VIEIRA Arte de Furtar 1744 PDF
VIEIRA Arte de Furtar 1744 PDF
VIEIRA Arte de Furtar 1744 PDF
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Prncipe de Portugal.
D E F R E C A C, A M.
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rem o fezame de o nao foderem ver s efcuras, Vef-
tirey de frimavera omez de Vezembro y fara fazer
fratavel, tecendo os cafos, e matrias de modo, que
nao fao major pendor para huma balana, que para
outra,, para que alivie o curiofo da Arte, e efiylo,
o molefio da matria fem tropas de fentenas Cabalijli-
cas, nem infauferia de palavras cultas , e pentea^
das, que me quebrao a cabea. Alguns livretes vejo
defses, que vao fahindo ?nodema, e quando os ley o ,
bem os entendo,- .mas quando os acabo de ler, nao fiey
o que me difseraoj forque toda a fua habilidade pem
em palavras. Eja difise ofroverbioy que falavras,
e plumas o vento as leva. Outros toda a plvora gaf-
tao em dar confelhos polticos, a quem lhos nao pede $
e bem apertados, vem a fer melanconias do Autor y
que por arrufos derao em defvellos, ou por ambio
em delrios 5 e poderamos refponder aos taes, o que
Apelles ao que lhe taxou as roupagens da fua finturay
fahindofe da esfera do feu oficio. Seja o que for y o
que fey he, que nada me toca mais, que zelo do bem
commu?n_, e augmento da Monarquia, de que he her-
deiro , e Senhor V A. Ladroens retardao augmentos,
forque diminuem toda a couza boa : diminua-os V A.
a elles, e crecer feu Imprio , que os bons defejao
dilatado at o fim domu%do$ porque todos amao mais
que muito a V. A. que Veos guarde &c.
PRQ-
P R O T E S T A C, A M
DO A U T O R
A quem ler efie Tratado.
C A P. I.
COmo para furtar ha arte, que he cincia ver-
dadeira, p. i.
C A P. II.
Como a arte de furtar he muito nobre. p. 8.
C A P- III.
Va antigidade, eprqfejsores defiaarte. p. 13.
CA P. IV
Como os mayores ladroens fao, os que tem for offici
livrar-nos dos mefinosladroens. p. 19.
C A P. V
Dos que fao ladroens, fem deixarem que outros o fe-
jao.p. z8.
C A P. VI.
Coo nao efcapa de ladro, quemfe paga por fua mao.
P 3 3-
C A P. VII,
Como tomando pouco fe rouba mais , que tomando
muito. ^ . 4 0 .
C A P. VIII.
Como fe furta s partes fazendolhes mercs, e ven-
** ' uen-
dt
denolhes mifericordis. jp-45.-
C A P. IX.
Como fe furta, a titulo de beneficio, f- 50.
C A P. X.
0300 podem furtar a ElRey vinte mil cruzados .a
titulo de o fervirp. 5 6
C A p. XI.
Corno fe podem furtar a ElRey vinte mil cruzados , e
demandalo por outros, tantos, p. 6 3
C A p. XII.
Vos ladroens, que furtando muito, nada ficao a de-
ver na fua opinio, p. 6j. . ;:
C A p. XIII.
Vos que furtao muito accrefcentando, a quem roubaoy
mais do que lhes furtao. p. 7 0 .
C A p. XIV.
Vos* que furtao com unhas Reaes. p. 7 5 .
C A P. XV
Em que f mo fira, corno pde hum Rey ter unhas. p.%i.
C A P. XVI.
Em que fe mofirao as unhas Reaes de Cafiella, e co-
mo nunca as houve em Portugal, p.%6.
Manifefio do Vir ei to, que V. Filippe de Cafiella ai-
lega contra os pertendentes de Rortugal.p.%9.
Razoens, que ElRey V. Filippe allega contra a Se-
nhora Vona Catharina. f. 95
Repofia da Senhora Vona Catharina contra as razoens
delRey V. Filippe. p. 1 0 4 .
Mani-
Manifefio do Vireito, da Senhora Vona Catharina ao
Reyno de Portugal contra V. Filiffe. f. 123.
Razoens da Senhora Vona Catharina contra Filiffe.
f. iz6.
Refofia deiRey V. Filiffe contra as razoens da Se-
nhora Vona Catharina com feu defengano.
f. 140.
C A p- XVII.
Em que fe refolve, que as unhas de Cafiella fao
as mais farfantes for injufiias. f. 15 o.
C A p. XVIII.
Vos ladroens, que furtao com unhas facificas.f. i6z.
C A p. XIX.
Profegue-fe a mefinamatria, e ?nofira-fe, que tal
deve fer a faz, far que unhas pacificas nos
nao damnifiquem. f. 169.
C A p. X X .
Vos ladroens, que furtao com unhas Militares, f. 175
C A p. XXI.
Mofira-fe, at onde chegao unhas Militares, e quan-
do fe deve fazer a guerra, f.\%\
. C A p. XXIL
Profegue-fe a mefma matria das unhas Militares, t '
como fe deve fazer a guerra, f. 1 <? 3.
C A p. XXIII.
Vos que furtao com unhas temidas, f. 2 0 0 .
C A P. XXIV
Vos que jurtao com unhas midas, f. zip. AI
** CAP.
C A p. XXV
t>os que furtao com unhas disfaradas, f. 21 %]
C A P. XXVI.
Dos que furtao com unhas maliciofias. f.ziy.
C A p. XXVII.
Ve outras unhas mais maliciofas. f. zzz.
C A P. XXVIII.
Vos que furtao com unhas de fcuidadas, f. 2 2..9.
C A p. XXIX.
Vos que furtao com unhas irremediveis, p. zzz.
C A p. XXX.
ue tais devem fer os confelheiros, e confelhos, part
v
que unhas irremediveis nos nao damniquem
f. 243
Que tais devem fer os Confelheiros. f. 245
Tribunal, como, e que tal. f.z$i
Voto, e farecer de cada hum. f. 257-
Refioluao do Confelho. f. z6i
C A p XXXL
Vos que furtao com unhas fobias, p. z6$
C A P. XXXII.
Mps que furtao com unhas ignorantes, f. 270.
C A p. XXXIII.
Vos que furtao com unhas agudas, f. znG.
C A P. XXXIV
Vos que furtao com unhas fingelas. p. 282.
C A P. "xxxv
Vos que furtao com unhas dobradas, f. 2 8 7
CAP.
C A p. XXXVI.
Como ha ladroens, que tem as unhas na lngua, p. 25/2.
C A P. XXXVII.
Vos ladroens, que furtao com a mao do gato. f.zyG.
C A P. XXXVIII.
Vos que furtao com mos, e unhas fofiias, de mais,
e accrefcentadas. f. 306.
C A P. XXXIX.
Vos que furtao com unhas bentas, f. 312.
C A p. XL.
Em que fe refponde, aos que ao Fifco chamao Vi fico
f. 321.
C A P XLI.
Vos que furtao com unhas de fome. p. 3 r8.
C A P. XLII.
Vos que furtao com unhas fartas. ^.333
C A p. XLIIL
Vos que furtao com unhas mimofias.f. xx.6.
C A p- XLIV
Vos que furtao com unhas defnecefsrias. f. 3 40.
C A p, XLV.
Vos que furtao com unhas domefiicas. f. 346.
C A P- XLVI.
Vos que furtao com unhas mentirofas. f. 352.
C A p. XLVII.
Vos que furtao cofn unhas verdadeiras, f. 3 5^8.
C A P. XLVIII.
Vos que furtao com unhas vagarofas. f. 364.
CAP.
C A p- XLIX.
D ^ que furtao com unhas afrefsadas. f. 372?
C A p. L.
Mofira-fie, qual he ajurifdiao, que os Reys tem
bre os Sacerdotes, f. 375?.
