Empreendedores Sociais

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Iniciativas de Empreendedorismo

Social no Terceiro Setor em Portugal:


Antecedentes, Comportamentos e
Desempenho Organizacionais

Susana Jacinta Queirós Bernardino

Dissertação de Doutoramento em Gestão

Orientação: Professor Doutor José de Freitas Santos

Dezembro, 2013
Susana Jacinta Queirós Bernardino

Iniciativas de Empreendedorismo Social no Terceiro Setor em Portugal: Antecedentes,


Comportamentos e Desempenho Organizacionais

Tese de Doutoramento em Gestão

Trabalho realizado sob a orientação do

Professor Doutor José de Freitas Santos

Dezembro de 2013

Universidade Portucalense

Departamento de Ciências Económicas e Empresariais


Ao Jorge

e aos meus pais.


AGRADECIMENTOS

Esta investigação não seria possível sem a ajuda e o contributo de várias pessoas, a
quem quero expressar o meu reconhecimento e gratidão.

Antes de mais, agradeço ao Prof. Doutor José de Freitas Santos, orientador desta tese,
que sempre me acompanhou ao longo de todo este processo. Por todos os conselhos que
contribuíram inquestionavelmente de uma forma positiva para a construção deste
trabalho, por toda a disponibilidade e empenhamento.

Ao ISCAP, pelo apoio concedido, e a todos os colegas que, de alguma forma,


contribuíram para que fosse possível a concretização deste trabalho académico.

Este trabalho não seria, também, possível sem a participação de todos os responsáveis
pelas iniciativas sociais que gentilmente acederam ao convite de participar na
investigação empírica, por resposta ao questionário.

Aos meus familiares e amigos, pelo apoio e pela minha ausência. Um agradecimento
particular à Ana, pela atenção.

Aos meus pais por sempre me terem apoiado na minha formação e na concretização dos
meus sonhos. Ao Jorge pelo apoio e partilha incondicionais, e pela privação que este
projeto implicou.

A todos, muito obrigada.


INICIATIVAS DE EMPREENDEDORISMO SOCIAL NO TERCEIRO SETOR EM
PORTUGAL: ANTECEDENTES, COMPORTAMENTOS E DESEMPENHO
ORGANIZACIONAIS

RESUMO

O empreendedorismo social é um fenómeno atual, e com uma importância crescente na


sociedade Portuguesa e um pouco por todo o mundo. Apesar da relevância académica
do tema, o empreendedorismo social é ainda um campo pouco explorado das ciências
sociais em Portugal. De facto, conhece-se muito pouco acerca dos fatores
impulsionadores do empreendedorismo social e das condições que conduzem ao seu
sucesso.

O estudo realizado parte de um referencial teórico-concetual, elaborado com base na


revisão da literatura sobre o tema, que serviu de suporte à construção do modelo
analítico, a partir do qual se formularam as hipóteses de investigação. Estas hipóteses
foram testadas a partir de uma metodologia quantitativa, que implicou o recurso à
construção de um questionário que foi aplicado, sob a forma de inquérito online, às
Organizações Não Governamentais para o Desenvolvimento registadas em Portugal e
aos projetos cotados na Bolsa de Valores Sociais. Os dados primários recolhidos foram
sujeitos a tratamentos de análise estatística descritiva e inferencial, como o teste t-
student, o teste de Friedman, o modelo MANOVA não-paramétrico e o teste de
Kruskal-Wallis.

Os resultados deste estudo permitiram a identificação de um quadro de fatores


suscetíveis de influenciarem o desencadear da iniciativa social, particularmente a posse
de determinados traços de personalidade (extroversão, abertura à experiência e
conscenciosidade), as experiências pessoais e profissionais passadas, os objetivos de
caráter social e pessoal, e a perceção de viabilidade da iniciativa pelo potencial
empreendedor social. A investigação permitiu ainda identificar um conjunto de
comportamentos que influenciam positivamente o desempenho das organizações
sociais. Assim, constatou-se a influência positiva da existência de uma estratégia, da
análise ambiental (contextual), da implementação estratégica, e da gestão dos recursos,
quer sejam de natureza tangível (recursos financeiros e recursos tecnológicos) quer
intangível (imagem, reputação, qualidade e capital social).

O conhecimento dos fatores que formam as intenções para um comportamento


socialmente empreendedor é importante para que possam ser estimulados e
incrementados os projetos de empreendedorismo social no país. De igual modo, a
identificação dos comportamentos de gestão que contribuem favoravelmente para o
desempenho e sucesso das organizações sociais afiguram-se pertinentes para aumentar a
sua eficiência e capacidade de geração de valor social.

Palavras-chave: Empreendedorismo; Empreendedorismo Social; Criação de Valor


Social; Terceiro Setor; Empreendedor Social; Gestão de Organizações Sociais;
Desempenho Organizacional.
SOCIAL ENTREPRENEURSHIP INITIATIVES IN THE PORTUGUESE THIRD
SETOR: ANTECEDENTS, MANAGERIAL BEHAVIOUR AND PERFORMANCE

ABSTRACT

Social entrepreneurship is a current phenomenon with growing importance in


Portuguese society and all around the world. Despite the academic relevance of the
subject, social entrepreneurship is still an unexplored field of Portuguese social
sciences. In fact, little is known about the promoting factors of social entrepreneurship
and the conditions leading to its success.

The investigation starts with the literature review on the topic allowing the construction
of the theoretical-conceptual framework from which the analytical model was
constructed and the research hypotheses were stated. These hypotheses were tested
using a quantitative methodology, by means of a questionnaire which was built up and
applied, as an online survey, to Non-Governmental Development Organizations
registered in Portugal and to projects listed on the Social Stock Exchange. To treat the
primary data gathered, descriptive and inferential statistical tests were used, such as t-
student, Friedman test, nonparametric MANOVA and Kruskal-Wallis test.

The results of this study provided us with a framework of factors likely to influence the
onset of social initiative, specifically certain personality traits (extroversion, openness to
experience and conscientiousness), former personal and professional experiences,
personal and social goals, and social entrepreneur’s perception about the initiative
viability. The investigation also allowed us to determine a set of behaviours that
positively influence the performance of social organizations. Namely, the existence of a
strategy, of an environmental analysis, of a strategic implementation and of resource
management, whether tangible (financial and technological resources) or intangible
(image, reputation, quality and social capital). These factors have a positive impact on
the organizational performance.

Knowing how social entrepreneurial behaviour intents are formed is important to


stimulate and enhance social entrepreneurship projects in the country. Similarly,
identifying the management behaviours that favorably contribute to the performance
and success of social organizations appears to be relevant to increase their efficiency
and ability to generate social value.

Key-word: Entrepreneurship; Social Entrepreneurship; Social Value Creation; Third


Sector; Social Entrepreneur; Social Organizations Management; Organizational
Performance;
ÍNDICE

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 17

CAPÍTULO 1- EMPREENDEDORISMO SOCIAL, EMPREENDEDOR SOCIAL E


ORGANIZAÇÃO SOCIAL: CONCEITOS E RELEVÂNCIA CIENTÍFICA DO TEMA
........................................................................................................................................ 27

1.1 Considerações gerais em torno do empreendedorismo social .............................. 29

1.2 Empreendedorismo social, empreendedor social e organização social: discussão,


delimitação e definição de conceitos .......................................................................... 33

1.2.1 Empreendedorismo social .............................................................................. 36

1.2.1.1 O conceito de ‘empreendedorismo’ ........................................................ 37

1.2.1.2 O conceito de ‘social’ ............................................................................. 38

1.2.1.3 O conceito de ‘empreendedorismo social’ ............................................. 39

1.2.1.4 Empreendedorismo social: uma definição .............................................. 49

1.2.2 O conceito de empreendedor social ............................................................... 50

1.2.2.1 Empreendedor social: uma definição ..................................................... 53

1.2.3 Organização social ......................................................................................... 54

1.2.3.1 Organização social: uma definição ......................................................... 57

1.3 Relevância científica do tema ............................................................................... 58

1.3.1 A relevância científica em Portugal ............................................................... 61

1.4 Síntese ................................................................................................................... 63

CAPÍTULO 2- EMPREENDEDORISMO SOCIAL: RACIONALIDADE


ECONÓMICA E TRAÇOS DISTINTIVOS .................................................................. 65

2.1 Racionalidade económica e empreendedorismo social......................................... 67

2.1.1 As falhas de mercado ..................................................................................... 68

2.1.2 A resposta das organizações sem fins lucrativos e o espaço para as iniciativas
de empreendedorismo social ................................................................................... 70

2.2. Uma área de investigação autónoma? .................................................................. 74


2.3 Empreendedorismo social: fronteiras setoriais e geográficas ............................... 75

2.4 Caraterísticas do empreendedorismo social .......................................................... 79

2.4.1 Missão e objetivos .......................................................................................... 81

2.4.2 Criação e apropriação de valor ....................................................................... 83

2.4.3 Quadro legal ................................................................................................... 84

2.4.4 O papel dos stakeholders................................................................................ 87

2.4.5 Gestão de recursos e estratégias de geração de rendimento ........................... 89

2.5 Síntese ................................................................................................................... 91

CAPÍTULO 3- FATORES DE PROMOÇÃO DA INICIATIVA SOCIAL:


CONTEXTO, PERFIL E MOTIVAÇÕES ..................................................................... 93

3.1 Considerações gerais ............................................................................................. 95

3.2 Envolvente externa à iniciativa ............................................................................. 96

3.2.1 Variáveis político-legais ................................................................................. 97

3.2.2 Variáveis económicas ................................................................................... 101

3.2.3 Variáveis socioculturais ............................................................................... 102

3.2.4 Variáveis tecnológicas.................................................................................. 104

3.3 Perfil do empreendedor social ............................................................................ 105

3.3.1 Perfil psicográfico ........................................................................................ 105

3.3.2 Perfil demográfico ........................................................................................ 110

3.3.2.1 Idade ..................................................................................................... 110

3.3.2.2 Género .................................................................................................. 112

3.3.2.3 Formação .............................................................................................. 113

3.3.2.4 Percurso profissional anterior ............................................................... 114

3.3.2.5 Experiência pessoal e ciclo de vida da família ..................................... 116

3.3.2.6 Outras variáveis demográficas ............................................................. 119

3.4 Objetivos pessoais do empreendedor social ....................................................... 120

3.5 Perceção de viabilidade da iniciativa de empreendedorismo social ................... 123


3.6 Síntese ................................................................................................................. 127

CAPÍTULO 4- COMPORTAMENTO E DESEMPENHO ORGANIZACIONAIS ... 129

4.1 Questão prévia .................................................................................................... 131

4.2 Estratégia ............................................................................................................ 132

4.2.1 Missão .......................................................................................................... 134

4.2.2 Análise ambiental e objetivos ...................................................................... 135

4.2.3 Formulação da estratégia .............................................................................. 136

4.2.4 Implementação da estratégia ........................................................................ 137

4.3 Gestão de recursos .............................................................................................. 138

4.3.1 Recursos tangíveis ........................................................................................ 143

4.3.1.1 Recursos materiais ................................................................................ 143

4.3.1.2 Recursos humanos ................................................................................ 144

4.3.1.3 Recursos financeiros ............................................................................. 151

4.3.2 Recursos intangíveis..................................................................................... 158

4.3.2.1 Imagem da organização ........................................................................ 158

4.3.2.2 Reputação ............................................................................................. 160

4.3.2.3 Qualidade do serviço prestado .............................................................. 161

4.3.2.4 Capital Social........................................................................................ 163

4.4 Desempenho........................................................................................................ 166

4.5 Síntese ................................................................................................................. 174

CAPÍTULO 5- DESENHO E METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO ................... 175

5.1 O contexto da investigação ................................................................................. 177

5.1.1 Um caso particular de empreendedorismo social: a Bolsa de Valores Sociais


............................................................................................................................... 183

5.2 O modelo de investigação ................................................................................... 184

5.3 Justificação do interesse das questões de investigação ....................................... 190

5.4 O desenho da investigação .................................................................................. 192


5.4.1 A construção do questionário ....................................................................... 195

5.4.2 A seleção da amostra .................................................................................... 200

5.4.3 Recolha de dados .......................................................................................... 202

5.5 Síntese ................................................................................................................. 206

CAPÍTULO 6- APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS ....................... 207

6.1 Caracterização geral do objeto de estudo............................................................ 209

6.2 Fatores de promoção da iniciativa em Portugal: perfil, objetivos e perceções do


empreendedor............................................................................................................ 212

6.2.1 Caracterização dos inquiridos ...................................................................... 212

6.2.2 Análise ao perfil psicográfico do empreendedor social português .............. 213

6.2.3 Análise ao perfil demográfico do empreendedor social português .............. 217

6.2.4 Análise dos objetivos pessoais ..................................................................... 225

6.2.5 Análise à perceção da viabilidade da iniciativa pelo empreendedor social . 230

6.3 Comportamento das organizações sociais em Portugal: gestão estratégica e


recursos ..................................................................................................................... 234

6.3.1 Análise das ações estratégicas ...................................................................... 234

6.3.2 Análise à gestão dos recursos (tangíveis e intangíveis) ............................... 236

6.3.2.1 Recursos tangíveis ................................................................................ 236

6.3.2.2 Recursos Intangíveis ............................................................................. 242

6.4 Desempenho das organizações sociais em Portugal ........................................... 247

6.5 Relação entre comportamento e desempenho organizacionais ........................... 252

6.6 Síntese conclusiva ............................................................................................... 261

CAPÍTULO 7- DISCUSSÃO DE RESULTADOS ..................................................... 263

7.1 Os antecedentes da iniciativa social em Portugal ............................................... 265

7.1.1 Influência da personalidade do empreendedor no desencadear da iniciativa


social...................................................................................................................... 266

7.1.2 Influência do perfil demográfico no desencadear da iniciativa social ......... 267

7.1.3 Influência dos objetivos pessoais no desencadear da iniciativa social......... 274


7.1.4 Perceção da viabilidade da iniciativa social e ação empreendedora ............ 275

7.2 Estratégia e gestão de recursos nas organizações sociais em Portugal ............... 278

7.2.1 Impacto da estratégia no desempenho .......................................................... 278

7.2.2 Papel dos recursos e da sua gestão no desempenho ..................................... 280

7.2.3 Práticas de avaliação dos resultados e ajustamento organizacional ............. 287

CONCLUSÃO .............................................................................................................. 291

BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................... 305

ANEXOS ...................................................................................................................... 345

Anexo 1- Síntese das definições de empreendedorismo social, empreendedor social e


organização social dos autores consultados ................................................................. 351

Anexo 2- Questionário de investigação ........................................................................ 357

Anexo 3- Organizações inquiridas ............................................................................... 365

Anexo 4- Anexos estatísticos ....................................................................................... 369


ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 2.1- Visão comparativa do empreendedorismo social em diferentes partes do


mundo ........................................................................................................................... 77

Quadro 2.2 - Análise comparativa entre empreendedorismo social, empreendedorismo


económico e organizações sem fins lucrativos tradicionais ......................................... 90

Quadro 5.1- Síntese das opções metodológicas............................................................195

Quadro 5.2- Taxa de resposta por grupo amostral........................................................206

Quadro 6.1- Caracterização das organizações sociais ..................................................211

Quadro 6.2 - Enquadramento do empreendedor social na iniciativa ............................213

Quadro 6.3 - Traços pessoais do indivíduo ..................................................................216

Quadro 6.4 - Caracterização geral do promotor da iniciativa de empreendedorismo


social .............................................................................................................................219

Quadro 6.5 - Experiências anteriores à iniciativa .........................................................223

Quadro 6.6 - Motivações pessoais ................................................................................226

Quadro 6.7 - Objetivos para a criação da iniciativa de empreendedorismo social .......227

Quadro 6.8 - Ordenação da predominância dos objetivos sobre a criação da iniciativa


......................................................................................................................................230

Quadro 6.9 - Perceção de viabilidade da iniciativa ......................................................231

Quadro 6.10 - Ações estratégicas .................................................................................235

Quadro 6.11- Gestão de recursos humanos ..................................................................237

Quadro 6.12 - Gestão de recursos financeiros ..............................................................239

Quadro 6.13 - Geração de receitas próprias .................................................................240

Quadro 6.14 - Gestão de recursos físicos .....................................................................241

Quadro 6.15- Gestão de recursos tecnológicos ............................................................242


Quadro 6.16 - Gestão da imagem organizacional.........................................................243

Quadro 6.17 - Gestão da reputação ..............................................................................244

Quadro 6.18 - Gestão da qualidade ..............................................................................245

Quadro 6.19 - Gestão do capital social .........................................................................246

Quadro 6.20- Desempenho geral das organizações ......................................................250

Quadro 6.21 - A importância da avaliação de resultados .............................................252

Quadro 6.22 - Testes à normalidade da distribuição e à homogeneidade da matriz de


covariâncias ..................................................................................................................255

Quadro 6.23 - Testes MANOVA não-paramétrico e Kruskal-Wallis ..........................257

Quadro 6.24 - Síntese dos testes de hipóteses ..............................................................261


ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1- Estrutura da tese ............................................................................................ 24

Figura 1.1- As diferentes escolas de pensamento ......................................................... 32

Figura 1.2- Processo de criação de um novo equilíbrio dinâmico................................ 43

Figura 1.3 O empreendedorismo social enquanto processo ......................................... 50

Figura 2.1- Racionalidade económica para o aparecimento do empreendedorismo social


...................................................................................................................................... 73

Figura 2.2 - Configuração institucional do empreendedorismo social ......................... 76

Figura 2.3 - Posicionamento relativo do empreendedorismo social em diferentes partes


do mundo ...................................................................................................................... 76

Figura 2.4 - As dimensões do empreendedorismo social ............................................. 79

Figura 2.5 - O espectro do empreendedorismo social .................................................. 80

Figura 2.6 - Tipologia de empresas sociais em função da orientação para a missão ... 80

Figura 2.7 - Enquadramento jurídico das pessoas coletivas privadas em Portugal ...... 85

Figura 4.1- Uma perspetiva sobre as estratégias financeiras: dependência versus


autossuficiência ............................................................................................................153

Figura 4.2- Níveis de expectativas de um serviço ........................................................162

Figura 4.3- O processo de geração de desempenho .....................................................167

Figura 5.1- Esboço dos contornos atuais do terceiro setor em Portugal.......................181

Figura 5.2- Modelo de investigação .............................................................................186

Figura 5.3- Modelo e hipóteses de investigação ..........................................................191

Figura 5.4- Calendarização da recolha de dados junto dos projetos da BVS ...............204

Figura 5.5- Calendarização da recolha de dados junto das ONGD ..............................205


LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AFCP- Análise Fatorial por Componentes Principais

EMES- European Research Network

IES- Instituto de Empreendedorismo Social

BVS- Bolsa de Valores Sociais

CASE- Center for the Advancement of Social Entrepreneurship

CASES- Cooperativa António Sérgio para a Economia Social

CRP- Constituição da República Portuguesa

EUA- Estados Unidos da América

CSC- Código das Sociedades Comerciais

GEM- Global Entrepreneurship Monitor

INE- Instituto Nacional de Estatística

KMO- Kaiser-Meyer-Olkin

MANOVA- Análise de variância multivariada dos dados

MSA- Measures of Sampling Adequacy

NUTS II- Nomenclatura Comum das Unidades Territoriais Estatísticas

ONGD- Organizações Não-Governamentais de Cooperação para o Desenvolvimento

PIB- Produto Interno Bruto

RBT- Resource-Based Theory

SPSS- Statistical Package for the Social Science.

TIC- Tecnologias de Informação e da Comunicação


INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO

O conceito de empreendedorismo tem vindo a ser progressivamente aplicado à


resolução de questões sociais. Os problemas da fome, dos sem-abrigo, da poluição, da
violência doméstica ou de dependências várias têm merecido o interesse dos cidadãos
que procuram colmatar as insuficiências dos poderes públicos a partir de programas
privados desenvolvidos por organizações não lucrativas. Estes programas surgem,
frequentemente, da iniciativa de uma pessoa ou grupo de pessoas, com uma visão
própria dos problemas a que procuram responder e com uma missão específica a
cumprir. De um modo geral, podemos chamar a estes homens e mulheres
empreendedores sociais.

Muitos são os casos, na história, de indivíduos que poderiam ter sido considerados
empreendedores sociais como Florence Nightingale, John Durand, Horace Mann,
Susana Anthony ou Henry Dunant. Estes são alguns nomes, entre muitos outros, que
provam que as pessoas podem fazer a diferença, provocar a mudança social e construir
muitas das instituições que hoje em dia temos como garantidas (Dees, 2001).

Apesar de ao longo dos tempos encontrarmos exemplos que se inserem no espírito do


empreendedorismo social, é essencialmente a partir do século XIX que se verifica uma
alteração da tradicional visão de caridade, sustentada numa lógica tradicional de bem-
estar e numa relação de dependência financeira face ao Estado (Parente, Costa, M.
Santos & Amador, 2013a). Esta nova abordagem, apelidada de ‘caridade científica’,
enfatiza a profissionalização da filantropia, a formalização do trabalho social, a adoção
de uma vertente estratégica e de programas de ajuda mais sistematizados (Dees, 2009b;
Parente et al., 2013a). É nesta conceção que residem as raízes do empreendedorismo
social.

O empreendedorismo social, enquanto prática que aplica um comportamento


empreendedor à área social, representa uma nova área das ciências sociais. Esta visa
conciliar, numa mesma estratégia, duas esferas até então qualificadas como distintas - a
criação de valor social e a criação de valor económico. O empreendedorismo social vem
questionar esta segregação, quebrando as fronteiras entre as organizações que compõem
os setores tradicionais das sociedades modernas. A conjugação de uma dimensão

19
‘social’ com uma dimensão ‘empreendedora’ num mesmo modelo organizacional
procura sinergias que amplifiquem a capacidade geral de criação de valor para a
sociedade. Mantendo a missão social explícita e central, estas organizações incorporam
uma visão empreendedora e económica com o intuito de aumentar a eficácia, eficiência
e viabilidade das suas operações (Mair & Martí, 2006). A originalidade deste novo
enquadramento reside precisamente em combinar a eficiência dos mercados, que o setor
privado prossegue, com a orientação para o bem-estar social.

Em termos académicos, apesar do conceito ter sido introduzido na década de 70 (Banks


1972, como citado em Nicholls, 2008), só na década de 90 começa a ganhar expressão
em termos de produção científica, que se intensifica com o virar do século. Os primeiros
artigos são de natureza essencialmente conceitual, procurando clarificar a realidade que
este novo domínio configura (Certo & Miller, 2008; Dees, 1998, 2001; Leadbeater,
1997; Mair & Martí, 2006; Peredo & McLean, 2006), em que medida difere dos setores
que interseta (Austin, Leonard, Reficco & Wei-Skillern, 2008; Austin, Stevenson &
Wei-Skillern, 2006; Dees & Anderson, 2006), ou explorando os benefícios que é capaz
de proporcionar (Babu & Pinstrup-Andersen, 2009; Bahmani, Galindo & Méndez,
2012; Mair & Martí, 2009; Seelos & Mair, 2004, 2005). O debate científico é extenso,
decorrente sobretudo da complexidade e subjetividade que o conceito integra. A
investigação produzida, muito embora não tenha chegado a uma definição consensual,
permitiu estabilizar as fronteiras do conceito, contribuindo igualmente para o
desenvolvimento desta área do conhecimento.

Paralelamente, começam também a ser tratadas outras problemáticas mais específicas


do empreendedorismo social, que podem ser divididas em três linhas de investigação
(Cukier, Trenholm, Carl & Gekas, 2011). Uma primeira, predominante até cerca de
meados da primeira década do novo século (Cukier et al., 2011; Nicholls, 2008)
debruça-se sobre o estudo das características individuais do empreendedor social
(Bornstein, 1998; Boschee, 1995; Drayton, 2002, 2006; Thompson, Alvy & Lees,
2000), nas suas capacidades de liderança (Alvord, Brown & Letts, 2004; Barendsen &
Gardner, 2004) ou motivações (Ármannsdóttir, 2011; Beugré, 2011; Helm, 2004; Mair
& Noboa, 2006).

Uma outra corrente de investigação analisa o processo de gestão das organizações


sociais (Alter, 2008; Bloom, 2008; Bloom & Chatterji, 2009; Bloom & Smith, 2010;

20
Leadbeater, 1997; Light, 2006a, 2008; Perrini, Vurro & Costanzo, 2010; Sharir &
Lerner, 2006; Zahra, Gedajlovic, Neubaum & Shulman, 2009). Nesta perspetiva
procura-se avaliar de que forma é que muitas das teorias gerais da gestão poderão ser
aplicadas no contexto das organizações sociais, e que ajustamentos ou novas abordagens
são necessárias. Os artigos mais recentes começam a incidir sobre áreas específicas da
gestão, como o processo de exploração de oportunidades (Cajaiba-Santana, 2010;
Corner & Ho, 2010; Guclu, Dees & Anderson, 2002), as estratégias de crescimento
(Bradach, 2003; Dees, Anderson & Wei-Skillern, 2002), a gestão de recursos em geral
(Domenico, Haugh & Tracey, 2010; Kickul, Griffiths & Gundry, 2010; Meyskens,
Robb-Post, Stamp, Carsrud & Reynolds, 2010a; Sakurai, 2008; Zeyen et al., 2013) ou a
gestão de recursos em particular, como a gestão de recursos financeiros (Chertok,
Hamaoui & Jamison, 2008; Grimes, 2010; Phillips & Hebb, 2010; Smith, Cronley &
Barr, 2012) ou recursos humanos (Parente, 2010; Parente, M. Santos, Marcos, Costa &
Veloso, 2012a; Rojão & Araújo, 2010; Royce, 2007). Outros investigadores têm
estudado o networking (Hervieux & Turcotte, 2010; Meyskens, Carsrud & Cardozo,
2010b), o relacionamento com os stakeholders (Dees, 1998; Leys, Opstal &
Gijselinckx, 2009; Roque, 2010), ou o modo como estas organizações poderão apurar e
divulgar o valor criado (Achleitner, Bassen & Roder, 2009; Bonini & Emerson, 2005;
Brest, Harvey & Low, 2009; Bull, 2007; Emerson, Wachowicz & Chun, 2001; Rotheroe
& Richards, 2007; Trelstad, 2008).

Finalmente, uma terceira linha de investigação toma como ponto de partida a teoria
macro-económica, para se focar no contexto social, económico e político, explorando de
que forma é que os diferentes contextos influenciam a emergência do fenómeno do
empreendedorismo social (Defourny & Kim, 2011; Defourny & Nyssens, 2010;
Defourny & Pestoff, 2008; Kerlin, 2010; Seelos, Mair, Battilana & Dacin, 2011; Estrin,
Mickiewicz & Stephan, 2011, 2013; Hoogendoorn & Hartog, 2011; Urbano & Ferri,
2010).

Em Portugal, seguindo a tradição europeia, o terceiro setor tem sido apontado como o
quadro de referência para a prática do empreendedorismo social (Ramos, 2004; Parente
et al., 2012a; Quintão, 2011). Em Portugal, o terceiro setor apresenta-se bastante
diversificado e heterogéneo (Ramos, 2004), sendo composto essencialmente por
organizações de muito pequena dimensão (Carvalho, 2010) e que envolve uma grande

21
variedade de formas ou estatutos jurídicos (Namorado, 2006; Perista & Nogueira,
2009).

A presença de duas orientações de fundo (económica e social) leva a que o


empreendedorismo social seja um campo intrinsecamente híbrido, que se desenvolve na
interseção dos convencionais domínios de atividade. Esta condição introduz importantes
desafios na edificação de uma estratégia e na conceção do modus operandi da
organização social. Deste modo, as preocupações principais a que se procurará
responder incluem o conhecimento dos antecedentes da criação das iniciativas de
empreendedorismo social e a compreensão da forma como os comportamentos de
gestão dos responsáveis das organizações sociais afetam desempenho organizacional.
Os objetivos que orientam a investigação são os de procurar explicar quais os fatores
pessoais e motivacionais que influenciam o desencadear da iniciativa social. Por outro
lado, interessa conhecer os comportamentos desenvolvidos no âmbito da organização
social que permitem concretizar os seus propósitos. A concretização dos dois primeiros
objetivos ajudará a explicar as diferenças de desempenho entre organizações socias, no
contexto do empreendedorismo social em Portugal.

A relevância deste estudo surge essencialmente de três fatores. Em primeiro, o


empreendedorismo social é um campo de investigação emergente, que carece da
consolidação de um corpo teórico, capaz de compreender o empreendedorismo social de
um modo holístico. Em segundo, é uma área ainda pouco conhecida em Portugal onde
são, por isso, necessários novos contributos empíricos. Por último, o empreendedorismo
social é um campo auspicioso, com elevado potencial para a resolução de problemas
sociais complexos e persistentes que as abordagens tradicionais não têm sido capazes de
solucionar, pelo que adquire peculiar importância no panorama dos fortes desafios
económicos e sociais que o país vive.

Colocado o problema central da pesquisa, procurar-se-á responder, através de uma


metodologia quantitativa, às seguintes questões de investigação:

(i) Quais os antecedentes da criação das iniciativas de empreendedorismo social em


Portugal?
(ii) De que forma os comportamentos de gestão dos responsáveis das organizações
sociais Portuguesas afetam o seu desempenho?

22
Para a exploração destas questões procedeu-se a uma revisão de literatura, estruturada
em torno de três eixos principais: (i) a compreensão do conceito de empreendedorismo
social; (ii) o conhecimento dos fatores que levam a que um indivíduo se torne um
empreendedor social; e (iii) a exploração dos principais comportamentos desenvolvidos
no âmbito da organização social com vista à prossecução do propósito da criação
sustentada de valor social.

O referencial teórico da dissertação é apresentado nos primeiros quatro capítulos da


dissertação, desenvolvendo-se, nos seguintes, a investigação empírica (figura 1).

No capítulo 1 refere-se a relevância académica da problemática a tratar, procurando-se


esclarecer três conceitos próximos presentes na literatura: empreendedorismo social,
empreendedor social e organização social. O objetivo deste capítulo foi precisar melhor
os conceitos a usar no decurso da investigação.

No capítulo 2 discute-se a racionalidade económica subjacente à emergência do


fenómeno do empreendedorismo social, sustentado na incapacidade de resposta por
parte dos agentes económicos tradicionais na produção de determinados bens ou
serviços sociais. Segue-se a análise dos traços que distinguem o empreendedorismo
social de outras áreas científicas e o afirmam como um campo de investigação
autónomo.

O capítulo 3 aborda os fatores pessoais e motivacionais que estão na base de um


comportamento socialmente empreendedor, estudando-se a influência do contexto
externo, perfil psicográfico e demográfico do indivíduo, os objetivos pessoais que
pesaram na decisão de criação da iniciativa social e a perceção pelo indivíduo de que a
iniciativa será viável.

O capítulo 4 analisa os comportamentos de gestão no interior da organização social,


examinando a importância da gestão estratégica e da gestão de recursos, sejam de
natureza tangível ou intangível, para o sucesso das organizações socialmente
empreendedoras. Avalia-se, ainda, o processo de criação de valor no empreendedorismo
social e a relevância de se medir e comunicar o desempenho alcançado aos
stakeholders.

No capítulo 5, avança-se para o desenho da investigação, onde é caracterizado o


contexto empírico (o terceiro setor em Portugal), se define o modelo de análise e se

23
deduzem as hipóteses de investigação. Segue-se a apresentação das opções
metodológicas a adotar na realização do trabalho empírico.

Figura 1- Estrutura da tese

Introdução

Capítulo 5

Desenho e metodologia da
Capítulo 1
investigação
Conceitos e relevância
científica

Capítulo 6

Apresentação e análise de
Capítulo 2
resultados
Racionalidade económica e
traços distintivos
Capítulo 7

Discussão de resultados
Capítulo 3

Fatores de promoção da
iniciativa social

Conclusões

Capítulo 4

Comportamento e
desempenho organizacionais

Fonte: elaboração própria

O capítulo 6 apresenta e analisa os principais resultados empíricos obtidos com base na


aplicação dos testes estatísticos e inferenciais, como o teste t-student, teste de Friedman,
o modelo MANOVA não-paramétrico e o teste de Kruskal-Wallis, recorrendo-se, para
efeitos de redução de dados, à análise fatorial por componentes principais.

24
No capítulo 7 são discutidos os resultados, confrontando-se o referencial teórico
anteriormente desenvolvido e os resultados empíricos de outras investigações, com os
resultados obtidos no capítulo precedente.

Na conclusão são destacados os principais resultados da investigação, apresentadas as


principais contribuições para o desenvolvimento da área científica e referidas as
implicações práticas para o poder político, as organizações sociais e os empreendedores
sociais em geral. São ainda referidas algumas das limitações do estudo, e apresentadas
pistas para investigação futura.

25
CAPÍTULO 1

EMPREENDEDORISMO SOCIAL, EMPREENDEDOR SOCIAL E ORGANIZAÇÃO


SOCIAL: CONCEITOS E RELEVÂNCIA CIENTÍFICA DO TEMA
1. EMPREENDEDORISMO SOCIAL, EMPREENDEDOR SOCIAL E

ORGANIZAÇÃO SOCIAL: CONCEITOS E RELEVÂNCIA CIENTÍFICA DO TEMA

O empreendedorismo social, enquanto práxis que integra a criação de valor económico


e social é um fenómeno antigo, embora algo esquecido do campo de investigação das
ciências sociais. A sua concetualização teórica surge apenas na década de 70 (Bacq &
Janssen, 2011; Okpara & Halkias, 2011), tendo vindo a ganhar relevância na
comunidade científica nos anos mais recentes (Mair & Martí, 2006).

Porém, o conceito de empreendedorismo social, tratando-se de um fenómeno complexo,


tem experimentado dificuldades na sua conceituação. Um dos indícios é a ausência na
literatura de uma definição única e consensual. O debate sobre o conceito tem sido
extenso, podendo-se encontrar quase tantas definições de empreendedorismo social,
como obras e autores consultados. Vários autores têm identificado as dissemelhanças
existentes entre as diferentes conceções sobre empreendedorismo social e têm
identificado e discutido os diversos significados encontrados na literatura.

O objetivo deste capítulo é discutir, delimitar e encontrar uma definição própria para os
conceitos de empreendedorismo social, empreendedor social e organização social que
serão usados ao longo da investigação. Depois, destaca-se a importância científica que o
tema tem conquistado no estrangeiro e justifica-se o interesse da sua investigação em
Portugal.

1.1 Considerações gerais em torno do empreendedorismo social


O empreendedorismo social é hoje em dia um fenómeno global e internacional (Seelos
et al., 2011; Thompson et al., 2000). Apesar de ser um fenómeno global, não adquiriu
uma uniformidade ao nível dos conceitos nas diferentes partes do mundo (Mair, 2010),
existindo importantes diferenças regionais na forma como o conceito é interpretado
(Kerlin, 2010). Assim, para se compreender o conceito na sua plenitude, ter-se-á que
tomar em consideração os fatores sociais, económicos, políticos e culturais dominantes,
que moldam a forma como as iniciativas operam e se desenvolvem (Dart, 2004; Kerlin,
2010; Sud, VanSandt & Baugous, 2009; Swanson & Zhang, 2012).

29
A literatura tem destacado o entendimento dissemelhante que tem emergido na Europa e
nos Estados Unidos da América (EUA). Ambas as localizações desempenharam um
papel essencial e pioneiro no desenvolvimento do campo do empreendedorismo social.
Nos dois casos o interesse começa a surgir na década de 90, no seio do terceiro setor
(Defourny & Nyssens, 2010; Tanimoto, 2008). Porém, o debate, ancorado em diferentes
tradições e heranças históricas, tem assumido trajetórias paralelas nos dois lados do
atlântico, com muito poucas conexões entre si até ao início do século XXI (Defourny,
2010).

Segundo Parente et al. (2012a), na tradição americana, os discursos sobre o


empreendedorismo social resultam de um contexto marcado por: (i) um papel omisso
por parte do Estado, (ii) um crescimento das necessidades sociais, e (iii) uma
intensificação da concorrência na procura de fundos por parte das organizações sem fins
lucrativos. Este facto levou a que as organizações sem fins lucrativos tivessem que
operar no âmbito da economia de mercado, onde vigora um modelo marcado pela
economia liberal (Kerlin, 2010; Witkamp, Royakkers & Raven, 2011). Por conseguinte,
a tradição americana apresenta um maior foco na geração de receitas, com o intuito de
suportar as atividades da organização, e nos objetivos imediatos, ao contrário da
tradição europeia (Kerlin, 2010).

A tradição europeia, por seu lado, tem sido edificada em torno do conceito de economia
social (Rispal & Boncler, 2010; Parente, Barbosa & Vilhena, 2012b), conceito este que
não é utilizado na tradição americana (Seanor, Bull & Ridley-Duff, 2007; Witkamp et
al., 2011). O termo de economia social é, segundo Nasioulas (2012), usado no contexto
europeu para aludir a um ramo da atividade económica autónomo, localizado entre a
esfera pública e privada. Para o autor, a economia social é encarada como o conjunto de
organizações que não são públicas, onde os seus membros operam de um modo
colaborativo, independentemente da proporção de capital detido na organização.

Na Europa, como referido por Ferreira (2000b), o empreendedorismo social tem sido
utilizado essencialmente no âmbito das organizações sem fins lucrativos. No entanto, o
conceito acomoda também a possibilidade de existência de uma finalidade lucrativa,
ainda que com limitações na forma como o excedente económico poderá ser apropriado.
A perspetiva europeia enfatiza os mecanismos internos e externos de monitorização e
controlo, designadamente através de uma gestão estratégica participativa e orientada

30
para os stakeholders, em detrimento dos mecanismos de mercado, como se verifica na
tradição americana (Parente et al., 2012b). A abordagem europeia tem colocado,
frequentemente, a ênfase na natureza coletiva do fenómeno, enquanto a tradição
americana tem realçado particularmente o conceito do empreendedor social e o facto de
os objetivos das empresas sociais se encontrarem ligados às características individuais
do empreendedor (Bacq & Janssen, 2011; Defourny & Nyssens, 2008; Seanor et al.,
2007).

Dentro da tradição americana, a literatura reconhece a existência de duas escolas de


pensamento: a escola da inovação social e a escola da empresa social. A escola da
inovação social destaca o papel individual do empreendedor social, os seus traços e
características, enquanto agente de inovação e mudança social, na linha da tradição
schumpeteriana (Bacq & Janssen, 2011). Nesta abordagem considera-se que o
empreendedorismo social é um novo veículo para se resolverem os problemas socias,
que compreende o desenvolvimento de novas ideias para a mudança social (Madill &
Ziegler, 2012). Para a escola da inovação social, a criação de valor social e a geração de
melhorias sociais sustentáveis prevalecem sobre os demais objetivos da organização,
designadamente, sobre as estratégias de geração de lucros ou de riqueza (Bacq &
Janssen, 2011). Para esta escola de pensamento, não é pelo facto de uma iniciativa
atravessar a fronteira das organizações sem fins lucrativos que se desqualifica do âmbito
do empreendedorismo social.

De um modo distinto, o enfoque da escola da empresa social destaca-se pelos modelos


coletivos de ação. É dentro da organização que ocorre a aplicação de práticas
empresariais e competências orientadas para os mercados, tendo por base o propósito
central que é a condução de uma missão social (Bacq & Janssen, 2011). A natureza
social da iniciativa é garantida pelo facto de o empreendedorismo social estar
necessariamente estruturado em torno do mundo das organizações sem fins lucrativos.
Ainda assim, para o desenvolvimento da sua atividade, estas organizações sem fins
lucrativos recorrem a estratégias de geração de rendimento através de atividades
baseadas no mercado, como forma de financiarem os seus programas de ação (Madill &
Ziegler, 2012).

31
A figura 1.1 sintetiza as principais diferenças entre as várias abordagens: a escola de
inovação social e a escola da empresa social, na tradição americana, e a tradição
europeia.

Figura 1.1 - As diferentes escolas de pensamento

Tradição Americana Tradição Europeia


Escola da Inovação Escola da Empresa
Variáveis Critérios A rede EMES
Social Social
Indivíduo 1. O empreendedor Figura central Papel secundário Ação coletiva: iniciativa
gerada por um grupo de
cidadãos
Processos 2. Missão A missão encontra- O primeiro objetivo Existe um objetivo
se no centro do do explícito de beneficiar a
processo de empreendedorismo comunidade
inovação social é a
prossecução de
objetivos sociais

3. Conexão entre a Direta Não existe nenhuma Direta: A natureza da


missão e as restrição: o atividade económica terá
atividades empreendedorismo de estar articulada com a
produtivas social consiste na missão social
implementação por
parte de organizações
sem fins lucrativos
de dinâmicas
comerciais de modo
a financiar as suas
atividades
Organização 4. A empresa De importância Central: enfatiza os Central: existência de um
secundária: atividade riscos associados aos nível significativo de
levada a cabo por rendimentos do riscos económicos
um empreendedor mercado
social

5. Formato legal Não existe uma As empresas sociais Existem algumas


restrição clara: a são organizações sem restrições: têm sido criados
escolha do formato fins lucrativos novos formatos legais para
legal deverá ser encorajar e apoiar as
determinada pela empresas sociais; Em
natureza das alguns casos socorrem-se
necessidades sociais dos formatos
a satisfazer e pela organizacionais
quantidade de tradicionais;
recursos necessários
6. Distribuição de Nenhuma restrição Existe uma restrição Limitada: de forma a
lucros de não distribuição evitar-se um
comportamento de
maximização de lucros
Fonte: Bacq e Janssen (2011)

Apesar de o contexto ter potenciado o despontar de diferentes tradições, atualmente


parece observar-se uma convergência das práticas de empreendedorismo social em
diferentes partes do mundo. As fronteiras destes modelos estão em evolução, existindo
casos em que os princípios de dois ou três modelos funcionam em simultâneo num

32
mesmo país. Mair (2011) dá o exemplo do modelo cooperativo presente nos países
Europeus, que se está a esbater e a tornar difuso com o modelo da economia liberal
presente nos EUA. Curiosamente, Parente et al. (2012a) consideram que a realidade
portuguesa se encontra próxima do conceito da escola americana e, em particular, da
escola da inovação social. Estes autores destacam os seguintes elementos
caracterizadores do empreendedorismo social em Portugal: (i) uma ênfase na figura
individual do empreendedor social; (ii) uma forte preocupação na sustentabilidade
financeira da iniciativa; (iii) a importância de se capacitar as comunidades em que
operam; (iv) a procura de soluções inovadoras para os problemas sociais; e (v) a
aplicação de conceitos de vários setores da atividade económica.

Dees e Anderson (2006) defendem, inclusivamente, que o valor máximo do


empreendedorismo social pode ser obtido através da interseção e combinação das
diferentes ideias veiculadas pelas várias correntes de pensamento. Para Parente et al.
(2013a), essa combinação de diferentes filosofias possibilitará a conceção de um novo
espaço onde se conciliem os princípios da economia social (da perspetiva europeia),
com a sustentabilidade das práticas num contexto empresarial (da perspetiva
americana).

1.2 Empreendedorismo social, empreendedor social e organização


social: discussão, delimitação e definição de conceitos
O debate no seio da comunidade científica sobre o empreendedorismo social é
relativamente recente (Bacq & Janssen, 2011; Okpara & Halkias, 2011), sendo os
últimos anos os mais importantes para o desenvolvimento das reflexões sobre o tema. O
empreendedorismo social é hoje, nas diversas partes do mundo, um ‘chavão’
(Hoogendoorn, Pennings & Thurik, 2010), pese embora se tenha tornado num dos
termos mais populares do terceiro setor, permanece segundo Light (2006b) como um
dos mais incompreendidos.

Como já se referiu, os autores não chegaram ainda a um consenso sobre aquilo que o
termo representa efetivamente (Germak & Singh, 2010; Nicholls, 2010; Zahra et al.,
2009). O Instituto de Empreendedorismo Social define, no seu portal, o
empreendedorismo social como “uma abordagem inovadora com o objetivo de melhor

33
resolver problemas sociais, com clara missão social, sustentável, passível de ser
replicada em outros contextos e com capacidade de produzir impacto social em larga
escala”. Para Alvord et al. (2004) o empreendedorismo social “cria soluções inovadoras
para os problemas sociais imediatos e mobiliza as ideias, capacidades, recursos, e os
acordos sociais necessários para a transformação social sustentável” (p. 262). Peredo e
McLean (2006) consideram que o empreendedorismo social é exercido quando uma
pessoa ou um grupo: (i) visa criar valor social; (ii) demonstra capacidade para
reconhecer e tirar vantagens de oportunidades que criam valor; (iii) empregam
inovação; (iv) estão dispostos a aceitar um nível de risco acima da média para criarem e
disseminarem a criação de valor social; e (v) são particularmente engenhosos e não se
deixam intimidar pela escassez de recursos na prossecução da sua iniciativa social. Dees
(2001) propõe uma definição “idealizada” de empreendedorismo social, na qual os
empreendedores sociais assumem o papel de agentes de mudança no setor social através
da(o): (i) adoção de uma missão para criar valor social de um modo sustentável (e não
apenas valor privado); (ii) reconhecimento e captura de novas oportunidades que sirvam
a sua missão; (iii) compromisso num processo de inovação contínua, adaptação e
aprendizagem; (iv) atuação audaciosa sem ficarem limitados aos recursos detidos num
dado momento do tempo; (v) demonstração de uma elevada prestação de contas para
com os elementos servidos e pelos resultados gerados. Para Dees (2001) os líderes do
setor social poderão expressar estas características de diferentes modos e em diferentes
graus. Quanto mais próximos estiverem de satisfazer todas estas condições, mais se
adequam ao conceito de empreendedorismo social.

Na revisão de literatura empreendida encontram-se quase tantas definições como os


autores ou obras consultados. Esta ‘confusão de conceitos’ resulta, antes de mais, do
facto de o empreendedorismo social ser um campo ainda emergente. Light (2006a)
observa que o próprio empreendedorismo económico, numa fase inicial, também se
deparou com problemas semelhantes ao nível dos conceitos, que foram clarificados com
o amadurecimento desta área do saber (Light, 2006a). O autor acrescenta ainda que esta
falta de precisão conceitual é fomentada pelo facto de o empreendedorismo social
representar uma realidade inerentemente complexa e difusa.

Choi e Majumdar (2013) advogam que o empreendedorismo social partilha das


características definidas por Walter Bryce Gallie (1956) na criação da teoria dos
conceitos essencialmente contestados, a saber: (i) uma dimensão valorativa, ancorada

34
em valores e perceções; (ii) complexidade interna; (iii) descritibilidade variada, em que
a compreensão do conceito exige a inclusão de uma referência às várias partes ou
características, sem que haja um claro princípio da hierarquia entre essas características;
(iv) abertura, admitindo-se consideráveis modificações ao conceito em função de
alterações resultantes do contexto, não sendo possível um entendimento definitivo do
seu significado; (v) utilizações agressivas e defensivas, em que cada indivíduo pode
utilizar o conceito de um modo distinto e reconhece que a sua aplicação particular do
termo pode ser contestada pelos outros utilizadores; (vi) o conceito resulta de um
exemplo original ao qual a concetualização se refere, ou deriva de um conjunto de
tradições historicamente independentes, sem semelhanças suficientes entre si; e (vii)
esforço progressivo para a melhoria dos critérios para a utilização do conceito. Para
Choi e Majumdar (2013), ao reconhecer-se que o empreendedorismo social é um
conceito essencialmente contestado, encontra uma explicação para o facto de o termo
incitar a diversos significados consoante os indivíduos, o que conduz inevitavelmente a
disputas intermináveis sobre o significado adequado. Para os autores esta situação
justifica a dificuldade em encontrar-se uma definição universal de empreendedorismo
social.

Não obstante, a construção de um claro enquadramento conceitual é considerada


importante para o desenvolvimento deste campo de estudos (Dees, 2001; Helm, 2004).
Antes de se prosseguir com o estudo de outras temáticas mais complexas, interessa
clarificar o conceito (Helm, 2004; Peredo & McLean, 2006; Weerawardena & Mort,
2006). Desta forma, permite-se que os argumentos em discussão se tornem inteligíveis,
aumentando a qualidade da investigação produzida e a legitimidade do
empreendedorismo social enquanto campo de investigação científica (Emerson &
Nicholls, 2008; Peredo & McLean, 2006).

Como é natural, as primeiras publicações científicas versaram sobre a clarificação do


conceito. Alguns artigos dedicaram-se, única e exclusivamente, a esta problemática. É o
caso dos artigos de J. Gregory Dees (2001),“The meaning of Social Entrepreneurship”,
ou de Ana María Peredo e Murdith McLean (2006), em “Social entrepreneurship: A
critical review of the concept”.

Neste contexto, revela-se importante proceder-se a uma análise do significado do


conceito de empreendedorismo social. Para tal, prosseguir-se-á com uma análise do

35
conceito e daqueles que lhe são próximos: o conceito de ‘empreendedor social’ e de
‘organização social’. O objetivo é delimitar os diversos conceitos de modo a criar uma
base comum, em torno da qual os conceitos serão usados ao longo do texto.

1.2.1 Empreendedorismo social


O empreendedorismo social traduz uma nova realidade, que conjuga, de um modo
único, duas dimensões centrais: uma orientação empreendedora e uma vertente social.
Se o empreendedorismo social representa algo de distinto face à filantropia ou às
tradicionais organizações sem fins lucrativos, deve-o à dimensão empreendedora
(Nicholls & Cho, 2008; Weerawardena & Mort, 2012). Por outro lado, é o conceito de
‘social’ que o distingue de outras formas organizacionais (P. Dacin, M. Dacin &
Matear, 2010), como as empresas privadas tradicionais. Deste modo, para se
compreender a essência do empreendedorismo social, importa analisar a forma como o
propósito social influencia o comportamento da organização e, em particular, influi na
sua dimensão empreendedora.

Muitos investigadores1 optaram por analisar, num primeiro momento, o significado


isolado de cada um dos termos estruturantes do conceito, ‘empreendedorismo’ e
‘social’, para só depois procederem a uma análise conjunta dos mesmos. Esta técnica de
análise, apesar da sua aparente linearidade, não é simples. Se por um lado, combina, a
priori, duas palavras com conotações distintas para diferentes intérpretes (Mair & Martí,
2006; Peredo & McLean, 2006; Zahra et al., 2009), por outro, exacerba o debate sobre o
conceito de empreendedorismo e social (Noruzi, Westover & Rahimi, 2010; Roger &
Osberg, 2007; Zahra et al., 2009). Consciente deste problema, esta abordagem afigurou-
se mais simples para chegar ao conceito de empreendedorismo social. Deste modo,
analisar-se-á primeiramente o conceito de ‘empreendedorismo’ lato sensu e o
significado do conceito de ‘social’, para depois se incidir sobre o conceito de
‘empreendedorismo social’.

1
Por exemplo, Dees (2001), Mair e Martí (2006), Nicholls e Cho (2008), Noruzi et al. (2010), Peredo e McLean (2006), Roger e
Osberg (2007), ou Tan et al. (2005).

36
1.2.1.1 O conceito de ‘empreendedorismo’
Em linguagem corrente ser empreendedor encontra-se frequentemente associado ao
início de um negócio privado com fins lucrativos (Dees, 2001). Todavia, para Dees
(2001) esta é uma aplicação muito pobre de um conceito que tem uma história bastante
mais rica e um significado mais abrangente. A origem do termo ‘empreendedor’
remonta aos séculos XVI e XVII, derivando da palavra francesa ‘entreprendre’, que
significa “empreender, tentar, experimentar” (W. Tan, Williams & T. Tan, 2005, p.355).
Muito embora as raízes do espírito empreendedor possam ser encontradas ainda na era
do artesanato medieval, é na era industrial que se reforça a sua importância (Kyrö,
1996).

Na literatura económica, a presença do conceito de empreendedor está, nas palavras de


J. B. Say, relacionada com a capacidade para se combinar recursos produtivos, ou,
segundo Richard Cantillon, para se aceitar correr os riscos do próprio negócio. Outros
economistas, na segunda metade do século XIX (tais como Stuart Mill, Marshall),
defendem que a função do empreendedor é a de mero gestor de recursos financeiros,
humanos e produtivos. Pelo contrário, Schumpeter (1934; 1947) destaca o papel da
inovação no surgimento do empreendedor, referindo que a essência da sua atividade não
se circunscreve somente a gerir o negócio, mas também a encontrar novas combinações
em termos de mercados, produtos, processos ou organização de recursos. O
empreendedor é assim responsável por fazer novas coisas ou coisas que já eram levadas
a cabo, mas de um novo modo, fazendo com que os padrões até então existentes se
tornassem obsoletos. Esta atividade de ‘destruição criativa’ viabiliza a criação de
oportunidades no mercado e, deste modo, a obtenção do lucro pelo empreendedor
(Schumpeter, 1934). Knight (1921) enfatiza a capacidade do empreendedor em lidar
eficazmente com o risco e a incerteza, enquanto Kirzner (1979) se centra no conceito de
oportunidade e na função de arbitragem que o empreendedor desempenha ao conduzir o
mercado para o equilíbrio.

Mantendo o foco na identificação de uma oportunidade como pretexto para o


surgimento do empreendedor, Drucker (1985) sublinha que um empreendedor não tem
necessariamente que provocar uma mudança, mas sim identificar as mudanças
existentes e explorar as oportunidades por elas provocadas. Por conseguinte, iniciar um
negócio não é condição necessária nem suficiente para se ser empreendedor, mas sim a
capacidade de identificação de uma oportunidade de mercado.

37
Stevenson (citado em Dees, 2001) acrescenta a ideia de utilização plena de recursos, na
qual os empreendedores não permitem que a exploração de oportunidades seja limitada
pelas restrições existentes ao nível da dotação de recursos. Para além disso, Liebenstein
(1968) acrescenta que o empreendedorismo é um exercício de gestão de recursos que
procura reduzir ao mínimo as ineficiências organizacionais.

Mais recentemente, Dees (2001) defende que muito embora existam várias modulações
no conceito de empreendedorismo, a de Schumpeter, que identifica o empreendedor
como um catalisador e inovador, tem servido de base para a utilização contemporânea
do termo. Kuratko, Hornsby e Goldsby (2007) falam em intensidade empreendedora,
referindo que o grau de empreendedorismo será tanto maior quanto maiores forem a
inovação, o risco e a proatividade envolvidos.

Com todo o interesse que o empreendedorismo tem suscitado na literatura académica


recente, muitas são as definições apontadas pelos diversos autores. Uma revisão
aprofundada sobre os principais precursores do empreendedorismo pode ser encontrada
em Praag (1999), e para o estudo da evolução do empreendedorismo poder-se-á
consultar Barreira (2010) ou Luiz (2010). Não obstante, a literatura económica ainda
não produziu uma definição universalmente aceite do conceito de empreendedor.

1.2.1.2 O conceito de ‘social’


O conceito de ‘social’ tem sido utilizado para descrever o desejo de beneficiar a
sociedade e os outros (Hoogendoorn & Hartog, 2011; Mair & Martí, 2006; Sharir &
Lerner, 2006), e de expressar o compromisso para com os problemas sociais e para a
procura da sua solução (Azevedo, Franco & Menezes, 2010; Corner & Ho, 2010). Para
Thompson (2002) traduz uma solução para um problema social cujos benefícios
revertem para a sociedade ou para um segmento da população (por oposição a um
indivíduo ou organização em específico). É criado valor social quando os recursos,
processos ou políticas são combinados para gerarem melhorias nos indivíduos ou na
sociedade no seu todo (Emerson et al., 2001). Quando assim é, estamos perante a
criação de valor social, aumentando dessa forma a sua utilidade para os membros da
sociedade, depois de contabilizados os recursos utilizados no desenvolvimento da
atividade social (F. Santos, 2009). Para Choi e Majumdar (2013, p.5), o conceito de
criação de valor social “envolve um ‘comportamento virtuoso’, objetivos altruístas e a

38
promoção de um propósito social, o que implica valores como liberdade, igualdade e
tolerância”.

Segundo Seelos e Mair (2005), a dimensão social é o elemento mais difícil de se definir
no conceito de empreendedorismo social. Trata-se de uma componente essencialmente
intangível, que envolve uma dimensão ‘valor’ e propósitos não necessariamente
semelhantes (Cho, 2006; Hoogendoorn, Zwan & Thurik, 2011), que se encontram
profundamente enraizados num determinado contexto. Algumas questões sociais são
relativamente unânimes, como, por exemplo, a proteção de animais, os cuidados para os
sem-abrigo, a defesa dos direitos das minorias ou a prevenção do trabalho infantil
(Seelos & Mair, 2004; Urbano & Ferri, 2010). Podemos incluir, ainda, questões
relacionadas com a melhoria ambiental, a redução de problemas de saúde, a melhoria da
nutrição, a redução de incapacidades ou a melhoria da segurança (Driver, 2012). Porém,
outros programas de cariz social não acolhem consenso. Ziegler (2010) alerta que os
propósitos sociais podem envolver categorias muito distintas, por vezes até
conflituantes, de necessidades. Tome-se, como exemplo, questões tão controversas
como o papel atribuído às mulheres em diferentes partes do globo, a problemática do
aborto ou até determinadas tradições culturais (exempli gratia, as touradas). São três
situações que ilustram que aquilo que se entende como um objetivo social ou como
produção de valor social poderá diferir de pessoa para pessoa ou de cultura para cultura.
Acresce, ainda, que o entendimento que abarca um ‘objetivo social’ pode variar ao
longo do tempo e depender de diversas localizações geográficas (Pirson, 2010; Seelos &
Mair, 2004; Urbano & Ferri, 2010).

1.2.1.3 O conceito de ‘empreendedorismo social’


Nenhum dos conceitos de ‘empreendedorismo’ e ‘social’ são novos. Para Ziegler
(2009), o que torna o empreendedorismo social único é o facto de combinar, numa
mesma realidade, dois conceitos até aqui considerados distintos. Durante muitos anos
assumiu-se que as dimensões económica e social eram opostas e mutuamente
exclusivas. De um lado, encontravam-se as organizações com um propósito social, cujo
objetivo era a melhoria do bem-estar social. Para estas, as preocupações de natureza
económica eram frequentemente omitidas e, por vezes, até mal vistas, pois considerava-
se que ao estarem presentes se estava a reduzir o valor social criado. Do outro lado,

39
existia o setor privado ou setor empresarial, cujo propósito central era a geração de
lucro, assumindo-se que a produção de bens e a prestação de serviços de natureza social
apenas contribuía para a redução do excedente económico criado. Nesta aceção, cada
um dos setores, social ou empresarial, concentrar-se-ia apenas numa das suas
dimensões, respetivamente a social ou a económica.

O conceito de empreendedorismo social vem eliminar esta dicotomia, conjugando a


criação de valor social com a criação de valor económico dentro de um nova tipologia
institucional. Esta ‘terceira alternativa’, como Yunus (2008) designa, veio demonstrar
que as dimensões social e económica não representam um jogo de soma nula, sendo
possível a sua otimização conjunta, em que um acréscimo de uma variável não implica
necessariamente uma redução da outra. O empreendedorismo social demonstra que a
criação de valor social e económico não tem que ser vista como inconsistente e
incompatível, mas sim como algo sinergético (Zhang & Swanson, 2013), onde a criação
de valor em cada uma das dimensões se reforça mutuamente, com vista à otimização do
valor total criado (Wilson & Post, 2013).

O empreendedorismo social pode, assim, ser encarado como uma construção


multidimensional, que envolve a expressão de um comportamento empreendedor para o
alcance de uma missão social (Weerawardena & Mort, 2006), caracterizando-se pela
aplicação de princípios e práticas empresariais no fornecimento de bens sociais (Abdou,
Fahmy, Greenwald & Nelson, 2010; Dees, 1998; Ziegler, 2009). Para Nissan, Castaño e
Carrasco (2012), aliado ao desejo de resolução de um problema social, encontra-se a
aplicação de um modelo de negócios inovador e a adoção de uma forte orientação para
o mercado. Esta orientação para o mercado é entendida como uma atenção para com as
forças de mercado e a tudo o que rodeia a iniciativa (o contexto), designadamente
através de uma orientação para o cliente e para a competição (Krlev, 2012). Traduz,
ainda, uma forte preocupação em termos de eficácia, eficiência e transparência, bem
como sustentabilidade e autossuficiência económica (Boschee & McClurg, 2003; Choi
& Majumdar, 2013). A inclusão de uma vertente económica é considerada instrumental,
pois é utilizada como um meio de suporte para a construção de uma resposta social
duradoura, que potencie a continuidade do exercício da missão social da organização
(Leadbeater, 1997; Morris, Coombes, Schindehutte & Allen, 2007; Rauch, Wiklund,
Lumpkin & Frese, 2009; Weerawardena & Mort, 2006, 2012). A debilidade financeira
da organização poderá resultar na incapacidade de esta prosseguir os seus programas e,

40
ipso facto, comprometer a maximização do valor social criado. Para Choi e Majumdar
(2013) a orientação para o mercado é de tal modo importante que é considerada como
parte integrante do conceito de empreendedorismo social.

O empreendedorismo social visa a criação daquilo que é apelidado na literatura como


“valor partilhado” (Porter & Kramer, 2011), “riqueza total” (Zahra et al., 2009), ou
“valor combinado” (Emerson, 2003), numa alusão ao desejo de se prosseguir a criação
simultânea de valor social e económico. Porém, a consideração conjunta destas duas
linhas de fundo representa, segundo Zahra et al. (2009, p. 527), “um perigoso
casamento entre valores opostos”. Esta dualidade traduz-se numa fonte de tensões
dinâmicas (Seanor et al., 2007), expressa numa identidade organizacional
intrinsecamente dualista (Moss, Short, Payne & Lumpkin, 2011), de tal modo
proeminente que, na aceção de Royce (2007), a essência do empreendedorismo social
reside na articulação coerente e equilibrada entre estas duas dimensões.

Um elemento central do conceito de empreendedorismo social é a criação de valor,


sendo entendida como um processo que visa de um modo exclusivo, ou pelo menos
proeminente, a criação de valor social (Dees, 1998; Peredo & McLean, 2006; Sharir &
Lerner, 2006). A criação de valor social é um pré-requisito ao conceito, e todas as
atividades e recursos da organização serão mobilizados em função desse propósito
(Alter, 2000; Choi & Majumdar, 2013). Contudo, a maioria dos autores não explicita o
que é esse ‘valor social’. Alguns invocam a “criação de valor social de algum tipo”
(Peredo & McLean, 2006, p. 64), outros referem-se à “identificação de um problema
social específico e uma solução específica... para lhe fazer face” (Robinson, 2006, p.
95), que atua, geralmente, em áreas onde permanecem necessidades sociais insatisfeitas
(Bacq & Janssen, 2011; Seelos & Mair, 2005).

O espetro de atividades levadas a cabo pelas organizações socialmente empreendedoras


é muito vasto. Estas poderão incidir sobre o fornecimento de bens e/ou serviços, o
desenvolvimento de competências, a criação de emprego ou a promoção da integração
de pessoas socialmente excluídas (Thompson et al., 2000). Historicamente, as principais
áreas sobre as quais os empreendedores sociais têm atuado são, segundo Thompson et
al. (2000): (i) redução de pobreza; (ii) cuidados de saúde; (iii) educação e formação; (iv)

41
preservação do ambiente e desenvolvimento sustentável; (v) regeneração de
comunidades; (vi) projetos de bem-estar2; e (vii) sensibilização e lobbying3;

No que respeita ao tipo de valor social criado, alguns autores restringem o


empreendedorismo social à criação de valor social para segmentos da população
desfavorecidos (Clercq & Honig, 2011; Kickul et al., 2010; Leadbeater, 1997),
enquanto outros, numa conceitualização mais abrangente, defendem a criação de valor
social para a sociedade ou para um segmento desta, independentemente dos grupos a
que se destine (sejam estes desfavorecidos ou não) (Perrini & Vurro, 2006; Seelos &
Mair, 2005, Tan et al., 2005).

A criação de valor poderá ocorrer de uma forma direta, através da disponibilização de


um produto ou serviço que satisfaça uma necessidade social, ou de um modo indireto,
através da sensibilização e consciencialização da sociedade para uma determinada
questão social (Hoogendoorn et al., 2011; London & Morfopoulos, 2010; Mair & Martí,
2006; Seelos & Mair, 2005).

O empreendedorismo social visa a criação de valor de um modo duradouro e


sistemático (Bacq & Janssen, 2011; Nicholls, 2008). Esta aspiração implica atuar não só
sobre as manifestações de um problema social, mas também sobre as suas próprias
causas, isto é, sobre os fatores que estão na origem das necessidades ou problemas
sociais (Bloom & Dees, 2008; Patel & Mehta, 2011). Consequentemente, o
empreendedorismo social poderá envolver uma alteração do sistema, através da
reconfiguração de um conjunto de fatores que estão na origem do problema social
(Light, 2006a; Patel & Mehta, 2011). Isto poderá traduzir-se, por exemplo, na
capacitação de grupos desfavorecidos, criação de condições de acesso à educação,
alteração das estruturas institucionais, acesso a tecnologias da comunicação ou a capital
financeiro (Osborne, 2011; Parente et al., 2013a).

O tipo de atuação é encarado como uma característica distintiva do empreendedorismo


social face às tradicionais iniciativas sociais, que se focam na satisfação das
necessidades mais urgentes à medida que estas vão surgindo. Ao invés da criação de
relações de dependência e de uma provisão unilateral de soluções, o empreendedorismo
social aspira à criação das condições que permitam que as pessoas consigam ultrapassar
2
Como, por exemplo, programas para a criação de emprego para desempregados ou sem abrigo, e projetos contra o abuso de álcool
e drogas.
3
Tais como a promoção dos direitos do homem ou o movimento do Comércio Justo.

42
os seus próprios problemas sociais (Clercq & Honig, 2011; Mair, 2010; Parente et al.,
2013a). Osborne (2011, p. 15), inspirado no discurso de Bill Drayton, compara a
filosofia do empreendedorismo social ao provérbio chinês: “Dá-lhe um peixe, e
alimentá-lo-ás por um dia; ensina-o a pescar, e alimentá-lo-ás para a vida”;
argumentando que para o empreendedorismo social não será suficiente ensinar os
pobres a pescar se estes não forem capazes de adquirir o equipamento de pesca ou não
tiverem acesso ao rio. Assim, não basta “dar o peixe” ou “ensinar a pescar” (como se
caracteriza a atividade das tradicionais organizações sociais), “os empreendedores
sociais (…) não descansarão enquanto não revolucionarem por completo a indústria da
pesca” (Bill Drayton, fundador e CEO da Ashoka, no portal institucional da
organização).

O discurso de Martin e Osberg (2007) corrobora com esta visão, para quem o
empreendedorismo social se consubstancia no desenvolvimento de uma nova
proposição de valor social, que desafia um injusto equilíbrio, forjando a criação de uma
nova situação de equilíbrio que assegure um futuro melhor para um segmento de
indivíduos ou para a sociedade no seu todo.

Como a figura 1.2 ilustra, a criação de mais valor social implica que os empreendedores
sociais, numa perspetiva schumpeteriana de ‘destruição criativa’, desafiem
continuamente os equilíbrios sociais vigentes e encontrem novas formas de criação de
valor social. É através desta abordagem inovadora e disruptiva que os empreendedores
sociais, enquanto instigadores de mudança, são capazes de aumentar o bem-estar geral
da sociedade e produzir transformações sociais duradouras (Murphy & Coombes, 2008;
Weerawardena & Mort, 2012).

Figura1.2 - Processo de criação de um novo equilíbrio dinâmico

Empreendedor
Equilíbrio Ideia Novo
Estratégia
existente Oportunidade equilíbrio
Organização

Fonte: Light (2008)

43
O âmbito de atuação dos empreendedores sociais não reúne também consenso entre a
comunidade académica. Para Light (2006a), para que uma iniciativa se qualifique
dentro do âmbito do empreendedorismo social será suficiente que atue numa
determinada comunidade. Para outros, as iniciativas deverão ter o potencial para
transformarem a inovação social a uma escala local, regional, nacional (Martin &
Osberg, 2007), ou até internacional (Babu & Pinstrup-Andersen, 2009). Para estes
últimos, a capacidade de replicar o modelo de resposta e de disseminar o modelo de
criação de valor social são consideradas fundamentais. Frumkin (2013) defende que a
mudança social pode começar a ser instigada localmente, embora os empreendedores
sociais mais ambiciosos concebam as suas operações de modo a que possam crescer ou
ser replicadas, para que os seus programas atinjam um número cada vez maior de
pessoas. Para o autor, este foco na escala é uma característica dos empreendedores
sociais, pois estes reconhecem que nenhuma solução de pequena dimensão será
suficiente para se fazer face a problemas complexos e persistentes.

Na clarificação daquilo que o empreendedorismo social representa, alguns autores


debruçaram-se sobre o momento a partir do qual uma iniciativa poderá ser denominada
como socialmente empreendedora. Martin e Osberg (2007) e Noruzi et al. (2010)
partilham da opinião de que uma iniciativa só poderá ser qualificada como tal após ter
comprovado o sucesso dos seus programas, sendo necessária a passagem de um lapso
de tempo suficiente para que se possam demonstrar os resultados e impacto
proporcionados. Peredo e McLean (2006) e Tan et al. (2005), pelo contrário, definem o
empreendedorismo social numa perspetiva ex-ante, baseando-se na ideia de que o
empreendedorismo social pode contemplar quer situações de sucesso quer de insucesso.
Para estes autores a ‘intenção’ de criar valor é suficiente para que uma iniciativa seja
considerada como socialmente empreendedora. Esta posição encontra suporte no
conceito de assunção de riscos, citado na literatura como um dos elementos do
comportamento empreendedor (Morris, Webb, & Franklin, 2011b). Quando se assume
um risco está a admitir-se que os resultados reais poderão ser diferentes dos resultados
esperados, seja para melhor ou para pior.

No que respeita à orientação empreendedora, a conceitualização de empreendedorismo


social invoca frequentemente três comportamentos chave4: a inovação, a proatividade e

4
Por exemplo, Dees (2001), Morris et al. (2011), Peredo e McLean (2006), Weerawardena e Mort (2006), Yunus (2008) ou Zahra
et al. (2009), entre muitos outros.

44
a assunção de riscos. A inovação traduz a predisposição do indivíduo para experimentar,
para se envolver em processos criativos e para explorar ideias (Moss et al., 2011; Rauch
et al., 2009). Este comportamento coaduna-se com o conceito de empreendedorismo
social enquanto processo de criação de soluções inovadoras e de aplicação de novas
abordagens ao nível de todos os processos organizacionais que potenciem a criação de
valor, tais como descoberta de oportunidades, disponibilização de produtos,
mobilização e combinação de recursos, criação de novas fontes de receitas, conceção de
estruturas organizacionais ou relacionamento com as entidades interessadas (Helm &
Anderson, 2010; Parente et al., 2013a).

Em termos de empreendedorismo social a inovação é encarada como ‘inovação social’,


na medida em que estas abordagens inovadoras são adotadas com o intuito de resolução
de um problema social, por oposição à criação de riqueza económica (Hulgård, 2010;
Mort, Weerawardena & Carnegie, 2003). A inovação poderá ser radical (quando
envolve uma invenção absoluta que rompe com as ideias vigentes), ou incremental
(quando resulta do aperfeiçoamento dos modelos existentes ou da adaptação de
novidades lançadas por outros indivíduos) (Peredo & McLean, 2006; Weerawardena &
Mort, 2012; Witkamp et al., 2011). Na verdade, as práticas socialmente inovadoras,
mais do que inovações radicais, consubstanciam-se em novas combinações de
elementos já existentes (Parente et al., 2013a; Ziegler, 2009). Como sugerido por Jeff
Skoll (2008), os empreendedores sociais adotam uma abordagem única que é, em
simultâneo, evolutiva e revolucionária. O que se pretende é a resolução, persistente e
sustentável, de um problema social que, com uma atuação convencional, não seria
possível (Light, 2008; Mair, 210; Seelos & Mair, 2009). Porém, tal como Okpara e
Halkias (2011) acautelam, a vontade de inovar não resulta de uma explosão única de
criatividade, antes fazendo parte do modus operandi dos empreendedores.

A proatividade, por outro lado, traduz a capacidade da organização em desenvolver e


implementar as suas inovações, em responder às oportunidades de mercado e em moldar
o ambiente para seu próprio benefício (Blesa & Ripollés, 2003; Morris et al., 2011b).

Por fim, a capacidade para assumir riscos exprime-se na aptidão e predisposição por
parte da organização, ou do empreendedor, para se envolver em atividades que
impliquem incerteza e para as quais existe alguma probabilidade de falha (Moss et al.,
2011; Rauch et al., 2009). Para Lukeš e Stephan (2012), estabelecer e conduzir uma

45
organização envolve muitas incertezas, pelo que apenas pessoas capazes de aceitar
riscos se irão comprometer com o empreendedorismo. No empreendedorismo social a
tomada de riscos resulta da adoção de medidas ousadas e agressivas, que são
desenvolvidas com o intuito de explorar oportunidades capazes de criar valor social
(Morris et al., 2011b; Peredo & McLean, 2006).

A revisão de literatura revela, ainda, no que respeita à caracterização do comportamento


empreendedor, a importância atribuída à exploração de oportunidades e à gestão de
recursos. O conceito de oportunidade, central ao empreendedorismo, é invocado em
muitas das definições de empreendedorismo social. Para Zahra et al (2009, p. 522) o
empreendedorismo social “compreende as atividades e os processos subjacentes à
descoberta, definição, e exploração de oportunidades de modo a aumentar a riqueza
social”. Segundo George (2009), os empreendedores sociais visam a deteção de
oportunidades que outros falharam em descobrir, melhorando assim os sistemas,
inventando novas abordagens e criando soluções para melhorar a sociedade. Todavia,
para a exploração de oportunidades e para o desenvolvimento das suas atividades, as
organizações necessitam de um conjunto de recursos. Na definição daquilo que é o
empreendedorismo social alguns autores salientam a capacidade de mobilização de
recursos, bem como a capacidade de inovação na sua utilização (Leadbeater, 1997; Mair
& Martí, 2006; Mair & Noboa, 2006). O empreendedorismo social é ainda definido pela
capacidade de utilização eficiente de recursos, num contexto pautado pela sua escassez.
Para Peredo e McLean (2006) as pessoas que exercem o empreendedorismo social são
extraordinariamente engenhosas, não se deixando intimidar pela escassez de recursos na
prossecução da sua iniciativa social.

Alguns autores defendem que, subjacente ao fenómeno do empreendedorismo social,


está a criação de uma organização (Friedman & Desivilya, 2010; Murphy & Coombes,
2008; Robinson, 2006). Para Friedman e Desivilya (2010, p. 495), o empreendedorismo
social é visto como “uma variedade de práticas e discursos que envolvem a criação de
organizações novas e inovadoras ou empresas que satisfaçam as necessidades
humanas”.

Outros autores, pelo contrário, defendem que a criação de uma nova organização não é
uma condição sine qua non para a existência de empreendedorismo social (Mair &
Martí, 2006; Mair & Noboa, 2006; Weerawardena & Mort, 2006). Esta posição é

46
evidente no discurso de Zahra et al. (2009, p. 522), para quem a criação de valor social
poderá ocorrer “através da criação de novos empreendimentos ou da gestão das
organizações existentes de um modo inovador”. Para estes, embora ocorra,
frequentemente, a criação de uma organização, não é um objetivo per si, pois traduz
apenas uma possível expressão do empreendedorismo social. Segundo Light (2008), o
empreendedorismo social poderá igualmente ter lugar através de uma iniciativa
desenvolvida dentro da estrutura de uma organização já existente
(intraempreendedorismo social) ou até através de uma atuação completamente informal.

Uma outra questão levantada na literatura diz respeito ao domínio a que o


empreendedorismo social pertence. Alguns autores remetem o conceito de
empreendedorismo social para o mundo das organizações sem fins lucrativos (Dees,
Emerson & Economy, 2001; Schuyler, 1998; Yunus, 2008; 2011). Para estes a
utilização de práticas empreendedoras e a adoção de técnicas de geração de rendimentos
deverão ser levadas a cabo única e exclusivamente com o intuito da prossecução de uma
missão social. Assim, qualquer excedente económico gerado deverá reverter na íntegra
para a prossecução dos objetivos sociais ou para benefício do público-alvo da
organização, não podendo de modo algum ser apropriado pelos proprietários da
organização (Boschee & McClurg, 2003; Parente et al., 2012b; Parente et al., 2013a;
Peredo & McLean, 2006).

De uma forma distinta, outros alargam o âmbito das iniciativas de empreendedorismo


social para além do setor sem fins lucrativos (Austin et al., 2006; Dees, 1998; Dees &
Anderson, 2006). Porém, mesmo no seio daqueles que defendem que o
empreendedorismo social não se restringe ao setor sem fins lucrativos, não existe um
entendimento consensual. Alguns autores, como Defourny e Nyssens (2010) ou Tan et
al. (2005), sustentam que a distribuição de lucros deve ser limitada, devendo ser dada
prioridade aos objetivos sociais, o que significa que uma parte do benefício pode ser
apropriada pelo público-alvo da organização. Austin et al. (2006), por sua vez,
preconizam a possibilidade de uma total distribuição do excedente criado,
nomeadamente através do mercado de capitais. Deste modo, as organizações podem
incluir atividades que têm um objetivo expresso de rentabilidade desde que essas
atividades sejam secundárias em relação àquelas que servem diretamente a missão da
organização.

47
Daqui se depreende que, independentemente do papel do lucro no conceito de
empreendedorismo social, o que importa é a existência da missão social que a
organização pretende alcançar. Na aceção de Myers e Nelson (2010), a escolha do
formato legal, sem fins lucrativos versus com fins lucrativos, é uma decisão estratégica
que deverá ser fundamentada com base naquele formato que melhor potencie o alcance
da missão e objetivos da organização.

No conceito de empreendedorismo social alguns autores adotam uma perspetiva


individualista, centrando-se na figura do indivíduo que despoleta e conduz as iniciativas
socialmente empreendedoras (o empreendedor social) (Alter, 2000, 2006; Alvord et al.,
2004; Bornstein, 1998; Boschee, 2001; Dees, 2001; Drayton, 2002; Leadbeater, 1997;
Thompson, 2002). Esta visão, considerada tradicional, enfatiza o papel do fundador, dos
seus traços e características pessoais, e é mais comum numa fase inicial da investigação,
predominante até 2004 (Nicholls, 2008). Todavia, alguns autores criticam a ênfase,
considerada exagerada, que é colocada sobre o papel ‘heroico’ dos empreendedores
sociais (Light, 2006a; Nicholls, 2008). Estes criticam a personificação do fenómeno do
empreendedorismo social, defendendo que esta é uma visão limitadora e restritiva, que
representa apenas ‘a ponta do iceberg’ de um processo complexo. De acordo com Light
(2008), esta visão individualista não captura todo um conjunto de inter-relações que são
fulcrais para o empreendedorismo social. O empreendedorismo social é o resultado de
uma equipa ou de um grupo de pessoas que colaboram com o intuito de aplicarem
princípios empresariais à resolução de problemas sociais, e não do domínio exclusivo de
um único indivíduo (Christie & Honig, 2006; Montgomery, P. Dacin & M. Dacin,
2012). Assim, para alguns investigadores (CASE, 2008; Harding & Cowling, 2006;
Houtbeckers, 2011; Stryjan, Högskola & Sweden, 2006) torna-se necessário incluir uma
abordagem coletiva ou organizacional, que contemple a equipa e a organização que
rodeiam e apoiam o empreendedor social. Para outros, por sua vez, o
empreendedorismo social pode ser exercido quer numa perspetiva individual quer
coletiva (Brouard & Larivet, 2010; Mair & Martí, 2006; Peredo & McLean, 2006).

Desta análise conclui-se que o debate do conceito é bastante extenso e complexo. Nesta
secção destacaram-se as principais linhas orientadoras que têm sido debatidas ao longo
destes anos de investigação. Uma síntese das definições de empreendedorismo social
consultadas encontra-se em anexo (anexo 1.1). De seguida apresenta-se um conceito
próprio de empreendedorismo social, que será usado ao longo da investigação.

48
1.2.1.4 Empreendedorismo social: uma definição
Com base na revisão de literatura realizada define-se empreendedorismo social como o
processo de identificação, avaliação e exploração de oportunidades sociais, através da
adoção de modelos inovadores e de práticas empreendedoras com vista à criação de
valor social de um modo sustentável.

Esta definição tem implícitos os seguintes pressupostos:

- A criação de uma nova organização não é uma condição sine qua non para se estar
perante uma situação de empreendedorismo social. Aquilo que releva é a adoção de uma
postura empreendedora, que permita a construção de um modelo de negócio sustentável
e que explore uma necessidade social que não está a ser devidamente satisfeita. Assim, a
ênfase é colocada no processo, ou seja, no conjunto de atividades que permitem a
conversão de meios num resultado social. O empreendedorismo social poderá, portanto,
representar uma atividade individual ou coletiva. Assinala-se unicamente a cultura e a
orientação empreendedora do(s) indivíduo(s) que conduzem os destinos da iniciativa;

- O conceito de oportunidade social é central, pois o propósito social deverá ser


explícito e primordial em todas as suas atividades. Contudo, não é propositadamente
colocada qualquer restrição em relação ao tipo de questão social a explorar. Esta poderá
assumir um caráter bastante diversificado e não terá que se cingir a grupos
desfavorecidos da sociedade;

- O empreendedorismo social é encarado como um conceito ex-ante. Não se considera


que seja necessária a demonstração de resultados para que uma iniciativa se possa
caracterizar como socialmente empreendedora. O empreendedorismo social envolve a
assunção de riscos e, como tal, uma organização socialmente empreendedora poderá, ou
não, ser bem-sucedida. Não será pelo facto de num determinado momento do tempo
uma iniciativa não atingir os seus propósitos que se desqualificará do âmbito do
empreendedorismo social.

- O empreendedorismo social não se restringe ao campo do setor sem fins lucrativos. No


conceito proposto deliberadamente não se impõe qualquer restrição ao nível da
possibilidade de geração de rendimento ou de apropriação de um eventual excedente
económico. Aquilo que releva é a aplicação de uma orientação empreendedora a uma

49
atividade de natureza social. Porém, a dimensão social será central à organização e
sobrepor-se-á a qualquer outra dimensão. A figura 1.3 apresenta a definição em termos
gráficos.

Figura1.3 - O empreendedorismo social enquanto processo

OPORTUNIDADE
SOCIAL

CONJUNTO DE RESULTADO SOCIAL


RECURSOS SUSTENTÁVEL
-Dimensão social
Comportamento empreendedor +
-Dimensão económica

Fonte: elaboração própria

O empreendedorismo social é um fenómeno complexo que envolve realidades distintas


e heterogéneas. Na construção deste quadro conceitual pretendeu-se traçar as linhas
gerais que edificam este conceito, construindo um referencial suficientemente flexível
para poder abarcar, numa única definição, uma configuração de contornos diversos.

1.2.2 O conceito de empreendedor social


Após uma revisão da literatura sobre o significado do conceito de empreendedorismo
social, procede-se agora à clarificação de um outro conceito próximo: o de
‘empreendedor social’. Trata-se de um termo recente, apenas cunhado no final da
década de 90 (Korosec & Berman, 2006), que assume um papel de destaque na temática
do empreendedorismo social (Light, 2008). Para Leadbeater (1997), o empreendedor
social é o núcleo central do empreendedorismo social, sem o qual nenhum projeto
poderia ser desencadeado. Na literatura muitos têm sido aqueles que procuraram
clarificar o seu significado, compreendendo de que forma é que este se diferencia do
conceito de empreendedor económico (Austin et al., 2006; Bacq, Hartog, Hoogendoorn,
& Lepoutre, 2011; Lukeš & Stephan, 2012).

50
De uma forma geral, os empreendedores sociais são entendidos como os atores que
desenvolvem as atividades de empreendedorismo social. Para Light (2005, p. 50) “Um
empreendedor social é um indivíduo, grupo, rede, organização ou aliança de
organizações que procuram soluções sustentáveis, ou mudanças em larga escala através
de uma rotura com as ideias padrão que os governos, organizações sem fins lucrativos,
ou empresas utilizam para resolver problemas sociais significativos.”

Os empreendedores sociais são vistos como um grupo distinto de pessoas, “uma espécie
dentro do género do empreendedor” (Dees, 2001, p. 2), que apresentam características
individuais raras (Drayton, 2002). As suas competências e comportamentos são
semelhantes aos empreendedores económicos, embora dispondo de uma forte missão
social e sendo orientados por objetivos sociais (Dees, 2001; Jack, Steinerowski &
Farmer, 2008; Thompson, 2002; Zahra et al., 2009).

Os empreendedores sociais são indivíduos com uma visão social arrojada e um


poderoso desejo de mudança social (Schuyler, 1998), sendo agentes de mudança e de
inovação na procura da concretização da sua visão (Bornstein, 2007; Parente et al.,
2013a), que colocam o seu talento empreendedor ao serviço da resolução de problemas
sociais (Drayton, 2002).

Alguns autores, na definição do termo, enfatizam o seu caráter individual (Bornstein,


2007; Brouard & Larivet, 2010; Martin & Osberg, 2007; Schuyler, 1998; Thompson et
al., 2000). Para estes, o empreendedor social é entendido como a “pessoa” (Boschee &
McClurg, 2003, p. 4; Thompson et al., 2000, p. 328) ou “indivíduo” (Korosec &
Berman, 2006, p. 449; Schuyler, 1998, p.1), “alguém que” (Martin & Osberg, 2007,
p.39), “qualquer indivíduo que” (Brouard & Larivet, 2010, p. 45), ou “indivíduo ou
entidade” (Tan et al., 2005, p. 358). No entanto, alguns autores consideram que o
conceito poderá compreender não só as atuações individuais como também as coletivas,
(Korosec & Berman, 2006; Light, 2006a; Peredo & McLean, 2006), sendo entendidos
como “indivíduos ou organizações” (Korosec & Berman, 2006, p. 449), “grupo, rede,
ou aliança de organizações” (Light, 2005, p. 50).

Algumas definições enfatizam os atributos e traços pessoais do empreendedor social,


como sendo pessoas com talento, enérgicas, pragmáticas, criativas, e com um forte
sentido ético (Drayton, 2002), ambiciosos (Leadbeater, 1997), com coragem (Martin &
Osberg, 2007), visionários, apaixonadamente comprometidos com uma causa social,

51
determinados, proativos e resilientes (Beugré, 2011; Guclu et al., 2002; Mort et al.,
2003; Nicholls, 2008; Roberts & Woods, 2005; Yunus, 2011; Zahra et al., 2009). Para
Bacq et al. (2011), os empreendedores tendem a ser pessoas particularmente confiantes,
em especial no que diz respeito à avaliação dos seus próprios conhecimentos e
capacidades, designadamente os necessários para desencadear uma iniciativa.

Outros autores, questionando os traços individuais dos empreendedores sociais


enquanto elemento explicativo do sucesso, destacam as suas atitudes e comportamentos
(Light, 2006b; Mair & Martí, 2006; Seelos & Mair, 2005). A definição de
empreendedor social de Dees (2001), anteriormente citada, enquadra-se nesta
abordagem comportamental5.

Os empreendedores sociais apresentam um sentimento de compromisso para com a


justiça social (Roberts & Woods, 2005), partilham uma profunda crença na sua
capacidade para alterar a sociedade (Bornstein, 1998; Drayton, 2002) e caracterizam-se
por uma forte visão e experiência coletiva (Clamp & Alhamis, 2010). Para Barendsen &
Gardner (2004), revelam ainda uma grande capacidade para inspirar e motivar outras
pessoas a juntarem-se ao seu projeto.

Os empreendedores sociais podem também ser entendidos como estrategas (Light,


2006a) e com uma forte capacidade de análise, planeamento e de exploração de
oportunidades, que lhes permitem alcançar os seus propósitos sociais (Dees, 2001;
Guclu et al., 2002; Nicholls, 2008; Tracey & Phillips, 2007). Estes empreendedores
procuram utilizar em pleno os recursos disponíveis (Light, 2006a), detendo uma
capacidade de reunir, alocar, utilizar e alavancar recursos (Alvord et al., 2004;
Leadbeater, 1997; Reis, 1999; Thompson et al., 2000). Os empreendedores sociais
possuem, ainda, uma capacidade para identificar recursos que se encontram
subvalorizados, demonstrando uma forte capacidade de liderança transformacional e de
comunicação, quer com os seus colaboradores quer com os stakeholders em geral
(Leadbeater, 1997; Nicholls, 2008; Okpara & Halkias, 2011; Ruvio, Rosenblatt &
Hertz-Lazarowitz, 2010; Schmitz & Scheuerle, 2012; Thompson et al., 2000). Para

5
Para Dees (2001) os empreendedores sociais bem-sucedidos apresentam as seguintes características: (i) a adoção de uma missão
para criar valor e sustentar valor social (e não só o valor privado); (ii) reconhecer e procurar ativamente novas oportunidades para
servir essa missão; (iii) comprometer-se num processo de contínua inovação, adaptação e aprendizagem; (iv) atuar energicamente
sem se limitar aos recursos detidos num dado momento do tempo; (v) demonstração de uma elevada prestação de contas para com
as entidades servidas e os resultados criados;

52
Grayson, McLaren e Spitzeck (2011), a sua capacidade de comunicação, combinada
com um profundo conhecimento do negócio, propicia a conquista da confiança e adesão
dos seus colaboradores e stakeholders ao seu projeto. Os empreendedores sociais
beneficiam de uma capacidade de aprendizagem e adaptação contínua (Dees, 2001) e
apresentam uma forte capacidade de construção de alianças e networks (Nicholls, 2008;
Roberts & Woods, 2005). São orientados para os resultados e revelam uma forte
capacidade de autocorreção (Bornstein, 2007; Dees, 2001; Light, 2006a).

Para Chell (2007), a capacidade para se ser empreendedor social é algo de estritamente
inato. Brooks (2009), por sua vez, defende que apesar de determinados indivíduos
poderem deter, de um modo natural, aptidões mais propensas para um comportamento
socialmente empreendedor, essas características poderão ser promovidas e estimuladas.

Tan et al. (2005) atribuem uma interpretação diferente ao conceito de empreendedor


social. Para estes autores, a qualificação de um indivíduo como empreendedor social
não se aplica ad aeternum. Um indivíduo apenas deverá ser apelidado como
empreendedor social durante os períodos de tempo em que tenta gerar benefícios para a
sociedade ou para um segmento desta, através da inovação e presença de risco (ibidem).
Esta definição corrobora a posição de que os empreendedores sociais são agentes de
mudança. O facto de se ser empreendedor social, mais do que um ‘estatuto’, representa
assim um compromisso para com as ações sociais.

No anexo 1.2 é apresentado um compêndio das definições usadas de empreendedor


social.

1.2.2.1 Empreendedor social: uma definição


Após uma revisão da literatura ao conceito de ‘empreendedor social’, pode-se definir o
empreendedor como um ator, individual ou coletivo, que inspirado por um desejo de
mudança social, orienta os seus esforços para a conceção e concretização de uma
iniciativa empreendedora que viabiliza a resolução de um problema social.

A definição proposta encontra-se ancorada nos seguintes pressupostos:

- O empreendedor social pode ser uma entidade individual ou coletiva, que canaliza a
sua energia no sentido da prossecução de uma missão social. Como tal, o conceito deixa

53
deliberadamente em aberto a possibilidade de o empreendedorismo social ser levado a
cabo por um único indivíduo ou por um conjunto de indivíduos;

- É o propósito social que traduz a razão de ser da iniciativa do empreendedor social e o


desenvolvimento dos seus esforços;

- O empreendedor social visa a criação de um resultado social de uma forma sustentável


e duradoura, através de um comportamento empreendedor.

1.2.3 Organização social


Após se ter desenvolvido, nas secções anteriores, uma revisão da literatura em torno do
significado dos conceitos de ‘empreendedorismo social’ e ‘empreendedor social’,
procede-se agora à análise de um outro conceito chave - o de ‘organização social’.

O conceito de empresa social foi introduzido nos Estados Unidos da América (EUA),
no final de 1978, por Peter Drucker, aquando da defesa da responsabilidade ética das
empresas (Trivedi, 2010). Na Europa, o conceito surge em Itália, em 1990, para
expressar uma esfera de organizações situadas entre o Estado e o mercado (Ferreira,
2009). No entanto, em virtude da existência de diferentes tradições históricas e
estruturas jurídico-institucionais, o conceito não ganha o mesmo reconhecimento em
todos os países europeus (Defourny & Nyssens, 2008; 2010; Lambru, 2012)6.

As organizações sociais são entendidas como organizações privadas que se dedicam à


resolução de problemas sociais, com o intuito de criarem valor social de um modo
sustentável (Dees, 1998; Mair & Martí, 2006; Pirson, 2010). Segundo Haugh (2007),
trata-se de um termo utilizado para descrever uma variedade de organizações que
realizam atividades comerciais com um propósito social. As organizações sociais são
vistas como entidades privadas, de caráter híbrido, que ultrapassam a fronteira entre o
mundo empresarial, o mundo das organizações sem fins lucrativos e o mundo das
organizações públicas (Costa, Andreaus, Carini & Carpita, 2012). Estas organizações
procuram proporcionar mudanças para melhorar o bem-estar da sociedade (Diochon &
Anderson, 2011), sendo os seus propósitos sociais alcançados, ainda que parcialmente,

6
Para uma análise da evolução e expressão das empresas sociais nas várias regiões da Europa, consultar Defourny e Nyssens
(2010) ou Travaglini et al. (2009).

54
através da adoção de soluções de índole empresarial e de um envolvimento nos
mercados (Haugh, 2007; Travaglini, Bandini & Mancinone, 2009).

Alguns autores remetem as organizações sociais para o âmbito das organizações sem
fins lucrativos, considerando que os potenciais excedentes económicos deverão ser
reinvestidos na própria organização (Defourny & Nyssens, 2008; Gata, 2010; Harding
& Cowling, 2006; Seanor et al., 2007). Outros (Mair, 2010; Swanson & Zhang, 2012),
por seu turno, consideram que a estrutura legal é irrelevante para a definição do
conceito de organização social. Para estes autores, as organizações sociais caracterizam-
se não pelo seu estatuto legal, mas sim pela sua natureza, pois prosseguem uma missão
social e visam criar benefícios comunitários, independentemente do seu estatuto legal, e
com diversos níveis de autossuficiência financeira, inovação e transformações sociais
(Brouard & Larivet, 2010).

Uma das definições mais conhecidas e citadas de organização social é a proposta pela
European Research Network (EMES). Esta rede de investigação criada, em 1996,
dedicou-se à definição de um conjunto de critérios para a identificação de organizações
suscetíveis de serem designadas como ‘empresas sociais’. Os indicadores definidos não
visavam estabelecer um conjunto rígido de condições necessárias para a qualificação da
organização enquanto empresa social, mas sim de construir um referencial tipo sobre
aquilo que seria considerado uma empresa social ideal (Defourny & Nyssens, 2010). O
conjunto de indicadores está dividido em duas dimensões: a económica e
empreendedora; e a social. Segundo Parente, Lopes e Marcos (2012c) esta divisão é
consonante com o entendimento da EMES de que as empresas sociais são organizações
sem fins lucrativos, que visam a prossecução de objetivos sociais através da adoção de
atividades económicas e comerciais. Assim, para a EMES, a dimensão social das
organizações sociais é refletida nos seguintes critérios (Defourny & Nyssens, 2010;
Parente et al., 2013a):

- A existência de um objetivo concreto de beneficiar a comunidade ou um grupo


específico de pessoas;

- Ser criada voluntariamente por um grupo de indivíduos, com propósitos comuns;

- Promover o processo de tomada de decisão com base no princípio de ‘um membro, um


voto’, e não com base nos direitos resultantes da propriedade do capital;

55
- Gestão participativa, baseada na participação e envolvimento dos stakeholders;

- Remuneração limitada de capital, através de uma limitada distribuição de lucros.

A dimensão económica e empreendedora é, para a EMES, expressa pelos quatro


critérios que se seguem (Defourny & Nyssens, 2010; Parente et al., 2012c):

- Uma atividade contínua de produção de bens e/ou venda de serviços;

- Um elevado grau de autonomia em relação às entidades públicas e privadas;

- Presença de um nível significativo de risco económico;

- Existência de uma quantidade mínima de trabalho remunerado.

Os critérios relativos à dimensão social explicitam claramente a necessidade da


existência de um objetivo social. Por outro lado, enfatizam a dimensão coletiva e a
liberdade de pertença dos membros da organização social, que é criada,
voluntariamente, por pessoas pertencentes a uma comunidade ou a um grupo que
partilham uma necessidade ou objetivo bem definido. A natureza coletiva é também
refletida nos processos de tomada de decisão e de gestão, que são levados a cabo de
uma forma participada, democrática e inclusiva, não baseada na propriedade de capital
dos seus membros (Defourny & Nyssens, 2010). O envolvimento e participação dos
seus membros estendem-se também aos stakeholders relevantes da organização social.

De acordo com a dimensão económica e empreendedora, as organizações sociais


encontram-se diretamente envolvidas na produção de bens e na prestação de serviços,
numa base contínua. Esta atividade produtiva representa segundo Chell, Nicolopoulou e
Karataş-Özkan (2010) uma das principais razões para a existência da empresa social.
No desenvolvimento das suas atividades as empresas sociais e os seus membros
assumem riscos, dependendo a sua viabilidade da capacidade de os seus elementos
gerarem e assegurarem os recursos adequados, bem como da adoção de um processo
empreendedor que consiga gerir o risco e a incerteza. Para operarem, as organizações
sociais precisam de um conjunto de recursos, de entre os quais os recursos humanos.
Apesar de não lhe estar vedada a possibilidade de utilização de voluntários, a proposta
da EMES defende que as organizações sociais deverão ter uma presença, não marginal,
de colaboradores assalariados.

56
A limitação da possibilidade de distribuição de lucros, e a correspondente apropriação
pelos seus proprietários, pretende enfatizar a primazia dos objetivos sociais. No
entendimento da EMES, esta limitação poderá ser total ou apenas parcial (como
acontece, por exemplo, no caso das cooperativas) (Defourny, 2010). Pretende-se, no
entanto, evitar comportamentos de maximização do lucro.

A EMES considera que as organizações sociais são criadas por um grupo de pessoas na
base de projetos autónomos que, muito embora possam receber subsídios públicos, são
independentes em relação ao Estado, não sendo geridas direta nem indiretamente por
autoridades públicas ou por outras organizações, ao contrário daquilo que se verifica nas
organizações sem fins lucrativos tradicionais (Chell et al., 2010; Defourny, 2010;
Defourny & Nyssens, 2010).

No anexo 1.3 pode ser encontrada uma listagem dos conceitos discutidos neste
apartado.

1.2.3.1 Organização social: uma definição


Após a análise da literatura, propõe-se que o conceito de organização social seja
definido como o de uma organização ou entidade onde são adotadas técnicas e práticas
empresariais com o intuito primário de criação de valor social e de impacto social
positivo e sustentado. Neste sentido, o conceito de organização social diz respeito à
unidade organizacional onde é cristalizado o empreendedorismo social. Como tal, é aí
que se reúnem os recursos, são instituídas atividades e aplicadas práticas
empreendedoras para a prossecução de uma missão social. Apesar do
empreendedorismo social não implicar necessariamente a criação de uma nova
organização, é necessário algum suporte institucional, ainda que num suporte
organizacional já existente.

Esta definição sublinha a dimensão coletiva do conceito, sendo em torno da unidade


organizacional que ocorre a agregação de um conjunto de recursos, com o intuito da
criação de valor social, e onde se potencia a criação de sinergias. Pretende-se a criação
de valor social de uma forma sistematizada e sustentável, sendo para tal adotada uma
abordagem empreendedora.

57
A definição proposta não faz, deliberadamente, qualquer alusão ao formato legal, apesar
de se defender que o interesse económico deve subordinar-se ao interesse social.
Considera-se, portanto, que o formato legal não é uma característica de relevo na
definição do conceito de organização social.

1.3 Relevância científica do tema


Apesar de na história económica recente serem muitos os casos que poderiam ser
qualificados como de empreendedorismo social, a verdade é que estes surgem como
ilhas nas palavras de Drayton (2006), ou como fenómenos isolados para Mair e Martí
(2006). Apenas a partir da década de 80 se observa no setor social uma rotura estrutural,
com o reconhecimento crescente da necessidade de profissionalização da área social e
da necessidade de adoção de um comportamento empreendedor para a resolução de
problemas sociais que, até então, eram, na sua maioria, abordados através das lógicas
tradicionais do setor sem fins lucrativos. Verifica-se, ainda, a partir daí, uma
intensificação do número de organizações socialmente empreendedoras, bem como uma
ampliação do alcance destas iniciativas (Bacq & Janssen, 2011; Mair, 2010; Okpara &
Halkias, 2011). Estudos empíricos indicam que em alguns países o empreendedorismo
social cresce a uma taxa superior à verificada no empreendedorismo empresarial
(Harding & Cowling, 2006).

