Ganância, Corrupção, Pecado Estrutural
Ganância, Corrupção, Pecado Estrutural
Ganância, Corrupção, Pecado Estrutural
Resumen: Este artículo inicia con la presentación del pecado estructural, tal
como se configura en el mundo de hoy, mostrando la importancia de la persona
de Pablo, autor de la Carta a los Romanos, en la expansión geográfica del cristia-
nismo, en la apertura cultural que libera de las normas y en la percepción de la
importancia de la Buena Nueva para la vida humana. En seguida, se relaciona el
sistema esclavista como el pecado estructural y se muestra como la “verdad se
vuelve prisionera de la injusticia” debido a la codicia y la corrupción estimuladas
y mantenidas por el principado. Se concluye afirmando que Pablo fortalece las
comunidades cristianas en este momento de crisis, afianzando el amor gratuito
e incondicional de Dios.
Palabras-Clave: codicia, corrupción, pecado estructural, Carta a los Romanos.
Abstract: This article begins with the presentation of structural sin, as confi-
gured in today’s world, showing the importance of Paul, author of the Letter to
the Romans, in the geographical expansion of Christianity, cultural openness
which liberates from rules, and perception of the significance of the Good News
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for human life. It then relates the system of slavery to structural sin and shows
how “truth becomes prisoner of injustice” through the greed and corruption
promoted and maintained by the principality. It concludes affirming that Paul
strengthens the Christian communities at that moment of crisis reassuring them
of God’s gratuitous and unconditional love.
Keywords: greed, corruption, structural sin, Letter to the Romans.
1
Jung Mo Sung, “Pecado estrutural e as boas intenções”, http://www.adital.com.br/site/noticia2.
asp?lang=PT&cod=28977
2
Entre outros jornalistas investigativos, cito Amaury Ribeiro JR: “Não é simples entender este
processo complexo, intrincado, num emaranhado de empresas cujos donos sãos os mesmos e
a linguagem das operações parece cifrada, justamente para encobrir os crimes”, em Pirataria
Tucana, São Paulo: Geração Editorial, 7ª Edição, 2015, Coleção História Agora.
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Este é um contexto que está por trás do texto da Carta aos Ro-
manos e que nem sempre foi percebido. Com os olhos abertos pela
realidade atual e com a ajuda do método histórico crítico consegue-se
captar a situação complexa e as injustiças geradas pela cobiça, que são
denunciadas nesta carta. A ambição desmedida constrói um sistema
pecaminoso que se volta contra o próprio ser humano, colocando-o em
um beco sem saída, onde só o regime da graça e da justiça de Deus é
visto como alternativa de mudança, afirma Elsa Tamez3.
3
Veja mais em Elsa Tamez, “Romanos frente a la crisis económica neoliberal y el diálogo
intercultural”, in RIBLA nº 62, Quito: RECU, p. 86-95. O mesmo tema está desenvolvido no artigo
de Elsa Tamez “¿Cómo entender la Carta a los Romanos?”, in RIBLA nº 20, Costa Rica: DEI, p.75-98.
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Cristo provocará uma grande mudança em sua vida, embora continue
fiel ao Deus do seu povo. Foi justamente a vontade de ser fiel ao seu
povo que o levou a aceitar Jesus como Messias. Para penetrar neste
inesperado chamado que muda totalmente sua vida, Paulo fica treze
anos em silêncio!4
4
Veja mais em Carlos Mesters, Paulo Apóstolo um trabalhador que anuncia o Evangelho, São Paulo:
Paulus, 6ª Edição, 2001, p.27.
110
Para animar as comunidades cristãs a viverem o projeto de Jesus
e a assumir uma disciplina de vida que as leve a atingir este objetivo,
ele faz uma comparação com os jogos olímpicos (1Cor 9,24-27). Tam-
bém usa o exemplo da compra e resgate de escravos no mercado para
afirmar a liberdade e dignidade da pessoa que foi resgatada por Jesus
Cristo (1Cor 6,20; 7,23).
