Introdução À Teoria de Galois e Extensão de Corpos (Everaldo Ferreira)
Introdução À Teoria de Galois e Extensão de Corpos (Everaldo Ferreira)
Introdução À Teoria de Galois e Extensão de Corpos (Everaldo Ferreira)
INTRODUCAO A TEORIA DE
GALOIS E EXTENSAO DE
CORPOS
MACAPA-AP
2012
EVERALDO DE ARAUJO FERREIRA
EVERTON WILLIAN SOUZA MARTINS
HELIVALDO DA SILVA NUNES
INTRODUCAO A TEORIA DE
GALOIS E EXTENSAO DE
CORPOS
MACAPA-AP
2012
EVERALDO DE ARAUJO FERREIRA
EVERTON WILLIAN SOUZA MARTINS
HELIVALDO DA SILVA NUNES
INTRODUCAO A TEORIA DE
GALOIS E EXTENSAO DE
CORPOS
Trabalho de Conclusao de Curso apresentado a Comissao Examinadora do Cole-
giado de Matematica da Universidade Federal do Amapa, Campus Marco Zero, como
requisito parcial para a obtencao do ttulo de Graduacao em Licenciatura Plena em
Matematica.
Comissao Examinadora:
MACAPA-AP
2012
Dedicamos a todos a contribuicao que di-
reta ou indiretamente nos ajudaram para
realizacao do nosso trabalho, em particular
ao nosso Professor Orientador: Guzman Isla
Chamilco, que em todo tempo esteve sem-
pre disposto a nos auxiliar quando preciso.
Desde ja nossos sinceros agradecimentos.
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter nos dados a vida, aos nossos pais que tem contribudo com a nossa
formacao, aos nossos irmaos, esposa, filhos, namorada e amigos pelo incentivo de con-
tinuar firme na labuta, aos meus colegas de curso pela amizade e companheirismo, aos
professores, aos quais devemos parte de nossa formacao, em particular o nosso Professor
Orientador.
A Matematica como qualquer area do conhe-
cimento humano, tem seu desenrolar evo-
lutivo capaz de caracteriza-la como uma
ciencia que tambem se desenvolve a partir
de sua propria historia. Desse modo pode-
mos buscar nessa historia fatos, descobertas
e revolucoes que nos mostrem o carater cria-
tivo do homem quando se dispoe a elaborar e
disseminar a ciencia matematica no seu meio
socio-cultural.
vi
Lista de Figuras
vii
Sumario
Resumo vi
Lista de Figuras vi
1 Introducao 12
1.1 A Historia da Teoria de Galois . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.2 A abordagem de permutacao de grupo na teoria Galois . . . . . . . . . . . 14
2 Grupos 18
2.1 Definicao de Grupo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.2 Aplicacoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.3 Homomorfismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.4 Classes Laterais e Subgrupos Normais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.5 Aplicacoes para Grupos Cclicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.6 Grupos de Permutacoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3 Aneis 29
3.1 Ideais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.2 Homomorfismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
3.3 Corpos quocientes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4 Espacos vetoriais 42
4.1 Espacos vetoriais e bases . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
4.2 Dimensao de um Espaco Vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
5 Extensao de Corpos 52
5.1 Extensao de Corpos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
5.2 Elementos Algebricos e Transcendentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
6 Separabilidade e Normalidade 59
7 Teorema de Galois 66
7.1 Resolucao de Equacoes Por Radicais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
8 Consideracoes Finais 80
Introducao
Evariste Galois voltou a Paris e juntou seus dois trabalhos num so e os enviou
para o secretario da Academia, Joseph Fourrier. O trabalho de Galois nao apresentava
uma solucao para os problemas do quinto grau, mas oferecia uma visao tao brilhante que
Cauchy, o considerava como o provavel vencedor. Mas, o trabalho nao ganhou o premio e
nem foi oficialmente inscrito. Fourrier morreu algumas semanas antes da data da decisao
dos juzes, e embora alguns trabalhos iniciais tivessem sido entregue ao comite, o de Galois
nao estava entre eles. O trabalho nunca foi encontrado e a injustica foi registrada por um
jornalista frances. Em dezembro de 1830, o genio contrariado tentou se tornar um rebelde
profissional alistando-se na Artilharia da Guarda Nacional, acusado de conspiracao Galois
foi preso. Ficou na prisao durante um mes e mergulhou num estado de depressao, tentando
suicdio. Em marco de 1832, um mes antes do final da sentenca, irrompeu uma epidemia
de colera em Paris e os prisioneiros foram libertados.
Um de seus maiores temores era de que sua pesquisa, rejeitada pela Academia,
se perdesse para sempre. Em uma tentativa desesperada de conseguir reconhecimento,
ele trabalhou a noite toda, escrevendo o teorema que, acreditava, explicaria o enigma
da equacao do quinto grau. No final da noite, quando seus calculos estavam completos,
ele escreveu uma carta explicativa ao seu amigo Auguste Chevalier, pedindo que, caso
morresse, aquelas paginas fossem enviadas aos grandes Matematicos da Europa.
A Teoria de Galois e um ramo da algebra abstrata.No nvel mais basico, ela usa
grupo de permutacoes para descrever como as varias razes de uma certa equacao polino-
mial estao relacionadas umas com as outras. Este foi o ponto-de-vista original de Evariste
Galois. A abordagem moderna da Teoria de Galois, desenvolvida por Richard Dedekind,
Leopold Kronecker e Emil Artin, entre outros, envolve o estudo de automorfismos de
extensoes de corpos. Uma abstracao alem da Teoria de Galois e conseguida pela teoria
das conexoes de Galois. O nascimento da teoria foi originalmente motivado pela seguinte
questao, que e conhecida como o teorema de Abel-Ruffini.
13
Captulo 1. Introducao 1.2. A abordagem de permutacao de grupo na teoria Galois
A teoria de Galois nao e somente para dar um bela resposta para essa questao,
mas tambem para explicar em detalhes porque e possvel resolver equacoes de 4 grau
ou menores da forma descrita acima e porque suas solucoes assumem as formas que tem,
ela da uma clara explicacao a questoes referentes a problemas de construcao com regua e
compasso. Caracteriza de forma elegante as construcoes que podem ser executadas com
este metodo. Usando esta teoria, torna-se relativamente facil responder perguntas da
geometria classica tais como:
As ultimas tres perguntas referem-se aos problemas classicos de construcao com regua e
compasso, que Galois conseguiu responder com sua teoria, utilizando as nocoes de numeros
algebricos e transcendentes.