C A p LI.
Vos que furtao com unhas infenfiveis. f. 3 8 5
C A P. LII.
Vos que furtao com unhas, que nao fefientemao fer-
io , e arranho muito ao longe. f. 3 <? 1.
C A p. LII.
Vos que furtao com unhas vifiveis. p. 396
C A p. LIV
Vos que furtao com unhas nvifiveis. f. 400.
C A p. LV
Vos que furtao com unhas occultas. f. 407
C A P. LVI.
Vos que furtao com unhas toleradas, p. 412.
C A p. LVII.
Vos que furtao com unhas alugadas, f. 420.
C A p. LVIII.
J)os que furtao com unhas amorof as. p. 424.
C A p. LIX.
Vos que furtao com unhas cortezes. f. 425?.
C A p LX.
Vos que furtao COM unhas foliticas. f. 4 2 3
C A p. LXI.
Vos que furtao cem unhas confidentes. 0. 438.
CAP.
C A p. LXII. '
Vos que furtao com unhas confiadas, f. 4 4 2 .
C A p LXII.
Vos que furtao com unhas proveitofias.p. 449.
C A p. LXV
Vos que furtao com unhas de prata. p. 45 5
C A P- LXV
Vos que furtao com unhas de <naofieycorno lhes cha-
me, p. 4 6 3
C A P. LXVI.
Vos que furtao com unhas ridculas, p. 4 7 3..
C A p- LXVIL
Primeira tifoura para cortar unhas, chama-fe Vigia,
p. 480.
C A p. LXVIIL
Segunda tifoura, Milicia. p. 4 8 4 .
C A p LXIX.
Terceira tifoura, Degredo, p. 4 8 8 .
C A p LXX.
VeJengano geral a todas as unhas. p. 495,
Primeiro defengano. p. 45)4.
Segundo defengano. p. 496. .*
Terceiro defengano. p. 501.
Conclufa final, e remate do defengano verdadeiro.
p. $o6.
TRA-
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TRATADO
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CAPITULO III.
CAPITULO IV
CAPITULO V /<
CAPITULO VI.
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CAPITULO VII.
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CAPITULO VIII.
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CAPITULO IX.
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CAPITULO X.
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CA-
(63)
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
CA-
(67)
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r CAPITULO XII.
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(7o)
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CAPITULO XIII. ,
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C A P I T U L O XIV.
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C A V I T V L O XVI,
H E
notrio , que por morte do nofo R e y
Cardeal ficou efte Reyno c o m o morgado
de Clrigo, que na tem fiicceTor, expolo a her-
deiros tranfvcris, quefendomuitos, baralha as
razoens de todos, e arma pleitos, e dicordias
inextinguiveis. E para procedermos ,com clareza ,
devemos preiippor, que ElRey D . Manoel de
glorio memria cazou trs vezes , a primeira c o m
D o n a Ibel,filhaprimognita dos Reys Catholi-*
cos.
cos; Secunda com D o n a Maria,filhaterceira dos
memosReys. Terceira com D o n a Leonory filha
delRey D. Filippe o I. e irma do Empera-1
dor Carlos V.: O sfilhosd o primeiro, e terceira
matrimniomorrero,femucceTa : do fegundo
teve dez filhos: o primeiro, foy o Prncipe D;
Joa, que teve novefilhosda Senhora D o n a Ca?
tharinafilhadelRey D. Filippe oi. de Cafiella:
deftes morrero oito fem ucefl -, e o n o n o , --c
ultimo, que foy D. Joa, houve da Senhora D o n a
Joanna, filha de Carlos V ao fatal Rey D. Se-
baftia, em quem jicabou efta linha* A fe-
gunda prole delRey D.Manoel foy a Infanta D o -
lia Ibel,.v que cazou com-Carlos V Emper*
dor 5 e de ambos naeo ElRey D. Filippe II. e
defte Filippe III. e dele, Filippe I V de C a
tella, que hoje faz toda a guerra a Portugal. A
terceira prole foy a Infanta, D o n a Brites, que
cazou com D. Carlos D u q u e de Saboya, e de
ambos naceo Phelisbertp Emmanuel Prncipe-de
Piamonte,. opppfitor com feus defeendentes a Pri
tugal. A quarta prole, o Infante D. Luiz, que
na cazou, e teve de huma Chrifta nova hum.
filho natural, que foy o Senhor D. Antnio, tarm
bem oppoitor a efte Reyno. Quinta prole, .o In-
fante D. Fernando, que cazou com Dona Guio-
mar
(9i)*
mar Coutinha, filhados Condes de Marialva: e
extirguiofe efta linha. Sexta prole, o Infante D .
Afonfo Cardeal' Arcebipo de Braga, e Bip de
Evor.- Stima prole, o Infante D. Henrique, que
foy Cardeal, e Rey fem Tuccefl. Oitava prole,
o* Infante D. Duarte : cazou com D o n a Ibel fi-
lha d e p . Jayme D u q u e de Bragana,l e tivera
trs filhos: primeiro a Senhora D o n a Maria, que
cazou c o m Alexandre Farnes Prncipe de Farma, fe-
gundo a Senhora D o n a Catharina, que cazou
c o m D. Joo D u q u e de Bragana ; terceiro D.
Duarte Cdndeftvel, e D u q u e de Guimarens:
da Senhora D o n a Maria naceo o Senhor Rayriun-
cio Prncipe de Parrna tambm oppofitor: da Se-
nhora D o n a Catharina naceo o Senhor D. Theo-
dofio D u q u e de Bragana, e delle o Senhor D.
Joa, que hoje he Rey de Portugal; onde tem
jurado por Prncipe afeufilhoo Senhor D. Theo-
dofio , qe houve em legitimo, e Santo matri-
mnio d Senhora D o n a Luiza , efelarecido ramo
da Real Caa dos grandes Duques de Medina, e Sy-
donia , Propugnaculos invitifimos de toda a
Chriftandde contra a Mauritnia na Andaluzia,
onde por Tuas hericas obras alcanaro o admi-
rvel appellido de Buenos^ ebailava para o me-
recerem deflinallos o Ceo para darem a Portugal
tal
w
talfilhapara noTa Rainha, e Senhoras
As mais proles, que fora a Infanta D o n a
Maria, e o Infante D. Antnio, na deixaro fiic-
efl, porque logo morrero. E das que temos
dito fecundas, fe levantaro cinco oppofitores
a efte R e y n o , que fica notados e m fus linhis<|
e pela ordem da antigidade dellas o primei*
ro ElRey D . Filippe-, o fegundo o D u q u e c^
Saboya; terceiro o Senhor D. Antnio; quarto
o Prncipe de Parma-,quinto o D u q u de Bra*
gana. A Rainha de Frana D o n a Catharina tan>
b e m pertendeo oppor-fe, allegando, que defeendil
por linha direita delRey de Portugal D. Affbnfei
III. Conde de Bolonha, e de Dona.Metilde fua
primeira mulher : mas foy efcu ia pertena
por improvvel, e ptefcripta , porque os uccek
(oxcs do Conde de Bolonha [que na confia os
tivefl] nunca fallara nefta matria, depois que
aquella linha de Bolonha fe ajuntou a Frana: e
a verdade he, que Condefl Metilde na ficara
filhos, c o m o confia do feu teftamento, que ef
t e m Portugal na torre do T o m b o , fegundo fe
ecreve. E o engano eleve no fucceflbr de Metil-
de, que foy Roberto feu fohrinho filho de ia
irma Alis. E efte he o Roberto, de q u e m Fran-
a queria tomar a noTa genealogia, fazendo-o fi-
lho
lho de Metilde , e de E). Affonfo III. irma de
D . Sancho Capeljo. Quanto mais que na prefente
oppofia f de defeendentes delRey D. Manoel fe
tratava, que era o tronco ultirno, e e m quanto os
houvefe,. na tinha lugar outros pertendentes;
e, poriTo tambm fe na fez cafo da pertena o
da S Apoftolica, pois na eflava o Reyno: va-
go det herdeiros, j ;.; v r ,i
*-\..-.: D o s cinco Oppofitores defeendentes delRey
D. Manoel, foy havido por incapaz no prirneiror
lugar .o Senhor D. Antnio Prior do Crato, por
dous defeitos, ambos por parte da m y , h u m
nofngue* 'outro np nafcimento^ notrios,
na os explico, e nunca houve uplemento para el-
les. O D u q u e de Saboya cedeo aos parentes mais
chegados, e tambm de,c o excluiro por Ef-
trangeiro. O Prncipe de Parma ficou atraz na
pertena por trs razoens; primeira , por fer
morta Jua m a y , irma da Senhora D o n a Ca-
tharina, quehavia de fazer a oppofia. Segunda,;
por falta da reprefentaa, que f fe admittenos
defeendentes immediatos do primeiro gro, eelle>
era ja bifhetp. delRey D. Manoel,. e m compara-
o da Senhora D o n a Catharina, que era neta,
pela mema linha do Infante D. Duarte. Tercei-
ra, por ficarem excludas as fmeas cazadas fora
(94
do Reyno , c o m o fe moftra das Cortes de Lame*
g o , celebradas no anno 1141. onde ElRey D.