Do ponto de vista científico, o conceito surge na década de 70, com a introdução de


‘empreendedor social’ por Joseph Banks (Nicholls, 2008). Banks (1972) (citado em
Nicholls, 2008; Thompson et al., 2000) socorre-se deste conceito para expressar que os
problemas sociais poderiam ser resolvidos através de práticas de gestão. A partir desta
ideia surgem as primeiras investigações sobre o tema e a produção científica começa a
crescer a um ritmo exponencial (Dees, 1998; Leadbeater, 1997; Lehner & Kansikas,
2011). Os primeiros artigos científicos publicados assumem uma orientação
essencialmente conceitual, procedendo a uma descrição do empreendedor social, das
suas ações, e a uma tentativa de explicação do fenómeno do empreendedorismo social
(Alter, 2000; Bornstein, 2007; Hoogendoorn et al., 2010; Hoogendoorn et al., 2011).
Um dos artigos mais citados, e que fornece um contributo concetual significativo para o
campo do empreendedorismo social é da autoria de J. Gregory Dees (2001), “The
meaning of Social Entrepreneurship”.

58
Com o virar do século ocorre um expressivo crescimento na produção de artigos sobre
empreendedorismo social e assiste-se a uma alteração do seu conteúdo. A partir de
2006, são publicados os primeiros estudos empíricos (Christie & Honig, 2006), a que se
segue uma forte produção científica ao longo dos últimos anos. Não obstante, muitos
autores advogam que os estudos empíricos são ainda escassos, representando menos de
metade dos artigos publicados (Hoogendoorn et al., 2010; Short, Moss & Lumpkin,
2009). Apesar disso, em 2006, Chris Steyaert e Daniel Hjorth (2006), estimam que 75%
dos artigos tenham sido publicados entre 2002 e 2005. Do mesmo modo, Lehner e
Kansikas (2011) sugerem que a quantidade de novos artigos em jornais quase que
triplicou entre o período de 2005 a 2007 e de 2008 a 2010. Segundo (Desa, 2007), esta
intensificação na produção científica demonstra que o empreendedorismo social se
tornou num campo de estudo com um interesse emergente, que parece estar a ganhar
proeminência no seio da comunidade científica.

Os artigos sobre empreendedorismo social têm sido publicados em revistas de diferentes


domínios científicos, como gestão, empreendedorismo, ciência política, economia,
marketing, sociologia, ou educação (Short et al., 2009). Com menor expressão,
assinalam-se as publicações em revistas da área da antropologia, finanças, direito, ética
ou psicologia (Ziegler, 2009).

Em termos geográficos, a investigação foi numa fase inicial conduzida nos Estados
Unidos e na Europa (Hulgård, 2010), onde, ainda hoje, se constata uma forte
concentração da produção científica e da realização de estudos empíricos (Short et al.,
2009). A partir de 2009, verifica-se um alargamento da investigação a outras áreas
geográficas, como a Ásia, a África ou países da América Latina (Borzaga & Galera,
2012; Defourny, 2010). Esta diversidade geográfica é vista por Short et al. (2009) como
um indicador do caráter global que a investigação em empreendedorismo social está a
alcançar. Segundo o relatório de 2009 do Global Entrepreneurship Monitor (GEM)
(Terjesen, Lepoutre, Justo & Bosma, 2012), os EUA e os países europeus são as regiões
com um maior nível de atividade socialmente empreendedora. As regiões com menor
nível de atividade são, segundo o mesmo relatório, o sudeste asiático, África, Caraíbas e
América Latina (Terjesen et al., 2012).

Com o aumento do interesse por parte da comunidade científica, não é de estranhar que
comecem a surgir números especiais de revistas dedicados ao empreendedorismo social,

59
como, em 2003, o “The International Journal of Entrepreneurship Education”, em
2006, o “The Journal of World Business”, em 2007, o “China Economic Review”, em
2008, o “The International Journal of Entrepreneurial Behaviour and Research”, ou o
“Emergence: Complexity and Organization”, em 2008. Em 2010, a revista
“Entrepreneurship Theory and Practice” consagra uma edição especial ao
empreendedorismo social, ocorrendo o mesmo com a revista “International Review of
Social Research”, em 2012. Aparecem igualmente revistas científicas especializadas no
tema, como “The Social Enterprise Journal”, em 2005, ou o “Journal of Social
Entrepreneurship”, em 2010. Os working papers, muitos deles levados a cabo por
prestigiadas escolas internacionais de gestão, têm também desempenhado um
importante papel na produção de conhecimento científico (Nicholls, 2009a).

A temática do empreendedorismo social estendeu-se, ainda, a vários tipos de


instituições, com especial destaque para as instituições de ensino superior (Defourny &
Nyssens, 2010). Desde a criação da Social Enterprise Initiative, em 1993, pela Harvard
Business School, que as principais universidades se têm envolvido na criação de
programas de formação e na criação de centros de investigação (Christie & Honig,
2006; Defourny & Nyssens, 2010). Atualmente, a maioria das melhores escolas de
negócio têm cursos e projetos sobre empreendedorismo social (Nicholls, 2008). A oferta
educacional recente alarga-se a uma variedade de instituições de ensino, incluindo, por
exemplo, escolas de política pública ou de engenharia (Pache & Chowdhury, 2012).
Estimativas indicam que, em 2011, existiam mais de 148 instituições a lecionar pelo
menos uma disciplina de empreendedorismo social no seu campus (Worsham, 2012) e
que, em 2008, havia mais de 350 professores, em mais de 35 países, a lecionar ou
investigar sobre o tema (Moss & Gras, 2012). Parente, Costa e Diogo (2013b) apontam
para a existência, em 2012, de 250 instituições de educação, formação e investigação
orientadas para o empreendedorismo social.

Desde a década de 80, após o papel pioneiro da Ashoka (organização internacional que
visa promover o empreendedorismo social), que várias fundações têm surgido com o
intuito de desenvolverem programas de apoio (Defourny, 2010). Na União Europeia, a
Comissão, desde cedo, reconheceu a importância do empreendedorismo social. Este é
considerado como uma das pedras angulares do modelo social europeu, encontrando-se
intimamente ligado com a Estratégia Europa 2020 (Jornal Oficial da União Europeia,
2011). Como forma de promoção e apoio, a Comissão Europeia lançou, em 1996, a rede

60
internacional de investigação European Research Network, uma plataforma que reúne
centros de investigação sobre a economia social.

Para além do forte compromisso científico, o empreendedorismo social tem suscitado


algum protagonismo nos media. Prestigiados jornais, como o “Financial Times” ou o
“The Economist”, cobrem agora de um modo regular o empreendedorismo social por
todo o mundo (Nicholls, 2008). Um outro reconhecimento resulta da atribuição do
prémio Nobel da Paz a empreendedores sociais. Um dos casos mais mediáticos foi a
atribuição do Prémio Nobel a Muhammad Yunus, conhecido como o “pai do
microcrédito” que, em 2006, foi laureado pelo seu esforço em promover o
desenvolvimento económico das classes sociais mais desfavorecidas. No entanto, este
prémio já havia sido atribuído a outros “empreendedores sociais”, como Henri Dunant,
fundador da Cruz Vermelha Internacional, que recebeu, em 1901, o primeiro Prémio
Nobel da Paz. Mais recentemente, em 2004, o prémio foi atribuído à queniana Wangari
Maathai, ambientalista e ativista dos direitos humanos.

1.3.1 A relevância científica em Portugal


Em Portugal o empreendedorismo social é ainda uma área de investigação emergente,
cujo interesse surge apenas no virar do século. De facto, é a partir de 2007, um ano após
a atribuição do prémio Nobel da Paz a Muhammad Yunus, que o tema começa a captar
a atenção da comunidade académica e da sociedade em geral, de uma forma crescente e
consolidada. Os primeiros trabalhos de investigação são oriundos essencialmente da
área da sociologia, como são o caso de Quintão (2004a; 2004b; 2004c; 2011) ou
Ferreira (2005; 2006). Entretanto, o interesse estende-se a outras áreas disciplinares,
como a economia (Afonso, 2010; 2011), o direito (Namorado, 2006), ou o ensino (C.
M. Santos, Guedes & Fonseca; 2012b).

Em 2010, foi iniciado um projeto de investigação intitulado “Empreendedorismo Social


em Portugal: as políticas, as organizações e as práticas de educação/formação”, liderado
pelo Instituto de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e
financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Este projeto de investigação,
com a duração de 3 anos, visa refletir sobre o conceito de empreendedorismo social em
Portugal, sob três vertentes: (i) político-institucional; (ii) organizacional; e (iii)
educação e formação. Como produto do projeto, em término, começam a ser publicados

61
alguns artigos científicos7. No âmbito da rede EMES, foi fundado, em 1992, o Centro
de Estudos para a Intervenção Social (CESIS), com as primeiras publicações a
incidirem sobre o estudo da pobreza em Portugal. Desde então, este centro tem
procurado aprofundar e ampliar o âmbito da investigação, direcionando a sua pesquisa
para a problemática da marginalização/exclusão social.

Em 2010, o grupo Vida Económica, reconhecendo a escassez de livros sobre gestão


aplicados ao setor sem fins lucrativos, lança o livro “Gestão de Organizações Sem Fins
Lucrativos”. Este resulta num compêndio de um conjunto de textos diversificados sobre
importantes temáticas na área da gestão deste tipo de organizações. Em 2011, é lançado
o primeiro número da revista Impulso Positivo, uma revista bimensal que tem como
propósito criar uma plataforma de encontro entre organizações sem fins lucrativos,
empresas e instituições públicas. Após uma edição experimental, no final de 2010, é
lançado, em maio de 2012, o primeiro número da revista “Focus Social - Revista da
Economia Social”, uma revista semestral cuja missão é “selecionar, coligir e dar a ler
notícias, reportagens, e histórias que gravitem em volta de todas as organizações de
economia social” (Focus Social, 2012, p. 4).

Ao nível do ensino, Portugal não se afasta da tendência verificada ao nível


internacional, em que diversas instituições de ensino superior têm criado programas de
formação nesta área de conhecimento. Parente et al. (2013b), no artigo “Mapeamento da
oferta de educação, formação e investigação na área do empreendedorismo social”,
estimam a existência, em 2012, de quinze programas de oferta formativa pós-graduada
(sete mestrados e oito pós-graduações), evidenciando ainda uma forte atividade ao nível
da oferta de ações de formação contínua, que incluem palestras, congressos e ações de
formação. A mesma investigação indica uma tendência para o aumento da oferta
formativa em empreendedorismo social.

A nível institucional, é criado, em 2008, o Instituto de Empreendedorismo Social (IES),


uma organização sem fins lucrativos, que tem como missão “trabalhar com
organizações e indivíduos excecionais e comprometidos para identificar, apoiar, formar,
promover e ligar iniciativas de alto potencial, inspirando e capacitando para um mundo
melhor”, conforme publicado no seu portal institucional. Este instituto desenvolveu uma

7
Refira-se, como exemplo, Parente, Costa, M. Santos, & Amador, C. (2011), Parente, M. Santos, Marcos, Costa, & Veloso (2012a),
Parente, Barbosa, & Vilhena (2012b), Parente, Lopes, & Marcos. (2012c), Parente, Costa, M. Santos, & Amador (2013a) ou
Parente, Cruz, Marcos, Pais, & Martinho (2013c).

62
metodologia, designada de ES+, que visa a identificação e mapeamento de iniciativas
socialmente empreendedoras em Portugal com elevado potencial de transformação
social e ambiental (Megre, Martins & Salvado, 2012). O objetivo deste projeto é a
identificação de soluções inovadoras que possam ser replicadas em outras regiões e/ou
países, e identificar as necessidades dos empreendedores sociais, para que o IES possa
conceber os programas de formação e capacitação necessários (ibidem). O IES, aliado à
escola de negócios INSEAD, desenvolve formação na área do empreendedorismo social
a dois níveis: (i) para aqueles que pretendam lançar um novo projeto de
empreendedorismo social (Bootcamp), e (ii) para aqueles que liderem uma iniciativa
com missão social (ISEP).

Em 2010, foi criada a Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES),
que tem por missão “reconhecer, promover, dinamizar, cooperar, fortalecer e qualificar
o setor da economia social”, como o consta do portal da CASES.

Todos estes esforços e ações têm contribuído para o aumento da relevância científica e
prática do empreendedorismo social no nosso país, e têm permitido, segundo Parente et
al. (2012a), que Portugal se insira no panorama internacional das reflexões sobre o
empreendedorismo social.

1.4 Síntese
Neste capítulo foi possível observar que o empreendedorismo social, apesar de ser um
conceito relativamente recente, traduz uma realidade que, embora com uma menor
expressão, sempre existiu. As últimas décadas trouxeram consigo uma atenção crescente
para este campo que envolve a aplicação de diferentes abordagens empreendedoras à
resolução de problemas sociais.

Não existe, na literatura, uma definição universalmente aceite sobre o significado de


empreendedorismo social, de empreendedor social e de organização social. No entanto,
através de uma revisão de literatura aos diversos conceitos, pretendeu-se estudar as
principais linhas de orientação veiculadas. Para cada um dos conceitos foram elaboradas
definições próprias, visando-se estabelecer um conjunto de significados comuns sobre
os quais será desenvolvida a investigação. ‘Empreendedorismo social’, ‘empreendedor
social’ e ‘organização social’ são três conceitos chave e interrelacionados.

63
Neste estudo, o empreendedorismo social é entendido como a prática e processo de
conversão de um conjunto de recursos para a prossecução de um objetivo social, ao qual
se aliam técnicas empresariais, com o intuito de maximizar a capacidade de criação de
valor social e gerar um impacto social sustentado. No conceito de empreendedor social
encontra-se a personificação do espírito do empreendedorismo social e o motor para que
todo o processo se inicie. É o empreendedor social, movido por uma causa social, que
vai desenvolver um modelo de negócio socialmente empreendedor, que envolve a
criação da iniciativa onde serão desenvolvidos todos os comportamentos
organizacionais subsequentes, como a estratégia empreendedora ou a gestão dos
recursos disponíveis.

Para a prossecução dos seus propósitos é necessário um conjunto de meios que o


empreendedor social agrega numa unidade organizacional (ainda que informal) - a
organização social. O conceito de organização social diz respeito à entidade
‘institucional’ na qual é desenvolvido o processo de empreendedorismo social, e onde
interagem os recursos (financeiros, humanos, etc.) e os atores (um ou mais
empreendedores sociais). A definição de organização social proposta não tem qualquer
pretensão jurídica, visando apenas expressar o domínio organizacional onde são
desenvolvidas todas as atividades inerentes ao processo que é o empreendedorismo
social. No presente estudo, utilizar-se-á, preferencialmente, o termo de organização
social, embora na literatura outros termos próximos sejam usados de um modo
indistinto, como é o caso de empresa social e organização socialmente empreendedora.

Finalmente, justifica-se a relevância científica do tema escolhido e a importância que


este tem assumido, quer ao nível da produção científica, quer ao nível da criação de
programas de formação em prestigiadas escolas de negócios, ou da realização de um
número significativo de fóruns de debate e de discussão.

64
CAPÍTULO 2

EMPREENDEDORISMO SOCIAL: RACIONALIDADE ECONÓMICA E TRAÇOS


DISTINTIVOS
2. EMPREENDEDORISMO SOCIAL: RACIONALIDADE ECONÓMICA E TRAÇOS
DISTINTIVOS

No capítulo anterior procedeu-se à clarificação dos conceitos de empreendedorismo


social, empreendedor social e organização social. Delimitados os conceitos, é objetivo
deste capítulo estudar o alinhamento dos argumentos económicos que justificam a razão
de ser do fenómeno complexo que é o empreendedorismo social e analisar os traços que
distinguem o empreendedorismo social enquanto praxis.

Para atingir esse propósito, o capítulo estrutura-se em quatro secções. Uma primeira
explora as falhas de mercado que dão origem ao aparecimento e afirmação do
empreendedorismo social e que justificam a racionalidade económica para a sua
emergência. Numa segunda secção analisa-se a posição dos vários autores quanto à
independência do empreendedorismo social enquanto área de investigação autónoma a
que se segue, numa terceira secção, a delimitação das fronteiras setoriais do
empreendedorismo social, em diferentes localizações geográficas, importante para que
este adquira a legitimidade de que necessita para que se possa afirmar como um campo
autónomo de investigação. A encerrar o capítulo, analisam-se os traços distintivos do
empreendedorismo social que edificam o seu caráter sui generis.

2.1 Racionalidade económica e empreendedorismo social


A teoria económica tem sugerido que em condições de mercado perfeito os agentes
económicos ao prosseguirem o seu próprio interesse, expresso em termos de
maximização do lucro, estão a contribuir para a otimização do valor criado na
sociedade.

Os agentes económicos mostram disponibilidade para produzir um determinado bem ou


serviço desde que o preço que irão receber, como contrapartida da transação, lhes
permita remunerar os fatores de produção envolvidos. Por outro lado, os indivíduos
estarão dispostos a comprar esse bem ou serviço desde que a utilidade que o seu
consumo lhe proporciona justifique o respetivo preço. Os mecanismos de mercado
levarão a uma situação de equilíbrio entre o lado da oferta e da procura, de tal forma que
aquilo que é procurado será aquilo que será produzido (Westall, 2009). Neste ponto,

67
conhecido como equilíbrio de Pareto, qualquer reafetação de recursos não permitirá
melhorar o bem-estar da sociedade em geral. Numa situação de equilíbrio, a satisfação
de uma pessoa apenas poderia aumentar à custa da redução da satisfação de outra pessoa
(Frank, 2013; Samuelson, Samuelson & Nordhaus, 2011). Por isso, nenhuma reafetação
de recursos permitiria o alcance de uma situação mutuamente benéfica para as partes,
sendo as forças de mercado suficientes para maximizar o bem-estar da sociedade no seu
todo, não havendo lugar para a intervenção do Estado ou para a presença de
organizações sem fins lucrativos (Bahmani et al., 2012). Porém, as premissas de um
mercado em concorrência perfeita nem sempre se verificam (F. Santos, 2009), sendo
mais comum a existência de falhas, o que leva a que um modelo estritamente
dependente dos mecanismos de mercado nem sempre consiga alcançar uma situação de
maximização do valor para a sociedade. É este o contexto económico que justifica a
emergência das iniciativas de cariz social.

2.1.1 As falhas de mercado


A literatura tem destacado a presença de imperfeições no mercado, que se relacionam
com as externalidades, os bens públicos, a forte assimetria na distribuição de
rendimentos e nas assimetrias de informação (Nissan et al., 2012; Noruzi et al., 2010;
VanSandt, Sud & Marmé, 2009).

a) Externalidades

As externalidades traduzem áreas em que o preço de um bem ou serviço não é capaz de


representar todos os impactos associados à transação (F. Santos, 2009). Existem outros
custos (no caso das externalidades negativas) ou benefícios (no caso das externalidades
positivas), que não se encontram refletidos no preço definido entre o comprador e o
vendedor, com base nas leis de mercado. É, por exemplo, o caso de bens que
contribuem negativa ou positivamente para a poluição ou para o desenvolvimento de
uma população. Neste contexto, as decisões dos agentes económicos, tomadas com base
no preço da transação, não resultam numa solução que maximiza o bem-estar da
sociedade no seu todo. Na presença de externalidades negativas a decisão, não ótima,
traduz-se na sobreprodução e sobreconsumo de atividades que proporcionam
consequências negativas. A presença de externalidades positivas resulta na subprodução
de bens ou serviços que criam valor para a sociedade (Frank, 2013; F. Santos, 2009).

68
b) Bens públicos

Os bens públicos traduzem áreas em que após a sua produção todos os indivíduos
poderão usufruir dos seus benefícios. São, exempli gratia, o caso da iluminação pública
ou da segurança nacional. Estaremos perante um bem-público puro se (Samuelson et al.,
2011): (i) o consumo do bem por um indivíduo não conduzir a uma diminuição da sua
quantidade disponível (princípio da não rivalidade no consumo); e (ii) a partir do
momento em que o bem é produzido não é possível ou desejável excluir o seu consumo
por parte dos indivíduos que não paguem o produto ou serviço (princípio da não
exclusividade). Dees (1998) acrescenta ainda, que nem sempre é fácil identificar quem
são efetivamente os elementos que se pretendem beneficiar com uma determinada
atividade. O autor dá alguns exemplos - quem são os beneficiários de um projeto de
proteção de baleias? As próprias baleias, a sociedade em geral ou as gerações futuras?
Quem serão os beneficiários de um programa de redução de criminalidade? Como
poderão os beneficiários pagar os respetivos custos? Neste contexto, nenhum
consumidor racional estará disposto a pagar por um bem de que poderá usufruir
gratuitamente (K. Hart, Laville & Cattani, 2010). Por consequência, o setor empresarial,
ao não conseguir capturar os respetivos benefícios económicos, não terá qualquer
incentivo à produção e disponibilização desse bem (Hart et al., 2010; Samuelson et al.,
2011).

c) Distribuição de rendimentos fortemente assimétrica

Num contexto de mercados perfeitos, quanto maior for a utilidade que um indivíduo
atribui ao consumo de um bem, maior será a contrapartida monetária que este estará
disposto a oferecer. Assim, quanto maior for o ‘valor de uso’ percebido, maior será o
‘valor de troca’ que estarão dispostos a atribuir à transação. Neste cenário, os
consumidores irão pagar um preço que consideram ‘justo’ (ou adequado) face à mais-
valia que um bem é capaz de proporcionar. Todavia, a existência de fortes
desigualdades na sociedade leva a que determinados segmentos da população, embora
careçam de certos bens, não disponham da capacidade financeira que lhes permita pagar
um preço que cubra os respetivos custos (Dees, 1998; Noruzi et al., 2010). Este facto
conduzirá à não concretização de uma transação capaz de criar valor para a sociedade
no seu todo, ou poderá levar a que um determinado segmento de mercado seja
qualificado, pela iniciativa privada, como não atrativo. Para Teasdale (2009a) esta

69
situação resultará num nível de atividade subdimensionado ou, no limite, à não
existência do próprio mercado.

d) Assimetria de informação

A assimetria de informação traduz uma situação em que uma das partes envolvidas
numa transação possui, quantitativa ou qualitativamente, mais informação do que os
restantes elementos envolvidos (Committee Nobel Prize, 2001)8. Num contexto de
eficiência informacional, todos os agentes económicos dispõem de “informação
oportuna, completa e simétrica, excluindo-se a existência de informação privilegiada”
(Marques, 2008, pp. 1-2). Na presença de assimetrias de informação, os agentes
económicos favorecidos do ponto de vista informacional poderão ter um incentivo em
atuar oportunisticamente e tirar partido de consumidores mal informados (Vlassopoulos,
2009). Os consumidores em presença de um processo de tomada de decisão revestido de
grande dificuldade e complexidade, procuram minimizar os riscos e incertezas
envolvidos na transação, preferindo as organizações que lhe pareçam mais credíveis
(Díaz-Foncea & Marcuello, 2012; Nissan et al., 2012).

Como tal, os problemas de assimetria de informação são particularmente relevantes em


situações em que os consumidores não estão bem informados em relação à qualidade de
um serviço, quando a sua qualidade é de difícil mensuração ou quando a transação
envolve serviços pessoais complexos (Vlassopoulos, 2009; Wallis, 2005).

2.1.2 A resposta das organizações sem fins lucrativos e o espaço para as


iniciativas de empreendedorismo social
Na ausência de mercados perfeitos, o livre confronto entre a oferta e a procura não é, só
por si, capaz de gerar uma afetação de recursos ótima conducente à maximização do
bem-estar da sociedade (Bahmani et al., 2012). Para atenuar as ineficiências, os
governos, através dos impostos cobrados aos agentes económicos, redistribuem esses
valores passando a assegurar a provisão de determinados bens e serviços com o intuito
de colmatar as falhas do mercado (F. Santos, 2009; Swanson & Zhang, 2012). Porém, a
resposta do Estado nem sempre é suficiente. Por um lado, a sociedade é cada vez mais

8
O Prémio Nobel da economia de 2011 foi atribuído a George Akerlof, Michael Spence, e Joseph Stiglitz, como reconhecimento
dos seus trabalhos de investigação sobre a assimetria de informação.

70
diversificada e fragmentada, o que torna difícil a aplicação de uma resposta única e
coesa por parte do Estado, muitas vezes orientado para as necessidades dos eleitores
medianos (Leadbeater, 1997; Nissan et al., 2012). Por outro lado, os recursos do Estado
são escassos para o conjunto de funções para o qual é solicitado (F. Santos, 2012),
sendo atualmente agravado pela crise de dívida soberana com que alguns países se
deparam, como é o caso português. Finalmente, o modelo concebido pelo Estado em
alguns países, como no caso dos países da Europa Ocidental e Estados Unidos, baseia-
se num conjunto de pressupostos que não têm suporte na realidade atual (Leadbeater,
1997)9. Assim, as respostas tradicionais por parte dos Estados têm-se mostrado
insuficientes e insustentáveis para se abordar de uma forma adequada uma variedade
crescente de problemas sociais. Nicholls (2008) sublinha que o Estado, enquanto
prestador de serviços sociais, é muitas vezes visto como ineficiente na utilização dos
recursos.

Para além daquilo que se referiu, um conjunto de fatores contextuais levou a um


aumento dos problemas sociais. A globalização trouxe consigo uma ‘explosão’ de
novos desequilíbrios económicos e problemas sociais, tais como o desemprego ou
trabalho precário, a alteração das estruturas familiares e do estilo de vida, as alterações
demográficas, o crescimento das desigualdades económicas, ou problemas como o
aquecimento global e a sustentabilidade ambiental (Nicholls, 2008; Travaglini et al.,
2009; Trivedi & Stokols, 2011; Zahra, Rawhouser, Bhawe, Neubaum, & Hayton, 2008).
Mais recentemente a crise dos sub-prime nos Estados Unidos e a subsequente crise
financeira e económica a nível mundial, agravaram, ainda mais, os desequilíbrios
económicos e sociais existentes.

O desajustamento entre a oferta e a procura de bens sociais revela uma capacidade de


resposta insuficiente para com os problemas sociais vigentes (Yunus, 2011). É
sobretudo a partir da década de 70/80 que a chamada “outra economia”, ou economia
social, começa a ganhar um papel de destaque na procura de soluções para os problemas
sociais que se encontram sem resposta (Díaz-Foncea & Marcuello, 2012; Travaglini et
al., 2009). As organizações do terceiro setor começam a atuar em áreas que até então
eram levadas a cabo exclusivamente pelo Estado Social, tais como serviços sociais,
saúde, educação ou ambiente (Travaglini et al., 2009). Como Vasconcelos (2010)

9
Como, por exemplo, o conceito de pleno emprego, de famílias estáveis e a estrutura etária da população (Leadbeater, 1997).

71
refere, o conceito de Estado de Bem-Estar (Welfare State) é, assim, substituído por o de
uma Sociedade de Bem-Estar (Welfare Society). Estas novas organizações mobilizam
indivíduos com o intuito de fornecerem bens que não são disponibilizados em
quantidade ou qualidade suficientes, seja pela iniciativa privada ou pelo setor público
(Certo & Miller, 2008; Urbano & Ferri, 2010; Swanson & Zhang, 2012). Como
explicam alguns autores, com base na teoria da falha institucional, é a incapacidade por
parte das instituições vigentes que fundamenta a existência de organizações sem fins
lucrativos (Estrin et al., 2011; Nissan et al., 2012; Parente, Lopes & Marcos, 2012c).
Porém, estas organizações da sociedade civil também se têm deparado com importantes
alterações e desafios ao longo dos últimos tempos.

As últimas décadas caracterizam-se por um aumento muito expressivo no número de


organizações sem fins lucrativos, que não se fez acompanhar por um aumento
equivalente dos fundos doados pela sociedade (Boschee & McClurg, 2003;
Hoogendoorn et al., 2010; Weerawardena & Mort, 2006; 2012). Deste modo, a
concorrência por recursos aumentou por parte deste tipo de instituições, o que as
obrigou a ser mais eficientes e a adotar uma postura mais empreendedora (Hoogendoorn
et al., 2011; Trivedi & Stokols, 2011; Weerawardena & Mort, 2012). Este novo modelo,
que alia um comportamento empreendedor a uma orientação para o bem-estar social,
emerge como resposta aos problemas sociais complexos que permanecem
negligenciados ou sem uma solução eficaz (Hoogendoorn et al., 2011; Nicholls, 2008).

A Figura 2.1 procura sistematizar graficamente as explicações económicas para o


aparecimento do empreendedorismo social.

Como se pode observar, o aparecimento e desenvolvimento do empreendedorismo


social é justificado por alterações contextuais e institucionais que conduziram a um
desajustamento entre o nível de oferta e de procura social e por ineficiência no
fornecimento de bens sociais. A racionalidade económica subjacente ao surgimento do
empreendedorismo social é assim fundamentada pela teoria da falha institucional ou do
empreendedorismo institucional. Na aceção de DiMaggio (1998) (citado por Mair &
Martí, 2009), o empreendedorismo institucional é visto como um processo através do
qual os atores organizados, com recursos suficientes, criam instituições quando veem
uma oportunidade para satisfazer os interesses da sociedade em geral. Do mesmo modo,
os empreendedores sociais, ao reconhecerem a falta de instituições capazes de

72
resolverem um determinado problema social, reúnem os recursos necessários com o
intuito de procederem à criação de valor social. Por isso, as iniciativas socialmente
empreendedoras tendem a localizar as suas atividades em ambientes inóspitos, em áreas
onde os mercados apresentam disfunções ou onde existe um potencial limitado para a
apropriação de valor (Domenico et al., 2010; Hoogendoorn et al., 2011; Mair & Martí,
2006). Adicionalmente, o facto de estas organizações terem uma missão eminentemente
social é entendido como um sinal de credibilidade para os mercados caracterizados por
falhas informacionais (Díaz-Foncea & Marcuello, 2012; Nissan et al., 2012).

Figura 2.1- Racionalidade económica para o aparecimento do empreendedorismo social

Existência de mercados
imperfeitos

 Concorrência imperfeita
 Externalidades e bens públicos
 Forte assimetria na distribuição de
rendimentos Atuação por parte do Estado
 Assimetria de informação

 Fornecimento de bens públicos;


 Regulação, correção de falhas de
mercado;
 Atuação como player no mercado; falha

- Inexistência de mercado
Necessidades sociais
- Mercado com falhas funcionais

Atuação por parte das


organizações sem fins falha
lucrativos
Oportunidade
 Fornecimento de bens e serviços;
 Recursos obtidos essencialmente social
através de donativos e subvenções;
 Atua como player no mercado

Empreendedorismo
Social

Fonte: elaboração própria

73
2.2. Uma área de investigação autónoma?
A literatura reconhece o empreendedorismo social como uma área do conhecimento
dentro do domínio das ciências sociais (Quintão, 2004a). O seu desenvolvimento é,
enquanto área de investigação, tributário de muitos dos conceitos e da terminologia do
empreendedorismo tradicional, replicando com os ajustamentos necessários a evolução
teórica e empírica do empreendedorismo económico (Dorado, 2006; Mair & Martí,
2006; Williams, 1999).

Por esse motivo, para uns o empreendedorismo social afigura-se como um subcampo
dentro do âmbito do empreendedorismo em geral (Brouard & Larivet, 2010; Dacin et
al., 2010; Dees, 1998; 2001; Miller & Wesley, 2010), defendendo que, apesar das suas
especificidades, são mais as semelhanças do que as diferenças entre o
empreendedorismo económico e social (Massetti, 2008). Rosengard (2004) defende que
ao adicionar o sufixo ‘social’ ao termo ‘empreendedor’ está simplesmente a criar-se um
subconjunto de empreendedores, designadamente um subconjunto de empreendedores
com uma missão social explícita e central. Esta posição é notória no discurso de Dees
(1998; 2001), para quem os empreendedores sociais são uma espécie dentro do género
do empreendedor, pelo que o empreendedorismo social deve ser construído dentro da
forte tradição teórica do empreendedorismo. Do mesmo modo, Lukeš e Stephan (2012),
fundamentando-se em resultados empíricos que indicam que os dois tipos de
empreendedores (económicos e sociais) embora conduzidos por motivos diferentes
apresentam um perfil similar, qualificam os empreendedores sociais como um subgrupo
de empreendedores. Esta posição corrobora com a de Dacin et al. (2010), que atribuem
o domínio teórico do empreendedorismo social ao contexto do empreendedorismo em
geral, onde este poderá usufruir dos pressupostos, conhecimentos e estruturas existentes.
Os mesmos autores defendem que, ao reclamar a construção de um domínio teórico
próprio, distinto do empreendedorismo económico, estão a desperdiçar-se as
oportunidades e o valor que um contexto mais genérico é capaz de facultar.

Com uma posição contrária, outros autores, não menosprezando os benefícios que os
trabalhos prévios sobre empreendedorismo económico proporcionam, defendem que o
empreendedorismo social merece ser considerado como um campo independente de
investigação (Mair & Martí, 2006; Swanson & Zhang, 2012). Para estes, o
empreendedorismo social enquanto campo de investigação autónomo, representa uma
oportunidade única para se desafiar, questionar e repensar os conceitos de diferentes

74
áreas da gestão. Apesar disso, Mair e Martí (2006) alertam para duas características
distintas partilhadas pelos campos de investigação emergentes: (i) a falta de limites
teóricos claros; e (ii) a necessidade de manter a permeabilidade face a outras áreas
disciplinares.

Para Mair e Martí (2006), a ausência de fronteiras claras e bem definidas gera o risco de
o empreendedorismo social não vir a adquirir a legitimidade necessária para que se
possa impor como um campo autónomo de investigação. Deste modo, importa
compreender quais as fronteiras que delimitam o empreendedorismo social das áreas de
saber que lhe são mais próximas. Esta foi, de facto, uma das preocupações manifestadas
na literatura, em particular numa fase preliminar de investigação10.

2.3 Empreendedorismo social: fronteiras setoriais e geográficas


Até à década de 60 permaneceu a ideia generalizada de que as organizações sem fins
lucrativos criavam valor social, enquanto as empresas privadas criavam valor
económico (Austin, Gutiérrez & Ogliastri, 2007). A convergência da esfera empresarial
e social resulta na criação de novas colaborações e oportunidades competitivas, bem
como na emergência de formas institucionais híbridas e completamente novas (Wilson
& Post, 2013). Nas palavras de Dees e Anderson (2006), o empreendedorismo social
veio quebrar e esbater as fronteiras tradicionais entre o setor empresarial e o setor sem
fins lucrativos, ao conciliar, no mesmo conceito, estas duas dimensões aparentemente
dicotómicas. É nesta ambiguidade, onde se intersetam os três principais setores de
atividade que compõem as sociedades modernas (público, privado e sociedade civil),
que emerge o empreendedorismo social (Dacin et al., 2010; Pache & Chowdhury, 2012;
Swanson & Zhang, 2012; Volery & Hackl, 2010; Wilson & Post, 2013; Ziegler, 2009).
Trata-se de um fenómeno intersetorial, onde se conjugam lógicas distintas, por vezes
concorrentes (Krlev, 2012; Pache & F. Santos, 2013), que moldam as dinâmicas
internas das organizações, os seus valores, regras e ações (Clercq & Voronov, 2009;
Diochon & Anderson, 2011). Por isso, o empreendedorismo social deve ser reconhecido
como um campo aberto, pluralista, intermediário (Ferreira, 2000a) e híbrido por

10
Por exemplo, Austin et al. (2006), Dees (1998), Guclu et al. ( 2002), Mort, Weerawardena e Carnegie (2003), Seelos e Mair
(2005), Travaglini et al. (2009), Trivedi e Stokols (2011), Thompson et al. (2000), Weerawardena e Mort (2006), ou Travaglini et
al. (2009).

75
excelência, pois potencia a aplicação de práticas mais heterogéneas (Seanor et al.,
2007).

A figura 2.2 ilustra a sobreposição dos setores público, privado e sem fins lucrativos,
que configura o empreendedorismo social.

Figura 2.2 - Configuração institucional do empreendedorismo social

Setor Público Setor Privado

Setor voluntário/
Sem fins
lucrativos

Empreendedorismo social

Fonte: Leadbeater (1997)

Apesar do empreendedorismo social se localizar na confluência destes três setores, a


proximidade relativamente a cada um deles poderá variar de país para país. O seu
posicionamento institucional resulta da tradição e do contexto subjacente à região em
que é desenvolvido, como se pode observar pela Figura 2.3.

Figura 2.3 - Posicionamento relativo do empreendedorismo social em diferentes partes do mundo

MERCADO

África do Sudeste Asiático


Sul
Estados
AJUDA Europa Unidos Europa
Central ocidental ESTADO
INTERNACIONAL
América
do Sul

SOCIEDADE
CIVIL
Fonte: Kerlin (2010)

76
Daqui derivam diferentes modelos de empreendedorismo social, cada um com
diferentes princípios orientadores e lógicas próprias (Hoogendoorn & Hartog, 2011;
Kerlin, 2010), conforme surgem sistematizados no Quadro 2.1. O empreendedorismo
social representa, assim, um conceito que suporta uma variedade considerável de
práticas internacionais e de discursos sobre o setor social (Nicholls, 2008).

Quadro 2.1- Visão comparativa do empreendedorismo social em diferentes partes do mundo

Estados Europa Europa América do Sudeste


África do Sul
Unidos Ocidental Central Sul Asiático

Mercado,
Modelo de Sociedade Sociedade
Sociedade Sociedade Mercado/Ajuda
Organização Civil/Ajuda Sociedade Civil Civil, Ajuda
Civil/ Mercado Civil/Estado Internacional
Social Internacional Internacional,
Estado

Desempenho
Forte* Forte Fraco Fraco Fraco* Fraco*
do Mercado

Ajuda Na sua
Nenhuma Nenhuma Forte* Fraca Fraca*
Internacional maioria forte*

Capacidade do Na sua maioria


Forte Forte* Fraca Fraca Fraca*
Estado fraca

Sociedade Na sua
Forte* Forte* Moderada* Fraca Fraca*
Civil maioria fraca*

Fonte: Kerlin (2010)

Nos EUA, o Estado é forte mas relutante em atuar ao nível social, existindo uma forte
dependência do mercado (Hoogendoorn & Hartog, 2011). Por isso, o
empreendedorismo social emerge essencialmente da interseção entre o mercado e a
sociedade civil, com uma forte predominância da economia de mercado (Kerlin, 2010).

Na Europa, pelo contrário, o empreendedorismo social insere-se essencialmente no


âmbito da sociedade civil, enquadrando-se no âmbito da economia social (Kerlin, 2010).
Na Europa Ocidental, o empreendedorismo social emerge como resultado da crise do
Estado providência na resolução de problemas sociais, e da consequente redefinição do
papel do Estado no sistema de bem-estar (Defourny, 2010; Parente et al., 2013a). Daqui
decorre um sistema ‘pluralista de bem-estar’, no qual se verifica uma partilha de
responsabilidades entre as diferentes entidades na provisão de bens e serviços de bem-
estar: organizações públicas, privadas e do terceiro setor (Defourny, 2010; Ferreira,

77
2000a). Assim, na Europa, o empreendedorismo social encontra-se fortemente apoiado
pelos governos nacionais, regionais e locais e pela política da União Europeia que está
orientada para as empresas da economia social (Hoogendoorn & Hartog, 2011).

Na América do Sul, o empreendedorismo social é fortemente marcado pela sociedade


civil e pela economia social (Kerlin, 2010). As soluções socialmente empreendedoras
têm surgido como resultado de um contexto pautado por: (i) uma fraca presença do setor
público; (ii) uma elevada corrupção por parte do setor Estado; e (iii) uma presença de
fortes problemas sociais, tais como a pobreza (Hoogendoorn & Hartog, 2011; Mair,
2010).

Em muitas economias emergentes asiáticas, o empreendedorismo social reside


essencialmente na interseção entre a sociedade civil e o Estado (Thompson et al., 2000).
No leste asiático, por exemplo, o aparecimento de organizações sociais encontra-se
fortemente relacionado com as alterações socioeconómicas verificadas no final da
década de 90 e as primeiras tentativas, por parte das organizações da sociedade civil, em
lidar com os novos problemas sociais (Defourny & Kim, 2011). Nestes países, o forte
poder do Estado assumiu um papel central na emergência e desenvolvimento das
organizações socialmente empreendedoras, não só em termos de regulação, mas
também na definição dos seus modelos, designadamente através da definição de
políticas de financiamento. No leste asiático, as forças de mercado desempenham
também um importante papel, pelo facto de muitas medidas de política pública
impulsionarem as organizações sociais para o âmbito das atividades de mercado.
Acresce ainda que muitas iniciativas de empreendedorismo social são constituídas em
parceria com as empresas privadas tradicionais (Defourny & Kim, 2011).

Mair (2010), baseando-se nestas diferentes formas de capitalismo, alega que em


economias mais liberais a prática do empreendedorismo social é marcada por uma
presença mais forte de mecanismos de mercado, comparativamente com economias
cooperativas ou informais. Porém, os resultados empíricos de Terjesen et al. (2012), não
encontram suporte para essa preposição. Os autores justificam este resultado, ainda que
em parte, pelo facto de o sistema cooperativo de algumas economias europeias estar a
adaptar-se progressivamente a muitos dos elementos característicos das economias
liberais.

78
2.4 Caraterísticas do empreendedorismo social
O empreendedorismo social constitui uma realidade com características muito próprias.
Como se observa na figura 2.4, o empreendedorismo social integra, por um lado, a
dimensão social das organizações sem fins lucrativos e, por outro, a dimensão
económica e a orientação empreendedora do setor empresarial (Mair, Battilana &
Cardenas, 2012). No entanto, a literatura considera que o empreendedorismo social não
pode ser encarado como um fenómeno dicotómico em relação às áreas que lhe são mais
próximas. Mais do que uma realidade distinta e estanque, o empreendedorismo social é
entendido como um posicionamento assumido ao longo de um continuum, construído
em torno de um conjunto de dimensões (Alter, 2006, 2008; Austin et al., 2006; Dees &
Anderson, 2006). Este espetro assenta em dois pontos extremos: (i) uma orientação
exclusivamente social; e (ii) uma orientação exclusivamente económica. In extremis
residem, respetivamente, as formas organizacionais puras: organizações sem fins
lucrativos tradicionais e empresas privadas.

Figura 2.4 - As dimensões do empreendedorismo social

+ Empreendedorismo
Empreendedorismo
económico
social
Dimensão
Económica
Filantropia
-

Dimensão Social
- +
(Missão social)

Fonte: Elaboração própria.

Para além destes dois pontos extremos, este espectruum alberga muitos pontos
intermédios, que combinam as lógicas de mercado com as lógicas da sociedade civil
(Hervieux, Gedajlovic & Turcotte, 2010). Estes pontos híbridos poder-se-ão situar mais
à direita ou mais à esquerda do continuum em função da proeminência que as diferentes
dimensões assumem para o seu modelo de negócio (Dees & Anderson, 2006; Travaglini

79
et al., 2009). Como a figura 2.5 ilustra, é precisamente aí que se localiza o
empreendedorismo social.

Figura 2.5 - O espectro do empreendedorismo social

Lógica de mercado
- +

Setor Empresarial
Setor Sem fins Lucrativos
tradicional
tradicionais
(Visão exclusivamente económica)
(Visão exclusivamente social) Empreendedorismo Social
(Visão socioeconómica)

+ -
Lógica civil

Fonte: Elaboração própria [adaptado de Borza et al. (2009), Hervieux e Turcotte (2010) e I. Popoviciu & S. Popoviviu (2011].

Em 1998, J. Greg Dees apresenta um espetro organizacional que vai desde a pura
filantropia até à organização com fins lucrativos, baseado nas motivações, métodos e
objetivos da organização. Posteriormente, Alter (2006) identifica a existência de quatro
categorias de organizações híbridas, resultantes do posicionamento numa escala
construída em torno de três dimensões: (i) motivações; (ii) prestação de contas; e (iii)
utilização de rendimentos, como retrata a figura 2.6.

Figura 2.6 - Tipologia de empresas sociais em função da orientação para a missão

Organizações sem
Empresas que
Organizações sem fins lucrativos com Negócios Organizações com
praticam
fins lucrativos atividades de Empresas sociais socialmente fins lucrativos
responsabilidade
tradicionais geração de responsáveis tradicionais
social
rendimentos

- Motivo: Missão - Motivo: Maximização do lucro

- Prestação de contas aos stakeholders - Prestação de contas aos acionistas

- Rendimento reinvestido em programas - Lucro distribuído pelos acionistas


sociais ou custos operacionais

Fonte: Alter (2006)

80
De seguida apresenta-se uma escala que integra as principais peculiaridades que
caracterizam o empreendedorismo social. Para tal, segue-se a análise detalhada de cinco
dimensões: (i) missão e objetivos; (ii) criação e apropriação de valor; (iii) forma legal;
(iv) relação com stakeholders e fronteiras organizacionais; e (v) gestão de recursos e
estratégias de geração de rendimento.

2.4.1 Missão e objetivos


A missão é um dos principais elementos caracterizadores do empreendedorismo social
(Austin et al., 2006; Chell, 2007; Mair & Martí, 2006; Mort et al., 2003; Roger &
Osberg, 2007; Seelos & Mair, 2005; Weerawardena & Mort, 2006). O
empreendedorismo social apresenta uma missão social explícita e central (Dees, 1998;
Chell, 2007; Hoogendoorn et al., 2010; Mort et al., 2003; Nicholls, 2008;
Weerawardena & Mort, 2006). A missão constitui um elemento importante na
identidade destas iniciativas, representando a pedra angular em torno da qual serão
construídas as suas estratégias, políticas e abordagens (Alter, 2008; Moss et al., 2011;
Neck, Brush & Allen, 2009). A missão irá afetar o modo como os empreendedores
sociais percebem e avaliam as oportunidades, e como moldam todo o seu modelo de
negócio (Chell, 2007; Domenico et al., 2010).

Apesar de não haver um consenso claro sobre aquilo que é uma ‘missão social’, existe a
ideia generalizada de que esta contém um desejo de beneficiar a sociedade ou contribuir
para o seu bem-estar (Mort et al., 2003; Peredo & McLean, 2006). Segundo Nicholls
(2008), subjacente a este propósito encontra-se a identificação de uma necessidade
social não satisfeita ou identificação de novas oportunidades para a criação de valor
social. Para Uygur e Marcoux (2013) uma missão social diz respeito à intenção de se
prosseguir uma consequência benéfica, esperada e previsível, para um grupo externo à
organização, que, segundo os autores, contrasta com o conceito de ‘missão económica’
que visa a sustentabilidade financeira da organização e a criação de retornos financeiros
para os seus acionistas.

As organizações sem fins lucrativos tradicionais partilham da mesma missão social. No


entanto, no seu espírito, o empreendedorismo social visa não só a criação de valor social
como também a criação de um impacto social sustentado e duradouro. Esta pretensão
implica o desenvolvimento de um modelo de negócio que seja financeiramente

81
sustentável (Noruzi et al., 2010). A criação de valor económico é assim interpretada
como um meio para a prossecução do fim que é a criação de valor social (Chell, 2007),
favorecendo a sustentabilidade da organização e a continuidade da sua missão social.
Nessa medida, a criação de valor económico é vista como um subproduto da atividade
socialmente empreendedora, considerada instrumental para o alcance da
sustentabilidade e autossuficiência da organização (Mair & Martí, 2006; Seelos & Mair,
2005). Zhang e Swanson (2013) evidenciam empiricamente que a prossecução dos
objetivos sociais permanece como o foco central na maioria das iniciativas.

O empreendedorismo económico, de um modo distinto, visa em primeira instância a


criação de valor económico, que é entendido como o diferencial entre as receitas obtidas
com a venda de um bem ou a prestação de um serviço, e a remuneração de todos os
fatores de produção envolvidos (Austin et al., 2006; Meyskens et al., 2010b; Trivedi &
Stokols, 2011). No empreendedorismo económico todas as áreas da empresa são geridas
com o intuito da maximização de valor. Para que isso aconteça, a organização terá que
decidir quais os mercados, produtos e estratégias que lhe permitam a criação e
apropriação desse valor económico.

A descoberta de novas oportunidades visa a criação e exploração de vantagens


competitivas que permitam à empresa assegurar a sua presença no mercado e a criação
de excedente económico. No entanto, esta orientação para o lucro não impede a criação
de valor social por parte destas organizações, como a criação de emprego na sociedade e
o pagamento de impostos, que posteriormente serão utilizados como forma de
financiamento dos programas sociais do Estado. Naturalmente que as empresas não se
opõem à criação de valor social, contudo esta não é a razão principal da sua existência,
sendo apenas uma consequência da sua atuação (Mair & Martí, 2006; Mair & Noboa,
2006). Por conseguinte, a capacidade de criação de valor social por parte das empresas é
entendida como limitada (Austin et al., 2006; Corner & Ho, 2010; Meyskens et al.,
2010a; Seelos & Mair, 2005; Trivedi & Stokols, 2011).

Desta análise conclui-se que, quer as iniciativas sociais quer empresariais criam,
concomitantemente, valor económico e social. A diferença reside na predominância que
é atribuída a cada um desses objetivos. Enquanto que no empreendedorismo social o
intuito de criação de valor social prevalece sobre a criação de valor económico, no
empreendedorismo empresarial ocorre o oposto. As organizações sem fins lucrativos

82
tradicionais preocupar-se-ão essencialmente com a criação de valor social. Assim,
poder-se-á encontrar num extremo organizações que visam a criação de valor puramente
económico e, no outro extremo, organizações que visam a criação de valor puramente
social (Emerson et al., 2001). As configurações organizacionais intermédias visam a
criação de valor socioeconómico, podendo atribuir uma maior ou menor ênfase a cada
uma das dimensões (George, 2009).

Para a prossecução da sua missão, as iniciativas socialmente empreendedoras terão que


definir a sua estratégia e os objetivos que orientam os esforços dentro da organização.
Em ambos os casos (empreendedorismo económico e social), a adoção de uma
orientação empresarial leva à necessidade de definição de metas de longo, médio e curto
prazo. Porém, em muitas iniciativas empresariais, a pressão colocada pelos modelos de
gestão e pelos mercados de capitais leva a uma concentração nos resultados de curto
prazo. No empreendedorismo social a satisfação de necessidades sociais envolve a
implementação de medidas que não surtem efeito imediato, mas num horizonte
temporal de médio/longo prazo (Trivedi & Stokols, 2011).

2.4.2 Criação e apropriação de valor


O valor é criado quando a utilidade percebida dos membros de um grupo aumenta
depois de descontados os respetivos consumos de recursos, sendo apenas apropriado
quando o ator em questão é capaz de reter uma parte do valor criado (F. Santos, 2009).
Esta apropriação de valor permite que uma organização seja capaz de assegurar
(financiar) o desenvolvimento das suas atividades, viabilizando a sua sustentabilidade
no futuro (F. Santos, 2009; 2012). Todavia, a primazia que é atribuída a cada um destes
processos de criação e apropriação de valor não é a mesma em todos as áreas de atuação
(empreendedorismo social, empreendedorismo económico e organizações sem fins
lucrativos tradicionais).

No empreendedorismo económico é explícito o objetivo de maximização da criação e


apropriação de valor (F. Santos, 2009), sendo que o excedente económico criado pela
organização reverte para si própria. O excedente, sob a forma de lucro, poderá ser: (i)
reinvestido na organização, com o intuito de suportar futuros investimentos; (ii)
distribuído pelos acionistas da organização, como recompensa do investimento

83
efetuado; e/ou (iii) distribuído pelos colaboradores da organização, como recompensa
pelo seu desempenho (Massetti, 2008).

As iniciativas de empreendedorismo social e as organizações sem fins lucrativos


tradicionais, por sua vez, visam a maximização do valor que são capazes de criar.
Todavia, a sua capacidade de apropriação de valor é limitada (Mair & Martí, 2006), pois
o valor social criado irá ser absorvido pela sociedade no seu todo ou por um segmento
desta (Yunus, 2008). A capacidade de apropriação do valor económico dependerá do
formato jurídico da organização. Quando as atividades ocorrem dentro do âmbito das
organizações sem fins lucrativos, estas deverão apropriar-se apenas do valor que lhes
seja suficiente para assegurar as suas operações e investimentos em projetos que
permitam aumentar o valor social criado (Bacq & Janssen, 2011; Travaglini et al.,
2009). Se se conceber o empreendedorismo social no âmbito das organizações com fins
lucrativos, a capacidade de captura do valor económico será maior. Ainda assim, como
a missão social é central, a retenção de valor será sempre relativamente limitada.

2.4.3 Quadro legal


As organizações são unidades construídas com o intuito de alcançarem determinados
objetivos. Muito embora não sendo pessoas, as organizações, constituídas por escritura
pública ou por outro meio legalmente admitido, gozam de personalidade jurídica
(Artigo 158.º, n.º1 do Código Civil). A posse de personalidade jurídica traz consigo a
suscetibilidade de serem titulares de direitos e obrigações.

Em Portugal, a Constituição da República Portuguesa, no seu artigo 82.º consagra a


existência de três setores de atividade: o setor público; o setor privado; e o setor
cooperativo e social.

O empreendedorismo económico tem lugar no setor empresarial, e como tal as suas


organizações poderão optar por um dos formatos jurídicos preconizados no Código das
Sociedades Comerciais (CSC): a sociedade em nome coletivo; a sociedade por quotas; a
sociedade anónima; e a sociedade em comandita (Artigo 1.º do CSC).

As organizações sem fins lucrativos tradicionais, por seu lado, têm lugar dentro do setor
cooperativo e social, também denominado como terceiro setor. Em Portugal, este setor é
bastante heterogéneo e diversificado (Ramos, 2004), envolvendo uma grande variedade

84
de organizações e formas jurídicas legais, tais como cooperativas de solidariedade social
e multissetoriais, associações em geral, associações de desenvolvimento local,
associações mutualistas, fundações, misericórdias e outras instituições de caráter
religioso (Gata, 2010; Parente et al., 2012c; Parente, Marcos & Amador, 2012d). Assim,
quer o setor empresarial quer as organizações sem fins lucrativos tradicionais dispõem
de um regime jurídico definido, conforme se pode observar na figura 2.7.

Figura 2.7 - Enquadramento jurídico das pessoas coletivas privadas em Portugal

Sociedades civis (sem intermediação especulativa (CC artº 980 e segs))

Com fins Sociedades civis sob a forma comercial (com forma de Soc. Comerciais)
lucrativos
- sociedades Sociedades de pessoas

- sociedades em nome coletivo (CA)


Tipo
associativo Sociedades por quotas
(agrupamento Sociedades comerciais (Lda e Unipessoal, Lda)
Em geral de pessoas) (intermediação especulativa)
(sem exercício de (CSC)
Sociedades Sociedades Anónimas (SA)
poderes públicos)
de capitais

Sociedades em Comandita

Sem interesse económico- associações (CC artª 157 e segs)


Sem fins
lucrativos
Com interesse económico- cooperativas (Cód. Cooperativo)

Pessoas Tipo fundacional (complexo patrimonial) - fundações (CC artº 157 e segs)
Coletivas
Privadas

Sociedades de interesse coletivo (tipo sociedade com fins lucrativos) (ex: sociedades concessionárias de

serviços públicos, de obras públicas ou de explorações de bens do domínio público …)

Instituições
particulares de Pessoas coletivas de mera utilidade pública (DL. 460/77, 7 Nov)
interesse público (vg: associações desportivas, coletividades de cultura e desporto)
(com exercício de
poderes públicos- Instituições particulares de solidariedade social (IPSS) (DL 119/83- artº2)
CPA, Direito Pessoas coletivas de utilidade e equiparadas (casas do povo e cooperativas de solidariedade social)
Administrativo) pública (associações e
(autoridade pública) fundações sem fins lucrativos) Pessoas coletivas de utilidade pública administrativa (DL 460/77, 7 Nov
e Cód. Administrativo) (vg: associações humanitárias…)

Fonte: Conceição (2011)

Para Namorado (2006), o empreendedorismo social, enquanto elemento que emerge


como contraponto entre o setor público e o setor privado lucrativo poderia, numa
primeira análise, ser remetido para o setor cooperativo e social11. Porém, a literatura tem
reconhecido que o empreendedorismo social não é definido pela sua forma jurídica,

11
Muito embora economia social e setor cooperativo e social, tal como consagrado na Constituição da República Portuguesa, não
traduzam realidades jurídicas integralmente coincidentes. Para uma análise mais aprofundada consultar Rui Namorado (2006).

85
defendendo que aquilo que realmente é importante é a existência de um propósito social
explícito e central (Dees & Anderson, 2006). Como tal, o empreendedorismo social
poderá ser encontrado em qualquer setor de atividade, seja este o setor sem fins
lucrativos, setor empresarial ou setor público (Austin et al.¸ 2006; Sakurai, 2008).
Nestes termos, o empreendedorismo social poderá ser suportado por vários veículos ou
formatos jurídicos (Austin et al.¸ 2006; Krlev, 2012), como é sustentado pelo Global
Entrepreneurship Monitor (GEM) de 2009, num relatório especial dedicado ao
empreendedorismo social.

Se para alguns autores, esta liberdade na forma jurídica é considerada um aspeto


positivo, na medida em que fornece um conjunto mais vasto de opções em relação à
escolha do formato legal (Dees & Anderson, 2006; Dorado, 2006), outros reivindicam a
criação de um quadro jurídico que regule a organização social (Doeringer, 2010; Yunus,
2011). Estes últimos argumentam que as formas jurídicas tradicionais, concebidas para
o tipo de organizações que se posicionam em cada um dos extremos do espetro, não são
capazes de acomodar adequadamente as especificidades que o caráter híbrido do
empreendedorismo social impõe.

Em Portugal, como na maioria dos países, os regimes jurídicos tradicionais existentes


não se encontram preparados para acomodar a natureza híbrida e idiossincrática do
empreendedorismo social. Segundo Doeringer (2010), são muito poucos os países que
construíram um veículo específico para o empreendedorismo social. Destaca-se o caso
das Cooperativas Sociais em Itália (criada em 1991), as “Community Interest
Companies” (CIC), criadas em 2005 no Reino Unido, as “Low-Profit Limited Liability
Company” (L3Cs) nos EUA, ou as “Société à Finalité Sociale” (SFS) na Bélgica
(Doeringer, 2010; Phillips & Hebb, 2010). Hervieux e Turcotte (2010) alertam que estas
são, no entanto, respostas isoladas que vão sendo criadas pelos legisladores dos
diferentes países, sem que haja uma atuação global e concertada na criação de um
formato legal único que possa ser adotado por todas as iniciativas de empreendedorismo
social. A conceção de uma estrutura legal e fiscal à luz das características do
empreendedorismo social melhoraria a capacidade de acesso a recursos, em particular o
acesso a recursos financeiros, e estimularia o crescimento das iniciativas sociais
(Lehner, 2011; Phillips & Hebb, 2010).

86
A Comissão Europeia, ciente das virtualidades da economia social, reconhece, através
de uma Resolução do Parlamento Europeu de 2009, a necessidade que os
enquadramentos jurídicos de cada país sejam capazes de acomodar as especificidades da
economia social. Neste sentido, em Portugal, foi criada através do Projeto de Lei n.º
68/XII, a Lei de Bases da Economia Social Portuguesa. Este projeto de Lei, aprovado na
generalidade na Assembleia da República em setembro de 2011 (Meira, 2012), visa
criar um quadro legislativo adequado à realidade e exigências da sociedade portuguesa.

2.4.4 O papel dos stakeholders


Num mundo interdependente como aquele em que vivemos, nenhuma organização
poderá ser considerada uma ilha (Lee, 2004). As organizações encontram-se inseridas
num conjunto de entidades com as quais, de uma forma direta ou indireta, se
relacionam. Esse conjunto de entidades foi designado por stakeholders (em português
“parte interessada”), termo introduzido por Robert Freeman, em 1984, para designar
“qualquer grupo ou indivíduo que é afetado ou pode ser afetado pelo alcance dos
objetivos de uma organização” (p. 5).

São vários os stakeholders com quem a organização se relaciona, podendo ser


classificados em função do seu nível de importância, como stakeholders primários ou
secundários (Kuratko et al., 2007). Os stakeholders primários são os indivíduos ou
atores institucionais sem a participação dos quais a empresa não poderia sobreviver,
como os clientes, funcionários, gestores, fornecedores ou investidores. Para Kuratko et
al. (2007), os stakeholders secundários são todos os outros indivíduos ou grupos que
influenciam, afetam ou são afetados pela organização. No contexto do
empreendedorismo social, Dees (1998) destaca o papel de quatro grupos de
stakeholders - os beneficiários, os fornecedores de capital, a força de trabalho e os
fornecedores em geral.

A literatura da gestão tem reconhecido a importância que o relacionamento com os


stakeholders assume para a estratégia empresarial. De acordo com a teoria das
organizações, as fronteiras organizacionais representam as ‘barreiras’ entre a
organização e o seu ambiente (D. Katz & Kahn, 1966; J. Katz & Gartner, 1988). As
organizações, per si, exercem controlo sobre os recursos que existem dentro das suas
fronteiras. Porém, enquanto sistemas abertos que são, carecem de estabelecer trocas

87
com o exterior (J. Katz & Gartner, 1988). Deste ponto de vista, nas palavras de Freeman
e McVea (2001), o objetivo da gestão dos diversos tipos de stakeholders será a obtenção
do seu apoio a longo prazo, desenvolvendo uma metodologia que possa articular uma
miríade de grupos e relações, com vista a atingir os objetivos da organização. Toda a
teoria associada à gestão dos stakeholders sugere que as organizações têm que ser
articuladas de acordo com as necessidades e interesses, por vezes conflituantes, de todos
os stakeholders relevantes para a organização (Miles & Covin, 2000). Por conseguinte,
para Freeman e McVea (2001), a sua atuação traduz-se numa estratégia sustentada
numa filosofia de parceria, na qual se procura a satisfação simultânea das várias partes
interessadas da organização. Esta aspiração implica, segundo os autores, a adoção de
um modelo de gestão inclusivo, onde a comunicação e negociação sejam permanentes, e
a gestão das relações e motivações dos parceiros sejam uma realidade. Naturalmente
que nem todos os stakeholders se sentirão beneficiados, em simultâneo, em todos os
momentos do processo. Cientes desta limitação, Freeman e McVea (2001) recomendam
que a estratégia deve ser concebida de tal modo que assegure o apoio de longo prazo de
todos os stakeholders, apesar da possível ocorrência de algum elemento menos
favorável. A gestão do relacionamento com os stakeholders permite, ainda, que a
organização seja mais sensível ao ambiente externo e às suas mudanças, potenciando
uma maior capacidade de ajustamento e adaptação por parte da organização (ibidem).

No empreendedorismo social, porém, o relacionamento com os stakeholders é


particularmente complexo (Alter, 2000; Austin et al.¸ 2006; Clamp & Alhamis, 2010;
Fayolle & Matlay, 2010; Germak & Singh, 2010; Kuratko et al., 2007; Leadbeater,
1997). Segundo Sud et al. (2009) e Spear (2006), o caráter híbrido das organizações
socialmente empreendedoras resulta num número mais alargado e heterogéneo de
stakeholders, provenientes de diversos setores de atividade e com expectativas
diferentes em relação à organização. Acresce que as iniciativas de empreendedorismo
social mantêm, em geral, uma abordagem aberta e permeável em relação ao seu
ambiente externo. A criação de soluções sustentáveis requer, amiúde, a colaboração dos
vários stakeholders, que incorporam o seu conhecimento e experiências na discussão de
um modelo que permita a resolução de questões sociais de forma mais inovadora,
completa e multifacetada (Toledano, 2011; Trivedi & Stokols, 2011).

Tendo em conta que o valor criado é essencialmente apropriado fora das fronteiras da
organização, estas não têm qualquer incentivo económico para concorrerem entre si,

88
impondo-se, com frequência, a colaboração entre organizações que pretendem fazer
face a um mesmo problema social. A literatura tem reconhecido que a adoção de uma
governança multisstakeholder, a capacidade de criação de parcerias estratégicas e de
cooperação de longo prazo são elementos potenciadores do sucesso das iniciativas
sociais (Borzaga & Galera, 2012; Sharir & Lerner, 2006; Spear, 2006; Wood, 2012). O
empreendedorismo social rejeita a ideia de assistencialismo e provisão unilateral de
soluções (Parente et al., 2013a). Os seus modelos de atuação promovem a participação
dos seus públicos, para que estes se envolvam no processo de cocriação de valor e
façam parte integrante do modelo de resposta (Krlev, 2012; Parente et al., 2013a).

Os discursos sobre o empreendedorismo social pautam-se, assim, por uma linguagem de


cooperação, na qual está presente a inclusão e participação dos vários stakeholders da
organização (Sabeti, 2009; Toledano, 2011). Para Sabeti (2009), esta linguagem,
embora defendida na teoria dos stakeholders, não se encontra tão disseminada nos
formatos organizacionais convencionais, que tendem a focar-se particularmente nos
seus stakeholders internos (proprietários e colaboradores).

2.4.5 Gestão de recursos e estratégias de geração de rendimento


A literatura tem reconhecido que o empreendedorismo social se caracteriza por um
contexto de relativa insuficiência dos recursos disponíveis para suportar os programas
da organização (Desa, 2007; Kickul et al., 2010; Pearce II, Fritz & Davis, 2010;
Swanson & Zhang, 2012). A baixa capacidade de apropriação de valor dificulta a
atuação dos empreendedores sociais no mercado de fatores de produção, pelo facto de
estes não serem capazes de competir nos mesmos moldes que os empreendedores
económicos (Austin et al., 2006; Martin & Osberg, 2007; Sakurai, 2008).

As organizações socialmente empreendedoras aspiram a alcançar uma situação de


autossuficiência financeira. Ora, o preço que são capazes de cobrar pelo bem ou serviço
que disponibilizam é geralmente exíguo para suportar a sua estrutura de custos
(Meyskens et al., 2010b), o que conduz a uma situação de dependência financeira, como
comummente acontece na maioria das organizações sem fins lucrativos. Para financiar a
escassez de rendimentos, recorrem sobretudo a donativos ou subvenções que lhes
permitem manter as suas atividades. Porém, uma forte dependência de donativos traduz-
se numa maior vulnerabilidade da organização, na medida em que a impede de atuar de

89
uma forma concertada no longo prazo e de prosseguir, de uma forma adequada, a sua
estratégia (Dees, 1998). Nessa medida, as organizações sociais necessitam de aplicar um
comportamento verdadeiramente empresarial na mobilização e gestão dos recursos
(Dees et al., 2001; Krlev, 2012; Morris et al., 2011b).

O quadro 2.2 apresenta as diferentes perspetivas sobre o empreendedorismo, resumindo


as principais caraterísticas do empreendedorismo social, por confronto com as
organizações sem fins lucrativos tradicionais e as iniciativas de empreendedorismo
económico.

Quadro 2.2 - Análise comparativa entre empreendedorismo social, empreendedorismo económico e


organizações sem fins lucrativos tradicionais

Organizações sem fins Empreendedorismo


Empreendedorismo Social
lucrativos tradicionais económico.

Missão Missão social explícita e Missão social explícita e Missão económica


central central

Objetivos Essencialmente sociais Sociais e económicos Essencialmente económicos

Objetivo central: valor social

Objetivo secundário: valor


económico

Criação e Foco: Maximização do valor Foco: Maximização do valor Foco: maximização do valor
apropriação de valor criado criado capturado

Baixa preocupação com o Limitada apropriação do valor Criação de valor como


valor capturado criado condição para a apropriação
de valor

Quem apropria o Essencialmente a população- Essencialmente população- Essencialmente os sócios e


valor alvo alvo acionistas da organização

A organização apropriação o A organização apropriação o Apropriação pela organização


valor mínimo para a valor mínimo para a para assegurar futuros
prossecução da missão prossecução da missão investimentos

90
Organizações sem fins Empreendedorismo
(Continuação) Empreendedorismo Social
lucrativos tradicionais económico.

Forma legal Setor sem fins lucrativos, com Não definido Formato legal consagrado no
formatos legais e regras bem CSC
definidos Maior liberdade de escolha

Inexistência de um formato
adequado às suas
especificidades

Relação com Relacionamento com um Relacionamento com uma Relacionamento com um


stakeholders grupo stakeholders vasta quantidade e grupo stakeholders
relativamente restrito e heterogeneidade de relativamente restrito e
homogéneo (essencialmente stakeholders homogéneo (essencialmente
no setor sem fins lucrativos) no setor empresarial)
Gestão participativa e
inclusiva;

Fronteiras Fronteiras relativamente bem Fronteiras permeáveis e Fronteiras bem definidas


organizacionais definidas porosas
Concorrência entre
Orientação interna Pretende-se a criação de valor organizações
dentro e fora das fronteiras da
Alguma colaboração entre organização
organizações
Colaboração entre
organizações

Gestão de recursos Ambiente de escassez de Ambiente de escassez de Recursos adquiridos no


recursos recursos mercado, com base na
capacidade económica da
Grande dependência Necessidade de adoção de um organização
comportamento
Recursos obtidos empreendedora para promover
essencialmente a título a autonomia e autossuficiência
gratuito

Fonte: elaboração própria.

2.5 Síntese
Com este capítulo verifica-se que o empreendedorismo social, enquanto campo de
atividade em franca expansão, é muito mais do que uma simples ‘moda’. Constata-se
que existe toda uma racionalidade económica que subjaz à sua existência e o afirmo na
sociedade. A presença de imperfeições de mercado, tais como externalidades, bens
públicos, uma distribuição de rendimentos fortemente assimétrica ou a presença de
assimetrias de informação, leva a que os agentes económicos orientados unicamente
pelo propósito de maximização de lucro não tenham interesse em atuar em
determinados segmentos de mercado para os quais existiria procura. Este desencontro

91
entre o nível de oferta e de procura de bens resulta num nível subdimensionado de
atividade em áreas capazes de criar valor para a sociedade. A insuficiência por parte dos
mecanismos económicos tradicionais desencadeou a emergência de um novo quadro
institucional, designado por empreendedorismo social. Este novo enquadramento
procura, através de um modelo inovador e disruptivo, explorar as oportunidades sociais
que emergem da vacuidade deixada pelas instituições tradicionais vigentes.

O empreendedorismo social, enquanto prática organizacional híbrida, partilha muitas


das características das organizações sem fins lucrativos tradicionais e das iniciativas de
empreendedorismo empresarial. As organizações socialmente empreendedoras poderão
assumir múltiplas configurações, dependendo do posicionamento que assumem ao
longo de todo um continuum, que vai desde um posicionamento puramente social até
um posicionamento puramente económico. Este espectruum poderá ser construído
através da ponderação das dimensões caracterizadoras dos setores de atividade
tradicionais, contíguos ao empreendedorismo social.

A recensão de literatura permitiu identificar os elementos que delimitam os contornos


do empreendedorismo social enquanto campo de atividade e de investigação. A pedra
de toque é a missão social, que é explícita e central. A criação de valor social representa
o objetivo primário da organização, que prevalece sobre todas as suas atividades apesar
de coexistir com objetivos de cariz económico, considerados instrumentais para a
sustentabilidade da organização e para a capacidade de produção de valor social de um
modo continuado. A baixa apropriação do valor criado conduz a que estas iniciativas
operem num contexto de escassez de recursos. Para minimizar as dificuldades daí
decorrentes relevam o comportamento empreendedor, as práticas empresariais, bem
como a articulação com os stakeholders primários da organização (grupo por vezes
extremamente heterogéneo).

As características enunciadas, permitem conhecer a natureza idiossincrática do


empreendedorismo social, que se afirma pela sua identidade enquanto praxis, mais do
que pelo seu formato jurídico. Em Portugal, na ausência de um formato legal específico
que demarque as atividades organizacionais que se qualificam como socialmente
empreendedoras, torna-se fundamental delimitar os contornos do empreendedorismo
social, para que de uma forma clara e estruturada se possa destrinçar o domínio a que
pertence uma determinada iniciativa organizacional.

92
CAPÍTULO 3

FATORES DE PROMOÇÃO DA INICIATIVA SOCIAL: CONTEXTO, PERFIL E


MOTIVAÇÕES
3. FATORES DE PROMOÇÃO DA INICIATIVA SOCIAL: CONTEXTO, PERFIL E

MOTIVAÇÕES

No capítulo anterior analisaram-se as razões económicas que justificam o aparecimento


do empreendedorismo social, explorou-se a forma como as falhas de mercado dão
espaço à emergência desta nova configuração institucional e abordaram-se os traços
distintivos do empreendedorismo social que o permitem afirmar como campo de
investigação autónomo.

O empreendedorismo social é uma realidade híbrida que procura associar um


comportamento empreendedor à resolução de problemas sociais complexos e
persistentes que outras instituições não foram capazes de solucionar. A resolução desses
problemas implica um trabalho árduo, no qual os seus atores se debatem com enormes
desafios e dificuldades (Obschonka, Silbereisen & Schmitt-Rodermund, 2010). Neste
contexto, é fundamental compreender o que explica o comportamento socialmente
empreendedor para se perceber o que determina a sua ação (Ármannsdóttir, 2011; Mair
& Noboa, 2006; Obschonka et al., 2010).

O objetivo deste capítulo é compreender de que modo a envolvente externa de um país,


o perfil (psicográfico e demográfico), os objetivos pessoais e a perceção de viabilidade
da iniciativa social podem influenciar o surgimento de uma iniciativa social. Para
alcançar este objetivo, tecem-se em primeiro lugar algumas considerações gerais sobre o
comportamento humano, explica-se de que forma a envolvente externa condiciona o
empreendedorismo social, discute-se o perfil do empreendedor social, referindo-se
depois os objetivos pessoais que estão na base do comportamento socialmente
empreendedor e o papel que a perceção de viabilidade da iniciativa social desempenha
na propensão para empreender.

3.1 Considerações gerais


Ancorado na teoria do comportamento planeado de Ajzen (1991), que assume que as
intenções são um forte preditor do comportamento humano, tem sido reconhecido o
papel da motivação, quer ao nível da criação de novas iniciativas, quer ao nível dos
comportamentos posteriores ao desencadear da iniciativa (Ármannsdóttir, 2011;

95
Fitzsimmons & Douglas, 2011; Mair & Noboa, 2006). A compreensão do fenómeno do
empreendedorismo social implica conhecer quais os motivos que levam um indivíduo a
tornar-se o mentor de uma iniciativa e a assumir os riscos relacionados com a sua
conceção, construção, lançamento e manutenção (Ármannsdóttir, 2011; Jack et al.,
2008; Mair & Noboa, 2006; Obschonka et al., 2010; Zahra et al., 2009).

Apesar da relevância que a comunidade científica tem atribuído às motivações para a


compreensão do empreendedorismo social enquanto praxis, permanecem ainda dúvidas
sobre os elementos que antecedem o comportamento socialmente empreendedor
(Hoogendoorn et al., 2011). A maioria dos investigadores tem abordado aspetos
específicos da motivação, como por exemplo, o perfil sociodemográfico do
empreendedor e as suas preocupações sociais, sendo ainda escassos os trabalhos que
procuram compreender de uma forma holística e sistematizada o modo como se
constroem as motivações dos empreendedores sociais. Alguns desses contributos
encontram-se, por exemplo, em Helm (2004), Mair e Noboa (2006) ou Miller, Grimes,
McMullen e Vogus (2012), que propõem um modelo analítico para explorar esta
problemática. Ármannsdóttir (2011), socorre-se de um modelo proposto na década de
90 por Naffziger, Hornsby e Kuratko sobre o comportamento do empreendedor
tradicional. Para Naffziger et al. (1994), a motivação do empreendedor resulta da
interação de cinco dimensões: (i) características pessoais ou traços psicológicos do
indivíduo; (ii) contexto pessoal; (iii) objetivos pessoais, subjacentes à criação da
organização; (iv) variáveis ambientais; e (v) existência de uma ideia de negócios viável.
Esta sistematização das motivações, embora originalmente usada para o
empreendedorismo económico, servirá de referência à revisão de literatura sobre as
motivações para um comportamento socialmente empreendedor.

3.2 Envolvente externa à iniciativa


O empreendedorismo social não ocorre num vacuum (CASE, 2008), sendo
condicionado por um determinado contexto (Weerawardena & Mort, 2006). As
variáveis da envolvente, ou variáveis ambientais, são entendidas por Covin e Slevin
(1991) como todos aqueles fatores externos às fronteiras da organização que afetam e
são afetados pelas suas ações, sendo aí que se formam as oportunidades e
constrangimentos que influenciam de um modo direto ou indireto o comportamento da

96
organização (Cajaiba-Santana, 2010; Mair, 2010; Welter, 2011). Como defendem D.
Katz e R. Kahn (1966) na teoria dos sistemas abertos, a emergência das organizações
resulta da interação dos agentes com o ambiente, o que sugere a forte preponderância do
ambiente externo na criação das organizações. Pela mesma razão são as forças
ambientais que influenciam o surgimento de novas iniciativas de empreendedorismo
social (Mair, 2010; Urbano & Ferri, 2010; Ziegler, 2009). Nessa medida, uma parte da
literatura tem-se debruçado sobre a análise das variáveis de contexto. A investigação
tem sido levada a cabo em torno de dois eixos: por um lado, a análise da forma como
estas variáveis influenciam a formação das intenções empreendedoras; por outro, a
análise do modo como são capazes de contribuir para o sucesso das iniciativas de
empreendedorismo social. Deste modo, pretende-se compreender a forma como as
variáveis externas são passíveis de instigar ou inibir a adoção de um comportamento
socialmente empreendedor. A literatura sobre estratégia tem sugerido que as forças
ambientais podem ser desagregadas em quatro variáveis distintas: (i) variáveis político-
legais; (ii) variáveis económicas; (iii) variáveis socioculturais; e (iv) variáveis
tecnológicas.

3.2.1 Variáveis político-legais


As variáveis político-legais dizem respeito ao enquadramento legal da sociedade,
representando o modo como as organizações procuram influenciar o Estado e como este
influi nas suas ações estratégicas, atuais ou potenciais e que guia a interação das
empresas com as várias instituições governamentais (Hitt, Ireland & Hoskisson, 2011).

São vários os autores que têm analisado o papel desempenhado pelo Estado no
empreendedorismo social (Abdou et al., 2010; Estrin et al., 2011, 2013; Hoogendoorn
& Hartog, 2011; Urbano & Ferri, 2010). Alguns consideram que a presença do Estado,
forte ou ténue, é suscetível de influenciar o nível de empreendedorismo social de uma
sociedade, bem como as filosofias e práticas adotadas pelas iniciativas existentes
(Abdou et al., 2010; Noruzi et al., 2010; Urbano & Ferri, 2010). As conclusões sobre o
efeito do Estado, positivo ou negativo, sobre a criação de iniciativas de
empreendedorismo social não reúnem, porém, consenso.

Alguns investigadores consideram que a emergência do empreendedorismo social é


significativa nos países em que a provisão de serviços sociais é escassa (Alvord et al.,

97
2004; Austin et al., 2006). Tome-se como exemplo o caso do Bangladesh ou da Índia,
onde são reconhecidas diversas iniciativas de empreendedorismo social particularmente
bem-sucedidas, que envolveram a implementação de novos modelos para fazer face a
necessidades humanas básicas (Seelos & Mair, 2005). O estudo empírico de Estrin et al.
(2013) suporta esta evidência, e prova a existência de uma relação negativa entre o nível
de despesa pública e a emergência de novas organizações sociais. De um modo
semelhante, Terjesen et al. (2012) identificam que, com algumas exceções, o nível de
empreendedorismo social tende a ser maior em economias mais liberais. Estes
resultados podem ser interpretados à luz da teoria da falha institucional, que explica o
aparecimento de iniciativas socialmente empreendedoras pela incapacidade ou ausência
do Estado em fornecer bens ou serviços sociais (Estrin et al., 2011; Mair, 2010;
Terjesen et al., 2012). O empreendedorismo social é assim entendido como uma forma
de substituição da insuficiência ou fragilidade das instituições formais, representando
um veículo para o preenchimento dessas lacunas sociais. Um Estado pequeno e
compacto é aqui visto como um propulsor para o aparecimento do empreendedorismo
social (Weerawardena & Mort, 2006), o mesmo sucedendo com a inexistência de um
Estado capaz de resolver as necessidades sociais da população. Por consequência,
quanto mais débeis forem as instituições formais, maior será o nível de
empreendedorismo social existente. Porém, Urbano e Ferri (2010) não encontram
suporte para a hipótese de existir uma relação negativa entre a eficácia do Estado e a
criação de iniciativas sociais. Estrin et al. (2011), por sua vez, não encontram uma
associação estatisticamente significativa entre a dimensão do Estado e o nível de
atividade socialmente empreendedora.

Pelo contrário, alguns autores defendem que a presença de instituições formais fortes
poderá encorajar e apoiar o aparecimento de organizações sociais, bem como a
qualidade dos resultados que estas são capazes de gerar (Abdou et al., 2010;
Hoogendoorn & Hartog, 2011; Noruzi et al., 2010; Shockley & Frank; 2011). Veja-se,
por exemplo, o caso do Reino Unido, frequentemente citado na literatura, onde a criação
de um novo regime jurídico levou a um incremento substancial deste campo de
atividade. Esta posição pode ser justificada pela teoria da interdependência, em que o
Estado é entendido como um parceiro que cria as condições que facilitam a emergência
e a multiplicação das organizações sociais (Borzaga & Galera, 2012; Hoogendoorn &
Hartog, 2011). Este argumento é suportado pela investigação de Estrin et al. (2013), que

98
apesar de encontrarem uma relação negativa entre a dimensão do Estado e o nível de
atividade socialmente empreendedora de um país, constatam que um contexto
caracterizado por uma elevada qualidade institucional e um forte Estado de Direito é
propício para o empreendedorismo social.

Nesta aceção, o Estado, através da sua função regulamentar, poderá apoiar


estrategicamente o empreendedorismo social através:

- Criação de uma estrutura legal estável, que se coadune com o pendor híbrido do
empreendedorismo social (Abdou et al., 2010; CASE, 2008; Estrin et al., 2013;
Leadbeater, 1997; F. Santos, 2009);

- Criação de um sistema regulatório simples e adequado (Borzaga & Galera, 2012;


Leadbeater, 1997);

- Revisão da política fiscal (Leadbeater, 1997);

- Promoção da colaboração e cooperação entre iniciativas de empreendedorismo social


(Leadberter,1997);

- Fomento do desenvolvimento de instituições de apoio às práticas de


empreendedorismo social (Mair, 2010);

- Estímulo à criação, captura e partilha de capital intelectual, social e político e


aprofundamento de networks (CASE, 2008; Estrin et al., 2013);

- Apoio ao ensino e investigação sobre empreendedorismo social (CASE, 2008; Chell,


2007; Kim & Yoon, 2012; Light, 2006b; Noruzi et al., 2010; Urbano & Ferri, 2010;
Yunus, 2011);

- Promoção do tema nos media, para que estes possam educar e sensibilizar o público
em geral (CASE, 2008).

Para Drayton (2002), quanto maiores e mais rápidas forem as mudanças na sociedade,
mais importante será o papel do governo na configuração de um contexto adequado e na
aplicação das normas, instituições e garantias do mercado.

Os resultados da investigação mostram que coexistem duas posições distintas: (i) para
uns o empreendedorismo social é estimulado por um contexto de fraca presença do

99
Estado; (ii) para outros a existência de um Estado presente e participante é considerada
impulsionadora do empreendedorismo social.

Esta situação, aparentemente paradoxal, encontra suporte em termos práticos, visto que
o empreendedorismo social, ainda que de modos distintos, tem surgido quer em países
desenvolvidos quer em países em vias de desenvolvimento. Poder-se-á então concluir
que em países onde o papel do Estado é fraco e existem grandes debilidades sociais, a
sociedade civil se sente compelida a suprir as lacunas existentes e a contribuir para a
atenuação desses problemas sociais. Em países em que o Estado tem uma presença
significativa, ainda que insuficiente para atender a todas as questões sociais, a
intervenção, designadamente através da criação de um contexto favorável ao
empreendedorismo social, poderá aumentar a propensão para que os indivíduos se
envolvam num comportamento socialmente empreendedor. Acredita-se que mesmo nos
países em desenvolvimento a criação de um contexto adequado seja positivo. Ainda
assim, atendendo à premência dos problemas sociais existentes, os indivíduos sentem-se
impelidos a atuar independentemente do suporte institucional vigente, o que, em termos
marginais, terá sempre um potencial de criação de valor social muito elevado. Nos
países em que exista alguma capacidade de resposta social por parte do Estado, os
indivíduos terão de sentir que são capazes de criar um valor social significativo (por
parte da sociedade ou de uma comunidade) para que estejam motivados a atuar. Ora, a
criação de um contexto favorável aumenta o valor que os empreendedores sociais creem
ser capazes de criar e, como tal, a motivação para desenvolverem o seu projeto de
empreendedorismo social.

Recentemente, J. Felício, H. Gonçalves e V. Gonçalves (2013) analisaram o modo como


um contexto socioeconómico favorável pode afetar as ações dos empreendedores
sociais. Os resultados sugerem que em ambientes desfavoráveis a capacidade de
liderança transformacional do empreendedor é particularmente relevante, dado que os
empreendedores sociais recorrem à sua capacidade de liderança para mobilizar recursos
e para captar o envolvimento dos colaboradores. Em contextos favoráveis, a ênfase recai
na iniciativa e na capacidade inovadora da organização. Daqui se depreende que em
ambientes adversos se verifica uma maior focalização na figura do empreendedor e das
suas características individuais, enquanto em contextos favoráveis se concede uma
maior importância ao processo empreendedor desenvolvido no âmbito da iniciativa
social.

100
3.2.2 Variáveis económicas
O contexto económico influencia as trocas de bens e serviços, recursos financeiros e
informação na sociedade. Alguns indicadores de natureza económica são, a título de
exemplo, o produto interno bruto de um país, os níveis de inflação, o desemprego ou os
custos dos fatores de produção.

As variáveis económicas são capazes de intervir no desenvolvimento do


empreendedorismo social por duas vias. Pelo lado da procura, podem dar origem a
novas necessidades sociais, como, por exemplo, o elevado nível de desemprego, a perda
de poder de compra ou a presença de fortes assimetrias na distribuição de rendimento.
Nesse sentido, estas necessidades constituem um motivo para que os empreendedores
sociais canalizem o seu esforço para a atenuação dos problemas socias. Os resultados de
Leahy e Villeneuve-Smith (2009) e Villeneuve-Smith e Chung (2013) suportam esta
ideia, verificando que as organizações socialmente empreendedoras se encontram
fortemente concentradas nas comunidades mais desfavorecidas.

Por outro lado, as variáveis económicas podem afetar o lado da oferta, pois alteram o
volume de recursos pessoais e financeiros disponíveis para a resolução dos problemas
sociais. A falta de financiamento é apontada, frequentemente, como um dos principais
fatores que impedem o desenvolvimento de novos projetos sociais (Leahy &
Villeneuve-Smith, 2009; Lehner, 2011; Urbano & Ferri, 2010; Villeneuve-Smith &
Chung, 2013). De igual modo, Estrin et al. (2011) encontram uma associação positiva
entre o acesso a recursos financeiros e a criação de iniciativas de empreendedorismo
social.

Austin et al. (2006), por outro lado, indicam que os donativos de particulares ou de
empresas (que representam fontes de meios financeiros) estão diretamente relacionados
com o nível de rendimento. Este facto sugere que, quanto maior o nível de rendimento
de um país, maiores serão os fundos disponíveis para apoiar iniciativas de índole social.
Mais recentemente, e de um modo análogo, Hoogendoorn e Hartog (2011) estudaram a
relação entre o nível de riqueza de um país e o nível de empreendedorismo social,
encontrando uma relação positiva entre estas duas variáveis, o que significa que quanto
maior é o rendimento per capita, maior é o nível de empreendedorismo social. No
mesmo sentido, o relatório do GEM (2009) indica que o nível de atividade socialmente
empreendedora aumenta ligeiramente com o desenvolvimento económico. Terjesen et

101
al. (2012) interpretam esta situação alegando que nos países em vias de
desenvolvimento, as necessidades primárias do indivíduo sobrepõem-se à necessidade
de expressão pessoal e de abertura à experiência, como acontece em países mais
desenvolvidos. Estes estudos sugerem, assim, que a presença de um contexto
económico favorável poderá influenciar positivamente a intenção para a constituição de
uma iniciativa de empreendedorismo social.

A influência do contexto económico é ainda assinalada por Villeneuve-Smith e Chung


(2013), para quem a evolução do número de iniciativas sociais no Reino Unido, nos
últimos anos, reflete as alterações nas condições económicas do país. Se por um lado a
crise económico-financeira deu origem a uma redução dos valores monetários médios
transacionados pelas organizações, por outro lado, o declínio económico levou
igualmente a um aumento do número de organizações existentes. O aumento do nível de
atividade socialmente empreendedora, para além de resultar do agravamento das
necessidades sociais (lado da procura), é justificado pelo facto de o número de novas
empresas (em geral) tender a aumentar durante os períodos de recessão, na sequência de
uma situação adversa que os indivíduos procuram alterar, o que poderá implicar a
criação de novos empreendimentos. Estrin et al. (2011), por outro lado, identificam uma
relação de sinal negativo entre a taxa de emprego de um país e o nível de atividade
socialmente empreendedora.

3.2.3 Variáveis socioculturais


O contexto sociocultural traduz os valores culturais, costumes e tradições da sociedade
(Hitt et al., 2011). Este poderá influenciar quer direta ou indiretamente a predisposição
para o empreendedorismo social. De uma forma indireta, estas variáveis são suscetíveis
de criar novas necessidades sociais (Hoogendoorn & Hartog, 2011), seja por
modificação do modo de vida em sociedade, da alteração (ou redução) do conceito de
famílias tradicionais, ou da emancipação das mulheres e a sua participação ativa no
mercado de trabalho. De facto, segundo Mulgan (2008), é nos períodos de grande
mudança, em particular, nos períodos de rápida transformação social, que emergem
novos modelos de resposta social, frequentemente impulsionados pela sociedade civil.

De uma forma direta, a cultura e as atitudes influem sobre o nível de empreendedorismo


social por via da formação dos valores e características pessoais que estimulam a

102
propensão para se atuar como empreendedor social (Hoogendoorn & Hartog, 2011;
Laspita, Breugst, Heblich & Patzelt, 2012). Para Drayton (2002), através do
empreendedorismo social os indivíduos aumentam a sua participação na sociedade,
exercem o seu poder e dão o seu contributo para a resolução de problemas sociais. Por
conseguinte, uma cultura com uma maior consciência social, com pessoas interventivas,
que se inquietam com a presença de problemas sociais, será catalisadora de um maior
nível de empreendedorismo social.

Os valores predominantes na sociedade poderão igualmente pesar na predisposição para


um comportamento socialmente empreendedor. Do ponto de vista teórico, a evidência
empírica tem sugerido que as culturas que valorizam mais objetivos de vida não
materialistas teriam uma maior inclinação para a criação de iniciativas de
empreendedorismo social. Porém, os estudos disponíveis não encontram suporte para
essa relação (Hoogendoorn & Hartog, 2011). O nível de coletivismo de uma sociedade
parece igualmente influir no nível de empreendedorismo social. Hoogendoorn et al.
(2011) alegam, curiosamente, que é nas sociedades mais individualistas, em que os
laços entre os indivíduos são mais ténues, que o empreendedorismo social se encontra
mais difundido. Os autores justificam os resultados argumentando que em sociedades
mais coletivistas os serviços sociais são prestados através de fontes informais, tais como
as famílias ampliadas. Em sociedades individualistas, a presença do empreendedorismo
social pode ser encarada como resultado de um enquadramento institucional que apoia a
criação de valor social, que noutras sociedades é feito de uma forma informal.

Quanto à influência do ‘espírito empreendedor’ ou ‘cultura empreendedora’ de um povo


sobre a prática do empreendedorismo social, a literatura não reúne unanimidade.
Hoogendoorn e Hartog (2011) defendem que o nível de empreendedorismo de uma
sociedade é incapaz de influenciar o nível de empreendedorismo social existente. De um
modo diferente, para Estrin et al. (2011), sociedades tradicionalmente mais
empreendedoras, serão também mais propensas para o empreendedorismo social,
considerando que estes dois níveis de empreendedorismo se reforçam mutuamente. As
suas ilações corroboram as conclusões do relatório do GEM (2009) que indica que
economias empreendedoras tendem a oferecer um ambiente mais favorável para o
desenvolvimento de iniciativas socialmente empreendedoras.

103
Estrin et al. (2011; 2013) assinalam, ainda, o impacto positivo que o nível de
empreendedorismo social de um país exerce sobre o empreendedorismo económico,
justificado pelo incremento do capital social existente.

A investigação de Estrin et al. (2013), por sua vez, e contrariando as ilações de Estrin et
al. (2011), aponta que, em países com elevado nível de empreendedorismo económico,
os indivíduos serão menos propensos para serem empreendedores sociais. Os autores
interpretam estes resultados considerando que uma intensa atividade de
empreendedorismo reduz as oportunidades disponíveis para os empreendedores sociais,
o que é consonante com a teoria da falha institucional.

3.2.4 Variáveis tecnológicas


O contexto tecnológico reflete o progresso técnico de uma sociedade. Representa as
instituições e as atividades envolvidas na criação de conhecimento e na sua
transferência para novos produtos, processos ou materiais (Hitt et al., 2011). A literatura
assinala que o desenvolvimento tecnológico tem gerado um efeito positivo sobre o
empreendedorismo social (Bonini & Emerson, 2005; VanSandt et al., 2009; Yunus,
2011). Em particular, o desenvolvimento de novas ferramentas tecnológicas tem
possibilitado a interconexão de indivíduos nas mais diversas partes do mundo. Cria-se
assim uma maior consciência social sobre as necessidades existentes em diferentes
partes do globo (Bonini & Emerson, 2005). Segundo VanSandt et al. (2009), a
emergência de um sentido de comunidade global pode levar a uma maior sensibilização
dos indivíduos relativamente às necessidades vigentes, não só ao nível local ou
nacional, como também numa escala global. Esta situação tem criado uma maior
sensibilidade e compromisso por parte dos indivíduos no que diz respeito à necessidade
de participação social (VanSandt et al., 2009; Zahra et al., 2008).

Para Christie e Honig (2006), com a globalização e o acesso crescente à internet, a


atuação social poderá ser feita ‘à distância’. Atualmente, alguns casos de iniciativas
bem-sucedidas estão a ser desenvolvidos através de ações de consultoria ou formação
(inclusivamente na área da saúde) realizadas com recurso às novas ferramentas de
comunicação virtual. Por outro lado, começa a surgir uma série de plataformas que
divulgam projetos que precisam de suporte (envolvendo até a mobilização de recursos)
e que facilitam a troca de informação entre potenciais interessados. A tecnologia

104
permite, ainda, a criação de novas fontes de recursos financeiros, designadamente
através da solicitação de contribuições via internet (e-fundraising) (Gallagher, Gilmore
& Stolz, 2012). De acrescentar que os desenvolvimentos tecnológicos permitem
difundir conhecimento acerca das práticas de outras organizações congéneres (Bonini &
Emerson, 2005; Zahra et al., 2008), constituindo mecanismos facilitadores do sucesso e
ajudando alguns indivíduos a atuarem como empreendedores sociais. Estes são apenas
alguns exemplos que ilustram a forma como as novas tecnologias da informação e
comunicação estão a contribuir positivamente para a adoção de comportamentos
relacionados com o empreendedorismo social.

3.3 Perfil do empreendedor social

3.3.1 Perfil psicográfico


A literatura especializada tem explorado a possibilidade de os empreendedores sociais
apresentarem características pessoais distintas (Nga & Shamuganathan, 2010),
procurando certos traços, comportamentos, tendências cognitivas ou competências
pessoais que permitam distinguir o empreendedor social dos seus pares não
empreendedores, bem como dos empreendedores económicos (Light, 2006a). Alguns
dos traços que têm sido atribuídos ao empreendedor social são a criatividade, coragem,
ambição, proatividade, resiliência, ou a presença de um forte sentido ético (Beugré,
2011; Drayton, 2002; Martin & Osberg, 2007; Mort et al., 2003; Zahra et al., 2009).

Alguns autores aplicaram os métodos da genética comportamental para estudar a


tendência manifestada por algumas pessoas para se tornarem empreendedoras (Zhang et
al., 2009). A investigação tem sugerido que a componente genética influencia vários
constructos relacionados com os comportamentos organizacionais, tais como atitudes no
emprego, interesses vocacionais, valores no trabalho, liderança ou propensão para o
empreendedorismo (ibidem). Nicolaou e Shane (2010) encontram nas diferenças
genéticas a explicação para o facto de determinados indivíduos serem mais predispostos
para ser empreendedores do que outros, encontrando ainda uma influência significativa
da hereditariedade na propensão para o empreendedorismo, que consideram mais
expressiva do que os fatores ambientais.

105
De um modo idêntico, os investigadores têm estudado os fatores que impulsionam o
empreendedorismo social, procurando compreender quais os traços de personalidade
que são preditores e catalisadores do comportamento (Nga & Shamuganathan, 2010;
Zhao & Seibert, 2006). Os traços de personalidade são entendidos como um conjunto de
características estáveis, relativamente duradouras e que diferenciam os indivíduos uns
dos outros (Lukeš & Stephan, 2012). Gordon Allport (1937) (citado em Wood, 2012)
descreve os traços de personalidade como os sistemas generalizados e focalizados
(peculiares ao indivíduo), com capacidade para prestar estímulos funcionais para iniciar
e conduzir formas consistentes de comportamento. Para Lukeš e Stephan (2012), os
traços de personalidade explicam porque as pessoas diferem umas das outras nas suas
ações, emoções e pensamentos. Segundo Wood (2012), os traços de personalidade, que
são função quer da hereditariedade quer do ambiente, moldam cada pessoa de um modo
único e conduzem à consistência de comportamentos individuais. Por isso, os autores
afirmam que os traços definem as características-chave do comportamento.

De um modo geral, estes traços têm sido descritos como (Brandstätter, 2011):

(i) Capacidades, como a inteligência em geral, inteligência numérica, verbal,


espacial ou inteligência emocional;
(ii) Motivos, que impulsionam e direcionam as ações, tais como necessidade de
realização, poder ou afiliação;
(iii) Atitudes, como por exemplo valores;
(iv) Características temperamentais e ações;

Desde cedo os investigadores desenvolveram esforços no sentido de estudar e mensurar


a personalidade (Wood, 2012). Na investigação tem predominado o modelo dos cinco
fatores, também conhecido na literatura como modelo dos Big Traits (Brandstätter,
2011). Como o seu nome sugere, o modelo considera a existência de cinco dimensões
gerais de personalidade: (i) abertura à experiência; (ii) extroversão; (iii)
conscenciosidade; (iv) agradabilidade; e (v) estabilidade emocional/neuroticismo.

A dimensão abertura é entendida como a extensão com que uma pessoa é curiosa,
imaginativa, criativa, confortável com a ambiguidade, procura novas experiências e
explora novas ideias (Wood, 2012; Zhao & Seibert, 2006). Esta dimensão está
relacionada com uma forte tendência para se aprender coisas novas, com a capacidade
de perceção de alterações e com uma adaptação eficaz (Wood, 2012). Os resultados

106
indicam que os indivíduos com um elevado nível de abertura apresentam uma maior
curiosidade intelectual, uma maior afinidade para participar em novas experiências e um
pensamento mais divergente (Nga & Shamuganathan, 2010; Zhao & Seibert, 2006).
Para Wood (2012), indivíduos com um maior nível de abertura são percebidos como
recetivos à mudança e predispostos para assumir riscos. Pelo contrário, pessoas com
baixa abertura à experiência são caracterizadas como mais convencionais e confortáveis
com métodos e questões conhecidas (Chlosta, Patzelt, Klein & Dormann, 2012; Zhao &
Seibert, 2006). Chlosta et al. (2012), constatam que são vários os estudos empíricos que
têm demonstrado de uma forma consistente que a dimensão abertura representa um
importante papel na decisão de criação do próprio emprego. Na aceção de Nga e
Shamuganathan (2010), indivíduos com maior abertura têm uma maior propensão para
serem empreendedores na medida em que são mais versáteis, imaginativos e receiam
menos os novos desafios.

A extroversão, por sua vez, descreve a extensão com que as pessoas são assertivas,
dominantes, enérgicas, ativas e conversadoras (Zhao & Seibert, 2006). De acordo com
Wood (2012), pessoas extrovertidas procuram estímulos e entusiasmo, especialmente na
companhia de outros. A esta dimensão está associado um pronunciado compromisso
para com o mundo exterior, sendo extroverdido alguém que estabelece facilmente
ligação com os outros e que gosta da interação social (Bolton, Becker & Barber, 2010).
De um modo distinto, pessoas com baixos níveis de extroversão preferem despender
mais tempo sozinhas, são reservadas, calmas e independentes (Zhao & Seibert, 2006). A
extroversão é também uma característica atribuída aos empreendedores sociais.
Segundo Nga e Shamuganathan (2010) e Brandstätter (2011), a presença deste traço
contribui para: (i) uma personalidade proativa, necessária à visão carismática dos
empreendedores sociais; (ii) a capacidade de comunicação com os diversos
stakeholders; e (iii) a construção do networking social.