111
1ª PARTE: Contexto da carta aos Romanos
1. Época
A Carta aos Romanos foi escrita em Corinto, por volta do ano 56-
57, quando Nero era o imperador de Roma (54-68). Paulo ainda não
conhecia Roma e tinha grande desejo de ir até lá para obter ajuda na
concretização do seu projeto de anunciar o evangelho na Espanha, o
extremo do mundo naquele tempo. Paulo já havia fundado comunida-
des cristãs na Ásia Menor, Macedônia e Grécia. Tinha visitado essas
comunidades e escrito cartas amigas de orientação e incentivo na fé.
Acabava de realizar uma coleta para as comunidades empobrecidas
de Jerusalém e estava decidido a ir entregar esta coleta pessoalmente,
embora estivesse preocupado com a conflitividade criada entre a sua
postura de abertura aos pagãos e a visão mais fechada dos dirigentes
das comunidades cristãs de Jerusalém. Ao escrever a carta aos romanos
está consciente desta dificuldade e espera encontrar compreensão e
apoio das comunidades cristãs de Roma.
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3. Escravagismo como pilastra do sistema imperial romano
O modo de produção escravagista era a pilastra principal da so-
ciedade formada pelo império romano. Durante o auge da economia
imperial, a produção de riquezas dependia fortemente do vasto número
de escravos que trabalhavam tanto no campo, como nas casas e até
mesmo no comércio e na administração dos bens dos seus amos.
No século I da era cristã, apenas 25% da população do império
era formada por cidadãos. Desses 25%, mais da metade eram cidadãos
libertos, isto é, pessoas que nasceram como escravas e que conseguiam
comprar sua liberdade ou alforria, já que muitos deles tinham capacida-
de intelectual bastante elevada e recebiam peculia para administrar os
negócios de seus donos. Além do comércio de escravos nos mercados
de todas as grandes cidades do império, o próprio trabalho escravo
trazia uma renda bastante substancial para o sistema do principado.
Depois de suas guerras de conquista, o exército romano trazia
como escravos homens e mulheres que eram utilizados nas grandes
propriedades e que se tornaram responsáveis pelo abastecimento da
sociedade romana, sobretudo pelo luxo da corte. Historiadores nar-
ram que, ao terminar a guerra das Gálias, Julio César havia sujeitado
milhares de escravos. Comentários, retirados de suas próprias memó-
rias, narram que 300 tribos foram submetidas; um milhão de gauleses
foram reduzidos à escravatura e cerca de três milhões (entre gauleses,
germanos e belgas) tinham tombado nos campos de batalha.5
5
http://www.uc.pt/fluc/eclassicos/publicacoes/ficheiros/BEC42/23_Jose_Varandas.pdf
6
Jerome Murphy-O’Connor, OP. Paulo Biografia Crítica, São Paulo: Loyola, 2000, p.337.
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Os judeus de Roma sempre mantiveram relações som os judeus de
Jerusalém. Embora as comunidades cristãs de Roma fossem constitu-
ídas de uma maioria de gentios, desde sua fundação, havia influência
das posturas e opiniões dos coordenadores das comunidades cristãs
de Jerusalém sobre as comunidades cristãs de Roma.
7
Elsa tamez, RIBLA 62, Quito: RECU, Petrópolis: Vozes, 2009, p. 91.
8
Nestor Míguez, No como los otros que no tienen esperanza. Ideología y estrategia del cristianismo
paulino en la gentilidad. Lectura Socio-política de la primera carta de Pablo a los tesalonicenses.
Tesis doctoral inédita, ISEDET, Buenos Aires, 1989.
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novo conteúdo. Aquela consigna de “justiça e fé”, cunhada nas moedas,
torna-se sua própria consigna para denunciar o pecado estrutural.
