Aparados Da Serra

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Configurao geolgico-geomorfolgica e evoluo da paisagem dos canyons da regio


de Campos de Cima da Serra - Sul do Brasil

SCHMIGUEL, Karla1
VARGAS, Karine Bueno2
TRATZ, Eliza do Belm3

Palavras chave: Campos de Cima da Serra Canyons - Configurao geolgico-


geomorfolgica - evoluo da paisagem.

RESUMO

O presente trabalho tem como recorte espacial os canyons da regio conhecida como Campos
de Cima da Serra, localizada na regio sul do Brasil, na fronteira entre os Estados do Rio
Grande do Sul e Santa Catarina, onde a paisagem configura-se pelo corte abrupto do planalto,
atravs de paredes verticalizados de at 900 m de altura em rochas vulcnicas da Formao
Serra Geral. A escarpa possui uma extenso de quase 250 km, recortada por uma sucesso de
canyons, sendo os mais conhecidos, Fortaleza, Itaimbzinho e Malacara. AbSaber (2003)
explica que a Serra Geral no nordeste do Rio Grande do Sul uma alta borda de planalto,
formando um dos espetculos paisagsticos mais extraordinrios do Brasil Atlntico ao qual
os gachos denominaram Aparados da Serra. Esta regio tm sua histria evolutiva pouco
conhecida o que justifica o objetivo do trabalho de avaliar os processos evolutivos da regio
afim de compreender a configurao atual da paisagem. Deste modo, em um primeiro
momento foi realizada incurso a campo para o reconhecimento da rea e tomadas de pontos
importantes, em um segundo momento foi realizada a reviso terica e conceitual pertinentes
a evoluo da paisagem regional e uma breve reviso bibliogrfica acerca desta temtica.
Dentre os materiais utilizados, lanou-se mo do material cartogrfico j desenvolvido quais
foram associados aos pontos de campo. A partir da anlise do material bibliogrfico e
interpretaes de campo conclumos que o fator preponderante no desenvolvimento dos
canyons a presena de descontinuidades tectnicas, onde a orientao dos principais
canyons coincide com as principais direes de fraturas existentes nas rochas vulcnicas da
regio. Como estas falhas e fraturas so zonas de fraqueza, h maior percolao de gua,
processo que controla a localizao dos cursos de gua facilitando a eroso vertical, admite-se
que estas fendas tenham exercido um papel preponderante na formao e localizao destas
estruturas (Vildner et al,2004). Deste modo, evidente que os canyons tm sua gnese
associada a sistemas de falhas e fraturas provindos de grandes processos de rompimento da
crosta (UMMAN, 2001) e por diclases entalhados pelo sistema de drenagem onde formam
profundos vales em V. Ressalta-se ainda que o sistema de falhas que configura a paisagem
da regio remete ao Evento Serra Geral, qual gerou intensa produo magmtica, em que
lavas se afastaram a partir de linhas tectnicas Torres Posadas, derramando-se sobre uma
superfcie praticamente horizontal pouco modificada com os movimentos posteriores (LEINZ,
1949). Os falhamentos gerados durante o evento e registrados na rea so do tipo escalonado
sendo responsvel pela existncia da escarpa original em diversas cotas topogrficas da
plataforma atlntica e orientando alguns canais, sub-bacias e gargantas ocupadas por rios
como Vildner et al (2004) afirma que a configurao geolgica-geomorfolgica da fachada
atlntica do litoral dos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina resultado deste
tectonismo, pois o intenso diastrofismo gerou falhamentos paralelos costa fazendo com que

1
Universidade Federal do Paran Brasil
2
Universidade Estadual de Maring - Brasil
3
Universidade Federal de Santa Catarina - Brasil
2

significativas pores da Serra Geral submergissem no Atlntico, o caso do Rio Pavo no


canyon do Itambezinho -RS. O estudo da evoluo da paisagem, considerando a configurao
geolgica-geomorfolgica, da regio dos Campos de Cima da Serra so de grande
contribuio para a geografia fsica histrica que tem nesta regio um importante campo de
estudo ainda pouco desenvolvido. Considerando que o relevo nos remete a hipteses
fundamentais na construo da histria da superfcie terrestre, este trabalho contribui para
uma melhor compreenso da atual composio da paisagem regional sob uma tica temporal
de sua gnese.

