Uso Da Bandagem Elástica Associada Ao Tratamento
Uso Da Bandagem Elástica Associada Ao Tratamento
Uso Da Bandagem Elástica Associada Ao Tratamento
RESUMO
foi empregado em T0 e T1. Em T1 e T2 também foi atendimentos, a bandagem elástica Kinesio Tape em
incluída a percepção do fonoaudiólogo responsável tiras de 5,0 x 2,5 cm com stretch máximo na região
acerca da gravidade da sialorréia (Figura 2). da musculatura supra-hioidéa (ventre anterior do
Empregou-se ainda avaliação quantitativa por músculo digástrico e músculo milo-hióideo). Cada
meio da sialometria14,15 em T0, T1 e T2.Para tanto criança permaneceu dois dias consecutivos com a
foram empregados quatro roletes de algodão da bandagem aplicada antes da realização da troca
marca SS Plus, tamanho único, agrupados em do material, realizada pelo mesmo profissional,com
duas duplas para cada paciente. Cada dupla orientação para a não retirada intencional neste
foi depositada em um pote plástico (do mesmo intervalo.
tamanho, forma e peso). Esse conjunto foi então O tratamento fonoaudiológico foi realizado pelo
pesado, utilizando uma mini balança Scale digital o mesmo profissional, em duas sessões semanais,
Lcd 2000gr. O peso foi anotado para comparação com a utilização das mesmas técnicas, em todas
posterior. Os roletes de algodão foram depositados as crianças, para redução da sialorréia: crioterapia
no assoalho da boca, na região dos molares, um ,massagens indutoras,estimulação sensório motora
do lado esquerdo e outro do direito, tendo perma- oral e exercícios isométricos e isotônicos. Essas
necido por 2 minutos. O algodão embebido em técnicas terapêuticas auxiliam o desenvolvimento
saliva foi retirado e depositado no pote plástico, sensório motor oral, modificando os padrões
sendo pesado novamente. posturais e motores patológicos, facilitando as
Para garantir a confiabilidade dos dados essa posturas e movimentos normais16.
técnica foi aplicada duas vezes ao dia em dois dias A análise estatística foi realizada no software
distintos (com três dias de diferença entre cada MINITAB 14 por meio do teste de hipótese para
um), tendo-se realizado a média dos valores encon- diferença entre proporções, visando verificar se
trados. Em T1 esses dias constituíram o 27o e o 30o houve diferença na ocorrência das alterações
dia de uso. Para melhor compreensão da leitura, causadas pela sialorréia, nos ambientes mais
esse período foi denominado “30 dias após o uso”. frequentados e nos motivos de não sair. Para os
Os testes foram realizados no mesmo horário do resultados da sialometria foi realizada a média das
dia e com o período de jejum absoluto de 2 horas duas medidas feitas em cada dia e empregou-se o
anteriores, além da orientação para não escovar os teste não paramétrico Mann-Whitney. Foi adotado
dentes ou mascar gomas. o nível de significância de 5% (p<0,05) nos dois
Finalmente foi aplicada, por um período de casos.
30 dias, pelo fonoaudiólogo responsável pelos
Questionário
Nome: ____________________________________________________________________
DN: ______________________ Idade: ________________ Sexo: ( ) F ( ) M
- Percepção do fonoaudiólogo:
1. Houve redução da sialorréia? (1)sim (2)não
2. Grau redução: (0) ausente (1)leve (2) moderado
Tabela 1 – Comparação dos achados do questionário antes e 30 dias após a retirada da bandagem
elástica
T0 T1
Questões p-valor1
n % n %
Alterações decorrentes da sialorréia
Coceira 0 0,0 0 0,0 1,000
Vermelhidão/Alergia 3 27,3 1 9,0 0,586
Mau hálito 7 63,6 4 36,4 0,395
Engasgo com saliva 7 63,6 1 9,0 0,024*
Dificuldade para respirar 3 27,3 1 9,0 0,586
Dificuldade na alimentação 5 45,4 7 63,6 0,670
Substituição de dieta 3 27,3 3 27,3 1,000
Alteração vocal 3 27,3 3 27,3 1,000
Dificuldade nafonoterapia 11 100,0 11 100,0 1,000
Sai de casa com frequência
Sim 7 63,6 7 63,6 1,00
Não - Cansativo 4 36,3 4 36,3 1,00
Não - Excesso troca babadores 1 9,1 1 9,1 1,00
Não - Engasgos constantes 0 0,0 0 0,00 1,00
Não - Vergonha da sialorréia 0 0,0 0 0,00 1,00
Não - Incomodo 0 0,0 0 0,00 1,00
Legenda: 1 – Teste da hipótese para diferença entre proporções (p<0,05)
T0 – Período antes da aplicação da bandagem elástica
T1 -Período 30 dias após o uso da bandagem
Os resultados referentes à avaliação clínica de T1 em relação à T0, mas essa condição não se
perceptiva indicaram que em T0 a média de toalhas/ manteve em T2.