Dessa maneira, ele constrói uma teologia libertadora em linguagem
conhecida pelo povo, que reconhece imediatamente o que está por trás
de suas palavras. Utilizando um método parecido com a diatribe, Paulo
cria um diálogo em que ele mesmo faz as perguntas e as reponde. Com
esta metodologia, Paulo não somente anuncia um poder maior que o
do imperador. Ele faz uma crítica contundente ao comparar a justiça de
Deus com a justiça do império, já que esta é oferecida gratuitamente a
todas as pessoas que a desejam e acolhem e não somente aos ‘notáveis’,
àqueles que tinham méritos.
Como um profeta, Paulo garante que “a ira de Deus se manifesta
contra os homens que mantêm a verdade prisioneira da injustiça” (1,18;
2,2-5; Mq 7,9); denuncia a corrupção realizada em seus próprios corpos
pelos judeus e também gentios que se entregam a paixões aviltantes
(1,26), desumanizando-se e tornando-se incapazes de discernir e de
julgar com lucidez para agir conforme o projeto de Deus (1,28). Usando
uma lista de vícios, já bastante conhecida, Paulo denuncia a conduta
de quem não se deixa conduzir por Deus (1,29-31).
2. Pecado estrutural
O pecado é estrutural, gerado pela ideologia do império em um
movimento excessivo de expansão. A cobiça do império se concretiza
também no comportamento e nas ações dos cidadãos (2,1-11), mas não
é apenas uma questão de moral pessoal. Provém de uma organização
socioeconômica construída sobre o poder de dominar, através de um
exército extremamente organizado e capaz de massacrar qualquer le-
vantamento. A cobiça do poder imperial se materializa no cotidiano do
povo. Um exemplo disso é a exploração dos possuidores de vivendas
em Trastevere e na Via Apia. A cobiça leva-os a construir prédios de
madeira com inseguras, minúsculas e insalubres habitações para aluga-
-las aos migrantes que chegam a Roma. Tais vivendas representam não
somente desconforto, mas um risco de vida para os pobres que nelas
residem. Para seus donos, no entanto, são alta fonte de renda.
Quando Paulo usa a expressão amartia, ele está se referindo ao
pecado estrutural. É o que se desvenda na expressão: “Porque tanto os
judeus como os gregos estão sob o pecado” (Rm 3,9). Em seguida, citan-
do o Primeiro Testamento, busca descrever o pecado: “Não há homem
justo, não há um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a
115
Deus. Todos se transviaram, todos juntos se corromperam...” (3,10-12;
Salmo 14,1-3). “Seus pés são velozes para derramar sangue; há des-
truição e desgraça em seus caminhos. Desconheceram o caminho da
paz não há temor de Deus diante dos seus olhos” (3,15-17; Is 59,7-8).
O pecado estrutural é gerado pela cobiça e se manifesta na corrup-
ção, competição, exploração, dominação, morte. Faz parte do sistema do
império. Toda a unidade que vai de 1,18-3,20 manifesta a universalidade
do pecado. A boa nova transmitida por Paulo na Carta aos Romanos é
que a salvação é também universal e, além disso, gratuita (3,21-5,21).
Para alcançar esta salvação é suficiente assumir decididamente a fé em
Jesus Cristo, que sustenta a esperança dos pobres em meio à insegu-
rança e à falta de alternativas (5,2).
9
Elza Tamez. Contra toda Condena. La justificación por la fe desde los excluidos, Costa Rica/San
José: DEI, 2ª edição,1993, p.149.
116
evadir-se no espiritualismo, porque a esperança de conquistar aquilo
que ainda não se vê não permite cruzar os braços: “Se esperamos o que
não vemos é na esperança que o aguardamos” (8,25). E esperar com
esperança só é possível se a pessoa e a comunidade têm a experiência
profunda de ser gratuitamente amada. E este amor gratuito e incon-
dicional de Deus foi manifestado em Cristo Jesus. Por isso, “em tudo
somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou” (8,37) e do
qual nem os anjos, nem o poder avassalador do principado ou pessoa
alguma poderá nos separar (8,31-19).
Considerações finais
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