A Literatura Vista de Baixo - MESTRADO EMANUEL GOMES
A Literatura Vista de Baixo - MESTRADO EMANUEL GOMES
A Literatura Vista de Baixo - MESTRADO EMANUEL GOMES
CENTRO DE HUMANIDADES
DEPARTAMENTO DE LITERATURA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS
FORTALEZA
2014
EMANUEL RÉGIS GOMES GONÇALVES
FORTALEZA
2014
EMANUEL RÉGIS GOMES GONÇALVES
BANCA EXAMINADORA:
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RESUMO
Este trabalho propõe-se a um estudo do livro Quarto de despejo (1960), de Carolina Maria
de Jesus, associando-o à modalidade de criação literária e perspectiva conceitual que
optamos por chamar de literatura vista de baixo. Entendemos por esta última categoria a
produção literária das camadas sociais subalternas e marginalizadas socialmente e,
simultaneamente, uma perspectiva teórica que valorize as diferenças entre esse tipo de
literatura e a literatura erudita, historicamente associada às elites sociais e culturais em
diferentes espaços e períodos. Na obra em questão é narrado o dia-a-dia miserável e
violento da autora, na hoje extinta favela do Canindé e também nos percursos que faz pela
cidade de São Paulo, entre os anos de 1955 a 1960, dentro do quadro político e ideológico
conhecido em nossa historiografia como “desenvolvimentismo”, pautado por vertiginoso
crescimento urbano e industrialização do país. Nosso objetivo geral é, além de investigar
como a criação literária, nos planos do conteúdo e da expressão, foi condicionada, no livro
Quarto de despejo, pela origem de classe e a situação de miséria de sua autora,
desenvolver a noção de “literatura vista de baixo” como uma chave teórica para explicar os
limites da representação da pobreza pela literatura culta do Brasil. Procuramos, ao mesmo
tempo, traçar um breve panorama da representação da pobreza na literatura brasileira pós
semana de 22, a partir de autores e obras-chave de nossas letras, analisando de que forma
o universo erudito literário relacionou-se com o mundo material e mental das classes
subalternas. Tentamos também mostrar as consequências temáticas e formais que advêm
da inversão de lugar do pobre, quando este passa de objeto para sujeito de sua própria
representação literária. As bases teóricas principais das análises realizadas nesse projeto
serão os estudos de Antonio Candido sobre a relação entre literatura e sociedade
(CANDIDO, 1965) e de Roberto Schwarz sobre a representação da pobreza na literatura
brasileira (SCHWARZ et alli, 1983), bem como a consulta de obras historiográficas e
sociológicas que abordam a literatura e as questões de poder, como os trabalhos de Carlo
Guinzburg (2006) e Pierre Bourdieu (2009) sobre a micro-história e o poder simbólico,
respectivamente.
RÉSUMÉ
Ce travail propose une étude de Quarto de despejo (1960), Caroline Maria de Jésus, reliant
le livre à la modalité de la création littéraire et point de vue conceptuel , nous
choisissons d'appeler la littérature de dessous. Nous croyons pour cette dernière
catégorie la production littéraire des groupes sociaux subalternes et socialement
marginalisés et simultanément une perspective théorique qui valorise les différences
entre ce type de littérature et de la littérature classique, historiquement associés avec
les élites sociales et culturelles dans différents lieux et époques. Le travail en question
est raconté le misérable et violente de l'auteur, le bidonville défunte Canindé au jour le
jour et aussi les routes qui rend la ville de São Paulo, entre les années 1955 à 1960,
dans la politique et idéologique connu dans notre histoire comme
"développementalisme", marquée par une croissance urbaine vertigineuse et
l'industrialisation. Notre objectif global est, au-delà de étudier comment la création
littéraire, prévoit le contenu et d'expression, a été conditionné, salle de stockage dans le
livre de l'origine de classe et la misère de son auteur, a développé la notion de “point de
vue de la littérature bas” comme une base théorique pour expliquer les limites de la
représentation de la pauvreté par la littérature touche de culture du Brésil. Recherchée
tout en traçant un bref aperçu de la représentation de la pauvreté dans la littérature
brésilienne après la semaine 22, des auteurs et des œuvres majeures de notre
littérature, l'analyse de la façon dont l'univers de spécialiste de la littérature a été liée au
monde matériel et classes subalternes mentale. Nous essayons aussi de montrer les
conséquences thématiques et formelles provenant de la reprise de la mauvaise place,
comme il passe l'objet à l'objet de sa propre représentation littéraire. Le principal
fondement théorique des analyses effectuées dans ce projet sont les études de Antonio
Candido sur la relation entre la littérature et la société (Candido, 1965) et Roberto
Schwarz sur la représentation de la pauvreté dans la littérature brésilienne (SCHWARZ
et al, 1983), ainsi que interroger œuvres historiographiques et sociologiques qui traitent
de la littérature et les questions de pouvoir, comment les travaux de Carlo Ginzburg
(2006) et Pierre Bourdieu (2009) sur la micro-histoire et pouvoir symbolique ,
respectivement.
