Matrizes Culturais Da Arte No Brasil
Matrizes Culturais Da Arte No Brasil
Matrizes Culturais Da Arte No Brasil
CULTURAIS
DA ARTE
NO BRASIL
MARIA SILVIA BIGARELI
Taubaté
Universidade de Taubaté
2017
Copyright©2017. Universidade de Taubaté.
Todos os direitos dessa edição reservados à Universidade de Taubaté. Nenhuma parte desta publicação pode ser
reproduzida por qualquer meio, sem a prévia autorização desta Universidade.
Administração Superior
Reitor Prof. Dr. José Rui Camargo
Vice-reitor Prof. Dr. Isnard de Albuquerque Câmara Neto
Pró-reitor de Administração Prof. Dr. Isnard de Albuquerque Câmara Neto (interino)
Pró-reitor de Economia e Finanças Prof. Dr. Mario Celso Peloggia (interino)
Pró-reitora Estudantil Profa. Ma. Angela Popovici Berbare
Pró-reitor de Extensão e Relações Comunitárias Prof. Dr. Mario Celso Peloggia
Pró-reitora de Graduação Profa. Dra. Nara Lucia Perondi Fortes
Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação Prof. Dr. Francisco José Grandinetti
Coordenação Geral EaD Profa.Dra.Patrícia Ortiz Monteiro
Coordenação Acadêmica Profa.Ma. Rosana Giovanni Pires
Coordenação Pedagógica Profa.Dra.Ana Maria dos Reis Taino
Coordenação de Tecnologias de Informação e Comunicação Wagner Barboza Bertini
Coordenação de Mídias Impressas e Digitais Profa.Ma.Isabel Rosângela dos Santos Ferreira
Coord. de Área: Ciências da Nat. e Matemática Profa. Ma. Maria Cristina Prado Vasques
Coord. de Área: Ciências Humanas Profa. Dra. Suzana Lopes Salgado Ribeiro
Coord. de Área: Linguagens e Códigos Profa. Dra. Juliana Marcondes Bussolotti
Coord. de Curso de Pedagogia Profa. Ma. Ely Soares do Nascimento
Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Gestão e Negócios Profa. Ma. Márcia Regina de Oliveira
Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Recursos Naturais Profa. Ma. Márcia Regina de Oliveira
Revisão ortográfica-textual Profa. Ma. Isabel Rosângela dos Santos Ferreira
Revisão técnica Profa. Ma. Renata Ap. de Freitas e Profa. Ma. Andréa M. G. Consolino
Projeto Gráfico Me. Benedito Fulvio Manfredini
Diagramação Bruna Paula de Oliveira Silva
Autor Maria Sílvia Bigarelli
Unitau-Reitoria Rua Quatro de Março,432-Centro
Taubaté – São Paulo CEP:12.020-270
Central de Atendimento:0800557255
Polo Taubaté Avenida Marechal Deodoro, 605–Jardim Santa Clara
Taubaté–São Paulo CEP:12.080-000
Telefones: Coordenação Geral: (12)3621-1530
Secretaria: (12) 3622-6050
Polo Ubatuba Av. Castro Alves, 392 – Itaguá – CEP: 11680-000
Tel.: 0800 883 0697
e-mail: [email protected]
Horário de atendimento: 13h às 17h / 18h às 22h
Polo São José dos Campos Av Alfredo Ignácio Nogueira Penido, 678
Parque Residencial Jardim Aquarius
Tel.: 0800 883 0697
e-mail: [email protected]
Horário de atendimento: 8h às 22h
Polo São Bento do Sapucaí EMEF Cel. Ribeiro da Luz. Av. Dr. Rubião Júnior, 416 – São Bento do
Sapucaí – CEP: 12490-000
Tel.:(12) 3971-1230
e-mail: [email protected]
Horário de atendimento: das 18h às 21h (de segunda a sexta-feira) / das 8h
às 12h (aos sábados).
ISBN: 978-85-62326-38-7
Bibliografia
Palavra do Reitor
Toda forma de estudo, para que possa dar certo,
carece de relações saudáveis, tanto de ordem
afetiva quanto produtiva. Também, de
estímulos e valorização. Por essa razão,
devemos tirar o máximo proveito das práticas
educativas, visto se apresentarem como
máxima referência frente às mais diversificadas
atividades humanas. Afinal, a obtenção de
conhecimentos é o nosso diferencial de
conquista frente a universo tão competitivo.
Bons estudos!
v
vi
Apresentação
Neste livro-texto estudaremos os traços estéticos culturais de diferentes povos na
formação da nossa arte: sincretismos e hibridismos das matrizes europeia, indígena e
africana, que constituem as características artísticas e culturais brasileiras.
Abordaremos a produção artística relacionada com a temática da cultura afro-brasileira e
indígena como parâmetros referenciais para o ensino de arte.
Apresentaremos também a instituição museológica e sua importância na preservação e
divulgação da arte brasileira, além de como podemos aprender e propor ações junto aos
programas educativos de museus e instituições culturais similares.
vii
viii
Sobre a autora
Maria Sílvia Bigareli é graduada em Artes Plásticas (Faculdade de Belas Artes de São
Paulo / SP), especializada em Arte Educação (ECA / USP/ SP), mestre em Multimeios
(UNICAMP) e doutora em Comunicação e Semiótica (PUC – SP).
Atua na área de Educação e Cultura (Patrimônio e Artes) em instituições formais e
informais de ensino, públicas e privadas e em Instituições Culturais (museus, fundações
culturais, casas de cultura) desde 1991. Principais atividades exercidas: direção do
Departamento de Cultura; ação cultural e educativa; organização, produção, pesquisa,
curadoria e montagem de exposições; elaboração e formatação de projetos culturais; ação
educativa do Museu de Antropologia do Vale do Paraíba; coordenação de programas de
formação cultural; roteirização, direção e produção de vídeos; docência (do infantil ao
terceiro grau); educação patrimonial. Serviços prestados a instituições como Fundação
Cultural de Jacarehy “José Maria de Abreu” – Museu de Antropologia do Vale do Paraíba,
Fundação Cultural Cassiano Ricardo; Fundação Patrimônio Histórico da Energia de São
Paulo, Museu do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, Universidade do Vale
do Paraíba - UNIVAP, Centro Universitário Claretiano, FAETEC.
ix
x
Caros(as) alunos(as),
Caros( as) alunos( as)
A estrutura interna dos livros-texto é formada por unidades que desenvolvem os temas e
subtemas definidos nas ementas disciplinares aprovadas para os diversos cursos. Como
subsídio ao aluno, durante todo o processo ensino-aprendizagem, além de textos e
atividades aplicadas, cada livro-texto apresenta sínteses das unidades, dicas de leituras e
indicação de filmes, programas televisivos e sites, todos complementares ao conteúdo
estudado.
