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ITINERÁRIOS JUVENIS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL:

SOBRE A REALIDADE JUVENIL, A VIOLÊNCIA INTERSUBJETIVA E AS


POLÍTICAS PARA JOVENS EM PORTO ALEGRE - RS

Carlos A. Gadea
Marcia da Silva Cezar Gadea
Hilário Dick
José Silon Ferreira
Fatima Sabrina Rosa

_________________________________________________________________________________
Como citar:
GADEA, C. A.; GADEA, M. S. C.; DICK, H.; FERREIRA. J. S. ROSA, F. S. Itinerários juvenis em situação de
vulnerabilidade social: sobre a realidade juvenil, a violência intersubjetiva e as políticas para jovens em Porto
Alegre - RS. Revista Juventude e Políticas Públicas, Brasília, v. 1, n. 2, p. 47-71, jul./dez. 2017.
DOI: 10.22477/2525-7161.v1.n2.47-71
_________________________________________________________________________________

Resumo: O artigo tem por objetivos introduzir algumas reflexões acerca do significado contemporâneo do termo
juventude, bem como realizar ponderações importantes em torno ao binômio juventude-violência. Quer-se,
igualmente, apresentar alguns dados relevantes para compreender a situação de vulnerabilidade concreta de
jovens que residem em certos bairros da cidade de Porto Alegre, na medida em que permitem deduzir as fortes
relações entre violência, educação e família. Por último, o interesse recai em realizar uma breve crítica dos três
principais paradigmas sobre políticas para jovens (em torno ao trabalho, à educação e ao esporte) que
classicamente se têm implementado. No contexto destas reflexões se sugere considerar de importância o
desenvolvimento de uma “cultura digital” e seu coadjuvante “capital social” para a eventual formulação de uma
“nova” política para jovens que vivem em situação de vulnerabilidade social em contextos urbanos.
Palavras-chave: Jovens. Vulnerabilidade social. Violência. Política para jovens

Abstract: The article has for objectives to introduce some reflections on the contemporary meaning of the term
youth as well as perform important considerations around the youth-violence binomial. Immediately introduce
some relevant data to the understanding of the specific situation of vulnerability of young people who live in
certain neighborhoods in the city of Porto Alegre, which makes possible the deduction of the strong links
between violence, education and family. Finally, the interest lies in conducting a brief review of the three main
paradigms of policies for juveniles (around work, education and sports) that have been classically implemented.
In the context of these reflections it is important to consider the development of a "digital culture" and its
supporting "social capital" for the eventual formulation of a "new" policy for young people living in situations of
social vulnerability in urban contexts.
Keywords: Young. Social vulnerability. Violence. Youth Policy

INTRODUÇÂO
As seguintes reflexões se inserem dentro de uma série de observações primárias
sobre uma pesquisa desenvolvida em parceria com a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos
do Estado de Rio Grande do Sul, sob a forma de um diagnóstico acerca da situação juvenil em
quatro bairros da cidade de Porto Alegre: Restinga, Lomba do Pinheiro, Rubem Berta e Santa
Teresa1. Nestes bairros, e desde o ano de 2011, foram instalados os denominados “Territórios
da Paz”, iniciativa de segurança pública que faz parte de uma política sobre segurança que
conta com medidas de prevenção e assistência social nas regiões de atuação: o chamado “RS
na Paz” (Programa Estadual de Segurança Pública com Cidadania). Neste contexto, a

1
Trata-se do “Diagnóstico sobre a realidade juvenil e a violência intersubjetiva na dimensão sócio-espacial dos
bairros Restinga, Lomba do Pinheiro, Rubem Berta e Santa Tereza – Porto Alegre”.

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Diretoria de Direitos Humanos do Estado considerou oportuna a instalação dos denominados


Centros POD Juventude (Centros “Programa de Oportunidades e Direitos” Juventude) nesses
quatro “Territórios da Paz”, para o qual contou com o apoio de organizações sociais. Assim, o
interesse por obter mais informações sobre a população jovem destes bairros e, desta maneira,
poder contar com mais insumos para o estabelecimento de medidas concretas para uma
política para os jovens, levou a que se realizasse o diagnóstico referido. Sendo assim,
apresentam-se aqui algumas das impressões obtidas a partir de alguns dados coletados e
selecionados.
Os objetivos do presente texto são diversos. Inicialmente, introduzir algumas
reflexões acerca do significado contemporâneo de juventude, bem como entre o binômio
juventude e violência. Logo, apresentar alguns dados considerados relevantes para
compreender a situação de vulnerabilidade concreta desses jovens, na medida em que
possibilita deduzir as fortes relações entre violência, educação e família. Por último, realizar
uma crítica aos três principais paradigmas sobre políticas para a juventude (em torno ao
trabalho, à educação e ao esporte e lazer). No contexto destas reflexões se sugere considerar a
importância, para uma política para jovens, do desenvolvimento de “capital social” e da
“cultura digital”.

ACERCA DA(S) JUVENTUDE(S)


Em grandes linhas, a sociologia da juventude se desenvolveu a partir de dois eixos
analíticos: em primeiro lugar, um eixo que procura definir e compreender as características
convergentes da juventude como categoria social generalizável, e em segundo lugar, um eixo
analítico que enfatiza as características divergentes que configura as diversas juventudes
como grupos culturais autônomos, aderindo à sentença da existência de múltiplas juventudes.
Muitas preocupações de pesquisadores e agentes políticos enfrentados com os atuais
processos sociais de transformação do mercado de trabalho, o sistema de ensino e as
dinâmicas familiares têm apontado, da mesma forma, a necessidade de observar o que
representa o “prolongamento da juventude” como fase de vida2, o que se tem denominado
“geração suspensa”. Não obstante, esta ideia, frequentemente associada às dificuldades
próprias da transição à vida adulta, parte de pressupostos um tanto questionáveis: aquele que
parte do princípio de que os jovens querem ser adultos de forma compulsiva e, por outro lado,
aquele que considera possível “objetivar” com dados e eventos identificáveis a transição
etária. Estes pressupostos se deslegitimam num cenário de acentuada singularização de

2
Por exemplo, ao prolongar a estadia na casa dos pais, adiantando a assunção plena do estatuto de adulto. Isto
pode se constatar ao analisar a constituição de lares e/ou as características das “unidades domésticas estendidas”.

