Teste Farsa

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TESTE DE AVALIAÇÃO de PORTUGUÊS - 10.

ºA fevereiro 2018
GRUPO I
Leia o seguinte excerto, transcrito da farsa de Gil Vicente intitulada Inês Pereira.
Se necessário, consulte as notas.
O Escudeiro vendo cantar a Inês Pereira, mui agastado lhe diz:

Vós cantais Inês Pereira


em bodas me andáveis vós?
Juro ao corpo de Deos
que esta seja a derradeira.
Se vos eu vejo cantar
eu vos farei assoviar.
Bofé1 senhor meu marido
se vós disso sois servido
bem o posso eu escusar.

Inês Pereira: Mas é bem que o escuseis


e outras cousas que não digo.
Por que bradais vós comigo?
Será bem que vos caleis.
E mais sereis avisada
que não me respondais nada
em que2 ponha fogo a tudo
porque o homem sesudo3
traz a molher sopeada.4

Escudeiro: Vós não haveis de falar


com homem nem molher que seja
nem somente ir à igreja
nam vos quero eu leixar.5
Já vos preguei as janelas
por que vos não ponhais nelas
estareis aqui encerrada
nesta casa tam fechada
como freira d’Oudivelas.
Inês Pereira: Que pecado foi o meu?
Escudeiro: Por que me dais tal prisão?
Vós buscais discrição6
que culpa vos tenho eu?
Pode ser maior aviso
Maior discrição e siso
(1) bofé: à boa fé.
que guardar eu meu tisouro?
(2) em que: ainda que.
Nam sois vós molher meu ouro?
(3) sesudo: ajuizado.
Que mal faço em guardar isso?
(4) sopeada: dominada,
subjugada Escudeiro: Vós não haveis de mandar
(5) leixar: deixar. em casa somente um pêlo
(6) discrição: inteligência, se eu disser isto é novelo
sensatez. havei-lo de confirmar.
(7) Vós lavrai ficai per i: vós E mais quando eu vier
bordai e ficai por aí. de fora haveis de tremer
e cousa que vós digais
nam vos há de valer mais
que aquilo que eu quiser.
Escudeiro: Moço às partes dalém
me vou fazer cavaleiro.
Moço: Se vós tivésseis dinheiro
nam seria senam bem.
Tu hás de ficar aqui
Escudeiro: olha por amor de mi
o que faz tua senhora
fechá-la-ás sempre de fora.
Vós lavrai ficai per i.7
Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
1. Explique a reação do Escudeiro perante o facto de Inês Pereira cantar.

2. Refira como deve proceder a mulher de um «homem sesudo», no entendimento do Escudeiro.

3. Interprete os versos seguintes: «Nam sois vós, molher, meu ouro? / Que mal faço em guardar
isso?»

4. Analise o sentido das falas de Inês Pereira, evidenciando o modo como a personagem vai tomando
consciência da sua situação.

