54 - Clarice Parreira Senra
54 - Clarice Parreira Senra
54 - Clarice Parreira Senra
Orientador:
Marco Antonio Barbosa Braga
Rio de Janeiro
Setembro de 2011
ii
Aprovada por:
_____________________________________________________
Presidente, Prof. Marco Antonio Barbosa Braga (orientador), D.Sc.
_____________________________________________________
Prof. Alvaro Chrispino, D. Sc.
_____________________________________________________
Prof Josimeire Meneses Julio, D. Sc. (UFSCAR).
Rio de Janeiro
Setembro de 2011
iii
CDD 530
iv
Agradecimentos
A Deus, pela fora nos momento de desnimo, pelo amor nos momentos de saudade
da famlia e dos amigos, pela esperana nos momentos de desespero e angstia e por permitir
que este sonho se tornasse real.
Ao professor e orientador Marco Braga, pelos conselhos, pela orientao, pelo
incentivo, pela preocupao e por acreditar em mim. Alm de orientador, tornou-se um grande
amigo e exemplo.
Aos meus pais, pelo carinho, apoio, amor e pela compresso; pois, apesar das
dificuldades, sempre me ajudaram e me incentivaram a continuar meus estudos.
A minha irm Erica Parreira Senra, pela pacincia, pelo carinho, pelo amor e por estar
sempre disposta a me ouvir. Mesmo distante, acompanhou e acompanha cada passo de minha
carreira.
Aos professores da UFJF, pelo incentivo dado para eu continuar os estudos e ingressar
no mestrado; em especial ao professor Wilson Oliveira, pelas conversas, pelos conselhos e
ensinamentos.
A minha amiga Angelita Vieira de Morais, pelo incentivo, pelas reflexes, pelas
conversas, pelos passeios no Rio (poucos, mas divertidos), pela sua alegria contagiante e
companhia. Sua fora e amizade foram, sem dvida, muito importantes na caminhada do
mestrado. Com certeza, compartilhar as alegrias e as dificuldades tornou esta conquista menos
rdua.
A todos os amigos e familiares que, direta ou indiretamente, me incentivaram e
torceram pela concretizao de mais esta etapa em minha vida acadmica.
A todos os alunos que fizeram parte desta pesquisa, pela amizade, carinho e pelo belo
trabalho realizado.
Aos professores do curso de mestrado, pelos ensinamentos; em especial a Andreia
Guerra e a Alvaro Chrispino, pelas conversas, pela amizade e pelo incentivo sempre.
A minha querida prima Paula Parreira Pires, que, mesmo distante, sempre se mostrou
carinhosa e prestativa.
Enfim, a todos que contriburam e torceram pela concretizao deste sonho: Obrigada!
v
RESUMO
Orientador:
Marco Antonio Barbosa Braga
Palavras-chave:
Abordagens CTS; Atividades experimentais investigativas; Projetos de pesquisa.
Rio de Janeiro
Setembro de 2011
vi
ABSTRACT
Advisor:
Marco Antonio Barbosa Braga
Keywords:
STS approaches; investigative laboratory works; Researching projects.
Rio de Janeiro
September 2011
vii
Sumrio
Introduo 1
II Experimentos 12
IV Pesquisa Pr-teste 27
IV.1 O Pr-teste 27
IV.2.1 Resultados 28
IV.3.1 Resultados 33
V Descrio do trabalho 38
VI.1 Ps-teste 54
Concluso 61
Referncias Bibliogrficas 66
Apndice I 70
viii
Apndice II 72
Apndice III 73
Anexo I 74
Anexo II 75
1
Introduo
enriquec-la por meio da criao de alternativas e projetos paralelos que estaro em constante
dilogo com ela.
4
1
O ensino secundrio ou educao secundria constitui o ensino ministrado aos adolescentes, com idades que podem ir dos 10
aos 18 anos, conforme o pas e o seu sistema educativo. No Brasil, historicamente era chamado "ensino secundrio" o que hoje
corresponde segunda metade do ensino fundamental (a partir do sexto ano) e ao ensino mdio.
5
europia, centrada nos estudos dos antecedentes sociais da mudana em cincia e tecnologia
e tradio de origem americana, voltada mais para as consequncias sociais e ambientais dos
produtos tecnolgicos (BAZZO, LINSINGEN e PEREIRA, 2003). Um breve resumo sobre as
diferenas entre essas duas tradies se encontra na tabela I.1, a seguir, retirada do livro
Introduo aos estudos CTS (Cincia, Tecnologia e Sociedade).
I. 2 CTS e o ensino
O ensino tradicional de Cincias valoriza a aprendizagem conteudista, reforando a
aprendizagem memorstica, cheia de dados e fora do contexto do aluno. Para aqueles que no
seguem a carreira cientfica, certamente esses contedos sero esquecidos no futuro, visto
que o aluno no levado a se posicionar criticamente em relao s decises cientficas e
tecnolgicas que se apresentam a ele.
Portanto, a abordagem CTS objetiva promover o que podemos chamar de Alfabetizao
Tecnocientfica (AULER e DELIZOICOV, 2001; PRAIA, GIL PREZ e VILCHES, 2007) de
maneira que capacite os cidados a participarem das decises envolvendo cincia e tecnologia
de forma mais efetiva. Pretende-se na abordagem CTS que a alfabetizao contribua para
motivar os estudantes na busca de informaes relevantes para sua vida, analisando-as e
avaliando-as, para que assim possam se posicionar de forma mais crtica diante das demandas
e problemas concernentes a contedos cientficos e tecnolgicos (BAZZO, LINSINGEN e
PEREIRA, 2003).
6
A abordagem CTS uma linha de pesquisa que vem ganhando bastante ateno nos
ltimos tempos (CACHAPUZ et al., 2008), e, tem se desenvolvimento em vrios nveis
educacionais, como em universidades e tambm no nvel secundrio, em alguns pases.
Focaremos aqui nos programas de nvel secundrio, j que nossa pesquisa foi realizada com
alunos do nvel mdio.
Cabe ressaltar que existem diferentes programas CTS no nvel secundrio, os quais
podem ser classificados em trs grupos: Enxerto CTS; a cincia atravs de CTS e CTS puro.
Para fins deste trabalho, seguiremos a classificao apresentada por BAZZO, LINSINGEN e
PEREIRA (2003); GARCA et al (1996) e PINHEIRO, MATTOS e BAZZO (2007) a saber:
a) Enxerto CTS: Introduo nas disciplinas de cincias dos currculos temas CTS,
principalmente com aspectos que possibilitem aos alunos uma conscientizao das
implicaes da cincia e da tecnologia. Alguns exemplos de trabalhos nessa linha so o
projeto SATIS (Cincia e Tecnologia na Sociedade), da Europa e o Harvard Project
Physics, dos Estados Unidos. A vantagem do enxerto CTS a possibilidade de se
incluir a abordagem CTS mantendo-se, ainda, a estrutura curricular com a qual o
professor est acostumado e se sente seguro.
b) Cincia e Tecnologia atravs de CTS: Ensina-se atravs da estruturao dos contedos
das disciplinas, a partir de CTS ou com orientao CTS. Essa abordagem permite tanto
a estruturao de atividades por disciplinas isoladas quanto tambm por atividades
interdisciplinares. Um dos projetos pioneiros o programa holands conhecido como
PLON (Projeto de Desenvolvimento Curricular de Fsica), que trata de um conjunto de
atividades em que cada uma delas toma problemas bsicos com relevncia social e
relacionados com os futuros papis dos estudantes como consumidor, cidado e
profissional. A partir da, seleciona-se a estrutura do conhecimento cientfico e
tecnolgico necessrio para que o aluno esteja capacitado para entender um artefato,
tomar uma deciso ou compreender um ponto de vista sobre um problema social
relacionado, de algum modo, com a cincia e com a tecnologia. Essa perspectiva
apresenta algumas virtudes como, por exemplo, propor atividades desenvolvidas a
partir de um contedo pertinente ao contexto familiar e relacionado com experincias
extra-escolares dos alunos. Assim, eles aprendem mais facilmente contedos cientficos
e tecnolgicos teis, alm de refletirem criticamente sobre o papel da cincia e da
tecnologia na sociedade e em suas vidas.
c) CTS puro: Nesta categoria, o contedo cientfico passa a ter um papel subordinado,
podendo ser utilizado para enriquecer a explicao de contedos CTS. Algumas vezes,
as referncias aos contedos cientficos ou tecnolgicos so apenas mencionadas,
porm no explicadas. O programa que melhor representa o CTS puro o SISCON
(cincia no contexto social) na escola. Trata-se de uma adaptao do programa
7
O homem sempre procurou meios para suprir suas necessidades, desde a antiguidade,
criando artefatos que pudessem facilitar sua vida e possibilitar sua adaptao ao meio em que
vive. Porm, em tempos passados, as criaes estavam em harmonia com a natureza, como
no caso dos moinhos, que aproveitavam a energia fornecida pelo vento, e o trabalho dos
camponeses no cultivo de alimentos, que no agredia o campo.