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trajetórias ou itinerários e comportamentos juvenis, desencadeando, consequentemente, a


eliminação das fronteiras simbólicas da juventude como grupo especifico3.
A representação da juventude como fase da vida também é questionada a partir das
novas mudanças sociais e econômicas, afetando a todos os grupos etários e, muito
especialmente, as novas gerações. Estas têm sido confrontadas, de maneira particular, com a
erosão de certos marcos de referências culturais historicamente legitimados, muito
especialmente com aqueles ligados aos mecanismos de socialização e transição para a vida
adulta. As referências culturais que serviam como fios condutores das condutas e das
trajetórias individuais se têm enfraquecido sensivelmente: as transformações no mercado de
trabalho (flexibilização, precarização e imprevisibilidade), nas estruturas familiares
(pluralização das formas de organização familiar, o crescimento dos divórcios, etc.) e as
novas dinâmicas associadas ao consumo são exemplos disso. Esses fatos parecem ter
pressionado os jovens atuais a realizar usos ativos da sua capacidade de reflexividade
individual para criar novos estilos de vida e elaborar novas identidades, numa multiplicidade
de opções disponíveis ou criadas. Claro está que as “escolhas racionais” realizadas pelos
jovens não podem ser consideradas fundamentos centrais da sua vida social, já que a vida
coletiva supõe, antes de tudo, limitações estruturais (econômicas, políticas, normativas). De
fato “ação” e “estrutura”, e a maneira como ambas se articulam nas sociedades atuais, devem
ser levadas em conta no momento da análise das sociabilidades juvenis contemporâneas.
Desta maneira, as trajetórias juvenis devem ser contempladas pela perspectiva de um processo
de individualização estruturada sob os condicionamentos e limitações que nos impõe a vida
coletiva.
Um eventual exemplo dos “poderes de coerção” social contemporâneo e que impera
sob a lógica da sedução é a mídia. A diagramação dos programas de TV, dos jornais diários e
da publicidade é orientada por expectativas construídas pelo mundo adulto sobre o que seria
importante para os jovens. Nesse universo representacional, os jovens são “filtrados” por
adjetivações que, em muitas ocasiões, misturam elementos negativos, estigmatizações e
construções identitárias com evidente tom discriminatório. Assim, na atualidade, parece que
os meios de comunicação apresentam duas opções sobre a construção simbólica da juventude:
por um lado, ancorada no universo da moda e da publicidade, e por outro, ligado à violência e
à delinquência. No primeiro caso, assiste-se a uma espécie de colonização da mídia dos estilos
estéticos juvenis pelo sistema da moda e do marketing, em correspondência à noção de

3
Tal quais as conclusões obtidas no “Diagnóstico Demográfico, Socioeconômico e sobre Juventude do
Município de Esteio – RS” (GADEA, 2011a), realizado como consultoria realizada á Prefeitura Municipal de
Esteio – RS, Brasil.

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consumismo impulsionado pela indústria cultural. No segundo caso, assiste-se a um


movimento generalizado em que a mídia constrói um retrato da juventude com base ao
“perigo urbano”, a violência e à insegurança.
De todas as maneiras, o olhar sobre a juventude contemporânea não pode cair nestas
simplificações interpretativas, e muito menos em manipulação oportunista dos meios de
comunicação. As sociedades contemporâneas são demasiado diferenciadas e policontextuais
e, então, as experiências dos jovens devem ser analisadas a partir de múltiplas filiações
identitárias correspondentes a necessidades e negociações contínuas no seu cotidiano.
Múltiplos mundos sociais desenham múltiplas experiências sobre o ser jovem. Daí que a
singularização das experiências de vida dos jovens remete à especificidade de contextos e às
múltiplas oportunidades e estratégias elaboradas para o melhor convívio social, chamando a
atenção para os processos de mudança nas sociabilidades e nas suas formas que elas começam
a adquirir. Consequentemente: qual é o “olhar” privilegiado para análise da experiência social
e das formas das sociabilidades da juventude na atualidade?
Como resultado das novas tensões, frustrações, ansiedade e contradições da
juventude contemporânea, começa a esboçar-se uma sociabilidade marcada por uma
tipificação nova: a neotribalização (MAFFESOLI, 1989). Durante o anos 80 e 90, começa a
perceber-se que a neotribalização responde a um fenômeno complexo, de crescente
expressividade. Ela se apresentava como resposta social e simbólica à excessiva racionalidade
burocrática, ao isolamento individual urbano e à frieza de uma sociedade competitiva.
Adolescentes e jovens pareciam sentir, nas tribos, a possibilidade de encontrar uma nova via
de expressão, uma maneira de distanciar-se da “normalidade” que não os satisfazia e, além
disso, a ocasião de intensificar suas vivências pessoais e encontrar um núcleo gratificante de
afetividade. Como diria Maffesoli (1995) a sociabilidade em transição que nos sugere este
processo de neotribalização anuncia a passagem de uma ordem e princípio comunicacional e
simbólico individualista para um relacional e, de forma análoga, a passagem de um princípio
político para outro, de caráter estético.
A análise das “tribos urbanas” de Michel Maffesoli contribuiu muito para uma
frutífera revisão da literatura sobre o tema “juventude”. No clássico trabalho O tempo das
tribos preocupou-se em analisar o comportamento dos jovens urbanos na ótica do nomadismo,
do consumo, dos novos formatos associativos e afetivos e a fragmentação social. O eixo
central era demonstrar que os microgrupos emergentes de jovens tomavam a forma de
comunidades emocionais onde o valor do afetivo e do “ estar junto”, a valorização do corpo e
os laços de proximidade primários, conduziam não mais a um princípio individualista do
social mas a uma produção cultural de grande complexidade. Neste emaranhado de

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sociabilidades emergentes, Maffesoli chama a atenção para o caráter efêmero destes laços
associativos ou neotribais, sua fluidez e flexibilidade, a forte carga local de seu
desenvolvimento e o escasso formato organizacional segundo critérios em que o fator político
é um componente aglutinador privilegiado. Desta maneira, realiza-se uma separação
conceitual de grande interesse para compreender as dinâmicas de sociabilidade da juventude:
por um lado, uma interação política, projetiva, racionalizada, individualista; por outro, uma
identificação estética, emocional, não-direcionada, que se satisfaz em viver o dia-a-dia, no
simples prazer de “viver com outros”.
De forma simultânea, Lipovetsky (1994), embora não possa ser considerado um
autor que analisa os comportamentos juvenis contemporâneos, traz uma série de noções
sociológicas que, sem dúvida, se apoiam numa observação concreta das novas modalidades
associativas e de comportamento dos jovens. Sem mencioná-los, antecipa modalidades de
socialização emergentes sobre a base de uma espécie de “narcisismo coletivo”: solidariedade
grupal, ”redes situacionais”, retração dos objetivos universais. Para Lipovetsky, o atual
processo de personalização que protagonizamos supõe que a última figura assumida pelo
individualismo contemporâneo não resida numa “independência associal”, mas em
ramificações e conexões com interesses miniaturizados, hiperespecializados: grupos de jovens
que realizam trabalhos voluntários diversos ou as diferentes comunidades emocionais das
quais fala Maffesoli. Isso não significa um processo tendente a conduzir os indíviduos, a
reduzir a carga emocional investida no espaço público ou nas “esferas transcendentais” e a
aumentar as prioridades da esfera privada. A valorização do imediato, dos temas cotidianos e
das preocupações existenciais de cada dia resulta serem os motores constitutivos dos novos
valores emergentes nos grupos de jovens atuais.
Dos estudos de Maffesoli e, posteriormente, das análises de Lipovetsky, surgem
perguntas interessantes para compreender os novos contornos das práticas culturais e das
sociabilidades dos jovens atuais. Magnani (2005), por exemplo, adverte para a necessidade de
reavaliar o conceito de tribo desenvolvido amplamente na literatura sobre jovens durante os
anos 1980 e 1990, afirmando que uma de suas mais claras limitações está em possibilitar um
mal-entendido entre o sentido que se atribui ao termo “tribo” nos estudos tradicionais de
etnologia e seu uso para designar grupos de jovens no cenário da metrópole. Segundo
Magnani, nada está mais longe da realidade do que considerar os grupos de jovens como
grupos bem definidos e delimitados, com regras e costumes particulares. Por isso, propõe
substituir o termo “tribo urbana” por “cultura juvenil”, uma virada interessante no marco
teórico que deixa privilegiar perspectivas antropológicas, de corte etnográfico, para dar maior
ênfase aos contornos teóricos mais globais, ligados aos denominados “estudos culturais”. A

