Entrevista Sartre Revista L'arc
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B. P.2
A RECUSA DA HISTÓRIA
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deixa de ser o resultado de uma praxis cujo desenvolvimento
o arqueólogo descreve.
O que Foueault nos apresenta é, como muito bem viu
Kanters, uma geologia: a série das camadas sucessivas que
formam o nosso «solo». Cada uma destas camadas define
as condições de possibilidade de um certo tipo de pensa
mento que triunfou durante um certo período. Mas Fou-
cault não nos diz o que seria mais interessante, a saber,
como é que cada pensamento é construído a partir dessas
condições, nem como os homens passam de um pensamento
para outro. Ser-lhe-ia necessário, para isso, fazer intervir a
praxis, portanto a história, e é precisamente isso que ele
recusa. É ccrto que a sua perspectiva permanece histórica.
Ele distingue épocas, um antes e um depois. Mas substitui
o cinema pela lanterna mágica, o movimento por uma
sucessão de imobilidades. O sucesso de As Palavras e as
Coisas prova bem que o livro era esperado. Ora, um pensa
mento verdadeiramente original nunca é esperado. Foueault
traz às pessoas aquilo de que elas precisavam: uma síntese
dialéctica em que Robbe-Grillet, o estruturalismo, a lin
guística, Lacan, Tel Quel são utilizados sucessivamente
para demonstrar a impossibilidade de uma reflexão his
tórica.
Para lá da história, bem entendido, é o marxismo que
é visado. Trata-se de constituir uma ideologia nova, a última
barragem que a burguesia pode ainda erguer contra
Marx. Outrora os ideólogos burgueses contestavam a ideo
logia marxista da história em nome de uma outra teoria.
Fazia-se a história das ideias, como Toynbee, ou então
representava-se a sucessão das civilizações à imagem de
um processo orgânico, como Spengler, ou ainda se denun
ciava o não sentido, a absurdidade de uma história «cheia
de ruído e de furor», como Camus. Mas todas estas
pseudo-histórias falharam porque os verdadeiros historia
dores nunca as aceitaram. Um historiador, hoje, pode não
ser comunista: mas ele sabe que não se pode escrever
história, história séria, sem pôr em primeiro plano os ele
mentos materiais da vida dos homens, as relações de pro*
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duçao, a praxis — m esm o se ele pensa, como eu, que acima
dessas relações, as «superstruturas» constituem regiões rela
tivamente autónom as. À luz destes trabalhos, todas as
teorias burguesas d a história se apresentam como imagens
mentirosas, truncadas. N ão se pode inventar um sistema
novo que, de um a m aneira ou de outra, não mutile este
conjunto de condicionam entos condicionados. Como não
se pode «ultrapassar» o m arxism o, vai-se, portanto, supri-
mi-lo. Dir-se-á que a história é inapreensível enquanto tal,
que toda a teoria d a história é, por definição, «doxoló-
gica», para em pregar a p alav ra de Foucault. Renunciando
a justificar as passagens, opor-se-á à história, domínio da
incerteza, a análise das estruturas, única forma que permite
a verdadeira investigação científica.
O ESTRUTURALISMO
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por um conjunto de práticas. O linguista tom a como objecto
de estudo essa totalidade de relações, e ele tem o direito
de o fazer porque ela está já constituída. É o momento
da estrutura cm que a totalidade aparece como a coisa
sem o homem, um a rede de oposições em que cada elemento
se defme por um outro, onde não h á term o, mas somente
relações, diferenças. M as esta coisa sem o hom em é ao mesmo
tempo m atéria m an ip u lad a pelo hom em , m atéria com os
traços do hom em . N ão se encontrarão n a natureza oposições
como as que descreve o linguista. A natureza só conhece
a independência das forças. Os elementos materiais estão
ligados uns aos outros, actuam uns sobre os outros. Mas
esse laço é sempre exterior. N ão se trata de relações
internas como a que estabelece o masculino com o femi
nino, o plural com o singular, q u er dizer, um sistema
em que a existência de cada elem ento condiciona a de
todos os outros. Se se adm ite a existência de um tal sistema,
deve admitir-se tam bém que a linguagem só existe falada,
por outras palavras, em acto. C ad a elemento do sistema
remete para um todo. mas esse todo será um todo morto se
alguém não o reassumir, não o fizer funcionar. A este
segundo nível, já não se tra ta de estruturas feitas, que exis
tissem sem nós. No sistema da linguagem , há alguma coisa
que o inerte não pode d a r p o r si só, o vestígio dc uma prática.
A estrutura só se nos im põe n a m edida em que é feita
por outros. Para com preender com o ela se faz, há, pois,
que reintroduzir a praxis en quanto processus totalizador.