Se e dado um polinomio, pode acontecer que algumas de suas razes estao concate -
Por exemplo:
14
Captulo 1. Introducao 1.2. A abordagem de permutacao de grupo na teoria Galois
2 4 + 1 = 0
0 00
=2+ 3 e =2 3
+ = 4 e = 1
Pode-se ainda levantar a objecao que e sao relacionados ainda a outra equacao
algebrica
2 3=0
a qual nao e mais verdadeira quando pelo sao trocados. Porem, esta equacao nao nos
interessa, porque ela nao possui coeficientes racionais; em particular, 2 3 nao e racional.
grupo de Galois e trivial; isto e, ele contem unicamente uma permutacao identica.
Se ele tem duas razes racionais, por exemplo y 2 3y + 2 = (y 2)(y 1), entao o
15
Captulo 1. Introducao 1.2. A abordagem de permutacao de grupo na teoria Galois
Se ele tem duas razes irracionais (incluindo o caso onde as razes sao complexas),
entao o grupo de Galois contem novamente duas permutacoes, justamente como no ex-
emplo acima.
(X 2 5)2 24
Havera 24 possibilidades para permutar essas 4 razes, mas nem todas essas per-
mutacoes sao membros do grupo de Galois. Os membros dos grupos de Galois devem
preservar qualquer equacao algebrica com coeficiente racionais envolvendo K, W, Y e Z.
Uma dessas equacoes e
K +Z =0
Porem a permutacao
(K, W, Y, Z) (K, W, Z, Y )
nao e permitida, porque isso transforma a equacao valida K+Z = 0 na equacao K+Y = 0,
a qual e invalida, visto que K + Y = 2 3 6= 0.
(K + W )2 = 8
(K, W, Y, Z) (K, Y, W, Z)
16
Captulo 1. Introducao 1.2. A abordagem de permutacao de grupo na teoria Galois
(K, W, Y, Z) (K, W, Y, Z)
(K, W, Y, Z) (Y, Z, K, W )
(K, W, Y, Z) (W, K, Z, Y )
(K, W, Y, Z) (Z, Y, W, K)
17
Captulo 2
Grupos
Definicao 2.1. Um grupo G e um conjunto nao vazio, munido de uma regra (chamada
lei de composicao) que, a cada par de elementos x e y de G, associa um elemento de G,
denotado por xy, e que satisfaz as seguintes condicoes:
(x y) z = x (y z)
0x=x0=x
xy =yx=0
com essa notacao, G e chamado grupo aditivo. Usaremos a anotacao somente quando
o grupo em questao satisfizer a condicao adicional
xy =yx
Captulo 2. Grupos 2.1. Definicao de Grupo
e0 = ee0 = e
a esse elemento damos o nome de elemento unidade de G. No caso aditivo, ele e chamado
elemento zero.
z = ez = (yx)z = y(xz) = ye = y
Exemplo 2.1. Seja Q o conjunto dos numeros racionais, ou seja, o conjunto de todas
as fracoes m/n, onde m e n sao inteiros e n 6= 0. Q e um grupo em relacao a adicao.
Alem disso, os elementos nao nulos de Q formam um grupo em relacao a multiplicacao,
denotado por Q .
19
Captulo 2. Grupos 2.2. Aplicacoes
Exemplo 2.7. O grupo aditivo dos numeros racionais e um subgrupo do grupo aditivo
dos numeros reais. O grupo dos numeros complexos de valor absoluto igual a 1 e um
subgrupo do grupo multiplicativo dos numeros complexos nao nulos. O grupo {1, 1} e
um subgrupo de {1, 1, i, i}.
Exemplo 2.8. Consideremos o grupo aditivo dos inteiros. Dessa forma e cclico gerado
por 1.
2.2 Aplicacoes
20
Captulo 2. Grupos 2.2. Aplicacoes
Exemplo 2.10. A aplicacao f do exemplo 1 nao e injetiva. De fato, temos f (1) = f (1).
Seja g : R R a aplicacao x 7 x + 1. Vemos que g e injetiva, pois se x 6= y,
x + 1 6= y + 1, ou seja, g(x) 6= g(y).
Exemplo 2.12. Seja Jn o conjunto dos inteiros {1, 2, , n}. Uma aplicacao bijetiva
: Jn Jn e chamada permutacao dos inteiros de 1 a n. Assim, em particular, uma
permutacao como anteriormente e uma aplicacao i 7 (i).
21
Captulo 2. Grupos 2.2. Aplicacoes
por id; ela e, obviamente, bijetiva. Muitas vezes precisamos explicitar o conjunto S na
notacao e escrevemos Is ou ids para denotar a aplicacao identidade de S. Seja T um
subconjunto de S. A aplicacao identidade t 7 t, vista como a aplicacao T S e
chamada inclusao, e e muitas vezes denotada por T , S.
Sejam S, T, U , e sejam
f : S T e g : T U
g f : S U
para todo x S.
f g 6= g f
g : S 0 S
tal que
g f = ids e f g = ids0
assim, denotamos a aplicacao inversa g por f 1 . Logo, por definicao, a aplicacao inversa
f 1 e caracterizada pela seguinte propriedade: para todo x S e x0 S, temos
f 1 (f (x)) = x e f (f 1 (x0 )) = x0
Exemplo 2.15. Seja R+ o conjunto dos numeros reais positivos (isto e, numeros reais
> 0). Seja h : R+ R+ a aplicacao h(x) = x2 . Entao, h e bijetiva e sua inversa e a
aplicacao raiz quadrada, isto e,
h1 (x) = x
22
Captulo 2. Grupos 2.3. Homomorfismos
2.3 Homomorfismos
f : G G0
n 7 an
23
Captulo 2. Grupos 2.4. Classes Laterais e Subgrupos Normais
Exemplo 2.20. A funcao exp e um isomorfismo do grupo aditivo dos numeros reais no
grupo multiplicativo dos numeros reais positivos. Sua inversa e o logaritmo.
f : x 7 x1
e um isomorfismo de G em si mesmo.
f 1 (x0 y 0 ) = xy = f 1 (x0 )f 1 (y 0 )
24
Captulo 2. Grupos 2.5. Aplicacoes para Grupos Cclicos
Como o grupo G pode nao ser comutativo, o conjunto aH deveria ser chamado
classe lateral a esquerda de H. De modo semelhante, podemos definir classes laterais a
direita, mas, no que se segue, classe lateral, significara classe lateral a esquerda, a menos
que se especifique o contrario.