Hoje, o homem no obedece natureza, buscando meios de desafi-la a sempre
produzir mais e mais. Isso se observa, por exemplo, nas plantaes, que exploram
demasiadamente os solos para aumentar a produo e no consumo de energia, que aumenta a
cada dia com o homem utilizando os recursos naturais sem se adequar a eles. Se preciso for, o
homem modifica a paisagem e utiliza meios que futuramente podem gerar graves problemas
ambientais, como hidreltricas que provocam o alagamento de enormes reas e usinas
termonucleares, que envolvem grandes controvrsias em torno do lixo nuclear gerado, entre
outros meios de obter energia para suprir a demanda mundial. Sem dvida, a tcnica utilizada
atualmente se distingui da utilizada na antiguidade, porm sempre esteve presente na vida
humana.
As dcadas de 60 e 70 foram marcadas por algumas catstrofes relacionadas
tecnologia. Surgiram, ento, movimentos crticos a ela, como a Environmental Protection
Agency (EPA2- Agncia de Proteo Ambiental) e o Office of Technology Assessment (OTA3
Escritrio de Avaliao de Tecnologia), ambos criados nos Estados Unidos.
Tambm entre 1811 e 1816, surgiu o movimento ludita, em oposio mudana
tecnolgica que ocorreu durante a Revoluo Industrial. Este foi um movimento com apoio
popular, quando os luditas reivindicaram o fim da explorao infantil, as redues salariais,
entre outras condies. A manifestao expressou-se mediante a destruio de mquinas,
sendo a maioria da indstria txtil. A partir de ento, a expresso ludita passou a significar
uma oposio radical tecnologia. Dentre as lies que podemos aprender com o movimento
ludita, destacaremos, neste trabalho, uma de grande importncia, pois ressalta a falta de
neutralidade das tecnologias, que so construdas na maioria dos casos, valorizando somente
fatores de carter econmico correspondentes ao interesse de uma pequena parcela da
populao. Assim,
...a tecnologia no neutra, como sustentam muitos tecnfilos. De fato, no
podemos ver as tecnologias como um conjunto de ferramentas ou dispositivos,
de maior ou menor complexidade, que podem ser utilizados para o bem ou
para o mal. Muito pelo contrrio, as tecnologias expressam valores e ideologias
das sociedades e dos grupos que geram (BAZZO, LINSINGEN e PEREIRA,
2003, p. 72.).
2
Criada em 1969, a fim de antecipar, regular e corrigir os impactos ambientais negativos gerados pelos novos produtos cientficos-
tecnolgicos. Posteriormente, proibir o uso do DDT, j denunciado por Raquel Carson em Silent Spring, em 1962.
3
Desenvolvida em meados da dcada de 90, devido a reduo de gastos pblicos promovido pela maioria republicana do
Congresso marca, desde a sua criao, o padro internacional com respeito avaliao da tecnologia. Divide-se em trs mbitos
de trabalho: 1) energia, materiais e segurana internacional; 2) cincia da vida e da sade; e 3) cincia, informao e recursos
naturais.
9
Cabe destacar, ainda, que associamos tecnologia a todos os artefatos criados pelo
homem, como a TV, computadores, remdios, edifcios, etc; porm, o termo tecnologia
carrega consigo um sentido maior. A tecnologia no so os prprios objetos, pois estes so
produtos da Tecnologia. Os artefatos possuem em si os interesses, as limitaes, os valores
dos responsveis por sua criao, estando diretamente ligados cultura e sociedade em que
esto inseridos. Desse modo, a compreenso de tecnologia vai alm dos objetos materiais que
adquirimos, possuindo em seu mbito o projeto de sociedade (ORTEGA Y GASSET, 1963).
A viso tradicional que possumos, do poder salvacionista da cincia e tecnologia, nos
faz acreditar que investir em cincia e tecnologia propor solues para todos os problemas
da humanidade e tornar a vida mais fcil (VALRIO e BAZZO, 2006; AULER e DELIZOICOV,
2001). Essa viso faz com que se d pouca importncia aos impactos causados pela
tecnologia e, tambm, sobre a tecnologia em si: sua finalidade, o que est por trs dessa
criao e suas consequncias.
Dessa forma, cincia e tecnologia podem solucionar problemas e beneficiar muito a
sociedade, mas ingnuo pensar que + cincia = + tecnologia = + bem-estar social (BAZZO,
LINSINGEN e PEREIRA, 2003). Embora tal viso seja muito difundida pela mdia, pelo meio
acadmico e pela maioria das pessoas, ela deve ser refletida nas aulas de Fsica e Cincias
em geral.
Ressaltam ainda VALRIO e BAZZO (2006) que os avanos no campo da cincia e da
tecnologia dificilmente podem ser utilizados por todos os cidados, propiciando, assim,
possibilidades de dominao econmica e cultural. Contudo, seus riscos atingem a todos,
independentemente de serem ou no beneficiados por esses avanos.
Assim como o poder salvacionista, consideramos que as decises em relao cincia
e tecnologia devem ser tomadas pelos especialistas, tcnicos ou cientistas, e que eles
sempre tero as melhores solues para os problemas, que so de todos os cidados.
Contudo, para participar das decises, no necessrio ser um especialista em cincia e
tecnologia, mas, acima de tudo, uma pessoa capaz de refletir sobre os riscos e consequncias
desses conhecimentos empregados na sociedade (PRAIA, GIL PREZ e VILCHES, 2007).
Dessa forma, pensar a cincia e a tecnologia como coisa de especialistas consider-
las como neutras, o que deve ser repensado. Para isso, um olhar mais crtico se faz necessrio
e a alfabetizao cientfica e tecnolgica um dos caminhos para desmitificar essas vises e
possibilitar aos cidados uma participao mais efetiva nas decises sobre o desenvolvimento
cientfico e tecnolgico.
Notamos, ainda, que a credibilidade total dada cincia e tecnologia vem sendo
abalada, principalmente aps a Segunda Guerra Mundial, devido ao reconhecimento dos riscos
que podem vir paralelamente ao progresso cientfico e tecnolgico. Assim, uma nova postura
10
vem sendo estabelecida aps a segunda metade do sculo XX, pois os avanos, alm de no
beneficiarem a todos, congregam, muitas vezes, efeitos indesejveis.
Embora ainda exista a concepo de que os benefcios que a cincia e a tecnologia
oferecem sociedade so maiores que seus riscos; atualmente, um olhar mais crtico em
relao a isso tem surgido (VALRIO e BAZZO, 2006; RAMOS e SILVA, 2007).
Apesar de os professores de Fsica, muitas vezes, se preocuparem em mostrar aos
alunos como se d o funcionamento de um determinado aparato, eles se esquecem de pensar
que toda tecnologia traz em seu bojo certa concepo de sociedade. Assim, de fundamental
importncia questionar como a tecnologia afeta a vida do cidado (ANGOTTI, BASTOS e
MION, 2001).
Dessa forma, participar do mundo tecnocientfico vai alm de saber manusear as novas
tecnologias, pois preciso refletir sobre os impactos gerados quando estas so inseridas na
sociedade. Conforme afirmam BAZZO, LINSINGEN e PEREIRA (2003), o tecnolgico no
somente aquilo que constri a realidade fsica, mas aquilo que transforma e constri a
realidade social.
Ainda que a tecnologia traga uma gama de benefcios que podem ser claramente
destacados em vrias reas, como medicina, transporte e comunicao, entre outras,
facilitando e melhorando a qualidade de vida de muitas pessoas, ela apresenta riscos que
podem ou no ser previstos no momento de sua aplicao. Os perigos dessa utilizao podem
at ser mnimos individualmente, mas, quando analisados no coletivo, podem adquirir uma
contribuio significativa. Como exemplo disso, podemos citar o uso do refrigerador, que foi
sem dvida um progresso na conservao de alimentos, porm o vazamento do gs CFC
utilizado no seu sistema de resfriamento afetava a camada de oznio. Inclusive, vale destacar
que o CFC no mais utilizado nos refrigeradores atuais.
