluralidade de natureza, uma pluralidade das naturezasY nesse sent;do que falo de harmonia
conflitual, pois o equilbrio mais difcil de atingir quando a
paixo prevalece sobre a razo. O que, atualmente, muito
visvel, tanto na vida quotidiana, quanto na vida pblica.
Vamos iniciar por uma noo que, hoje em dia, muito
difcil de aceitar, e que, em geral, ningum se d ao trabalho
de encarar com seriedade: a noo de hierarquia. Bougl observa que o pantesmo to acolhedor na ndia, seu politesmo efetivo est ligado estreitamente ao sistema de castan. 28 O carter
acolhedor e o no dogmatismo doutrinrio da religio dos hindus se baseia no agudo senso da hierarquia. Trata-se de uma
situao extremada que, como tal, no pode ser exportada nem
servir de modelo, mas que mostra muito bem como uma sociedade pde construir seu equilbrio sobre a coexistncia das diferenas, codific-las com o sabido rigor, e, a partir dai, construir
uma arquitetura qual no falta solidez. Por seu lado, L. Dumont em seu livro Homo Hierarchicus demons~rou a interdependncia real, o ajustamento das comunidades que este sistema produziu. verdade que ela no deixa espao para o individualismo, mas prope, de maneira surpreendente, uma compreenso holstica da sociedade. Esses trabalhos so ~gora bastante conhecidos. No necessrio coment-los, basta que nos
sirvamos deles como base para compreender que o ajustamento
de pequenos grupos, distintos quanto ao modo de vida e
diferentes quanto ideologia, representa uma forma social que
pode ser equilibrada.
O que o sistema de castas prope de maneira extrema, pode
ser encontrado, de maneira atenuada, na teoria dos "estados"
a Idade Mdia. A teorizao doutrina vem de quebra, j que
i, I
I'\
0 POLICULTURALISMO
161
JG:l
O PoLICULTURALISMO
163
164
0 TEMPO
DAS TRIBOS
POLICULTURALISMO
165
Alm d 1&'50, ao lado dos antagonistas representados coletivamente, ao lado da pluralidade dos caracteres que se exprimem travs da fantasia, encontramos a aceitao do Estrangeiro. Mesmo que ele seja emblematizado, uma forma de
reconhecimento. Assim, ainda que o racismo no esteja ausente
da vida quotidiana no Brasil, a ef.ervescncia e a teatralizao
do Carnaval so uma maneira de relativizar, de temperar um
pouco esse racismo. Atravs desses elementos caractersticos do
Carnaval vivenciada uma espcie de organicidade. Todo o
carnaval se inscreve na organicidade da tripartio festiva. Em
seu interior enc-ontramos uma organicidade especfica que abre
um espao r-eal multiplicidade das funes e dos caracteres.
E que esta multiplicidade no seja "seno" representada, no
muda co~sa alguma. O Imaginrio, como somos levados a reconhecer cada vez mais, desempenha tambm seu papel como
estruturante social.
essa efervescncia ritual e esse c-ontraditri-o em ao,
que, retornando ciclicamente, permitem reforar, na vida do
dia-a-dia, o sentimento de participar de um corpo coletivo. Se,
no carnaval, representamos um general, um -conde ou um figuro, depois do carnaval poderemos vangloriar-nos de ser o
chofer desse general. Ou ainda, como observa Da Matta, podemos vu toda uma criadagem regozijar-se com o ttulo de Baro
que o patro acaba de receber. 33 Trata-se, quase, de uma
"participao" no sentido mstico do termo. Ela reala as bases secundrias concretas (finanas, privilgios, franquias),
mas que so, tambm, simblicas. Fazendo parte de uma entidade superior, eu me fortaleo na minha prpria existncia.
Isso nos estimula a atribuir solidariedade um aspecto ampliado e a no limit-la, apenas, sua dimenso igualitria
e;ou econmica.
A diferena vivida na hierarquia pode ser o vetor desse
equilbrio social que tanto nos preocupa. Um outro exemplo
quotidiano pode ser a socialidade de base. A vida de bairro, a
vida banal de todos os dias, tida como quantidade desprezvel
r
!
166
POLICULTURALISMO
167
168
CAPTULO
VI
DA PROXE;MIA
1.
A comunidade de destino
170
0 TEMPo
DAS
TRIBos
DA PROXEMIA
171
Alis, isto um dos fator.es do policulturalilimo que j abordam~ (cap. V): Na verdade, o par territrio-mito, princpio
orgamzador da cidade, causa e efeito da difrao de semelhante estrutura. Ou seja, tal como uma boneca gigogne a cidade
contm em si outras entidades do mesmo gnero: bairros,
grupos tnicos, corporaes, tribos diversas que vo se org~izar em torno de territrios (reais ou simblicos) e de
mites comuns. Estas cidades helensticas se apiam essencialmente na polaridade dupla do cosmopolitismo e do enrazamenta (o que no deixa de produzir a civilizao especfica que
conhecemos) .3 ![so quer d;zer que a multiplicidade dos grupos,
fortemente unidos por sentimentos comuns ir estruturar uma
memria coletiva que, na sua prpria diversidade, fundadora
Esses grupos podem ser de diversas ordens (tnicas, sociais).
mas, estruturalmente, a sua diversidade que assegura a unidade da cidade. Conforme o que S. Lupasco diz sobre o "contraditaria!" fsico ou lgico, a tenso dos diversos grupos uns
sobre os outros, o que assegura a perenidade do conjunto.
Sob esse ponto de vista a cidade de Florena um exemplo esclarecedor. Por isso, quando Savonarola queria descrever
o idear type de uma repblica, usava a estrutura florentina
como modelo. Qual esse modelo? Na verdade bem simples,
e ~ast.ante dife~e~te. da conotao pejorativa que em geral se
atnbm ao qualificatiVo "florentino". Dessa maneira em seu
De Politia, ele concebe a arquitetura da cidade apoiad~ na idia
de proximidade. A "civitas" a combinao natural de associaes mais reduzidas (vici). a ao destes el.ementos, uns
sobre os outros, que assegura o melhor sistema poltico. Quase
maneira de Durkheim preciso apoiar a solidez do sist-ema
sobre essas "zonas intermedirias" que escapam tanto extrema riqueza quanto pobreza excessiva. 4
Msim, a experincia do vivido em comum que fundamenta a grandeza de uma cidade. verdade que Florena no
~oi pouco notvel. E nunierosos observadores fazem notar que
ISso se deve a uma antiga "tradio cvica popular". o humanismo clssico, que produziu obras to no.'!sas conhecidas, pde
assim, ser fecundado p-ela cultura "volg:are". 6 muito bo~
172
DA PROXEMIA
173
dades refe1idas. ~ neste sentido que, como quer que ele ai a.parea, o prximo, o quotidiano o que assegura a soberania
sobre a existncia. Pontualment-e, se impe esta constatao.
Alguns exemplos histricos podem ilustr-la, mas, como sempre,
o que se d-eixa ver nestes momentos extremos apenas traduz
uma estrutura profunda, que, em tempos comuns, assegura a
perenidade de um conjunto social, seja ele qual for. Sem dar
ao termo uma conotao poltica muito precisa, podemos dizer
que a constante "povo", em suas diversas manifestaes, a
expresso mais simples do reconhecimento do lugar, como comunidade de destino.
O nobre, por oportunidade e;ou alianas polticas, pode
variar, mudar de afiliao territorial. O comerciante, pelas exigncias prprias de sua profisso, no deixa de circular. O povo,
por sua vez, que pers-evera em seu espao. Como indica G.