A análise estrutural deveria cu lm in ar num a compreensão
dialéctica.
LÉVI-STRAUSS
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em que a sua aplicação é, com efeito, m uito arriscada:
a crítica literária, por exemplo. As pesquisas que ele próprio
realiza no seu domínio são positivas. £ certo que a análise
estrutural permite com preender m elhor o sistema complexo
das relações de parentesco ou a significação do mito nas
sociedades arcaicas. M as o estruturalism o, tal como o
concebe e o pratica Lévi-Strauss, m uito contribuiu para o
descrédito actual da história, na m edida em que só se aplica
a sistemas já constituídos, os mitos, por exemplo. Se a
funçào do mito parece ser a de integrar os elementos absur
dos ou desagradáveis que am eaçam a vida de um a socie
dade, resta que o m ito foi elaborado, form ado por homens.
Mesmo as sociedades mais arcaicas, as mais imóveis na
aparência, as que Lévi-Strauss cham a as sociedades «frias»,
têm uma história. Ela é simplesmente um a história mais
longa do que as das sociedades «quentes». N um a perspec
tiva estrutural, isto é, não dialéctica, é impossível dar conta
desta evolução. A história aparece como um fenómeno
puramente passivo, seja porque a estrutura contém em si,
desde a origem, os seus germes de morte, seja porque um
acontecimento exterior a destrói. Assim, para Pouillon,
a história é a contingência1. Comparem-se duas sociedades
em que as funções políticas e religiosas são distribuídas
diferentemente. Desta confrontação tira-se um modelo
estrutural que, por seu turno, define um certo núm ero de
possibilidades. Porque é que todas estas possibilidades não
são realizadas? Porque há a contingência: acontecimentos
exteriores, a guerra ou a. fome, podem destruir um a socie
dade. Quando não m orre de m orte natural, a estrutura
sucumbe por acidente. M as nunca são os homens, eles
próprios, que a modificam, porque não são eles que a fazem:
pelo contrário, eles são feitos por ela.
Ainda aqui, cu não contesto a oxistcncia das estruturas,
nem a necessidade de analisar o mecanismo delas. M as a
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estrutura não é para mim senão um m om ento do prático-
-inerte. Ela é o resultado de um a praxis que excede os seui
agentes. Toda a criação hum ana tem o seu domínio de
passividade: isto não significa que ela seja de parte a parte
passiva. Lembremo-nos da trase de Auguste Comte:
«O progresso é o desenvolvimento da ordem .» Isto aplica-se
perfeitamente à noção que os estruturalistas têm do próprio
desenvolvimento da estrutura. Eu não creio que a história
possa reduzir-se a esse processus interno. A história não é
a ordem. É a desordem. D igam os: um a desordem racional.
No próprio momento em que m antém a ordem, quer dizer,
a estrutura, a história está já em vias de a desfazer. Assim,
a luta de classes cria estruturas no seio das quais ela se exerce
e que, por consequência, a condicionam — mas na medida
em que lhes é anterior, está incessantemente a ultra
passá-las.
Censuram-me muitas vezes o meu «historicismo». A crer
em alguns, eu mergulharia o homem, o sujeito, sem inter
mediários, no vasto movimento indistinto da história.
Nunca disse tal coisa. O homem é, p ara mim, o produto
das estruturas, mas na m edida em que as ultrapassa. Se se
quiser, há estases da história que são as estruturas. O homem
recebe as estruturas — e nesse sentido pode dizer-se que elas
o fazem. Mas ele recebe-as enquanto está comprometido
na história, e comprometido de tal m aneira que não pode
deixar de destruí-las, para constituir novas que, por seu
tumo, o condicionarão. Como diz M arx, «o segredo do
operário é a morte da burguesia».
UM EXEMPLO: SADE
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que nela se encontra depositado. Um dos temas essenciais
dessa ideologia é a natureza. O burguês do século xvm con
sidera que a natureza é boa. Mas Sade, esse, não é um bur-
uéa. Ê um aristocrata que assiste ao declínio progressivo
ã a sua dasse. Ele sabe que os privilégios estão em vias de
desaparecer. Em face de outrem, acha-se, pois, na posição
de um homem que dispõe teòricamente de direitos ilimi
tados, e que ao mesmo tempo já não os pode exercer, que
já não pôde satisfazer o seu desejo individual de aristo
crata.
