41 - Qualidade e Licitação de Obras Públicas - Dissert UFF - Andre Kuhn
41 - Qualidade e Licitação de Obras Públicas - Dissert UFF - Andre Kuhn
41 - Qualidade e Licitação de Obras Públicas - Dissert UFF - Andre Kuhn
CENTRO TECNOLÓGICO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL
ANDRÉ KUHN
NITERÓI
2002
ANDRÉ KUHN
NITERÓI
2002
ANDRÉ KUHN
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________
Prof. Dr. Sérgio Roberto Leusin de Amorim - Orientador
Universidade Federal Fluminense
________________________________________________
Prof. Dr. Miguel Luiz Ribeiro Ferreira
Universidade Federal Fluminense
________________________________________________
Prof. Dr. Nélio Domingues Pezzolato
Universidade Federal Fluminense
________________________________________________
Prof. Dr. Luiz Antônio Silveira Lopes
Instituto Militar de Engenharia
NITERÓI
2002
À minha mãe, que muito contribuiu para minha formação.
À minha esposa e filha, pela força e compreensão.
AGRADECIMENTOS
6. CONCLUSÃO, p. 72
7. OBRAS CITADAS, p. 74
8. APÊNDICES, p. 78
8.1 ANÁLISE DE CUSTO DE CAPITAL EM RELAÇÃO AO ATRASO DE PAGAMENTO
DE ÓRGÃOS PÚBLICOS, p. 78
8.2 ANÁLISE DA IMPORTÂNCIA DO CRONOGRAMA FINANCEIRO PARA A OBRA
PÚBLICA, p. 86
8.3 ANÁLISE DO PREÇO INEXEQÜÍVEL PARA OBRAS PÚBLICAS, p. 89
8.4 SUGESTÃO DE ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE PROPOSTAS EM LICITAÇÕES DE
OBRAS PÚBLICAS, p. 92
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
This work presents the current situation of the auction process and public
works contracts in Brazil and theirs problems; questions the difficulties of to obtain
quality in public works and suggests procedures for improvement of the process.
To reach such goals it was made a deepened study about the effective
legislation, consulting laws, ordinances, normative acts and publications. It was
developed a research of the quality management systems also applied to the
construction industry, besides a research on the world panorama in relation to the
auction and recruiting of works.
When analyzing inherent problems to the public works auction in Brazil,
suggestions were presented for improvement of the auction process, looking for to
guarantee the quality of the public work.
1. CONCEITOS, IMPORTÂNCIA E JUSTIFICATIVA
1.1. INTRODUÇÃO
1.1.1. Objetivos
Para atingir tais metas foi feito um estudo aprofundado sobre a legislação
vigente, consultando leis, decretos, atos normativos e publicações dos mais
conceituados juristas na área de Direito Administrativo. Foi desenvolvida também
uma pesquisa dos sistemas de qualidade aplicados à indústria da construção,
através de estudo das normas International Standard Organization (ISO-9000) e
seus comentários em publicações de diversos autores, além do Programa
Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H), através de artigos
de diversos órgãos públicos e privados disponíveis na Internet. Para obter uma
contribuição externa para o trabalho, por falta de publicações de licitações e
contratos de obras públicas voltadas diretamente para a engenharia civil, foi
realizada uma pesquisa na Internet sobre os Estados Unidos, Japão e Europa,
obtendo informações que retratam o panorama mundial em relação à licitação e
11
outros setores está no desvio de recursos públicos, mas também deveria haver
uma atenção maior com produto final a ser recebido, o objeto do contrato. O
prejuízo decorrente de obras mal feitas ou inacabadas pode ser tão ou mais
nocivo aos cofres públicos quanto à corrupção e ao desvio de verbas. Já o estudo
de aplicação de sistemas de qualidade é uma forma de se tentar garantir que uma
empresa contratada atenda às necessidades da Administração Pública. Mas,
muitas vezes, essa tentativa esbarra nos obstáculos legais.
Ao se analisar esses obstáculos legais, deve-se atentar às definições e
procedimentos previstos na Lei, a começar pelo próprio termo Licitação1, que é
um procedimento administrativo que visa selecionar a proposta mais vantajosa
para a Administração Pública, atendendo conjuntamente o princípio constitucional
da isonomia entre os participantes.