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mudança terminológica sugere, também , uma mudança na forma de encarar a questão


juvenil, “que transfere a ênfase da marginalidade para a identidade, das aparências para as
estratégias, do espetacular para a vida cotidiana, da deliquência para o ócio, das imagens para
os atores” (Idem). O que certamente pode ser constatado é que ao falar de “tribo”, o objeto
juventude parece reduzir-se à “forma” da sociabilidade assumida, em que seu caráter
particularmente fechado e sólido negligencia a capacidade de movimento que os
comportamentos juvenis vieram assumindo. Talvez a noção de “rede” possa ser mais propícia
para designar o tipo de sociabilidade empreendida pelos jovens atuais, na medida em que se
faz presente o hibridismo e a contaminação de uma multiplicidade de códigos estéticos,
valorativos e de consumo generalizado entre a juventude.
Dessa maneira, marcadas tendências de uma auto-responsabilização sobre os
destinos sociais, de uma reflexividade autonôma e certas preocupações com a “conetividade”,
com os aspectos relacionais da vida social, sugerem uma cultura juvenil a meio caminho entre
a “paixão” pelo contato na forma das neotribos e um processo de individualização ciente de
um mundo complexo, incerto e “presenteísta”. Os jovens na atualidade parecem desenhar
ações com forte viés estratégico nas suas escolhas e decisões, sem que isso represente uma
subjetividade construída sob valores da competitividade e o isolamento. Muito
contrariamente, nos encontramos perante uma cultura juvenil que se preocupa com seu
ambiente, além de muito sensibilizado com os desafios do mundo moderno.

A VIOLÊNCIA E OS JOVENS
Na pesquisa desenvolvida, a preocupação recaiu na população jovem entre os 12 e os
24 anos, dividindo-se nas seguintes faixas etárias: de 12 até 15 anos, de 16 até 18 anos, de 19
até 21 anos e de 22 até 24 anos4. Como bem se sabe, não existe um acordo absoluto acerca
dos limites de idade entre os adolescentes e os jovens. Tampouco existe com relação aos
limites do que se entende por juventude, já que em muitas análises a idade ainda se estende
até os 29 ou 30 anos. Fora estas precisões, uma marca singular e de grande destaque dos
jovens na atualidade é a sua exposição à violência. Para muitos, esta exposição se torna
materializável como correlato à sua cotidianidade em situação de vulnerabilidade social, em
especial naqueles que residem nos denominados “bairros problemáticos”5. Certamente, a falta

4
A subdivisão se deve a uma estratégia metodológica que corresponde a fins analíticos e explicativos. Ela
pretende atender às particularidades do processo de construção da identidade e itinerários subjetivos dos jovens.
Por razões de importância, prefere-se não se ampliar, neste texto, as razões que levaram aos critérios usados na
pesquisa referida.
5
Ver o interessante artigo “A invenção de ´bairros problemáticos´” de Sylvie Tissot publicado em Le Monde
Diplomatic, outubro de 2007. Neste registro de adjetivação do espaço urbano podem se inserir os denominados

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de oportunidades de trabalho (para aqueles com mais de 18 anos), da diversificação de


alternativas de lazer e de ambientes escolares incentivadores podem explicar, em parte, como
as notórias carências no que respeita ao desenvolvimento educativo e cultural interferem nos
atuais problemas que atravessa a juventude. Isto tem sido algo que, reiteradamente, outorgou
explicação à maior quantidade de problemas relacionados com a população jovem, vinculados
a iniciativas de políticas públicas abrangentes e ao voluntarismo de muitos atores políticos e
sociais. Sem dúvida, muito se tem avançado ao respeito, mas o medo, a exposição à violência,
a insegurança, a percepção de um “futuro incerto” e a participação ativa em atos de violência
continuam se instituindo em traços identitários evidentes de uma juventude que, em muitas
ocasiões, percebe-se submetida ao estigma e à exclusão social.
Como bem se sabe, é durante a juventude (desde o processo socializador que se
origina nos primeiros anos de vida) que se dá início a um processo continuado de
aprendizados e tomadas de decisões que determinarão, de maneira concreta, o seu futuro
social. Também onde confluem as diversas heranças culturais, sociais e familiares, conforme
processos de individualização e subjetivação concretos, fatores centrais na constituição de
sociedades modernas e democráticas. Por isso, insiste-se em pensar que políticas públicas
destinadas à juventude se tornam por demais necessárias e imprescindíveis para atingir a
equidade e o desenvolvimento humano, valores fundamentais de sociedades orientadas a
partir de ideais de justiça social. Nos últimos anos, debates em torno à condição juvenil e as
consequentes políticas públicas manifestaram grande preocupação, fundamentalmente, com o
crescente fenômeno da violência, seja no âmbito escolar (a instituição escolar) como nas
diferentes relações intersubjetivas (família, bairro, cidade, “grupo de iguais”, etc).
Quando se analisa a relação entre violência e juventude deve-se ter em consideração
as características próprias desse público jovem, alvo das preocupações: transitoriedade,
disposição a assumir riscos, socialibilidades intensas e etapa de definição de identidades e
papeis sociais. Às vezes é a pobreza, as carências materiais e simbólicas que muitos bairros
podem apresentar como marca estrutural, o que se instituiu em explicação fundamental sobre
os atos de violência em que possam estar envolvidos jovens, sob o risco da estigmatização
social. De todas as maneiras, e como muitos estudos assim o demonstram, em absoluto a
pobreza pode se associar linearmente com a violência urbana e, fundamentalmente, nem com
a delinqüência. Há uma combinação de variáveis que contemplam os níveis de exposição da
população jovem à violência urbana, ligados a problemas, fundamentalmente, da socialização
primária (na família) e da socialização secundária, surgidos de carências materiais,

“Territórios da Paz”, e que neste contexto são o fundamento de escolha dos bairros Restinga, Lomba do
Pinheiro, Rubem Berta e Santa Tereza para a política da juventude e para a pesquisa desenvolvida.

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educativas, de inserção no mercado de trabalho e de dispositivos socialmente integradores de