Freyre, a propsito de Portugal, ele "o depositrio do sentimento nacional, e no a classe dominante". s Certamente, necessrio observar os matizes dessa proposio, mas verdade que
em face de um comprometimento freqente nas classes dirigentes, encontramos um certo "intransigentismo" nas camadas
populares. Elas se sentem mais responsveis pela "ptria", tomando este termo em seu sentido mais simples, responsveis
pelo territrio de seus pais. Isto compreensvel porque, pouco
mvel, o povo stricto sensu o "gnio do lugar". Sua vida no
dia-a-dia assegura a ligao entre o tempo e o espao. Ele o
guardio "no-consciente" da socialidade.
~nesse sentido que temos de compreender a memria coletiva, a memria da quotidianidade. E.:se amor pelo prximo e
pelo pres-ente , al:s, independente dos grupos que o suscitam.
Para dizer lEso maneira de W. Benjamin, uma aura, um valor
englobante, que j propus chamar de "transcendncia imanente". uma tica que serve de cimento para os diversos grupos
que participam deste espao-tempo. Dessa maneira o estrangeiro
e o nativo, o patrcio e o homem do povo, volens nozens, so
Parte ativa de uma fora que os ultrapassa e que assegura a
estabilidade do conjunto. Cada um dess-es elementos, durante
174
DA PROXEMIA
175
DA PROXEMIA
176
0 TEMPo
17'1
DAB TRIBOS
efmera. Este , tambm, seu aspecto cruel. E no contraditrio, como diz Hannerz, ver que nela se efetuam "contatos
breves e rpidos". lo Conforme os interesses do momento, conforme gostos e ocorrncias o investimento passional ir conduzir para tal ou qual grupo, para tal ou qual atividade. A isto
chamei' de "unicidade" da comunidade, ou de unio em pontilhado. o que, naturalmente, induz a adeso e o afastamento,
a atrao e a repulsa. Tudo isso no ocorre sem dilaceramentos
e conflitos de toda ordem. Chegamos agora, e isso uma caracterstica das cidades contemporneas, presena da dialtica
massas-tribos. Sendo a massa o plo englobante, e a tribo o
plo da cristalizao particular, toda a vida social se organiza
em torno desses dois plos num movimento sem fim. Movimento mais ou menos rpido, mais ou menos intenso, mais ou
menos "estre~sante" conforme os lugares e as pessoas. De certo
modo, a tica do instante, induzida por esse movimento sem
fim, permite reconciliar a esttica (espaos, estruturas) e a
dinmica (histrias, descontinuidades) que em geral propomos
como antinmicas. Ao lado de conjuntos civilizacionais, que
sero "reacionrios", isto , privilegiaro o passado, a tradio,
a inscrio espacial, e ao lado de conjuntos "progressistas", que
acentuaro os tempos vindouros, o progresso e a corrida para
0 futuro, podemos imaginar agregaes sociais que reunam
"contraditorialmente" estas duas perspectivas, e, assim sendo,
faro da "conquista do Presente" seu valor essencial. A dialtica massa-.tribo servir, ento, para exprimir esta concorrncia
(cum-c<urrire) Y
Para retomar uma temtica, que desde G. Durand e E.
Morin no deixa mais indiferentes os intelectuais, ser necessrio reconhecer que existe um processo sem fim que vai da
culturalizao da natureza naturalizao da cultura. O que
permite compreender o sujeito em seu meio, ao mesmo tempo
natural e social. Por essa razo bom estar atento s mudanas que esto ocorrendo em nossas sociedades. O modelo puramente racional e progressista do ocidente, que, como sabemos,
se mundlalizou, est em vias de saturao, e estamos assistindo
178
gaGI.as percepq do espao" (p. 35}. AbStrair-se o m~nos possivel de seu meio, que necessrio compreender, aqm, em .s:u
sentido mais amplo, remete, strictissimo sens~, a ~~a ~lSao
simblica da existncia. Existncia em que serao pr1v1leg1adas
as "percepes imediatas e as referncias prximas" (p. 37).
A ligao do espacial, do global e do "intuitivo-emociona~" (p.
32) se inscreve na tradio esquecida, denegad~, d~sacred1tad~,
do holi.Emo sociolgico. A tradio de uma sol1dar1edade organica de um estar-junto fundador, que pode nem ter existido,
mas' nem por isso deixa de ser o fundamento nostlgic?'. na
ordem direta ou a contrario, de muitas de nossas anallses.
A temtica da Einfhlung (empatia), que nos vem do roman14
tismo alemo a que melhor exprime esse filo de pesquisa.
Por mais paradoxal que possa parecer, o exemplo japons
seria uma expresso especfica desse holis~_..,, dessa correspondnc:a mstica que confirma o social como "mythos". Com
efeito, quer s-eja na empresa, na vida quotidian.a, ~u ~o la~er,
pouca coisa parece escapar-lhe. O mito contradltonal m~uz1do
dessa forma no deixa de ter conseqncias hoje em d1a, em
qualquer nvel que seja, poltico, econmico, industrial. ~ isso
exerce um indubitvel fascnio sobre os nossos contemporaneos.
Ser necessrio falar, como faz Berque, de um "paradigma nipnico" (p. 201)? possvel. Principalmente se o termo paradigma, em oposio ao termo modelo, trata de uma estr~tura
flexvel e perfectvel. Mas o que certo, que esse paradigma
d conta muito bem da dialtica massa-tribo d~ que me ocupo
agora. Deste movimento sem fim e um tanto indefinido, desta
"forma" sem centro nem periferia, ambos compostos de elementos que, conforme as situaes e as experincicas em curso,
se ajustam a imagens cambiantes de acordo com alguns arqutipos preestabelecidos. Esse fervilhamento~ es~e ~a~do ~e cultura tem como fazer vacilar nossas razoes mdividualiStas e
individualizantes. Mas, antes de tudo, ser isso realmente novo?
outras civilizaes foram fundadas &abre representaes rituais
de "persona" desindividuallzadas, &abre os papis vividos col~
tivamente, o que no deixou de produzir arquitetnicas sociais
DA PROXEMIA
179
Genius loci
Em vrias ocasies tentei indicar que a acentuao do quotidiano no era um retraimento narcsico, uma frioleira individualista, mas era antes um recentramento em algo prximo,
uma maneira de viver no presente e coletivamente a angstia
do tempo que passa. Dai a ambincia trgica (versus o dramtico que, ele, progressista) que caracteriza estas pocas.
tambm interessante notar que elas privilegiam o espacial
e suas diversas modulaes territoriais. Podemos, ento, dizer
de maneira lapidar que o espao tempo concentrado. A histria se abrevia em histrias vividas no dia-a-dia.
Um historiador da medicina faz, a esse respeito, um paralelo notvel entre o "calor congnito hipocrtico'' e o fogo do
altar domstico indo-europeu. Todos os dois so sentidos "como
fontes de calor de um gnero particular. Todos os dois esto
situados em pontos centrais e d~ssimulados: o altar antigo dedicado ao culto familiar no meio da casa e invisvel do exterior, o calor congnito procedente da regio do corao, escondido no mais profundo do corpo humano. E todos os dois simbolizam a fora protetora ... " 111 Is~o vem ao encontro da
minha hiptese da centralidade subterrnea que caracterizaria
a wcialidade. Da a importncia do "gnio do lugar"; este sentiinento coletivo que conforma um espao, o qual retroage
sobre o sentimento em questo. Esse fato nos faz prestar ateno realidade de que cada forma social se inscreve numa
trilha traada pelos sculos, dos quais ela tributria. E, nos
faz tambm, lembrar que as maneiras de ser que a con.stituem
s podem ser apreendidas em funo desse substrato. Em resumo, toda a temtica do "habitus" tomista ou do "exi8''
ristotiico.
180
DA PROXEMIA .
181
DA PROXEMlA.