Para alguns tericos, as vises que muitos professores e estudantes possuem sobre a
natureza da cincia e da tecnologia so ingnuas, empobrecidas e distorcidas (RIBEIRO e
BENITE, 2009; GIL PREZ et al, 2001; PRAIA, GIL PREZ e VILCHES, 2007; TEIXEIRA, EL-
HANI e FREIRE JR, 2001; SCHEID, FERRARI e DELIZOICOV, 2007; REIS e GALVO, 2005).
Tambm a cincia muitas vezes encarada como uma instncia absoluta (AULER e
DELIZOICOV, 2001), neutra, uma tarefa de gnios solitrios, mesmo que no possamos falar
de uma viso nica e aceita universalmente sobre cincia e tecnologia. Contudo, independente
da viso que possumos, impossvel negar a relao intrincada entre cincia e educao,
visto que por meio da educao formal que os estudantes tm seu primeiro contato com a
cincia (RIBEIRO e BENITE, 2009).
Pesquisas como as de ESPNDOLA e RICARDO (2004), FOUREZ (2003) e de
CHRISPINO et al (2011) mostram que a concepo de muitos professores sobre a tecnologia
aquela que a aponta como cincia aplicada, sendo essa ideologia dominante. Ento,
11
Essa imagem da tecnologia como cincia aplicada contribui para que, tradicionalmente,
se d pouca importncia a sua anlise. Ao se considerar a cincia como neutra, ento os
artefatos, produtos de sua aplicao, tambm o sero; seu uso ser bom, pois no geraro
problemas ticos, polticos e sociais (BAZZO, LINSINGEN e PEREIRA, 2003).
Logo, para que o ensino de Fsica contribua na participao do aluno na sociedade de
forma mais efetiva, ele no deve ter como objetivo apenas a aprendizagem de fatos, teorias e
leis, pois preciso proporcionar ao aprendiz uma compreenso crtica da natureza da cincia e
da tecnologia.
Um dos objetivos da alfabetizao cientfica, portanto, a compreenso da NdC e da
NdT, sendo a insero de aspectos epistemolgicos no ensino de cincias uma das metas
atuais da educao: compreender as cincias como construes humanas, entendendo como
elas se desenvolvem por acumulao, continuidade ou ruptura de paradigmas, relacionando o
desenvolvimento cientfico com a transformao da sociedade (BRASIL, 2000, p.95).
Entretanto, apenas o discurso sobre a cincia e a tecnologia no suficiente para essa
compreenso. Vivenciar um projeto de investigao, ainda que em carter simplificado, poder
ajudar os alunos a vislumbrar questes que no se encontram nos textos sobre NdC e NdT .
Destacaremos, assim, neste trabalho de pesquisa, os aspectos relacionados a NdT, apesar de
acreditar que, durante esse projeto, os alunos puderam compreender tambm aspectos
importantes da NdC.
12
Captulo II Experimentos
b) Ensinar o mtodo cientfico: Muitos professores acreditam que por meio das atividades
experimentais os alunos aprendem sobre a natureza da cincia e sobre o mtodo
cientfico, passando a ideia de que existe um mtodo nico e infalvel, com uma
sequncia de etapas que devem ser seguidas rigorosamente. A atividade experimental
importante, mas devem ser destacadas as diferenas e limitaes entre a atividade
realizada nos laboratrios escolares, com fins pedaggicos, e a investigao emprica
realizada pelos cientistas.
d) Ensinar habilidades prticas: Este objetivo deve ser analisado criticamente, pois existem
algumas habilidades que no podem ser ensinadas, como o caso de fazer
observaes e classificar, entre outras, que dependem das expectativas e ideias prvias
de cada um sobre dado fenmeno. J outras habilidades so importantes e adquirem
relevncia na atividade experimental, como no caso de aprender a usar equipamentos e
instrumentos especficos, medir grandezas fsicas e realizar pequenas montagens, o
que dificilmente o estudante ter oportunidade de vivenciar fora do laboratrio escolar.
Alm disso, h outras ferramentas teis para qualquer cidado, como repetir
procedimentos para aumentar a confiabilidade dos resultados obtidos, aprender a
15
Nos captulos seguintes, ento, as caractersticas deste trabalho se fazem mais claras.
Reiteramos, ainda, que nosso objetivo foi inserir os alunos na atividade investigativa por meio
de um problema real apresentado pelo professor. Nesse processo, os alunos se posicionaram
frente ao problema e, ao final, apresentaram uma possvel soluo que, posteriormente, foi
desenvolvida e testada por eles mesmos. Vale destacar que os pesquisadores (professores)
atuaram no sentido de orientar o grupo de alunos nos momentos de falta de clareza ou
consenso e em caso de dvidas, em nenhum momento impondo os caminhos que deveriam
seguir, mas sempre questionando e monitorando o trabalho do grupo.
17
HERNNDEZ & VENTURA (1998) propem a utilizao dos projetos de trabalho como
forma de organizar o currculo escolar. Frente a isso, ressaltamos que o objetivo do projeto
com as clulas de inovao foi inserir os alunos na resoluo de um problema concreto como
destacamos anteriormente. Entretanto, sendo o projeto deste trabalho desenvolvido como
19
alm de propor hipteses sobre as conseqncias dessa pluralidade de pontos de vista (cf.
HERNNDEZ, 1998, p. 86).
LEVANTAMENTO DO PESQUISA
PROBLEMA EXPLORATRIA:
PR-TESTE
PROBLEMATIZAO
DISCUSSO DO PROBLEMA
PESQUISA
ETNOGRFICA
DESENVOLVIMENTO DO
PROJETO INOVADOR:
TESTE DE SOLUES
PS-TESTE E GRUPO
APRESENTAO DE
FOCAL
SOLUES
25
IV. 1 O Pr-teste
Antes do incio dos debates sobre as questes apresentadas na proposta de trabalho,
realizou-se uma pesquisa exploratria que consistiu de um questionrio semi-aberto - disposto
no apndice I. Com o intuito de criar uma referncia para o desenvolvimento do projeto, o
questionrio foi aplicado nas trs clulas de inovao, em horrios extraclasse combinados
para a realizao dos trabalhos. Alm de focar nas questes sobre NdC e NdT, as perguntas
visavam diagnosticar as concepes dos alunos sobre os temas abordados, voltados mais para
uma Fsica contextual. Nosso interesse no foi simplesmente averiguar conhecimentos fsicos,
mas sua relao com a sociedade e com o mundo.
Outro ponto que vale salientar o fato de os contedos fsicos envolvidos no trabalho
no fazerem parte do programa de Fsica do primeiro ano (Mecnica). Nesse caso, as aulas
no influenciaram diretamente no ncleo do processo de aprendizagem do projeto
(Termodinmica), j que este ltimo tpico s estudado no segundo ano. Isso permitiu
perceber melhor o impacto do projeto como ferramenta de aprendizagem.
Ainda por meio da proposio de algumas questes, pretendemos analisar duas
vertentes: i) a viso de Natureza da Cincia e Tecnologia analisar como os alunos entendem
o processo de construo do conhecimento cientfico e suas relaes com a tecnologia, com
foco na atividade que seria desenvolvida; e ii) os conceitos relacionados ao tema do projeto
diagnosticar que conhecimentos os alunos tinham a respeito dos temas que seriam abordados
para que esses pudessem ser aperfeioados ou at mesmo mudados.
Enquanto a primeira parte do questionrio foi composta por 5 questes abertas que
relacionavam cincia, tecnologia, o trabalho dos cientistas e engenheiros e suas implicaes
na sociedade, a segunda parte abordou questes sobre aquecimento global, fontes de energia,
energia limpa e aquecedor solar (BRAGA e SENRA, 2010). A anlise da pesquisa inicial serviu
de apoio para a elaborao do projeto de investigao desenvolvido durante o ano de 2010.
Assim, a pesquisa foi realizada com os participantes do projeto, inicialmente composto
por 27 alunos de trs turmas do Ensino Mdio do CEFET/RJ, sendo 8 alunos do curso tcnico
de Mecnica, 4 do curso tcnico de Segurana do Trabalho, 2 de Edificaes e12 alunos do
curso tcnico de Eletrnica, como j especificado anteriormente.
IV. 2. 1 Resultados
O questionrio permitiu averiguar algumas imagens presentes no cotidiano escolar no
que se refere NdC, NdT e s implicaes com a sociedade, as quais se classificam como
ingnuas e deformadas (GIL PREZ et al, 2001).