Esperamos, caros alunos, que o presente material e outros recursos colocados à sua
disposição possam conduzi-los a novos conhecimentos, porque vocês são os principais
atores desta formação.
Equipe EAD-UNITAU
xi
xii
Sumário
Palavra do Reitor .............................................................................................................. v
Apresentação .................................................................................................................. vii
Sobre a autora .................................................................................................................. ix
Caros(as) alunos(as) ........................................................................................................ xi
Ementa .............................................................................................................................. 1
Objetivos........................................................................................................................... 2
Introdução ......................................................................................................................... 3
Unidade 1 – Vestígios ancestrais e matriz cultural indígena ...................................... 5
1.1 Arte pré-histórica: pinturas rupestres e outros vestígios arqueológicos ..................... 5
1.2 Arte indígena .............................................................................................................. 8
1.3 O indígena e a representação do imaginário estrangeiro .......................................... 15
1.4 Síntese da Unidade ................................................................................................... 16
1.5 Para saber mais ......................................................................................................... 17
1.6 Atividades ................................................................................................................. 17
Unidade 2 – Matrizes Culturais lusitana, africana e indígena: processos híbridos
na constituição cultural e artística do Brasil ............................................................. 19
2.1 Colonização portuguesa: arte religiosa escultórica .................................................. 19
2.2 Os africanos e os afro-brasileiros ............................................................................. 22
2.3 Hibridismo religioso e manifestações culturais e artísticas ...................................... 26
2.4 Matrizes musicais e suas manifestações culturais e artísticas...................................31
2.5 Síntese da Unidade ................................................................................................. 344
2.6 Para saber mais ....................................................................................................... 344
2.7 Atividades ............................................................................................................... 355
Unidade 3 – A Cultura afro-brasileira e indígena no ensino de arte ..................... 377
3.1 Visualizações do indígena e do afro-brasileiro na arte dos artistas estrangeiros:
Eckhout, Debret, Rugendas .......................................................................................... 388
3.2 Visualizações do indígena e dos afro-brasileiros na arte de Victor Meirelles,
Almeida Júnior, Portinari, Tarsila do Amaral .............................................................. 455
3.3 A Cultura afro-brasileira e indígena na contemporaneidade .................................... 50
3.4 Síntese da Unidade ................................................................................................... 54
xiii
3.5 Para saber mais ......................................................................................................... 54
3.6 Atividades ................................................................................................................. 54
Unidade 4 – O Processo museológico .......................................................................... 55
4.1 Memória e Identidade ............................................................................................... 55
4.2 Documentação, pesquisa, conservação, restauro e curadoria ................................... 58
4.3 Exposição e ação educativa ...................................................................................... 63
4.4 Síntese da Unidade ................................................................................................... 66
4.5 Para saber mais ....................................................................................................... 666
4.6 Atividades ................................................................................................................. 66
Unidade 5 – Aprendendo nos museus ....................................................................... 698
5.1 Aprendendo a aprender nos museus ......................................................................... 69
5.2 Exemplo de atividade: leituras de imagens .............................................................. 72
5.3 Exemplo de atividade: recriando a partir do acervo ................................................. 75
5.4 Brincando de arqueólogo .......................................................................................... 76
5.5 Síntese da Unidade ................................................................................................... 78
5.6 Atividades .............................................................................................................. 787
Referências ..................................................................................................................... 78
Referências Complementares ......................................................................................... 79
xiv
Matrizes Culturais da
Arte no Brasil ORGANIZE-SE!!!
Você deverá dispor
de 3 a 4 horas para
estudar cada Unidade.
Ementa
EMENTA
1
Objetivo Geral
Objetivos Específicos
2
Introdução
O presente Livro-texto, Matrizes culturais da arte no Brasil, busca ampliar o olhar do
aluno sobre as questões envolvidas no processo de formação da nossa arte, tomando a
produção artística relacionada com a temática da cultura afro-brasileira e indígena como
parâmetro referencial para o ensino de arte.
A Unidade 1, Vestígios ancestrais e matriz cultural indígena, tem como objetivo levar
o estudante a refletir sobre nossa cultura material mais remota, por meio dos vestígios
arqueológicos encontrados em nosso país nas suas mais diversas regiões, apresentando
exemplares da produção artística indígena (pré-histórica e histórica) e discutindo a
representação do indígena sob o olhar estrangeiro, revelando um Brasil imaginário.
3
patrimônio cultural transformem-se em herança, na medida em que são alvo de
preservação e comunicação.
4
Unidade 1
Unidade 1 – Vestígios ancestrais e matriz cultural
indígena
Esta primeira unidade da disciplina Matrizes Culturais da Arte no Brasil tem como
objetivo refletir sobre nossa cultura material mais remota, por meio dos vestígios
arqueológicos encontrados em nosso país nas suas mais diversas regiões. Também
analisaremos exemplares da produção artística indígena (pré-histórica e histórica), e, por
fim, analisaremos a representação do indígena sob o olhar estrangeiro, revelando um
Brasil imaginário.
5
segundo a diversidade temporal e também utiliza testes físico-químicos na busca de
datações cronológicas mais precisas.
Figura 1.1 – Pintura rupestre – Parque Nacional da Serra da Algumas pinturas do sítio
Capivara. Dominio público. Disponível em:
<https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=29962
Boqueirão da Pedra Furada, no
386>. Acesso em 08.mar.2017. Piauí, foram datadas entre 12.000 e
29.000 anos atrás.
A datação dos sítios do Piauí ainda provoca grandes discussões na área da arqueologia,
pois coloca em questão a chegada da ocupação humana nas Américas, assunto de grande
debate e polêmica.