Mots-clés: La création littéraire - Misery - Valeur esthétique - Littérature vue par le bas.
Sumário
Introdução 6
1. A representação literária da pobreza na ficção brasileira pós-Semana
de 22 11
1.1 O retrato literário da pobreza na ficção brasileira pós-22 14
1.1.1 O Primeiro Modernismo e o povo: o caso Mário de Andrade 14
1.1.2 O Romance de 30, Graciliano Ramos e um murmúrio popular 17
1.1.3 A Geração de 45: “Por campos vim cantando ao vento frio” 22
1.1.4 A Poesia Concreta da Geração de 50: a “Responsabilidade integral perante a
linguagem” e o retorno ao social 23
1.1.5 Década de 60: Centros Populares de Cultura, agitação política e a publicação de
Quarto de Despejo 25
1.2 A literatura vista de baixo: conceitos e métodos 28
2. Marcas da literatura vista de baixo em Quarto de despejo 41
2.1 Figurações da literatura vista de baixo em Quarto de despejo 46
2.1.1 Entre o descaso e a demagogia: o desmascaramento dos discursos institucionais
em Quarto de despejo 46
2.1.2 As questões de raça e gênero em Quarto de despejo 54
2.1.3 Entre a cidade e a favela: o espaço em Quarto de despejo 58
2.1.4 A temática da fome 66
3. A questão do valor estético em Quarto de despejo 70
3.1 Algumas considerações sobre o valor em literatura 71
3.2 A gênese histórica da estética “pura”, segundo Bourdieu: o campo literário visto
de fora 79
3.3 Nacional por subtração (do povo) 88
3.4 O valor estético de Quarto de despejo 90
Considerações finais 93
Referências bibliográficas 95
Introdução
O livro Quarto de despejo – diário de uma favelada, publicado em 1960, é a
primeira e mais famosa obra de Carolina Maria de Jesus1, escritora que foi
“descoberta” pelo jornalista Audálio Dantas em 1958, quando este fora cobrir a
inauguração de um playground na favela em que ela morava. O texto descreve o dia
a dia miserável da autora na favela do Canindé, em São Paulo, como mãe solteira
de três filhos, negra, e tendo de sobreviver como catadora de papel, entre os anos
de 1955 a 1960. Encontra-se, portanto, no contexto histórico do
“desenvolvimentismo” juscelinista do fim dos anos 50, período de acelerada
urbanização e crescimento industrial do país.
1
Carolina Maria de Jesus nasceu na cidade de Sacramento, interior de Minas Gerais, provavelmente
no ano de 1914. Ainda criança, mudou-se com a mãe e os irmãos para uma fazenda, abandonando a
escola, mantida por uma instituição espírita, onde cursava o segundo ano primário, único contato com
o ensino formal que terá em toda a vida. Regressa depois à sua cidade natal e, após a morte da mãe,
vai para São Paulo, em 1947. Trabalha em diversas atividades, sobretudo como empregada
doméstica, além de faxineira, vendedora de cerveja e artista de circo. Impedida de trabalhar como
doméstica por causa de sua primeira gravidez, instala-se na favela do Canindé, hoje extinta, onde
nascem mais dois filhos seus. Depois do sucesso do seu primeiro livro, Quarto de despejo, deixa a
favela, em 1960, indo morar, primeiro, no bairro de Santana e, por fim, em um sítio em Parelheiros,
onde permanece até a sua morte, em 1977. Lançou também os livros Casa de alvenaria, Pedaços da
fome, Provérbios e os póstumos Diário de Bitita e Antologia poética.
7
Poderíamos começar citando Jim Sharpe, que nos diz o seguinte a respeito
da história tradicional:
O mesmo raciocínio pode ser facilmente aplicado aos estudos literários, pois,
se escritores brasileiros como Graciliano Ramos, João Antônio, Plínio Marcos etc. se
esforçaram sinceramente em apresentar uma visão de mundo e uma representação
da pobreza do ponto de vista dos pobres, mimetizando-lhes inclusive o conteúdo e
estilo da fala; se, enfim, esses escritores tentaram se libertar obstinadamente de
suas mentalidades de homens privilegiados e cultos, dizer que a obra desses
autores mostrou a realidade dos pobres “de dentro para fora”, como fazem alguns, é,
em última análise, uma força de expressão.