Uma parcela significativa dos alunos pesquisados, 26%, possui uma viso generalista
sobre o que Cincia. Responderam, sem muitas reflexes, que a Cincia o estudo de
tudo. J outros 26% consideraram a necessidade de um mtodo cientfico, ou seja, um
conjunto de etapas a se seguir mecanicamente, destacando a necessidade de um rigor e o
carter exato dos resultados. Essa uma viso considerada deformada e ingnua quanto ao
trabalho cientfico, destacada como uma viso rgida (algortima, exata, infalvel, ...) (GIL
PREZ et al, 2001), muito presente entre ao professores de Cincias.
Para melhor exemplificar as vises dos entrevistados, transcrevemos, a seguir, algumas
de suas falas. Em A16 e em A17, por exemplo, percebemos uma viso rgida:
A16: Um processo lgico atravs do qual se chega a uma teoria...
A17: Todo estudo direcionado a alguma coisa, aplicado objetivamente e com mtodo
que gere alguma concluso que seja possvel de ser comprovada cincia.
Entretanto, 7,5% dos alunos consideraram a importncia dos conhecimentos anteriores
e a possvel mudana do conhecimento atual em suas respostas, conforme se observa em A18
e em A25, a seguir:
A18: Cincia so conhecimentos obtidos ao longo de vrios anos que podem ser
mudados com o passar dos anos e com o avano da tecnologia.
A25: Cincia a obteno do conhecimento atravs de anlises experimentais ou
no... Esse conhecimento pode ser alterado por pesquisas posteriores.
possvel perceber, ainda, nas respostas de outros 7,5%, uma associao ao trabalho
cientfico, quase exclusivamente ao trabalho laboratorial, como em A24:
29
sociais, econmicas, polticas e culturais (FOUREZ, 2003) geradas com o emprego das
diversas tecnologias na sociedade.
Apesar de no classificar a tecnologia como Cincia aplicada, 15% dos alunos
participantes acreditam que a cincia estabelece sempre um avano em benefcio da
sociedade e 7.5% deles consideram a tecnologia um mero estudo de tcnicas e regras, sem
muitas reflexes. Essa viso pode ser um reflexo das aulas, muitas vezes repletas de
resoluo de exerccios e memorizao de frmulas.
Em relao ao trabalho do cientista (Questo 3), 48% afirmaram que os eles trabalham
atravs do Mtodo Cientfico. Mesmo aqueles que no usaram a expresso Mtodo Cientfico
especificamente, suas respostas induzem a tal concluso. Como dito anteriormente, trata-se de
uma viso que pode estar sendo difundida entre os alunos devido s prticas de laboratrio
tipo receiturios e tambm por ser uma concepo presente entre professores, associando-se
natureza do trabalho cientfico um suposto mtodo cientfico, nico, algortmico, bem definido
e at mesmo infalvel (GIL PEREZ et al, 2001).
Enquanto 30% dos estudantes tm a viso de que os cientistas trabalham descobrindo,
inovando, buscando novos conhecimentos e desenvolvendo novas tecnologias para benefcio
da sociedade, 7.5% deles acreditam que o trabalho dos cientistas exclusivamente
experimental e outros 7.5% atriburam aos cientistas a tarefa de resolver problemas presentes
no mundo em geral. Vale salientar, entretanto, a resposta de um aluno que deixa claro que os
cientistas trabalham baseando-se em teorias e pesquisas anteriores, o que pode ser verificado
em A9, como se segue:
A9: ... No trabalham baseados no nada, mas sim em ideias, conceitos e teorias j
existentes.
Dessa forma, no se encontrou nenhuma meno influncia do ambiente fsico e
social no qual o cientista est inserido e, mais uma vez, notamos a falta de reflexo sobre as
relaes CTS. O pensamento de que fazer cincia no nada mais do que tarefa de gnios
solitrios constitui uma imagem muito difundida. O prprio ensino de Cincias pouco contribui
para super-la, pois as aulas se limitam transmisso de contedos conceituais e ao treino de
algumas destrezas, pouco se falando dos aspectos histricos, sociais, culturais e polticos que
caracterizam o trabalho e o desenvolvimento cientfico (GIL PERZ et al, 2001).
Assim, da mesma forma como os alunos classificaram a tecnologia como Cincia
aplicada de modo a facilitar nossas vidas, tambm o trabalho do engenheiro, nessa viso,
utilizar a cincia a fim de construir novas tecnologias, ou seja, colocar em prtica o que est no
campo terico. Essa imagem do trabalho dos engenheiros foi manifestada por 33% dos alunos
pesquisados, segundo se observa nas respostas A12, A11 e A25:
A12: Eles aplicam o que a Cincia descobriu no campo em que facilita as coisas (falar
com uma pessoa no Japo ... ou dizimar uma nao com uma bomba atmica...).
31
5
As respostas transcritas no sofreram correo ortogrfica.
32
1- O que voc entende sobre aquecimento global? Considera uma verdade ou um mito?
Justifique.
2- Existe relao entre efeito estufa e aquecimento global? Explique sua resposta.
5- A figura abaixo mostra uma placa de um coletor feito base de garrafas pet e caixas
de leite longa vida. Observe que as caixas de leite esto pintadas de preto. Voc sabe
por qu?
33
7 Voc conhece aparatos de utilizao da energia solar em larga escala? Cite exemplos.
6
Efeito estufa aqui no est sendo usado como uma camada adicional de gases que no permite a sada da radiao refletida e
emitida pela Terra. Mas como o efeito natural produzido pela atmosfera e que funciona como regulador da temperatura no planeta.
34
Termeltrica 09 (33%)
Hidreltrica 10 (37%)
Solar Fotovoltaica 22 (81%)
Elica 23 (85%)
Termonuclear 03 (11%)
Mars 18 (67%)
Biomassa 09 (33%)
Geotrmica 17 (63%)
se tem ideia, ento, de que toda tecnologia possui um projeto de sociedade em seu bojo
(ORTEGA Y GASSET, 1963). Esse ponto dever ser melhor investigado durante o projeto.
Apesar da maioria dos alunos no conhecer ou no entender o significado do termo
clulas fotovoltaicas, eles sabiam da existncia de alguma forma de converso da luz solar
em eletricidade e acreditam ser esta uma fonte de energia limpa, porm no discutiram o custo
de sua implantao.
Alm do desconhecimento em relao ao termo clulas fotovoltaicas, os alunos
tambm no conheciam energias geotrmicas, biomassa e energias provenientes das mars,
mesmo que as tenham classificado como limpas. Embora no se tenha verificado, acreditamos
que isso se d pela influncia do jornalismo televisivo, que comenta o fenmeno, mas no o
explica.
Como o projeto versa sobre a produo de calor por coletores solares, procuramos
investigar a compreenso dos alunos sobre essa forma de energia. No questionamento
referente s energias que consideravam provenientes do Sol, 21 alunos, 78% do total,
classificaram a fotovoltaica; 11%, as geotrmicas; 30%, as termeltricas e, apenas um aluno, a
termonuclear. Apesar disso, a maioria deles no fez qualquer meno importncia do Sol na
origem de praticamente todas as outras fontes de energia, alm de nenhum aluno considerar a
elica e a hidreltrica como energias derivadas do Sol. Tambm poucos dos pesquisados
sabiam que por meio da energia do Sol que se d a evaporao, origem do ciclo das guas,
fundamental para o funcionamento das hidreltricas. Igualmente, eles desconheciam que a
radiao solar tambm responsvel pela circulao do ar e, na sua maioria, consideraram o
Sol responsvel apenas pela converso direta da luz solar em eletricidade.
Em relao ao aquecedor solar, a resposta predominante, dada por 13 alunos, 48% do
total, foi de que o Sol aquece o coletor e esse calor transferido at o reservatrio trmico,
aquecendo, assim, a gua, conforme em A2, a seguir:
A2: Os coletores solares captam o calor e o fornecem para o reservatrio trmico....
fazendo com que a gua, antes de sair, passe pelo reservatrio e saia aquecida.
Durante a investigao, 3 alunos confundiram coletores solares com clulas
fotovoltaicas. Um deles observou:
A3: Os coletores solares so colocados geralmente em cima dos telhados das casas,
onde geralmente o calor maior, e todo calor gerado vai para um conversor, onde a energia
gerada levada para toda a casa.