6
Outro significativo sítio
arqueológico com registros de
pinturas rupestres localiza-se na
região norte (Caverna Pintada –
PA), com cerca de 11.000 anos.
São muitos os patrimônios de arte rupestre no Brasil, que tornam nosso país um dos mais
extensos conjuntos do mundo, com aproximadamente 2.000 sítios arqueológicos. Porém,
são quase desconhecidos da grande maioria e muitos estão sofrendo ataques de
vandalismo, fazendo-se, portanto, necessárias ações imediatas de educação e preservação
do nosso patrimônio artístico e cultural, o que potencializará o conhecimento, o turismo
e o desenvolvimento da nação. O Parque Nacional da Serra da Capivara (Piauí), que
recebe anualmente 10.000 visitantes com acompanhamento de guias capacitados é um
exemplo dessa possibilidade.
Policromia
Outra cerâmica excepcional é a “de
Termo utilizado em arte para designar as camadas Santarém”, da cultura tapajônica (região
pictóricas compostas com mais de uma cor.
Construídas com uma cor, são denominadas de amazônica), com objetos datados entre
monocromáticas.
900 e 1.200 anos. Destacam-se os
magníficos vasos cerimoniais, entre eles os
denominados “cariátides”, que têm esse nome
devido ao prato ser suportado por três figuras
Figura 1.4 – Urna marajoara de tipo “joanes femininas. Geralmente, têm decoração
pintado”. Por Marie-Lan Nguyen (2011), CC
BY 2.5. Dominio público. Disponível em: antropomórfica (formas humanas) e
<https://commons.wikimedia.org/w/index.php?
curid=14657612>. Acesso em 13 mar.2017. zoomórfica (formas de animais). A técnica
Figura 1.5 – Vaso “de Cariátides”. Cerâmica tapajônica, Acervo Cultura de Santarém (Museu Nacional
do Brasil). Foto Dorniche/ Domínio Público.
Disponível em: < https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cultura_Santar%C3%A9m_-
_Vaso_de_cari%C3%A1tides_MN_03.jpg >.
Acesso em 31 mar.2017.
10
É dessa cultura também as conhecidas muirakitãs, adornos (amuletos) em forma de
sapos (rã), feitos predominantemente de pedras verdes.
11
Grande parte dos vestígios cerâmicos encontrados são objetos utilitários (vasilhas,
tigelas) e urnas funerárias (igaçabas). Embora existam diferenças decorativas de cultura
para cultura, as cerâmicas apresentam características semelhantes, tais como a técnica
construtiva e a forma (como, por exemplo, as urnas funerárias, inspiradas na forma da
cumbuca da sapucaia).
As urnas da tradição tupi-guarani, assim com as da tradição aratu (e tantas outras), são
confeccionadas basicamente a partir da técnica do acordelamento, na qual os cordões de
barro se sobrepõem e constituem a “parede” do objeto. Essa técnica é utilizada pelos
ceramistas até hoje e também pelas tradicionais paneleiras (mulheres artesãs que
12
trabalham com cerâmicas utilitárias pelo Brasil afora), herança indígena preservada pela
cultura popular.
Além da atividade ceramista, o artesanato indígena preserva até os dias atuais a cestaria,
os objetos de adorno, a arte plumária (mantos, cocares, vestimentas) etc.
Cabe ressaltar que, para o indígena, a arte não é uma “modalidade”, um campo de saber
específico, mas sim um elemento vital completamente integrado aos afazeres cotidianos
e às cerimônias ritualísticas.
13
Figura 1.10. Pintura corporal e arte Figura 1.11. Índio bororo com cocar e
plumária Assurini. Domínio público. pintura corporal. Por Valter Campanato.
Disponível Disponível em:
em:<https://commons.wikimedia.org/ <https://commons.wikimedia.org/w/index.p
w/index.php?curid=10054837>. hp?curid=3191385>. Acesso em 11 maio
Acesso em: 11 maio 2017. 2017.
Cada gesto, cada cor, cada elemento estético carrega em si um símbolo, uma fala, um elo
associativo entre as vivências naturais e sobrenaturais.
A pintura corporal da população indígena Wajãpi, do Amapá, bem como sua arte gráfica
(desenhos, entalhes, tecelagens, pinturas de objetos), é denominada arte Kusiwa. Essa
arte revela o entrelaçamento entre as atividades estéticas e outras áreas da comunidade.
Os padrões vão muito além de funções decorativas, preservando, no fazer, o saber
ancestral da identidade da tribo, assim como sua cosmologia, suas crenças e práticas de
cura e transcendência.
Por meio da preservação desse modo de fazer pintura (tradição transmitida oralmente),
foi possível um amplo registro dessa arte. Sua preservação fica a cargo do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
14
Assim como a pintura, a arte plumária encerra em cada cor, em cada disposição das penas
e plumagens uma forma de comunicação,
que contém informações sobre posições de
hierarquia perante a comunidade. Enfim,
nada é aleatório e sim simbólico: forma,
disposição, cor, função (ritos de guerra,
morte, celebrações da vida etc).
maioria das vezes, a música era executada através de instrumentos de sopro e percussão,
marcando o rítmo das danças indígenas.
15
propiciaram a criação de representações de uma América imaginária, fantasiosa,
fantástica, como podemos observar na pintura abaixo:
A imagem mostra, uma alegoria, uma figuração que revela exotismo, exuberância,
abundância, remetendo-nos a um
paraíso tropical ambientado em
templos com colunas gregas. Os
indígenas lembram europeus, com
pele mais escura.
O encontro entre matrizes culturais tão diversas (indígena e lusitana) provocou choques,
lutas, conflitos. O início de uma mescla entre essas matrizes é que constitui a configuração
do povo brasileiro, como veremos a seguir.
16
Para isso precisamos conhecer mais, e assim diminuir o estereótipo sobre estas
populações, tão diversas e distintas.
Visite o site e faça um passeio virtual no paredão da Toca do Boqueirão da Pedra Furada,
apreciando os primeiros registros da arte brasileira. Acesse:
http://www.itaucultural.org.br/arqueologia/
O site do museu paraense Emílio Goeldi mostra o grande acervo das culturas indígenas
da região amazônica. Acesse: http://www.museu-goeldi.br/portal/
1.6 Atividades
Para avaliar a aprendizagem, vamos refletir um pouco sobre as seguintes questões e como
podemos trazê-las para o ambiente escolar.
