CICLO INICIAL DE ALFABETIZAÇÃO - Caderno 01 PDF
CICLO INICIAL DE ALFABETIZAÇÃO - Caderno 01 PDF
CICLO INICIAL DE ALFABETIZAÇÃO - Caderno 01 PDF
Belo Horizonte
2003
GOVERNADOR DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Aécio Neves da Cunha
SECRETÁRIO-ADJUNTO DE EDUCAÇÃO
João Antônio Filocre Saraiva
CHEFIA DE GABINETE
Felipe Estábile Moraes
EQUIPE TÉCNICA
SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO
Raquel Elizabete de Souza Santos
DIRETORIA DE DESENVOLVIMENTO DA
EDUCAÇÃO INFANTIL E FUNDAMENTAL
Bernadette Castro Salles
SUPERINTENDÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DE
RECURSOS HUMANOS PARA A EDUCAÇÃO
Syene Maria Coelho de Toledo
Belo Horizonte
2003
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Reitora
Ana Lúcia Almeida Gazzola
Vice-Reitor
Marcos Borato Viana
Vice-Diretora
Antônia Vitória Soares Aranha
Diretor do Ceale
Antônio Augusto Gomes Batista
Vice-Diretora
Maria da Graça Ferreira Costa Val
FICHA TÉCNICA
Elaboração
Antônio Augusto Gomes Batista
Aparecida Paiva
Ceris Ribas
Isabel Cristina Alves da Silva Frade
Maria da Graça Ferreira Costa Val
Maria das Graças de Castro Bregunci
Maria Lúcia Castanheira
Sara Mourão Monteiro
Consultoria
Carla Viana Coscarelli
Marco Antônio de Oliveira
Belo Horizonte
2003
Agradecimentos
Apresentação............................................................................................................13
Débora ......................................................................................................................17
Analfabetismo na escola!?........................................................................................19
Entre em contato:
SEE/SD/SED/DEIF Universidade Federal de Minas Gerais
Av. Amazonas, 5855 - Gameleira Faculdade de Educação/Ceale
Belo Horizonte, MG Projeto Ciclo Inicial de Alfabetização
CEP: 30.510-000 Av. Antônio Carlos, 6627 - Campus Pampulha
Fax: 31 3379 86 58 Belo Horizonte, MG
[email protected] CEP: 31.270-901
Fax: 31 3499 53 35
[email protected]
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APRESENTAÇÃO
A rede estadual de ensino de Minas Gerais implantou o ensino
fundamental de nove anos. Dividiu o primeiro segmento em dois
grandes ciclos de aprendizado. Há o Ciclo Inicial de Alfabetização,
com duração de três anos e voltado para o atendimento às crianças
de 6, 7 e 8 anos. E há o Ciclo Complementar da Alfabetização, que
atende às crianças de 9 e 10 anos e tem a duração de dois anos.
Caderno 2: Alfabetizando
Nos diferentes momentos do Ciclo Inicial de Alfabetização, o que
ensinar? Que habilidades ou capacidades devem ser
desenvolvidas? Nesse caderno, você analisará e debaterá essas
habilidades e capacidades e sua distribuição ao longo dos três anos
do Ciclo.
Débora
Débora tem 12 anos. Ela está numa turma equivalente à 4ª série da
educação fundamental. Foi reprovada duas vezes. Ela lê e escreve
com tanta dificuldade que não se considera alfabetizada. Numa O caso de Débora
entrevista com a supervisora de sua escola, ela disse: “não sei baseia-se em diferentes
casos reais de crianças
escrever direito; quando faço alguma coisa, faço errado”. Na mesma com dificuldades no
entrevista, quando indagada sobre as pessoas que, em sua casa, aprendizado da leitura e
da escrita. Mas a maior
sabem ler e escrever, ela respondeu que todos sabiam, menos ela e parte das informações
sua irmã. Sua irmã está na terceira série. Sua irmã tem dez anos. foi extraída de casos
relatados e analisados
pela professora Ana
Débora vive na região metropolitana de Belo Horizonte, na periferia Maria Prado Barbosa.
Ela atua como docente
de uma das várias cidades que compõem a metrópole. Sua família é e como supervisora na
pobre e, às vezes, passa por períodos difíceis. Mas seus pais são rede de ensino do
Estado.
alfabetizados e, de acordo com ela, sua mãe, “anota as coisas para
não ficar devendo” e seu pai “costuma escrever as contas”. De
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outras pessoas que, na vizinhança usam a escrita, Débora lembra-
se de uma vizinha que escreve para saber “o que faz no serviço e as
coisas que está precisando em casa”.
oi
brigada tela [pela] carta ce [que] você mondou [mandou]
para min [...] você deve ser legau Não pre siza desipre
Na primeira carta, o
acuta [não precisa de se preocupar] professor disse a Débora
para desculpá-lo pela letra
descute [desculpe] pela ruim. Foi por isso que ela
com a letre [letra] respondeu que não era
Eugostei da carta para se preocupar com a
um abraço escrevada
sua letra.
di novo
Débora
Analfabetismo na escola!?