Relativamente à dimensão conscenciosidade, para Bolton et al. (2010), esta diz respeito
não só ao modo como se controlam, regulam e direcionam os impulsos, mas também ao
nível de organização, persistência e motivação na realização dos objetivos (Wood,
2012; Zhao & Seibert, 2006). A conscenciosidade é entendida, ainda, como um
indicador da vontade e capacidade do indivíduo para trabalhar árdua e zelosamente
(Zhao & Seibert, 2006), sendo vista como positiva para a prossecução dos objetivos
(Brandstätter, 2011).

107
A agradabilidade, por seu lado, traduz a orientação interpessoal do indivíduo (Zhao &
Seibert, 2006). No entendimento de Wood (2012), representa alguém que tem tendência
para ser amigável, cooperativo e que valoriza a convivência. Pessoas com um elevado
nível de agradabilidade expressam uma preocupação constante com o bem-estar dos
outros, tendem a ser altruístas e cooperativas (Chlosta et al., 2012; Zhao & Seibert,
2006). Pelo contrário, indivíduos com baixo nível de agradabilidade caracterizam-se
como manipuladores, egocêntricos e desconfiados (Zhao & Seibert, 2006). A dimensão
sociabilização (agradabilidade) é identificada por Nga e Shamuganathan (2010) como
importante para o empreendedorismo social, pois potencia a capacidade de influenciar
relações interpessoais e promove a obtenção de consensos sociais.

Por último, a dimensão neuroticismo representa as diferenças individuais ao nível da


estabilidade emocional (Zhao & Seibert, 2006). Indivíduos com um elevado nível de
neuroticismo tendem a viver uma pluralidade de emoções negativas, tais como
ansiedade, hostilidade, depressão, impulsividade ou vulnerabilidade (Bolton et al.,
2010; Wood, 2012; Zhao & Seibert, 2006). Pelo contrário, indivíduos com baixa
classificação neste traço de personalidade são caracterizados como autoconfiantes,
calmos, temperados e relaxados (Zhang et al., 2009; Zhao & Seibert, 2006). Os
empreendedores deparam-se com fortes pressões provenientes de todos os processos
organizacionais, assumem responsabilidades e operam em ambientes dinâmicos. Por
isso, Zhang et al. (2009) defendem que indivíduos com baixo nível de neuroticismo
apresentam uma maior probabilidade para serem empreendedores, pois são
autoconfiantes e persistentes. Do mesmo modo, Brandstätter (2011) considera que a
autodeterminação e independência, associadas à estabilidade emocional, são positivas
para o empreendedorismo. Inversamente, indivíduos com baixa estabilidade emocional
não terão a confiança e a resiliência necessárias para fazer face às pressões que o
empreendedorismo implica (Zhang et al., 2009). Nga e Shamuganathan (2010)
sugerem, ainda, que a baixa estabilidade emocional poderá estar negativamente
associada à propensão para se apoiar causas sociais.

De acordo com Baron e Markman (2005) (citados por Chlosta et al., 2012) os efeitos
dos traços de personalidade diferem consoante as etapas da criação da organização. Os
autores reconhecem a abertura à experiência como particularmente importante nas fases
iniciais do processo, designadamente para o reconhecimento de oportunidades,

108
enquanto a conscenciosidade é essencial após a criação da iniciativa, quando o
empreendedor se foca na produção do bem ou na prestação do serviço.

Embora não imune a críticas, o modelo dos cinco fatores de personalidade é entendido
como robusto e preditor dos diferentes padrões de comportamento (Wood, 2012),
permitindo incluir quase todos os tipos de personalidade utilizados num pequeno,
embora significativo, conjunto de construções de personalidade (Schmit, Kihm &
Robie, 2000; Zhao & Seibert, 2006). Para além do modelo dos cinco fatores, alguns dos
constructos de personalidade utilizados na investigação em empreendedorismo baseiam-
se em teorias específicas, tais como: locus de controlo, autoeficácia, orientação para a
ação, foco regulamentar, escalas de orientação empreendedora, personalidade
empreendedora, necessidade de realização, propensão para o risco, ou iniciativa pessoal
(Brandstätter, 2011). Porém, algumas destas dimensões estão contempladas no modelo
dos cinco fatores. Acresce que o modelo dos Big Traits se encontra bem estabelecido do
ponto de vista experimental (Lukeš & Stephan, 2012), tendo produzido resultados
consistentes entre diferentes culturas (Schmit et al., 2000), o que favorece a comparação
entre estudos empíricos. Os estudos sustentam que o modelo é relevante para a
mensuração da personalidade no empreendedorismo, assim como, mais recentemente,
no empreendedorismo social (Brandstätter, 2011; Lukeš & Stephan, 2012; Nga &
Shamuganathan, 2010; Obschonka et al., 2010).

A investigação de Nga e Shamuganathan (2010), aplicada à formação das intenções no


empreendedorismo social, apenas confirma a influência positiva de três traços de
personalidade - agradabilidade, abertura à experiência e conscenciosidade. Os
resultados destacam, sobretudo, a dimensão agradabilidade, que é suscetível de
influenciar a visão social, a inovação, a sustentabilidade, o networking social e os
retornos financeiros. Lukeš e Stephan (2012) reconhecem um perfil semelhante nos dois
tipos de empreendedor (económico e social), indicando um elevado nível de
extroversão, abertura à experiência, agradabilidade, conscenciosidade e estabilidade
emocional.

109
3.3.2 Perfil demográfico
Apesar da importância reconhecida ao papel da personalidade, Wood (2012) sugere que
estudar o comportamento empreendedor apenas com base nas características e traços
pessoais poderá ser limitativo. O autor argumenta que as atitudes ou comportamentos
são frequentemente dependentes de elementos contextuais que interagem com a
personalidade. Deste modo, o empreendedor social é visto como o resultado do contexto
pessoal em que se encontra inserido, onde concorre um vasto número de fatores capazes
de interferir na predisposição para o empreendedorismo social (Ármannsdóttir, 2011;
London & Morfopoulos, 2010; Obschonka, Silbereisen & Schmitt-Rodermund, 2012).
Por isso, ainda que algumas pessoas tenham ‘nascido’ com um perfil que se afigura
propício para ser empreendedor social, poder-se-á questionar quais são as pré-condições
conducentes, ou até necessárias, para que atuem como tal. Os resultados da investigação
têm apontado como principais indutores do empreendedorismo social a idade, o género,
a formação, o estatuto familiar, ou as experiências profissionais e pessoais passadas.

3.3.2.1 Idade
A idade tem sido referida como um fator capaz de influenciar a propensão para o
empreendedorismo social. Parker (2008) argumenta que os empreendedores sociais
apresentam uma distribuição etária em forma de u, no qual são os indivíduos mais
novos ou mais velho, por oposição às pessoas de meia-idade, os mais predispostos para
serem empreendedores sociais. Para o autor, deste perfil etário resultam dois tipos
dominantes de indivíduos que se envolvem no empreendedorismo social: (i) os
indivíduos idealistas que integram as organizações sociais quando são jovens; e (ii) os
indivíduos com recursos que se envolvem no empreendedorismo social numa fase mais
tardia da sua vida, depois de uma vida enquanto funcionários remunerados por conta de
outrem ou como empresários. A idade é, assim, entendida como um preditor indireto do
comportamento socialmente empreendedor, na medida em que implica um determinado
posicionamento ao longo do ciclo de vida do indivíduo.

Outra perspetiva, apontada por Putnam (2000), considera que a idade reflete o
comportamento cívico do indivíduo, particularmente das pessoas mais velhas que se
mostram mais comprometidas, muito embora as pessoas mais novas encontrem no
empreendedorismo social uma forma inovadora para expressar o seu compromisso

110
cívico. De um modo semelhante, Villeneuve-Smith e Chung (2013) interpretam a
preponderância do empreendedorismo nas pessoas mais novas como resultado de uma
predisposição para os negócios e para os deveres cívicos. Todavia, os resultados
empíricos existentes não são consensuais. De facto, alguns estudos encontram nas
pessoas mais novas uma maior adesão ao empreendedorismo social (GEM, 2009;
Harding & Cowling, 2006; Johnson, 2003; Leahy & Villeneuve-Smith, 2009). Por outro
lado, contrariando os argumentos de Parker (2008), Van Ryzin, Bergrud e DiPadova-
Stocks (2007) defendem que as pessoas mais velhas são as menos propensas para o
desenvolvimento daquela atividade. Esta tendência é confirmada pelo relatório do GEM
(2009), que, inquirindo pessoas em idade ativa, constata que quanto mais próximo um
indivíduo está da idade da reforma, menos provável será a criação de uma organização
socialmente empreendedora.

O relatório do GEM (2009) assinala ainda que o perfil etário dos empreendedores
sociais varia em função das características económicas do país. Em economias
orientadas para a inovação (onde Portugal se integra, embora não fazendo parte do
estudo), as pessoas mais jovens são as mais propensas para o empreendedorismo social.
Em economias orientadas para os fatores de produção, pelo contrário, este é o grupo
menos recetivo ao empreendedorismo social. Para Terjesen et al. (2012), estes
resultados poderão ser justificados pela preocupação primária para se encontrar um
emprego que assegure as suas necessidades financeiras, que será menor em economias
orientadas para a inovação e possibilita que estes indivíduos se dediquem a causas
altruístas.

Baral, Simons, Lane e Zhang (2012) verificam, no caso chinês, uma distribuição etária
em forma de u invertido, com uma prevalência de empreendedores sociais entre os 31 e
os 40 anos. Para os autores, este perfil justifica-se pelas competências e contactos
profissionais que esta idade proporciona. Do mesmo modo, Estrin et al. (2011),
encontram um predomínio de empreendedores sociais nas faixas etárias intermédias,
que seguem o mesmo formato (em u invertido) que os empreendedores económicos.
Bacq et al. (2011) encontram um padrão semelhante no caso belga e holandês,
constatando, ainda, que os indivíduos mais novos e mais velhos, apesar de não serem os
mais frequentes entre os empreendedores sociais, são marginalmente mais propensos
para o empreendedorismo social do que para o empreendedorismo económico. Os

111
autores identificam, inclusivamente, que os empreendedores sociais têm uma idade
média inferior aos seus congéneres económicos.

3.3.2.2 Género
A investigação sobre empreendedorismo económico admite a existência de um gap no
género dos empreendedores, com uma forte predominância dos empreendedores do
género masculino (Bacq et al., 2011; Hoogendoorn et al., 2011; Pines, Lerner &
Schwartz, 2012), verificado mesmo em países considerados igualitários (Berglann,
Moen, Røed & Skogstrøm, 2011).

A investigação sobre empreendedorismo social, por seu lado, tem procurado


compreender a influência do género sobre o comportamento empreendedor, não tendo
porém reunido consenso. O relatório do GEM (2009) evidencia que em termos gerais os
homens estão mais ativamente envolvidos na criação de iniciativas socialmente
empreendedoras, muito embora não de uma forma tão pronunciada como no
empreendedorismo económico (Bosma & Levie, 2010; Terjesen et al., 2012). Os
mesmos resultados são encontrados, a nível nacional, em outras investigações (Bacq et
al., 2011; Baral et al., 2012; Harding & Cowling, 2006; Leahy & Villeneuve-Smith,
2009; Villeneuve-Smith & Chung, 2013), o que leva Villeneuve-Smith e Chung (2013,
p. 36) a assumir que “as empresas sociais são um lar natural para as mulheres
empreendedoras”. Daqui se poderá inferir que as mulheres mais propensas para o
empreendedorismo, são mais suscetíveis de se tornar empreendedoras sociais do que
empresariais. Estrin et al. (2011) interpretam estes resultados com base numa orientação
para os valores, alegando que a postura prossocial veiculada nos objetivos prosseguidos
pelo empreendedorismo social são mais facilmente encontrados em mulheres. De um
modo semelhante, Pines et al. (2012) alegam que a redução deste gap resulta da
presença mais pronunciada do sentido de missão e de serviço (por oposição aos
objetivos de rentabilidade e ganhos financeiros) no género feminino.

Nos Estados Unidos, pelo contrário, os resultados de Van Ryzin, Grossman, DiPadova-
Stocks e Bergrud (2009), identificam uma maior probabilidade de os empreendedores
sociais serem mulheres. A investigação de Estrin et al. (2011), por sua vez, não encontra
qualquer associação entre o género e a criação de iniciativas de empreendedorismo
social.

112
Estes resultados, aparentemente contraditórios, não são, porém, totalmente
surpreendentes, na medida em que a análise ao relatório do GEM (2009) revela que a
proporção de empreendedores sociais do género masculino versus feminino varia
fortemente entre países, existindo casos em que o número de empreendedores sociais
femininos é superior ao dos empreendedores sociais masculinos.

De um modo diferente, Ármannsdóttir (2011), examinando a influência do género sobre


a escolha da área de atividade, sugere que as mulheres se concentram principalmente em
questões ligadas à cultura e às crianças, enquanto os homens se focam mais em áreas
como a do desporto. A investigação aponta, ainda, para a existência de diferentes
motivos para a criação da iniciativa, em que os indivíduos do género feminino procuram
principalmente a satisfação pessoal resultante de um desafio ou de um trabalho
equilibrado, enquanto os empreendedores sociais masculinos valorizam o facto de
serem os seus próprios chefes e melhorarem a sua posição e a da sua família na
sociedade (Ármannsdóttir, 2011).

3.3.2.3 Formação
Um outro elemento que tem sido estudado enquanto instigador do comportamento
empreendedor é a formação. Vários estudos, em diferentes contextos, sugerem que a
formação aumenta a probabilidade de o indivíduo se envolver no empreendedorismo
social (Bosma & Levie, 2010; Harding & Cowling, 2006; Hoogendoorn et al., 2011;
Lehner, 2011; Van Ryzin et al., 2009; Terjesen et al., 2012). A investigação sugere
ainda que os empreendedores sociais tendem a ter um nível de escolaridade superior à
dos empreendedores económicos (Bacq et al., 2011; GEM, 2009; Hoogendoorn et al.,
2011; Van Ryzin et al., 2007). Estrin et al. (2011), avaliando a influência do nível de
formação sobre a propensão empreendedora, comprovam o seu contributo positivo para
as duas tipologias de empreendedorismo, embora mais expressiva no
empreendedorismo social.

O relatório do GEM (2009) regista esta influência positiva em todos os países em


análise (47), embora assinalando que este ‘efeito da educação’ é particularmente
evidente em países com um baixo nível de desenvolvimento económico, onde as
diferenças económicas e sociais são mais óbvias e os indivíduos com um maior nível de
formação sentem uma necessidade mais acutilante em fazer face a esses flagelos sociais.

113
No caso português, os resultados do estudo de Ferreira (2005) sugere que os
empreendedores sociais têm na sua maioria formação superior.

A relevância da formação no empreendedorismo social pode ser interpretada com base


na sensibilidade para as questões sociais, que a literatura assume estar mais presente em
pessoas com maior nível de habilitações académicas (Estrin et al., 2011; Terjesen et al.,
2012). Uma outra explicação adiantada por Terjesen et al. (2012) assenta na facilidade
em identificar e prosseguir oportunidades socialmente empreendedoras que a formação
confere. Os autores invocam ainda a segurança financeira (que admitem poder ser maior
em indivíduos com maior nível de formação), permitindo que os indivíduos explorem
outros elementos de natureza não exclusivamente material. Baral et al. (2012), de um
modo diferente, apontam para a emergência de um novo grupo de jovens
empreendedores sociais de entre alunos que terminaram a sua formação superior e
estiveram ‘expostos’ ao empreendedorismo social nas suas universidades.

Em termos de área de formação, Lehner (2011) constata, no caso austríaco, que a


maioria dos empreendedores sociais tem formação na área empresarial, seguida de
indivíduos que provêm de áreas técnicas e das ciências sociais. Em Portugal, Ferreira
(2005) avança que os empreendedores sociais apresentam uma pluralidade de áreas de
formação. Nga e Shamuganathan (2010), por sua vez, destacam a importância da
formação na área da gestão, enquanto facilitador do desenvolvimento de traços críticos
de personalidade favoráveis ao empreendedorismo social.

3.3.2.4 Percurso profissional anterior


A experiência profissional do indivíduo parece igualmente contribuir para o
aparecimento do empreendedor social. Van Ryzin et al. (2009) indicam que a
experiência em gestão aumenta a probabilidade de um indivíduo vir a ser um
empreendedor social, pois a experiência profissional é vista por Sharir e Lerner (2006)
como catalisadora do sucesso das iniciativas socialmente empreendedoras.

A investigação de Ármannsdóttir (2011) sugere que os empreendedores sociais tendem


a desenvolver a sua atividade em áreas que apresentam uma ligação direta com a sua
profissão anterior. Este facto justifica-se, segundo o autor, pela familiaridade que a
experiência profissional proporciona. De um modo semelhante, Ferreira (2005) revela,

114
para o caso português, que o empreendedor social se envolve, com frequência, em
projetos com os quais tenha experienciado algum tipo de ligação, quer no que respeita
ao tipo de organização quer na área de atividade.

Estrin et al. (2011; 2013) encontram nos indivíduos que já são empreendedores sociais
uma maior probabilidade de virem a criar uma nova iniciativa social. A sua investigação
indica que indivíduos que já são empreendedores económicos são menos propensos para
iniciar (em simultâneo) uma organização socialmente empreendedora. No inverso,
curiosamente, constatam uma influência positiva da criação de organizações sociais em
relação ao futuro envolvimento (paralelo) no empreendedorismo económico. Este
resultado leva-os a admitir que o empreendedorismo social pode ser encarado como um
‘caminho’ para a prática do empreendedorismo social justificado por dois fatores
distintos: (i) alguns indivíduos poderão concluir que a sustentabilidade e autonomia
económicas apenas poderão ser alcançadas através de iniciativas de empreendedorismo
económico; e (ii) pessoas que geralmente são pouco recetivas ao empreendedorismo
económico, desenvolvem as suas competências e confiança empreendedoras no âmbito
da organização social, sentindo-se posteriormente capacitadas para iniciar um
empreendimento económico.

Analisando o setor de proveniência, Leahy e Villeneuve-Smith (2009) evidenciam, no


Reino Unido, que cerca de metade dos empreendedores sociais é já originário do setor
social, provindo os restantes do setor empresarial ou público. Johnson (2003), por outro
lado, sugere que indivíduos com uma longa história de trabalho no setor social tendem a
ser relutantes na aplicação da linguagem do setor privado, o que cria barreiras em
relação à aceitação da prática do empreendedorismo social.

Em termos de situação ocupacional o relatório do GEM (2009) indica que o estatuto


profissional mais comum entre os empreendedores sociais é o de trabalhador por conta
própria seguido, por esta ordem, por colaboradores a tempo-parcial, colaboradores a
tempo inteiro, estudantes e, por fim, pessoas que não estavam a trabalhar ou se
encontravam numa outra situação ocupacional. O mesmo relatório revela que em
economias orientadas para a inovação ou para a eficiência, é mais frequente a adesão ao
empreendedorismo social por colaboradores a tempo-parcial ou estudantes. Harding e
Cowling (2006), de um modo diferente, indiciam que os indivíduos empregados a
tempo inteiro são os mais propensos para o empreendedorismo social. Bacq et al.

115
(2011), na Bélgica e Holanda, também constatam que a maioria dos empreendedores
sociais possuía um emprego remunerado, embora assinalando que a percentagem de
indivíduos que se encontravam inativos é maior no empreendedorismo social do que no
económico. Associado a estes resultados, Bacq et al. (2011), identificam que a maioria
dos empreendedores sociais considera a atividade social que exercem como paralela à
sua atividade profissional quotidiana. Nessa medida, os autores concluem que a
transição para uma situação de criação de emprego por conta própria a tempo integral é
menos comum nos empreendedores sociais comparativamente com os económicos.
Bacq et al. (2011) apontam duas possíveis justificações para esta situação: (i) a falta de
perspetivas quanto à geração de rendimentos; e (ii) o empreendedorismo social ser
encarado como um hobby, que é exercido nos tempos livres. Pelo contrário, Estrin et al.
(2011), não encontram uma associação significativa entre a situação ocupacional do
indivíduo e a criação de iniciativas sociais.

O nível de satisfação com a situação profissional tem também sido mencionado como
impulsionador para o envolvimento em iniciativas de empreendedorismo social. London
e Morfopoulos (2010) sugerem que indivíduos que não se sintam realizados poderão
tentar compensar a frustração através do voluntariado e do envolvimento em iniciativas
de cariz social. Da mesma forma, no empreendedorismo tradicional os resultados
sugerem que a insatisfação com experiências passadas aumenta a probabilidade de o
indivíduo criar o seu próprio empreendimento (Smith-Hunter, Kapp & Jonkers, 2003).
A investigação de Berglann et al. (2011) indica que os indivíduos tenderão a enveredar
pela criação de um empreendimento, em detrimento de permanecerem como
colaboradores por conta de outrem, quando a compensação do colaborador é baixa, os
lucros per capita da organização elevados e a empresa se encontra em processo de
downsizing.

3.3.2.5 Experiência pessoal e ciclo de vida da família


Para além da experiência profissional, todo o percurso pessoal do indivíduo parece
influir sobre a formação das suas intenções. A investigação sugere que o
desenvolvimento vocacional se inicia logo na infância do empreendedor (Obschonka et
al., 2012). De facto, a participação na juventude em organizações e serviços de melhoria
de bem-estar têm sido apontadas como relevantes, o mesmo ocorrendo em relação à

116
influência da formação religiosa ou da participação em atividades organizadas por
instituições religiosas (London & Morfopoulos, 2010).

A competência empreendedora desenvolvida na adolescência (como liderança ou


iniciativas criativas) e o estímulo que essas competências emitem são reconhecidas por
Obschonka et al. (2012) como preditores da capacidade de geração de ideias na idade
adulta. Muitos dos empreendedores sociais veem-se envolvidos em questões sociais
numa idade precoce, mantendo o seu ativismo social na idade adulta (Ármannsdóttir,
2011; Barendsen & Gardner, 2004). Barendsen e Gardner (2004) apontam para que os
empreendedores sociais tenham crenças profundamente enraizadas, que se formam
cedo, o que os faz sentir-se responsáveis por uma missão social com a qual se
encontram familiarizados. A motivação surge, por vezes, da sua história pessoal ou de
uma experiência visceral de um problema social (I. Popoviciu & S. Popoviciu, 2011;
Katre & Salipante, 2012). Segundo Murphy e Coombes (2008), o empreendedor social,
com frequência, pertence ou pertenceu a um grupo que a organização social visa servir.
O compromisso com uma questão social emerge, amiúde, como um sentimento de
afetividade emocional e de responsabilidade para com uma causa, atuando como
catalisador no desenvolvimento das suas crenças (Barendsen & Gardner, 2004; Nga &
Shamuganathan, 2010). Os empreendedores sociais sentem-se preocupados ou
insatisfeitos com as respostas existentes para problemas sociais que encontram em si
próprios, na sua família ou comunidade (Katre & Salipante, 2012). Segundo
Ármannsdóttir (2011), esta familiaridade com o problema social poderá ajudar na
identificação de oportunidades e na descoberta de uma solução para o problema. De
uma forma semelhante, Shaw (2004) constata que os empreendedores sociais atribuem
uma grande ênfase ao caráter local das necessidades sociais. Outros empreendedores
sociais viveram experiências profundamente transformadoras nas suas vidas, como por
exemplo, viver no estrangeiro, combater a depressão ou dependências diversas
(Barendsen & Gardner, 2004).

Para além destas experiências pessoais, o momentum evidenciado ao longo do ciclo de


vida familiar parece incidir sobre a propensão para o empreendedorismo social, como a
ocorrência de acontecimentos que provocam uma maior disponibilidade no indivíduo -
por exemplo, descendentes que saíram de casa ou uma situação de pré-reforma (London
& Morfopoulos, 2010), ou mudanças de vida como perda de emprego ou ‘crises de
meia-idade’ (Katre & Salipante, 2012). A atividade de empreendedorismo social é,

117
neste caso, vista como um meio para colmatar uma ‘lacuna’ pessoal que permite, para
além disso, criar valor social e ajudar os outros (London & Morfopoulos, 2010). Do
mesmo modo, a recetividade ao empreendedorismo social poderá ser reforçada por
momentos na vida do indivíduo que suponham uma necessidade de mudança
(Ármannsdóttir, 2011). Para Ioan Popoviciu e Salomea Popoviciu (2011), de um modo
geral, o facto de se tornar empreendedor social pode resultar de um desejo para algo
mais do que o atual modelo de vida.

De acordo com Van Ryzin et al. (2009), os empreendedores sociais são, tipicamente,
indivíduos interessados em política, dados à caridade e ideologicamente liberais. O
envolvimento social e político por parte dos pais tem sido também considerado
relevante (Barendsen & Gardner, 2004; Light, 2006a). A motivação para o
empreendedorismo social surge muitas vezes como forma de seguir o percurso dos pais
ou de irmãos mais velhos (London & Morfopoulos, 2010). Uma quantidade
significativa de estudos encontra uma relação positiva, ainda que parcial, entre o
estatuto empreendedor dos pais e a probabilidade de uma criança se tornar
empreendedora numa fase posterior da sua vida (Laspita et al., 2012; Schmitt-
Rodermund, 2004). Chlosta et al. (2012) analisam, à luz da teoria da aprendizagem
social, a influência do papel do modelo dos pais sobre a predisposição para o
empreendedorismo económico. Os autores indicam que o crescimento (e a exposição)
em famílias com herança empreendedora oferece às crianças a oportunidade para
aprenderem com a iniciativa dos pais, influenciando as suas atitudes e valores. Através
da observação das ações dos seus pais, os indivíduos aprendem e transformam a
informação retida em códigos internos, que configuram um modelo mental e
influenciam a sua política de tomada de decisões (escolha ocupacional inclusive).
Apesar dos resultados obtidos, Chlosta et al. (2012) alertam para a discrepância de
resultados encontrada na literatura dado que alguns estudos não encontram suporte para
a influência do contexto familiar sobre o empreendedorismo. Para explorar esta situação
inconclusiva, Chlosta et al. (2012) moderam a relação entre estas duas variáveis
(contexto familiar e empreendedorismo) através dos traços de personalidade do
indivíduo, especificamente por recurso à dimensão abertura à experiência. Os resultados
sugerem que indivíduos com um maior nível de abertura são mais propensos para
aprender com as pessoas fora do seu contexto familiar e, como tal, para seguir percursos
diferentes dos pais. Pelo contrário, indivíduos com baixa abertura tendem a focar-se

118
naquilo que conhecem, atribuindo uma baixa atenção aos estímulos emitidos de fora do
contexto familiar. De um modo diferente, Laspita et al. (2012) constatam que a
influência dos pais difere em função da idade, encontrando uma maior prevalência na
adolescência do que na infância.

A orientação empreendedora poderá ainda ser explicada pelas crenças e normas sociais
que predominam nos círculos próximos (amigos e familiares). Segundo Paço, Ferreira,
Raposo, Rodrigues e Dinis (2011), estas normas sociais, subjetivas, são em parte
determinadas pela opinião das pessoas que influem no comportamento empreendedor.
Seguir as regras dos pares, aceitar convites de amigos para se juntar a uma iniciativa, ou
seguir o exemplo de pessoas que conseguiram gerar um impacto social positivo, são
motivos apontados na literatura (Ármannsdóttir, 2011; London & Morfopoulos, 2010).
Estrin et al. (2011) confirmam o efeito positivo que o papel de um empreendedor
modelo assume, sendo mais frequente a criação de uma iniciativa social quando o
indivíduo conhece alguém que já é empreendedor.

Para além dos contactos pessoais, o empreendedor social poderá seguir modelos de
comportamento desempenhados por outros atores que respeita e admira, e cujo sucesso
inspira outros empreendedores sociais (London & Morfopoulos, 2010). Como sugerido
por Griskevicius, Cantú e Vugt (2012), de acordo com a teoria do comportamento
contingente, os indivíduos tendem a imitar aqueles que são percebidos como
prestigiados ou bem-sucedidos. Segundo os autores, os indivíduos estarão mais
predispostos para a serem empreendedores sociais quando percecionam que o mesmo é
feito por muitas outras pessoas ou por indivíduos com notórias características de
liderança.

3.3.2.6 Outras variáveis demográficas


Muito poucos estudos se têm dedicado a analisar o impacto de outras variáveis
demográficas. Sobre a influência da localização geográfica do empreendedor social, os
poucos estudos existentes são contraditórios. Ármannsdóttir (2011) indica que é mais
comum que os empreendedores sociais provenham de zonas rurais. Baral et al. (2012),
por sua vez, verificam uma concentração das iniciativas em zonas urbanas, que é
justificada por uma maior facilidade no acesso aos recursos. Este padrão é confirmado
pelas investigações de Korosec e Berman (2006) e Van Ryzin et al. (2007; 2009), que

119
identificam uma predominância de empreendedores sociais em grandes cidades. Para
Van Ryzin et al. (2007) este resultado decorre da maior exposição a problemas sociais e
da facilidade no acesso a apoios que esse contexto propicia.

Relativamente à etnia, Van Ryzin et al. (2009) identificam, nos Estados Unidos, uma
maior suscetibilidade de os empreendedores sociais serem de uma etnia não branca que,
na sua opinião, pode em alguma medida ser justificada por experiências de injustiças ou
desigualdades a que tenham sido expostos e que reforçou a sua sensibilidade a questões
sociais. No Reino Unido, Villeneuve-Smith e Chung (2013) constatam uma presença
expressiva de indivíduos de raça negra, asiática ou minorias étnicas.

3.4 Objetivos pessoais do empreendedor social


Os empreendedores, ao tomar uma iniciativa, fazem-no com o intuito de concretizar
determinados objetivos (Naffziger et al., 1994). Verifica-se, pois, a existência de uma
‘intencionalidade’ no momento da criação da organização, que reflete os objetivos do
próprio indivíduo (Naffziger et al., 1994), orienta o seu comportamento individual
(Lukeš & Stephan, 2012) e conduz as suas ações (Katre & Salipante, 2012). Apesar dos
objetivos variarem de indivíduo para indivíduo, os autores têm procurado identificar
alguns padrões e compreender quais os propósitos que subjazem à criação de um
projeto.

No que se refere ao empreendedorismo económico, as primeiras investigações indicam


que aquilo que motiva o empreendedor é a criação e apropriação de lucro. No
empreendedorismo social a investigação sugere a criação de valor social como
propósito principal. Os empreendedores sociais ostentam uma elevada preocupação com
a sociedade e é precisamente o desejo de resolver, ou pelo menos atenuar, um problema
social que os move (Ármannsdóttir, 2011; Beugré, 2011; Yunus, 2011). Leahy e
Villeneuve-Smith (2009) constatam a forte predominância dos propósitos sociais para a
criação de uma iniciativa, considerada como a melhor maneira para se alcançar esses
propósitos. O desejo de criar um resultado social é de tal forma central que alguns
autores argumentam que os empreendedores sociais afastam para segundo plano a
escolha dos problemas sociais específicos em que vão atuar (Kramer, 2005; F. Santos,
2009).

120
Assim, numa primeira abordagem, poder-se-ia destrinçar empreendedorismo económico
de empreendedorismo social pelo facto de este último ser uma expressão de altruísmo,
enquanto o primeiro é inspirado pela geração de lucro (Mair & Martí, 2006). Roger e
Osberg (2007) têm uma opinião divergente e consideram que esta teoria é demasiado
limitada e restritiva. Embora possa haver um motivo predominante no indivíduo, não
significa que não possam coexistir outros objetivos, ainda que menos importantes.

A evidência empírica tem demonstrado de uma forma convincente que até os


empreendedores económicos raramente são determinados apenas pelas expectativas de
ganhos financeiros (Mair & Martí, 2006; Miller et al., 2012; Tan et al., 2005). De facto,
para além do objetivo primário de geração de lucro, os empresários são instigados por
outros fatores de natureza não pecuniária (Berglann et al., 2011), relacionados
essencialmente com a maximização da utilidade pessoal do indivíduo (Miller et al.,
2012), tais como o desejo de independência e autonomia, o desafio que a iniciativa
proporciona, o desejo de exploração plena de competências, a necessidade de
realização, a propensão para assumir riscos, o status e reconhecimento social, a
segurança (no emprego e financeira), ou a possibilidade de criação de oportunidades de
emprego para membros da sua família (Berglann et al., 2011; London & Morfopoulos,
2010; Lukeš & Stephan, 2012; Mair & Martí, 2006).

No empreendedorismo social, a evidência empírica reconhece que o conceito é


compatível com um vasto conjunto de motivações (London & Morfopoulos, 2010;
Seelos & Mair, 2004). Sharir e Lerner (2006), indicam que apesar dos objetivos sociais
serem centrais aos empreendedores, estes são conduzidos por um conjunto de objetivos,
ainda que de natureza secundária, e não por um único objetivo, exclusivamente de
natureza social. Bacq et al. (2011) identificam um predomínio dos objetivos de criação
de valor social sobre os objetivos económicos, que assumem uma natureza secundária
na decisão de criação de uma organização socialmente empreendedora. A sua
investigação permitiu-lhes concluir que não é a criação de um valor combinado (social e
económico) que distingue a criação de uma iniciativa social de uma económica (pois
essa situação ocorre nos dois casos), mas sim o predomínio da criação de valor social
sobre a criação de valor económico enquanto característica distintiva das organizações
socialmente empreendedoras.

121
Os empreendedores sociais procuram a sua realização pessoal e independência
ocupacional (Mair & Martí, 2006; Sharir & Lerner, 2006), são impulsionados por
desafios e gostam de conquistar oportunidades para a sua criatividade (Chell, 2007;
Hoogendoorn et al., 2010; Tan et al., 2005). Outros motivos mais exclusivos dos
empreendedores sociais incluem a sua reabilitação pessoal, a procura de soluções para
as angústias/problemas pessoais, ou o sentimento de obrigação para com uma
comunidade em virtude de partilharem um problema ou destino comum (Sharir &
Lerner, 2006). A investigação de Miller et al. (2012) sugere que este tipo de motivos,
baseados no próprio interesse, é insuficiente para compreender a intenção socialmente
empreendedora. Para os autores a decisão de iniciar um novo empreendimento é
essencialmente motivada pela emoção e pela compaixão. Schepers, Gieter, Pepermans,
Bois, Caers e Jegers (2005), por sua vez, referem a afiliação e o altruísmo como motivos
relevantes.

Miller et al. (2012) apresentam um modelo para a formação das motivações baseado na
compaixão. Segundo os autores é a compaixão, isto é, a orientação para os outros e a
ligação emocional que o indivíduo tem para com uma comunidade que sofre, que atua
como um motivador no processo cognitivo e afetivo que antecede o envolvimento no
empreendedorismo social. Este sentimento é mediado por três elementos, que
aumentam a probabilidade de adesão ao empreendedorismo social: (i) pensamento
integrativo; (ii) análise do custo-benefício prossocial; e (iii) compromisso para aliviar o
sofrimento dos outros.

Germak e Robinson (2013) apresentam, para os Estados Unidos, um quadro assente em


cinco elementos: (i) necessidade de realização pessoal; (ii) desejo de ajudar a sociedade;
(iii) foco não monetário; (iv) orientação para a realização; e (v) proximidade ao
problema social. Os autores constatam que a intenção para o empreendedorismo não se
resume apenas à compaixão para com os problemas dos outros ou o desejo de ajudar a
sociedade, mas encontram suporte para a aplicação da teoria de David McClelland sobre
a realização pessoal (McClelland, Atkinson, Clark & Lowell, 1953), sugerindo,
inclusivamente, que esta motivação é bastante significativa para alguns indivíduos.
Germak e Robinson (2013) interpretam ainda os resultados obtidos com base na teoria
das necessidades de Maslow (1943), apontando para a premência das necessidades de
nível superior (necessidade de realização) sobre as necessidades básicas.

122
De um modo diferente, Ghatak e Mueller (2011), argumentam que aquilo que leva um
indivíduo a colaborar em organizações sem fins lucrativos, como é o caso da maioria
das iniciativas de empreendedorismo social, não é apenas o desejo de resolução de um
problema social, mas também o efeito de free-riding. A teoria do free-riding é utilizada
para expressar situações em que um indivíduo obtém benefícios por pertencer a um
grupo, muito embora o seu contributo, em termos relativos, tenha sido menor do que os
benefícios que auferiu (Cubitt, Drouvelis, Gächter & Kabalin, 2011; Kidwell, Nygaard
& Silkoset, 2007). Esta situação resulta do facto de os benefícios facultados pela
atividade do grupo serem indivisíveis e, como tal, não ser possível uma justa repartição,
em função do contributo de cada indivíduo. Para Ghatak e Mueller (2011), o estatuto de
entidade sem fins lucrativos confere um ‘dispositivo’ que permite que os gestores
realizem menos esforços do que os exigíveis numa empresa com fins lucrativos. A
ampliação do efeito de free-riding resulta da menor monitorização de resultados pelos
detentores da organização, da presença de objetivos com um alargado horizonte
temporal e do forte compromisso dos colaboradores com a missão da organização,
permitindo que a repartição do esforço, colaboradores versus gestores, seja
desequilibrada.

3.5 Perceção de viabilidade da iniciativa de empreendedorismo social


A última dimensão para análise dos precursores de um comportamento socialmente
empreendedor é a perceção da viabilidade da iniciativa. De acordo com o referencial
proposto por Naffziger et al. (1994), esta variável era designada como “existência de
uma ideia de negócio viável”. Contudo, atendendo à natureza do empreendedorismo
social, considerar-se-á a designação “perceção de viabilidade da iniciativa de
empreendedorismo social”.

Para Naffziger et al. (1994) a criação de expectativas quanto à viabilidade de um


negócio resulta de três dimensões: (i) da própria ideia de negócio; (ii) da relação
percebida entre a implementação da ideia e os seus resultados; e (iii) da relação
percebida entre as expectativas e os resultados esperados. Acerca da formação das
intenções para a criação de uma iniciativa social, Mair e Noboa (2006) destacam a
importância da perceção de viabilidade e a desejabilidade da oportunidade social. De
um modo similar, Perrini et al. (2010) argumentam que a avaliação de uma ideia

123
(oportunidade social) resulta da ponderação da mudança que o projeto irá produzir e da
sua sustentabilidade económica. Deste modo, poder-se-á considerar a perceção de
viabilidade de uma iniciativa de empreendedorismo social como resultado de três
elementos: a ideia, a perceção da sua viabilidade e a perceção da sua desejabilidade.

No entanto, a ideia é uma condição necessária, embora não suficiente, para a criação de
uma iniciativa empreendedora. Algumas ideias evoluem para a criação de um
empreendimento, enquanto outras nunca sairão da fase da ‘ideia’ (Naffziger et al.,
1994). Desde o trabalho seminal de Shane e Venkataraman (2000) que o conceito de
oportunidade é considerado central no comportamento do empreendedor. A
oportunidade é vista como um estado futuro desejado, que se considera ser possível de
atingir (Austin et al., 2006) e como a presença de uma combinação de circunstâncias
favoráveis que tornam possível um determinado curso de ação (Cajaiba-Santana, 2010).

Após o reconhecimento da oportunidade, o empreendedor social irá tentar convertê-la


num conceito organizacional, mobilizar os recursos e desenvolver as atividades
necessárias para que esta possa ser explorada e serem obtidos os resultados pretendidos
(Brooks, 2009). Assim, quanto maior for a capacidade de um empreendedor social em
identificar oportunidades, maior será a probabilidade de este vir a criar um projeto de
empreendedorismo social (Korosec & Berman, 2006; Okpara & Halkias, 2011).

Segundo Austin et al. (2006), a oportunidade poderá resultar do reconhecimento de uma


necessidade social já existente (que não está a ser adequadamente satisfeita), ou da
identificação de um novo problema social. Tal como sugeriu Schumpeter (1934), as
economias operam num constante estado de desequilíbrio, em que alterações nas
condições contextuais são passíveis de criar novas oportunidades. É o ‘estado de alerta’
do empreendedor (Kirzner, 1979) que permite que este esteja preparado para lidar com
as alterações contextuais. Segundo diversos autores (Alvarez & Busenitz, 2001; Guclu
et al., 2002; I. Popoviciu & S. Popoviciu, 2011) este estado de alerta permite: (i) que o
empreendedor social preste atenção para as novas oportunidades com impacto social
positivo; (ii) possua o discernimento para reconhecer uma oportunidade quando esta se
apresenta; e (iii) reconheça e formule as estratégias mais adequadas para a capitalização
da oportunidade.

Shane e Venkataraman (2000) assinalam que apesar das oportunidades serem, por si só,
um fenómeno objetivo, o seu reconhecimento resulta de um processo subjetivo que

124
deriva de diferentes convicções que os agentes têm em relação ao valor relativo dos
recursos quando convertidos em produtos ou serviços.

O reconhecimento de uma oportunidade poderá emergir de vários elementos:

(i) Algo que cause perturbação no empreendedor social ou que este gostasse de
mudar (Guclu et al., 2002; Yunus, 2008);
(ii) Valores pessoais do empreendedor social (Guclu et al., 2002);
(iii) Experiência pessoal e profissional, como a formação, hobbies ou experiências de
trabalho (Corner & Ho, 2010; Guclu et al., 2002; Light, 2006a);
(iv) Rede de relações do empreendedor social (Ármannsdóttir, 2011; Dorado, 2006);
(v) Características de uma dada comunidade e respetivas estruturas sociais e
institucionais (Light, 2006a; 2008; Mulgan, Tucker, Ali & Sanders, 2007);
(vi) Ambiente externo (contexto), que influencia a natureza e o resultado de uma
oportunidade (Austin et al., 2006; I. Popoviciu & S. Popoviciu, 2011).

Como se constata, as oportunidades são uma construção que resulta da interação entre
um indivíduo, a forma como este perceciona uma oportunidade e a comunidade que o
rodeia (Cajaiba-Santana, 2010; Jack et al., 2008; Trivedi & Stokols, 2011).

Após serem reconhecidas, as oportunidades terão de ser avaliadas e exploradas (Light,


2008). Para Shane e Venkataraman (2000), o empreendedor apenas poderá usufruir de
uma oportunidade se esta gerar valor, enquanto para Guclu et al. (2002), uma
oportunidade apenas será ‘atrativa’ se tiver o potencial para gerar um resultado que
justifique os recursos que a sua exploração exige. De seguida, compete ao
empreendedor social encontrar um modelo de negócio que permita explorar a
oportunidade de um modo sustentável (Ármannsdóttir, 2011; Light, 2008).

Apesar de os empreendedores estarem dispostos a assumir riscos, a evidência empírica


identifica uma relação negativa entre a perceção de risco e a decisão de se iniciar um
novo projeto (Hoogendoorn et al., 2010; Smith, Stevens & Barr, 2010). Por
consequência, os empreendedores irão, provavelmente abandonar os seus esforços de
criação de um negócio se perceberem que não são capazes ou que não irão ser bem-
sucedidos. Estrin et al. (2011) constatam que o facto de o indivíduo acreditar que possui
as competências necessárias (autoeficácia) e que existe um baixo risco de insucesso está
positivamente associado à criação de uma organização socialmente empreendedora.

125
Outros estudos demonstram que os empreendedores sociais consideram de uma forma
mais veemente que o risco de fracasso os impedirá de iniciar um novo projeto
(comparativamente com os empreendedores económicos) (Harding & Cowling, 2006;
Hoogendoorn et al., 2011). Os empreendedores sociais receiam, para além dos riscos
financeiros associados ao insucesso, o estigma resultante do seu fracasso pessoal,
designadamente o risco de reputação, honestidade e perda de credibilidade na sua rede
de relações pessoais, que segundo Hoogendoorn et al. (2011) são elementos importantes
para os empreendedores sociais. O desejo do empreendedor em desenvolver a iniciativa
será, portanto, tanto maior quanto maior for a perceção de que a ideia social é viável
(Mair & Noboa, 2006) e que a atuação irá produzir resultados positivos num espaço
razoável de tempo (London & Morfopoulos, 2010).

A análise do constructo perceção de viabilidade pode ser feita à luz das teorias de
personalidade. A literatura sugere a autoeficácia como um dos traços mais importantes,
que representa as competências pessoais do indivíduo para lidar de um modo eficiente
com uma diversidade de situações stressantes e persistir perante a adversidade,
traduzindo a extensão com que o indivíduo acredita que é capaz de desempenhar os
papéis e tarefas do empreendedor (Lukeš & Stephan, 2012; Renko, Kroeck & Bullough,
2012). Pessoas com um maior locus de controlo interno, isto é, pessoas que acreditam
que através das suas qualidades, competências e esforço podem influenciar um
determinado evento, e que os resultados não são determinados por fatores externos tais
como a ‘sorte’, terão também uma maior propensão empreendedora (Brooks, 2009;
Zwan, Thurik & Grilo, 2010).

Por último, a perceção de que uma iniciativa é desejável ou conveniente influenciará a


intenção empreendedora. Para Mair e Noboa (2006) esta perceção é construída com
base na leitura que o indivíduo faz sobre as consequências, boas ou más, que o seu
comportamento irá proporcionar, e sobre a extensão com que a sua atuação será
apreciada por uma comunidade. O facto do empreendedor sentir que o seu esforço é
meritório influenciará positivamente a sua propensão para atuar (Ármannsdóttir, 2011;
London & Morfopoulos, 2010). Shaw (2004) identifica, através de um estudo
qualitativo, que a maioria dos empreendedores sociais reconhece a existência de uma
lacuna no fornecimento de serviços ou uma necessidade social não satisfeita, como o
principal fator para a criação e desenvolvimento da iniciativa. A sua investigação indica,
assim, a identificação e exploração de uma necessidade social não satisfeita como um

126
motivo-chave para o envolvimento na organização. Porém, o empreendedor social
apenas o irá fazer se acreditar que é capaz de reunir os recursos, e planear e executar a
estratégia necessária para a produção efetiva de determinados resultados
(Ármannsdóttir, 2011; Brooks, 2009; Mair & Noboa, 2006).

As dimensões desejabilidade e exequibilidade propostas por Mair e Noboa (2006) são


congruentes com a teoria das expectativas de Vroom (1964). Esta teoria apesar de ser
essencialmente um tópico de investigação no campo da motivação laboral e
comportamento organizacional, recentemente tem sido aplicada no contexto do
comportamento empreendedor (Renko et al., 2012). Para Vroom (1964), a força
motivacional, ou seja a quantidade de esforço que um indivíduo irá exercer para atingir
os seus objetivos, resulta do produto de dois elementos: (i) o valor ou atratividade
atribuída a um objetivo (valência); e (ii) a probabilidade percebida de que o objetivo irá
ser alcançado (expectativa). Por outras palavras, a teoria das expectativas de Vroom
postula que as ações do indivíduo são conduzidas pelas consequências esperadas, em
que a motivação do indivíduo deriva do quão fortemente acredita que um certo nível de
esforço conduz a um determinado resultado e do quão atrativo é para si esse resultado.

Pelo exposto, e tal como anotado por Fitzsimmons e Douglas (2011), a perceção de
desejabilidade está associada ao conceito de valência e a exequibilidade à noção de
expectativa de Victor Vroom. Deste modo, quanto maior for a preferência do indivíduo
por um determinado resultado (quanto maior a valência ou a desejabilidade), e quanto
maior for a expectativa de que as suas ações conduzem ao resultado pretendido
(expectativa ou exequibilidade), maior será a força motivacional. Se um destes
elementos for nulo, não haverá motivação e, por consequência, não haverá lugar a um
comportamento socialmente empreendedor.

3.6 Síntese
Os autores têm afirmado que quando os indivíduos se envolvem no empreendedorismo
social o fazem de uma forma intencional (Mair & Noboa, 2006). Interessa, por isso,
compreender quais os fatores que os levam a tomarem a iniciativa social e a dedicarem
o melhor do seu esforço.

127
O comportamento do empreendedor e as condições em que é desencadeada a iniciativa
social são afetados por um conjunto de fatores, não só de natureza externa como
também interna. No plano externo é reconhecida a influência do ambiente sobre a
predisposição do empreendedor social, seja pela criação de novas necessidades sociais
(ou intensificação dos problemas já existentes), seja pela promoção dos valores
associados ao empreendedorismo social, como pela criação de um contexto que propicie
a sua prática, ou pela criação de um contexto legal, económico ou tecnológico favorável
ao seu desenvolvimento. Ao nível interno são apontadas como relevantes algumas
características psicográficas (como os traços pessoais) e demográficas, incluindo a
idade, género, formação ou o percurso pessoal e profissional do indivíduo, que
condicionam as suas escolhas e ações futuras. A par do estímulo que estes elementos
exercem, os empreendedores quando se envolvem num projeto social fazem-no tendo
em mente determinado(s) propósito(s) que gostariam de alcançar. Os investigadores
reconhecem a preponderância do desejo de criar valor social na decisão de
envolvimento ao empreendedorismo social, muito embora admitam a presença de outros
motivos, de caráter pessoal.

A consciência de que o modelo idealizado para dar resposta a uma questão social será
verdadeiramente capaz de criar valor social numa área desejada (quer pelo indivíduo,
quer pela sociedade) contribui positivamente para a formação da sua decisão.

A compreensão dos fatores que contribuem para a adoção de um comportamento


socialmente empreendedor envolve, assim, em paralelo com uma análise do perfil do
empreendedor uma abordagem contingencial, onde se avalie as suas experiências
pessoais e profissionais anteriores, os objetivos que pretende alcançar, toda a envolvente
externa que rodeia e a viabilidade percebida pelo indivíduo.

Conhecer o que leva um indivíduo a atuar como empreendedor social implica, por isso,
compreender de uma forma holística os múltiplos vetores que concorrem para a
formação das suas intenções. Muito embora se tenha examinado cada uma dessas
dimensões de uma forma isolada, na realidade estas encontram-se intrinsecamente
relacionadas, configurando um quadro de análise capaz de explicar a adoção de um
comportamento socialmente empreendedor.

128
CAPÍTULO 4

COMPORTAMENTO E DESEMPENHO ORGANIZACIONAIS


4. COMPORTAMENTO E DESEMPENHO ORGANIZACIONAIS

No capítulo 3 estudaram-se os fatores que contribuem para a formação das motivações


para a adoção de um comportamento socialmente empreendedor, estudando-se a
influência exercida pela envolvente externa à iniciativa, o perfil psicográfico e
demográfico do empreendedor social, os seus objetivos pessoais e a perceção de que a
iniciativa será viável.

Decidida a intenção de envolvimento num projeto social, iniciam as práticas


empreendedoras com vista à exploração de oportunidades para a criação de valor social.
A concretização da oportunidade social implica um conjunto de atividades que serão
desenvolvidas dentro da configuração institucional escolhida. Porém, o caráter híbrido
da organização social e os mercados disfuncionais em que frequentemente operam,
encerram importantes desafios que as organizações bem-sucedidas terão que superar. O
objetivo deste capítulo é encontrar uma explicação para o sucesso ou insucesso de uma
organização social, tendo como ponto de partida as suas decisões relativamente à
organização, a estratégia e a afetação dos recursos disponíveis. Assim, num primeiro
momento, serão abordadas as ações estratégicas das organizações sociais, avançando-se
de seguida, por referência à teoria dos recursos, para a análise da gestão das várias
categorias de ativos, para finalmente se deter nos diferentes indicadores do desempenho
das iniciativas socialmente empreendedoras.

4.1 Questão prévia


A teoria da empresa, encetada pelo artigo seminal de Ronald Coase (1932), procura
explicar a razão para a existência da ‘instituição’ conhecida como empresa (como citado
por Foss, Lando & Thomsen, 2000). Edith Penrose (1959) advoga que a empresa é o
enquadramento administrativo que liga e coordena a atividade de um conjunto de
indivíduos, grupos e recursos, enquanto unidade básica para a organização da produção.
Nas palavras de Rumelt (1984), as empresas são a forma de governança mais eficiente
para a criação e apropriação de valor. De acordo com a teoria neoclássica predominante
até à década de 70, é a eficiência resultante da exploração das economias de escala ou
de gama que justificam a internalização das atividades de produção (Aghion & Holden,

131
2011). Outras abordagens que procuram explicar a existência da empresa decorrem da
teoria da agência de Jensen e Meckling (1976), da teoria dos custos de transação de
Oliver Williamson (1971, 1975, 1979, 1985), ou da teoria dos contratos incompletos de
Grossman e Hart (1986) (citados por Aghion & Holden, 2011 e por Foss, 1996).

A empresa é o conceito utilizado para designar a ‘entidade’ que reúne um conjunto de


ativos (Barney, 1991; Garrouste & Saussier, 2005; Penrose, 1959), onde ocorre um
processo de transformação com o intuito de se alcançarem os propósitos organizacionais
e de se melhorar o desempenho da organização (Rumelt, 1984). Por isso, Langlois
(2007) sugere que o constructo ‘empresa’ é uma solução natural para acomodar as
atividades empreendedoras desenvolvidas. Deste modo, o mesmo sucederá com a
organização social que existe como veículo por excelência para o exercício do
empreendedorismo social e para a maximização da capacidade de criação de valor. O
alcance dos propósitos sociais implica, de um modo geral, um processo semelhante ao
do empreendedorismo tradicional (Estrin et al., 2011; Neck et al., 2009; Verreynne,
Miles & Harris, 2013; Zhang & Swanson, 2013). A literatura sugere que o
empreendedorismo social envolve o processo de identificação de uma oportunidade, a
definição de uma estratégia, a configuração da organização, a mobilização de recursos e
a determinação dos resultados que estão a ser gerados (Brooks, 2009; Light, 2006b;
Neck et al., 2009). Poder-se-á então considerar que as organizações socialmente
empreendedoras visam, através da combinação de uma estratégia com a gestão de
recursos, criar vantagens competitivas e, ipso facto, melhorar o seu desempenho.

4.2 Estratégia
A palavra estratégia tem origem no termo grego strategos (Steiner & Miner, 1977),
formada pelas palavras stratos e ago que significam, respetivamente, exército e liderar
ou guiar. A estratégia é, por isso, entendida como a arte de dirigir de forma a atingir um
determinado objetivo. No âmbito empresarial, a gestão estratégica, ou simplesmente
estratégia, diz respeito à direção das organizações (Rumelt, Schendel & Teece, 1991;
Steiner & Miner, 1977) e faz parte do processo geral de gestão (Grant, 2008). Trata-se
de um plano integrado, concebido para assegurar que os propósitos básicos de uma
empresa são alcançados (Bracker, 1980). Segundo Chandler (1962) a estratégia
determina os objetivos de longo prazo de uma organização, as ações a desenvolver e a

132
alocação dos recursos necessários para a sua prossecução. Para Andrews (1980), por sua
vez, a estratégia de uma empresa diz respeito ao padrão de decisões que determina os
objetivos e produz os principais planos para o alcance desses mesmos objetivos. Mais
recentemente, Steiner e Miner (1997, p. 7) definem a estratégia como “o processo de
determinação (e manutenção) da relação da organização com o seu ambiente, expresso
pela adoção de objetivos selecionados e da tentativa de se conseguir as condições
desejadas desta relação com alocações de recursos escassos que permitem a implantação
de programas de ações eficientes e eficazes pela organização e pelas suas partes”. A
estratégia não se refere, portanto, a uma decisão única, mas sim a um conjunto de
decisões relacionadas (que se reforçam) quanto à conceção e coordenação das
atividades de uma organização (Rumelt et al., 1991).

Os autores reconhecem que a gestão estratégica é um elemento importante para o


sucesso (ou insucesso) das organizações em geral (Rumelt et al., 1991) e para o
empreendedorismo social em particular (Akingbola, 2006; Boschee, 2008; Light,
2006a; London & Morfopoulos, 2010; Lukeš & Stephan, 2012; Studdard & Darby,
2011). Zamanian, Emamian, Moghadam, Sahafzadeh e Hosseini (2011) argumentam
que o processo de planeamento estratégico é particularmente relevante no caso das
organizações sem fins lucrativos, devido à elevada sensibilidade ao contexto político e
social e aos limitados recursos de que dispõem. Segundo os autores, estas
condicionantes obrigam as organizações a canalizarem os seus esforços para aquilo que
é essencial. Desse modo, os planos estratégicos irão guiar e unificar as ações da
organização (Grant, 2008).

Steiner e Miner (1977) consideram que o processo estratégico é composto por quatro
elementos: (i) definição da missão da organização; (ii) definição dos objetivos,
considerando as forças externas e internas do ambiente; (iii) formulação de estratégias,
políticas e programas específicos que permitam a consecução dos objetivos; e (iv)
implementação da estratégia, para que sejam alcançados os fins organizacionais. Os
autores reconhecem que este processo formal de planeamento estratégico, ainda que
originalmente concebido para o setor privado, é adequado às organizações sem fins
lucrativos. Esta sistematização servirá de referência à revisão de literatura sobre
estratégia.

133
4.2.1 Missão
A declaração de missão é apontada na literatura como uma importante ferramenta no
domínio da estratégia empresarial. A missão traduz os propósitos gerais de uma
organização e a razão básica para a sua existência (Andreasen & Kotler, 2003; Moss et
al., 2011).

A declaração de missão é considerada fundamental para o setor social (Dees et al.,


2011; Kirk & Nolan, 2010). Kirk e Nolan (2010) argumentam que à falta de motivação
para o lucro, a missão é o elemento nuclear que articula a raison d’être da organização.
É na declaração de missão que reside a motivação da organização para atuar e expressar
a contribuição que pretende dar à sociedade (Collis & Rukstad, 2008). A investigação
de Wilson e Post (2013) confirma que a missão representa a força motora para a criação
da organização social. Os autores constatam que estas organizações apresentam um
claro propósito social, central e não tangencial, embora multifacetado, pois envolve
frequentemente vários tipos de impacto social e múltiplos stakeholders. A missão deve
ser formalmente definida e comunicada. A sua comunicação é de tal forma importante
que para Dees et al. (2001) o trabalho do líder de uma organização social é promover a
missão e a sua relevância para o trabalho da organização.

Paul Light (1998) analisa 26 iniciativas de sucesso e reconhece que, em todos os casos,
os colaboradores se preocupam e se identificam com a missão organizacional. Na
literatura aponta-se a missão como o ponto de partida para o processo estratégico da
organização. Esta orienta a estratégia no seu todo, isto é, delimita os produtos ou
serviços que a organização poderá disponibilizar (Dees et al., 2001; Weerawardena et
al., 2010) e representa uma âncora para o desenvolvimento dos seus objetivos (Alter,
2008; Gallagher et al., 2012; Moss et al., 2011; Neck et al., 2009). É a declaração de
missão que cria um sentido de alinhamento, de foco e de unidade (Dees et al., 2001),
em torno da qual são desenhados os objetivos e estratégias adequados aos propósitos da
organização (Kirk & Nolan, 2010). Por consequência, assume também um papel de
relevo nas orientações relativas à alocação de recursos dentro da organização (Moss et
al., 2011).

A declaração de missão representa, ainda, uma importante ferramenta na definição da


cultura de uma organização (Katre & Salipante, 2012; Kirk & Nolan, 2010; Moss et al.,
2011) e na motivação dos seus colaboradores e voluntários (Andreasen & Kotler, 2003;

134
Kirk & Nolan, 2010), expressando, para Moss et al. (2011), uma espécie de ‘contrato
psicológico’ entre a empresa e os seus colaboradores. Segundo Dees et al. (2001), a
declaração de missão torna mais clara a razão pela qual a organização atua e dá sentido
ao trabalho realizado por todos os colaboradores. Por conseguinte, os autores defendem
que a missão pode ser utilizada para fortalecer o compromisso das pessoas com a
organização e para criar a paixão e resiliência necessárias para enfrentar as dificuldades
que a atividade socialmente empreendedora impõe. Curran e Totten (2010), por sua vez,
sugerem que a presença de uma declaração de missão explícita ajuda a atrair indivíduos
que partilham os mesmos propósitos, valores e objetivos.

Alguns autores defendem que a missão deve ser distintiva (Andreasen & Kotler, 2003) e
posicionar a organização como única, de forma a permitir distinguir a sua proposição de
valor das demais organizações (Curran & Totten, 2010; Gallagher et al., 2012). Como
tal, representa um poderoso instrumento de comunicação dos valores e atividades da
organização, quer internamente quer junto dos públicos externos (Kirk & Nolan, 2010;
Moss et al., 2011). Segundo Kirk e Nolan (2010) a missão representa inclusivamente
um importante elemento para a construção da reputação da organização. Curran e
Totten (2010), por seu lado, destacam o papel que esta representa para se compreender
quem são os principais stakeholders e para identificar aqueles que mais necessitam do
trabalho da organização. Esta situação é particularmente relevante no contexto de
grande diversidade de stakeholders que caracteriza o empreendedorismo social.

4.2.2 Análise ambiental e objetivos


Discutida a relevância que a missão ocupa na estratégia organizacional, avança-se para
o estudo do papel da análise ambiental e dos objetivos. Segundo Collis e Montgomery
(1981), uma estratégia eficaz deverá definir, para além daquilo que a organização
pretende ser (a sua missão), metas de curto-prazo. Estas constituem marcos no percurso
de prossecução da missão da empresa. Os objetivos deverão ser claros (Boschee, 2008),
específicos, mensuráveis e calendarizados (Collis & Rukstad, 2008). À semelhança da
declaração de missão, terão de ser comunicados quer interna quer externamente aos
principais stakeholders (Dabbs, 1991).

Segundo Andreasen e Kotler (2003), a formulação de objetivos deverá assentar em dois


elementos: (i) a missão da empresa; e (ii) o ambiente, atual ou esperado, que envolve a

135
organização. Antes da determinação dos propósitos organizacionais interessa pois
compreender as forças do ambiente no qual a empresa se encontra inserida (Steiner &
Miner, 1977). Esta deverá definir uma estratégia tendo em conta os seus recursos,
competências e valores (Nga & Shamuganathan, 2010; Zahra et al., 2008) (ou, de um
modo mais abrangente, as suas forças e fraquezas) e as oportunidades e ameaças que
emergem do ambiente externo (Andrews, 1980; Bracker, 1980; Steiner & Miner, 1977).
Na aceção de Ronda-Pupo e Guerras-Martin (2012), a estratégia é vista como uma força
mediadora entre a organização e o seu ambiente, na medida em que confere um quadro
que permite antecipar e lidar com a mudança e, por isso, possibilita à organização o
alcance dos objetivos enquanto responde às oportunidades e ameaças do ambiente.

Brenes, Mena e Molina (2008) sugerem que a organização deverá, para além da análise
do ambiente geral, entrar em consideração com o setor em que opera e com os seus
concorrentes (ambiente de tarefa), que deverão ser analisados de um modo extensivo,
sistemático e analítico. Segundo os autores, esta monitorização contínua permitirá à
organização antecipar tendências e proceder aos ajustamentos necessários na construção
da sua estratégia, em vez de reagir passivamente às pressões constantemente colocadas
pelo meio externo.

4.2.3 Formulação da estratégia


Para Paul F. Anderson (1982), é através da formulação de uma estratégia que a
organização irá converter os objetivos, anteriormente definidos, em planos operacionais
que serão utilizados como guia para as atividades do dia a dia da organização. Para tal,
importa definir as táticas e modelos de intervenção necessários ao aproveitamento de
uma oportunidade (Dees et al., 2001; Guclu et al., 2002; Mair, 2010; Perrini et al.,
2010) e o alcance dos seus objetivos (Zamanian et al., 2011). É através do plano
estratégico que se conhecem os esforços a desenvolver e as prioridades da organização
(Zamanian et al., 2011). Brenes et al. (2008) defendem que o processo de formulação
deve resultar na elaboração de uma estratégia explícita, desenvolvida de um modo
consistente e formal. Perrini et al. (2010) alertam igualmente para a importância que a
elaboração da estratégia assume no relacionamento com o exterior. Na sua opinião,
quanto mais formalizados estiverem as oportunidades e os propósitos da organização,
maior será a probabilidade de que esta consiga alcançar a legitimidade e os recursos de

136
que necessita. Porém, Brooks (2009) lamenta que este seja um processo frequentemente
negligenciado no empreendedorismo social. De um modo semelhante, o estudo de Baral
et al. (2012) indica que a maioria das organizações socialmente empreendedoras carece
de uma estratégia clara. Parente, Cruz, Marcos, Pais e Martinho (2013c), por sua vez,
constatam no caso português que a maioria das organizações do terceiro setor define
planos de ação, havendo uma forte preocupação por parte dos líderes em planear, definir
objetivos e elaborar metas mensuráveis, em particular em organizações mais recentes.
Porém os autores identificam uma centralização no planeamento do tipo operacional
(com um horizonte temporal inferior a 3 anos), encontrando fortes debilidades na
elaboração de um planeamento de cariz mais estratégico.

4.2.4 Implementação da estratégia


A definição de uma estratégia organizacional, embora necessária, não é condição
suficiente para o sucesso organizacional, pois deverá ser implementada (Brenes et al.,
2008; Čater & Pučko, 2010; Hrebiniak, 2006), sob pena de se esvaziar o processo de
planeamento. É através da implementação que se coloca em prática a estratégia, com a
operacionalização do plano e a execução das táticas, permitindo que a organização se
mova na direção pretendida (Čater & Pučko, 2010). Hrebiniak (2006) afirma que
geralmente o baixo desempenho das empresas não se deve ao processo de formulação
da estratégia, mas sim à sua implementação. De entre os principais desafios que a
implementação envolve, Hrebiniak (2006) destaca: (i) o dilatado horizonte temporal; (ii)
o elevado número de colaboradores envolvidos; e (iii) a posse das competências e
capacidades necessárias.

Brenes et al. (2008) acrescentam que o processo de implementação deverá ser


completado com sistemas de controlo e feedback. Estes sistemas facultam aos gestores
ferramentas para avaliar o grau de progressão da estratégia e permitem redirecioná-la no
sentido mais adequado, sempre que isso se revele necessário. No caso português,
Parente et al. (2013d) observam que a maioria das organizações recorre a instrumentos
de monitorização e avaliação dos planos de ação. Brenes et al. (2008) destacam o papel
de lideranças adequadas e de gestores e colaboradores motivados no processo de
implementação. Para os autores, a liderança é fundamental para a comunicação da
estratégia e para o alinhamento, envolvimento e motivação dos colaboradores. Brenes et

137
al. (2008) assinalam inclusive que a baixa eficácia na implementação da estratégia
resulta frequentemente da sua baixa compreensão pelos colaboradores. Cabe aos líderes
consciencializá-los e conectá-los com a visão da organização (Dobni, 2003), tendo
ainda de lidar com a resistência à estratégia por parte dos colaboradores (O’Reilly,
Caldwell, Chatman, Lapiz & Self, 2010) ou dos principais stakeholders.

4.3 Gestão de recursos


A execução bem-sucedida de uma estratégia organizacional requer um conjunto de
recursos (O’Reilly et al., 2010). Na aceção de J. Katz e W. Gartner (1988) os recursos
dizem respeito aos componentes físicos que são combinados para se formar uma
organização. Segundo Nevo e Wade (2010), são definidos como os fatores de produção
tangíveis ou intangíveis que a organização possui, controla ou tem acesso numa base
semipermanente. Barney (1991) apresenta uma definição mais abrangente, considerando
que os recursos de uma empresa incluem todos os ativos, capacidades, processos
organizacionais, atributos, informação, ou conhecimento controlados por uma empresa,
que permitem que esta conceba e implemente estratégias que melhorem a sua eficiência
e eficácia. Os recursos são, portanto, os inputs do processo de produção de uma empresa
(Hitt et al., 2011). Estes poderão assumir diferentes configurações: podem ser estáticos,
dinâmicos, tangíveis, intangíveis, financeiros, humanos, tecnológicos, perecíveis, não
perecíveis, entre outros (Kraaijenbrink, Spender & Groen, 2010).

A literatura distingue recursos de capacidades. Os recursos são os ativos produtivos


detidos por uma empresa (Grant, 2008), podem ser valorizados e transacionados
(Finney, Lueg & Campbell, 2008) e, através da combinação com um conjunto de outros
ativos e processos organizacionais, são convertidos em produtos finais ou em serviços
(Finney et al., 2008). As capacidades organizacionais, são, por sua vez, de natureza
intangível, dizendo respeito àquilo que uma empresa é capaz de desenvolver (Austin &
Seitanidi, 2011; Grant, 2008). As capacidades emergem da interação com múltiplos
agentes (Foss, Knudsen & Montgomery, 1995) e expressam a forma como a empresa é
capaz de coordenar e desenvolver recursos através dos processos organizacionais, onde
emprega as suas habilidades e aptidões com vista à prossecução dos seus objetivos
(Finney et al., 2008; McKelvie & Davidsson, 2009). Enquanto os recursos não são
específicos à empresa (e como tal são transacionáveis), as capacidades pertencem

138
exclusivamente à organização (Greco, Cricelli & Grimaldi, 2013). Considerados
individualmente, os recursos não conferem vantagens competitivas, segundo Grant
(2008), apenas quando agregados poderão criar capacidades organizacionais. Daqui se
depreende que as capacidades de uma organização derivam dos seus recursos e
competências. De facto, após a aquisição de recursos, a organização terá que os
combinar com o intuito de construir e alavancar as suas capacidades (Finney et al.,
2008). Estas capacidades organizacionais representam, nas palavras de Collis e
Montgomery (1981), ‘rotinas organizacionais’ e combinações complexas de ativos,
pessoas e processos que a organização utiliza para transformar inputs em outputs,
determinando a eficiência das suas atividades. De acrescentar que as capacidades
evoluem ao longo do tempo e que devem ser geridas de um modo dinâmico, para se
assegurar a adequação da organização ao ambiente mutável em que se insere (Teece,
Pisano & Shuen, 1997).

Desde a década de 90 que a teoria baseada nos recursos, resource-based theory (RBT)
na literatura anglo-saxónica, se tem tornado central no âmbito da gestão estratégica das
organizações (S. Hart & Dowell, 2011; Steffens, Davidsson & Fitzsimmons, 2009). A
sua origem provém de trabalhos sobre estratégia empresarial, como os de Edith Penrose
(1959) ou Kenneth Andrews (1980). A RBT foi moldada pela sugestão de que as ações
estratégicas que (re)posicionam a empresa requerem um conjunto de recursos,
competências e capacidades muito específicas (Spender, 1996), que são vistos como a
principal base para a sua estratégia (Grant, 2008). A RBT assenta na ideia de que uma
empresa é um conjunto de recursos, enfatizando a importância que os recursos e
capacidades assumem na construção das vantagens competitivas de uma organização (S.
Hart & Dowell, 2011; Molloy, Chadwick, Ployhart & Golden, 2011). Uma empresa é
vista aqui como um conjunto único de recursos e capacidades (Barney, 1991),
assumindo-se que as diferenças persistentes de desempenho entre organizações residem
precisamente na singularidade do seu portfólio de recursos e capacidades (Finney et al.,
2008; Foss et al., 1995). A RBT recorre, portanto, à heterogeneidade das empresas em
termos de recursos e capacidades, para explicar as diferenças ao nível do sucesso entre
organizações (Killen, Jugdev, Drouin & Petit, 2012). Collis e Montgomery (1981)
defendem que são os recursos que determinam as oportunidades de uma organização e,
como tal, apenas quando existem diferenças significativas ao nível dos recursos é que as
empresas poderão desenvolver estratégias distintas.

139
A literatura acautela, porém, que nem todos os recursos são capazes de conferir uma
vantagem competitiva sustentável. Para que tenham esse potencial deverão apresentar
quatro características (Barney & Clark, 2007; Finney et al., 2008; Greco et al., 2013):
(i) valiosos, (ii) raros, (iii) inimitáveis e (iv) insubstituíveis; ou, segundo uma
nomenclatura alternativa: (i) valiosos, (ii) raros, (iii) inimitáveis e (iv) capazes de ser
explorados pelos processos organizacionais de uma empresa. O valor de um recurso
traduz a extensão com que permite explorar uma oportunidade e/ou neutralizar uma
ameaça (Barney & Clark, 2007). Um recurso será raro quando indisponível nos
concorrentes da organização (atuais ou potenciais) (Nevo & Wade, 2010). A
inimitabilidade reflete as dificuldades associadas à reprodução dos recursos
organizacionais. Por último, a não-substituibilidade expressa a inexistência de recursos
organizacionais estrategicamente equivalentes (Nevo & Wade, 2010). Barney e Clark
(2007) defendem que os recursos valiosos, raros e inimitáveis apenas poderão ser fonte
de vantagem competitiva sustentável caso a empresa se encontre organizada para
explorar o potencial que estes são capazes de oferecer. Para isso, relevam elementos
como a estrutura formal, os sistemas de controlo de gestão ou a política de
compensações da organização.

Pela análise das características desejáveis, agora referidas, se depreende que apenas uma
pequena quantidade de ativos de uma empresa é considerada estratégica e contribui para
a construção das suas vantagens competitivas (Killen et al., 2012). A RBT sugere ainda
que o valor que uma organização é capaz de criar resulta não só dos recursos que detém,
mas também do modo como estes são geridos (Finney et al., 2008). Estes poderão ser
configurados de múltiplas formas, consoante a estratégia empresarial e a natureza
idiossincrática da organização (Molloy et al., 2011). Ora, organizações com recursos
semelhantes poderão combiná-los de formas diferentes, o que leva a que cada uma
possua um conjunto de recursos único e distinto das demais organizações (Meyskens et
al., 2010a; Steffens et al., 2009). Daqui se poderá concluir, tal como defendido por
Molloy et al. (2011), que nem sempre as empresas com melhores recursos são aquelas
que apresentam uma maior capacidade de criação de valor. De acordo com a RBT, não
é a posse de recursos per si que gera valor, mas sim o modo como estes são combinados
(Austin & Seitanidi, 2011; McKelvie & Davidsson, 2009), o que significa que a geração
de valor depende essencialmente das capacidades da organização (McKelvie &
Davidsson, 2009; Rumelt et al., 1991).

140
Meyskens et al. (2010a), aplicam a RBT ao empreendedorismo social, encontrando um
processo operacional semelhante ao existente no empreendedorismo económico,
concluindo que as diferenças entre estes dois tipos de empreendedorismo não se
manifestam ao nível da RBT. Zeyen et al. (2013), por sua vez, são mais céticos em
relação à capacidade do modelo RBT explicar adequadamente o desempenho no
empreendedorismo social, reclamando por investigação adicional. Os autores alegam
que o objetivo central é maximizar o valor social criado (e não a criação de vantagens
competitivas), pelo que um maior impacto social não será alcançado através de recursos
raros, inimitáveis e não substituíveis, mas de recursos raros, transferíveis e substituíveis,
onde os modelos baseados na propriedade intelectual dão origem a mecanismos abertos
que permitem que uma solução possa ser codesenvolvida e partilhada por vários
stakeholders.

A literatura considera que os recursos constituem um meio para que as organizações


possam aproveitar uma oportunidade e, por consequência, alcancem de uma forma
eficiente os seus propósitos (Dees, 1998; Gras & Mendoza-Abarca, 2013; Meyskens et
al., 2010a). A gestão cuidadosa e eficaz de recursos revela-se, por esse motivo,
fundamental para que as organizações sejam bem-sucedidas (Clamp & Alhamis, 2010;
Zhang & Swanson, 2013). Contudo, a natureza híbrida do empreendedorismo social
provoca uma complexidade adicional no que respeita à mobilização e gestão de
recursos. A baixa capacidade de apropriação de valor resulta num contexto de relativa
insuficiência de recursos. Nessa medida, a construção de um projeto (auto)sustentável
passa pela adoção de uma abordagem inovadora e criativa, quer no desenvolvimento de
novas formas de angariação de recursos, quer na atração de recursos não-tradicionais,
ou na combinação de recursos de um modo novo (Kickul et al., 2010; Krlev, 2012).
Neste conceito destaca-se o termo ‘bricolagem’, desenvolvido por Levi-Strauss, que na
sua aceção original pretendia expressar o “processo de se fazer com as próprias mãos”
(Lévi-Strauss, 1967, p. 17, citado por Domenico et al., 2010). Na atualidade o termo é
utilizado para descrever a forma como alguns empreendedores desenvolvem atividades
com base nos recursos disponíveis (Dorado & Ventresca, 2013) e que os recombinam
com o intuito de disponibilizar soluções inovadoras (Kickul et al., 2010; Steffens et al.,
2009). O conceito, tributário do empreendedorismo económico, é apontado como
bastante promissor no âmbito do empreendedorismo social (Domenico et al., 2010;
Steffens et al., 2009). Segundo Kickul et al. (2010), a bricolagem implica a utilização

141
de abordagens criativas para a angariação e gestão de recursos, de tal modo que permite
o desenvolvimento de produtos e serviços que de uma forma convencional não seria
possível. A criação de valor ocorre pela utilização de recursos que até então não eram
usados ou se encontravam subaproveitados (pela organização ou por outras entidades
que falharam no seu reconhecimento) (Domenico et al., 2010). Permite-se, assim, o
desenvolvimento de soluções robustas em ambientes restritos, explicando-se também a
forma como os empreendedores desenvolvem as suas iniciativas, apesar da dificuldade
em atrair os recursos tradicionais (Desa, 2007; Kickul et al., 2010). Este processo
assume tal interesse que para Kickul et al. (2010) o grau com que o empreendedor
social se envolve em comportamentos de bricolagem determinará o sucesso no
desenvolvimento de inovações catalisadoras.

De acordo com a teoria da dependência de recursos de Pfeffer e Salancik (1978) a


necessidade de recursos, que são obtidos no ambiente externo, torna as organizações
dependentes dos seus (potenciais) fornecedores. Segundo a mesma teoria, algumas
organizações, pelas suas especificidades e localização no espaço social, têm maior
poder do que outras. Desa e Basu (2013) alegam que o caráter social destas
organizações poderá dar origem a assimetrias de poder na relação com os fornecedores.
Os autores consideram que os fornecedores de recursos tradicionais (do setor
empresarial), com receio da sustentabilidade da organização social e de falha no
pagamento, poderão hesitar em fornecer recursos críticos ou dar prioridade a outras
organizações. Desa e Basu (2013) advogam que essa dependência poderá ser minorada
por recurso à bricolagem, através da qual a organização irá estruturar parte dos seus
recursos em torno de ativos negligenciados ou subaproveitados. A criatividade na
conjugação e aplicação de recursos permitirão gerar valor com recursos de baixo custo,
possibilitando a prossecução da sua missão social.

Após a explanação da importância que a gestão de recursos assume para as


organizações, procede-se, nas próximas secções, à análise dos vários tipos de recursos
envolvidos nas atividades organizacionais. Em primeiro lugar, abordam-se os recursos
de caráter tangível, estudando-se a gestão de recursos materiais, humanos e financeiros,
para depois se referir os recursos intangíveis (imagem e reputação da organização,
qualidade do serviço prestado e capital social).

142
4.3.1 Recursos tangíveis
Os recursos tangíveis caracterizam-se pela sua forma física ou material. Esta é uma
categoria de recursos heterogénea, que compreende ativos como instalações,
equipamentos, recursos naturais, matérias-primas, bens semiacabados, resíduos e
subprodutos, stocks de produtos acabados (Penrose, 1959), ou recursos tecnológicos.
Barney e Clark (2007) e Meyskens et al. (2010a) consideram a existência de quatro
grupos de recursos tangíveis: capital físico, capital financeiro, capital humano e capital
organizacional. De acordo com a tipologia de Barney e Clark (2007), os recursos de
capital físico incluem a tecnologia, as instalações e equipamentos de uma empresa, a
sua localização geográfica e o acesso a matérias-primas. Os recursos tangíveis são
adquiridos com o intuito de permanecerem durante um período de tempo significativo
na organização (e.g. equipamentos e infraestruturas) ou para serem transformados ou
comercializados (e.g. matérias-primas ou mercadorias). Segundo McKelvie e Davidsson
(2009), a sua condição tangível faz com que sejam os fatores base para a produção ou
distribuição de um bem ou serviço.

4.3.1.1 Recursos materiais


O desenvolvimento das atividades organizacionais requer um conjunto de recursos
materiais. Estes poderão incluir elementos como terrenos, instalações, infraestruturas,
equipamentos, matérias-primas ou recursos tecnológicos, entre outros. A literatura
recente destaca ainda a importância estratégica das tecnologias de informação, tais
como hardware, software, networks, ou acesso e presença na internet (Nelson & Igou,
2013; Nevo & Wade, 2010).

No empreendedorismo social, os fornecedores de recursos materiais pertencem, na sua


maioria, ao setor empresarial tradicional. Para Austin et al. (2006), esta situação implica
que a relação negocial possa ser particularmente desafiadora e complexa, dado que as
diferentes partes envolvidas (cliente versus fornecedor) se regem por propósitos e
incentivos distintos. Acresce ainda que as especificidades do empreendedorismo social
limitam a capacidade de aquisição dos recursos materiais nos mesmos moldes do que as
organizações com fins lucrativos (Austin et al., 2006). Apesar de os fornecedores do
setor empresarial cobrarem preços de mercado pelos seus bens, os empreendedores
sociais conseguem com frequência adquiri-los a preços com desconto (Guclu et al.,

143
2002; Reis, 1999). A transação a preços abaixo dos valores de mercado envolve, de um
modo implícito, uma forma de donativo. Adicionalmente, alguns fornecedores podem
fazer donativos em espécie (Reis, 1999). Este facto pode ser considerado positivo, na
medida em que possibilita a aquisição de recursos de uma forma mais favorável e, como
tal, possibilita a criação de um maior valor social. Porém, Reis (1999) alerta para os
inconvenientes que esta situação pode provocar sobre uma eventual limitação na
diversidade e qualidade dos recursos disponíveis na organização.

Num contexto de escassez de recursos que caracteriza o empreendedorismo social, a


literatura destaca a importância da cooperação e da constituição de parcerias com outras
organizações para a mobilização e gestão de recursos (Austin & Seitanidi, 2011;
Montgomery et al., 2012). A criação de parcerias e coligações pode igualmente
potenciar um melhor aproveitamento do efeito de economias de escala e, como tal, uma
redução de custos, mutuamente benéfico para as organizações envolvidas (Martins &
Pinheiro, 2010). Austin e Seitanidi (2011) referem que este processo de partilha é
sustentado na complementaridade entre os recursos detidos por diferentes organizações.
Assim, para os autores, quanto maior for a complementaridade e a transferibilidade de
recursos entre organizações, maior será o potencial para a cocriação de valor. A criação
de parcerias permite ainda a mobilização e alavancagem de ativos-chave, bem como a
construção de novos recursos que suportem a disseminação do impacto social e
contribuam para o sucesso das organizações (Montgomery et al., 2012).

4.3.1.2 Recursos humanos


A RBT enfatiza a importância dos recursos humanos, enquanto fonte de competências e
capacidades, para o desempenho da organização (Casson, 2005). Segundo Barney
(1991), os recursos de capital humano incluem a formação, experiência, bom senso,
inteligência, relações e discernimento dos gestores e colaboradores de uma empresa.
Grant (2008), ao definir recursos humanos, enfatiza os conhecimentos e esforços
oferecidos pelos colaboradores, enquanto Willis, Topjian, Buck, Ebersole e Limehouse
(2010), destacam as equipas de trabalho que acompanham as mudanças no ambiente e
alcançam os objetivos da organização.

O capital humano é, assim, reconhecido como uma importante fonte de vantagem


competitiva para as organizações em geral, sendo particularmente relevante para as

144
organizações sociais (Parente, 2010). As organizações do terceiro setor são,
comummente, organizações de mão-de-obra intensiva (Azevedo & Couto, 2010), onde
os colaboradores são o ativo mais importante (Akingbola, 2006). A dimensão
empreendedora, porque implica a inovação, a proatividade e a assunção de riscos, torna
as pessoas centrais em todos os processos organizacionais. Acresce que o elemento
humano traz consigo uma variedade de recursos intangíveis, como habilidades,
conhecimentos, contactos, referências e reputação (Guclu et al., 2002), que são
fundamentais para o sucesso das iniciativas. Por conseguinte, para serem bem-
sucedidas, as organizações sociais terão que ter a capacidade para adquirir, desenvolver
e manter os seus recursos humanos com as competências necessárias para o
desenvolvimento da sua estratégia organizacional (Bloom & Chatterji, 2009; Bloom &
Smith, 2010). Os resultados empíricos de Sharir e Lerner (2006) confirmam a existência
de uma equipa adequada como condição necessária para o sucesso das organizações
socialmente empreendedoras.

Os empreendedores sociais deparam-se amiúde com desafios peculiares no que respeita


à mobilização e gestão de recursos humanos (CASE, 2008; Dees, 1998; Domenico et
al., 2010; Estrin et al., 2013; Hoogendoorn et al., 2011; Peredo & McLean, 2006). O
caráter híbrido das organizações socialmente empreendedoras e a multiplicidade de
objetivos pelos quais se regem, conduz a que estas necessitem de colaboradores com um
conjunto mais vasto de qualidades e competências do que o verificado nos setores
tradicionais (setor empresarial e sem fins lucrativos) (Estrin et al., 2013; Royce, 2007).
Daqui resulta que a força de trabalho seja geralmente mais heterogénea. Os
colaboradores podem ser muito distintos entre si no que respeita às características,
competências, experiências e/ou tipo de relações contratuais, na medida em que as
necessidades de recursos humanos podem ser supridas através de um corpo de
colaboradores remunerados ou de voluntários (Bacq et al., 2011; Young, Faulk &
Harvey, 2009). Gallagher et al. (2012) consideram ainda a existência de dois tipos de
voluntários: (i) os que têm um papel claramente definido e colaboram de uma forma
regular com a organização; e (ii) os que apenas ocasionalmente se envolvem nas
atividades da organização. Para além de colaboradores e voluntários, a organização
social necessita de um corpo de dirigentes.

A diversidade de atores pode dar origem à presença de interesses conflituantes (Bloom


& Smith, 2010; London & Morfopoulos, 2010; Parente et al., 2013a), pelo que se torna

145
relevante o desenvolvimento de uma gestão cuidada dos recursos humanos (Parente,
2010), de modo que as organizações se possam munir de uma adequada equipa de
colaboradores. Para que isso aconteça o Center for the Advancement of Social
Entrepreneurship (CASE, 2008) sugere o desenvolvimento das seguintes práticas
organizacionais: (i) recrutamento, seleção e integração; e (ii) retenção e
desenvolvimento do capital humano.

a) Recrutamento, seleção e integração de novos colaboradores

O recrutamento diz respeito à capacidade de as organizações atraírem um conjunto de


pessoas interessadas em colaborar com ela. Bloom e Smith (2010) defendem que as
organizações sociais, para serem bem-sucedidas, terão que recrutar os melhores
colaboradores que satisfaçam as necessidades da organização. Porém, segundo Royce
(2007), a natureza heterogénea da organização social poderá dificultar a definição de
um perfil para as pessoas que se pretende atrair. Para suprirem as suas necessidades em
termos de capital humano, estas podem recorrer a diversas fontes. O campo de
recrutamento pode estar no setor empresarial, no setor sem fins lucrativos, no setor
público e até junto da população-alvo que visa servir. A organização pode optar ainda
por recrutar voluntários ou colaboradores assalariados.

Qualquer uma destas fontes de recrutamento proporciona vantagens e inconvenientes,


que cada organização deverá ponderar na decisão sobre a alternativa mais adequada e
suscetível de produzir os melhores resultados (Dees, 1998).

O voluntariado representa uma forma de captação de recursos humanos interessante do


ponto de vista económico. Todavia, os autores alertam que a dependência exclusiva de
voluntários constitui uma situação de elevado risco (Dees, 1998; Gallagher et al., 2012;
Leadbeater, 1997; Royce, 2007). De acordo com o Artigo. 3.º da Lei n.º 71/98, de 3 de
novembro, que estabelece as bases de enquadramento jurídico do voluntariado, os
voluntários são definidos como indivíduos que “de forma livre, desinteressada e
responsável se comprometem, de acordo com as suas aptidões e no seu tempo livre, a
realizar ações de voluntariado no âmbito de uma organização promotora”. A natureza
não contratual da relação de voluntariado pode culminar numa situação de grande
vulnerabilidade para o funcionamento normal da organização. Segundo Gallagher, et al.
(2012), a perda de voluntários-chave pode conduzir a uma lacuna difícil de colmatar e
afetar as probabilidades de sobrevivência da organização.

146
O recrutamento de colaboradores do setor privado, por sua vez, potencia a aquisição de
pessoas que detêm competências-chave na área empresarial e que fomentam uma
cultura mais empreendedora. Para Alter (2000), estes colaboradores tendem a ter maior
sensibilidade para as questões financeiras e para as questões relacionadas com a gestão
das organizações, elementos importantes para uma organização social bem-sucedida.
Contudo, estes indivíduos podem não estar adequadamente alinhados com a causa
social da organização ou não conhecer na sua plenitude a atividade do setor sem fins
lucrativos (Alter, 2000). O CASE (2008) adverte, ainda, para as dificuldades de
adaptação das competências dos indivíduos aos desafios do empreendedorismo social.
Ao recrutar-se no setor sem fins lucrativos, pelo contrário, a empresa pode ir buscar
colaboradores que se encontrem fortemente comprometidos com uma causa social e que
já possuam experiência na resolução de problemas sociais.

O recrutamento no setor privado pode também acarretar um inconveniente no que diz


respeito à estrutura de custos da organização. O nível salarial é geralmente inferior ao
do setor empresarial pelo que, para que a organização consiga atrair e reter esses
colaboradores, pode ter que nivelar o seu pacote remuneratório com o setor privado
(Alter, 2000). Segundo Alter (2008), este aumento pode provocar um agravamento da
estrutura de custos, conduzir a uma situação de desigualdade salarial interna e constituir
uma fonte de tensões e desconforto, causada apenas pelo facto de os colaboradores
provirem de setores de atividades diferentes.

Em alternativa, as organizações podem, ainda que parcialmente, recrutar junto da sua


população-alvo. Para Royce (2007), esta solução é particularmente interessante para
organizações que pretendam estimular o mercado de trabalho para indivíduos que
possam ser considerados excluídos, designadamente, pessoas com problemas físicos,
grupos de pessoas mais vulneráveis ou pessoas socialmente excluídas e que apresentem
dificuldades adicionais em ingressarem no mercado de trabalho. Com este tipo de
recrutamento, a organização estará a fomentar a autonomia destes indivíduos, que
deixam de ser dependentes de um sistema caritativo e passam a fazer parte integrante do
processo de criação de valor. As investigações de Leahy e Villeneuve-Smith (2009) e de
Villeneuve-Smith e Chung (2013) indicam que esta situação é muito frequente no Reino
Unido, onde a maioria das organizações sociais emprega ativamente pessoas
desfavorecidas no mercado de trabalho. Ao colaborarem na organização estas pessoas
estarão também a desenvolver as suas competências e, como tal, a aumentar a sua

147
empregabilidade. Tal atitude é consonante com o conceito de empowerment, defendido
pelo empreendedorismo social. Encontrar, dentro deste grupo de pessoas, indivíduos
com as competências necessárias para o exercício dos postos de trabalho pode, contudo,
ser uma tarefa difícil. Royce (2007) alerta igualmente para a dificuldade em convencer
as pessoas para mudarem de vida e se dedicarem à organização social, pelo menos numa
fase inicial.

Após o recrutamento, segue-se a seleção, isto é, a identificação do(s) indivíduo(s), de


entre um conjunto de candidatos disponíveis para colaborar com a organização, que
aparenta(m) ter as características mais adequadas para o cargo que irá ser exercido.
Neste processo, Parente et al. (2013a) destacam a necessidade de se definir os critérios
considerados pertinentes que irão orientar a decisão. A literatura salienta igualmente a
análise das competências do candidato, bem como a avaliação do alinhamento entre
estas, a missão, os objetivos e os valores da organização, e o público-alvo da iniciativa
(Akingbola, 2006; Parente, 2013; Parente et al., 2013a; Yunus, 2011). Na visão de
Johnson (2000), a organização deve acautelar e gerir, em especial, eventuais choques de
culturas que podem emergir de um grupo heterogéneo de colaboradores, muitos deles
marcados por contextos organizacionais distintos. Harris e Kor (2013) sublinham que
uma estratégia bem-sucedida de recrutamento e seleção envolve uma comunicação clara
sobre os objetivos da empresa, desafios e recursos disponíveis, bem como
oportunidades de crescimento pessoal para os colaboradores.

Terminados os processos de recrutamento e seleção, será útil o desenvolvimento de um


processo de integração dos novos colaboradores, de modo a permitir que estes “se
familiarizem com as diferentes vertentes da cultura da organização” (Parente, 2010, p.
331).

b) Retenção e desenvolvimento do capital humano

É particularmente difícil encontrar pessoas que possuam as competências adequadas


para trabalhar num campo híbrido como o empreendedorismo social (CASE, 2008). As
iniciativas de empreendedorismo social requerem competências específicas e
complexas, que podem não estar presentes nos colaboradores no momento em que
ingressam na organização (Royce, 2007). O processo de formação e desenvolvimento
das pessoas revela-se aqui vantajoso, para que as lacunas detetadas possam ser
colmatadas (Johnson, 2000; Royce, 2007) e para que os colaboradores estejam aptos a

148
desempenhar as suas funções da melhor forma possível. Akingbola (2006) sustenta que
o ponto de partida das ações de formação em organizações sociais envolve a
sensibilização para a missão e para os valores da organização. Harris e Kor (2013), mais
recentemente, assinalam que uma grande proporção da formação nas organizações
socialmente empreendedoras ocorre de um modo verbal e informal, destacando o papel
positivo que o mentoring e coaching assumem no processo de aprendizagem. O CASE
(2008) reconhece a dificuldade no desenvolvimento das competências necessárias ao
empreendedorismo social, argumentando que, se por um lado, são poucas as
organizações com uma dimensão suficiente para que possam ser desenvolvidos
programas internos, por outro lado, os programas de formação externos têm sido
considerados insuficientes face às necessidades existentes. No mesmo sentido, Leahy e
Villeneuve-Smith (2009) constatam que a maioria das organizações admite que as
competências e formação disponíveis são uma barreira para o exercício do
empreendedorismo social.

Para além da constituição de uma equipa com as competências apropriadas, as


organizações terão que adotar uma estrutura organizacional, para que possam
desenvolver as suas atividades de uma forma bem-sucedida, (Leadbeater, 1997). A
estrutura organizacional define, segundo Collis e Montgomery (1981), as relações
formais entre os grupos e os indivíduos dentro de uma organização, a alocação de
autoridade e o modo como a organização se encontra dividida. Estas moldam os canais
de comunicação e o processo de tomada de decisão no seio da organização (Teare &
Ingram, 1993). A literatura sugere as estruturas orgânicas e descentralizadas como as
mais adequadas para o empreendedorismo social (Austin et al., 2008; Leadbeater, 1997;
Patel & Mehta, 2011; Young et al., 2009). Este tipo de estruturas promove a
colaboração interdepartamental e a interação entre os colaboradores da organização,
importantes para o estímulo de uma cultura de criatividade, abertura e partilha de ideias
entre os vários elementos da organização (Leadbeater, 1997; London & Morfopoulos,
2010). Uma cultura de inovação permanente irá melhorar a capacidade de formulação
de respostas a problemas/oportunidades sociais e permitirá uma melhor interação com a
envolvente externa da organização (Austin et al., 2008; Young et al., 2009). Este tipo de
configuração é consentâneo com a presença de lideranças coletivas e colaborativas, que
alguns consideram como particularmente eficazes no empreendedorismo social
(Ferreira, 2005; Korosec & Berman, 2006; Lyons & Lichtenstein, 2010).

149
Para que os colaboradores se comprometam com as atividades da organização, é
fundamental que se encontrem motivados. Atendendo aos desafios com que as
organizações sociais se deparam, a motivação tem sido apontada como um elemento
fundamental. Como sugerido por Leadbeater (1997, p. 71), “estas organizações são
construídas sobre a energia e entusiasmo das pessoas”. Os mecanismos de que os
empreendedores sociais dispõem para motivar os seus colaboradores são, contudo,
diferentes dos existentes no setor empresarial. No empreendedorismo social os salários
são frequentemente menos competitivos (Certo & Miller, 2008), o que representa uma
dificuldade acrescida para a motivação dos colaboradores, em particular para aqueles
que tenham necessidades significativas de compensação financeira ou que tenham
outras oportunidades no mercado de trabalho (Guclu et al., 2002). Baral et al. (2012)
evidenciam empiricamente que a maioria das organizações sociais considera o acesso e
retenção de colaboradores como um verdadeiro desafio. Do mesmo modo, Harris e Kor
(2013) apontam a rotação de pessoal não planeada, tanto ao nível operacional como de
gestão, como uma dificuldade de destaque no empreendedorismo social. Para
incrementar o nível de motivação dos colaboradores, as organizações sociais terão que
recorrer a outros estímulos de natureza não-financeira. A satisfação intrínseca associada
à prossecução de uma missão social, pela qual se encontram sensibilizados, pode ser um
desses benefícios não pecuniários (Alter, 2000; Dees, 1998; Guclu et al., 2002; Zhang
& Swanson, 2013; Yunus, 2011). Harris e Kor (2013) verificam que a aplicação de
salários competitivos não é uma solução para a rotação de pessoal no
empreendedorismo social, defendendo a aplicação conjunta de incentivos monetários e
não-monetários, onde a ligação psicológica dos colaboradores à organização
desempenha um papel importante.

A forma como a organização é gerida pode também estimular a motivação dos


indivíduos, designadamente através (Alter, 2000; Parente, 2013; Parente et al., 2013a;
Young et al., 2009; Zhang & Swanson, 2013):

(i) Conceção e atribuição de tarefas desafiadoras, definição de responsabilidades e


desenvolvimento profissional dos colaboradores;
(ii) Conceção de sistemas de liderança partilhados, de processos de tomada de
decisão participativos e da manutenção de uma comunicação aberta;

150
(iii) Implementação de sistemas formais de avaliação e compensação do
desempenho, nomeadamente através do reconhecimento e louvor pelo trabalho
bem feito;
(iv) Criação e manutenção de um bom ambiente de trabalho.

Desta forma, a organização melhora a capacidade de atrair colaboradores profissionais


que valorizam essencialmente a dimensão intrínseca do trabalho, que pretendam uma
maior autonomia na aplicação do seu conhecimento e que preferem trabalhar com e para
as pessoas (Parente et al., 2013a; Schepers et al., 2005; Young et al., 2009).

Parente (2013), analisando a forma como é feita a gestão do capital humano em


organizações do terceiro setor em Portugal, assinala que, apesar de a grande maioria das
unidades afirmar desenvolver práticas de gestão de pessoas, verifica-se uma orientação
essencialmente de curto-prazo e uma presença muito débil da gestão estratégica,
orientada para o desenvolvimento pessoal e profissional de todos os recursos humanos
em conformidade com a estratégia organizacional. Ferreira (2005), por sua vez, através
da realização de entrevistas semiestruturadas, evidencia que a gestão de recursos
humanos é uma das atividades centrais do trabalho do ‘empresário social’ em Portugal e
que lhe consome uma parte muito significativa do seu tempo de trabalho.

4.3.1.3 Recursos financeiros


O desenvolvimento da estratégia organizacional pressupõe a existência de um conjunto
de recursos financeiros. Estes incluem todas as fontes de fundos de uma organização,
tais como dívidas, capital próprio, retenção de resultados, apoio governamental ou
donativos privados (Barney & Clark, 2007; Weerawardena et al., 2010). De acordo com
a teoria da dependência de recursos, sugerida por Pfeffer e Salancik (1978), a
sobrevivência de uma organização depende da sua capacidade para adquirir recursos.
Ora, são os meios financeiros que permitem que a organização adquira os recursos e
fatores de produção de que necessita e que financie os seus projetos de investimento.

Weerawardena et al. (2010) reconhecem que a necessidade de construir uma


organização sustentável conduziu à adoção de estratégias operacionais que visam o
alcance de maior estabilidade financeira nas organizações sem fins lucrativos. O
desenvolvimento deste tipo de estratégias pelas organizações sociais passa pela

151
ampliação da capacidade geral de geração de receitas, através da estabilização dos seus
fluxos financeiros, com o intuito de substituir um modelo de dependência financeira por
um modelo de autossuficiência e viabilidade financeira (Gras & Mendoza-Abarca,
2013; Parente et al., 2013a; Smith et al., 2010; Weerawardena et al., 2010). No Reino
Unido, Leahy e Villeneuve-Smith (2009) e Villeneuve-Smith (2013) constatam que as
organizações socialmente empreendedoras se encontram comprometidas com uma
estratégia de geração de lucro, conseguida na maioria dos casos, embora o excedente
produzido seja reinvestido nas comunidades em que operam e na prossecução de
objetivos sociais, nomeadamente através do desenvolvimento de atividades de expansão
ou fornecimento de novos serviços. O mesmo resultado é encontrado por Baral et al.
(2012), no caso da China, onde a maioria das organizações reinveste os seus lucros,
mesmo que o regime jurídico sob o qual se encontram registadas não as obrigue a essa
situação.