Affonfo I. c o m todos os Eftados ordenou, que
as fmeas, ainda que podeTem herdar o Reyno;"
perderia o direito a elle cazando fora: eporiTo
nas. Cortes de Coimbra de 1382.. excluiro a Se*
nhora D o n a Brites,filhanica do 1101T0 Rey D.
Fernando, por cazar c o m D. Joa I. de Cafiella:
D. Joa I. de Portugal, que lhe fuccedeo, confir-
m o u efta ley e m feu teftamento no anno de 145 *
Excludos affim todos osfobreditos,ficaro
no campo fs a Senhora D o n a Catharina, e El-
Rey D. Filippe : dera-fe duas batalhas^ a pri*
nleira c o m o Anjos, a fegunda como-fimens: a
primeira c o m foras de entendimento , a fcgnda
c o m violncia de brao : na primeira venceo a
Senhora D o n a Catharina, porque lhe fobejava
razoens: na fegunda venceo Filippe, por ter mais
armas: defta na fe trata aqui, porque as armas
entre Chriftos na da Reynos , n e m ostira
julamente, quando ha razoens, que refoivem 6
direito delles : e poriTo pertende ElRey Filippe
vencer tambm nefta parte c o m as razoens fcguift-
Razo-
(95)
*JU NL / ^ ^ ^ "*4^ ^ ^ "-Ar >^ "4^ "Af *^ ^ ^ "^ ^ ^A* ^ ^ ~4s "4< >iU NL^ SL >4^ >L< >4^ ^X^sU **! >*t*
G iv Repofi
(io4)
MANIFESTO VO VIREITO' . n )
DA SENHORA D O N A CATHXRINA1
r'^0 i t ^ de 'Portugal contra V). Filiffe. r
RE-
(14) ' r
REPOSTA D E L R E Y . FILIPPE* l
Contra as razoens
l
DA SENHORA D O N A CATHARINA
^ >^
-"'".
Ow y defengano.
K iii CA-
(:0o)
.,.. .:>
-o
"'-4J C A PI TU L o XVII.
(; : ::. -.^. .." o>h" b ;.
JSw que fie refohe, que as unhas de Cafiella fao
as mais farpantes por^njufiifas.
. -
CAPITULO XVIII.
~*s -^Is xl' -NI^ *SLS *S xL- *!* **ls ^ J/ xl^ ^JU >^ xl" >!" -sV* >aV "xL- ! -JL' >^ xX" A' vj*- -L> NJ/ xl^ NV
^v >^. ^Jv. ^ ^x ^x. ^> ^ . ^ >^K ^ ^ >^< ^ v >J< y^l sf* >J< >^< ^ < ^ K y^. y^v >|< vjv ^V, Sfx. yjv y|N >yv >Jx >^.
' -
C A P I T U L O XIX.
CAPITULO XX.
*X> 1L' >4r' NJ^ J/ >^ ^ ^As -*L* NJ> ^SL' 4^ >L^ *4^ '^f >J< >^"><4< -N!^ >J^ >i^ -sj, >i^ >l^ >^ >L^ ^i^ -J^ sL^ vjx >*
^s' 'T" T"* 'T* 'i * 'T** > T S "T* T 1 " "i" M** < T N 'nP* y T < 'n** ^T*" ^r* -^r* "H^<*Fk *i" ^r* *^ 'T^ '* "i ^T* 'T* ^* T 1
^T* ^ H
CAPITULO XXI.
CAPITULO XXII.
Profegue-fie a mefima matria do capitulo antec
(196)
tivos, e que nunca poder renunciar o trabalhoj
da milcia, vetem-fe da condio de eferavos, e;
he o m e m o que de dio afeusSenhores, e ham-
fe c o m o forados da gal. E na f he conveni-
ente efta raza, mas tambm he jufto que os
foldadosfejavoluntrios, e que tenha cami-
nho parafelibertarem, quando lhes for neceTario,
porque na eferavos comprados: n e m o pre*>
o de quatro mil reis na primeira praa iguala o
da liberdade , e m que nafcera, e de que efta:
de pofle : n e m a obrigao de fervirem patri&
prepondra, quando de ferem livres reulta aco-
direm mais, efervirem melhor. Hajacorrepon-
dencia igual de ambas as partes: ifto h e , que o
Prncipe pague, c o m o o foldado ferve, e acodi-t
r logo innumeraveis afervilo,femferneceflrio
bufeallos : porque mito c o m o as p o m b a s ,
que aodem todas ao pombal, onde acha born
provimento, e fogem da cata, onde as depenna.
. Se examinarmos as cautas, porque os folda-.
dos fogem das fronteiras para fus caias, e tam-
b m para o inimigo , acharemos, que pela ma-
yor parte fao duas defeperaoens , h u m a da li-
berdade, e outra do provimento, e que para am-
bas as couzas tem jutia : para o provimento,
porque q u e m ferve, o merece j e para a liberda^
de,
(197)
d e , porque nenhuma Naa do m u n d o os obri-
ga mais, que a tempo limitado: Frana e m fe*
acabando a faco , mas que na feja mais que
de trs mezes, logo os defobriga, e liberta , por,
mais foldo, e pagas, que tenha recebido- e
tambm Portugal u o memo eftylo c o m os foi-,
dados das uas armadas, que e m fe recolhendo ,-
os deixa ir para uas catas: e na ha ma^or raza
para na fe praticar o memo eftylo, cornos que
fervem na campanha pondo-lhefeuslimites. Caf.
telta na faz exemplo -, porque fe obriga eus foi-.
dados para fempre, tambm lhes d privilgios;
equipolentes: efe.os.leva amarrados c o m cor-
das, e algemas, na eTes os que melhor pe-
leja ; x de tais extorfoens lhe vem perder tantas
facoens, Quanto mais, que fe ltrata osvaf
feios c o m o eferavos, Portugal fempre fe prezou
de os tratar c o m o filhos. N e m fe achar Doutor
Theologo, queapprove o ufo de Caftella, e
que na diga que he injuftia, indigna at de
Turcos, na dar liberdade aos foldados depois.
de algum tempo ; quando at aos forados das
gals fe concede depois de dez annos, m a s q u e
feja condemnados a ellas por enormes delitos
por toda vida. .. ...<]. rur jf-
Ter o Principe amigos, e epias na terra
N iii . cio
(i9)
d o inimigo, e conhecimento dos lugares, por
onde marcha, e ha de ter encontros, he muito
neceflrio. Faa muito por fuftentar a reputao ;;
e credito de fua peffoa, porque ter quem o fir-
va ~e todos fe lhe fueitar. Alexandre M a g n o
divulgou, que era filho de Jpiter , para fer ref
peitado , e obedecido -, jutifique a cau que tem
para fazer guerra, e divulgue-a c o m Manifelos-,
porque d animo aos foldados, que o fervem,
e acovarda os contrrios. A s caufas da guerra ao
todo e m geral ordinariamente ta quatro. A pri-
meira para cobrar, o que o inimigo tomou. Se-
gunda para vingar alguma afronta.: Terceira pa-
ra alcanar gloria , e fama. Quarta por ambio.