Nos dias atuais, com a constante exposição de fatos pela mídia, o tema
Licitações sempre está em pauta, e geralmente sendo explorado negativamente.
Os aspectos mais criticados são o superfaturamento e a péssima qualidade das
obras públicas.
A legislação atual pode ser considerada falha por muitos, mas o fato é que
o desconhecimento das leis e regulamentos é, em grande parte, causa de
constantes erros de administradores públicos e licitantes.
Segundo Justen Filho (2000, p. 502), o Contrato Administrativo é um
acordo de vontades entre um Órgão da Administração Pública e o particular, onde
serão gerados direitos e deveres entre as partes. Ele difere do contrato privado
em relação ao interesse público, que sempre prevalecerá sobre o interesse
privado e tornando, na prática, o contato administrativo sujeito a alterações
unilaterais previstas em Lei, por parte da Administração Pública.
1
Destinação prevista no art.3º, da Lei 8.666/93.
14
elas são interpretadas à sua luz. Sendo assim, os princípios servirão de base para
solução de dúvidas.
A própria legislação vigente2 cita, em seu artigo 3o, os princípios básicos
que regem a Licitação Pública: legalidade, impessoalidade, moralidade,
igualdade, publicidade, probidade administrativa, vinculação ao instrumento
convocatório e julgamento objetivo.
A igualdade entre os participantes não significa proibição de diferenciação
entre eles, mas sim que este critério de diferenciação deverá ser bem claro no
processo licitatório. A própria Administração, ao procurar escolher alguém para
contratar, o fará baseado em uma diferença entre os participantes. De acordo
com Meirelles (2002, p. 30), a igualdade é o "princípio primordial da licitação",
inclusive previsto na Constituição Federal, em seu Art. 37, inc. XXI, mas não é
impedimento para o estabelecimento de requisitos mínimos para participação do
processo licitatório.
O princípio da legalidade refere-se à lei, que define as condições de
atuação dos agentes administrativos. A Lei permite a liberdade de escolha da
Administração Pública em relação ao objeto, especificações, condições de
pagamento e outros. Isto é, o Administrador pode escolher as condições do
contrato futuro, desde que o faça com antecedência. Tais escolhas farão parte do
instrumento convocatório, que também como a Lei, determinará as condições da
licitação. Desta forma o princípio da vinculação ao instrumento convocatório
garante o atendimento do que é determinado pelo Edital de Licitações e seus
anexos.
Os princípios da impessoalidade e do julgamento objetivo determinam um
critério objetivo de julgamento que não considera as preferências pessoais ou
vontades do julgador. A moralidade e probidade estão relacionadas à reprovação
de condutas incompatíveis com os valores jurídicos, determinando um ambiente
de honestidade e seriedade na licitação, tanto por parte da administração quanto
por parte dos licitantes.
A publicidade visa permitir que qualquer pessoa tenha acesso a todas as
informações do processo licitatório, garantindo assim uma transparência dos
certames e a regularidade dos atos praticados.
2
Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993
15
3
Art. 6º, inc. I e II, da Lei 8.666/93.
4
Art. 6º, inc. V, da Lei 8.666/93.
5
Art. 6º, inc. IX e X, da Lei 8.666/93.
17
6
Art. 10, da Lei 8.666/93
7
Art. 6º, inc. VII e VIII da Lei 8.666/93
18
8
Art. 10, inc. II da Lei 8.666/93
9
Art. 6º, inc. VIII, alínea a) da Lei 8.666/93
10
Art. 6º, inc. VIII, alínea b) da Lei 8.666/93
11
Art. 6º, inc. VIII, alínea d) da Lei 8.666/93
12
Art. 6º, inc. VIII, alínea e) da Lei 8.666/93
13
Art. 45, da Lei 8.666/93.
14
Art. 23, da Lei 8.666/93
19
15
Decreto 3.555, de 08 de agosto de 2000, que aprova e regulamenta a modalidade de licitação
denominado Pregão.
16
Art. 26, inc. I, da Lei 8.666/93.
17
Art. 23, § 5º, da Lei 8.666/93.