A autossuficiência financeira é encarada como a forma mais adequada para se assegurar


a sustentabilidade da organização e minorar a dependência face a terceiros. Importa,
sobretudo, limitar (e se possível eliminar) a dependência face à boa vontade e
imprevisibilidade dos doadores, com os quais não existe qualquer vínculo contratual no
que respeita aos montantes e periocidade das transferências de capital (Austin et al.,
2007; Dees, 1998; Lehner, 2011; Smith et al., 2012). Para Bacq et al. (2011), as
organizações devem também diminuir a sua dependência face ao orçamento do Estado e
às opções políticas vigentes. A autossuficiência é entendida como o objetivo último dos
empreendedores sociais mais ambiciosos (Anderson & Dees, 2008; Boschee &
McClurg, 2003). Boschee e McClurg (2003) alegam que uma situação destas apenas
pode ser alcançada através de uma estratégia que visa a total dependência dos
rendimentos gerados pela organização. Porém, para Nicholls (2008), esta será uma
situação difícil de alcançar, na medida em que a maioria das iniciativas de
empreendedorismo social se encontra algures num continuum balizado por uma situação
de pura dependência e de total autossustentabilidade, como a figura 4.1 ilustra. Ainda
assim, quanto maior for a capacidade de geração de receitas por parte da organização,
maior será a probabilidade desta aceder aos recursos financeiros de que necessita
(Bloom & Smith, 2010).

152
Figura 4.1- Uma perspetiva sobre as estratégias financeiras: dependência versus autossuficiência

-- Nível de ‘dependência’ ‘Autossuficiência’

Total dependência de Total dependência de


Fontes mistas de receitas
filantropia, donativos e subsídios estratégias de geração de
rendimento

Fonte: Anderson e Dees (2008)

As estratégias de geração de receitas têm por objetivo garantir a continuidade no


fornecimento de bens ou serviços por parte da organização (Hoogendoorn et al., 2010).
A sustentabilidade financeira, obtida através da geração de rendimentos, é reconhecida
como um importante pilar no conceito de empreendedorismo social (Boschee &
McClurg, 2003; Mair, 2010). Segundo Boschee e McClurg (2003), uma organização
sem fins lucrativos não estará a atuar de uma forma empreendedora a menos que gere
rendimentos através das suas atividades. Os opositores às estratégias de geração de
rendimentos argumentam que estas distraem a organização dos seus propósitos sociais,
criam conflitos culturais, aumentam o risco financeiro da organização e ameaçam a sua
legitimidade (Gras & Mendoza-Abarca, 2013). Smith et al. (2010) alertam para as
tensões que podem surgir pelo facto da organização prosseguir em simultâneo uma
missão social e uma estratégia de geração de receitas, receando que a missão social da
organização possa vir a ser preterida em relação à procura da sua sobrevivência. Gras e
Mendoza-Abarca (2013) sugerem que, com a procura de fontes de rendimento baseadas
no mercado, as organizações sociais alteram a sua estrutura de dependência, trocando a
dependência de subsídios e donativos pela dependência dos mercados comerciais. Os
seus resultados empíricos apontam para a presença de uma relação em forma de u entre
a proporção de recursos proveniente de atividades de mercado e a probabilidade de
êxito da organização, o que sugere que o recurso a esta fonte de recursos é benéfico até
níveis moderados e prejudicial para níveis mais elevados.

As estratégias de geração de rendimento podem ser prosseguidas de diversas formas,


podendo apresentar, ou não, uma ligação direta com a missão principal da organização
(Smith et al., 2010). As receitas podem provir do preço praticado com a venda dos
produtos ou serviços disponibilizados pela organização (a modalidade típica de geração
de rendimento no empreendedorismo tradicional). O preço a praticar pode cobrir a

153
globalidade dos custos ou apenas uma parte. A organização social pode operar sobre
áreas em que existam externalidades ou trabalhar com públicos com baixo poder de
compra, pelo que o preço não será determinado pelo livre encontro entre a oferta e a
procura (Light, 2008). Como anteriormente houve oportunidade de referir, o
empreendedorismo social incide frequentemente em áreas em que os agentes
económicos que operam única e exclusivamente com base nas leis de mercado não têm
interesse económico na disponibilização do bem ou serviço. Deste modo, os preços,
quando cobrados, raramente englobam a totalidade dos custos suportados, o que coloca
um obstáculo significativo à sustentabilidade financeira das organizações (Light, 2008;
Mair, 2010). Por conseguinte, enquanto algumas iniciativas adotam políticas de
discriminação de preços, na qual alguns clientes pagam um preço inferior àquilo que
seria considerado um preço ‘justo’, outros, que dispõem de uma melhor capacidade
financeira, pagam um preço superior (Krlev, 2012). Segundo Nga e Shamuganathan
(2010) este é um modelo equitativo de subsidiação-cruzada entre clientes, no qual os
preços são fixados de acordo com a capacidade contributiva de cada um. Com este
esquema de fixação de preços as organizações procuram aumentar o impacto social das
suas atividades (Krlev, 2012).

Outra forma de geração de rendimento diz respeito à cobrança de taxas pela


organização, tais como quotas dos seus membros e associados ou licenças (Schöning,
2003). É ainda possível a geração de rendimentos através da venda de produtos ou
serviços que não estejam relacionados com a missão social da organização (Smith et al.,
2012). É o caso, por exemplo, das receitas provenientes de merchandising, da venda de
produtos agrícolas ou artesanais, ou da prestação de serviços, como ações de
consultoria, formação, serviços de tradução, restauração, ou a obtenção de patrocínios
(Morris et al., 2011b; Schöning, 2003; Smith et al., 2012). Estas ações visam aumentar
a visibilidade da organização e criar fontes alternativas de rendimento (Dees, 1998;
Morris et al., 2011b).

As organizações sociais estão cada vez mais conscientes da necessidade de


diversificação das suas fontes de rendimento enquanto meio para assegurar a sua
sustentabilidade (Eikenberry & Kluver, 2004; Reis, 1999; Smith et al., 2012
Weerawardena, et al., 2010). Todavia, estudos empíricos têm demonstrado que a
maioria destas organizações não consegue operar exclusivamente com base em receitas
próprias. Zhang e Swanson (2013) verificam, no caso canadiano, que apenas uma

154
pequena parte das organizações (cerca de um terço) tem mais de um quarto das suas
receitas provenientes de rendimentos próprios. No caso português, Parente et al.
(2013c) referem que a maioria das organizações do terceiro setor recorre a
financiamento externo, bastante dependente de stakeholders, onde o financiamento
proveniente do Estado assume particular relevância e o financiamento próprio
representa apenas uma pequena fração dos fundos mobilizados. De um modo diferente,
Leahy e Villeneuve-Smith (2009), Villeneuve-Smith e Chung (2013) e Baral et al.
(2012), mostram que a maioria das organizações sociais supre mais de metade das suas
necessidades financeiras através de estratégias de geração de rendimento relacionadas
com atividades de mercado, particularmente evidente em organizações de maior
dimensão. Leahy e Villeneuve-Smith (2009) e Villeneuve-Smith e Chung (2013)
constatam, ainda, que a maioria das organizações sociais recorre a diversas fontes de
rendimento e apenas um quarto destas se restringe a uma única fonte. De uma forma
diferente, Bacq et al. (2011), na Bélgica e Holanda, evidenciam que apesar de as
organizações sociais recorrerem a uma variedade de fontes de financiamento,
predominam outras fontes de rendimento que não a venda de produtos ou serviços (que
têm uma expressão relativamente pequena na geração de receitas).

Para colmatar esta incapacidade, as organizações de empreendedorismo social podem


recorrer a outras fontes de recursos financeiros, tais como donativos e subsídios
(Defourny & Nyssens, 2010; Mair & Martí, 2009; Pache & Chowdhury, 2012), ou às
poupanças do próprio fundador ou da sua rede de contactos (sejam estes familiares,
amigos, antigos colegas, parceiros de negócios, membros da comunidade ou pessoas
interessadas no problema social em causa) (Baral et al., 2012; Domenico et al., 2010;
Hare, Jones & Blackledge, 2007; Yunus, 2011). Segundo Dees (1998), estas podem ser
fontes de capital particularmente interessantes numa fase inicial da iniciativa. Yunus
(2011) defende que não é pelo facto de as organizações aceitarem subsídios, donativos
ou outro tipo de dádivas que se desqualificam como organizações sociais. Para o autor
estas devem apenas comprometer-se em tornar-se economicamente autossuficientes
num período razoável de tempo. Em paralelo, a investigação empírica indica que à
medida que as organizações sociais vão ‘amadurecendo’, tendem a depender mais do
seu volume de vendas, e menos de donativos e subvenções (Bacq et al., 2011).
Villeneuve-Smith e Chung (2013) constatam, no Reino Unido, que menos de metade
das organizações recebe subvenções ou donativos e apenas uma pequena fração indica

155
que as subvenções são a sua principal fonte de financiamento, sendo praticamente nula
no caso dos donativos. Leahy e Villeneuve-Smith (2009), por outro lado, verificam que
a escala é importante para a autossustentabilidade da organização, identificando a partir
de uma determinada dimensão uma menor dependência de donativos.

Apesar dos esforços desenvolvidos, em determinados momentos as organizações podem


não dispor dos fluxos financeiros de que necessitam para suportar as suas atividades.
Nesses casos, e para que não comprometam a continuidade das suas operações, podem
recorrer a diversas modalidades de financiamento, seja nos mercados financeiros, seja
nos mercados de capitais. Com efeito, Hare et al. (2007) revelam, no caso escocês, que
a maioria das organizações não é capaz de assegurar as suas atividades sem recurso ao
financiamento externo. No entanto, as organizações sociais, ao não se encaixarem no
perfil tradicional de organizações do setor empresarial, terão mais dificuldades em atrair
investidores (Chertok et al., 2008). Para além disso, Lehner (2013) refere que os
discursos dos empreendedores sociais têm sido conotados com a esfera social e com a
ausência de terminologia em gestão (sendo negligenciados nas suas apresentações
termos como fluxos de caixa ou retornos financeiros de longo-prazo), o que leva a um
grande ceticismo por parte dos investidores com fins lucrativos tradicionais em relação
às suas capacidades gestionárias. Acresce, ainda, que as organizações sociais, ao
recorrerem a estratégias de geração de rendimento baseadas nos mercados, podem
dissuadir os financiadores de organizações sem fins lucrativos tradicionais. De acordo
com a hipótese da exclusão, parcialmente confirmada por Smith et al. (2012), os
doadores terão a perceção de que os seus donativos já não são necessários devido à
presença de outras fontes de financiamento.

A condição híbrida do empreendedorismo social constrói barreiras culturais e


cognitivas, que dificultam a comunicação entre empreendedores sociais e investidores
tradicionais (Lehner, 2013). Daqui resulta que os montantes de financiamento
disponibilizados pelos mecanismos tradicionais são manifestamente insuficientes para
as necessidades das organizações e são atribuídos por períodos de tempo
demasiadamente curtos (Austin et al., 2006; Hare et al., 2007), incompatíveis com o
perfil daquelas organizações. Em consequência, os empreendedores sociais, de uma
forma rotineira e numa perspetiva de curto prazo, dedicam uma parte significativa do
seu tempo a procurar novas fontes de financiamento, com prejuízo para as demais
solicitações de gestão da organização (Austin et al., 2006). Segundo Hare et al. (2007),

156
ao concentrarem-se em meios financeiros de curto prazo, estas organizações não terão
oportunidade de planear as suas atividades, na medida em que a sua sobrevivência está
dependente de uma sequência de operações bem-sucedidas que exigem um montante
significativo de tempo e esforço. O acesso a financiamento é, aliás, apontados pelas
organizações sociais como a principal dificuldade para a sua sustentabilidade e/ou
crescimento (Ármannsdóttir, 2011; Baral et al., 2012; Leahy & Villeneuve-Smith, 2009;
Villeneuve-Smith & Chung, 2013).

Os empreendedores sociais, cientes da insuficiência e inadequação dos tradicionais


mecanismos de financiamento, têm aplicado a sua criatividade na busca de novas
formas de financiamento que permitam gerar os fluxos financeiros de que as suas
iniciativas necessitam (Chertok et al., 2008; Murphy & Coombes, 2008; Weerawardena
& Mort, 2006). São exemplo disso, os casos das obrigações de impacto social
(Vasconcelos, 2010), microcrédito (Yunus, 1999), crowdfunding (Lehner, 2013), Bolsa
de Valores Sociais (Grecco, 2010) ou fundos de investimento social (Chertok et al.,
2008; Trelstad, 2008). Esta situação é evidente no estudo de Villeneuve-Smith e Chung
(2013), segundo o qual metade das organizações admite ter procurado novas fontes de
financiamento nos últimos doze meses.

Phillips e Hebb (2010) consideram que o modo como as organizações se financiam é


um aspeto crucial para a sua sustentabilidade. Como tal, estas devem analisar as
alternativas que têm ao seu dispor e avaliar aquelas que mais se adequam às suas
necessidades e características, à sua orientação estratégica e que proporcionam uma
maior eficiência operacional (Weerawardena et al., 2010). Dees (1998) sugere que o
empreendedor social deve ponderar não só o custo do capital, como também o tempo
necessário para a sua aprovação e obtenção, os custos de gestão e manutenção da
relação (onde se inserem, a título de exemplo, as despesas associadas a reuniões e à
necessária prestação de contas). Também deve considerar os custos implícitos
decorrentes da dependência de uma fonte de financiamento que pode não ser facilmente
renovável. Segundo o autor, a análise deve ser efetuada de uma forma holística,
integrando todas as condicionantes que o uso de uma determinada fonte de
financiamento possa ter sobre as operações e a estratégia da organização social. As
subvenções e donativos, por exemplo, muito embora sejam efetuadas a título gratuito,
nem sempre são a melhor opção (Dees, 1998).

157
4.3.2 Recursos intangíveis
Para a prossecução dos seus objetivos as organizações socialmente empreendedoras
necessitam quer de recursos tangíveis, quer intangíveis. Os recursos intangíveis carecem
de forma física e incluem elementos como valores, inovação e criatividade, recursos
intelectuais, direitos de propriedade, contratos, reputação da organização, segredos
comerciais, conhecimento ou cultura (Austin & Seitanidi, 2011; Meyskens et al.,
2010a). Estes recursos são, pela sua própria natureza, não-observáveis, difíceis de
quantificar ou de converter em meios monetários (Ang & Wight, 2009; Greco et al.,
2013), sendo desenvolvidos dentro das próprias organizações através de complexos
processos sociais e organizacionais (Molloy et al., 2011). Por serem difíceis de
transacionar, dificilmente podem ser destacados dos seus detentores (Molloy et al.,
2011), o que lhes confere características únicas e quase inimitáveis (Ang & Wight,
2009). Para a maioria das organizações, os recursos intangíveis são mais valiosos do
que os tangíveis (Grant, 2008). Barney (1991) destaca a relevância dos ativos
intangíveis na explicação da heterogeneidade das empresas. A utilização deste tipo de
recursos poderá moldar outros recursos e a estratégia da organização, constituindo uma
potencial fonte de vantagem competitiva sustentável (Ang & Wight, 2009; Collis &
Montgomery, 1981; Molloy et al., 2011). Collis e Montgomery (1981) salientam ainda
que os ativos intangíveis têm a propriedade de não serem consumidos com o uso e se
utilizados criteriosamente podem até desenvolver-se.

Importa assim conhecer de que forma é que os recursos de natureza intangível, tais
como a imagem organizacional, a reputação, a qualidade do serviço prestado e o capital
social, são relevantes para as iniciativas de empreendedorismo social.

4.3.2.1 Imagem da organização


A imagem organizacional pode ser entendida, segundo Walker (2010), como uma
imagem desejada que é projetada pela organização para uma audiência externa ou, na
aceção de Sciulli e Bebko (2011), como o nível de pertinência que a organização
assume para com os seus stakeholders.

Sciulli e Bebko (2011) reconhecem a elevada importância que o aspeto intangível da


imagem assume para as organizações sociais. Segundo os autores, esta representa a
principal influência na decisão de se estabelecer uma relação com a organização. A

158
construção da imagem resulta da impressão, da atitude e da opinião em relação à
organização, sendo formada através da identificação e avaliação de elementos como
credibilidade, reputação, cooperação, participação ou status da organização
(Zhengdong, 2011). Walker (2010) argumenta que muitas destas características são
incorporadas através das atividades desenvolvidas pela organização e pelos processos de
comunicação empresarial usados para chegar aos seus stakeholders. A imagem de
marca constitui também um importante elemento na formação da imagem da
organização (Ewing & Napoli, 2005; Walker, 2010). A marca é para Michel e Rieunier
(2012) um nome, um termo, um sinal, um desenho ou uma combinação destes, que
serve para identificar os bens ou serviços de uma organização e a diferencia das
organizações com que interage. Para os autores, a marca, mais do que um símbolo,
representa um significado na mente do ‘consumidor’. Segundo Kylander e Stone
(2012), a marca traduz toda a construção psicológica sobre a organização, que é retida
na mente dos indivíduos. Este ‘sistema de identificação’ é construído, por exemplo,
através de um nome, logótipo, design ou jingle (Michel & Rieunier, 2012). Viana
(2012) salienta o papel preponderante que as tecnologias de informação e comunicação
assumem (em particular a internet) para a divulgação da marca institucional.
Ferramentas como sites, blogues ou redes sociais são consideradas como uma forma
rápida e de baixo custo para se chegar a um elevado número de interlocutores (ibidem).
Parente e Costa (2013) particularizam o papel dos websites como elemento crucial para
a apresentação externa da organização aos seus stakeholders.

Segundo Kylander e Stone (2012) a marca é ainda uma ferramenta capaz de gerir as
perceções externas de uma organização, o que potencia o aumento da visibilidade e
credibilidade da organização. Deste modo, organizações orientadas para a marca
apresentam uma melhor capacidade para angariar recursos, criar parcerias e construir
vantagens competitivas (Ewing & Napoli, 2005; Kylander & Stone, 2012; Michel &
Rieunier, 2012). Adicionalmente, a marca pode ser utilizada para o fortalecimento da
coesão interna da organização, na medida em que expressa a sua identidade, missão,
valores e atividades distintivas (Kylander & Stone, 2012), pelo que representa um
importante ativo para a melhoria do desempenho da organização (Ewing & Napoli,
2005).

Em Portugal, Parente e Costa (2013) evidenciam empiricamente uma forte presença de


meios de comunicação virtual nas organizações do terceiro setor, com particular

159
destaque para o website, detido pela esmagadora maioria das organizações. Segue-se a
presença nas redes sociais, também intensa, e, com menor expressão, os blogues. A
investigação de Parente e Costa (2013) identifica algumas limitações na utilização
destas ferramentas, designadamente as organizações não exploram todo o potencial que
estas são capazes de proporcionar e aplicam uma comunicação uniforme entre os
diferentes stakeholders, sem qualquer diferenciação de conteúdos.

Villeneuve-Smith e Chung (2013), por sua vez, constatam que a maioria das
organizações socialmente empreendedoras utiliza, e de um modo crescente, a
designação ‘empresa social’ para comunicar a sua identidade em atividades de
marketing. Esta situação, que é mais evidente nas organizações mais recentes, resulta,
segundo os autores, do aumento da confiança sobre a marca ‘empresa social’ e sobre o
empreendedorismo social em geral. Os autores verificam, ainda, que a falta de
experiência em questões relacionadas com marketing é uma das principais barreiras
apontadas pelas organizações em início de atividade.

4.3.2.2 Reputação
Segundo Walker (2010), a reputação traduz a perceção agregada que num determinado
momento do tempo os stakeholders, internos ou externos, têm sobre a organização.
Trata-se, portanto, de uma representação cognitiva que depende da perceção, positiva ou
negativa, que os stakeholders têm sobre a organização (Bae & Cameron, 2006; Walker,
2010). Para Walker (2010), uma boa reputação é um ativo que requer tempo e implica
esforços significativos para a sua edificação. Uma vez construída, tende a ser
relativamente estável e duradoura, embora facilmente danificada pela ocorrência de
factos particularmente negativos (Ang & Wight, 2009; Walker, 2010).

A reputação é construída com base em perceções do comportamento atual e passado da


organização social, não sendo diretamente controlável e determinada por esta (Sabate &
Puente, 2003; Walker, 2010). Na criação da reputação de novas iniciativas de
empreendedorismo social é preponderante o papel do fundador (Austin & Seitanidi,
2011; Desa, 2007; Swanson & Zhang, 2012), para o qual contribuem elementos como o
seu status, a sua rede de contactos ou a sua história profissional (Desa, 2007; Swanson
& Zhang, 2012). Adicionalmente, Shaw (2004) evidencia empiricamente que muitos

160
empreendedores sociais consideram o seu envolvimento com a comunidade local como
necessário para a construção da credibilidade da organização.

A reputação constitui uma importante mais-valia para as organizações sociais (Ang &
Wight, 2009; Bae & Cameron, 2006), pois facilita a obtenção de recursos e permite que
sejam adquiridos em condições mais favoráveis (Ármannsdóttir, 2011; Sabate &
Puente, 2003). Ármannsdóttir (2011) sugere que as decisões de financiamento resultam
frequentemente de elementos como a reputação dos empreendedores, o seu sucesso em
experiências anteriores ou a rede de relações, em detrimento da preponderância do
mérito financeiro da iniciativa. A reputação representa igualmente um elemento-chave
para a construção da legitimidade da organização (Sud et al., 2009), o que poderá
persuadir e justificar o apoio dos indivíduos à iniciativa (Desa, 2007; Padani & Gainer,
2003; Swanson & Zhang, 2012) e reforçar a capacidade de construção de redes e
alianças (Ang & Wight, 2009). Para o público em geral, a reputação é um sinal
informativo, que funciona como mecanismo de garantia e de compromisso por parte da
organização (Padani & Gainer, 2003).

4.3.2.3 Qualidade do serviço prestado


A qualidade do serviço prestado pode ser entendida como o nível de excelência de uma
organização (Gorla, Somers & Wong, 2010). Enquanto mecanismo suscetível de
influenciar a capacidade de criação de valor e satisfação dos clientes, tem emergido
como um importante tema no âmbito da estratégia organizacional (Alamgir &
Shamsuddoha, 2004; Suuroja, 2003).

Segundo Suuroja (2003), a concetualização tradicional de qualidade tem-se focado no


cliente e na ideia de qualidade percebida, vista como o resultado da comparação entre
um resultado em particular com um padrão previamente estabelecido. Como tal, a
qualidade diz respeito ao grau de conformidade (ou de discrepância) entre as
expectativas dos consumidores e a perceção ou julgamento que estes fazem sobre o
desempenho ou serviço efetivamente fornecido pela organização (Alamgir &
Shamsuddoha, 2004; Gorla et al., 2010). Deste modo, Green, Chakrabarty e Whitten
(2007) consideram que a qualidade de um serviço pode ser entendida como a extensão
com que uma organização vai ao encontro das necessidades/expectativas dos seus
clientes e os satisfaz em vários elementos da prestação do serviço. Assim, a qualidade

161
será tanto maior quanto maior for a capacidade do serviço em satisfazer as necessidades
ou expectativas dos seus utilizadores. De um modo semelhante, Heckert e Silva (2008)
sugerem que o conceito de qualidade tem como referência a avaliação de qualidade por
parte dos utilizadores, e não do bem ou serviço per si.

As expectativas dos consumidores são vistas como os seus desejos ou pretensões


(Suuroja, 2003) e podem, segundo Danciu (2007), ser analisadas a dois níveis: (i)
desejadas e (ii) adequadas. O nível de serviço desejado é o serviço que o cliente gostaria
de receber, enquanto o nível de serviço adequado diz respeito àquilo que este considera
como aceitável. Como se pode observar pela figura 4.2, entre o nível de serviço
desejado e o nível adequado existe uma zona de tolerância (Danciu, 2007). De acordo
com Suuroja (2003), para que uma organização conceba uma cultura que sustente a
qualidade, deverá conhecer os valores e preferências dos seus clientes, de modo a
compreender a forma como estes constroem a perceção sobre a qualidade de um serviço
em particular. Para o autor, conhecer a apreciação dos clientes em relação à qualidade
permite criar uma vantagem competitiva e gerir os recursos de uma forma mais
eficiente, na medida em que não serão desperdiçados meios em áreas que os clientes
não consideram importantes.

Figura4.2- Níveis de expectativas de um serviço

Adequado Desejado

Expectativas

Fonte: Danciu (2007)

Esta preocupação com a qualidade do serviço prestado sublinha uma cultura


organizacional orientada para os clientes, veiculada pelo empreendedorismo social. Na
visão de Green et al. (2007) uma cultura organizacional orientada para os clientes deve
ser arquitetada em torno de dois elementos: (i) um enfoque no cliente, e (ii) uma
avaliação das necessidades. Na sua aceção, o enfoque nos clientes traduz a extensão
com que os objetivos e estratégia da organização se baseiam na compreensão das
necessidades dos clientes e na capacidade de a organização demonstrar que existe
essencialmente para os servir. A dimensão avaliação de necessidades, por outro lado,
refere-se à capacidade da organização em monitorizar o seu compromisso com a

162
satisfação das necessidades dos clientes, isto é, até que ponto é que, de uma forma
rotineira e sistemática, avalia as necessidades dos clientes e divulga a informação
recolhida a todas as partes interessadas. Esta orientação efetiva para o mercado assegura
que os serviços da organização estão mais próximos de satisfazer as necessidades e
desejos dos clientes (Green et al., 2007), permitindo demonstrar a credibilidade da
organização e, como tal, alcançar a confiança dos seus stakeholders (Ang & Wight,
2009).

Segundo Suuroja (2003), a maioria dos modelos de gestão de qualidade dos serviços
considera que a perceção da qualidade é construída com base em múltiplas dimensões,
sustentando-se na premissa de que um serviço representa um conjunto complexo de
atributos implícitos e explícitos. Assim, para estes modelos, a avaliação geral da
qualidade resulta da avaliação que é feita, de uma forma agregada, dessas várias
componentes (Suuroja, 2003). O debate sobre quais as dimensões básicas de um
serviço, bem como a forma para se medir essas dimensões, é extenso (Alamgir &
Shamsuddoha, 2004). Vários investigadores têm proposto diferentes modelos quanto às
dimensões que compõem a qualidade de um serviço. Porém, como revela Suuroja
(2003), não existe uma posição totalmente consensual sobre o conteúdo e a natureza
dessas mesmas dimensões12.

Paralelamente, Heckert e Silva (2008), argumentam que as especificidades das


organizações do terceiro setor exigem uma abordagem própria para a gestão da
qualidade. Na sua opinião, esta necessidade resulta do facto de uma parte significativa
das receitas das organizações sociais não provir dos seus utilizadores (os beneficiários
que consomem o serviço), mas de entidades terceiras, detentoras de diferentes
expectativas e perceções. Os autores alertam que a necessidade de sobrevivência da
organização poderá levá-la a concentrar-se na satisfação das expectativas de
determinados grupos de stakeholders, em detrimento dos beneficiários da missão.

4.3.2.4 Capital Social


O capital social é um ativo intangível que se encontra imbricado nas relações entre
indivíduos e comunidades (Mair & Martí, 2006; Meyskens et al., 2010b). A literatura
tem reconhecido que o capital social é um fator importante para o sucesso das
12
Para uma revisão de literatura mais detalhada, consultar Suuroja (2003).

163
iniciativas de empreendedorismo social (Austin et al., 2006; Leadbeater, 1997; Mair &
Martí, 2006; Mair & Schoen, 2005; Sakurai, 2008; Sharir & Lerner, 2006), de tal forma
que para Chell (2007) a análise do comportamento do empreendedor social não estará
completa se não se incluir o papel do capital social. Leadbeater (1997) defende que este
é o principal ativo das organizações sociais. Esta tese é suportada pelos resultados de
Bauer, Guzmán e F. Santos (2012), que indicam que as dotações de capital social são
maiores no empreendedorismo social do que nas empresas tradicionais.

O capital social diz respeito à pertença de um indivíduo ou de uma organização a uma


determinada rede, duradoura e bem-conhecida, na qual interage um conjunto de atores
(Ármannsdóttir, 2011; Toledano, 2011; Zhengdong, 2011). Nas palavras de Bauer et al.
(2012), representa a soma de todos os recursos potenciais e reais que são acumulados
numa pessoa ou grupo de pessoas (instituições, empresas, associações, regiões ou
países), em virtude de uma rede duradoura de relações de conhecimento e de
reconhecimento mútuo mais ou menos institucionalizada. Esta rede é, ela própria,
composta por várias redes de menor dimensão, que se encontram conectadas entre si
(Hervieux & Turcotte, 2010). Para Westlund e Gawell (2012), o capital social consiste
em redes sociais, normas e valores que são gerados, acumulados e disseminados através
dessas redes.

As redes são compostas por diferentes intervenientes, tais como amigos, família,
associados, ou organizações da comunidade em geral (Seelos et al., 2011). O
relacionamento entre os elementos que as compõem poderá caracterizar-se pela
existência de vínculos fortes ou fracos. Os laços fortes dizem essencialmente respeito à
família e aos amigos próximos, enquanto os laços fracos traduzem o relacionamento
entre conhecidos, relações distantes ou novas relações (Friedman & Desivilya, 2010;
Hervieux & Turcotte, 2010). Segundo Hervieux e Turcotte (2010), estes laços fracos
podem fornecer novas informações à rede e permitir atingir áreas mais distantes do que
a disponível através das ligações pessoais mais fortes.

O capital social inclui um elevado grau de reciprocidade, na medida em que a atuação


dos seus membros se baseia na convicção de que os outros elementos da rede irão
responder de uma forma cooperativa e de acordo com as normas sociais vigentes
(Tremblay, Gutberlet & Peredo, 2010). Westlund e Gawell (2012) qualificam o capital
social como um bem de clube, e não como um bem público, na medida em que tem

164
características de um bem exclusivo, limitado aos seus membros (aos atores conectados
a uma rede ou grupo). Aqueles que não estiverem conectados não terão acesso ao
capital social, o que implica que diferentes grupos ou organizações terão diferentes
dotações em termos de capital social (Westlund & Gawell, 2012).

O nível de capital social é fomentado pela presença de fortes níveis de confiança mútua
e reciprocidade (onde nenhuma das partes irá explorar as vulnerabilidades dos outros),
pela partilha de normas de comportamento, e pela existência de um sentimento de
compromisso e pertença (Barney & Clark, 2007; Quintão 2004c). Deste modo, o nível
de capital social será tanto maior quanto: (i) maior e mais diversa for a rede social do
empreendedor social; (ii) mais conectada estiver a rede; e (iii) maior for a qualidade das
relações, expressa pelo nível de confiança, respeito e amizade (Ármannsdóttir, 2011;
Mair & Martí, 2006; Sharir & Lerner, 2006).

O capital social é um valioso ativo intangível, capaz de produzir múltiplas vantagens


(Myers & Nelson, 2010). A cooperação que promove contribui para o reforço da
posição competitiva da organização (Bauer et al., 2012). Antes de mais, facilita o acesso
e a mobilização de outras formas de capital indispensáveis à prossecução da estratégia
(Marshall, 2011; Meyskens et al., 2010b; Seelos et al., 2011). Designadamente,
potencia o acesso ao financiamento, aos quadros de gestão e à equipa de colaboradores,
entre outros recursos (Austin et al., 2006; Mair & Noboa, 2006; Sakurai, 2008). Facilita
ainda a realização de ações entre os membros da rede, a coordenação e a cooperação
entre parceiros (Ármannsdóttir, 2011; Goldstein, Hazy, Silberstanf & Schultz, 2010;
Meysken et al., 2010b; Tan et al., 2005). Por último, facilita o processo de tomada de
decisão coletivo e a redução dos custos de transação (Bauer et al., 2012).

Empiricamente, Shaw (2004) confirma que o capital social é visto como importante
pelos empreendedores sociais, nomeadamente para a obtenção de informações sobre o
mercado e sobre os clientes, apresentação a possíveis fontes de financiamento e
identificação das necessidades sociais locais que não estão a ser satisfeitas.

Para Tremblay et al. (2010), este ativo pode ser visto como um recurso partilhado, que
deriva e é renovado através de redes interpessoais e da interação entre cidadãos. A
participação ativa em redes permite uma partilha mais rica de informação e de
conhecimento, o que conduz à aprendizagem coletiva, promove uma melhor
compreensão das normas sociais da comunidade e facilita a criação de soluções mais

165
inovadoras (Myers & Nelson, 2010; Nga & Shamuganathan, 2010). Adicionalmente,
cria confiança em relação à organização, melhorando a sua visibilidade, credibilidade e
legitimidade (London & Morfopoulos, 2010; Marshall, 2011; Thompson et al., 2000;
Westlund & Gawell, 2012). As redes de contactos fornecem ao empreendedor social
mais recursos e mais informação, necessários para a descoberta e exploração de
oportunidades (Zhang et al., 2009). Representa assim um importante papel na estratégia
das organizações socialmente empreendedoras (Meysken et al., 2010b; Thompson et
al., 2000), na medida em que alarga a janela de oportunidades da iniciativa, permite
explorá-las de uma forma mais eficiente (Marshall, 2011; Myers & Nelson, 2010), e
permite fazer face a problemas sociais que de outro modo pareceriam intransponíveis
(Leadbeater, 1997). Segundo Bauer et al. (2012) um dos benefícios mais importantes
proporcionados pelo capital social é precisamente a melhoria do reconhecimento e
redimensionamento das oportunidades empreendedoras. Por conseguinte, quanto maior
for o capital social maior será a capacidade da organização para a criação de valor social
(Estrin et al., 2011; Mair & Schoen, 2005; Meysken et al., 2010b; Sakurai, 2008).

4.4 Desempenho
As iniciativas de empreendedorismo social são criadas, desenvolvidas e levadas a cabo
com um propósito: criar valor económico e social. Como a figura 4.3 sistematiza, o
processo de criação de valor resulta da aplicação de um conjunto de atividades
organizacionais (comportamentos) que aglutinam um conjunto de recursos (inputs) para
a produção de determinados produtos ou serviços (outputs), que são disponibilizados
enquanto veículo para a produção dos resultados pretendidos (desempenho). Para a
compreensão do quadro completo de criação de valor, Clark, Rosenzweig, Long e Olsen
(2004) introduzem o conceito de impacto. Para estes, o impacto diz respeito à proporção
de resultados na sociedade que decorrem única e exclusivamente da atividade da
organização, isto é, representa o acréscimo de valor que as atividades da organização
libertam para a sociedade.

O desempenho de uma organização ocorre após o desenvolvimento de um conjunto de


ações, que implementam a estratégia e gerem os recursos que têm à sua disposição.
Porém, não é pelo facto de as organizações se proporem atingir determinados propósitos
que os conseguem concretizar verdadeiramente. Não é tão-pouco pelo facto de serem

166
norteadas por uma causa social que se traduz num bom desempenho. Como Bonini e
Emerson (2005) referem, ‘fazer-se o bem’ e ‘fazer-se bem’ não são necessariamente
sinónimos. Na verdade, o empreendedorismo social só será socialmente útil se as
atividades desenvolvidas forem capazes de produzir o resultado a que se propõe.

Figura 4.3- O processo de geração de desempenho

INPUTS ATIVIDADES OUTPUTS DESEMPENHO ALINHAMENTO


DE METAS

Aquilo que é Atividades Resultados que Alterações aos Ajustamento de


colocado na primárias da podem ser sistemas sociais atividades e
iniciativa iniciativa mensurados objetivos
O que teria
acontecido de
qualquer modo

IMPACTO

Fonte: Clark et al. (2004)

Embora não haja estatísticas disponíveis, a literatura reconhece que nem todas as
iniciativas de empreendedorismo social são de facto bem-sucedidas (Germak & Singh,
2010; Studdard & Darby, 2011). Na visão de Zeyen et al. (2013), sem um bom sistema
de métricas é difícil distinguir o sucesso do fracasso ou aprender com base nas
experiências passadas. Torna-se, portanto, necessário determinar e analisar o
desempenho obtido com as atividades da organização.

Para Lynch-Cerullo e Cooney (2011) a avaliação de desempenho diz respeito ao


processo contínuo de estabelecimento de objetivos, transformação desses objetivos em
componentes mensuráveis e recolha e análise de dados sobre essas mesmas medidas. A
avaliação de desempenho diz, assim, respeito à análise da forma como os
comportamentos organizacionais desenvolvidos estão, ou não, a conduzir aos resultados
pretendidos. Achleitner et al. (2009) descrevem o desempenho de uma organização
como a utilização eficiente e eficaz de recursos para a prossecução de determinados
resultados. A eficácia mede os resultados em termos de mudança social, enquanto a
eficiência avalia a extensão com que os recursos são economicamente convertidos em
resultados. Por conseguinte, as medidas de eficácia são construídas com base na

167
comparação da proximidade dos resultados obtidos (em termos de outputs, desempenho
ou impacto) com os objetivos inicialmente definidos pelo empreendedor social
(Achleitner et al., 2009). Assim, quanto menores forem os desvios observados, maior
será a eficácia.

A eficiência, por sua vez, analisa a produtividade do processo, podendo ser avaliada
através de rácios entre os inputs incorporados e os outputs gerados. Sawhill e
Williamson (2001) defendem que o processo de avaliação de desempenho deverá
contemplar informação relativa a três vetores: processos (atividades), outputs (produtos
e serviços) e resultados. Em paralelo, na terminologia de Clark et al. (2004) as métricas
de avaliação de desempenho podem ser classificadas em três categorias distintas,
embora complementares: (i) métodos de processos; (ii) métodos de impacto; e (iii)
métodos monetários. Os métodos de processo incluem as ferramentas que são utilizadas
para avaliar a eficiência e eficácia dos outputs, traduzindo-se em indicadores que
monitorizam a continuidade operacional dos processos. Clark et al. (2004) consideram
adequada a sua avaliação por via dos outputs da organização na medida em que estes se
encontram correlacionados com o desempenho social desejado. Os métodos de impacto,
por sua vez, avaliam os resultados incrementais (em termos de desempenho ou de
output) proporcionados à sociedade pelas atividades da organização, comparativamente
com a melhor alternativa existente para a resolução do problema social em questão. Por
último, os métodos monetários representam o desempenho ou o impacto gerado,
expressos em unidades monetárias, descontando, ou não, o valor temporal do dinheiro.
Os autores argumentam que a escolha das métricas a implementar deverá resultar da
ponderação de dois critérios: (i) a viabilidade da métrica, isto é, a facilidade e o custo
associados à sua implementação; e (ii) a credibilidade, ou seja, a extensão com que a
informação produzida é suficientemente rigorosa.

A gestão de desempenho é, além do mais, uma prática que se coaduna com o caráter
empreendedor pelo qual o empreendedorismo social se rege. É através da avaliação de
desempenho que a organização mede o grau com que é capaz de aplicar com sucesso as
competências e recursos de que dispõe e que aplicou para a prossecução da sua
estratégia organizacional. Nas palavras de Rotheroe e Richards (2007) a presença de
mecanismos de avaliação de desempenho auxilia no processo gestionário, na medida em
que possibilita a prossecução de um processo de avaliação contínuo. A teoria económica
sugere que o comportamento empreendedor futuro se baseia na comparação entre as

168
expectativas do empreendedor e os resultados percebidos num determinado momento
do tempo (Naffziger et al., 1994). Desta forma, a avaliação representa uma ferramenta
através da qual os gestores obtêm feedback sobre as decisões tomadas. Ao mesmo
tempo, identifica as ações que podem conduzir ao sucesso da organização e identifica os
programas que permitem que esta progrida na prossecução dos seus objetivos (Bonini &
Emerson, 2005; Bornstein, 2007; Carman, 2011; Emerson, 2005), permitindo um
ajustamento dinâmico entre o ambiente, estratégia, estrutura e recursos da organização.
Adicionalmente, Zhang e Swanson (2013) sugerem que a utilização sistemática de
medidas financeiras e não financeiras ajuda as organizações socialmente
empreendedoras a balancear as solicitações em termos de recursos e a testar a sua
solidez estratégica. Zhang e Swanson (2013) encontram suporte empírico, ainda que
parcial, para a tese de que a utilização de medidas não financeiras aumenta os resultados
sociais das organizações e que a adoção de controlos financeiros para a monitorização
das operações está associada a uma maior utilização de receitas próprias (por
contraponto a um menor recurso a donativos e subvenções).

Apesar da importância que assume para uma gestão bem-sucedida das organizações, a
mensuração de desempenho no empreendedorismo social é reconhecida como
sobejamente difícil (Johnson, 2000; Mair & Martí, 2006; Wang, 2009; Weerawardena
& Mort, 2012). A criação de valor à luz de duas linhas de fundo (valor social e
económico) faz com que os mecanismos tradicionais de avaliação de desempenho se
manifestem inadequados (Bonini & Emerson, 2005; Murphy & Coombes, 2008). Se no
setor empresarial os lucros, para os quais existem métricas padronizadas, representam
um razoável indicador do valor que a empresa está a ser capaz de gerar, o mesmo não se
verifica no empreendedorismo social (Ármannsdóttir, 2011; Austin et al., 2006;
Boschee & McClurg, 2003; Dees, 2001; Sawhill & Williamson, 2001). O
empreendedorismo social desenvolve-se, frequentemente, no âmbito das organizações
sem fins lucrativos ou em áreas em que é difícil a aplicação de preços de mercado, não
sendo o lucro um bom indicador do valor criado (Boschee & McClurg, 2003). As
métricas de avaliação deverão, neste caso, entrar em consideração com elementos de
natureza económica e social (Brown & Moore, 2001; Nicholls, 2009b; Wang, 2009;
Zahra et al., 2009).

A avaliação da criação de valor social envolve, contudo, uma particular complexidade.


Em primeiro, o valor social gerado tem um valor intrínseco, com frequência de natureza

169
qualitativa, que é difícil de expressar em métricas (Achleitner et al., 2009; Emerson et
al., 2001; Young, 2008). A estandardização de indicadores é também difícil de
implementar, dado que a criação de valor social depende em muito das especificidades
da própria organização e do âmbito das suas próprias atividades (Trelstad, 2008). Por
consequência, não é possível comparar-se os resultados criados em diferentes iniciativas
(Achleitner et al., 2009). Adicionalmente, é difícil imputar um resultado social como
consequência direta de uma intervenção específica (Dees, 1998). Para além dos
resultados diretos da intervenção podem coexistir outros fatores, como o contexto, que
influencia os resultados gerados. Dees (1998) toma como exemplo a redução da taxa de
criminalidade, que poderá resultar não só de um programa social como também de uma
melhoria das condições económicas de uma determinada região. Trivedi e Stokols
(2011) salientam que as atividades da organização podem não só criar valor social
direto, como também proporcionar benefícios indiretos. Esta multicausalidade reforça a
dificuldade no apuramento rigoroso da parcela de valor que deriva das atividades de
uma organização em concreto (Kirk & Nolan, 2010; Swanson & Zhang, 2012).

Uma outra dificuldade decorre do espaço de tempo necessário para que se possa apurar
o resultado de uma ação em específico. Entre o momento em que uma atividade é
iniciada e o momento em que os seus resultados se fazem sentir, existe um lapso de
tempo que pode ser considerável. As ações decorrentes de iniciativas de
empreendedorismo social geralmente não surtem um efeito imediato, refletindo-se
apenas no médio ou longo prazo (Achleitner et al., 2009; Austin et al., 2006).
Achleitner et al. (2009) sugerem que a avaliação de desempenho deve ter lugar apenas
após um período de tempo suficiente para que o efeito das ações organizacionais se
tenha materializado. Por conseguinte, para algumas iniciativas não será possível apurar
o resultado social gerado com uma periodicidade trimestral ou até anual, como é
frequente no empreendedorismo tradicional (Austin et al., 2006).

As dificuldades acima enunciadas não demovem a literatura de reiterar a necessidade de


se conceber um sistema capaz de avaliar o desempenho da organização em termos
globais e de uma forma agregada (Emerson, 2003; Thompson et al., 2000; Zahra et al.,
2009), que conjugue a criação de valor social e económico (Dacin et al., 2010). A
avaliação de resultados é, além do mais, um dos termos mais referidos na literatura
sobre empreendedorismo social (Gras, Mosakowski & Lumpkin, 2011). A discussão
coloca-se quer do ponto de vista teórico quer prático. Em termos práticos, vários

170
profissionais e instituições têm procurado desenvolver métricas de mensuração de
resultados, muitas delas originárias do setor empresarial (Achleitner et al., 2009;
Swanson & Zhang, 2012). É, a título de exemplo, o caso do Balanced ScoreCard (Bull,
2007; Trelstad, 2008), mapas de valor, (Mulgan, 2005; 2008), retorno social do
investimento (Emerson et al., 2001), benchmarks (F. Santos, 2009; Thompson et al.,
2000) ou a análise custo-benefício (Clark et al., 2004).

Do ponto de vista académico tem-se procurado definir as características que as métricas


de avaliação de desempenho devem apresentar, bem como esclarecer a razão pela qual
algumas iniciativas apresentam um melhor desempenho do que outras (Gras et al.,
2011; Light, 2008; Sharir & Lerner, 2006). Assim, uma parte da literatura tem
procurado olhar para o desempenho (enquanto resultado da atividade organizacional)
para compreender quais são os value drivers que contribuem para o sucesso das
iniciativas de empreendedorismo social. Pretende-se, portanto, identificar quais são os
comportamentos capazes de explicar as diferenças em termos de desempenho
organizacional. Esta questão apresenta um problema metodológico que não se encontra
totalmente resolvido, na medida em que não existe ainda um consenso no que respeita
aos indicadores a utilizar na construção da dimensão ‘desempenho’ (Light, 2008; E.
Tayşir & N. Tayşir, 2012).

Os estudos empíricos têm recorrido essencialmente a indicadores para avaliar, em


particular, a eficácia operacional. Através de uma revisão de literatura E. Tayşir e N.
Tayşir (2012) concluem que as dimensões de eficácia adotadas variam muito entre
estudos empíricos. O estudo de Moshe Sharir e Miri Lerner (2006) define três critérios
para a avaliação do nível de desempenho das organizações sociais: (i) o grau com que a
organização atinge os seus objetivos; (ii) a capacidade que a organização tem de
assegurar a continuidades dos produtos e serviços, através da aquisição dos recursos
necessários para manter as suas operações; e (iii) a medição dos recursos disponíveis
para o crescimento e desenvolvimento da organização. Light (2008) avalia a capacidade
de prossecução dos objetivos gerais da organização, o crescimento dos programas, da
estabilidade financeira e orçamento da organização. Sawhill e Williamson (2001), por
seu lado, defendem que a eficácia organizacional pode ser medida em três áreas
principais: (i) impacto; (ii) atividade; e (iii) capacidade. Para os autores, as medidas de
impacto avaliam o nível de prossecução da missão, as medidas de atividade focam-se no
alcance dos objetivos e na implementação das estratégias, enquanto as medidas da

171
capacidade avaliam a extensão com que a organização mobiliza os recursos de que
necessita (capacidade) para o alcance da missão. Renko (2013) mede o sucesso do
lançamento de novas organizações sociais pela capacidade de reunir recursos-chave,
operacionalizados em três indicadores: (i) contratação de colaboradores; (ii) capacidade
de obtenção de financiamento externo; e (iii) concretização da primeira venda. De uma
forma semelhante, Eisinger (2002) considera que a eficácia assenta em três dimensões
principais: (i) aquisição de recursos; (ii) alcance dos objetivos e (ii) qualidade do
serviço. Chung-Ming Lau (2011), em, alternativa, sugere a avaliação do desempenho da
organização através de três componentes: (i) elementos de natureza financeira; (ii)
elementos de natureza operacional; e (iii) satisfação dos stakeholders. O autor defende a
avaliação das dimensões financeira e operacional de um modo autónomo, alegando que
apesar de inter-relacionadas refletem dimensões diferentes do desempenho das
organizações. Lau (2011) acrescenta, ainda, que tendo em conta que a relação entre
estas duas dimensões (financeira e operacional) é complexa, é preferível avaliá-las
isoladamente. E. Tayşir e N. Tayşir (2012) defendem que um bom sistema de
desempenho deverá agregar diferentes indicadores de eficácia e não apenas um único
indicador.

Pela revisão de literatura verifica-se que a análise da componente social do


empreendedorismo é feita através da observação da prossecução da missão e dos
objetivos sociais da organização. London e Morfopoulos (2010) recomendam
igualmente a consideração do número de beneficiários dos programas da organização,
enquanto indicador do nível de atividade social. Na análise da dimensão económica,
para além da avaliação da extensão com que os objetivos económicos são atingidos, o
nível de crescimento da organização é apontado como um indicador da capacidade de
sobrevivência da organização (Leahy & Villeneuve-Smith, 2009; Marshall, 2011; Moss
et al., 2011; Villeneuve-Smith & Chung, 2013). A capacidade de atração de recursos é
também vista como um indicador do nível de eficiência percebido pelos stakeholders
(Ármannsdóttir, 2011; Dees, 2001; Weerawardena & Mort, 2006).

Para além da determinação do valor criado, as organizações socialmente


empreendedoras precisam de demonstrar os resultados que foram efetivamente capazes
de gerar. A prestação de contas, ou “accountability” na literatura anglo-saxónico, é
precisamente o processo de geração de informação no qual os atores são responsáveis
pelas suas ações e por reportar os seus atos a todas as entidades interessadas (Wang,

172
2009). Segundo Brown e Moore (2001), a prestação de contas será tanto maior, quanto
maior a informação fornecida por uma organização sobre o desempenho e quanto mais
disponível esta estiver para as solicitações dos seus stakeholders. A divulgação dos
resultados representa igualmente um importante meio de comunicação, que aumenta a
legitimidade da organização e melhora a relação com os seus stakeholders (Austin et
al., 2006, 2008; Kaplan & Grossman, 2010; Pache & F. Santos, 2013; VanSandt et al.,
2009). Através da demonstração do valor criado e da sua sustentabilidade, a organização
estará a justificar a prossecução da estratégia e os recursos que incorpora nas suas
atividades. Por esse motivo, Nicholls (2008; 2009b) defende que estas práticas deverão
ser estrategicamente exploradas pelos empreendedores sociais, de modo a que suportem
a sua missão e objetivos perante os stakeholders-chave.

As organizações sociais relacionam-se com um conjunto diversificado de atores, que


manifestam interesses distintos seja em termos de necessidades de informação ou de
expectativas quanto ao desempenho (Kirk & Nolan, 2010; Morris et al., 2007; Wang,
2009). Estas necessidades heterogéneas deverão ser acomodadas pelo processo de
prestação de contas da organização. O esforço dedicado a esta problemática reflete a
lógica empreendedora e a orientação para o mercado, que tanto caracterizam o
empreendedorismo social (Nicholls, 2009b). Segundo Villeneuve-Smith e Chung
(2013), no Reino Unido, a maioria das organizações socialmente empreendedoras
afirma medir o impacto que é capaz de gerar, o que é particularmente notório nas
organizações mais recentes. A investigação de Baral et al. (2012) evidencia igualmente
um predomínio do número de organizações que possui mecanismos de monitorização e
avaliação de resultados. Do mesmo modo, o estudo empírico de Parente et al. (2013c)
indica que a esmagadora maioria das iniciativas sociais em Portugal desenvolve
atividades de prestação de contas sobre o seu desempenho. Porém os autores advertem
que a sua maioria recorre a instrumentos tradicionais, não utilizando mecanismos que
fomentem a demonstração do desempenho de uma forma holística nas várias dimensões
que compõem o empreendedorismo social.

173
4.5 Síntese
O empreendedorismo social pode ser encarado como um processo organizacional no
qual os atores desenvolvem as suas atividades com vista à prossecução de uma missão
social de um modo sustentado, o que implica a adoção de um comportamento
empreendedor em todas as práticas organizacionais.

Após o reconhecimento de uma oportunidade para a criação de valor social, os


empreendedores irão convertê-la num modelo de negócio operacional. Para tal, tendo
por base a missão da organização, torna-se necessária a formulação e implementação de
uma estratégia, que guie os programas e atividades da organização. Assegura-se, desta
forma, a coordenação dos esforços de todos os elementos da organização em torno de
um propósito comum. A implementação da estratégia requer a disposição de um
conjunto de recursos. Porém, a natureza híbrida do empreendedorismo social coloca
desafios peculiares no que respeita à aquisição e gestão das várias tipologias de ativos,
sejam estes de caráter tangível ou intangível. De acordo com a teoria baseada nos
recursos, é no modo como são explorados os recursos e as capacidades de uma
organização que reside a explicação para o seu sucesso. O desempenho que uma
organização é verdadeiramente capaz de atingir deriva, assim, da sua estratégia e da
forma como gere os seus recursos. Através da aplicação de um sistema de indicadores, a
organização social irá apurar a extensão com que esses comportamentos conduziram à
prossecução dos seus propósitos sociais e económicos. Compreender se as atividades
organizacionais estão, ou não, a ser bem-sucedidas aumenta o conhecimento que a
organização tem de si própria e permite o reajustamento contínuo dos seus
comportamentos. Por fim, é através do processo de prestação de contas que a
organização dá a conhecer a um conjunto de entidades interessadas as suas atividades e
os resultados por si gerados. É dessa forma que a organização conquista a legitimidade
junto dos seus stakeholders, assegurando a continuidade dos mesmos nas ações da
organização social e na prossecução da sua estratégia.

174
CAPÍTULO 5

DESENHO E METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO


5. DESENHO E METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO

A recensão de literatura efetuada nos capítulos anteriores alinhavou os principais


contributos científicos que permitiram definir os contornos do quadro teórico a ser
usado no estudo empírico. No primeiro capítulo clarificaram-se os conceitos de
empreendedorismo social, empreendedor social e organização social e situou-se a
relevância científica do tema, enquadrando-se o seu conceito na problemática a estudar.
No segundo capítulo questionou-se a racionalidade económica subjacente à emergência
do campo do empreendedorismo social e avaliaram-se os seus principais traços
distintivos que o afirmam como um campo autónomo de investigação. Seguiu-se, no
capítulo 3, uma revisão sistemática do modo como emerge a iniciativa social e as
principais razões que subjazem ao surgimento do empreendedor social. Por fim, no
capítulo 4, analisaram-se os principais comportamentos desenvolvidos dentro das
organizações socialmente empreendedoras, com vista à obtenção de um desempenho
social sustentável.

Com o capítulo 5 pretende-se traçar o desenho da investigação, através da representação


do quadro analítico que guiará o trabalho empírico, da dedução das hipóteses de
investigação e da definição da metodologia de pesquisa. Com o intuito de atingir esse
desiderato, o capítulo estrutura-se em quatro secções. Na primeira, descreve-se o
contexto empírico da investigação. Segue-se a definição do modelo de pesquisa, com a
formulação das questões e hipóteses de investigação, justificando-se, depois, o seu
interesse para o estudo. A finalizar o capítulo, apresenta-se a metodologia que será
aplicada na realização do trabalho empírico, explicitando-se os instrumentos de notação
e de recolha de dados, o modo de seleção da amostra e o processo de implementação do
estudo.

5.1 O contexto da investigação


Esta investigação visa conhecer o empreendedorismo social em Portugal, campo que só
a partir de meados da década passada, mais precisamente a partir de 2007, começa a
obter um maior reconhecimento no país, quer na vertente prática, quer científica. Porém,
em Portugal, esta realidade é ainda difícil de identificar e quantificar (Parente, Costa, M.

177
Santos & Amador, 2011; Perista & Nogueira, 2009; Quintão, 2004a). Antes de mais,
porque persiste um problema conceitual, não havendo um consenso sobre os critérios
que permitem atribuir, ou não, o caráter socialmente empreendedor a uma iniciativa.
Uma das questões que se pode colocar é se o empreendedorismo social se restringe
apenas ao setor sem fins lucrativos ou se pode ocorrer também em organizações com
fins lucrativos. Sendo possível esta segunda hipótese, importa identificar e elencar todas
as iniciativas do setor empresarial, ou até mesmo do setor público, que são socialmente
empreendedoras. Acresce que a inexistência da figura jurídica da organização social em
Portugal dificulta este processo.

Apesar das limitações referidas, têm sido desenvolvidos esforços no sentido de se


compreender a panorâmica geral do empreendedorismo social e procurar estimar a sua
expressão em Portugal. Ramos (2004) defende que em Portugal, seguindo a tradição
europeia, o empreendedorismo social se enquadra no âmbito do terceiro setor. De facto,
em Portugal, as iniciativas de empreendedorismo social são reconhecidas como
iniciativas privadas, promovidas pela sociedade civil, que operam com o intuito da
prossecução de um objetivo social (Ramos, 2004), desenvolvendo-se numa esfera
distinta do setor público ou privado (Ferreira, 2000b).

O terceiro setor, em Portugal, tem raízes longínquas, como ilustram, a título de


exemplo, a ação das misericórdias desde o final do século XV ou os movimentos de
trabalhadores no início do século XIX que inspiraram o aparecimento de muitas
cooperativas e associações de socorros mútuos que, ainda, encontramos atualmente na
sociedade portuguesa (Ferreira, 2005; Parente et al., 2013a). Durante o regime ditatorial
do Estado Novo, instaurado em 1926, houve uma limitação ao desenvolvimento
associativo (Universidade Cooperativa Europeia [UCE], 2002), verificando-se um
aumento do papel do Estado e uma redução do papel do terceiro setor na criação de
valor social.

Com a revolução de 25 de Abril de 1974, passa a ser permitida a liberdade de


associação e de participação da sociedade civil na vida pública (Azevedo & Couto,
2010). A partir daí surge uma vaga de organizações sem fins lucrativos, enquanto

178
manifestações de cidadania participativa e enquanto forma de resposta a necessidades
sociais permanentes (Meneses, 2010)13.

Desde 1976, que o terceiro setor, designado como setor cooperativo e social, é
explicitamente reconhecido na Constituição da República Portuguesa (CRP) como um
setor completo, em plena igualdade com os setores público e privado (artigos 90.º e 82.º
da CRP, citados em Gata, 2010 e Namorado, 2006).

O terceiro setor apresenta, em Portugal, um âmbito bastante diversificado e heterogéneo


(Ramos, 2004), composto essencialmente por organizações de muito pequena dimensão
(Carvalho, 2010), e cujos contornos não são reconhecidos unanimemente (Taborda &
Martins, 2009). O terceiro setor envolve uma grande variedade de organizações e
formas jurídicas legais (Perista & Nogueira, 2009), tais como cooperativas de
solidariedade social e multissetoriais, associações em geral, associações de
desenvolvimento local, associações mutualistas, fundações, misericórdias e outras
instituições de caráter religioso (Gata, 2010; Parente et al., 2012d; 2013a).

A par do seu formato legal, as organizações do terceiro setor podem deter o estatuto de
Instituição Particular de Segurança Social (IPSS) e/ou de Organizações Não-
Governamentais de Cooperação para o Desenvolvimento (ONGD) (Parente et al.,
2012c). A detenção do estatuto legal confere às organizações a natureza de utilidade
pública e proporciona-lhes algumas vantagens, designadamente em termos de
tratamento fiscal (Parente et al., 2012c).

As IPSS são definidas pelo Decreto-Lei n.º 119/83, de 25 de fevereiro, no seu artigo 1º,
como organizações “constituídas, sem finalidade lucrativa, por iniciativa de particulares,
com o propósito de dar expressão organizada ao dever moral de solidariedade e de
justiça entre os indivíduos e desde que não sejam administradas pelo Estado ou por um
corpo autárquico, para prosseguir (…) mediante a concessão de bens e a prestação de
serviços”, em áreas como apoio a crianças e jovens, à família, integração social,
proteção dos cidadãos, promoção e proteção da saúde, educação e formação profissional
ou resolução de problemas sociais, entre outros. As IPSS poderão prosseguir de um
modo secundário fins lucrativos, desde que não sejam incompatíveis com o objetivo
social a que se propõe (art.º 1.º, nº.2, Decreto-Lei n.º 119/83). As IPSS incluem um

13
Para uma revisão mais pormenorizada da evolução do terceiro setor em Portugal ver, por exemplo, Ferreira (2005) ou o Relatório
UCE (2002).

179
vasto conjunto de instituições, como as associações de solidariedade social,
misericórdias, associações de socorros mútuos, fundações, associações voluntárias
sociais e cooperativas de solidariedade social, e uniões e federações (Ramos, 2004).

As ONGD, por sua vez, são entendidas como pessoas coletivas de direito privado, sem
fins lucrativos, que visam “a conceção, a execução e o apoio a programas e projetos de
cariz social, cultural, ambiental, cívico e económico, designadamente através de ações
nos países em vias de desenvolvimento” (Artigo.º 6, n.º 1, da Lei n.º 66/98 de 14 de
outubro, estatuto das organizações não governamentais de cooperação para o
desenvolvimento). Segundo Parente et al. (2012c), o facto de uma organização ter um
formato legal consonante com o terceiro setor é uma condição necessária, mas não
suficiente, para a obtenção do estatuto legal de IPSS ou ONGD.

Portugal é um dos países europeus em que o terceiro setor se encontra em


desenvolvimento e afirmação (Quintão, 2004a). Carvalho (2010) estima que entre 1997
e 2007 o número de organizações do terceiro setor em Portugal tenha crescido cerca de
90%, muito embora esse crescimento não seja uniforme entre todos os seus subsetores.
Atualmente, um dos critérios operacionais utilizados para se aferir da dimensão e
composição do terceiro setor em Portugal reside em isolar os vários ramos dos estatutos
jurídicos que compõem este setor, estimando a dimensão de cada um desses segmentos
e, posteriormente, agregando a informação, de modo a que seja conseguida uma ideia
geral da sua composição.

Até à data, existem quatro estudos que procuraram fornecer uma visão global do
terceiro setor em Portugal. O estudo levado a cabo por Franco, Sokolowski, Hairel e
Salamon (2005), no âmbito do projeto “The Johns Hopkins Comparative Sector
Project”. Os estudos levados a cabo pelo “Centre International de Recherches et
d'Information” [CIRIEC] (CIRIEC, 2000; Chávez-Ávila & Monzón-Campos, 2005). A
investigação de Carvalho (2010), construída com base nos Quadros de Pessoal do
Ministério do Trabalho e Solidariedade Social e o esboço produzido por Quintão
(2011), no artigo “O terceiro setor e a sua renovação em Portugal”. Em 2011, ao abrigo
de um protocolo de cooperação entre o Instituto Nacional de Estatística (INE) e a
CASES é criada a Conta Satélite da Economia Social, com o intuito de avaliar de forma
exaustiva as principais características da economia social em Portugal e a sua dimensão
económica.

180
De acordo com o projeto comparativo da Universidade Johns Hopkins, em Portugal, o
terceiro setor tem um papel relevante na prestação de serviços e na criação de emprego
e riqueza. O estudo acima referido estima que o setor, em 2002, representava cerca de
4.2% do produto interno bruto (PIB), e empregava 250.000 pessoas, 70% das quais
remuneradas (Franco et al., 2005). Este estudo apenas aborda as organizações não-
lucrativas e, como tal, exclui o ramo das cooperativas e mutualidades, com forte recurso
à economia de mercado e com grande relevância no setor (Quintão, 2004b).

O estudo de Carvalho (2010) estima que as receitas do terceiro setor representavam, em


2007, cerca de 4% do emprego e 5.64% do PIB, empregando 4% da população
portuguesa. No mesmo estudo estima-se que o terceiro setor em Portugal é composto
por 10.123 organizações, distribuídas pelos diferentes estatutos legais.

O INE, com base na Conta Satélite da Economia Social, publicada em abril de 2013,
estima que, em 2010, a economia social era constituída por cerca de 55 mil unidades,
representando 2,8% do valor acrescentado bruto português e 5,5 % do emprego
remunerado.

Quintão (2011), partindo da análise desagregada das diversas componentes da economia


social, define os contornos do terceiro setor em Portugal, do modo como a figura 5.1
ilustra.

Figura 5.1- Esboço dos contornos atuais do terceiro setor em Portugal

Fonte: Quintão (2011)

181
A figura 5.1 revela que o setor social mais importante é o das associações sem fins
lucrativos que conta aproximadamente com 17.000 entidades, onde se incluem as
ONGD, as iniciativas de desenvolvimento local/regional, as associações de bombeiros
voluntários e as iniciativas emergentes como o comércio justo, o micro crédito e outras.
As IPSS contam com cerca de 5.000 instituições, incluindo as misericórdias e outras
organizações da Igreja Católica, as cooperativas (de produção e solidariedade social)
são cerca de 3.000, e as fundações e mutualidades cerca de 350 e 120, respetivamente.

Apesar do estudo de Quintão ter sido efetuado em 2011, a estimativa foi construída com
base nos dados existentes para cada uma das categorias, pelo que os dados que serviram
de base à previsão são mais antigos (alguns remontam a 2005). Salienta-se, ainda, que
os dados foram recolhidos a partir de diferentes fontes, o que impõe algumas limitações
para a identificação das caraterísticas deste setor (Parente et al., 2012c). A análise à
figura 5.1 revela, como assinalado por Parente et al. (2012a), que o terceiro setor é
constituído por uma grande variedade de organizações, umas mais tradicionais do que
outras, sendo visível o surgimento de novas entidades que visam fazer face aos novos
desafios sociais.

Como se referiu, o empreendedorismo social enquanto esfera distinta entre o setor


público e o setor privado lucrativo, é, frequentemente, analisado à luz do terceiro setor
ou do setor cooperativo e social, tal como é consagrado na CRP. Porém, apesar da
maioria das organizações da economia social pertencer ao setor cooperativo e social, a
correspondência entre estes dois elementos (economia social e setor cooperativo e
social) não é integral (Namorado, 2006). Por um lado, ainda que de uma forma
reduzida, poderão existir entidades pertencentes à economia social que estejam fora
daquilo que é entendido como setor cooperativo e social, como seria, por exemplo, a
possibilidade de existirem entidades privadas com fins lucrativos, com a forma jurídica
de sociedades comerciais, que pudessem ser consideradas como parte da economia
social. Por outro lado, tendo em conta o seu nível de empresarialização, é legítimo
questionar se todas as organizações do setor cooperativo e social pertencem
efetivamente à economia social (Namorado, 2006). O próprio INE, na delimitação
conceitual relativa à conta satélite da economia social, reconhece que a definição de
economia social configura a possibilidade de os seus atores poderem intervir em duas
áreas: (i) a mercantil ou empresarial (como por exemplo, cooperativas, mutualidades, e
grupos empresariais controlados por cooperativas, mutualidades e outras entidades da

182
economia social); e (ii) a não mercantil (como as associações14; fundações; entidades
cuja produção é distribuída maioritariamente de forma gratuita ou a preços
economicamente pouco significativos; ou as entidades voluntárias não lucrativas de
ação social que produzem bens de reconhecida utilidade social). Por esse motivo
Namorado (2006, p. 13) considera que no quadro da ordem jurídica portuguesa serão
consideradas como empresas sociais: “(i) as entidades produtivas integradas no setor
cooperativo e social; (ii) as fundações e associações que atuem, direta ou indiretamente,
como empresas; (iii) as empresas tituladas por sociedades comerciais, cujas
participações sociais sejam detidas na totalidade por entidades incluídas nos números
anteriores”.

Tudo isto dificulta a separação entre aquilo que é uma organização social e o que não é,
dificultando a quantificação rigorosa do número efetivo de organizações socialmente
empreendedoras.

5.1.1 Um caso particular de empreendedorismo social: a Bolsa de Valores


Sociais
No domínio dos projetos de empreendedorismo social destaca-se o papel inovador que a
Bolsa de Valores Sociais (BVS) representa em Portugal. Sendo a BVS uma iniciativa
que visa reproduzir, com algumas adaptações, o ambiente de uma bolsa de valores
convencional, o seu intuito é o de mobilizar recursos para projetos socialmente
empreendedores. Apesar das semelhanças com uma bolsa de valores tradicional, a BVS
é um pouco distinta pois o conceito de investidor social, usado para os indivíduos ou
entidades que disponibilizam fundos para os projetos cotados, corresponde na realidade
à figura de doador. Do mesmo modo, as ações sociais traduzem a unidade de doação
estabelecida pela BVS, na mesma lógica do mercado de capitais, na qual as empresas
cotadas emitem ações para serem adquiridas pelos potenciais investidores.

Neste momento, as empresas listadas na bolsa de valores sociais não apresentam ainda
uma ‘cotação’ como as suas congéneres nas bolsas de valores convencionais. No
entanto, este mercado organizado potencia o confronto entre doadores (os investidores
sociais) e as organizações da sociedade civil com trabalhos relevantes na área da

14
Tais como associações de beneficência, ajuda e assistência, sindicais, profissionais ou científicas, de consumidores, religiosas,
igrejas, partidos políticos, clubes sociais, culturais, recreativos e desportivos.

183
educação e do empreendedorismo, promovendo a visibilidade e potenciando a obtenção
de recursos por parte dos projetos que forem admitidos. As pessoas (ou entidades)
interessadas em investir nesta bolsa têm contacto com os projetos que necessitam de
financiamento, dos seus objetivos e do modo como estes serão desenvolvidos. O facto
de existir um intermediário, a Bolsa de Valores Sociais, aumenta o nível de
transparência e escrutínio em torno de todo o processo. Os projetos listados são
criteriosamente selecionados por uma equipa técnica especializada, e são obrigados a
um forte compromisso em termos de governança e transparência. Os seus resultados
podem ser acompanhados pelos investidores sociais, através da consulta da prestação de
contas e dos relatórios de impacto social do projeto.

A primeira BVS foi criada no Brasil, em 2003, na Bolsa de Valores de São Paulo
(Bovespa). Em 2009, o modelo é replicado em Portugal e integrado na Euronext. Mais
tarde, a Bolsa de Valores Sociais foi adotada pelas Nações Unidas como estudo de caso
e recomendada como modelo a seguir pelas demais bolsas de valores, recebendo
também o aval mundial da Unesco (Grecco, 2010).

Em Portugal, poderão candidatar-se à BVS os projetos sociais levados a cabo por


organizações da sociedade civil portuguesa sem fins lucrativos. Os projetos serão
avaliados por uma equipa técnica (da BVS), sendo utilizados como critérios de
avaliação, entre outros, os objetivos do projeto, o seu caráter inovador, a sua
escalabilidade e replicabilidade, o impacto social esperado e a sua viabilidade técnica e
financeira.

A Bolsa de Valores Sociais conta, no final de 2013, com 30 projetos listados, dos quais
5 já reuniram a totalidade do financiamento necessário. Para além da apresentação dos
projetos a título individual, a BVS constituiu dois fundos de investimento temáticos, um
na área da educação e outro na área do empreendedorismo social. As verbas investidas
no fundo são periodicamente distribuídas para os projetos sociais cotadas no respetivo
fundo.

5.2 O modelo de investigação


A evidência empírica sugere a existência de um conjunto de fatores que desencadeia
num determinado indivíduo (o empreendedor social) a vontade de criar uma iniciativa

184
de empreendedorismo social. Uma vez comprometidos com a iniciativa, estes atores
criam condições para que possa ser agilizado um conjunto de comportamentos e de
processos organizacionais com vista à produção de um determinado desempenho- a
criação de valor social de um modo sustentado.

A revisão da literatura sobre os fatores que afetam o comportamento socialmente


empreendedor, tomou por referência o modelo de Naffziger et al. (1994), tendo sido
estruturada em torno de quatro dimensões: (i) envolvente externa à iniciativa; (ii) perfil
psicográfico e demográfico do empreendedor social; (iii) objetivos pessoais do
empreendedor social; e (iv) perceção de viabilidade da iniciativa.

Com esta investigação pretende-se conhecer e estudar os elementos que estimulam a


ação no indivíduo e que fazem com que todo o processo de empreendedorismo social se
despolete. Este enquadramento aconselha a que se adote uma abordagem cujo foco seja
o empreendedor social, em que os fatores externos e internos acabam por condicionar a
sua atuação. Ora, a análise da influência do ambiente externo sobre a formação das
intenções para o empreendedorismo social implica o contraste de diferentes contextos
empíricos e, até, a realização de um estudo longitudinal. Porém, a envolvente externa à
iniciativa está implícita no modelo de investigação pois contribui, em última instância,
para condicionar a perceção do indivíduo quanto à viabilidade da sua iniciativa. O
mesmo sucede com a estratégia, que é definida tendo em conta as variáveis do meio
envolvente que a influenciam.

Atendendo ao propósito principal da investigação e à necessidade de delimitar a sua


análise, o perfil e as motivações do empreendedor são o objeto principal da pesquisa.
Nessa medida, considerar-se-ão fatores promotores da iniciativa social o resultado da
interação de três dimensões principais: (i) o perfil do indivíduo; (ii) os seus objetivos
pessoais; e (iii) a perceção de viabilidade da iniciativa de empreendedorismo social.

Concretizada a iniciativa, importa analisar os comportamentos organizacionais


conducentes à produção do desempenho pretendido. Para o efeito, considerar-se-ão, e
em consonância com a recensão da literatura, as ações estratégicas e a gestão de
recursos (por alusão à RBT). Para compreender até que ponto estes comportamentos
contribuem para o sucesso das organizações socialmente empreendedoras, importa
conhecer o nível de desempenho alcançado, que tem como referência as dimensões
social e económica. A figura 5.2 sistematiza o modelo de investigação proposto.

185
Figura 5.2- Modelo de investigação

Fatores de promoção
da iniciativa

 Perfil do indivíduo
 Objetivos pessoais
 Perceção de viabilidade
da iniciativa
Ambiente

ORGANIZAÇÃO SOCIAL

Comportamento Desempenho
 Estratégia  Social
 Gestão de recursos  Económico

Fonte: Elaboração Própria

Tendo por base esta estrutura analítica, o trabalho empírico será desenvolvido em torno
de dois grandes eixos: (i) o estudo dos fatores que estimulam a promoção da iniciativa;
e (ii) a análise dos comportamentos conducentes ao sucesso das organizações
socialmente empreendedoras. Assim, o trabalho empírico pretende dar resposta às duas
questões de investigação principais:

(i) Quais os antecedentes da criação das iniciativas de empreendedorismo social em


Portugal?
(ii) De que forma os comportamentos de gestão dos responsáveis das organizações
sociais Portuguesas afetam o seu desempenho?

Para responder a estas questões de investigação, são propostas quatro hipóteses gerais
de investigação, deduzidas da revisão de literatura:

H1: Os fatores pessoais influenciam positivamente a decisão do indivíduo desencadear


uma iniciativa de empreendedorismo social em Portugal.

186
H2: Os fatores motivacionais influenciam positivamente a decisão do indivíduo
desencadear uma iniciativa de empreendedorismo social em Portugal.

Estas hipóteses pretendem responder à primeira questão de investigação, propondo-se


que a possibilidade de um indivíduo se envolver numa iniciativa socialmente
empreendedora em Portugal esteja positivamente relacionada com o seu perfil
(psicográfico e demográfico), pelos seus objetivos pessoais e pela perceção de que a
iniciativa social é viável;

H3: O nível de desempenho das organizações sociais Portuguesas é influenciado


positivamente pela existência de uma estratégia.

H4: O nível de desempenho das organizações sociais Portuguesas é influenciado


positivamente pela forma como os seus responsáveis gerem os recursos.

As duas hipóteses anteriores pretendem responder à segunda questão de investigação.


Na hipótese 3, propõe-se que o nível de desempenho das organizações sociais
Portuguesas possa ser afetado positivamente pela definição de uma estratégia que
oriente o seu percurso de médio/longo prazo no meio envolvente onde está inserida. Na
hipótese 4 propõe-se que o nível de desempenho das organizações sociais Portuguesas
seja afetado positivamente pelo modo como os seus responsáveis gerem os recursos.

A expectativa inicial do investigador é de que existe um conjunto de fatores capazes de


aumentar a propensão para a iniciativa social, levando a que determinados indivíduos
apresentem uma maior probabilidade de ser empreendedores sociais do que outros. Com
base na evidência empírica disponível poder-se-á conjeturar que o perfil (psicográfico e
demográfico) do indivíduo afete a sua predisposição para a manifestação de um
comportamento socialmente empreendedor, sucedendo o mesmo com as suas
motivações (objetivos pessoais e perceção de viabilidade da iniciativa). Nesse sentido,
pretende-se avaliar a influência dos traços de personalidade no lançamento da iniciativa
social, podendo-se aventar que serão os indivíduos com uma personalidade caraterizada
por um maior nível de abertura à experiência, extroversão, agradabilidade,
conscenciosidade e estabilidade emocional os mais vocacionados para o lançamento de
um projeto de empreendedorismo social. Pretende-se, ainda, analisar a influência das
características demográficas do indivíduo (idade, género, formação, percurso
profissional e experiências pessoais) sobre o processo de decisão conducente ao

187
desencadear das intenções socialmente empreendedoras. Procurar-se-á, igualmente,
avaliar em que medida a intencionalidade afeta a criação do projeto social, admitindo-se
que os objetivos individuais, sejam eles de caráter exclusivamente social ou não,
contribuem positivamente para a sua decisão. Presume-se que os objetivos de natureza
social são predominantes na decisão de envolvimento no empreendedorismo social,
muito embora possam coexistir outros propósitos secundários de caráter pessoal. Para
completar a análise das motivações, avaliar-se-á em que medida a perceção de
viabilidade da iniciativa condiciona o comportamento do empreendedor, conjeturando-
se que quanto maior forem as condições de exequibilidade e desejabilidade percebidas
pelo indivíduo, maior será a probabilidade de se tornar um empreendedor social.
Admite-se, ainda, que para a formação desta perceção de viabilidade contribua também
o modo como o indivíduo interpreta o ambiente externo que o rodeia.

Deste modo, com base no modelo de investigação proposto, pretendem-se confirmar ou


rejeitar as seguintes hipóteses secundárias, direcionais:

H1: Os fatores pessoais influenciam positivamente a decisão do indivíduo


desencadear uma iniciativa de empreendedorismo social em Portugal.

H1a) O perfil psicográfico do indivíduo influencia positivamente a sua decisão de


desencadear uma iniciativa de empreendedorismo social.

H1b) O perfil demográfico do indivíduo influencia positivamente a sua decisão de


desencadear uma iniciativa de empreendedorismo social.

H2: Os fatores motivacionais influenciam positivamente a decisão do indivíduo


desencadear uma iniciativa de empreendedorismo social em Portugal.

H2a) Os objetivos do indivíduo influenciam positivamente a sua decisão de desencadear


uma iniciativa de empreendedorismo social.

H2b) A perceção pelo indivíduo da viabilidade da sua iniciativa influencia


positivamente a decisão de se tornar um empreendedor social.

188
Ao nível dos comportamentos organizacionais, espera-se que a definição da estratégia
tenha uma influência positiva no desempenho das organizações sociais, em particular, a
definição de uma estratégia clara, que entre em consideração com a envolvente externa
da organização, e promova a sua implementação.

Com base no modelo de investigação proposto, são formuladas as seguintes hipóteses


secundárias, direcionais:

H3) O nível de desempenho das organizações sociais Portuguesas é influenciado


positivamente pela existência de uma estratégia.

H3a) O nível de desempenho de uma organização social é influenciado positivamente


pela existência de processos de formulação estratégica.

H3b) O nível de desempenho de uma organização social é influenciado positivamente


quando a análise do ambiente externo é integrada na formulação estratégica.

H3c) O nível de desempenho de uma organização social é influenciado positivamente


pela existência de processos de implementação da estratégia.

Do mesmo modo, se propõe que a forma como os recursos tangíveis (recursos humanos,
financeiros, físicos e tecnológicos) e intangíveis (imagem da organização, reputação,
qualidade do serviço prestado e capital social) são geridos exerça uma influência
positiva no desempenho organizacional.

Com base no modelo de investigação definido, são propostas as seguintes hipóteses


secundárias, direcionais:

189
H4) O nível de desempenho das organizações sociais Portuguesas é influenciado
positivamente pela forma como os seus responsáveis gerem os recursos.

H4a) O nível de desempenho das organizações sociais é influenciado positivamente pela


forma como os seus responsáveis gerem os recursos humanos.

H4b) O nível de desempenho das organizações sociais é influenciado positivamente


pela forma como os seus responsáveis gerem os recursos financeiros.

H4c) O nível de desempenho das organizações sociais é influenciado positivamente pela


forma como os seus responsáveis gerem os recursos físicos.

H4d) O nível de desempenho das organizações sociais é influenciado positivamente


pela forma como os seus responsáveis gerem os recursos tecnológicos.

H4e) O nível de desempenho das organizações sociais é influenciado positivamente pela


forma como os seus responsáveis gerem a imagem institucional.

H4f) O nível de desempenho das organizações sociais é influenciado positivamente pela


forma como os seus responsáveis gerem a reputação institucional.

H4g) O nível de desempenho das organizações sociais é influenciado positivamente


pela forma como os seus responsáveis gerem a qualidade do serviço prestado.

H4h) O nível de desempenho das organizações sociais é influenciado positivamente


pela forma como os seus responsáveis gerem o capital social.

A figura 5.3 resume o modelo de investigação e as hipóteses de investigação.

5.3 Justificação do interesse das questões de investigação


Em Portugal, são muitos os problemas sociais que exigem uma resposta (Ramos, 2004).
A atual situação económica e social coloca enormes desafios e traz consigo a
necessidade urgente de aplicação de novos modelos capazes de responder, de um modo
sustentável, aos problemas sociais pertinentes, para os quais a solução por parte das
instituições existentes é cada vez mais limitada.

190
Figura 5.3- Modelo e hipóteses de investigação

H1a
Perfil Psicográfico (+)
H1b
Perfil Demográfico (+)
H2a
H2b Objetivos Pessoais (+)
Perceção de viabilidade da iniciativa(+)

Fatores de promoção da iniciativa

ORGANIZAÇÃO SOCIAL

Comportamento Desempenho

 Estratégia
Formulação (+) H3a
Análise ambiental (+) H3b
H3c
Implementação(+)
 Gestão de Recursos
 Recursos Tangíveis
H4a
R. Humanos (+)
H4b
R. Financeiros (+)
H4c
R. Físicos (+)
H4d
R. Tecnológicos (+)
 Recursos Intangíveis H4e
(+)
Imagem da organização
H4f
Reputação (+)
H4g
Qualidade do serviço prestado (+) H4h
Capital Social (+)

Fonte: Elaboração própria

O empreendedorismo social tem sido reconhecido como um campo promissor,


designadamente, no que se refere aos problemas de emprego, exclusão social, ou
desenvolvimento económico e local sustentável (Borzaga & Galera, 2012; Lambru,
2012; Parente et al., 2012b; Quintão, 2004c). A Comissão Europeia desde cedo tem
assinalado o papel das organizações sociais no crescimento económico e inovação

191
social, defendendo que contribuem para a criação de uma sociedade mais coesa,
democrática e ativa. Por isso, o empreendedorismo social representa um elemento-chave
para se fazer face aos complexos desafios com que a sociedade portuguesa se depara. A
adoção de uma abordagem alternativa, na qual se combina uma vertente social e
económica (enquanto condição sine qua non para a sua sustentabilidade), traduz-se
numa resposta de maior potencial de sucesso.

Em Portugal, o empreendedorismo social é um campo emergente, no qual os estudos


empíricos são ainda escassos. Este projeto visa sistematizar, num único trabalho de
investigação, muitas das questões que a literatura tem levantado, procurando contribuir
para um melhor conhecimento deste campo de atividade, tão promissor, mas ainda tão
pouco conhecido. O (re)conhecimento de um conjunto de fatores capazes de influenciar
(positiva ou negativamente) a propensão para o empreendedorismo social representa um
enorme potencial para o aumento do nível de atividade socialmente empreendedora de
um país e, por consequência, para a capacidade de criação de valor para a sociedade. Ao
conhecer-se o conjunto de fatores que promovem o empreendedorismo social é possível
estimular e favorecer o surgimento de novas iniciativas. De facto, ao identificar estes
fatores, poder-se-á influenciar, por via indireta, a criação de novas iniciativas de
empreendedorismo social. Deste modo, mais do que conhecer ‘quem são os
empreendedores sociais’, importa conhecer como são desencadeadas as suas iniciativas
sociais, para que possam ser incentivadas, estabelecendo um contexto propício ao seu
desenvolvimento e aumentando o número de potenciais empreendedores sociais.

Se, por um lado, parece evidente a importância do aparecimento de um número


significativo de iniciativas de empreendedorismo social, por outro lado, estas apenas se
afigurarão como verdadeiramente úteis se forem capazes de produzir o valor social (e
económico) a que se propõem. Interessa, por isso, compreender os comportamentos
organizacionais que contribuem para o sucesso destas organizações, de modo a que,
através de uma gestão mais cuidadosa dos recursos, se contribua para uma maior criação
de valor social.

5.4 O desenho da investigação


Definido o modelo de pesquisa e formuladas as questões e hipóteses de investigação,
procede-se, agora, à explicação do trabalho empírico a desenvolver, pretendendo-se

192
testar as hipóteses de investigação nas organizações de empreendedorismo social. Estas
organizações são realidades sociais únicas e estáticas, pelo que se procurará abordar os
factos de uma forma objetiva e independente, evitando-se que a subjetividade interfira
no processo de obtenção de conhecimento (Saunders, Lewis & Thornhill et al., 2007).

A opção metodológica escolhida foi a investigação quantitativa, através do inquérito por


questionário. Os métodos de investigação quantitativos são entendidos como processos
sistemáticos de recolha de dados observáveis e quantificáveis, utilizados para confirmar
ou infirmar hipóteses e generalizar fenómenos e comportamentos. Esta opção
carateriza-se pela objetividade, predição, controlo e generalização, sendo, por isso,
particularmente adequada para testar os pressupostos de uma teoria existente
(Eisenhardt, 1989). Permite, também, a realização de comparações sistémicas e, como
tal, facilitam o processo de comparação de resultados e a extrapolação estatística
(Vissak, 2010). Acresce que alguns investigadores reivindicam que o
empreendedorismo social, enquanto campo de investigação em forte crescimento,
necessita da produção de mais estudos quantitativos, que são ainda considerados
escassos (Hoogendoorn et al., 2010; Short et al., 2009).

A investigação quantitativa a realizar foi sustentada em dados primários, recolhidos


durante o processo de investigação através de um inquérito por questionário. Como
sugerido por Sousa e Baptista (2011, p. 90) “a utilização do inquérito num projeto de
investigação justifica-se sempre que há necessidade de obter informação a respeito de
uma grande variedade de comportamentos, para compreender fenómenos como atitudes,
opiniões, preferências e representações, para obter dados de alcance geral sobre
fenómenos que se produzem num dado momento ou numa dada sociedade com toda a
sua complexidade”. O recurso ao questionário permite, igualmente, uma maior
sistematização da informação (Carmo & Ferreira, 2008). O questionário a usar inclui
sobretudo perguntas de resposta fechada. Esta opção justifica-se por serem mais
objetivas as perguntas, possibilitando a comparação entre casos, e requererem um
menor esforço por parte dos sujeitos aos quais são aplicados (Sousa & Baptista, 2011).
Todavia, este tipo de questionários não permite a recolha de dados com grande detalhe
de informação (ibidem).

Como unidade de análise foram considerados os empreendedores responsáveis pela


iniciativa social e pela criação da organização que existia à data do inquérito. O objetivo

193
foi o de compreender, num primeiro momento, os antecedentes (perfil, objetivos e
perceções) que desencadearam o processo de empreendedorismo social, depois a forma
como é definida a estratégia e são geridos os recursos (tangíveis e intangíveis) da
organização e, finalmente, qual o seu impacto na sociedade, medido pelo desempenho
organizacional.

O questionário foi administrado a indivíduos que estiveram na origem da iniciativa de


empreendedorismo social e/ou por alguém que na atualidade desempenha funções de
direção. Esta opção metodológica é consonante com a abordagem objetivista e
positivista que orienta a investigação.

O questionário manteve o anonimato do inquirido, no intuito de incentivar a


honestidade e evitar distorções nas respostas para causarem boa impressão (Vissak,
2010). O questionário foi administrado on-line através da plataforma Lime Survey.
Segundo Wu, Kuo e Shen (2013), os questionários efetuados via internet apresentam
como principais vantagens a eficiência, a rapidez e o baixo custo. Os autores destacam,
ainda, a minimização do erro humano e a possibilidade de poderem responder
inquiridos situados em diferentes localizações geográficas.

No tratamento e análise dos dados, dado o pendor quantitativo da investigação, foram


aplicadas diversas técnicas estatísticas. Num primeiro momento utilizaram-se técnicas
de análise descritiva (tais como contagem de frequências, medidas de tendência central
ou medidas de dispersão ou variabilidade), para caracterização e descrição dos dados
observados. Num segundo momento procedeu-se ao teste da verificação das hipóteses
de investigação, por recurso a testes de inferência estatística, nomeadamente, testes para
comparação de médias e análise de variância multivariada dos dados, complementada
pelo teste de Kruskal-Wallis.

Quando se verificaram os pressupostos para a realização de testes paramétricos,


privilegiou-se a sua utilização, por serem mais robustos do que os testes não
paramétricos. Com o intuito de agilizar o processo de análise de dados empregaram-se,
sempre que se afiguraram pertinentes, técnicas de redução de dados, por recurso à
análise fatorial por componentes principais. No tratamento dos dados primários foi
aplicada a versão 20 do software estatístico SPSS (Statistical Package for the Social
Science).

194
As opções metodológicas estruturantes do projeto de investigação sintetizam-se no
quadro 5.1.

Quadro 5.1- Síntese das opções metodológicas

Ontologia: Objetivismo

Paradigma: Positivista

Abordagem: Dedutiva

Metodologia: Quantitativa

Unidades de análise: Organizações de empreendedorismo social

Estratégia de investigação: Inquérito

Técnica de recolha de dados: Questionário

Origem dos dados: Primária

Horizonte temporal: Seccional (Cross-sectional)

Análise de dados: Técnicas de estatística descritiva e inferencial;


Técnicas de redução de dados;

Testes paramétricos e não paramétricos;

Fonte: Elaboração própria

5.4.1 A construção do questionário


Após a definição do modelo e método de investigação, procedeu-se à construção do
instrumento de notação, definindo-se a estrutura do questionário com base nas variáveis
a estudar. O questionário, que se encontra em anexo (anexo 2), é constituído por três
partes. Uma primeira é de caracterização geral da organização. A segunda parte incide
sobre o empreendedor social, e integra questões relativas aos fatores de promoção da
iniciativa social, procurando responder às hipóteses de investigação 1 e 2. Esta segunda
parte é composta por 4 grupos: um relativo à caracterização geral do respondente e da
sua posição na iniciativa; outro questiona sobre as experiências anteriores à iniciativa

195
social; segue-se um grupo que aborda as motivações pessoais que antecedem a decisão
de envolvimento na iniciativa social; e, finalmente, questões relativas às atitudes
pessoais.

A terceira e última parte do questionário inclui questões sobre a organização social,


abordando, num primeiro grupo, as ações estratégicas desenvolvidas, depois a gestão de
recursos e, a encerrar o questionário, um grupo relativo ao desempenho da organização.
Esta terceira parte tem como propósito recolher os dados necessários ao teste das
hipóteses 3 e 4.

A distribuição das questões pelo inquérito procura reproduzir a ordem das hipóteses de
investigação, introduzindo-se apenas pequenas alterações (na segunda parte),
justificando-se pelo facto de, na ótica do respondente, ser mais lógico esse
encadeamento.

Tanto quanto a recensão de literatura permitiu apurar, nenhum estudo empírico abordou
até agora todas as dimensões que o modelo se propõe avaliar. Este estudo pretende
agregar, numa abordagem multidisciplinar, algumas dimensões que têm sido estudadas
na literatura de uma forma isolada. Porém, a construção do inquérito baseou-se nas
métricas utilizadas por alguns dos mais importantes estudos empíricos realizados,
designadamente, Nga e Shamuganathan (2010), National Survey of the Third Sector
(2008), Light (2008), Lehner (2011), Kickul et al. (2010), Ewing e Napoli (2005),
Fornoni, Arribas e Vila (2012), F. Pereira (2001). Para além destes estudos, recorreu-se
ao questionário usado no projeto de investigação EmpSoc - “Empreendedorismo Social
em Portugal: as políticas, as organizações e as práticas de educação/formação”
(http://web3.letras.up.pt/empsoc/index.php/produtos/category/16-inquerito-modelo-
aplicado), bem como o questionário do GEM Adult Population Survey (2009), que
abordou o empreendedorismo social.

O questionário beneficiou, por isso, de algumas adaptações e ajustamentos,


considerados necessários face ao objetivo e contexto geográfico do estudo.
Adicionalmente, alguns itens foram completados por elementos que emergiram da
revisão de literatura.

Assim, na parte relativa à caraterização da organização foi questionada a idade,


partindo-se da escala utilizada por Kickul et al. (2010). No entanto, tendo em conta a

196
natureza da investigação e as suas necessidades, procedeu-se a um agrupamento em 3
classes das 7 propostas por Kickul et al. (2010). O intervalo da escala está
compreendido entre 1 e 3 anos; entre 3 e 10 anos, e maior do que 10 anos. Como para
que seja reconhecido o estatuto legal de utilidade pública, estas organizações precisam
de ter mais do que um ano, a escala usada capta as organizações que se encontram há
pouco tempo no mercado, as que já operam há alguns anos e aquelas que estão em
funcionamento há um razoável período de tempo.

De seguida, foi questionado o tipo de organização (baseado em Lehner, 2011), o âmbito


de atuação (baseado no questionário do EmpSoc), o público-alvo da organização
(baseado no National Survey of Third Sector Organizations, 2008), e a forma como a
atividade se interrelaciona (de uma forma complementar ou concorrencial) com os
serviços prestados pelos mercados ou pelo Estado (adaptado de Lehner, 2011).

Na segunda parte do questionário, para caraterização do inquirido é questionado o


género, a idade, o nível de escolaridade, a área de formação, a função desempenhada e a
situação ocupacional na organização. De seguida questionou-se qual a situação
ocupacional do indivíduo antes de este ingressar na organização e, no caso de este se
encontrar empregado, qual o setor da sua proveniência (setor empresarial, setor público
ou setor sem fins lucrativos). Todas estas questões foram construídas enquanto
respostas fechadas, para facilitar a resposta por parte do inquirido e para que a
informação pudesse ser trabalhada do ponto de vista estatístico. As únicas exceções
foram os campos da localização geográfica e da área de formação. Esta opção deveu-se
à dificuldade em sintetizar em classes as áreas de formação existentes, até porque estas
dependem do nível de ensino, e do facto de se obter mais informação sobre a
localização da organização se este campo se mantivesse em aberto.

O grupo de questões relativo às experiências anteriores do indivíduo, que visava


conhecer alguns aspetos pessoais e familiares do indivíduo antes de este constituir a
organização, foram construídas com base na recensão da literatura. Nestas questões as
respostas são dicotómicas (sim ou não), sendo classificadas para fins de tratamento dos
dados como variáveis dummy. No grupo seguinte questionou-se, através de uma escala
gráfica de 5 pontos (em que 1 corresponde a um fator com pouca importância e 5 a um
fator com muita importância), o peso de diferentes motivações na decisão de
envolvimento na iniciativa. Este grupo foi elaborado a partir dos contributos de Light

197
(2008), F. Pereira (2001) e Zwan et al. (2010), introduzindo-se as adaptações
consideradas necessárias e incluindo-se alguns conceitos de acordo com a literatura. No
grupo seguinte, que procurava avaliar as atitudes e a personalidade do indivíduo,
adotou-se a escala de Likert de 5 pontos (em que 1 corresponde à situação em que o
indivíduo discorda totalmente e 5 à de que concorda totalmente) empregue por Nga e
Shamuganathan (2010), que estudou a influência dos traços de personalidade nas
intenções de constituição de iniciativas de empreendedorismo social.

A avaliação dos fatores que influenciaram a decisão de constituição da iniciativa (parte


dois do questionário) pretendia incidir apenas sobre os indivíduos que estiveram
envolvidos na fundação ou promoção da mesma, assegurando-se a não resposta dos
restantes através de questões de filtro. O mesmo sucedeu em relação às questões
relativas às atividades da organização (terceira parte do questionário) que se pretendia
serem respondidas apenas por membro envolvidos na sua gestão.

Dentro desta terceira e última parte do questionário, um primeiro grupo, agregou


questões que visavam avaliar o nível de importância que uma série de ações estratégicas
assumia para a organização. As questões basearam-se em Light (2008), sendo
introduzidas algumas adaptações e incluídas algumas questões adicionais, justificadas
com base na revisão bibliográfica. Em conformidade com o grupo anterior, foi adotada
uma escala gráfica de 5 pontos, em que 1 correspondia a pouco importante e 5 a muito
importante.

O grupo seguinte, relativo à gestão de recursos, pretendeu avaliar a importância


atribuída pela gestão à posse, uso e afetação de um conjunto de recursos e capacidades
organizacionais. Estas secções foram construídas com base nos estudos de Light (2008),
National Survey of Third Setor (2008) e Ewing e Napoli (2005). Todas estas questões
são de resposta fechada, e foram adaptadas de modo a que, dentro do mesmo grupo de
questões, fosse aplicada a mesma escala de medida (uma escala gráfica de 5 pontos, em
que 1 correspondia a pouco importante e 5 a muito importante). O capital social foi
analisado num bloco de questões autónomo onde, com base em Fornoni et al. (2012), se
questionou a opinião do inquirido em relação à importância atribuída aos
relacionamentos externos. A escala tem 5 pontos, em que 1 corresponde à situação em
que o indivíduo discorda totalmente e 5 concorda totalmente. Foi ainda questionada a
importância que as receitas próprias assumem para a organização, tendo a escala usada

198
sido construída com base em Lehner (2011), e as principais fontes de receitas a que a
organização recorre, através de uma listagem construída com base na revisão de
literatura.

A encerrar o questionário, um último grupo referente ao desempenho organizacional,


contempla métricas sobre o desempenho económico e social, incluindo questões
relativamente à dimensão da organização, número de colaboradores, voluntários,
beneficiários e volumes anuais movimentados. Estas questões foram concebidas como
respostas abertas, sendo solicitado ao respondente um valor aproximado. O caráter
exploratório das questões deve-se ao facto de, tendo em conta a possível
heterogeneidade das organizações a inquirir, a inexistência de um questionário
administrado em território nacional, e um desconhecimento da possível distribuição de
resultados, ser difícil a escolha dos intervalos de resposta. Como tal, pelo facto de se
deixar uma resposta aberta, confere-se flexibilidade para a recolha e tratamento de
dados. A utilização do termo ‘aproximado’ procurava evitar que os respondentes
tivessem que despender muito tempo na recolha da informação e, como tal, pudessem
ser desencorajados na resposta.

Neste último grupo foi ainda questionada a possibilidade da geração de excedentes e, de


seguida, foi avaliada a capacidade de prossecução dos objetivos pela organização, o seu
crescimento e o aumento da sua sustentabilidade económica. Esta secção foi construída
com base nas escalas utilizadas por Light (2008) e o National Survey of Third Setor
Organizations (2008), efetuando-se os ajustamentos necessários. Para finalizar e com
base na revisão de literatura, foi questionada a importância da adoção de programas de
medição de resultados.

Como se verifica, as perguntas são, na sua generalidade, fechadas. A utilização deste


tipo de questões é particularmente relevante pelo facto de se pretender obter informação
quantitativa, permitindo uma maior facilidade no tratamento dos dados.
Adicionalmente, segundo M. Hill e A. Hill (2000), o facto de as respostas serem
fechadas tornam o questionário mais simples e rápido para o respondente, o que poderá
promover a sua colaboração na resposta ao questionário. O principal inconveniente
associado à adoção deste tipo de respostas, prende-se, segundo os mesmos autores, com
a incapacidade de se obter informação detalhada e em profundidade, que eventualmente
poderia emergir através da utilização de respostas abertas.

199
Em relação aos objetivos gerais das perguntas formuladas no questionário (e à
informação que estas solicitam), algumas questões visavam obter informações sobre
factos (como por exemplo, o número de colaboradores, o número de voluntários, o
âmbito de atuação da organização, o seu público-alvo); outras referiam-se a atitudes,
procurando avaliar em que medida é que o respondente concorda ou discorda de
determinados itens (por exemplo, na avaliação dos traços de personalidade); e outras
diziam respeito a comportamentos, aferindo o grau de importância atribuído, por
exemplo a determinadas ações estratégicas ou objetivos subjacentes à criação da
iniciativa.

Para a medição das atitudes e comportamentos foram utilizadas escalas bipolares, de


cinco pontos, onde existe um polo positivo (importância muito elevada ou concordo
totalmente), um polo negativo (importância muito baixa ou discordo totalmente), e um
polo neutro (importância nula ou nem concordo, nem discordo). Hill e Hill (2000)
sublinham o interesse em se incorporar pontos neutros, de modo a não ‘forçar’ o
respondente a dar uma resposta direcional (positiva ou negativa) e a enviesar os
resultados obtidos.