Pois o impasse que imediatamente surge aos nossos literatos diante dessa
tarefa – a de representar os pobres – é o seguinte: qual a melhor forma de fazê-lo,
ou seja, como dar expressão ao universo mental e às dinâmicas sociais de uma
classe a que não se pertence, como resolver as agruras da ida ao povo?
Esta é a tese proposta por Roberto Schwarz ao final de seu ensaio “Outra
Capitu”. Ao analisar a utilização “errada”, “à brasileira” dos pronomes na escrita de
resto erudita e complexa de Mário, o autor de Duas meninas defende que isso era
pensado para que, pela política literária de choque, de ruptura com o português
castiço, o exemplo do autor pudesse despertar a consciência de seus pares para a
“contribuição milionária de todos os erros”, para usar a expressão de Oswald, da
língua coloquial, falada longe das academias e dos livros, e estimulando-os pelo
exemplo a aderirem aos novos tempos (SCHWARZ, 1997, p. 138).
O país vai assistir nesse período a uma renovação em muitos dos seus
setores, como as reformas educacionais, em níveis estaduais e nacionais,
realizadas sob o ideário da Escola Nova, o surgimento de universidades modernas,
um aprofundamento do interesse pelos estudos sociais históricos, a ampliação de
casas editoriais, a expansão das transmissões radiofônicas pelo país, o crescimento
do aparato burocrático etc.
Não é preciso uma grande dedução para perceber que, em narrativas como
Vidas secas, as camadas subalternas continuam, em última instância, em silêncio, o
que se percebe inclusive pela quase que total ausência de diálogos das
personagens entre si, que se comunicam predominantemente por interjeições
monossilábicas e gestos.
século XIX, a responsável por afastar os poetas desse período do contato com o
coloquial e cotidiano, que fora uma das marcas das gerações que os antecederam.
É nesse contexto que vai ser realizada em São Paulo, no ano de 1956, a
Exposição Nacional de Arte Concreta, e veremos surgir um grupo de intelectuais e
poetas que, influenciados pelas ideias de Ezra Pound e a literatura de Mallarmé,
James Joyce e e. e. cummings, criam uma proposta estética e literária nova no país.
Esses poetas eram os irmãos Augusto e Haroldo de Campos, além de Décio
Pignatari, Ronaldo Azeredo, José Lino Grünewald, Ferreira Gullar e Reynaldo
Jardim, e essa nova proposta estética era a Poesia Concreta.
É claro que a concepção social que este tipo de estética propõe não engloba
– e nem coloca isso como preocupação, em momento algum – as camadas pobres e
subalternas, uma vez que estas participam, na melhor das hipóteses, apenas
colateralmente do “progresso” trazido pelo desenvolvimento econômico e a
sociedade de consumo, e, na maioria das vezes, obtêm desse desenvolvimento e
dessa sociedade unicamente os seus refugos.
Antes de 1964, o fato cultural mais marcante vai ser a criação e proliferação
dos Centros Populares de Cultura (CPCs), entidades ligadas à União Nacional dos
Estudantes (UNE) que, conforme o próprio nome indica – e é isso que nos interessa
de perto – propunham-se a uma ligação estreita com os setores populares, visando
a “conscientização” e a promoção da “revolta” das camadas pobres e subalternas.
Este livro, um diário que narra a vida miserável de sua autora como mãe
solteira, catadora de papel e moradora da favela do Canindé, de 1955 a 1960,
mostra o quanto os temas e as formas da criação literária são condicionadas pela
situação social do escritor, conforme pretendemos demonstrar no capítulo seguinte,
enquadrando-se no tipo de perspectiva estética que optamos por chamar de
literatura vista de baixo.
Essa por assim dizer “confusão” entre o “alto” e o “baixo” dentro da produção
erudita iria durar pouco. Já no século XVII, essas divisões voltariam a ser exercidas
em termos plenos – através da ação de diversos setores hegemônicos (jesuítas e
protestantes, sobretudo) – em busca de eliminar a cultura popular e reforçar sua
autoridade intelectual ameaçada pela produção e circulação de livros, as quais
ganharam um grande impulso com a invenção da imprensa ainda no século XVI
(GUINZBURG, 2006, p. 190).
tratamento sério; o tratamento cômico deve ser destinado apenas aos “estratos mais
baixos da sociedade” (BAKHTIN, 2010, p. 57-58).