A questo anterior gerou um fato digno de nota: ao ser colocada a figura para ilustrar
um aquecedor solar, a quase totalidade dos alunos tentou responder a partir de uma
interpretao de seu funcionamento. Tal fato pode ter sido provocado, ento, pelo treinamento
tcnico que a maioria possui em termos de interpretao de projetos.
36
7
As fotografias tiradas durante o projeto possuem autorizao, assinada pelos responsveis, para serem divulgadas.
Figura V.1 - Clula C (alunos do curso tcnico de eletrnica) - Debate
40
Figura V. 2 Clula C
8
Disponvel em: http://g1.globo.com/videos/jornal-nacional/v/toquio-e-exemplo-na-reciclagem-de-celulares-
velhos/1257167/#/Edi%C3%A7%C3%B5es/20100503/page/2
9
Disponvel em: http://g1.globo.com/videos/jornal-nacional/v/eua-recicla-so-10-do-lixo-
produzido/1257772/#/Edi%C3%A7%C3%B5es/20100504/page/1
41
material reciclado10; iv) Faltam aterros sanitrios no Brasil11 e v) Barcelona usa sistema
subterrneo para descartar lixo12.
Dessa forma, na discusso sobre o lixo, procuramos mostrar como os pases esto
usando a tecnologia para resolver o problema, dando um destino til para aquilo que seria
descartado e inovando o sistema de coleta. Nessa linha, pedimos aos alunos que
investigassem sobre projetos na sua cidade ou no seu bairro com relao ao destino do lixo.
Os estudantes, aps a pesquisa, trouxeram informaes sobre os projetos pesquisados,
como sistemas de coleta seletiva que existem em seus prdios. Assim, apresentaram um
projeto de reaproveitamento de leos vegetais, em que o leo utilizado coletado para ser
transformado em biodiesel e sabo pastoso. Nesse momento, o grupo demonstrou interesse
em fazer um trabalho de conscientizao nos seus prdios ou bairros, com relao ao destino
do leo usado. Para isso, eles entraram em contato com uma instituio a fim de obter
esclarecimento sobre o sistema de coleta do leo. Ento, depois de discutirem as maneiras de
popularizao da ideia, decidiram por fazer uma carta (anexo I) para promover em seus prdios
ou na vizinhana de seus bairros uma conscincia sobre o tema. Ainda devido a essa questo,
despertaram o interesse sobre conhecer melhor a fabricao de sabo a partir do leo
utilizado. Por fim, um aluno contactou um dos professores de Qumica do CEFET/RJ para obter
orientao sobre o processo de fabricao, e o professor disponibilizou o uso do laboratrio de
Qumica para a realizao dessa atividade.
J no 4 encontro, discutimos com os alunos as diversas formas de energia e as que
podem ser consideradas energias limpas. Para comear as discusses iniciamos com o
vdeo13 exibido no programa Globo Ecologia sobre aquecimento global e algumas formas de
energia. O programa mostra que Balbina (Usina Hidreltrica situada no Amazonas) 10
vezes mais poluente que uma termoeltrica. Antes do vdeo, porm, colocamos os alunos para
refletirem, respondendo a seguinte questo: O que uma fonte de energia limpa?, ao que
eles responderam que so aquelas que no poluem. Ento, perguntamos se uma hidreltrica
pode ser considerada limpa e se ela polui. Frente a esses questionamentos, eles concluram
que para classificar um tipo de energia como energia limpa no basta avaliar s os gases
emitidos, mas qualquer ato que afete o meio ambiente. Aps essa discusso, enfim, foi
apresentado o vdeo aos alunos. Durante o encontro, os alunos puderam compartilhar seus
conhecimentos sobre as diversas formas de energia com seus colegas e esclarecer suas
dvidas sobre as formas de energia sobre as quais no tinham muito conhecimento, como a
Geotrmica e a das Mars.
10
Disponvel em: http://g1.globo.com/videos/jornal-nacional/v/empresas-e-cidadaos-investem-no-aumento-de-material-
reciclado/1258939/#/Edi%C3%A7%C3%B5es/20100506/page/1
11
Disponvel em: http://g1.globo.com/videos/jornal-nacional/v/faltam-aterros-sanitarios-no-
brasil/1259575/#/Edi%C3%A7%C3%B5es/20100507/page/2
12
Disponvel em: http://g1.globo.com/videos/jornal-nacional/v/barcelona-usa-sistema-subterraneo-para-descartar-
lixo/1260016/#/Edi%C3%A7%C3%B5es/20100508/page/1
13
Disponvel em: http://www.youtube.com/watch?v=LPqKMEb86vc
42
Cabe destacar que todas as trs clulas de inovao participaram de forma integral ao
longo dos primeiros dois meses. A participao desses alunos era voluntria e no acarretava
em qualquer benefcio em termos de nota, que foi uma das condies a ser investigada, j que
a cultura das escolas a de sempre atribuir pontos s atividades. Desejvamos perceber como
a retirada desse fator poderia afetar o interesse e a motivao pela aprendizagem.
Os alunos da Clula de Inovao A foram os primeiros a iniciar o processo de
desistncia. A justificativa da no permanncia nos encontros foi o fato de terem notas baixas
em algumas disciplinas, inclusive em Fsica, precisando, assim, se dedicarem mais aos
estudos. Como, nos primeiros encontros, promovemos discusses sobre questes CTS, talvez
esse fato, associado ao surgimento de imprevistos como, por exemplo, a falta de uma sala fixa
para as reunies, possa explicar as desistncias. Outro fator que dificultou bastante a
participao dos alunos foi a existncia de aulas de disciplinas tcnicas no turno da tarde, o
que fez com que os encontros de uma das clulas de inovao fossem realizados no intervalo
do almoo.
A clula de inovao C foi a que demonstrou maior interesse sobre o assunto e
permaneceu com todos os alunos no decorrer dos encontros do projeto. Tivemos, ainda, a
oportunidade de assistir algumas aulas de Fsica junto com os alunos da clula de inovao,
percebendo que, durante as aulas convencionais, eles estavam mais participativos, curiosos e
interessados. Por este motivo, este trabalho de pesquisa se resume na investigao do Projeto
realizado com a clula de inovao C, j que esta foi a nica que realizou todas as atividades
propostas na tabela V.1, anteriormente apresentada.
No momento seguinte, durante as reunies, procuramos discutir diversos temas atravs
da apresentao de alguns vdeos e slides, mas as solues para as dvidas que surgiam
nunca eram dadas em prol de sempre se incentivar a pesquisa. Portanto, nesse processo, o
aluno deixa de ser um ouvinte, receptor de contedos, e passa a ser sujeito participativo no
desenvolvimento de seu conhecimento. Os alunos descobrem, pois, que tm uma
responsabilidade na sua prpria aprendizagem e que no podem esperar passivamente que o
professor tenha todas as respostas e solues. O professor, nesse processo, assume o papel
de facilitador (HERNNDEZ & VENTURA, 1998; MARTINS, 2009; HERNNDEZ, 1998).
Dessa forma, se apenas alguns alunos realizavam pesquisas, durante os encontros eles
compartilhavam as respostas encontradas com os demais colegas do grupo. Observamos,
ento, que a fonte de pesquisa mais usada pelos alunos era a internet, por isso procuramos
sempre incentivar o uso de fontes confiveis.
No momento da discusso sobre as fontes de energias e sobre aquelas que so
classificadas como limpas, a Energia Nuclear gerou grande polmica devido s dvidas que
surgiram quanto ao seu funcionamento, s curiosidades sobre fisso, fuso, bomba atmica,
destino do lixo atmico e acidentes nucleares, entre outros. Como, nesse perodo, estava em
43
cartaz na Casa da Cincia da UFRJ uma exposio sobre Energia Nuclear, sugerimos a visita
exposio para maior esclarecimento do tpico. Logo, o 5 encontro foi a ida exposio, na
Casa da Cincia, registrada a seguir, na Figura V.3. Observamos que a exposio contribuiu
em muito para as discusses nos encontros seguintes, pois diversas dvidas sobre essa forma
de energia foram esclarecidas, ampliando o conhecimento dos alunos em relao s
aplicaes da energia nuclear como, por exemplo, sobre a irradiao de alimentos, ponto que
alguns no conheciam.
14
Site do CRESESB: http://cresesb.cepel.br/
45
que contribuiu em muito para o esclarecimento sobre o funcionamento de ambos. Alm disso,
l puderam conhecer geradores de energia elica e o sistema de baterias utilizado na casa
para armazenar a energia solar. Ainda durante a visita, os alunos tiveram a oportunidade de
falar sobre o projeto e a construo do aquecedor, recebendo dicas e sugestes para isso.