Após a finalização da versão preliminar do questionário, para aumentar a sua qualidade,


este foi sujeito a um estudo piloto, através da opinião de especialistas. Pretendia-se que
estes se pronunciassem sobre a estrutura, conteúdo e duração do mesmo. Procurava-se,
ainda, aferir se o questionário suscitava dúvidas de interpretação e solicitar eventuais
comentários.

5.4.2 A seleção da amostra


Tendo em conta a dificuldade e a impossibilidade de se identificarem todas as
iniciativas de empreendedorismo social em Portugal, recorreu-se a uma amostra que
fosse caraterizadora dessa realidade.

O terceiro setor em Portugal tem sido entendido como um adequado interface para o
desenvolvimento de iniciativas de empreendedorismo social (Parente et al., 2012a;
Quintão, 2011). De facto, estudos empíricos portugueses têm adotado o conceito geral
de terceiro setor, enquanto referencial para o estudo do empreendedorismo social 15. No

15
E.g. o projeto de investigação “Empreendedorismo Social em Portugal: as políticas, a organização e as práticas educativas”.

200
entanto, o terceiro setor é, em Portugal, um setor bastante heterógeno e difuso, que
compreende vários formatos e estatutos jurídicos.

Franco et al. (2005), no estudo levado a cabo sobre as organizações sem fins lucrativos,
sugerem que o terceiro setor em Portugal se carateriza por uma dependência do
financiamento público, um forte peso de entidades religiosas e entidades de bem-estar, a
necessidade de formação e profissionalização do setor, ou a falta de uma sociedade civil
dinâmica. Daqui se depreende que nem todos os sub-segmentos da economia social se
enquadram no espírito do empreendedorismo social, operacionalizado através dos
conceitos propostos no primeiro capítulo e na delimitação, no segundo capítulo, do seu
campo de atividade.

Como na investigação se pretende analisar as organizações dentro do terceiro setor que


se enquadrem dentro do espírito do empreendedorismo social, a seleção individual de
organizações seria um processo extremamente complexo, na medida em que implicaria
avaliar, previamente, o seu nível de ‘orientação empreendedora’ para aferir se poderia,
ou não fazer parte da amostra. Deste modo, optou-se pela seleção de um ramo que, no
nosso entender, fosse próximo do espírito do empreendedorismo social. Dentro do
terceiro setor, para além da forma jurídica existe o estatuto legal, que confere às
organizações a designação de pessoas coletivas de utilidade pública. Tendo em conta o
reconhecimento da sua utilidade pública por parte dos órgãos nacionais competentes, e
tendo em conta a facilidade proporcionada pelo facto de existir um registo da detenção
de tal estatuto, foi possível o acesso à listagem de todas as IPSS ou ONGD existentes
em Portugal. O estatuto de ONGD foi aquele que pareceu mais próximo de incorporar o
entendimento que se tem do conceito de empreendedorismo social. Adicionalmente,
muito embora o seu surgimento recente, pareceu-nos relevante considerar na amostra os
projetos que se encontram admitidos à cotação na Bolsa de Valores Sociais. Dado o
caráter inovador do projeto da BVS e o facto de agregar numa plataforma iniciativas
que foram classificadas dentro do âmbito do empreendedorismo social, afigurou-se
pertinente recorrer a estas organizações para o estudo empírico do empreendedorismo
social em Portugal.

Deste modo, optou-se pela utilização de uma amostragem não probabilística, racional
ou por tipicidade, em que a amostra integra o caráter típico que as organizações
apresentam. O trabalho empírico foi desagregado em duas amostras distintas: por um

201
lado, as organizações socialmente empreendedoras (cuja amostra será composta por
organizações com o estatuto de ONGD) e, por outro, projetos de empreendedorismo
social (cotados na Bolsa de Valores Sociais). A consideração destes dois grupos
amostrais (ONGD e projetos cotados na BVS) permitiu ainda a triangulação das fontes
de dados (Carmo & Ferreira, 2008).

Os dados foram recolhidos de uma forma individual, através da criação de uma réplica
do questionário no software Lime Survey, de modo a que os dados fossem armazenados
de uma forma distinta e pudesse ser realizada uma análise comparativa entre estes dois
subsegmentos, ONGD e BVS.

5.4.3 Recolha de dados


Após ter sido definida a amostra a utilizar no estudo empírico, procedeu-se à consulta
das organizações que pertenciam a cada categoria em análise. O site do Instituto
Português de Apoio ao Desenvolvimento, disponibiliza uma listagem de todas as
organizações que têm o estatuto de ONGD. Em 14 de novembro de 2011 encontravam-
se registadas 151 organizações.

Para que se possa compreender, de uma forma independente, quais os fatores que
verdadeiramente levam a sociedade civil a desenvolver iniciativas de
empreendedorismo social, excluiu-se da amostra as organizações com ligações
religiosas, políticas ou partidárias, ou detidas por outras organizações de caráter
empresarial. Esta seleção foi realizada com base na informação recolhida nos sites
institucionais, blogues das organizações, e demais fontes disponíveis na internet. De
seguida, contactou-se telefonicamente as organizações, de forma a aferir se estas se
encontravam ativas, e se o seu fundador ainda se encontrava presente na organização e
envolvido na sua gestão. O contacto telefónico permitiu, ainda, apresentar o projeto de
investigação, confirmar os contactos de email e sensibilizar as organizações para
resposta ao email que seria enviado num momento posterior. Não foi possível contactar
telefonicamente algumas organizações. Apesar de se encontrar disponível o contacto de
email preferiu-se utilizar esta forma de contacto apenas para envio do questionário, de
modo a não saturar as organizações com comunicações escritas. Após esta triagem
inicial, remanesceram 99 ONGD (3 das quais dispõem de projetos cotados na BVS).

202
O site da Bolsa de Valores Sociais disponibiliza uma listagem com os projetos que se
encontram admitidos à cotação na BVS, incluindo uma breve descrição de cada um
deles. A 14 de setembro de 2012 encontravam-se cotados 29 projetos. Após aquela data,
foi estabelecido contacto telefónico com cada um dos projetos, com o intuito de se
apresentar o projeto de investigação e de confirmar o contacto de correio eletrónico para
o qual seria enviado o pedido para resposta ao inquérito. Com este procedimento
pretendia-se, uma vez mais, melhorar a recetividade por parte das organizações e, como
tal, melhorar a taxa de resposta. A listagem das organizações a quem foi enviado o
questionário pode ser consultada no anexo 3.

No final de cada chamada telefónica foi enviado, de imediato, um email através da


plataforma Lime Survey com a apresentação do estudo, a descrição dos objetivos de
investigação, solicitando a colaboração por parte da organização. O email continha o
link a que cada uma das organização poderia aceder para responder ao questionário.
Para agilizar o processo de recolha de dados, foi referida uma data até à qual se gostaria
de obter as respostas. Após a resposta, por parte de cada uma das unidades amostrais, o
sistema gerou um email com agradecimento à participação no inquérito. No email com
o pedido de colaboração foi cedido o contacto telefónico a utilizar caso os respondentes
tivessem alguma questão, pretendendo-se também sinalizar o compromisso por parte do
investigador em fornecer os resultados do estudo.

Findo o prazo sugerido para a resposta, foi feita uma primeira insistência junto das
organizações que não haviam respondido, através do sistema token da plataforma do
questionário on-line. Posteriormente, foi feita uma segunda insistência, através do
telefone, seguida de email personalizado com o endereço de acesso ao questionário. Nos
casos em que não foi possível estabelecer a chamada telefónica, foi apenas enviado o
email com o pedido de resposta.

Em relação à amostra que integra as ONGD, a segunda insistência foi efetuada, na sua
maioria via email, decorrente do facto de ser difícil contactar por via telefónica muitas
dessas organizações. Adicionalmente, o contacto disponível para a maioria dessas
organizações remetia para o secretariado, pelo que se considerou ser mais eficiente
agilizar o contacto via email. Para as organizações que não havia sido possível contactar
por via telefónica e que dispunham de uma presença ativa nas redes sociais, foi enviada
uma mensagem privada através do facebook a solicitar a sua colaboração.

203
No momento da realização da segunda insistência relativa aos projetos cotados na BVS,
encontravam-se igualmente admitidos à cotação 29 projetos. No entanto 2 deles, que
não haviam respondido ao questionário, haviam sido substituídos por 2 novos projetos.
Assim, seguindo os mesmos procedimentos, entrou-se em contacto com os projetos
recentemente admitidos à BVS. A calendarização dos processos de recolha de dados
encontra-se sistematizada na figura 5.4 e 5.5.

A administração do questionário através da internet revelou-se particularmente útil,


atendendo à dispersão geográfica da amostra, permitindo a recolha de dados de uma
forma relativamente rápida e facilitando a insistência na resposta.

Figura 5.4- Calendarização da recolha de dados junto dos projetos da BVS (2012)

5
Número de respostas obtidas
4

0
22-Set
19-Set
20-Set
21-Set

23-Set
24-Set

13-Nov
14-Nov
15-Nov
16-Nov

20-Nov

3-Dez
(…)

(…)

(…)
11-Out
15-Out
16-Out
(…)
22-Out
(…)

(…)
1-Out
2-Out

9-Out

(….)

Deadline
para envio
de respostas

Contacto telefónico +
envio do questionário 2.ª Insistência
1.ª Insistência

Fonte: Elaboração própria

204
Figura 5.5- Calendarização da recolha de dados junto das ONGD (2012/2013)

7
Número de respostas obtidas
6

13-Dez
14-Dez
11-Nov

16-Nov

20-Nov
2-Nov
22-Out
23-Out
24-Out
25-Out
26-Out
27-Out
28-Out
29-Out
30-Out
31-Out
1-Nov

3-Nov
4-Nov
5-Nov
6-Nov
7-Nov
(…)

(…)

(…)

(…)
6-Dez
(…)

2-Jan
´(…)
Contacto telefónico +
envio do questionário
Deadline
para envio
de respostas 1.ª Insistência 2.ª Insistência
Fonte: Elaboração própria

No final do processo de recolha de dados foram coligidas 68 respostas, 24 de projetos


cotados na BVS e 44 de ONGD. A taxa de resposta total junto dos projetos cotados na
BVS foi de 82,8% e de 44,9%16 nas ONGD, como consta do quadro 5.2.

Dentro do grupo das ONGD, apesar das diligências efetuadas, houve um conjunto de
organizações que não foi de todo possível contactar. Alguns dos contactos telefónicos
disponíveis já se encontravam desativados, outros em diferentes momentos do tempo e
diferentes horários não foram respondidos. Alguns emails, suportados no contacto
disponível online, foram devolvidos. Assim, tal como sugerido por Saunders et al.
(2007), procedeu-se ao cálculo da taxa de resposta ativa, descontando o número de
organizações inacessíveis, das quais não existe qualquer evidência de que se encontrem
ativas17. Em qualquer dos casos, a taxa de resposta dos projetos cotados na BVS é
bastante superior à obtida junto das ONGD.

16
Taxa de Resposta Total= Número total de respostas/ Número de casos considerados elegíveis na amostra (Saunders, 2007).
17
Taxa de Resposta Ativa= Núm. total de respostas/ (Núm. de casos considerados elegíveis– Núm. de casos inacessíveis)
(Saunders, 2007).

205
Quadro 5.2- Taxa de resposta por grupo amostral

Projetos cotados na BVS ONGD

Taxa de resposta total 24/29= 82,8% 44/98= 44,9%

Taxa de resposta ativa 24/29= 82,8% 44/98-13= 51,8%

Fonte: Elaboração própria

5.5 Síntese
Este capítulo, que inicia a parte empírica da investigação, constrói, com base na revisão
de literatura, um modelo de investigação que tem por objetivo conhecer os fatores
propulsores para a criação de uma iniciativa de empreendedorismo social e as ações
organizacionais capazes de influenciar o sucesso das mesmas. A investigação toma
como contexto empírico o empreendedorismo social em Portugal. Assim, após uma
breve descrição do terceiro setor em Portugal (reconhecido como adequado para o
desenvolvimento do empreendedorismo social), procurou-se, dentro deste setor, as
tipologias jurídicas que se enquadram no espírito do empreendedorismo social,
operacionalizado nos dois primeiros capítulos da dissertação. Decidiu-se, desse modo,
recorrer a uma amostra por tipicidade, inquirindo-se ONGD, organizações dentro do
terceiro setor a quem é reconhecido o estatuto de utilidade pública, e projetos cotados na
BVS, a quem a comissão técnica da BVS atestou a qualificação no âmbito do
empreendedorismo social.

A filosofia de investigação (objetivista e positivista) orientou a escolha dos métodos e


técnicas de pesquisa mais adequados, optando-se pelo método quantitativo. A recolha
de dados junto das organizações de empreendedorismo social (ONGD e BVS) fez-se
por via de um inquérito por questionário, que será objeto de tratamento estatístico para
teste das hipóteses de investigação. Os resultados obtidos serão apresentados no
próximo capítulo.

206
CAPÍTULO 6

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS


6. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS

No capítulo anterior esboçou-se o modelo de investigação e definiu-se a metodologia de


pesquisa. Terminado o processo de recolha de dados, procede-se, de seguida, à
apresentação e análise dos dados, de modo a responder às questões de investigação.

Para dar conta desse propósito, a análise dos resultados inicia-se com uma breve
descrição das iniciativas de empreendedorismo social. Segue-se a apresentação das
características psicográficas e demográficas do empreendedor social, dos seus objetivos
pessoais e das suas perceções quanto à viabilidade da iniciativa, com o intuito de
conhecer quais os antecedentes da criação das iniciativas de empreendedorismo social
em Portugal. Na secção seguinte abordam-se os comportamentos desenvolvidos dentro
da organização social pelos seus responsáveis, examinando-se o modo como definem a
estratégia e como gerem os recursos (tangíveis e intangíveis). Segue-se a análise do
desempenho alcançado pelas organizações, encerrando-se o capítulo, com a análise da
relação entre os diferentes tipos de comportamentos organizacionais e o desempenho
obtido, para se compreender em que medida esses comportamentos contribuem para um
maior nível de desempenho organizacional. Como houve oportunidade de referir no
capítulo anterior, a exploração dos dados foi numa primeira fase descritiva, recorrendo-
se posteriormente a técnicas de inferência estatística para testar as hipóteses de
investigação. No decurso do processo de análise estatística, para sintetizar e
compreender melhor a estrutura dos dados, procedeu-se à análise fatorial (componentes
principais).

O tratamento estatístico dos dados foi obtido por recurso ao programa SPSS versão 20,
Os quadros que se apresentam ao longo do capítulo procuram sintetizar os principais
resultados obtidos. Resultados complementares podem ser consultados com maior
detalhe nos anexos estatísticos (anexo 4).

6.1 Caracterização geral do objeto de estudo


O processo de recolha de dados conduziu à obtenção de 68 respostas, 24 (35.3%)
provenientes de projetos cotados na BVS e as restantes 44 (64.7%) de ONGD. Com esta
secção procura-se descrever as características gerais das iniciativas de

209
empreendedorismo social. Em termos de antiguidade, como o quadro 6.1 mostra, quase
metade das organizações em análise (45.6%) tem uma idade superior a 10 anos e apenas
5 têm uma idade inferior a 3 anos. A baixa expressividade das organizações recentes
pode ser explicada pelo método de amostragem usado, em particular, pelo tempo
necessário para que as iniciativas adquiram o estatuto de ONGD ou para que efetuem as
diligências necessárias para aderirem à BVS.

No que respeita à localização geográfica, a partir do inquérito efetuado foi possível


classificar as respostas de acordo com a Nomenclatura Comum das Unidades
Territoriais Estatísticas II (NUTS II). Constata-se que as organizações se encontram
distribuídas pelas várias regiões do território nacional, muito embora com uma
concentração na zona da grande Lisboa (52.9%), seguindo-se as zonas do Norte e
Centro (cada uma com 14.7%), e Alentejo (7.4%). As regiões do Algarve e Ilhas apenas
acolheram uma iniciativa. Algumas organizações (5) relatam estar presentes, em
simultâneo, em várias localizações geográficas, algumas das quais indicando a sua
presença internacional.

Relativamente ao âmbito de atuação, metade das organizações (54.4%) afirma operar a


nível internacional e quase um quarto a nível nacional (23.5%). As restantes
organizações indicam atuar regionalmente (10.3%) ou localmente (11.8%). Para esta
situação contribui a atuação marcadamente internacional das ONGD (77,3%), enquanto
os projetos cotados na BVS denotam uma ação essencialmente nacional (41,7%) ou
local (29,2%).

Inquiridas quanto ao(s) público(s) que procuram servir, verifica-se que as organizações
em análise abarcam quase todas as áreas sociais definidas no questionário. Como o
quadro 6.1 indica, o segmento mais citado é o trabalho com pessoas socialmente
excluídas (44.1%), seguindo-se o das pessoas com carências financeiras (32.4%) e o
trabalho com outras organizações ou associações (30.9%).
Com menor expressão surgem as organizações que dedicam a sua atividade a pessoas
idosas (23.5%), minorias étnicas (19.1%), ou pessoas com deficiências físicas ou
necessidades especiais (16.2%). Não se assinalam discrepâncias relevantes entre o tipo
de organização (BVS e ONGD) e o público-alvo abordado.

210
Quadro 6.1- Caracterização das organizações sociais

Total ONGD BVS


Características
N (68) % N (44) % N (24) %
Idade
1-3 anos 5 7,4% 3 6,8% 2 8,3%
3-10 anos 32 47,1% 25 56,8% 7 29,2%
>10 anos 31 45,6% 16 36,4% 15 62,5%
Localização Geográfica
Norte 10 14,7% 8 18,2% 2 8,3%
Centro 10 14,7% 8 18,2% 2 8,3%
Lisboa 36 52,9% 22 50,0% 14 58,3%
Alentejo 5 7,4% 2 4,5% 3 12,5%
Algarve 1 1,5% 1 2,3% 0 0,0%
Ilhas 1 1,5% 0 0,0% 1 4,2%
Varias 5 7,4% 3 6,8% 2 8,3%
Âmbito de atuação
Local 8 11,8% 1 2,3% 7 29,2%
Regional 7 10,3% 3 6,8% 4 16,7%
Nacional 16 23,5% 6 13,6% 10 41,7%
Internacional 37 54,4% 34 77,3% 3 12,5%
Público-Alvo
Pessoas idosas 16 23,5% 11 25,0% 5 20,8%
Pessoas com deficiência física e/ou 11 16,2% 4 9,1% 7 29,2%
necessidades especiais
Minorias étnicas 13 19,1% 9 20,5% 4 16,7%
Pessoas com carências financeiras 22 32,4% 17 38,6% 5 20,8%
Refugiados 6 8,8% 6 13,6% 0 0,0%
Pessoas com problemas de dependências 4 5,9% 2 4,5% 2 8,3%
Pessoas socialmente excluídas/vulneráveis 30 44,1% 21 47,7% 9 37,5%
Animais 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0%
Organizações e associações locais 21 30,9% 17 38,6% 4 16,7%
Outros 33 48,5% 22 50,0% 11 45,8%
Finalidade
A atividade complementa os serviços 21 30.9% 11 25.0% 10 41.7%
oferecidos nos mercados
A atividade complementa os serviços 33 48.5% 21 47.7% 12 50.0%
oferecidos pelo Estado
A atividade concorre com outros 7 10.3% 4 9.1% 3 12.5%
fornecedores
A atividade concorre com o Estado 2 2.9% 2 4.5% 0 0.0%
A atividade não é disponibilizada nem pelo 22 32.4% 16 36.4% 6 25.0%
Estado nem pela iniciativa privada

Fonte: Elaboração própria

A rúbrica ‘outros’ foi reportada por um número significativo de organizações, onde se


destaca o trabalho com crianças e/ou jovens (12 organizações) ou com toda a população
(5). As organizações condensam a sua atividade num número restrito de questões

211
sociais, onde quase metade delas (45.6%) opera exclusivamente numa das categorias
inquiridas e apenas um quarto atua em mais do que três (anexo 4.1).
No que se refere à finalidade das atividades, anota-se que apenas um terço das
organizações (32.4%) atua em esferas que não são servidas nem pelo Estado nem pelo
setor empresarial. A grande maioria (79.4%) prossegue atividade em áreas em que
existe já alguma intervenção, complementando os serviços oferecidos pelo Estado
(48.5%) ou por outras organizações (30.9%), e só uma pequena fração (10.3%) indica
concorrer com outras organizações sociais.

6.2 Fatores de promoção da iniciativa em Portugal: perfil, objetivos e


perceções do empreendedor
Com as subsecções que se seguem esboça-se um retrato do empreendedor social,
descrevendo-se o seu enquadramento geral na iniciativa e traçando-se o seu perfil
(psicográfico e demográfico). Segue-se a análise das motivações, em especial os
objetivos que estão na origem da criação da organização social e em que medida a
perceção da viabilidade da iniciativa condiciona a sua constituição.

6.2.1 Caracterização dos inquiridos


Nos questionários colocados online foi incluída uma questão filtro que permitiu
identificar as respostas recebidas pelos responsáveis envolvidos na constituição da
iniciativa social (45 casos, de um total de 68), sendo apenas estes os inquiridos quanto
aos fatores de promoção da iniciativa social. Esta amostra é composta por cerca de 50%
de presidentes da organização social, seguindo-se os membros da direção, diretor ou
técnico, que embora com um número de respostas semelhante, são menos comuns nos
promotores das iniciativas, como se pode observar no quadro 6.2.
O desempenho da função de presidente é, ainda assim, mais expressivo no género
masculino e nas faixas etárias mais elevadas. Nos indivíduos mais jovens (entre os 18 e
34 anos) a função mais reportada é a de técnico (anexo 4.1).
Analisando a situação ocupacional dos inquiridos, verifica-se que os dados diferem em
função da tipologia da organização ou do perfil do indivíduo. Nos projetos cotados na
BVS a grande maioria dos indivíduos opera como colaborador remunerado (citado por
76.9% dos respondentes), enquanto nas ONGD é mais usual a condição de voluntário

212
(62.5%). A atuação como colaborador é também prevalecente nos respondentes do
género feminino, com idade até aos 54 anos, e que à data da criação da iniciativa não se
encontravam ativos. É ainda de assinalar que a cooperação na qualidade de colaborador
impera em todas as funções, exceção feita à de presidente, onde apenas 12.5% dos
respondentes atua como tal.

Quadro 6.2 - Enquadramento do empreendedor social na iniciativa

Total ONGD BVS


Características
N (45) % N (32) % N (13) %
Função
Presidente 22 48,9% 19 59,4% 3 23,1%
Membro da direção 7 15,6% 5 15,6% 2 15,4%
Diretor 6 13,3% 2 6,3% 4 30,8%
Técnico 5 11,1% 3 9,4% 2 15,4%
Outro 5 11,1% 3 9,4% 2 15,4%
Situação ocupacional
Colaborador 22 48,9% 12 37,5% 10 76,9%
Voluntário 23 51,1% 20 62,5% 3 23,1%

Fonte: Elaboração própria

6.2.2 Análise ao perfil psicográfico do empreendedor social português


Caracterizados os inquiridos, pretende-se agora analisar os seus traços pessoais para se
avaliar a possibilidade de estes influenciarem a adoção de um comportamento
socialmente empreendedor e o desencadear de uma iniciativa social (hipótese H1a).
Para auxiliar no processo de análise de dados recorreu-se à Análise Fatorial por
Componentes Principais (AFCP), empregando-se uma rotação ortogonal, através do
método varimax. Com esta técnica de rotação pretende-se que cada uma das variáveis
originais esteja fortemente associada a uma única componente e pouco associada às
restantes componentes principais (Maroco, 2007, p. 375). De referir que num estudo
semelhante, Nga e Shamuganathan (2010) usaram o método de rotação oblíqua (método
direct oblimin), argumentando que as dimensões de personalidade poderão estar
correlacionadas entre si. No entanto, apurou-se que a aplicação deste método conduziria
a resultados semelhantes aos obtidos com o método de rotação varimax, pelo que, por
uma questão de uniformidade no processo de análise de dados, prosseguiu-se com a
rotação ortogonal (varimax).

213
A análise preliminar, nomeadamente a avaliação do determinante da matriz de
correlações, indiciou a presença de multicolinearidade nos dados. Para ultrapassar esta
situação e viabilizar a redução dos dados, excluiu-se da análise as variáveis com
correlação superior a 90% (Field, 2005, p. 641). A decisão de exclusão destas variáveis
dependeu do julgamento do investigador, de acordo com o sugerido por Field (2005, p.
641), que reconhece a inexistência de um critério ‘científico’. Deste modo, procurou-se
manter, de entre um par de variáveis altamente correlacionadas, a variável que se
afigurou mais abrangente. Terminado este procedimento, os testes de esfericidade de
Bartlett e a análise da adequação da amostra de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO), presentes
no quadro 6.3, suportam a adequação dos dados à realização da AFCP (Field, 2005, pp.
641-642; Maroco, 2007, p.368). Como sugerido por Field (2005, p.642), optou-se pela
exclusão das variáveis com uma medida de adequação para a amostra (Measures of
Sampling Adequacy, MSA) inferior a 0.50. Para a construção das componentes
principais foram consideradas apenas variáveis cujo peso na componente (loading)
fosse igual ou superior a 0.7, de modo a assegurar a sua significância estatística (para
α=0.05) (Hair, Anderson, Tatham & Black, 1998, p. 112).

A execução da AFCP, seguindo a regra de Kaiser (Hair et al., 1998, pp.103-105; Field,
2005, p. 633), levou à retenção de 5 fatores. De seguida procedeu-se à avaliação da
fiabilidade das escalas daí resultantes recorrendo-se, para tal, ao Alpha de Cronbach (α),
um dos testes mais utilizados para se medir a fiabilidade interna de uma escala (Field,
2005). Porém, apenas 3 apresentaram um nível de fiabilidade interna considerada
aceitável (Field, 2005, pp. 666-676; Hair et al., 1998, p.118), sendo por isso retidas
apenas três componentes estatisticamente significativas.

A primeira dimensão está relacionada com a abertura à experiência, a segunda com o


nível de conscenciosidade e uma última respeita ao nível de extroversão. No
prosseguimento da análise dos dados, construiu-se um índice para cada uma das
componentes principais apuradas, baseado na média ponderada dos pesos de cada
variável na componente (DiStefano, Zhu & Mîndrilă, 2009; Field, 2005). A aplicação
deste método assegura que as variáveis com loadings mais elevados terão um peso
maior no cômputo da componente (DiStefano et al., 2009), garantindo-se ainda que o
novo índice preserva a escala de medida dos dados originais (DiStefano et al., 2009), o
que significa que os valores serão expressos numa escala de 1 a 5, em que 1

214
corresponde à situação em que o indivíduo discorda totalmente e 5 em que concorda
totalmente.

A equação que determina a pontuação de cada organização no índice é a seguinte:

0.881
Abertura à experiência= x Trabalho melhor em ambientes que me permitam ser criativos
(0.881+0.790)

0.790
+ x Os meus pares diriam que sou uma pessoa com uma mente aberta
(0.881+0.790)

0.822
Conscenciosidade= x Organizo o meu trabalho de modo a realizar em primeiro lugar as coisas mais importantes
(0.882+0.741)

0.741
+ x Conduzo a minha atividade de acordo com rigorosos princípios éticos
(0.882+0.741)

0.813
Extroversão= x Prefiro definir objetivos ambiciosos do que difíceis de atingir
(0.813+0.753)

0.753
+ x Quando a maioria das pessoas já está esgotada com o trabalho ainda continuo com energia
(0.813+0.753)

Construídos os índices referidos, verificou-se uma presença expressiva nos inquiridos


dos três traços de personalidade (nível médio > 3), o que significa um elevado nível de
abertura à experiência, de conscenciosidade e de extroversão. O traço mais saliente é a
conscenciosidade (média de 4,4), embora seguido de perto pelas outras duas dimensões
[abertura à experiência (média de 4.1) e extroversão (média de 3.9)]. Este perfil
encontra-se nos inquiridos dos dois géneros e nos vários perfis etários. De referir apenas
que os indivíduos mais jovens (entre os 18 e os 34 anos) manifestam uma maior
abertura à experiência (média de 4.3), do que a conscenciosidade (média de 4.1). Por
outro lado, a dimensão conscenciosidade é mais marcada nos indivíduos que, antes da
criação da iniciativa, se encontravam no setor social (média de 4.8), e menos expressivo
nos que provinham do setor empresarial (média de 4.2). São também os indivíduos com
origem no setor sem fins lucrativos os que apresentam um maior nível de abertura à
experiência (média de 4.7), por oposição aos do setor público, os menos cotados nesta
dimensão (média de 4.0).

De assinalar que a posse destes traços de personalidade (e a intensidade com que se


verificam nos inquiridos) está associada a uma maior perceção da viabilidade da
iniciativa, designadamente por via da influência sobre a posse das competências
pessoais necessárias, como a análise de correlação sugere (anexo 4.2.1). De entre os três

215
traços de personalidade, aquele que contribui mais intensamente para a valorização das
competências pessoais é a conscenciosidade. Daqui se pode deduzir que os indivíduos
mais persistentes, mais zelosos e com maior capacidade de trabalho, são também os que
atribuem maior importância à posse das competências de que necessitam para a
exploração das oportunidades sociais. Verifica-se, ainda, uma interdependência entre a
prevalência de determinados traços de personalidade e a expressão que os múltiplos
objetivos assumem na decisão de envolvimento com a organização.

O nível de extroversão está positivamente correlacionado com a desejabilidade da


iniciativa e o nível de determinação social, possivelmente justificado pelo evidente
compromisso para com o mundo exterior que as pessoas com este traço de
personalidade exprimem, bem como a uma maior relevância dos objetivos de natureza
não exclusivamente social. A valorização destes objetivos ‘não-sociais’ é também mais
evidente em indivíduos com um maior nível de abertura à experiência.

Quadro 6.3 - Traços pessoais do indivíduo

Extrapolação
Teste t-
Análise de Componentes Principais da para a
student b
Componentes população c
Peso do Desvio- Valores % % Var. Alpha de p- Lim. Lim.
Média t
Fator a padrão Próprios Var. Acum. Cronbach value Inf. Sup.
Componente 1:
Abertura à experiência 4,1 0,8 7,1 33,7 33,7 0,73 9,028 0,000 3,9 4,4
Trabalho melhor em ambientes 0,881 4,1 1,1
que me permitam ser criativo
Os meus pares diriam que sou 0,790 4,2 0,7
uma pessoa com uma mente
aberta
Componente 2:
Conscenciosidade 4,4 0,6 2,7 12,7 46,4 0,74 14,620 0,000 4,2 4,6
Organizo o meu trabalho de modo 0,822 4,3 0,8
a realizar em primeiro lugar as
coisas mais importantes
Conduzo a minha atividade de 0,741 4,7 0,5
acordo com rigorosos princípios
éticos
Componente 3:
Extroversão 3,9 1,0 1,5 7,0 53,5 0,64 6,299 0,000 3,6 4,2
Prefiro definir objetivos 0,813 3,9 1,1
ambiciosos do que fáceis de
atingir
Quando a maioria das pessoas já 0,753 3,9 1,2
está esgotada com o trabalho,
ainda contínuo com energia
Método de extração: análise de componentes principais; Método de rotação: varimax, com normalização de Kaiser;
Medida de KMO= 0,671; Teste de esfericidade de Bartlett: p= 0,000.
a. A rotação convergiu em 10 iterações.
b. Valor do teste=3, α=0,05;
c. Os resultados baseiam-se na extrapolação de 1.000 amostras, α=0,05;

Fonte: Elaboração própria

216
Terminada a apresentação dos principais resultados, pretende-se agora confirmar a
hipótese de que os traços de personalidade influenciam positivamente a propensão para
a criação de iniciativas de empreendedorismo social (H1a). Para tal recorrer-se-á ao
teste t-student para a comparação de uma média, um teste paramétrico que permite
comparar os valores observados com um valor definido pelo investigador (Pestana &
Gageiro, 2003, p.216). A aplicação de técnicas paramétricas exige que a variável seja
mensurável pelo menos através de uma escala intervalar (como é o caso). O recurso ao
teorema do limite central (n>30) não exige a verificação da normalidade na distribuição
de dados para a utilização do teste (Martinez & Ferreira, 2008, p.106). As técnicas de
inferência estatística permitem excluir, para um dado nível de significância, a
possibilidade de os resultados se deverem a variações aleatórias na amostra (Saunders et
al., 2007), permitindo extrapolar os resultados obtidos para a população no seu todo e,
como tal, generalizar as conclusões obtidas. Em qualquer projeto de investigação, a
decisão de aceitar as hipóteses formuladas com base na evidência empírica disponível
envolve um certo nível de risco ou de erro (Maroco, 2007). Importa, por isso, definir o
nível de significância a adotar, que será de 95%.

A realização do teste t-student, apresentado no quadro 6.3, rejeita a hipótese nula de que
os três traços de personalidade em análise tenham uma influência neutra sobre a criação
da iniciativa social (média de 3). Estas conclusões são também verificadas pela
extrapolação da média da amostra para a população, o que confirma a influência
positiva que estes três traços de personalidade exercem sobre a adoção de um
comportamento socialmente empreendedor (H1a).

Deste modo, verifica-se que os indivíduos mais extrovertidos, com maior abertura à
experiência e mais conscenciosos são aqueles que evidenciam uma maior propensão
para serem empreendedores sociais.

6.2.3 Análise ao perfil demográfico do empreendedor social português


a) Género
No que diz respeito ao género, constata-se uma maior frequência de respondentes do
sexo feminino (62.2%), evidente nos dois tipos de organizações embora com maior
expressão nos projetos cotados na BVS. Os dados sugerem uma maior apetência dos
respondentes do género masculino por projetos de âmbito internacional (70.6%),

217
enquanto os do género feminino se dividem essencialmente por projetos de âmbito
nacional e internacional (anexo 4.2.2). Analisando o público-alvo da organização em
função do género, não se assinalam diferenças expressivas, com exceção das
organizações que lidam com pessoas com deficiência física e/ou necessidades especiais
onde se verifica uma presença mais forte do sexo feminino, confirmado por uma
correlação point-biserial estatisticamente significativa entre estas duas dimensões, o que
poderá indiciar uma maior predisposição das mulheres para atuar neste segmento social
(anexo 4.1.2). É de salientar que a prevalência do género feminino tende a ser maior nas
iniciativas mais recentes e nas idades menos avançadas (menos de 55 anos).
Como a análise efetuada identifica a presença de um maior número de respondentes
(empreendedores sociais) do género feminino do que do masculino, decidiu-se avaliar a
possibilidade de o género influenciar a propensão para o empreendedorismo social. Para
isso, recorreu-se a um teste não paramétrico (análise binomial) para comparação da
distribuição de uma variável dicotómica com uma determinada probabilidade de
ocorrência (A. Pereira, 2006; Maroco, 2007, pp.97-102).
A aplicação do teste binomial indica que a proporção de empreendedores sociais
femininos não é significativamente diferente de 50% (ponto em que o número de
empreendedores nos dois géneros é igual), pelo que não existe evidência estatística
suficiente para suportar a hipótese de que o género influi sobre a adoção de um
comportamento socialmente empreendedor e sobre a criação de uma organização social.

b) Idade
Examinando a distribuição etária dos indivíduos, verifica-se uma concentração das
iniciativas nas faixas mais jovens (apesar de apenas se terem rececionado respostas de
indivíduos com mais de 18 anos), onde 26.7% dos indivíduos têm idade entre os 18 e os
34 anos e 40% entre os 35 e os 54 anos. Para se testar a influência da idade sobre o
desencadear das iniciativas sociais, aplicou-se o teste não paramétrico de ajustamento
do qui-quadrado (Pestana & Gageiro, 2003, pp. 452-454), por comparação dos valores
observados com a possibilidade de uma distribuição uniforme das respostas pelas
diferentes categorias etárias. O teste sugere que as diferenças não são estatisticamente
significativa, pelo que não há evidência empírica suficiente para se afirmar que as
pessoas de determinadas idades são mais predispostas para o empreendedorismo social
do que outras.

218
Quadro 6.4 - Caracterização geral do promotor da iniciativa de empreendedorismo social

Total ONGD BVS


Características
N (45) % N (32) % N (13) %
Género a.
Feminino 28 62,2% 17 53,1% 11 84,6%
Masculino 17 37,8% 15 46,9% 2 15,4%
Idade b.
<18 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0%
18-34 12 26,7% 8 25,0% 4 30,8%
35-54 18 40,0% 12 37,5% 6 46,2%
55-64 6 13,3% 6 18,8% 0 0,0%
>65 9 20,0% 6 18,8% 3 23,1%
Nível de escolaridade c.
Ensino primário 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0%
Ensino secundário 3 6,7% 2 6,3% 1 7,7%
Ensino superior 42 93,3% 30 93,8% 12 92,3%
Área de formação d.
Ciências da saúde 6 13,3% 4 12,5% 2 15,4%
Ciências matemáticas 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0%
Ciências sociais 4 8,9% 2 6,3% 2 15,4%
Ciências económicas 9 20,0% 8 25,0% 1 7,7%
Engenharia 9 20,0% 8 25,0% 1 7,7%
Artes 4 8,9% 1 3,1% 3 23,1%
Humanidades 11 24,4% 8 25,0% 3 23,1%
Ensino 1 2,2% 0 0,0% 1 7,7%
Outros 1 2,2% 1 3,1% 0 0,0%
Situação ocupacional e.
Empregado 35 77,8% 24 75,0% 11 84,6%
Reformado 2 4,4% 2 6,3% 0 0,0%
Não ativo 8 17,8% 6 18,8% 2 15,4%
Setor de proveniência f.
Setor empresarial 17 48,6%* 13 54,2%* 4 36,4%*
Setor público 13 37,1%* 11 45,8%* 2 18,2%*
Setor sem fins lucrativos 5 14,3%* 0 0%* 5 45,5%*

* Indivíduos que no momento da criação da iniciativa se encontravam empregados;


Total: N (35); ONGD: N (24); BVS: N (11);
a. Teste binomial à proporção de 50%, p-value= 0,135, α=0,05.
b. Teste do qui-quadrado de independência, p-value= 0,073, α=0,05.
c. Teste do qui-quadrado de independência, p-value< 0,000, α=0,05.
d. Teste do qui-quadrado de independência, p-value= 0,014, α=0,05.
e. Teste do qui-quadrado de independência, p-value< 0,000, α=0,05.
f. Teste do qui-quadrado de independência, p-value< 0,004, α=0,05.

Fonte: Elaboração própria

219
c) Formação
No que respeita ao nível de escolaridade, a grande maioria dos respondentes (93.3%)
tem formação superior, enquanto os restantes possui formação ao nível do ensino
secundário. Esta predominância da formação superior é encontrada nos dois tipos de
organizações (BVS e ONGD). O teste do ajustamento do qui-quadrado suporta que a
prevalência da formação superior sobre a criação de iniciativas de empreendedorismo
social é estatisticamente significativa, o que permite afirmar, para um nível de
significância de 5%, que o nível de escolaridade é um propulsor da adoção de um
comportamento socialmente empreendedor.
No que se refere à área de formação, verifica-se uma presença mais frequente das áreas
das humanidades (24.4%), ciências económicas (20%) ou engenharia (20%). O teste do
ajustamento do qui-quadrado aponta para a existência de diferenças estatisticamente
significativas entre a propensão para o empreendedorismo social e o tipo de formação.
O teste, como se observa no anexo 4.2.2, indica que as áreas em que se verifica uma
maior predisposição para o empreendedorismo social são as humanidades, as ciências
económicas, a engenharia e a saúde, embora esta última com menor relevância. A área
menos preponderante é o ensino, seguida das ciências sociais e das artes, não se
verificando qualquer respondente da área das ciências matemáticas.

d) Percurso profissional anterior


Discutido o perfil geral dos respondentes, avança-se agora para a análise das
experiências profissionais anteriores à criação da iniciativa.
No quadro 6.4 observa-se que a maioria dos respondentes (77.8%) estava empregado
aquando do seu envolvimento na iniciativa e apenas uma pequena percentagem referiu
estar reformado (4.4%). Este perfil ocupacional é semelhante aos dois tipos de
organizações (ONGD e BVS) e entre géneros. Dos indivíduos que se encontravam
empregados (35 casos), cerca de metade provinha do setor empresarial e apenas uma
reduzida fração (14.3%) do setor sem fins lucrativos. Assinala-se, porém, que os
resultados diferem entre os dois tipos de organizações. De facto, enquanto nas ONGD
os respondentes provêm do setor empresarial (54.2%) e do setor público (45.8%), com
uma ligeira prevalência do primeiro, nos projetos cotados na BVS, o setor de origem
mais comum é o das organizações sem fins lucrativos (45.5%), seguido do setor
empresarial (36.4%) e, por fim, com menor expressão, do setor público (18.2%). A

220
realização do teste do qui-quadro de independência, considerando a amostra no seu
todo, presente no quadro 6.4, sustenta que a situação ocupacional do indivíduo e o setor
de onde o indivíduo provém, no caso de estar empregado, são relevantes para a criação
de iniciativas de empreendedorismo social. Relativamente à situação ocupacional, não
deixa de ser curioso verificar que são os indivíduos que se encontram empregados os
mais propensos ao empreendedorismo social.
O quadro 6.5 mostra que a grande maioria dos respondentes (77.7%) afirma estar
satisfeito profissionalmente com a ocupação anterior ao envolvimento na iniciativa
social. Este sentimento é comum a todas as faixas etárias, com exceção dos indivíduos
com menos de 34 anos. Deste modo, sugere-se que a satisfação pessoal se encontra
condicionada pela situação ocupacional do indivíduo, dado que a generalidade dos
indivíduos que se encontrava empregado ou reformado está satisfeito, enquanto é bem
menor (37.5%) a proporção de indivíduos não ativos que refere estar nessa condição. É
de referir também que os indivíduos que afirmam estar satisfeitos tendem a atuar na
condição de voluntários, enquanto os insatisfeitos atuam essencialmente como
colaboradores da organização (anexo 4.2.2).

e) Experiência pessoal e ciclo de vida da família


No que se refere à situação pessoal do indivíduo, constata-se que a proporção de
indivíduos que menciona terem ocorrido alterações significativas na sua vida pessoal
(53.3%) é muito semelhante à que respondeu negativamente. Os resultados diferem,
todavia, quando se entra em consideração com a idade dos respondentes, em que a
maioria de indivíduos entre os 35 e os 64 anos (faixas etárias intermédias) refere não
terem ocorrido mudanças significativas, verificando-se o inverso nos demais indivíduos
(mais jovens ou já em idade da reforma). Anota-se ainda que a satisfação profissional se
encontra associada, de um modo estatisticamente significativo, à ocorrência de
mudanças no campo pessoal, onde os indivíduos mais satisfeitos são aqueles que
indicam não ter experimentado alterações substanciais. Estes resultados sugerem a
presença de diferentes perfis de empreendedores sociais. Um primeiro grupo que inclui
os indivíduos que se encontram na meia-idade, têm um percurso pessoal e profissional
estável, e quando abraçam o empreendedorismo social tendem a fazê-lo como
voluntários. Um segundo agrupa os indivíduos com mais de 65 anos, que poderão
encontrar no empreendedorismo social uma forma de compensar o vazio ocupacional

221
imposto pelo novo modelo de vida decorrente do final da sua atividade profissional
remunerada. Um terceiro grupo, é composto por indivíduos mais jovens que tendem a
apresentar uma situação menos estável, quer do ponto de vista profissional (que se
encontram insatisfeitos) quer do ponto de vista pessoal (com a ocorrência de mudanças
significativas), o que aponta para o exercício do empreendedorismo social como uma
alternativa profissional, que conjuga o desenvolvimento de uma carreira com a
resolução de problemas sociais.
O quadro 6.4 analisa, ainda, o ‘contexto empreendedor’ do indivíduo, verificando-se
que a maioria dos respondentes nunca criou anteriormente qualquer organização (67%),
sendo este facto particularmente notório nos respondentes do género feminino (82.1%),
nem os seus pais (80%), familiares ou amigos (46.7%). A criação prévia de outras
organizações é, porém, mais frequente em indivíduos cujas pessoas próximas tenham já
criado organizações, em particular os seus pais. Constata-se, também, que os indivíduos
que não se encontravam ativos aquando do envolvimento na iniciativa são os que menos
referem ter criado outras organizações (apenas 12.5%). De realçar que a maioria dos
indivíduos (62.2%) já tinha experiência na gestão de organizações, antes do
envolvimento na iniciativa, particularmente evidente nos indivíduos do género
masculino ou com uma tradição, pessoal ou contígua, na criação de organizações.
Ressalva-se, contudo, que não se encontram diferenças expressivas no cargo ocupado
pelo indivíduo pelo facto de este ter experiência em gestão (anexo 4.2.2).
No que respeita às experiências pessoais anteriores, observa-se que a maioria dos
inquiridos já havia participado noutros projetos sociais (77.8%) ou em movimentos
associativos na juventude (60.0%). Estes resultados apontam para a importância que a
interação e cooperação social, desenvolvidas no âmbito da sociedade civil, podem ter
sobre o desenvolvimento do espírito socialmente empreendedor. De salientar, ainda, que
a maioria dos indivíduos que já participou em movimentos sociais atua como
voluntário, enquanto se verifica a situação oposta nos demais indivíduos.

222
Quadro 6.5 - Experiências anteriores à iniciativa

Teste
Questões relativas à experiência anterior à iniciativa N (45) % Binomial*
p-value
Antes desta iniciativa alguma vez criou alguma organização? 14 31,1% 0,016
Os seus pais alguma vez criaram uma organização? 9 20,0% 0,000
Os seus familiares e amigos alguma vez criaram uma organização? 24 53,3% 0,766
Antes de estar envolvido nesta iniciativa já tinha estado envolvido em 35 77,8% 0,000
projetos sociais anteriores?
Antes de se ter envolvido nesta iniciativa já tinha tido experiências na 28 62,2% 0,135
gestão de organizações?
Na sua juventude alguma vez participou em movimentos associativos? 27 60,0% 0,233
Antes de se envolver na iniciativa ocorreram mudanças significativas na 24 53,3% 0,766
sua vida pessoal?
Antes de se envolver nesta iniciativa encontrava-se satisfeito com a sua 35 77,8% 0,000
situação profissional?
Antes de se envolver na organização conhecia alguém que lhe fosse 17 37,8% 0,135
próximo que tivesse um problema relacionado com a missão da
organização?
Tomou contacto com a questão social tratada pela organização desde a 23 51,1% 1,000
juventude?
Tomou contacto com a questão social tratada pela organização alguns anos 24 53,3% 0,766
antes de ingressar na organização?

* Teste ao valor de 50%, α=0,05.

Fonte: Elaboração própria

Analisando a proximidade prévia com o problema social, verifica-se que a maioria dos
indivíduos (62.2%) não conhecia ninguém próximo com um problema semelhante ao da
missão da organização. No entanto, esta realidade varia consoante a idade do
respondente, pois enquanto nas classes etárias mais jovens e mais elevadas (até aos 34
anos e superior aos 65 anos) predomina a situação de não proximidade ao problema, nas
faixas intermédias (entre os 35 e os 64 anos) a situação é mais frequente. De acrescentar
que apenas nas iniciativas que se dedicam a públicos com dependências se verifica um
forte conhecimento de alguém com o problema social a que a organização se dedica.
Nas restantes organizações, muitas delas que abordam problemas transversais à
sociedade, como pessoas com vulnerabilidades sociais ou carências financeiras, é mais
comum a situação de não conhecimento. De uma forma não surpreendente, verifica-se
ainda que a afinidade com a questão social é mais frequente nas iniciativas de âmbito
local e/ou regional, mais sentidas pelas pessoas que estão próximas do promotor da
iniciativa. Nas iniciativas com projeção internacional, este conhecimento apenas se
verifica numa baixa proporção dos inquiridos (32.1%).

223
Relativamente ao momento em que o indivíduo tomou contacto com a questão social,
verifica-se que na grande maioria dos casos (71.1%) o contacto com a questão social
não é recente, tendo ocorrido alguns anos antes do ingresso do indivíduo na organização
(53.3%) ou até mesmo durante a sua juventude (51.1%). Esta situação sugere que ainda
que não haja um conhecimento pessoal do problema em questão, existe uma
consciencialização sobre o mesmo que começou a ser desenvolvida anos antes de
abraçar a iniciativa. É de observar que o contacto prévio com a questão social prevalece
apenas entre os indivíduos que provêm do setor empresarial (70.6%) ou do setor público
(53.8%), ocorrendo de uma forma diminuta nos indivíduos oriundos do setor sem fins
lucrativos (20%).

Após uma descrição dos principais resultados obtidos, importa agora testar a
possibilidade de estes fatores influenciarem a propensão para o empreendedorismo
social. Para o efeito, recorreu-se ao teste binomial já referido anteriormente.

A análise do quadro 6.5 revela que apenas quatro variáveis são estatisticamente
diferentes do valor neutral (proporção de 50% em questões dicotómicas): o indivíduo
nunca ter criado uma organização, os seus pais nunca o terem feito, o envolvimento
anterior em projetos sociais e a satisfação com a situação profissional. Nas restantes
variáveis não se encontraram diferenças significativas.

f) Síntese

Em resumo, pelos resultados acabados de apresentar aceita-se a hipótese de que o perfil


demográfico do indivíduo influencia a sua propensão para a criação da iniciativa social
(H1b), para o qual relevam a formação e experiências pessoais e profissionais
anteriores. Confirma-se, assim, que um maior nível de formação está associado a uma
maior probabilidade de envolvimento numa iniciativa social, verificando-se também que
a área de formação é capaz de condicionar a predisposição para o empreendedorismo
social, em particular nas humanidades, ciências económicas, engenharia e saúde.
Confirma-se que a situação profissional precedente influencia a criação de iniciativas
sociais, verificando-se uma maior propensão nos indivíduos satisfeitos com a sua
situação profissional e empregados (em particular no setor empresarial). Indivíduos ou
os seus pais que nunca criaram uma organização são também mais suscetíveis de serem

224
empreendedores sociais. Confirma-se ainda a influência das experiências pessoais
anteriores, nomeadamente pela participação em projetos sociais, que aumenta a
predisposição para o desencadear de uma iniciativa social.

6.2.4 Análise dos objetivos pessoais


Após a análise ao perfil dos respondentes, segue-se agora o estudo dos propósitos que
influenciaram a decisão de criação da organização social (quadro 6.6). De entre os
parâmetros avaliados, aquele que assumiu uma maior relevância na decisão de
envolvimento na iniciativa foi o compromisso com uma visão social (média de 4,6
numa escala de 1 a 5), declarado como muito importante pela maioria dos respondentes
(68.9%). Seguem-se o compromisso com a visão social (valor médio de 4,5), a
determinação em resolver uma necessidade social de um modo economicamente viável
e o gosto por correr riscos e aceitar novos desafios (média de 4,1 em ambos os casos).
Os motivos menos valorizados foram prosseguir uma tradição familiar (média de 1,6),
aumentar o prestígio e status pessoal e considerar o trabalho social menos exigente
(média de 1,8 em ambos os casos). De assinalar que o peso que o compromisso social
teve na criação da iniciativa se encontra associado, de uma forma estatisticamente
significativa, aos contornos com que o indivíduo desenvolve a sua atividade na
organização, nomeadamente a função ocupada e a situação ocupacional. Nesta situação
os indivíduos que mais valorizam o compromisso social são os que ocupam, atualmente,
a função de presidente (média de 4,95) ou de membro da direção (média de 4,71) e que
atuam como voluntários (4.91) (anexo 4.2.3). A autonomia e independência
ocupacional, a oportunidade para o exercício da criatividade, a criação de uma fonte de
rendimento e a adoção de um novo modelo de vida proporcionados pela iniciativa são,
por sua vez, mais apreciados pelos colaboradores. De referir, ainda, que os indivíduos
que já trabalhavam no setor sem fins lucrativos são os que maior importância atribuem à
criação da iniciativa social, como forma de compromisso ou afiliação com uma
comunidade (média de 5).

225
Quadro 6.6 - Motivações pessoais

Desvio-
(1) (a) (2) (a) (3) (a) (4) (a) (5) (a) Média
Padrão
Estar fortemente comprometido com uma visão social. 0,0% 0,0% 6,7% 24,4% 68,9% 4,6 0,614

Estar determinado em ser um agente de mudança social. 0,0% 0,0% 8,9% 31,1% 60,0% 4,5 0,661

É uma forma de compromisso ou afiliação para com uma dada 4,4% 15,6% 17,8% 37,8% 24,4% 3,6 1,154
comunidade.
Estar determinado em fazer face a uma necessidade social de 2,2% 6,7% 20,0% 20,0% 51,1% 4,1 1,092
um modo economicamente viável.
Ter uma maior autonomia e independência ocupacional. 24,4% 11,1% 35,6% 15,6% 13,3% 2,8 1,336

Gosto em assumir riscos e novos desafios. 2,2% 2,2% 24,4% 28,9% 42,2% 4,1 0,986

Proporcionar oportunidades para a minha criatividade. 15,6% 6,7% 17,8% 22,2% 37,8% 3,6 1,452

A criação de uma fonte de rendimentos. 46,7% 15,6% 17,8% 13,3% 6,7% 2,2 1,336

Adotar um novo modelo de vida. 22,2% 17,8% 20,0% 24,4% 15,6% 2,9 1,405

Aumentar o prestígio e status pessoal. 55,6% 17,8% 22,2% 2,2% 2,2% 1,8 1,020

Seguir o modelo de pessoas que admiro. 37,8% 15,6% 17,8% 17,8% 11,1% 2,5 1,440

Seguir uma tradição familiar. 64,4% 17,8% 8,9% 6,7% 2,2% 1,6 1,048

Considerar este trabalho menos exigente do que numa empresa 62,2% 13,3% 13,3% 8,9% 2,2% 1,8 1,131
comercial.
Ser capaz de identificar uma necessidade social. 4,4% 6,7% 26,7% 26,7% 35,6% 3,8 1,134

Ter a capacidade de ver riscos como oportunidades para criar 6,7% 11,1% 26,7% 26,7% 28,9% 3,6 1,214
valor social.
Ter competência e experiência necessárias para iniciar um 2,2% 6,7% 15,6% 35,6% 40,0% 4,0 1,021
novo projeto.
Dispor de recursos suficientes para lançar a iniciativa. 13,3% 11,1% 28,9% 28,9% 17,8% 3,3 1,268

Existência de apoios e aconselhamento para este tipo de 17,8% 26,7% 31,1% 13,3% 11,1% 2,7 1,232
organizações.
Existência de um regime legal favorável para este tipo de 26,7% 22,2% 26,7% 11,1% 13,3% 2,6 1,353
organizações.
Existência de um regime fiscal favorável para este tipo de 31,1% 17,8% 24,4% 13,3% 13,3% 2,6 1,405
organizações.
Facilidade na obtenção de informações para iniciar o projeto. 22,2% 24,4% 31,1% 13,3% 8,9% 2,6 1,230
Facilidade e simplicidade dos processos administrativos para o 28,9% 22,2% 28,9% 11,1% 8,9% 2,5 1,272
lançamento do projeto.
Existência de uma necessidade social que não estava a ser 2,2% 4,4% 15,6% 20,0% 57,8% 4,3 1,031
devidamente satisfeita.

(a).(1) Importância muito baixa; (2) Importância baixa; (3) Importância nula; (4) Importância elevada; (5) Importância muito
elevada;

Fonte: Elaboração própria

Para a análise dos dados relativos aos objetivos pessoais dos inquiridos recorreu-se,
novamente, à Análise Fatorial por Componentes Principais (AFCP), seguindo as opções
metodológicas definidas no ponto 6.2.2. A execução da AFCP, seguindo a regra de
Kaiser (Hair et al., 1998, pp.103-105; Field, 2005, p. 633), conduziu à extração de 4

226
componentes principais com valores próprios superior à unidade, capazes de explicar
69,5% da variância total dos dados. A componente 1 agrega as dimensões ‘autonomia e
independência ocupacional’, ‘assunção de riscos e novos desafios’ e ‘oportunidades
para a criatividade’. Esta primeira componente diz respeito aos propósitos de natureza
não exclusivamente social ou objetivos de caráter pessoal, tal como foi denominada. A
componente 2, intitulada de reprodução de um percurso, engloba as variáveis ‘seguir
pessoas que admiro’ e ‘seguir uma tradição familiar’. À terceira componente
corresponde apenas a dimensão ‘forma de compromisso ou afiliação para com uma dada
comunidade’, pelo que foi designada como afiliação com uma comunidade. Por fim, à
quarta componente corresponde a variável ‘determinação em ser um agente de mudança
social’, sendo referida como determinação social. Daqui se retira que as duas últimas
componentes refletem motivos de cariz social, enquanto as duas primeiras expressam
outro tipo de motivações.

Quadro 6.7 – Objetivos para a criação da iniciativa de empreendedorismo social

Extrapolação
Teste t-
Análise de Componentes Principais da para a
student b
Componentes população c
Peso do Desvio- Valores % % Var. Alpha de p- Lim. Lim.
Média t
Fator a padrão Próprios Var. Acum. Cronbach value Inf. Sup.
Componente 1:
Objetivos de caráter pessoal 3,5 1,1 3,586 32,6 32,6 0,762 1,981 0,005 3,2 3,8
Oportunidades para a criatividade 0,844 3,6 1,5
Autonomia e independência 0,813 2,8 1,3
ocupacional
Assumir riscos e novos desafios 0,712 4,1 1,0
Componente 2:
Reprodução de um percurso 2,1 1,1 1,794 16,3 48,9 0,599 -5,803 0,000 1,8 2,4
Seguir pessoas que admiro 0,800 2,5 1,4

Seguir tradição familiar 0,768 1,6 1,0


Componente 3:
Afiliação com uma comunidade 3,6 1,2 1,254 11,4 60,3 - 3,618 0,001 3,3 4,0
Forma de compromisso ou 0,835 3,6 1,2
afiliação com uma comunidade
Componente 4:
Determinação Social 4,5 0,7 1,008 9,2 69,5 -
Determinação em ser agente de 0,893 4,5 0,7 15,328 0,000 4,3 4,7
mudança social
Método de extração: análise de componentes principais; Método de rotação: varimax, com normalização de Kaiser; Medida de KMO= 0,713;
Teste de esfericidade de Bartlett: p= 0,000;
a. A rotação convergiu em 9 iterações;
b. Valor do teste=3, α=0,05;
c. Os resultados baseiam-se na extrapolação de 1.000 amostras, α=0,05.

Fonte: Elaboração própria

Após a redução dos dados, procedeu-se à avaliação da fiabilidade das escalas daí
resultantes (quadro 6.7). A fiabilidade expressa pelo Alpha de Cronbach da componente

227
2 é de apenas 0.599, que embora se situe no limiar mínimo de aceitabilidade definido
por Hair et al. (1998, p. 118), decidiu-se manter na análise.

A construção dos índices indica que a dimensão mais valorizada, como se antecipava
pela análise individual das variáveis, é a determinação social (média de 4.5). A análise
da mediana indica que esta componente é considerada como muito importante (ponto 4
da escala) por metade dos inquiridos. Para além da determinação social, segue-se a
afiliação em relação a uma comunidade (média de 3.6), embora com uma maior
heterogeneidade das respostas, como a análise do desvio-padrão denuncia. Os objetivos
de caráter pessoal revelam um menor peso na formação das intenções empreendedoras
(média de 3.5), embora mais expressivo do que a reprodução de um percurso, que tem
uma valoração média situada abaixo do ponto neutral da escala (média de 2.1). A
observação do percentil superior indica que apenas um quarto dos respondentes
qualificou este último propósito como relevante para a criação da iniciativa.

De salientar que o destaque atribuído a cada uma das quatro componentes motivacionais
é bastante semelhante aos elementos caracterizadores do perfil do indivíduo,
excetuando-se os indivíduos entre os 35 e 64 anos que consideram as motivações de
caráter pessoal como menos relevantes do que os restantes indivíduos (anexo 4.2.3). De
assinalar, como referido anteriormente, a discrepância na apreciação dos diferentes
fatores em função da situação ocupacional do indivíduo. Por um lado, nos indivíduos
que por altura da criação da iniciativa estavam empregados, os objetivos de natureza
social predominam sobre os objetivos de caráter pessoal. Por outro, nos indivíduos não
ativos, apesar de a determinação social ser o propósito predominante, verifica-se que os
objetivos de caráter pessoal assumem uma maior relevância do que os de afiliação com
uma comunidade. Nos indivíduos reformados, por sua vez, estes três motivos acolhem
uma valoração muito próxima.

A importância atribuída à possibilidade de, com a iniciativa, se estar a reproduzir o


percurso de alguém é sempre baixa (limite inferior da escala), embora particularmente
desvalorizada pelos indivíduos que não se encontravam empregados. Realça-se, ainda, a
influência do setor de origem, acrescentando que os respondentes oriundos do setor
público valorizam essencialmente as componentes de índole social, consubstanciando-
se como o setor de origem onde os objetivos de caráter pessoal assumem uma menor
relevância. Nos indivíduos procedentes do setor sem fins lucrativos,

228
surpreendentemente, verifica-se que os objetivos de caráter pessoal estão presentes na
decisão.

Por fim, acrescentar que, quando se compara os serviços prestados pela organização
com a oferta existente no mercado, se verifica que a generalidade das iniciativas é
norteada sobretudo pela determinação social, seguindo-se a afiliação com a comunidade
e, só em terceiro lugar, pelos objetivos de natureza pessoal. Excetuam-se, apenas, as
organizações que concorrem com outras entidades (Estado ou outros fornecedores),
onde os propósitos de cariz pessoal prevalecem sobre a afiliação com uma determinada
comunidade.
A extração das componentes principais sustenta a presença de múltiplas motivações
para a criação de uma iniciativa social. Os indicadores de estatística descritiva, agora
apresentados, sugerem que, em termos globais, relevam três categorias de motivos
(determinação social, afiliação com uma comunidade e objetivos de caráter pessoal),
com uma importância média situada no polo positivo da escala bipolar do questionário
(>3, numa escala de 1 a 5). A reprodução do percurso de outros indivíduos revelou-se
como um fator sem influência positiva sobre a adoção de um comportamento
socialmente empreendedor (média de 2.1).
Neste momento é pertinente testar, através de inferência estatística, a hipótese de que os
objetivos do indivíduo influenciam positivamente a sua decisão de desencadear uma
iniciativa de empreendedorismo social (hipótese H2a). Para esse fim recorrer-se-á
novamente ao teste t-student. O teste indica que a média das componentes é, de um
modo estatisticamente significativo, diferente do valor neutro (3). A análise dos limites
inferior e superior da média estimada para a população, sempre superiores ao valor
neutro da escala, confirma a influência positiva que estes três propósitos exercem sobre
a decisão de criação de uma organização social. Os resultados sustentam, ainda, a
prioridade que cada objetivo assume, sendo claro o predomínio da determinação social,
seguida pela afiliação por uma comunidade e, em terceiro lugar, com menor relevância
(positiva), os objetivos pessoais.
Estes resultados são corroborados pelo teste de Friedman, teste estatístico que “permite
detetar diferenças significativas entre os valores centrais de três ou mais situações,
quando se consideram os mesmos sujeitos” (Martinez & Ferreira, 2008, p. 101), que
sustenta que existem diferenças estatisticamente significativas entre o valor atribuído a
cada uma das componentes motivacionais.

229
O elemento mais valorizado é claramente a determinação social (ordenação 2,49),
seguindo-se a afiliação com a comunidade e os objetivos de caráter pessoal, por esta
ordem, embora com uma ordenação muito próxima, como consta do quadro 6.8. Como
corolário, pode-se concluir que a determinação social prevalece sobre os objetivos de
caráter pessoal na criação da iniciativa e que os indivíduos, mais do que a afiliação para
com uma dada comunidade, são conduzidos pela sua determinação social. Os
empreendedores sociais são, por isso, antes de mais agentes orientados por um forte
desejo de mudança social onde a consideração da comunidade com quem vão cooperar
em concreto surge em plano secundário. Os resultados obtidos permitem, assim,
confirmar a hipótese de que os objetivos do indivíduo influenciam positivamente a sua
decisão de desencadear uma iniciativa de empreendedorismo social (H2a), onde se
destaca a determinação em criar valor social, embora existam em simultâneo outros
motivos como a afiliação com uma comunidade ou os propósitos de índole pessoal.

Quadro 6.8 - Ordenação da predominância dos objetivos sobre a criação da iniciativa

Teste de Friedman

Componente Ordenação p-value (exato)


Objetivos de caráter pessoal 1,74 0,000
Afiliação com uma comunidade 1,77
Determinação Social 2,49

Fonte: Elaboração própria

6.2.5 Análise à perceção da viabilidade da iniciativa pelo empreendedor


social
Com a presente subsecção tenciona-se aferir de que forma a perceção que os indivíduos
têm quanto à viabilidade da iniciativa contribui para a formação de uma organização
social.
Em primeiro lugar avalia-se a pertinência de reconhecer uma necessidade social que não
estava a ser devidamente abordada, que expressa a dimensão perceção de desejabilidade
da iniciativa. Esta dimensão é fortemente valorizada pelos inquiridos (importância
média de 4.3), e referida como importante ou muito importante pela grande maioria dos
respondentes (77.8%). As restantes perguntas pretendiam examinar a dimensão
perceção de exequibilidade.

230
Para agilizar o processo de análise de dados recorreu-se novamente à Análise Fatorial
por Componentes Principais (AFCP), seguindo as opções metodológicas já definidas. A
AFCP conduziu à retenção de duas componentes principais. A primeira, designada por
perceção de favorabilidade do contexto, congrega as variáveis ‘existência de um regime
fiscal favorável’, ‘existência de um regime legal favorável’, ‘facilidade na obtenção de
informações para iniciar o projeto’, ‘existência de apoios e aconselhamento’ e
‘facilidade e simplicidade dos processos administrativos para o lançamento do projeto’.
A componente 2 contém as variáveis ‘capacidade para ver riscos como oportunidades
para a criação de valor social’, ‘capacidade de identificação de uma necessidade social’
e ‘posse da competência e experiência necessárias para iniciar o projeto’, sendo
apelidada de perceção de capacidades pessoais. No quadro 6.9 são apresentados os
resultados do tratamento estatístico.

Quadro 6.9 - Perceção de viabilidade da iniciativa

Extrapolação
Teste t-
Análise de Componentes Principais da para a
student b
Componentes população c
Peso do Desvio- Valores % % Var. Alpha de p- Lim. Lim.
Média t
Fator a padrão Próprios Var. Acum. Cronbach value Inf. Sup.
Componente 1:
Perceção da favorabilidade do
contexto externo 2,6 1,11 4,0 37,7 37,7 0,91 -2,321 0,025 2,3 3,0
Existência de um regime fiscal 0,895 2,6 1,4
favorável
Existência de um regime legal 0,893 2,6 1,4
favorável
Facilidade na obtenção de 0,862 2,6 1,2
informações para iniciar o projeto
Existência de apoios e 0,808 2,7 1,2
aconselhamento
Facilidade e simplicidade dos 0,761 2,5 1,3
processos administrativos para o
lançamento do projeto
Componente 2:
Perceção das capacidades
pessoais 3,8 0,95 2,5 27,0 64,7 0,79 5,709 0,000 3,5 4,1
Ter a capacidade de ver riscos 0,856 3,6 1,2
como oportunidades
Ser capaz de identificar uma 0,829 3,8 1,1
necessidade social
Ter competência e experiência
necessárias para iniciar o projeto 0,736 4,0 1,0
Perceção de desejabilidade da
iniciativa - 4,3 1,03 - - - - 8,239 0,000 3,9 4,5

Método de extração: análise de componentes principais; Método de rotação: varimax, com normalização de Kaiser; Medida KMO= 0,756;
Teste de esfericidade de Bartlett: p= 0,000.
a. A rotação convergiu em 3 iterações.
b. Valor do teste=3, α=0,05;
c. Os resultados baseiam-se na extrapolação de 1.000 amostras, α=0,05;

Fonte: Elaboração própria

231
Após o apuramento das componentes principais, construíram-se os respetivos índices
com base na média ponderada dos pesos fatoriais das variáveis nas componentes. A
perceção das capacidades pessoais do indivíduo é qualificada como importante para a
criação da iniciativa (média de 3.8), embora não tanto como a perceção da
desejabilidade (média de 4.3). A perceção da favorabilidade do contexto, por sua vez,
recolhe uma pontuação menor por parte dos inquiridos, embora relativamente próxima
do ponto neutro da escala (média de 2.6). A análise do percentil superior indica que
apenas um quarto dos indivíduos valoriza positivamente o contexto favorável (percentil
75=3.2) (anexo 4.2.3).
Verifica-se, também, que a relevância atribuída a cada uma destas dimensões é
relativamente semelhante entre géneros. Porém, a importância da favorabilidade do
contexto é vista como diferente em função da idade do indivíduo, encontrando-se uma
valorização positiva nos inquiridos com mais de 55 anos e negativa nas demais faixas
etárias. De referir que, em termos relativos, e atendendo à situação ocupacional do
indivíduo, os que se encontravam empregados (de uma forma particular os que provêm
do setor empresarial) ou os não ativos enfatizam mais a existência de uma necessidade
social não satisfeita (desejabilidade) do que os indivíduos reformados. Por outro lado,
os indivíduos que estavam reformados valorizam positivamente a favorabilidade do
contexto (tal como identificado nos perfis etários superiores), verificando-se o inverso
nos indivíduos que não se encontravam nessa condição.
Os resultados sugerem que a experiência empreendedora ou empresarial do indivíduo
pode influenciar o modo como o indivíduo constrói a perceção sobre a viabilidade da
iniciativa. Por um lado, indivíduos (ou os seus pais) que nunca criaram uma
organização, atribuem uma maior importância à favorabilidade do contexto externo do
que os indivíduos que vivenciaram essa experiência, ainda que através dos seus pais.
Por outro lado, indivíduos com experiência em gestão formam a intenção de lançamento
da iniciativa social, com base no sentimento de posse das capacidades pessoais
necessárias, atribuindo uma importância muito baixa ao contexto favorável. Indivíduos
sem experiência em gestão, pelo contrário, atribuem uma valoração semelhante à
perceção da favorabilidade do contexto e à perceção da posse das capacidades pessoais
necessárias.
De assinalar igualmente que os indivíduos que atuam na qualidade de voluntários
valorizam mais o fator desejabilidade da iniciativa (média de 4.5) do que os que atuam
como colaboradores (média de 4.0). De assinalar a interdependência encontrada, através

232
da análise de correlações, entre a intensidade que os vários objetivos assumiram na
criação da iniciativa, discutidos na secção anterior, e a relevância atribuída às diferentes
dimensões de viabilidade da iniciativa. Verifica-se que, se por um lado, quanto maior é
a determinação social, maior é a importância atribuída ao facto de se sentir que a
atividade da organização é desejada; por outro lado, quanto maior é o peso dos objetivos
de caráter não exclusivamente social na decisão (objetivos pessoais e reprodução de um
percurso), maior será a relevância que se confere à posse das capacidades pessoais
necessárias para o desenvolvimento da iniciativa social.
Em resumo, a análise efetuada mostra que a perceção de desejabilidade da iniciativa e a
posse das capacidades pessoais são consideradas importantes na decisão de constituição
da iniciativa social, enquanto a perceção de um contexto externo favorável parece ter
uma influência baixa na decisão.
Para testar a hipótese de que a perceção de viabilidade da iniciativa influencia a criação
de organizações socialmente empreendedoras (hipótese H2b), recorreu-se novamente ao
teste t-student para a comparação de uma média, por teste do valor neutro (valor 3). No
quadro 6.9, apresenta-se o resultado do teste e a extrapolação da média da amostra para
a população, que indica que as três dimensões têm uma média estatisticamente diferente
de 3, em que a perceção de desejabilidade e posse das capacidades pessoais são
confirmadas como incitadoras do desencadear de uma iniciativa social, enquanto a
perceção de favorabilidade do contexto exerce um efeito baixo sobre a adoção de um
comportamento socialmente empreendedor. Pela análise dos limites inferior e superior
da média estimada para a população, comprova-se que a perceção de desejabilidade da
iniciativa é mais preponderante na decisão do que a posse das capacidades pessoais
necessárias. Os resultados sugerem, ainda, que não é pelo facto de o empreendedor
social considerar o ambiente como desfavorável que é dissuadido a atuar. Alerta-se, no
entanto, que o objeto da investigação, não é a medição direta e objetiva das condições
ambientais externas, mas sim a forma como os indivíduos percecionam o ambiente que
rodeia a organização. Neste sentido, poder-se-á aceitar a hipótese de que a perceção de
viabilidade da iniciativa está positivamente relacionada com a criação de organizações
sociais (H2b). Este facto é claramente influenciado pela perceção de desejabilidade da
iniciativa e pela posse de capacidades pessoais, que têm um efeito positivo,
estatisticamente significativo, sobre a criação das iniciativas, enquanto a perceção de
favorabilidade do contexto tem um efeito baixo (estatisticamente significativo), ainda
que moderado, sobre a criação de organizações socialmente empreendedoras.

233
6.3 Comportamento das organizações sociais em Portugal: gestão
estratégica e recursos
Na secção precedente estudaram-se as motivações subjacentes ao desencadear de uma
iniciativa social, que mais tarde conduziu à criação de uma organização social. Nesta
altura, avança-se para a análise dos resultados relativos aos comportamentos
desenvolvidos no seio dessas organizações. As questões relativas a esta problemática
foram administradas apenas aos inquiridos envolvidos na gestão da organização,
assegurando-se a não resposta dos restantes através de questões filtro. A imposição
desta restrição levou à obtenção de 62 respostas (de um total de 68), 41 (66.1%) das
quais de indivíduos envolvidos, simultaneamente, na criação da iniciativa. Das 62
respostas, 42 provierem de ONGD e as restantes 20 de projetos cotados na BVS.

Nesta secção abordar-se-á, primeiramente, as ações estratégicas desenvolvidas pelas


organizações, para depois se incidir sobre a gestão dos diferentes tipos de recursos. Para
sintetizar a informação obtida e facilitar a análise dos dados recorrer-se-á à Análise
Fatorial por Componentes Principais (AFCP). Na presença de correlações
estatisticamente significativas entre as variáveis, adotaram-se as opções metodológicas
já aplicadas nas secções anteriores.

6.3.1 Análise das ações estratégicas


A realização da AFCP permitiu a identificação de 3 componentes principais. A primeira
agrupa as variáveis ‘definição da missão’, ‘comunicação e divulgação da missão’,
‘definição de objetivos’, ‘existência de um plano estratégico’ e ‘programação das ações
implementadas’. Esta componente que agrega, ainda que parcialmente, os três primeiros
elementos do processo estratégico de Steiner e Miner (1977), foi chamada de
formulação estratégica. A segunda componente, que contempla as variáveis ‘análise de
outras organizações concorrentes’ e ‘análise do meio envolvente que rodeia a
organização’, particulariza a análise ambiental e assume essa designação na análise. Por
último, a terceira componente compreende as variáveis ‘existência de uma liderança
visionária’ e ‘existência de uma visão partilhada pelos membros da organização’,

234
elementos descritos na revisão de literatura como importantes para se colocar em prática
a estratégia da organização, é apelidada de implementação estratégica (quadro 6.10).

Quadro 6.10 - Ações estratégicas

Análise de Componentes Principais


Componentes
Peso do Desvio- Valores % % Var. Alpha de
Média
Fator a padrão Próprios Var. Acum. Cronbach
Componente 1:
Formulação estratégica 4,6 0,6 5,1 50,8 50,8 0,9
Existência de um plano estratégico 0,881 4,6 0,7
Programação das ações implementadas 0,813 4,6 0,7
Comunicação e divulgação da missão 0,811 4,7 0,7
Definição de objetivos 0,801 4,7 0,6
Definição da missão 0,752 4,7 0,6
Componente 2:
Análise ambiental 4,0 0,8 1,5 14,6 65,4 0,76
Análise de outras organizações concorrentes 0,855 3,7 1,1

Análise do meio envolvente que rodeia a 0,838 4,3 0,8


organização
Componente 3:
Implementação estratégica 4,6 0,5 1,0 10,2 75,6 0,68
A existência de uma liderança visionária 0,915 4,5 0,7
A existência de uma visão partilhada pelos 0,706 4,7 0,6
membros da organização

Método de extração: análise de componentes principais; Método de rotação: varimax, com normalização de Kaiser;
Medida de KMO= 0,796; Teste de esfericidade de Bartlett: p= 0,000;
a. A rotação convergiu em 5 iterações.

Fonte: Elaboração própria

A construção dos índices das componentes principais indica que a formulação da


estratégia e a implementação são as componentes mais valorizadas, com uma pontuação
média de 4.6, numa escala de 1 a 5. No que se refere à formulação da estratégia, os
elementos mais importantes são a definição da missão e a definição de objetivos (média
de 4.7).

Analisando a dimensão implementação da estratégia constata-se a preponderância da


existência de uma visão partilhada pelos membros da organização (média de 4.7),
sublinhada como ligeiramente mais importante do que a presença de uma liderança
visionária (média de 4.5), o que indicia ser o empreendedorismo social um fenómeno
essencialmente coletivo.

Por último, a análise ambiental que aparece como sendo a menos cotada pelos
inquiridos (média de 4.0), para a qual contribui a baixa relevância (embora positiva)
conferida ao estudo de outras organizações (média de 3.7). Mesmo assim, destaca-se

235
mais a envolvente que rodeia a organização (ambiente geral) do que as outras
organizações concorrentes (ambiente de tarefa). Na base desta apreciação poderão estar,
por um lado, a natureza permeável e cooperativa que caracteriza os discursos sobre o
empreendedorismo social e, por outro lado, a expressiva proporção de organizações que
refere não concorrer com outras organizações (89.4%).

De assinalar, ainda, a elevada valoração das ações estratégicas, evidente nas ONGD e
nos projetos cotados na BVS. Atendendo à idade das organizações, apurou-se que as
organizações mais recentes (< 3 anos) tendem a atribuir maior atenção à análise
ambiental (média de 4.3) do que as organizações mais antigas (média de 4) (anexo
4.3.1).

6.3.2 Análise à gestão dos recursos (tangíveis e intangíveis)


No decurso deste subcapítulo procurar-se-á avaliar os dados respeitantes à gestão de
recursos. A análise será estruturada em torno da tipologia de recursos adiantada no
enquadramento teórico da dissertação.

6.3.2.1 Recursos tangíveis


a) Recursos humanos

A Análise Fatorial por Componentes Principais (AFCP) levou à extração de três fatores
relativos a elementos da gestão de recursos humanos. O primeiro, que foi designado de
gestão dos colaboradores, é composto pelas variáveis ‘recrutamento e retenção de
colaboradores’, ‘envolvimento dos colaboradores na tomada de decisões’ e
‘encorajamento dos colaboradores a assumir riscos’. O segundo resulta da aglutinação
das variáveis ‘grupos de trabalho’, ‘encorajar as unidades a trabalhar em conjunto’ e
‘comunicação entre os elementos da organização’, que foi apelidado de trabalho em
equipa. Por fim, a variável ‘recrutamento e retenção de voluntários’ compõe a terceira
dimensão, chamada de gestão de voluntários.

236
Quadro 6.11- Gestão de recursos humanos

Análise de Componentes Principais


Componentes
Peso do Desvio- Valores % % Var. Alpha de
Média
Fator a padrão Próprios Var. Acum. Cronbach
Componente 1:
Gestão de colaboradores 4,0 1,0 3,7 46,5 46,5 0,82
O envolvimento dos colaboradores na tomada 0,844 4,1 1,1
de decisões
Encorajar os colaboradores a assumirem 0,822 3,7 1,1
riscos
Recrutamento e retenção de colaboradores 0,797 4,0 1,3
Componente 2:
Trabalho em equipa 4,4 0,7 1,2 15,3 61,7 0,76
Encorajar as unidades dentro da organização 0,842 4,3 0,9
a trabalharem em conjunto
A comunicação entre os elementos da 0,828 4,6 0,7
organização
Os grupos de trabalho dentro da organização 0,696 4,3 0,9
Componente 3:
Gestão de voluntários 4,2 0,9 1,0 13,1 74,8 -
Recrutamento e retenção de voluntários 0,916 4,2 0,9

Método de extração: análise de componentes principais; Método de rotação: varimax, com normalização de Kaiser;
Medida de KMO= 0,796; Teste de esfericidade de Bartlett: p= 0,000;
a. A rotação convergiu em 5 iterações.

Fonte: Elaboração própria

Como a análise do quadro 6.11 revela, estes três elementos foram classificados pelos
inquiridos como importantes para a organização, observado nas médias obtidas
superiores ao ponto 4 da escala. Destaca-se, depois, a importância do trabalho em
equipa (média de 4.4), o que denuncia a relevância da existência de um ambiente
cooperativo e colaborativo entre os membros da organização, congruente com o caráter
coletivo e orgânico das organizações sociais. De referir, igualmente, a valoração da
gestão de voluntários (média de 4.2) que é ligeiramente superior à gestão de
colaboradores (média de 4.0). Finalmente, constata-se que é nas organizações sociais
mais recentes (entre 1 e 3 anos) que se valoriza mais o trabalho em equipa (média de
4.8) e a gestão de colaboradores (média de 4.2), em detrimento de uma atuação centrada
na gestão de voluntários (média de 3.8).

b) Recursos financeiros

A AFCP aponta para a existência de 3 componentes principais respeitante à gestão de


recursos financeiros. Uma primeira, intitulada de obtenção de donativos, agrega a
valorização atribuída à angariação de donativos junto das empresas e particulares, bem

237
como a capacidade para atrair novos donativos. Uma segunda dimensão engloba as
variáveis ‘existência de fontes de financiamento adequadas’, ‘a capacidade de geração
de fundos suficientes para as atividades diárias da organização’ e a ‘geração de fundos
para a realização de investimentos de expansão’, pelo que será designada de posse dos
meios líquidos necessários. A última dimensão compreende a ‘posse das receitas
geradas pela organização’ e a ‘capacidade de geração dessas mesmas receitas’ e
designa-se como geração de receitas próprias (quadro 6.1.2). Todas as componentes são
qualificadas como importantes para a organização, com uma valorização muito próxima
do ponto 4 da escala. De todas as variáveis individuais, a mais valorizada é a capacidade
de geração dos fundos necessários para as atividades diárias da organização (média de
4.0). Os inquiridos consideraram, ainda, que os donativos provenientes de empresas
(média de 4.2) são ligeiramente mais relevantes do que os oriundos de particulares
(média de 4.1), o que poderá ser explicado pelos montantes potencialmente
disponibilizados por estas duas fontes de donativos. Não deixa de ser curioso verificar
que a valorização concedida a categorias de financiamento tão distintas e que englobam
lógicas de funcionamento tão díspares, umas mais associadas a modelos de dependência
financeira e outras marcadas por uma situação de autossuficiência financeira, sejam tão
próximas.

Acresce, ainda, que a variável menos valorizada pelos respondentes são os subsídios e
subvenções públicas (média de 3.6), sendo esta variável excluída da análise por se ter
revelado desadequada para a realização da AFCP (MSA<0.5) (Field, 2005, p. 642). Para
além disso, foi considerada de importância baixa ou muito baixa por quase um quinto
dos respondentes (19%), o que reflete o desejo das organizações sociais serem
independentes da ajuda estatal. Ainda assim, é qualificada como importante ou muito
importante por metade das organizações (56%). De assinalar, depois, que não se
encontra qualquer correlação estatisticamente significativa entre a idade da organização
e a valoração atribuída às diferentes fontes de geração de financiamento. As correlações
obtidas, embora sem significado estatístico, apresentam um sinal inverso ao esperado.
Este resultado indicia uma associação positiva entre a idade e os elementos conotados
com uma situação de maior dependência financeira (subsídios e subvenções públicas e
donativos de empresas e de particulares) e negativa com a geração de receitas próprias.
De referir, também, a maior ênfase colocada pelos respondentes na capacidade de
geração de fundos suficientes para as atividades diárias da organização do que para a

238
realização de investimentos de expansão. A primeira (geração de receitas para o dia a
dia) é vista como muito importante por mais de metade dos respondentes (56%),
enquanto a geração de meios para investimentos de expansão obtém essa apreciação por
pouco mais de um terço dos respondentes (38.7%).

Quadro 6.12 - Gestão de recursos financeiros

Análise de Componentes Principais


Componentes
Peso do Desvio- Valores % % Var. Alpha de
Média
Fator a padrão Próprios Var. Acum. Cronbach
Componente 1:
Obtenção de donativos 4,2 1,1 3,4 42,6 42,6 0,89
Donativos de particulares 0,944 4,1 1,1
A capacidade de atração de donativos 0,868 4,3 1,1
Donativos de empresas 0,863 4,2 1,0
Componente 2:
Posse dos meios líquidos necessários 4,2 0,7 1,7 21,0 63,6 0,72
A existência de fontes de financiamento 0,800 4,2 0,9
adequadas
A geração de fundos para a realização de 0,784 4,1 1,0
investimentos de expansão
A capacidade de geração de fundos 0,730 4,4 0,8
suficientes para as atividades do dia a dia da
organização
Componente 3:
Geração de receitas próprias 4,1 1,0 1,1 13,7 77,3 0,73
Receitas geradas pela organização 0,912 4,1 1,2
A capacidade de geração de receitas por parte 0,775 4,2 0,9
da organização
Método de extração: análise de componentes principais; Método de rotação: varimax, com normalização de Kaiser;
Medida de KMO= 0,722; Teste de esfericidade de Bartlett: p= 0,000;
a. A rotação convergiu em 4 iterações.

Fonte: Elaboração própria

Refira-se, ainda, que a obtenção de donativos é mais relevante para os projetos cotados
na BVS (média de 4.5) do que para as ONGD (média de 4.0), o que pode resultar do
facto de a BVS ser, na realidade, uma plataforma de donativos através da qual as
organizações visam angariar recursos necessários ao desenvolvimento do seu projeto.
Analisando as características da organização verifica-se que as mais recentes (entre 1 e
3 anos) são as que atribuem maior importância à gestão dos recursos financeiros (nas
suas três componentes) (anexo 4.3.2), possivelmente como reflexo do ambiente de
particular escassez de recursos com que estas organizações se deparam no início da sua
atividade.
Centrando agora a análise na capacidade de geração de receitas (quadro 6.13), observa-
se que quase um quarto das organizações declarou não ter qualquer elemento de receitas
próprias (21%, n=13) e apenas 19 (29% dos inquiridos) referiu que estas permitem

239
suprir mais de metade das necessidades de financiamento da organização. Este
indicador sugere que a maioria das organizações não consegue atuar unicamente com
base nas suas receitas próprias, necessitando de recorrer a outras fontes.

Quadro 6.13 - Geração de receitas próprias


N %
a.
Peso das receitas próprias
0% 13 21,0%
<25% 21 33,9%
entre 25 e 50% 10 16,1%
entre 50 e 75% 9 14,5%
> 75% 9 14,5%
b.
Fontes de receitas próprias
Preço pago pela prestação de serviço ou venda de produtos 27 55,1%
Merchandising 13 26,5%
Quotas pagas pelos sócios/membros 37 75,5%
Ações de formação 20 40,8%
Ações de consultadoria 9 18,4%
Outras 14 28,6%
b
N.º de fontes de receitas próprias utilizadas
1 fonte 14 28,6%
2 fontes 15 30,6%
3 fontes 12 24,5%
4 fontes 4 8,2%
5 fontes 2 4,1%
Média 2,2
a.
N=62;
b.
N=49, considerando-se apenas as organizações que reportaram ter fontes de receitas próprias

Fonte: Elaboração própria

Nas organizações sociais que indicam ter receitas próprias (n=49), a configuração mais
comum (76%) é o recurso a quotas pagas pelos sócios ou membros, seguindo-se o preço
pago como contrapartida de um bem ou serviço, que está presente em cerca de 55% das
organizações. Verifica-se, deste modo, o predomínio da geração de rendimentos que
têm uma ligação direta com a missão principal da organização, enquanto, paralelamente,
se revelam importantes as receitas provenientes da realização de ações de formação
(40.8% das organizações). Com menor expressão, figuram as ações de merchandising
(26.5%) ou as ações de consultadoria (18.4%). Uma proporção significativa de
inquiridos referiu recorrer a outras fontes de rendimento, sendo aqui mencionados

240
elementos como a concessão de explorações ou a realização de eventos ou de auditorias.
Outros inquiridos indicaram a obtenção de financiamento através de patrocínios,
donativos, ou mecenato, elementos que não se inserem verdadeiramente no conceito de
receitas próprias. Os dados apontam, ainda, para uma baixa diversificação na geração de
receitas próprias, recorrendo as organizações, em média, a pouco mais de 2 fontes de
receitas (média de 2.2), e menos de um terço (29.8%), assume utilizar apenas uma das
fontes anteriormente referidas.

c) Recursos físicos

O processo de redução de dados deu origem à formação de uma única componente


relativa à gestão de recursos físicos, que resulta da agregação das variáveis respeitantes
à ‘posse de edifícios/instalações/armazém’, ‘posse de equipamentos’ e ‘gestão de
equipamentos e instalações’. O quadro 6.14 evidencia a valoração positiva que as
organizações atribuem à gestão deste tipo de ativos (média de 3.6), embora menos
expressiva do que a concedida aos recursos humanos e financeiros. Assinala-se, porém,
uma apreciação mais expressiva deste tipo de recursos por parte dos projetos cotados na
BVS (anexo 4.3.2), que poderá justificar-se pelo facto de as organizações ao recorrerem
à BVS o fazerem com o intuito de encaixarem meios financeiros necessários à aquisição
de recursos de natureza material (por exemplo, instalações ou equipamentos), que a
organização não possui mas que são essenciais ao seu funcionamento.

Quadro 6.14 - Gestão de recursos físicos

Análise de Componentes Principais


Componentes
Peso do Desvio- Valores % % Var. Alpha de
Média
Fator a padrão Próprios Var. Acum. Cronbach
Componente 1:
Recursos físicos 3,6 1,0 2,2 74,5 74,5 0,82
Gestão de equipamentos e instalações 0,889 3,7 1,2
Posse de Edifício/Instalações/Armazém 0,876 3,8 1,1
Posse Equipamentos 0,823 3,3 1,3

Método de extração: análise de componentes principais; Método de rotação: varimax, com normalização de Kaiser;
Medida de KMO= 0,705; Teste de esfericidade de Bartlett: p= 0,000;
a. Não houve rotação de fatores, pois apenas foi extraído um fator.

Fonte: Elaboração própria

241
e) Recursos tecnológicos

A AFCP permitiu, igualmente, a extração de uma única componente relativa à gestão de


recursos tecnológicos que, por esse motivo, assumiu essa designação (recursos
tecnológicos). A componente é composta pelos itens posse de hardware, posse de
software, posse de tecnologias de informação e da comunicação (TIC) e sua gestão
(quadro 6.15).

Quadro 6.15- Gestão de recursos tecnológicos

Análise de Componentes Principais


Componentes
Peso do Desvio- Valores % % Var. Alpha de
Média
Fator a padrão Próprios Var. Acum. Cronbach
Componente 1:
Recursos tecnológicos 3,8 1,0 3,2 79,5 79,5 0,91
Posse de tecnologias de informação e da 0,880 4,0 1,0
comunicação
Gestão de tecnologias da informação e da 0,835 3,8 0,1
comunicação
Posse de software 0,937 3,8 1,1
Posse de hardware 0,912 3,6 1,2

Método de extração: análise de componentes principais; Método de rotação: varimax, com normalização de Kaiser;
Medida de KMO= 0,696; Teste de esfericidade de Bartlett: p= 0,000;
a. Não houve rotação de fatores, pois apenas foi extraído um fator.

Fonte: Elaboração própria

Em termos médios, a importância outorgada a este recurso é de 3.8, sendo a análise das
respostas às variáveis individuais indicativa que o elemento mais valorizado é a posse
de tecnologias de informação e comunicação (média de 4.0), enquanto o elemento
menos cotado é a posse de hardware (média de 3.6). A constatação da elevada
valorização das TIC pelos respondentes não surpreende, na medida em que aquando da
pesquisa das organizações que compõem a amostra em motores de busca, foi notório o
grande número de organizações que possuía sites, blogues e/ou presença nas redes
sociais.

6.3.2.2 Recursos Intangíveis


a) Imagem da organização

O desenvolvimento da AFCP permitiu a identificação de duas componentes relativas à


imagem da organização. A primeira, capaz de explicar 50.6% da variância total dos
dados, compreende as variáveis ‘ações de divulgação e de comunicação’, ‘planos de

242
atividade de marketing’, ‘desenvolvimento de programas de marketing’ e ‘envio de
mensagens consistentes aos stakeholders’. Esta primeira componente foi chamada de
comunicação e marketing. A segunda componente, que envolve as variáveis ‘marca’ e
‘logótipo’, apelidou-se de identidade corporativa.
Como se pode constatar pela análise do quadro 6.16, estas duas dimensões acolhem uma
valorização bastante positiva por parte dos inquiridos (com uma valorização média de
4.0 e 4.1, respetivamente). De entre os elementos relativos à comunicação e marketing,
destaca-se a relevância das ações de divulgação e comunicação (média de 4.3). No que
se refere à identidade corporativa, assinala-se a valoração próxima atribuída pelos
respondentes ao logótipo (média de 4.2) e à marca da organização (média de 4.1). A
variável site, embora não considerada na composição do índice de identidade
corporativa porque o peso fatorial não atingia o limiar mínimo definido por Hair et al.
(1998, p. 112), foi uma variável muito apreciada pelos respondentes, com um score
médio de 4.5. Este resultado comprova a importância que as novas tecnologias
assumem para a comunicação das organizações sociais com os seus diversos públicos.
Os dados indicam, ainda, que os projetos cotados na BVS conferem uma maior
importância às duas dimensões da imagem organizacional do que as ONGD. Acresce
que são as organizações mais recentes (entre 1 e 3 anos) as que mais valorizam as
dimensões associadas à imagem (anexo 4.3.2).

Quadro 6.16 - Gestão da imagem organizacional

Análise de Componentes Principais


Componentes
Peso do Desvio- Valores % % Var. Alpha de
Média
Fator a padrão Próprios Var. Acum. Cronbach
Componente 1:
Comunicação e marketing 4,0 0,9 5,1 50,6 50,6 0,84
Ações de divulgação e de comunicação 0,827 4,3 0,7
Plano de atividades de marketing 0,775 4,0 0,9
Envio de mensagens consistentes aos 0,802 3,8 1,2
stakeholders
Desenvolvimento de programas de marketing 0,808 3,7 1,2
Componente 2:
Identidade corporativa 4,1 1,0 1,5 14,6 65,2 0,90
Marca 0,904 4,1 1,1

Logotipo 0,889 4,2 1,0

Método de extração: análise de componentes principais; Método de rotação: varimax, com normalização de Kaiser; Medida de KMO= 0,797;
Teste de esfericidade de Bartlett: p= 0,000;
a. A rotação convergiu em 3 iterações.

Fonte: Elaboração própria

243
b) Reputação

O processo de redução de dados (AFCP) culminou na identificação de duas dimensões


principais. Uma primeira, é constituída por cinco variáveis: ‘posse de um sistema de
recolha de comentários dos stakeholders’, ‘posse de um sistema de monitorização da
perceção que os stakeholders têm sobre a organização’, ‘implementação de mudanças
de acordo com as sugestões dos stakeholders’, ‘conhecimento das associações que os
stakeholders têm sobre a organização’ e ‘relacionamento com os stakeholders externos’.
Os dois primeiros itens dizem respeito aos recursos que a empresa possui, enquanto os
três últimos se referem a capacidades organizacionais. Esta componente principal foi
designada como gestão de perceções. A segunda componente consiste unicamente na
variável ‘envolvimento do público-alvo na organização’, que assumiu o mesmo nome.
A estrutura dos dados sugere que é através da gestão das perceções dos stakeholders e
do envolvimento do público-alvo que a organização constrói a sua reputação.

Quadro 6.17 - Gestão da reputação

Análise de Componentes Principais


Componentes
Peso do Desvio- Valores % % Var. Alpha de
Média
Fator a padrão Próprios Var. Acum. Cronbach
Componente 1:
Gestão de perceções 3,8 0,9 4,070 56,2 56,2 0,92
Posse de sistema de monitorização da 0,942 3,8 1,0
perceção que os stakeholders têm sobre a
organização
Posse de sistema de recolha de comentários 0,934 3,8 1,1
dos stakeholders
A implementação de mudanças, de acordo 0,847 3,7 1,1
com as sugestões dos stakeholders
Relacionamento com os stakeholders 0,807 3,9 1,0
externos
Conhecimento das associações que as
entidades interessada os stakeholders têm
sobre a organização 0,769 3,8 1,1
Componente 2:
Envolvimento do público-alvo 4,3 0,8 1,079 17,4 73,6 -
O envolvimento do público-alvo na 0,954 4,3 0,8
organização
Método de extração: análise de componentes principais; Método de rotação: varimax, com normalização de Kaiser;
Medida de KMO= 0,805; Teste de esfericidade de Bartlett: p= 0,000;
a. A rotação convergiu em 3 iterações.

Fonte: Elaboração própria

Os índices das componentes principais, apresentados no quadro 6.17, comprovam a


preponderância que o envolvimento do público-alvo assume para este tipo de

244
organizações (média de 4.3), o que indicia o importante papel que o público-alvo
desempenha no processo de criação de valor social.
A gestão de perceções acolhe também uma classificação positiva (média de 3.8) junto
dos inquiridos, de onde se salienta o relacionamento com os stakeholders (média de
3.9), a variável mais valorada nesta dimensão. Merece ainda comentário o facto de as
organizações valorizarem não só a recolha de informação, como também a sua gestão.

c) Qualidade do serviço prestado

No que respeita à gestão da qualidade, o desenvolvimento da AFCP possibilitou a


identificação de duas componentes principais. Uma primeira, que é constituída pelas
variáveis ‘criação de uma experiência positiva para os stakeholders através dos produtos
ou serviços disponibilizados pela organização’, ‘o nível de satisfação dos clientes com o
tipo de programas da organização’ e a ‘satisfação dos clientes com a qualidade dos
mesmos’, foi intitulada de perceção da qualidade pelos stakeholders. Da agregação das
variáveis ‘inquéritos de satisfação’, ‘relatórios de avaliação da qualidade dos serviços’ e
‘programas de introdução de ações de melhoria’ resultou a formação da segunda
componente, que foi designada de instrumentos de gestão da qualidade (quadro 6.18)
.
Quadro 6.18 - Gestão da qualidade

Análise de Componentes Principais


Componentes
Peso do Desvio- Valores % % Var. Alpha de
Média
Fator a padrão Próprios Var. Acum. Cronbach
Componente 1:
Perceção de qualidade pelos stakeholders 4,3 0,9 4,6 43,5 43,5 0,90
O nível de satisfação dos clientes com a 0,952 4,5 0,9
qualidade dos programas
O nível de satisfação dos clientes com o tipo 0,873 4,3 1,0
de programas
Criação de uma experiência positiva para os 0,817 4,1 1,0
stakeholders através dos produtos ou serviços
Componente 2:
Instrumentos de gestão de qualidade 4,0 0,9 1,2 40,0 83,5 0,92
Programas de introdução de ações de 0,947 4,1 1,0
melhoria
Relatórios de avaliação da qualidade dos
serviços 0,935 4,1 1,0
Inquéritos de satisfação 0,734 3,9 1,0

Método de extração: análise de componentes principais; Método de rotação: varimax, com normalização de Kaiser;
Medida de KMO= 0,801; Teste de esfericidade de Bartlett: p= 0,000;
a. A rotação convergiu em 3 iterações.

Fonte: Elaboração própria

245
A análise da pontuação média dos índices revela que os respondentes qualificam estas
duas dimensões como importantes, sugerindo que os projetos cotados na BVS
valorizam mais os instrumentos de gestão da qualidade do que as ONGD. Esta situação
poderá resultar da necessidade de transparência adicional que a presença na BVS impõe.
De referir, ainda, o facto das organizações mais jovens (entre 1 e 3 anos) considerarem
mais relevantes as duas dimensões de gestão da qualidade identificadas do que as que
estão há mais tempo instaladas no mercado (anexo 4.3.2).

d) Capital social

A realização da AFCP conduziu à retenção de uma componente relativa ao capital


social, que, em consequência, assumiu essa mesma designação. A componente engloba
as variáveis ‘considero que os meus principais contactos são pessoas com um grande
número de contactos’, ‘utilizo os meus contactos para aceder a recursos’ e ‘utilizo os
meus contactos para aceder a financiamento’. A pontuação média obtida nesta dimensão
é de 3.7, como consta do quadro 6.19.
A análise das variáveis individuais indica que os vínculos fortes (contactos do
indivíduo) e fracos (contactos dos seus contactos) da rede assumem uma relevância
muito próxima para o empreendedor social. De mencionar que os respondentes
consideram que o principal benefício que os relacionamentos externos proporcionam é
um melhor acesso à informação (média de 4.3), seguindo-se depois a facilidade no
acesso à informação (média de 4.1), embora estas variáveis não tenham sido incluídas
na análise. Verifica-se ainda que os respondentes atribuem uma maior importância aos
seus contactos no acesso aos recursos em geral (média de 3.8), do que aos recursos
financeiros em particular (média de 3.4), pelo que se poderá inferir que o capital social é
mais relevante no acesso a outro tipo de recursos (humanos ou recurso materiais).