GRUPO II
Leia o texto seguinte.
CRÓNICA DE D. JOÃO I – O POVO DE LISBOA

O povo de Lisboa tem, dentro desta categoria, um tratamento particular. À parte o caso
único do tanoeiro Afonso Anes Penedo, que intima os burgueses a confirmarem a nomeação
do Mestre já proclamada pelo povo em São Domingos, não se lhe conhece identidade. A gente
anda em magotes pelas ruas e praças da cidade, ou conversa às janelas, ou junta-se em
procissões e nas igrejas. As vozes isoladas falam em nome de todos e exprimem desejos
comuns, porque partilham muito da vida uns dos outros. Vistos de perto pelo narrador,
manifestam-se, agitam-se, ansiosos por um chefe que os proteja, em troca da sua dedicação.
O povo recusa o rei estrangeiro, esperando benevolência de um filho de um rei da sua
terra [o Mestre de Avis] que, além disso, lhe aparece como adversário de D. Leonor, a quem
mais que a todos odeiam, e por ele dispõe-se a tudo. Aprendem depois que o pacto selado com
a escolha do Mestre, e provado indissolúvel nos heroicos sacrifícios do cerco, trouxera
consequências não previstas, abrangendo-os nas mudanças que sucediam na sociedade
portuguesa. É de novo no Mosteiro de São Domingos, um mês após o levantamento do cerco,
a grande reunião de todos os fidalgos e povo. Jurada vassalagem por aqueles ao Mestre, este
reúne o conselho. Anuncia «que ell tinha cuidado de dar çertos privillegios e fazer algumas
mercee aa dita çidade» de Lisboa, «a mayor e melhor que no rreino avia», por ter sido «a
primeira que tomara voz e esforço para defender estes rreinos da sogeiçom em que os elrei de
Castella quisera poer», e em paga dos sofrimentos e gastos que já tivera e haveria de ter.
Páginas adiante, justificado pelos documentos com que compos este e outros capítulos de teor
semelhante, Fernão Lopes presta à população da capital uma suprema e comovida
homenagem.
O rigor da informação histórica oferecida por Fernão Lopes tem sido cada vez mais
amplamente comprovado pelos historiadores deste século, e a sua obra continua a ser uma
das fontes principais para o conhecimento da época sobre a qual escreveu. As falhas
ocasionais que se lhe apontam, voluntárias ou não, não obstam, portanto, a que se reconheça
que cumpriu o intuito de basear a narrativa em factos verdadeiros que, segundo as suas
próprias declarações, sobrelevou no seu projeto qualquer outro. Mas no seu texto aparece
também explicitada a preocupação em contar a história de maneira clara e bem ordenada, de
não enfadar os ouvintes e leitores e de utilizar formas de expressão elaboradas, sugeridas pela
autoridade de mestres anteriores. É esta consciência de escritor, que nele nunca se separa da
de historiador, que o leva a integrar na narrativa as abundantes citações e referências que a
tornam um testemunho precioso das ideias literárias, filosóficas e religiosas que circulavam em
Portugal no seu tempo.
A modesta advertência que o autor da Crónica de D. João I insere no prólogo da primeira
parte de que não vai exibir «fremosura e afeitamento de palavras», pois todo o seu trabalho foi
pouco «pera hordenar a nua verdade», só tem razão de ser se for interpretada como promessa
de um estilo simples e claro, que se concretiza. Seria ilusória se criasse a expectativa de uma
linguagem baça ou pobre ou enfadonha – que nunca visasse o puro prazer de surpreender.
Fernão Lopes tem também em mente que a história deve representar os factos que narra,
isto é, criar imagens da realidade. Fá-lo por meio das cenas, dos diálogos e do destaque dado
às personagens, elementos próprios do discurso romanesco que a narrativa histórica muitas
vezes adotou e que atingem uma tal amplitude na Crónica de D. João I que permitem ver aí,
misturado com a história, um esboço do género a que no século XIX se chamaria romance
histórico.
Teresa Amado, «Fernão Lopes», in História da literatura portuguesa – 1, Lisboa,
Publicações Alfa, 2001, pp. 474 a 477. Texto adaptado.

1. Para responder a cada um dos itens de 1.1 a 1.7, seleciona a opção que permite obter uma
afirmação correta.
1.1 Este texto tem como função principal
(A) apreciar criticamente a perspetiva histórica assumida por Fernão Lopes na Crónica de D.João I.
(B) apresentar argumentos no sentido da importância da leitura da Crónica de D. João I de Fernão
Lopes.
(C) descrever o modo como o povo é apresentado por Fernão Lopes na Crónica de D. João I.
(D) comparar a Crónica de D. João I de Fernão Lopes com outros textos de natureza historiográfica.

1.2 O «tratamento particular» dado por Fernão Lopes ao «povo de Lisboa», l. 1, consiste em
(A) ele ser apresentado como um conjunto de individualidades identificadas.
(B) ele ser apresentado coletivamente embora abundem exemplos de pessoas concretas.
(C) ele ser apresentado numa perspetiva praticamente anónima.
(D) ele ser referido como um todo completamente anónimo.

1.3 O interesse do povo pelo Mestre de Avis tem na origem


(A) dois motivos. (B) três motivos. (C) quatro motivos. (D) cinco motivos.

1.4 As «mudanças» referidas no segundo parágrafo radicam


(A) no facto de o Mestre de Avis se ter oposto a D. Leonor.
(B) nos sacrifícios do povo de Lisboa.
(C) no apoio dado pelo povo ao Mestre de Avis.
(D) no facto de o povo ter recusado um rei estrangeiro.