182
183
pular adequado. Ele, alis, quase uma tautologi~ que conota, no caso, aquilo que est na ordem da ~r~xem1a. ~n~.:s
de ser uma teologia, ou mesmo uma moral deumda, a re11g1ao
um lugar. "Temos uma religio como temos um nome, uma
parquia, uma famlia." 1u Isso uma realidade. Da mesma
forma como aquilo que me faz elemento de um~ natur~za da
qual me sinto partcipe. Retoma~os, ento, a no~o de h~lismo:
a religio que se define a partir de um espao e um c1me~to
agregador de um conjunto ordenado, ao mesmo t_empo social
e natural. Trata-se de uma constante notvel que e e.stru:~r-~1mente significant-e. Na verdade o culto dos santos, na rell~I~o
popular, pode servir para apreciar contemporaneamente a eflcacia social de um guru, de um jogador de futebol, de uma estrela
local ou mesmo de um lder carismtico. A relao, neste caso.
aind~ est em aberto. Ora se acred:tarmos nos especialistas.
0 que caracteriza as prticas religiosas populares piedade,
peregrinaes, cultos dos santos - o c~rter local,. o enraizamento quotidiano e a expresso do sent1mento cole.hvo_. E.
das essas coisas esto na ordem da proximidade. A mstltmao
pode recuperar, regular e gerir o culto local deste ou daquele
santo com maior ou menor felicidade. Mas devemos reconhecer
que na origem desses cultos existe a espontaneidade, que d.eve
ser compreendida como aquilo que surge, aquilo que exprime
um vitalismo prprio.
Essa religio viva, natural, pode ser resumida, conforme
D. Hervieu-Lger que v, nela, a expresso de relaes "quentes fundamentadas na proximidade, no contato, na solidarieda~e de uma comuniuade local". zo Aquilo que liga religio e
espao, como dupla polaridade fundadora de um conjunto dado,
no pode ser dito de maneira melhor, A proximidade fsica, a
realidade quotidlana tm tanta importncia quanto o dogma
que a religio admite veicular. De fato, agora, o continente
que prevalece sobre o contedo. Es.:;a "Religio do solo" ~as
mais pertinentes para avaliar a multipl:cao das "ald.ews
urbanas", as relaes de vizinhana, a reatualizao do bm~ro,
e todas as coisas que acentuam a intersubjetividade, a afm\dade, e o sentimento partilhado. A esse respeito, falei acima.
t.?-
..,
184
vindicado enquanto tal, no deixa de informar uma multiplicidade de prticas e de crenas quotidianas, e isto transversalmente, t:m todas as cidades e povoaes do pais. Este processo
merece ateno, pois, num pais onde as potencialidade.'! tecnolgicas e industriais so, agora, reconhecidas por todos, esta
perspectiva "holistica" do candombl est longe de se enfraquecer. Ou, ento, para falar como Pareto, o candombl representa um "residuo" essencial (quintessencial) para toda a compreenso social. Em todo caso, trata-se de uma modulao
especifica da relao espao-socialidade, enraizamento tradici_onal/perspectiva ps-moderna, logo, trata-se de uma lgica contradltorial da esttica e da dinmica, que, no caso, chega a se
articular harmoniosamente.
Ora, para retornar espirltualidade materialista de que
j falei, o que que nos ensina esta lgica? Ensina principalmente que o espao assegura socialidade uma securizao necessria. Sabt:mos que ela limita bastante, mas d vida_ Toda
a sociologia "formista" pode se resumir nesta proposio. 2 ~
Assim como os rituais de anamnese ou os punhados de terra
de que j falei acima, assim como o concentrado csmico que
so o "terreiro", o altar domstico romano ou japons, a estabilidade do espao um ponto de referncia, um ancoradouro
para o grupo. Ela permite uma certa perdurncia no burburinho e na efervescncia de uma vida em perptuo recomeo.
O que Halbwachs diz da morada familiar: "imagem apaziguadora de sua continuidade", ns poderamos aplicar s nossas
tribos contemporneas. Enquanto se ligado ao seu lugar, um
grupo transforma (dinmlca) e se adapta (esttica). E, nesse
sentido, o espao um dado social que me faz e que feito.
Todos os rituais individuais ou coletivos, cuja importncia comeamos a reconhecer, so causa e efeito desta permanncia.
Trata-se. verdadeiramente, de uma "sociedade silenciosa" de
uma "potnc!a do meio material" (Halbwachs) ~ que to necessria ao equilbrio de cada um quanto ao equilbrio do grupo
em sua totalidade. Quer seja o mobilirio familiar ou o "mobilirio" urbano, quer seja o que delimita a minha intimidade
ou a arquitetura que lhe serve de moldura (paredes, casas,
185
ruas: conhecidas e familiares), tudo isso faz parte de uma proxem!a fundadora que acentua a fertilidade da moldura espacial.
~ud~ isto, ao mesmo tempo, d segurana e permite a resistencla, no. sentido simples do termo, aquilo que permite perd_u~ar, aqmlo que permite res~stir s imposies naturais e soCiais. :Sta_ a ~omunidade de destino. Neste sentido o "gnio
do ~u~ar nao e uma entidade abstrata, tambm um gnio
malic_~~so que continuamente age no corpo social .e permite a
estabilidade do conjunto para alm e atravs da multiplicidade das varies de detalhes.
Existe a uma dialtica qual, curiosamente, se tem dado
pouca ateno, de vez que se estava preocupado com reforar
e acentuar o aspecto evolutivo da humanidade. Mas para aplicar, agora, uma distino desenvolvida por M. Worringer, existem momentos em que a produo social, iSto , a acomodao
no mundo essencialmente "abstrativa" (mecnica racional
i~trumental), mas, exist-em outros em que ela remete "Ein~
fuh~unrt_' (orgnica, imaginria, afetual). Mas, como j indiquei, ha pocas Em que, segundo ponderaes diferenciadas,
enco~trarnos essas duas perspectivas juntas. Dessa maneira, a
arq~Itet~a das cidades, que devemos compreender aqui no
sentido snnples do termo, isto , ajustamento a um espao dado,
pode ser, ao mesmo tempo, a aplicao de um desenvolvimento
tecnolgico preciso, e, no mesmo movimento, a expresso de
u~ estar-junto sensvel. Sendo que a apEcao remete dinmlca, e a expresso privilegia a esttica social. E esta ltima
a q~e nos interessa no momento. Pois, aquilo que chamamos
de cmdado com a segurana, saiu dela. E numa pesquisa que
inaugurou sua reflexo sobre a(s) cidade(s), A. Mdarn fala,
exatamente a ess-e respeito, "das ancestrais necessidades de
proteo", que ele relaciona, alis, com 0 imaginrio coletivo e
com a vida quotidiana. 2 ~> O abrigo, o refgio como realidade
s~bterrnea, mas, nem por isso, menos soberana, de toda a
VIda t:rn sociedade. Pois, a potncia da socialidade responde
~
'
~ necessariamente se lhe opor, ao poder da estrutura econnuco-social. Se negligenciarmos essa tenso paradoxal, corre-
186
O Tnu>o
DAS
DA PROXEMIA
TRIBos
187
8
. tamos
188
DA PROXEMIA
189
DA PROXEMIA
191
Enfim, ainda que no seja po.ssivel desenvolv-lo com preciso, necessrio estabelecer um paralelo entre a proxemia e
a importncia que o imaginrio (re) assume na vida social. Seria 9-uase necessrio, no ca...c:o, estabelecer uma "lei" sociolgica.
Cada vez que prevalece a desconfiana com relao imagem
(lconoclasmo, monovalncia racionalista), elaboram-se representaes tericas e modos de organizao social que tm o
"longnquo" como denominador comum. Assistimos, ento
dominao do poltico, do linearismo histrico, coisas que so
essencialmente prospectivas. Mas, pelo contrrio, quando a
imagem, nas suas diversas modulaes retoma ribalta, o
localsmo que se torna uma realidade incontornvel.