17
2- A arte indígena é entrelaçada com a vida das populações, indissociável dos
hábitos, crenças, ritos, celebrações e memórias da comunidade. Um dos avanços
significativos de políticas públicas do patrimônio cultural foi a inserção, pelo
IPHAN, da cultura imaterial como elemento de preservação. Por meio dessa
forma de preservação, podemos registrar e proteger legalmente os saberes, os
modos de produção, as formas de fazer, os lugares, as manifestações expressivas
da arte indígena.
Considerando-se o exposto, que ações podemos desenvolver para levar a cultura
indígena para nossas aulas, ponderando sua extrema diversidade e significado
simbólico?
18
Unidade 2
Matrizes Culturais (lusitana, africana,
Unidade 2 –
Nesta Unidade, temos como objetivo refletir sobre os processos híbridos, isto é, sobre a
mescla, a mistura, a miscigenação das diversas raças que constituem a sociedade
brasileira. Já vimos na Unidade anterior aspectos da cultura indígena, de modo que
enfatizaremos aqui a presença e a influência das populações portuguesa e africana nas
manifestações culturais e artísticas do nosso país.
Um dos mais relevantes representantes dessa arte é frei Agostinho da Piedade (1580 –
1661). Nascido em Portugal, veio muito cedo para o Brasil e ingressou no Mosteiro de
São Bento, em Salvador. São atribuídas a ele cerca de trinta esculturas em barro cozido.
20
Figura 2.2 - Nossa Senhora da Purificação
(primeira metade do séc. XVII). Escultor: Frei
Agostinho de Jesus. Acervo: Museu de Arte Sacra de Figura 2.3 - Nossa Senhora da
São Paulo. Foto: Dornichie. Domínio Público. Conceição Aparecida. Acervo Santuário
Disponível em: <
Nacional de Nossa Senhora da
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Frei_Agostin
ho_de_Jesus_- Conceição Aparecida. Domínio Público.
_Nossa_Senhora_da_Purifica%C3%A7%C3%A3o.jpg Disponível em: <
>. Acesso em 15 mar. 2017 https://commons.wikimedia.org/wiki/File:NS
_Aparecida.png > Acesso em 22 ago. 2010.
O século XVII, caracterizado por uma arte escultórica na qual predominou o barro, é
conhecido como século de “ouro”, período em que a arte imaginária também registra e
21
materializa a riqueza dourada encontrada no país. Esculturas em madeira, sob a influência
dessa arte, também ganharam leveza e movimento, inaugurando o período barroco no
Brasil.
22
No século XVIII, em meio à riqueza da mineração, o filho mulato de um arquiteto e
mestre de obras português com uma de suas escravas torna-se o mais importante artista
do período colonial brasileiro – Aleijadinho (Antônio Francisco Lisboa, 1730 – 1814),
natural de Vila Rica (atual Ouro Preto). Assim como o pai, foi arquiteto, escultor e
entalhador. Na cidade onde nasceu se encontra um dos seus principais projetos, a igreja
de São Francisco de Assis. Também se destacam no imenso conjunto de sua obra as
sessenta e seis esculturas em cedro dos Passos da Paixão e os Doze Profetas em pedra
sabão, no Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo, Minas
Gerais.
Figura 2.4 - O Carregamento da Cruz (O Salvador das formas. Ao lado, sua obra O
Carregando o Madeiro). Aleijadinho. carregamento da cruz: (1796 – 1799),
Domínio Público.
Disponível em: < em madeira policromada.
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Aleijadinho_
01.jpg > Acesso em: 31 mar. 2017
23
Figura 2.5 - O carregamento da cruz, em detalhe.
Foto Ricardo André Frantz. Domínio Público. Figura 2.6 - Profeta Jonas (Adro da
Disponível em: < Basílica de Congonhas), 1800 – 1805, em
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Aleijadinho pedra-sabão. Santuário do Bom Jesus de
_-_Detalhe_de_Jesus_-_Carregamento_da_cruz_4_- Matosinhos (Congonhas do Campo, MG).
_Santu%C3%A1rio_do_Bom_Jesus_de_Matosinhos_- Foto Luis Rizo. Domínio Público
_Congonhas.jpg > Disponível em: <
Acesso em 31 mar. 2017 https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jonas
Profeta.jpg >
A escultura do artista apresenta as Acesso em 30 mar. 2017
seguintes características: olhos
espaçados, nariz reto e alongado, lábios
entreabertos, queixo pontiagudo, pescoço
alongado em forma de v.
Muitos outros artistas afro-brasileiros, de igual relevância aos que mencionamos aqui,
não pertenciam ao convívio social da religião oficial, o catolicismo, razão pela qual
permaneceram anônimos.
Nas senzalas, a memória das raízes africanas persistiu e resistiu à cultura do colonizador.
De boca em boca, de pais para filhos, a tradição oral transmite até hoje a herança dos
ancestrais.
25
2.3 Hibridismo religioso e manifestações culturais e artísticas
A cultura africana resistiu através dos tempos nos poucos espaços encontrados para
manifestações de suas expressões. Proibidos de cultuarem suas devoções e obrigados
pelos senhores de escravos a abraçar a religião católica, a população afro-brasileira, com
objetivo de cultuar os orixás, associou seus deuses aos santos católicos. Assim, Yansã
equivale a Santa Bárbara, Ogum a Santo Antônio ou São Jorge (conforme as variações
procedentes da diversidade geográfica).
A população negra também acolhe e participa das irmandades relacionadas a sua etnia,
tais como as irmandades de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito.
