Word Gregorin Concepção de Infância e de Literatura Infantil
Word Gregorin Concepção de Infância e de Literatura Infantil
Word Gregorin Concepção de Infância e de Literatura Infantil
Num olhar mais atento a essas obras verifica-se serem elas portadoras de uma
estrutura profunda portadora de tematicas que contem valores humanos, ja que os
valores sobre os quais as sociedades sao construidas nao sao infantis, adultos ou senis,
sao humanos e atemporais.
Atraves da analise de recursos utilizados na manifestacao textual, observam-se
varios elementos escolhidos pelos sujeitos da enunciacao a fim de serem estipulados
contratos entre enunciador/enunciatario com a finalidade de fazer-parecer infantil e
verdadeiro.
Dessa forma, a maior parte dos textos produzidos para criancas sao, na atualidade,
o resultado da juncao do conteudo de dois textos: o visual e o verbal. Torna-se importante
ter em mente que o enunciatario virtual do texto e uma crianca e a manifestacao textual
integral e o resultado de duas semioticas (verbal e visual), sendo que, por vezes, sonora
ou ate tatil. Portanto, o texto que se nomeia como infantil pressupoe um leitor
intersemioticamente competente.
Os recursos verbais e visuais contidos no plano de expressao tem o proposito de
fazer o leitor crer estar em contato com discursos que circulam no universo infantil e,
portanto, tratam de temas infantis. Alem disso, a sociedade, produziu esses textos como
verdadeiramente infantis de acordo com as concepcoes de crianca que foram construidas
atraves dos diferentes momentos historicos.
O estudo dos procedimentos de discursivizacao e de fundamental importancia
quando se propoe a estudar a literatura infantil, pois a actorizacao, a temporalizacao e a
espacializacao sao as responsaveis pela criacao de uma sintaxe especifica em funcao do
enunciatario para quem o texto e produzido.
Atraves da analise mais apurada dessa modalidade de textos, percebe-se que as
sociedades possuem um cardapio desses componentes ao qual os enunciadores
recorrem no momento da enunciacao. Essa lista de opcoes e figuras vem sendo
produzida desde que a pedagogia propos que se publicassem textos adequados ao
mundo da crianca, sendo, entao, uma producao cultural que vem sendo retroalimentada a
medida que novos valores vao sendo instaurados na sociedade e o proprio conceito de
crianca vai sendo reconstruido, pois nada e estatico no meio social.
Nota-se que a um plano de expressao com figurativizacoes apropriadas para a
concepcao de crianca que a sociedade produziu, nao implica um plano de conteudo com
temas do mesmo teor, visto trabalharem-se temas humanos e de suma importancia para a
sociedade, havendo um ponto de intersecao no interior das estruturas textuais
responsaveis pelo surgimento de um nivel de manifestacao chamado de literatura infantil.
Esse ponto e percebido quando tem inicio o processo de discursivizacao, ponto em
que o e enunciador escolhe, entre outros elementos, o seu enunciatario e,
consequentemente, opta por essa ou aquela manifestacao textual, mais ou menos
apropriada para o que se concebe como sendo o universo infantil e tendo em vista os
elementos que o destinador do texto pode ou nao assimilar, tudo com o objetivo de que
seu texto e valores nele contidos sejam aceitos.
Entendemos a estrutura social como a mantenedora de um universo pedagogico
do qual sao retiradas as figuras que circulam na literatura que agora analisamos (a
infantil), enquanto que a opcao por figuras voltadas ao mundo concebido como adulto fara
produzir outras modalidades de textos (ou literaturas), elaboradas para se relacionarem
com sujeitos enunciatarios adultos, fazendo vir a tona valores tambem humanos e
historicos, mas por intermedio de outras manifestacoes textuais e com outra
intencionalidade.
Esse ponto em que ha o cruzamento dos dois universos estaria restrito ao
momento em que ha a transferencia de temas (abstracao) para as figuras (concretizacao),
ou seja, ponto em que o enunciador escolhe para que seja formado um texto portador de
figuras "convenientes" ao que se concebe como crianca.
Consideracoes Finais
Referencias Bibliograficas
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