15
Todo o processo de construo do aquecedor solar pode ser visto em: http://projetoaquecedorsolar-cefet.blogspot.com/
47
avaliaram foi a cor das garrafas, que deveriam ser de plstico transparente para melhor
absoro do calor. Segundo o que foi discutido em encontros anteriores, quanto necessidade
de um teste preliminar antes da construo em larga escalar, os alunos decidiram construir um
prottipo contendo apenas uma placa, com 25 garrafas pet. Para isso, deveriam adaptar uma
caixa dgua menor, j que o painel aqueceria um volume menor de gua. Sugeriram, assim,
utilizar uma caixa de isopor de 50 litros que ajudaria a manter a gua aquecida por mais tempo.
Vale destacar que o aquecedor solar proposto no era uma novidade feita por esses
alunos, mas espervamos que, por meio dele, surgissem inovaes, j que a ideia no era
simplesmente reproduzir e sim reajustar, testar e at mesmo inovar.
O manual disponvel esquematizava todo o processo de instalao do aquecedor em
uma residncia, pois, de acordo com o que relatamos anteriormente, no foi possvel instal-lo
nas dependncias do colgio e, por isso, adaptaes como a da caixa dgua foram
necessrias.
Quanto pintura das caixas de leite com tinta preta fosca (ver figura V.6, a seguir), os
alunos sugeriram a construo de um segundo prottipo utilizando a parte metlica interior das
caixas de leite (ver figura V.7), no qual a caixa dgua utilizada seria um galo de 20 litros de
gua (ver figura V.8).
No momento seguinte, foi realizado todo o processo de montagem do equipamento,
lembrando que durante toda esta etapa procuramos questionar os alunos sobre o porqu de tal
procedimento para que o processo no fosse meramente mecnico. Assim, questionamos, por
exemplo, por que pintar as caixas e os canos de preto; por que vedar as garrafas; por que no
usar cola PVC na parte inferior do painel como sugerido no manual; como ocorre o
aquecimento da gua sem o uso de uma bomba; e onde entra o efeito estufa no funcionamento
do aquecedor. Dessa forma, sempre levamos os alunos a refletirem sobre o trabalho
executado, nunca fornecendo a resposta imediata, mas colocando-os para pensar, pesquisar e
refletir durante todo o processo.
Figura V. 8 Galo de 20 litros e caixa de isopor de 50 litros usados como caixas dgua.
No decorrer de todo o projeto, alm dos conceitos fsicos adquiridos, procuramos avaliar
como os alunos se organizavam nas clulas de inovao e como interagiam uns com os
outros. Observamos, ento, que durante os encontros iniciais todos se mostraram co-
responsveis pelo processo. Na etapa de construo do aquecedor, um aluno procurou
orientar o restante do grupo quando no sabiam o passo a seguir. Contudo, de forma
interessante, ele no dava ordens, mas colocava os colegas para refletirem sobre o motivo
daquele passo seguinte, o porqu do uso de dado material e no de outro, entre diversos
direcionamentos. Esse tipo de participao no Projeto foi muito positiva, pois ajudou a evitar o
trabalho mecnico e sem sentido na fase da construo, alm de contribuir para que os alunos
pudessem compreender o funcionamento do coletor solar.
Assim, durante a construo dos dois prottipos, os alunos procuraram um local no
CEFET/RJ em que poderia ser instalado o coletor para a verificao de seu funcionamento e
de sua eficincia. Aps a observao, verificando a incidncia solar ao longo do dia e a
facilidade de acesso para fazer as medies necessrias, decidiram pela instalao na piscina
49
do colgio (ver figura V.9), tendo pedido, para isso, autorizao ao responsvel. Logo que
autorizada a instalao, comeamos a etapa e, para as medies, um aluno se prontificou a
construir um termmetro digital para aferir a temperatura da gua. Cabe ressaltar que tanto
esse aluno quanto os outros envolvidos no grupo eram do curso tcnico de eletrnica, e a
maneira encontrada por ele de conectar o curso ao projeto foi construindo um dispositivo
eletrnico para medir a temperatura da gua no aquecedor (ver figuras V.10 e V.11). Dessa
forma, para construir o termmetro, o aluno utilizou seus conhecimentos de eletrnica e pediu
ajuda aos professores nas etapas em que ainda no tinha conhecimentos suficientes. Outro
ponto que necessitavam verificar durante a instalao era a posio em que deveriam colocar
o aquecedor em relao ao sol.
Depois de posicionado e instalado o coletor, foi colocada gua nas caixas (isopor e
galo de 20 litros). A partir desse momento, vrios problemas surgiram nas vedaes,
principalmente nas conexes da caixa de isopor e do galo, o que danificou um dos coletores.
Dessa forma, visto que a tarefa agora era solucionar os vazamentos, os alunos testaram vrios
materiais, porm as providncias foram em vo. Eles somente conseguiram solucionar o
problema com a ajuda de um funcionrio do CEFET/RJ, que indicou um tipo de vedao que
poderia ser usada com gua nas caixas, de modo que no precisariam desmontar os
aquecedores para solucionar os vazamentos.
Figura V.15 - Canos danificados pela exposio ao Sol sem circulao de gua
VI.1 Ps-teste
Participaram do ps-teste 12 alunos, do total de 13 participantes at o fim do projeto.
Durante a aplicao do questionrio, percebemos que o desinteresse por responder as
questes vinha, primeiramente, pelo fato de o projeto ter terminado. Outras justificativas seriam
por j o terem respondido no incio da pesquisa e, possivelmente, quanto parte que aborda o
aquecedor solar, os alunos j o terem explicado inmeras vezes na Expotec.
Na primeira parte do questionrio, questes de 1 a 5 (apndice I), as respostas com
relao ao que Cincia, ao que Tecnologia e como trabalham os cientistas e engenheiros,
no sofreram grandes mudanas. Os alunos continuaram a associar cincia a Mtodo
Cientfico (2 alunos), a experimentos (2 alunos) e resoluo de problemas e questes (3
alunos). Diagnosticamos, ainda, nas respostas deles, a viso de que cincia no algo
infalvel, mas que est susceptvel a mudanas (4 alunos).
Contudo, pudemos perceber um pequeno avano nas respostas com relao
construo do conhecimento cientfico. A ideia de que fazer cincia no mais do que a tarefa
de gnios solitrios no foi to detectada se comparada com a pesquisa pr-teste, como
segue exposto em A1:
A1: um conjunto de ideias, que com o tempo e a dedicao de outros profissionais
so modificadas e constituem a informao que explica os problemas da poca.
Com relao tecnologia, a maioria dos entrevistados, 90%, a associou tcnica com
fins de melhorar a vida humana. Percebemos, assim, que os alunos continuavam vendo a
tecnologia apenas como uma ferramenta, um objeto capaz de facilitar a vida da sociedade,
mas sem refletirem sobre a sua utilizao. Em relao ao trabalho dos cientistas e
engenheiros, 66% utilizaram a palavra mtodo cientifico ou a explicao se deduziu a isso.
J quanto questo que se refere ao uso das novas tecnologias e se essas podem
salvar ou agravar ainda mais a situao do planeta, 8 alunos destacaram que depende da
55
maneira como elas so usadas. Apenas 2 alunos afirmaram que as novas tecnologias podem
melhorar e no salvar o planeta, mas partindo do pressuposto de que elas foram criadas para
esse fim especfico, exemplificando com os temas trabalhados ao longo do Projeto, como a
aplicao da tecnologia no uso de fontes de energia menos poluentes. Isso se confere em A12:
A12: Podem melhorar o estado do planeta, porque podem poluir menos. Salvar ainda
est distante, mas podem melhorar seu estado.
Mesmo considerando que a tecnologia planejada e utilizada para facilitar as atividades
humanas, percebemos nas respostas do ps-teste um olhar mais questionador com relao s
tecnologias e ao seu emprego na sociedade, o que em A10, a seguir, se confirma:
A10: Podem salvar o planeta ou tambm podem agravar ainda mais, vai depender de
que tecnologia essa e de sua aplicao.
Na parte B do questionrio, quanto abordagem de conceitos inerentes ao projeto,
questo 6, apenas um aluno considerou o aquecimento global um mito. O restante acreditava
nas to comentadas consequncias do aquecimento global, sendo que dois alunos associaram
esse aquecimento a um processo natural. Vejamos A4:
A4: O aquecimento da atmosfera gradativamente. Considero um mito e que faz parte
de mudanas naturais da Terra.