Vamos mostrar que essas duas condicoes sao equivalentes. Suponhamos primeiro
que H e o nucleo de um homomorfismo f . Entao,
Comentario 2.1. A condicao que se encontra em NOR 1 nao significa o mesmo que
xhx1 = h para todos os elementos h H, quando G nao e comutativo. Entretanto,
devemos observar que um subgrupo de um grupo comutativo e sempre normal e, portanto,
satisfaz a condicao que e mais forte do que NOR 1, ou seja, xhx1 = h para todo h H.
Z/dZ G
x = x1 xr com xi S ou x1
i S
25
Captulo 2. Grupos 2.6. Grupos de Permutacoes
f : G G0
Teorema 2.2. Toda permutacao de Jn pode ser expressa como um produto de trans-
posicoes.
Demonstracao 2.4. Vamos demonstrar nossa proposicao por inducao sobre n. Para
n = 1, nao ha nada a demonstrar. Suponhamos n > 1 e admitamos que a proposicao
seja verdadeira para n 1. Seja uma permutacao de Jn . Seja (n) = k. Seja a
transposicao de Jn tal que (k) = n e (n) = k. Entao e uma permutacao tal que
(n) = (k) = n
em outras palavras, deixa n fixo. Assim, podemos considerar como uma permutacao
de Jn1 , e por inducao existem as transposicoes 1 , , s de Jn1 , que deixam n fixo, de
26
Captulo 2. Grupos 2.6. Grupos de Permutacoes
modo que
= 1 s
logo " #
1 2 3
2 1 3
denota a permutacao tal que (1) = 2, (2) = 1, e (3) = 3. Essa permutacao e de
fato uma transposicao.
e que deixa todos os outros inteiros fixos. Por exemplo [132] denota a permutacao tal
que (1) = 3, (3) = 2, e (2) = 1, e sigma deixa fixados todos os outros inteiros. Tal
permutacao e chamada ciclo, ou, mais precisamente, r-ciclo.
note que um 2-ciclo [ij] nada mais e que uma transposicao. Mais especificamente, uma
transposicao tal que i j e j i.
[132][34] = [2134]
27
Captulo 2. Grupos 2.6. Grupos de Permutacoes
( (3)) = (4) = 4
( (4)) = (3) = 2
( (2)) = (2) = 1
( (1)) = (1) = 3
G = H0 H1 H2 Hm = {e}
tal que Hi e normal em Hi1 e tal que o grupo quociente Hi1 /Hi e abeliano para i =
1, , m.
28
Captulo 3
Aneis
Definicao 3.1. Um anel R e um conjunto, cujos objetos podem ser adicionados e multi-
plicados, (isto e, sao dadas as correspondencias (x, y) 7 x + y e (x, y) xy de pares
de R, em R) satisfazendo as seguintes condicoes:
(y + z) = xy + xz e (y + z)x = yx + zx
Exemplo 3.2. Os conjuntos dos numeros racionais, reais e complexos sao aneis.
Exemplo 3.3. Seja R o conjunto das funcoes contnuas com valores reais, definidas no
intervalo [0, 1]. A soma e o produto de duas funcoes f e g sao definidos da maneira usual,
ou seja, (f + g)(t) = f (t) + g(t) e (f g)(t) = f (t)g(t). Com isso, R e um anel.
de conjunto dos endomorfismos de A. Assim, seguindo a notacao do item 2.3, temos que
End(A) = Hom(A, A). Sabemos que End(A) e um grupo aditivo.
Podemos deduzir varias regras de aritmetica a partir dos axiomas que definem
um anel R; passamos, em seguida, a lista-las:
0x + x = 0x + ex = (0 + e)x = ex = x
portanto, 0x = 0.
Demonstracao 3.3.
30
Captulo 3. Aneis
Demonstracao 3.4.
Multiplicamos a equacao
e + (e) = o
por e, e obtemos
e + (e)(e) = 0
(x)y = xy e (x)(y) = xy
para todos x e y R.
a soma indicada no membro direito deve ser tomada sobre todos os ndices i e j. Estas
regras mais gerais podem ser demonstradas por inducao.
Exemplo 3.5. Os inteiros formam um subanel do conjunto dos numeros racionais, que,
por sua vez, e um subanel do conjunto dos reais.
31
Captulo 3. Aneis 3.1. Ideais
xn = x x
3.1 Ideais
Exemplo 3.8. Seja R o anel das funcoes reais contnuas definidas no intervalo [0, 1]. Seja
1
J o subconjunto das funcoes f tais que f = 0. Entao J e um ideal (bilateral, pois R e
2
comutativo).
Exemplo 3.9. Seja R o anel RZ dos inteiros. Os inteiros pares, isto e, os do tipo 2n,
com n Z, formam um ideal.
32
Captulo 3. Aneis 3.2. Homomorfismos
Daremos uma demonstracao completa desse fato, para mostrar o quanto ela e
simples; y1 , , yn , x1 , , xn R, entao
(x1 a1 + +xn an )+(y1 a1 + +yn an ) = x1 a1 +y1 a1 + +xn an +yn an = (x1 +y1 )a1 + +(xn +yn )an
se z Z, entao
z(x1 a1 + + xn an ) = zx1 a1 + + zxn an
finalmente,
0 = 0a1 + + 0an
L(M + N ) = LM + LN
3.2 Homomorfismos
Sejam R e R dois aneis. Por um homomorfismo de aneis entendemos a aplicacao
dotada das seguintes propriedades: para todos x e y R,
33
Captulo 3. Aneis 3.2. Homomorfismos
Exemplo 3.14. Seja R o anel das funcoes definidas no intervalo [0, 1], com valores com-
plexos. A aplicacao que a cada funcao f R associa o valor f (1/2) e um homomorfismo
de R em C.
