John Paynter e A Música
John Paynter e A Música
John Paynter e A Música
Comunicação
Victor Brum Esteves Pires
Universidade Federal do Rio de Janeiro
[email protected]
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo buscar possibilidades para ensinar arte de
forma integrada, reunindo diversas formas artísticas, tais como música, dança, teatro e artes
visuais, em sala de aula. Para isso, mostra os princípios educacionais seguidos pelo educador
musical John Paynter, sendo um dos pontos de sua linha de pensamento a defesa dessa
integração. No decorrer do trabalho, são apresentados três livros escritos por Paynter na
década de 70, explicitando a forma de estruturação majoritária destes: os Projetos. Utilizando
estes Projetos, ele propõe a integração de diversas formas artísticas e seu uso na educação
escolar. Essa integração é por ele denominada Música-Teatro.
Palavras chave: Paynter. Música-Teatro. Ensino de arte.
Introdução
O grande dilema pelo qual passa todo músico-professor em sala de aula: como
transportar a música para perto?; como transpor a distância que se coloca, atualmente, entre
os executantes da música -aqueles que aparecem na televisão e tocam na rádio, no senso
comum- e os meros ouvintes?; enfim, como ensinar música?. Frente a esse dilema, nós,
músicos-professores, não sabemos como agir.
A partir desse dilema, existem algumas saídas. Uma delas é recordar-se de como
aprendeu e fazer da mesma forma. Outra é procurar soluções de outras pessoas e reproduzi-las
como um método, acriticamente. Uma terceira é procurar soluções de outras pessoas e
apropriar-se delas, aprender a conhecer o seu sentido, pois é o que "constitui a base de
sustentação e o fundamento de possibilidade para qualquer outro aprender" (LEAO, 1977, p.
47), para enfim transcriá-las. Este é, talvez, o movimento mais consciente e sincero dentre os
três: não é uma busca por um método de ensinar música. Acima disso, é uma construção a
partir dos princípios, da filosofia de ensino de cada educador.
Ao buscarmos referências de educadores musicais, deparamo-nos, quase sempre, com
alguns conhecidos nomes, tais como Dalcroze, Orff, Schafer, entre outros. Podemos esbarrar
O trecho citado indica a educação musical como um caminho possível para a ’inserção
da arte na vida do ser humano’. A autora não fala em um caminho para a ’inserção de música’,
e sim de arte. Ela mostra-nos que a aula de música pode não abordar somente a música,
reunindo diversas formas artísticas. A presente pesquisa busca possibilidades para o ensino a
partir desta integração da música com as demais artes.
John Paynter
A autora Fonterrada faz uma classificação temporal dos educadores musicais citados
no segundo capítulo seu livro "De Tramas e Fios" (FONTERRADA, 2008): Educadores da Primeira
e da Segunda Geração.
Dentre os Educadores da Segunda Geração, um apresenta uma abordagem de
aproximação da música alinhada com essa pesquisa: uma proposta de integração entre Música,
Drama e Dança feita no livro The Dance and the Drum. John Paynter (1931-2010), compositor e
educador musical britânico, atuou como professor na Universidade de York, como professor em
escolas e como diretor do projeto Music in the Secondary School Curriculum entre 1973 e 1982.
A maior parte de seus livros foi escrita entre as décadas de 70 e 90. A fim de encontrar os
princípios para a Educação Musical defendidos por Paynter, três livros foram selecionados para
apresentação no presente texto: "Sound and Silence" (1970), "Hear and Now - an introduction
to modern music in schools" (1972) e "The Dance and the Drum - integrated projects in music,
dance and drama for schools" (1974). Acredita-se que estes três, embora não abarquem a
totalidade de sua obra, consigam balizar a visão de Paynter, que apresenta-se como uma
possibilidade dentro da integração desejada.
Essa seção está baseada em (PAYNTER; ASTON, 1970), sendo as páginas de referência
indicadas quando houver necessidade. As traduções foram feitas a partir do texto original.