diversas características (ligados ao lazer, ao esporte, a atividades lúdicas, etc.).
Mas, de que jovens se está fazendo referência? As experiências individuais dos
jovens atuais tendem a ser caracterizadas a partir de um novo panorama sócio-cultural. A
estabilidade de outrora é substituída pela incerteza com o futuro e pelo risco nas vivencias
cotidianas. Não se esgotando numa simples “transição” cronológica na vida individual, trata-
se de uma noção, o da juventude, que remete a particularidades nos processos de
individualização, tanto com relação a valores e atitudes especificas quanto às estratégias
operacionalizadas na negociação dos caminhos para a vida futura. Várias pesquisas6 têm
apontado a emergência de modos reflexivos e criativos de construção biográfica, assim como
a adoção de éticas de vida mais expressivas (e menos participativas, no sentido político
clássico), conviviais e “hedonistas”, especialmente quando se faz referência à importância
atribuída a valores como a autonomia, a diversão e a experimentação. Neste cenário, a
violência emerge como forma de sociabilidade que denota uma linguagem ou narrativa que
procura a “integração negada” ou “postergada”, um desejo e interesse por visibilidade e
reconhecimento. Como linguagem, a violência se nutre de uma semântica escorregadia, de
difícil apreensão e compreensão. Por isso, pergunta-se com freqüência: como compreender
esta juventude contemporânea perante a violência urbana? Como se vivencia em muitos
jovens em situação de vulnerabilidade social um contexto cotidiano de “violência
intersubjetiva”? Como a própria violência se insere no repertorio cultural da construção
subjetiva dos jovens de hoje?
A violência intersubjetiva não se entende, unicamente, como o resultado de conflitos
inerentes às relações de poder desigual entre diferentes sujeitos, mas sim como associada à
vulnerabilidade e à violência de um determinado grupo social. A exposição à violência
contínua e a participação ativa em atos violentos (como vítima ou protagonista) desenha uma
forma de relação específica, em que fatores estruturais, conjunturais e institucionais atuam
conjuntamente no seu aparecimento. Trata-se de um tipo de violência que atua negativamente
na autoestima (por exemplo, a violência doméstica) e na internalização do desprezo e o não-
reconhecimento (por exemplo, na violência policial-institucional), gerando lesões na ordem
social e normativa de enorme significação. Sem dúvida, a violência é considerada um grave
problema no país, constituindo-se, até os dias de hoje, na principal causa de morte de crianças
e adolescentes a partir dos 05 anos de idade. “Trata-se de uma população cujos direitos
básicos são muitas vezes violados, como o acesso à escola, a assistência à saúde e aos

6
Abramo, Helena Wendel e Martoni Branco, Pedro Paulo (Org). Retratos da juventude brasileira: análises de
uma pesquisa nacional. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2005.

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cuidados necessários para o seu desenvolvimento. As crianças e adolescentes são, ainda,


exploradas sexualmente e usadas como mão-de-obra complementar para o sustento da família
ou para atender ao lucro fácil de terceiros, às vezes em regime de escravidão”7. Obviamente,
as diferentes maneiras de definir a “violência intersubjetiva” juvenil variam segundo as visões
culturais, mas o conceito ganha em maturidade na medida em que se amplia uma
conscientização acerca dos direitos e do bem-estar dos adolescentes e jovens na atualidade.
Como bem se compreende, a “violência intersubjetiva” juvenil pode ser praticada por
omissão, supressão ou transgressão dos direitos legais dos jovens, materializada em qualquer
forma de opressão, mau-trato, agressão física ou emocional, que contribui para o sofrimento
do jovem. Trata-se de uma violência que fragiliza a vítima, dificultando a busca de auxílio e a
superação da lesão sofrida.
A “violência intersubjetiva” deve ser compreendida no contexto de uma série de
mudanças sociais recentes e de enorme significado. A violência, enquanto produzida numa
ordem do conflito intersubjetivo, deve definir-se como uma “linguagem”, como uma maneira
de expressar carências ou desarranjos nos mecanismos diversos de integração social. Abordá-
la tal qual a manifestação de um “desvio” de conduta não possibilita a sua compreensão na
atualidade. A violência pode ser uma forma de “falar” quando outros meios de expressão
social e cultural estão ausentes. Por outro lado, a “violência intersubjetiva” denuncia as
eventuais falhas na preeminência do “laço social” que mantém a uma comunidade, família ou
grupo humano coeso em torno a regras sociais e normas de conduta claras e evidentes aos
olhos de todos. A violência intersubjetiva é a manifestação da ausência dos “laços sociais
vinculantes”, evidenciando problemas concretos nos processos socializadores primários (na
família) e/ou secundários (grupos de amigos, escola, etc). Neste sentido, o “ideal de
comunidade”, substrato de uma vida coletiva, cede espaço à reafirmação do indivíduo,
constituído na fortaleça última para a sobrevivência econômica e moral na atualidade.
Concretamente, a “violência intersubjetiva” juvenil está inserida num contexto social que,
paulatinamente, tem adquirido os traços de uma nova exclusão social. Trata-se da
incapacidade ou impossibilidade, para muitos setores da população, de inserir-se em “círculos
sociais” (capital social) ou dinâmicas de sociabilidade que possam trazer auto-estima e
reconhecimento intersubjetivo. Isto é uma das principais razões para que muitos indivíduos
sintam que seus sofrimentos se relacionam com a praticamente nula “interiorização” das

7
Ver Sociedade Brasileira de Pediatria & Secretaria do Estado dos Direitos Humanos - Ministério da Justiça.
Guia de atuação frente a maus-tratos na infância e na adolescência. Rio de Janeiro, 2001, p. 7.

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regras do jogo social, numa realidade cada vez mais exigente em auto-reflexividade e
autonomia individual8.
Um primeiro exemplo ao qual se pode fazer referência é o da violência sexual e
corporal. Em pesquisas desenvolvidas recentemente9, percebe-se como a violência sexual e
corporal (estupro, assédio sexual, ato obsceno, favorecimento à prostituição, lesão corporal,
maus tratos) é, talvez, o tipo de violência que mais preocupa a instituições públicas e
educadores. Residem nas características dos vínculos familiares e na própria constituição
familiar atual, eventuais explicações do fenômeno. A denominada “família estendida”,
caracterizada pela convivência de três gerações (avôs, pais, tios e filhos) sob o mesmo teto
tem gerado múltiplos conflitos geracionais, precipitando situações de violência contra os mais
vulneráveis. Logo, os vínculos e relações familiares (extensível às relações entre vizinhos)
com frágeis laços afetivos e de interesses parecem possibilitar o aparecimento de uma
violência “difusa” e “silenciosa”, que termina gerando problemas na constituição subjetiva de
crianças e adolescentes no seu processo de socialização. Trata-se de um tipo de violência que,
no geral, tem sua materialização nos bastidores de relações familiares em aparência estáveis e
“normais” aos olhos de todos.
Concomitante a isto, a estigmatização juvenil se têm tornado moeda corrente. De
fato, existem duas principais fontes de estigmatização da população jovem: via associação
com o delito e via associação com o consumo de drogas. Um dos mitos mais difundidos se
relaciona com a fatal associação entre “minoridade de idade” e a delinqüência juvenil; algo
longe da realidade. Está fartamente demonstrado no mundo que o delito protagonizado pela
população jovem e menor de idade (contemplando os homicídios, o furto, o roubo e a lesão
corporal) é de 8 a 10 % do total, ou seja, o “mundo adulto” é o principal protagonista da
denominada delinqüência urbana nas grandes e medianas cidades do mundo10. Dessa maneira,
é falsa tal associação. Por outro lado, a “criminalização das drogas”, considerando-se que o
consumo de maconha, por exemplo, é produto de uma juventude que lida com a ilegalidade e
que conspira contra a “ordem cidadã”, tem-se estabelecido como discurso estigmatizante para
as sociabilidades juvenis, o lazer e a própria experiência jovem. Nesse sentido, influenciados
pela megalomania televisiva de muitos programas, grande parte da população assume como
“reais” dados e acontecimentos que adquirem capacidade construtiva de percepções que se

8
Ver Gadea, Carlos A. Violence and Collective Conflict Experiences. IN: Societies Without Borders, Volume
5, N° 1, University of North Caroline, USA, 2010.
9
“Diagnóstico Demográfico, Socioeconômico e sobre Violência intersubjetiva infanto-juvenil no Município de
Sapucaia do Sul – RS (Gadea, 2011b), realizado como consultoria realizada à Prefeitura Municipal de Sapucaia
do Sul – RS, Brasil.
10
Ao pesquisar os mesmos delitos nos bairros da pesquisa, tem-se constatado o mesmo porcentual de incidência
delitiva dos menores de 18 anos.