Exemplo 3.15. Seja R o anel das funcoes reais definidas no intervalo [0, 1]. Seja R o
anel das funcoes reais definidas no intervalo [0, 1/2]. Cada funcao f R pode ser vista
como uma funcao definida em [0, 1/2]; quando encarada dessa forma, damos-lhe o nome
de restricao de f a [0, 1/2]. Mais geralmente, seja S um conjunto, e S um subconjunto
de S. Seja R o anel das funcoes reais definidas em S. Para cada f R, denotamos por
f |S a funcao definida em S cujo valor em um elemento x S e f (x). f |S e chamada
restricao de f a S. Seja R o anel das funcoes reais definidas em S. A aplicacao
f 7 f |S 0
Observacao 3.1. Ate aqui, fomos apresentados aos homomorfismos de grupo e homo-
morfismos de aneis, e demos a definicao de isomorfismo de forma similar em cada uma
dessas categorias de objetos. Nossas definicoes tem sido apresentadas num padrao comple-
tamente generalizavel, isto e, podem ser aplicadas a outros objetos e categorias. Em geral,
sem prejuzo para o objeto matematico com o qual se trabalha, pode-se usar a palavra
morfismo no lugar de homomorfismo. Assim, um isomorfismo (em qualquer categoria) e
um morfismo f para o qual existe um morfismo g que satisfaz
f g = id e g f = id
34
Captulo 3. Aneis 3.2. Homomorfismos
de uma identidade para cada objeto. Dessa forma, um automorfismo e definido como um
isomorfismo de um objeto em si mesmo. Assim, de forma completa, geral e direta, segue
da definicao que os automorfismos de um objeto formam um grupo. Um dos topicos
basicos de estudo da matematica e a estrutura de grupos de automorfismos de varios
objetos.
na = a + a + + a
na = (ka)
f : Z R tal que n 7 ne
35
Captulo 3. Aneis 3.2. Homomorfismos
f (k) = f (k) = ke
Teorema 3.1. Suponhamos que R seja um anel de integridade e, portanto, sem divisores
de 0. Logo, o inteiro n tal que Z/nZ esta contido em R, deve ser 0 ou um numero primo.
Demonstracao 3.5. Suponhamos que n nao seja primo e nao seja 0. Desta forma,
n = mk com inteiros m e k 2 e nao existe a possibilidade de m e k pertencerem ao
nucleo do homomorfismo f : Z R. Assim, me 6= 0 e ke 6= 0. Mas (me)(ke) = mke = 0
contradiz a hipotese de que R nao tem divisores de 0. Portanto, n e primo.
m : G G
m 7 m
induz um isomorfismo (Z/NZ) Aut(G).
36
Captulo 3. Aneis 3.3. Corpos quocientes
37
Captulo 3. Aneis 3.3. Corpos quocientes
a c ad + bc
+ =
b d bd
Mas, por hipotese, ab0 = a0 b e cd0 = c0 d. Utilizando esse fato, vemos que a igualdade
(a) se verifica.
38
Captulo 3. Aneis 3.3. Corpos quocientes
E claro que as expressoes dos membros direitos sao iguais em ambos os casos, o
que prova a associatividade da adicao. Os demais axiomas sao de demonstracao
igualmente facil, por isso omitiremos essa rotina tediosa. Vimos assim que nosso
anel de quocientes e comutativo.
a 7 a/1
a/b 7 ab1
39
Captulo 3. Aneis 3.3. Corpos quocientes
Exemplo 3.19. Seja K um corpo e seja Q, como e usual, o conjunto dos numeros
racionais. Nao existe necessariamente uma imersao de Q em K (K pode, por exemplo, ser
finito). Mas, por outro lado, se existe uma imersao de Q em K, ela e unica. Isso pode ser
visto facilmente, pois todo homomorfismo
f : Q K
deve ser tal que f (1) = e (o elemento unidade de K). Logo, para qualquer inteiro n > 0,
percebe-se, por inducao, que f (n) = ne, e, consequentemente,
f (n) = ne
alem disso,
e = f (1) = f (nn1 ) = f (n)f (n1 )
e assim f (n1 ) = f (n)1 = (ne)1 . Como consequencia, para todo quociente m/n =
mn1 , onde m e n sao inteiros e n > 0, devemos ter
f (m/n) = (me)/(ne)1
f : R E
f : K E
40
Captulo 3. Aneis 3.3. Corpos quocientes
a, b, c e d R e bd 6= 0
entao
f (a)/f (b) = f (c)/f (d)
41
Captulo 4
Espacos vetoriais
Exemplo 4.1. Seja V o conjunto das funcoes contnuas no intervalo [0,1] com valores
reais. V e um espaco vetorial sobre R. A adicao de funcoes e definida da maneira usual:
se f, g sao funcoes, definimos
X = x1 , cdots, xn e Y = y1 , cdots, yn
X + Y = (x1 + y1 , , xn + yn )
Se c K, definimos
cX = (cx1 , , cxn )
Se c K e cv = 0, mas c 6= 0, entao v = 0.
Temos (1)v = v.
43
Captulo 4. Espacos vetoriais 4.1. Espacos vetoriais e bases
a1 v1 + + an vn = 0
Se nao existirem tais elementos, entao diremos que v1 , , vn sao linearmente inde-
pendentes sobre K. Frequentemente omitimos as palavras sobre K.
v1 = (1, 0, , 0)
..
.
vn = (0, 0, , 1)
a1 v1 + + an vn = (a1 , , an )
Exemplo 4.6. Seja V o espaco vetorial de todas as funcoes de uma variavel t. Sejam
f1 (t), , fn (t)n funcoes. Dizer que elas sao linearmente dependentes e dizer que existem
n numeros a1 , , an , nao todos iguais a 0, tais que
a1 f1 (t) + + an fn (t) = O
44
Captulo 4. Espacos vetoriais 4.1. Espacos vetoriais e bases
aet + be2t = 0
aet + 2be2t = 0
x1 v1 + xn vn = y1 v1 + yn vn
x1 v1 y1 v1 + + xn vn yn vn = 0
Definicao 4.2 (Definicao de Base). Definimos uma base de V sobre K como uma
sequencia de elementos {v1 , , vn } de V que geram V , e que sao linearmente indepen-
dentes.
Seja W o espaco vetorial gerado, sobre R, pelas duas funcoes et e e2t . Entao
{et , e2t } e uma base de W sobre R.
45
Captulo 4. Espacos vetoriais 4.1. Espacos vetoriais e bases
v = x1 v1 + + xn vn
Exemplo 4.7. Mostre que os vetores (1, 1) e (-3, 2) sao linearmente independentes sobre
R.
a(1, 1) + b(3, 2) = O
a 3b = 0
a + 2b = 0
Exemplo 4.8. Encontre as coordenadas de (1, 0) com respeito aos dois vetores (1, 1) e
(-1, 2).
ab=1
a + 2b = 0
1 2
resolvendo para a e b da maneira usual, resulta b = e a = . Logo, as coordenadas
3 3
46
Captulo 4. Espacos vetoriais 4.1. Espacos vetoriais e bases
2 1
de (1, 0) com respeito a (1, 1) e (-1, 2) sao ( , ).