1. INTRODUO

H aproximadamente 130 milhes de anos, quando a Amrica separava-se do


continente Africano houve intenso diastrofismo que culminou na ascenso de grande
quantidade de material magmtico e falhamentos responsveis pela configurao geolgica -
geomorfolgica da regio conhecida como Campos de Cima da Serra, localizada no Extremo
Sul do Brasil, recorte espacial do presente trabalho.
Objetivando o melhor entendimento da atual configurao geolgica-geomorfolgica
foi realizada incurso a campo na regio dos canyons e reviso bibliogrfica sobre a temtica.
O que resultou na explanao dos aspectos geolgicos, destaque para a histria evolutiva dos
canyons, aspectos litolgicos, ao contrario do que se pensa os canyons so esculpidos em
rochas vulcnicas de carter cido do Tipo chapec, e no basaltos (rochas bsicas) como
relatado em vrias literaturas. A estrutura dos derrames e sistemas de falhamentos tambm
abordada no trabalho. No que tange a geomorfologia feita a relao geologia-relevo, os
processos morfogenticos. Assunto pertinente tambm abordado so as caractersticas dos
solos.

2. LOCALIZAO

A regio conhecida como Campos de Cima da Serra, compreende as latitudes de 29


15 e longitude de 50 00, portanto, situa-se no Sul do Brasil, na fronteira entre os Estados do
Rio Grande do Sul e Santa Catarina, mais especificadamente no Nordeste do Rio Grande do
Sul e Estremo Sul de Santa Catarina. O corte abrupto do planalto, atravs de paredes
verticalizados em rochas vulcnicas possui uma extenso de quase 250 km,que mostram uma
sucesso de canyons de at 900 m de altura prximo a plancie do litoral atlntico.
Essa regio abriga um precioso ecossistema devido a sua preservao o que ocasionou
a criao de dois parques nacionais.Um deles o Parque Nacional dos Aparados da Serra que
possui uma rea de 10.250 ha e abriga o Canyon do Itaimbezinho, o mais visitado desta
regio,com cerca de 5,8 km de extenso e paredes verticalizados com at 720 metros de
profundidade, atravs dos quais se lana o Arroio Perdizes em uma cascata de cerca de 200
metros e ainda encontra-se o Canyon do Faxinalzinho.
O outro o Parque Nacional da Serra Geral, criado em 1992, que possui uma rea de
cerca de 17.300 ha e abriga o espetacular Canyon Fortaleza, destacando-se outros canyons
como o Malacara, Churriado, Josafaz, ndios Coroados, Molha Coco, Leo, Ps de Galinha,
das Bonecas e Macuco, que se encaixam nesta paisagem constituda por 63 gigantescas
escarpas. O acesso ao Canyon Fortaleza se faz a partir de Cambar do Sul por 23 km da
rodovia municipal (no pavimentada) CS-08, enquanto o Canyon Itaimbezinho dista 18 km de
Cambar do Sul pela rodovia CS-360 e cerca de 20 km de Praia Grande - SC, pela rodovia
SC-450 e pela mesma CS-360 (percursos no pavimentados). Cambar do Sul acha-se a cerca
3

de 180 km de Porto Alegre, enquanto Praia Grande acha-se a 21 km da BR-101 e a cerca de


36 km de Torres, na divisa com o Rio grande do Sul.

Figura 01 - Mapa de localizao da regio denominada Campos de Cima da Serra.

3. HISTRIA EVOLUTIVA DOS CANYONS

A histria evolutiva dos canyons da regio de Aparados da Serra ainda pouco


conhecida, estando atrelada em um primeiro momento subdiviso da Pangea em Eursia e
Gondwana durante o Permiano.
Uma Era mais tarde, no Mesozico, um inteso diastrofismo resultado da possvel
reativao de antigas linhas tectnicas permitiu a ascenso de grande quantidade de material
magmtico at a superfcie dando origem a Formao Serra Geral (Melfi, 1988). A
configurao geolgica - geomorfolgica dos canyons de Aparados da Serra remetem a este
episdio que foi o maior evento magmtico j registrado no Planeta Terra (BIGARELLA ET
AL, 1985).
No local houve uma zona de intensa produo magmtica, em que lavas se afastaram a
partir de linhas tectnicas Torres Posadas, derramando-se sobre uma superfcie praticamente
horizontal pouco modificada com os movimentos posteriores (LEINZ, 1949). Os falhamentos
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gerados durante o evento e registrados na rea so do tipo escalonado sendo responsvel pela
existncia da escarpa original em diversas cotas topogrficas da plataforma atlntica e
orientando alguns canais, sub-bacias e gargantas ocupadas por rios como o caso do Rio
Pavo no canyon do Itambezinho -RS.
Vildner et al (2004) afirma que a configurao geolgica-geomorfolgica da fachada
atlntica do litoral dos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina resultado deste
tectonismo, pois o intenso diastrofismo gerou falhamentos paralelos costa fazendo com que
significativas pores da Serra Geral submergissem no Atlntico.
Fator preponderante no desenvolvimento dos canyons a presena de
descontinuidades tectnicas, onde a orientao dos principais canyons coincide com as
principais direes de fraturas existentes nas rochas vulcnicas da regio. Como estas falhas e
fraturas so zonas de fraqueza, h maior percolao de gua, processo que controla a
localizao dos cursos de gua facilitando a eroso vertical, admite-se que estas fendas
tenham exercido um papel preponderante na formao e localizao destas estruturas (Vildner
et al ,2004).