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as políticas para jovens em Porto Alegre – RS”

admitem como emanadas do “mundo real”, percepções muitas vezes fundamentada em


boatos, fofocas, “diz que me diz”, etc.
E o que dizer acerca de um tipo de violência que atua não só estigmatizando, mas
fundamentalmente excluindo de “linguagens” e dinâmicas culturais e sociais por demais
importantes numa “sociedade da informação”? Faz-se referência à suposta (e falsa) concepção
de uma “linguagem” (estética e comportamental) implicitamente violenta dos “jogos
eletrônicos” frequentemente inseridos nas práticas lúdicas dos jovens. Oportuno lembrar o
que já Gustave Le Bon (1895 [1952]), a fins do século XIX, tinha mostrado como as crenças
coletivas eram cada vez mais “alucinações coletivas” cridas como certas, mas real e
crescentemente induzidas por conteúdos “irracionais”, ou seja, de complexa explicação
prática. A teoria crítica, tempo depois, ia enfatizar coisas semelhantes, adjudicando poder à
sedução do icônico na construção dessas alucinações tomadas como opinião pública ou senso
comum. Isto se reflete não só nos discursos construídos em torno à juventude e à sua
associação com o delito e o consumo de drogas, mas também no que significa associar a
prática do mundo lúdico dos “jogos eletrônicos” com a eventual prática de ações violentas dos
jovens. Em si, para muitos, ao se inserir os jovens no universo lúdico de competições e
“jogos” em que conteúdos de eventual violência são apresentados, estes terminam “imitando”
nas suas práticas e relações cotidianas aquilo que de violento se experimenta nos devaneios
recreativos dos “jogos eletrônicos”. Esta premissa se fundamenta na “sensação” de que os
jovens, ao imitar a dinâmica violenta dos jogos, apresentam-se carentes de reflexividade,
“mimetizados” pela linguagem da forma dos jogos. Mas, será que a linguagem do universo
dos “jogos eletrônicos” só desenvolve capacidades de mimetismo, cópia e “irrealidade”? Ou,
pelo contrario, possibilita o contato, por analogia, com o mundo cotidiano e “externo” ao
próprio jogo de muitos jovens, gerando a prática de destrezas psicomotoras necessárias para o
desenvolvimento intelectual dos jovens? Não será que existem grandes chances de
reflexividade em tudo isso? Responder a estas interrogações pode conduzir a derrubar o falso
mito da mimese entre tecnologia e ação humana. Estes tipos de associações entre a violência
(de fato e em potencial) e juventude representam, tão simplesmente, uma mínima parcela do
amplo universo representacional atual sobre o que significa “ser jovem” na atualidade.

OS JOVENS DOS “TERRITÓRIOS DA PAZ”: ALGUNS INDICADORES


Prosseguindo-se, apresentam-se alguns dados significativos acerca dos jovens que
atualmente vivem nos “Territórios da Paz”, nos bairros Restinga, Lomba do Pinheiro, Santa
Teresa e Rubem Berta, de Porto Alegre. O objetivo é, simplesmente, contextualizar, a partir
de alguns breves exemplos, a realidade desses jovens entre os 15 e os 24 anos, atendendo

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indicadores acerca das características das unidades domiciliares em que habitam, ao


rendimento escolar e à violência (com referência aos jovens que se encontram cumprindo
medida socioeducativa na Fundação de Atendimento Socioeducativo - FASE). Os dados
apresentados não pretendem reduzir a multiplicidade de variáveis existentes na relação entre
juventude e violência e, muito menos, esgotar a temática que vincula estas duas questões.
Simplesmente foram considerados de interesse para os argumentos centrais o seguintes
aspectos: uma política para a juventude em situação de vulnerabilidade social deve focalizar-
se em fomentar o capital social e, conjuntamente, a “cultura digital”, e isto se vincula com
certo diagnóstico sobre família, escola e violência.
Segundo dados do IBGE de 2010, a população de Porto Alegre é de 1.409.351
habitantes, sendo a população jovem (entre os 15 e os 24 anos) 221.357 pessoas (15,7 % do
total).

Tabela 1
População Total
Porto Alegre 1.409.351
habitantes

População 221.357 jovens 15,7 %


15 até 24 anos
População nos
quatro 233.742 habitantes
“Territórios da
Paz”
População
15 até 24 anos 40.856 jovens 17,47 %
Fonte: IBGE, 2010.

Desta população total, 233.742 pessoas moram nos quatro bairros dos “Territórios da
Paz”, e 40.856 pessoas têm entre 15 e 24 anos. Assim, a população jovem dos “Territórios”
representa um 17,47 % (média algo acima do total de jovens de Porto Alegre) (tabela 1.). Em
definitivo, está-se fazendo referência a uma população de algo mais de 40 mil jovens e que,
na sua maioria, é de sexo feminino. Por outro lado, ao atender à variável “cor ou raça”, de
grande importância para melhor compreender esta população, pode-se perceber que a
diferença entre população “branca” e “afrodescendente” (junção de “pretos” e “pardos”) é
muito pequena, permitindo considerar que se está perante bairros de Porto Alegre com
significativo contingente de população “afrodescendente” (gráfico 1). Isto não pode significar,
simplesmente, um dado relevante, mas, contrariamente, torna-se uma fonte de caracterização
dos bairros que ajuda entender dinâmicas excludentes que também assumem conotação
étnico-racial. Dos quatro bairros, Restinga apresenta a maior porcentagem de população

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afrodescendente: 41,6 %. Nos outros três bairros as porcentagens são as seguintes: Santa
Teresa, 33 %; Lomba do Pinheiro, 32,2 %, e Rubem Berta, 29,3 %. Se se observa que a
porcentagem da população afrodescendente de Porto Alegre é de 20,25 %, pode-se deduzir
que existe nos “Territórios” uma alta concentração desta população, duplicando, como no
caso de Restinga, a média da cidade.

Gráfico 1

Fonte: IBGE, 2010.

Tal qual o Gráfico 1, os jovens afrodescendentes entre os 15 e os 19 anos do bairro


Restinga representam 45 %, e os de 20 a 24 anos 42,7 %. Quer dizer, que praticamente a
metade da população jovem se identificou como “preta” ou “parda” no Censo de 2010 do
IBGE. Por outro lado, observa-se uma numerosa população jovem, algo que se reitera nos
outros três bairros pesquisados. Desta maneira, a presença jovem e afrodescendente em
Restinga, ao igual que nos outros bairros, caracteriza esta população dos “Territórios da Paz”,
algo que, não necessariamente, se percebe nos demais bairros de Porto Alegre.
A esta caracterização, soma-se um dado muito relevante para compreender a forma
dos laços de sociabilidade dos jovens e o “modelo de família” com o qual desenham
processos socializadores. Resulta interessante prestar atenção à característica dos “lares”;
sendo, nesta ocasião, o bairro Rubem Berta o exemplo a ser analisado. Os dados demonstram
o entrecruzamento entre característica das “unidades domésticas” com o “sexo da pessoa
responsável pelo domicílio” (tabela 2). Nessa tarefa, descobre-se um elemento por demais
importante: que a maioria dos “domicílios particulares permanentes” (51,17 %) é “chefiada”
por uma mulher. Isto é de grande relevância analítica, na medida em que advertimos o papel