Para tomar apenas um exemplo histrico que pode servir
de trampolim para a nossa anlise, lembramos que no momento
m que se constitui a civilizao crist, o iconoclasmo o estandarte ideolgico sob o qual se arregimentam os defensores
do centralismo, enquanto o iconodulismo. diz respeito aos que
privileg: am a expresso dos sentimentos locais. ll: verdade que
aprcada uma racionalizao terica, teolgica, no caso, a este
conflito, mas o essencial saber sob que forma se organizar
a sociedade. E Peter Brown, que analisa este conflito, chega
me:.:mo a falar de "jacobinismo iconoclasta'~. Todos os meios so
bons para extirpar os cultos locais, e isto, simplesmente, porque
eles perturbam a atividade de um governo central. Estes cultos
locais se organizam em torno de um homem santo e de um
cone especfico. Ora, tanto um quanto o outro recebiam sua
con:agrao de baixo. A partir da se arqu~tetava um complexo
sistema de inter-relaes entre os diversos "top.oi", que c-onstitua
uma verdadeira sociedade paralela, que escapava organizao
centralizada que estava se instalando. 33 Podemos reter, deste
processo, o papel do icone que legitimava o contrapoder do homem santo e servia de cristalizao expresso dos sentimento.s
dos grupos loca!s.
Em suma, na solido inerente a todo meio urbano, o cone, familiar e prximo, uma balisa que se inscreve no quotidiano. Ele o centro de uma ordem simblica, complexa e con-
192
193
as segun as
amo me1o ambiente, quer seja ele natural ou social Pod
emas, igualmente, considerar que numa mesma cultura. -o
enco~tradas seqncias diferenciais. Elas, s vezes, acentuax:a0
que ~ndivua~iza, s vezes, pelo contrrio, acentuam o as ecto
coletivo, desindividualizante. Em todo caso essa
inh.p hi
t
.
'
a m a ~o
n~ que diz respeito nossa cultura. Nesse sentido, a
v~lonz~ao_ do espao, pelo vis da imagem, do corpo, do territn~., sena, simples~ente, a causa e o efeito de superao do individuo num conJunto mais amplo. Uma sociedade fundamontada nesta dinmica arrisca-se a ver seus valores essenc~is
inv~~ti~os. E talvez seja este o desafio lanado por todas as expenencias e por todas as situaes st>ciais que se fundamentam
na proxemia.
es:
3.
Tribos e redes
.,
194
195
essa noo ~ugere, o tribalismo de que tratamos pode ser perfeitamente efemero, e se organiza conforme as ocasies que se
apresentam. Para retomar uma ahtiga terminologia filo.sf'
ele se esgota na ao. Dessa maneira, o que ressalta de dive::
~es~u~sas .es~~tisticas, que cada vez mais pessoas vivem como
cel~batnos . Mas o fatD de serem solitrias no significa viver 1S0 ladas. E conforme as ocasies que se apresentam _parti~ularm-ente graas aos anncios informticos propostos pelo
mmitel - o "ce~i~atrio" se junta a tal ou qual grupo, se liga
a _tal ou qual atlvldade. E assim, atravs de mltiplos vieses (o
mmitel um entre outros)' se constituem "tribos" esporti
de amigos, sexuais, religiosas ou outras. Cada uma dei tvas,
dur o., .
.
as em
a es vanaveiS d-e vida, conforme o grau de investimento de
seus protagonistas.
-:om
No menos verdad
o rt .
. e que, mesmo marcadas pelo selo da
c:re~~Idade, co~ a dJmenso trgica que ela no deixa de
, essas t_nbos privilegiam o mecanismo de perten a
Qualquer que -S~Ja o do~nio, necessrio participar mais~~
~enos, do espmto coletivo. Alis, a questo no se c~l
Integrao ou a .. oca, e a
.
reJeiao dependem do grau do "jeeling'' expe
r:unentado ou pelos m b
se .
'
.
.em ros do grupo ou pelo postulante. Em
tag~da esse sen~u~:_nto se~ confirmado ou negado pela acei ~u pela reJeiao de diversos rituais iniciticos Qualquer
que seJa a d
m
_ uraao da tnbo, esses ntuais so necessrios. Podeimos, entao, obs~rvar que eles tomam um lugar cada vez mais
im P~;lant~ ~a VIda quot~diana. Existem rituais mais ou menos
.. p ceptlve.s que permitem sentir-se vontade "ser um frequentador" num bar o
'
di-los n
u numa boate. Nao poderamos transgreem mesmo par.a preencher um c ar to da loto. Da mesma
196
DA PROXEMIA
I'
'
I
'
197
Igios quotidianos, a pri~r~:e ~~:_se refere aos mnimos privia ~ada aos que pertencem
tribo ou aos que gravitam em
gerai, analisamos esse pro
seus Circulos de influncia. Em
tamente, possvel estend~~l~ ~~ q~~dro da_ famlia, mas, cerum coniunto que se ap,.
milia ampliada, quer dizer a
,
'
. 01a no parent
esc:', e bem verdade, mas,
que tambm se apia em mlti
te1ismo, ou de servio."'
, pias relaoes de amizade de clien., reciprocas.
o .termo "lao" (famI'I'Iar, de amizad-<>
.
etc ) d
preendido em sua acepa-0
.
..._,
aJu a mutua s0 b
.
e um dever pedra de to
d
, .'
suas. diversas formas
.
'
que o cod1go de h
.
'
nao dito, que rege o tn'b I'
onra, mmtas vezes
a Ismo :s: ele q
XlS encia de um
num forte sentimento de perten
. grupo fundamentado
a :aecessita, para a sobrevivncia de cada um que o t
.
.
'
u ros grupos se
eXIgncia da mesma nat
cnem a partir de uma
ureza.
198
DA PRoXEMIA
199
200
TEKPO
DAS
TRIBos
grande ateno ao que, por comodismo, chamamos de marginalidade. Essa , certamente, o laboratrio dos modos de vida
futuros, mas a (re) novao dos ritos de iniciao dos grupos sobre
os quais falamos s toma o lugar dos antigos ritos (que no
ousamos mais chamar assim) vazios de sentido, fora de terem
sido to uniformizados. A condenao prematura no suficiente a condescendncia tampouco. :t necessrio compreender
que ~sses ritos mereceriam uma anlise especifica. Na verdade,
sua vivacidade demonstra que est emergindo uma nova forma
de agregao social. Talvez seja difcil conceitualiz-la, mas com
a ajuda de antigas figuras, certamente ser possivel esboar seus
contornos. Da a proposio das metforas de tribos e de tribalismo.
Acontece que essa metfora traduz muito bem o aspecto
emocional, o sentimento de pertena e a ambincia conflitual
que este sentimento induz. Ao mesmo tempo, ela permite ressaltar, alm desse conflito estrutural, a busca de uma vida quotidiana mais hedonista, isto , menos teleolgica, menos determmada pelo "dever-ser" e pelo trabalho. Tudo que os etngrafos
da Escola de Chicago j haviam indicado h algumas dcadas,
mas que atualmente tomam uma amplitude das mais notveis.
Esta "Conquista do Presente" se manifesta de maneira mais
informal nesses pequenos grupos que passam "o melhor do seu
tempo, vagando e explorando seu mundo". 43 O que, naturalmente, os leva a experimentar novas maneiras de ser, onde a
"cam!nhada", o cinema, o esporte e as "comedorias" em C)mum
tm um lugar especial. :t interessante notar, alis, que com o
passar do tempo esses pequenos bandos se estabilizam. A surgem os clubes (es1=ortivos, culturais), ou a "sociedade secreta".
li
DA PROXEMIA
201
202
DA PROXEMIA
'?
