Litiase Biliar
Litiase Biliar
Litiase Biliar
LITÍASE BILIAR
Dr. Sílvio C. P. Leão
INCIDÊNCIA e PREVALÊNCIA
A colelitíase acomete cerca de 10% da população, sendo mais freqüente nas
mulheres, especialmente multíparas e obesas (cerca de 20%). A freqüência
aumenta com a idade, e alguns trabalhos revelam que a ocorrência pode atingir
cerca de 70% nos indivíduos acima de 70 anos. A maioria dos portadores de
colelitíase apresenta algum sintoma durante a evolução da doença. Nos pacientes
assintomáticos, a colelitíase é descoberta por um exame de utrassonografia de
rotina. O seguimento desses pacientes revelou que 15% tornaram-se sintomáticos
e 5% destes apresentam complicações da doença.
ETIOLOGIA/FISIOPATOLOGIA
Na via biliar, os cálculos podem ser primários, isto é, formados nos próprios
ductos, ou originados na vesícula biliar. Quando primários, são decorrentes de um
mecanismo de estase conseqüente a uma estenose biliar (traumática, cirúrgica,
inflamatória ou tumoral) ou devido a uma disfunção do esfíncter de Oddi.
A litíase intra-hepática está associada a cálculos de vesícula, mas algumas
doenças como colangite crônica ou estase prolongada podem cursar com litíase
primária intra-hepática. Doenças congênitas como a doença de Caroli (onde
existem estenoses e dilatações) ou nos cistos congênitos dos ductos intra-
hepáticos apresentam-se também com litíase primária, sendo estes casos de
tratamento mais difícil.
Os cálculos biliares apresentam-se de diversas formas e tamanhos, desde
grande e único até múltiplos ou mesmo com aspecto de lama biliar. Essas
diferenças decorrem dos aspectos etiopatogênicos.
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PATOLOGIA DA COLELITÍASE
- Assintomática: achado de exame de ultrassonografia (10%).
- Sintomático: o prinicpal sintoma relacionado à colelitíase é a dor em
quadrante superior direito (Q.S.D.) do tipo cólica, apresentando às vezes
irradiação para a escápula, náuseas, vômitos e intolerância a alimentos
gordurosos (90%). A dor muitas vezes ocorre após refeição com
alimentos gordurosos ou mesmo após uma refeição habitual. Não ocorre
febre.
Vesícula Biliar com cálculos livres na bile geralmente não determinam
alterações severas; não há massa palpável; a presença de fosfatase
alcalina elevada fala a favor de colédocolitíase.
Cálculo encravado no infundíbulo ou ducto cístico evoluem para vesícula
hidrópica ou colecistite aguda (empiema, gangrena ou fístulas internas).
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PATOLOGIA DA COLEDOCOLITÍASE
Os cálculos coledocianos podem ser de dois tipos: primários, quando são
formados na via biliar principal (10% a 30% dos casos), e secundários, mais
comuns, que migram de vesícula biliar. Freqüentemente são assintomáticos e
podem ser cálculos únicos ou múltiplos, ocasionando um obstáculo intermitente ao
fluxo biliar com episódios de icterícia. Quando os cálculos são pequenos, em geral
passam pela papila e são eliminados pelas fezes. Quando um cálculo maior fica
encravado na papila, ocasiona obstáculo total no fluxo biliar, levando a icterícia
progressiva e dilatação da árvore biliar extra-hepática. Com freqüência ocorre
colangite, que geralmente é conseqüente à entrada de bactérias pela papila
provenientes do intestino. A bile torna-se marrom-escura (lama biliar).
Clinicamente o paciente apresenta icterícia, febre com calafrios, dor no QSD
(tríade de Charcot).
A colangite pode ser supurativa, que necessita de drenagem imediata, pois
rapidamente evolui para sepse e pode originar abscesso hepático.
A presença e/ou a passagem de cálculos pela papila pode também
determinar uma papilite, que geralmente é edematosa e reversível, mas que pode
evoluir para fibrose com estenose do esfíncter de Oddi, fato este que ocorre muito
raramente.
Outra doença conseqüente a esse mesmo mecanismo é a pancreatite aguda
que ocorre por bloqueio do fluxo pancreático pelo cálculo impactado na papila.
Cerca de três quartos das mulheres e um terço dos homens com pancreatite aguda
apresentam litíase biliar.