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significativo que as mulheres têm na manutenção dos lares e a própria educação dos eventuais
filhos e filhas. Esta tendência na conversão do papel da mulher (de provedora praticamente
única da família) nos setores sociais mais vulneráveis, embora mantenha alguns pontos em
comum com aquelas mulheres dos setores médios e altos (inserção no mercado de trabalho na
busca de autonomia e realização profissional e pessoal), deve-se entender como estritamente
econômico, dedicando-se, inclusive, a atividades de baixa qualificação, em precárias
condições laborais e com baixas remunerações. Muitas vezes as rupturas familiares devidas,
em parte, à desocupação masculina, e a necessidade da mulher em se constituir na provedora
do “lar”, refletem a alta quantidade de famílias “chefiadas” por mulheres, como se evidencia
no número de “unidades domesticas unipessoais” sob a responsabilidade de mulheres (2,476,
enquanto são 1.835 homens na mesma situação).
Outro fenômeno próprio dos setores sociais vulneráveis é a conformação de “famílias
estendidas”, na que além de ambos conjugues (ou no caso aqui analisado, o bairro Rubem
Berta, com clara maioria de mulheres como responsáveis) também convivem outros
familiares, no geral a mãe/avó ou irmãs que podem contribuir nas tarefas domésticas e cuidar
das crianças enquanto a “chefa da família” está no trabalho. No bairro Rubem Berta são 3.120
“unidades estendidas” sob a responsabilidade de mulheres, maioria interessante ao comparar
as 1.993 chefiadas por homens. Estas “famílias estendidas” estão, inclusive (e no geral), sob a
responsabilidade de “mulheres-mães” de um ou mais filhos menores de 18 anos, que
frequentarão os estabelecimentos educativos em determinados horários do dia e, no restante,
ficarão eventualmente “ociosos” até o retorno da mãe do trabalho.
Ao parecer, assiste-se a uma “feminização” crescente da responsabilidade familiar,
denotando um verdadeiro impacto nas dinâmicas familiares, já que se apresenta necessário
afrontar o cuidado dos filhos menores e, no caso de adolescentes, a supervisão de suas
atividades fora do lar, nos estudos, na limpeza, no cuidado do lar e da roupa, da realização das
refeições, etc. Algumas pesquisas (NIRENBERG, 2006, p. 101) apontam que este quadro dos
novos lares nos setores mais vulneráveis tem conduzido a dois fenômenos: ao ingresso cedo
no mercado de trabalho (muitas vezes informal) de muitos jovens (aumentando a autonomia
relativa), e ao “abandono escolar”, resultante do baixo rendimento e a repetência.

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as políticas para jovens em Porto Alegre – RS”

Tabela 2
Domicílios particulares / Espécie de unidade doméstica / Pessoa
responsável / Sexo
Bairro = Rubem Berta - Porto Alegre - RS
Ano = 2010
Espécie de Sexo da pessoa Domicílios Domicílios
unidade responsável pelo particulares particulares
doméstica domicílio permanentes permanentes
(Unidades) (Percentual)
Total Homens 14.037 48,83
Mulheres 14.710 51,17
Unipessoal Homens 1.835 6,38
Mulheres 2.476 8,61
Nuclear Homens 10.044 34,94
Mulheres 8.895 30,94
Estendida Homens 1.993 6,93
Mulheres 3.120 10,85
Composta Homens 165 0,57
Mulheres 219 0,76
Fonte: IBGE (2010).

A propósito, na Tabela 3 se evidencia a taxa de distorção ou defasagem escolar,


considerando, neste caso, os colégios públicos de Porto Alegre e os colégios públicos dos
bairros Restinga, Lomba do Pinheiro, Rubem Berta e Santa Teresa. Evidentemente, não se
pode, precipitadamente, deduzir que as altas taxas se relacionam com a estrutura familiar
apontada anteriormente. Não se pode antecipar que o suposto “fracasso escolar” se deva à
necessária relação com a “feminização” da chefia dos lares. De todas as maneiras, os dados
podem, sim, contribuir a dilucidar como o “universo juvenil” nos lugares pesquisados revela
dificuldades no desempenho escolar em determinados momentos da construção subjetiva da
personalidade e com certo vínculo com a trajetória familiar.
Como se pode perceber, é na 6° série ou 7° ano do ensino fundamental o “momento
crítico” da defasagem escolar. Santa Teresa revela a taxa mais alta, com 62,36 % dos alunos,
enquanto Restinga a de menor representatividade. No entanto, em todos os bairros, incluindo
a média de Porto Alegre, é neste estágio da vida escolar onde se observa o acumulo de
situações adversas na passagem pelo sistema educativo. Previsivelmente, na 6° série/7° ano, o
jovem deveria ter aproximadamente 12 anos; mas se a defasagem se produz neste momento,
está-se perante jovens que devem atingir nesse estágio escolar entre 14 a 16 anos.

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“Itinerários juvenis em situação de vulnerabilidade social: sobre a realidade juvenil, a violência intersubjetiva e
as políticas para jovens em Porto Alegre – RS”

Tabela 3
Taxa Distorção / Defasagem Escolar - Colégios Públicos
Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - INEP, 2012
Porto Alegre Rubem Berta Santa Teresa Lomba do Pinheiro Restinga
5° Série/ 6°Ano 39,7 35,96 49,25 35,55 36,5
6° Série/ 7° Ano 46,1 43,27 62,36 40,48 41,2
7° Série/ 8° Ano 37,3 34,28 51,1 34,13 37,87
8° Série/ 9° Ano 33,1 28,42 46,96 32,42 26,51
Ensino Médio/
Total 61,9 66,8 55,6 S/D 50,8

A repetência e/ou abandono são o sintoma explicativo para este fenômeno, que tende
a ir decrescendo na medida em que se progride de séries no ensino fundamental. Outros
estudos revelam que, justamente, nos 14 e 15 anos muitos jovens interpretam a repetência
como “fracasso”, abandonando, estrategicamente, o sistema educativo, para assim transitar
por uma nova virada na construção da sua subjetividade (NIRENBERG, 2006). Não é
casualidade, inclusive, que muitos destes jovens passaram a desempenhar trabalhos informais
ou “bicos”, ingressando no mundo do trabalho cedo. Este diagnóstico permite compreender
como em situação de vulnerabilidade muitos terminam sendo vítimas de uma reprodução das
desigualdades que se faz mediante o escasso ou nulo “capital cultural”, decorrente de uma
estrutura familiar e rede de relações (capital social) pouco propícias para o seu acúmulo. Em
definitivo: à ausência de “capital cultural” no seio do lar e dos seus vínculos sociais
imediatos, soma-se a saída de um sistema educativo que pouco teve para lhe oferecer como
saída prática da sua situação de vulnerabilidade.
Este diagnóstico se relaciona, em parte, com o panorama da escolaridade dos jovens
que cumprem medidas socioeducativas na Fundação de Atendimento Socioeducativo (FASE).
Na Tabela 4 se observa a escolaridade dos 450 jovens registrados até março de 2013,
constatando-se que a maioria, no momento do seu ingresso, tinha cursado a 5° série (128) e a
6° série (101). Pode-se afirmar, por conseguinte, que exista uma estreita relação entre o
ingresso na “vida delitiva” com o abandono escolar, concomitante à defasagem e a distorção
escolar? Em certo sentido, pode-se admitir que tal fenômeno não seja uma simples
casualidade. Por exemplo, em pesquisas desenvolvidas com jovens negros que estavam na
FASE de Porto Alegre no ano de 2010 se constatou que tinham sérios problemas de
desistência ou abandono dos estudos aproximadamente aos 14 anos de idade11. Logo da saída
do sistema educativo, o mercado laboral informal ou precário e, em alguns outros casos, o

11
Com referência à pesquisa intitulada “Violência urbana e situações de conflito Uma análise sobre jovens
negros na Região Metropolitana de Porto Alegre – RMPA” (Auxilio Bolsa de Produtividade – CNPq),
coordenada por Carlos Gadea.

