O Devir Do AMor e Da Sexualidade No Processo Do Envelhecimento
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Doutora em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo (USP). E-mail: [email protected]
do Instituto de Ciência e Tecnologia Maria Therez
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Este trabalho é parte da monografia de conclusão de curso da aluna Aline Caroline Ferreira Pontes,
orientado pela Profa. Dra. Andrea Soutto Mayor.
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Doutorando do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
(IPUSP). E-mail r: [email protected] Home Page: www.thiagodealmeida.com.br
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Anais da VII Jornada APOIAR: SAÚDE MENTAL E ENQUADRES GRUPAIS:
A PESQUISA E A CLÍNICA - São Paulo, 7 de novembro de 2009
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A relação sexual tem sido considerada uma atividade própria, e quase monopólio das
pessoas jovens, com boa saúde e fisicamente atraentes. A ideia que as pessoas da terceira
idade também possam manter relações sexuais, não é culturalmente muito aceita,
preferindo-se, ignorar e fazer desaparecer do imaginário coletivo a sexualidade nesta etapa
da vida. Apesar dessas questões culturais, na terceira idade conserva-se a necessidade
psicológica de uma atividade sexual continuada não havendo, pois, idade na qual a
atividade sexual, os pensamentos sobre sexo ou o desejo acabem (VARELLA, 2007).
Devido ao desconhecimento e à pressão cultural, muitas pessoas da terceira idade,
nas quais ainda é intenso o desejo sexual, experimentam um sentimento de culpa e de
vergonha, chegando a crer serem anormais pelo simples ato de se perceberem deste modo.
É preciso desmistificar esta realidade. É certo que o envelhecimento produz
transformações fisiológicas no homem e na mulher, mas não necessariamente inibidoras da
atividade sexual. Na terceira idade não se perde o apetite sexual. Simplesmente, já não têm
pressa. Enquanto os mais novos obtêm maior gratificação na quantidade, durante a terceira
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Trazemos uma herança muito grande quanto ao desconhecimento da vida sexual das
pessoas da terceira idade, exatamente porque sempre consideramos que, depois de
determinada idade, não faz sentido imaginá-las sexualmente ativas. Desde pequenos
aprendemos a valorizar a juventude, e assim começamos a tomar conhecimento dos
instintos sexuais, suas possibilidades, sensações e desejos.
O comportamento sexual é definido por vários princípios: cultura, religião, educação e
estes valores influenciam intensamente o desenvolvimento sexual, determinando a maneira
como iremos vivenciá-la e lidar com ela por toda a vida.
2000, p.152).
É interessante lembrar que, historicamente, a desvalorização da sexualidade inicia-se
com a Igreja Cristã que considerava o ato sexual vergonhoso enquanto uma prática não
reprodutiva. É nesta concepção, que a sexualidade das pessoas da terceira idade se formou
(SANTOS, 2003). Pode-se dizer ainda que existe a relação com vários sentimentos, como
alegria, culpas, vergonha; enfim aos preconceitos e repressões de cada um., razão pela
qual carrega o peso da discriminação devido à existência da construção social de
estereótipos assexuados representando o envelhecimento. Deste modo, o exercício dos
relacionamentos afetivos e sexuais torna-se prejudicado e de alguma forma reprimido,
criando dificuldades em perceber e permitir o exercício da sexualidade após o período de
procriação (RISMAN, 2005).
Na visão de Risman (2005) o que se percebe, então, é que a escassez de
informações sobre o processo de envelhecimento, assim como das mudanças na
sexualidade em diferentes faixas etárias e especialmente na terceira idade, tem auxiliado a
manutenção de preconceitos e, conseqüentemente geram muitas dificuldades para a
vivência da sexualidade por pessoas nesta etapa da vida.
Segundo Neri (1993):
-estar
na velhice: longevidade; saúde biológica; saúde mental; satisfação; controle cognitivo;
competência social; produtividade; atividade; eficácia cognitiva; status social; renda;
continuidade de papéis familiares e ocupacionais, e continuidade de relações
informais em grupos primários
vida, apesar de algumas vezes serem difíceis, são mais viáveis do que muitas pessoas
imaginam (ALMEIDA e LOURENÇO, 2007). Dessa forma, se o idoso permitir-se tais
vivências pode-se supor que ele terá um envelhecimento positivo, ao contrário, daqueles
que somente darão vazão a um saudosismo passivo, ou ainda, a qualquer outro tipo de
posicionamento imobilizador e negativo. Assim, existem várias possibilidades de envelhecer
afetivo-sexualmente, desde as possibilidades mais negativas, que se distanciam de qualquer
tipo de investimento desta natureza, às mais positivas, que se mantém articuladas ao
processo de desenvolvimento biopsicossocial no qual o afetivo-sexual representa uma de
suas principais dimensões.
Então, pode-se conceber o amor e a sexualidade, simultaneamente, como alguns dos
principais elementos da interação humana e, também, como uma das principais diretrizes na
estruturação das relações íntimas (ALMEIDA, 2003) ainda que para diferentes populações.