20
18
Art. 25, da Lei 8.666/93.
19
Segundo Art. 25, § 1º, da Lei 8.666/93, notória especialização é o profissional ou empresa cujo
conceito no campo de sua especialização "permita inferir que o seu trabalho é essencial e
indiscutivelmente o mais adequado à plena satisfação do objeto".
21
A ISO é uma norma organizacional, pois ela não impõe uma uniformidade
na estrutura de sistemas de gestão de qualidade ou uniformidade de
documentação (Kanholm, 2001). As normas ISO 9000 são internacionais e
possuem suas versões no Brasil pela ABNT, através das NBR 9000. A norma
NBR ISO 9001:2000 (que substitui as antigas normas: ISO 9001:1994, ISO
9002:1994 e ISO 9003:1994) especifica requisitos para um sistema de gestão da
qualidade, focada na eficácia em atender aos clientes, tanto a jusante como a
montante do processo. A norma NBR ISO 9004:2000 (que substitui a antiga
norma: ISO 9004:1994) fornece orientação para um sistema de gestão da
qualidade, com objetivos mais amplos que a NBR ISO 9001:2000, especificando
no que tange à melhoria contínua do desempenho global de uma organização e
sua eficiência e eficácia. A NBR ISO 9004:2000 é uma norma guia, complementar
a NBR ISO 9001:2000, que é uma norma certificável. Em relação às mudanças
apresentadas pela nova norma, ao se analisar a comparação da ISO 9001:1994
com a ISO 9001:2000 feita por Ketola & Roberts (2001), observa-se que a
modificação apresenta em três pontos importantes de reconceituação:
Responsabilidade da Direção; Orientação para o Cliente e Satisfação dos
Fornecedores.
Como em qualquer país onde são implantados sistemas de gestão da
qualidade, o Brasil possui um órgão responsável pelo credenciamento dos OCC
(Organismos Certificadores Credenciados). Esse órgão é o INMETRO (Instituto
Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial)20. As OCC são
empresas de auditoria e têm por objetivo auditar as organizações que, após
implantarem um sistema de gestão da qualidade, pleiteiam a obtenção do
certificado relativo ao sistema implantado.
A ISO 9000, como todo sistema de qualidade, garante que a organização
certificada estará estruturada para atender aos requisitos pré-determinados e ao
que foi inicialmente acordado entre as partes. Isso indica que o produto terá muito
provavelmente qualidade em relação ao especificado, e não no sentido de
20
Instituído pela Lei nº 5.966, de 11 de Dezembro de 1973.
23
1.3.2.2 PBQP-H
1
WHIETELEY, Richard C. A Empresa Totalmente Voltada para o Cliente. Rio de Janeiro: Campus,
1992.
2
Segundo FLORIANO, o país mais desenvolvido na época, em relação à normalização da
qualidade era a Inglaterra.
27
está no setor da construção pesada. Poucos países no mundo dominam tão bem
essa tecnologia."3
Como apresentado no capítulo anterior, a aplicação de um sistema de
qualidade na indústria da construção resulta na melhoria de seus produtos,
indicando assim melhora na eficácia e conseqüentemente um aumento de
produtividade4. Mas existe uma barreira que não permite uma adesão maciça das
construtoras aos sistemas de qualidade: além dos custos de implantação, que
para pequenas e médias empreiteiras torna-se representativo, a dificuldade de se
implantar um sistema ISO 9000, que é genérico para atender a todo tipo de
organização e difícil de ser adaptado para a indústria da construção, pois
possuem características muito diferentes das demais empresas. Parte dessa
dificuldade se deve a questões culturais, pois desde 1995, com a certificação da
primeira construtora, até 25 de outubro de 1999, somente 52 empresas foram
certificadas pela ISO 9001:1994, sendo que atualmente apenas 86 empresas
possuem o certificado ISO 9001:2000 (INMETRO.Distribuição, 2002). Os números
podem ser considerados pouco representativos, mas segundo Leon (2002), as
causas estão nos problemas levantados, que são: falta de comprometimento das
pessoas; operacionalização das rotinas impostas pelo Sistema; grande esforço de
manutenção da documentação atualizada; choque do sistema da qualidade com a
cultura organizacional; adequação dos requisitos da norma ISO à realidade da
construção civil; burocracia excessiva e engessamento das atividades.