Este livro de 1970, escrito em coautoria com Peter Aston, foi a primeira publicação de
John Paynter. Na introdução (p. 2-8), intitulada Music in a liberal education, os autores
propõem duas questões que revelam sua busca: Por que ensinamos música? e Como
adequamos o ensino de música ao padrão de educação atual?. Apesar de o termo ’atual’
referir-se à Inglaterra da década de 60, pode-se buscar extrair os princípios propostos por estes
autores para adaptá-los ao presente.
Um ponto pertinente que nos é apresentado na introdução é o fato de a educação
escolar ser para todos os alunos, não somente para os mais musicais. A música, enquanto
disciplina escolar, deve contribuir para a ’educação total’ dos alunos. Essa contribuição, por ser
a música uma comunicação de ideias e emoções para os autores, é dada ao colocar-se como
papel desta a possibilidade de projeção dos sentimentos do indivíduo. Para potencializar essa
comunicação, os autores utilizam a exploração criativa das matérias-primas da música, sons e
silêncio, para conhecimento dos recursos disponíveis. Afinal, como em todo meio de
comunicação, conhecer seus recursos abre novos caminhos para o ’comunicar’. Essa
experimentação criativa (composição empírica) possibilita, além do conhecimento musical
associado à exploração de novos sons, um desenvolvimento crítico por parte dos alunos, já que
estes irão buscar os sons que melhor expressem aquilo que querem comunicar. Essa exploração
é a principal base para o que os autores denominam ’Música Criativa’, sendo esta uma
importante definição dentro da obra de Paynter, retornando algumas vezes dentro dos livros
aqui apresentados.
Outro ponto importante levantado é a defesa de que o conhecimento é fruto da
experiência. Eles vão além, defendendo que as disciplinas escolares não permitem a
interdependência, não possibilitando, de fato, um aprendizado integral. Por isso, uma educação
liberal deve "realizar esforços conscientes para remover as divisões entre ’disciplinas’." (p. 3).
Na segunda parte da Introdução (p. 9-23), intitulada Introduction to the projects, os
autores expõem a forma através da qual organizaram esse livro, uma organização recorrente na
Ou seja, a integração das artes não é recente. Essa proposta dos autores é, na verdade,
um retorno à integração.
Para referir-se a essa forma de arte integrada, Paynter utiliza o termo Música-Teatro,
apesar deste não ter sido utilizado em seu primeiro livro e não haver explicação sobre ele nesse
livro. Somente em seu terceiro livro, The Dance and the Drum, esse tema é tratado mais a
fundo. Sobre esta, o autor afirma em Hear and Now que ela pode não ser uma boa escolha para
o trabalho com iniciantes em música. A razão exposta por ele é que a música, mesmo
emergindo de uma integração, deve ser "capaz de desenvolver-se em seus próprios termos - os
sons" (p. 34). Na verdade, a proposta do autor nesse livro é que, ao surgirem as ideias musicais,
um grupo se destaque para desenvolvê-las enquanto o outro aperfeiçoa a dança e o drama. Ou
seja, a reunião ocorre somente no final, não sendo ainda uma forma integrada na concepção e
desenvolvimento.
Esse capítulo tem base em (PAYNTER; PAYNTER, 1974), sendo as páginas de referência
indicadas quando houver necessidade. As traduções foram feitas a partir do texto original.
O terceiro livro de Paynter é uma compilação de 12 projetos em Música-Teatro
escritos em coautoria com sua esposa, Elizabeth Paynter. No primeiro parágrafo da Introdução
Projetos Integrados
A faixa etária proposta neste livro para o trabalho com os projetos integrados é de 9-
13 anos, o que corresponde aproximadamente ao período entre 4º e 9º ano. Apesar dessa
sugestão, no entanto, os autores deixam espaço para a adaptação para outras idades. As fontes
utilizadas para o desenvolvimento dos 12 projetos apresentados no livro são mitos e lendas
oriundos de diversos povos. Os autores incentivam os professores a desenvolver seus próprios
projetos utilizando outros pontos de partida.