28
Aprontem pés e canelas Como vós os pretos dançam
Que os embrancos querem ver
A maioria das congadas, hoje, no Brasil, corresponde a simples cortejos com música e
dança. Os negros da região sudeste descendem predominantemente das etnias
africanas bantu, trazidas do Congo, Angola e Moçambique para trabalhar nas muitas
fazendas de café do Vale do Paraíba - SP. Em São Paulo, temos a presença de
congadas, marujadas e moçambiques, que se apresentam principalmente nas festas de
São Benedito e do Divino Espírito Santo. Muitas são verdadeiras orquestras de
percussão, compostas com cerca de trinta tambores, além de pandeiros e caixas. Seus
cantos falam de lendas e mitos relacionados as suas histórias, como, por exemplo, este
trecho da Congada de Santa Ifigênia em Mogi das Cruzes, segundo Dias (2003):
29
Cabe encerrar com o samba de roda, patrimônio genuíno afro-brasileiro, manifestação-
símbolo do nosso país. O Samba de Roda do Recôncavo Baiano foi inscrito em 2004 no
livro de registro das Formas de Expressão do Patrimônio Imaterial Brasileiro (IPHAN).
Em 2005, obteve o título de obra-prima, outorgado pela United Nations Educational,
Scientific and Cultural Organization (UNESCO). Expressão musical, coreográfica e
poética, o Samba de Roda está presente em todo o Estado da Bahia e tem inúmeras
variantes expressivas.
Figura 2.9 Samba de roda. Secretaria de Cultura e Turismo da Bahia. Foto para
divulgação. Disponível em: <http://www.bahia.com.br/viverbahia/cultura/samba-de-
roda/#>. Acesso em 11.maio 2017.
30
2.4 Matrizes musicais e suas manifestações
As manifestações musicais no Brasil – e aqui incluímos música instrumental, cantada,
dança e até teatro – têm início com os primeiros habitantes da terra, os aborígenes que
aqui viveram desde a pré-história, como atestam as escavações arqueológicas em diversas
regiões do país. Segundo Almeida e Pucci (2003), à época da chegada dos portugueses
estima-se que havia entre 3 a 5 milhões de nativos, distribuídos em 1400 tribos.
Ainda de acordo com Almeida e Pucci (2003), não se deve falar em influência da música
indígena na música brasileira, uma vez que a música indígena é a naturalmente brasileira.
As autoras sugerem que se apontem aspectos da música brasileira que são reflexos ou
marcas da cultura indígena, como o timbre anasalado do canto, que diferencia o canto
brasileiro do de Portugal, alguns instrumentos como maracás e flautas e algumas danças
(como o Caboclinho, que tem lugar em Pernambuco, à época do Carnaval).
31
Almeida e Pucci (2003), citando Mário de Andrade, lembram que os portugueses não
influenciaram a formação de nossa nacionalidade; antes, eles mesmos a criaram. As
autoras destacam a presença portuguesa na formação de nossas tradições e costumes,
chegando até a música; mas, com o passar dos séculos, a música brasileira adquiriu seu
próprio ethos ou caráter, havendo hoje uma interatividade entre músicos brasileiros e
portugueses.
Apesar da ênfase dada ao fado, fazem parte da tradição musical portuguesa gêneros como
as baladas épicas, cantos de trabalho em terças paralelas, danças como o fandango, a
chula, romances e villancicos (canções de natal), cantos de pastoras que variam do
religioso ao profano e modinhas seresteiras, românticas e apaixonadas. (ALMEIDA;
PUCCI, 2003)
Entre as influências da música portuguesa nos gêneros brasileiros, Almeida e Pucci (2003,
p. 77) apontam “o perfil melódico-harmônico e a quadratura estrófica das canções, vários
instrumentos musicais – principalmente os de cordas -, a forte influência dos folguedos
populares nas nossas festas e danças e em alguns dos nossos gêneros musicais” , como os
folguedos, pastoris, reisados, bumba-meu-boi e cirandas.
Mas a grande marca na formação da matriz musical brasileira foi deixada pelos africanos.
Trazidos como escravos, vindos de tribos, etnias e culturas diferentes, os africanos que
sobreviveram à penosa travessia oceânica, feita em condições desumanas, chegavam ao
Brasil e aqui eram separados de suas famílias, vendidos como mercadorias e trabalhavam
do nascer ao por do sol.
Assim, seu canto era uma forma de expressar a saudade da terra natal, a falta dos entes
queridos, o sofrimento físico e psicológico a que eram submetidos. O canto do trabalho,
o canto das festas nas senzalas, acompanhados do bater dos tambores que lhes remetiam
32
às lembranças de sua terra, constituíam-se em manifestações que influenciariam de
maneira decisiva a formação do caráter da música popular brasileira.
Almeida e Pucci (2003, p 94) citam as diversas manifestações culturais recriadas, pouco
a pouco, em um processo de resistência e acomodação à nova situação cultural: “o
caxambu ou jongo, a capoeira, o maracatu, o batuque, o bambelô ou zambê, o samba de
aboio, o tambor de crioula, o carimbo e o candomblé – que foram transmitidas de geração
para geração desde os tempos da escravidão e permanecem vivas não apenas na memória,
mas continuam sendo praticadas pelos brasileiros tanto de origem africana como de
origem europeia.”
Em meados do século XIX, surge nos subúrbios da então capital do Brasil, Rio de Janeiro,
um novo tipo de música que será cultivada por muitas gerações: o choro, nossa primeira
manifestação musical urbana. Executado ao piano, ao cavaquinho ou por orquestras de
choro, era a princípio uma maneira de se interpretar as melodias populares europeias
(polcas, valsas, mazurcas e outras) que chegavam por aqui, mas depois ganha caráter
próprio e conquista o gosto popular, tendo em Pixinguinha sua maior expressão.
Da fusão da “modinha” portuguesa (canção suave, tocada na viola) com o lundu africano
(samba de umbigada das senzalas), surgiu o primeiro ritmo naturalmente brasileiro, o
maxixe, nossa primeira dança urbana, contemporânea do choro. Grandes nomes como
Chiquinha Gonzaga escreveram maxixes que eram executados por orquestras de choro
ou “chorões.
Ainda nessa época encontramos o chamado “tango brasileiro”, uma espécie de maxixe
mais comportado, imortalizada ao piano pelas composições de Ernesto Nazaré.
Para apreciar mais obras de frei Agostinho da Piedade e de outros artistas, faça uma visita
virtual ao Museu de Arte Sacra da Bahia, da Universidade Federal da Bahia, e também
ao Museu de Arte Sacra de São Paulo por meio dos sites disponibilizados abaixo:
http://www.agendartecultura.com.br/museu-de-arte-sacra-da-bahia/
http://www.museuartesacra.org.br
No site abaixo, você pode apreciar mais obras de Aleijadinho (Museu do Aleijadinho).