A primeira , e a fegunda jutas : a terceira he
injuta : a quarta he tyrannia. Q u e m for vencido,
deve examinar a cau de fua ruina, fe foy por
feita dos Capitaens, fe dos foldados, para emen-
dar o erro: e fe o na houve, n e m no inimigo
mayor poder, deve aplacar a D e o s , tendo por'
acerto, que o irritou contra fi c o m as caus da
guerra. E fe c o m tudo foy por eftar o inimigo
mais poderofo , deve difimular at fe melhorar
de foras : porque melhor he fofrer dez annos de
guerra furtandolhe o corpo, que h u m dia de ba-
talha , e m que fe perde tudo. Confervarfe-ha e m
p
(i99)
p neflas demoras confervando o amor dos folda-
dos , e a benevolncia dos povos ; efta ganha-fe
administrando jutia , e aquelle uando liberali-
dade.
Quefta h a , qual fera melhor, fe fazer a
guerra na terra do inimigo, fe na prpria. Fbio
M x i m o affirmava, que melhor era defender a
ptria dentro nella. Scipia dizia, que mais til
era fazer-e a guerra fora de Itlia. As conjun-
oens das emprezas, e urgncias dos tempos en-
fina, o queferamais conveniente. Ajudar h u m
Prncipe a outro na guerra, quando he amigo,
ou confederado, he muito ordinrio. D o m Fer-
nando Quinto Rey de Cafiella favorecia fempre
ao que menos podia, para na deixar crefcer o
contrario : n e m entrava e m ligas, de que na
eperava proveito. O s R o m a n o s , diz Appiano \
que na quizera aceitar por vaTallos muitos po-
vos , porque era pobres, e de nenhum provei-
to. N o proveito do interefl , e credito^ da hon-
ra , devem levar fempre a mira os que fazem guer-j
ra. E executados b e m os documentos, que temos
dado, tera menos era que empolgar unhas mi-
litares : ifto h e , que na haver tantas perdas,
quantas a guerra mal governada traz comfigo.
? .J... r . . c..: *if.:i u :]'
^ N iv CA-
(200)
CAPITULO XXIII.
CAPITULO XXIV.
' r r ^
C A P I T U L O XXV
CA-
(217)
CAPITULO XXVI.
CAPITULO XXVIL H
sU >U >U -*s ^ ^ >^ >Xf *4^ ^ >s ^ >4f' ^ -4^ ^ "4r >^ ^ "4^ >U *4s *4s *4e: ^ ^ *4? *4e *J^ >k "^k ^k
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CAPITULO XXVIII.
CAPITULO XXIX.
CAPITULO XXX.
Que
(245)
Qrue tais devem fer os Confelheiros.
Voto,
(257)
Voto, *parecer de cada hum.
j.
Refolua do Confelho.
CA-
C A P I T U L O XXXI.
,i"
Vos que furtat com unhas fiabias.
CAPITULO XXXII.
\
(272)
na Univeridade \ Anda na fua terra matando
caens, e efcrevem a feu tempo ao amigo, que os
approvem l na matricula, reprefentando fus -fi-
guras , e nomes : e daqui vem asfentenaslati-
motas, que cada dia vemos dar a Julgadores, que
na tabem, qual he a ua m a direita , mais que
para embolarem c o m ella eportulas, e ordena-
dos , c o m o fe fora Bartholos, e Covas-Rubias.
Daqui matarem Mdicos milhares de homens,
e pagarem-fe, c o m o fe fra Avicenas; e Gale-
nos. E a graa, ou mayor degraa he, que
n e m o diabo, que lhes enfinou eftes enredos,
lhes taber dar remdio, talvo for levando-os a
todos, que he o que pertende.
N oferviodelRey na fe devem tolerar tais
ignorancias, porque fe feguem deltas damnos gra-
vifimos. Q u e m perdeo as nos, que vinha da
ndia carregadas at s gavias de riquezas ? Dizem
que o tempo : e he engano : na as perdeo, fe-
nao a ignorncia dos Pilotos, que/fora dar com
cilas e m baixos, e cachpos. Q u e m desbaratou
a frota, que hia para b Brafil ? Dizem que s
piratas: e he engano : na a desbaratou, fenao a
ignorncia dos marinheiros, que na fouberao
velejar a propofito. Q u e m perdeo a vitoria m
campanha ? Dizem que a remita da cavallaria:
c/s-st/s (273) ClJtyit*
e he engano: na a perdeo, fenao a ignorncia
dos Coronis, que na foubera dipr as cou-
zas, c o m o convinha. Gente bifonha, e mal
diciplinada ocafionara c o m ignorancias into-
lerveis perdas *' e o que fe deve faber, e advertir,
nunca tem boa efcuza : mas na ha morte em
achaque, todos tabem dar fahida a feus erros, fa-
zendo homicida fortuna, que eft innocente *'
no delito. M a s c o m o o m a l , e o b e m face
v e m , logo fe deixa ver a fonte da culpa : e he
grande latima, que arrebente efta ordinariamen-
te da ignorncia.
H a alguns ladroens ta ignorantes , que
fempre deixa rafto c o m o lmas, e a mema
preza os defeobre; c o m o o que furtou o trigo,
fem advertir, que era o taco roto, e pelo rafto
delle, que hia deixando, lhe dera na trilha , e
o apanharo. Outros porque fe carrega tanto,
que na podem fogir, ta alcanados. Outros
porque fe veftem do que furtaro, ta conheci-
dos - e todos f por ignorantes ta decobertos.
Antes he propriedade da ignorncia, que por
mais, que fe efeonda, na pode muito tempo
eftar occulta. C o m o fuccedco na Alfndega do
Porto por defeuido do Provedor, e incria de
feus Miniftros, que a balana, e m que fe pza
S os
(274)
ds acares, e drogas, que paga direitos pelo
pezo, fe falfificou de maneira, que a emquefe
punha QS pezos, tinha menos duas arrobas, que
a outra, e m que fe punha as caxas, e fardos,
fem fe dar f deite delrio, fenao depois de ElRey
perder muitas mil arrobas nos feus direitos. Ifto
de balanas deve andar fempre muito vigiado, e 1
na excluo daqui a cata da M o e d a : pudera referir i
acjui muitos m o d o s , que ha de furtar nellas, e
deixo, porque na pertencem a efte capitulo, feu
lugar tera.