3 3
Seja {v1 , , vn } um conjunto de elementos de um espaco vetorial V sobre um
corpo K. Seja r um inteiro positivo n. Diremos que {v1 , , vr } e um subconjunto
maximal de elementos linearmente independentes, se v1 , , vr forem linearmente inde-
pendentes, e se, alem disto, dado qualquer vi com i > r, os elementos v1 , , vr , vi serao
linearmente dependentes.
x1 v1 + + xr vr + yvi = 0
alem disso, y 6= 0, pois de outra forma, obteramos uma relacao de dependencia linear
para v1 , , vr . Portanto, podemos resolver para vi , ou seja,
x1 xr
vi = v1 + + vr0
y y
v = c1 v1 + + cn vn
Nesta relacao, podemos substituir cada vi (i > r) por uma combinacao linear de v1 , , vr .
Fazendo isto, e depois agrupando os termos semelhantes, conseguimos expressar v como
uma combinacao linear de v1 , , vr . Isto prova que v1 , , vr geram V , formando, assim
uma base de V .
f : v W
47
Captulo 4. Espacos vetoriais 4.1. Espacos vetoriais e bases
v = x1 v1 + + xn vn
aplicacao f existe, pois, dado um elemento v como acima, definimos f (v) como x1 w1 +
+ xn wn . Devemos assim verificar se f e uma aplicacao linear. Seja
v 0 = y 1 v1 + + y n vn
portanto,
f (v +v 0 ) = (x1 +y1 )w1 + +(xn +yn )wn = x1 w1 +y1 w1 + +xn wn +yn wn = f (v)+f (v 0 )
O nucleo de uma aplicacao linear e definido como o nucleo dessa aplicacao quando
e vista como um homomorfismo de grupos aditivos. Logo, N ucf e o conjunto dos v V
tais que f (v) = 0.
Como foi feito para os grupos, dizemos que uma aplicacao linear f : V W e
48
Captulo 4. Espacos vetoriais 4.2. Dimensao de um Espaco Vetorial
mom estas definicoes, e facil verificar que HomK (V, W ) e um espaco vetorial sobre K.
caso V = W , chamamos os homomorfismos (ou K-aplicacoes lineares) de V em si mesmo
de endomorfismos de V , e os indicamos por
w 1 = a1 v 1 + + am v m
a1 v1 = w1 a2 v2 am vm
49
Captulo 4. Espacos vetoriais 4.2. Dimensao de um Espaco Vetorial
v1 = a1 1 1
1 w1 a1 a2 v2 a1 am vm
b1 , , br , cr+1 , , cm
em K, tais que
wr+1 = b1 v1 + + br wr + cr+1 vr+1 + + cm vm
dividindo por cr+1 , conclumos que vr+1 esta no subespaco gerado por
w1 , , wr+1 , vr+2 , , vm
pela nossa hipotese de inducao, segue-se que w1 , , wr+1 , vr+2 , , vm geram V . Assim,
por inducao, provamos que w1 , , wm geram V . Se escrevermos
wm+1 = x1 w1 + + xm wm
wm+1 x1w1 xm wm = 0
Teorema 4.4. Seja V um espaco vetorial e suponhamos que uma base tenha n elementos,
e outra m elementos. Entao m = n.
Se um espaco tem uma base, entao qualquer outra base tem o mesmo numero de
elementos. Este numero e a dimensao de V (sobre K), ou que V e n-dimensional. Se V e
50
Captulo 4. Espacos vetoriais 4.2. Dimensao de um Espaco Vetorial
ou
f (c1 v1 + + cn vn ) = 0
Aut(V ) ou LG(V )
51
Captulo 5
Extensao de Corpos
2. (u + v) + w = u + (v + w)
3. 0L + u = u
4. u L tal que u + u = 0L
5. (a b) u = a (b u)
6. (a + b) u = a u + b u
7. a (u + v) = a (u + v)
8. 1K u = u.
Essas oito propriedades decorrem do fato de L ser um corpo e K um subcorpo de L
e fazem da estrutura (L, K, +, ) um espaco vetorial, onde L e o conjunto de vetores,
K e o conjunto de escalares, + e soma de L e representa o produto de L, que na
estrutura vetorial so faz sentido se feito entre escalares de K e vetores de L. Do ponto
de vista vetorial, questoes sobre dependencia linear, geradores, base e dimensao ganham
pertinencia.
Captulo 5. Extensao de Corpos 5.1. Extensao de Corpos
Definicao 5.2. Dizemos que L K e uma extensao finita se L tem dimensao finita como
espaco vetorial sobre K e definimos o grau da extensao com sendo
[L : K] = dimK L
Exemplo 5.1. C R e uma extensao finita pois [C : R] = 2. Com efeito, basta notar
que {1, i} e uma base de C sobre R.
Exemplo 5.2. Seja Q 2 = {a + b 2/a, b Q}. E facil ver que Q 2 e uma extensao
finita de Q e que [Q 2 : Q] = 2.
Exemplo 5.3. R Q e uma extensao infinita. Com efeito, considere o conjunto das
potencias de
S = { n /n Z e n 0
uma vez que nao e raiz de nenhum polinomio com coeficientes racionais (Lindemann,
1882), temos que qualquer subconjunto finito de S e LI. Portanto, R Q e uma extensao
infinita.
= {ai uj : 1 i m, 1 j n}
por sua vez cada yi e uma combinacao linear de a1 , , am , isto e, existem escalares
x1 , , xn F de modo que
X n
yi = xij aj
j=1
53
Captulo 5. Extensao de Corpos 5.1. Extensao de Corpos
assim,
n X
X m
v= xij aj ui
i=1 j=1
n m
! m
X X X
uj = 0 = j, xij ai = 0
j i i
Demonstracao 5.2. Seja {u1 , , un } uma base de L. Vamos mostrar que o conjunto
{f(u1 ) , , f(un ) } e uma base de K. Com efeito, sejam c1 , , cn F tais que c1 f (u1 ) +
+ cn f (un ) = 0K . Por hipotese, ci = f (ci ) para todo i e o fato de f ser um isomorfismo
nos permite deduzir
= c1 u1 + + cn un = 0L
Demonstracao 5.3. Uma vez que todo polinomio de grau positivo em K[X] e produto
de irredutveis, e suficiente provarmos o teorema para este tipo de polinomio. Com efeito,
suponha que f (X) = a0 + a1 X + + an Xn e irredutvel sobre K e considere o corpo
54
Captulo 5. Extensao de Corpos 5.2. Elementos Algebricos e Transcendentes
: K L
a 7 a
n
f () = a0 + a1 + + an n = a0 + a1 X + + an X = f = 0 L
Definicao 5.3. Dizemos que um elemento L e algebrico sobre K se ele for raiz de
algum polinomio nao-nulo em K[X]. Caso contrario, dizemos que L e transcendente
sobre K.