<http://www.starnews2001.com.br/aleijadinho.html>
2.7 Atividades
Você sabe que em Salvador há uma igreja para cada dia do ano? Ou seja, são cerca de
350 igrejas. Há aproximadamente 1500 terreiros cadastrados, natural para uma cidade
onde 80% da população são de descendência africana.
35
Diante disso, considerando que riqueza cultural nos sobra, o que podemos fazer em prol
da construção de uma nação mais justa socialmente?
36
Unidade 3
Unidade 3 – A Cultura afro-brasileira e indígena no
ensino de arte
Nesta Unidade, veremos exemplares da produção de diversos artistas que retratam o tema
e refletem sobre ele e podem subsidiá-lo como conteúdo e prática. É muito vasta a
referência contida na história da arte brasileira, de modo que focaremos artistas
emblemáticos de diversos períodos e contextos.
37
3.1 Visualização do indígena e do afro-brasileiro na arte dos
artistas estrangeiros: Eckhout, Debret, Rugendas
O processo de colonização e aculturação dos nativos se inicia com a chegada ao Brasil-
Colônia (1549-1808) dos Jesuítas, membros da Companhia de Jesus de Portugal, que
vieram para catequizar os índios e também os colonos. Além do ensino informal, os
Jesuítas introduziam o ensino da música e o teatro como instrumento de catequização e
educação.
38
Albert Eckhout (1610 – 1666) veio ao Brasil
em 1637 a convite de Maurício de Nassau
(governador geral do Brasil holandês) e por
sete anos produziu registros sobre nossa
fauna, nossa flora e nosso povo. Frans Post,
pertencente ao mesmo grupo de Eckhout,
veio para cá para pintar paisagens e cenas de
batalhas. As obras de Eckhout mais
conhecidas são as de gênero natureza-morta e
É sempre com olhar crítico que devemos observar a produção desse e de outros artistas
estrangeiros que estiveram no Brasil para, assim, conhecermos o nosso país. Ficção e
realidade compõem nossa paisagem, nossos rostos, nossas cores.
Além dos indígenas, Eckhout retratou os mestiços, a mistura das etnias e os africanos.
Figura 3.4 - Homem Mestiço - s.d. - óleo Figura 3.5 - Mulher Africana, 1641. Óleo
sobre tela 274 x 170 cm – Albert Eckhout. sobre tela - 267 x 178 cm. Albert Eckhout.
Acervo Museu Nacional da Dinamarca. Acervo Museu Nacional da Dinamarca.
Domínio Público. Domínio Público.
Fonte:< Fonte: <
https://commons.wikimedia.org/wiki/Albert_Ec https://commons.wikimedia.org/wiki/Albert_Eckh
khout#/media/File:MulatoAE.jpg > out#/media/File:Mulher_Africana.jpg >
Acesso em 30 mar. 2017 Acesso em 30 mar. 2017
40
Foram muitos os artistas e cientistas que realizaram expedições no Brasil desde as
primeiras décadas da colonização, como já vimos. Alguns anos após a instalação da corte
portuguesa no país, a queda de Napoleão e o restabelecimento das relações entre Portugal
e França possibilitaram a chegada da Missão Artística Francesa no Brasil. Dentre as
principais funções dos artistas franceses, estava a incumbência da fundação da Academia
Imperial de Belas Artes, além das atribuições de registro histórico da realeza, dos fatos e
da paisagem brasileira. O grupo aportou no Rio de janeiro em 26 de março de 1816,
liderado por Joaquim Lebreton. Dentre os artistas mais conhecidos estavam Jean Baptiste
Debret, pintor histórico, e Nicolas-Antoine Taunay, pintor de paisagens e cenas históricas.
Debret (1768 – 1848) teve como seu professor de artes o pintor emblemático do
neoclassicismo francês Jacques-Louis David (1748 – 1825), expressando em suas
pinturas esse estilo. Embora suas obras, sob essa influência, sejam notáveis e
significativas, é nas aquarelas e litografias que ele registra os tipos e o cotidiano da
população brasileira. Quando falamos das pinturas de Eckhout e Debret, percebemos
maior fidelidade no registro. Trata-se de outros tempos, outro contexto.
Figura 3.6 – Família de um Chefe Camacã. Figura 3.7 – Real Teatro de São João – Rio
Debret. Domínio Público. Disponível em: < de Janeiro. Debret. Domínio Público.
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Debret37 Fonte: <
.jpg >. Acesso em: 02 abr. 2017. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:RealTea
troSJoao-Debret-1834.jpg>
Acesso em 31 mar. 2017
41
De 1826 a 1831, Debret foi professor
de pintura histórica na Academia
Imperial Brasileira de Artes (AIBA),
fundada em 1826. Ele exerceu essa
atividade paralelamente às suas viagens
para várias cidades do Brasil, registrando
a nossa terra. Muitas cidades, vilas e
Figura 3.8 - O Caçador de Escravos –
caminhos foram perpetuados pelas suas
1825 - óleo sobre tela - 80 x 112 cm .
Acervo: Museu de Arte de São Paulo. aquarelas. Geralmente, são desenhos de
Domínio Público.
Fonte: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean- pequenas dimensões, devido à imposição
Baptiste_Debret#/media/File:Jean_baptiste_d
ebret_-_ca%C3%A7ador_escravos.jpg > dos modos de transporte realizados em
Acesso em 31 mar. 2017 lombo de animais pelo Brasil afora.
Esses estudos e essas observações foram
pontos de partida para criação das
ilustrações litográficas presentes na
publicação do seu livro Viagem
pitoresca e histórica ao Brasil (1834 -
1839).
Partindo das obras de Debret, podemos
propor muitas atividades com nossos
alunos para trabalhar a cultura indígena,
Figura 3.9 - Um engenho de cana- assim como a afro-brasileira. O
de-açúcar em Pernambuco colonial,
retratado pelo pintor neerlandês Frans
fundamental é apresentar a atividade com
Post (século XVII). Domínio público. uma linguagem que esclareça e diminua
Disponível em:
<https://upload.wikimedia.org/wikipe os preconceitos e estereótipos.
dia/commons/e/ec/Engenho_com_cap
ela.jpg>. Acesso em 03 maio 2017.
