Velhas Plantas, Novos Usos: A Botânica Econômica Nos Assentamentos de Agricultura Orgânica e Familiar
Velhas Plantas, Novos Usos: A Botânica Econômica Nos Assentamentos de Agricultura Orgânica e Familiar
Velhas Plantas, Novos Usos: A Botânica Econômica Nos Assentamentos de Agricultura Orgânica e Familiar
Em 1984, um pequeno grupo de agricultores reuniu-se na cidade de Nova Friburgo para implantar uma
das primeiras feiras de alimentos orgânicos do Brasil. No ano seguinte, esse mesmo grupo fundou a ABIO
- Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro, com o objetivo de contribuir para a
expansão do movimento orgânico, então incipiente no país.
Os anos seguintes foram de muita luta. Além de aprender a produzir organicamente, os agricultores precisaram
criar canais de comercialização próprios, fazendo o alimento orgânico chegar diretamente ao consumidor.
Foi necessário, também, criar um conceito de agricultura orgânica, sistematizando as normas técnicas de
produção, o que foi feito, à época, pela ABIO, com base nos parâmetros da IFOAM – Federação Internacional
dos Movimentos de Agricultura Orgânica. Foram implantados mecanismos de controle, para garantir aos
consumidores que os produtos dos Associados cumpriam as normas estabelecidas de comum acordo. Os
produtores, alguns deles pesquisadores, professores e técnicos, se visitavam uns aos outros, e se avalizavam
mutuamente: era a certificação participativa.
A partir de meados da década de noventa do século passado, a ABIO participou direta e ativamente do
processo de regulamentação da agricultura orgânica no Brasil, lutando pelo reconhecimento de mecanismos
de controle da qualidade orgânica alternativos à certificação por auditoria. Esse processo culminou com a
promulgação da Lei nº 10.831, em 2003, seguida do Decreto nº 6.323, em 2007, e das Instruções Normativas,
a partir de 2008, que regulamentam os Sistemas Participativos de Garantia e o Controle Social para a Venda
Direta.
Em 2007, a Assembleia Geral da ABIO optou por criar o seu Sistema Participativo de Garantia e constituir
um OPAC – Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade Orgânica, que foi credenciado Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em dezembro de 2010. Hoje vinte e quatro Grupos fazem parte do
SPG-ABIO, reunindo trezentos e trinta Associados.
Também em 2010, no mês de maio, foi inaugurado o Circuito Carioca de Feiras Orgânicas.
Desde meados dos anos noventa do século XX, as opções de escoamento dos produtos orgânicos se
restringiam às grandes cadeias de supermercados, além de uma única feira orgânica, a Feira Cultural e
Ecológica da Glória, criada pela ABIO e pela COONATURA em 1995. As dificuldades de comercialização
mantinham a agricultura orgânica no estado do Rio estagnada, e muitos agricultores desistiam dela. Diante
desse quadro, e partindo do princípio de que o acesso aos alimentos de qualidade é um direito de todos, a
ABIO estabeleceu como uma de suas prioridades criar meios para aproximar produtores e consumidores,
particularmente nas feiras orgânicas e nos mercados institucionais, como nas origens da Associação,
incorporando nessa relação os princípios da economia solidária e do comércio justo.
Atualmente, o Circuito Carioca de Feiras Orgânicas, regulamentado por decreto municipal, reúne quatorze
feiras, oito delas coordenadas pela ABIO, sendo uma delas a primeira feira orgânica no subúrbio carioca. A
ABIO é também responsável por uma feira no bairro de Icaraí, em Niterói. Essas feiras envolvem cento e
noventa agricultores e produtores associados à ABIO, individualmente ou em Grupos de Comercialização.
A ABIO participa de diversos fóruns, nos quais dá continuidade à luta que motivou a sua criação, em prol da
agricultura familiar, da pequena produção e da disseminação da agroecologia e da agricultura orgânica: a
Comissão da Produção Orgânica do Estado do Rio de Janeiro, a Articulação de Agroecologia do Estado do
Rio de Janeiro, a Campanha Permanente de Combate aos Agrotóxicos e pela Vida e o Fórum Permanente de
Combate aos Impactos dos Agrotóxicos.