203
204
DA PROxntiA
205
De fato, o entrelaamento (aquilo que os tericos anglo-saxes chamam "connectedness'') uma caracterstica morfolgica da agregao social de que nos ocupamos. Podemos lembrar, a e.sse respeito, das experincias de Milgram, que demonstraram ser possvel estabelecer contatos entre duas pessoas que
vivam em duas regies totalmente opostas dos Estados Unidos,
atravs da intermediao de cinco ou seis rels. 49 Mas, se nos
apoiarmos nas prprias pesquisas d Milgram, podemos notar
que a cadeia que liga as pessoas em questo composta
menos de indivduos do que de "microambientes". Tanto no
exemplo dado acima, quanto nas experincias de Milgram, a
informao circula porque se transmite de pequeno ndulo em
pequeno ndulo, e, s vezes, na cadeia existe uma nodosidade
mais importante. Conforme as circunstncias, esta pode ser
um bar, um salo, um laboratrio universitrio de renome, uma
igreja, enfim, pouco importa. Mas essa nodosidade estrutura
a informao recebida, corrige, amplia, inventa uma pequena
baixeza suplementar, depois remete a informao ao ndulo
seguinte. No limite, o individuo a quem a informao diz respeito, importa pouco, a forliori aqu~~ que a transmite. Tanto
um quanto outro so apenas pees intercambiveis de um
"efeito de estrutura" especfico. Por isso ningum responsvel (nem responde) pela informao ou pelas fofocas. Eles se
difundem conforme a fantasia, fazendo e desfazendo reputaes que no imaginaramos to frgeis. Sic transit . ..
O que os exemplos dados enfatizam, e que, na verdade,
so apenas indcios, o aspecto no voluntrio, no ativo da
estrutura em rede. Poderamos quase dizer que esta estrutura
imposta ou, pelo menos, pr-imposta. E seus protagonistas
podem ser qualificados da mesma forma: eles agem muito menos do que so agidos pela informao. Se esquecermos por um
instante o nosso esprito judicativo, e se no lhe atribuirmos,
em seguida, uma conotao pejorativa, isto de que tratamos
remete metfora dionisaca da confuso: as coisas, as pessoas,
as representaes se propagam por um mecanismo de proximidade. Assim, por contaminaes sucessivas que se cria aquilo
DA PROXEMIA
206
20'7
...
208
NOTAS
Introduo
1 . Reconhecemos aqui a contribuio de pensadores como A. Schutz,
G. H. Mead, E. Goffman, sobre este assunto, remeto a U. Hannerz,
Explorer la ville, Paris, Minuit, cap. VI, e sobre o vaivm de que
se trata, p. 277. Podemos tambm citar P. Berger e Th. Luckman,
La construction de la ralit sociale, Paris, Mridiens Klincksieck,
1986.
2. C. Lvi-Strauss, La pense sauvage, Paris, Plon, 1962, p. 19 e seg.
3. M. Scheler, Nature et formes de la sympatie, contributton l'tude
es lois de la vie motionnelle, Paris, Payot, 1928, p. 117.
4. G. Scholem, La mystique juive. Paris, Cerf, 1985, p. 59 e seg.
5. Dediquei um livro a este problema, M. Maffesoli, La conna!ssance
ordinaire, Paris, Mridiens Klincksieck, 1985.
&. R. Nisbet, La tradition sociologique, Paris, PUF, 1981, p. 33.
7. Sobre este tema remeto a: "A certain community ot outlook", no
livro de W. Outhwaite: understanding social life, London, Allen
and Unwin, 1975.
8. V. Hannerz, op. cit., p. 263.
9. G. Durand, "La beaut comme prsence paracltique: f'ssa1 sur les
rsurgences d'un bassin smantique" in: Eranos, 1984, vol. 53, Insel
Verlag, Frankfurt-Main, 1986, p. 128. Sobre o tema "imagens obsesivas" utilizado acima, cf. Ch. Mauron, Le mythe personnel, Paris.
Captulo I
1.
2.
3.
Cf. G. Durand: "Le retour des -immortels", in: Le temps de la rflexion, Paris, Gall!mard, 1982, p. 207, p. 219. S-abre o "p::tradigma
esttico", cf. meu artigo in: G. Simmel, Mridiens Klincksieck,
1986, cf., igualmente, T. Adorno, Notes sur la littrature, Paris,
Flammarion, 1984, p. 210, sobre o bunker do individualismo.
P. Brown, Le culte des Saints, Paris, Cerf, 1984, p. 72.
A. Berque, Vivre Z'espace au Japon, Paris, PUF, 1982, p. 54. Para
um exemplo do uniforme, F. Valente: "Les panlnari" in: Socit!,
Paris, Masson, n. 0 10, sept. 1986.
210
NoTAS
1!111,
por rxempl<
p. 475-478.
18.
c!.
19.
ZU.
21.
1979, p. 202.
V..
p. 44
Z3.
14.
24.
1975, p. 42.
17.
que quer que possa parecer a certos espritos apres_sados, a temtica orgistlco-exttlca uma constante na tradlao. sociolgica. Podemos assinal:u M. Weber, Economte et soclte, op. cit.,
25.
hz
211
212
26.
27.
28.
29.
30.
31.
32.
33.
34.
NOTAS
213
Captulo li
1.
2.
3.
4.
5.
6.
et Dtonysos.
7.
8.
11.
10.
11.
12.
13.
Foi o ttulo que dei minha tese: de 3.o ciclo, Grenoble, 1973,
retomada no essencial in: M. Maffesoli, Logique de la domtnation,
PUF, Paris, 1976.
A tese d'Etat em execuo de Tufan Orel <Universidade de Compigne) certamente acrescentar notveis esclarecimentos sobre o
vltalismo.
Cf. M. Lalive d'Epinay, Groddeck, Ed. Universitalres, Paris, 1984,
p. 24. Cf. p. 125-134, a excelente bibliografia fornecida.
Cf. a anlise de G. Durand, Les structur3s anthropologiques de
l'imaginaire, Paris, Bordas, 1969, p. 76 e seg. e as citaes que
faz de G. Bachelard, La terre et les rveries du repos, Paris, Oorti,
194.8, p. 56, 60, 270.
Cf. G. Simmel, "Problmes de la sociologie des religions", trad. fr.
In: Archives de sociologie des religions, CNRS, Paris, n.o 17, 1964,
p. 15.
Cf. J. E. Charon, L'Esprit, cet inconnu, Albin Michel, Paris, 1977,
p. 83, p. 65-78.
Cf.. G. Dorfles, L'intervalle perdu, trad. fr. Mridiens, Paris, 1984,
p. 71 e seg.; ainda cf. Durand (G.), Les structures anthropologtques d3 Z'imaginaire, op. cit., p. 55. Sobre o situacionismo e o
labirinto: Internationale situationisme, van Gennep, Amsterdam
1972.
'
Eu mesmo orientei uma pequena monografia sobre o labirinto
em Gnova, Doct. Polycop. UER de urbanizao, Universidade de
NoTAS
214
14.
1&.
16.
17.
18.
19.
26.
27.
28.
29.
30.
31.
Paris, 1979.
cr. as obras de A. schutz, CDllected papers, t. 1, 2, 3, Ed.
Martl.nus Nljhoff, Amsterdam.
20. SObre este assunto cf. as pesquisas de J. Zllb:!rb:!rg e J. P. Montmlny, "L'csprit, le pouvolr et les remmes ... " ln Recherches soctograph1ques, Qubec, XXII. 1, janeiro-abril 1981.
Cf. R. BasUde, tlments de sociologte re!lgleuse, p. 197, citado
21. por c. Lallve d'Epinay, "R. Bastlde et la soc\ologie des confins"
m: L'Anne soctolog1que, vol. 25, 1974, p. 19.