3.1 O SISTEMA DE FALHAS RELACIONADO ESCARPA

Duarte (1995) aponta que a morfologia resultante da disposio dos vales e seuscursos
de gua na rea denominada pela escarpa, evidencia claramente o controle estrutural para o
seu estabelecimento. Preferencialmente h em alguns canais sub-bacias fluviais e gargantas
ocupadas por rios, como o caso do Rio Pavo no canyon do Itambezinho-RS que segue em
direo NE-SE,possuindo uma declividade de 90 e a borda da escarpa marca limite entre o
estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.A borda do escarpamento apresenta altitudes
que crescem de Sul para Norte, chegando ao seu Extremo em Santa Catarina no Morro da
Igreja em Ubirici atingindo a 1828m.
Putzer (1953) apresenta para o sul de Santa Catarina as direes N 50-70 e suas
normais N 140-170, e as direes para o Rio Grande do Sul so N 0-30 e suas normais N
90-120, tal falhamento detectado pela situao dos afloramentos da formao Botucatu e
arenitos e siltitos da Formao Rio do Rastro, esta rea corresponde a um direcionamento
NW-SE ao longo do baixo curso do Rio Mampituba.
Segundo Duarte (1995) alm do controle geolgico exercido pelos sistemas de falha e
litologias, h de se ressaltar a atuao de processos de eroso fluvial atravs dos tempos, os
quais foram esculpindo lentamente a paisagem, resultando na atual morfologia dos Campos de
Cima da Serra.

3.2 TECTNICA E EVOLUO DO RELEVO NO CRETCEO

A tectnica que atingiu as rochas da Bacia do Paran alvo de grandes estudos, dentre
os quais destaca-se o trabalho de Leinz (1949) no qual afirma que no local houve uma zona
de intensa produo magmtica, e que as lavas se afastaram a partir de linhas tectnicas
Torres Posadas, derramando-se sobre uma superfcie praticamente horizontal pouco
modificada com os movimentos posteriores.
Analisando os arenitos da Formao Botucatu com o embasamento basltico, Leinz
(1949) afirma que h falhamentos escalonados o qual posicionam estas litologias cada vez
mais altas para o Norte, registrando dois momentos de tectnicas. Um tipo em que o Arenito
Botucatu apresenta-se falhado e com ressalto, e com ambos os blocos cobertos com o basalto
de um derrame, e outro tipo em que a o preenchimento da falha por dique de diabsio. No
primeiro caso o movimento teria sido anterior ao derrame, seguido deste, e no segundo houve
movimento concomitante ao derrame. Outro fato so as zonas brachadas e milonitizadas nos
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derrames evidenciando movimentos tectnicos posteriores a atividade magmtica. A oeste


destes, o afloramento mais alto de rochas da Formao Rio do Rastro,cujo topo est h pouco
mais de 80m de altitude,situa-se junto ao Rio Malacara,o arenito Botucatu volta aflorar tanto a
Nordeste quanto a Oeste,na parte inferior de escarpa.
No entanto Putzer (1953) faz sete estaes de medidas de direes e delineia falhas
nesta rea. Considerando o tectonismo anterior aos derrames e posterior ao Arenito Botucatu,
porm com movimentos menos intensos at o fim do vulcanismo.
Fator preponderante no desenvolvimento dos canyons a presena de
descontinuidades tectnicas, onde as orientaes dos principais canyons coincidem com as
principais direes de fraturas existentes nas rochas vulcnicas da regio. Como estas falhas e
fraturas so zonas de fraqueza, onde existe uma maior percolao e gua, controlam a
localizao dos cursos de gua facilitando a eroso vertical, admite-se que estas fendas
tenham exercido um papel preponderante na formao e localizao destas estruturas (Vildner
et al, 2004).