Há muitos desafios pela frente, desde o fortalecimento da democracia e da transparência internas de uma
Associação de agricultores que cresce e se torna cada vez mais complexa, até a sustentação de relações
com os mercados moldadas pelos princípios da economia solidária e do comércio justo. Para enfrentá-los,
a ABIO, movida pela perspectiva de que a agricultura orgânica de base agroecológica deve se tornar a
alternativa predominante no campo e nas cidades, e representar melhoria de qualidade de vida - em todos os
aspectos – para agricultores, produtores e consumidores, vem, a cada dia, se fortalecendo e fortalecendo as
parcerias que a acompanharam nesses 30 anos.
O fotoperíodo é a exigência em numero de horas de luz ou escuro, durante um dia que algumas espécies de - Escolha das cultivares – sempre utilizar cultivares de primavera - verão como, Brasília, Alvorada, Carandai,
plantas necessitam. Toma-se como exemplo a beterraba que para a produção de sementes exige temperaturas Brazlândia, Planalto e outras que estejam a disposição no mercado não sendo cultivares hibridas ou de
muito baixas e dias longos, condições estas que não existem naturalmente no Brasil, e por isso poucas inverno.
cultivares florescem naturalmente por aqui, e somente no Rio grande do Sul e em alguns locais de altitude
- Época de plantio para a produção de raízes – o plantio deve ocorrer em dezembro com a colheita das
em Santa Catarina. Outro exemplo são algumas cultivares de alface que somente florescem com a junção da
raízes entre 90 a 100 dias após o plantio.
temperatura amena com o aumento gradual de horas de luz por dia.
- Seleção de raízes - em março-abril deve-se colher e selecionar a partir de 100 raízes levando-se em
A umidade para a questão da produção de sementes é importante, pois ela é necessária na germinação da
conta o comprimento e formato, a tonalidade da coloração da cultivar, a não presença de ombro verde e
semente, no estabelecimento inicial das plantas, no florescimento e polinização, mas, na fase final que é a
ombro roxo, a resistência a ataques de doenças e insetos nocivos. Cortam-se as folhas na altura de cinco
fase de colheita e beneficiamento o clima deve ser seco, e assim, as sementes apresentarão uma melhor
(5) cm a partir do colo da planta antes de levar as raízes para a vernalização.
qualidade fisiológica, com menos doenças.
- Vernalização das raízes – após a seleção das raízes, as mesmas são colocadas em sacos plásticos
O vento também pode prejudicar a produção de sementes, pois diminuí a intensidade de insetos polinizadores,
abertos em numero de 10 raízes por saco e coloca-se na geladeira ou câmara fria em torno de 45 dias.
principalmente as abelhas (Apis mellifera). Também ajuda a estressar as plantas causando doenças e quando
Deve-se sempre colocar um pouco a mais de raízes para vernalizar e aquelas que brotarem muito cedo
em demasia retiram água do solo pela transpiração excessiva das plantas. O uso de quebra ventos atenua
devem ser eliminadas.
os fatores negativos citados.
- Plantio das raízes no campo – posteriormente ao tempo de vernalização, nos meses de maio-junho as
O período ideal para a produção de sementes de hortaliças na região Sudeste é considerado de março a
raízes são retiradas da geladeira na tarde anterior ao dia de plantio e novamente deve-se realizar uma
novembro, com plantios ocorrendo entre março e maio e colheita em outubro e novembro dependendo da
seleção eliminando-se raízes murchas, ou com sintomas de doenças.
espécie cultivada para tal fim. Pode-se sem duvida nenhuma produzir sementes de alface, coentro, salsa,
brócolis, couve-flor, repolho de verão, rabanete, rúcula, ervilha e feijão vagem na região. A cenoura e a cebola - Colheita das sementes – entre outubro e novembro ocorrera à colheita das inflorescências maduras das
são casos a parte e necessitam passar por um método chamado de vernalização, que será explicado a parte. plantas. A colheita é realizada parcelada, pois as plantas apresentam maturação desuniforme.