Quadro 6.19 - Gestão do capital social

Análise de Componentes Principais


Componentes
Peso do Desvio- Valores % % Var. Alpha de
Média
Fator a padrão Próprios Var. Acum. Cronbach
Componente 1:
Capital Social 3,7 0,8 2,7 54,1 54,1 0,79
Utilizo os meus contactos para aceder a 0,854 3,8 0,9
recursos
Considero que os meus principais contactos 0,839 3,9 0,9
são pessoas com um grande n.º de contactos
Utilizo os meus contactos para aceder a 0,742 3,4 1,1
financiamento
Método de extração: análise de componentes principais; Método de rotação: varimax, com normalização de Kaiser;
Medida de KMO= 0,778; Teste de esfericidade de Bartlett: p= 0,000;
a. Não houve rotação de fatores, pois só foi extraído um fator.

Fonte: Elaboração própria


246
6.4 Desempenho das organizações sociais em Portugal
Terminada a análise da importância que os responsáveis das organizações sociais
atribuem à definição da estratégia e à gestão de recursos, pretende-se de seguida estudar
o desempenho dessas organizações.
As questões abertas colocadas no questionário, procuravam conhecer a dimensão da
organização, dado que esta é apontada na literatura como capaz de explicar a sua
sobrevivência ao longo do tempo. Com esse intuito, foram avaliadas a dimensão das
equipas de trabalho (colaboradores e voluntários), o número de beneficiários e o volume
de atividade (em euros) da organização. Os inquiridos indicaram trabalhar, em média,
com cerca de 20 colaboradores (média de 20.3), sendo a dimensão das equipas de
trabalho remuneradas, porém, muito heterogénea, variando entre a inexistência de
elementos remunerados, reportada por 10 organizações (16.1%), e um máximo de 184
colaboradores (anexo 4.3.3). A análise dos percentis confirma a ideia de que a maioria
das organizações desenvolve a sua atividade com um baixo número de colaboradores,
em que um quarto dos respondentes atua com 2 ou menos colaboradores (percentil
inferior) e metade das organizações com 7 ou menos colaboradores (percentil 50).
O número médio de voluntários, por sua vez, está muito próximo de 150 por
organização (média de 149.3), sendo em termos globais superior o número de
voluntários ao de colaboradores. Também no que respeita ao número de voluntários se
verifica uma grande disparidade entre as organizações: 3 organizações declararam não
recorrer a voluntários, enquanto, no extremo oposto, uma organização referiu ter 6.400
voluntários. A organização com o segundo maior número de voluntários indicou um
número de 579. Excluindo-se da análise a primeira organização (com 6.400
voluntários), considerada um outlier, a média de voluntários por organização vê-se
reduzida para 43.4 voluntários, ainda assim superior ao número médio de colaboradores
remunerados. Os dados sugerem que a presença do voluntariado nas equipas de trabalho
é expressiva (57.8%), com apenas 3 organizações (5%) a atuarem com uma
percentagem nula de voluntários, enquanto 16.1% recorre exclusivamente a voluntários.
A análise do percentil superior indica que um quarto das organizações trabalha com um
ratio de voluntários superior a 96.2%.
A consideração conjunta do número de colaboradores e de voluntários denuncia a
pequena dimensão das equipas de trabalho. Metade dos respondentes declara operar
com uma equipa com menos de 30 elementos. Os dados sugerem, ainda, que a dimensão

247
das equipas de trabalho é ligeiramente superior nos projetos cotados na BVS do que nas
ONGD, pois a análise da mediana indica que metade dos projetos cotados na BVS
trabalha com 39 pessoas ou menos, enquanto nas ONGD esse indicador se cifra em 25
ou menos colaboradores. De destacar que a expressão do voluntariado é maior nas
ONGD (64.5%) do que nos projetos cotados na BVS (42.3%). Analisando a idade das
organizações, verifica-se que as mais recentes (entre 1 e 3 anos) são as que reportam
equipas de menor dimensão (média de 38.8), aumentando esta com a idade da
organização (as organizações com mais de 10 anos reportam uma dimensão média de
87.7 elementos). O aumento médio das equipas de trabalho ocorre essencialmente por
via do aumento do número de colaboradores, que se avoluma mais do que o de
voluntários. De anotar que o peso do voluntariado em organizações com menos de 3
anos é de 75.8%, que se reduz para apenas 46.5% nas organizações com mais de 10
anos.
Estes resultados evidenciam que à medida que as organizações envelhecem, deixam de
atuar com base num modelo dependente de voluntariado (com custos mais baixos), para
operar com uma equipa mais estável de colaboradores. Esta situação, que poderá
resultar da melhoria da capacidade financeira da organização, é consentânea com uma
atuação mais empreendedora e menos dependente da disponibilidade e boa vontade dos
voluntários.
Analisando o número de beneficiários da organização, constata-se uma grande
dissemelhança de resultados, com os valores reportados a oscilar entre 4 e 500.000
beneficiários. Esta diversidade resulta não só da presença de organizações com
dimensões distintas, como também da heterogeneidade das questões sociais abordadas
pelas diferentes organizações, que poderão requerer um consumo de recursos desigual
por beneficiário. Acresce, ainda, que algumas destas organizações trabalham
diretamente com as pessoas que carecem de ajuda social, enquanto outras têm como
beneficiários outras organizações. Os dados sugerem que o número médio de
beneficiários aumenta com a idade da organização. As organizações com menos de 3
anos indicaram ter, em média, 235 beneficiários, valor que aumenta para 12.194
beneficiários nas organizações entre os 3 e 10 anos e para 26.543 beneficiários nas
organizações com mais de 10 anos. De igual modo, as ONGD mencionaram atuar para
um maior número de beneficiários (média de 23.478) do que os projetos cotados na
BVS (média de 10.999 beneficiários). Por fim, não é de negligenciar que das 62
organizações avaliadas nesta dimensão, apenas 52 foram capazes de quantificar o

248
número aproximado de beneficiários, situação que poderá indiciar um certo
desconhecimento da capacidade de resposta por parte das organizações.
No que respeita aos valores monetários movimentados pela organização, o valor médio
reportado é de 481.000 euros. Este valor engloba montantes que vão de 0 a 4.500.000
euros. Os dados sugerem que uma proporção significativa das organizações tem um
volume de atividade relativamente baixo. Pela análise do percentil inferior verifica-se
que um quarto das organizações movimenta 35.000 euros ou menos por ano. Por outro
lado, a análise do percentil superior indica que existe também uma fração significativa
de organizações (25%) que movimenta mais de 500.000 euros anuais, onde 8 indicam
transacionar mais de um milhão de euros por ano. Não deixa de ser curioso verificar que
os valores médios movimentados pelos projetos cotados na BVS (768.717 euros) são
superiores aos das ONGD (333.453 euros), situação inversa àquela que se verifica em
termos de número de beneficiários.
Questionadas quanto à possibilidade de geração de excedentes, a maioria das
organizações (58.1%) indicou que essa prática era impedida pelos seus estatutos, seja
nas ONGD (57.1%) ou nos projetos cotados na BVS (60.0%). Esta impossibilidade é,
porém, mais frequente nas organizações mais recentes (75%) do que em organizações
que atuam há mais tempo (55% em organizações com mais de 10 anos).
Após a caraterização das organizações, procedeu-se à análise do seu desempenho geral,
através da avaliação do nível de alcance de um conjunto de indicadores que
caracterizam o desempenho organizacional. A informação foi sintetizada através do
recurso à AFCP, que levou à extração de duas componentes principais. A primeira,
capaz de explicar 42% da variância total dos dados, engloba as variáveis ‘capacidade
para atingir os objetivos económicos’, ‘crescimento da procura pelos programas’,
‘crescimento do número de beneficiários’, ‘crescimento dos valores monetários
movimentados’ e ‘aumento da sustentabilidade económica’. Esta dimensão foi
designada de desempenho económico. A correlação entre as variáveis de crescimento e
sustentabilidade económica, retidas na mesma componente, pode ser explicada por via
do aproveitamento dos benefícios das economias de escala. A segunda dimensão,
composta pela capacidade de prossecução dos principais objetivos, da missão social e
dos objetivos sociais, foi intitulada de desempenho social. O processo de agregação de
dados conduziu, assim, à construção das duas dimensões de desempenho veiculadas na
literatura de empreendedorismo social - desempenho económico e social. É interessante
verificar que a capacidade de prossecução dos principais objetivos da organização é

249
incorporada na dimensão social, o que indica que as organizações consideram que os
seus propósitos centrais são de cariz social e sugere a prevalência dos objetivos sociais
sobre os económicos.
A construção dos índices de cada componente permite apurar que as organizações
apresentam um desempenho superior na dimensão social (média de 4.2) do que na
dimensão económica (média de 3.5), verificando-se que apenas 8 das organizações
(12.9%) manifestam um nível de desempenho económico superior ao social. De
acrescentar que o desempenho económico é baixo (inferior ao ponto neutro da escala)
em quase um quarto dos respondentes (n=15, 24.2%), verificando-se o mesmo apenas
num pequeno número de organizações em relação à dimensão social (n=4, 6.5%).

Quadro 6.20- Desempenho geral das organizações

Análise de Componentes Principais


Componentes
Peso do Desvio- Valores % % Var. Alpha de
Média
Fator a padrão Próprios Var. Acum. Cronbach
Componente 1:
Desempenho económico 3,5 0,9 4,6 42,0 42,0 0,94
O crescimento dos valores monetários 0,860 3,4 1,2
movimentados
O aumento da sustentabilidade económica 0,853 3,4 1,2
Capacidade para atingir objetivos 0,782 3,3 1,1
económicos
O crescimento da procura pelos programas 0,771 3,8 1,0
O crescimento do número de beneficiários 0,720 3,8 1,0
Componente 2:
Desempenho social 4,2 0,8 1,5 34,7 76,7 0,89
Capacidade para atingir a missão social 0,936 4,3 0,9
Capacidade para atingir objetivos sociais
0,927 4,2 0,9
Capacidade para a prossecução dos principais 0,865 4,1 0,9
objetivos
Método de extração: análise de componentes principais; Método de rotação: varimax, com normalização de Kaiser;
Medida de KMO= 0,743; Teste de esfericidade de Bartlett: p= 0,000.
a. A rotação convergiu em 3 iterações.

Fonte: Elaboração própria

Das três variáveis que integram a componente desempenho social, a mais pontuada é a
capacidade de prossecução da missão social (média de 4.3), embora muito próxima das
demais variáveis (quadro 6.20). Na componente de desempenho económico, as
variáveis que tiveram uma maior pontuação foram o crescimento da procura pelos
programas da organização e o crescimento do número de beneficiários (ambas com uma
cotação média de 3.8). O aumento da sustentabilidade da organização e o crescimento

250
dos valores monetários movimentados pela organização contaram apenas com uma
pontuação média de 3.4, logo seguidas pela capacidade de prossecução dos objetivos
económicos (média de 3.3). De assinalar que o nível de desempenho económico e social
é semelhante ao tipo de organizações (ONGD e projetos cotados na BVS), não se
verificando o mesmo em relação às organizações com idades diferentes. Desta forma, as
organizações mais recentes apresentam um desempenho económico ligeiramente
inferior ao das organizações mais antigas, o que pode ser justificado por estarem
situadas na fase inicial da sua atividade.
Apesar das componentes principais serem determinadas por recurso a métodos de
rotação ortogonal, as dimensões económica e social encontram-se, ainda assim,
relacionadas (r=0.495, α=0.01), o que atesta a forte interdependência entre a criação de
valor social e económico no empreendedorismo social. Destaque, ainda, para o facto
dos resultados obtidos nas duas componentes de desempenho (social e económica), ser
semelhante, independentemente do género do empreendedor ou do seu perfil etário, não
se identificando correlações estaticamente significativas entre estes pares de variáveis,
nem médias expressivamente diferentes. Estes dados parecem apontar que o
desempenho, mais do que resultar do perfil do empreendedor que criou a iniciativa, é
essencialmente determinado pelos comportamentos desenvolvidos no interior da
organização social.
Por último, as organizações foram questionadas quanto à importância que atribuem à
avaliação dos resultados. A realização da AFCP permitiu sintetizar a informação numa
única componente, como consta do quadro 6.21. Assim, verifica-se que os respondentes
atribuem uma importância elevada à medição de resultados (média de 4.3) nas ONGD
(média de 4.2) e nos projetos cotados na BVS (média de 4.4). Embora com uma
valorização muito semelhante, constata-se que o elemento mais valorizado é o facto de a
mensuração de resultados permitir a introdução de programas de melhoria (média de
4.4). Com alguma surpresa, a análise mostra que as organizações tendem a valorizar
mais a medição de resultados como forma de atrair colaboradores e voluntários (média
de 4.3), do que para aceder a donativos (média de 4.2) ou a recursos financeiros (média
de 4.1), embora esta variável não tenha sido considerada estatisticamente significativa
para a formação da componente. De salientar, ainda, que a prática da avaliação de
resultados é considerada mais preponderante nas organizações sociais mais recentes.

251
Quadro 6.21 - A importância da avaliação de resultados

Análise de Componentes Principais


Componentes
Peso do Desvio- Valores % % Var. Alpha de
Média
Fator a padrão Próprios Var. Acum. Cronbach
Componente 1:
Importância atribuída à medição de
resultados 4,3 0,7 3,3 55,8 55,8 0,83
Permite legitimar a organização perante os 0,851 4,2 0,9
seus principais stakeholders
Permite a introdução de programas de 0,827 4,4 0,7
melhoria
Melhora a visibilidade da organização 0,761 4,3 0,8
É uma forma de atrair colaboradores e 0,697 4,3 0,9
voluntários
Facilita o acesso a donativos 0,695 4,2 0,9

Método de extração: análise de componentes principais; Método de rotação: varimax, com normalização de Kaiser;
Medida de KMO= 0,658; Teste de esfericidade de Bartlett: p= 0,000.
a. Não houve rotação de fatores, pois apenas foi extraído um fator.

Fonte: Elaboração própria

6.5 Relação entre comportamento e desempenho organizacionais


Nas secções anteriores procurou-se comentar os resultados obtidos nas questões
relativas a cada um dos três vértices do modelo de investigação: perfil/motivações,
comportamentos organizacionais e desempenho. Em termos gerais, a análise foi
desenvolvida de um modo autónomo, avaliando-se as respostas recolhidas em cada
grupo de questões de per si. No entanto, a realidade organizacional é bem mais
complexa, uma vez que estas três dimensões são capazes de se influenciar mutuamente.
A evidência empírica sustenta a existência de um conjunto de fatores que aumentam a
propensão para a criação de iniciativas socialmente empreendedoras. Suportado na
teoria da empresa e dos recursos poder-se-á admitir que os comportamentos
organizacionais desenvolvidos dentro da organização irão influir sobre o seu nível de
desempenho, sendo que o apuramento dos resultados gerados irá, por sua vez, influir
sobre os novos comportamentos a adotar. Seria igualmente legítimo presumir que o
perfil/motivações do empreendedor social são capazes de intervir na importância
atribuída aos diferentes comportamentos organizacionais e, por consequência, no nível
de desempenho da organização. Porém, a investigação pretende dar resposta a duas
questões principais: (i) quais os fatores que exercem maior influência na criação da
iniciativa social e (ii) de que forma a estratégia e a gestão dos recursos afeta o
desempenho das organizações sociais.

252
Embora reconhecendo o papel fulcral que o empreendedor social ocupa como força
motriz de todo o processo, o empreendedorismo social é essencialmente um fenómeno
coletivo desenvolvido dentro de um contexto organizacional para onde converge o
contributo de diversos atores. Por isso, para dar resposta à segunda questão de
investigação, e compreender porque é que umas organizações criam mais valor social
do que outras, a análise centrar-se-á na organização e nos comportamentos
organizacionais desenvolvidos no seu interior e não no perfil/motivações do
empreendedor.
Para procurar compreender quais os comportamentos (estratégia e recursos) que
determinam o desempenho das organizações sociais, propuseram-se as hipóteses de
investigação 3 e 4:
H3) O nível de desempenho das organizações sociais Portuguesas é influenciado
positivamente pela existência de uma estratégia.
H4) O nível de desempenho das organizações sociais Portuguesas é influenciado
positivamente pela forma como os seus responsáveis gerem os recursos.
A análise exploratória, anteriormente desenvolvida, indicia que os responsáveis
organizacionais atribuem uma importância positiva (e elevada) às ações estratégicas e à
gestão das várias tipologias de recursos. Deste modo, importa agora avaliar em que
medida é que estes comportamentos são capazes de contribuir positivamente para o
desempenho das organizações sociais (H3 e H4). A análise da matriz de correlações, em
anexo (anexo 4.4), sugere que determinados comportamentos se encontram associados a
um maior nível de desempenho. Nomeadamente, o trabalho em equipa (gestão de
recursos humanos), e o envolvimento do público-alvo na organização (reputação) estão
positivamente relacionados com o desempenho social. Desta relação parecem emergir
duas observações importantes. Em primeiro, que o empreendedorismo social é um
processo essencialmente coletivo e partilhado e, em segundo lugar, que a contribuição
de todos (interna ou externa) e as sinergias daí resultantes, permitem atingir a criação de
um nível de valor social que de outro modo não seria possível. Adicionalmente, a gestão
de recursos financeiros, e em particular a geração de receitas próprias e a posse dos
meios líquidos necessários para o desenvolvimento das atividades da organização, estão
positivamente associadas ao desempenho económico. A angariação de donativos é a
única componente da gestão de recursos financeiros que não parece influenciar o nível
de desempenho económico. Entre estas duas variáveis (angariação de donativos e
desempenho económico) verifica-se inclusivamente uma relação negativa, embora não

253
estatisticamente significativa. Um melhor desempenho económico encontra-se também
associado a uma maior valoração da gestão dos colaboradores, dos recursos
tecnológicos, das perceções (dimensão da reputação) e da gestão da qualidade (perceção
de qualidade pelos stakeholders e instrumentos de gestão de qualidade).
A análise de correlações sugere ainda que das componentes respeitantes à estratégia,
apenas a implementação da estratégia tem uma relação estatisticamente significativa, de
sentido positivo, com a dimensão de desempenho social.
Após a análise das correlações entre as componentes, avança-se para os testes de
inferência estatística, para se confirmar ou infirmar as hipóteses de investigação. A
análise das correlações indica que as duas dimensões do desempenho (económico e
social) não são independentes. Deste modo, afigura-se pertinente recorrer à análise
multivariada de variância (MANOVA), para se avaliar a extensão com que as diferentes
componentes principais (comportamentos organizacionais) são capazes de afetar, no
global, as duas variáveis dependentes em análise (Maroco, 2007, pp. 188-194). Isto
significa que se pretende estudar até que ponto o desempenho social e económico em
simultâneo (desempenho global), variável dependente, é influenciado pelos diversos
comportamentos organizacionais (variáveis independentes).
O modelo MANOVA tem como pressupostos a distribuição normal multivariada e a
homogeneidade de variâncias-covariâncias (Maroco, 2007, p. 197). A análise
exploratória das componentes principais, designadamente a aplicação dos testes de
Kolmogorov–Smirnov (com a correção de Lilliefors) e dos testes de Shapiro-Wilk
levam a rejeitar a hipótese de que os dados tenham aderência a uma distribuição normal
(p-value<0.05) [quadro 6.22]. A análise da assimetria sugere que a maioria das
componentes tem uma distribuição enviesada à direita (ZAssimetria < - 1.96), o que
confirma uma concentração das respostas nos valores superiores da escala, tal como a
análise descritiva havia sugerido. A análise do achatamento da distribuição (curtose),
por sua vez, indica a presença de uma distribuição leptocúrtica (ZCurtose>1.96) para uma
quantidade significativa de variáveis, denunciando que muitas componentes principais
apresentam uma tendência pontiaguda na distribuição de dados (Field, 2005, p. 93;
Martinez & Ferreira, 2008, pp. 54-56). O teste M de Box da igualdade da matriz de
covariâncias, por sua vez, rejeita a hipótese de as covariâncias serem, para algumas
componentes principais, iguais entre grupos (p-value<0.05) (Field, 2005, p. 593). Deste
modo, com base nos testes estatísticos realizados, rejeita-se a hipótese de que os dados

254
seguem uma distribuição normal, bem como a hipótese da homogeneidade das matrizes
de variâncias-covariâncias.

Quadro 6.22 - Testes à normalidade da distribuição e à homogeneidade da matriz de covariâncias

Teste à
Teste à normalidade da distribuição homogeneidade da
matriz de covariâncias
Componente Kolmogorov-
Shapiro-Wilk Assimetria Curtose Teste
Smirnova
M de F Sig.
Estatística Sig. Estatística Sig. Zassimetria b Zcurtose b Box
Formulação da estratégia 0,267 0,000 0,686 0,000 -8,921 17,205 15,625 1,759 0,107
Análise ambiental 0,172 0,004 0,910 0,003 -2,341 0,331 29,480 1,607 0,066
Implementação da estratégia 0,320 0,000 0,732 0,000 -4,649 2,630 37,642 2,440 0,004
Gestão de colaboradores 0,232 0,000 0,805 0,000 -4,984 3,615 44,607 1,537 0,057
Trabalho em equipa 0,240 0,000 0,820 0,000 -3,503 0,295 16,844 1,618 0,104
Gestão de voluntários 0,258 0,000 0,765 0,000 -4,724 4,156 26,120 4,021 0,001
Obtenção de donativos 0,203 0,000 0,839 0,000 -3,588 0,641 24,723 1,085 0,368
Posse dos meios líquidos 0,197 0,000 0,815 0,000 -5,912 7,671 40,659 2,676 0,002
necessários
Geração de receitas próprias 0,181 0,002 0,826 0,000 -4,217 2,624 30,564 1,941 0,028
Recursos físicos 0,188 0,001 0,904 0,002 -2,835 0,939 28,128 1,213 0,257
Recursos tecnológicos 0,170 0,004 0,879 0,000 -3,814 2,336 13,111 0,807 0,643
Comunicação e marketing 0,125 0,105 0,916 0,005 -2,157 0,312 19,212 2,239 0,040
Identidade corporativa 0,288 0,000 0,760 0,000 -3,009 -0,372 21,508 1,438 0,144
Gestão de perceções 0,136 0,054 0,895 0,001 -3,596 3,148 12,582 0,948 0,484
Envolvimento do público- 0,297 0,000 0,787 0,000 -2,314 -0,851 21,084 3,298 0,003
alvo na organização

Perceção de qualidade pelos 0,210 0,000 0,776 0,000 -6,775 8,828 21,479 2,037 0,033
stakeholders

Instrumentos de gestão de 0,174 0,003 0,875 0,000 -3,534 1,656 32,327 1,586 0,073
qualidade

Capital social 0,156 0,013 0,900 0,002 -1,973 2,221 32,079 1,319 0,167
Desempenho económico 0,150 0,021 0,944 0,045 -2,309 1,105 --- --- ---
Desempenho social 0,246 0,000 0,818 0,000 -5,048 5,263 --- --- ---

*. Limite inferior da verdadeira significância;


a. Com a correção de significância de Lilliefors;
b. Zscore=Média/Desvio-padrão.

Fonte: Elaboração Própria

Se, por um lado, os métodos multivariado são considerados robustos à violação do


pressuposto da normalidade dos dados, em particular nos casos em que a dimensão das
amostras permite o recurso ao teorema do limite central (n>30), por outro lado, a
violação do pressuposto da homogeneidade de covariâncias é entendida como mais
grave, conduzindo à inflação de erros do tipo I (Maroco, 2007, p.254). Por isso, como

255
sugerido por Maroco (2007, p. 254), utilizar-se-á o modelo MANOVA não paramétrico,
baseado na ordem das observações. A opção tomada foi pela utilização da estatística de
Roy (Roy's Largest Root), considerada como particularmente adequada para a
investigação em ciências sociais (Field, 2005, p. 594).
A aplicação desta técnica multivariada de análise de dados mostra que o desempenho
geral da empresa é influenciado pelas ações estratégicas (H3), mais concretamente, pela
análise ambiental (H3b) e implementação da estratégia (H3c) (quadro 6.23). Este
resultado indicia que a análise ambiental, sendo um dos comportamentos menos
valorizado pelos inquiridos, contribui positivamente para o desempenho das
organizações. Deste modo, os dados empíricos disponíveis sustentam que a análise da
envolvente externa da organização social (em constante mudança) permite um maior
ajustamento entre os seus recursos e competências organizacionais. O mesmo contributo
positivo sobre o desempenho se verifica em relação à implementação da estratégia. Os
resultados indicam que para o desempenho organizacional é mais importante a
implementação da estratégia do que a sua formulação (que não foi identificada como
estatisticamente significativa). Confirma-se, assim, a ideia de que a formulação de uma
estratégia embora condição necessária para o sucesso da organização, não é condição
suficiente.
A análise MANOVA permitiu testar a possibilidade dos comportamentos
organizacionais de gestão dos responsáveis das organizações sociais influenciarem, de
uma forma significativa, o desempenho das organizações no seu todo. Para isso,
interessa compreender quais os comportamentos organizacionais que têm maior impacto
sobre as dimensões do desempenho. Tendo em conta esse propósito, recorreu-se ao teste
de Kruskal-Wallis (Maroco, 2007, p. 261). Este teste indica que a análise ambiental
contribui significativamente para as diferenças de desempenho económico e que a
implementação da estratégia influencia a dimensão social do desempenho. Isto significa
que os responsáveis das organizações sociais devem atuar na monitorização daquilo que
as rodeia, o que poderá melhorar o seu desempenho económico. O mesmo sucedendo
com a capacidade de implementação da estratégia, que influencia a capacidade efetiva
da organização de prosseguir os seus objetivos, o que, em última instância, se traduz na
capacidade de criação de valor social.

256
Quadro 6.23 - Testes MANOVA não-paramétrico e Kruskal-Wallis

Teste MANOVA não-paramétrico Teste de Kruskal-Wallis


Desempenho Desempenho
Poder observado
Económico Social
Componente
F Sig.
Qui- Sig. Qui- Sig.
α=0,01 α=0,05 α=0,1
Quadr. Asymp a Quadr. Asymp a

Formulação da estratégia 1,011 0,476 0,746 0,611 0,746 1,346 0,853 1,773 0,777
Análise ambiental 2,56 0,012 ** 0,968 0,931 0,968 8,557 0,073* 0,626 0,960
Implementação da estratégia 4,505 0,001 *** 0,990 0,975 0,990 6,463 0,167 9,033 0,06*
Gestão de colaboradores 1,194 0,308 0,830 0,713 0,830 4,376 0,358 2,885 0,577
Trabalho em equipa 1,528 0,122 0,910 0,829 0,910 2,466 0,651 3,652 0,455
Gestão de voluntários 1,564 0,196 0,587 0,453 0,587 5,750 0,219 1,359 0,851
Obtenção de donativos 1,073 0,413 0,770 0,641 0,770 5,360 0,252 2,171 0,704
Posse dos meios líquidos necessários 1,734 0,066 * 0,944 0,886 0,944 4,649 0,325 1,816 0,770
Geração de receitas próprias 2,059 0,031 ** 0,955 0,907 0,955 6,855 0,144 2,560 0,634
Recursos físicos 1,198 0,308 0,835 0,717 0,835 13,168 0,01** 3,650 0,455
Recursos tecnológicos 2,212 0,015 ** 0,988 0,967 0,988 12,645 0,013** 2,632 0,621
Comunicação e marketing 1,027 0,480 0,743 0,596 0,743 4,334 0,363 2,025 0,731
Identidade corporativa 1,958 0,05 * 0,918 0,849 0,918 3,089 0,543 1,563 0,815
Gestão de perceções 1,289 0,259 0,842 0,719 0,842 10,252 0,036** 1,197 0,879
Envolvimento do público-alvo na 5,478 0,002 *** 0,961 0,923 0,961 7,134 0,129 10,434 0,034**
organização
Perceção de qualidade pelos stakeholders 1,807 0,066 * 0,916 0,843 0,916 5,786 0,216 0,750 0,945
Instrumentos de gestão de qualidade 1,641 0,09 * 0,922 0,850 0,922 9,503 0,05* 4,847 0,303
Capital social 1,648 0,086 * 0,932 0,864 0,932 6,071 0,194 1,949 0,745
***. Existem diferenças estatisticamente significativas no nível de desempenho, para α=0,01
**. Existem diferenças estatisticamente significativas no nível de desempenho, para α=0,05
*. Existem diferenças estatisticamente significativas no nível de desempenho, para α=0,10
a. As conclusões são corroboradas pelo nível de significância obtido com a Simulação de Monte Carlo, para um intervalo de confiança de 99%.

Fonte: Elaboração própria

No que respeita à gestão dos recursos, a análise MANOVA assinala as componentes


posse dos meios líquidos necessários e geração de receitas próprias (associados à gestão
de recursos financeiros) (H4b), a gestão de recursos tecnológicas (H4d), a identidade
corporativa (relativa à imagem institucional) (H4e), envolvimento do público-alvo na
organização (reputação) (H4f), perceção de qualidade pelos stakeholders e instrumentos
de gestão da qualidade (gestão da qualidade) (H4g) e o capital social como alavancas do
desempenho das organizações sociais (H4h), confirmando-se assim a hipótese de que o
nível de desempenho das organizações sociais Portuguesas é influenciado positivamente
pela forma como os seus responsáveis gerem os recursos (H4).

257
Pela identificação das componentes relevantes, verifica-se a forte importância que os
recursos de natureza intangível assumem para o empreendedorismo social. Todas as
tipologias de recursos intangíveis em análise foram apontados como estatisticamente
significativas, em pelo menos uma das suas componentes.
Dentro da categoria dos recursos tangíveis, a análise MANOVA apenas identificou
como relevantes a gestão de recursos financeiros e a gestão de recursos tecnológicos.
Das componentes relativas à gestão de recursos financeiros, apenas a atenção depositada
na angariação de donativos (a componente com um perfil menos empreendedor dentro
da gestão de recursos financeiros) não influi, de uma forma estatisticamente
significativa, sobre o desempenho da organização, tal como a análise de correlações
havia sugerido. Apesar das dimensões posse dos meios líquidos necessários e geração
de receitas próprias serem assinaladas como conducentes a diferenças no desempenho
das organizações, o teste de Kruskal-Wallis não o confirma em nenhuma das dimensões
(económica ou social) individualmente. Contudo, é de notar que o coeficiente de
correlação de Pearson é positivo e estatisticamente significativo entre estas variáveis e o
desempenho económico da organização.
Os resultados realçam, ainda, a importância que os recursos tecnológicos assumem para
as organizações de empreendedorismo social. O teste de Kruskal-Wallis revela que a
gestão de recursos tecnológicos contribui positivamente para o desempenho económico
da organização. Daqui decorre que a utilização e a gestão de recursos tecnológicos é
particularmente preponderante para a melhoria da eficiência dos processos
organizacionais. A análise das correlações sugere, ainda, que a gestão de recursos
tecnológicos está positivamente associada à maioria das componentes de gestão de
recursos (com exceção da identidade corporativa e do capital social), o que comprova a
importância central que este ativo assume para as organizações sociais.

O facto da gestão de recursos materiais não ser confirmada, pelos testes estatísticos,
como determinante para o sucesso das organizações poderá indiciar uma certa
desmaterialização da atividade das organizações, onde outras categorias de recursos se
afiguram mais relevantes que a componente física. Acresce que as organizações sociais
se dedicam, com frequência, à prestação de serviços, setor geralmente menos capital
intensivo que os do setor primário ou secundário.

Quanto à gestão dos recursos humanos, elemento que como houve oportunidade de
referir na revisão da literatura é muito enfatizado nas narrativas de empreendedorismo

258
social (e.g. Akingbola, 2006; Azevedo & Couto, 2010; Bloom & Chatterji, 2009; Bloom
& Smith, 2010; Royce, 2007), os resultados não apontam para a sua influência no
desempenho da organização social. Poder-se-á então pensar que os recursos humanos,
embora importantes, não são capazes de explicar as diferenças encontradas ao nível do
desempenho das organizações. A análise sugere que, a par da forte valorização média
destas componentes, existe uma baixa variabilidade das respostas, visível pela análise
do desvio-padrão. Em termos gerais, a maioria das organizações atribui uma forte
valoração a esta componente. Porém, quando se pretende analisar o que distingue as
organizações bem-sucedidas, torna-se necessário entrar em consideração com outros
comportamentos organizacionais, que tiveram uma atenção desigual por parte das
organizações que atingiram os seus propósitos e as que não o conseguiram. De reforçar
que apesar de não serem identificadas como estatisticamente significativas pelo teste
MANOVA não-paramétrico, a gestão de colaboradores está positivamente
correlacionada com o desempenho económico da organização e o trabalho em equipa
com o desempenho social. Verifica-se, ainda, que a gestão de colaboradores e o trabalho
em equipa se encontram fortemente correlacionados com a maioria dos comportamentos
organizacionais em análise.

Centrando a análise nos recursos intangíveis, verifica-se que a identidade corporativa,


incluída na imagem institucional, é qualificada pelo teste MANOVA não paramétrico
como relevante para o sucesso geral das organizações, muito embora não seja assinalada
pelo teste de Kruskal-Wallis como significativa para explicar as diferenças verificadas
ao nível de cada uma das dimensões isoladas de desempenho (social ou económica).

O envolvimento do público-alvo na organização, por sua vez, é assinalado como


relevante para a dimensão social de desempenho (teste de Kruskal-Wallis). Ao envolver
as pessoas que irão ser servidas pela organização na definição dos seus programas e
atividades será mais provável que esta consiga perceber o problema social na sua
plenitude e, como tal, conceba um modelo de resposta mais adequado e otimizado à
realidade em questão. De relembrar que a reputação de uma organização se constrói
com base nas perceções que os indivíduos têm sobre a organização, não sendo
diretamente controlável pela organização. Esta prática é também consonante com o
processo de cocriação de valor, que caracteriza o empreendedorismo social e que o
distingue dos sistemas assistencialistas tradicionais de provisão unilateral de bens. Pela
análise das correlações se depreende, também, que as organizações que mais se

259
preocupam com a gestão da reputação (em particular pela gestão das perceções) são as
que atribuem maior importância aos elementos mais estáveis e empreendedores da
gestão de recursos humanos e financeiros, não sendo identificada uma correlação
estatisticamente significativa com a gestão de voluntários e a obtenção de donativos.

Quanto à gestão da qualidade, de referir que os instrumentos de gestão de qualidade são


apontados como relevantes para a dimensão económica do desempenho e a perceção de
qualidade pelos stakeholders, indicada como estatisticamente significativa para o
desempenho geral da organização segundo o teste MANOVA não paramétrico, não o é
pelo teste de Kruskal-Wallis. Por fim, o capital social, não foi identificado como
significativo para as dimensões de desempenho económico ou social pelo teste de
Kruskal-Wallis, embora apontado pelo teste MANOVA não paramétrico como relevante
para o desempenho geral da organização.

Finalmente, não será de descurar uma referência à análise do modo como o processo de
mensuração de resultados poderá afetar o próprio nível de desempenho. A análise de
correlações aponta para uma relação, de sinal positivo, entre a importância atribuída à
prática de medição dos resultados e o desempenho efetivamente obtido, quer na
dimensão social de desempenho (r=0.374, α=0.01), quer na económica (r=0.314,
α=0.05).

Para se compreender de que forma é que o processo de avaliação de resultados afeta os


comportamentos da organização, procedeu-se à análise de correlações que indicam uma
associação positiva com as ações estratégicas, nomeadamente a atenção concedida à
formulação da estratégia (r=0.611, α=0.01) e à sua implementação (r=0.417, α=0.01).

De assinalar que a apreciação da prática de avaliação de resultados se encontra


positivamente associada com a gestão dos colaboradores, o trabalho em equipa, a
obtenção de donativos e a gestão dos recursos tecnológicos. Do mesmo modo, encontra-
se também positivamente relacionada com diversas componentes de recursos
intangíveis, com particular incidência nas ações de comunicação e marketing, gestão
das perceções e perceção da qualidade pelos stakeholders.

Por último, a identificação de correlações estatisticamente significativas entre a


valorização da prática de mensuração de resultados e um vasto número de componentes
de comportamentos organizacionais parece poder sustentar a conclusão de que existe

260
uma relação bidirecional entre comportamentos organizacionais e desempenho, tal
como foi proposto no modelo concetual de investigação, referido no capítulo 5 (figura
5.2).

6.6 Síntese conclusiva


Em resumo, os resultados permitem confirmar a existência de um conjunto de fatores
capazes de instigar o envolvimento dos indivíduos em iniciativas sociais (hipóteses 1 e
2). Deste modo, confirma-se que o perfil psicográfico do indivíduo (nomeadamente por
via de uma personalidade marcada por um elevado nível de extroversão, abertura à
experiência e conscenciosidade do indivíduo), o seu perfil demográfico (pela formação
e percurso pessoal e profissional), os seus objetivos pessoais (de natureza social e
pessoal) e a perceção pelo indivíduo de que a iniciativa é viável (pela perceção de
desejabilidade dos resultados a produzir e da posse das capacidades pessoais
necessárias) influem positivamente sobre a criação da iniciativa socialmente
empreendedora (quadro 6.24). Verifica-se, ainda, uma influência baixa (ainda que
moderada) da perceção favorável do contexto externo, bem como o predomínio de
objetivos de natureza social, que coexiste com motivações de índole não exclusivamente
social.

A exploração das hipóteses de investigação secundárias permitiu concluir pela


relevância para o desempenho organizacional da análise do ambiente externo na
formulação estratégica e dos processos de implementação da estratégia (relativos
existência de uma estratégia), a posse dos meios líquidos necessários e a geração de
receitas próprias (gestão de recursos financeiros), gestão de recursos tecnológicos,
identidade corporativa (gestão da imagem institucional), envolvimento do público-alvo
na organização (gestão da reputação), perceção da qualidade pelos stakeholders e
instrumentos de gestão da qualidade (gestão da qualidade) e capital social. Por isso,
aceitam-se as hipóteses de que a existência de uma estratégia e a forma como os
responsáveis da gestão gerem os recursos influem positivamente sobre o nível de
desempenho das organizações de empreendedorismo social portuguesas (hipóteses 3 e
4).

261
Quadro 6.24 - Síntese dos testes de hipóteses

H1) Os fatores pessoais influenciam positivamente a decisão do indivíduo desencadear Suportada


uma iniciativa de empreendedorismo social em Portugal.

H1a) O perfil psicográfico do indivíduo influencia positivamente a sua decisão de Suportada


desencadear uma iniciativa de empreendedorismo social.

H1b) O perfil demográfico do indivíduo influencia positivamente a sua decisão de Suportada


desencadear uma iniciativa de empreendedorismo social.

H2) Os fatores motivacionais influenciam positivamente a decisão do indivíduo


desencadear uma iniciativa de empreendedorismo social em Portugal.

H2a) Os objetivos do indivíduo influenciam positivamente a sua decisão de Suportada


desencadear uma iniciativa de empreendedorismo social.

H2b) A perceção pelo indivíduo da viabilidade da sua iniciativa influencia Suportada


positivamente a decisão de se tornar um empreendedor social.

H3) O nível de desempenho das organizações sociais Portuguesas é influenciado Suportada


positivamente pela existência de uma estratégia.

H3a) O nível de desempenho de uma organização social é influenciado Não


positivamente pela existência de processos de formulação estratégica. suportada

H3b) O nível de desempenho de uma organização social é influenciado Suportada


positivamente quando a análise do ambiente externo é integrada na formulação
estratégica.

H3c) O nível de desempenho de uma organização social é influenciado Suportada


positivamente pela existência de processos de implementação da estratégia.

H4) O nível de desempenho das organizações sociais Portuguesas é influenciado Suportada


positivamente pela forma como os seus responsáveis gerem os recursos.

H4a) O nível de desempenho das organizações sociais é influenciado positivamente Não


pela forma como os seus responsáveis gerem os recursos humanos. suportada

H4b) O nível de desempenho das organizações sociais é influenciado positivamente Suportada


pela forma como os seus responsáveis gerem os recursos financeiros.

H4c) O nível de desempenho das organizações sociais é influenciado positivamente Não


pela forma como os seus responsáveis gerem os recursos físicos. suportada

H4d) O nível de desempenho das organizações sociais é influenciado positivamente Suportada


pela forma como os seus responsáveis gerem os recursos tecnológicos.

H4e) O nível de desempenho das organizações sociais é influenciado positivamente Suportada


pela forma como os seus responsáveis gerem a imagem institucional.

H4f) O nível de desempenho das organizações sociais é influenciado positivamente Suportada


pela forma como os seus responsáveis gerem a reputação institucional.

H4g) O nível de desempenho das organizações sociais é influenciado positivamente Suportada


pela forma como os seus responsáveis gerem a qualidade do serviço prestado.

H4h) O nível de desempenho das organizações sociais é influenciado positivamente Suportada


pela forma como os seus responsáveis gerem o capital social.

Fonte: Elaboração própria

262
CAPÍTULO 7

DISCUSSÃO DE RESULTADOS
7. DISCUSSÃO DE RESULTADOS

No capítulo anterior procedeu-se à análise dos principais resultados obtidos, o que


permitiu conhecer melhor o fenómeno do empreendedorismo social em Portugal,
esboçar um perfil do empreendedor social e compreender de que forma os
comportamentos organizacionais desenvolvidos contribuem para um maior nível de
desempenho. As técnicas de análise de dados permitiram testar as hipóteses de
investigação, deduzidas com base na revisão da literatura, e dar resposta às questões de
pesquisa. O teste de hipóteses permitiu confirmar o modelo de investigação proposto,
comprovando-se que as caraterísticas do perfil (psicográfico e demográfico) e as
motivações pessoais podem influenciar a criação de iniciativas socialmente
empreendedoras. Constatou-se, depois, que a estratégia e o modo como são geridos os
ativos da organização social, podem afetar o seu desempenho, muito embora nem todos
os comportamentos organizacionais sejam capazes de explicar as diferenças de
resultados entre as organizações sociais.

O propósito deste capítulo é discutir os principais resultados obtidos, confrontando-os


com o quadro teórico e com a evidência empírica existente. Para tornar mais clara a
resposta às questões de investigação, o capítulo organiza-se em três secções. Uma
primeira que explora os fatores que estimulam a criação da iniciativa social e uma outra
que estuda a relevância dos comportamentos organizacionais e as suas implicações no
desempenho entre organizações sociais. Por fim, uma última secção analisa o impacto
da avaliação do desempenho organizacional.

7.1 Os antecedentes da iniciativa social em Portugal


Um primeiro objetivo da dissertação passava por compreender quais os antecedentes da
criação das iniciativas de empreendedorismo social em Portugal. Este objetivo foi
conseguido, verificando-se que o envolvimento em iniciativas sociais é afetado por um
conjunto de fatores pessoais e motivacionais.

265
7.1.1 Influência da personalidade do empreendedor no desencadear da
iniciativa social
Os resultados obtidos indicam que a predisposição para o empreendedorismo social é
positivamente influenciada pelo perfil psicográfico do indivíduo, o que revela que o
empreendedorismo social é, ainda que em parte, algo de inato. Consequentemente,
alguns traços de personalidade revelaram um maior impacto na propensão para o
empreendedorismo social, sendo os indivíduos com uma personalidade caracterizada
por um elevado nível de extroversão, de abertura a novas experiências e
conscenciosidade os que apresentaram uma maior apetência para serem empreendedores
sociais. Por isso, os traços pessoais do indivíduo parecem explicar as diferenças ao nível
do comportamento empreendedor, como aliás havia sido sugerido por Nicolaou e Shane
(2010), no caso do empreendedorismo económico.

Neste sentido, as pessoas com maior grau de extroversão revelaram maior predisposição
para a procura de estímulos externos (interação com os outros) e deterem maiores
capacidades comunicacionais, o que conduzirá à criação de uma maior consciência
sobre as necessidades sociais existentes. Esta situação, aliada ao elevado nível de
abertura à experiência, que se traduz num forte nível de criatividade e no desejo de
encontrar novas iniciativas que rompam com as ideias vigentes, faz com que estes
indivíduos recorram ao empreendedorismo social como veículo para a resolução dos
problemas sociais pelos quais se encontram sensibilizados, procurando um novo suporte
organizacional onde possam prosseguir os seus propósitos e conceber uma solução que
transcenda as respostas instituídas pelos setores tradicionais. A interiorização dos
objetivos sociais (conscenciosidade) pelos indivíduos favorece a sua atuação como
empreendedores sociais, embora cientes dos enormes desafios que lhe são impostos.

Estas ilações vão de encontro à evidência existente, quer do ponto de vista da


formulação teórica, onde são enfatizadas as características pessoais dos empreendedores
sociais (Beugré, 2011; Drayton, 2002; Leadbeater, 1997; Martin & Osberg, 2007), quer
do ponto de vista empírico (Lukeš & Stephan, 2012; Nga & Shamuganathan, 2010).
Com efeito, a investigação de Nga e Shamuganathan (2010) havia sugerido que os
empreendedores sociais apresentam um elevado nível de agradabilidade, abertura à
experiência e conscenciosidade, verificando-se que os resultados obtidos são
coincidentes com estas duas dimensões - abertura à experiência e conscenciosidade. O
estudo empírico não permitiu confirmar a influência da dimensão ‘agradabilidade’ (que

266
não foi retida na Análise Fatorial por Componentes Principais), embora acrescente o
nível de extroversão do indivíduo enquanto propulsor do empreendedorismo social, que
não havia sido indicado por Nga e Shamuganathan (2010). As conclusões obtidas são
ainda concordantes com as de Lukeš e Stephan (2012), que sustentam que os
empreendedores sociais apresentam um elevado nível de extroversão, abertura à
experiência, agradabilidade, conscenciosidade e estabilidade emocional.

7.1.2 Influência do perfil demográfico no desencadear da iniciativa social


A análise da estrutura dos dados indicou que uma completa compreensão das
motivações para o empreendedorismo social requer, em paralelo com a análise dos
traços pessoais, a análise de outras dimensões do indivíduo, o que é consistente com a
formulação teórica existente (Ármannsdóttir, 2011; Wood, 2012; Zahra et al., 2009;
Ziegler, 2009). A análise do perfil demográfico revelou que a criação de uma iniciativa
social é positivamente influenciada pela formação do indivíduo (em termos de nível e
área de formação) e pelo seu percurso profissional e pessoal, não se encontrando,
porém, suporte para a relevância da idade ou género do empreendedor.

O efeito positivo do nível da formação encontrado corrobora o de outros estudos


empíricos existentes, como os de Bosma e Levie (2010), Harding e Cowling (2006),
Hoogendoorn et al. (2011), Lehner (2011), Van Ryzin et al. (2009) ou Terjesen et al.
(2012), sendo também consentâneo com Ferreira (2005) que indica que a maioria dos
empreendedores sociais em Portugal tem formação superior. À semelhança da
justificação apontada por Estrin et al. (2011) e Terjesen et al. (2012), a formação poderá
ser interpretada como um preditor indireto, na medida em que aumenta a sensibilidade
para as questões sociais e alimenta uma maior consciencialização sobre a necessidade
de atuação.

No que se refere à área de formação, verifica-se a presença de empreendedores sociais


de vários quadrantes científicos (Ferreira, 2005), embora com maior predominância das
áreas de humanidades, ciências económicas, engenharia e saúde, que são confirmadas
como relevantes para o desencadear da iniciativa social. A investigação de Lehner
(2011) já havia indicado, no caso austríaco, que a maioria dos empreendedores sociais
tinha formação na área empresarial, sugerindo também a relevância das áreas técnicas e
das ciências sociais. Verifica-se, portanto, que as conclusões concordam em duas áreas

267
(ciências empresariais e engenharia) e diferem no caso das ciências sociais (que em
Portugal é uma das áreas de formação menos frequentes). No que respeita à relevância
da formação em ciências empresariais, a evidência empírica é congruente com a tese
apontada por Baral et al. (2012) sobre a influência do contacto com o tema do
empreendedorismo (social) para a emergência de novos empreendedores.

Em relação ao género, apesar de se verificar uma tendência ligeiramente superior de


empreendedores do género feminino, os testes estatísticos não sustentam que essa
discrepância seja significativa e capaz de explicar as diferenças ao nível do
comportamento socialmente empreendedor (Estrin et al., 2011). As conclusões
extraídas são, assim, discordantes de Van Ryzin et al. (2009), que encontram uma maior
probabilidade de os empreendedores sociais serem mulheres ou dos resultados que
apontam para a prevalência do género masculino (Bacq et al., 2011; Baral et al., 2012;
Harding & Cowling, 2006; Leahy & Villeneuve-Smith, 2009; Villeneuve-Smith &
Chung, 2013; Terjesen et al., 2012).

Em Portugal, segundo o que refere o relatório do GEM para 2010, o número de


empreendedores económicos do género masculino é aproximadamente o dobro do
género feminino, pelo que com a existência de maior número de empreendedores
sociais se atenuam as assimetrias entre géneros ao nível da atividade empreendedora, tal
como é identificado noutros países (Bacq et al., 2011; Bosma & Levie, 2010; GEM,
2009).

De referir que a prevalência do género feminino é mais comum em iniciativas mais


recentes e nas faixas etárias inferiores (até aos 54 anos), o que sugere a longo prazo uma
maior importância do género feminino na prática do empreendedorismo social. Ao
contrário daquilo que é constatado por Ármannsdóttir (2011), não se identificaram
diferenças relevantes ao nível dos objetivos que influem na decisão de desencadear a
iniciativa social. Deste modo, espera-se que homens e mulheres quando se envolvem
numa iniciativa social sejam induzidos por motivos semelhantes, muito embora os
fatores que prevalecem na decisão (causa social), que presumivelmente estão mais
presentes nas mulheres, conduzam à anulação da assimetria entre géneros existente no
empreendedorismo económico. Isto é, ainda que as mulheres possam ser menos
predispostas para o envolvimento numa atividade empreendedora, atendendo ao

268
propósito primário da criação da iniciativa social, sentir-se-ão impelidas a atuar apesar
do ceticismo inicial.

No que diz respeito à idade, apesar de não ser confirmada como capaz de influenciar a
predisposição para o empreendedorismo social, à semelhança de Estrin et al. (2011;
2013), verifica-se que o perfil etário mais comum entre os empreendedores sociais é o
de nível intermédio, consentâneo com outras investigações (Bacq et al., 2011; Baral et
al., 2012; Estrin et al., 2011). A evidência empírica contraria, assim, as conclusões do
relatório do GEM (2009) que aponta para uma maior predisposição para o
empreendedorismo social por parte de indivíduos mais jovens em economias orientadas
para a inovação (como seria o caso português), discordando igualmente dos estudos
nacionais, que revelam uma maior apetência por parte dos jovens (Harding & Cowling,
2006; Johnson, 2003; Leahy & Villeneuve-Smith, 2009; Van Ryzin et al., 2007, 2009).
A baixa expressão de empreendedores sociais nas classes etárias superiores está em
linha com a tendência apontada pelo relatório do GEM (2009) para que indivíduos mais
próximos da idade da reforma estejam menos recetivos à criação de projetos sociais.

De referir, depois, que apesar da evidência empírica não permitir confirmar a influência
da idade sobre a adoção de um comportamento socialmente empreendedor, pode
influenciar a forma de envolvimento do indivíduo na organização social, pois os mais
jovens tendem a atuar como colaboradores remunerados, enquanto os restantes
permanecem na condição de voluntário, situação que pode ser clarificada pela análise da
situação profissional e pessoal do indivíduo, desenvolvida adiante. Acresce que em
indivíduos no escalão etário intermédio é mais frequente o conhecimento de alguém
próximo que padeça do mesmo problema social a tratar pela organização (situação que
não se verifica nos demais indivíduos). Este resultado sugere que nas idades mais
jovens e mais avançadas é o desejo de atuar socialmente que move o indivíduo, como
resultado do seu ideário social e independentemente da proximidade ou não com uma
causa social específica, enquanto indivíduos nas camadas intermédias, no auge da sua
idade ativa, poderão perceber um custo de oportunidade de intervenção maior, pelo que
estão mais sensibilizados a desencadear a iniciativa se se sentirem próximos do
problema a tratar.

Finalmente, uma outra observação que o estudo empírico permitiu fazer é a de que os
empreendedores sociais em Portugal apresentam um perfil etário ligeiramente superior

269
ao atualmente verificado nos seus congéneres económicos18. De mencionar que entre o
período de 2007 e 2010 ocorreu uma alteração na distribuição etária mais comum entre
os empreendedores económicos, [que passa do grupo entre os 35 e 44 anos (próximo ao
perfil obtido nesta investigação) para o compreendido entre os 25 e 34 anos],
possivelmente justificada pela intensificação da crise económica no país que leva os
indivíduos mais jovens (particularmente afetados pelo desemprego) a criarem as suas
próprias iniciativas. Desta forma, admite-se que um maior conhecimento do campo do
empreendedorismo social poderá fazer com que este se afigure como uma outra
alternativa a considerar pelos indivíduos para o desenvolvimento de uma atividade
profissional.

Outro fator confirmado como relevante para a formação das intenções de criação da
iniciativa social é o percurso profissional passado. Verifica-se que, em termos globais,
uma maior satisfação profissional é favorável à adoção de um comportamento
socialmente empreendedor, contrariando os argumentos de que o empreendedorismo
social (ou económico) pode ser encarado como uma forma de se compensar o
descontentamento profissional (London & Morfopoulos, 2010; Smith-Hunter et al.,
2003).

Relativamente à situação ocupacional, verifica-se que a maioria dos indivíduos estava


empregada e que essa condição influencia a propensão para o empreendedorismo social.
Este resultado, que não deixa de ser curioso, é semelhante ao apurado por Harding e
Cowling (2006) e por Bacq et al. (2011), que apontam para que a maioria dos
empreendedores sociais, aquando do envolvimento na iniciativa, possuía um emprego
remunerado, contrastando, todavia, com Estrin et al. (2011), que não encontram suporte
para qualquer associação com a ocupação anterior.

De entre os empreendedores que se encontravam empregados, cerca de metade provêm


do setor empresarial, o que poderá ser interpretado pela facilidade com que podem
aplicar técnicas empresariais à resolução de questões sociais. O mesmo constata
Ármannsdóttir (2011), para quem os empreendedores sociais propendem a atuar em
áreas ligadas à sua profissão anterior. Ora, ao enveredarem pelo empreendedorismo
social estão a dar continuidade à utilização de um conjunto de práticas empresariais nas
organizações sociais. O setor sem fins lucrativos é o menos comum entre os
18
De acordo com o último relatório do GEM disponível para Portugal, em 2010 o grupo de indivíduos com um maior nível de
atividade empreendedora estava compreendido entre os 25 e os 34 anos.

270
empreendedores sociais, o que contraria Leahy e Villeneuve-Smith (2009) que
defendem uma forte presença de indivíduos deste setor. Johnson (2003) aponta como
justificação serem os indivíduos com uma vasta experiência no setor social os que
tendem a ser relutantes na utilização de uma linguagem empresarial e, por
consequência, a serem mais tradicionais na conceção de um modelo de resposta social.

Adicionalmente, indivíduos oriundos do setor social não costumam ter um contacto


prévio com a questão social a tratar, ao contrário do verificado nos setores público e
empresarial, e têm particular incidência no nível de conscenciosidade. Esta situação
poderá justificar-se pelo altruísmo que leva os indivíduos a atuarem independentemente
do conhecimento prévio do problema social em questão. O pronunciado nível de
conscenciosidade poderá advir do facto de terem uma noção mais precisa da
repercussão do seu trabalho na qualidade de vida de outras pessoas e, como tal, serem
mais zelosos e persistentes na prossecução dos seus objetivos. Indivíduos oriundos do
setor empresarial ou público, pelo contrário, tendem a centrar a sua intervenção apenas
em problemas específicos pelos quais se encontram sensibilizados e desenvolveram
uma consciência social, sendo a decisão marcadamente influenciada pela sua
determinação social.

A apreciação conjunta da situação profissional e idade do indivíduo remete para a


existência de três categorias de empreendedores sociais: (i) indivíduos em idade ativa,
que não estão empregados ou que se encontram insatisfeitos com a sua situação
profissional; (ii) indivíduos de meia-idade, com uma situação profissional e pessoal
estável; e (iii) indivíduos que já atingiram a idade da reforma. A evidência empírica
disponível indica que o empreendedorismo social é uma esfera bastante heterogénea,
onde se encontraram perfis demográficos diferenciados. Estes perfis correspondem a
diferentes fases na teoria neoclássica do ciclo de vida, encontrando uma explicação
complementar para o modelo proposto por Parker (2008).

Os indivíduos em idade ativa tendem a atuar como colaboradores remunerados da


iniciativa, depreendendo-se, por esse motivo, que encontram no empreendedorismo
social uma alternativa profissional onde irão aplicar e desenvolver as suas competências
pessoais ao mesmo tempo que procuram a criação de valor social. Nas duas outras
configurações os indivíduos atuam geralmente na qualidade de voluntários, onde
indivíduos em idade ativa com uma situação profissional com a qual se encontram

271
satisfeitos procuram no empreendedorismo social um complemento à sua atividade
profissional. Esta situação é comum aos casos belga e holandês (Bacq et al., 2011). Pelo
contrário, para os indivíduos em idade de reforma, a atividade socialmente
empreendedora surge como uma atividade ocupacional para aqueles que dispõem de
uma motivação social.

Em resumo, enquanto alguns indivíduos veem o empreendedorismo social como


alternativa profissional, outros encaram-no como um exercício de voluntariado. Muito
embora a condição de voluntário não impeça a aplicação de práticas empreendedoras ou
de uma gestão profissional, acredita-se que a disponibilidade para acompanhar os
destinos da iniciativa seja importante para o sucesso da mesma. Para a emergência
destes três perfis de empreendedores sociais admite-se que tenham sido ponderados os
desafios impostos pela iniciativa social, que levam os indivíduos que beneficiam de uma
situação profissional estável a não abdicarem da condição salarial que o seu emprego
oferece.

No que se refere à participação anterior em projetos sociais, os testes de inferência


estatística confirmam a influência positiva sobre a adoção de um comportamento
socialmente empreendedor, o que aponta para a importância que a interação e
cooperação social, desenvolvidas no âmbito da sociedade civil, têm sobre a construção
do espírito do empreendedor social. Confirma-se, deste modo, as posições defendidas
por London e Morfopoulos (2010), Ármannsdóttir (2011), Obschonka et al. (2012) e
Barendsen e Gardner (2004), subscrevendo que o ativismo social iniciado na juventude
tende a manter-se na idade adulta. Para além disso, observa-se que na maioria dos
indivíduos o contacto com a questão social não é recente e que a consciencialização
sobre a questão social começa a ser formada anos antes do envolvimento na iniciativa.
Esta realidade é similar à de Ferreira (2005), em que os empreendedores sociais tendem
a envolver-se em projetos com os quais já tenham tido algum tipo de ligação e que a
iniciativa social surge na sequência de um percurso que começou a ser desenvolvido
muito tempo antes.

A investigação indica ainda que os indivíduos que nunca criaram uma organização ou
cujos pais nunca o fizeram são os que mais se envolvem no empreendedorismo social. A
priori poder-se-ia conjeturar uma relação de sentido inverso, porém os resultados não
são totalmente surpreendentes, pois os investigadores não são unânimes no

272
reconhecimento da associação entre o nível de empreendedorismo económico e o nível
de empreendedorismo social. Os resultados são, assim, consentâneos com Estrin et al.
(2013), que encontram uma relação negativa e contrariam a tendência apontada pelo
relatório do GEM (2009), de que as sociedades mais empreendedoras, na sua aceção
tradicional, são as mais propensas para o empreendedorismo social. O mesmo acontece
com Chlosta et al. (2012), Laspita et al. (2012) e Schmitt-Rodermund (2004), que
encontram uma relação positiva entre a propensão empreendedora dos pais e a
probabilidade do familiar se tornar também empreendedor. Para se compreender melhor
este resultado aparentemente paradoxal, avançou-se para uma análise mais
pormenorizada dos dados. De entre os inquiridos que nunca criaram uma organização, a
esmagadora maioria refere que os seus pais também não o haviam feito. Para além
disso, os indivíduos cujos progenitores já constituíram uma organização tendem, eles
próprios, a experienciar uma situação semelhante, o que vai de encontro à teoria da
aprendizagem social, sobre a influência do papel dos pais no ato de empreender. Daí
que os resultados obtidos possam ser interpretados à luz da baixa tradição
empreendedora verificada entre os inquiridos, plausivelmente originada pelo baixo nível
de atividade empreendedora do país19. Uma outra justificação para este fenómeno
poderia ser fornecida pelas conclusões do estudo de Chlosta et al. (2012), que defendem
que a influência do contexto familiar sobre a escolha vocacional depende dos traços de
personalidade do indivíduo, nomeadamente do nível da abertura à experiência. Os dados
empíricos não suportam, contudo, qualquer correlação estatisticamente significativa
entre a proporção dos indivíduos cujos pais já fundaram uma organização e os seus
traços de personalidade. Acresce que é nos grupos etários mais jovens que se observa
uma maior frequência de indivíduos com progenitores com atividade empreendedora,
que se vai reduzindo com o avançar da idade dos inquiridos. Conjugando este resultado
com as ilações de Laspita et al. (2012), que mostram que a influência dos pais sobre a
intenção empreendedora dos filhos difere com a idade, com maior preponderância
durante a adolescência do que na infância, parece poder concluir-se que é na juventude
e início da idade adulta que se verifica uma maior influência do comportamento
empreendedor dos pais sobre os filhos.

Para terminar a análise ao perfil do indivíduo, merece ainda referência o facto de o


momentum pessoal experienciado não parecer ser um preditor credível do
19
Segundo o relatório do Global Entrepreneurship Monitor de 2012 (GEM, 2012), Portugal é um dos países com taxas de
empreendedorismo mais baixas, com uma taxa de criação de novos negócios de 7,7% dos indivíduos em idade adulta.

273
comportamento socialmente empreendedor, o que contraria a ideia apontada pela
literatura de que o empreendedorismo social representa uma resposta à necessidade de
mudança na vida do indivíduo (Ármannsdóttir, 2011; Katre & Salipante, 2012; London
& Morfopoulos, 2010; I. Popoviciu & S. Popoviciu, 2011).

7.1.3 Influência dos objetivos pessoais no desencadear da iniciativa social


O estudo empírico confirmou a relevância positiva dos objetivos pessoais do
empreendedor na decisão de criação da iniciativa social. Daqui resulta que quando os
indivíduos se envolvem no empreendedorismo social o fazem tendo em consideração os
propósitos que pretendem alcançar (determinação social, afiliação para com uma dada
comunidade e objetivos de caráter pessoal), o que confirma a tese da intencionalidade
para um comportamento empreendedor apontada por Naffziger et al. (1994).

O objetivo que predomina na decisão é a determinação social, confirmando-se a ideia de


que as causas sociais estão na base da criação da iniciativa (Bacq et al., 2011; Beugré,
2011; Dees, 1998; Drayton, 2002; Kramer, 2005; Leahy & Villeneuve-Smith, 2009;
Yunus, 2011), muito embora coexistam outros motivos de cariz não exclusivamente
social (Mair & Martí, 2006; Roger & Osberg, 2007; Sharir & Lerner, 2006). Segue-se a
criação de valor social, onde surge com destaque a afiliação para com uma determinada
comunidade, o que corrobora os argumentos adiantados por Schepers et al. (2005) e
Miller et al. (2012), para quem a intenção socialmente empreendedora envolve um
sentimento de afiliação, compaixão ou de altruísmo.

Para as motivações de natureza pessoal, concorrem essencialmente o desenvolvimento


profissional e as competências do indivíduo (associados à realização pessoal do
empreendedor), não sendo identificados como relevantes os elementos de natureza
pecuniária ou o efeito de free-riding apontado por Ghatak e Mueller (2011). A análise
sugere, igualmente, que seguir o percurso de alguém não é um propósito que influencie
positivamente a predisposição para o empreendedorismo social, contrariando, assim, as
conclusões de Estrin et al. (2011), Griskevicius et al. (2012) ou London e Morfopoulos
(2010). Como anteriormente foi referido, este resultado pode ser justificado pela escassa
tradição nacional em empreendedorismo social e, por consequência, de serem muito
poucos os indivíduos com familiares que possam ter experienciado um percurso
semelhante. Por essa razão, não é possível testar adequadamente a teoria do

274
comportamento contingente de Griskevicius et al. (2012), segundo a qual os indivíduos
tendem a imitar aqueles que são percebidos como prestigiados ou bem-sucedidos na
sociedade.

De referir, ainda, o destaque da realização pessoal nos objetivos de natureza não


exclusivamente social, defendida por Germak e Robinson (2013), que indicam ser este
motivo não negligenciável. Estes autores sustentam ser os indivíduos com necessidades
pertencentes aos patamares superiores da pirâmide de Maslow os mais predispostos para
a prática do empreendedorismo social, o que é, aliás, consonante com a explicação
alvitrada pela literatura, que refere a influência positiva do nível de formação sobre a
criação de uma consciência social e o estímulo das necessidades não primárias do
indivíduo (Estrin et al., 2011; Terjesen et al., 2012).

7.1.4 Perceção da viabilidade da iniciativa social e ação empreendedora


Para terminar, analisa-se a influência dos fatores que promovem o empreendedorismo
social. Assim, confirma-se a influência positiva da perceção da viabilidade da iniciativa
sobre o envolvimento no empreendedorismo social, em particular pela noção de que o
resultado que a iniciativa é capaz de gerar é desejável e de que o indivíduo possui as
capacidades pessoais necessárias para enfrentar o desafio. A favorabilidade do contexto
não é considerada como importante para o envolvimento na iniciativa, sendo-lhe
atribuída uma valoração muito baixa, embora estatisticamente significativa.

Deste modo, os resultados confirmam o modelo de Mair e Noboa (2006) que postula ser
a vontade de desenvolver uma iniciativa social tanto maior, quanto maior for a perceção
da viabilidade da ideia, para o que contribui a perceção de desejabilidade e
exequibilidade da oportunidade social. Estes resultados indicam, depois, que a formação
da intenção social pode ser interpretada à luz da teoria das expectativas de Vroom,
sugerindo-se que quanto maior for a perceção da desejabilidade (valência) dos
resultados e maior a perceção de que se detém as capacidades necessárias para o
desenvolvimento do projeto (expectativa), maior será a propensão para a criação da
iniciativa social. A elevada pontuação verificada no parâmetro da desejabilidade da
iniciativa indicia que os empreendedores sociais valorizam fortemente as consequências
que o modelo de ação é capaz de produzir em termos de resolução de um problema
social ou da criação de valor social.

275
Para a construção da perceção da exequibilidade da iniciativa, verifica-se que o fator
mais relevante é a posse das competências pessoais e não a leitura de um contexto
externo favorável, conclusão que é consentânea com Ármannsdóttir (2011). Para este
autor, o empreendedor social só irá criar a iniciativa quando for capaz de reunir os
recursos e desenvolver as ações necessárias à produção efetiva de determinados
resultados. A literatura assinala, ainda, a relação negativa, entre a perceção do risco da
iniciativa e a decisão de se iniciar um novo projeto (Hoogendoorn et al., 2010; Smith et
al., 2010). Os resultados sugerem, depois, que são as pessoas com um maior locus de
controlo interno, e que acreditam que os resultados a obter são determinados pelo seu
esforço e competência, as que apresentam uma maior propensão para a
empreendedorismo social (Brooks, 2009; Zwan et al., 2010).

Por sua vez, a ideia de que existe uma forte valorização pelos empreendedores sociais
da capacidade para identificar uma necessidade social e de encarar riscos como
oportunidades, é coerente com os modelos propostos por Mair e Noboa (2006) e
Naffziger et al. (1994). Alguns autores reforçam esta ideia, destacando a centralidade do
conceito de oportunidade no desencadear do processo de empreendedorismo em geral
(Drucker, 1985; Kirzner, 1979; Schumpeter, 1934; Shane & Venkataraman, 2000) e,
também, do empreendedorismo social em particular (Bacq & Janssen, 2011; George,
2009; Mair & Martí, 2006; Mort et al., 2003, Peredo & McLean, 2006; Zahra et al.,
2008, 2009).

Como se referiu na análise dos resultados, em termos gerais, verifica-se que a perceção
de favorabilidade do contexto tem uma influência muito baixa sobre o comportamento
socialmente empreendedor. Assim, sugere-se que o facto do contexto externo ser
favorável (por exemplo, através de um regime legal, fiscal, informação ou apoio
disponíveis) não está associado à decisão de criação da iniciativa e que, mesmo numa
conjuntura externa desfavorável, estes indivíduos estariam dispostos a atuar. Esta
constatação, vai de encontro à tese da falha institucional e ao facto de muitas iniciativas
sociais serem desenvolvidas em ambientes externos desfavoráveis. Por outro lado,
indica que é na vacuidade deixada pelas instituições vigentes que reside a motivação
para atuar, o que acontece quando os empreendedores vislumbram uma oportunidade de
criação de valor social e internalizam a consciência de que reúnem a determinação e as
capacidades pessoais necessárias, independentemente da adversidade do ambiente
externo.

276
De referir, ainda, que a baixa ponderação da favorabilidade do contexto na decisão de
envolvimento não se verifica nos perfis etários superiores (55 anos ou mais) nem em
indivíduos que se encontravam reformados à data da criação da iniciativa. Acresce que
os indivíduos que se encontravam empregados ou inativos valorizam mais o
reconhecimento da necessidade social que não estava a ser verdadeiramente satisfeita
(desejabilidade da iniciativa) do que indivíduos em situação de reforma. Daqui resulta
que os indivíduos ainda em idade ativa, a partir do momento em que internalizam o
desejo de resolver o problema social, fá-lo-ão essencialmente por se sentirem seguros
das suas capacidades pessoais, independentemente do contexto que envolve a potencial
iniciativa. Por outro lado, os indivíduos que se encontram reformados e que
possivelmente aliam a intenção social ao exercício de uma nova atividade ocupacional,
poderão não estar predispostos a atuar se percecionarem que o contexto externo lhes é
hostil.

Apesar da experiência anterior em gestão não ser confirmada como um propulsor para a
criação de iniciativas sociais, o que contraria a evidência de Van Ryzin et al. (2009),
verifica-se que exerce influência na forma como o indivíduo constrói a perceção da
viabilidade da iniciativa. De facto, a leitura que os indivíduos com experiência em
gestão fazem resulta, essencialmente, do julgamento quanto à posse das competências
pessoais necessárias, atribuindo uma importância relativa muito baixa à favorabilidade
do contexto. Esta situação contrasta com a valoração semelhante que estes dois
elementos (posse das competências pessoais necessárias e favorabilidade do contexto)
assumem em indivíduos sem experiência de gestão. Do mesmo modo, indivíduos que
nunca criaram uma organização, conferem uma maior relevância à favorabilidade do
contexto externo na decisão de constituição da iniciativa, do que os indivíduos com essa
experiência, ainda que por via dos seus progenitores. Por isso, a aprendizagem e a
experiência, resultantes da criação e gestão de organizações, levam a uma situação de
menor locus de controlo externo por parte do indivíduo (sentindo que através das suas
competências e esforço podem influenciar os resultados das suas ações) e, por essa via,
atuam como mediador nas motivações para um comportamento socialmente
empreendedor. Estas constatações dão suporte aos argumentos de Nga e
Shamuganathan (2010), que apontam a formação em gestão como facilitador da
formação da personalidade do empreendedor social, a que se acrescenta o efeito da

277
experiência sobre a perceção da posse das competências necessárias (autoeficácia) e
sobre um maior nível de locus de controlo interno.

7.2 Estratégia e gestão de recursos nas organizações sociais em


Portugal
O estudo realizado permitiu traçar um retrato das organizações sociais em Portugal,
verificando-se que estas são bastante heterogéneas, seja em termos de dimensão,
número de beneficiários ou áreas de atuação. A análise efetuada mostra que essa
heterogeneidade se estende ao nível das práticas organizacionais, sendo que diferentes
organizações manifestam preferências distintas no que respeita às ações que
privilegiam, permitindo afirmar que os comportamentos desenvolvidos no seio das
organizações influenciam a capacidade de prossecução dos seus objetivos e, por
consequência, o seu nível de sucesso. Este resultado decorre do entendimento adotado
nesta investigação de que o empreendedorismo social é essencialmente um processo
(coletivo) para o qual contribuem os esforços de múltiplos atores articulados em torno
de uma estratégia.

7.2.1 Impacto da estratégia no desempenho


Os resultados alcançados permitiram concluir pela influência positiva que a definição de
uma estratégia tem sobre o desempenho das organizações sociais nacionais, o que
confirma a importância da gestão estratégica. Num contexto de escassez de recursos,
torna-se fundamental o papel desempenhado pelo planeamento estratégico como
orientador e unificador dos comportamentos organizacionais e da aplicação eficiente
dos recursos naquelas que são as prioridades da organização. Essa atuação concertada,
conseguida através do alinhamento dos diversos comportamentos organizacionais,
potencia o alastramento dos efeitos de sinergia e a otimização da capacidade de criação
de valor social.

Os resultados sugerem que a gestão estratégica nas organizações sociais se traduz,


fundamentalmente, na análise ambiental, na formulação da estratégia e na sua
implementação. Estes três elementos, articulados de uma forma integrada e consistente,
serão necessários para tornar mais eficiente a gestão dos recursos organizacionais e,

278
deste modo, o seu desempenho. Porém, a evidência empírica apenas permite suportar o
impacto positivo da análise do ambiente externo na formulação estratégica e do
processo de implementação da estratégia. A análise revela que a envolvente externa
contribui essencialmente para o desempenho económico da organização, o que poderá
ser justificado pelo maior ajustamento entre os recursos e capacidades da organização
social, interpretação que é congruente com Ronda-Pupo e Guerras-Martin (2012). Estes
autores referem que é através da estratégia que se estabelece uma ponte entre a empresa
e o seu ambiente externo. No mesmo sentido se pronunciam Zamanian et al. (2011),
defendendo a forte sensibilidade das organizações sociais ao contexto externo. Porém,
os resultados identificaram não só a importância da análise do ambiente geral, como
também do ambiente de tarefa (setor social), dando suporte ao alerta lançado por Brenes
et al. (2008) sobre a necessidade de uma monitorização contínua, sistemática e
extensiva deste sub-segmento do ambiente externo. A importância atribuída à análise
das forças que envolvem a organização é, aliás, consoante com o ‘estado de alerta’
desde cedo defendido por Kirzner (1979) e com a orientação para o mercado,
sublinhada como um dos atributos que distinguem o empreendedorismo social das
organizações sociais tradicionais (Krlev, 2012; Nissan et al., 2012). A atenção à
envolvente externa reforça o caráter proativo da organização, que lhe permite
desenvolver as suas ações como uma resposta ativa e dinâmica às oportunidades de
mercado, procurando moldar o ambiente a seu favor (Blesa & Ripollés, 2003; Morris et
al., 2011a). Esta atuação reflete, igualmente, a capacidade de aprendizagem e de
adaptação contínua apontadas por Dees (2001).

Um outro contributo positivo para o desempenho da organização é a implementação da


estratégia, muito embora a influência, neste caso, se exerça essencialmente por via do
desempenho social. Constata-se, assim, que para o desempenho organizacional é mais
importante a implementação da estratégia do que a sua formulação, que não foi
identificada como estatisticamente significativa. Deste modo, confirma-se a ideia já
avançada de que a formulação de uma estratégia, sendo uma condição necessária para o
sucesso da organização, não é condição suficiente. Os resultados obtidos vão de
encontro às conclusões de Hrebiniak (2006), que defende ser o baixo desempenho das
empresas em geral, consequência das dificuldades de implementação da estratégia. O
melhor desempenho encontra-se, justamente, nas organizações sociais que centram a
sua atenção na implementação da estratégia, nomeadamente por via de uma visão

279
coletiva detida pelos elementos que compõem a organização, de uma liderança
visionária que guia e acompanha os seus destinos (Dobni, 2003) ou pela presença de um
líder que comunique a estratégia da organização (Brenes et al., 2008). O interesse que
este comportamento organizacional recolhe no processo coletivo em que o
empreendedorismo social se consubstancia, não será possível sem o alinhamento e
coordenação do esforço de todos os que integram a organização social e sem uma
efetiva criação de valor.

Merece ainda referência, a elevada valoração que as organizações sociais atribuem à


definição da missão, o que reforça a particular importância que a missão (social) assume
para este tipo de organizações (Dees et al., 2001; Kirk & Nolan, 2010; Wilson & Post,
2013). De acrescentar que a definição da missão é considerada pelas organizações
sociais como mais relevante do que a sua comunicação e divulgação, ainda assim
consideradas muito importantes. Este resultado confere suporte à posição de Dees et al.
(2001), que refere ser da competência do líder a promoção da missão da organização
social.

Muito embora não tendo sido identificada como capaz de explicar as diferenças de
desempenho entre as organizações sociais, verificou-se que estas concedem bastante
importância à formulação da estratégia (como assinalado por Parente et al., 2013c), o
que contraria Baral et al. (2012) e Brooks (2009), que indicam ser a elaboração de
planos de ação e a definição de uma estratégia elementos frequentemente
negligenciados.

7.2.2 Papel dos recursos e da sua gestão no desempenho


Os resultados do estudo permitiram concluir pela relevância da gestão de recursos sobre
o nível de desempenho das organizações sociais, quer os recursos sejam de natureza
tangível (recursos financeiros e recursos tecnológicos), quer intangível (imagem
institucional, reputação, qualidade do serviço prestado e capital social). Parece, por isso,
que a forma como as organizações sociais gerem os seus recursos e capacidades explica
as diferenças de desempenho observadas. Assim, verifica-se a aderência da teoria
baseada nos recursos ao empreendedorismo social, tal como evidenciado empiricamente
por Meyskens et al. (2010a). Esta ilação permite responder ao desafio lançado por

280
Zeyen et al. (2013), quanto à necessidade de investigação adicional sobre a
possibilidade de aplicação desta teoria à esfera do empreendedorismo social.

Os resultados apontam também para uma preponderância dos ativos de natureza


intangível na explicação da heterogeneidade das organizações sociais, o que reforça a
ideia apontada por Barney na década de 90, quando se referiu à importância desta
categoria de ativos no sucesso das organizações. Os recursos intangíveis, que segundo
Collis e Montgomery (1991) não se esgotam com o uso, poderão ser interpretados como
particularmente relevantes no âmbito do empreendedorismo social, em consequência do
ambiente de escassez de recursos que caracteriza este tipo de organizações e da
associação aos valores de cooperação e partilha.

Ao nível dos recursos de caráter tangível, verifica-se a relevância dos recursos


financeiros, nomeadamente a posse dos meios líquidos necessários e a geração de
receitas próprias. A pertinência da gestão dos recursos financeiros poderá ser
interpretada pelos desafios específicos que a natureza híbrida do empreendedorismo
social impõe e pela reconhecida importância da conjugação da sustentabilidade
financeira com a criação de valor social. No entender de Boschee e McClurg (2003),
Gras e Mendoza-Abarca (2013), Mair (2010) e Weerawardena et al. (2010) estas
preocupações são essenciais ao conceito de empreendedorismo social. Os resultados
obtidos validam a ideia de que para a construção de um equilíbrio económico, sempre
difícil de alcançar, são fundamentais os recursos financeiros. Estes recursos são
necessários para assegurar a continuidade dos programas da organização social e para a
maximização do valor gerado na sociedade. A gestão de recursos financeiros, em
especial a obtenção de donativos, mais associada ao modelo caritativo e assistencialista,
não mostrou uma associação a um maior nível de desempenho organizacional. Pelo
contrário, observa-se uma associação de sentido negativo, embora sem relevância
estatística, o que sugere que uma maior ênfase na obtenção de donativos estará
associada a um modelo menos empreendedor e, por isso, a um menor desempenho na
dimensão económica. Este resultado poderá ter ainda uma outra leitura, que sugere
serem as organizações com pior desempenho económico (e com maiores problemas de
autossuficiência), as que mais valorizam a obtenção de donativos.

Sublinhe-se, ainda, que as fontes de financiamento menos valorizadas pelas


organizações sociais são os subsídios e as subvenções públicas, o que indicia a sua

281
determinação em depender o menos possível da ajuda fornecida pelo Estado. Ainda
assim, esta fonte de obtenção de meios financeiros é qualificada como importante ou
muito importante por metade das organizações sociais portuguesas.

A valorização das fontes de recursos financeiros que se regem por lógicas


aparentemente antagónicas evidencia que o empreendedorismo social é um campo
híbrido por excelência e bastante heterogéneo. Como Nicholls (2008) refere, estas
organizações situam-se algures entre um continuum delimitado pelas formas
organizacionais puras - as organizações comerciais privadas, que assumem uma total
dependência de estratégias de geração de rendimento, e as organizações sem fins
lucrativos tradicionais, dependentes de fontes unilaterais de recursos financeiros. Aqui
se revela de sobremaneira a dificuldade de prosseguir um modelo totalmente
autossustentável, pelo que em paralelo com a elevada importância atribuída à geração
de receitas próprias, subsiste a valorização de donativos enquanto fonte de rendimento,
o que permitirá minimizar a insuficiência de meios financeiros da organização social.

Contrastando a valorização das diferentes fontes de financiamento com a evidência


empírica, verifica-se que os resultados estão de acordo com os encontrados por
Villeneuve-Smith e Chung (2013), nomeadamente no que respeita à baixa importância
conferida a donativos e subvenções públicas. De facto, a capacidade para realizar as
necessidades financeiras com base em receitas próprias apenas é conseguida por menos
de um terço das organizações, o que é inferior à identificada por Baral et al. (2012),
Leahy e Villeneuve-Smith (2009) e Villeneuve-Smith e Chung (2013), mas superior à
assinalada por Zhang e Swanson (2013) para o caso canadiano. Constata-se, assim, e à
semelhança de outros estudos (Hare et al., 2007; Parente et al. 2013c; Zhang &
Swanson, 2013), que a maioria das organizações sociais não consegue atuar única e
exclusivamente com base em receitas próprias, o que mostra a grande dificuldade em
alcançar uma situação de autossuficiência financeira.

Em termos de fontes de geração de receitas próprias, a par com a baixa diversificação


do número de fontes a que recorrem, observa-se um claro predomínio das receitas
resultantes de quotas pagas pelos membros da organização social, seguidas pelo preço
cobrado como contrapartida da venda de um bem ou serviço. Esta análise permite
concluir pela forte relevância dos rendimentos relacionados com a missão da
organização, o que contrasta com as conclusões de Bacq et al. (2011), que apontam para

282
uma expressão relativamente pequena da venda de produtos e serviços sobre a geração
de receitas.

O estudo revela, ainda, que a importância atribuída às diferentes fontes de


financiamento não difere substancialmente em função da idade da organização,
defraudando a expectativa de que à medida que as organizações atingem um maior
estádio de maturidade atribuem maior relevância à capacidade de geração de receitas
próprias, em detrimento de uma situação de dependência financeira. Este resultado, para
além de curioso, é contrário às posições veiculadas na literatura (Dees, 1998; Bacq et
al., 2011). De igual modo, não se verifica qualquer correlação entre a importância
atribuída a diferentes fontes de recursos financeiros e a dimensão da organização, o que
contraria os resultados de Leahy e Villeneuve (2009), que defendem a necessidade de
obtenção de uma determinada escala, para garantir uma menor dependência de
donativos e um acesso mais facilitado a subvenções públicas.

Merece igualmente referência o facto de as organizações sociais nacionais conferirem


maior valoração à libertação de recursos para as atividades diárias do que para os
investimentos de expansão. Esta conclusão poderá conduzir a duas possíveis
interpretações, ambas alimentadas pelas dificuldades financeiras da organização. Por
um lado, poderá denotar a ausência de uma consistente orientação estratégica, em prol
de um enfoque essencialmente de curto prazo. Por outro lado, poderá indiciar falta de
ambição para fazer crescer a organização, levando os seus responsáveis a preocuparem-
se mais com a angariação de recursos suficientes para assegurar as atividades correntes
e a continuidade das suas operações, do que em fazer crescer e expandir a organização
social.

De salientar, depois, que a evidência empírica disponível afasta a preocupação lançada


por Smith et al. (2010), quanto aos riscos da prossecução de estratégias de geração de
receitas próprias sobre o exercício da missão social da organização, pois não se encontra
qualquer associação estatisticamente significativa entre a gestão de recursos financeiros
e o desempenho social da organização.

Um outro recurso de natureza tangível apontado como relevante para o sucesso das
organizações sociais são os recursos tecnológicos, em particular por via do nível de
desempenho económico alcançado. Os resultados indicam que a gestão de recursos
tecnológicos está positivamente associada à maioria das componentes de gestão de

283
recursos, o que comprova a importância central que este ativo assume para as
organizações sociais. Os recursos tecnológicos poderão ser importantes para a eficiência
dos processos organizacionais ou constituir importantes veículos para a formação das
perceções dos seus stakeholders. Poderão também contribuir para a construção da
reputação e perceção da qualidade da organização, bem como para afirmar a sua
identidade na sociedade. Estas ilações são congruentes com Nevo e Wedo (2010) e
Nelson e Igou (2013) no que respeita à importância estratégica das tecnologias de
informação no empreendedorismo social, corroborando, de igual modo, as constatações
de Parente e Costa (2013) sobre a forte utilização de instrumentos de comunicação
virtual nas organizações socialmente empreendedoras em Portugal.

Os recursos materiais (e a sua gestão) não foram confirmados como determinantes para
o sucesso das organizações sociais. Esta análise poderá sugerir uma certa
desmaterialização da atividade do empreendedorismo social, acentuada pelo facto de ser
um processo essencialmente mão-de-obra intensivo, onde outras categorias de recursos
se afiguram como mais relevantes do que a componente física. A ideia de ‘se fazer as
coisas com as próprias mãos’ ou de ‘fazer as coisas com aquilo que se tem à mão’,
presentes no conceito de bricolagem social (Kickul et al., 2010), poderá levar a que a
dimensão social seja colocada em segundo plano. Com efeito, o facto dos recursos
materiais serem a categoria de recursos menos valorizada e de não serem assinalados
como capazes de explicar o sucesso das organizações sociais, indicia, ainda que
parcialmente, a presença do conceito de bricolagem social. Os resultados obtidos são
ainda coerentes com a ideia defendida pela teoria dos recursos, de que não são os
recursos (neste caso físicos) por si próprios, quem cria as vantagens competitivas, mas
sim a forma como são agregados e utilizados para a formação das competências
organizacionais (Finney et al., 2008; Foss et al., 1995; Killen et al., 2012; McKelvie &
Davidsson, 2009; Rumelt et al., 1991). Daqui resulta a confirmação de que nem todos
os recursos são capazes de conferir vantagens competitivas (Barney & Clark, 2007;
Finney et al., 2008; Greco et al., 2013) e que não é nos recursos de natureza material
que se forma a heterogeneidade das organizações sociais.

A evidência empírica disponível não encontra suporte para a influência positiva da


gestão de recursos humanos sobre o desempenho da organização, o que contraria as
conclusões de Sharir e Lerner (2006) e Bloom e Smith (2010). No entanto, salienta-se
que os elementos da gestão de recursos humanos mais próximos de uma atuação

284
empreendedora (gestão de colaboradores e trabalho em equipa) estão associados à
grande maioria das dimensões de recursos em análise, com particular intensidade nos
recursos de natureza intangível. Esta situação é sublinhada por Guclu et al. (2002) que
apontam para a importância dos recursos humanos na captação de outros recursos. A
gestão de recursos humanos poderá, por isso, ser vista como um elemento mediador,
que influencia outros comportamentos organizacionais e a forma como outros recursos
são geridos dentro da organização, pelo que poderão ser interpretadas como uma
variável indireta na explicação do desempenho das organizações sociais. Acresce que a
não observação de uma correlação da gestão de voluntários com os demais
comportamentos organizacionais alimenta o alerta de Dees (1998) e Gallagher et al.
(2012) sobre os riscos de uma forte dependência do trabalho de voluntários. Estes riscos
podem originar fraquezas para a organização social na medida em que não se verifica
uma verdadeira articulação com a estratégia da organização.

A forte valorização encontrada na gestão de recursos humanos é compatível com os


resultados de Ferreira (2005) e Parente (2013), que constatam que a maioria das
organizações desenvolve práticas de gestão de recursos humanos, muito embora se
identifiquem debilidades na sua gestão (Parente, 2013).

No que respeita aos recursos de caráter intangível, a análise permitiu concluir pela
importância da imagem, reputação, gestão da qualidade e capital social sobre o
desempenho das organizações sociais portuguesas.

A análise revela uma forte interconexão entre a gestão da imagem institucional e um


elevado número de variáveis, que suporta a ideia de que a imagem da organização
melhora a sua capacidade para mobilizar e gerir recursos (Ewing & Napoli, 2005;
Kylander & Stone, 2012; Michel & Rieunier, 2012), ao mesmo tempo que facilita a
gestão das perceções externas junto dos seus públicos (Kylander & Stone, 2012). Nota-
se uma particular valorização deste ativo por parte das organizações mais recentes,
congruente com os trabalhos de Villeneuve-Smith e Chung (2013) que assinalam as
dificuldades que as questões de marketing representam para as organizações mais
recentes. Merece também destaque a importância que estas organizações atribuem à
posse de um site, o que comprova o interesse das novas tecnologias para a comunicação
com os diferentes públicos (Viana, 2012), e a forte presença dos meios de comunicação
virtual nas organizações do terceiro setor em Portugal (Parente & Costa, 2013).

285
A evidência empírica permitiu, depois, concluir pela importância da reputação sobre o
desempenho organizacional, encontrando-se suporte para os argumentos desenvolvidos
por Bae e Cameron (2006) e por Ang e Wight (2009) quanto à mais-valia que este ativo
proporciona, bem como à sua importância para as decisões de financiamento
(Ármannsdóttir, 2011).

De destacar que a gestão das perceções apresenta uma forte associação positiva com os
elementos da gestão estratégica (análise ambiental, formulação da estratégia e
implementação), coerente com a posição defendida por Freeman e McVea (2001) de
que a gestão do relacionamento com os stakeholders torna a organização mais sensível
ao ambiente externo e promove a sua capacidade de ajustamento.

Um outro comportamento assinalado como catalisador para o sucesso organizacional é a


gestão da qualidade. De facto, a literatura (Ang & Wight, 2009; Alamgir &
Shamsuddoha, 2004; Gorla et al., 2010; Green et al., 2007; Suuroja, 2003) assinala que
a extensão com que a organização vai de encontro às necessidades/expectativas dos seus
utilizadores é determinante para o seu desempenho. Deste modo, a preocupação com a
gestão da qualidade traduz a sua orientação para o mercado e reforça o seu caráter
empreendedor. De notar que a gestão da qualidade se encontra correlacionada com
todos os comportamentos organizacionais em análise, exceção feita à gestão de
voluntários e obtenção de donativos, elementos mais próximos da gestão de
organizações sem fins lucrativos tradicionais. A gestão de qualidade confirma-se, assim,
como um elemento essencial às organizações mais empreendedoras e que procuram a
produção de um maior nível de desempenho. Esta atenção para a qualidade poderá ser
particularmente útil ao empreendedorismo social em virtude do ambiente de escassez de
recursos em que operam, que obriga à procura da excelência na forma como se
desenvolvem os processos organizacionais de modo a evitar desperdícios e a canalizar
os escassos recursos disponíveis para as verdadeiras necessidades dos seus públicos.

Adicionalmente, a gestão da qualidade é particularmente apreciada pelas organizações


mais recentes, o que poderá refletir uma maior consciencialização sobre as mais-valias
que o processo de gestão da qualidade e de melhoria contínua podem produzir. Ao
mesmo tempo, podem indiciar a necessidade sentida pelas organizações em início de
atividade de obter legitimidade junto dos seus públicos, só possível através da

286
transparência dos processos de gestão e de um desempenho organizacional que vá de
encontro às expectativas dos seus stakeholders.

Um último recurso confirmado como relevante para o sucesso das organizações foi o
capital social. Esta constatação é congruente com os resultados de Sharir e Lerner
(2006) e com a posição defendida por um número significativo de autores (Austin et al.,
2006; Chell, 2007; Leadbeater, 1997; Mair & Martí, 2006; Mair & Schoen, 2005;
Sakurai, 2008). A presença deste ativo apenas se correlaciona, e de uma forma bastante
moderada, com um único comportamento organizacional - a geração de receitas
próprias -, não se encontrando suporte para a preposição de que o capital social facilita o
acesso a outros recursos (Marshall, 2011; Meyskens et al., 2010b; Seelos et al., 2011).
A análise revela, ainda, que o capital social das organizações é constituído por ligações
com diferentes intervenientes, uns mais próximos do indivíduo (laços fortes) e outros
mais distantes (laços fracos).

7.2.3 Práticas de avaliação dos resultados e ajustamento organizacional


Terminada a discussão do impacto dos comportamentos organizacionais sobre as
diferenças de desempenho nas organizações sociais em Portugal, interessa agora avaliar
o contributo das práticas de avaliação dos resultados para o ajustamento nos
comportamentos organizacionais. Isto significa analisar os efeitos de retroação que as
práticas de avaliação têm sobre os comportamentos organizacionais.

Em termos globais verifica-se que as organizações sociais valorizam fortemente o


processo de mensuração de resultados. Este resultado é congruente com os resultados de
outros investigadores (Baral et al., 2012; Parente et al., 2013c; Villeneuve-Smith &
Chung, 2013) e com a ideia de que os empreendedores sociais são orientados para o
desempenho, apresentando uma elevada capacidade de autocorreção (Bornstein, 2007;
Dees, 2001; Light, 2006a) e de prestação de contas aos stakeholders da organização
(Dees, 2001). A importância conferida à medição dos resultados, embora presente em
todas as organizações sociais nacionais, é mais expressiva em organizações mais
recentes, o que vai de encontrado aos resultados obtidos por Villeneuve-Smith e Chung
(2013).

287
As correlações entre as variáveis revelaram, à semelhança de Zhang e Swanson (2013),
que a cultura de avaliação tem uma influência positiva sobre o desempenho da
organização, seja na sua dimensão social, seja na sua dimensão económica. Para além
deste impacto positivo, a análise aponta para que os sistemas de mensuração de
resultados auxiliem os processos gestionários, pois influenciam os comportamentos
organizacionais e viabilizam um ajustamento dinâmico das ações organizacionais para o
alcance dos objetivos pretendidos. Com efeito, a medição de resultados está
positivamente associada ao processo estratégico da organização, em particular no que
diz respeito à formulação e implementação da estratégia, justificada por um maior
autoconhecimento das capacidades internas da organização (recursos e competências) e
do ambiente que a rodeia. Esta realidade, permite a conceção e desenvolvimento de uma
estratégia mais ajustada à realidade da organização, o que ao mesmo tempo facilita a
sua implementação.

Verificou-se, de igual modo, uma associação da medição de resultados com a gestão de


recursos humanos (com exceção da gestão de voluntários), que poderá traduzir um
maior alinhamento dos colaboradores (e equipas de trabalho) com os propósitos da
organização e maior monitorização das metas a alcançar. Assinala-se, depois, que a
medição dos resultados apenas se encontra correlacionada com uma das dimensões da
gestão de recursos financeiros (a obtenção de donativos), o que implica um maior
envolvimento, e até dependência, face a terceiros. Por isso, é que a prestação de contas é
importante para se conquistar a adesão dos doadores. No entanto, não deixa de ser
curioso sublinhar que este processo de prestação de contas parece influenciar apenas a
disponibilidade para a doação de recursos financeiros (donativos) e não a doação de
tempo (voluntariado). Pelo contrário, a perceção que as organizações têm é que a
prestação de contas é ligeiramente mais importante para atrair voluntários do que para
angariar donativos.

Adicionalmente, existe uma forte associação da avaliação de resultados com a gestão de


recursos de natureza intangível, o que parece reforçar o papel que o processo de
prestação de contas desempenha na legitimação da organização e na manutenção da sua
relação com os stakeholders (Austin et al., 2006, 2008; Kaplan & Grossman, 2010;
Nicholls, 2008, 2009b; Pache & F. Santos, 2013; VanSandt et al., 2009).

288
Em síntese, a relação entre os comportamentos (estratégia e gestão de recursos) e o
desempenho nas organizações sociais é de sentido bidirecional e interativo, o que valida
o modelo de investigação proposto. Deste modo, parece poder concluir-se que o
processo de gestão dos comportamentos nas organizações sociais nacionais é
determinado não só pelo desempenho organizacional, mas também pela avaliação
cíclica das ações organizacionais desenvolvidas. Porém, se por um lado os
comportamentos organizacionais influenciam o nível de desempenho, por outro, a
análise dos resultados obtidos (por comparação com os desvios verificados) condiciona
os ajustamentos a introduzir nas ações de gestão, que por sua vez irão afetar o nível de
desempenho organizacional.

Terminada a discussão dos resultados, segue-se o capítulo da conclusão, que inclui a


síntese dos principais resultados obtidos, a formulação das recomendações daí
decorrentes, bem como uma reflexão sobre as principais limitações da investigação e as
pistas de investigação futura.

289
CONCLUSÃO
CONCLUSÃO

O objetivo desta investigação foi o de compreender quais os fatores que influenciam o


processo de decisão de criação de iniciativas de empreendedorismo social em Portugal.
Por outro lado, interessava perceber em que medida as atividades de gestão
desenvolvidas pelos responsáveis das organizações sociais em Portugal tinham impacto
ao nível do seu desempenho.

A investigação procurou estudar uma área relativamente recente, em franca expansão e


de enorme interesse científico e prático. Do ponto de vista científico, apesar de ser uma
área com um aumento muito expressivo da investigação sobre o tema, muitas são ainda
as áreas que necessitam de uma maior produção de conhecimento, verificando-se que
alguns temas são abordados de uma forma bastante fragmentada (Zhang & Swanson,
2013). Com este estudo esboçou-se um modelo de investigação que procurou explorar
alguns vértices importantes do empreendedorismo social de uma forma holística e
sistematizada.

Apesar de alguns estudos abordarem já os fatores de promoção da iniciativa social,


procurou-se alargar o número de variáveis e sistematizar os diferentes agregados que
influem sobre o comportamento socialmente empreendedor, contemplando não só uma
abordagem ao perfil do empreendedor, mas também uma abordagem contingencial. No
que se refere aos comportamentos necessários a um maior nível de desempenho,
abordou-se a gestão estratégica das organizações sociais e a aplicação da teoria baseada
nos recursos ao empreendedorismo social, explorando-se uma área em que a produção
científica é ainda escassa e um pouco ‘avulsa’, na medida em que a maioria tende a
focar-se em ações organizacionais em específico.

Os estudos empíricos são ainda considerados escassos (Hoogendoorn et al., 2010; Short
et al., 2009), em particular os de natureza quantitativa, permitindo esta investigação
aumentar a produção de conhecimento sobre o tema. Em Portugal, apesar da produção
que recentemente começa a emergir, o empreendedorismo social permanece ainda como
uma área não totalmente esclarecida. Por isso, este estudo permitiu definir melhor os
contornos do empreendedorismo social em Portugal, traçar o perfil dos empreendedores

293
sociais, identificar os fatores que induzem o desencadear das iniciativas sociais e avaliar
como a estratégia e a gestão de recursos afetam o desempenho das organizações sociais.

A investigação permitiu, depois, verificar a aderência de algumas das teorias já


existentes no âmbito do empreendedorismo em geral ao empreendedorismo social em
particular, como por exemplo, a teoria do comportamento planeado, a teoria da
intencionalidade na escolha ocupacional, a teoria da empresa, a teoria baseada nos
recursos ou a gestão estratégica.