N a farey minha obrigao, fe na enxirir
aqui h u m a ignorncia fatal, que anda moente,
e correnre nefte R e y n o , na emenda da qual te-
m o s muito que aprender nas outras Naoens, ain-
da que ellas obra c o m injutia, o que ns pode-
m o s imitar fem nenhum eferupulo. E he, que ne-
n h u m a gente ha ta deinazelada, que fazendo
h u m a frota, ou armada para alguma empreza ,
na aTegure os gaftos delia por todas as vias ; de
tal forte, que e o primeiro intento na Tucceder,
recupere no fegundo, ou no terceiro. C o m o j
agora : faz o Hollandez, ou o Inglez h u m a arma-
da , para hir dar e m certa parte de ndias, onde ,
tem a malhada h u m a grande preza : e fe efta lhes
ecapa das unhas, por ventura de huns, ou det
graa
(275)
graa de outros, j leva deftinada outra faco j
e outra e m outras paragens, feja quaes forem ,
para onde vira logo as proas, e na fe recolhem
para feus portos, fem trazerem, c o m que refa-
a ao -menos os gaftos, quando na encha as
bolas. S Portugal he nifto ta prdigo, que
tem por tirhbre [chamara-lhe antes inadvertencia,
ou ignorncia] entregar todos os gaftos de uas
armadas ao vento, fem mais fruto , qtie o de
dar h u m pafleyo c o m bizarria por Vai das guas,
e tornar-fe para cata c o m as mos vazias, e as
fraqneiras depejadas. Quanto melhor fora levar
logo no Roteiro, que fe na acharem piratas,
que os buquem at dentro e m feus portos; que
va a Marrocos, que va s barras de nofos ini-
migos , que eperem, que aya, e que na fe
venha fem recuperarem por alguma via os gaftos,
pelos menos, os que va fazendoy e a eftes fem fru-
to chamo tambm unhas ignorantes.
S ii CA-
(276)
CAPITULO XXXIII.
CAPITULO XXXIV. 1
>
CAPITULO XXXV.
! : i -
T ii CA-
(22)
CAPITULO XXXVI.
r ,:
J ' - " - ' J?
,;
s . .i^*
(293)
para fi, que he o principal intento, e m tudo 6
preciofo, que cuida fe poder dar a outros. E
para iflb na ha provimento, que na defdenhem,
n e m depacho, que na menofcabem -, at o que
he nos outros paga de jutia , fazem negoceaao
de adherencia, para levarem a gua ao feu moi-
nho , e fazerem canno das minguas alheas para
as enchentes prprias, de que anda fequiozos.
Faamos praa de exemplos, e correr a verdade
deite capitulo clara c o m o gua.
Olhaime para aquelle Capito, que entra na
Audincia c o m h u m brao menos 5 porque lho
levou na guerra h u m a bala : vede dous foldados,
que vem c o m elle, h u m c o m h u m olho vatadq
de h u m a eftocada, e outro com h u m a perna que-
brada de huma mina y porque para os fazer afi-
nalados ua fortuna os marcou com taes degraas.
E c o m o nos mayores rifcos tem fua ventura a va*
lentia, allega a feu R e y , o que e mfeufervio
padecero, para que os remunere com os depa-
chos, que merecem : h u m pede a C o m e n d a ,
outro a tena, outro o Habito : todos merecem
muito mais. M a s o invejofo , que eft de fora,
e ta de fora que nunca entrou e m tais baralhas,
temendo que lhe voe por aquella via o pataro,
a que tem armado a colelia, e que fe lhe v
T lii da
(294)
da rede a preza ] que pertende pefear, puxa da et
pada da lngua $ porque nunca arrancou outra
para cortar o direito, que v va adquirindo, e
diz do torto : olhay, o c o m que vem agora c o
tortles Folifemo! Por h u m olhinho que perdeo,
Deos tabe aonde, pode fer que bebendo em al-
g u m a taverna , quer que lhe d m mais do que
vai toda a fua cara : ainda lhe ficou outro olho,
iTo lhe baila. Pois o outro Briareu , devia de
querer cem braos, baftandolhe huma ma para
empinar, quanto tem furtado c o m ambas -, e por
h u m bracinho , que lhe cortaro, quer que lhe
talhem h u m a C o m e n d a , que na fonhara feus
avs: e o outro que por h u m a perninha lhe dm
h u m habito. Quanto melhor lhes fora a todos
trs tomarem o habito de h u m a Religio, para
fazerem penitencia de quantas maldades obraro ,
para acharem eftas manqueiras, de qe vem fa-
zer gadanho para eftafarem mercs, que f ns
merecemos a ElRey, c o m o fe v ao perto. E por
efta olfa fe deixa efte, e outros tais c o m o elle,
hir delcantando femelhantesletras, at queayem
c o m a ua por eferito, etorvando, e tirando os dei
pachos a q u e m os merece, para os incorporarem em
li. E ainda mal, que lhes iiccede. Teftemunha feja
h u m Capito, que eu vi depedirfe d e h u m a m i -
*
(295)
go nefta Corte, parafe voltar para as fronteiras
c o m quatro mezes defemelhantesrequerimentos:
e perguntandolhe o amigo, c o m o fe hia fem et
perar o feu depacho ? Repondeo palavras dig-
nas de fe imprimirem : V o u - m e defta Babylonia
para a campanha y porque m e he mais fcil, e
honrofo eperar l as balas do inimigo c o m o pei-
to , que aqui c o m os ouvidos as dos ditos, e
repotas dos Miniftros, e ulicos de Sua M a -
geftade.
Vedes aqui, amigo leitor, c o m o os que tem
as unhas na lngua, na defeana, at que nao
enxota toda afortede requerentes benemritos,
para lhes ficar o campo franco a fus pertenoens,
que por efta arte alcanay e aflim furtao, e pet
ca c o m os anzes, e unhas da lngua o que
na merecem , e de jutia fe deve dar, a q u m
arricou a vida, e na a quem a traz empapelada:
e eftes tao os ladroens, que tem na liilgua as
-unhas; c o m que empolga no que na he feu,
-nem lhes he devido. Fcil tinha tudo o remdio,
e eferito eft, e marcado comfellosde c h u m b o ,
que os prmios da guerra na fe appliquem a
fervios da paz. Se os S u m m o s Pontfices largaro
a efte Reyno os dzimos de innumeraveis C o m e a -
T iv das,
(296)
das~ que he ngue de Chrifto para os CavaU
leiros, que cuta de feu ngue propaga a F,.
e defendem a ptria : c o m o fe pode permittir,
que logre eftes prmios, q u e m nunca defendeo
a F , n e m honrou a ptria ? N a feyfeo diga l
Q u e vi j Comendas e m peitos inimigos de Deos,
e algozes da ptria. Calate lngua -, na te arrif-
ques: olha que temo chamem muitos a ifto mur-
muraa , tornando-o por i: porque tudo o que
pica detagrada : e o que detagrada, hefinalque
lhe toca. Toquemos a recolher, e vamonos di-
zer antes tape a h u m gato. 3
CAPITULO XXXVIII.
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C A P I T U L O XXXVIII.
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CAPITULO XL.
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C A P I T U L O XLIL
CAPITULO XLIII. - 4
CAPITULO XLIV
mis >ls >ls> -ms mis mX' *ls ^4tf S^ *4s >^ >L' ^ ^ ^ ^ ^4f "^T "^ ^ "^ ^" "^T >L" *4f "*? "^ ^" >^ ^ ^ ^?
CAPITL o XLV.
CA-
(352)
CAPITULO XXVI.
C A P I T U L O XLVIL
f
Vos que furtao com unhas verdadeiras.
C A P I T U L O XLVIII.
\
(366)
tugal ainda a jutia na abrio os olhos nifto :
prendem milhares de homens por d c aquella
palha 5 feacerta defermiferaveis, como ordina-
riamente ta quafi todos, na priza perecem fem
c a m a , e fem mantimento, porque a Mifericordia
na abrange a tantas obrigaoens da jutia, que
as p o d e m temperar todas f c o m lhe apretar as
caus. Se houvera ley, que pagaflem os Miniftros
as demoras culpaveis, pode fer, que elles, e os
feus officiaes andaTem mais diligentes.