22. Cf. E. poulat, Critique et mystique, Paris, Ed. du Centurlon. 1984,
p. 219, 230 e as referncias a Ballanche: Essats de ;alfngnste
socale e a Lammenals: Paroles d'un erayant, nota .t.6.
23 Cf. B.' Jules-Rosette, symbols of change: Urban transitfon in 2a
. zambtan community, Ablex Publlshlng, New Jersey, 1981, p.
Sobre a lmportncla das religies slncretlstas nas grandes aglomeraes urbanas como Recife, cf. RJ Motta, Cidade e devoo.
32.
33.
34.
35.
36.
37
Recife, 1980.
cr. E. Durkhelm, La conceptton soctale de la rellgton, dans le senttment reltgteu:t l'heure actu~lze, Paris, Vrin,.1919, p. 104 c seg ..
citado por E. Poulat, Critique et mJisttque, op. ctt., p. 240. Estudos
que esto sendo executados no CEAQ delcam-se a ressaltar
esta convlviaUdade ("manter-se aquecido") dentro das seitas urbanas. Ainda cf. esta definio: "nous appelons lments reUgleux
les lments moUonnels qui formcnt l'aspect Interne ct externe
des relattons soclalrs", o. Slmmel, Problemes de la soctologte des
reltgtons, op. clt., p. 22.
2&. Cf. 114. MaUesoll, La vtolence totalttaire, Paris, PUF, 1979, cap. ll.
p. 70-135 e E. Bloch, Thomas Mnzer, thologten de la rvolutton,
24.
38.
39.
40.
41.
hrz
215
Paris, Julliard, 1964 (ed. bras. publicada pela Ed. Tempo Brasileiro).
Cf. K. Mannheim, Idologie et utopie, Paris, Ed. Riviere, 1956,
p. 157 e seg. Sobre a temtica exploso-repouso, cf. E. Durkhelm,
Les formes lmentaires de la vie religieuse, Parl.s, PUF, 1968.
Se quisermos ser mai.s precl.sos na gradao das relaes, de toda
vida social, de toda sociabilidade, de toda socialidade.
Cf. G. Le Bon, Psychologie des foules, Paris, Retoz, 1975, p. 73.
A esse respeito, cf. a excelente obra de L. v. Thomas, Fantasmes
au quottdien, Paris, Mridiens, 1984, e a pesquisa em execuo
no CEAQ <Parl.s V) de V. Gaudin-Cagnac sobre o assunto. E M.
Maffesoli, La conqute du prsent, Paris, PUF, 1979, "Le !antastique au jour le jour", p. 85-91.
Cf. por exemplo a apresentao que dela faz J. Freund, sociologfe
du conflit, PUF, Paris, 1983, p. 31.
Cf. E. Durkheim, 'Montesquieu et Rousseati, prcurseurs de la sociologie, Lib. Mareei Riviere, Paris, 1966, p. 40, 108.
Sobre a relao entre elite e massa, cf. anlise de E. A. Albertoni,
Les masses dans la pense des octrinaires des Elites, <Mosca-Pareto-Michels).
Sobre esta temtica, cf., por exemplo, a anlise de E. Poulat sobre
a igreja: Catholicisme, dmocratie et socialisme, Casterman, 1977,
p. 121, ou a de E. Renan, Marc-Aurele, Paris, 1984, cap. n, p. 40.
J. E. Charron, L'esprit cet inconnu, Albin Michel, Paris, 1977, p. 216.
Cf. C. Bougl, Essais sur le rgime des castes, 4. 6 ed., Paris, PUF,
1969, p. 140. Sobre a Siclia, cf. minha anlise, M. Maffesoli, Logique de la domination, PUF, Paris, 1976.
Cf. por exemplo, M. Aug', Le gnte du paganisme, Galllmard,
Paris, 1983.
Cf. E. Poulat, Eglise contre bourgeotsie, Casterman, 1977, p. 131.
Sobre esta reserva, cf. M. Maffesoli, Essats sur la violence bpnale
et tonatrice, Mridiens, Paris, 1984, cap. m, p. 139. Sobre a "sabedoria demonaca", cf. meu artigo "L'errance et la conqute du
monde", ibid, p. 157.
Cf. E. Morin, L'esprit du temps, Le Livre de Poche, 1984, p. 87
(ed. bras. publicada pela Ed. Forense-Universitria, com o titulo
de CUltura de massas no sculo XX>
Sobre a televiso, cf. D, Wolton, La tolle du logis, Paris, Oalltmard,
1983.
J. Freund, Sociologte du conjlit, Paris, PUF, 1983, p. 212 e seg.
Cf. as notas e referncias sobre Polichinelo in: A. Mdam, Arcanes de Naples, Paris, Ed. des Autres, 1979, p. 84 e 118 e seg.
Cf. O. Freyre, Matres et esclaves, la formatton de la soctt brsilienne, trad. fr., Paris, Galllmard, nova ed. de 1974, por exem-
216
plo p. 253. (Cf. Casa-Grande e senzala, Rio de Janeiro, Jos Olympio.) Sobre o riso subversivo, remeto a meu livro M. Maffesoli,
Essais sur la violence banale et jondatrice, Paris, Mridiens. 2.a
ed., 1984, p. 78.
42. Cf. a anlise de E. R. Dodds, Les Grecs et l'irrationnel, Flam.."llarion, Paris, 1959, cap. VII, Platon, l'me irrationnelle, p. 209 +
citao de Plato, nota 11, p. 224.
43. Cf. H. Lefebvre, Critique de la v:e quotidienn~. T. II, Paris, l'Arche
diteur, 1961, p. 70-71. Essas passagens so sintomticas do embarao do autor diante da no concordncia entre o real e os
a priori.
44.
Captulo 111
1.
2.
3.
4.
5.
6.
NOTAS
z. Yavetz,
7.
8.
9.
21'1
mesmo mostrei, baseado em Van Gulik que encontramos exploses populares, baseadas no taosmo at os nossos dias. M. Maffesoli, L'ombre de Dionysos, contribution une sociologie de l'orgie,
Parts, Librairle des Mrldiens, 1985, p. 67.
10. Sobre a ligao entre a experincia e os conjuntos simblicos, cf.
a referncia a Dilthey feita por J. Haberma.S, Connaissance et
tntrt, Paris, Gallimard, 1976, p. 182.
11. Sobre a interioridade e a salvao acompanho a anlise de W. F.
Otto, Les dieux de la Grece, Prefcio de M. Detienne,. Paris, Payot,
1981, cf. p. 24 e prefcio, p. 10.
Sobre os "deuses falantes" e a vitalidade grupal que isto induz, cf. P. Brown, Genese. e L'Antiquit tardive, Paris, Galllmard,
1983, p. 83.
12.
13.
14.
15.
16.
l'l.
18.
11L
Sobre o "multitudinarlsmo" e a socialidade induzida pela religiosi-dade popular. cf. E. Poulat, glise contre bOurgeotsie, Paris,
Casterman, 1977, p. 21 e 24. Cf. tambm a excelente descrio da
religio popular feita por Y. Lambert, Dieu change en Bretagne,
Paris, Cerf, 1985, particularmente .sobre as "indulgncias como
reciproca espiritual"'. Cf. p. 206-208.
E. Renan, Marc Aurele ou la ttn du monde anttque, Paris, Le
lJvre de poche, 1984, p. 354. Para uma. crtica do estatismo, cf. J.
Zilberberg, "Nationalisme - Intgration - Dpendance", Revue
d'lntgratton europenne, 1979, II, n. 0 2, Canad, p. 269 e seg.
M. Weber, :tconomte et socit, Paris, Plon, 1971, p. 41-42, e La
viUe, Paris, Aubier, 1984.