42
Incluir outras linguagens como complemento à leitura de imagens pode ser bastante rico,
tais como poesias, contação de mitos, audição de músicas, integrando as modalidades
artísticas para compor um cenário mais rico da estética em questão.
Ao registrar os afro-brasileiros, o artista francês não esconde a crueldade a que eles eram
submetidos, como podemos ver nas representações dos castigos e das torturas ou
43
Expedição Langsdorff. Apesar de abandonar o grupo em 1824, ele continuou sozinho a
registrar as características de nosso país: população brasileira, tipos étnicos, fauna, flora,
enfim, os mais variados aspectos significativos do nosso contexto histórico e cultural.
.Assim como Debret,
Rugendas trouxe-nos muitas
referências visuais e temáticas
para discussão de nossas
matrizes culturais, tais como
sobre a catequese cristã de
índios, a escravização de
índios e negros, a dominação e
Figura 3.13 - Navio Negreiro. Rugendas. Acervo: Museu Itaú a hegemonia europeia.
Cultural. Domínio Público. Fonte: <
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Navio_negreiro_-
_Rugendas_1830.jpg > Acesso em 31 mar. 2017.
44
3.2 Visualizações do indígena e do afro-brasileiro na arte de
Victor Meirelles, Almeida Júnior, Portinari e Tarsila do Amaral
A AIBA foi cenário importante na formação de muitos outros significativos artistas
nacionais. Victor Meirelles e Almeida Júnior são dois grandes exemplos.
Victor Meirelles de Lima (1832 – 1903), natural de Nossa Senhora do Desterro, atual
Florianópolis, mudou-se para o Rio de Janeiro para cursar pintura histórica na academia.
Premiado com uma viagem para o exterior, Meirelles estudou na Itália e na França.
Quando retornou ao Brasil, foi
nomeado professor na academia
da qual fora aluno, no Rio de
Janeiro.
Uma de suas obras mais
emblemáticas é a primeira missa
no Brasil, que, em 1861, foi
aceita com reverência pelo júri do
Salão de Paris (exposição oficial
de grande concorrência, em que
Figura 3.15 - Primeira Missa no Brasil -1860 –Óleo sobre
tela. Victor Meirelles. Acervo: Museu Nacional de Belas Artes. os artistas são selecionados por
Domínio Público.
Fonte: < https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Meirelles- um corpo de jurados), fato ainda
primeiramissa2.jpg > Acesso em 31 mar. 2017
inédito por artistas brasileiros. O
artista leu documentos históricos,
como a carta de Pero Vaz de
Caminha, para a criação dessa
pintura, compreendendo a tela
uma visão clara e idealizada do
fato histórico. A obra foi
amplamente difundida por meio
de reproduções em livros de história e arte, selos, cédulas monetárias, cadernos escolares
etc.
47
O século XX caracteriza-se pelas grandes
transformações industriais, tecnológicas e
artísticas. As vanguardas europeias sobrepõem-se
com velocidade, enquanto no Brasil as mudanças
são gradativas. A Semana de Arte Moderna
movimenta os artistas que querem inovar os
fazeres. A busca por uma nova estética continua
cada vez mais intensa, registrada nos movimentos
Figura 3.19 - Negra (1891) - óleo sobre
tela - 37 x 25 cm Almeida Júnior. Domínio culturais da cidade de São Paulo.
público. Disponível em:
<https://commons.wikimedia.org/wiki/File: O homem mais influente desse período é Mário de
Almeida_J%C3%BAnior_-
_Negra,_1891.jpg> Acesso em 31 mar. 2017 Andrade (1893 – 1945). Escritor, poeta,
romancista, intelectual, crítico de arte e musicólogo, foi extremamente importante como
incentivador da valorização da nossa cultura popular, do nosso folclore, das nossas raízes.
Pesquisou com muita disciplina um vasto repertório de músicas e danças folclóricas do
país, transformando-se numa das figuras intelectuais mais significativas da nossa história
cultural. Foi também o primeiro secretário de cultura do município de São Paulo e o
criador do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o SPHAN, atual IPHAN
(Ministério da Cultura).
Seu romance mais famoso, Macunaíma, é reconhecido como uma das obras centrais da
literatura brasileira do século XX. Nele estão nossas raízes, nossas matrizes, nossa
cultura.
Seu retrato foi pintado por muitos de seus grandes amigos, como Tarsila do Amaral, Lasar
Segall, Flávio de Carvalho, Cândido Portinari.
48
Portinari (1903 – 1962) também é presença
obrigatória neste material, pois sua obra
registra a cultura afro-brasileira como
construtora e sígnica da marca, da identidade
de nossa terra. É com suas figuras humanas
de negros (com seus braços fortes e pés
agigantados) que ele conquistou o primeiro
prêmio brasileiro de arte moderna no exterior
com uma de suas pinturas. A tela Café recebe
a premiação em 1935, do Carnegie Institute
de Pittsburgh.
Figura 3.20 - Busto de Mário de Andrade,
domínio público. Disponível em:
<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Bust
o_de_M%C3%A1rio_de_Andrade_(562170535
4).jpg >. Acesso em: 03 de Abr. 2017.
Figura 3.21 - O Lavrador de Café (1934) - óleo sobre tela - 100 x 81 cm - reprodução
fotográfica Paulison Miura. Dominio Público.
Fonte: < https://www.flickr.com/photos/paulisson_miura/18001978694 >
Acesso em 30 mar. 2017
Na pintura O Lavrador de Café, a ênfase nos tamanhos dos pés liga o negro a terra, como
se a ela pertencesse, mesmo se sabendo que os escravos não foram proprietários dos solos
em que viviam e que lavravam.
Clicando no enlace abaixo, você vai acessar uma galeria de obras de Cândido Portinari.
Recomendamos que visite essa exposição e aprecie especialmente as obras descritas neste
capítulo de seu livro-texto, entre outras, Café, O Mestiço, O Lavrador de Café. Ao clicar
na imagem, é possível vê-la ampliada e como visualização de slides. Boa visita!