Não foi apenas o realismo formal que despertou nos autores realistas da
primeira metade do século XIX o interesse “sério” pelas classes pobres e
subalternas, mas uma pronunciada curiosidade por tudo o que fugisse do universo
social e cultural de seus leitores burgueses e pudesse provocar neles novas
sensações, mesmo o choque ou a repulsa. O que levou os escritores desse período
a oferecer um lugar para os setores subalternos em suas narrativas foi a procura
33
campo e, portanto, não dá conta das produções que não obedecem a formas fixas e
constroem-se dentro do universo urbano na contemporaneidade; b) pressupõe uma
criação coletiva, do tipo “cancioneiro popular”, em que as vozes individuais dos
autores – com algumas exceções – não são consideradas nas suas singularidades
estilísticas; c) é uma classificação geralmente feita “de cima para baixo”, ou seja, por
agentes da cultura erudita, que deste modo distinguem-se e circunscrevem para si
um espaço de prestígio dentro do campo literário, deixando para os autores
“populares” um lugar geralmente à margem do referido campo.
Os grupos que produzem literatura, entre nós, vivem num meio que
resolveu teoricamente o problema do abastecimento regular, e adotam
modelos sugeridos pela ideologia de classes que não participam
diretamente no processo de obtenção dos meios de vida. Por isso, apenas
nas obras de cunho realista ou grotesco o alimento aparece na sua
realidade básica de comida. Nas obras de expressão lírica e timbre
emocional elevado, só se manifesta despido da sua natureza específica e
37
Em “As peras”, Ferreira Gullar (2004, p. 18) utiliza-se da figura das frutas que
batizam o poema para expressar sentimentos ligados à passagem do tempo, dos
limites da poesia, da separação entre o “eu” e o mundo. O que predomina é o
tratamento plástico das frutas:
As peras, no prato
apodrecem.
O relógio, sobre elas,
mede
a sua morte?
(...)
Oh, as peras cansaram-se
de suas formas e de
sua doçura! As peras,
concluídas, gastam-se no
fulgor de estarem prontas
para nada.
38
2
A partir de agora, utilizaremos a sigla QD, acompanhada do número da página, em todas as
citações diretas de Quarto de despejo no corpo de nosso trabalho.
39
Sem enveredar por caminhos que levariam mais para campos como a
sociologia, o estudo da literatura vista de baixo deve necessariamente incluir a
recepção das obras dessa literatura junto ao público, pois um dos fenômenos
recorrentes quando tratamos das obras das classes subalternas é o seu sistemático
apagamento ou marginalização dentro do campo literário brasileiro, com os autores
muitas vezes encontrando mais repercussão fora que dentro do país. Assim, uma
metodologia indicada para abordar o assunto é a comparação dos princípios
explícitos ou implícitos presentes nos diferentes discursos críticos, sincrônicos e
diacrônicos, sobre o valor literário na produção da crítica nacional.
2. Marcas da literatura vista de baixo em Quarto de despejo
Essa distinção estabelecida por Vogt entre a autora Carolina – favelada, mãe
solteira e catadora de papel – e a escritora Carolina apenas antecipa, a nosso ver, a
distinção mais profunda entre a autora e a narradora e a personagem Carolina, ou
seja, entre as esferas extra e intraliterárias, regidas por leis diversas.
Acreditamos, porém, que as três Carolinas não podem ser tratadas pelo
estudioso de forma completamente independente, já que a relação entre os
universos extra e intraliterários aqui analisados apresentam complicações e nuances
que resistem a uma separação estanque dessas esferas.
3
Filio-me aqui, no uso da categoria analítica dialética, ao pensamento teórico de Antonio Candido,
que, em diversos de seus estudos, utiliza-se de categoria idêntica para interpretar o funcionamento
de determinados elementos da narrativa e da historiografia literárias (“dialética da malandragem”,
“dialética do localismo e do cosmopolitismo” etc.).
44
A personagem Carolina seria então essa figura que ora pode apresentar-se
como completamente identificada com os pobres e marginalizados, como neste
registro do dia 23 de maio de 1958, em que reclama de forma ao mesmo tempo
amarga e brincalhona do aumento do preço do feijão: “Até vocês, feijão e arroz, nos
abandona! Vocês que eram os amigos dos marginais, dos favelados, dos indigentes.
Vejam só. Até o feijão nos esqueceu. Não está ao alcance dos infelizes que estão no
quarto de despejo.” (QD, p. 44); ora ridiculariza a ignorância de seus desafetos: “Não
gosto de aludir os males físicos porque ninguém tem culpa de adquirir moléstias
contagiosas. Mas quando a gente percebe que não pode tolerar a inpricancia do
analfabeto, apela para as enfermidades.” (QD, p. 28) – grifos nossos.