Miniftros ha incorruptos, e que fazem Tua
obrigao nefta parte, e at neftes fazem feu onv
cio unhas vagarofes. Explico efte ponto c o m huiri
cafo notvel. Importava a h u m a parte, que fe
detivelTe o Teu feito h u m anno nas mos de Roda-
m a n t o , e m cuja cata nunca nenhum feito dormio
duas noites: armou-lhe por confelho de h u m R-
bula eperto c o m outro feito, que comprou na
Confeitaria muito grande, pezava mais de huma
arroba , e altou fobre elle o feu, que era pequeno,
e deu c o m elles, c o m o fe fora h u m f, e m cata do
Julgador y o qual e m vendo a maquina emoreceo,
e mandou-a pr de referva para as ferias, com
h u m letreiro e m cima, que afim o declarava. A
outra parte requeria fortemente, que na tinha
o feito que ver , e que e m h u m quarto de, hora o
podia
(367)
podia depachar : agaftava-fe o Dezembargador
c o m tanta importunaa, e ameaava o reque-
rentef que o mandaria meter no Limoeiro, fe
mais lhe filiava no feito, que era de qualidade ,
que havia mifter mais de h u m m e z de eftudo, e
que poriTo o tinha guardado para as ferias: che-
garo eftas dahi a h u m anno, vio o feito, defeo-
brio-fe a maranha do parto fuppofto, e alcanou
o grande mal, que tinha feito parte c o m as de-
tenas, que pudera evitar, fe detatara o envol-
trio. O que nefte paflo etranho mais que tudo,
he fofrerem-fe nefte Reyno Letrados procurado-
res , os quaes fe gaba, que fara dilatar h u m a
demanda vinte annos, fe lhe pagarem. O prmio,
que tais letras merecia, era o de duas letras: L. e
E. imprefls nas coftas, e na lhe efperarem mais,
para o que ellas fignifica.
D e C a m p o Mayor veyo h u m Fidalgo reque -
rerferviosa efta Corte: aconfelhou-fe c o m h u m
Religiofo letrado fobre o m o d o , que havia de
feguir, e comunicou-lhe tudo : Perguntoudhe o
fervo de Deos, que cabedal trazia para os gaftos?
Repondeo, que h u m cavallo, e dous homens
de fervio, e oitenta mil reis, que fez de h u m
olival que vendeo. Traz v. m . provimento para
oitenta dias quando muito, lhe dile o Religiofo,
vifto
(368)
vifto trazer tantas bocas comfigo: e f para entabo-
lar fus pertenes ha miler mais de trezentos dias;"
e fe o na tabe, dirlho-hey : H a v. m . de fazer
h u m a petio , que ha de gaitar mais de oito dias,
aconfelhando-fe c o m Letrados: fegue-fe logo ef-
perar dia de audincia geral, e ter entrada, e nifc
to ha de gaitar outros oito, fe na forem quinze.
Sua Mageftade no m e m o dia , e m que lhe da as
petioens, logo lhes manda dar expedientey mas
na tayem na lifta fenao dalli a feis, ou 'fete dias ,*
que v. m . ha de gaitar epreitando na tala dos T u -
defeos, para ver aonde o remettem. Acha- que
ao Confelho da Fazenda. Corre logo os Secretas
rios, e feus officiaes, e gaita dez, ou doze dias
perguntando-lhes pelos feus papeis -y at que ap*
parecem, onde menos o cuidava. Bufea valias
para os Confelheiros, e gaita outros tantos e m
alcanar as entradas c o m elles: e no cabo da-lhe
por depacho , que requeira no Confelho de
Guerra, e he o m e m o , que gaitar outra quaren-
tena , at haver o primeiro depacho, que he: Jufi-
tifique: e e m jutificar fus certidoens gaita mui-
tos dias, e na poucos reales. Torna o jutifica^
d o , e torna a rebatello c o m Vifia ao Procurador
da Coroa, ou da Fazenda, que ordinariamente
reponde contra os pertendentes, porque efe he
o feu
(369)
o eu officio: e c o m ete depacho m o , ou b o m ^
torna os papeis Meta dahi a muitos dias: e gafc
ta-fe logo mais que muitos na fabrica da Conful-
ta, porque fe paita s vezes femanas, fem haver
Confelho de Guerra. Feita a Confulta, a Vios
que te Ia depare buena, fbe a Sua Mageftade, ou
para melhor dizer a outros Secretrios, os quaes a
detm l quanto tempo querem, e o ordinrio he
dous, e trs mezes, efepata de feis, he necefl-
rio reformar outra vez tudo , e he o m e m o , que
tornar a comear do principio : e ifto fuceede fem
culpa muitas vezes; porque eta l outros papeis
diante, que por hirem primeiro, tem direito para
o tempo, e por ferem muitos, o gafta todo,
Deceo por fim de contas a Confulta depachada,
c o m parte do que v m . pedia, ou c o m tudo : he
vifta no Confelho de Guerra c o m os vagares cot
tumados, e dahi a tempos remettem a execuo
delia Meta da fazenda, onde fe m o v e m novas
duvidas, e^ a bem livrar, quando o Alvar taye
feito dahi a h u m mez , para hir a afinar por Sua
Mageftade, negoceou v. m . muito bem. Torna
aflinado dahi a dous mezes, lana -fe nos Regif-
tos, e delles vay correr asfeteeftaoens de Chan-
cellarias, Mercs, direitos novos, evelhos,J-ou
meyas natas , cc. E tenho dito a v. m. o que
- Aa pata,
(37)
pata; ou ha de patar, e ainda lhe na dile tu--
d o : mas fe o quizer taber mais de raiz, falle com
pefloas, que ha nefta Corte de trs, de cinco,
e de oito annos de requerimentos, e ellas lhe dira
o c o m o ifto pica. A repofta, que o Fidalgo deu
ao Religiofo , foy , quefeficaflembora, que
fe tornava para C a m p o Mayor.
Alguns requerentes ha ta pouco confide-
rados, que attribuem eftes vagares pela do
R e y , corno fe os Reys tivera corpo reproduzi-
d o , e de bronze, que pudefl afitir a todos os
negcios, e m todas as partes, e a todas as horas.
O s mais penitentes Religiofos tem feu dia de futq
cada femana, e uas horas de defcanfo entre dia,
para que fe na rompa o arco, fe eliver fempre
entezado c o m a corda do rigor : e delRey nofo
Senhor bemos, que na dorme entre dia, n e m
joga, n e m gaita o tempo e m couzas fuperfluasy e
fe algum entretenimento tem, he muito licito , e
f lhe d as horas, que furta do defeano, que lhe
era devido y e o mais todo o gaita no expediente
das guerras, e e m compor as tormentas de neg-
cios innumeraveis, fem admittir regalos, nem
otentaoens de feitas, que o divirta. Cada h u m
quer , que fe lhe afifta ao feu negocio , c o m o
^ fe outro na houvera, e daqui nafcem as queixas,
que
(37i)
queporiflo ta muito detarrazoadas. DaVilla do
Ges veyo a efta Corte certo h o m e m de b e m c o m
h u m a appellaa e m cafo crime, e no primeira
dia, e m que lhe deu principio/ paftando pela
terreiro do Pao, vio h u m a m o de homens 5 che-
gou-fe a elles, e perguntou-lhes, fe eftava faltan-
do fobre o feu pleito ? Repondera-lhes, que o
na conhecia , n e m tabia que pleito era o feu.