Para analisar esta problemática foi necessário enquadrar o tema, começando-se, no


capítulo 1, pela delimitação dos conceitos de empreendedorismo social, empreendedor
social e organização social. Identificados os conceitos-chave procedeu-se, no capítulo 2,
à explicação da razão de ser do empreendedorismo social, bem como das características
que o diferenciam de outros campos de atividade que lhe estão próximos. Seguiu-se, no
capítulo 3, a recensão da literatura sobre os fatores que estão na origem da criação da
iniciativa social e que despertam no indivíduo a vontade de ser um empreendedor social.
No capítulo 4, analisaram-se as atividades de gestão desenvolvidas no seio da
organização social, procurando-se encontrar uma relação entre essas atividades e o
desempenho organizacional. Construído o quadro teórico de referência, avançou-se, no
capítulo 5, para o desenho da investigação e a definição da metodologia de pesquisa,
que permitiram depois formular as hipóteses de investigação. No capítulo 6,
apresentam-se os resultados do inquérito por questionário administrado a responsáveis
de ONGD e de projetos cotados na BVS que, depois de analisados, foram usados para
proceder ao teste das hipóteses de investigação. No capítulo 7, confrontou-se a
evidência empírica já existente com os resultados alcançados no estudo. A investigação
encerra agora com as principais conclusões.

a) Síntese dos resultados

A primeira questão de investigação formulada procurou compreender quais os fatores


que exerciam maior influência na criação da iniciativa social em Portugal. O estudo
realizado permitiu confirmar a existência de um conjunto de fatores capaz de aumentar
a predisposição para a criação de uma organização socialmente empreendedora. Os
traços de personalidade, em particular os indivíduos com um perfil marcado por um
elevado nível de extroversão, de abertura à experiência e de conscenciosidade
apresentaram maior propensão para se tornarem empreendedores sociais. A par desta

294
componente inata, emergiram outros fatores contingenciais como o elevado nível de
formação (em especial nas áreas das humanidades, ciências económicas, engenharia ou
saúde), a posse de um emprego remunerado no setor empresarial, o estar satisfeito com
a sua situação profissional, ter participado em projetos sociais anteriores e a (não)
criação prévia de organizações pelo indivíduo ou pelos seus pais. Estes fatores
mostraram-se positivamente relacionados com a iniciativa social e, por isso, sobre a
propensão para o empreendedorismo social.

Verificou-se depois que existe uma intencionalidade subjacente à criação da iniciativa


social e que essas intenções são um forte preditor do comportamento humano, pois
parecem afetar positivamente o desencadear da iniciativa social. A decisão de criação da
organização é orientada principalmente por três objetivos individuais: a determinação
social, a afiliação para com uma determinada comunidade e o caráter pessoal dos
objetivos. Dos três, o objetivo mais preponderante é a determinação social, isto é, o
desejo de criar valor social. Em paralelo com a forte motivação social, verificou-se que
o empreendedorismo social não é única e exclusivamente orientado por fins altruístas,
sendo encarado como um meio para a prossecução de propósitos de natureza pessoal,
mas não pecuniária. O desenvolvimento de projetos sociais não é visto como uma forma
de replicar o percurso de alguém que se conhece ou admira, mas com o interesse em
criar valor social e a afiliação com uma comunidade em particular. Verifica-se, assim,
que os indivíduos que mantêm uma forte determinação social, uma grande afiliação para
com o próximo e uma grande necessidade de autorrealização são os mais predispostos a
desencadear uma iniciativa social.

A investigação confirmou que a perceção da viabilidade da iniciativa social exerce uma


influência positiva sobre o processo de decisão de iniciar um projeto social e sobre a
criação de uma organização socialmente empreendedora. Para a formação dessa
perceção contribui essencialmente a interpretação pessoal das competências necessárias
ao lançamento e acompanhamento do projeto e o entendimento de que a iniciativa é
desejável, isto é, que irá criar um valor que será bastante apreciado pela sociedade em
geral e pelo público-alvo em particular. A perceção de que o ambiente externo é
favorável tem uma influência muito baixa sobre a decisão de criação da iniciativa social,
o que sugere o predomínio da convicção em relação às próprias competências para criar
valor social, sobre a existência de um contexto externo favorável.

295
A par deste conjunto de fatores, confirmados como capazes de influenciar positivamente
a promoção das iniciativas sociais, identificaram-se a existência de três perfis de
empreendedores sociais, todos eles orientados por um forte desejo de criação de valor.
Um primeiro alia a prática do empreendedorismo social, na condição de voluntário, ao
exercício de outras atividades profissionais remuneradas que já exercia, e com as quais
se encontra satisfeito. Um outro grupo é composto por indivíduos que se encontram já
em idade de reforma e que estabelecem a sua cooperação a título de voluntariado. Uma
terceira categoria é composta por indivíduos em idade ativa, que não se encontram
empregados ou estão insatisfeitos com a sua situação profissional, que tendem a
envolver-se no empreendedorismo social como uma atividade profissional remunerada.
Estes resultados reforçam a ideia de que o empreendedorismo social é um campo muito
heterógeno, que engloba perfis bastante diferenciados e que permite colmatar diferentes
necessidades individuais, apresentando como denominador comum a vontade de criar
valor social. Os resultados mostram que os indivíduos quando se tornam
empreendedores sociais o fazem de uma forma intencional e refletida, estando
conscientes e comprometidos com uma necessidade social e tendo avaliado
devidamente os ‘custos pessoais’ da sua intervenção que configurará o modo como irão
cooperar com a organização.

Concretizada a intenção de constituir a iniciativa social, iniciam-se as atividades


necessárias à exploração da oportunidade social, que serão desenvolvidas dentro do
suporte institucional que a organização social oferece. O comportamento organizacional
será orientado para a criação sustentada de valor social. Porém, os desafios enfrentados
pelas organizações sociais tornam difícil a produção de valor social. Importa, por isso,
compreender o que distingue as organizações bem-sucedidas das que não o são,
avaliando de que forma é que as diferenças de desempenho encontradas são justificadas
pelos comportamentos de gestão no seio da organização social.

O estudo realizado mostrou que a definição de uma estratégia contribui positivamente


para o desempenho das organizações sociais, com destaque para os procedimentos de
análise do ambiente externo e para o processo de implementação da estratégia. O
sucesso das organizações sociais parece ser explicado pela forma como são geridos os
recursos organizacionais, quer os de natureza tangível quer intangível. Nos recursos
tangíveis, verificou-se que as organizações mais bem-sucedidas são aquelas que
atribuem maior importância à gestão de recursos financeiros e à gestão de recursos

296
tecnológicos. Para além da importância da gestão dos recursos tangíveis, os resultados
sublinham a influência positiva dos recursos de natureza intangível (imagem, reputação,
qualidade do serviço prestado e capital social), identificados como sendo capazes de
explicar um melhor nível de desempenho.

Constatou-se, finalmente, que o empreendedorismo social aglutina um processo


gestionário contínuo em que, se por um lado, os comportamentos organizacionais
implementados determinam o nível de desempenho da organização, por outro lado, a
mensuração dos resultados obtidos (e o seu confronto com o nível pretendido)
condiciona a (re)definição das novas práticas organizacionais.

b) Recomendações

O conhecimento dos fatores que exercem maior influência na criação da iniciativa social
poderá permitir estimular indiretamente o nível de atividade social em Portugal, desde
que os poderes públicos atuem sobre os elementos preditores do comportamento
socialmente empreendedor.

A investigação confirmou o efeito positivo da formação sobre a promoção das


iniciativas sociais. Assim, o estímulo à formação, em particular nas áreas de
humanidades, ciências empresariais, engenharia e saúde, sugere-se capaz de aumentar a
predisposição dos indivíduos para o empreendedorismo social. Os resultados sublinham
a importância da experiência e da posse de conhecimentos de gestão prévios para a
formação da decisão. Por isso, afigura-se importante o desenvolvimento de programas
que estimulem as competências de gestão, particularmente importantes para os
indivíduos do género feminino, dada a baixa taxa de empreendedorismo feminino
existente e a maior propensão, em termos marginais, que apresentam para o
empreendedorismo social. De igual modo permitiu determinar a escassa influência que
um contexto externo desfavorável parece exercer sobre a decisão de avançar com a
iniciativa social. Daqui resulta a importância da existência de um contexto (político,
legal, social, económico, tecnológico) favorável ao desenvolvimento de atividades de
empreendedorismo social.

Uma outra área que pode ser trabalhada para aumentar o nível de empreendedorismo
social é o fomento da participação dos jovens em projetos sociais e atividades de
cidadania, apontados como sendo capazes de influir positivamente na adoção de um

297
comportamento socialmente empreendedor na idade adulta. Ao estimular-se a atuação
em áreas sociais está-se a promover a sua participação cívica, a construir valores
culturais importantes ao empreendedorismo social e a consciencializar para a
necessidade de intervenção.

Uma outra constatação importante é o reconhecimento de diferentes ‘perfis de


empreendedores sociais’, que emergem na sequência de contextos pessoais e
profissionais distintos. O conhecimento desta tipologia permite que se possa intervir de
uma forma mais incisiva sobre as ‘potenciais fontes de empreendedores sociais’,
comunicando e divulgando os argumentos mais relevantes para cada um destes
‘segmentos’. Para indivíduos que se encontrem já em idade de reforma, o
empreendedorismo social representa uma área que permite conjugar a ocupação e
realização pessoal do indivíduo com a criação de valor social, cada vez mais importante
num contexto de aumento da esperança média de vida e da importância do
envelhecimento ativo. Para indivíduos em idade ativa que não se encontrem empregados
ou que estejam insatisfeitos com a sua situação profissional, o empreendedorismo social
representa uma interessante alternativa ‘profissional’, onde poderão aplicar as suas
competências pessoais num projeto próprio que cria valor social e que poderá gerar o
próprio emprego.

A investigação indica que apesar de ser mais comum entre os empreendedores sociais a
não criação prévia de outras organizações (pelo indivíduo ou pelos seus pais), os
resultados deverão ser lidos com cautela dado que uma análise mais pormenorizada
indica que a criação de outras organizações é a situação mais frequente em indivíduos
com uma herança empreendedora, podendo os resultados obtidos ser influenciados pela
baixa tradição de empreendedorismo, em particular de empreendedorismo social, no
panorama nacional.

A intensificação do número de organizações sociais é importante, não só pelo valor que


estas são capazes de gerar, mas também pelo efeito de spill over que é capaz de produzir
sobre o nível de empreendedorismo económico do país (Estrin et al., 2011; 2013), pelo
reforço da cultura empreendedora e do capital social existente, e pelas sinergias que é
possível estabelecer entre estes dois ramos do empreendedorismo.

Os fortes desafios económicos e sociais que Portugal atravessa reforçam a importância


da criação de novas iniciativas de empreendedorismo social e também a premência de

298
que estas sejam bem-sucedidas e de que de uma forma efetiva sejam capazes de criar o
valor social esperado.

O estudo permitiu conhecer os comportamentos organizacionais que contribuem para o


sucesso destas iniciativas e que são capazes de explicar as diferenças observadas ao
nível do desempenho organizacional. Estas ilações têm implicações importantes para a
gestão mais eficiente e eficaz das organizações sociais, que podem maximizar a criação
de valor social. Para a economia em geral, as iniciativas sociais bem-sucedidas
apresentam um potencial de resolução (ou atenuação) de problemas sociais graves, de
aumento do nível de emprego e do produto interno bruto do país, e de construção de
uma sociedade mais solidária e inclusiva.

c) Limitações da investigação

Como qualquer estudo científico, esta investigação foi condicionada por diversas
limitações. A primeira limitação foi de natureza metodológica, consistindo na
dificuldade em identificar quem são os ‘empreendedores sociais’ e as ‘organizações
socialmente empreendedoras’ em Portugal. Esta dificuldade resulta do facto do
empreendedorismo social em Portugal, ser uma área de investigação ainda a dar os
primeiros passos e, como tal, não se encontrar definido com precisão o âmbito de cada
organização social. Isto significa que não foi possível destrinçar, de uma forma clara e
inequívoca, uma organização que é socialmente empreendedora de uma que não o é.
Acresce a inexistência de uma base de dados que compile todas as organizações de
empreendedorismo social existentes em Portugal.

Atendendo a esta limitação, a solução que se afigurou mais razoável foi a de procurar
organizações que se assemelhassem ao conceito de empreendedorismo social delimitado
pela investigação. Para isso procurou-se dentro do terceiro setor o(s) regime(s) ou
estatuto(s) jurídico(s) que se aproximasse(m) da realidade em estudo. Esta abordagem
não garante, porém, que dentro de outros formatos jurídicos (até fora do terceiro setor)
se possam encontrar iniciativas que se qualifiquem dentro do âmbito do
empreendedorismo social. A posse desse estatuto não é também um garante absoluto de
que estas iniciativas sejam efetivamente sociais, procurando-se mitigar esta limitação
através da triagem inicial das organizações a serem inquiridas, o que aconselha alguma
cautela na generalização dos resultados obtidos.

299
O método de amostragem adotado, que visava preservar a proximidade das
organizações ao empreendedorismo social, limitou a dimensão da amostra, pelo que se
tornou imperativo sensibilizar as organizações selecionadas a participar no estudo, o que
foi conseguido pela grande recetividade dos inquiridos, como sugerem, aliás, as taxas de
respostas obtidas. O número de questionários recebidos permitiu o recurso ao teorema
do limite central, tendo a avaliação prévia dos dados evidenciado bons indicadores de
fiabilidade interna.

Uma outra dificuldade resulta do facto do empreendedorismo social ser uma área de
investigação relativamente recente onde, apesar da intensificação da produção científica
dos últimos anos, permanecerem ainda algumas áreas pouco exploradas, sendo escassos
os estudos empíricos produzidos em Portugal. Na tentativa de converter esta dificuldade
numa oportunidade de investigação, aproveitou-se o ensejo para consolidar, num único
trabalho, questões que têm vindo a ser levantadas e discutidas de uma forma um pouco
fragmentada.

d) Pistas de investigação futura

Apesar do conhecimento produzido pela investigação, muitas são ainda as áreas que
merecem vir a ser exploradas, pois os resultados desta investigação permitiram
identificar outros problemas de investigação cuja exploração no futuro poderá vir a
revelar-se profícua.

A investigação tomou como campo de trabalho o empreendedorismo social em


Portugal. No entanto, seria interessante estender o modelo de investigação a outros
contextos empíricos, de modo a contrastar os resultados obtidos e compreender até que
ponto é que a formação do comportamento empreendedor e os comportamentos
organizacionais diferem entre países.

No que respeita ao estudo da formação das intensões para um comportamento


socialmente empreendedor, a investigação apenas permitiu avaliar a influência de três
traços de personalidade, podendo em futuras investigações avaliar-se o contributo das
dimensões agradabilidade e estabilidade emocional.

Para complementar a compreensão do comportamento do empreendedor social seria


pertinente conhecer quais os fatores que influenciam a decisão sobre a escolha das áreas
sociais a explorar, a sua localização e âmbito geográfico. Seria igualmente interessante

300
conhecer os principais receios que acompanham a decisão do empreendedor social e que
condicionam o seu envolvimento, procurando compreender a relevância que o risco de
falha pessoal ou financeira representam no conjunto dos outros fatores.

Os resultados da investigação apontam para a influência da (não) criação prévia de


outras organizações como condição para o desencadear de uma iniciativa social. Os
resultados não são tão conclusivos quanto se desejaria, verificando-se que a influência
positiva da criação de outras organizações só é evidente após uma análise mais
detalhada de dados em virtude do baixo nível de empreendedorismo social em Portugal.
Deste modo, sugere-se mais investigação sobre os antecedentes da iniciativa social, para
se compreender de que forma é que a experiência, observação e convivência anteriores
reforçam as intenções e se refletem nas escolhas e comportamentos do empreendedor
social.

Para além da compreensão dos fatores que impulsionam o empreendedor social,


interessa também conhecer como se formam as intenções de outros atores importantes
no empreendedorismo social, como colaboradores (assalariados), voluntários, doadores
ou outro tipo de stakeholders. Ao nível dos doadores interessa ainda compreender até
que ponto se verifica, no contexto português, a hipótese da exclusão apontada por Smith
et al. (2012), isto é, em que medida é que a adoção de uma atuação mais empreendedora
e a procura de novas estratégias de geração de rendimento será um propulsor ou inibidor
da obtenção de donativos. Poder-se-á também questionar se o perfil dos doadores
tradicionais é ou não semelhante ao daqueles que recorrem à modalidade de e-
fundrising, tais como a BVS ou plataformas de crowdfunding. Sendo reconhecido o
importante papel que as tecnologias da informação e da comunicação assumem para a
divulgação das organizações sociais, afigura-se importante conhecer até que ponto o
envolvimento físico com a organização é necessário para a formação das intenções de
concessão de apoio.

A análise do processo de decisão conducente à formação da iniciativa social indica que


a envolvente externa (favorável) tem uma ponderação muito baixa na tomada de
decisão. No futuro os estudos poderiam passar pela análise mais objetiva das
condicionantes externas que se mostram capazes de influenciar a propensão para o
empreendedorismo social e podem afetar o desempenho das organizações sociais. Neste
sentido, seria igualmente de avaliar a complementaridade que possa ser estabelecida

301
entre o Estado e as organizações da sociedade civil de modo a procurar maximizar a
obtenção de valor social.

Uma outra área que merece ser estudada é a do perfil, objetivos e perceções do
empreendedor (fatores analisados na criação da iniciativa social), procurando-se
compreender em que medida influem sobre o nível de desempenho da organização
social e de que forma condicionam as suas atividades.

O projeto de investigação aflorou a importância da estratégia e da gestão dos recursos


nas organizações socialmente empreendedoras. Seria pertinente a realização de
investigação adicional, que incidisse de uma forma mais detalhada sobre cada um dos
comportamentos organizacionais. Ao nível da estratégia carece ainda de ser esclarecido
o modo como se formulam as estratégias de crescimento e internacionalização destas
organizações, e quais os fatores que estão na base da sua decisão. Importa ainda
conhecer como são geridas as tensões resultantes da conjugação de duas linhas de fundo
opostas (dimensão social e económica) e qual o peso de cada uma dentro das
organizações socialmente empreendedoras.

Uma outra área a explorar é a da liderança e da sucessão do fundador ou promotor da


iniciativa. No primeiro caso seria interessante conhecer quais as tipologias de liderança
mais comuns nas organizações socialmente empreendedoras. No segundo caso, dado
que o fundador e promotor da iniciativa ocupa geralmente um papel central nestas
organizações, seria pertinente avaliar até que ponto estas organizações estão demasiado
dependentes da figura do empreendedor social e estão definidas estratégias de sucessão.

Poder-se-á também investigar de que modo é que o envolvimento do público-alvo e dos


stakeholders em geral contribui para a conceção da estratégia da organização e dos
novos modelos de resposta social. Ao nível relacional, poder-se-á investigar como se
formam as parcerias e é estabelecida a cooperação entre as organizações, podendo-se
inclusivamente estudar como ocorre a cooperação entre organizações que tratam o
mesmo problema social.

A investigação não identificou a gestão de recursos humanos como capaz de explicar as


diferenças verificadas ao nível do nível de desempenho, questão que mereceria ser
aprofundada em investigações futuras. Ao nível da gestão de recursos humanos poder-
se-ão ainda colocar outro tipo de questões, como a extensão com que as recompensas

302
pecuniárias traduzem um elemento de insatisfação no empreendedorismo social, ou se
este sentimento poderá ser ultrapassado por outros fatores motivacionais. Poder-se-á
ainda estudar se a intensidade motivacional dos colaboradores das organizações
socialmente empreendedoras é superior à dos colaboradores do setor empresarial. Uma
outra área de estudo poderia ser a da gestão da diversidade cultural e de potenciais
choques culturais resultantes da heterogeneidade do capital humano nas organizações de
empreendedorismo social.

Uma outra linha de investigação a aprofundar que se assinala é a da gestão dos recursos
financeiros, onde seria interessante estudar até que ponto os montantes e tipologias de
financiamento existentes no mercado são suficientes para acomodar as necessidades das
organizações sociais e se ajustam à sua natureza idiossincrática. Poder-se-á ainda avaliar
em que medida as organizações conhecem e exploram as novas modalidades de
financiamento disponíveis. Uma outra questão que carece de ser investigada diz respeito
aos principais critérios que regem a concessão de financiamento por parte das
instituições financeiras, onde interessa clarificar o papel que a reputação do
empreendedor e viabilidade da sua iniciativa ocupam na decisão. Poder-se-ia
igualmente estudar a possibilidade de existir uma estrutura ótima de capitais no
empreendedorismo social e qual o peso que as receitas próprias deverão ter na estratégia
de geração de recursos financeiros, avaliando-se a aplicação das conclusões de Smith et
al. (2012) ao caso português.

Este estudo aponta para a relevância do capital social no desempenho das organizações,
sendo necessária investigação adicional para se conhecer como se forma a pertença a
uma rede social e em que medida os diferentes vínculos existentes (fortes e fracos)
contribuem para as diversas atividades organizacionais. Os resultados indiciam, ainda
que parcialmente, a presença do conceito de bricolagem social, que mereceria ser
estudada com maior detalhe em Portugal.

São bastantes as pistas de reflexão e investigação futuras aqui aventadas. Em grande


medida, esta situação decorre da novidade da temática e das oportunidades de
investigação que podem ser suscitadas por este estudo.

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343
ANEXOS
ÍNDICE DE ANEXOS

Anexo 1- Síntese das definições de empreendedorismo social, empreendedor social e


organização social dos autores consultados ................................................................. 351

Anexo 1.1- Definições de empreendedorismo social ............................................... 351

Anexo 1.2- Definições de empreendedor social ....................................................... 354

Anexo 1.3- Definições sobre organização social ...................................................... 356

Anexo 2- Questionário de investigação ........................................................................ 357

Anexo 3- Organizações inquiridas ............................................................................... 365

Anexo 3.1- Organizações não-governamentais de cooperação para o desenvolvimento


.................................................................................................................................. 365

Anexo 3.2- Projetos cotados na bolsa de valores sociais .......................................... 368

Anexo 4- Anexos estatísticos ....................................................................................... 369

Anexo 4.1- Caracterização geral da organização social ........................................... 369

Anexo 4.1.1- Número de segmentos sociais em que as organizações operam ..... 369

Anexo 4.1.2- Organizações sociais que atuam em outros segmentos sociais ....... 369

Anexo 4.1.3- A posição do empreendedor na iniciativa: correlações ................... 370

Anexo 4.1.4 - A posição do empreendedor na iniciativa: distribuição de frequências


............................................................................................................................... 371

Anexo 4.2- Fatores de promoção da iniciativa social ............................................... 373

Anexo 4.2.1- Os traços pessoais do empreendedor ............................................... 373

Anexo 4.2.1.1- Posição do empreendedor em relação a diferentes atitudes


pessoais ............................................................................................................. 373

Anexo 4.2.1.2- Correlações entre diferentes atitudes pessoais......................... 374

Anexo 4.2.1.3- Correlações entre traços de personalidade, características da


organização, perfil demográfico e motivações pessoais do empreendedor ...... 375

Anexo 4.2.1.4- Expressão dos diferentes traços de personalidade em função das


características da organização, do indivíduo e das suas motivações pessoais.. 376

Anexo 4.2.2- Perfil demográfico do empreendedor social.................................... 378

347
Anexo 4.2.2.1- Distribuição dos empreendedores pelas organizações sociais . 378

Anexo 4.2.2.2- Correlações entre variáveis demográficas do empreendedor .. 379

Anexo 4.2.2.3- Características demográficas do empreendedor social em função


das características da organização social, perfil e motivações pessoais do
indivíduo ........................................................................................................... 380

Anexo 4.2.2.4- As experiências pessoais e profissionais passadas do


empreendedor nas diferentes categorias de organizações sociais .................... 381

Anexo 4.2.2.5- As experiências pessoais e profissionais passadas do


empreendedor em função das suas características demográficas e situação
ocupacional na organização .............................................................................. 383

Anexo 4.2.2.6- A influência da área de formação sobre o comportamento


socialmente empreendedor- teste do qui-quadrado .......................................... 384

Anexo 4.2.2.7- A influência do contexto.......................................................... 384

Anexo 4.2.3- Motivações pessoais do empreendedor social- objetivos pessoais e


perceção de viabilidade da iniciativa .................................................................... 385

Anexo 4.2.3.1- A importância atribuída a diferentes motivações pessoais ...... 385

Anexo 4.2.3.2- Correlações entre motivações pessoais.................................... 386

Anexo 4.2.3.3- Correlações entre motivações pessoais, características da


organização, a posição do empreendedor na organização e perfil do
empreendedor ................................................................................................... 387

Anexo 4.2.3.4- A importância dos diferentes objetivos pessoais em função das


características da organização, posição do empreendedor na organização e perfil
do empreendedor .............................................................................................. 389

Anexo 4.3- Comportamentos e desempenho organizacionais .................................. 392

Anexo 4.3.1- Ações estratégicas ........................................................................... 392

Anexo 4.3.1.1 – Valorização atribuída às diferentes ações estratégicas .......... 392

Anexo 4.3.1.2 – Correlações entre ações estratégicas ...................................... 393

Anexo 4.3.1.3 – Correlações entre ações estratégicas e características da


organização ....................................................................................................... 394

348
Anexo 4.3.1.4 – A valorização atribuída às ações estratégicas em função das
características da organização .......................................................................... 395

Anexo 4.3.2- Gestão de recursos ........................................................................... 396

Anexo 4.3.2.1- Valorização atribuída às variáveis de gestão de recursos


humanos ............................................................................................................ 396

Anexo 4.3.2.2- Correlações entre variáveis relativas à gestão de recursos


humanos ............................................................................................................ 396

Anexo 4.3.2.3- Valorização atribuída às variáveis de gestão de recursos


financeiros ........................................................................................................ 397

Anexo 4.3.2.4- Correlações entre variáveis relativas à gestão de recursos


financeiros ........................................................................................................ 397

Anexo 4.3.2.5- Valorização atribuída às variáveis relativas à gestão de recursos


materiais ........................................................................................................... 398

Anexo 4.3.2.6- Correlações entre variáveis relativas à gestão de recursos


materiais ........................................................................................................... 398

Anexo 4.3.2.7- Valorização atribuída às variáveis relativas à gestão de recursos


tecnológicos ...................................................................................................... 398

Anexo 4.3.2.8- Correlações entre variáveis relativas à gestão de recursos


tecnológicos ...................................................................................................... 398

Anexo 4.3.2.9- Valorização atribuída às variáveis relativas à gestão da imagem


institucional ...................................................................................................... 399

Anexo 4.3.2.10- Correlações entre variáveis relativas à gestão da imagem


institucional ...................................................................................................... 399

Anexo 4.3.2.11 Valorização atribuída às variáveis relativas à gestão da


reputação ........................................................................................................... 400

Anexo 4.3.2.12- Correlações entre variáveis relativas à gestão da reputação .. 400

Anexo 4.3.2.13 Valorização atribuída às variáveis relativas à gestão da


qualidade do serviço prestado........................................................................... 401

Anexo 4.3.2.14- Correlações entre variáveis relativas à gestão da qualidade do


serviço prestado ................................................................................................ 401

349
Anexo 4.3.2.15 Valorização atribuída à gestão do capital social ..................... 402

Anexo 4.3.2.16- Correlações entre variáveis relativas à gestão do capital social


.......................................................................................................................... 402

Anexo 4.3.2.17- Correlações entre a importância atribuída à gestão de recursos e


as características da organização ...................................................................... 403

Anexo 4.3.2.18- Valorização atribuída à gestão de recursos em função das


características da organização .......................................................................... 404

Anexo 4.3.3- Desempenho organizacional ........................................................... 406

Anexo 4.3.3.1- Dimensão da organização em função do tipo de organização,


idade e âmbito de atuação ................................................................................. 406

Anexo 4.3.3.2- Correlações entre desempenho, características da organização,


idade e género do empreendedor ...................................................................... 408

Anexo 4.3.3.3- Possibilidade de geração de excedentes em função das


caraterísticas da organização social .................................................................. 409

Anexo 4.3.3.4- Desempenho geral das organizações sociais ........................... 410

Anexo 4.3.3.5- Correlações entre as variáveis de desempenho geral da


organização ....................................................................................................... 410

Anexo 4.3.3.6- Valorização da prática de medição de resultados pelas


organizações sociais ......................................................................................... 411

Anexo 4.3.3.7- Correlações entre variáveis relativas à prática da medição de


resultados .......................................................................................................... 411

Anexo 4.4- Correlações entre comportamentos e desempenho organizacional ....... 412

350
ANEXO 1- SÍNTESE DAS DEFINIÇÕES DE EMPREENDEDORISMO SOCIAL,

EMPREENDEDOR SOCIAL E ORGANIZAÇÃO SOCIAL DOS AUTORES

CONSULTADOS

Anexo 1.1- Definições de empreendedorismo social


Abdou et al. (2010, n.d.) Social entrepreneurship—the use of business methods to achieve a positive
and sustained social impact—provides one platform upon which such a
development model can be built;
Alvord, Brown e Letts Creates innovative solutions to immediate social problems and mobilizes
(2004, p. 262) the ideas, capacities, resources, and social arrangements required for
sustainable social transformations;
Austin et al. (2006 p.2) Innovative, social value creating activity that can occur within or across the
nonprofit, business, or government sectors;

Bacq e Janssen The process of identifying, evaluating and exploiting opportunities aiming
(2011, p.376) at social value creation by means of commercial, market-based activities
and of the use of a wide range of resources;
Bloom e Dees Instead of just trying to alleviate the symptoms of problems, their
(2008, n.d.) organizations are trying to solve the underlying problems;
Brouard e Larivet A concept which represents a variety of activities and processes to create
(2010, p.50) and sustain social value by using more entrepreneurial and innovative
approaches and constrained by the external environment;
CASE (2008, p.1) Innovative and resourceful approaches to addressing social problems;
Cho (2006, p.36) Set of institutional practices combining the pursuit of financial objectives
with the pursuit and promotion of substantive and terminal values;

Clercq e Honig We develop a conceptual framework of social entrepreneurship that focuses


(2011, p.354) on the forces of domination that underlie the integration of disadvantaged
persons into entrepreneurship;
Dees (2001, p.4) Social entrepreneurs play the role of change agents in the social sector, by:
Adopting a mission to create and sustain social value (not just private
value):
 Recognizing and relentlessly pursuing new opportunities to serve that
mission;
 Engaging in a process of continuous innovation, adaptation, and
learning;
 Acting boldly without being limited by resources currently in hand, and;
 Exhibiting heightened accountability to the constituencies served and for
the outcomes created;
Estrin et al. (2011, p.1) We conceptualize social entrepreneurship as a source of social capital
which, when present in the environment, enhances commercial
entrepreneurship;
Estrin et al. (2013, p.481) The efforts toward the creation of viable business resulting from an
individual’s occupational choice to work for his/her own account;

Friedman e Desivilya A range of practices and discourses involving the creation of new and
(2010, p.495) innovative organizations or enterprises to meet human needs and improve
services in fields;
George (2009, n.d.) Social entrepreneurship is a noble business activity that can serve all
segments and classes of a society;
Gras e Mendoza-Abarca Social entrepreneurship refers to the process of creating social value
(2013, p.2) through market-based means;
Haugh (2007, p.743) Social entrepreneurship, the simultaneous pursuit of economic, social, and
environmental goals by enterprising ventures, has gradually found a place
on the world's stage as a human response to social and environmental
problems;

351
Hulgård (2010, p.4) The creation of a social value that is produced in collaboration with people
and organizations from the civil society who are engaged in social
innovations that usually imply an economic activity;
Instituto de Uma abordagem inovadora com o objetivo de melhor resolver problemas
Empreendedorismo Social sociais, com clara missão social, sustentável, passível de ser replicada em
(http://www.ies.org.pt/) outros contextos e com capacidade de produzir impacto social em larga
escala;
Kickul et al. (2010, p.232) Social entrepreneurship is primarily concerned with the creation of social
value for disenfranchised members of society;
Krlev (2012, p.63) Increasing orientation towards business principles in organizations engaged
in the social sphere;
Light (2005, p.25) Social entrepreneurship is not only a process by which social problems are
solved using entrepreneurial strategies but it is also a process of navigating
social and institutional barriers to the markets/community they want to
impact;
Mair e Martí (2006, p.3) A process involving the innovative use and combination of resources to
pursue opportunities to catalyze social change and/or address social needs;

Mair et al. (2012, p.353) SE [Social Entrepreneurship] refers to opportunities and activities that
leverage economic activity to pursue a social objective and implement
social change;
Martin e Osberg Social entrepreneurship is the: 1) identification a stable yet unjust
(2007, p.35) equilibrium which the excludes, marginalizes or causes suffering to a group
which lacks the means to transform the equilibrium; 2) identification of an
opportunity and developing a new social value proposition to challenge the
equilibrium, and 3) forging a new, stable equilibrium to alleviate the
suffering of the targeted group through imitation and creation of a stable
ecosystem around the new equilibrium to ensure a better future for the
group and society;
Morris et al. (2011, p.965) Process incorporates the same behavioral tendencies as entrepreneurship in
the for-profit context;
Murphy e Coombes We define social entrepreneurship as the creation and undertaking of a
(2008, p.326) venture intended to promote a specific social purpose or cause in a context
of mobilization;
Nissan et al. (2012, p.305) Innovative activity of those social companies that carry on a profit activity
to support non-profit activities;
Osborne (2011, p.15) Social entrepreneurs help the poor not only by teaching them to help
themselves but also by changing the conditions and the systems that
maintain the discrepancies in wealth and opportunity that stand in the way
of the poor achieving a better life;
Peredo e McLean Social entrepreneurship is exercised where some person or persons (1) aim
(2005, p.56) either exclusively or in some prominent way to create social value of some
kind, and pursue that goal through some combination of (2) recognizing and
exploiting opportunities to create this value, (3) employing innovation, (4)
tolerating risk and (5) declining to accept limitations in available resources;
Porter e Kramer Pioneering new product concepts that meet social needs using viable
(2010, p.10) business models;
Roberts e Woods Social entrepreneurship is the construction, evaluation, and pursuit of
(2005, p.49) opportunities for transformative social change carried out by visionary,
passionately dedicated individuals;
Robinson (2006, p.95) I define social entrepreneurship as a process that includes: the identification
of a specific social problem and a specific solution ... to address it; the
evaluation of the social impact, the business model and the sustainability of
the venture; and the creation of a social mission-oriented for-profit or a
business-oriented nonprofit entity that pursues the double (or triple) bottom
line;

352
Seelos e Mair We define SE as entrepreneurship that creates new models for the provision
(2005, p.244) of products and services that cater directly to the social needs underlying
sustainable development goals such as the MDGs [Millennium
Development Goals];
Sharir e Lerner Apply business strategies for the purpose of more effective confrontation
(2006, p.16) with complex social problems;
Shaw (2004, p. 195) The work of community, voluntary and public organizations as well as
private firms working for social rather than only profit objectives;

Stryjan et al. (2006, p. 95) Social entrepreneurship is viewed as a category of entrepreneurship that
primarily (1) is engaged in by collective actors, and (2) involves, in a
central role in the undertaking’s resource mix, socially embedded resources;
Stryjan et al. Social entrepreneurship is viewed as a category of entrepreneurship that
(2006, p. 195) primarily (1) is engaged in by collective actors, and (2) involves, in a
central role in the undertaking’s resource mix, socially embedded resources;
Tan et al. (2005, p.360) Making profits by innovation in the face of risk with the involvement of a
segment of society and where all or part of the benefits accrue to that same
segment of society;
Weerawardena e Mort A multidimensional model involving the three dimensions: innovativeness,
(2006, p.31) proactiveness, and risk management;
Weerawardena e Mort A mechanism of NPO strategy development;
(2012, p.92)
Witkamp et al. A new business model that combines a social goal with a business
(2011, p.283) mentality;
Zahra et al. (2009, p.522) Social entrepreneurship encompasses the activities and processes
undertaken to discover, define, and exploit opportunities in order to enhance
social wealth by creating new ventures or managing existing organizations
in an innovative manner;

353
Anexo 1.2- Definições de empreendedor social
Bacq e Janssen The social entrepreneur can be broadly defined as an individual whose
(2011, p.381) main objective is not to make profits but to create social value for which
he/she will adopt an entrepreneurial behavior;
Barendsen e Gardner Social entrepreneurs are individuals who approach a social problem with
(2004, p.43) entrepreneurial spirit and business acumen;
Bornstein (2007, p.1) Transformative forces: people with new ideas to address major problems
who are relentless in the pursuit of their visions, people who will simply
not take ‘no’ for an answer, who will not give up until they have spread
their ideas as far as they possibly can;
Boschee e McClurg A social entrepreneur is any person, in any sector, who uses earned income
(2003, p.4) strategies to pursue a social objective, and a social entrepreneur differs
from a traditional entrepreneur in two ways: (...) their earned income
strategies are tied directly to their mission: (...) are driven by a double
bottom line, a virtual blend of financial and social returns. Profitability is
still a goal, but it is not the only goal, and profits are re-invested in the
mission rather than being distributed to shareholders;
Brouard e Larivet Social entrepreneurs as any individuals who with their entrepreneurial
(2010, p.45) spirit and personality will act as change agents and leaders to tackle social
problems by recognizing new opportunities and finding innovative
solutions, and are more concerned with creating social value than financial
value;
Dees (1998, p.67) True social-sector entrepreneurs are those who find not only additional
sources of funds but also new methods to link funding to performance.
More important, they develop more effective ways to improve conditions
on this planet;
Eikenberry e Kluver Social entrepreneurs are nonprofit executives who pay attention to market
(2004, p.135) forces without losing sight of their organizations’ underlying missions and
seek to use the language and skills of the business world to advance the
material well-being of their members or clients;
Estrin et al. (2011, p.2) Social entrepreneurs can be defined as individuals starting up an
organization which pursues predominantly other-regarding or pro-social
goals, i.e. goals that target societal rather than only private gains, people in
need, or more generally aim to provide benefits to people in addition to or
other than the founders and owners of the organization;
Estrin et al. (2013, p.481) Social entrepreneurs supply needs that are not addressed by for-profit
ventures;
George (2009, n.d.) Social entrepreneurs are usually individuals with novel solutions to
society’s pressing problems. Some social entrepreneurs often work through
nonprofits and citizen groups, while most are now working in the private
sector;
Katre e Salipante Social entrepreneurs develop market-driven ventures to produce social
(2012, p.967) change;
Kim e Yoon (2012, p.156) Social Entrepreneurs (...)are not the enterprisers who pursue economic
rationality which is the maximization of wealth, but the ones who seek for
social rationality, the maximization of social values, becoming the social
change agents with the characteristics of social workers in order to
accomplish social commitment. A social entrepreneur can be defined as the
one who utilizes the principle of corporate management and has
entrepreneurial goals which pursue economic rationality of undertaking for
profit and the objective of economic and social rationality at the same
time;
Korosec e Berman Social entrepreneurs are defined as individuals or private organizations that
(2006, p.448-449) take the initiative to identify and address important social problems in their
communities;
Kramer (2005, p. 6) One who has created and leads an organization, whether for-profit or not,
that is aimed at creating large scale, lasting, and systemic change through
the introduction of new ideas, methodologies, and changes in attitude;

354
Leadbeater (1997, pp.2-3) Social entrepreneurs identify under-utilized resources – people, buildings,
equipment – and find ways of putting them to use to satisfy unmet social
needs. They innovate new welfare services and new ways of delivering
existing services. Social entrepreneurs who deploy entrepreneurial skills
for social ends are at work in parts of the traditional public sector, some
large private sector corporations and at the most innovative edge of the
voluntary sector. (...) are driven, ambitious leaders, with great skills in
communicating a mission and inspiring staff, users and partners. In all
these cases they have been capable of creating impressive schemes with
virtually no resources;
Leadbeater (2008, p.241) Anyone who creates lasting social value trough entrepreneurial activities;
Light (2005, p.50) A social entrepreneur is an individual, group, network, organization, or
alliance of organizations that seeks sustainable, large-scale change through
pattern-breaking ideas in what or how governments, nonprofits, and
businesses do to address significant social problems;
London e Morfopoulos Social entrepreneurs are people who see a problem and resolve to do
(2010, p.28) something about it by using entrepreneurial principles to organize, create
and manage a venture to make social change;
Nissan et al. (2012, p.306) Social entrepreneurs are change agents that have leadership characteristics,
significant personal credibility, integrity and the ability to generate
supporters of their aim, or followers of their project;
Okpara e Halkias A social entrepreneur is, therefore, defined as one who uses his or her
(2011, p.13) leadership and innovative capabilities to find an opportunity to create a
new product, a service, or a new approach to address the most pressing
social issue in the society;
Osborne (2011, p.15) Social entrepreneurs may work in the business, nonprofit, or governmental
sectors. They may start their own enterprises or reform the workings of
existing systems or organizations. What they have in common, however, is
a profund commitment to and understanding of social change;
Patel e Mehta Social entrepreneurs try to tackle the underlying problem and not the
(2011, p.219) symptoms; they recognize and seek to alter the social system that has
created and sustained the problem;
Peredo e McLean To be an entrepreneur may therefore mean being an individual, a member
(2006, p.64) of a group, or an organization who/which carries out the work of
identifying and creatively pursuing a social goal;
Schuyler (1998, p.1) Individuals who have a vision for social change and who have the financial
resources to support their ideas....who exhibit all the skills of successful
business people as well as a powerful desire for social change;
Sharir e Lerner (2006, p.7) A change agent to create and sustain social value without being limited to
resources currently in hand (...) social entrepreneurs establish new
organizations, develop and implement innovative programs, and organize
or distribute new services. Even though they are differently motivated, the
challenges and problems social entrepreneurs face during the initiation,
establishment and institutionalization of their ventures resemble those
faced by business entrepreneurs;
Tan et al. (2005, p.358) A legal person is a social entrepreneur from t1 to t2 just in case that person
attempts from t1 to t2, to make profits for society or a segment of it by
innovation in the face of risk, in a way that involves that society or
segment of it;
Thompson et al. People who realize where there is an opportunity to satisfy some unmet
(2000, p.328) need that the state welfare system will not or cannot meet, and who gather
together the necessary resources (generally people, often volunteers,
money and premises) and use these to ‘make a difference’;
Tracey e Phillips Individuals who combine social and commercial objectives by developing
(2007, p.264) economically sustainable solutions to social problems. It requires social
entrepreneurs to identify and exploit market opportunities in order to
develop products and services that achieve social ends, or to generate
surpluses that can be reinvested in a social project;

355
Anexo 1.3- Definições sobre organização social
Brouard e Larivet Organizations which pursue social missions or purposes that operate to
(2010, p.39) create community benefit regardless of ownership or legal structure and
with varying degrees of financial self- sufficiency, innovation and social
transformation;
Chell et al. (2010, p.485) Social enterprises seek business solutions to social problems;
Costa et al. (2012, p.118) Social enterprises can be defined as private organizations whose mission
is to produce goods and services in the pursuit of objectives that are in the
general interest of local communities, persons or social groups
(sometimes in situations of fragility);
Diochon e Anderson Social enterprises are unusual change organizations; typically their
(2011, p.93) purpose is to bring about change to improve social well-being. Yet they
do so in unusual ways;
EMES in Defourny e Four criteria reflect the economic and entrepreneurial dimensions of
Nyssens (2008, p.43) social enterprises:
 a continuous activity producing goods and/or selling services;
 a high degree of autonomy;
 a significant level of economic risk;
 a minimum amount of paid work;
Five other indicators encapsulate the social dimensions of such
enterprises:
 an explicit aim to benefit the community;
 an initiative launched by a group of citizens;
 a decision-making power not based on capital ownership;
 a participatory nature, which involves various parties affected by the
activity;
 a limited profit distribution;
Gata (2010, p.121) Negócios cujo principal objetivo é criar valor social, e em que os lucros
são reinvestidos na empresa de forma a alcançar o seu principal objetivo,
não visando por isso uma maximização de lucros que revertam a favor da
própria empresa;
Katre e Salipante Social venture describes a wide range of initiatives intended to produce
(2012, p. 967) social change;
Krlev (2012, p. 61) Social Entrepreneurial Organizations’ (SEOs) merge characteristics
usually associated with either civil society or the market in a largely
unprecedented way;
Mair e Schoen (2005, p.3) An initiative that catalyzes social transformation and/or or addresses
social needs. The creation of social value is the primary objective of the
venture, while economic value creation is a necessary but not sufficient
condition;
Seanor et al. (2007, p.2) Social enterprises are socially driven organizations with specific social,
environmental and economic objectives. Seen as part of the social
economy, they utilize business-like skills to create profits that are re-
invested into their social missions;
Travaglini et al. Social Enterprise" is a broad term used to define economic activities
(2009, p.1) aimed at the achievement of social and collective goals by means of an
entrepreneurial organizational structure and system;
Weerawardena e Mort These organizations are characterized by sociality, market orientation and
(2012, p.91) innovation;

356
ANEXO 2- QUESTIONÁRIO DE INVESTIGAÇÃO

Assunto: Inquérito tese de Doutoramento

Exmo(s) Senhor(es),

No seguimento da nossa conversa telefónica, venho por este meio solicitar a vossa
colaboração num inquérito de investigação científica que servirá de base para a minha
tese de doutoramento.

Sou docente no Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto, e estou a


efetuar doutoramento em Gestão na Universidade Portucalense Infante D. Henrique, sob
a orientação do Prof. Doutor José de Freitas Santos, coordenador da área de gestão no
Instituto Superior de Contabilidade de Administração do Porto.

A tese tem como título “Iniciativas inovadoras de empreendedorismo social no terceiro


setor em Portugal: contextos, motivações e fatores de sucesso”. O inquérito, que servirá
de base para a minha tese, tem como objetivo estudar as motivações que conduzem à
criação de iniciativas de empreendedorismo social e analisar quais os fatores que
potenciam o sucesso destas iniciativas.

Deste modo, o inquérito deverá ser preenchido, se possível, por alguém da organização
que tenha estado envolvido na criação e na gestão da iniciativa.

As respostas ao inquérito serão estritamente confidenciais. Os resultados serão tratados


de uma forma agregada, sendo assegurado o anonimato e a confidencialidade da
informação.

Não existem respostas certas ou erradas. O que nos interessa é a sua opinião, utilizando
as escalas disponíveis para o efeito.

Se alguma questão se apresentar de difícil resposta, responda o melhor que puder. O


tempo de resposta a este inquérito é de cerca de 15 minutos.

Para participar por favor utilize o link abaixo.

http://iscap.ipp.pt/survey/index.php?lang=pt&sid=44942&token=zzdjyt3xhtdqi9x

Para qualquer questão poderá utilizar o meu contacto de e-mail


[email protected] ou o meu contacto telefónico.

Agradecia que a resposta não fosse fornecida além do dia 30 de setembro.

A sua colaboração é muito importante. MUITO OBRIGADA.

Susana Bernardino.

357
Iniciativas inovadoras de empreendedorismo social no terceiro setor em Portugal.

O presente inquérito foi elaborado no âmbito da tese de Doutoramento em Gestão,


subordinada ao tema "Iniciativas inovadoras de empreendedorismo social no terceiro
setor em Portugal: contextos, motivações e fatores de sucesso".

O trabalho de investigação visa conhecer as motivações que conduzem à criação de


iniciativas de empreendedorismo social e analisar os fatores que potenciam o sucesso
destas iniciativas.

Os resultados serão tratados de uma forma agregada, sendo assegurado o total anonimato e confidencialidade da informação.
Não existem respostas certas ou erradas. O que nos interessa é a sua opinião, utilizando as escalas disponíveis para o efeito.

O tempo de resposta a este inquérito é de cerca de 15 minutos.


A sua colaboração é muito importante. Muito Obrigada!

Grupo I- Caracterização da Organização


Idade da organização (escolha uma das seguintes respostas):

o 1 – 3 anos
o 3 – 10 anos
o > 10 anos

Localização geográfica:

_____________________________

Âmbito de Atuação (escolha uma das seguintes respostas):

o Local
o Regional
o Nacional
o Internacional

Público-alvo da organização (Escolha uma ou mais opções):

o Pessoas idosas
o Pessoas com deficiência física e/ou necessidades especiais
o Minorias étnicas
o Pessoas com carências financeiras
o Refugiados
o Pessoas com problemas de dependência
o Pessoas socialmente excluídas/vulneráveis
o Animais
o Organizações e associações locais
o Outro: __________________

358
Finalidade da atividade da organização (escolha uma ou mais opções):

o A atividade da organização complementa os serviços oferecidos nos mercados.


o A atividade da organização complementa os serviços disponibilizados pelo Estado.
o A atividade da organização concorre com outros fornecedores.
o A atividade da organização concorre com o Estado.
o A atividade da organização não é disponibilizada nem pelo Estado nem pela iniciativa privada.

Grupo II- Caracterização do Entrevistado


Género (escolha uma das seguintes respostas):

o Feminino
o Masculino

Idade (escolha uma das seguintes respostas):

o < 18
o 18 – 34
o 35 – 54
o 55-64
o > 65

Nível de escolaridade (escolha uma das seguintes respostas):

o Ensino primário
o Ensino secundário
o Ensino superior

Qual a sua área de formação? ________________________________________

Qual a função que ocupa na organização (escolha uma das seguintes respostas)?

o Presidente
o Membro da direção
o Diretor
o Técnico
o Outro _______________

Qual a sua situação ocupacional na organização (escolha uma das seguintes respostas)?

o Colaborador da organização
o Voluntário

Antes de ingressar na organização encontrava-se (escolha uma das seguintes respostas):

o Empregado
o Reformado
o Não ativo

Antes de ingressar na organização trabalhava (escolha uma das seguintes respostas):

o No setor empresarial
o No setor público
o No sector sem fins lucrativos

Identifique a sua posição perante a iniciativa:

Sim Não
Sou um dos fundadores/promotores da iniciativa? ○ ○
Sou membro da gestão da organização? ○ ○

359
Grupo III- Motivações
Motivações anteriores à iniciativa (responda a cada uma das seguintes questões):

Sim Não
Antes desta iniciativa alguma vez criou alguma organização? ○ ○
Os seus pais alguma vez criaram uma organização? ○ ○
Os seus familiares e amigos alguma vez criaram uma organização? ○ ○
Antes de estar envolvido nesta iniciativa já tinha estado envolvido em projetos sociais ○ ○
anteriores?
Antes de se ter envolvido nesta iniciativa já tinha tido experiências na gestão de ○ ○
organizações?
Na sua juventude alguma vez participou em movimentos associativos? ○ ○
Antes de se envolver na iniciativa ocorreram mudanças significativas na sua vida ○ ○
pessoal?
Antes de se envolver nesta iniciativa encontrava-se satisfeito com a sua situação ○ ○
profissional?
Antes de se envolver na organização conhecia alguém que lhe fosse próximo que tivesse ○ ○
um problema relacionado com a missão da organização?
Tomou contacto com a questão social tratada pela organização desde a juventude? ○ ○
Tomou contacto com a questão social tratada pela organização alguns anos antes de ○ ○
ingressar na organização?

Motivações pessoais.

Identifique a importância que cada um dos seguintes fatores assumiu para o seu envolvimento na
organização (considere 1 se a importância é muito baixa e 5 se a importância é muito elevada):

1 2 3 4 5
Estar fortemente comprometido com uma visão social. ○ ○ ○ ○ ○
Estar determinado em ser um agente de mudança social. ○ ○ ○ ○ ○
É uma forma de compromisso ou afiliação para com uma dada comunidade. ○ ○ ○ ○ ○
Estar determinado em fazer face a uma necessidade social de um modo ○ ○ ○ ○ ○
economicamente viável.
Ter uma maior autonomia e independência ocupacional. ○ ○ ○ ○ ○
Gosto em assumir riscos e novos desafios. ○ ○ ○ ○ ○
Proporcionar oportunidades para a minha criatividade. ○ ○ ○ ○ ○
A criação de uma fonte de rendimentos. ○ ○ ○ ○ ○
Adotar um novo modelo de vida. ○ ○ ○ ○ ○
Aumentar o prestígio e status pessoal. ○ ○ ○ ○ ○
Seguir o modelo de pessoas que admiro. ○ ○ ○ ○ ○
Seguir uma tradição familiar. ○ ○ ○ ○ ○
Considerar este trabalho menos exigente do que numa empresa comercial. ○ ○ ○ ○ ○
Ser capaz de identificar uma necessidade social. ○ ○ ○ ○ ○
Ter a capacidade de ver riscos como oportunidades para criar valor social. ○ ○ ○ ○ ○
Ter competência e experiência necessárias para iniciar um novo projeto. ○ ○ ○ ○ ○
Dispor de recursos suficientes para lançar a iniciativa. ○ ○ ○ ○ ○
Existência de apoios e aconselhamento para este tipo de organizações. ○ ○ ○ ○ ○
Existência de um regime legal favorável para este tipo de organizações. ○ ○ ○ ○ ○
Existência de um regime fiscal favorável para este tipo de organizações. ○ ○ ○ ○ ○
Facilidade na obtenção de informações para iniciar o projeto. ○ ○ ○ ○ ○
Facilidade e simplicidade dos processos administrativos para o lançamento do ○ ○ ○ ○ ○
projeto.
Existência de uma necessidade social que não estava a ser devidamente ○ ○ ○ ○ ○
satisfeita.

360
Atitudes pessoais.

Exprima o seu nível de concordância relativamente às suas atitudes pessoais (considere 1 se discorda
totalmente e 5 se concorda totalmente):

1 2 3 4 5
Acredito no estabelecimento de um bom relacionamento com os meus pares. ○ ○ ○ ○ ○
Acredito na manutenção de um relacionamento harmonioso com os meus ○ ○ ○ ○ ○
pares.
Acredito na promoção de uma relação de trabalho de confiança. ○ ○ ○ ○ ○
Acredito na importância de se obter um consenso antes de se formar uma ○ ○ ○ ○ ○
conclusão.
Um dia gostaria de obter a posição mais elevada na organização. ○ ○ ○ ○ ○
Estou sempre atento a oportunidades para iniciar novos projetos. ○ ○ ○ ○ ○
Gosto de ganhar, mesmo quando a atividade não é muito importante. ○ ○ ○ ○ ○
Quando a maioria das pessoas já está esgotada com o trabalho, ainda contínuo ○ ○ ○ ○ ○
com energia.
Prefiro definir objetivos ambiciosos, do que objetivos fáceis de atingir. ○ ○ ○ ○ ○
Para mim, a mudança é excitante. ○ ○ ○ ○ ○
Os meus pares diriam que sou uma pessoa de confiança. ○ ○ ○ ○ ○
Os meus pares diriam que sou uma pessoa otimista. ○ ○ ○ ○ ○
Os meus pares diriam que tomo decisões com sensatez. ○ ○ ○ ○ ○
Trabalho melhor em ambientes que me permitam ser criativo. ○ ○ ○ ○ ○
Sei o que esperam de mim nos vários contextos sociais. ○ ○ ○ ○ ○
Os meus pares diriam que sou uma pessoa inovadora. ○ ○ ○ ○ ○
Os meus pares diriam que sou uma pessoa com uma mente aberta. ○ ○ ○ ○ ○
Gosto de concretizar os detalhes de uma tarefa de acordo com o planeado. ○ ○ ○ ○ ○
Os meus pares diriam que sou uma pessoa responsável. ○ ○ ○ ○ ○
Organizo o meu trabalho de modo a realizar em primeiro lugar as coisas mais ○ ○ ○ ○ ○
importantes.
Conduzo a minha atividade de acordo com rigorosos princípios éticos. ○ ○ ○ ○ ○
Estou motivado em atingir os objetivos nas tarefas que me são atribuídas. ○ ○ ○ ○ ○

Grupo IV- Estratégia


Ações estratégicas. Identifique o grau de importância que atribui a cada uma das ações estratégicas
(considere 1 se atribui uma importância muito baixa e 5 se a importância é muito elevada).

1 2 3 4 5
Definição da missão. ○ ○ ○ ○ ○
Comunicação e divulgação da missão interna e externamente. ○ ○ ○ ○ ○
Definição de objetivos. ○ ○ ○ ○ ○
Existência de um plano estratégico. ○ ○ ○ ○ ○
Programação das ações implementadas. ○ ○ ○ ○ ○
Análise de outras organizações concorrentes. ○ ○ ○ ○ ○
Análise do meio envolvente que rodeia a organização. ○ ○ ○ ○ ○
Reuniões periódicas para acompanhamento do grau de execução do plano ○ ○ ○ ○ ○
estratégico.
A existência de uma liderança visionária. ○ ○ ○ ○ ○
A existência de uma visão partilhada pelos membros da organização. ○ ○ ○ ○ ○

361
Grupo V- Gestão de recursos
Valorização de recursos. Identifique a importância dos seguintes recursos para a organização (considere 1
se atribui uma importância muito baixa e se a importância é muito elevada):

1 2 3 4 5
Recrutamento e retenção de colaboradores ○ ○ ○ ○ ○
Recrutamento e retenção de voluntários ○ ○ ○ ○ ○
Recrutamento e retenção da equipa de gestão e de liderança ○ ○ ○ ○ ○
Subsídios e subvenções públicas ○ ○ ○ ○ ○
Donativos de empresas ○ ○ ○ ○ ○
Donativos de particulares ○ ○ ○ ○ ○
Receitas geradas pela organização ○ ○ ○ ○ ○
Financiamento ○ ○ ○ ○ ○
Edifício/Instalações/Armazém ○ ○ ○ ○ ○
Equipamentos (Ex. transporte, empilhadores, etc) ○ ○ ○ ○ ○
Hardware ○ ○ ○ ○ ○
Software ○ ○ ○ ○ ○
Tecnologias de informação e da comunicação ○ ○ ○ ○ ○
Ações de divulgação e de comunicação ○ ○ ○ ○ ○
Plano de atividades de marketing ○ ○ ○ ○ ○
Marca ○ ○ ○ ○ ○
Logotipo ○ ○ ○ ○ ○
Site ○ ○ ○ ○ ○
Newsletter ○ ○ ○ ○ ○
Sistema de recolha de comentários das entidades interessadas (stakeholders) ○ ○ ○ ○ ○
Sistema de monitorização da perceção que as entidades interessadas ○ ○ ○ ○ ○
(stakeholders) têm sobre a organização
Inquéritos de satisfação ○ ○ ○ ○ ○
Relatórios de avaliação da qualidade dos serviços ○ ○ ○ ○ ○
Programas de introdução de ações de melhoria ○ ○ ○ ○ ○

Receitas Próprias. Identifique a percentagem de receitas provenientes das atividades levadas a cabo pela
organização (escolha uma das seguintes respostas):

o Não
o Menor do que 25%
o Entre 25 e 50%
o Entre 50 e 75%
o Maior do que 75%

Quais as fontes de receitas próprias a que a organização recorre (escolha uma ou mais opções):

o Preço pago pela prestação de serviços ou venda de produtos


o Merchandising
o Quotas pagas pelos sócios/ membros da organização
o Realização de ações de formação
o Realização de ações de consultadoria
o Outras ________________________

362
Gestão de recursos. Identifique a importância que a gestão dos seguintes recursos assume para a atividade
da organização (considere 1 se a importância é muito baixa e 5 se a importância é muito elevada):

1 2 3 4 5
Os grupos de trabalho dentro da organização. ○ ○ ○ ○ ○
O envolvimento dos colaboradores na tomada de decisões. ○ ○ ○ ○ ○
Encorajar os colaboradores a assumirem riscos. ○ ○ ○ ○ ○
Encorajar as unidades dentro da organização a trabalharem em conjunto. ○ ○ ○ ○ ○
A comunicação entre os elementos da organização. ○ ○ ○ ○ ○
A existência de fontes de financiamento adequadas. ○ ○ ○ ○ ○
A capacidade de geração de receitas por parte da organização. ○ ○ ○ ○ ○
A capacidade de atração de donativos. ○ ○ ○ ○ ○
A capacidade de geração de fundos suficientes para as atividades do dia a dia ○ ○ ○ ○ ○
da organização.
A geração de fundos para a realização de investimentos de expansão. ○ ○ ○ ○ ○
Equipamentos e instalações. ○ ○ ○ ○ ○
Tecnologias da informação e da comunicação. ○ ○ ○ ○ ○
O desenvolvimento de ações de comunicação e divulgação dos produtos e ○ ○ ○ ○ ○
serviços da organização.
O desenvolvimento de programas de marketing. ○ ○ ○ ○ ○
O conhecimento dos sucessos e insucessos dos programas de marketing ○ ○ ○ ○ ○
levados a cabo pela organização.
Envio de mensagens consistentes às entidades interessadas (stakeholders) da ○ ○ ○ ○ ○
organização.
A existência de uma marca, compreendida pelos colaboradores da ○ ○ ○ ○ ○
organização.
A existência de uma marca, compreendida pelas entidades interessadas ○ ○ ○ ○ ○
(stakeholders) da organização.
A implementação de mudanças, de acordo com as sugestões das entidades ○ ○ ○ ○ ○
interessadas (stakeholders).
Conhecimento das associações que as entidades interessadas (stakeholders) ○ ○ ○ ○ ○
têm sobre a organização.
O envolvimento do público-alvo na organização. ○ ○ ○ ○ ○
O envolvimento da comunidade na organização. ○ ○ ○ ○ ○
Relacionamento com os stakeholders externos. ○ ○ ○ ○ ○
A colaboração com outras organizações. ○ ○ ○ ○ ○
A criação de uma experiência positiva para as entidades interessadas ○ ○ ○ ○ ○
(stakeholders) através dos produtos ou serviços da organização.
O nível de satisfação dos clientes com o tipo de programas, atividades ou ○ ○ ○ ○ ○
serviços da organização.
O nível de satisfação dos clientes com a qualidade dos programas, atividades ○ ○ ○ ○ ○
ou serviços da organização.
O investimento dos recursos adequados para a melhoria dos produtos e ○ ○ ○ ○ ○
serviços.

Relacionamentos Externos. Exprima o seu nível de concordância relativamente aos seus relacionamentos
externos (considere 1 se discorda totalmente e 5 se concorda totalmente):

1 2 3 4 5
Considero-me ser uma pessoa com um grande número de contactos e de ○ ○ ○ ○ ○
conhecidos.
Considero que os contactos (networking) facilitam o acesso ao financiamento. ○ ○ ○ ○ ○
Considero que os contactos (networking) permitem ter melhor acesso à ○ ○ ○ ○ ○
informação.
Considero que os meus principais contactos são pessoas com um grande ○ ○ ○ ○ ○
número de contactos ou conhecidos.
Utilizo os meus contactos para aceder a recursos. ○ ○ ○ ○ ○
Utilizo os meus contactos para aceder a financiamento. ○ ○ ○ ○ ○

363
Grupo VI- Desempenho
Qual o número, aproximado, de colaboradores da organização? _________________________

Qual o número, aproximado, de voluntários da organização? ____________________________

Qual o número, aproximado, de beneficiários da organização? __________________________

Qual o montante, aproximado, dos valores anuais movimentados pela organização (em euros)?
________________________________

Os estatutos da organização permitem a geração de excedentes?

o Sim
o Não

Desempenho geral da empresa. Como classifica o desempenho geral da empresa em relação a cada um
dos seguintes elementos (atribua 1 se considera que o desempenho é muito baixo e 5 se o desempenho é
muito elevado):

1 2 3 4 5
Capacidade para a prossecução dos seus principais objetivos ○ ○ ○ ○ ○
Capacidade para atingir a missão social ○ ○ ○ ○ ○
Capacidade para atingir objetivos sociais ○ ○ ○ ○ ○
Capacidade para atingir objetivos económicos ○ ○ ○ ○ ○
O crescimento da procura pelos programas da organização ○ ○ ○ ○ ○
O crescimento do número de beneficiários da organização ○ ○ ○ ○ ○
O crescimento dos valores, em euros, anuais movimentados pela empresa ○ ○ ○ ○ ○
O aumento da sustentabilidade económica da organização ○ ○ ○ ○ ○

Medição de resultados. Avalie o grau de importância que atribui à medição de resultados da organização
(considere 1 se atribui uma importância muito baixa e 5 se a importância é muito elevada):

1 2 3 4 5
A medição de resultados permite a introdução de programas de melhoria. ○ ○ ○ ○ ○
A medição de resultados permite legitimar a organização perante os seus ○ ○ ○ ○ ○
principais stakeholders.
A medição de resultados melhora a visibilidade da organização. ○ ○ ○ ○ ○
A medição de resultados facilita o acesso a recursos financeiros. ○ ○ ○ ○ ○
A medição de resultados facilita o acesso a donativos. ○ ○ ○ ○ ○
A medição de resultados é uma forma de atrair colaboradores e voluntários. ○ ○ ○ ○ ○

364
ANEXO 3- ORGANIZAÇÕES INQUIRIDAS

Anexo 3.1- Organizações não-governamentais de cooperação para o


desenvolvimento

Abraço – Associação de Apoio a Pessoas com VIH/SIDA


ACAPO - Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal
ACTUAR - Associação para a Cooperação e o Desenvolvimento
ADAN - Associação de Ação Social para o Necessitado
ADDHU - Associação de Defesa dos Direitos Humanos
ADEP - Assoc. para o Desenv. Da Cultura e Ensino Profissional da Marinha Grande
ADLML – Associação de Desenvolvimento Local do Minho-Lima
ADPM – Associação para o Estudo e Defesa do Património Natural e Cultural do Concelho de Mértola
AECODE - Associação de Especialistas para a Cooperação e Desenvolvimento
Afetos com Letras – Associação para o Desenvolvimento pela Formação, Saúde e Educação
AGIR XXI - Associação para a Inclusão Social
Água Triangular
AHEAD - Associação Humanitária para a Educação e Apoio ao Desenvolvimento
AJAP - Associação de Jovens Agricultores de Portugal
Ajuda Amiga - Associação de Solidariedade e Apoio ao Desenvolvimento
Ajuda Internacional - Cidadãos Sem Fronteiras
ALC - Associação Lusófona para o Desenvolvimento do Conhecimento
AMU - Cooperação e Solidariedade Lusófona por um Mundo Unido
AMURT Portugal – Associação de Apoio Social e Humanitário
ANAFS - Associação Nacional dos Alistados das Formações Sanitárias
Ao Norte - Associação de Produção e Animação Audiovisual
APA – Associação Cívica Procurar Abraços
APCS - Associação Portuguesa de Consultores Seniores
APDES - Agência Piaget para o Desenvolvimento
APDSI – Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade da Informação
APF - Associação para o Planeamento da Família
APOIAR - Associação Portuguesa de Apoio a África
ASI - Associação de Solidariedade Internacional
ASP - Associação Saúde em Português - Associação de Profissionais de Cuidados de Saúde Primários dos Países
de Língua Portuguesa
Associação Bem Sorrir
Associação Coração sem Fonteiras
Associação Cultural e Juvenil Batoto Yetu
Associação Cultural Moinho da Juventude
Associação Lusófona para o Desenvolvimento, Cultura e Integração
Associação Karingana Wa Karingana
Associação Nova Dimensão
Associação para a Cooperação com os Países Africanos de Língua Portuguesa
Associação Portuguesa de Saúde, Higiene e Segurança no Trabalho para o Desenvolvimento e Cooperação
Internacional (APSHSTDDC)

365
Associação Reviravolta
Associação Sonhos de Afetos
Associação SPIN para o Intercâmbio formação e cooperação entre os povos
Associação Tane Timor
Associação The Big Hand
Associação Veterinários Sem Fronteiras - Portugal
Associação Viver 100 Fronteiras
Associação We and You (WAY)
ATACA - Associação de Tutores e Amigos d
ATACA - Associação de Tutores e Amigos da Criança Africana
ATLAS - Associação de Cooperação para o Desenvolvimento
Cadeia da Esperança - Organização de Solidariedade Internacional
Capitólio - Organização Não governamental para o Desenvolvimento
Chapitô - Coletividade Cultural e Recreativa de Sta. Catarina
CIC - Associação para a Cooperação, Intercâmbio e Cultura
Cidadãos do Mundo Associação
CIDAC - Centro de Informação e Documentação Amílcar Cabral
Cooperativa de Ensino e Arte – Escola Afro-Luso-Brasileira, C. R. L
Cores do Globo - Associação para a Promoção do Comércio Justo
CULTIVAR - Associação de Técnicos de Culturas Tropicais
Dialogue Café - Associação para a Promoção de Diálogo entre Culturas
EPAR – Desenvolvimento, Ensino, Formação e Inserção, CRL
Estímulo – Centro de Estudos – Associação
EU E OS MEUS IRMÃOS – Assoc. para o Desenvolvimento da Criança
FIDEMA - Associação para a Cooperação e Desenvolvimento
Fundação de Assistência Médica Internacional (AMI)
Fundação Assistência Humanitária Europa- Focus
Fundação Luso Africana para a Cultura – FLAC
Fundação Teresa Regojo para o Desenvolvimento
Governance and Justice Group (GJG) - Associação para a Promoção de Normas Internacionais de Governo e
Administração da Justiça
Grupo Teatro do Oprimido - GTO
Help Images - Associação de Promoção e Apoio à Solidariedade Social
Helpo - O Nosso Mundo é Humano
Kór, Associação para a Formação
Kriscer – Associação de Cooperação e Educação para o Desenvolvimento Humano e Social
Liga Portuguesa Contra a SIDA
Ligar à Vida - Associação de Gestão Humanitária para o Desenvolvimento
Médicos do Mundo
Memórias e Gentes – Associação Humanitária
Meninos do Mundo - Associação
Missão Saúde para a Humanidade
Missão Teva Associação
MÓ DE VIDA - Cooperativa de Consumo, CRL
MONTE – Desenvolvimento Alentejo Central, ACE
OIKOS - Cooperação e Desenvolvimento
OPIS – Associação para a Cooperação e Desenvolvimento

366
Orbis - Cooperação e Desenvolvimento
Organização Missanga – Associação de Promoção da Educação e Cultura
Passo Positivo - Associação de Ação Social
PCI - Paramédicos de Catástrofe Internacional
Pista Mágica Associação
Raia Histórica – Associação de Desenvolvimento do Nordeste da Beira
Slice of Heaven – Associação
Sun Aid – Associação para o Desenvolvimento pela Energia Solar
Tabanca Pequena – Grupo de Amigos da Guiné-Bissau - Apoio e Cooperação ao Desenvolvimento Africano
TESE – Associação para o Desenvolvimento da Tecnologia, Engenharia, Saúde e Educação
Um Pequeno Gesto Uma Grande Ajuda – Associação
WACT - We Are Changing Together - Associação

367
Anexo 3.2- Projetos cotados na bolsa de valores sociais

A Vida Vale
Agência ODM
Audiodescrição.pt - Ouço, logo vejo
Capital Aldeia
Centro ABCReal Portugal
Centro de Interpretação da Abelha
Cozinhar o Futuro
Crescer com Afetividade
CRESCER dos 8 aos 80
EC3 - Eco-Centro de Compostagem Caseira
Educação é a Melhor Prevenção
EfeitoD - Um Negócio que Faz a Diferença!
Formar Campeões para a Vida
Lar Telhadinho
Lavandaria Solidária
Mais cuidados, mais integrados
Passos de Tempo
Piscina Terapêutica Os 4 Elementos
Polo Social - Manto
POR TI- Projecto de Apoio a Ti
Porto de Abrigo
Projeto Viver, Crescer e Integrar
Retalhos de Esperança
Saúde a Sorrir
Semear o Futuro
Serviço de Intervenção e Apoio à Criança
Social Innovation Challenge
Unidade Móvel de Apoio ao Domicílio (UMAD)
Menos é Mais - Teatro Debate
Horta de Gerações

368
ANEXO 4- ANEXOS ESTATÍSTICOS

Anexo 4.1- Caracterização geral da organização social

Anexo 4.1.1- Número de segmentos sociais em que as organizações operam


Total ONGD BVS
N (68) % N (44) % N (24) %
1 categoria 31 45,6% 20 45,5% 11 45,8%
2 categorias 12 17,6% 7 15,9% 5 20,8%
3 categorias 10 14,7% 4 9,1% 6 25,0%
4 categoria 7 10,3% 5 11,4% 2 8,3%
5 categorias 5 7,4% 5 11,4% 0 0,0%
6 categorias 3 4,4% 3 6,8% 0 0,0%
Média 2,3 2,5 2,0

Anexo 4.1.2- Organizações sociais que atuam em outros segmentos sociais


Total ONGD BVS
(N=33) (N=22) (N=11)
Crianças e/ou jovens 12 5 7
Estudantes 3 2 1
Toda a população 5 3 2
Potenciais criadores de iniciativas 1 1
Afetados e infetados VIH/Sida 2 2
Busca e Salvamento 1 1
Público em geral/organizações interessadas no voluntariado 1 1
Grupos em situação de insegurança alimentar 1 1
Agricultura 2 2
Organizações internacionais 1 1
Antigos combatentes da guerra colonial 1 1
BoP 1 1
Ajuda humanitária 1 1
Imigrantes 1 1

369
Anexo 4.1.3- A posição do empreendedor na iniciativa: correlações
Função Situação
Exercida ocupacional
Idade da organização ,280 -,120
Localização da organização ,026 -,252
Âmbito de atuação -,295* ,291
Público-Alvo:
Pessoas idosas ,017 -,052
Pessoas com deficiência física -,086 ,178
Minorias étnicas -,050 -,063
Pessoas com carências financeiras ,000 -,031
Refugiados ,182 -,211
Pessoas com problemas de dependência ,030 ,005
Pessoas socialmente excluídas -,112 ,111
Animais - -
Organizações e associações locais -,138 ,064
Outro ,220 -,199
Finalidade da atividade da organização
Complementa os serviços dos mercados ,027 ,015
Complementa os serviços do Estado -,101 ,154
Concorre com outros fornecedores -,197 ,221
Concorre com o Estado ,106 -,211
A atividade não é disponibilizada nos mercados ,109 -,212
Traços pessoais
Abertura à experiência -,070 ,041
Conscenciosidade -,329* ,138
Extroversão -,248 ,170
Perfil demográfico
Género -,174 ,395**
Idade da organização -,358* ,497**
Nível de escolaridade -,150 -,083
Área de formação ,103 -,213
Situação ocupacional anterior ,129 -,069
Setor de proveniência ,088 -,226
Experiências anteriores
Já criou uma organização ,297* -,273
Os seus pais já criaram uma organização -,047 -,156
Familiares e amigos já criaram uma organização -,131 ,024
Tinha estado envolvido em projetos sociais ,000 ,095
Tinha experiência na gestão de organizações ,019 ,029
Participou em movimentos associativos na juventude ,108 -,381**
Ocorreram mudanças pessoais significativas ,088 -,065
Encontrava-se satisfeito com a situação profissional ,188 -,333*
Conhecia alguém próximo com o problema a tratar pela organização ,174 ,063
Tomou contacto com a questão social na juventude -,012 -,022
Tomou contacto com a questão social alguns anos antes -,257 ,291
Objetivos pessoais
Objetivos de caráter pessoal ,264 -,367*
Seguir o percurso de alguém ,045 -,171
Afiliação para com uma dada comunidade -,063 ,066
Determinação Social -,325* ,289
Perceção de viabilidade da iniciativa pelo indivíduo
Perceção de que o contexto é favorável ,000 ,076
Perceção de posse das capacidades pessoais -,179 ,084
Perceção de desejabilidade -,297* ,256
* A correlação é estatisticamente significativa para α=0.05;

** A correlação é estatisticamente significativa para α=0.01;

370
Anexo 4.1.4 - A posição do empreendedor na iniciativa: distribuição de
frequências

Função exercida Situação ocupacional


Membro da
Presidente Direção Diretor Técnico Outro Colaborador Voluntário
Tipo de organização
BVS 23,1% 15,4% 30,8% 15,4% 15,4% 76,9% 23,1%
ONGD 59,4% 15,6% 6,3% 9,4% 9,4% 37,5% 62,5%
Idade da organização
1-3 anos 75,0% 0,0% 25,0% 0,0% 0,0% 25,0% 75,0%
3-10 anos 50,0% 23,1% 7,7% 15,4% 3,8% 50,0% 50,0%
>10 anos 40,0% 6,7% 20,0% 6,7% 26,7% 53,3% 46,7%
Localização geográfica
Norte 57,1% 14,3% 0,0% 14,3% 14,3% 14,3% 85,7%
Centro 85,7% 0,0% 0,0% 0,0% 14,3% 42,9% 57,1%
Lisboa 39,1% 21,7% 17,4% 13,0% 8,7% 52,2% 47,8%
Alentejo 0,0% 0,0% 0,0% 50,0% 50,0% 100,0% 0,0%
Algarve 100,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 100,0% 0,0%
Ilhas 0,0% 0,0% 100,0% 0,0% 0,0% 100,0% 0,0%
Varias 50,0% 25,0% 25,0% 0,0% 0,0% 50,0% 50,0%
Âmbito de atuação
Local 50,0% 0,0% 0,0% 50,0% 0,0% 50,0% 50,0%
Regional 0,0% 0,0% 66,7% 0,0% 33,3% 100,0% 0,0%
Nacional 33,3% 16,7% 25,0% 8,3% 16,7% 66,7% 33,3%
Internacional 60,7% 17,9% 3,6% 10,7% 7,1% 35,7% 64,3%
Público-alvo
Pessoas idosas 71,4% 0,0% 0,0% 0,0% 28,6% 42,9% 57,1%
Pessoas com deficiência 44,4% 11,1% 22,2% 0,0% 22,2% 66,7% 33,3%
física
Minorias étnicas 60,0% 0,0% 0,0% 20,0% 20,0% 40,0% 60,0%
Pessoas com carências 53,3% 13,3% 6,7% 13,3% 13,3% 46,7% 53,3%
financeiras
Refugiados 100,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 100,0%
Pessoas com problemas 50,0% 0,0% 50,0% 0,0% 0,0% 50,0% 50,0%
de dependência
Pessoas socialmente 45,5% 9,1% 18,2% 18,2% 9,1% 54,5% 45,5%
excluídas
Animais - - - - - - -
Organizações e 54,5% 0,0% 9,1% 9,1% 27,3% 54,5% 45,5%
associações locais
Outro 56,0% 20,0% 4,0% 16,0% 4,0% 40,0% 60,0%
Finalidade da atividade da
organização
Complementa os 50,0% 14,3% 14,3% 14,3% 7,1% 50,0% 50,0%
serviços dos mercados
Complementa os 47,4% 10,5% 15,8% 10,5% 15,8% 57,9% 42,1%
serviços do Estado
Concorre com outros 0,0% 50,0% 0,0% 0,0% 50,0% 100,0% 0,0%
fornecedores
Concorre com o Estado 50,0% 50,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 100,0%
A atividade não é 58,8% 11,8% 11,8% 5,9% 11,8% 35,3% 64,7%
disponibilizada nos
mercados
Género
Feminino 42,9% 14,3% 14,3% 17,9% 10,7% 64,3% 35,7%
Masculino 58,8% 17,6% 11,8% 0,0% 11,8% 23,5% 76,5%

371
(Continuação)

Função exercida Situação ocupacional


Membro da
Presidente Direção Diretor Técnico Outro Colaborador Voluntário
Idade
<18 - - - - - - -
18-34 16,7% 0,0% 25,0% 41,7% 16,7% 83,3% 16,7%
35-54 61,1% 22,2% 11,1% 0,0% 5,6% 50,0% 50,0%
55-64 33,3% 50,0% 0,0% 0,0% 16,7% 33,3% 66,7%
>65 77,8% 0,0% 11,1% 0,0% 11,1% 11,1% 88,9%
Nível de escolaridade
Ensino Primário - - - - - - -
Ensino 33,3% 0,0% 33,3% 0,0% 33,3% 33,3% 66,7%
Secundário
Ensino Superior 50,0% 16,7% 11,9% 11,9% 9,5% 50,0% 50,0%
Área de formação
Ciências da Saúde 83,3% 0,0% 0,0% 0,0% 16,7% 33,3% 66,7%
Ciências Matemáticas - - - - - - -
Ciências Sociais 25,0% 0,0% 25,0% 25,0% 25,0% 75,0% 25,0%
Ciências Económicas 66,7% 11,1% 11,1% 11,1% 0,0% 22,2% 77,8%
Engenharia 44,4% 22,2% 0,0% 11,1% 22,2% 33,3% 66,7%
Artes 0,0% 50,0% 50,0% 0,0% 0,0% 100,0% 0,0%
Humanidades 45,5% 18,2% 18,2% 9,1% 9,1% 63,6% 36,4%
Ensino 100,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 100,0%
Outros 0,0% 0,0% 0,0% 100,0% 0,0% 100,0% 0,0%
Situação ocupacional
anterior
Empregado 51,4% 17,1% 14,3% 5,7% 11,4% 48,6% 51,4%
Reformado 50,0% 0,0% 0,0% 0,0% 50,0% 0,0% 100,0%
Não ativo 37,5% 12,5% 12,5% 37,5% 0,0% 62,5% 37,5%
Setor de proveniência
Setor Empresarial 52,9% 17,6% 5,9% 11,8% 11,8% 47,1% 52,9%
Setor Público 69,2% 15,4% 0,0% 0,0% 15,4% 30,8% 69,2%
Setor sem fins 0,0% 20,0% 80,0% 0,0% 0,0% 100,0% 0,0%
lucrativos
Função Exercida
Presidente - - - - - 13,6% 86,4%
Membro da Direção - - - - - 57,1% 42,9%
Diretor - - - - - 100,0% 0,0%
Técnico - - - - - 100,0% 0,0%
Outros - - - - - 80,0% 20,0%

372
Anexo 4.2- Fatores de promoção da iniciativa social

Anexo 4.2.1- Os traços pessoais do empreendedor

Anexo 4.2.1.1- Posição do empreendedor em relação a diferentes atitudes pessoais


Desvio- Percentil Percentil Percentil
(1) (2) (3) (4) (5) Média
Padrão 25 50 75
Acredito no estabelecimento de um bom 0% 0% 9% 40% 51% 4,4 0,7 4,0 5,0 5,0
relacionamento com os meus pares

Acredito na manutenção de um 0% 0% 11% 47% 42% 4,3 0,7 4,0 4,0 5,0
relacionamento harmonioso com os meus
pares
Acredito na promoção de uma relação de 0% 0% 7% 42% 51% 4,4 0,6 4,0 5,0 5,0
trabalho de confiança
Acredito na importância de se obter um 2% 2% 20% 36% 40% 4,1 0,9 3,5 4,0 5,0
consenso antes de se formar uma
conclusão
Um dia gostaria de obter a posição mais 53% 13% 18% 11% 4% 2,0 1,3 1,0 1,0 3,0
elevada na organização
Estou sempre atento a oportunidades para 2% 7% 20% 24% 47% 4,1 1,1 3,0 4,0 5,0
iniciar novos projetos
Gosto de ganhar, mesmo quando a 18% 16% 40% 18% 9% 2,8 1,2 2,0 3,0 4,0
atividade não é muito importante
Quando a maioria das pessoas já está 4% 4% 29% 18% 44% 3,9 1,2 3,0 4,0 5,0
esgotada com o trabalho, ainda contínuo
com energia
Prefiro definir objetivos ambiciosos, do 4% 7% 20% 36% 33% 3,9 1,1 3,0 4,0 5,0
que objetivos fáceis de atingir
Para mim, a mudança é excitante 4% 13% 13% 29% 40% 3,9 1,2 3,0 4,0 5,0
Os meus pares diriam que sou uma pessoa 0% 0% 7% 38% 56% 4,5 0,6 4,0 5,0 5,0
de confiança
Os meus pares diriam que sou uma pessoa 0% 4% 13% 33% 49% 4,3 0,9 4,0 4,0 5,0
otimista
Os meus pares diriam que tomo decisões 0% 0% 22% 49% 29% 4,1 0,7 4,0 4,0 5,0
com sensatez
Trabalho melhor em ambientes que me 2% 9% 16% 27% 47% 4,1 1,1 3,0 4,0 5,0
permitam ser criativo
Sei o que esperam de mim nos vários 2% 4% 36% 42% 16% 3,6 0,9 3,0 4,0 4,0
contextos sociais
Os meus pares diriam que sou uma pessoa 4% 9% 13% 44% 29% 3,8 1,1 3,0 4,0 5,0
inovadora
Os meus pares diriam que sou uma pessoa 0% 0% 18% 47% 36% 4,2 0,7 4,0 4,0 5,0
com uma mente aberta
Gosto de concretizar os detalhes de uma 0% 11% 11% 42% 36% 4,0 1,0 4,0 4,0 5,0
tarefa de acordo com o planeado
Os meus pares diriam que sou uma pessoa 0% 0% 2% 33% 64% 4,6 0,5 4,0 5,0 5,0
responsável
Organizo o meu trabalho de modo a 0% 2% 11% 44% 42% 4,3 0,8 4,0 4,0 5,0
realizar em primeiro lugar as coisas mais
importantes
Conduzo a minha atividade de acordo 0% 0% 2% 22% 76% 4,7 0,5 4,5 5,0 5,0
com rigorosos princípios éticos
Estou motivado em atingir os objetivos 0% 0% 11% 22% 67% 4,6 0,7 4,0 5,0 5,0
nas tarefas que me são atribuídas
N=45
(1) Discordo totalmente; (2) Discordo; (3) Nem concordo nem discordo; (4) Concordo; (5) Concordo totalmente;

373
Anexo 4.2.1.2- Correlações entre diferentes atitudes pessoais
P.3.3.1 P.3.3.2 P.3.3.3 P.3.3.4 P.3.3.5 P.3.3.6 P.3.3.7 P.3.3.8 P.3.3.9 P.3.3.10 P.3.3.11 P.3.3.12 P.3.3.13 P.3.3.14 P.3.3.15 P.3.3.16 P.3.3.17 P.3.3.18 P.3.3.19 P.3.3.20 P.3.3.21 P.3.3.22
P.3.3.1 1
P.3.3.2 ,833** 1
P.3.3.3 ,752** ,697** 1
P.3.3.4 ,267 ,385** ,431** 1
P.3.3.5 ,384** ,405** ,231 ,095 1
P.3.3.6 ,507** ,540** ,565** ,239 ,268 1
P.3.3.7 ,174 ,091 ,311* ,174 ,456** ,258 1
P.3.3.8 ,307* ,263 ,294* ,151 ,249 ,351* ,224 1
P.3.3.9 ,269 ,336* ,320* -,075 ,311* ,489** ,280 ,476** 1
P.3.3.10 ,328* ,304* ,439** ,129 ,385** ,389** ,442** ,349* ,564** 1
P.3.3.11 ,316* ,443** ,537** ,461** ,288 ,390** ,350* ,392** ,262 ,326* 1
P.3.3.12 ,158 ,168 ,197 -,002 ,209 ,299* ,175 ,724** ,517** ,424** ,384** 1
P.3.3.13 -,013 ,003 ,236 ,257 ,225 ,112 ,438** ,197 ,011 ,140 ,430** ,300* 1
P.3.3.14 ,371* ,344* ,189 ,103 ,461** ,382** ,288 ,147 ,385** ,484** ,084 ,149 -,236 1
P.3.3.15 ,304* ,269 ,252 ,283 ,449** ,433** ,445** ,243 ,301* ,441** ,363* ,336* ,324* ,518** 1
P.3.3.16 ,317* ,413** ,339* ,256 ,398** ,574** ,245 ,462** ,401** ,500** ,281 ,457** ,014 ,677** ,604** 1
P.3.3.17 ,417** ,357* ,328* ,210 ,453** ,457** ,328* ,207 ,290 ,627** ,207 ,252 ,153 ,622** ,533** ,650** 1
P.3.3.18 ,021 -,081 ,097 ,271 ,112 ,218 ,360* ,327* ,110 ,119 ,245 ,347* ,489** -,001 ,250 ,199 ,191 1
P.3.3.19 ,076 ,082 ,242 ,336* ,169 ,243 ,156 ,216 ,067 ,165 ,496** ,174 ,303* ,083 ,287 ,249 ,239 ,369* 1
P.3.3.20 ,089 ,103 ,324* ,317* -,024 ,231 ,201 ,361* ,017 ,189 ,393** ,309* ,471** -,077 ,283 ,359* ,206 ,462** ,540** 1
P.3.3.21 ,144 ,188 ,319* ,293 ,036 ,162 ,199 ,365* ,017 ,241 ,430** ,223 ,306* ,034 ,194 ,217 ,329* ,250 ,212 ,318* 1
P.3.3.22 ,372* ,256 ,310* ,303* ,104 ,407** ,191 ,445** ,159 ,252 ,303* ,317* ,243 ,339* ,330* ,480** ,392** ,321* ,457** ,583** ,309* 1

(P.3.3.1) Acredito no estabelecimento de um bom relacionamento com os meus pares; (P.3.3.2) Acredito na manutenção de um relacionamento harmonioso com os meus pares; (P.3.3.3) Acredito na promoção de uma relação de trabalho
de confiança; (P.3.3.4) Acredito na importância de se obter um consenso antes de se formar uma conclusão; (P.3.3.5) Um dia gostaria de obter a posição mais elevada na organização; (P.3.3.6) Estou sempre atento a oportunidades para
iniciar novos projetos; (P.3.3.7) Gosto de ganhar, mesmo quando a atividade não é muito importante; (P.3.3.8) Quando a maioria das pessoas já está esgotada com o trabalho, ainda contínuo com energia; (P.3.3.9) Prefiro definir objetivos
ambiciosos, do que objetivos fáceis de atingir; (P.3.3.10) Para mim, a mudança é excitante; (P.3.3.11) Os meus pares diriam que sou uma pessoa de confiança; (P.3.3.12) Os meus pares diriam que sou uma pessoa otimista; (P.3.3.13) Os
meus pares diriam que tomo decisões com sensatez; (P.3.3.14) Trabalho melhor em ambientes que me permitam ser criativo; (P.3.3.15) Sei o que esperam de mim nos vários contextos sociais; (P.3.3.16) Os meus pares diriam que sou
uma pessoa inovadora; (P.3.3.17) Os meus pares diriam que sou uma pessoa com uma mente aberta; (P.3.3.18) Gosto de concretizar os detalhes de uma tarefa de acordo com o planeado; (P.3.3.19) Os meus pares diriam que sou uma
pessoa responsável; (P.3.3.20) Organizo o meu trabalho de modo a realizar em primeiro lugar as coisas mais importantes; (P.3.3.21) Conduzo a minha atividade de acordo com rigorosos princípios éticos; (P.3.3.22) Estou motivado em
atingir os objetivos nas tarefas que me são atribuídas.