Outro exemplo seriam esses trechos do poema “Somos nós”, de Sérgio Vaz,
voz surgida na periferia de São Paulo e criador da Cooperifa (sarau de poesia
itinerante nas periferias da capital paulista), que desmascara o cinismo dos
discursos que fingem desconhecer as causas dos levantes sociais que se
espalharam pelo país em 2013:
Acredita que somos um país pobre, é verdade, mas democrático; que aqui
os princípios da democracia vigoram realmente e as oportunidades são
iguais para todos; que vivemos num clima de liberdade efetiva, sustentado
pela ordem. A grande chave capaz de abrir estas da ascensão social seria o
trabalho. Ela se aplicaria tanto aos casos individuais quanto aos nacionais.
(CARDOSO, 1978, p. 113)
Fico pensando na vida atribulada e pensando nas palavras do Frei Luiz que
nos diz para sermos humildes. Penso: se o Frei Luiz fosse casado e tivesse
filhos e ganhasse salário mínimo, ai eu queria ver se o Frei Luiz era
humilde. Diz que Deus dá valor só aos que sofrem com resignação. Se o
Frei visse os seus filhos comendo generos deteriorados, comidos pelos
50
Essa visão conservadora já foi apontada por muitos dos que se detiveram
sobre a obra de Carolina4, através das observações da autora sobre alguns dos
fenômenos que a cercam na favela e fora dela.
4
Carlos Vogt inclui-se entre esses críticos. Cf. VOGT, 1983, p. 210.
51
…Hoje teve uma briga. Na rua A residem 10 baianos num barracão de 3 por
dois e meio. São cinco irmãos. E as outras cinco irmãs. São robustos, mal
incarados. Homens que havia de ter valor para o Lampeão. Os dez são
pernambucanos. E brigaram os dez com um paraibano. (…) quando os
pernambucanos avançaram no paraibano as mulheres abraçaram o
paraibano e levaram para dentro do barracão e fecharam a porta. Os
pernambucanos ficaram falando que matavam e repicavam o paraibano.
Queriam invadir o barracão. Estavam furiosos igual os cães quando alguem
lhes retira a cadela. (QD, p. 63)
Como poderia não aderir aos valores dominantes, que, aliás, são chamados
de dominantes exatamente porque invadem corações e mentes? Como
escapar da incorreção poética e política quem só teve acesso – quando
teve – às franjas desses universos, que se mostram pelo que não são, mas
que talvez acabem sendo o que apregoam não ser? (LAJOLO, 1996, p. 58)
53
A questão ganha maior relevo por essas duas categorias, raça e gênero,
ligarem-se a uma esfera que extrapola a literária – o fato da autora Carolina
pertencer à raça negra e ao gênero feminino.
Quando eu estava preparando-me para sair a Dona Alice veio dizer que
dois meninos do Juiz [juizado de menores] estava vagando aqui na favela.
Fui ver. Estavam com roupas amarelas. Descalços e sem camisa. Só com
aquele blusão em cima da pele. Eles estavam desorientados. Perguntei se
queriam café. Responderam que não.
Eu entrei e fui preparar para sair para a rua. O José Carlos acompanhou os
meninos. Depois veio perguntar-me se eu podia arranjar umas roupas para
os meninos.
– Vá chamá-los!
– Ele foi e voltou com os meninos. Um era mulato claro. Um rosto feio. Um
narigão. O outro era branco bonito. (QD, p. 87. Grifos nossos)
pixaim, lábios grossos, cor da pele etc.), o poeta inverte sua simbologia, elevando á
categoria de símbolos positivos o que antes estivera carregado de conotações
negativas” (BERND, 1988, p. 88).
O senhor Manuel apareceu dizendo que quer casar-se comigo. Mas eu não
quero porque já estou na maturidade. E depois, um homem não há de
gostar de uma mulher que não pode passar sem ler. E que levanta para
escrever. E que deita com lápis e papel debaixo do travesseiro. Por isso é
que eu prefiro viver só para o meu ideal. (QD, p. 50)
Mulher e negra, nem por isso Carolina Maria de Jesus deixa entrever em sua
escrita essas duas categorias sociais de forma simplificada e homogênea. Afinal,
Carolina – a autora, a narradora e a personagem – é uma negra que ora valoriza ora
desvaloriza a cor da sua pele e uma mulher que em muitos momentos pauta sua
vida pela completa autonomia em relação ao masculino e, em outros, deixa-se
contaminar em suas observações sobre as mulheres pelo mais evidente machismo.