Tal é a situação inicial. Para lhe apreender o sentido,
vai ser necessário que Sade a ultrapasse em proveito de
uma síntese subjectiva, o sadismo. O sadismo é uma teoria
da relaç&o entre os homens: o que Sade procura é a comu
nicação. Mas para exprimir o seu pensamento sobre isto,
deverá utiíizar a linguagem ^que lhe é dada. Um século,
mais tarde, o sadismo ter-se*ia\definido como a antif{*i>
No século xvin isso não é possível: *Sade é obrigado à p**sar
pela ideia da natureza. Ele construirá, por conseguinte,
uma teoria da natureza semelhante à do burguês, só com
uma diferença: em vez de ser boa, a natureza é má, quer
a morte do homem. Assim JulietU termina com a imagem
de um homem a masturbar-se num vulcão.
O que eu estou a dizer é muito sumário. Mas, como
sabe, há uma dupla relação: a «natureza» furta a Sade o
sentido do seu pensamento, mas Sade, em contrapartida,
furta o sentido aa natureza.
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O homem não pensa, é pensado, é falado, segundo ccrtos
linguistas. O sujeito, neste processus, já não ocupa uma posi
ção central. Ele é um elemento entre outros, sendo o essen
cial a «camada», ou, se se preferir, a estrutura cm que se
encontra c que o constitui.
A ideia vem de Freud, que já atribuía ao sujeito um lugar
ambíguo. Entalado entre o «isso» e o «super-eu», o sujeito
do psicanalista faz lembrar De Gaullc entre a União Sovié
tica e os Estados Unidos. O ego não tem existência cm si,
é construído, e o seu papel permanece puramente passivo.
Não é um actor, mas um ponto de encontro, o lugar dc
um conflito de forças. O analista não pede ao seu paciente
que aja; pede-lhe, ao invés, que se deixe agir, abandonan-
do-se às suas associações livres.
Dir-me-ão que não se vai ao psicanalista sem o ter deci
dido, c que essa decisão é o sujeito que a toma. Mas não:
o sujeito julga tomá-la. De facto, ele é condicionado pelos
seus próprios conflitos. A neurose pode aparecer a princípio
como um mal menor, que perm ite ao indivíduo adaptar-se
às suas dificuldades e às suas perturbações tornando-as tole
ráveis. Mas chega um momento em que o carácter contra
ditório desta solução vem ao de cim a: já não se suporta a
neurose, vai-se consultar o psicanalista. Então a situação
inverte-se. É agora a neurose que é um obstáculo à cura,
e é preciso vencer a resistência. Mas tanto antes como
depois, o sujeito é arrastado, constituído pela sua neurose.
Ele não passa de um epifenórneno, e tudo parece passar-se
fora dele.
Na minha opinião, esta descrição é verdadeira na medida
em que se aplica exclusivamente à neurose, isto é, a utaa
estrutura que e anterior ao sujeito, que se constitui sem cie.
A «transferencia» dc que falam os psicanalistas desempe
nha, neste estádio, uma função essencial, embora provisória:
torna a cura possível. Mas c preciso ir mais longe e com
preender que a comunicação entre o analista c o paciente
não se limita a uma simples deslocação sofrida por uma
parte e outra. O analista, mesmo quando julga ficar total
mente passivo, age mais ou menos« Q uanto ao paciente,
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tam bém nào fica passivo. A p a rtir da transferência, ele
constrói um a estru tu ra nova. A m ulher que «transfere»
para o seu psicanalista n ã o se co n ten ta com m im ar o am or:
vive um am or com pleto. N a transferência, algum a coisa
se cria, form am -se laços, u m a situação nova aparece, em
suma, h á um a superação. É esta praxis p articu la r que seria
necessário pôr a claro.
O problem a, com o vê, não é o de saber se o sujeito está
«centrado» ou não. E m certo sentido, ele está sem pre des-
centrado. O «hom em » n ão existe, e M a rx rejeitara-o m uito
antes de F oucault ou L acan, q u an d o dizia: «N ão vejo o
homem, não vejo senào operários, burgueses, intelectuais.»
Se se persiste em ch a m a r sujeito a u m a espécie de «eu»
substancial, ou a u m a categoria central, sem pre mais ou
menos d ad a, a p a rtir d e que se desenvolveria a reflexão,
então h á m uito tem po q ue o sujeito está m orto. Eu próprio
critiquei esta concepção no m eu prim eiro ensaio sobre
Husserl. M as o descentram ento inicial que faz o hom em
desaparecer por trás das estruturas im plica, por sua vez,
uma negatividade, e o hom em surge desta negação. H á
sujeito, ou, se se preferir, subjectividade, desde o instante
em que há esforço p a ra u ltrapassar, conservando-a, a situ a
ção dad a. O v erdadeiro p roblem a é o dessa superação.
É o de saber com o o sujeito ou a subjectividade se cons
titui num a base que lhe é anterio r, p o r um processus perp é
tuo de interiorização e de reexteriorização.
