Ronualdo da Silva Gualiume-Catolicismo Tradicional,Poder e Conflitos:A Capela Collada da Freguesia do Tamanduá,Seu Declínio e a Transferência para a Freguesia da Palmeira no Interior do Paraná (1813-1837)
Ronualdo da Silva Gualiume-Catolicismo Tradicional,Poder e Conflitos:A Capela Collada da Freguesia do Tamanduá,Seu Declínio e a Transferência para a Freguesia da Palmeira no Interior do Paraná (1813-1837)
Ronualdo da Silva Gualiume-Catolicismo Tradicional,Poder e Conflitos:A Capela Collada da Freguesia do Tamanduá,Seu Declínio e a Transferência para a Freguesia da Palmeira no Interior do Paraná (1813-1837)
1
Mestrando em História, Cultura e Identidades – Universidade Estadual de Ponta Grossa - PR
[email protected]
1700
Introdução
1701
forma direta as ações da Igreja, inclusive determinando a nomeação e o papel dos
padres.
O primeiro fator de declínio da Freguesia do Tamanduá foi o econômico, uma
nova e segunda estrada dos Tropeiros, passando por outra região (Campos Gerais)
tirou o movimento econômico de subsídio das tropas que pernoitavam em
Tamanduá. O segundo fator era o atrito estabelecido no campo clerical, à
divergência estava entre o vigário local (administrador da capela), na pessoa do
Padre Antônio Duarte dos Passos com o Prior dos Carmelitas que possuíam um
convento nos arredores da Freguesia do Tamanduá. Ambos tecem um confronto
pela apropriação e administração da capela local do Tamanduá. Os Carmelitas em
contato com o Bispo da Província de São Paulo - D. Matheus de Abreu Pereira -
conseguem a permissão para a apropriação e administração dos bens materiais da
capela, tirando e incitando no padre Antônio Duarte dos Passos, sua mudança para
outra região, no caso os rincões de Palmeira. Processo esse, que se deu através de
forte amizade estabelecida com o sesmeiro Tenente Manoel José de Araújo, que
doa uma fazenda de nome de Palmeira, para o estabelecimento da nova capela.
Após a construção da nova capela, o mesmo Bispo da Província de São Paulo - D.
Matheus de Abreu Pereira – cede autorização para a transferência dos bens
materiais da capela do Tamanduá, assim como se dá a transferência populacional
da freguesia de Tamanduá para Palmeira nos anos seguintes à 1819.
Objetivos
1702
- Observar como se deu o processo de transferência da Freguesia do Tamanduá
para a Freguesia da Palmeira de Nossa Senhora da Conceição.
1703
Paraná apresentam a “Igreja Matriz como marco fundador e socializador das
cidades, palco dos ofícios religiosos, da vida cotidiana”. Ao fundar um povoado, uma
vila, o europeu colonizador erigia às pressas uma capela (muitas vezes pequena e
de forma improvisada), para a legitimação do povoado, através da denominação
católica determinava a ocupação territorial, econômica e social daquela região.
As capelas no período colonial eram a representação inconfundível do poder,
no universo colonial, que se firmava aos poucos. No século XVII, ao sul, elas
simbolizavam, juntamente com o curral, as bandeiras paulistas. Por trás de uma
capela que vingava estava um grupo de colonos preocupados com sua salvação e
sua vida após a morte, ou um bandeirante que queria ter seu arraial reconhecido
pelas instâncias do poder colonial. Só com um determinado poder era possível
construir uma capela a partir de uma série de movimentos que passavam por
doações de terra e obrigações de missa pela alma do fundador. Essas igrejas
rústicas materializavam sentimentos e promessas dos seus idealizadores.
As capelas que conseguiam sobreviver constituíam uma forma de exigência
da presença de um sacerdote. O envio de um padre ou pároco dependia em boa
parte, da vontade dos bispos, mas principalmente da capacidade dos colonos de
manterem e sustentarem seu pároco ou vigário. Quando não conseguiam ter um
representante sacerdotal, improvisava com rezadores e especialistas religiosos que
guiava as cerimônias no templo. Esse vácuo trouxe diversas consequências que
iriam marcar a trajetória do catolicismo no Brasil. Com a dificuldade da presença de
sacerdotes foi aberto espaço para a intervenção dos leigos na administração do
sagrado. (LONDOÑO, 1997: 53-54).