Apesar das dificuldades na indústria da construção, a ISO 9000:2000 veio
favorecer este tipo de indústria, ao mesmo tempo em que a prática esclarece as
muitas dúvidas que surgem com sua implantação. Além disso, as vantagens de
se implantar um sistema de gestão de qualidade, como a ISO 9000, podem ser
observadas em diversos aspectos: do ponto de vista do cliente há um aumento da
confiança, além de servir como requisito de contrato e buscar a melhor
qualificação do contratado; o marketing, por possuir um certificado de qualidade
com reconhecimento internacional; o processo, que atende aos padrões
internacionais e é uma base para a melhoria contínua; e a gestão, sistematizando
3
EXISTE Qualidade na Construção, sim. Revista Banas Qualidade nº 71. Abril 1998. p 34
4
Segundo Limmer (1997, p.189): "Uma gestão da qualidade resulta obrigatoriamente em melhoria
de produtividade (...)"
29
6
Art. 56, § 1º, da Lei 8.666/93.
7
Art. 56, § 2º, da Lei 8.666/93.
8
Fiança bancária é a modalidade de garantia na qual o banco fornece ao contratado uma carta de
fiança, onde se compromete a pagar o valor do seguro, caso a garantia contratual seja acionada
pelo contratante.
32
9
Art. 65, § 1º, da Lei 8.666/93.
34
1
Experiência observada ao participar, durante 04 anos, de licitações e contratos de obras públicas
para o Exército Brasileiro.
36
2
Art. 21, § 2º, da Lei 8.666/93.
3
As Práticas da SEAP têm o objetivo de estabelecer as diretrizes gerais para a elaboração de
projetos, execução de construção, complementação, reforma, ampliação e manutenção de uma
edificação ou conjunto de edificações.
37
4
Art. 6º, inc. IX e X, da Lei 8.666/93.
38
5
Definições citadas no Capítulo 1.2.2.1. Conceitos Básicos.
6
Experiência observada ao participar, durante 04 anos, de licitações e contratos de obras públicas
para o Exército Brasileiro.
39
7
Numerus Clausus significa quantificação numérica
8
Artigos 28, 29, 30 e 31, da Lei 8.666/93.
40
a licitação. Além disso, Mukai (1995, p. 38) considera uma violação do princípio
do julgamento objetivo um distanciamento grande entre pontos, por exemplo: de 0
a 100.
A transformação da aferição técnica da fase de habilitação em julgamento
técnico é outro vício apresentado: No processo licitatório, as empresas que foram
habilitadas para a fase de análise de propostas não podem ser julgadas por
documentos apresentados na fase de habilitação, pois eles perderam eficácia
jurídica. Segundo Meirelles (2002, p. 144), a desclassificação da proposta ocorre
no seu julgamento, enquanto que a desqualificação ou inabilitação ocorre na fase
de habilitação, antes da abertura das propostas técnicas. Sendo assim, a
Comissão não pode transformar a habilitação em julgamento técnico.
Por fim, levar em consideração vantagem "surpresa" é outro vício
destacado por Mukai (1995, p. 44). Pois a Comissão de Licitações não deve
considerar em seu julgamento nenhuma vantagem apresentada pelo licitante que
não conste no edital9, nem mesmo como critério de desempate.
As falhas e vícios na licitação e contratação de obras são danosos para a
Administração Pública. O processo licitatório estará sujeito a anulação, que ocorre
quando alguma ilegalidade é constatada, e acarretará a paralisação da obra, caso
já tenha começado. A revogação do processo licitatório só ocorre por Interesse
Público, devidamente justificado, e não é conseqüência de irregularidades no
processo10.
11
Art. 10, da Lei 8.666/93.
43
modalidade em que o contratado fica numa situação cômoda, onde ele não se
preocupará muito com a otimização dos custos da obra, pois receberá o seu
lucro, independente dos custos (Ferreira, 2001). O contrato por administração foi
vetado na atual Lei de Licitações, só podendo ser aplicado no setor privado.