Diante do consenso teórico atual de que essa questão não se resolve pela
postulação de uma Ontologia, um algo a alcançar como ponto terminal de
uma busca, a identidade (no que pese o termo) só pode ser tomada como
uma “síntese inacabada”, cuja modelização se perfaz pelas contínuas
pressões socioculturais. Dentro dessa concepção antimetafísica – tão
congenial a nossos tempos pós-modernos – a poesia negra brasileira
constrói a sua identidade no próprio processo discursivo da sua indagação,
onde (re)conhece o sentido de uma diferença. (CHIAMPI, 1988, p. 12)
Se até o final do século XIX as classes populares tinham como principal forma
de habitação na cidade os cortiços – próximos das indústrias têxteis que
59
começavam a surgir, o que facilitava a ida ao trabalho – esse quadro irá mudar no
começo do século XX, através de leis e códigos municipais que dificultavam a
construção desses tipos de habitações no intuito de afastar as classes despossuídas
para longe do olhar do poder público e das classes médias e altas (CARRIL, 2006,
p. 81).
Fui catar papel e permaneci fora de casa uma hora. Quando retornei vi
várias pessoas as margens do rio. É que lá estava um senhor inconciente
pelo álcool e os homens indolentes da favela lhe vasculhavam os bolsos.
Roubaram o dinheiro e rasgaram os documentos (…) É 5 horas. Agora que
o senhor Heitor ligou a luz! E eu, vou lavar as crianças para irem para o
leito, porque eu preciso sair. Preciso dinheiro para pagar a luz. Aqui é
assim. A gente não gasta luz, mas precisa pagar. Saí e fui catar papel.
Andava depressa porque já era tarde. Encontrei uma senhora. Ia
maldizendo sua vida conjugal. Observei mas não disse nada. (…) Amarrei
os sacos, puis as latas que catei no outro saco e vim para casa. Quando
cheguei liguei o radio para saber as horas. Era 23, 55. Esquentei comida, li,
despi-me e depois deitei. O sono surgiu logo. (QD, p. 18)
60
5
O livro mais próximo de descrever situação social parecida seria O cortiço, de Aluísio Azevedo,
publicado em 1890. É preciso lembrar, contudo, que a realidade retratada neste livro é a do cortiço,
um tipo de habitação diferente da favela, e que a ótica do autor dessa obra é pautada pelo
positivismo e o determinismo taineanos – uma escola filosófica de tendência cientificista, o que o
distancia, e muito, da perspectiva de Carolina Maria de Jesus.
61
enquanto “poeta do lixo”, nas suas próprias palavras, dar a ver os sofrimentos dos
pobres (SOUSA, 2012, p. 143).
Como defende DaMatta sobre o assunto, a categoria “rua” seria o lugar dos
“imprevistos, acidentes e paixões” e também implicaria “movimento, novidade e
ação”, ou seja, representaria por excelência o espaço da desordem; enquanto a
categoria “casa” representaria o “universo controlado” em que “as coisas estão nos
seus devidos lugares” e também subentenderia “harmonia e calma” (DAMATTA,
1997, p. 90).
Outro aspecto que diferenciaria essas duas categorias seria o fato de uma (a
rua) representar o lugar em que se trabalha e a outra (a casa), o espaço do
descanso.
(…) na rua é preciso estar atento para não violar hierarquias não sabidas ou
não percebidas. E para escapar do cerco daqueles que nos querem iludir e
submeter, pois a regra básica do universo da rua é o engano, a decepção e
a malandragem, essa arte brasileira de usar o ambíguo como instrumento
de vida. (DAMATTA, 1997, p. 91)
O autor faz, porém, a ressalva de que não se deve entender essa oposição
entre casa e rua de maneira muito inflexível, pois, na configuração concreta dos
espaços, essas duas categorias aceitariam diversas graduações entre si (como as
varandas, espaços que, apesar de pertencerem à casa estão voltadas de frente para
a rua) ou as janelas, a partir das quais a rua pode ser observada em sua
movimentação, rompendo assim com o universo imóvel da casa (DAMATTA, 1997,
p. 91-92).
O que nos interessa nessa discussão toda sobre a oposição entre a rua e a
casa – em que a primeira seria o lugar da desordem e do esfalfamento na luta pela
sobrevivência, enquanto a segunda representaria o espaço da ordem, da segurança
e do descanso – é a constatação de que essas representações do espaço não
poderiam ser aplicadas para o entendimento do mundo social que figura em Quarto
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de despejo, pois elas dizem respeito por excelência à divisão do espaço das classes
hegemônicas e não das classes subalternas.
Ainda tratando das gradações que podem existir entre as categorias “casa” e
“rua”, DaMatta explica que em determinados contextos sociais – como as favelas – é
difícil estabelecer a diferença entre essas duas categorias:
ponto de descida e vai parar no Jardim Botânico, onde se sente maravilhada pela
pulsão e a desordem da vida que cerca aquele lugar. Retorna depois de algumas
horas, ainda vibrando com a experiência inusitada, mas paulatinamente vai se
reacomodando à vida que levava, o que fica claro na cena final, em que é levada
pela mão até o quarto pelo marido (figura paternal e provedora) que, agindo assim,
estava “afastando-a do perigo de viver”.