Contudo, 7 alunos acreditavam que o aquecimento resultado da intensificao do
efeito estufa pelas aes humanas, como explicitado em A6, abaixo:
A6: Aquecimento da Terra intensivo devido a ao humana. A Terra tem uma forma de
conservar o calor , o efeito estufa. A radiao solar entra, entretanto o calor fica retido pelos
gases estufa como: H2O, CH4, CO, CO2. A ao humana provoca maior liberao desses
gases, assim o calor fica mais retido aumentando a temperatura da Terra.
Na aplicao do questionrio, nas respostas s questes 6 e 7 sobre aquecimento
global e efeito estufa, percebemos duas vertentes sendo estabelecidas por meio dos
comentrios de 2 alunos: enquanto um considerou o aquecimento global como natural, assim
como a era glacial, mas viu a ao humana como intensificadora desse fenmeno, o outro
ponderou que o aquecimento global a intensificao do efeito estufa. A partir desses
comentrios, decidimos abrir no grupo focal uma discusso sobre essas duas vises.
Observamos, ento, que nos debates iniciais sobre o aquecimento global, suas causas
e consequncias, de certa forma focamos em apenas uma das possveis hipteses sobre as
causas desse fenmeno. Porm, para VIEIRA e BAZZO (2007), duas so as possibilidades:
Cabe ressaltar que, assim como no decorrer do projeto percebemos que a maioria dos
alunos considerou a Energia Solar como a fonte de energia mais limpa, verificamos isso
tambm no questionrio ps-teste. Inclusive, nenhum aluno classificou a Energia Nuclear como
limpa sob a justificativa de esta gerar a produo de lixo nuclear.
57
Com relao s fontes que so derivadas da energia fornecida pelo sol, 33% dos alunos
consideraram que todas as formas de energia dependem direta ou indiretamente do sol e 50%
classificaram apenas a solar fotovoltaica como depende diretamente do sol. Outros associaram
somente as que dependem indiretamente do sol, 8% mares, 17% biomassa e 8% elica.
O funcionamento do aquecedor solar foi explicado corretamente por todos os alunos.
Assim, 8 deles falaram dos processos de conduo de calor, sem mencionar, porm, o
desenho esquemtico (aquecedor industrial); contudo, explicaram exatamente o coletor feito
por eles, a base de garrafas pet, e os outros 4 alunos, mesmo utilizando os termos da figura, o
explicaram corretamente.
O uso da tinta preta nas caixas de leite foi abordado de maneira correta por todos os
alunos, ou seja, como procedimento para absorver mais calor; porm, no ps-teste, ampliaram
essa explicao. Enquanto no pr-teste eles apenas falaram da maior absoro de calor, neste
segundo momento os participantes ousaram explicar melhor o processo, sempre se referindo
ao Projeto. Em A8, a seguir, vemos uma das explicaes ampliadas:
A.8: Para que as caixas funcionem como uma estufa, pois vo absorver os raios
solares e ret-los. O preto absorve todos os raios solares, mas qualquer outra cor no. (Ex: o
verde absorve todos e reflete o verde)...
J, na questo sobre a energia solar como geradora eletricidade e como isso se d,
todos os 12 alunos entrevistados afirmaram que sim, sendo que 3 alunos tentaram explicar o
que ocorre na clula fotovoltaica.
Elaboramos a ltima pergunta da segunda parte deste questionrio para saber se os
alunos conheciam um exemplo de utilizao da energia solar em larga escala. Assim, 50%
responderam positivamente e o restante no sabia exemplificar. Os exemplos citados foram,
ento: usinas solares, clulas fotovoltaicas instaladas nos telhados de casas e ligados rede
convencional de energia eltrica, energia elica e aquecedores solares. Os que no
exemplificaram disseram, aps o questionrio, que j tinham ouvido falar dos exemplos dados,
mas que entenderam na pergunta feita conhecer no sentido de ter visto.
O ps-teste permitiu, portanto, verificar que o projeto contribuiu muito no entendimento
de conceitos fsicos e tecnolgicos. Verificamos, ainda, que nenhum aluno confundiu clulas
fotovoltaicas com aquecedor solar, que conheciam todas as formas de energia presentes no
questionrio, observaram a importncia do sol na origem de praticamente todas as formas de
energia e uma viso menos neutra da tecnologia.
Alm dessas questes, aplicamos um pequeno questionrio ao aluno que construiu o
termmetro digital para o Projeto, destacando o funcionamento, a motivao para a construo
do aparato, as dificuldades encontradas e os conhecimentos necessrios para a construo do
equipamento. Essa pesquisa encontra-se melhor detalhada no apndice II.
58
A escolha do grupo um fator importante. O nmero de pessoas deve ser tal que
propicie a interao e a participao de todos. recomendado que no ultrapasse 12 pessoas
e no tenha menos do que 4. Nosso grupo era constitudo por 13 alunos, porm, para o grupo
focal compareceram apenas 10 alunos. Aps a escolha do grupo participante, necessrio
fazer o planejamento, definir os objetivos da pesquisa, como tambm, para conduzir o debate,
escolher um moderador (mediador) que selecionaria a lista de questes usadas como guia
durante a reunio. Essa lista no utilizada como se fosse uma lista de perguntas, comum nas
entrevistas, ela apenas direciona a discusso para que no se fuja dos objetivos da pesquisa.
Assim, escolhemos por moderar o grupo e, tambm, elaborar as questes que
orientaram a reunio dos alunos (apndice III). O local deve ser apropriado para a realizao
da reunio, de modo a facilitar a interao de todos, posicionamos os alunos em crculo. O
tempo do evento tambm precisa ser planejado, normalmente de uma a duas horas, tendo a
reunio, para este trabalho de pesquisa, a durao de uma hora (NETO, MOREIRA e
SUCENA, 2002; GOMES e BARBOSA, 1999; MACEDO, 2006; DIAS, 2000).
Explicamos, ento, o objetivo da reunio e avisamos que a mesma seria gravada. A
gravao, assim como o registro das observaes anotadas durante o debate, serviu para
facilitar o estudo aps o grupo focal. Para um maior conforto e riqueza, o debate por meio do
grupo focal deve ser agradvel e informal para que os participantes possam expor suas
opinies de forma mais espontnea. Nesse ponto, no encontramos dificuldade, pois os alunos
j estavam bem acostumados com nossa presena, e isso permitiu que se posicionassem sem
nenhum constrangimento (GOMES e BARBOSA, 1999).
Portanto, planejamos o debate de modo a avaliar o projeto, refletir sobre a atividade
experimental investigativa (construo do aquecedor solar) e enriquecer a pesquisa etnogrfica
e a anlise do questionrio ps-teste. Ao analisar as falas e o comportamento do grupo,
59
Concluso
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novembro 2007.
XAVIER, M. E. R.; KERR, A. S. A anlise do efeito estufa em textos paradidticos jornalsticos. Caderno
Brasileiro de Ensino de Fsica, v. 21, n.3, p. 325-349, dez 2004.
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Apndice I
Apndice II
Funcionamento (explicao):
Apndice III
Grupo Focal - Roteiro
1. Avaliao do Projeto: O que vocs acharam do projeto?
O que levou a participar do projeto?
Das discusses iniciais O que discutimos? Por qu?
Esses assuntos so discutidos na sala de aula?
Foram importantes as discusses iniciais?
As visitas (Casa da Cincia Energia Solar e Casa Sola Energia Solar) foram
importantes? Por qu?
Existe ligao entre o processo de discusso inicial com a construo, instalao e
funcionamento do aquecedor solar?
Aprenderam algo novo?
Qual a contribuio?
Houve dificuldade? Em que? Quais? Quando? Por qu?
Anexo I
Rio, __/__/2010
Despejar o leo de cozinha no ralo da pia pode parecer um ato corriqueiro e inofensivo,
mas, alm de provocar o entupimento de tubulaes, pode causar diversos danos ao meio
ambiente. Ao chegar a rios, lagos e mar, por exemplo, o leo cria uma camada em cima da
gua que impede a penetrao solar, causando a morte da fauna aqutica, uma vez que a
oxigenao da gua no acontece. Se for parar no solo, o leo o impermeabiliza contribuindo
com enchente e, durante o processo de decomposio libera gs metano, o que causa mau
cheiro, alm de agravar o efeito estufa.