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GADEA, C. A.; GADEA, M. S. C.; DICK, H.; FERREIRA. J. S. ROSA, F. S.
“Itinerários juvenis em situação de vulnerabilidade social: sobre a realidade juvenil, a violência intersubjetiva e
as políticas para jovens em Porto Alegre – RS”

delito de pequeno porte (furto, por exemplo), têm sido as estratégias elaboradas para dar
sequência aos itinerários das suas vidas.

Tabela 4: Escolaridade da população atendida pela FASE-RS – 03/2013.


POA M
CIPC CAS CSE CASE CASE CASE (semi TOTAL
S E POA I POA F liberdade)
PC II
1ª 2 2 1 5
2ª 1 1 1 2 4 9
3ª 1 2 3 5 6 1 1 19
4ª 5 4 9 13 15 2 2 50
5ª 24 7 36 22 34 3 2 128
6ª 23 13 11 16 30 8 101
7ª 14 5 10 9 17 4 59
8ª 12 6 5 2 5 1 31
1º 9 2 3 6 1 1 1 23
ano
2º 3 1 1 1 6
ano

ano
Não
Infor 2 4 13 19
ma

Tota 93 47 79 91 114 19 7 450


l
Fonte: Assessoria de Informação e Gestão - FASE-R

O que se pode deduzir com os dados acerca da distorção ou defasagem escolar e com
os que se relacionam com a escolaridade dos jovens atendidos pela FASE é que uma faixa
etária “crítica” no desenvolvimento dos itinerários juvenis se concentra entre os 14 e 15 anos.
Embora isto se manifeste com clareza, bom é considerar que um “capital social negativo”
(originado de práticas ilegais e delitivas) tem sido uma fonte de recursos e marco de
referência importante para lidar com as adversidades cotidianas (MÍGUEZ, 2008). O jovem
que ingressa na FASE pode carecer de “capital cultural” e de uma rede de relações sociais que
alavanquem um projeto de vida “possível de ser vivido”, mas isso não quer dizer que
careçam, totalmente, de “capital social”, já que têm conseguido mobilizar, em beneficio
próprio, “recursos associativos” que possibilitaram acessar redes sociais específicas. E que
tipo de redes sociais seria essa? A associatividade desses jovens cumprindo medida
socioeducativa não se esgota no vínculo que sugere o “mundo do tráfico” e o seu processo de
construção subjetiva que se inicia desde criança oficiando de “office boy” do tráfico em troca

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GADEA, C. A.; GADEA, M. S. C.; DICK, H.; FERREIRA. J. S. ROSA, F. S.
“Itinerários juvenis em situação de vulnerabilidade social: sobre a realidade juvenil, a violência intersubjetiva e
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de 10 reais. Estatisticamente, é o roubo o delito maioritariamente cometido pelos jovens,


embora se suspeite que essa prática se vincule ao “tráfico de drogas” (tabela 5).

Tabela 5: Tipos de Atos Infracionais - FASE-RS – 03/2013.


CIP CAS CS CASE CASE CASE POA M
CS E E POA I POA F (semi TOTAL
PC II liberda
de

Roubo 41 11 29 33 66 2 1 183
(40,6 %)
Tráfico de 106
entorpecent 31 7 21 19 18 7 3 (23,5 %)
es
Homicídio 2 18 19 9 13 2 2 65
Tentativa de
Homicídio 2 1 1 6 1 11
Latrocínio 4 4 5 8 4 25
Estupro 1 1
Lesões
Corporais 1 1 2
Tentativa de
Latrocínio 4 1 5
Tentativa de
Roubo 1 1
Outros 50
Total Geral 450
Fonte: Assessoria de Informação e Gestão - FASE-RS

No entanto, são modalidades diferentes à hora de explicar dentro da FASE uma


situação social vivida. O roubo pode se considerar uma prática delitiva que se associa a
“preencher” certas lacunas materiais e simbólicas no processo adolescente e juvenil, e isto
pode, ou não, se vincular com o “tráfico”. Não obstante, o que interessa aqui é considerar que,
tanto para o roubo como para o “tráfico de entorpecentes” (quase o 64 % dos delitos dos
jovens da FASE), o jovem teve que, previamente, ter construído certo “capital social”, algo
que está em jogo, inclusive, quando a vida cotidiana passa a fazer parte de uma dinâmica sob
a disciplina da medida socioeducativa.
A Tabela 6, justamente, proporciona dados acerca da quantidade de jovens atendidos
pela FASE e cujo “bairro de origem” é algum dos quatro “Territórios da Paz”. De um total de
278 jovens de Porto Alegre, 87 são residentes dos “Territórios”; quer dizer, 31 % do total.
Restinga representa o maior número de jovens (38), sendo 13,6 % do total. Assim, pode-se
considerar que esse 31 % do total representa uma taxa alta de jovens em medida

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socioeducativa se comparada ao outros bairros de Porto Alegre? Vejamos: segundo dados de


2010 do IBGE, aproximadamente 98.000 jovens de 15 a 18 anos residem em Porto Alegre.
Desses, residem nos bairros Restinga, Rubem Berta, Santa Teresa e Lomba do Pinheiro
aproximadamente 17.000 jovens. Em definitivo, trata-se de um 17 % do total de jovens nessa
faixa etária que moram nos “Territórios da Paz”. Desta maneira, se se realiza uma avaliação
estatística e meramente quantitativa, chega-se a concluir que, proporcionalmente, supera a
porcentagem de jovens na FASE (31 %) sobre a que representa a quantidade de jovens que
residem no contexto total de Porto Alegre (17 %). Evidente que se se consideram as
características socioeconômicas dos bairros, o elevado porcentual de jovens na FASE não
legitima afirmar que esses bairros são os que mais alimentam os índices de jovens que
cometeram delitos na cidade. O que fica evidente é que a população jovem destes bairros
participa notoriamente desta estatística porque, justamente, algumas causas socioeconômicas
se traduzem num “capital social” criado em torno a estratégias delitivas conectadas ao
universo juvenil. Ou seja: quando se percebe a existência de “capital social” se deriva de uma
posição que se liga à ilegalidade e a violência, capital que, certamente, uma clara minoria de
jovens residentes nos “territórios” parece possuir.

Tabela 6: Total de jovens de POA / Bairro origem – “Territórios da Paz” – 03/2013.

PORTO ALEGRE 278 100 %

Lomba do Pinheiro 16 5,7 %

Restinga 38 13,6 %

Santa Tereza 23 8,2 %

Rubem Berta 10 3,5 %

TOTAL BAIRROS 87 31 %
Fonte: Assessoria de Informação e Gestão - FASE-RS.