Questiona-se que em pacientes idosos o cálculo de vesícula possa ser causa
de carcinoma da vesícula. Cerca de 80% a 90% dos pacientes com carcinoma da
vesícula apresentam colelitíase. O inverso é menos verdadeiro, isto é, somente
4,5% dos pacientes seguidos em longo prazo com cálculos de vesícula evoluíram
com carcinoma da vesícula. A vesícula em porcelana é um fator associado ao risco
de desenvolvimento de carcinoma da vesícula biliar.
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DIAGNÓSTICO
O advento da ultrassonografia em larga escala representou um grande
avanço no diagnóstico da colelitíase. Os métodos de avaliação da anatomia biliar
podem ser invasivos e não-invasivos:
NÃO-INVASIVOS
o Colecistograma oral e Colangiografia Venosa (importância histórica);
o Rx simples: pode evidenciar cálculos radiopacos (10%) e aerobilia
(fístula) - pouca utilidade prática;
o Ecografia Abdominal (95% de positividade) - utilizada como rotina;
o Colangiorressonância - método não-invasivo, permite excelente
precisão anatômica. Vem ganhando muita importância na avaliação
da árvore biliar;
INVASIVOS
o Colangiografia por drenos (Kehr);
o Colangiografia retrógrada endoscópica (CPRE): pode ser diagnóstica
ou terapêutica - atualmente vem perdendo espaço como método
diagnóstico para a colangiorresonância;
o Colangiografia percutânea trans-hepática - pode ser terapêutica,
possibilita a colocação de "stents" biliares;
o Colangiografia intra-operatória (“Mirizzograma”) - muito útil na
avaliação intra-operatória da anatomia biliar;
CONDUTA DO SERVIÇO
Há consenso que o paciente sintomático portador de colelitíase irá se
beneficiar de tratamento cirúrgico. Já nos portadores assintomáticos, há que se
levar em conta a eqüação Riscos x Benefícios. O fato de uma paciente ser portador
de colelitíase e estar assintomático não é garantia que o primeiro evento de crise
seja leve. Muitas vezes o primeiro sintoma já se inicia como uma pancreatite grave
Pacientes diabéticos provavelmente irão obter benefício do tratamento
cirúrgico, devido ao risco de desenvolverem quadros de colecistite aguda grave.
Cálculos maiores aumentam o risco de impactação no infundíbulo e
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TÉCNICA:
COLELITÍASE
Atualmente a cirurgia padrão para o tratamento da colelitíase é a
colecistectomia videolaparoscópica. O método laparotômico clássico (incisão
de Kocher) deve ser considerado como conduta de exceção. Eventualmente é
necessária a realização de uma colangiografia intra-operatória. Suas indicações
são:
Presença ou história de pancreatite biliar ou amilase elevada
Presença ou história pregressa de icterícia.
Hepatocolédoco dilatado (acima de 1cm)
Variações anatômicas ou dificuldade na identificação da anatomia local
Elevações assintomáticas das enzimas canaliculares (fosfatase alcalina e GGT).
COLEDOCOLITÍASE
O tratamento ideal da coledocolitíase depende das condições disponíveis no
serviço.
Papilotomia endoscópica
Papilotomia cirúrgica
Coledocotomia cirúrgica
Derivação bileo-digestiva (se colédoco > 2cm): as opções são a anastomose
colédoco-duodenal e as derivações em alça exclusa, colédoco-jejunal em Y de
Roux.
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3- “ODDITES”:
Quando não se consegue permeação da papila pelo contraste na
colangiografia peroperatória ou pelo explorador de dilatador tipo Bakes nº 3, isto
traduz um espasmo ou uma “oddite” edematosa, na maioria dos casos. Nesta
situação, após manobra de Kocher, a papila deve ser palpada para afastar cálculo
impactado ou tumor. Afastadas essas hipóteses, a conduta resume-se a
coledocostomia externa (Kehr). O fenômeno regride em alguns dias a três
semanas. Excepcionalmente o achado acima referido representa uma oddite
fibrosa e, portanto, irreversível (3% dos casos). Nesta hipótese, se o paciente
voltar a ter sintomas biliares, o tratamento é a esfincterotomia endoscópica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Admissão de paciente
Dor biliar típica
Vômitos
Intolerância alimentos
gordurosos
TC
Sinais de Sintomas freqüentes e graves;
colangite CTPH Complicações prévias
Pancreatite CPER (Colecistite, pancreatite);
aguda Cálculos maiores que 2 cm;
Vesícula em porcelana;
CRNM Imunossuprimidos e
diabéticos;
Obstrução
Conduzir demonstrada;
adequadamente cálculo em via
biliar prinicipal