Pois e m Ges [acodio elle] na fe falia e m outra
couza. Afim pata, que cada h u m cuida que T
nelle, e no feu negocio fe deve faltar. Senhores
requerentes, levem daqui averiguado efte pon-
to , para taberem , de q u e m fe ha de queixar :
que os negcios ta muitos, e que na m a de Sua
Mageftade na fazem detena : veja l, onde en-
calha a carreta , e untem-lh s rodas, fe querem.
que ande y e c o m ifo fer apreftdasc unhas vr-
garotas, e ainda c o m ifo duvidofeferaodiligen-
tes , porque pode acontecer , o que Deos na
queira , ou na permitta , que haja Secretario ,
ou Official , ou Confelheiro, que n depache
cada dia mais que fete, ou oito papeis,' cctefcen-
do-lhe cada dia quinze , ou vinte de novo. E fe
ifto afim for, j na m e epanto dos montes de
papeladas, que vejo por efls OfRcinaS', riem
das queixas, que ouo por eftas ruas. Trabalhem
; A a ii os
(37^),
os Officiaes, e Miniftros , que bons ordenados
c o m e m , e na d m c o m o feu defeano trabalho
a tanta gente. D e h u m m e contaro, que tendo
feis centos mil reis de ordenado , quatro centos.
para fi, e duzentos para Officiaes, nunca teve
mais que h u m , a q u e m dava cincoenta mil reis,
e m a m a v a os cento, e cincoenta para i, e porif
7
fo na fe dava expediente a nada. ?
-*ls-As>As ms mis *ls 'mis ^X-- xL' ^L" 'As -As mis *As mis -As mS "4' **&' >J^ "^ "^ mis mis* m^ *4f *4* ^ ^ ^ "4^ ^
4?r ST* sr* ^T" ^P" ^T* ^^ ^i ^ * M ^ 'i' '^,' '^'"^P' M " "HP J ^ k ^P" "i "" i* '' ^ * *" **" ' * 'i' ^ v ^ " / T S > T >
CAPITULO XLIX.
CA-
(379)
CAPITULO L.
mAs -As >ls mis v4-" >*L< NIC AS ^4S" NL-* ->1S mis mis -mis mis mis mis m{s mi. As mjs mis mis mis mis >ls mis st^ *A' *-4< ^ *fc
symsjm SJm sjm yj > SJ*> ^- XJ- sfm ^f*- ^m ^ ^^^^^^^^^>^^./^^/^/^^V^.^S/p./^
CAPITULO LI. j
C:
(39i)
CAPITULO LIT.
CAPITULO LM.
mils mis mis mis m)s <NL" mis mis mis mis mis mis mis mis mis mis mis mis mis mis mis mis mis mis mis mis mis mlf mis mb mL* mlji
CAPITULO LIV* *
-4?^^ *? ^ *Z ^ ^ -Jk ^k "d^ ^ "J^ ^ ^ J ^ "J" ^ ilcf Sk *Je "4^ ~4e ~4s* >k ^ At
sr- >T*' ^P 4 ^p* *T+ ^ p ^T*- ^ p *r* > X S / T Sk ' / j v ^p* <^p- ''ps -^p- ^|3i -^p*- 'f** ^p- ''p *^v ^p> *y* ^y^- ^ ^p* ^p ^p* ^p 1 *T** ^j7
.i
C A P I T U L O LV.
Vos que furtao com unhas occultas.
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CAPITULO LVI.
CAPITULO LVII.
CAPITULO LVIII.
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CAPITULO LIX,
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CAPITULO* LX.
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* A P I T U L o LXIIL
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C A P I T U L O LXIV
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(463)
dos, quando j o mercador na tinha na \oc
de todo o panno, n e m h u m f retalho, e fe m\l
peitas tivera, tantas gaitara. E eftas ta as verda-
deiras unhas de prata, que c o m pouca perda del-
ia empolga grandes ganncias, tirando por arte
a Tubftanca do vulgo ignorante, que fe leva de
vans apparencias.
C A P I T U L O LXV.
.
(4*5)
zer dobrada a fulano, de q u e m fey, fois grande
inimigo. Beijou a m a ao Rey pelo favor, e pe-
dio logo por merc, que lhe mandafem arrancar
h u m olhoj porque afim feria obrigado a arran-
car dous ao outro , para queficaflecego, ainda
que elleficafletorto. E bem cego eftava , quando
procurava d a m n o alheo fem proveito prprio.
Quanto fegunda : furtar o que ha de reti-
tuir. Melhor diflera : o que na ha de retituir,
porque raro he o ladro , que retitua -, mas falta-
m o s da obrigao , que lhes corre, fe he que ta
Chriftos, e trata defe-lvar.E bem devem de
fber, o que dizem os Doutores, que na fe per-
doa o peccado, a q u e m podendo naretitue o
mal levado. Todos dizem, quando fe confetav,
que ha de retituir, c o m o tiverem por onde.
Pois nofbirma,fevs o haveis de retituir, pa^
ra que o furtaftes ? Repondem , que tabe melhor
o .furtado, que o comprado : e na poder ,
que o amargor da reftituia he mayor, que a
doura do furtoy- e poriTo diTemos, que he gran-
de tolice furtar, o que fe ha de retituir. Furtaro
trs officiaes mancomunados nove mil cruzados
> fazenda de Sua Mageftade: repartira-nos entre
ri 5 e navegaro c o m o cabedal, h u m para a In*
dia, outro para* Angola, e parayaBrafil outrotr.
Gs e cie-
(466)
e depois de chatinarem valentemente,tomou-os por
I3 ajaora da morte. Tratou cada h u m por iiai
parte de fe pr b e m c o m Deos pelos Sacramen-
tos da Penitencia, que he o ultimo valhacouto
dos peccadoresj e chegando ao fetimo Manda-
mento , picava a conciencia de cada h u m os trs
mil cruzados, que lhe coubera, e declarava,-
c o m o tinha de obrigao , que o furto ao todo
fora de nove mil, repartidos igualmente por trs
companheiros, e achava-fe todos c o m cabedes,
que tinha adquirido , baftantes para retituir
tudo. Dizia o Confefor da ndia ao feu peniten^
te, que era obrigado a retituir os nove mil cru-
zados por inteiro, vifto na lhe confiar, fe feus
companheiros tinha dado tisfaa fua parte.
O Confefor d~ Angola, e do Brafil dizia o
m e m o aos feus moribundos, que fe achava no-
vos na nova obrigao , que fe lhes impunha, e
argumentava : fe eu na logrey mais que trs
mil, c o m o hey de retituir nove mil ? M a s a re-
pofla eftava m a , e clara , porque foftes cau
d o d a m n o por inteiro c o m a ajuda, que deites a
vofos companheiros, conla-vos do furto, e na
vos conta da reftituia ; e afim fois obrigado a
vos defcarregar do que he certo, e na vos pode
valer a decar|a, que he incerta. Eitaqui outra
tolice
(467)
tolice mayor, furtar o que fe ha de retituir do-r
brado.e trefclobrado, conforme o numero dos com-
panheiros, que entraro ao efcote. Alguns nefte
ponto tazem-fe mancos por na remar : dizem
que na tem pofles para retituir, e que na
ta obrigadosT. fena quando os favorecer fortu-
na mais pingue-, que primeiro eft a obrigao
de fe utentarem afi, e a fua cata, para que na
perea : e ns vemos, que poder aguarentar
mil fuperflidades, e etreitar os gaftos, e pou-
parem para dar o feu a feu dono. L fe avenha :
f lhes lembro, que ha de viver mais no outro
m u n d o , que nefte , e que tudo c lhes ha de fi-
car , tetemunhando er jufta ua condemnaa.