Ainda em relação à produção de sementes de cenoura somente podem-se produzir sementes de verão, pois
as cultivares de inverno necessitam de mais horas de frio que as existentes naturalmente no Brasil.
B-Vernalização da cebola
2.1. Vernalização A cebola no Brasil se comporta como uma planta bianual para a produção de sementes. No primeiro ano
ira produzir bulbos (cabeças), influenciada principalmente pelo fotoperíodo de dias longos. No segundo ano
Já foi mencionado que, algumas plantas são altamente exigentes em temperaturas baixas para a produção ocorrera o plantio dos bulbos no campo para a produção de sementes. ATENÇÃO, para a região Sudeste,
de sementes, entre elas destacam-se a cebola e a cenoura (figura 1). Na região Sudeste, fora as regiões somente devem ser cultivadas cultivares de ciclo médio e curto.
de altitude elevada, o numero de horas de frio não atendem as exigências requeridas para essas duas
espécies e é preciso lançar mão de um método mecânico denominado de vernalização, que nada mais é que As cultivares do tipo baia tem apresentado uma boa produção de sementes nos testes realizados. A produção
a artificialização do frio. É um método que usa ou câmara fria, ou uma geladeira. é realizada da seguinte forma:
- Seleção dos bulbos mães - após a colheita dos bulbos no ano anterior (novembro-dezembro), selecionam-
se a partir de 100 bulbos observando que o peso dos mesmos tenha em torno de 70 a 80 g e com o
diâmetro de 5 a 6 cm. Deve-se observar o formato padrão da cultivar, a coloração da casca, a coloração
interna dos bulbos e resistência a ataque de doenças e insetos nocivos.
- Quebra de dormência dos bulbos - após a colheita os bulbos devem ficar em um local sombreado e
ventilado, dispostos em estrados, por mais de 30 dias, para que ocorra a quebra da dormência dos bulbos.
Os bulbos podem ficar cerca de 4 meses armazenados antes da vernalização, retirando-se do local bulbos
que brotarem precocemente e apodrecerem.
- Vernalização dos bulbos – Nos meses de março a abril os bulbos selecionados irão para uma geladeira
ou câmara fria de 45 a 60 dias.
- Plantio dos bulbos no campo - posteriormente ao tempo de vernalização em maio-junho os bulbos são
retiradas da geladeira na tarde anterior ao dia de plantio e novamente deve-se realizar uma nova seleção.
- Colheita das sementes – Em outubro- novembro ocorrera à colheita das inflorescências maduras das
plantas. A colheita é realizada parcelada, pois as plantas apresentam maturação desuniforme.
Figura 1. Produção de sementes de cenoura.
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Tabela 1. Épocas ideias para plantio e espaçamento indicados para a produção de sementes de hortaliças A- Plantas autógamas
na região sudeste.
As plantas autógamas se caracterizam por apresentarem a parte masculina e a parte feminina na mesma flor,
Espécie Época de plantio Época de colheita das Espaçamento de plantio ocorrendo o que se chama de autofecundação. Esse tipo de planta apresenta uma taxa de fecundação cruzada
sementes Entre linhas e plantas (cruzamentos) muito baixa chegando ao máximo de 5%. Os descendentes ocasionados pelo acasalamento
Alface Abril-maio Outubro-novembro 1,0m X 0,20m são muito parecidos ou idênticos aos pais. Para manter a população pura nesta classe de plantas é mais
Fevereiro-março Outubro-novembro 0,8m X 0,60m fácil, pois não são necessárias longas distancias de isolamento entre cultivares, ou muitos dias entre um
Brócolis *
Fevereiro-março Outubro-novembro 0,8m X 0,60m
florescimento e uma cultivar e outra.