1.5 Aquilo a que Fernão Lopes deu mais importância no seu projeto historiográfico foi
(A) a preocupação com a verdade histórica.
(B) a apresentação de testemunhas dos factos narrados.
(C) a preocupação em utilizar uma linguagem clara.
(D) a apresentação de factos que não aborreçam os leitores.
1.6 O facto de Fernão Lopes ter incluído na Crónica de D. João I referências de natureza religiosa,
filosófica e literária do Portugal do seu tempo permitem hoje
(A) ajuizar da qualidade literária da sua obra.
(B) argumentar a favor da atualidade da sua obra.
(C) argumentar a favor da intemporalidade da sua obra.
(D) conhecer a cultura portuguesa da sua época.
1.7 No último parágrafo, a autora

(A) sugere que se podem encontrar na Crónica de D. João I afinidades com o romance histórico.
(B) afirma que se podem encontrar na Crónica de D. João I afinidades com o romance histórico.
(C) argumenta a favor da ideia de que o romance histórico nasceu com a Crónica de D. João I.
(D) interpreta a Crónica de D. João I como um romance histórico em gestação.
5. Responde, de forma correta aos itens apresentados.

2.1 Indica a função sintática da palavra destacada em « O povo recusa o rei estrangeiro,
esperando benevolência de um filho de um rei da sua terra.».

2.2 Indica a função sintática da palavra destacada em «Jurada vassalagem por aqueles ao
Mestre, este reúne o conselho.»
2.3 Classifica a oração destacada em «A gente anda em magotes pelas ruas e praças da
cidade, ou conversa às janelas, ou junta-se em procissões e nas igrejas.».

GRUPO III
Elabore uma síntese do seguinte texto que tenha aproximadamente um quarto das suas
palavras.

O rigor da informação histórica oferecida por Fernão Lopes tem sido cada vez mais
amplamente comprovado pelos historiadores deste século, e a sua obra continua a ser uma
das fontes principais para o conhecimento da época sobre a qual escreveu. As falhas
ocasionais que se lhe apontam, voluntárias ou não, não obstam, portanto, a que se reconheça
que cumpriu o intuito de basear a narrativa em factos verdadeiros que, segundo as suas
próprias declarações, sobrelevou no seu projeto qualquer outro. Mas no seu texto aparece
também explicitada a preocupação em contar a história de maneira clara e bem ordenada, de
não enfadar os ouvintes e leitores e de utilizar formas de expressão elaboradas, sugeridas pela
autoridade de mestres anteriores. É esta consciência de escritor, que nele nunca se separa da
de historiador, que o leva a integrar na narrativa as abundantes citações e referências que a
tornam um testemunho precioso das ideias literárias, filosóficas e religiosas que circulavam em
Portugal no seu tempo.
A modesta advertência que o autor da Crónica de D. João I insere no prólogo da primeira
parte de que não vai exibir «fremosura e afeitamento de palavras», pois todo o seu trabalho foi
pouco «pera hordenar a nua verdade», só tem razão de ser se for interpretada como promessa
de um estilo simples e claro, que se concretiza. Seria ilusória se criasse a expetativa de uma
linguagem baça ou pobre ou enfadonha – que nunca visasse o puro prazer de surpreender.
Fernão Lopes tem também em mente que a história deve representar os factos que narra,
isto é, criar imagens da realidade. Fá-lo por meio das cenas, dos diálogos e do destaque dado
às personagens, elementos próprios do discurso romanesco que a narrativa histórica muitas
vezes adotou e que atingem uma tal amplitude na Crónica de D. João I que permitem ver aí,
misturado com a história, um esboço do género a que no século XIX se chamaria romance
histórico. | Texto com 323 palavras. A síntese deve ter cerca de 80 palavras (+ ou – 5).

Grupo Item
Cotação (em pontos)
1. a 4.
I
4 x 25 pontos 100
1.1. a 1.7.
II
5 x 7 pontos 50
2.1 2.2 2.3
15 pontos
Item único
III
50
TOTAL 200
A professora, Paula Cruz

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