* A correlação é estatisticamente significativa para α=0.05;


** A correlação é estatisticamente significativa para α=0.01;
374
Anexo 4.2.1.3- Correlações entre traços de personalidade, características da
organização, perfil demográfico e motivações pessoais do empreendedor
Abertura à
Conscenciosidade Extroversão
Experiência
Traços Pessoais
Abertura à experiência 1
Conscenciosidade ,283 1
Extroversão ,363* ,311* 1
Características da organização
Idade da organização ,028 -,114 ,046
Localização geográfica ,192 ,091 -,020
Âmbito de atuação -,027 -,052 ,173
Público-Alvo
Pessoas idosas -,095 ,039 ,052
Pessoas com deficiências físicas -,192 -,197 ,091
Minorias étnicas ,169 ,171 -,147
Pessoas com carências financeiras -,155 -,059 -,049
Refugiados -,147 -,113 -,135
Pessoas com problemas de dependências -,159 -,113 -,081
Pessoas socialmente excluídas ,014 ,172 ,034
Animais - - -
Organizações e associações locais -,165 -,080 -,030
Outro -,014 -,153 -,094
Finalidade da atividade da organização
Complementa os serviços dos mercados -,262 -,130 ,025
Complementa os serviços do Estado ,136 ,058 ,047
Concorre com outros fornecedores -,065 -,113 -,023
Concorre com o Estado ,231 ,048 -,190
A atividade não é disponibilizada nos mercados ,008 ,248 ,187
Perfil demográfico
Género ,005 -,039 -,088
Idade -,067 ,164 ,119
Nível de escolaridade ,101 ,030 ,110
Área de formação -,063 -,187 ,166
Função ocupada na organização -,070 -,329* -,248
Situação ocupacional (colaborador vs. voluntário) ,041 ,138 ,170
Experiências anteriores
Situação ocupacional anterior -,104 -,014 -,119
Setor de proveniência ,170 ,335* -,022
Já criou uma organização -,196 -,201 -,121
Os seus pais já criaram uma organização ,006 ,110 -,053
Familiares e amigos já criaram uma organização -,220 ,136 ,138
Tinha estado envolvido em projetos sociais -,136 -,135 -,368*
Tinha experiência na gestão de organizações -,304* -,176 ,075
Participou em movimentos associativos na juventude -,066 ,150 -,059
Ocorreram mudanças pessoais significativas -,098 ,000 -,104
Encontrava-se satisfeito com a situação profissional -,039 -,175 -,146
Conhecia alguém próximo com o problema a tratar pela -,138 -,071 -,104
organização
Tomou contacto com a questão social na juventude -,118 ,134 -,017
Tomou contacto com a questão social alguns anos antes -,054 ,232 ,113
Objetivos pessoais
Objetivos de caráter pessoal ,580** ,099 ,338*
Seguir o percurso de alguém ,400** -,059 ,327*
Afiliação para com uma dada comunidade ,126 ,152 ,096
Determinação social ,016 ,266 ,576**
Perceção de viabilidade da iniciativa
Perceção da favorabilidade do contexto ,054 ,122 ,171
Perceção de posse das capacidades pessoais necessárias ,544** ,538** ,371*
Perceção de desejabilidade ,244 ,191 ,389**
* A correlação é estatisticamente significativa para α=0.05;
** A correlação é estatisticamente significativa para α=0.01;

375
Anexo 4.2.1.4- Expressão dos diferentes traços de personalidade em função das
características da organização, do indivíduo e das suas motivações pessoais

Abertura à experiência Conscenciosidade Extroversão


(valor médio) (valor médio) (valor médio)
4,1 4,4 3,9
Média global
Características da organização
Tipo de organização
BVS 4,3 4,6 3,8
ONGD 3,9 4,3 3,9
Idade da organização
1-3 anos 4,3 4,7 4,1
3-10 anos 3,9 4,4 3,8
>10 anos 4,1 4,4 4,0
Localização geográfica
Norte 4,0 4,5 4,0
Centro 3,3 4,2 3,6
Lisboa 4,1 4,4 4,0
Alentejo 4,4 4,0 3,0
Algarve 3,6 5,0 4,5
Ilhas 4,1 4,5 3,5
Varias 4,4 4,6 3,9
Âmbito de atuação
Local 3,5 4,5 3,0
Regional 3,8 4,0 3,4
Nacional 4,4 4,7 4,1
Internacional 3,9 4,3 3,9
Público-Alvo
Pessoas idosas 4,2 4,4 3,8
Pessoas com deficiências físicas 4,3 4,7 3,7
Minorias étnicas 3,6 4,1 4,3
Pessoas com carências financeiras 4,2 4,5 4,0
Refugiados 4,5 4,7 4,5
Pessoas com problemas de dependências 4,5 4,7 4,3
Pessoas socialmente excluídas 4,0 4,3 3,9
Animais - - -
Organizações e associações locais 4,2 4,5 4,0
Outro 4,0 4,5 4,0
Finalidade da atividade da organização
Complementa os serviços dos mercados 4,3 4,5 3,9
Complementa os serviços do Estado 3,9 4,4 3,9
Concorre com outros fornecedores 4,2 4,7 4,0
Concorre com o Estado 3,2 4,3 4,7
A atividade não é disponibilizada nos mercados 4,0 4,2 3,7
Características do empreendedor
Género
Feminino 4,0 4,4 4,0
Masculino 4,0 4,4 3,8
Idade
<18
18-34 4,1 4,1 3,8
35-54 3,9 4,6 3,8
55-64 3,7 4,3 3,9
>65 4,1 4,5 4,2
Nível de escolaridade
Ensino Primário - - -
Ensino Secundário 3,7 4,3 3,5
Ensino Superior 4,0 4,4 3,9

376
(Continuação)

Abertura à experiência Conscenciosidade Extroversão


(valor médio) (valor médio) (valor médio)
Área de formação
Ciências da Saúde 4,0 4,6 3,5
Ciências Matemáticas
Ciências Sociais 4,2 4,6 3,8
Ciências Económicas 4,2 4,5 4,1
Engenharia 3,6 4,1 3,6
Artes 4,7 4,9 4,4
Humanidades 3,8 4,2 4,1
Ensino 4,3 5,0 5,0
Outros 3,4 3,5 3,0
Função exercida
Presidente 4,0 4,6 4,2
Membro da Direção 3,8 4,4 3,4
Diretor 4,4 4,4 4,2
Técnico 3,8 4,3 3,8
Outro 3,8 3,8 3,2
Situação ocupacional
Colaborador 4,0 4,3 3,7
Voluntário 4,0 4,5 4,1
Experiências anteriores
Situação ocupacional anterior
Empregado 4,0 4,4 4,0
Reformado 3,7 4,0 3,7
Não ativo 3,8 4,4 3,7
Setor de proveniência
Setor Empresarial 4,0 4,2 4,1
Setor Público 3,9 4,5 3,7
Setor sem fins lucrativos 4,5 4,8 4,3
Outras experiências
Já criou uma organização 4,2 4,6 4,1
Os seus pais já criaram uma organização 4,0 4,3 4,0
Familiares e amigos já criaram uma organização 4,1 4,3 3,8
Tinha estado envolvido em projetos sociais 4,0 4,5 4,1
Tinha experiência na gestão de organizações 4,2 4,5 3,8
Participou em movimentos associativos na juventude 4,0 4,3 4,0
Ocorreram mudanças pessoais significativas 4,1 4,4 4,0
Encontrava-se satisfeito com a situação profissional 4,0 4,5 4,0
Conhecia alguém próximo com o problema a tratar pela 4,1 4,5 4,0
organização
Tomou contacto com a questão social na juventude 4,1 4,3 3,9
Tomou contacto com a questão social alguns anos antes 4,0 4,3 3,8

377
Anexo 4.2.2- Perfil demográfico do empreendedor social

Anexo 4.2.2.1- Distribuição dos empreendedores pelas organizações sociais

Género Idade
Total
Feminino Masculino 18-34 35-54 55-64 > 65
Tipo de Organização
ONGD 28,9% 39,3% 11,8% 33,3% 33,3% 0,0% 33,3%
BVS 71,1% 60,7% 88,2% 66,7% 66,7% 100,0% 66,7%
Subtotal 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Idade da organização
1-3 anos 8,9% 10,7% 5,9% 16,7% 5,6% 0,0% 11,1%
3-10 anos 57,8% 57,1% 58,8% 58,3% 72,2% 50,0% 27,3%
> 10 anos 33,3% 32,1% 35,3% 25,0% 22,2% 50,0% 55,6%
Subtotal 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 93,9%
Localização geográfica
Norte 15,6% 10,7% 23,5% 16,7% 11,1% 0,0% 33,3%
Centro 15,6% 14,3% 17,6% 0,0% 22,2% 33,3% 11,1%
Lisboa 51,1% 53,6% 47,1% 58,3% 44,4% 66,7% 44,4%
Alentejo 4,4% 7,1% 0,0% 16,7% 0,0% 0,0% 0,0%
Algarve 2,2% 3,6% 0,0% 0,0% 5,6% 0,0% 0,0%
Ilhas 2,2% 0,0% 5,9% 0,0% 5,6% 0,0% 0,0%
Varias 8,9% 10,7% 5,9% 8,3% 11,1% 0,0% 11,1%
Subtotal 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Âmbito de atuação
Local 4,4% 7,1% 0,0% 8,3% 5,6% 0,0% 0,0%
Regional 6,7% 0,0% 17,6% 8,3% 5,6% 16,7% 0,0%
Nacional 26,7% 35,7% 11,8% 33,3% 27,8% 0,0% 33,3%
Internacional 62,2% 57,1% 70,6% 50,0% 61,1% 83,3% 66,7%
Subtotal 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Público-Alvo
Pessoas Idosas 7,1% 7,9% 5,7% 6,3% 8,1% 0,0% 10,5%
Pessoas com deficiências física 9,2% 12,7% 2,9% 9,4% 8,1% 0,0% 15,8%
e/ou necessidades especiais
Minorias étnicas 5,1% 4,8% 5,7% 3,1% 5,4% 0,0% 10,5%
Pessoas com carências 15,3% 15,9% 14,3% 15,6% 16,2% 20,0% 10,5%
financeiras
Refugiados 2,0% 1,6% 2,9% 0,0% 2,7% 0,0% 5,3%
Pessoas com problemas de 2,0% 1,6% 2,9% 0,0% 5,4% 0,0% 0,0%
dependência
Pessoas socialmente 22,4% 22,2% 22,9% 31,3% 18,9% 20,0% 15,8%
excluídas/Vulneráveis
Animais 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%
Organizações e associações 11,2% 9,5% 14,3% 15,6% 5,4% 30,0% 5,3%
locais
Outros 25,5% 23,8% 28,6% 18,8% 29,7% 30,0% 26,3%
Subtotal 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Finalidade da atividade da organização
Complementa os serviços dos
mercados 25,9% 33,3% 11,1% 40,0% 30,4% 0,0% 10,0%
Complementa os serviços do Estado 35,2% 33,3% 38,9% 33,3% 30,4% 33,3% 50,0%
Concorre com outros fornecedores 3,7% 5,6% 0,0% 0,0% 8,7% 0,0% 0,0%
Concorre com o Estado 3,7% 2,8% 5,6% 0,0% 0,0% 33,3% 0,0%
A atividade não é disponibilizada
nos mercados 31,5% 25,0% 44,4% 26,7% 30,4% 33,3% 40,0%
Subtotal 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

378
Anexo 4.2.2.2- Correlações entre variáveis demográficas do empreendedor
P.2.1 P.2.2 P.2.3 P.2.4 P.2.7 P.2.8 P.3.1.1 P.3.1.2 P.3.1.3 P.3.1.4 P.3.1.5 P.3.1.6 P.3.1.7 P.3.1.8 P.3.1.9 P.3.1.10 P.3.1.11
P.2.1 1
P.2.2 ,538** 1
P.2.3 -,159 -,184 1
P.2.4 -,199 -,090 -,023 1
P.2.7 -,166 -,130 ,023 ,100 1
P.2.8 -,098 ,017 -,118 ,091 - 1
*
P.3.1.1 -,367 -,193 ,013 -,127 ,162 -,178 1
P.3.1.2 -,069 ,178 -,134 -,070 ,115 ,120 ,384** 1
*
P.3.1.3 ,006 ,059 -,107 ,231 ,035 ,119 ,340 ,356* 1
P.3.1.4 ,024 ,168 -,071 ,149 ,069 ,140 ,128 ,000 ,143 1
* * *
P.3.1.5 -,324 -,066 ,024 ,244 ,249 -,278 ,326 ,160 ,374 ,245 1
P.3.1.6 -,262 -,162 ,036 ,180 ,165 ,286 ,059 ,181 ,145 ,109 ,019 1
P.3.1.7 -,086 -,025 -,286 -,049 -,023 ,039 ,148 ,245 ,018 ,036 -,086 ,145 1
P.3.1.8 -,086 -,184 ,143 ,175 ,416** -,147 ,244 ,134 ,036 ,100 ,135 ,218 -,393** 1
P.3.1.9 ,040 -,106 -,208 ,066 -,131 -,094 ,070 -,275 ,178 ,196 -,055 ,262 ,178 ,086 1
P.3.1.10 ,155 ,047 -,095 ,084 -,104 ,174 -,111 -,067 ,065 ,119 ,063 ,109 -,202 ,119 ,120 1
P.3.1.11 ,006 ,101 -,107 ,037 ,150 ,335* ,051 ,022 ,107 ,250 ,098 -,036 -,071 ,036 ,086 ,244 1

(P.2.1) Género; (P.2.2) Idade; (P.2.3) Nível de formação; (P.2.4) Área de formação; (P.2.7) Situação ocupacional anterior; (P.2.8) Setor de proveniência; (P.3.1.1) Antes desta iniciativa já
criou uma organização; (P.3.1.2) Os pais já criaram uma organização; (P.3.1.3) Os familiares e amigos já criaram uma organização; (P.3.1.4) Envolvimento anterior em projetos sociais
anteriores; (P.3.1.5) Experiências anterior na gestão de organizações; (P.3.1.6) Participação em movimentos associativos na juventude; (P.3.1.7) Mudanças significativas na sua vida pessoal;
(P.3.1.8) Encontrava-se satisfeito com a situação profissional anterior; (P.3.1.9) Conhecimento de alguém próximo com um problema relacionado com a missão da organização; (P.3.1.10)
Contacto com a questão social desde a juventude; (P.3.1.11) Contacto com a questão social alguns anos antes de ingressar na organização;
* A correlação é estatisticamente significativa para α=0.05;
** A correlação é estatisticamente significativa para α=0.01;
379
Anexo 4.2.2.3- Características demográficas do empreendedor social em função das características da organização social, perfil e
motivações pessoais do indivíduo
Experiências passadas
Contacto Contacto
Nível Área Pais já Familiares e Envolvim. Conhecia
Situação Já criou Particip. mov. Mudanças com a com a
Idade Género de de Setor de criaram amigos já projetos Exper. Satisfação c/ alguém com
ocup. uma Associ. pessoais questão questão
form. form. proven. uma criaram sociais em gestão situação prof. problema
anterior organiz. Juventude significativas desde anos
organiz. organiz. anteriores social
juventude antes
Características da organização
Idade da organização ,064 ,245 ,256 -,090 -,067 ,067 -,046 -,074 -,158 ,049 -,012 -,181 ,064 -,217 -,217 -,323* -,158
Localização geográfica -,137 -,138 ,175 ,009 ,058 ,078 ,019 ,014 ,058 -,250 ,093 -,108 -,334* ,052 -,266 ,057 ,058
Âmbito de atuação ,061 ,192 -,066 ,263 -,014 -,183 -,147 -,193 ,232 ,088 ,004 ,146 -,100 ,022 ,167 ,040 -,044
Público-Alvo
Pessoas idosas ,081 -,008 -,115 ,348* ,064 -,006 -,156 -,061 ,033 ,082 -,045 -,150 ,279 -,213 ,045 ,052 ,033
Pessoas c/ deficiências físicas ,275 -,031 ,089 ,333* ,115 -,261 ,024 -,111 ,134 ,000 ,275 -,272 ,134 ,000 -,046 ,044 ,134
Minorias étnicas -,016 -,111 ,189 -,167 -,092 -,004 -,085 ,000 -,094 -,151 -,162 -,144 ,047 -,151 ,016 -,361* -,236
Pessoas c/ carências financ. ,065 ,133 -,189 ,144 ,000 ,159 ,034 ,236 ,094 ,151 -,032 ,096 ,378* -,076 ,130 ,031 ,189
Refugiados -,054 -,149 -,058 ,190 ,112 -,118 ,088 ,162 -,014 ,115 -,054 ,176 ,202 ,115 ,054 -,221 -,231
Pessoas c/ dependências -,054 ,054 -,058 ,086 ,112 -,290 -,145 -,108 -,231 ,115 -,054 ,176 ,202 ,115 ,277 -,221 -,231
Pessoas socialmente excluídas ,029 ,329* -,083 ,088 -,184 -,039 -,177 -,044 -,244 -,012 -,155 -,109 ,024 -,226 -,212 -,111 ,024
Animais - - - - - - - - - - - - - - - - -
Organizações e assoc. locais -,090 ,143 ,055 ,151 ,027 ,084 -,047 -,026 ,014 ,180 ,230 -,063 -,090 -,069 -,017 ,039 ,014
Outro -,051 -,014 -,120 -,161 ,058 ,173 ,311* ,447** ,239 ,060 ,041 ,183 -,209 ,167 -,133 ,109 -,120
Finalidade da atividade
Compl. serviços dos mercados ,326* ,349* ,013 ,244 ,100 -,178 ,067 ,144 ,340* -,218 ,029 ,059 -,141 ,128 -,029 ,177 -,045
Compl. serviços do Estado ,016 -,082 -,228 ,035 -,198 -,121 -,089 ,135 ,168 ,024 ,202 ,239 ,078 ,024 ,169 ,026 -,102
Concorre c/ outros fornecedores ,168 ,054 -,058 ,138 ,112 ,054 -,145 -,108 -,014 ,115 -,054 -,264 -,014 ,115 ,054 -,005 ,202
Concorre com o Estado -,054 -,149 -,058 -,019 ,112 ,226 ,088 -,108 -,231 ,115 -,277 ,176 -,014 ,115 ,054 ,211 ,202
A atividade não é disponibiliz. -,149 -,063 ,159 -,111 -,249 ,278 -,128 -,160 -,190 -,024 -,149 -,019 -,006 -,135 -,040 -,063 -,006
Posição na iniciativa
* *
Função Exercida -,174 -,358 -,150 ,103 ,129 ,088 ,297 -,047 -,131 ,000 ,019 ,108 ,088 ,188 ,174 -,012 -,257
Situação ocupacional ,395** ,497** -,083 -,213 -,069 -,226 -,273 -,156 ,024 ,095 ,029 -,381** -,065 -,333* ,063 -,022 ,291
Traços pessoais
Abertura à experiência ,005 -,067 ,101 -,063 -,104 ,170 -,196 ,006 -,220 -,136 -,304* -,066 -,098 -,039 -,138 -,118 -,054
Conscenciosidade -,039 ,164 ,030 -,187 -,014 ,335* -,201 ,110 ,136 -,135 -,176 ,150 ,000 -,175 -,071 ,134 ,232
Extroversão -,088 ,119 ,110 ,166 -,119 -,022 -,121 -,053 ,138 -,368* ,075 -,059 -,104 -,146 -,104 -,017 ,113
Objetivos pessoais
Objetivos de caráter pessoal -,193 -,139 ,069 ,190 ,119 ,253 ,154 ,233 -,032 -,029 -,060 ,136 -,008 ,332* ,006 ,101 -,015
Seguir o percurso de alguém -,117 ,034 ,229 ,030 -,129 -,023 -,069 -,125 -,355* -,262 -,071 -,162 -,123 ,091 -,216 ,041 -,101
*
Afiliação para c/ uma -,063 ,065 -,245 -,019 -,333 ,129 -,054 -,117 ,036 ,083 ,017 ,111 -,081 -,057 ,023 ,285 -,042
comunidade
Determinação social -,118 ,092 -,064 -,064 ,035 -,113 ,085 -,119 ,154 -,091 ,302* ,194 ,086 -,254 ,118 ,119 ,086
Perceção de viabilidade da
iniciativa
Perceção de favorab. do contexto ,147 ,342* -,034 -,135 -,181 -,236 ,251 ,284 ,105 ,122 ,279 -,140 -,049 ,088 -,256 -,144 -,218
Perceção de posse capacidades -,033 ,162 ,042 -,149 -,124 ,167 ,049 ,083 -,043 -,186 -,338* -,042 ,103 -,186 -,110 -,005 ,175
Perceção de desejabilidade -,024 ,057 ,157 -,030 -,107 -,168 ,035 -,033 ,061 -,192 ,021 -,169 -,157 -,087 -,201 -,169 -,114
* A correlação é estatisticamente significativa para α=0.05; ** A correlação é estatisticamente significativa para α=0.01;
380
Anexo 4.2.2.4- As experiências pessoais e profissionais passadas do empreendedor nas diferentes categorias de organizações sociais

Tipo de
organização Idade Localização Âmbito de atuação
3-10 >10
ONGD BVS 1-3 anos anos anos Norte Centro Lisboa Alentejo Algarve Ilhas Várias Local Regional Nacional Internacional
Já criou uma organização anteriormente 31,3% 30,8% 25,0% 30,8% 33,3% 42,9% 28,6% 30,4% 0,0% 0,0% 0,0% 50,0% 0,0% 0,0% 41,7% 32,1%

Os pais já criaram uma organização 21,9% 15,4% 0,0% 23,1% 20,0% 28,6% 14,3% 17,4% 50,0% 0,0% 0,0% 25,0% 0,0% 0,0% 16,7% 25,0%

Os familiares e amigos já criaram uma 46,9% 69,2% 50,0% 46,2% 66,7% 57,1% 42,9% 56,5% 100,0% 0,0% 0,0% 50,0% 100,0% 33,3% 75,0% 42,9%
organização
Já tinha estado envolvido em projetos 81,3% 69,2% 100,0% 73,1% 80,0% 57,1% 71,4% 82,6% 50,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 66,7% 78,6%
sociais anteriores
Já tinha experiência na gestão de 62,5% 61,5% 75,0% 57,7% 66,7% 85,7% 57,1% 56,5% 50,0% 100,0% 100,0% 50,0% 0,0% 100,0% 75,0% 57,1%
organizações
Participação em movimentos associativos 65,6% 46,2% 25,0% 61,5% 66,7% 57,1% 71,4% 52,2% 50,0% 100,0% 100,0% 75,0% 100,0% 100,0% 41,7% 60,7%
na juventude
Ocorreram mudanças pessoais 56,3% 46,2% 50,0% 57,7% 46,7% 28,6% 42,9% 56,5% 50,0% 0,0% 100,0% 100,0 0,0% 66,7% 58,3% 53,6%
significativas %
Encontrava-se satisfeito com a situação 75,0% 84,6% 75,0% 69,2% 93,3% 85,7% 85,7% 73,9% 50,0% 100,0% 100,0% 75,0% 100,0% 66,7% 75,0% 78,6%
profissional anterior
Conhecia alguém próximo com o 34,4% 46,2% 0,0% 38,5% 46,7% 28,6% 42,9% 30,4% 0,0% 100,0% 100,0% 75,0% 50,0% 66,7% 41,7% 32,1%
problema social a tratar
Contacto com a questão social desde a 50,0% 53,8% 25,0% 42,3% 73,3% 42,9% 42,9% 56,5% 100,0% 100,0% 0,0% 25,0% 50,0% 33,3% 66,7% 46,4%
juventude
Contacto com a questão social anos antes 56,3% 46,2% 25,0% 53,8% 60,0% 42,9% 71,4% 52,2% 100,0% 0,0% 0,0% 50,0% 50,0% 66,7% 41,7% 57,1%
381
(Continuação)

Público-Alvo Finalidade da atividade da organização


Compl. os A atividade não
Pessoas c/ Pessoas c/ Pessoas c/ Pessoas Organizações serviços Compl. os Concorre com Concorre é
Pessoas deficiências Minorias carências problemas de socialmente e associações dos serviços outros com o disponibilizada
idosas físicas étnicas financeiras Refugiados dependências excluídas locais Outro mercados do Estado fornecedores Estado nos mercados
Já criou uma organização anteriormente 14,3% 33,3% 20,0% 33,3% 50,0% 0,0% 22,7% 27,3% 44,0% 35,7% 26,3% 0,0% 50,0% 23,5%

Os pais já criaram uma organização 14,3% 11,1% 20,0% 33,3% 50,0% 0,0% 18,2% 18,2% 36,0% 28,6% 26,3% 0,0% 0,0% 11,8%

Os familiares e amigos já criaram uma 57,1% 66,7% 40,0% 60,0% 50,0% 0,0% 40,9% 54,5% 64,0% 78,6% 63,2% 50,0% 0,0% 41,2%
organização
Já tinha estado envolvido em projetos 85,7% 77,8% 60,0% 86,7% 100,0% 100,0% 77,3% 90,9% 80,0% 64,3% 78,9% 100,0% 100,0% 76,5%
sociais anteriores
Já tinha experiência na gestão de 57,1% 88,9% 40,0% 60,0% 50,0% 50,0% 54,5% 81,8% 64,0% 64,3% 73,7% 50,0% 0,0% 52,9%
organizações
Participação em movimentos 42,9% 33,3% 40,0% 66,7% 100,0% 100,0% 54,5% 54,5% 68,0% 64,3% 73,7% 0,0% 100,0% 58,8%
associativos na juventude
Ocorreram mudanças pessoais 85,7% 66,7% 60,0% 80,0% 100,0% 100,0% 54,5% 45,5% 44,0% 42,9% 57,9% 50,0% 50,0% 52,9%
significativas
Encontrava-se satisfeito com a situação 57,1% 77,8% 60,0% 73,3% 100,0% 100,0% 68,2% 72,7% 84,0% 85,7% 78,9% 100,0% 100,0% 70,6%
profissional anterior
Conhecia alguém próximo com o 42,9% 33,3% 40,0% 46,7% 50,0% 100,0% 27,3% 36,4% 32,0% 35,7% 47,4% 50,0% 50,0% 35,3%
problema social a tratar
Contacto com a questão social desde a 57,1% 55,6% 0,0% 53,3% 0,0% 0,0% 45,5% 54,5% 56,0% 64,3% 52,6% 50,0% 100,0% 47,1%
juventude
Contacto com a questão social anos 57,1% 66,7% 20,0% 66,7% 0,0% 0,0% 54,5% 54,5% 48,0% 50,0% 47,4% 100,0% 100,0% 52,9%
antes
382
Anexo 4.2.2.5- As experiências pessoais e profissionais passadas do empreendedor em função das suas características demográficas e
situação ocupacional na organização
Género Idade Função Exercida Situação na organização

Membro
da
Feminino Masculino 18-34 35-54 55-64 >65 Presidente direção Diretor Técnico Outro Colaborador Voluntário
Já criou uma organização anteriormente 17,9% 52,9% 16,7% 27,8% 66,7% 33,3% 36,4% 57,1% 33,3% 0,0% 0,0% 18,2% 43,5%
Os pais já criaram uma organização 17,9% 23,5% 33,3% 16,7% 16,7% 11,1% 18,2% 28,6% 0,0% 40,0% 20,0% 13,6% 26,1%
Os familiares e amigos já criaram uma organização 53,6% 52,9% 58,3% 50,0% 66,7% 44,4% 50,0% 57,1% 33,3% 60,0% 80,0% 54,5% 52,2%
Já tinha estado envolvido em projetos sociais anteriores 78,6% 76,5% 83,3% 77,8% 100,0% 55,6% 77,3% 71,4% 100,0% 60,0% 80,0% 81,8% 73,9%
Já tinha experiência na gestão de organizações 50,0% 82,4% 58,3% 61,1% 66,7% 66,7% 63,6% 57,1% 83,3% 20,0% 80,0% 63,6% 60,9%
Participação em movimentos associativos na juventude 50,0% 76,5% 50,0% 55,6% 83,3% 66,7% 68,2% 57,1% 50,0% 20,0% 80,0% 40,9% 78,3%
Ocorreram mudanças pessoais significativas 50,0% 58,8% 50,0% 55,6% 50,0% 55,6% 54,5% 57,1% 66,7% 40,0% 40,0% 50,0% 56,5%
Encontrava-se satisfeito com a situação profissional 75,0% 82,4% 58,3% 83,3% 100,0% 77,8%
anterior 86,4% 71,4% 83,3% 40,0% 80,0% 63,6% 91,3%
Conhecia alguém próximo com o problema social a tratar 39,3% 35,3% 8,3% 55,6% 66,7% 22,2% 45,5% 42,9% 33,3% 0,0% 40,0% 40,9% 34,8%
Contacto com a questão social desde a juventude 57,1% 41,2% 66,7% 38,9% 50,0% 55,6% 54,5% 28,6% 66,7% 40,0% 60,0% 50,0% 52,2%
Contacto com a questão social anos antes 53,6% 52,9% 66,7% 38,9% 100,0% 33,3% 36,4% 85,7% 50,0% 60,0% 80,0% 68,2% 39,1%

(Continuação)

Situação ocupacional
anterior Setor de proveniência
Setor Setor Setor sem fins
Colaborador Voluntário Empregado Reformado Não ativo Empresarial Público lucrativos
Já criou uma organização anteriormente 18,2% 43,5% 34,3% 50,0% 12,5% 23,5% 46,2% 40,0%
Os pais já criaram uma organização 13,6% 26,1% 22,9% 0,0% 12,5% 23,5% 30,8% 0,0%
Os familiares e amigos já criaram uma organização 54,5% 52,2% 54,3% 50,0% 50,0% 58,8% 53,8% 40,0%
Já tinha estado envolvido em projetos sociais anteriores 81,8% 73,9% 80,0% 50,0% 75,0% 88,2% 69,2% 80,0%
Já tinha experiência na gestão de organizações 63,6% 60,9% 68,6% 50,0% 37,5% 52,9% 84,6% 80,0%
Participação em movimentos associativos na juventude 40,9% 78,3% 62,9% 100,0% 37,5% 76,5% 53,8% 40,0%
Ocorreram mudanças pessoais significativas 50,0% 56,5% 54,3% 0,0% 62,5% 58,8% 46,2% 60,0%
Encontrava-se satisfeito com a situação profissional anterior 63,6% 91,3% 85,7% 100,0% 37,5% 76,5% 100,0% 80,0%
Conhecia alguém próximo com o problema social a tratar 40,9% 34,8% 34,3% 50,0% 50,0% 29,4% 38,5% 40,0%
Contacto com a questão social desde a juventude 50,0% 52,2% 48,6% 50,0% 62,5% 58,8% 38,5% 40,0%
Contacto com a questão social anos antes 68,2% 39,1% 57,1% 50,0% 37,5% 70,6% 53,8% 20,0%
383
Anexo 4.2.2.6- A influência da área de formação sobre o comportamento
socialmente empreendedor- teste do qui-quadrado

N N
Resíduos c
Observado a Esperado b
Ciências da Saúde 6 5,6 ,4
Ciências Sociais 4 5,6 -1,6
Ciências Económicas 9 5,6 3,4
Engenharia 9 5,6 3,4
Artes 4 5,6 -1,6
Humanidades 11 5,6 5,4
Ensino 1 5,6 -4,6
Outros 1 5,6 -4,6

a. N=45
b. Teste para a hipótese de uma distribuição uniforme das respostas
pelas diferentes áreas de formação
c. α= 0,015

Anexo 4.2.2.7- A influência do contexto

Criação prévia de
Idade
outras organizações
Sim Não 18-34 35-54 55-64 >65
Experiência empreendedora dos pais
Os pais já criaram organizações 42,9% 9,7% 33,3% 16,7% 16,7% 11,1%
Os pais nunca criaram uma 57,1% 90,3%
organização 66,7% 83,3% 83,3% 88,9%
Subtotal 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Experiência empreendedora de
familiares e amigos
Familiares e amigos já criaram 78,6% 41,9%
organizações 58,3% 50,0% 66,7% 44,4%
Familiares e amigos nunca criaram 21,4% 58,1%
uma organização 41,7% 50,0% 33,3% 55,6%
Subtotal 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

384
Anexo 4.2.3- Motivações pessoais do empreendedor social- objetivos pessoais e perceção de viabilidade da iniciativa

Anexo 4.2.3.1- A importância atribuída a diferentes motivações pessoais


Desvio- Percentil Percentil Percentil
(1) (2) (3) (4) (5) Média
Padrão 25 50 75
Estar fortemente comprometido com uma visão social 0% 0% 7% 24% 69% 4,6 0,6 4,0 5,0
Estar determinado em ser um agente de mudança social 0% 0% 9% 31% 60% 4,5 0,7 4,0 5,0
É uma forma de compromisso ou afiliação para com uma dada comunidade 4% 16% 18% 38% 24% 3,6 1,2 3,0 4,0
Estar determinado em fazer face a uma necessidade social de um modo economicamente 2% 7% 20% 20% 51% 4,1 1,1 3,0 5,0
viável
Ter uma maior autonomia e independência ocupacional 24% 11% 36% 16% 13% 2,8 1,3 1,5 3,0
Gosto em assumir riscos e novos desafios 2% 2% 24% 29% 42% 4,1 1,0 3,0 4,0
Proporcionar oportunidades para a minha criatividade 16% 7% 18% 22% 38% 3,6 1,5 3,0 4,0
A criação de uma fonte de rendimentos 47% 16% 18% 13% 7% 2,2 1,3 1,0 2,0
Adotar um novo modelo de vida 22% 18% 20% 24% 16% 2,9 1,4 2,0 3,0
Aumentar o prestígio e status pessoal 56% 18% 22% 2% 2% 1,8 1,0 1,0 1,0
Seguir o modelo de pessoas que admiro 38% 16% 18% 18% 11% 2,5 1,4 1,0 2,0
Seguir uma tradição familiar 64% 18% 9% 7% 2% 1,6 1,0 1,0 1,0
Considerar este trabalho menos exigente do que numa empresa comercial 62% 13% 13% 9% 2% 1,8 1,1 1,0 1,0
Ser capaz de identificar uma necessidade social 4% 7% 27% 27% 36% 3,8 1,1 3,0 4,0
Ter a capacidade de ver riscos como oportunidades para criar valor social 7% 11% 27% 27% 29% 3,6 1,2 3,0 4,0
Ter competência e experiência necessárias para iniciar um novo projeto 2% 7% 16% 36% 40% 4,0 1,0 3,5 4,0
Dispor de recursos suficientes para lançar a iniciativa 13% 11% 29% 29% 18% 3,3 1,3 2,5 3,0
Existência de apoios e aconselhamento para este tipo de organizações 18% 27% 31% 13% 11% 2,7 1,2 2,0 3,0
Existência de um regime legal favorável para este tipo de organizações 27% 22% 27% 11% 13% 2,6 1,4 1,0 3,0
Existência de um regime fiscal favorável para este tipo de organizações 31% 18% 24% 13% 13% 2,6 1,4 1,0 3,0
Facilidade na obtenção de informações para iniciar o projeto 22% 24% 31% 13% 9% 2,6 1,2 2,0 3,0
Facilidade e simplicidade dos processos administrativos para o lançamento do projeto 29% 22% 29% 11% 9% 2,5 1,3 1,0 2,0
Existência de uma necessidade social que não estava a ser devidamente satisfeita 2% 4% 16% 20% 58% 4,3 1,0 4,0 5,0
N=45
(1) Importância muito baixa; (2) Importância baixa; (3) Importância nula; (4); Importância elevada; (5) Importância muito elevada;
385
Anexo 4.2.3.2- Correlações entre motivações pessoais
P.3.2.1 P.3.2.2 P.3.2.3 P.3.2.4 P.3.2.5 P.3.2.6 P.3.2.7 P.3.2.8 P.3.2.9 P.3.2.10 P.3.2.11 P.3.2.12 P.3.2.13 P.3.2.14 P.3.2.15 P.3.2.16 P.3.2.17 P.3.2.18 P.3.2.19 P.3.2.20 P.3.2.21 P.3.2.22 P.3.2.23
P.3.2.1 1
P.3.2.2 ,598** 1
P.3.2.3 ,179 ,199 1
* **
P.3.2.4 ,301 ,392 ,431** 1
P.3.2.5 -,111 -,126 -,015 ,201 1
P.3.2.6 ,118 ,086 -,037 ,120 ,423** 1
P.3.2.7 -,173 -,090 -,065 ,287 ,607** ,543** 1
P.3.2.8 -,249 -,157 -,147 ,033 ,514** ,370* ,471** 1
P.3.2.9 -,056 ,062 -,226 ,094 ,272 ,282 ,332* ,527** 1
** **
P.3.2.10 -,173 -,165 -,034 ,084 ,437 ,264 ,292 ,413 ,338* 1
*
P.3.2.11 -,095 -,054 ,209 ,283 ,282 ,233 ,237 ,296 ,354* ,462** 1
P.3.2.12 ,140 -,060 ,056 ,115 ,197 ,199 ,293 ,127 ,292 ,413** ,449** 1
P.3.2.13 ,060 ,110 -,020 -,198 -,210 ,117 -,089 -,046 ,261 ,267 ,159 ,385** 1
P.3.2.14 ,195 ,033 ,260 ,328* ,204 ,255 ,135 ,231 -,036 ,240 ,361* ,003 -,194 1
* * ** * **
P.3.2.15 ,128 ,345 ,149 ,360 ,277 ,460 ,294 ,255 ,077 ,257 ,427 ,029 -,123 ,624** 1
** *
P.3.2.16 ,172 ,100 ,111 ,403 ,106 ,245 ,119 ,161 -,140 ,293 ,309 -,006 -,207 ,635** ,436** 1
P.3.2.17 ,103 ,240 ,133 ,191 ,283 ,203 ,047 ,213 ,138 ,100 ,425** -,047 -,080 ,271 ,543** ,184 1
P.3.2.18 ,014 ,004 ,119 ,090 ,288 ,277 ,180 -,053 -,142 ,096 ,152 ,048 -,064 ,079 ,261 -,008 ,366* 1
P.3.2.19 ,125 ,144 ,052 ,075 ,063 ,053 ,025 -,213 ,190 -,013 ,074 ,144 ,235 -,030 ,017 -,103 ,232 ,606** 1
* **
P.3.2.20 ,084 ,103 ,087 ,074 ,119 ,053 -,002 -,240 ,147 ,095 ,110 ,148 ,338 -,017 ,011 -,114 ,176 ,607 ,935** 1
* ** **
P.3.2.21 -,133 -,093 ,089 -,070 ,290 ,115 ,117 ,028 ,077 ,095 ,299 -,018 ,095 ,146 ,292 -,059 ,401 ,697 ,636** ,660** 1
P.3.2.22 ,038 ,020 ,206 ,320* ,400** ,082 ,182 -,039 ,095 ,191 ,288 -,020 ,006 ,203 ,218 ,158 ,326* ,592** ,558** ,557** ,731** 1
P.3.2.23 ,270 ,395** ,106 ,478** -,097 ,049 -,079 -,068 ,028 -,158 ,232 -,205 -,138 ,294* ,450** ,226 ,327* ,200 ,139 ,169 ,117 ,072 1

(P.3.2.1) Estar fortemente comprometido com uma visão social; (P.3.2.2) Estar determinado em ser um agente de mudança social; (P.3.2.3) É uma forma de compromisso ou afiliação para com uma dada comunidade; (P.3.2.4) Estar determinado em fazer
face a uma necessidade social de um modo economicamente viável; (P.3.2.5) Ter uma maior autonomia e independência ocupacional; (P.3.2.6) Gosto em assumir riscos e novos desafios; (P.3.2.7) Proporcionar oportunidades para a minha criatividade;
(P.3.2.8) A criação de uma fonte de rendimentos; (P.3.2.9) Adotar um novo modelo de vida; (P.3.2.10) Aumentar o prestígio e status pessoal; (P.3.2.11) Seguir o modelo de pessoas que admiro; (P.3.2.12) Seguir uma tradição familiar; (P.3.2.13) Considerar
este trabalho menos exigente do que numa empresa comercial; (P.3.2.14) Ser capaz de identificar uma necessidade social; (P.3.2.15) Ter a capacidade de ver riscos como oportunidades para criar valor social; (P.3.2.16) Ter competência e experiência
necessárias para iniciar um novo projeto; (P.3.2.17) Dispor de recursos suficientes para lançar a iniciativa; (P.3.2.18) Existência de apoios e aconselhamento para este tipo de organizações; (P.3.2.19) Existência de um regime legal favorável para este tipo de
organizações; (P.3.2.20) Existência de um regime fiscal favorável para este tipo de organizações; (P.3.2.21) Facilidade na obtenção de informações para iniciar o projeto; (P.3.2.22) Facilidade e simplicidade dos processos administrativos para o lançamento
do projeto; (P.3.2.23) Existência de uma necessidade social que não estava a ser devidamente satisfeita.
* A correlação é estatisticamente significativa para α=0.05;
** A correlação é estatisticamente significativa para α=0.01;
386
Anexo 4.2.3.3- Correlações entre motivações pessoais, características da organização, a posição do empreendedor na organização e perfil
do empreendedor
Objetivos pessoais Perceção de viabilidade da iniciativa
Perceção de
Objetivos de Seguir o percurso Afiliação para com Determinação favorabilidade Perceção de posse das Perceção de
caráter pessoal de alguém uma comunidade social do contexto capacidades pessoais desejabilidade
Motivações pessoais
Objetivos de caráter pessoal 1
Seguir o percurso de alguém ,343* 1
Afiliação para com uma dada comunidade -,048 ,171 1
Determinação social -,074 -,066 ,199 1
Perceção de favorabilidade do contexto ,199 ,180 ,125 ,049 1
Perceção de posse das capacidades pessoais ,323* ,308* ,209 ,202 ,098 1
Perceção de desejabilidade -,066 ,061 ,106 ,395** ,165 ,396** 1
Características da organização
Idade -,015 ,258 -,092 -,261 ,132 ,028 -,142
Localização geográfica -,041 ,120 -,125 -,171 -,270 -,064 ,006
Âmbito de atuação -,106 ,001 ,071 ,138 -,032 -,085 ,038
Público-Alvo
Pessoas idosas ,142 -,233 -,196 ,054 -,012 ,055 -,128
Pessoas com deficiências físicas -,096 ,003 -,263 ,136 ,099 -,111 -,033
Minorias étnicas ,031 -,177 -,303* -,156 -,037 ,031 ,162
Pessoas com carências financeiras ,028 -,334* -,110 -,024 -,027 ,038 -,092
Refugiados ,168 -,293 -,166 ,004 ,102 -,036 ,056
Pessoas com problemas de dependências ,033 -,091 ,023 ,004 ,007 -,232 -,049
Pessoas socialmente excluídas -,049 -,020 -,051 -,051 ,193 ,125 ,081
Animais - - - - - - -
Organizações e associações locais -,129 -,016 -,143 ,049 ,086 -,313* -,054
Outro ,073 -,139 ,022 -,084 ,032 -,195 -,015
Finalidade da atividade da organização
Complementa os serviços dos mercados -,091 -,026 -,138 -,135 -,007 -,091 -,060
Complementa os serviços do Estado ,011 -,183 ,072 ,118 ,184 -,186 -,041
Concorre com outros fornecedores -,108 -,089 ,118 ,004 -,135 -,078 -,155
Concorre com o Estado ,076 ,219 ,212 ,004 -,255 ,254 ,056
A atividade não é disponibilizada nos mercados ,212 ,070 -,097 -,022 ,112 ,088 -,021
Posição na organização
Função Exercida ,264 ,045 -,063 -,325* ,000 -,179 -,297*
Situação ocupacional (colaborador vs. voluntário) -,367* -,171 ,066 ,289 ,076 ,084 ,256
387
(Continuação)

Objetivos pessoais Perceção de viabilidade da iniciativa


Perceção de
Objetivos de Seguir o percurso Afiliação para com Determinação favorabilidade Perceção de posse das Perceção de
caráter pessoal de alguém uma comunidade social do contexto capacidades pessoais desejabilidade
Traços pessoais do indivíduo
Abertura à experiência ,580** ,400** ,126 ,016 ,054 ,544** ,244
Conscenciosidade ,099 -,059 ,152 ,266 ,122 ,538** ,191
Extroversão ,338* ,327* ,096 ,576** ,171 ,371* ,389**
Características demográficas
Género -,193 -,117 -,063 -,118 ,147 -,033 -,024
Idade -,139 ,034 ,065 ,092 ,342* ,162 ,057
Nível de formação ,069 ,229 -,245 -,064 -,034 ,042 ,157
Área de formação ,190 ,030 -,019 -,064 -,135 -,149 -,030
Experiências anteriores
Situação ocupacional anterior ,119 -,129 -,333* ,035 -,181 -,124 -,107
Setor de proveniência ,253 -,023 ,129 -,113 -,236 ,167 -,168
Já criou uma organização ,154 -,069 -,054 ,085 ,251 ,049 ,035
Os seus pais já criaram uma organização ,233 -,125 -,117 -,119 ,284 ,083 -,033
Familiares e amigos já criaram uma organização -,032 -,355* ,036 ,154 ,105 -,043 ,061
Tinha estado envolvido em projetos sociais -,029 -,262 ,083 -,091 ,122 -,186 -,192
Tinha experiência na gestão de organizações -,060 -,071 ,017 ,302* ,279 -,338* ,021
Participou em movimentos associativos na ,136 -,162 ,111 ,194 -,140 -,042 -,169
juventude
Ocorreram mudanças pessoais significativas -,008 -,123 -,081 ,086 -,049 ,103 -,157
Encontrava-se satisfeito com a situação profissional ,332* ,091 -,057 -,254 ,088 -,186 -,087
Conhecia alguém próximo com o problema a tratar ,006 -,216 ,023 ,118 -,256 -,110 -,201
pela organização
Tomou contacto com a questão social na juventude ,101 ,041 ,285 ,119 -,144 -,005 -,169
Tomou contacto com a questão social alguns anos -,015 -,101 -,042 ,086 -,218 ,175 -,114
antes
* A correlação é estatisticamente significativa para α=0.05;
** A correlação é estatisticamente significativa para α=0.01;
388
Anexo 4.2.3.4- A importância dos diferentes objetivos pessoais em função das características da organização, posição do empreendedor
na organização e perfil do empreendedor
Objetivos pessoais Perceção de viabilidade da iniciativa
Objetivos de Seguir o percurso Afiliação para com Determinação Perceção de favorabilidade Perceção capacidades Perceção
caráter pessoal de alguém uma comunidade social do contexto pessoais desejabilidade
(valor médio) (valor médio) (valor médio) (valor médio) (valor médio) (valor médio) (valor médio)
3,5 2,1 3,6 4,5 2,6 3,8 4,3
Média global
Características da organização
Tipo de organização
BVS 3,9 2,2 3,9 4,5 2,6 4,1 4,2
ONGD 3,3 2,0 3,5 4,5 2,6 3,7 4,3
Idade
1-3 anos 3,8 1,4 4,8 5,0 2,2 4,5 5,0
3-10 anos 3,4 2,0 3,4 4,5 2,6 3,6 4,2
>10 anos 3,5 2,4 3,7 4,3 2,8 4,1 4,2
Localização geográfica
Norte 3,7 2,1 3,9 4,6 2,7 4,2 4,3
Centro 2,9 1,6 4,3 4,4 2,6 3,4 3,7
Lisboa 3,6 2,1 3,4 4,7 2,8 3,8 4,4
Alentejo 3,7 2,0 4,5 4,0 2,8 3,7 4,5
Algarve 3,3 3,5 3,0 4,0 2,2 5,0 5,0
Ilhas 4,0 1,5 2,0 4,0 2,0 5,0 4,0
Varias 3,2 2,4 3,8 4,3 1,6 3,4 4,0
Âmbito de atuação
Local 3,0 2,5 3,5 5,0 2,6 3,7 4,0
Regional 3,8 1,8 3,0 3,7 2,8 4,0 4,0
Nacional 3,9 2,0 3,8 4,4 2,6 4,0 4,4
Internacional 3,3 2,1 3,6 4,6 2,6 3,7 4,3
Público-Alvo
Pessoas idosas 3,1 2,7 4,1 4,4 2,7 3,7 4,6
Pessoas c/ deficiências físicas 3,7 2,1 4,2 4,3 2,4 4,0 4,3
Minorias étnicas 3,4 2,6 4,6 4,8 2,7 3,7 3,8
Pessoas c/ carências financeiras 3,4 2,6 3,8 4,5 2,7 3,8 4,4
Refugiados 2,7 3,5 4,5 4,5 2,1 4,0 4,0
Pessoas c/ problemas de dependências 3,3 2,5 3,5 4,5 2,6 4,8 4,5
Pessoas socialmente excluídas 3,5 2,1 3,7 4,6 2,4 3,7 4,2
Animais
Organizações e associações locais 3,7 2,1 3,9 4,5 2,5 4,3 4,4
Outro 3,4 2,2 3,6 4,6 2,6 4,0 4,3
389
(Continuação)

Objetivos pessoais Perceção de viabilidade da iniciativa


Objetivos de Seguir o percurso Afiliação para com Determinação Perceção de favorabilidade Perceção capacidades Perceção
caráter pessoal de alguém uma comunidade social do contexto pessoais desejabilidade
(valor médio) (valor médio) (valor médio) (valor médio) (valor médio) (valor médio) (valor médio)
Finalidade da atividade da organização
Complementa os serviços dos mercados 3,6 2,1 3,9 4,6 2,6 3,9 4,4
Complementa os serviços do Estado 3,5 2,3 3,5 4,4 2,4 4,0 4,3
Concorre com outros fornecedores 4,0 2,5 3,0 4,5 3,3 4,2 5,0
Concorre com o Estado 3,1 1,0 2,5 4,5 3,9 2,7 4,0
A atividade não é disponibilizada nos 3,2 2,0 3,8 4,5 2,5 3,7 4,3
mercados
Posição na organização
Função exercida
Presidente 3,2 2,0 3,9 4,7 2,6 4,0 4,5
Membro da Direção 3,3 2,1 2,9 4,3 2,9 3,4 4,6
Diretor 4,4 2,2 3,3 4,3 2,1 4,0 4,0
Técnico 4,2 2,0 3,4 4,8 2,7 3,3 3,4
Outro 3,3 2,2 4,0 3,8 2,8 3,7 4,0
Situação ocupacional
Colaborador 3,9 2,3 3,6 4,3 2,5 3,7 4,0
Voluntário 3,1 1,9 3,7 4,7 2,7 3,9 4,5
Perfil pessoal
Género
Feminino 3,6 2,2 3,7 4,6 2,5 3,8 4,3
Masculino 3,2 1,9 3,5 4,4 2,8 3,8 4,2
Idade
<18 - - - - - - -
18-34 3,8 1,9 3,6 4,5 2,2 3,6 4,2
35-54 3,4 2,2 3,7 4,4 2,5 3,9 4,3
55-64 2,8 1,8 3,0 4,5 3,1 3,4 4,3
>65 3,5 2,2 4,0 4,7 3,2 4,2 4,3
Nível de escolaridade
Ensino Primário - - - - - - -
Ensino Secundário 3,2 1,2 4,7 4,7 2,8 3,7 3,7
Ensino Superior 3,5 2,1 3,6 4,5 2,6 3,8 4,3
390
(Continuação)

Objetivos pessoais Perceção de viabilidade da iniciativa


Objetivos de Seguir o percurso Afiliação para com Determinação Perceção de favorabilidade Perceção capacidades Perceção
caráter pessoal de alguém uma comunidade social do contexto pessoais desejabilidade
(valor médio) (valor médio) (valor médio) (valor médio) (valor médio) (valor médio) (valor médio)
Área de formação
Ciências da Saúde 2,7 2,1 4,3 4,7 2,2 3,9 4,3
Ciências Matemáticas - - - - - - -
Ciências Sociais 4,2 2,0 2,5 4,3 2,8 4,4 4,3
Ciências Económicas 3,4 2,0 3,4 4,8 3,1 4,0 4,4
Engenharia 3,1 1,8 3,4 4,2 3,3 3,3 3,9
Artes 4,9 2,8 3,8 4,5 2,6 4,4 4,0
Humanidades 3,4 2,4 3,9 4,6 2,2 3,7 4,6
Ensino 3,3 1,0 5,0 5,0 1,4 5,0 5,0
Outros 4,0 1,0 2,0 4,0 1,0 1,7 2,0
Experiências anteriores
Situação ocupacional anterior
Empregado 3,4 2,1 3,8 4,5 2,7 3,9 4,3
Reformado 3,8 2,8 4,0 4,0 4,2 3,5 3,5
Não ativo 3,7 1,7 2,8 4,6 2,0 3,6 4,1
Setor de proveniência
Setor Empresarial 3,4 2,3 3,6 4,6 3,0 3,8 4,5
Setor Público 2,9 1,9 4,1 4,5 2,3 3,7 4,3
Setor sem fins lucrativos 4,7 2,4 3,8 4,4 2,5 4,5 4,0
Já criou uma organização 3,2 2,2 3,7 4,4 2,2 3,7 4,2
Os seus pais já criaram uma organização 3,0 2,3 3,9 4,7 2,0 3,7 4,3
Familiares e amigos já criaram uma 3,5 2,4 3,6 4,4 2,5 3,9 4,2
organização
Tinha estado envolvido em projetos sociais 3,5 2,2 3,6 4,5 2,5 3,9 4,4
Tinha experiência na gestão de organizações 3,5 2,1 3,6 4,4 2,4 4,1 4,3
Participou em movimentos associativos na 3,4 2,2 3,5 4,4 2,7 3,8 4,4
juventude
Ocorreram mudanças pessoais significativas 3,5 2,2 3,7 4,5 2,7 3,7 4,4
Encontrava-se satisfeito com a situação 3,3 2,0 3,7 4,6 2,6 3,9 4,3
profissional
Conhecia alguém próximo com o problema a 3,5 2,4 3,6 4,4 3,0 3,9 4,5
tratar pela organização
Tomou contacto com a questão social na 3,4 2,0 3,3 4,4 2,8 3,8 4,4
juventude
Tomou contacto com a questão social alguns 3,5 2,2 3,7 4,5 2,8 3,7 4,4
anos antes
391
Anexo 4.3- Comportamentos e desempenho organizacionais

Anexo 4.3.1- Ações estratégicas

Anexo 4.3.1.1 – Valorização atribuída às diferentes ações estratégicas


Desvio- Percentil Percentil Percentil
(1) (2) (3) (4) (5) Média
Padrão 25 50 75
Definição da missão. 0,0% 1,6% 3,2% 16,1% 79,0% 4,7 0,60 5,0 5,0 5,0
Comunicação e divulgação da missão interna 0,0% 1,6% 8,1% 24,2% 66,1% 4,6 0,72 4,0 5,0, 5,0
e externamente.
Definição de objetivos. 0,0% 1,6% 1,6% 19,4% 77,4% 4,7 0,58 5,0 5,0 5,0
Existência de um plano estratégico. 1,6% 0,0% 4,8% 25,8% 67,7% 4,6 0,74 4,0 5,0 5,0
Programação das ações implementadas. 0,0% 1,6% 4,8% 25,8% 67,7% 4,6 0,66 4,0 5,0 5,0
Análise de outras organizações concorrentes. 3,2% 11,3% 24,2% 38,7% 22,6% 3,7 1,06 3,0 4,0 4,0
Análise do meio envolvente que rodeia a 0,0% 1,6% 12,9% 37,1% 48,4% 4,3 0,76 4,0 4,0 5,0
organização.
Reuniões periódicas para acompanhamento 1,6% 1,6% 6,5% 43,5% 46,8% 4,3 0,81 4,0 4,0, 5,0
do grau de execução do plano estratégico.
A existência de uma liderança visionária. 0,0% 0,0% 9,7% 30,6% 59,7% 4,5 0,67 4,0 50, 5,0
A existência de uma visão partilhada pelos 0,0% 0,0% 4,8% 19,4% 75,8% 4,7 0,56 4,8 5,0 5,0
membros da organização.
N=62
(1) Importância muito baixa; (2) Importância baixa; (3) Importância nula; (4); Importância elevada; (5) Importância muito elevada;
392
Anexo 4.3.1.2 – Correlações entre ações estratégicas

Reuniões periódicas
A existência de uma
Definição Comunicação Definição Existência Programação Análise de Análise do meio para Existência de uma
visão partilhada
da e divulgação de de um plano das ações outras envolvente acompanhamento liderança
pelos membros da
missão da missão objetivos estratégico implementadas organizações externa da execução do visionária
organização
plano estratégico
Definição da missão 1
Comunicação e divulgação da missão ,579** 1
interna e externamente
Definição de objetivos ,579** ,488** 1
** **
Existência de um plano estratégico ,584 ,691 ,766** 1
Programação das ações ,454** ,713** ,690** ,888** 1
implementadas
Análise de outras organizações ,212 ,206 ,303* ,363** ,410** 1
concorrentes
Análise do meio envolvente que ,230 ,390** ,390** ,507** ,519** ,647** 1
rodeia a organização
Reuniões periódicas para ,454** ,455** ,616 **
,619 **
,615 **
,420 **
,415** 1
acompanhamento do grau de
execução do plano estratégico
A existência de uma liderança ,182 ,102 ,148 ,099 ,129 ,243 ,224 ,425** 1
visionária
A existência de uma visão partilhada ,394** ,283* ,362** ,419** ,478** ,501** ,380** ,470** ,528** 1
pelos membros da organização
* A correlação é estatisticamente significativa para α=0.05;
** A correlação é estatisticamente significativa para α=0.01;
393
Anexo 4.3.1.3 – Correlações entre ações estratégicas e características da
organização

Formulação Análise Implementação


da estratégia ambiental estratégia
Idade ,062 -,043 -,064
Localização geográfica -,020 ,073 ,007
Âmbito de atuação ,097 ,098 -,010
Público-Alvo
Pessoas idosas ,062 -,073 ,069
Pessoas com deficiências físicas -,181 -,185 -,140
Minorias étnicas ,074 -,138 -,088
*
Pessoas com carências financeiras -,019 -,322 -,042
Refugiados -,097 -,169 -,133
Pessoas com problemas de dependências ,045 -,095 -,031
Pessoas socialmente excluídas ,079 -,188 -,075
Animais - - -
Organizações e associações locais -,194 -,236 ,041
Outro -,085 ,205 ,119
Finalidade da atividade da organização
Complementa os serviços dos mercados -,106 -,007 -,186
Complementa os serviços do Estado -,149 ,070 ,260*
Concorre com outros fornecedores -,070 -,221 -,122
Concorre com o Estado ,082 -,003 -,043
A atividade não é disponibilizada nos mercados ,155 ,014 ,034

* A correlação é estatisticamente significativa para α=0.05;


** A correlação é estatisticamente significativa para α=0.01;

394
Anexo 4.3.1.4 – A valorização atribuída às ações estratégicas em função das
características da organização
Formulação da Análise Implementação
estratégia ambiental estratégia
Média Global 4,6 4,0 4,6
Tipo de organização
BVS 4,8 4,2 4,8
ONGD 4,5 3,9 4,5
Idade
1-3 anos 4,6 4,2 4,9
3-10 anos 4,6 4,0 4,6
>10 anos 4,7 4,0 4,6
Localização geográfica
Norte 4,9 4,3 4,7
Centro 4,4 3,6 4,2
Lisboa 4,6 3,9 4,7
Alentejo 4,7 4,2 4,5
Algarve 5,0 4,5 4,4
Ilhas
Varias 4,6 4,3 4,6
Âmbito de atuação
Local 4,6 3,9 4,6
Regional 4,4 3,7 4,4
Nacional 4,7 4,0 4,7
Internacional 4,7 4,0 4,6
Público-alvo
Pessoas idosas 4,6 4,1 4,5
Pessoas com deficiências físicas 4,9 4,3 4,8
Minorias étnicas 4,5 4,2 4,7
Pessoas com carências financeiras 4,6 4,4 4,6
Refugiados 4,8 4,4 4,8
Pessoas com problemas de dependências 4,5 4,3 4,7
Pessoas socialmente excluídas 4,6 4,2 4,6
Animais
Organizações e associações locais 4,8 4,3 4,6
Outro 4,7 3,8 4,5
Finalidade da atividade da organização
Complementa os serviços dos mercados 4,7 4,0 4,7
Complementa os serviços do Estado 4,7 3,9 4,4
Concorre com outros fornecedores 4,7 4,5 4,8
Concorre com o Estado 4,4 4,0 4,7
A atividade não é disponibilizada nos mercados 4,5 4,0 4,6

395
Anexo 4.3.2- Gestão de recursos

Anexo 4.3.2.1- Valorização atribuída às variáveis de gestão de recursos humanos

Desvio- Percentil Percentil Percentil


(1) (2) (3) (4) (5) Média
Padrão 25 50 75
Recrutamento e retenção de 11,3% 3,2% 6,5% 29,0% 50,0% 4,0 1,32 4,0 4,5 5,0
colaboradores
Recrutamento e retenção de voluntários 3,2% 1,6% 12,9% 38,7% 43,5% 4,2 0,95 4,0 4,0 5,0
Recrutamento e retenção da equipa de 3,2% 1,6% 8,1% 41,9% 45,2% 4,2 0,92 4,0 4,0 5,0
gestão e de liderança
Os grupos de trabalho dentro da 1,6% 3,2% 8,1% 38,7% 48,4% 4,3 0,88 4,0 4,0 5,0
organização.
O envolvimento dos colaboradores na 4,8% 3,2% 9,7% 37,1% 45,2% 4,2 1,05 4,0 4,0 5,0
tomada de decisões.
Encorajar os colaboradores a assumirem 8,1% 1,6% 29,0% 35,5% 25,8% 3,7 1,12 3,0 4,0 5,0
riscos.
Encorajar as unidades dentro da 1,6% 1,6% 19,4% 24,2% 53,2% 4,3 0,94 4,0 5,0 5,0
organização a trabalharem em conjunto.
A comunicação entre os elementos da 0,0% 1,6% 8,1% 22,6% 67,7% 4,6 0,72 4,0 5,0 5,0
organização.
N=62
(1) Importância muito baixa; (2) Importância baixa; (3) Importância nula; (4); Importância elevada; (5) Importância muito elevada;

Anexo 4.3.2.2- Correlações entre variáveis relativas à gestão de recursos humanos

P.5.1.1 P.5.1.2 P.5.1.3 P.5.4.1 P.5.4.2 P.5.4.3 P.5.4.4 P.5.4.5


P.5.1.1 1
P.5.1.2 ,349** 1
P.5.1.3 ,495** ,345** 1
P.5.4.1 ,247 ,193 ,523** 1
** **
P.5.4.2 ,552 ,039 ,370 ,469** 1
** **
P.5.4.3 ,615 ,159 ,407 ,475** ,688** 1
** ** **
P.5.4.4 ,245 ,113 ,516 ,525 ,392 ,448** 1
* ** *
P.5.4.5 ,154 ,116 ,263 ,440 ,324 ,361** ,609** 1

(P.5.1.1) Recrutamento e retenção de colaboradores; (P.5.1.2) Recrutamento e retenção de voluntários; (P.5.1.3)


Recrutamento e retenção da equipa de gestão e de liderança; (P.5.4.1) Os grupos de trabalho dentro da organização;
(P.5.4.2) O envolvimento dos colaboradores na tomada de decisões; (P.5.4.3) Encorajar os colaboradores a assumirem
riscos; (P.5.4.4) Encorajar as unidades dentro da organização a trabalharem em conjunto; (P.5.4.5) A comunicação
entre os elementos da organização.
* A correlação é estatisticamente significativa para α=0.05;
** A correlação é estatisticamente significativa para α=0.01;

396
Anexo 4.3.2.3- Valorização atribuída às variáveis de gestão de recursos financeiros

Desvio- Percentil Percentil Percentil


(1) (2) (3) (4) (5) Média
Padrão 25 50 75
Subsídios e subvenções públicas 8,1% 9,7% 25,8% 32,3% 24,2% 3,6 1,20 3,0 4,0 4,3
Donativos de empresas 1,6% 6,5% 16,1% 27,4% 48,4% 4,2 1,02 3,8 4,0 5,0
Donativos de particulares 1,6% 9,7% 19,4% 19,4% 50,0% 4,1 1,11 3,0 4,5 5,0
Receitas geradas pela organização 6,5% 6,5% 9,7% 29,0% 48,4% 4,1 1,20 4,0 4,0 5,0
Financiamento 4,8% 4,8% 6,5% 33,9% 50,0% 4,2 1,08 4,0 4,5 5,0
A existência de fontes de financiamento
3,2% 1,6% 9,7% 38,7% 46,8% 4,2 0,94 4,0 4,0 5,0
adequadas.
A capacidade de geração de receitas por
1,6% 1,6% 16,1% 35,5% 45,2% 4,2 0,89 4,0 4,0 5,0
parte da organização.
A capacidade de atração de donativos. 1,6% 8,1% 11,3% 19,4% 59,7% 4,3 1,06 4,0 5,0 5,0
A capacidade de geração de fundos
suficientes para as atividades do dia a dia 1,6% 1,6% 8,1% 32,3% 56,5% 4,4 0,84 4,0 5,0 5,0
da organização.
A geração de fundos para a realização de
4,8% 3,2% 6,5% 46,8% 38,7% 4,1 1,01 4,0 4,0 5,0
investimentos de expansão.
N=62
(1) Importância muito baixa; (2) Importância baixa; (3) Importância nula; (4); Importância elevada; (5) Importância muito elevada;

Anexo 4.3.2.4- Correlações entre variáveis relativas à gestão de recursos


financeiros

P.5.1.4 P.5.1.5 P.5.1.6 P.5.1.7 P.5.1.8 P.5.4.6 P.5.4.7 P.5.4.8 P.5.4.9 P.5.4.10
P.5.1.4 1
P.5.1.5 ,175 1
P.5.1.6 ,121 ,783** 1
P.5.1.7 ,055 ,273* ,205 1
P.5.1.8 ,258* ,344** ,220 ,104 1
P.5.4.6 ,070 ,168 ,079 ,059 ,600** 1
P.5.4.7 ,137 ,273* ,218 ,602** ,110 ,253* 1
P.5.4.8 ,086 ,645** ,763** ,115 ,010 ,164 ,304* 1
P.5.4.9 -,044 ,313* ,182 ,267* ,201 ,375** ,522** ,335** 1
P.5.4.10 ,138 ,286* ,139 ,238 ,324* ,422** ,521** ,247 ,603** 1

(P.5.1.4) Subsídios e subvenções públicas; (P.5.1.5) Donativos de empresas; (P.5.1.6) Donativos de


particulares; (P.5.1.7) Receitas geradas pela organização; (P.5.1.8) Financiamento; (P.5.4.6.) A existência de
fontes de financiamento adequadas; (P.5.4.7) A capacidade de geração de receitas por parte da organização;
(P.5.4.8) A capacidade de atração de donativos; (P.5.4.9) A capacidade de geração de fundos suficientes para
as atividades do dia a dia da organização; (P.5.4.10) A geração de fundos para a realização de investimentos
de expansão.
* A correlação é estatisticamente significativa para α=0.05;
** A correlação é estatisticamente significativa para α=0.01;

397
Anexo 4.3.2.5- Valorização atribuída às variáveis relativas à gestão de recursos
materiais
Desvio- Percentil Percentil Percentil
(1) (2) (3) (4) (5) Média
Padrão 25 50 75
Edifício/Instalações/Armazém 6,5% 3,2% 21,0% 43,5% 25,8% 3,8 1,1 3,0 4,0 5,0
Equipamentos (Ex. transporte, 12,9% 11,3% 22,6% 35,5% 17,7% 3,3 1,3 2,8 4,0 4,0
empilhadores, etc)
Equipamentos e instalações. 6,5% 8,1% 24,2% 33,9% 27,4% 3,7 1,1 3,0 4,0 5,0
N=62
(1) Importância muito baixa; (2) Importância baixa; (3) Importância nula; (4); Importância elevada; (5) Importância muito elevada;

Anexo 4.3.2.6- Correlações entre variáveis relativas à gestão de recursos materiais


P.5.1.9 P.5.1.10 P.5.4.11
P.5.1.9 1
P.5.1.10 ,559** 1
P.5.4.11 ,698** ,591** 1
(P.5.1.9) Posse Edifício/Instalações/Armazém; (P.5.1.10) Equipamentos (Ex. transporte, empilhadores, etc);
(P.5.4.11) Gestão Equipamentos e instalações.
* A correlação é estatisticamente significativa para α=0.05;
** A correlação é estatisticamente significativa para α=0.01;

Anexo 4.3.2.7- Valorização atribuída às variáveis relativas à gestão de recursos


tecnológicos
Desvio- Percentil Percentil Percentil
(1) (2) (3) (4) (5) Média
Padrão 25 50 75
Hardware 8,1% 6,5% 24,2% 38,7% 22,6% 3,6 1,2 3,0 4,0 4,0
Software 8,1% 3,2% 19,4% 43,5% 25,8% 3,8 1,1 3,0 4,0 5,0
Tecnologias de informação e da 4,8% 3,2% 9,7% 50,0% 32,3% 4,0 1,0 4,0 4,0 5,0
comunicação
Tecnologias da informação e da 4,8% 6,5% 19,4% 38,7% 30,6% 3,8 1,1 3,0 4,0 5,0
comunicação
N=62
(1) Importância muito baixa; (2) Importância baixa; (3) Importância nula; (4); Importância
elevada; (5) Importância muito elevada;

Anexo 4.3.2.8- Correlações entre variáveis relativas à gestão de recursos


tecnológicos
P.5.1.11 P.5.1.12 P.5.1.13 P.5.4.12
P.5.1.11 1
P.5.1.12 ,952** 1
P.5.1.13 ,661** ,731** 1
P.5.4.12 ,617** ,636** ,755** 1
(P.5.1.11) Posse Hardware; (P.5.1.12) Posse Software; (P.5.1.13)
Posse de tecnologias de informação e da comunicação; (P.5.4.12)
Gestão de tecnologias da informação e da comunicação.
* A correlação é estatisticamente significativa para α=0.05;
** A correlação é estatisticamente significativa para α=0.01;

398
Anexo 4.3.2.9- Valorização atribuída às variáveis relativas à gestão da imagem
institucional
Desvio- Percentil Percentil Percentil
(1) (2) (3) (4) (5) Média
Padrão 25 50 75
Ações de divulgação e de comunicação 0,0% 1,6% 9,7% 46,8% 41,9% 4,3 0,71 4,0 4,0 5,0
Plano de atividades de marketing 1,6% 3,2% 21,0% 38,7% 35,5% 4,0 0,92 3,0 4,0 5,0
Marca 3,2% 6,5% 16,1% 29,0% 45,2% 4,1 1,08 3,0 4,0 5,0
Logotipo 0,0% 6,5% 21,0% 19,4% 53,2% 4,2 0,99 3,0 5,0 5,0
Site 0,0% 3,2% 6,5% 29,0% 61,3% 4,5 0,76 4,0 5,0 5,0
Newsletter 1,6% 4,8% 29,0% 29,0% 35,5% 3,9 1,00 3,0 4,0 5,0
O desenvolvimento de ações de 3,2% 0,0% 22,6% 35,5% 38,7% 4,1 0,96 3,0 4,0 5,0
comunicação e divulgação dos
produtos e serviços da organização.
O desenvolvimento de programas de 8,1% 8,1% 24,2% 29,0% 30,6% 3,7 1,23 3,0 4,0 5,0
marketing
O conhecimento dos sucessos e 8,1% 9,7% 25,8% 24,2% 32,3% 3,6 1,26 3,0 4,0 5,0
insucessos dos programas de
marketing levados a cabo pela
organização
Envio de mensagens consistentes às 8,1% 6,5% 17,7% 30,6% 37,1% 3,8 1,24 3,0 4,0 5,0
entidades interessadas (stakeholders)
da organização
A existência de uma marca, 9,7% 6,5% 12,9% 30,6% 40,3% 3,9 1,29 3,0 4,0 5,0
compreendida pelos colaboradores da
organização
A existência de uma marca, 9,7% 6,5% 14,5% 25,8% 43,5% 3,9 1,31 3,0 4,0 5,0
compreendida pelas entidades
interessadas (stakeholders) da
organização
N=62
(1) Importância muito baixa; (2) Importância baixa; (3) Importância nula; (4); Importância elevada; (5) Importância muito elevada;

Anexo 4.3.2.10- Correlações entre variáveis relativas à gestão da imagem


institucional
P.5.1.14 P.5.1.15 P.5.1.16 P.5.1.17 P.5.1.18 P.5.1.19 P.5.4.13 P.5.4.14 P.5.4.15 P.5.4.16 P.5.4.17 P.5.4.18
P.5.1.14 1
P.5.1.15 ,636** 1
P.5.1.16 ,209 ,391** 1
** **
P.5.1.17 ,199 ,388 ,813 1
P.5.1.18 ,221 ,280* ,497** ,482** 1
P.5.1.19 ,450** ,342** ,339** ,299* ,397** 1
P.5.4.13 ,382** ,462** ,455** ,368** ,406** ,367** 1
P.5.4.14 ,547** ,734** ,460** ,392** ,388** ,487** ,801** 1
** ** ** ** ** ** ** **
P.5.4.15 ,526 ,646 ,523 ,335 ,327 ,486 ,798 ,905 1
** ** * * ** ** ** **
P.5.4.16 ,583 ,552 ,302 ,176 ,284 ,374 ,454 ,587 ,664 1
P.5.4.17 ,315* ,486** ,686** ,587** ,289* ,347** ,605** ,589** ,643** ,528** 1
P.5.4.18 ,340** ,478** ,663** ,512** ,326** ,356** ,582** ,624** ,666** ,603** ,928** 1
(P.5.1.14) Ações de divulgação e de comunicação; (P.5.1.15) Plano de atividades de marketing; (P.5.1.16) Marca; (P.5.1.17) Logotipo;
(P.5.1.18) Site; (P.5.1.19) Newsletter; (P.5.4.13) O desenvolvimento de ações de comunicação e divulgação dos produtos e serviços da
organização; (P.5.4.14) O desenvolvimento de programas de marketing; (P.5.4.15) O conhecimento dos sucessos e insucessos dos
programas de marketing levados a cabo pela organização; (P.5.4.16) Envio de mensagens consistentes às entidades interessadas
(stakeholders) da organização; (P.5.4.17) A existência de uma marca, compreendida pelos colaboradores da organização; (P.5.4.18) A
existência de uma marca, compreendida pelas entidades interessadas (stakeholders) da organização.
* A correlação é estatisticamente significativa para α=0.05;
** A correlação é estatisticamente significativa para α=0.01;

399
Anexo 4.3.2.11 Valorização atribuída às variáveis relativas à gestão da reputação
Desvio- Percentil Percentil Percentil
(1) (2) (3) (4) (5) Média
Padrão 25 50 75
Sistema de recolha de comentários das 4,8% 4,8% 22,6% 40,3% 27,4% 3,8 1,05 3,0 4,0 5,0
entidades interessadas (stakeholders)
Sistema de monitorização da perceção 4,8% 3,2% 22,6% 41,9% 27,4% 3,8 1,03 3,0 4,0 5,0
que as entidades interessadas
(stakeholders) têm sobre a organização
A implementação de mudanças, de 6,5% 4,8% 25,8% 38,7% 24,2% 3,7 1,10 3,0 4,0 4,3
acordo com as sugestões das entidades
interessadas (stakeholders).
Conhecimento das associações que as 6,5% 3,2% 19,4% 46,8% 24,2% 3,8 1,06 3,0 4,0 4,3
entidades interessadas (stakeholders)
têm sobre a organização
O envolvimento do público-alvo na 0,0% 1,6% 17,7% 33,9% 46,8% 4,3 0,81 4,0 4,0 5,0
organização
O envolvimento da comunidade na 0,0% 1,6% 25,8% 32,3% 40,3% 4,1 0,85 3,0 4,0 5,0
organização
Relacionamento com os stakeholders 3,2% 4,8% 19,4% 43,5% 29,0% 3,9 0,99 3,0 4,0 5,0
externos
A colaboração com outras 0,0% 1,6% 14,5% 37,1% 46,8% 4,3 0,78 4,0 4,0 5,0
organizações
N=62
(1) Importância muito baixa; (2) Importância baixa; (3) Importância nula; (4); Importância elevada; (5) Importância muito elevada;

Anexo 4.3.2.12- Correlações entre variáveis relativas à gestão da reputação


P.5.1.20 P.5.1.21 P.5.4.19 P.5.4.20 P.5.4.21 P.5.4.22 P.5.4.23 P.5.4.24
P.5.1.20 1
P.5.1.21 ,955** 1
P.5.4.19 ,701** ,727** 1
P.5.4.20 ,610** ,617** ,637** 1
P.5.4.21 ,060 ,011 ,109 ,141 1
P.5.4.22 ,043 ,021 -,068 ,118 ,648** 1
P.5.4.23 ,739** ,728** ,670** ,624** ,319* ,247 1
P.5.4.24 ,391** ,327** ,395** ,395** ,166 ,173 ,337** 1

(P.5.1.20) Sistema de recolha de comentários das entidades interessadas (stakeholders); (P.5.1.21)


Sistema de monitorização da perceção que as entidades interessadas (stakeholders) têm sobre a
organização; (P.5.4.19) A implementação de mudanças, de acordo com as sugestões das entidades
interessadas (stakeholders); (P.5.4.20) Conhecimento das associações que as entidades interessadas
(stakeholders) têm sobre a organização; (P.5.4.21) O envolvimento do público-alvo na organização;
(P.5.4.22) O envolvimento da comunidade na organização; (P.5.4.23) Relacionamento com os
stakeholders externos; (P.5.4.24) A colaboração com outras organizações.
* A correlação é estatisticamente significativa para α=0.05;
** A correlação é estatisticamente significativa para α=0.01;

400
Anexo 4.3.2.13 Valorização atribuída às variáveis relativas à gestão da qualidade
do serviço prestado
Desvio- Percentil Percentil Percentil
(1) (2) (3) (4) (5) Média
Padrão 25 50 75
Inquéritos de satisfação 4,8% 4,8% 17,7% 45,2% 27,4% 3,9 1,04 3,0 4,0 5,0
Relatórios de avaliação da qualidade 1,6% 6,5% 11,3% 41,9% 38,7% 4,1 0,95 4,0 4,0 5,0
dos serviços
Programas de introdução de ações de 1,6% 6,5% 17,7% 27,4% 46,8% 4,1 1,03 3,0 4,0 5,0
melhoria
A criação de uma experiência positiva 4,8% 0,0% 14,5% 45,2% 35,5% 4,1 0,97 4,0 4,0 5,0
para as entidades interessadas
(stakeholders) através dos produtos ou
serviços da organização.
O nível de satisfação dos clientes com 3,2% 0,0% 14,5% 27,4% 54,8% 4,3 0,95 4,0 5,0 5,0
o tipo de programas, atividades ou
serviços da organização.
O nível de satisfação dos clientes com 3,2% 0,0% 8,1% 25,8% 62,9% 4,5 0,90 4,0 5,0 5,0
a qualidade dos programas, atividades
ou serviços da organização.
O investimento dos recursos 3,2% 3,2% 9,7% 45,2% 38,7% 4,1 0,95 4,0 4,0 5,0
adequados para a melhoria dos
produtos e serviços.
N=62
(1) Importância muito baixa; (2) Importância baixa; (3) Importância nula; (4);
Importância elevada; (5) Importância muito elevada;

Anexo 4.3.2.14- Correlações entre variáveis relativas à gestão da qualidade do


serviço prestado
P.5.1.22 P.5.1.23 P.5.1.24 P.5.4.25 P.5.4.26 P.5.4.27 P.5.4.28
P.5.1.22 1
P.5.1.23 ,777** 1
P.5.1.24 ,709** ,894** 1
P.5.4.25 ,545** ,417** ,387** 1
P.5.4.26 ,644** ,491** ,451** ,652** 1
P.5.4.27 ,616** ,407** ,317* ,753** ,890** 1
P.5.4.28 ,602** ,620** ,624** ,541** ,700** ,660** 1

(P.5.1.22) Inquéritos de satisfação; (P.5.1.23) Relatórios de avaliação da qualidade dos


serviços; (P.5.1.24) Programas de introdução de ações de melhoria; (P.5.4.25) A criação de
uma experiência positiva para as entidades interessadas (stakeholders) através dos produtos
ou serviços da organização; (P.5.4.26) O nível de satisfação dos clientes com o tipo de
programas, atividades ou serviços da organização; (P.5.4.27) O nível de satisfação dos
clientes com a qualidade dos programas, atividades ou serviços da organização; (P.5.4.28)
O investimento dos recursos adequados para a melhoria dos produtos e serviços;
* A correlação é estatisticamente significativa para α=0.05;
** A correlação é estatisticamente significativa para α=0.01;

401
Anexo 4.3.2.15 Valorização atribuída à gestão do capital social
Desvio- Percentil Percentil Percentil
(1) (2) (3) (4) (5) Média
Padrão 25 50 75
Considero-me ser uma pessoa com um 3,2% 1,6% 30,6% 37,1% 27,4% 3,8 ,96 3,0 4,0 5,0
grande número de contactos e de
conhecidos.
Considero que os contactos 6,5% 3,2% 11,3% 33,9% 45,2% 4,1 1,14 4,0 4,0 5,0
(networking) facilitam o acesso ao
financiamento.
Considero que os contactos 3,2% 1,6% 6,5% 43,5% 45,2% 4,3 ,90 4,0 4,0 5,0
(networking) permitem ter melhor
acesso à informação.
Considero que os meus principais 1,6% 3,2% 22,6% 48,4% 24,2% 3,9 ,86 3,0 4,0 4,3
contactos são pessoas com um grande
número de contactos ou conhecidos.
Utilizo os meus contactos para aceder a 1,6% 8,1% 21,0% 46,8% 22,6% 3,8 ,94 3,0 4,0 4,0
recursos.
Utilizo os meus contactos para aceder a 6,5% 12,9% 27,4% 38,7% 14,5% 3,4 1,10 3,0 4,0 4,0
financiamento.
N=62
(1) Discordo totalmente; (2) Discordo; (3) Nem concordo nem discordo; (4) Concordo; (5) Concordo totalmente;

Anexo 4.3.2.16- Correlações entre variáveis relativas à gestão do capital social


P.5.5.1 P.5.5.2 P.5.5.3 P.5.5.4 P.5.5.5 P.5.5.6
P.5.5.1 1
P.5.5.2 ,042 1
P.5.5.3 ,143 ,794** 1
P.5.5.4 ,554** ,259* ,306* 1
P.5.5.5 ,510** ,184 ,292* ,645** 1
P.5.5.6 ,299* ,540** ,353** ,478** ,575** 1

(P.5.5.1) Considero-me ser uma pessoa com um grande número de contactos e de


conhecidos; (P.5.5.2) Considero que os contactos (networking) facilitam o acesso ao
financiamento; (P.5.5.3) Considero que os contactos (networking) permitem ter melhor
acesso à informação; (P.5.5.4) Considero que os meus principais contactos são pessoas com
um grande número de contactos ou conhecidos; (P.5.5.5) Utilizo os meus contactos para
aceder a recursos; (P.5.5.6) Utilizo os meus contactos para aceder a financiamento;
* A correlação é estatisticamente significativa para α=0.05;
** A correlação é estatisticamente significativa para α=0.01;

402
Anexo 4.3.2.17- Correlações entre a importância atribuída à gestão de recursos e as características da organização
Posse dos Geração Perceção de
Trabalho Obtenção Instrumentos
Gestão de Gestão de meios de Recursos Recursos Comunicação Identidade Gestão de Envolvimento qualidade Capital
em de de gestão da
colaboradores voluntários líquidos receitas físicos tecnológicos e marketing corporativa perceções do público-alvo pelos social
equipa donativos qualidade
necessários próprias stakeholders
Idade -,053 -,153 -,040 ,017 -,009 -,079 ,309* ,137 -,117 -,182 -,082 -,114 -,045 -,047 ,017
*
Localização geográfica -,095 ,141 -,253 ,031 ,188 -,078 ,104 ,054 ,038 ,063 ,016 -,024 ,170 ,112 -,041
Âmbito de atuação -,116 -,049 ,175 ,105 -,090 ,031 -,141 -,139 ,108 ,079 -,008 -,105 -,067 -,063 ,118
Público-Alvo
Pessoas idosas ,180 ,067 -,133 -,087 -,162 -,118 -,235 -,086 ,032 ,209 ,044 ,182 -,072 ,088 ,076
Pessoas com deficiências -,034 -,135 ,043 -,128 -,220 -,176 -,338** -,168 -,226 -,197 -,212 -,114 -,248 -,351** -,010
físicas
Minorias étnicas -,107 -,063 -,057 -,125 -,108 -,057 -,175 -,180 -,051 ,058 ,000 ,032 ,003 ,039 ,077
Pessoas com carências ,075 -,126 -,053 -,125 -,090 -,047 -,183 -,058 -,080 ,020 -,021 ,093 -,094 ,001 ,077
financeiras
Refugiados -,033 -,216 -,170 -,115 -,087 ,045 -,185 -,109 -,035 ,071 -,121 -,099 -,153 -,143 ,195
*
Pessoas com problemas -,012 -,095 ,202 -,119 -,127 -,128 -,264 -,044 -,123 -,124 -,165 -,115 -,074 -,212 -,078
de dependências
*
Pessoas socialmente ,052 -,033 -,117 -,053 -,118 -,124 -,305 -,240 -,135 -,072 -,084 ,233 -,032 -,043 ,081
excluídas
Animais - - - - - - - - - - - - - - -
Organizações e -,006 -,064 ,020 ,044 ,031 -,160 -,080 -,048 -,131 ,108 -,228 ,265* -,075 ,041 ,206
associações locais
Outro ,074 ,152 -,045 ,275* ,280* ,341** ,233 ,306* ,188 ,054 ,216 ,010 ,233 ,136 -,044
Finalidade da atividade da
organização
Complementa os -,181 -,047 -,017 ,033 -,123 ,012 -,083 ,033 -,242 ,055 -,108 -,036 -,141 -,129 -,035
serviços dos mercados
Complementa os ,015 ,014 ,211 -,013 ,141 -,072 ,037 ,015 -,016 -,008 -,002 ,140 ,085 -,041 -,162
serviços do Estado
Concorre com outros -,065 -,075 -,095 ,079 -,127 -,137 -,194 -,282* -,169 -,083 -,175 -,203 -,184 -,097 ,022
fornecedores
*
Concorre com o Estado ,057 ,269 -,159 -,096 -,102 -,168 -,072 ,004 ,097 ,024 ,082 -,055 ,200 -,100 -,177
A atividade não é ,149 -,009 ,135 ,095 ,109 ,119 ,094 ,068 ,159 ,007 ,086 ,188 ,035 ,220 ,091
disponibilizada nos
mercados
* A correlação é estatisticamente significativa para α=0.05;
** A correlação é estatisticamente significativa para α=0.01;
403
Anexo 4.3.2.18- Valorização atribuída à gestão de recursos em função das características da organização
Posse dos Geração Perceção de
Trabalho Obtenção Envolvimento Instrumentos
Gestão de Gestão de meios de Recursos Recursos Comunicação Identidade Gestão de qualidade Capital
em de do público- de gestão da
colaboradores voluntários líquidos receitas físicos tecnológicos e marketing corporativa perceções pelos social
equipa donativos alvo qualidade
necessários próprias stakeholders
Média Global 4,0 4,4 4,2 4,2 4,2 4,1 3,6 3,8 4,0 4,1 3,8 4,3 4,3 4,0 3,7
Tipo de organização
BVS 4,3 4,5 4,2 4,5 4,5 4,1 4,1 4,1 4,2 4,3 3,9 4,4 4,4 4,5 3,8
ONGD 3,8 4,3 4,2 4,0 4,1 4,2 3,4 3,7 3,9 4,0 3,8 4,2 4,2 3,8 3,7
Idade
1-3 anos 4,2 4,7 3,8 4,7 4,6 4,8 3,1 3,5 4,6 5,0 4,4 4,5 4,5 4,6 3,6
3-10 anos 4,0 4,4 4,3 4,0 4,2 4,1 3,4 3,7 3,9 4,1 3,7 4,3 4,3 3,9 3,7
>10 anos 3,9 4,3 4,1 4,3 4,3 4,1 3,9 3,9 3,9 4,0 3,8 4,2 4,3 4,1 3,7
Localização geográfica
Norte 4,4 4,7 4,9 4,2 4,3 4,5 4,0 4,1 4,5 4,6 4,3 4,3 4,5 4,5 3,9
Centro 3,3 3,8 3,8 4,1 3,9 4,0 3,4 3,3 3,5 3,9 3,2 4,1 3,5 3,4 4,0
Lisboa 4,0 4,4 4,3 4,2 4,3 4,2 3,4 3,8 3,9 4,0 3,8 4,3 4,3 4,0 3,6
Alentejo 4,5 4,5 3,6 3,3 4,2 3,0 4,0 4,0 3,8 3,7 3,7 4,2 4,6 4,0 3,3
Algarve 5,0 5,0 5,0 4,3 5,0 5,0 4,3 4,0 5,0 5,0 4,4 4,0 4,7 5,0 5,0
Ilhas
Varias 3,4 4,7 3,6 4,5 4,7 4,3 4,2 4,0 4,3 4,7 4,0 4,2 4,7 4,5 3,8
Âmbito de atuação
Local 4,1 4,4 4,4 4,0 4,1 4,2 3,7 4,0 3,5 4,0 3,6 4,4 4,3 4,1 3,9
Regional 4,2 4,4 3,2 3,7 4,3 3,7 3,7 3,9 3,7 3,8 3,9 4,2 4,3 4,0 2,9
Nacional 4,1 4,4 4,1 4,3 4,5 4,3 4,0 4,0 4,2 4,2 4,0 4,5 4,4 4,2 3,8
Internacional 3,8 4,4 4,3 4,2 4,1 4,1 3,4 3,7 3,9 4,2 3,7 4,1 4,2 3,9 3,8
404
(Continuação)

Posse dos Geração Perceção de


Trabalho Obtenção Envolvimento Instrumentos
Gestão de Gestão de meios de Recursos Recursos Comunicação Identidade Gestão de qualidade Capital
em de do público- de gestão da
colaboradores voluntários líquidos receitas físicos tecnológicos e marketing corporativa perceções pelos social
equipa donativos alvo qualidade
necessários próprias stakeholders
Público-alvo
Pessoas idosas 3,6 4,3 4,4 4,3 4,5 4,3 4,0 4,0 3,9 3,8 3,7 4,0 4,4 3,9 3,6
Pessoas com deficiências 4,0 4,6 4,1 4,4 4,6 4,5 4,3 4,2 4,4 4,5 4,2 4,5 4,7 4,7 3,7
físicas
Minorias étnicas 4,2 4,5 4,3 4,4 4,4 4,3 4,0 4,2 4,1 4,0 3,8 4,2 4,3 4,0 3,6
Pessoas com carências 3,9 4,5 4,3 4,3 4,3 4,2 3,9 3,9 4,1 4,1 3,8 4,2 4,4 4,0 3,6
financeiras
Refugiados 4,1 4,8 4,7 4,5 4,4 4,0 4,2 4,1 4,0 3,9 4,1 4,5 4,7 4,4 3,2
Pessoas com problemas de 4,0 4,7 3,3 4,7 4,7 4,7 4,8 4,0 4,4 4,7 4,5 4,7 4,6 4,9 4,0
dependências
Pessoas socialmente 3,9 4,4 4,3 4,2 4,4 4,3 4,0 4,1 4,1 4,2 3,9 4,0 4,3 4,1 3,6
excluídas
Animais
Organizações e 4,0 4,4 4,2 4,1 4,2 4,4 3,7 3,9 4,1 4,0 4,1 4,0 4,4 4,0 3,5
associações locais
Outro 3,9 4,3 4,2 3,9 4,0 3,8 3,4 3,5 3,8 4,1 3,6 4,3 4,1 3,9 3,8
Finalidade da atividade da
organização
Complementa os serviços 4,2 4,4 4,2 4,1 4,4 4,1 3,7 3,8 4,3 4,1 3,9 4,3 4,5 4,2 3,8
dos mercados
Complementa os serviços 3,9 4,4 4,0 4,2 4,1 4,2 3,6 3,8 4,0 4,1 3,8 4,1 4,2 4,1 3,9
do Estado
Concorre com outros 4,1 4,5 4,4 3,9 4,5 4,5 4,2 4,6 4,4 4,4 4,3 4,7 4,7 4,3 3,7
fornecedores
Concorre com o Estado 3,6 3,3 5,0 4,7 4,7 5,0 4,0 3,8 3,5 4,0 3,4 4,5 3,3 4,5 4,5
A atividade não é 3,8 4,4 4,0 4,0 4,1 4,0 3,5 3,7 3,8 4,1 3,7 4,0 4,2 3,8 3,6
disponibilizada nos
mercados
405
Anexo 4.3.3- Desempenho organizacional

Anexo 4.3.3.1- Dimensão da organização em função do tipo de organização, idade e âmbito de atuação
Tipo de organização Idade Âmbito de atuação
Total ONGD BVS 1 a 3 anos 3 a 10 anos > 10 anos Local Regional Nacional Internacional
(N=62) (N=42) (N=20) (N=4) (N=29) (N=29) (N=5) (N=6) (N=16) (N=35)
Número de colaboradores
Média 20,3 15,3 30,7 4,3 9,1 33,7 41,6 15,7 36,4 10,7
Desvio-Padrão 35,1 28,4 45,3 4,9 13,3 46,4 48,5 8,9 53,4 19,5
Mínimo 0,0 0,0 1,0 0,0 0,0 0,0 4,0 6,0 0,0 0,0
Máximo 184,0 134,0 184,0 9,0 50,0 184,0 100,0 30,0 184,0 100,0
Percentil 25 2,0 0,8 4,3 0,0 1,0 5,5 4,5 9,0 2,0 0,0
Percentil 50 7,0 6,0 13,5 4,0 4,0 10,0 10,0 13,0 14,5 5,0
Percentil 75 20,3 12,0 31,5 8,8 12,0 42,5 94,5 24,0 43,8 12,0
Número de voluntários
Média 149,3 39,2 406,3 34,5 255,6 52,2 21,0 6,4 41,7 234,2
Desvio-Padrão 826,0 70,4 1.502,0 44,0 1.186,4 89,0 18,8 5,9 65,5 1079,0
Mínimo 0,0 0,0 0,0 9,0 0,0 0,0 4,0 0,0 0,0 2,0
Máximo 6.400,0 400,0 6.400,0 100,0 6.400,0 400,0 50,0 12,0 200,0 6400,0
Percentil 25 6,0 6,0 4,0 9,0 5,5 5,0 4,5 0,0 4,0 6,0
Percentil 50 14,0 17,5 9,5 14,5 10,0 15,0 20,0 10,0 10,0 15,0
Percentil 75 30,0 33,8 32,0 80,0 26,0 50,0 38,0 11,0 50,0 45,0
Dimensão das equipas de
trabalho
Média 170,0 54,5 439,4 38,8 264,6 87,7 62,6 22,2 80,3 244,8
Desvio-Padrão 825,6 80,2 1.496,7 40,9 1.186,9 98,0 46,5 14,4 93,3 1079,2
Mínimo 3,0 5,0 3,0 17,0 5,0 3,0 8,0 6,0 3,0 5,0
Máximo 6.412,0 400,0 6.412,0 100,0 6.412,0 400,0 115,0 40,0 334,0 6412,0
Percentil 25 13,5 12,8 15,0 17,3 9,5 23,0 19,0 8,0 20,0 12,0
Percentil 50 29,5 24,5 39,0 19,0 22,0 43,0 55,0 23,0 38,0 26,0
Percentil 75 64,3 60,5 131,8 80,0 45,0 125,0 110,0 36,0 130,0 62,0
406
(Continuação)

Tipo de organização Idade Âmbito de atuação


Total ONGD BVS 1 a 3 anos 3 a 10 anos > 10 anos Local Regional Nacional Internacional
(N=62) (N=42) (N=20) (N=4) (N=29) (N=29) (N=5) (N=6) (N=16) (N=35)
Percentagem de voluntários
Média 57,8% 64,5% 42,3% 75,7% 65,9% 46,5% 47,0% 21,7% 47,3% 69,1%
Desvio-Padrão 35,4% 32,8% 37,2% 28,0% 33,6% 35,8% 34,3% 22,2% 39,6% 30,7%
Mínimo 0,0% 0,0% 0,0% 50,0% 0,0% 0,0% 4,8% 0,0% 0,0% 10,7%
Máximo 100,0% 100,0% 99,8% 100,0% 100,0% 100,0% 90,9% 52,2% 100,0% 100,0%
Percentil 25 23,6% 37,2% 7,4% 50,7% 33,3% 15,8% 13,7% 0,0% 7,0% 41,7%
Percentil 50 54,2% 66,7% 28,1% 76,5% 80,0% 41,7% 50,0% 25,0% 41,7% 80,0%
Percentil 75 96,2% 98,5% 89,4% 100,0% 99,5% 90,9% 78,8% 41,7% 90,9% 100,0%
Número de beneficiários
Média 18.678,5 23.478,3 10.998,8 235,0 12.194,3 26.542,7 520,0 8289,3 5.367,2 31.072,6
Desvio-Padrão 72.803,5 89.722,4 31.496,0 320,4 29.848,4 99.422,7 589,0 17047,1 18.869,1 99.054,7
Mínimo 4,0 4,0 35,0 50,0 33,0 4,0 180,0 36,0 15,0 4,0
Máximo 500.000,0 500.000,0 136.000,0 605,0 136.000,0 500.000,0 1400,0 43.000,0 73.500,0 500.000,0
Percentil 25 105,0 212,5 54,3 50,0 250,0 115,0 185,0 159,0 38,0 250,0
Percentil 50 550,0 652,5 300,0 50,0 1.000,0 400,0 250,0 1.750,0 120,0 900,0
Percentil 75 2.875,0 3.000,0 2.225,0 5.000,0 1.375,0 1125,0 13.000,0 700,0 5.000,0
Montantes anuais movimentados
Média 480.999,7 333.452,3 768.717,3 16.037,5 178.714,3 863.364,2 1.160.000,0 408.000,0 926.873,9 195.787,9
Desvio-Padrão 885.271,0 732.953,1 1.089.080,7 18.140,3 242.486,5 1.184.767,5 1.225.615,5 228.368,1 1.371.607,5 384.329,5
Mínimo 0,0 2.000,0 0,0 150,0 2.000,0 0,0 120.000,0 120.000,0 0,0 2.000,0
Máximo 4.500.000,0 3.000.000,0 4.500.000,0 40.000,0 1.000.000,0 4.500.000,0 2.500.000,0 690.000,0 4.500.000,0 2.000.000,0
Percentil 25 35.000,0 20.000,0 120.000,0 1.112,5 31.250,0 60.000,0 120.000,0 133.500,0 40.000,0 16.000,0
Percentil 50 120.000,0 60.000,0 500.000,0 12.000,0 100.000,0 271.000,0 1.010.000,0 500.000,0 255.000,0 60.000,0
Percentil 75 500.000,0 150.000,0 922.500,0 35.000,0 180.000,0 1.500.000,0 2.350.000,0 547.500,0 1.375.000,0 170.000,0
407
Anexo 4.3.3.2- Correlações entre desempenho, características da organização, idade e género do empreendedor
Dimensão Importância
Número de Número de Percentagem Número de Valores anuais Desempenho Desempenho
equipas de atribuída à medição
colaboradores voluntários de voluntários beneficiários movimentados económico social
trabalho de resultados
Características da organização
Idade ,345** -,072 -,057 -,295* ,115 ,385** ,045 -,070 -,130
Localização geográfica ,028 ,009 ,011 -,225 -,109 -,006 -,205 -,125 -,148
Âmbito de atuação -,256* ,107 ,096 ,343** ,154 -,306* -,061 -,022 ,081
Público-Alvo
Pessoas idosas -,340** ,054 ,039 -,083 -,273* -,414** -,087 ,130 ,108
Pessoas com deficiências físicas -,145 ,060 ,054 ,227 ,125 -,216 ,057 ,039 ,036
Minorias étnicas -,164 ,047 ,040 -,037 -,362** -,168 -,204 ,014 -,036
Pessoas com carências financeiras ,010 ,092 ,093 -,043 ,096 -,086 ,099 ,133 -,018
Refugiados ,136 ,019 ,025 -,226 -,459** ,129 -,042 -,033 -,128
Pessoas com problemas de dependências ,073 ,037 ,040 ,082 -,509** ,099 -,251* -,128 -,043
Pessoas socialmente excluídas ,073 ,082 ,086 -,103 -,173 -,014 -,078 ,173 -,030
Animais - - - - - - - - -
Organizações e associações locais ,013 ,091 ,091 -,014 ,071 -,041 -,009 ,061 -,151
Outro ,181 -,124 -,117 -,216 ,142 ,215 ,372** ,229 -,015
Finalidade da atividade da organização
Complementa os serviços dos mercados ,178 -,218 -,211 -,445** ,078 ,038 ,086 -,065 -,186
Complementa os serviços do Estado -,019 ,102 ,102 ,122 ,186 -,079 ,168 ,169 -,086
Concorre com outros fornecedores -,342** ,059 ,045 ,213 -,408** -,336** -,339** -,142 -,169
Concorre com o Estado ,064 ,033 ,036 ,113 ,036 ,095 -,023 -,067 ,214
A atividade não é disponibilizada nos ,013 ,105 ,106 ,081 ,057 ,088 -,036 ,045 ,182
mercados
Características gerais do empreendedor
Género -,010 -,100 -,101 ,019 -,171 -,076 -,030 -,039 -,018
Idade -,048 -,011 -,013 ,091 -,175 -,124 -,052 ,037 -,061
* A correlação é estatisticamente significativa para α=0.05;
** A correlação é estatisticamente significativa para α=0.01;
408
Anexo 4.3.3.3- Possibilidade de geração de excedentes em função das caraterísticas
da organização social
Total 41,9%

Tipo de organização
BVS 40,0%
ONGD 42,9%

Idade
1-3 anos 25,0%
3-10 anos 41,4%
>10 anos 44,8%
Localização geográfica
Norte 33,3%
Centro 30,0%
Lisboa 43,8%
Alentejo 60,0%
Algarve 100,0%
Ilhas -
Varias 40,0%
Âmbito de atuação
Local 40,0%
Regional 50,0%
Nacional 31,3%
Internacional 45,7%
Público-Alvo
Pessoas idosas 53,3%
Pessoas com deficiências físicas 45,5%
Minorias étnicas 40,0%
Pessoas com carências financeiras 55,0%
Refugiados 33,3%
Pessoas com problemas de dependências 33,3%
Pessoas socialmente excluídas 42,3%
Animais -
Organizações e associações locais 55,0%
Outro 31,3%
Finalidade da atividade da organização
Complementa os serviços dos mercados 45,0%
Complementa os serviços do Estado 48,3%
Concorre com outros fornecedores 28,6%
Concorre com o Estado 50,0%
A atividade não é disponibilizada nos mercados 42,9%

409
Anexo 4.3.3.4- Desempenho geral das organizações sociais
Desvio- Percentil Percentil Percentil
(1) (2) (3) (4) (5) Média
Padrão 25 50 75
Capacidade para a prossecução dos seus 1,6% 4,8% 11,3% 45,2% 37,1% 4,1 0,9 4,0 4,0 5,0
principais objetivos
Capacidade para atingir a missão social 1,6% 3,2% 8,1% 40,3% 46,8% 4,3 0,9 4,0 4,0 5,0
Capacidade para atingir objetivos sociais 1,6% 3,2% 11,3% 41,9% 41,9% 4,2 0,9 4,0 4,0 5,0
Capacidade para atingir objetivos 8,1% 11,3% 37,1% 32,3% 11,3% 3,3 1,1 3,0 3,0 4,0
económicos
O crescimento da procura pelos 3,2% 6,5% 19,4% 48,4% 22,6% 3,8 1,0 3,0 4,0 4,0
programas da organização
O crescimento do número de 4,8% 4,8% 17,7% 50,0% 22,6% 3,8 1,0 3,0 4,0 4,0
beneficiários da organização
O crescimento dos valores, em euros, 6,5% 16,1% 30,6% 27,4% 19,4% 3,4 1,2 3,0 3,0 4,0
anuais movimentados pela empresa
O aumento da sustentabilidade 9,7% 14,5% 27,4% 27,4% 21,0% 3,4 1,2 2,8 3,0 4,0
económica da organização
N=62
(1) Desempenho muito baixo; (2) Desempenho baixo; (3) Desempenho nulo; (4) Desempenho elevado; (5) Desempenho muito elevado.

Anexo 4.3.3.5- Correlações entre as variáveis de desempenho geral da organização


P.6.6.1 P.6.6.2 P.6.6.3 P.6.6.4 P.6.6.5 P.6.6.6 P.6.6.7 P.6.6.8
P.6.6.1 1
P.6.6.2 ,810** 1
** **
P.6.6.3 ,749 ,930 1
** **
P.6.6.4 ,372 ,339 ,306* 1
** **
P.6.6.5 ,434 ,489 ,426** ,648** 1
** ** ** ** **
P.6.6.6 ,420 ,473 ,430 ,399 ,699 1
** ** ** ** ** **
P.6.6.7 ,395 ,416 ,344 ,561 ,572 ,721 1
* ** ** ** ** ** **
P.6.6.8 ,313 ,378 ,369 ,663 ,573 ,502 ,770 1
(P.6.6.1) Capacidade para a prossecução dos seus principais objetivos; (P.6.6.2)
Capacidade para atingir a missão social; (P.6.6.3) Capacidade para atingir objetivos
sociais; (P.6.6.4) Capacidade para atingir objetivos económicos; (P.6.6.5) O crescimento
da procura pelos programas da organização; (P.6.6.6) O crescimento do número de
beneficiários da organização; (P.6.6.7) O crescimento dos valores, em euros, anuais
movimentados pela empresa; (P.6.6.8) O aumento da sustentabilidade económica da
organização;
* A correlação é estatisticamente significativa para α=0.05;
** A correlação é estatisticamente significativa para α=0.01;

410
Anexo 4.3.3.6- Valorização da prática de medição de resultados pelas organizações
sociais
Desvio- Percentil Percentil Percentil
(1) (2) (3) (4) (5) Média
Padrão 25 50 75
A medição de resultados permite a 0,0% 1,6% 8,1% 43,5% 46,8% 4,4 0,7 4,0 4,0 5,0
introdução de programas de
melhoria.
A medição de resultados permite 1,6% 3,2% 16,1% 35,5% 43,5% 4,2 0,9 4,0 4,0 5,0
legitimar a organização perante os
seus principais stakeholders.
A medição de resultados melhora a 1,6% 1,6% 9,7% 37,1% 50,0% 4,3 0,8 4,0 4,5 5,0
visibilidade da organização.
A medição de resultados facilita o 3,2% 3,2% 14,5% 37,1% 41,9% 4,1 1,0 4,0 4,0 5,0
acesso a recursos financeiros.
A medição de resultados facilita o 0,0% 6,5% 12,9% 37,1% 43,5% 4,2 0,9 4,0 4,0 5,0
acesso a donativos.
A medição de resultados é uma 0,0% 3,2% 16,1% 29,0% 51,6% 4,3 0,9 4,0 5,0 5,0
forma de atrair colaboradores e
voluntários.

Anexo 4.3.3.7- Correlações entre variáveis relativas à prática da medição de


resultados

P.6.7.1 P.6.7.2 P.6.7.3 P.6.7.4 P.6.7.5 P.6.7.6


P.6.7.1 1
P.6.7.2 ,766** 1
**
P.6.7.3 ,466 ,707** 1
** **
P.6.7.4 ,411 ,461 ,346** 1
P.6.7.5 ,522** ,340** ,291* ,511** 1
P.6.7.6 ,452** ,436** ,548** ,173 ,529** 1
(P.6.7.1) A medição de resultados permite a introdução de programas de
melhoria; (P.6.7.2) A medição de resultados permite legitimar a organização
perante os seus principais stakeholders; (P.6.7.3) A medição de resultados
melhora a visibilidade da organização; (P.6.7.4) A medição de resultados
facilita o acesso a recursos financeiros; (P.6.7.5) A medição de resultados
facilita o acesso a donativos; (P.6.7.6) A medição de resultados é uma forma
de atrair colaboradores e voluntários;
* A correlação é estatisticamente significativa para α=0.05;
** A correlação é estatisticamente significativa para α=0.01;

411
Anexo 4.4- Correlações entre comportamentos e desempenho organizacional
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10) (11) (12) (13) (14) (15) (15) (16) (17) (18) (19) (20)
Formulação da 1
estratégia
Análise Ambiental ,451** 1
Implementação da ,305* ,398** 1
estratégia
** **
Gestão de ,345 ,500 ,407** 1
colaboradores
Trabalho em equipa ,540** ,488** ,477** ,477** 1
Gestão de voluntários ,217 ,106 ,367** ,222 ,166 1
Obtenção de donativos ,241 ,265* ,275* ,110 ,274* ,108 1
Posse dos meios ,101 ,495** ,352** ,497** ,276* ,093 ,281* 1
líquidos necessários
* * * *
Geração de receitas ,211 ,254 ,282 ,267 ,190 ,168 ,272 ,385** 1
próprias
Recursos físicos ,193 ,402** ,369** ,258* ,410** ,341** ,208 ,380** ,141 1
Recursos tecnológicos ,192 ,499** ,403** ,498** ,572** ,270* ,309* ,510** ,297* ,667** 1
Comunicação e ,524** ,480** ,376** ,431** ,604** ,157 ,509** ,437** ,423** ,388** ,480** 1
marketing
Identidade corporativa ,163 ,303* ,436** ,222 ,303* ,246 ,198 ,357** ,147 ,272* ,245 ,404** 1
Gestão das perceções ,502** ,465** ,463** ,516** ,603** ,176 ,224 ,492** ,465** ,292* ,474** ,703** ,443** 1
Envolvimento do -,021 ,090 ,106 ,364** ,252* ,110 -,138 ,201 ,050 ,106 ,253* ,206 ,132 ,137 1
público-alvo
** ** ** ** ** ** * ** ** ** ** **
Perceção de qualidade ,434 ,510 ,453 ,516 ,577 ,167 ,076 ,618 ,285 ,326 ,492 ,563 ,354 ,781 ,192 1
pelos stakeholders
Instrumentos de gestão ,415** ,492** ,516** ,543** ,649** ,237 ,235 ,559** ,285* ,516** ,560** ,517** ,409** ,641** ,394** ,544** 1
da qualidade
Capital social -,118 -,157 ,062 ,044 -,193 ,063 ,170 ,125 ,280* -,045 ,026 ,086 ,163 -,019 -,056 -,142 ,133 1
Desempenho ,060 ,106 ,221 ,310* ,201 ,131 -,003 ,282* ,302* ,204 ,332** ,211 ,077 ,398** ,175 ,373** ,270* ,037 1
económico
* * *
Desempenho Social ,224 -,057 ,275 ,179 ,292 -,001 ,191 -,094 ,031 -,020 ,079 ,210 ,008 ,151 ,315 ,036 ,153 -,022 ,495** 1
Importância atribuída à ,611** ,243 ,417** ,348** ,532** ,178 ,268* ,140 ,229 ,105 ,255* ,619** ,287* ,630** ,021 ,456** ,370** -,004 ,314* ,374**
medição de resultados 1

(1) Formulação da estratégia; (2) Análise Ambiental; (3) Implementação da estratégia; (4) Gestão de colaboradores; (5) Trabalho em equipa; (6) Gestão de voluntários; (8) Obtenção de donativos; (9) Posse dos meios líquidos necessários; (10)
Geração de receitas próprias; (11) Recursos físicos; (12) Recursos tecnológicos; (13) Comunicação e marketing; (14) Identidade corporativa; (15) Gestão das perceções; (16) Envolvimento do público-alvo; (17) Perceção de qualidade pelos
stakeholders; (18) Instrumentos de gestão da qualidade; (19) Capital social; (20) Desempenho económico; (21) Desempenho Social; (22) Importância atribuída à medição de resultados;
* A correlação é estatisticamente significativa para α=0.05;
** A correlação é estatisticamente significativa para α=0.01;
412

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