55
Captulo 5. Extensao de Corpos 5.2. Elementos Algebricos e Transcendentes
Admita entao que e algebrico sobre K. Nesse caso, AnnK () 6= {0}. Mas
K[X] e um domnio de ideais principais e portanto existe um unico polinomio monico
p AnnK () tal que
Demonstracao 5.5. Basta mostrar que o gerador p e irredutvel sobre K. Com efeito, se
escrevermos p(X) = f (X) g(X) em K[X] entao 0 = f () g() em L. Logo f () = 0 ou
g() = 0. Supondo f () = 0 temos que f AnnK () donde (f ) (p) = (f ) + (g)
e portanto (g) = 0.
: K[X] L
f (X) 7 f ()
a) e um homomorfismo de aneis
c) K[X]/AnnK () K[].
56
Captulo 5. Extensao de Corpos 5.2. Elementos Algebricos e Transcendentes
Demonstracao 5.6.
K[X]/AnnK () K[]
Demonstracao 5.7. Uma vez que AnnK () e maximal, o anel quociente K[X]/AnnK ()
tem a estrutura de corpo que, por isomorfismo, e passada a K[] conforme o item c) do
teorema acima.
Demonstracao 5.8. Pela proposicao (3.1) tem-se ker{} = {0}. Isso garante que,
: K[X] K[] e bijetiva e portanto um isomorfismo.
57
Captulo 5. Extensao de Corpos 5.2. Elementos Algebricos e Transcendentes
Demonstracao 5.9. Seja q K[X] irredutvel sobre K tal que q() = q() = 0 em L.
Entao, q e um multiplo escalar nao-nulo de irr(, K) e de irr(, K) e uma vez que estes
ultimos sao monicos devemos ter irr(, K) = irr(, K). Assim, AnnK () = AnnK () e
por c) K[] K().
!
1 3
Exemplo 5.9. = 3 2 e = 3 2 + i sao razes do polinomio irredutvel
2 2
3
p(X) = X 2. Portanto, Q[] Q[].
a [K[] : K] = n
58
Captulo 6
Separabilidade e Normalidade
Observe agora que esse polinomio so tem uma raiz que aparece repetida p vezes
(dizemos que tem multiplicidade p). De fato, seja uma raiz desse polinomio em alguma
extensao K de F . Entao xp = t e podemos reescreve o polinomio na forma xp ap = (xa)p
(Lembrar de que num corpo de caracterstica p vale a relacao ( + )p = xp + p . Logo
e a unica raiz desse polinomio repetindo-se p vezes (com multiplicidade p).
Definicao 6.1. Dado um polinomio nao constante f (x) F [x], seja uma raiz de
f (x) em alguma extensao K de F . Dizemos que e uma raiz multipla, de f (x) com
multiplicidade n, se (x )n divide f (x) e (x )(n+1) nao divide f (x), em K[x]. Quando
n > 1 dizemos que e uma raiz multipla.
Vamos a seguir estabelecer um criterio para decidir se uma raiz e simples ou nao
e tambem para decidir se um corpo F pode ter algum polinomio com raiz multipla.
Captulo 6. Separabilidade e Normalidade
Vamos tambem definir que f 0 (x) = f (x), para todo f (x) F [x].
Observe tambem que o exemplo inicial onde K = F (), com uma raiz do
polinomio xp t F [x] e F = Fp (t), e um exemplo de uma extensao puramente in-
separavel, pois como vimos todo z K \ F satisfaz a condicao z p F .
60
Captulo 6. Separabilidade e Normalidade
61
Captulo 6. Separabilidade e Normalidade
Observe agora que g(x)|f (x) e que o numero de todos os divisores de f (x) em K[x]
e finito. Logo existe um numero finito de extensoes intermediarias, conforme afirmado.
Vejamos agora a recproca. Se F for finito, o resultado vale. Vamos entao assumir
que F e infinito e que o numero de extensoes intermediarias entre F e K e finito.
Proposicao 6.3. Dado um corpo F seja K uma extensao finita de F . Sao equivalentes:
1. todo polinomio irredutvel f (x) F [x] sobre F que tem uma raiz em K tem todas
as suas razes em K;
2. existe f (x) F [x] nao constante tal que K e o corpo de razes de f (x);
Demonstracao 6.3. (1) (2) Seja 1 , , n uma base de K sobre F . Para cada
i = 1, ..., n seja Pi (x) F [x] um polinomio mnimo de i . Tomemos f (x) = px p +
2(x)pn (x) F [x]. Por (1) cada um dos pi (x) tem todas as suas razes em K, logo
f (x) tambem tem todas as suas razes em K. Por outro lado, se F E K for uma
62
Captulo 6. Separabilidade e Normalidade
extensao intermediaria onde f (x) tem todas as suas razes, em particular i E, para
todo i. Logo K E, ou E = K. Assim K e o corpo de razes de f (x) como queramos.
(2) (3) Por (2), K e o corpo de razes de f (x) F [x] L[x]. Portanto K
tambem e o corpo de razes de f (x) L[x]. Seja C o conjunto de todas as razes de f (x)
(que estao em K). Temos que K = L(C). Seja agora L1 = (L) a imagem de L
por dentro de . Como e homomorfismo (de anel) e o L e corpo, e injetiva, do que
resulta que L1 e corpo.
Uma extensao K de um corpo F para a qual vale a propriedade (1) desta ultima
proposicao (e portanto qualquer um dos outros itens, ja que sao equivalentes) e chamada
de extensao normal. A Proposicao esta nos dizendo que uma extensao K de F e normal
se e somente se for o corpo de razes de um polinomio.
Proposicao 6.4. Seja F um corpo e uma extensao qualquer de F .
1. Sejam K e L duas extensoes normais de F contidas em . Entao K L tambem e
uma extensao normal de L.
2. Assumimos neste item que e um fecho algebrico de F . Para toda extensao finita L
de F , dentro de existe uma extensao normal e finita, K, de F contendo L dentro
de que e mnima com a propriedade de conter L. Algumas vezes K e chamado
de fecho normal de L em .
