A Economia Monetária No Pensamento Clássico, Keynesiano, Monetarista e Novo-Clássico
A Economia Monetária No Pensamento Clássico, Keynesiano, Monetarista e Novo-Clássico
A Economia Monetária No Pensamento Clássico, Keynesiano, Monetarista e Novo-Clássico
Guilherme Paiva
Uriel Moreira
Introduo
onde:
L =w [ Pm g L ] P
a oferta de trabalho,
o salrio nominal e
P o ndice de preos.
(Y n )
produo fixo e usado integralmente no curto prazo, o que faz com que:
onde
M =
V =
velocidade da moeda,
P=
Y
P=kP M=k P
V
Ento, temos que, dadas as hipteses acima, a oferta real de moeda nunca se modifica, pois
o efeito de um aumento na quantidade de moeda leva um aumento de proporo k no
nvel de preos.
Seguindo a contribuio de Irving Fisher, uma outra contribuio importante no contexto
monetrio foi a de Knut Wicksell, que tinha como objetivo explicar, dada a validez da TQM,
Modelo Keynesiano
Aps os acontecimentos que eventualmente culminaram no que seria a Grande Depresso de
1929, houve uma revoluo expressiva no pensamento e tratamento de questes
macroeconmicas, principalmente no que diz respeito ao funcionamento do mercado de
trabalho e conduo de poltica econmica. Visando quebrar o paradigma clssico vigente na
poca, John Maynard Keynes formula sua teoria com base no fato de que existe rigidez de
preos e salrios no mercado de trabalho, argumentando que os salrios so rgidos para cima
e os preos so rgidos para baixo.
Das crticas feitas em relao formulao Clssica, uma das principais em relao ao que
diz Lei de Say a oferta cria sua prpria demanda. De acordo com Keynes, existe
desemprego involuntrio na economia, empiricamente observado, o que no ocorreria em um
ambiente Clssico de total flexibilidade dos preos. Uma das explicaes para a causa do
desemprego involuntrio poderia ser a existncia de um nvel de salrio mnimo o que faz
com que as firmas contratem menos do que em um equilbrio de mercado no-regulado,
gerando desemprego.
A formulao original de Keynes (Snowdon, 2005), porm, formada inteiramente tendo
como base o princpio de Demanda Efetiva, que diz que em uma economia fechada com
capacidade ociosa, o nvel de produto determinado por gastos privados planejados, ou seja,
por consumo e investimento, da forma:
Y =C + I
Como o consumo definido atravs de uma relao psicolgica e estvel, a principal causa
de instabilidade em uma economia advm de flutuaes no investimento, que depende dos
animal spirits e expectativas dos investidores quanto ao futuro e tambm da taxa de juros
vigente na economia:
C=c 0 +c 1 Y
I =I ( r ) ;
dI
<0
dr
No que diz respeito poltica monetria, nessa formulao, notvel o fato de que ela
exerce um impacto sobre o nvel de produto, atravs do efeito da taxa de juros sobre o
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P Y
V
1
[ c + I (r )+GT ]
1c1 0
6
m>0 ,
b>0 ,
c 1 ( 0,1 ) ,
o consumo autnomo,
G
I ( r)
o nvel de produto,
a taxa de juros,
1
1c 1
o multiplicador keynesiano,
M S
importante destacar a viso dos Keynesianos sobre a efetividade dessas polticas, porm.
Como dito anteriormente, a proposio Keynesiana de que o efeito de uma reduo na taxa
de juros sobre o nvel de investimento e, consequentemente, sobre o nvel de produto muito
baixo (graficamente, como se a IS fosse quase vertical e, portanto, insensvel mudanas na
taxa de juros). De forma resumida, os Keynesianos acreditam que a poltica monetria
pouco eficaz na determinao do nvel de produto e insuficiente na estabilizao de ciclos
econmicos, sendo para esses fins recomendada a poltica fiscal.
interessante notar que, ao contrrio do que geralmente se pensa respeito de prescrio de
polticas por economistas intitulados Keynesianos, Keynes no enfatizava o uso excessivo
e irrestrito de poltica fiscal (e muito menos monetria) para promover crescimento ilimitado.