Couve-flor*
Repolho de verão* Março-abril Novembro 1,0m X 0,60m B- Plantas alógamas
Rúcula Junho-julho Outubro-novembro 0,8m X 0,20m
Julho-agosto Outubro-novembro 0,8m X 0,20m Nas plantas alógamas ocorre o inverso, e as espécies desta categoria apresentam taxa de fecundação
Rabanete
cruzada acima de 95%. A polinização é realizada pelos insetos, principalmente abelhas, sendo a principal
Ervilha grão Março a maio Outubro-novembro 0,60m X 0,20m
a Apis mellifera, ou pelo vento. Isso significa que os cuidados com a manutenção da pureza das cultivares
Ervilha torta Março a maio Outubro-novembro 1,20m X 0,20m
tem que ser maior. As cultivares e em alguns casos as espécies exigem isolamentos maiores em distancia, ou
Feijão vagem Fevereiro-março Julho-agosto 0,60m X 0,20m pelo menos 30 dias de intervalo entre o plantio de uma cultivar e outra, ou, até mesmo de espécies passíveis
determinado (rasteiro) de cruzamentos como ocorre na família Cucurbitáceae, principalmente do gênero Cucúrbita (abóboras e
Feijão vagem Fevereiro-março Julho-agosto 1,20m X 0,20m morangas), ou nas Brássicas oleraceas (repolho, couve-flor, brócolis, couve de folhas, couve rábano) que
indeterminado (trepador) apresentam cruzamentos não somente entre cultivares como nas espécies citadas
Salsa Março a maio Setembro-outubro 1,0m X 0,20m
Coentro Março a maio Agosto-setembro 0,80m X 0,20m C- Plantas autógamas com frequente alogamia
Cebola ** Março a maio Outubro-novembro 1,20m X 0,20m
As espécies encontradas nesta categoria de planta, são intermediarias entre as outras duas classes e
Cenoura** Março a maio Outubro-novembro 1,20m X 0,20m
possuem taxas de cruzamentos acima de 5 até 95%.
Abóboras e morangas Fevereiro a março Julho-agosto 3 a 4m X 3 a 4m
c. Seleção negativa de plantas - muitas vezes o agricultor que produz para o comercio acaba vendendo as É importante salientar novamente, que a família das Brassicas oleraceas, a qual é representada pelo repolho,
melhores plantas e retirando sementes das piores plantas que ficam por fim nos canteiros. couve-flor, couve de folhas, couve rábano, brócolis cruzam entre si em todas as direções. Outra família de
difícil controle é a família das Cucurbitáceas, principalmente com relação a abóboras, morangas, mogangos,
d. Espaçamento de cultivo - na maioria das espécies de hortaliças para a produção de sementes o os quais também cruzam entre si.
espaçamento usado é maior que o espaçamento usado nos cultivos para comercialização.
Na família das Brássicas apenas os representantes das Brassicas oleraceas cruzam entre si, não ocorrendo
cruzamentos com rúcula, rabanete, mostarda e couve chinesa, que são espécies diferentes, e que cruzam
somente entre cultivares da mesma espécie. Exemplo: cultivares de rúcula cruzam com outras cultivares de
4. Florescimento rúcula , mas não cruzam com cultivares de repolho . Cultivares de repolho cruzam com cultivares de couve-
flor, cultivares de brócolis, e nas outras citadas e vice versa ocorre da mesma maneira.
Para que uma planta produza sementes é necessário que antes ocorra o florescimento e neste ponto pode
estar à chave para o sucesso, ou para o fracasso na produção de sementes. As plantas se reproduzem Na família das cucurbitáceas em relação a cruzamentos espontâneos, estes ocorrem principalmente entre
e assexuadamente e sexuadamente. Na produção assexuada não ocorre o acasalamento entre partes cultivares de aboboras (Cucurbita moschata) com cultivares de morangas (Cucúrbita máxima) e com cultivares
masculinas e femininas e o meio de reprodução das hortaliças é através de mudas, rizomas, tubérculos e de abóbora tipo Itália e mogango (Cucurbita pepo). Cultivares de aboboras, morangas, abóboras tipo Itália
outras partes. As principais hortaliças que se reproduzem desta forma são a batata doce, a batata, o inhame, e mogangos, não cruzam com cultivares de melancia, de melão, de pepino e de maxixe. Mas, cultivares de
o chuchu, assim como alguns condimentos como o alho, o açafrão entre outras espécies. melancia cruzam entre si, assim como cultivares de melão cruzam somente entre si. E isso vale para as
cultivares de pepino e de maxixe.