Cf. K. Marx. oeuvres; prsentes par M. Rubel, Pris, Pllade, t. ll,
p. 1.451.
F. venturi, Les intellectuels, le peuple et la rvolution, op. cit.,
t. 1, p. 45 se ocupa destas hesitaes que se referem "obrotchina".
Ainda c f. F. venturi, lbld., t. 1, p. 29.
Sobre a substituio do povo pela classe cf. K. Mannheim, IdoZOgte et utopte, op. cit., p. 60 e seg.
Para uma crtica da luta de classes cf. J. Freund, Sociologie
du contltt, P~rls, PUF, 1983, p. 72 e seg.
Cf. M. Maffesoll, La connatssance ordinaire, op. ctt., p. 167 e IA
conqute du prsent, Paris, PUF, 1979.
Cf. z. Yavetz La plebe et ze prince, op. ctt., p. 38, seg., p. 54, no que
se refere ~alsa dos imperadores, ou atitude com relao a
88-719- 11
218
20.
21.
22.
23.
24.
25.
26.
27.
28.
29.
30.
31.
32.
33.
219
u.
35.
As anlises de E. Durkheim neste sentido ln: L'Anne sociologtque, I, p. 307-332; II, p. 319-323. E. C. Bougl, Essats sur le rgime
d.e castes, Paris, PUF, 1969, p. 36, 51.
Cf. M. Young E: P. Willmott, Le village dans la ~ille, Paris, C.C.I.,
Centre Georges Pompidou, 1983. E E. Reynaud, "Groupes secondal-
res et solidarit
organ~que:
Capitulo IV
Sobre a relao Poder-Potncia, remeto a minha anlise: M. Maffesoli, La vtolence totalitatre, Paris, PUF, 1979, p. 20-69, aqui, p. 69.
2. Sobre o estilo cf. P. Brown, Gn~se de l'Antiquit tard.tve, Paris,
Galllmard, 1983, p. 16; e o prefcio de P. Veyne. G. Durand,
IA Beaut comme prsence paracltique, Eranos, 1984, Insel Verlag,
Frankfurt, 1986, p. 129; M. Maffesoll, "Le Paradigme esthtlque",
ln Soctologie et Societs, Montral, vol. XVTI, n.o 2, out. 1985, p. 36.
3. Cf. W. Benjamin, Essats, Paris, DenoiH-Gonthier, 1983, p. 40.
4. A. Schutz, "Falre de la musique ensemble. Une tude des rapports
soclaux", trad. fr. in soctts, Paris, Masson, 1984, vol. 1, n.o 1,
p. 22-27. Traduzido de "Making music together", Collected Papers
n, Nijhoff, Haia, 1971, p. 159-178.
5. Como Uustrao, cf. Gumplowicz, Prcts de sociologie, Paris, 1896,
p. 337 e seg., sobre O. Spann, cf. anlise feita por . w: Johnstn,
1.
220
9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
16.
17.
18.
NOTAS
bles de la vie soctale, Paris, PUF, 1986. Sobre o turismo cl. a revista Societs, n.0 8; Paris, Masson, vol. 2, 1986.
M. Scheler, op. cit., p. 149-152. Sobre a tepdncia dionlsia~.
cf. M. Maffesoli, L'ombre. de Dionysos, contributton une soctologie de l'orgie, Paris, Mridiens, 2.a e~.. 1985, e K. Mannhelm,
Idologie et utopte, Paris, M. Rlviere, 1965, que fala na p. 151
de "qulllasmo orgistlco". E M. Halbwa.chs, La mmotre collecttve,
Paris, PUF, 1968, p. 28, sobre as "interferncias coletivas".
Cf. G. Hocquenghem, R .. Schrer, L~Ame atomique, Paris, Albin
Michel, 1986, p. 17. J. Baudrlllard, Amrique, ~aris, Grasset, 1986,
p. 107. Cf. tambm os t:r:abalhos de A. Moles, Insti.tut de Psychologie sociale, Universit de Strasbourg I, sobre a rua, o cuspi-
19.
20.
21.
22.
23.
24.
221
PariS, Librairie des Mrld1ens, 1982 (2.a ed. 1985). Tambm cf.
G. Renaud: A l'ombre du rationalisme, Montral, Ed. st. Martln,
1984, p. 171: "A confrontao com o estrangeiro, com o Outro ...
questiona o empobrecimento de uma identidade nacional que se
fecha cada vez mais sobre si mesma ... "
25. E. Renan: Marc Aurele ou la _fin du Monde Antique, Paris, Le
Livre de Poche, 1984, p. 317-318.
26. J. Bguy, Christiantsme et socit. Introduction la sociologie de
Ernst Troeltsch, Paris, Cerf, 19SO, p. 112. Cf. sua anlise do "tipo-seita", p. 111 e seg.
27 Cf. Gibbon, Histoire du dclin et de la chute de l'Empire Romain,
Paris, Ed. Laffont, 1983, t. 1, cap. XXIII, p. 632 e seg. Sobre as
seitas medievais cf. J. Sguy, op. cit., p. 176-179.
NOTAS
222
223
S6.
28.
~~
39.
lO.
41.
42.
43.
44.
45.
46.
47.
48.
49.
224
NOTAS
50.
57.
Captulo V
1. Parece-me efetivamente necessrlo inverter a utll1zao de3-teB conceitos durkheimianos cf. minha proposio: M. Maffesoli, La violence totalttaire, Paris, PUF, 1979, p. 210, nota 1. G. Simmel, Problemes de Philosophie de l'Histoire, Paris, PUF, 1984, p. 131.
2. Cf. prefc1o segunda edio de M. Maffesoll, L'ombre de Dionysos, Paris, Librairie des Mridiens, 1985. A respeito deste "ns-:Pionisio", remeto tambm ao artigo de M. Bourlet: "Dionysos, le mme
et l'autre", Nouvelle Revue d'Ethnopsychiatrie, n. 1, 1983, p. 36.
3. Cf. J. Freund, soctologte du conflit, Paris, PUF, 1983, p. 14. neceasrlo, naturalmente, remeter a L'essence du poltttque, Paris,
Sirey, 1965, Cap. VII. Para uma boa anlise do Terceiro, pode-se
remeter a J. H. Park, Conflit et communtcatton dans. le mOde de
aJenser coren, .Tese, Pa,_ris V, 1985, p. 57 e seg.
4. Como exemplo sobre as contradies das "organizaes ditas dua.listas" cf. Lvl-Strauss: Anthropologie structuraze, Parls, Plon,
1974, p. 179, assim tambm G. Dumzll, Juptter, Mars, Qutrtnus,
Paris, Galllmard, 1941, e G. Durand, L'Ame ttgre, Zes pluriels de
psych, Paris,. Denoel-Mdiation, 19&0, p. 83-84. E a experincia
psicolgica de que fala P. Watzlawick, La raltt de la raltt,
Paris, Seuil, 1978, p. 90.
5. Sobre o triadismo a partir de uma viso simbolista cf. G. Du1'8.nd,
La fot du Cordonnier, Paris, Denoel, 1984, p. 90; igualmente M. Lalive d'Epinay, Grodeck, Paris, Edition Unlversitalres, 1983, p. 56-57.
A repartio.-trlnitria no pensamento desse psicanalista.
6. Cf. K. Schipper, Le corps taoiste, Paris, Fayard, 1982, p. 146 (o
grifo meu) p. 16.
7. Cf. E. Mbrin, La nature de l'URSS, Paris, Fayard, 1983, p. 181. Sobre
as "realidades" diferenciais cf. G. Simmel, Problemes de la soctolOgte des religtons, Paris, CNRS, 1964, n.0 17, p. 13. Para uma anUse do texto de Aristteles cf. J. Freund, SoctolOgie du COnfUt,
op. ctt., p. 36 e seg.