Em definitivo, o que até aqui se tem considerado é o estabelecimento de uma relação


importante entre a realidade juvenil e a violência em determinadas situações de
vulnerabilidade social, de certa maneira associadas à sociabilidade no âmbito da escola e da
família. Obviamente, não se tratou de estabelecer determinismos nem componentes
axiológicos fundamentadores de estatísticas e dados acerca de algumas características dos
itinerários juvenis nos denominados “Territórios da Paz”. Importante se torna compreender
que variáveis diversas podem, potencialmente, estar conduzindo construções subjetivas sobre
o “ser jovem” que se vinculam, a posteriori, com eventuais políticas para jovens. Eis aqui

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GADEA, C. A.; GADEA, M. S. C.; DICK, H.; FERREIRA. J. S. ROSA, F. S.
“Itinerários juvenis em situação de vulnerabilidade social: sobre a realidade juvenil, a violência intersubjetiva e
as políticas para jovens em Porto Alegre – RS”

onde, a continuação, e de maneira breve, se procurará compreender o sentido deste tipo de


políticas que tem privilegiado certos aspectos para a integração social e o desenvolvimento
pessoal.

PERSPECTIVAS CLÁSSICAS E HORIZONTES DE UMA POLÍTICA PARA


JOVENS
Numa entrevista na Revista Ñ no dia 2 de agosto de 2013, do jornal argentino
“Clarín”, Manuela Castells afirmou, dentre outras coisas, que “la sociabilidade real se da hoy
en Internet”12. Castells considera que, enquanto o “tecido social” está fragmentado, supondo
isolamento e problemas de circulação no meio urbano, bem como o usufruto seletivo dos
espaços públicos das cidades, uma “cidade real” se reconstitui na Internet, uma espécie de
laboratório de “agregação livre”. Certamente, não se trata de negligenciar o espaço da rua
como um espaço por demais importante da sociabilidade juvenil, mas o que interessa destacar
é que Castells, direta ou indiretamente, sugere transmitir a real importância para a vida
contemporânea que a Internet tem fundamentalmente para o estabelecimento de redes de
relações sociais que possam gerar o necessário “capital social” entre os jovens. Trata-se de
atribuir à nova “cultura digital” um papel fundamental para os ganhos individuais e coletivos
dos jovens nas sociedades da comunicação contemporâneas. Muito a contramão do que
muitos pensam, a Internet, em vez de diminuir a sociabilidade, a aumenta; em vez de
“alienar”, contribui a “desalienar”; em vez de deprimir contribui a controlar melhor a
depressão e o estresse (considere-se, aqui, o importante dos “jogos eletrônicos” para o
desenvolvimento psicomotor e habilidades múltiplas). Como bem afirma Castells: um sistema
de comunicação livre e interativo agrupa as pessoas. Quanto mais usamos Internet, mais
sociabilidade física temos.
Até o momento, praticamente a maior parte das iniciativas de elaboração e
implementação de políticas para jovens não tem contemplado a importância desta nova
“cultura digital”. Não se tem percebido a sua ligação com a concreção de um “capital social”
fundamental para o mundo de hoje. É evidente que ainda se mantém presas aos três
paradigmas clássicos com os quais se pensa a relação juventude/sociedade: primeiramente, o
“paradigma ligado à educação”; logo, o “paradigma ligado ao trabalho”, e finalmente, o
“paradigma ligado ao esporte e lazer”.
O “paradigma ligado à educação” parte da premissa de que o aumento da
escolaridade com maior inserção escolar está na base de uma política para jovens de inclusão

12
http://www.revistaenie.clarin.com/ideas/Manuel-Castells-sociabilidad-real-hoyInternet_0_967703232.html
(Acesso em 03/08/2013)

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as políticas para jovens em Porto Alegre – RS”

social. Com certeza, isto é de uma enorme importância, mas parece negligenciar a escassa
receptividade valorativa do sistema formal educativo como modelo de sociabilidade juvenil,
bem como a crise de representação como espaço de construção identitária. Pode-se afirmar,
inclusive, que isto se agrava quando se consideram jovens em situação de vulnerabilidade
social, assistindo a escolas com escassa infraestrutura. Os índices de repetência e de
defasagem (já analisados aqui) são testemunha disso. Em definitivo, não se pode continuar
atribuindo à escola um papel central para uma política para jovens. Posteriormente, o
“paradigma ligado ao trabalho”, sob a ideia da importância de inserir aos jovens (assistindo-o
o mais possível) no mercado de trabalho e conseguir a “empregabilidade sonhada” parece
negligenciar, também, a passagem do “mundo fordista” e do “homo faber” para o “mundo
digital” e do “homem digital”, do trabalho manual (antigo atribuidor de reconhecimento
intersubjetivo) para o trabalho intelectual, do típico mundo informacional e digital
contemporâneo. Sendo assim, iniciativas de “profissionalização” com cursos técnicos para o
ingresso em empregos de “segunda importância” estratégica para o mundo atual, submete aos
jovens dos bairros mais vulneráveis a dar sequencia as desigualdades no aceso ao
conhecimento valorado do mundo de hoje. Por último, o “paradigma ligado ao esporte e
lazer”, também merece uma reflexão crítica. Admite-se, obviamente, que as atividades
esportivas entre os jovens contribuem ao aspecto lúdico e ao incentivo das práticas coletivas e
colaborativas, ajudando na inserção social e possibilitando a destreza e habilidade motora em
momentos fundamentais na formação de um jovem. Não obstante, trata-se de uma
preeminência disciplinar do corpo do jovem sob o discurso de desenvolver capacidades
próprias do “homo faber”, ampliando, comprovadamente, dinâmicas excludentes sobre as
“políticas do corpo” na juventude. Aqui, ao corpo se lhe atribui capacidade motora
estritamente ligada a um mundo do trabalho que parece demandar “corpos coletivos”,
colaboracionismo e uma competitividade física e mecânica.
Acredita-se, aqui, que uma política para jovens deveria assumir a importância
valorativa da “cultura digital” e do manejo de jovens em situação de desigualdade material e
simbólica da “linguagem” que hoje atribui maior inserção social, econômica e política. Por
isso, como política para jovens, os Centros POD Juventude, de recente implementação nos
“Territórios da Paz” de Porto Alegre, têm o desafio de percorrer um caminho novo na busca
de reduzir a violência e a vulnerabilidade dos jovens que residem nesses bairros. Tudo indica
que a maior carência nesses jovens é de “capital social”, a capacidade para ingressar numa
rede de relações sociais que lhe permita sair de determinadas situações adversas, e nisso a
“cultura digital” materializa o seu potencial. Para finalizar, lembra-se o que se tem realizado
em Medellín, na Colômbia: uma política de redução da violência que conseguiu reestabelecer

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as políticas para jovens em Porto Alegre – RS”

laços sociais fragmentados pela sombra do narcotráfico. Os denominados “Parques


Bibliotecas” (em Medellín, o “Parque Biblioteca España”), prédios esteticamente bonitos,
iluminados, com computadores com acesso à Internet livre, software, livros, filmes e espaços
para reuniões e estudo, converteram-se em centros comunitários onde a “cultura digital” era
usufruída por jovens desde os 10 anos de idade. Uma série de depoimentos13 evidenciam as
mudanças significativas na sociabilidade juvenil, sendo a de maior importância a
possibilidade de desenvolver um “capital social” positivo, alimentado pelo conhecimento e a
informação, a cultura e o incentivo à pesquisa no espaço da Internet.

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