E com essa preocupao que ns, alunos do grupo de Fsica da turma 1AMED do
CEFET-RJ Maracan, juntamente com a professora Clarice Parreira Senra estamos
desenvolvendo um projeto de coleta de leo para reciclagem. No projeto, cada aluno fica
responsvel pela divulgao da coleta no lugar em que mora onde este ser recolhido pelo
PROVE-RJ (Projeto de Reaproveitamento de leos Vegetais) para que seja transformado em
biodiesel e sabo pastoso, evitando assim a contaminao do meio-ambiente. O PROVE j
realiza a coleta de leo em redes de hotis, restaurantes e supermercados.
Pedimos que colabore, deixando seu leo de cozinha usado em garrafas pet de
qualquer tamanho separadamente do lixo comum. O recolhimento ser feito
semanalmente.
Anexo II
Introduo:
Atravs desse Blog pretendemos divulgar as etapas de um projeto de fsica, que constitui na
construo de um aquecedor solar feito com garrafas pet e caixas de leite. Para maiores
informaes sobre o aquecedor solar acesse:
http://josealcinoalano.vilabol.uol.com.br/manual/manual.pdf
Hoje, praticamente terminamos o segundo prottipo, o qual contm as caixas de leite sem
serem pintadas. Basicamente cortamos garrafa e anexamos-as nos canos para a devida
montagem. Na prxima semana estaremos finalizando este e realizando os testes seguintes
para ver qual tem maior eficincia.
A caixa d'gua, em um dos prottipos representada pela caixa de isopor. De acordo com a
figura acima fizemos os 4 orficios da caixa de isopor. Do lado direito o furo inferior (nmero 3)
correspondente a saida de gua fria (2,6 cm de altura), e o furo superior (nmero 2) a sada de
gua quente (+ ou - 19 cm de altura). Do lado esquerdo temos: o furo inferior (nmero 4), por
este orficio, a gua deixar a caixa e circular pelo aquecedor solar para ser aquecida, o furo
superior (nmero 5) o retorno de gua quente, ou seja, depois de aquecida a gua quente
retorna ao reservatrio ficando armazenada na parte mais alta da caixa. Para vedar os furos
utilizamos pasta de silicone.
Expotec:
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Dos trs dias de exposio na semana de extenso, dois se passaram e s falta a sexta-feira
para fechar. Pretendemos continuar o projeto depois, finalizar todos os testes e futuramente,
quem sabe, instalar em algum colgio local. O Stand fica entre os do Senai e de Turismo, no
Bloco E do CEFET/RJ, a exposio vai de 1h s 6h e o ltimo dia ser amanh, sexta-feira
(22).
Comentrios:
A1 - Complementando a postagem da ... , eu gostaria de agradecer em nome do grupo, aos
visitantes do blog e do estande.
A2 - verdade... obrigada a todos, inclusive aos ndios que compareceram para prestigiar o
projeto.
Annimo1 - Ento, acabou a exposio, mas no terminou a experiencia, n? Posta a os
detalhes da Feira, quantos visitantes, quais os comentrios e expectativas, ah, no esquea de
postar qual foi a verso mais votada pelos visitante, preta ou aluminio... estamos anciosos para
saber. E mais, sobre o tal termometro criado por 1 participante do grupo, cita o nome dele, diz
pra postar os dados do aparelho e compartilhar conosco sua descoberta, t legal?
Annimo2 - Achei o projeto de vocs super interessante. bom ver alunos interessados assim
no futuro do planeta e preocupados com sustentabilidade. Parabns todos os participantes,
colaboradores e professores envolvidos.
A3 - ao anonimo que perguntou sobre o termmetro... aqui estou eu, bom o projeto do
termmetro eu encontrei primeiramente um com um micro controlador (pic) em que tinha maior
preciso, porem ele precisa ser programado e a sua programao eu ainda aprendi e mesmo
se conseguisse fase-la eu teria que fazer um circuito s pra liga-lo no pc ou comprar um
gravador (base pra conectar) que por sinal bem caro. diante desse problema me matei de
pesquisar at achar um projeto em que eu com meus conhecimentos bsicas (sabe eu ainda to
no segundo perodo de eletrnica), e assim que eu achei o projeto que eu concretizei com
alguns ajustes bsicos, como que o projeto inicial foi feito para ser utilizado em tomada comum
de tenso alternada.... basicamente ele funciona com a variao de temperatura em um
transistor 2n2222 com encapsulamento metlico, que varia a sua passagem de tenso com a
temperatura... tal variao transformada em sinal digital (0 e 1) pra ser exibido nos displays
de led.
Annimo1: Olha, que legal A3...vc s est no segundo periodo e j busca
inovaes...excelente, inagina quando estiver no ltimo!? Vou passar sempre por aqui para.
acompanhar suas descobertas!
Quanto a custo de materiais, minha dica usar a criatividade e a reciclagem, assim como
fizeram, porque materiais reutilizaveis custam menos entende? Tipo assim, segunda mo.
Importante mesmo no perder este espirito pesquisador e criativo, parabns ti e aos
demais alunos desta equipe, voltarei sempre, ok?
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Resultado Final:
Tabela de anotaes realizadas pelos alunos durante o teste final.
preto prata
data hora cima baixo diferena cima baixo diferena
08:00 34,9 32,2 2,7 34,5 31,5 3
10/nov 14:00 45,5 37,5 8 46 36,9 9,1
09:00 27 24,7 2,3 28,6 26,6 2
11/nov 18:20 29,3 28,9 0,400000000000002
30,3 28,1 2,2
10:40 29,1 26,9 2,2 31,7 26,2 5,5
12:00 34,4 32 28,1 3,9
12/nov 16:50 28,9 28,5 0,399999999999999
31,5 28,2 3,3
16/nov 18:00 27,8 26,8 1 27,8 27 0,800000000000001
07:00 26,6 26 0,600000000000001
26,6 25,2 1,4
17/nov 10:35 30,2 30,5 26,3 4,2
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Pois pessoal... desculpe pela demora mais qui est o nosso resultado... bem, acredito
que muitos ficaram satisfeitos pelo que est a seguir, mas peo a sua compreenso que essa
foi uma pesquisa cientifica realizada por "amadores"( eu no gosto muito desse termo mais o
que melhor exprime a situao) e que pelo fato de ela ter sido feita assim no significa que no
levamos a srio o resultado vendo apenas o que aquece mais e pronto, como foi dito antes
essa foi uma pesquisa cientifica e como tal deve ser realizada de forma racional e no deve ser
desmerecida.Vamos parar de enrolar e ir logo ao ponto, nos resultados do aquecedor prata
percebemos que sua desenvoltura durante o dia e ao seu termino chega a uma temperatura
um pouco superior ao do preto, isso considerando a temperatura detectada na fase superior da
gua dentro do reservatrio (caixa de isopor), porem tal aquecedor teve mostrado que a
temperatura na fase inferior do reservatrio uma temperatura inferior a do preto, e que sua
desenvoltura para a preservao de tal calor no momento sem sol (noite) tambm inferior ao
preto. com tais dados chegamos a uma concluso no muito satisfatria, como vocs devem
saber ns no temos nem conhecimento suficiente nem equipamento para ter um resultado
preciso do melhor aquecedor, pois para tal feito podemos levar em conta apenas a
temperatura de duas fase da gua e sim teramos que, de alguma maneira desconhecida por
ns, medir toda a temperatura de todos os pontos e determinar no a temperatura total de cada
painel e sim a quantidade de energia foi transferida e acumulada por cada aquecedor para que
possamos averiguar a eficacia de cada um e isso requeria equipamento de ponta e
conhecimento alm do nosso atual.
Agora saindo um pouco do formal, acreditamos que o aquecedor prata teria mais
vantagem se fosse instalada em um local com grande incidncia de raios solares e que o preto
para lugares de menos incidncia por conservar mais o calor. Acredito que muitos iro postar
que pra que eu vou querer um aquecedor de gua em um lugar que quente, no qual no irei
querer tomar banho quente?? Bom, primeiro que o aquecedor solar s aquece gua o que no
significa que ela s serve para tomar banho, pelo contrario, ela tem muitas utilidades e uma
delas na produo de energia eltrica, tal sistema que eu ainda no tenho conhecimento de
como fazer isso direto da gua quente porem possvel, alem de que ela seria de boa ajuda
por exemplo numa usina termoeltrica que pode utilizar a gua j quente para usar menos
energia (normalmente proveniente da queima de combustvel fssil ou biomassa) para levar a
gua ao ponto de evaporao, resultando numa queda na emisso de carbono por energia
criada