Quanto terceira tolice : furtar para outrem,1
digo que he mayor, que a prin/ira, e fegunda^
porque na ha duvida, que he intania muito gran-
de empenhar-fe h u m h o m e m , pelo que na ha de
lognrr. O s Reys devem pagar a q u e m os ferve, e
paga-lhe c o m ordenados, e mercs5 chega o
tempo de cobrarem, pata-lhe os Reys portarias,
e alvars, c o m quefedefcarrega: va c o m eftes
papeis os acrdores aos Veadores, e Thefourei-
ros, para que entreguem, o que nellesfecontm ,
efecha-e banda c o m o ourios gicheiros, e m
que na ha mais, que efpinhos dc^epoftas pican-
G g ii tes,
(468)
tes, e bem devem taber, que a reteno do que
fe deve he verdadeiro furto: e tomara perguntar-
lhes 7* para q u e m furtao ifto, que na pagao >
N a faltar, q u e m cuide , que para fi; e fe nao
for para fiy fera para o R e y , que j fe defobri-
gou c o m mandar, que fe pague, e afim vem
a fer ladroens, que furtao para outrem, e he o
que chamamos grande tolice: eagraahe, que
feficarindo c o m eftas retencoens, como fe fb-
ra chiftes, e habilidades, e m que nem a Caetano,
n e m Cova-Rubias tem porfi:e eu fey,q as marca
os mernos por muito grande ignorncia. Por mayor
tive a de certos Cavalheiros e m Santarm, que
metero na cabea a h u m mancebo vagamundo,
quefefingiflefilhode h u m h o m e m nobre, e rico,
ara o herdar. Fby o cafo, que efte h o m e m teve
iEiumfilhonico, que lhe fugio de nove annos,
e havia mais de vinte, que na abia delle : appa-
receo nefte tempo naquella Villa h u m pobreta,
que reprefentava a mefma idade : amigos, ou ini-
niigos do h o m e m de b e m , o entayara, c o m o
havia de dizer, que era feu filho, e lhe enfinara
hilorias, e circuntancias, para e dar a conhe-
cer , e que os alegafe por tetemunhas: o pay
iippoto negava-o de filho fortemente, e dava
por raza,que r|ifelhe alvoroara o tangue,quan-
do
(469)
do o vio. O mancebo demandava-o diante do
Juiz ordinariamente para alimentos e m vida, e m
quanto o na herdava por morte: as hiftorias,
que contava, e tetemunhas, que dava, conte-
tara de maneira, que deu o Juizfentenapelo
mancebo, e condemnou o velho a lhe dar alimen-
tos, declarando-o por feu filho. Cafo raro, e
nunca vifto, n e m imaginado ! Q u e no memo
dia appareceo e m Santarm o filho verdadeiro,
que todos conhecero logo, e o velho dizia : efte
fim, quefem e alvoroou o ngue, quando o vi.
O outro detappareceo logo, e eu perguntava aos
-embaidores, fe advertia, que era furto os
alimentos, que fazia dar c o m feu telemunho, a
q u e m os na merecia ? E que negoceava para
outrem , e na para fi o fruto d demanda, que
iniquamente vencia? N a devia de ignorallo,
ainda que fe moftrava niflb grandes ignorantes,
e tolos.
Alguns cuida, que tem difculpa, quando
furtao para darem remdio a feusfilhos5 mas
cra , que na efcapa da mema nota, porque
feusfilhosna os ha de tirar do Inferno, quando
l forem, pelo que para elles mal, e fujamente
adquiriro. E m certo lugar dej Reyno tinha
h u m alfayate trsfilhasfemdote*|>ara lhes dar ef-
G g iii tado:
(470)
tado: acordou de as catar c o m trs obreiros, e
para ajuntar remdio para todos, deu comfigo,
e comvelles no Algarve :fingindo-feConde vomi-
tado das ondas, que efcapara c o m aquelles cria-
dos de h u m naufrgio -, tinha prefena, e lbia,
para perfuadir tudo 5 que vinha de ndias, e
perdera mais de m e y o milho e m barras de ou-
ro, e pinhas de prata, que at as panelas da
fua cofinha era do m e m o , e que fe via como
Job pofto de lodo. E c o m eftas, e outras im-
pofturas, perfuadia s Cameras, e Cabidos, N o -
breza, epovos, por onde patava, que o aju-
daflm contra fua fortuna : todos fe compadecia,
e para os mover mais, moftrava e m pergaminhos
ua grande protapia, e os famofos cargos, que
fervira. O menos que lhe dava, at nos lugares
pequenos, e humildes, era os dez, e os vinte
cruzados, que nas Villas grandes, e Cidades ri-
cas, patava fempre o donativo de vinte mureis,
e s vezes de quarenta. E depois de correrem af-
fim o Reyno quafi todo pela pfta, achou-fe o
fenhor Conde de Siganos no fim da jornada c o m
mais de trs mil cruzados grangeados por efta arte,
c o m que armou trs dotes para as trs filhas,
c o m o fe foraq^res Condeflas: e elle ficou ta
alfayate c o m o dfcntes, fem lograr de tantos furtos,
mais
(47i)
mais que o pezar de os ver mal logrados nas unhai
de feus genros, quefe bem o ajudaro, mal lho
agradecero. E na diz mais a hiftoria.
Quanto quarta: furtar o que vos ha de de-
mandar , e fazer pagar, e m que vos pez, he a ma-
yor tolice de todas, c o m o fe vio no que fuccedeo
ao Carvalho na femana, e m que componho efte
capitulo. Era guarda da Alfndega de Lisboa, e
guardava as fazendas alheas muito b e m , porque
as punha e m fua cata, como fe fora fus: foy der
mandado poriTo $ e porque na deu boa raza de
fi s partes, o puzera por portas repartido : per-
tendeo levantar cabea cufta alhea, e levanta-
ra-lha dos hombros fua cufta. Setecentos cafos
pudera contar para apoyo deita tolice-, livro^
m e c o m h u m deite particular, e de todo efte ca*
pitulo. E m Angola tinha ElRey nofo Senhor
na ha muitos annos h u m Miniftro [ tomara-lhe
muitos femelhantes ] que empregava os direitos
Reaes e m eferavos, que mandava ao Brafil c o m
direca, que fe vendeTem, efizeflemdo pro-
cedido caxas de acar para o R e y n o , e afim
fe augmentaTe a fazenda de Sua Mageftade trs
vezes ao galarim 5 mas o Miniftro, que repon-
dia no Brafil, fazia feu negocio melhor que os
alheos. Chegava h u m a partida dJtrinta, ou qua-
G s iv renta
(47^)
tenta negros, achava ferem mortos dous na via-
g e m , lanava nos livros doze defuntos, e to-
mava dez parafirefufcitados: era os que refta-
va mancebos, e b e m difpoftos: mandava vir do
feu engenho dez, ou doze, que tinha velhos, ou
etropeados, punha-os no numero delRey, e ti-
rava outros tantos para fi moos, e de b o m reci-
bo : e vendida a partida afim c o m o fuccedia, fa-
zia o emprego da refulta nos acares tanto a feu
m o d o , que fempre as perdas era Reaes, e os
ganhos prprios. Havia olheiros zelofos, que
via ifto, mas andava ta intimidados, que
n e m boquejar fe atrevia , at que o tempo deA
cobridor de mayores fegredos trazia tudo a luzj
e para efeurecer efta , tinha o fobredito na Corte
outros officiaes, a q u e m refpondia c o m os ga-
nhos , e poriTo o defendia , e confervava, f-
zendo-fe as barbas c o m tabonetes de acar, a pe-
zar, que ficava tida por mentira, e talvez c o m o
tal caftigada. M a s c o m o a verdade traz comfigo
a luz, por mais que a eclypfem, fempre fe mani-
fefta: c provada efta , que Ter b o m que Te faa
ao tal Miniftro ? Deixo iTo afeudono, que tem
de cata a jutia, e lhe far pagar pela fazenda,
e corpo o ncu&>, e o velho, para que na feja
ta tolo, que iuide poder cobrir o C e o c o m
huma
V
(473)
h u m a joeira $ e que na taiba, o que jficadito
por boca de h u m argans no capitulo 24. que
q u e m a galinha delRey come magra, gorda a
paga.
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CAPITULO LXVL
QUARTETOS.
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CAPITULO LXVIII.
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C A P I T U L O EXX.
CONCLUSAM FINAL,
e remate do defengano verdadeiro.
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
BIBLIOTECA CENTRAL