A presença da Igreja e do pároco era tão importante na colônia, pois se fazia
autoridade no plano civil e no religioso. A paróquia se diferenciava dos curatos e
capelanias. As paróquias coladas eram feitas e financiadas pelo padroado, indicava
o reconhecimento, por parte das autoridades coloniais e pela coroa, consolidando o
direito de ocupação com certa representatividade econômica ou expressão política.
A exemplo disso os 10% do dízimo que eram retirados de tudo que era produzido na
colônia e de direito da coroa. (HOORNAERT, 1994: 12. LONDOÑO, 1997: 52 à 57).
As paróquias coladas só seriam implantadas e consolidadas durante o
processo de colonização, ou por pressões dos fregueses que queriam ter seu
1704
reconhecimento de sua condição por parte do Estado. Isso significava a existência
de instituições permanentes, como a administração de sacramentos e a produção de
registros assegurados legalmente, como os registros de batismo, casamento e óbito.
A nomeação conferida pelo rei de vigários colados assegurava no marco do
padroado, a legitimidade das paróquias que já existiam.
Assim, as primeiras Freguesias Coladas no Paraná Colonial foram erguidas
no tocante marcado pelos primeiros habitantes que recebiam as Sesmarias do
Governo Imperial para a composição e povoamento da 5º Comarca da Província de
São Paulo2, definição estabelecida para o Paraná, que pertencia, na época, à
Província de São Paulo. O povoamento dos Campos Gerais teve início no Século
XVIII e a principal característica que fundamentou o nascimento das primeiras
Freguesias foi o movimento econômico do Tropeirismo juntamente com a concessão
de Sesmarias, ligando o Rio Grande do Sul à cidade de Sorocaba, na Província de
São Paulo. A travessia das tropas dava início aos primeiros povoados e núcleos
urbanos, nos quais muitos tropeiros edificaram suas moradas formando currais,
rincões e coxilhas nas fazendas espalhadas pelo caminho das tropas. DITZEL et al.
(2013) contribui para a melhor compreensão:
2
Em 1660, o governo do Rio de Janeiro criava a Capitania de Paranaguá, extinta em 1710, sendo
incorporada à Capitania de São Vicente e Santo Amaro, posteriormente Capitania de São Paulo.
Devido à grande extensão, a capitania foi dividida em duas comarcas, ficando ao sul com sede em
Paranaguá; em 1812 a sede foi transferida para Curitiba, denominando-se Comarca de Curitiba a
Paranaguá. Emancipou-se pela Lei nº 704, de 29/08/1853, surgindo assim a Província do Paraná
(WACHOWICZ, 1972, p. 79-85).
1705
reforçando o prestígio e poder das famílias proprietárias e ampliando as
3
distinções sociais.
Um dos centros mais importante nos Campos Gerais do Século XVIII era a
Freguesia Collada do Tamanduá. Conforme José Carlos Veiga Lopez4 (2000, p. 163
e 164), a “fazenda do Tamanduá era inicialmente de propriedade do capitão Antônio
Luiz Lamim (Capitão Tigre), natural de Parnaíba, casado com Ana Rodrigues
França. A primeira capela foi construída em madeira pelos Frades Jesuítas, em
1709, executores da vontade do capitão Tigre”. Raul Braz de Oliveira (2001, p. 25)
complementa,
3
DITZEL, Carmencita de Holleben Mello; LAMB, Roberto Edgar. Dicionário Histórico e Geográfico
dos Campos Gerais. Disponível em: < http://www.uepg.br/dicion/verbetes/a-
m/campos_gerais_ocupacao.htm >. Acesso em: 31 de julho de 2013.
4
Em sua obra „Raízes da Palmeira‟, José Carlos Veiga Lopez faz uma investigação minuciosa da
formação da Freguesia de Palmeira com a transferência da Freguesia do Tamanduá desenvolvendo
análise à partir dos testamentos e inventários dos pioneiros das Freguesias de Tamanduá e Palmeira.
Exemplo como do inventário do Padre Antônio Duarte dos Passos datado de 1825 – disponível na 1º
vara do cível de Curitiba (LOPEZ, 2000, p. 206).