N ão se pode, pois, dizer q ue a linguagem , p o r exemplo,
é o que se fa la no sujeito. P orque o p róprio linguista define
a linguagem com o to talid ad e pelos seus actos. É p re
ciso que haja um sujeito linguista p a ra que a linguística se
torne um a ciência e u m sujeito falante p a ra ultrapassar
as estruturas d a linguagem e atin g ir u m a totalidade que
será o discurso do linguista. P or o u tras palavras, a subjecti
vidade aparece com o a u n id a d e de um em preendim ento
que remete p a ra si m esm o, q u e é em certa m edida translú
cido a si mesmo, e q u e se define através d a sua praxis.
I A . T . - 14 133
0 MARXISMO DE ALTHUSSER
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uma superação que seja feita pelo homem* Voltamos ao
positivismo dos signos. H á totalidades, conjuntos estru
turados que se constituem através do hom em e que o
homem tem por função única decifrar. O facto de Fou-
cault ter prestado hom enagem ao esforço «corajoso» de
Althusser prova bem que ambos vão no mesmo sentido.
Mar*, em vida, nunca foi utilizado por outros. Se os
estruturalistas podem utilizar Althusser, é porque há
nele a vontade de privilegiar as estruturas cm relação
à história.
O FUTURO DÀ FILOSOFIA
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Reencontram os assim o nosso problem a inicial. Tra
ta-se sempre de pensar a favor de ou ou contra a história.
Se se adm ite, como eu, que o m ovim ento histórico é uma
totalização perpétua, que cada hom em é a todo o mo
mento totalizador e totalizado, a filosofia representa o
esforço do homem totalizado p a ra se ap o d e rar do sentido
da totalização. N enhum a ciência pode substituí-la, pois
toda a ciência se aplica a um dom ínio do hom em já deli
mitado. O método das ciências é analítico ; o d a filosofia
só pode ser dialéctico. E nquanto interrogação sobre a
praxis, a filosofia é ao mesmo tem po um a interrogação
sobre o homem, quer dizer, sobre o sujeito totalizador
da história. Pouco im porta que esse sujeito esteja ou não
descentrado. O essencial não é o que se fez do homem,
mas o que ele fa z do que fizeram 4ele. O que fizeram do
homem são as estruturas, os conjuntos significantes que
as ciências humanas estudam . O que ele faz é a própria
história, a superação real dessas estruturas num a praxis
totalizadora. A filosofia situa-se nessa charneira. A praxis
é, no seu movimento, um a totalização com pleta, mas ela
nunca atinge mais do que totalizações parciais, que serão,
por seu turno, ultrapassadas. O filósofo é o que tenta
pensar esta superação.
Para isso, dispõe ele de um m étodo, o único que dá
conta do conjunto do movim ento histórico num a, ordem
lógica: o marxismo. O marxismo não é um sistema petri
ficado; é uma tarefa, um projecto a efectuar. Por toda a
espécie de razões, produziu-se na realização dessa tarefa
uma paragem. Os marxistas d u ran te m uito tempo recusa
ram interrogar os conhecimentos novos sobre o homem,
e por causa disso o marxismo em pobreceu-se. A questão,
hoje, está em saber se querem os d ar-lhe nova vida, alar
gando-o, aprofundando-o, ou se preferim os deixá-lo mor
rer. Renunciar ao marxismo seria renunciar a compreen
der a passagem. O ra, eu penso qu e nós estamos sempre
na passagem, sempre em vias de desagregar produzindo,
e de produzir desagregando; que o hom em está perma
nentemente desfasado cm relação às estruturas que o
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condicionam, porquê clc é outra coisa do que aquilo que o
faz ser o que é. N ão compreendo, pois, que se fique pelas
estruturas: isso é para mim um escândalo lógico.
A U TE R A TU R A E A FOME
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sem sentir esta contradição. Direi mesmo que ela é o
motor da literatura. Apercebemo-la a todos os níveis.
O homem humilhado na sua vida privada e que escreve
para se vingar — penso em Léon Bloy, por exemplo —
sabe muito bem que nào se vinga. E, no entanto, é o
desejo de vingança que o faz escrever.
Mas se se mantém firmemente a ambiguidade, se se
não sacrifica nem um nem outro aspecto das palavras,
está-se realmente envolvido na verdadeira literatura:
uma contestação que se contesta a si própria. Os escri
tores de Tel Quel sabem-no. Simplesmente, o que eles
contestam é a linguagem enquanto instrumento de comu
nicação e dc expressão. Chegam assim a uma espécie de
positivismo literário que corresponde ao positivismo dos
lignos de que falávamos há pouco. Acho que isso é uma
demissão. Porque se se suprime a comunicação, supri
me-se também a literatura que nào vive senão dessa supe
ração.
<Trad. de A. R. R.)
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