63
Captulo 6. Separabilidade e Normalidade
Demonstracao 6.4. Seja f (x) F [x] irredutvel com uma raiz em K L. Logo f (x) tera
todas as suas razes em K e tambem em L ja que sao extensoes normais de F . Portanto
todas as razes de f (x) estao em K L.
Seja f (x) K[x] irredutvel com uma raiz . Seja g(x) F [x] um polinomio
mnimo de em relacao a F . Logo f (x)|g(x) em K[x]. Como e normal sobre F , g(x)
tem todas as suas razes em . Como as razes de f (x) estao entre as razes de g(x),
tambem f (x) tera todas as suas razes em . Assim e uma extensao normal de K.
64
Captulo 6. Separabilidade e Normalidade
65
Captulo 7
Teorema de Galois
Figura 7.1: The Galois Correspondence for Q( 3 2, 3 )/Q
Captulo 7. Teorema de Galois 7.1. Resolucao de Equacoes Por Radicais
(a) Dizemos que uma extensao finita K de F e uma extensao radical se existir uma
cadeia de corpos intermediarios
(b) Dizemos que uma equacao f (x) = 0, com f (x) F [x], e resoluvel por radicais se
existir uma extensao radical K de F que contem um corpo de razes de f (x).
Definicao 7.2. Dizemos que um grupo finito G e resoluvel se existir uma cadeia de
subgrupos
1 = Ho H1 Ht = G,
Teorema 7.1. Seja f (x) F [x] um polinomio nao constante e seja E um corpo de razes
de f (x) sobre F (c(F ) = 0). Entao a equacao f (x) = 0 e resoluvel por radicais se e
somente se G(E; F ) for um grupo resoluvel.
67
Captulo 7. Teorema de Galois 7.1. Resolucao de Equacoes Por Radicais
0
(b) Seja G o subgrupo de G gerado por todos os comutadores [a, b] com a, b G. Isto
0
e, G = intersecao de todos os subgrupos de G que contem o conjunto [a, b]|a, b G.
0
G e chamado de derivada de G. (As vezes o grupo derivado tambem e denotado
por [G, G].)
0
O grupo G/G e chamado de abelianizado de G. As questoes acima mostram que
0
G/G e o maior grupo quociente de G que e abeliano. Em particular se G e abeliano se
0
e somente se G = 1. O criterio para decidir se um grupo e resoluvel e, em certo sentido,
uma generalizacao desse ultimo fato.
0
Inicialmente definimos grupos derivados superiores : seja G1 = G o grupo
0
derivado de G. G2 = (G(1) ) o derivado do derivado e vamos repetindo o processo pondo
0
Gn+1 = (G(n) ) .
1 = Ho H1 Ht = G,
0
1 = Ho H1 Hn = G(0) = G
onde Hi1 e o derivado de Hi . Portanto Hi1 CHi e o grupo quociente Hi /Hi1 e abeliano.
Isso termina a demonstracao do criterio.
68
Captulo 7. Teorema de Galois 7.1. Resolucao de Equacoes Por Radicais
Proposicao 7.1. Seja f (x) Q[x] um polinomio irredutvel de grau primo p com 2 razes
complexas conjugadas e p 2 razes reais. Seja K o corpo de razes de f (x) sobre Q.
69
Captulo 7. Teorema de Galois 7.1. Resolucao de Equacoes Por Radicais
Entao G(K; Q)
= Sp . Voltando ao estudo de equacoes resoluveis por radicais mostraremos
inicialmente que podemos apresentar o item (a) da definicao de forma mais forte.
Proposicao 7.2. Seja K uma extensao radical de um corpo F (c(F ) = 0). Entao existe
uma extensao N de F com as seguintes propriedades:
(i) K N ;
k
Y
g(x) = (xns j (as ))
j=1
70
Captulo 7. Teorema de Galois 7.1. Resolucao de Equacoes Por Radicais
k
0 0
Y
(g(x)) = (xns j (as )) = g(x),
j=1
0 0
pois 1 , , k = 1 , , k . Dessa forma g(x) F [x], pois F e o corpo fixo de
G(Ns ; F ).
Fs+1 = Fs (s ) Ns (s ) Ns+1
Tomando-se agora o polinomio f (x)g(x) vemos que suas razes em Ns+1 sao
1 , , r , 1 , 2 , , S . Logo o corpo de razes de f (x)g(x) sobre F [x] sera
F (1 , , r , 1 , 2 , , S ) = Ns (1 , 2 , , S ) = Ns+1
Portanto Ns+1 e uma extensao galoisiana de F e contem Fs+1 . Por outro lado,
cada h por ser raiz de g(x) tem que anular algum dos fatores xns j (s ) de g(x). Mas
entao hns = j (s ) Ns (observe que s Fs Ns e j (Ns ) = Ns , para j G(Ns ; F ))
Temos entao uma cadeia
Ns Ns (1 ) Ns (1 , 2 ) Ns (1 , 2 , , S ) = Ns+1
que mostra que Ns+1 e uma extensao radical de Ns . Como Ns e uma extensao
radical de F , podemos emendar a cadeia que vai de F para Ns com a cadeia acima e obter
uma cadeia que vai de F a Ns+1 (ver Questao abaixo). Mas entao Ns+1 e uma extensao
radical de F e obtivemos o Ns+1 procurado.
Repetindo o processo acima quantas vezes for necessario vamos obter uma ex-
tensao N = Nt de F que tem as propriedades exigidas na proposicao.
71
Captulo 7. Teorema de Galois 7.1. Resolucao de Equacoes Por Radicais
Observacao 7.1. Convem destacar que pela proposicao acima sempre podemos tomar
uma extensao radical K de F com K galoisiana sobre F . Nesse caso se F = Fo F1
Ft = K for a cadeia dos subcorpos, a cada corpo intermediario Fti corresponde
um subgrupo Hi = G(K; F t i) de G(K; F ). Mas ainda temos que trabalhar um pouco
mais para podermos ter Hi C Hi+1 e obter que G(K; F ) e resoluvel.
Proposicao 7.3. Seja F um corpo e assumimos que c(F ) = 0 e n > 1 (bastava assumir
que n nao e divisvel por c(F )). Dado a F x temos que o corpo de razes de xn a sobre
F e igual ao corpo de razes de (xn 1)(xn a) sobre F .
