A Abordagem de Bernard Lahire e Suas Contribuições para A Sociologia Da Educação IMPRESSO

Fazer download em doc, pdf ou txt
Fazer download em doc, pdf ou txt
Você está na página 1de 4

XVI Encontro de Iniciação à Pesquisa

Universidade de Fortaleza
20 a 22 de Outubro de 2010

DINÂMICAS DE CONSUMO ENTRE MORADORES DO BAIRRO ÁLVARO


WEYNE

Palavras-chave: Consumo. Mídia. Renda.

Resumo

O presente artigo tem por objetivo apresentar os resultados da oficina realizada na Associação
Sonho Infantil localizada no bairro Álvaro Weyne na cidade de Fortaleza, CE. Teve como finalidade
a discussão sobre o consumo com ênfase no poder de influência da mídia sobre o comportamento
e os sonhos de consumo dos sujeitos, relacionando com o poder aquisitivo dos mesmos. Surgiram
no decorrer da discussão outras temáticas como domesticidade, geração de renda das mulheres,
reconfiguração dos espaços de sociabilidade do lar, juvenilização e influência do grupo de amigos.
Verificou-se que os sujeitos apesar de estarem inseridos numa comunidade de baixa renda
possuem um nível de consumo elevado e que todos os participantes demonstraram terem
consciência da interferência da mídia na sua prática de consumo.

Introdução

O trabalho foi desenvolvido em forma de oficina, como uma atividade requerida pela
Disciplina de Educação do Consumidor do Curso de Economia Doméstica e realizado na
Associação Sonho Infantil que fica localizada na Rua Ferreira dos Santos no Bairro Álvaro Weyne
na cidade de Fortaleza, CE. Contou com a participação de oito sujeitos, sendo seis mulheres, uma
criança e um jovem. A instituição é vinculada ao Fundo Cristão para a Infância, uma agência global
de desenvolvimento e proteção para crianças e adolescentes que atua beneficiando sujeitos que
se encontram em situação de vulnerabilidade social, oferecendo oportunidades para que cada
indivíduo desenvolva plenamente seu potencial.
A oficina propôs uma discussão sobre consumo abordando os sonhos de consumo
dos sujeitos, tentando identificar o comportamento dos consumidores e os meios utilizados para
adquirir o que desejam. Foram realizadas discussões sobre a influência da mídia, através dos
programas televisivos, das novelas e das propagandas.

ISSN 18088449
Metodologia

A oficina conduziu-se em quatro atividades e foram utilizados como recursos:


cartazes, música, dinâmicas e debate em grupo.
Iniciou-se com a apresentação da equipe, dos participantes e dos objetivos do
trabalho. Foram expostas figuras variadas no chão e os participantes foram convidados a escolher
aquela que mais se identificassem, explicando em seguida o porquê da escolha. A segunda
atividade foi a construção dos painéis. Os sujeitos montaram o seu sonho de consumo por meio de
recortes em revistas e jornais dos bens que gostariam de consumir. Depois foram expostas para o
grupo algumas perguntas relacionadas a propagandas, novelas e programas de TV,
desenvolvendo uma discussão sobre o consumo e a influência da mídia para este. Em seguida foi
apresentada uma música, “Sal da Terra”, para reflexão, abordando a questão do consumo e suas
implicações para o meio ambiente. A oficina foi finalizada com uma avaliação, em que cada
participante disse com uma palavra suas impressões.

Resultados e Discussão

Na dinâmica de apresentação foi possível observar que a maioria escolheu figuras


relacionadas ao consumo, como: carro, produtos de beleza e celular, embora essa dinâmica não
tivesse o intuito de trazer a abordagem da temática.
Dos sonhos de consumo construídos foi possível agrupá-los a partir de três
categorias: geração de renda, domesticidade e desejos.
Hoje se vê uma mudança nos padrões em que homens têm a função de principal
provedor da renda familiar. Surge um novo padrão onde as mulheres contribuem com o orçamento
familiar e são em muitos casos, seus principais provedores (MARRI; WAJNMAN, 2007). Duas
participantes optaram por figuras relacionadas com geração de renda. Uma escolheu um carro por
ser vendedora ambulante e precisar transportar mercadorias e outra escolheu uma mulher com
belos cabelos para representar o desejo de construir seu próprio salão de beleza.
Uma das integrantes construiu um cartaz com imagens de televisão, geladeira e
máquina de lavar, que são eletrodomésticos usados para facilitar o trabalho doméstico. Trabalho
este desempenhado em sua maioria pela mulher e por isso é ela que sente a real necessidade de
comprar esses produtos.
Cinco pessoas escolheram figuras que se configuram apenas como desejos: uma
mulher com sacolas de compras no shopping; outra mulher carregando malas de viagem; um carro
de luxo; um aparelho de som e produtos de beleza.
Na dinâmica de abordagem do conteúdo, as temáticas foram discutidas de forma
conjunta havendo boa participação do grupo. O jovem participante reconheceu ser um consumidor