Mesmo assim, o contratante terá que ter uma participação muito ativa na
execução do contrato, com risco de ter a execução de sua obra com o prazo
prejudicado e o custo descontrolado. A participação, em geral, se dá pela
contratação de uma gerenciadora, que exercerá uma fiscalização rígida, com
poderes para ingerência técnica. Mas para o sucesso da obra, são necessários
uma especificação técnica bem detalhada e um projeto completo.
O contrato "Turnkey" (do inglês "girar a chave") é um tipo de contrato por
preço fixo, onde a contratada realiza todas as etapas do empreendimento,
entregando a obra pronta para o funcionamento (Ferreira, 2001, p.17). Nesse
caso a participação da contratante é a menor possível, sendo necessário um
cuidado especial na seleção da empresa contratada.
De acordo com Ferreira (2001, p.18), dentre as vantagens do contrato
"Turnkey", pode-se citar a responsabilidade do contrato depositada sob uma única
fonte e a rapidez de colocação em operação; e desvantagens a falta de controle
do contratante, o custo maior que a forma tradicional e a limitação para incorporar
modificações .
Segundo a Lei de Licitações, esse tipo de contrato não é permitido para
obras públicas, pois legalmente a execução do contrato deverá ser fiscalizada por
um representante da Administração, os projetos e execução deverão ser
previamente aprovados por ele e o contrato poderá ser modificado
unilateralmente, nos limites da legalidade, para atender às necessidades da
Administração Pública, descaracterizando assim o "Turnkey".
O contrato EPC (iniciais do inglês: Engineering, Procurement and
Construction), que corresponde a dizer projeto, aquisição, construção e
montagem, é muito utilizado na indústria do petróleo (Ferreira, 2001, p.20). Nesse
contrato, a contratante fornece o projeto básico, enquanto a contratada é
responsável pela elaboração de todos os outros projetos complementares, sub-
contratações e execução de toda a obra. Segundo Ferreira (2001, p.22), As
vantagens e desvantagens se aproximam do contrato "Turnkey". Muito se
44
12
De acordo com Art. 6º, inc. VIII, alínea e), da Lei 8.666/93: "empreitada integral - quando se
contrata um empreendimento em sua integralidade, compreendendo todas as etapas das obras,
serviços e instalações necessárias, sob inteira responsabilidade da contratada até a sua entrega
ao contratante em condições de entrada em operação, atendidos os requisitos técnicos e legais
para sua utilização em condições de segurança estrutural e operacional e com as características
adequadas às finalidades para que foi contratada". .
13
Art. 45, § 1º, da Lei 8.666/93.
14
No Design-Bid-Build o projeto e execução são dois contratos distintos e independentes,
separados pela fase de licitação, diferente do que ocorre no Design-Build.
45
15
Art. 9º, inc. I, da Lei 8.666/93.
46
16
Art. 46, § 2º, da Lei 8.666/93.
49
privado tem crescido muito em muitos países membros da União Européia. Para
acompanhar esse crescimento e permitir a grande participação de empresas
estrangeiras em determinado país, as leis de licitações acompanharam essa
tendência. Países da Europa Central e Oriental também buscam estabelecer
sistemas modernos de licitações públicas, permitindo transparência nas suas
aquisições e contratos. Para garantir a honestidade e combater a corrupção nos
processos licitatórios e contratos públicos, além das leis de procedimentos
administrativos, muitos países desenvolveram códigos de ética para atender tais
necessidades. É o caso da Polônia, que criou um código de ética exclusivo para
funcionários públicos que trabalham com licitações.
