Desafios Contemporâneos
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Desafios Contemporâneos
CONTEMPORÂNEOS
CAPÍTULO 1 – SOMOS TODOS
CIDADÃOS?
Luísa Maria Silva Dantas
INICIAR
Introdução
Ao ouvir as palavras cidadão e cidadania, é comum nos remetermos às
ideias de cidade e de participação dos indivíduos em sua sociedade. Além
disso, cidadania também está associada à concepção de direitos que
conformam uma vida digna, ou seja, o cidadão vive em uma coletividade,
a sociedade, participa dela e possui direitos e deveres que lhe garantem
uma vida digna. Essa poderia ser uma maneira de definir o que é
cidadania, ligada à um coletivo de pessoas que atuam na sociedade de
forma democrática e igualitária. Contudo, ao olhar ao nosso redor, será
mesmo que todos os indivíduos de nossa sociedade participam
ativamente das decisões que envolvem suas cidades, estados e a nação
brasileira? Ou ainda, todas essas pessoas, que poderiam ser consideradas
cidadãos, exercem de fato a cidadania? Em outras palavras, possuem as
condições necessárias a uma vida digna? A igualdade, tão clamada e
defendida pela sociedade moderna está de fato sendo defendida e
praticada em nossa sociedade?
Neste capítulo, vamos estudar as origens dessas ideias que parecem tão
naturalizadas em nosso dia a dia, entender como foram instituídas e quais
são os principais desafios para uma sociedade justa e igualitária na
contemporaneidade.
Acompanhe esse capítulo com atenção e bons estudos!
VOCÊ SABIA?
O marxismo contribui bastante para a construção da cidadania, é o que afirma
Maria de Lourdes Manzini-Covre em seu livro “O que é cidadania?” Numa
constante briga com a burguesia no que se refere a forma do uso dos direitos
aplicados a sociedade na dominância de grupos sociais, o marxismo é base de
uma teoria usada para transformar a sociedade burguesa, expressando a ideia do
trabalho como forma de opressão e exploração. Marx (1818-1883) avança na
questão da cidadania ao ser sufocado por esta luta. (MANZINI-COVRE, 2013).
A denúncia de Marx vai de encontro a questão do trabalhador. Por exemplo, o
operário é obrigado a vender sua força e habilidades no trabalho, mas não escolhe
suas condições trabalhistas, percebendo que na maioria das vezes não tem o
retorno esperado nos aspectos de alimentação, educação, mobilidade e saúde, a
chamada exploração capitalista. Perceba que a influência do marxismo tem
impacto relevante na construção da lei em oferecer um melhor sistema de
trabalho, sendo que na ascensão do capitalismo se tem uma ideia de exploração
ao operário que trocava suas horas de trabalho por remunerações baixíssimas.
Agora você consegue perceber o ponto onde Marx quer chegar, é isso mesmo! O
sistema socialista, onde o estado perde forças e a sociedade trabalhadora que dita
o planejamento de todos ao trabalho e aos bens necessários a vida. Note que a
imagem do socialismo ideal é aparentemente linda, mas no leste Europeu este foi
destruído por suas próprias mazelas. Mas não podemos negar que o “poderoso”
Estado procura na atualidade se mostrar como um órgão de todos, porém no
fundo visa favorecer os que estão no poder.
Veja que todo esse ideal tem impacto na cidadania, que hoje é usada como arma
para combater a exploração do Estado, esse tipo de cidadania sempre é sufocada
pela cidadania pautada no consumo, herança capitalista, assim como a cidadania
mais plena é uma herança marxista, que de forma aparente é benéfica ao
trabalhador e a sociedade oprimida, mas que no fundo não funciona plenamente.
VOCÊ SABIA?
Educação, saúde, moradia, trabalho, lazer, esporte e segurança são
direitos garantidos a todos os cidadãos brasileiros pela Constituição
Federal de 1988. Ainda que na teoria isso seja de conhecimento, na
prática, esses direitos estão longe de serem garantidos pelo Estado,
fazendo com que uma parcela da população recorra aos serviços
privados, e a maioria simplesmente viva cotidianamente sem acessá-los,
ainda que a existência dos impostos seja justificada para garanti-los.
Na resistência a favor da vida e da dignidade da população excluída dos
meios de subsistência e integração social, o Brasil conta com extenso
número de movimentos sociais, sindicatos, associações e organizações
não governamentais, que atuam questionando e pressionando projetos e
leis aprovados e postos em prática pelos poderes legislativo, executivo e
também judiciário, visando a efetivação de políticas públicas e sociais que
de fato reconheçam a cidadania da maioria da população brasileira.
VOCÊ SABIA?
No Brasil foi instituída uma Comissão Nacional da Verdade (CNV), em
2011, durante o governo de Dilma Rousseff, para investigar violações aos
direitos humanos cometidos entre 18 de setembro de 1946 e 5 de
outubro de 1988, abarcando o primeiro período democrático do país
(1946-1964), a ditadura militar (1964-1984), o retorno à democracia
(1985) e a instituição da atual Constituição Federal (1988).
Figura 3 - Praticante de religião de matriz africana, que apesar de estar garantida pela
constituição brasileira, continuam sofrendo violência. Fonte: Vitoriano Junior,
Shutterstock, 2018.
Figura 4 - Dilma Rousseff foi, até o momento, a primeira e única mulher presidente do
Brasil (2011 a 2016). Fonte: Shutterstock, 2018.
Figura 5 - Mulher protestando em ato público pela garantia de direitos civis, políticos e
sociais. Fonte: arindambanerjee, Shutterstock, 2018.
VOCÊ O CONHECE?
O psiquiatra e filósofo martinicano, de ascendência francesa e africana, Franz Fanon (1925-
1961), escreveu sobre os efeitos do racismo na subjetividade de homens racializados e lutou
pela independência da Argélia. Suas obras “Pele negra, máscaras brancas” (1952) e “Os
condenados da terra” (1961) são referências dos estudos culturais e pós-coloniais.
Figura 6 - A capoeira é uma arte marcial brasileira, desenvolvida por africanos e brasileiros
escravizados e durante muito tempo sua prática foi proibida. Fonte: Val Thoermer,
Shutterstock, 2018.
Por décadas e mesmo nos dias atuais, o mito de que no Brasil não existem
conflitos raciais ainda é disseminado quando se deseja discorrer sobre a
sociedade brasileira. O problema é que ele mascara e invisibiliza a
realidade de grupos brasileiros (negros e indígenas), contribuindo assim
para a perpetuação de violências, desigualdades e segregações.
Síntese
Concluímos a unidade introdutória aprendendo que o conceito de
cidadão nem sempre abarcou todos os indivíduos de uma determinada
sociedade, assim como a consolidação dos direitos humanos continua
sendo um desafio diário, sobretudo, para minorias sociais.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
• aprender que a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948)
se constitui como o documento de referência para a implementação
dos direitos humanos nas constituições dos mais diversos países;
• estudar os percursos históricos para o surgimento da cidadania e a
garantia dos direitos humanos no contexto brasileiro, chamando
atenção para os desafios que persistem na consolidação da
igualdade e justiça social em nosso país.
Bibliografia