3.3 PROCESSOS EVOLUTIVOS RELACIONADOS AO TERCIRIO E


QUATERNRIO

Ao trmino de sua formao, o Planalto Basltico do Nordeste do Rio Grande do Sul


resultou em um dorso geral com inclinaes para Oeste, Sudoeste e Sul, entalhado por um
leque de rios de tipo conseqente. Durante o processo de soerguimento do edifcio principal,
formado pela sucesso de derrames, aconteceram encaixamentos importantes dos rios que se
dirigiam para Oeste (Rio Pelotas), e rios que se dirigiam para o Sul (afluentes da margem
esquerda do rio Jacu), enquanto os pequenos cursos direcionados para Leste tiveram
dificuldades para sua migrao, fistulando os aparados e entalhando canyons curtos e
profundos em setores especficos das escarpas. Do lado continental o encaixamento dos rios,
como o Pelotas e o Antas, refletiram os estmulos sucessivos de uma hipergnese que atuou
por diversos ressaltos durante o decorrer da era terciria, fato que compartimentou o planalto
basltico e criou as magnficas paisagens dos Campos de Cima da Serra (Vildner et al ,2004)

4. CONFIGURAO GEOLGICA

Os canyons da regio de Aparados da Serra remetem a um dos maiores eventos


vulcnicos j ocorridos no planeta, o evento Serra Geral. As lavas geradas no evento cobrem
uma rea de 1.200.000 Km, 75% de todo o volume da Bacia do Paran, sendo um dos
principais agentes da conformao da paisagem.
Melfi (1988) explica que o evento se deu no quarto estgio de evoluo da Bacia do
Paran, tal perodo foi caracterizado por processos de reativao tectnica, que fez com que a
Bacia do Paran assumisse uma estrutura antiforme. possvel que tenha ocorrido reativao
de antigas linhas tectnicas, que permitiu a ascenso de grande quantidade de material
magmtico at a superfcie, dando origem a Formao Serra Geral.
Portanto, o inicio de formao destas rochas teria ocorrido nos limites entre o
Jurssico e o Cretceo com manifestaes vulcnicas que duraram um conjunto de pelo
menos 20milhes de anos (RIBEIRO, 1989).
Este evento tectnico permitiu o derramamento de grande quantidade de material
basltico bem como tambm promoveu a extruso das lavas de carter cido da Formao
Serra Geral.
A rea dos canyons configura-se por apresentar derrames cidos e bsicos, sendo as
reas de cimeira representada por derrames cidos Tipo Palmas e a base representada por
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basaltos do Tipo Gramado, magmas classificados por Marques e Ernesto (2004), com baixo
teor de TiO2.

As rochas Palmas podem ter sido originadas por fuso (10 a 20%) de rochas
bsicas do tipo BTi-S, formadas pela solidificao de magmas aprisionados
na interface crostamanto (processo de underplating), por ocasio da
atividade gnea. J com relao s vulcnicas cidas Chapec, parece haver
um consenso de que elas foram originadas por refuso (20 a 30%) de rochas
bsicas ATi, cujos magmas ficaram retidos na base da crosta. /a. Este
modelo crustal corrobora a interpretao de que as rochas Chapec e
Palmas foram originadas por refuso de rochas bsicas com alto e baixo
titnio, respectivamente, cujos magmas ficaram aprisionados na base da
crosta, durante as primeiras fases da atividade gnea ocorrida na
PMP(Marques e Ernesto p.251, 2004).

Segundo Nardy (1995) a idade estimada destes litotipos de 132,4 1,1 M.a. A
partir dos dados radiomtricos de Ar40/Ar39, Nardy delimita o evento magmtico Serra Geral
em um intervalo de at 2 M.a .

4.1 LITOLOGIAS

4.1.1 Lavas de carter cido

Os litotipos que caracterizam a fcie Palmas so os riodacitos e os rilitos com


teores de Sio de (65,81SiO272,04). Apresentam colorao cinza clara (quando frescas), e
cinza amareladas, quando alteradas. Sendo africas, hipohialinas, com matriz granofrica onde
se observa intenso crescimento de quartzo e feldspato alcalino (Nardy, 1995). Marques e
Ernesto (2004), afirmam que do ponto de vista geoqumico as rochas do Tipo Palmas podem
ser associadas em campo s bsicas de baixo teor de titnio (BTi).
Ressalta-se que as rochas Tipo Palmas so mais ricas em Sio quando comparadas
aos basaltos, por isso, a susceptibilidade destas rochas a eroso menor, o que refora a teoria
de que a regresso da escarpa se d pela queda de blocos rochosos.

