Planejamento em Serviço Social: Tensões e Desafios No Exercício Profissional
Planejamento em Serviço Social: Tensões e Desafios No Exercício Profissional
Planejamento em Serviço Social: Tensões e Desafios No Exercício Profissional
Kathiuça Bertollo1
RESUMO
Neste artigo apresenta-se uma reflexão sobre o planejamento enquanto
uma atribuição e competência do assistente social buscando evidenciar as
tensões e os desafios na operacionalização do mesmo. Um dos pontos prin-
cipais que se enfatiza é que ao reconhecer o planejamento enquanto um
ato técnico, mas também político, reforça-se a necessidade e pertinência da
operacionalização deste em consonância com o que o projeto ético-político
da profissão propõe a fim de superar formas centralizadoras, burocráticas e
funcionais à ordem hegemônica e colocar-se no âmbito do tensionamento e
alargamento da esfera política de atuação do Serviço Social.
ABSTRACT
This article presents a reflection on planning as an assignment and responsi-
bility of the social worker to disclosing the tensions and challenges in the im-
plementation of the same. One of the main points that we emphasize is that
to recognize the planning as a technical act - but also political - reinforces the
need and relevance of the implementation of this in line with what the politi-
cal ethical project of the profession proposes to overcome centralized forms,
bureaucratic and functional to the hegemonic order and put himself under
the tension and widening the sphere of policy of the Social Work.
Introdução
A escolha e delimitação da temática que ora apresentamos,
decorre de reflexões, debates, e diálogos que foram e vêm sendo re-
alizados com companheiros de profissão, professores, estudantes,
equipes de trabalho multidisciplinares, dentre outros sujeitos ao lon-
go da nossa formação acadêmica e profissional. Considerando estes
diferentes momentos, é mister enfatizar que a experiência de dois
anos de docência na disciplina de “Planejamento em Serviço Social”,
ministrada no curso de graduação em Serviço Social da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC) foi grande impulsionadora da refle-
xão que abaixo apresentamos.
Para elaborar tal problematização, estruturamos este artigo
da seguinte forma: introdução, uma breve apresentação e conceitu-
ação de diferentes autores da área de Serviço Social, que discorrem
sobre o planejamento; em seguida, apresentamos uma breve caracte-
rização de duas modalidades: o planejamento estratégico situacional
e o planejamento participativo; após, destacamos e refletimos sobre
o ato de planejar como uma atribuição e competência profissional do
assistente social e, para desfechar a reflexão, problematizamos sobre
a operacionalização do planejamento e de seus instrumentos no exer-
cício e atuação do profissional de Serviço Social; por fim, apresenta-
mos as considerações finais e as referências bibliográficas utilizadas
para a fundamentação do exposto.
Ao abordar o planejamento enquanto atribuição do assistente
social, esperamos contribuir com este debate - que por vezes aparece
saturado por um viés tecnicista, burocrático e gerencial, apenas – e re-
afirmar a necessidade de vinculação desta ação com as prerrogativas
defendidas pelo projeto ético-político do Serviço Social.
4 Planejamento participativo
Tal como a metodologia do planejamento estratégico, o plane-
jamento participativo tem ganhado destaque e relevância nos últimos
anos. Nesse sentido é fundamental compreender o que tal modalida-
de propõe, a fim de, inclusive, fortalecê-la diante dos entraves com
que se depara. Para tanto é relevante qualificar o que se entende por
participação, adjetivo que configura esta metodologia de intervenção.
É consenso que a “abertura democrática” do País, que resultou
na promulgação da Constituição de 1988, contribuiu significativamen-
te para o vocábulo participação tornar-se usual, seja para denominar
as lutas desencadeadas pelos movimentos sociais, seja em discursos
oficiais de governantes ou até mesmo de empresários.
Desde então, o termo participação aparece envolto a uma pa-
naceia que o conceitua e o qualifica de diferentes formas, o que, con-
sequentemente, dá formas diversas a sua utilização. Não raras vezes
a ideia de participação é utilizada para manipular grupos sociais, para
significar a mera presença física dos indivíduos em espaços deliberati-
vos, para legitimar interesses que não são oriundos e legítimos de gru-
pos demandatários das ações, mas de outros que estão em via oposta
no jogo de interesses presente naquele determinado contexto.
Assim sendo, convém explicitar que para a metodologia do
planejamento participativo, a participação “[...] inclui a distribuição
do poder e a possibilidade de decidir na construção não apenas do
‘como’ ou do ‘com que’ fazer, mas também do ‘o que’ e do ‘para que’
fazer.” (GANDIN, 2001, p. 81).
Percebe-se com tal definição que participação não se refere a
uma mera qualificação ou nomenclatura, mas sim, que ao considerar
Considerações Finais
Buscamos com a reflexão apresentada reforçar o campo teó-
rico que reconhece o planejamento enquanto uma competência do
exercício profissional do assistente social, mas que reconhece que tal
atribuição deve refutar o caráter “funcional, imediatista e praticista”
de intervenção e pautar-se numa perspectiva tensionadora, emanci-
patória e de liberdade.
Nesse sentido é fundamental que os profissionais aprofundem
o conhecimento sobre metodologias que venham a romper e superar
com a forma tradicional de planejamento, geralmente pautada na hie-
Referências