ISSN 18088449
compulsivo, mas afirmou ter consciência de seus atos e também da influência sofrida pelo grupo
de amigos e pela mídia, expressando angústia por não controlar esse consumo.
O jovem relatou que vai ao shopping com freqüência com os amigos, sendo esta uma
de suas principais formas de lazer. Para ele ir ao shopping representa mais que um passeio, é o
momento em que sempre compra algo, pois segundo ele não consegue entrar numa loja apenas
para olhar, “se eu gostar não quero saber o preço”. “Estilo de vida e identidade tornaram-se,
portanto, opcionais. Independentemente da minha posição social, idade e renda posso ser quem
eu escolher” (BARBOSA, 2008, p.22).
Segundo ele, o consumo representa uma forma de se sentir bem diante das outras
pessoas, comprando muitas vezes para mostrar-se: “você compra para o outro”.
Segundo Calligaris (2000) cada grupo impõe facilmente a seus membros uma
conformidade, bastante definida, ou seja, os adolescentes organizados em identidades que eles
querem reconhecer sem hesitação, tornam-se consumidores ideais por ser um público alvo bem
definido.
Todas as mulheres responderam que assistem a novelas, algumas disseram que
assistem também a programas como o Globo Repórter e o Silvio Santos. Reconheceram que as
propagandas e as novelas têm grande poder de influenciar o consumo e afirmaram que compram
determinados produtos só porque viram passar nas novelas.
Uma mulher relatou que compra além das suas necessidades, “compro roupa toda
semana”, apenas por desejo, pois muitos produtos que ela compra acabam nem sendo usados, ou
seja, não eram necessários. “(...) O humano só é verdadeiramente humano quando se incorpora na
necessidade um suplemento estético, o que o leva a estabelecer o princípio de que “só o gosto traz
harmonia a sociedade porque só o gosto traz harmonia ao indivíduo” (VEIGUINHA, 2004, p. 16).
Pietrocolla (1987) diz que a propaganda se infunde na vida dos homens de forma sutil,
sedutora, incidindo sobre as necessidades não satisfeitas plenamente e dando respostas a elas. A
serviço do capital, portanto, da produção, a publicidade seduz o homem atuando diretamente em
suas áreas de carência de um lado, e de outro humaniza os produtos, dando-lhes identidade e
valores. Manipulando símbolos, portanto, a publicidade vende imagens, estilos de vida, sensação,
emoções, visões do mundo.
Na sociedade de consumo os objetos não possuem apenas valor de uso e de troca,
mas são carregados de signos que determinam as práticas de consumo. (...) “Nela se enreda uma
ordem do consumo, que se manifesta como ordem da manipulação dos signos” (BAUDRILLARD,
2007, p.23).

Conclusão

ISSN 18088449
Percebeu-se que os sujeitos sofrem forte influência da mídia, principalmente das
novelas e propagandas e que estas interferem no padrão de consumo da maioria dos participantes.
Verificou-se uma contradição quanto à renda dos sujeitos e o consumo dos mesmos,
visto que são pessoas de baixa renda que compram por impulso, muitas vezes sem necessidade.
Observamos que, pelo fato do trabalho doméstico ser desempenhado em sua maioria
pela mulher, os seus sonhos de consumo estão muitas vezes relacionados às necessidades do lar
e da família.

Referências

BARBOSA, Lívia. Sociedade de Consumo. 2.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.

BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 2007.

CALLIGARIS, Contargo. A adolescência. São Paulo: Publifolha, 2000.

MARRI, Izabel Guimarães; WAJNMAN, Simone. Esposas como principais provedoras de renda
familiar. São Paulo: Revista Brasileira de Estudos populares, 2007.

PIETROCOLLA, Lívia. O que todo o cidadão precisa saber sobre a sociedade de consumo. São
Paulo: Global, 1987.

VEIGUINHA, Joaquim Jorge. O luxo na formação do capitalismo. São Paulo: Edições Afrontamento,
2004.

Agradecimentos

À Universidade Federal do Ceará (UFC), ao Programa de Educação Tutorial (PET) do


Curso de Economia Doméstica, ao Laboratório de Estudos de Políticas Públicas (LEPP) e ao
professor Dr. Alcides Fernando Gussi pela orientação e incentivo na elaboração do trabalho.

ISSN 18088449

Você também pode gostar