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30 0
Alface
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9. Secagem
Figura 3. Ponto de maturação fisiológica pepino.
As inflorescências e as sementes devem ser secas ao sol evitando-se as horas mais quentes (12:00 até 14:00
horas). Devem-se colocar as sementes em finas camadas e fazer constantes revolvimentos das mesmas. O
tempo de secagem dependendo do clima e da espécie podendo levar de 5 a 14 dias. No tomate, na pimenta,
no pimentão e na berinjela, o ideal é que as sementes sejam secas à sombra e ao vento inicialmente e depois
uma secagem rápida ao sol (em torno de três a quatro horas). As espécies de frutos úmidos devem ser secas
em panos permeáveis e as sementes de frutos secos devem ser secas em lonas. As lonas de coloração preta
não devem ser usadas pois queimam as sementes com o calor excessivo.
11. Armazenagem
Após a secagem e limpeza, as sementes devem ser armazenadas em frascos, de preferência de vidro, quando
as sementes forem sementes miúdas e sementes médias. No caso de sementes maiores e que são utilizadas
Figura 4. Fermentação semente tomate. em maior quantidade em uma unidade de área, podem ser armazenadas em garrafas “pet”. Se possível os
frascos devem ser colocados em geladeira (figura 6) ou câmara fria. Se as sementes de hortaliças estiverem
de 4,5 a 7% dependendo da espécie, as mesmas guardam seu poder de germinação por um bom período
B- Sementes de frutos secos
de tempo se forem armazenadas com o somatório de 55,5, que nada mais a soma da temperatura com a
Nesta categoria de plantas se torna difícil identificar o ponto de maturação fisiológica das sementes, pois umidade relativa do ar. Exemplo: se a temperatura estiver com 30°C no local da armazenagem, a umidade
as plantas das espécies relacionadas apresentam florescimentos descontínuos e em uma única planta o relativa do ar deve ser 25,5%. À medida que um fator sobe o outro deve cair, lembrando que quanto mais
florescimento pode levar em torno de 30 a 40 dias. Então o ideal é observar um meio termo para colheita. Na próximo de 4°C estiver a temperatura, maior será a conservação. Deve-se evitar o acumulo de oxigênio junto
alface o ideal é que as inflorescências apresentem 40% das flores com uma penugem branca. No repolho, à semente então se pode adicionar nas embalagens cinza de fogão de lenha, calcário ou talco. Coloca-se
brócolis, rúcula, rabanete, couve-flor, deve-se pegar uma amostras das síliquas (vagens) abrir e observar se uma camada de sementes e outra dos produtos citados, e assim sucessivamente até chegar à parte de cima
as sementes se encontram marrons e não se partam em duas ao serem apertadas entre os dedos. Já na das embalagens. Com o tempo os ingredientes descem e ocupam os espaços entre as sementes. Pode-se
cebola, deve-se colher as umbelas (inflorescências) quando as mesmas apresentarem 10% das sementes colocar ainda sílica gel na parte de baixo das embalagens com uma camada de algodão entre as sementes
pretas visíveis, e na cenoura as umbelas (inflorescências) apresentarem-se com a coloração marrom claro e a sílica gel.
(figura 5).
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1. Introdução
Figura 6. Sementes armazenadas em geladeira. A agricultura comercial recuperou recentemente parte de seu prestígio, com o crescimento das culturas
orgânicas (incluindo todos os sistemas produtivos que não utilizem produtos sintéticos ou artificiais, como os
sistemas agro-florestais) e o fortalecimento da agricultura familiar (Lago-Paiva, neste volume).