paninhos de boca utilizados diariamente era de
Em relação ao momento inicial, o fonoaudiólogo
quatro (10,2%), em T1 de duas (5,1%) e em T2 de
quatro (10,2%). considerou que houve redução da sialorréia 30 dias
Pelos valores encontrados na sialometria após o uso da bandagem, principalmente de grau
(Tabela 2), verificou-se baixo coeficiente de leve. Entretanto não se observou melhora ao se
variação, indicando que os dados são homogêneos. comparar os resultados 30 dias após o uso e três
De acordo com os dados (Tabela 3) houve redução meses sem a bandagem.
Sialometria T0 T1 T2
T0 - 0,018* 0,215
T1 0,018* - 0,050*
T2 0,215 0,050* -
Legenda:T0 – Período antes da aplicação da bandagem elástica
T1 -Período 30 dias após o uso da bandagem
T2 – Período de três meses após a retirada da bandagem
Teste de Mann-Whitney
T0 x T1 T1 x T2
Percepção do profissional
n % n %
Redução da sialorréia
Sim 8 72,7 0 0,0
Não 3 27,3 11 100
Grau de redução
Ausente 3 27,3 11 100
Leve 5 45,4 0 0,0
Moderado 3 27,3 0 0,0
Legenda:T0 – Período antes da aplicação da bandagem elástica
T1 -Período 30 dias após o uso da bandagem
T2 – Período de três meses após a retirada da bandagem
oclusais. É necessário verificar as características do meio externo com o meio interno com maior
de cada criança e integrar os fatos encontrados frequência. A saliva quando permanece estagnada
afim de facilitar procedimentos terapêuticos mais na cavidade oral por maior tempo favorece maior
adequados e acima de tudo avaliar se existe ou não proliferação de bactérias17. Ademais, essa é uma
a possibilidade de modificação. população que não possui autonomia para realizara
De acordo com aavaliação clínica perceptiva do higiene oral sozinho.
fonoaudiólogo e do responsável pela criança acerca Problemas na alimentação e deglutição podem
do grau de escape da saliva, observa-se que a acontecer quando lábios, língua e orofaringe estão
maior parte das crianças obtiveram redução impor- alterados por problemas anatômicos, congênito ou
tantedurante o uso da bandagem. Esse resultado adquirido. As alterações encontradas em pacientes
condiz com a literatura, a qual aponta que a maioria neurológicos normalmente estão relacionadas ao
das crianças apresentam esse benefício com o controle da deglutição. Caracterizam-se principal-
emprego da bandagem7. Porém essa redução não mente por alterações nas fases preparatória oral,
manteve-se após três meses de uso da mesma. oral e faríngea. Na fase preparatória oral observa-se
Estudos de seguimento não foram localizados na incapacidade no controle do alimento na cavidade
literatura. oral, resultando em escape extraoral e dificuldades
No que refere ao uso de paninhos de boca de vedamento labial devido também a diminuição
utilizados ao dia foi verificado que houve redução da percepção sensório motora. Na fase oral verifica-
no uso dos mesmos na maioria das crianças logo -se redução de reflexos orais e de movimentação
após a retirada da bandagem elástica. Na literatura de língua, perda prematura de saliva e alimento.
encontra-se dados que confirmam essa redução Na fase faríngea verifica-se diminuição da sensibi-
do uso de paninhos de boca utilizados ao dia após lidade faríngea, dificuldade na programação motora
aplicação de bandagem7. Assim como na avaliação e peristaltismo esofágico reduzido. Por todas essas
perceptual, os resultados não se mantiveram após alterações encontradas nas fases da deglutição há
a retirada da bandagem elástica. uma maior probabilidade de ocorrerem engasgos
Na avaliação objetiva foi utilizada a sialometria, com os alimentos e a própria saliva18.