Vamos a seguir fazer um breve estudo das razes do polinomio xn 1. Com vimos
acima esse polinomio so tem razes simples. Seja K um corpo que contenha todas as
razes de xn 1. Claramente Un = K| n = 1 e um subgrupo de K x de ordem n (e
igual ao conjunto das razes de xn1 ).
72
Captulo 7. Teorema de Galois 7.1. Resolucao de Equacoes Por Radicais
Baseando-se entao nessa questao temos que o grupo Un das razes n-esimas da
unidade tem (n) geradores, ou equivalentemente, existem (n) razes primitivas n-esimas
da unidade. Vamos denotar por Pn Un ao conjunto Pn = Un | n = 1 e r 6= 1para todo1 r < n.
Pelo que vimos Pn tem (n) elementos, ou entao denotamos |Pn | = (n) para indicar a
quantidade de elementos do conjunto Pn .
Mais ainda, dado um divisor d|n e n = dq, entao verifica-se facilmente que | q | =
d, para P n.
onde
Y
d(x) = (x )
Pn
73
Captulo 7. Teorema de Galois 7.1. Resolucao de Equacoes Por Radicais
Proposicao 7.4. (a) n (x) e irredutvel sobre Q[x]. Se e uma raiz de n (x), entao
Q() e o corpo de razes de n (x) e G(Q, (); Q) e isomorfo ao grupo (Z/nZ)x que e o
grupo das unidade do anel quociente.
Teorema 7.2. Dado um corpo F contendo uma raiz primitiva n-esima da unidade seja
xn a F [x] um polinomio irredutvel (em geral basta supor a (F x )n ) e seja K um
corpo de razes desse polinomio. Entao G(K; F ) ' Z/nZ.
74
Captulo 7. Teorema de Galois 7.1. Resolucao de Equacoes Por Radicais
Observacao 7.2. Observe que a existencia de uma raiz primitiva n-esima da unidade
em F implica que c(F ) nao divide n. De fato, se n = pm, com p = c(F ), entao
1 = n = ( m )p implica que ( m 1)p = 0, pois 1 = 1p . Mas ( m 1)p = 0 em um corpo so
e possvel se m 1 = 0. Mas isso contraria o fato de ser raiz primitiva n-esima (xn a
lembrar que n = 1 e para todo 1 r < n, r 6= 1).
75
Captulo 7. Teorema de Galois 7.1. Resolucao de Equacoes Por Radicais
Observe que por simples observacao e claro que xn a e resoluvel por radicais.
Afinal tem como raiz n a. Em outras palavras o teorema diz tambem que so no caso de
G(E; F ) ser resoluvel, onde E e corpo de razes de f (x), e que a equacao f (x) = 0 e
resoluvel por radicais.
Para n = 5, e facil, mas nao tanto. [Q(5 ), Q] = 4 e o grupo de Galois G(Q(5 ); Q) '
(Z/5Z)x sera cclico de ordem 4 gerado por 2+5Z(G(Q(5 ); Q) ' Z/4Z. Logo G(Q(5 ); Q)
tem um subgrupo de ordem 2, 1 + 5Z, 4 + 5Z. Seja L o corpo fixo desse subgrupo;
Q L Q(5 ), onde [L : Q] = 2 e [Q(5 ) : L] = 2. Logo L = Q( a), para algum a Q e
Q(5 ) = L( a), para algum L.
76
Captulo 7. Teorema de Galois 7.1. Resolucao de Equacoes Por Radicais
Mas quem sao a e se soubermos a, entao = b + c a, mas quem e a?
Para n = 6, temos 6 (x) = x2 x + 1, logo 6 Q 3 e ja encontramos uma
extensao quadratica.
Demonstracao 7.7. Observe que apesar da definicao bastante geral da composicao EL,
temos que E = F (1 , , m ), onde 1 , , m sao as razes de um polinomio separavel
f (x) F [x], pois E e galoisiana sobre F . Logo EL = L(1 , , m ) e o corpo de razes
de f (x) L[x] sobre L. Assim EL e galoisiana sobre L.
A unica dificuldade esta na descricao do grupo de Galois G(EL; L). Para simpli-
ficar vamos assumir que L = F () e uma extensao simples de F (caso contrario teramos
que trabalhar com uma base de L como F - espaco vetorial). Seja g(x) o polinomio
mnimo de sobre F . Tomemos agora K o corpo de razes de f (x)g(x) sobre F . Logo
1 , , m , K e portanto E, L K.
Vamos agora calcular o grupo de Galois G(EL; L). Tambem pelo TG temos que
G(EL; L) ' G(K; L)/G(K; EL) = G(K; L)/(G(K; E)(K; L)) ' G(K; L)G(K; E)/G(K; E), ()
Aqui novamente temos que interpretar o subgrupo G(K; L)G(K; E). Esse e clara-
mente o menor subgrupo de G(K; F ) que contem simultaneamente G(K; L) e G(K; E).
Logo, pela correspondencia entre corpos intermediarios e subgrupos estabelecida no TG,
77
Captulo 7. Teorema de Galois 7.1. Resolucao de Equacoes Por Radicais
G(K; L)G(K; E) tem E L como corpo fixo, isto e, o maior subcorpo de K contido em E
e L. Temos assim que G(K; E L) = G(K; L)G(K; E). Trocando-se o resultado obtido
na equacao () obtemos
como queramos.
O polinomio mnimo de sobre Q e 21 (x) que tem grau (21) = 2 6 = 12. Logo
[Q() : Q] = 12, 21 (x) e irredutvel em Q[x]. Portanto nao podemos ter Q(7 ), pois
[Q(7 ) : Q] = 6. Conclusao: nao podemos ter 3 Q(7 ) e portanto nao podemos ter
Q(7 ) tal que 3 L, conforme afirmamos.
O que podemos ter e o seguinte: tomamos Fo = Q e F1 = Fo ( a). Vimos acima
78
Captulo 7. Teorema de Galois 7.1. Resolucao de Equacoes Por Radicais
que tnhamos L = Q( c) com c Q. Tomamos entao F2 = F1 ( c) e F3 = F2 (7 ). O
diagrama, a seguir, ilustra as posicoes relativas dos corpos.
Por outro lado, vimos que [Q(7 ) : L] = 3 e que [F2 : L] = 2. Portanto Q(7 )F2 =
L. Tambem temos que Q(7 ) e uma extensao galoisiana de L com grupo de Galois cclico
de ordem 3.
79
Captulo 8
Consideracoes Finais