1706
D. Matheus de Abreu Pereira , lançado no livro das Pastorais ,( c ....) a folha
9 , em virtude do dito mandado foi entregue aos Religiosos do Carmo da
Cidade de São Paulo . a Seo Procurador Frei Joaquim de Santa Clara
ACapella de Tamanduá todos os ornamentos , e Alfaias constantes do
Inventario lançado neste livro a Folha 4 ( e de seguencia ) a folha 8 . [sic]
1707
Freguesia de Palmeira, ou até mesmo à de Castro ou Curitiba, que eram Freguesias
próximas e bem desenvolvidas.
Considerações finais
1708
Por cujo motivo aos doze de Agosto de 1818 mudei a freguezia para o
Rincão da Palmeira onde estou forcejando a edificar a Matriz.
Por consulta que fis a Sua Exª Reverendíssima por elle servido mandar que
eu entregasse tão somente aquelles bens que pertencião à Capella , e não
aquelles que forão dados pelo Povo , e que são os seguintes . [sic]
1709
mundo social: conflitos que são tão importantes quanto as lutas econômicas; são tão
decisivos quanto menos imediatamente materiais (CHARTIER, 1990, p. 17).
As representações permitem também avaliar o ser-percebido que um
indivíduo ou grupo constroem e propõem para si mesmos e para os outros. Chartier
segue de perto Bourdieu, citando-o quando menciona as determinações da
produção:
1710
original contribuições de Èmile Durkhein e Max Weber. Definindo a religião como um
conjunto de práticas e representações que se revestem de caráter sagrado,
Bourdieu aborda a religião como linguagem, isto é, sistema simbólico de
comunicação e pensamento.
Fontes
- Livro 1 e 2, batizados – Paróquia de Nossa Senhora da Conceição da Palmeira
Referências
1711
DITZEL, Carmencita de Holleben Mello; LAMB, Roberto Edgar. Dicionário Histórico
e Geográfico dos Campos Gerais. Disponível em: <
http://www.uepg.br/dicion/verbetes/a-m/campos_gerais_ocupacao.htm >. Acesso
em: 31 de julho de 2013.
FREITAS, Astrogildo de. Palmeira e Palmeirenses – Atos e acontecimentos
históricos. Curitiba: Palestra no Centro de Letras do Paraná, 1981.
FREITAS, Astrogildo de. PALMEIRA: Reminiscências e tradições. Curitiba: Lítero-
Técnica, 1984.
HOORNAERT, Eduardo. Formação do Catolicismo brasileiro: 1550-1800. Tomo
II. Petrópolis: Vozes, 1979.
HOORNAERT, Eduardo (Org.). História geral da igreja na América Latina: história
da igreja.Tomo II. Segunda Época - Século XIX. 3.ed. Petrópolis: Vozes,1992.
______. A igreja católica no Brasil colonial. In: BETHELL, Leslie. América Latina
Colonial. São Paulo: Edusp, 1998.
LONDOÑO, Fernando Torres (Org.). Paróquia e comunidade no Brasil. São Paulo:
Paulus,1997
LOPEZ, José Carlos Veiga. Raízes de Palmeira. Palmeira: Cidade Clima, 2000.
______. José Carlos Veiga. Aconteceu nos Pinhais: subsídios para a história dos
municípios do Paraná tradicional do planalto. Curitiba: Progressiva, 2007.
MACEDO, James Portugal. História da Comarca da Palmeira. Curitiba: Mundial,
1940.
MAYER, Tereza Wansovicz. Reminiscências de Palmeira. Palmeira: Prefeitura
Municipal, 1992.
MAX, Murilo. Nosso chão: do sagrado ao profano. São Paulo: Edusp, 2003.
NEGRÃO, Lísias Nogueira. Pluralismo e multiplicidades religiosas no Brasil
contemporâneo. Sociedade e Estado, Brasília, v, 23, n. 2, p. 261-279, maio/ago.
2008.
OLIVEIRA, Raul Braz de. Tropeiros sob uma nova visão. Palmeira: Prefeitura
Municipal de Palmeira, Julho de 2001.
RAMINELLI, Ronald. Império da fé: ensaio sobre os portugueses no Congo, Brasil e
Japão. In: FRAGOSO, J; BICALHO, F.; GOUVÊA, F. (Orgs.). O antigo regime nos
trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2001.
1712