Como retratado em Snowdon (2005), Keynes defendia a interveno governamental apenas
em casos de instabilidade e desequilbrio, sendo que idealmente o governo deve intervir com
poltica fiscal apenas de forma a corrigir o problema de desemprego involuntrio (assim
corrigindo desvios na demanda efetiva). Se o pleno emprego em uma economia fosse
atingido, assim ele acreditava, ento a soluo Clssica passaria a valer: a taxa de
crescimento do produto seria igual a natural (taxa de crescimento em pleno emprego), ao
passo que a mo invisvel levaria alocao mais eficiente possvel de recursos.
Modelo Monetarista
Em uma resposta contrria predominncia de polticas regidas por modelos autointitulados Keynesianos em que seus proponentes defendiam um alto grau de
intervencionismo e de gastos pblicos surgiu, em meados de 1950, o que se chamaria
posteriormente de revoluo Monetarista. Indiscutivelmente, o principal autor que iniciou o
movimento e, como Keynes, se tornou a principal referncia em termos de sua prpria escola
de pensamento econmico foi Milton Friedman.
Friedman (Snowdon, 2005) negava vrias das proposies Keynesianas, principalmente no
tocante eficcia da poltica fiscal, poltica monetria e como se daria o funcionamento do
mercado de moeda. Em respeito esse ltimo elemento, o autor acreditava que o mercado
monetrio funcionava de uma forma bem diferente da postulada pelos Keynesianos, em
especial no que tange Teoria Quantitativa da Moeda. Na formulao de Friedman (1956), a
TQM uma teoria de demanda por moeda, e no uma que visa explicar o nvel de preos ou
produto. Um fato digno de nota o de que Friedman, ao contrrio de Irving Fisher e ao
contrrio de Keynes, no acredita que a velocidade seja constante no curto prazo e nem que
ela flutua radicalmente com as preferncias pela liquidez dos agentes; ele acredita que a
velocidade da moeda uma funo relativamente estvel da demanda por moeda (tal que se a
demanda por moeda for estvel, o que geralmente ocorre na formulao Monetarista, a
velocidade tambm ser estvel).
Friedman descreve basicamente a demanda real por moeda como funo da renda
P
e
permanente Y , a taxa de retorno dos ativos financeiros r , a inflao esperada P e
as preferncias individuais dos indivduos acerca dessas variveis, tal que:
Md
=f (Y P ; r ; P e ; u)
P
sendo que
I.
f
f
f
> 0, II . <0, III .
<0
P
e
r
Y
P
A explicao para os efeitos dessas variveis sobre a demanda por moeda dada da seguinte
forma:
I.
II.
Quanto maior o nvel de renda do indivduo, maior ser sua demanda por moeda,
pois o indivduo necessitar de mais moeda para realizar suas transaes.
Quanto maior a taxa de juros (rendimento dos ativos), maior o custo de
oportunidade de se segurar moeda, e menor ser sua demanda.
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O aumento da inflao esperada por um indivduo faz com que esse busque uma
alternativa livre de risco (ttulos indexados, por exemplo) ou um maior nvel de
retorno sobre sua riqueza, o que leva uma queda na demanda por moeda.
Para Friedman, o ajuste completo de uma mudana na oferta de moeda muito lento. Se a
funo de demanda por moeda estvel (o que pode ser traduzido no curto prazo como
V =V , dada a relao de estabilidade entre velocidade e demanda por moeda), ento um
aumento na oferta de moeda, por exemplo, ter um impacto positivo sobre o nvel de preos e
a renda nominal, sendo que esse efeito se dissipa no longo prazo. Dada uma certa rigidez de
preos no curto prazo, ento esse aumento na oferta de moeda produzir um aumento sobre a
renda real, como pode ser novamente demonstrado pela equao da TQM:
M V = PY
Temos ento que, no curto prazo, a renda real varia diretamente com as variaes na oferta de
moeda. No longo prazo, porm, o reajuste do nvel de preos e de expectativas dos agentes
faz com que o efeito de uma variao na oferta de moeda se dissipe, fazendo valer, no longo
prazo, a dicotomia clssica.