Segue uma síntese das fontes utilizadas em cada projeto com suas respectivas origens:
Projeto 1 Mito da criação do mundo - Origem: Iorubás
Projeto 2 Mito sobre a origem do pôr-do-sol - Não identificada
Projeto 3 Mito explicando a duração do dia - Origem: Povos das Ilhas do Pacífico
Projeto 4 Lenda de Kigbo - Não identificada
Projeto 5 Lenda sobre o poder mágico da música - Origem: Povos Songhai do Oeste da África
Projeto 6 Lenda sobre a origem da Camlet Flower - Origem: Uruguai
Projeto 7 Mito sobre a origem de Verão e Inverno - Origem: Índios Wabanaki
Projeto 8 Lenda sobre os perigos do oceano - Origem: Escócia
Projeto 9 Lenda sobre a origem das marcas em uma rocha - Origem: Escócia
Conclusão
No início do texto, propôs-se buscar formas de ensinar arte aos alunos de forma
integrada. Os Projetos de Paynter em Música-Teatro apresentam-se, portanto, como uma
possibilidade de resultado para essa busca, por serem pensados de forma integrada
artisticamente e para aplicação em ambiente escolar.
Um ponto importante nessas propostas é o fato delas não serem fechadas. Os
professores podem adaptá-las para a realidade tanto material quanto humana das turmas.
Possuem ainda um objetivo bem definido e adequado para o papel que a escola cumpre ou
deve cumprir atualmente: a formação do homem. Entretanto, exigem uma mudança de
pensamento. A experimentação dessa integração é necessária a fim de um professor de música
conseguir utilizá-la em suas aulas. No entanto, essa experimentação é difícil pois a projeção de
suas ideias no Brasil ainda é pequena, apesar destas terem se espalhado bastante pela Europa,
EUA, Canadá, Argentina, etc. Dentro da bibliografia encontrada em português sobre esse autor,
os exemplos de maior expressão são o livro de Fonterrada aqui citado e o capítulo escrito por
Teresa Mateiro (MATEIRO, 2011) no livro Pedagogias em Educação Musical. Todavia, o enfoque
dado para a obra de Paynter em quase todo exemplo encontrado é sobre o seu uso de música
contemporânea em sala de aula. Inegavelmente, ele defende este uso, tal como apresentado
nos capítulos anteriores. Entretanto, não há foco sobre a integração entre as artes que, assim
como o uso de música contemporânea, perpassa as três obras aqui vistas. Essa proposta não é
citada por Fonterrada e é apresentada brevemente por Mateiro. Além disso, apesar de esta
pesquisa não abarcar todas as obras em português que falam sobre John Paynter, o livro The
Dance and the Drum, no qual ele desenvolve a proposta do uso de Música-Teatro em sala de
aula, não foi encontrado nas referências de nenhum dos livros, teses e artigos encontrados.
Em meio a uma ausência de bibliografia em português disponível de e sobre Paynter,
tanto em bibliotecas quanto na internet, o presente texto pretende-se uma luz inicial sobre o
caminho encontrado por esse educador para reconciliar as formas artísticas e para a utilização
LEAO, E. C. Aprender e ensinar. In: ______. Aprendendo a Pensar. Petrópolis: Vozes, 1977. v. 1,
cap. 4, p. 44–50.
MATEIRO, T. John Paynter: A música criativa nas escolas. In: ILARI, B.; MATEIRO, T. (Org.).
Pedagogias em Educação Musical. Curitiba: Ibpex, 2011. cap. 8, p. 243–274.
PAYNTER, J. Hear and Now: an introduction to modern music in schools. Amersham, England:
Universal Edition, 1972.
PAYNTER, J.; ASTON, P. Sound and Silence. London, England: Cambridge University Press, 1970.
PAYNTER, J.; PAYNTER, E. The Dance and the Drum: integrated projects in music, dance and
drama for schools. Amersham, England: Universal Edition, 1974.