A União Européia e a Organização Mundial do Comércio exigem dos
países o estabelecimento de um procedimento profissional e imparcial para
atendimento a reclamações e supervisão do processo licitatório público. A
Hungria criou um Comitê de Arbitragem com grande autoridade para atender
denúncias contra processos licitatórios e com poder de anulação de contratos e
aplicação de multas por irregularidades. Na Eslováquia, o Ministério da
Construção e das Obras Públicas age como arbitro nas pendências dos
processos licitatórios. Na Polônia, em contrapartida, foi estabelecido um sistema
de arbitragem menos formal, onde o Escritório de Licitações Públicas atua nas
questões não solucionadas pelos demais Órgãos licitadores. (OECD, 2002)
A European International Contractors (EIC, 2002) é uma é uma associação
registrada e sediada na Alemanha, que representa o interesse das federações de
construtoras de 15 países europeus e tem por objetivo, dentre outros, representar
e promover os interesses internacionais da construção européia em todas as
questões relativas à atividade de construção em outros continentes. Como uma
representante internacionalmente ativa dos interesses das construtoras
européias, ela é fortemente contra a European Commission’s Proposal for a
Directive on the Co-ordination of Procedures for the Award of Public Supply
Contracts, Public Service Contracts and Public Works Contracts (chamado
somente de "Legislative Package") no que tange a não aplicação do Design-Build
nos contratos de obras públicas. Em outras palavras, o Legislative Package
propôs introduzir a separação obrigatória das duas fases do empreendimento: o
"projeto" e a "execução". De acordo com o EIC (2002), o contrato Design-Build é
50
1
Dias, Paulo Roberto Vilela. Presidente do Instituto Brasileiro de Engenharia de Custos (IBEC),
em comentário feito durante sua palestra no Seminário de Engenharia do Valor, realizado no
Instituto Militar de Engenharia no período de 30 de outubro a 01 de novembro de 2001.
2
EMOP: Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro, cujo catálogo de preços é a
referência para licitações públicas no Estado do Rio de Janeiro.
3
Segundo Dias (2001, p. 120): "BDI ou Bonificação é a parcela do custo do serviço independente,
do que se denomina custo direto, ou seja, o que efetivamente fica incorporado ao produto".
52
5
De acordo com o Art. 71, da Lei 8.666/93, "o contratado é responsável pelos encargos
trabalhistas, previdenciários, fiscais e comerciais resultantes da execução do contrato".
54
6
A Administração Pública pode convocar os licitantes remanescentes, na ordem de classificação,
para concluir a obra inacabada, desde que aceitem as condições propostas pelo primeiro
colocado.(Art. 64, § 2º, da Lei 8.666/93).
55
7
Experiência observada ao participar durante 04 anos de licitações e contratos de obras públicas
para o Exército Brasileiro.
57
8
Art. 27, da Lei 8.666/93.
60
9
Segundo a revogada Resolução n. 230/75 do CONFEA.
10
Resolução n. 317, de 31 de outubro de 1986 do CONFEA
61
Obras simples, de pouco valor, não justificam que uma empresa tenha
obrigatoriamente uma grande experiência profissional ou que aplique processos
modernos e mais eficientes para executá-las, sendo o critério preço, em conjunto
com outros, aceitável. Mas obras mais sofisticadas, com instalações mais
modernas, necessitam de empresas que tenham uma maior capacidade técnica
para sua execução. A dificuldade está, utilizando parâmetros objetivos, em definir
qual critério usar em cada caso.
A Lei define mais dois critérios para julgamento de propostas: o tipo
"melhor técnica" e o tipo "técnica e preço". Esses dois tipos não podem ser
usados em licitação de execução de obras, podendo ser utilizados
exclusivamente para serviços de natureza predominantemente intelectual11, como
projetos, fiscalização, gerenciamento e outros. Excepcionalmente pode-se utilizar
esses dois tipos de licitação para execução de obras, desde que sejam de grande
vulto e majoritariamente de tecnologia nitidamente sofisticada e de domínio
restrito12. Segundo a Lei, mais uma vez são utilizados valores para definir a
característica de uma obra. É o caso de obra de grande vulto, que nos dias atuais
equivale a R$ 37.500.000,00. Para Órgãos Públicos que lidam com grandes
quantias de dinheiro, esse valor poderia ser razoável, mas para outros, como
secretarias de pequenos municípios, com recursos orçamentários muito
reduzidos, o próprio limite da modalidade convite (R$ 150.000,00) poderia ser
considerado um valor de obra de grande vulto, apesar de não necessariamente
ser uma obra complexa, pois a perda dessa quantia poderia comprometer muito
as finanças públicas desse Órgão.