12. Considerações finais Ao invés de comprometer a totalidade da área de sua propriedade com eucalipto, milho, soja ou girassol, agora
o agricultor podia diversificar as culturas, plantando alimentos para sua família, plantas fibrosas, árvores para
A produção de sementes na unidade de agricultura de base agroecológica é de extrema importância, madeira e diversas culturas comerciais e para trocas (id.).
pois permite aos agricultores soberania no seu meio de produção, não ficando os mesmos a mercê das
multinacionais do ramo sementeiro que formam um oligopólio muito grande, onde 60% da produção é A diversificação de culturas abriu novas possibilidades para o pequeno agricultor, o agricultor familiar e
dominada por apenas quatro empresas. orgânico, ecologicamente responsável, permitindo aproveitamento mais adequado de sua terra, e produzindo
sem eliminar a vegetação nativa.
Além desse fator, quando a produção é realizada com parâmetros agroecológicos, as sementes se adaptam
ao manejo utilizado nas unidades de produção, assim como ao clima local, e tendem a apresentar mais Novas fontes de renda surgiram, como a venda direta para o comprador, em mercados próximos e à beira
resistência a fatores bióticos como estiagens, resistência a ataques de insetos nocivos e doenças e por fim das rodovias, por encomenda e por escoamento através de associações de produtores, que recebem a
uma produtividade melhor. matéria-prima, a transformam e a escoam.
Produtos absolutamente frescos e, sem venenos (produtos agrotóxicos) e diversificados garantem aos
produtores e suas famílias alimentos promotores da saúde, inclusive pelo consumo de alimentos funcionais
(anticancerígenos, antioxidantes, vitamínicos, promotores da imunidade e fibrosos) ou nutracêntricos,
crescentemente pesquisados (Oliveira e outros, 2002; Moraes & Colla, 2006).
Alimentos colhidos maduros ou praticamente maduros, macios e plenos de sabor e de doçura, prontos para
serem consumidos, nada tem a ver com as frutas sofríveis fornecidas pela agricultura tradicional, que são
colhidas ainda verdes e amadurecem artificialmente, submetidas a gases suspeitos, que promovem sua
maturação forçada, mas não sabor, textura ou prazer no consumo.
Esses mesmos produtos, nutritivos e saborosos, isentos de produtos perigosos, são muito procurados por
consumidores esclarecidos e cada vez mais exigentes, o que garante mercado que tende a aumentar e se
tornar estável.
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Engenheiro Agrônomo (ESALQ/ USP, 1990). Especialista em Botânica Econômica (com ênfase em palmeiras – Arecáceas, cactos –
Cactáceas e bromélias – Bromeliáceas). Coordenador de Conservação do Instituto Pró-Endêmicas, instituição do terceiro setor ligada à
conservação da natureza na América Latina, fundada em 2005. Servidor do Ministério do Meio Ambiente, lotado desde julho de 2003 no
Parque Nacional da Serra do Cipó, em Minas Gerais. [email protected].
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A. Plantas amiláceas
E. Plantas frutíferas
“Mandioqueira” (Manihot esculenta, Euforbiáceas), subutilizada no Brasil, quando poderia, com o milho,
“Bananeira-da-terra” ou “bananeira-pacová” (cultivares de Musa) e “bananeiras” (cultivares de Musa,
sobrepujar o trigo em grande parte do Brasil, além de fornecer produtos comerciais importantes;
Musáceas);
“bananeira-da-terra” ou “bananeira-pacová” e “bananeiras” (cultivares de Musa, Musáceas), que, colhida
“açaí” (Euterpe oleracea, Palmáceas);
imatura, é excelente fonte de alimento energético e saboroso;
“juçara” ou “palmiteiro” (Euterpe edulis Mart., Palmáceas); existe demanda para o aproveitamento da polpa de
“fruta-pão” (Artocarpus altilis, Moráceas), fruto amiláceo valioso em climas quentes (litoral, Centro-Oeste e
seus frutos, análoga à do “açaizeiro” (Euterpe oleracea Mart.); a polpa, extraída em máquina ou em peneiras,
Amazônia);
pode ser aproveitada na alimentação diária do agricultor e ser industrializada (pelo menos congelada, por
“batata-doce” (Ipomoea batatas, Convolvuláceas); motivos sanitários) já embalada pela associação, na forma de polpa, sorvetes simples ou mistos, bebidas
refrigerantes e energéticas, etc., todos de alto valor comercial e mercado cativo. As sementes, ainda férteis
“pupunha” (Bactris gasipaes, Palmáceas) outro fruto amiláceo promissor. após o processamento, retornam para a propriedade, podendo ser lançadas nas matas, para formação de
mais palmeiras. Com manejo correto e muitas palmeiras na propriedade, pode-se aproveitar a polpa e o
B. Plantas oleaginosas palmito, com proveito para o agricultor, tanto financeiro, quanto sanitário e alimentar;
“Macaúba” [Acrocomia sp. (antes, Acrocomia sclerocarpa, nome inválido) e Acrocomia viegasii, Palmáceas], As lagartas e outros insetos-praga podem ser parcialmente controladas por animais nativos protegidos pelo
“bocaiúva” (Acrocomia totai) e outras espécies de Acrocomia (Palmáceas) são fontes extremamente agricultor (Lago-Paiva, neste volume), não chegando a atingir populações que sejam significativas na redução
promissoras de óleo alimentar de grande aceitação e de gorduras industriais de ampla aplicação. da produção.