que é um método mais preciso e que mensura a O uso da bandagem elástica tem sido cada vez
dosagem total de saliva produzida 14. Foi obtidare- mais comum na área da reabilitação, nesse estudo
dução significante em todas as crianças enquanto verificou-se o seu auxilio, durante a utilização, na
estavam em uso da bandagem, independente do diminuição da sialorréia. Entretanto foi possível
quadro neurológico. Após a retirada da bandagem, também constatar que os benefícios não perma-
essa medição não se manteve, havendo novamente necem, após três meses. De acordo com a literatura,
aumento do acúmulo de saliva na cavidade oral e técnicas de estimulação cutânea não possuem
consequente escape. efeito após a cessação do tratamento. Até agora,
O questionário aplicado aos responsáveis nenhuma das diversas modalidades de curativos e
contou com questões que englobaram saúde e vida bandagens aplicados externamente tiveram seus
social das crianças. No que se refere as alterações efeitos de tratamento mais prolongados17. Assim, a
causadas pela sialorréia constante, os dados técnica não dispensa a intervenção fonoaudiológica
obtidos apontam que a todas as crianças desse nesses casos.
estudo apresentam dificuldades na terapia fonoau- Estudos referentes ao uso da bandagem elástica
diológica, sendo esta a alteração mais frequente, são limitados. Esse trabalho é um estudo explo-
seguida de mau hálito e engasgos. ratório na área de Fonoaudiologia e o primeiro a
Os indivíduos que possuem algum tipo de utilizar de métodos objetivos de medição de escape
alteração neurológica normalmente apresentam de saliva e acompanhamento antes, durante e após
problemas orais não somente pelas características utilização da bandagem. Porém é de suma impor-
do seu quadro clínico, mas principalmente por terem tância a realização de outros trabalhos nessa área,
um escasso acesso à prevenção e tratamento especialmente com diferentes métodos de medição
na área odontológica. Dessa forma, a saúde oral do escape da saliva.
desses indivíduos necessita de cuidados diários
mais intensificados e sempre acompanhada por CONCLUSÃO
profissionais especializados.
A susceptibilidade dessas crianças a doenças A bandagem elástica se mostrou eficaz no
orais por si só favorece a halitose. Mas como controle da sialorréia30 dias após o uso, não sendo
esses indivíduos possuem sialorréia constante, a observada a permanência dos resultados três
boca permanece entreaberta propiciando contato meses após sua retirada.
ABSTRACT
Purpose: to verify the effectiveness of the use of elastic bandage associated with speech therapy to
control sialorrhea. Methods: a longitudinal study was conducted with eleven children with a condition
of chronic hypersalivation and neurological disorders. The perception of the speech therapists and
of the responsible as of the graveness and the number of mouth towels utilized per day. Sialometry
was also applied. Each participant received an application of the Kinesio Tape elastic bandage in
the supra-hiodea musculature for thirty days. The children were evaluated without the bandage (T0),
immediately after removal of the bandage (T1) and three months after (T2). The speech therapy
treatment was realized by the same professional in two weekly sessions. The data was analyzed
statistically. Results: it was verified in the questionnaire there was a reduction of complaints of saliva
choking in T1 (p=0.024). The average daily use of towels / cloths was of four (10.2%) in T0, two (5.1%)
in T1 and four (10.2%) at T2. According to sialometry, there was a reduction of drooling from T0 to
T1 (p=0.018) and no difference between T0 and T2 (p=0.215) and a raise from T1 to T2 (p=0.05).
According to the speech therapist perception there was a reduction in drooling after thirty days after
the use of the bandage, however no improvement was observed when comparing the results of thirty
days without usage and three months without the bandage. Conclusion: the taping has shown to
be effective in controlling sialorrhea during its use period, not being observed the permanence of the
results after interruption of its application.
15. Camargo AC, Pupo D, Filho IB. Sialometria. performance in healthy inactive people. J Med Biol
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http://dx.doi.org/10.1590/1982-021620149813
Recebido em: 02/06/2013
Aceito em: 10/08/2013