O tipo de licitação "melhor técnica"13 consiste em avaliar e classificar as
propostas dos licitantes de acordo com critérios técnicos, previamente definidos
no edital. Tais critérios devem considerar a capacitação e a experiência do
proponente; a qualidade técnica da proposta, compreendendo metodologia,
organização, tecnologias e recursos a serem utilizados no objeto; e a qualificação
das equipes técnicas envolvidas no trabalho. Após a classificação, os envelopes
contendo os valores são abertos e, como todos os classificados possuem
capacidade mínima para execução do contrato, é oferecido ao primeiro colocado
11
Art. 46, da Lei 8.666/93.
12
Art. 46, § 3º, da Lei 8.666/93
13
Art. 46, § 1º, da Lei 8.666/93
62
14
Art. 46, § 2º, da Lei 8.666/93
5 SUGESTÕES PARA GARANTIR QUALIDADE NA OBRA PÚBLICA
mas sim uma certificação de que a empresa garante que sua organização estará
estruturada para atender aos requisitos pré-determinados e ao que foi
inicialmente acordado entre as partes.
Com a globalização e o crescimento do número de construtoras
certificadas, a tendência é aumentar a quantidade de contratos privados com
cláusulas exigindo certificação de qualidade. O próprio PBQP-H influenciará as
construtoras, através de limitação de financiamento da Caixa Econômica Federal,
64
1
Plano de Obras é um calendário com a previsão de todas as obras, e seus respectivos créditos,
para um determinada Unidade Administrativa durante o ano.
65
esse problema, a Lei deveria permitir a criação de dispositivos para impedir que o
empreiteiro manipule o orçamento de sua proposta. Uma sugestão é analisar o
preço inexeqüível não pelo preço global apresentado na proposta, mas item a
item do orçamento, obrigando o orçamentista da empresa a não redistribuir
valores de sua proposta.
Uma atitude que também é tomada pelo empreiteiro que deseja vencer a
licitação é a não escolha do seguro garantia como garantia contratual, pois é a
modalidade que representa o maior custo, apesar de ser a melhor para a
Administração. A solução para este problema estaria em passar para a
Administração Pública a opção de escolha da modalidade de garantia. Como
todos teriam que embutir em seus custos indiretos o valor do seguro-garantia, ou
71
BRASIL. Lei 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da
Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração
Pública e dá outras providências. Diário Oficial da União nº 127, de 06 de julho de
1994.
______. "EIC Contractor's Guide" to the FIDIC Conditions of Contracts for EPC
Turnkey Projects ("Silver Book"), March 2000. Disponível na Internet:
http://www.eicontractors.de/old-site/Comm5.htm. Acesso em 21 set. 2002.
75
INMETRO. Distribuição dos Certificados ISO 9000 por Ramo de Atividade - Área
de Atuação: Construção. Disponível na Internet: http://www.inmetro.gov.br/cb25/
ramoatividade.asp?Chamador=INMETRO&CodNace=F&CodUF=. Acesso em 18
nov. 2002.
LOMAR, Paulo José Villela. Perfil Constitucional da Licitação. In: MUKAI, Toshio
et al. Curso Avançado de Licitações e Contratos Públicos. 1 ed. São Paulo: ed.
Juarez de Oliveira, 2000. p. 11 a 33.
76
______. Summary of the Act for Promoting Proper Tendering and Contracting for
Public Works of Japan. Disponível na Internet: http://www.mlit.go.jp/sogoseisaku
/const/tekiseikahou/tentative-translation.htm. Acesso em 21 set. 2002
A Lei 8666/93 prevê, em seu art. 40, inc. XI, a necessidade de critério de
reajuste para os contratos públicos, que retratam a variação efetiva do custo da
produção. Isso quer dizer que o contratado terá direito a reajuste baseado na
variação de um índice, previamente acordado, entre o custo da etapa da obra na
data da apresentação da proposta e o pagamento de cada parcela relativa a essa
etapa. Porém, só terá direito a reajuste os contratos superiores a um ano, período
que engloba grande parte das obras públicas.
A mesma Lei, porém, em seu art. 78, inc. XV, só permite a rescisão
contratual após noventa dias de atraso de pagamento. Como o contrato não pode
ser rescindido antes da conclusão desse prazo, o contratado tem a obrigação de
cumprir todas as suas cláusulas. Na prática, uma obra terá o seu cronograma
físico mantido num período de três meses, não tendo o contratado nenhum
ressarcimento, através de procedimentos administrativos, pelo custo de capital
investido nesse período. Para conseguir tal ressarcimento, somente por vias
judiciais.