De fato, o diário de Carolina Maria de Jesus traz, como motivação central das
ações da personagem, a busca de alimento para ela e para seus filhos. Em torno
dessa preocupação, explicam-se suas idas à cidade, a catação de lixo, as críticas às
autoridades, suas alegrias nos dias de “panela cheia” em seu barraco, e até os seus
sonhos, como nessa entrada do dia 21 de maio de 1958:
Passei uma noite horrivel. Sonhei que eu residia numa casa residivel, tinha
banheiro, cozinha, copa e até quarto de criada. Eu ia festejar o aniversario
de minha filha Vera Eunice. Eu ia comprar-lhe umas panelinhas que há
muito ela vive pedindo. Porque eu estava em condições de comprar. Sentei
na mesa para comer. A toalha era alva ao lirio. Eu comia bife, pão com
manteiga, batata frita e salada. Quando fui pegar outro bife despertei. Que
realidade amarga! Eu não residia na cidade. Estava na favela. Na lama, as
margens do Tietê. E com 9 cruzeiros apenas. Não tenho açúcar porque
ontem eu saí e os meninos comeram o pouco que eu tinha. (QD, p. 40.
Grifos nossos)
finais que podem ficar para o leitor de Fome é que a desnutrição e a penúria do
protagonista deste livro é, em última instância, causada por ele mesmo, por seu
desequilíbrio mental, como no episódio em que ele recebe um troco indevido de um
comerciante e, sentindo-se culpado, em vez de devolver o dinheiro ou guardá-lo
para minimizar as futuras privações, prefere dar toda a quantia para uma vendedora
de doces.
b) a fome como fator de animalização dos seres humanos: “Os favelados aos
poucos estão convencendo-se que para viver precisam imitar os corvos” (QD, p. 41-
42);
c) a fome como elemento sinestésico: “Eu que antes de comer via o céu, as
árvores, as aves tudo amarelo, depois que comi, tudo normalizou-se aos meus
olhos” (QD, p. 45) – grifos nossos;
A partir desses exemplos, torna-se claro para o analista o valor com que a
comida e o alimento são vistos em Quarto de despejo e o quanto a situação de
privação da escritora acaba interferindo e condicionando até mesmo seu estilo, o
que, como procuramos mostrar, é extremamente raro de acontecer na literatura das
classes hegemônicas.
3. A questão do valor estético em Quarto de despejo
Mas, se não é um dado evidente por si mesmo, se não repousa como uma
“essência” dentro das páginas de um livro, fruto exclusivo de sua fatura em termos
temáticos e formais, não nos resta outra alternativa a não ser lançar as inevitáveis e,
por que não dizer, perigosíssimas perguntas – afinal, o que é um bom livro? O que é
o valor estético em literatura?
Escolhemos esse ensaio de Roberto Schwarz porque ele traz à tona uma
importante reflexão sobre o valor de nossa literatura, em forma de polêmica com
outros teóricos brasileiros, conforme veremos.
Nosso objetivo é entender como essa discussão, localizada nas altas esferas
de prestígio intelectual do país, tem – ou não – validade para a literatura vista de
baixo, ou seja, como tal discussão ajuda-nos a compreender a relação da crítica
literária brasileira e seus critérios de valor com a produção literária das camadas
pobres e subalternas do país.
Entre esses dois teóricos – que, conforme colocamos, serão nossas duas
principais referências na reflexão que nos propomos a fazer – traremos também a
contribuição pontual de alguns outros autores que se detiveram na questão em suas
obras, tais como René Wellek (1976) e Leyla Perrone-Moisés (1998).
Neste sentido, nem a história literária nem a teoria literária poderiam existir
em suas formas “puras”, ou seja, pautando-se em critérios puramente “científicos” e
excluindo, portanto, a valoração e a escolha de determinadas obras:
Toda teoria, pode-se dizer, envolve uma preferência, ainda que seja pelos
textos que seus conceitos descrevem melhor, textos pelos quais ela foi
provavelmente instigada (como ilustra a ligação entre os formalistas russos
e as vanguardas poéticas, ou entre a estética da recepção e a tradição
moderna). (COMPAGNON, 2010, p. 222)
literatura, sendo que “na sua maioria, os poemas são ruins, mas são poemas”? Aqui
também a relativização se faz presente, uma vez que definições diferentes de
literatura envolvem critérios valorativos – e, portanto, relativos – de divisão entre o
literário e o não-literário:
O maior problema das teorias que tentam estabelecer uma “terceira via” entre
a objetividade e a subjetividade no julgamento estético é justamente este identificado
no instrumentalismo de Beardsley: a exclusão, por princípio, da arte moderna, que
abandonou completamente as noções de norma e de modelos estéticos a serem
seguidos, a não ser, talvez, um: o da novidade (“make it new”).