Dessa forma, o amor e os relacionamentos afetivos sexuais estão se tornando cada vez
mais uma condição indispensável para uma vida satisfatória e plenamente realizada, ao
menos na concepção dos que o buscam (ALMEIDA, 2008a). E expresso de maneiras
diferenciadas, o amor é sumamente importante para o desenvolvimento da personalidade e
crescimento da humanidade. Entretanto, tendo em vista que a sociedade muitas vezes mina
as expectativas de alguns segmentos sociais, como por exemplo, os idosos que querem
firmar um relacionamento amoroso, estes atitudes podem causar uma paralisia nas
motivações, ao menos momentânea, além de conflitos desnecessários para as pessoas por
elas prejudicadas (ALMEIDA, 2008b).
para quem quer ainda namorar ou para aqueles poucos, que conseguiram ou
gostariam de manter uma relação estável e mais duradoura. Afinal, porque as coisas
são tão difíceis na velhice? Os próprios idosos na verdade, já não contam mais com
essa possibilidade. Sentem-
dificilmente encontrarão alguém para amar e evitam pensar nisto, e quando pensam
ficam tristes. Procuram relembrar os amores do passado, os bons e belos momentos
que viveram e acham, na maioria, que nunca mais terão a oportunidade de namorar
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Retirado do site: http://www.espacovital.com.br/noticia_complemento_ler.php?id=1371¬icia_id=14351
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A capacidade de amar não tem limite cronológico. O limite está no campo psicológico,
no preconceito e na intolerância social. O limite não está no real do corpo, ou na capacidade
de sonhar, de simbolizar e de viver a vida (BUTLER E LEWIS, 1985).
CONCLUSÃO
É necessário "humanizar" esta etapa da vida, trazer "luz" ao conhecimento de que ser
idoso é ser alguém que possui dentro de si muita vida. Talvez pelo fato de que ser idoso
ainda é um termo com significado, na maioria das vezes, pejorativo; razão pela qual, muitos
apresentam dificuldades em fazer saudavelmente esta passagem. Este processo poderia
ocorrer de forma mais natural se o nosso sistema não fosse ainda muitas vezes, excludente
e mutilador no que tange as questões relacionadas à velhice, pois notamos claramente no
discurso contemporâneo que mesmo levando em conta as limitações naturais impostas pelo
envelhecimento, sentimentos de inutilidade, solidão, incapacidade física e doenças são
ainda atribuídos ao idoso. O indivíduo que está atravessando essa fase da vida pode acabar
por aceitar esses estereótipos sem ter forças para produzir sentido para a vida. Talvez este
seja o maior desafio da velhice, a perda do sentido de ser.
A maneira de viver na terceira idade é o resultado, em termos de atividades e de
relacionamentos sociais, das experiências acumuladas durante as varias etapas da vida,
não havendo necessidade de tornar este período inútil, razão de desespero e infelicidade. É
necessário adaptar esta experiência ao processo de envelhecimento tanto físico quanto
psicológico para que nos dias vindouros possamos manter a esperança de novas
possibilidades e objetivos a serem alcançados.
Resgatar o direito a uma vida amorosa e sexual na terceira idade implica poder
pensar o amor em suas formas de transformação, ou seja, outras formas de amor que
passam pela ternura, pelos contatos físicos, a expressão corporal, o olhar, o toque, a voz,
redescobrindo as primeiras formas de amor do ser humano.
É de extrema importância poder pensar que a partir da redescoberta do sexo e do
amor, enfim, de sua sexualidade, as pessoas da terceira idade reconquistem o lugar vital de
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REFERÊNCIAS
ALMEIDA, T. O perfil da escolha de objeto amoroso para o adolescente: Possíveis razões. São
Carlos: UFSCar, 2003. Trabalho de conclusão de curso. Departamento de Psicologia, UFSCar,
São Carlos, SP, 2003.
BUTLER, R. N.; LEWIS, M. I. Sexo e amor na terceira idade. Tradução Ibanez de Carvalho Filho.
São Paulo: Summus, 1985.
CAPODIECI, S. A idade dos sentimentos: amor e sexualidade após os sessenta anos. Tradução
Antonio Angonese. São Paulo: EDUSC, 2000.
GUGGENHEIM, S. Amor na idade madura. Revista Rio Total. 2006. Disponível em: <
http://www.espacovital.com.br/noticia_complemento_ler.php?id=1371¬icia_id=14351 >.
Acesso em: Abr. 2007.
NERI, A. L. (Org.). Qualidade de vida e idade madura. São Paulo: Papirus, 1993.
RISMAN, A. Sexualidade e terceira idade: uma visão histórico-cultural. Textos Envelhecimento, v.8,
n.1, outubro/ 2005. Disponível em:<
http://www.portaldoenvelhecimento.net/artigos/artigo531.htm.> Acesso em: outubro/ 2007.
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