4.1.2 Lavas de carter bsico

As rochas de carter bsico que compe a base dos canyons, so basaltos quais
caracterizam-se por apresentar colorao, cinza escura a negra, granulao muito fina a
mdia, hipocristalinos, macios ou vesiculares. O teor dde Sio destas rochas varia de
50,28SiO253,73. Assentam-se sobre os arenitos elicos da Formao Botucatu (NARDY,
1995).
Geoquimicamente classificados por Maruques e Ernesto (2004) correspondem a
basaltos de (BTi) 1 (BTi-S: TiO2 # 2%; 140 < Sr < 400 ppm; Ti/Y < 300),tipo gramado.

4.2 ESTRUTURA

Nardy (1995) afirma que as rochas cidas Palmas apresenta-se sob a forma de
corpos tabulares, onde o acamamento gneo desenvolvido por fluxo laminar assentando-se
sobre os basaltos (contato concordante abrupto). Nardy ainda explica que medida que
ocorre o afastamento da zona basal estas rochas tornam-se macias, observa-se nesta zona
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presena de diaclasamento vertical de at 5m metros de espessura. Nas zonas de topo a


estrutura assume padro ondulado.
Lineamentos tectnicos seccionam a regio de aparados da Serra possibilitando o
entalhamento dos sistemas de drenagem da regio dos canyons como mostra as figuras 2.

Figura 2: Canyon Fortaleza: Alinhamento N 60 - N-70.


Foto: Pedro Hauck.

Segundo, Umman (2001) os sistemas de falhas e fraturas na regio esto atrelados a


grandes processos de rompimento da crosta ocorrendo preferencialmente nas seguintes
direes: N 30 - N50 W, alinhamento principal da abertura do canyon Itaimbezinho, N 60 -
N-70 E, alinhamento do Canyon Fortaleza e recortes do canyon Itaimbezinho.

Figura 3: Imagem Landsat (1999) onde possvel observar as principais falhas e fraturas que
responsveis pelo desenvolvimento de vales em V, comum regio dos canyons. desenvolvimento
de vales em V.
Fonte: CRPM, 2008
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As estruturas de direo N 10 - N30 E, configuram os profundos entalhamentos que


delimitam os planaltos dos Campos Gerais com as escarpas do planalto. Tais lineamentos
podem ser observados na Figura 3.

5. CONFIGURAO GEOMORFOLGICA

A geomorfologia da regio de Aparados da Serra caracterizada por apresentar relevo


de planalto embasado pelas rochas da Formao Serra Geral da Bacia do Paran. Tais rochas
conformam terminais escarpados abruptos do planalto nas bordas Leste e Sul, tendo
primeira, desnveis acentuados de at 1.000m
AbSaber (2003) explica que a Serra Geral no nordeste do Rio Grande do Sul uma
alta borda de planalto, formando um dos espetculos paisagsticos mais extraordinrios do
Brasil Atlntico ao qual os gachos denominaram Aparados da Serra.
Ainda segundo AbSaber (2003), esse trecho da Serra Geral se posiciona como uma
serra do mar mas, devido a sua constituio geolgica, difere completamente das escarpas
tropicais florestadas do Paran, So Paulo, Rio de Janeiro e Esprito Santo. Os escarpamentos
talhados em rochas baslticas possuem altas paredes rochosas ou semi-rochosas, com testada
superior voltada para leste. Canyons curtos e profundos se formaram sincopadamente, ao
longo dos aparados, engendrando paisagens de particular excepcionalidade.
No Estado do Rio Grande do Sul estes altiplanos baslticos da metade norte do
estado descaem para oeste, acompanhando a rampa geral dos planaltos meridionais que se
inclinam para os vales do Rio Paranaba e do mdio Uruguai (ABSBER, 2003).
O relevo sul catarinense acentuado com montanhas e vales profundos, que
recortam a borda do planalto. O lado rio-grandense caracterizado por coxilhas suaves e vales
rasos sendo interrompido abruptamente por grandes escarpas, que levam regio litornea e
so esculpidas por canyons, como o Itaimbezinho, Malacara e Fortaleza (Figura 4).