Ressaltar a diferena entre variaes da oferta de moeda e o nvel da oferta de moeda
muito importante para se entender o argumento monetarista: Friedman acreditava que fixar o
nvel do estoque de moeda faria com que o efeito dessa poltica monetria fosse sentido
apenas no momento em que esse estoque de moeda variasse. Aps isso, os agentes
reajustariam suas expectativas e o crescimento tendencial do nvel de preos e da renda
nominal fariam com que cada vez mais moeda fosse demanda, o que acabaria por causar uma
recesso por falta de moeda para cobrir as transaes bsicas entre os agentes.
Por outro lado, se o que o governo fixa via poltica monetria a taxa de variao da oferta
de moeda, as expectativas dos agentes ainda seriam ancoradas e o efeito ainda se dissiparia
no longo prazo; porm, como o estoque de moeda estaria sempre em crescimento
(acompanhando a tendncia do aumento do nvel de preos e da renda nominal ao longo do
tempo), esse tipo de poltica nunca causaria uma recesso via falta de moeda.
A fixao de um certo nvel de estoque de moeda, Friedman (1982) formula, foi a principal
causa da Grande Depresso de 1929. Em meados de 1926 at 1928, o nvel do estoque de
moeda caiu quase um tero em 3 anos, gerando a recesso que se seguiu. O argumento de
Friedman que, dada essa retrao significante da oferta de moeda (com taxas de variao
negativas, no caso) fez com que os bancos vissem sua situao piorando cada vez mais, com
a falta de ativos emprestveis e limite de criao de moeda. Essa situao foi percebida pelos
agentes econmicos que possuam ativos correntes no banco, que procuraram sacar de forma
mais rpida possvel. O que se seguiu foi uma crise de liquidez generalizada dos bancos e a
quebra da bolsa americana em 1929.
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Pode-se observar, no grfico acima, que mesmo se uma poltica fiscal expansionria fosse
feita, essa teria efeito apenas na taxa de juros da economia, pois o governo gastando mais
significa menos moeda na economia, o que aumenta a taxa de juros mas no leva nenhum
ganho de produto ocorre aqui um efeito crowding out total. A intuio basicamente que os
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Modelo Novo-Clssico
Durante a dcada de 70, novos avanos na teoria macroeconmica devido aos trabalhos de
Thomas Sargent e Robert Lucas levaram formulao da teoria de expectativas racionais
(Sargent, 1987), e eventualmente criao da escola de Novos-Clssicos. Como o prprio
nome sugere, o pensamento Novo-Clssico tem fortes razes na escola Clssica,
principalmente no que tange s foras de ajuste de mercado: para eles, os preos so p
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Poltica Fiscal
Poltica Monetria
Clssicos
Ineficaz no curto
e longo prazo
Ineficaz no curto
e longo prazo
Keynesianos
Eficaz no curto e
ineficaz no longo
prazo
Monetaristas
Novos Clssicos
Sempre ineficaz no longo
Ineficaz no curto
e longo prazos
Eficaz no curto e
Eficaz no curto e
ineficaz no longo
ineficaz no longo
prazo
prazo
Flutuaes no
Distores
gasto autnomo
monetrias
Adaptativa
Adaptativas
Racionais
Flexvel
Perfeitamente flexvel
Forte
Muito forte
Distores
Fonte dominante de
instabilidade
monetrias e
causadas por
polticas
Distores monetrias
discricionrias
Expectativas
No contemplado
Ajustamentos de
Perfeitamente
Salrios e Preos
flexvel
Ajustamento do
Mercado
Muito forte
Equilbrio ocorre
Noo de equilbrio
na taxa natural de
pleno emprego
Espao de tempo
dominante
Regras vs Discrio
Curto = longo
Regras
nfase na rigidez
do salrio
nominal
Fraco
Equilbrio com
capacidade
ociosa, abaixo do
pleno emprego
Curto
Polticas
discricionrias
Equilbrio ocorre
na taxa natural de
pleno emprego
Curto e longo
Curto = longo
Regras
Regras
Fonte: Adaptado do livro texto: Snowdon, B. & Vane, H. - Modern Macroeconomics, Its Origins, Development and Current State (2005)
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