O babaçu (Orbignya speciosa, da mesma família), de vasta distribuição no Brasil, cujo potencial oleífero ainda As espécies sugeridas podem ser substituídas, em cada região, por espécies que se destaquem por suas
permanece quase totalmente potencial, poderia ser altamente compensador para pequenos agricultores e qualidades agrícolas, nutricionais ou organolépticas (sabor e prazer na ingestão). Os agricultores diligentes
suas famílias, se submetido a cultivo racional, que inclui condução em áreas naturais (com plano de manejo) poderão selecionar as espécies, divulgando-as entre seus vizinhos ou por meio de associações de agricultores,
e plantio em bases racionais, com beneficiamento em agroindústria coletiva (de associação). Existem muitas que deverão providenciar cursos sobre o plantio e a utilização desses itens alimentares e comerciais.
outras espécies promissoras de plantas oleaginosas que poderiam ser exploradas no Brasil, tanto para fins
domésticos, quanto comerciais.
9. Crudivoria: vertente alimentar promissora
A Crudivoria é o consumo preferencial de produtos crus, frescos ou desidratados, não cozidos, assados, fritos
C. Plantas condimentares, conservantes e medicinais ou fervidos. Alimentos são submetidos a tratamento térmico para se tornarem mais digeríveis e perderem
“Limoeiro-capeta” ou “limoeiro-cravo” (Citrus x limonia, Rutáceas); substâncias tóxicas e anti-nutritivas. No entanto, muitos alimentos assim tratados perdem parte de suas
propriedades nutricionais e medicinais e de seu sabor e sua textura na mastigação.
“açafrão” ou “açafrão-da-terra” (Curcuma longa, Zingiberáceas);
Muitas vezes o consumo de alimentos assados, fritos, ferventados ou cozidos está ligado a costumes ou
“gengibre” (Zingiber officinale, Zingiberáceas). tradições sem fundamentação racional, como a fritura de verduras, comum em Minas Gerais, quando, em São
Paulo, o mais comum é o consumo de saladas cruas. Muitas vezes o aproveitamento de itens alimentares
cozidos é tradicional, havendo tabu irracional contra sua utilização em estado cru; é o caso de jiló, quiabo,
D. Fontes de proteínas
beterraba, abóboras, repolho, couve.
“Macaúba” (Acrocomia utilissima, Palmáceas);
Proteínas e gorduras saudáveis podem ser parcialmente providas por polpas oleíferas, como as do “palmiteiro”
“bocaiúva” (Acrocomia totai, Palmáceas); e do “palmiteiro”, sementes como as de “caju”, “guariroba”, “babaçu”, “macaúba”, “bocaiúva” e outras.