8. Cf. a anlise de "comunicao geral" que faz P. Tacussel, L'attractton sociale, Paris, Librairle des Mridiens, 1984.
9. L. Rau, L'Europe franaise au siecle des lumteres, Paris, Albin
Michel, 1951, p. 303 seg.
10. M. Maffesoli, La viOlence totalttatre, Paris, PUF, 1979.
226
U.
12.
13.
14.
1&.
1ft.
17.
18.
19.
20.
21.
NOTAS
22'J
22.
23.
24.
~-
26.
27.
28.
29.
30.
31.
32.
33.
34.
128
TEMPO DAS
TRIBos
NOTAS
Captulo VI
Nietzsche, cf. a anlise que dele faz F. Ferrarotti, Histoire et histotres de vie, Paris, L'brairie des Mrdiens, 1983, P 32 e seg.
F. Chamoux. La civilisation hellnistique, Paris, Arthaud, 1981.
.
2
1.
p. 211.
3.
t'
12.
16.
Ibld., p. 231, sobre uma outra aplicao dE-sta polaridade: cf. o 1po
ideal da cidade elaborada pela Escola de Chicago; partteularmente E. Burgess in u. Hannerz, Explorer la ville, Paris, Minuit, 1983,
p. 48.
.
l
i
Para uma anlise do De Politia, cf. D. Wemstein, Savonaro e e
FZorence, Paris, Calmann-Lvy, 1965, p. 298-9. _
.
5. Ibid., p. 44-45 e notas 18 e 19 sobre a irradiaao da Influncia da
cidade de Florena.
6. Cf. M. We-ber, La ville, Paris, Aubler-Montaigne, 1984, p. 72.
.. .
T
7. Ibid., p. 129.
s. G. Freyre, Maitres et esclaves, la fOrmation de la soczete bre szz~~ne, Paris, Gallimard, 1974, p. 201. (Cf. Casa-grande e senza.a, 10
de Janeiro Jos Olympio.)
9. H. Raymo~d. prefcio a M. Young, P. Willmott, Le village dan.s la
vtUe Paris, Centre G. Pompidou, C.C.I., p. 9.
10. Cf. {;. Hannerz, op. cit., p. 22, sobre as "aldeias urbanas", cf. H.
Gans The Urban Villagers, New York, Free Press, 1962. Sobre .a
atrao cf. P. Tacussel, L'attraction sociale, Paris, Mridiens-Klincksieck, 1984.
Sobre
este tema e suas categorias essenciais, rEmeto a meu livro.
11.
M. Maffesoli, La conqute du prsent, Paris, PUF, 19_79. Aqm emprego 0 termo dialtico no sentido simples (aristotellco: da palavra: remessa permanente de um plo a outro; aproxmado ao
de ao-retroao, ou da espiral "moriniana", cf., a esse. respeito,
E. Morin, La Mthode, T. 3, La connatssance de la connazssance/1.
Paris, Seuil, 1986.
4.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
Cf. E. Renan, La Rjorme, in Oeuvres Completes, Paris, Calmann-Lvy, p. 230. Cf. tambm in Gibbon, Histofre du dcltn et d~ la
chute de l'Empire Romain, Paris, 1983, p. 51: "Augusto ... permitiu a algumas cidades de provncia que lhe ergam templos; po'rn imps que se celebrasse o culto de Roma junto ao culto do
soberano" e p. 58, "muitas pessoas colocavam a imagem de Marco
Aurlio entre as imagens dos deuses domsticos".
Cf. P. Brown, La socit et le sacr dans l' Antiquit tardive, Paris.
Seuil, 1983, p. 214-217, cf. ainda Le culte des saints, Paris. Cerf.
1984, cap. 1: Le sacr et la tombe.
G. Duby, Le temps des cathdrales, l'art et la socit, 980-1420,
Paris, Gallimard.
E. Poulat, glise contre bourgeotste, Paris, Casterman, 1977, p. 112.
~ Hervieu-Lger, Vers un nouveau christianisme, Paris, Cerf, 1!!86.
p. 109, cf. tambm p. 107, 123 as referncias aos trabalhos de
a Hubert, R. Hertz e S. Bonnet.
Cf. M. Meslin, "Le phnomene relig1eux populaire" n Les religtons populaires, Presses de l'Universit Lavai, Qubec, 1972, p. 5.
Cf. por exemplo os estudos de R. Motta (R2cife) : "Estudo do
Xang". Revista de AntropolOgia, So Paulo, 1982.
V. de Costa Lima <Salvador da Bahia), A jamilia de santo
nos candombls jeje. Nags da Bahia: um estudo de relaes intragrupats, UFBA, Salvador, 1977.
M. Sodr <Rio de JanE-iro), Samba, o dono do corpo, Rio, Codeeri, 1979.
230
NOTAS
Expliquei o que penso a esse respeito in M. Maffesoll, La connail8ance ordtnatre, prcis de soctoZogte comprhenstve, Paris, Mridiens-Klincksieck, 1985.
14. Cf. as pginas notveis que M. Halbwachs consagra memria
coletiva do espao, in La mmoire coZZective, Paris, PUF, 1968,
p. 130-138.
%5. Cf. A. Mdam, La ville censure, Paris, Anthropos, 1971, p. 103. Sobre
a distino de w. worringer, Abstraction et Einfhlung, Paris,
Kllnck.sieck, 1978. Sobre a experincia partilhada cf. M. Maffesoli, "Le paradigme esthtique" in Sociologie et soctts, Montral,
vol. XVII, n.O 2, out. 1985, p. 36.
Sobre
estes dois exemplos histricos, cf. C. Bougl, Essats sur le
26.
rgtme d,es castes, Paris, PUF, 1969, p. 184, e F. Venturi, Les tntel-
23.
Z'l.
28.
29.
30.
31.
32.
13.
S4.
35.
36.
37.
38.
39.
p. XXXlll.
Cf. M. Scheler, Nature et formes de la sympathie, Paris, Payot, 1928,
p. 36 {cf. tambm p. 37, nota 1} sobre o orglstico-dionisiaco cf.
K Mannhelm, Idologie et utopte, Paris, Rivire, 1956, p. 158, e
M. Weber, tconomte et soctts, Paris, Plon, 1971.
M. Halbwachs, La mmoire collective, Paris, PUF, 1968, p. 166.
Sobre a arte das pichaes. cf. a pesquisa de M. Deville, "Imaglnaires, Pochoirs, Tribus, Utopies", in: socits, Paris, Masson, 1986,
n.o 10; sobre os graffiti pode-se remeter anlise de J. Baudrillard,
L'change symbolique et la mort, Paris, Galllmard, 1976, p. 118
e seg.
P. Brown, La socit et Ze sacr dans l'Antiquit tardive, Paris.
Seull, 1985, p. 218, 224 e 226.
SObre estes diversos pontos assinalo algumas pesquisas: A. Sauvageot, La publicit, paris, PUF, 1987; A. Pinella, La publicit dans
la tlviston bresilienne, CEAQ, Paris, V; M. Deville: Les vtdo-cltp et les ;eunes {CEAQ}; C. Moricot, Tlvtsion et socit, les'
tmmeubles cabls <CEAQ).
Cf. A. Berque, Vivre zespace au Japon, Paris, PUF, 1982, p. 47.
o termo "multido de aldeias" que est prximo da Escola de
Chicago, assim como demonstrei, aparece aqui de emprstimo a J.
Beauchard, La putssance des foules, Paris, PUF, 1985, p. 25. Sobre
as relaes de vizinhana e seus conflitos ou sobre a solidariedade
podemos fazer referncia a uma pesquisa de F. Pelletier: "Quartier
et communication sociale" in Espac~s et socits n.0 15. Mais re-
231
40.
41.
)
42.
43.
\
J
44.
23l