Figura 4 :Canyon
Fortaleza
Foto: Joo Paulo Lucena

nesta regio que se encontram as pores mais elevadas do Estado do Rio Grande
do Sul e Santa Catarina sendo no Rio Grande do Sul o ponto culminante o Pico Monte Negro
com 1.410 metros no municpio de So Jos dos Ausentes e Morro da Igreja com altitude de
1828 m. em Santa Catarina.
Os canyons tm sua gnese associada a sistemas de falhas e fraturas provindos de
grandes processos de rompimento da crosta (UMMAN, 2001) e por diclases entalhados pelo
sistema de drenagem onde formam profundos vales em V. Segundo Penteado (1980):
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Os derrames solidificados apresentam rede densa de diclases que facilita a


infiltrao reduzindo o escoamento superficial (...). Se os derrames
recobrem camadas incinadas ou horizontais de rochas pouco resistentes, a
eroso diferencial, aprofundando-se na rede de diclases atinge o substrato
frivel e alarga rapidamente os vales. O capeamento resistente de lavas
forma cornijas e mantm mesas ou um relevo de cuestas.
Ressalta-se que, os escarpamentos da Serra Geral prolongam-se, junto s redes de
drenagem, em formas alongadas e irregulares, que avanam sobre a Regio Geomorfolgica
Plancie Costeira (Interna e Externa) como verdadeiros espores interfluviais, sendo alguns
deles isolados formando os morros testemunhos (Projeto Radambrasil, 1986 apud BLOW,
2003).

5.1 SOLOS

Os solos da regio, por se tratar de um relevo em patamares, nas reas mais declivosas
so menos desenvolvidos devido ao escoamento superficial da gua, que favorece a remoo
do material edafisado (PALMIERI & LARACH, 1966), apresentando seqncia de horizontes
A-R ou A-C-R, classificados como Neossolos Litlicos. Os solos derivados do basalto ou sob
influncia desse material de origem so predominantemente eutrficos, os originrios de
riolitos e riodacitos tendem a ser distrficos. Nas reas menos declivosas os solos
predominantes so os mais desenvolvidos, com seqncias de horizontes A-B-C-R
(VALLADARES et al, 2005).
Devido ao relevo, baixas temperaturas e altas pluviosidades verifica-se a acumulao
de grandes quantidades de matria orgnica no horizonte superficial de solos pouco
desenvolvidos (Cambissolos Hsticos ou Neossolos Regolticos Hmicos), exemplos nas
figuras 5.

Figura 5: Cambissolo Hstico


Foto: Programa Excurso tcnica -
UFRGS

6. CONSIDERAES FINAIS

A histria evolutiva dos canyon dos Campos de Cima da serra est atrelada num
primeiro momento subdiviso da Pangea em Eursia e Gondwana durante o Permiano.
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Seguida de um intenso diastrofismo no mesosico, que foi responsvel pelo maior evento
magmtico registrado no planeta terra (Bigarella et. Al., 1985).Tal evento deu origem a Serra
Geral, gerando falhamentos paralelos sobre a costa, fazendo com que significativas pores
submergissem no Atlntico nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (Vildner et.
Al., 2004).No entanto os falhamentos do tipo escalonados deram origem a escarpa original da
plataforma Atlntica ,a qual orientada por canais,sub bacias e gargantas ocupadas por rios.
Segundo Vildner (2004), o desenvolvimento dos canyons teve como fator principal a
descontinuidade tectnica, onde a orientao dos principaIs canyons coincide com as
principais direes de fraturas existentes nas rochas vulcnicas,as quais so zonas de
fraqueza, havendo maior percolao da gua e por conseqncia a eroso vertical.
A regio dos Campos de Cima da Serra portando deve manter-se em estado
preservado, pois alm de abrigar um precioso ecossitema, guarda vestgios evolutivos de sua
formao que ainda so pouco conhecidos, merecendo uma maior ateno.

7. REFERNCIAS

ABSBER, A. Os domnios de natureza no Brasil: potencialidades paisagsticas. So


Paulo: Ateli Editorial, 2003.

BIGARELLA, J. J.; BOLSANELO, A.; LEPROVOST, A. Rochas do Brasil. Rio de Janeiro:


LTC, 1985.

BLOW, A.E. Mapeamento Geomorfolgico da Folha de Gravata (SH.22-X-C e D). In:


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PALMIERI, F.; LARACH, J.O.I. Pedologia e Geomorfologia. In: GUERRA, A.J.T.;


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meridional de Santa Catarina.Bol. Soc. Bras. Geral. V.2,n.1,p.37-74,1953.
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