“guariroba” ou “gueiroba” (Syagrus oleracea, Palmáceas); A desidratação solar de itens alimentares pode reduzir níveis de substâncias anti-nutricionais, tóxicas,
cancerígenas, irritantes abortivas ou alergênicas, ou eliminá-las completamente, mas essa transformação
“cajueiro” (Anacardium occidentale, Anacardiáceas), cujas sementes são aditivo alimentar importante, com deve ser conhecida para cada espécie de alimento. A desidratação ainda reduz o volume dos alimentos,
propriedades funcionais marcantes, além de poder garantir renda apreciável; facilitando sua conservação e armazenamento, podendo ser abreviada pela utilização de cloreto de sódio (sal
de cozinha) ou de açúcar (rapadura).
“ora-pro-nobis” (Pereskia aculeata) e “quiabentos” (Pereskia grandifolia, Pereskia bahiensis, Pereskia
violacea, Pereskia sacharosa, Pereskia bleo, Cactáceas), extremamente produtivos, fornecendo folhas ricas Vantagem significativa da crudivoria é a redução acentuada do consumo de combustíveis, como lenha e gás
em proteínas; de cozinha, para o preparo da alimentação.
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11. Conclusão Veronezi, Carolina Médici; Jorge, Neuza, 2012. Aproveitamento de sementes de abóboras (Cucurbita sp), como fonte
alimentar. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais 14(1):113-124, Campina Grande.
A diversificação de culturas, que pode ser local (em cada propriedade) ou regional, age em favor do agricultor
Viégas, A. P., 1967. Agricultura e botânica no vocabulário na língua brasílica. Campinas, Instituto Agronômico do Estado
e de seus dependentes e colaboradores, por reduzir sua vulnerabilidade e garantir possibilidades comerciais de S. Paulo, 60 p. (Boletim 179).
e econômicas igualmente diversificadas, graças à venda direta e aos canais sociais de escoamento da
produção (organizações coletivas, como associações de produtores e cooperativas). Warming, E., 1908. Terreno cultivado. (Roças e Hortas). Plantas de cultivo. Formações vegetativas secundarias. Hervas
damninhas (“Matto”). P. 153-168 in: Lagoa Santa: contribuição para a Geographia Phytobiologica. Belo Horizonte: Imprensa
Regiões nas quais predomine o agricultor com propriedades pequenas e médias, estáveis e economicamente Official do Estado de Minas Geraes. 284 p. 2. ed. Tradução de Alberto Löfgren.
rentáveis, nas quais exista assistência técnica e logística fornecida por organizações coletivas, não sofrem os Wolters Kluwer Health, 2009. Tung Seed. http://www.drugs.com/npp/tung-seed.html. Acessado 12 jan. 2014.
efeitos da concentração do capital, das terras e da renda.
Em regiões assim desenvolvidas o homem não vê razões para o êxodo rural, especialmente se estiverem 13. Agradecimentos
disponíveis entidades educacionais, de saúde, culturais e outros serviços básicos.
O autor agradece as pessoas que contribuíram direta ou indiretamente para este trabalho: Aristides Arthur
A agricultura praticada pelo agricultor familiar e orgânico tem grandes chances de se tornar modelo para Soffiati, Dr. (Campos dos Goytacazes RJ), Luís Henrique Santos Teixeira, Eng. Agrônomo (Teresópolis e
todo o país, podendo mesmo, se devidamente organizada, tornar-se a fonte de quase a totalidade dos Guapimirim RJ), a quem dedico este capítulo; Clóvis Ferraz de Oliveira Santos, Eng. Agrônomo (Piracicaba
alimentos necessários ao país, reduzindo a necessidade de importações e descaracterizando a agricultura de SP), Carlos Jorge Rossetto, Dr., Eng. Agrônomo (Votuporanga SP), Cristina Lúcia da Silva (Instituto Pró-
exportação como paradigma de desenvolvimento (o que, aliás, o grande agronegócio nunca foi, exceto para Endêmicas, Curvelo MG).
alguns privilegiados).
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14. Agradecimentos
O autor agradece as pessoas que contribuíram direta ou indiretamente para este trabalho: Luís Henrique
Santos Teixeira, Eng. Agrônomo (Teresópolis RJ); Carlos Jorge Rossetto, Dr., Eng. Agrônomo (Votuporanga
SP), Cory Teixeira de Carvalho, Dr. (Águas de Santa Bárbara SP).
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