Em 2003, os jornais e as revistas noticiaram o fracasso da escola
brasileira em fazer com que seus alunos se alfabetizem, aprendendo
a ler e a escrever.
1
1. Qualidade da Educação: De acordo com os dados do SAEB , na avaliação realizada em 2001
uma nova leitura do (divulgada em 2003), apenas 4,48% dos alunos de 4ª série possuem
desempenho dos estudantes um nível de leitura adequado ou superior ao exigido para a continuar
da 4ª série do Ensino
seus estudos no segundo segmento do ensino fundamental.
Fundamental. Brasília:
MEC/INEP. Abril 2003.
Uma parte deles apresenta um desempenho situado no nível
intermediário: 36,2%, segundo o SAEB, estão “começando a
desenvolver as habilidades de leitura, mas ainda aquém do nível
exigido para a 4ª série” (p.8).
Alfabetização no Brasil
Diante dos problemas educacionais, todos nós temos a tendência a
acreditar que, em nosso tempo ou no tempo de nossos avós, as
coisas eram melhores. As escolas alfabetizavam com sucesso, os
professores eram mais qualificados, os alunos eram mais dispostos
a aprender e mais disciplinados.
Alfabetizados............ 28,8%
Analfabetos.............. 71,2%
31,9 1980 68,1
Censo 1940
Alfabetizados............ 38,9%
Analfabetos.............. 61,1% 24,2 1990 75,8
Censo 1950
Alfabetizados............ 42,9%
16,7 2000 83,3
Analfabetos.............. 57,1%
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As mesmas desigualdades também se manifestam em matéria de
escolarização: só no final da década passada, o País conseguiu
universalizar o acesso à escola, embora em muitos estados
persistam percentuais expressivos de crianças fora da escola.
Mas os mesmos dados que mostram a difícil herança que nos foi
legada e as dimensões de nosso desafio mostram também que,
ainda que muito lentamente, avançamos. Ao longo de todo o século
passado, conseguimos incluir novas parcelas da população no
mundo da escrita. Éramos cerca de 18% de alfabetizados, quase no
final do século XIX; no início do século XXI, somos quase 83%.
CASA
Um exemplo: você é capaz de ler global e instantaneamente (de
uma só vez, sem analisar cada elemento) a primeira palavra
ao lado porque é alfabetizado. Outro exemplo: você é capaz de
decodificar, analisando seus elementos (letra, sílaba), a segunda
palavra ao lado (embora ela não exista), porque você é
AVLTONPLAN
alfabetizado. Em síntese: alfabetização, em seu sentido estrito,
designa, na leitura, a capacidade de decodificar os sinais gráficos,
transformando-os em sons, e, na escrita, a capacidade de codificar
os sons da língua, transformando-os em sinais gráficos.
A definição entre aspas é de Ao longo do século passado, porém, esse conceito de alfabetização
Magda Soares (“Alfabetização:
a ressignificação do conceito”.
foi sendo progressivamente ampliado, em razão de necessidades
Alfabetização e Cidadania. sociais e políticas, a ponto de já não se considerar alfabetizado
Revista de Educação de
Jovens e Adultos. RaaB, n.16, aquele que apenas domina as habilidades de codificação e de
julho 2003, p.10-11). decodificação, “mas aquele que sabe usar a leitura e a escrita para
exercer uma prática social em que a escrita é necessária”.
Um problema de método?
Tem-se também alegado que o analfabetismo escolar tem como
base principal a “implantação” de metodologias de ensino baseadas
no construtivismo e no conceito de letramento. Por essa razão,
defende-se a utilização de métodos de base fônica, organizados em
torno da exploração sistemática das relações entre letra e som, isto
é, entre o sistema fonológico do Português e seu sistema
ortográfico.
O que fazer?
A escola pública brasileira mudou, após a implantação do sistema de
ciclos. E não é possível continuar a nela trabalhar como se fosse a
mesma escola de antes. O problema da alfabetização inicial tem de
ser resolvido no primeiro ciclo de aprendizagem. Mas não vai ser a
escolha de um método, por si mesma, que resolverá o problema.