Pode-se considerar que, como essa situação está prevista na legislação,
os participantes de uma licitação podem incluir esse risco em seus custos
indiretos. Muitos não o fazem, pois o tipo de licitação aplicada a obras públicas é
o de "menor preço" e esse procedimento acarretaria a vitória da empresa que
79
1
Na Administração Pública, as fases do pagamento são: crédito, empenho e liquidação, sendo a liquidação a
fase onde a nota fiscal é processada e solicitado o numerário para seu pagamento.
80
IMPOSTO: 8,95%
IMPOSTOS
Imediatos (8,95%) 8,95% R$ 3.893,25 R$ 4.542,13 R$ 4.542,13
30 dias
Desembolso Mensal -R$ 16.115,36 -R$ 42.705,89 -R$ 46.690,00 -R$ 27.888,74
Recebimento R$ 145.000,00 R$ 43.500,00 R$ 50.750,00 R$ 50.750,00
Saldo/ Deficit Mensal -R$ 16.115,36 R$ 794,11 R$ 4.060,00 R$ 22.861,26
Saldo/ Deficit Acum. -R$ 16.115,36 -R$ 15.321,26 -R$ 11.261,26 R$ 11.600,00
82
IMPOSTOS
Imediatos (8,95%) 8,95% R$ 3.893,25 R$ 4.542,13 R$ 4.542,13
30 dias
Desembolso Mensal -R$ 16.115,36 -R$ 38.812,64 -R$ 46.041,13 -R$ 27.888,74 -R$ 4.542,13
Recebimento R$ 145.000,00 R$ 43.500,00 R$ 50.750,00 R$ 50.750,00
Saldo/ Deficit Mensal -R$ 16.115,36 -R$ 38.812,64 -R$ 2.541,13 R$ 22.861,26 R$ 46.207,88
Saldo/ Deficit Acum. -R$ 16.115,36 -R$ 54.928,01 -R$ 57.469,13 -R$ 34.607,88 R$ 11.600,00
83
IMPOSTOS
Imediatos (8,95%) 8,95% R$ 3.893,25 R$ 4.542,13 R$ 4.542,13
30 dias
Desembolso Mensal -R$ 16.115,36 -R$ 38.812,64 -R$ 42.147,88 -R$ 27.239,87 -R$ 4.542,13 -R$ 4.542,13
Recebimento R$ 145.000,00 R$ 43.500,00 R$ 50.750,00 R$ 50.750,00
Saldo/ Deficit Mensal -R$ 16.115,36 -R$ 38.812,64 -R$ 42.147,88 R$ 16.260,13 R$ 46.207,88 R$ 46.207,88
Saldo/ Deficit Acum. -R$ 16.115,36 -R$ 54.928,01 -R$ 97.075,88 -R$ 80.815,75 -R$ 34.607,88 R$ 11.600,00
84
MÊS FLUXO P/30 DIAS MÊS FLUXO P/60 DIAS MÊS FLUXO P/90 DIAS
5 R$ - 5 R$ 46.207,88 5 R$ 46.207,88
6 R$ - 6 R$ - 6 R$ 46.207,88
O preço global, que servirá de base para escolha da proposta com o menor
preço, não será alterado, mas a empresa "B" receberá no início da obra valores
superiores aos seus custos reais. Caso o crédito venha a ser suspenso, o
contratado terá um lucro muito maior e o Órgão Público pagará um preço mais
caro pelas etapas realizadas. Mesmo que o crédito não seja anulado, a empresa
receberá antecipadamente por serviços executados, e no pior das hipóteses, caso
desista da obra, nenhum dos outros participantes aceitaria concluir a obra pelos
valores remanescentes do orçamento da vencedora, por motivos visíveis no
gráfico abaixo, onde o orçamento normal é representado pela curva beta e o
alterado por uma curva "S":
CRONOGRAMA
25,00%
20,00%
% PAGO
15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
MESES
Esperado Alterado