Como solução para este impasse, Compagnon propõe a sua própria terceira
via, afirmando que, se o valor literário não pode ser fundamentado em termos
teóricos, este é “um limite da teoria, não da literatura” (COMPAGNON, 2010, p. 250).
Afinal, o que faz com que o jogo sobre os critérios que presidem a definição
da qualidade literária seja tão importante de ser jogado? Quais são as regras para
participar legitimamente desse jogo? E, sobretudo, quem tem o direito de participar
desse jogo e por quê?
Essa divisão é por demais conhecida, mas vale destacar dela um aspecto que
pode passar desapercebido e é o fato de que, para Candido, a literatura só pode ser
pensada em termos de uma instituição social, e não em termos de obras isoladas.
Conforme nos diz o autor de O poder simbólico, referindo-se neste caso aos
pintores, mas em um raciocínio que pode facilmente ser aplicado também às outras
categorias de artistas, inclusive escritores:
Como se vê, é ao mesmo tempo verdadeiro e falso dizer (com Marx, por
exemplo) que o valor mercantil da obra de arte não tem relação com seu
custo de produção: verdadeiro, se se leva em conta apenas a fabricação do
objeto material, pelo qual o artista (ou pelo menos o pintor) é o único
responsável; falso, se se entende a produção da obra de arte como objeto
sagrado e consagrado, produto de uma imensa empresa de alquimia
simbólica na qual colabora, com a mesma convicção e lucros muitos
desiguais, o conjunto dos agentes lançados no campo de produção, isto é,
os artistas e os escritores obscuros assim como os “mestres” consagrados,
os críticos e os editores tanto quanto os autores, os clientes entusiastas não
menos que os vendedores convictos. (BOURDIEU, 1996, p. 196)
Schwarz inicia seu texto constatando o fato de que, como brasileiros e latino-
americanos, somos historicamente vítimas de um “mal-estar”, decorrente do “caráter
postiço, inautêntico, imitado da vida que levamos” (SCHWARZ, 2012, p. 29).
A ideia central do texto é analisar por que isso acontece, por que nosso
pensamento cultural é tão devedor de culturas exógenas e tão tendente a não ter
continuidade ante os problemas que coloca.
Maria de Jesus sofreu por parte de intelectuais como Wilson Martins e Marilene
Felinto.
(…) o poeta do lixo “infiltra” na literatura. Carolina arromba uma porta, ela
não é a convidada. A infiltração corrói as paredes dos sistemas, tanto do
social quanto do literário, pela figura da escritora vira-lata. A voz lírica do
poema é a da escritora favelada, cujo nome circulou a nação. A alusão aqui
é ao número de exemplares vendidos e à circulação de seu nome e de si
mesma, como uma mercadoria na vida cultural brasileira. As obras que a
escritora favelada “produz” deixam a humanidade “abismada” porque
representam na confluência de “escritora” e “favelada” um conflito. (SOUSA,
2012, p. 102)
Não pertencendo nem à esfera erudita nem à “popular”, mas produzindo uma
literatura vista de baixo, em que elementos orais convivem com descrições do tipo
romântico de Casimiro de Abreu e tentativas às vezes ridículas de mimetizar a alta
literatura, Carolina estabelece, dessa forma, um fato novo na literatura brasileira –
uma obra que não podia ser julgada pelas categorias de valor comumente utilizadas
por nossa crítica, como o forte diálogo com a tradição por um lado, ou pelo contexto
específico que legitima as obras da “literatura popular” tradicional, como o cordel,
por exemplo6. Como nunca, fica claro o quanto a exclusão social tem consequências
na avaliação de um autor, pois, nas palavras de Germana Sousa: “A linguagem
fraturada de Carolina deve ser entendida pelo que de fato é: a tentativa de uma
pessoa das camadas subalternas de dominar os códigos da cidade letrada”
(SOUSA, 2012, p. 21).
Não obstante isso, podemos afirmar com bastante convicção que Quarto de
despejo é um exemplo extremamente instigante do que chamamos de literatura
vista de baixo, a literatura produzida por alguém oriundo das camadas subalternas
enquanto sujeito e não enquanto objeto de sua própria representação literária, com
as devidas consequências temáticas e formais que tal gesto encerra em termos
literários.
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