49
< https://www.wikiart.org/en/candido-portinari/all-works> .
Tarsila do Amaral (1886 – 1973) também imprime na arte brasileira tonalidades muito
especiais. Realizou seus estudos artísticos na Europa, frequentando diversos ateliês de
renomados artistas, tais como: André Lhote (1885 - 1962), Albert Gleizes (1881 - 1953)
e Fernand Léger (1881 - 1955). No Brasil, está ligada aos modernistas. Em 1928, pintou
a tela Abaporu, pintura que inspirou Oswald de Andrade na criação do movimento
antropofágico.
Destaca-se nesse acervo a pintura Operários (década de 1930), que mostra pessoas em
frente a uma fábrica, retratando a presença de nossas matrizes culturais nos rostos de
brancos, negros e amarelos. Também merece atenção especial a tela O nascimento de
Macunaíma, retratando “o herói sem nenhum caráter”, de Mário de Andrade.
Clicando no enlace abaixo, você vai acessar o site oficial da pintora Tarsila do Amaral e
apreciar todas as suas obras, em suas diversas fases. Recomendamos que visite essa
exposição e aprecie especialmente as obras descritas neste capítulo de seu livro-texto,
entre outras, Abaporu, O nascimento de Macunaíma e Operários. Boa visita!
50
< http://tarsiladoamaral.com.br/>.
Hector Julio Páride Bernabó (Carybé, 1911 – 1997), o mais baiano dos argentinos,
frequentou o Rio de Janeiro devido ao fato de seu irmão ter um ateliê de cerâmica nesta
cidade; entretanto, foi na Bahia que se encantou pela cultura e pela religiosidade do lugar.
Rubem Valentim (1922 – 1991) é também natural de Salvador. Pintor, escultor, gravador,
inicia seus estudos artísticos como autodidata. Forma-se em jornalismo e atua também
como professor. Sua estética sincrética constitui-se de elementos simbólicos da cultura
afro-brasileira com abstracionismo geométrico.
Em 1979, o artista executou uma grande escultura pública de concreto que está instalada
na Praça da Sé, em São Paulo. Em 1998, o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA)
inaugurou a Sala Especial Rubem Valentim no Parque de Esculturas em sua homenagem.
52
Emanoel Araújo (1940) também é do estado da Bahia, de Santo Amaro da Purificação.
Escultor, desenhista, ilustrador, figurinista, gravador, cenógrafo, pintor, curador e
museólogo. Formou-se na Escola de Belas Artes da Bahia e, em 1972, foi premiado com
medalha de ouro na Terceira Bienal Gráfica de Florença, na Itália. Foi professor na
Universidade de Nova Iorque e, de 1992 a 2002, ocupou o cargo
Encerramos esta Unidade com o olhar de dois artistas estrangeiros para a nossa cultura;
estrangeiros que se tornaram brasileiros por escolha e por paixão pelos nossos hábitos,
nossos costumes e nossa religiosidade. Sobre a cultura indígena, faremos breves
considerações sobre Cláudia Andujar; sobre a cultura afro-brasileira, as considerações
feitas aqui serão sobre o fotógrafo e antropólogo Pierre Verger.
Atualmente, a população indígena também ganha destaque por detrás das lentes. Ao invés
de serem fotografados e filmados, muitos fazem filmes e mostram novas propostas
estéticas dentro da linguagem audiovisual. Com isso, também se abre mais uma
possibilidade expressiva, além de ser também uma ferramenta útil para o registro da
memória, salvaguardando e transmissão de histórias orais.
Pierre Edouard Léopold Verger (1902 - 1996) foca as lentes nas manifestações afro-
brasileiras. Fotógrafo, etnólogo, antropólogo, escritor e estudioso da cultura negra da
áfrica e do Brasil, primeiro publicou suas fotografias e depois seus escritos (livros). Além
de pesquisador, o artista francês também vivenciou plenamente a religiosidade que tanto
retratou.
53
3.4 Síntese da Unidade
Nesta unidade, enfatizamos diversas manifestações artísticas, mas vale ressaltar que a
cultura afro-brasileira e indígena é muito exemplificada, pois o número de temas e de
representantes das diversas modalidades artísticas é muito expressivo.
No Youtube, assista ao vídeo Uma escola hunikui e a muitos outros vídeos feitos por
comunidades indígenas. Para isso, acesse:
<http://www.youtube.com/watch?v=t5mXZJAlx_k>
3.6 Atividades
54
Unidade 4
Unidade 4 – O Processo museológico
55
Dispõe ainda que esse patrimônio é constituído pelos bens materiais e imateriais que se
referem à identidade, ação e memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira.
56
O ofício das paneleiras de Goiabeiras foi o primeiro patrimônio de bem imaterial
registrado no Brasil. O modo de fazer foi registrado no Livro dos Saberes em 20/12/2002.
A atividade é realizada em Goiabeiras, no Espírito Santo, e garante o suporte para servir
a típica moqueca capixaba.
57
Sobre esses bens, encontramos, no dossiê IPHAN - 7, as seguintes considerações:
A cachoeira de Iauaretê faz parte do cenário descrito nos mitos de origem
de vários povos indígenas que vivem no rio Uaupés atualmente (Tukano,
Tariano, Desana e Piratapuia, entre outros). Esses mitos tematizam o
processo de transformações que resulta no aparecimento dos primeiros
humanos e suas diferentes versões se constroem sobre um fundo
compartilhado por todos esses grupos. A cachoeira de Iauaretê faz parte do
cenário descrito nos mitos de origem de vários povos indígenas que vivem
no rio Uaupés atualmente (Tukano, Tariano, Desana e Piratapuia, entre
outros). Esses mitos tematizam o processo de transformações que resulta
no aparecimento dos primeiros humanos e suas diferentes versões se
constroem sobre um fundo compartilhado por todos esses grupos.
58
De acordo com Suano (1986),
Dos antigos templos das Musas, o que mais podemos associar à finalidade museológica
na antiguidade é a biblioteca de Alexandria, cuja principal preocupação era o saber
enciclopédico. A sua construção, feita por Ptolomeu I Soter no século IV a.C, elevou a
cidade ao nível de importância cultural de Roma e Atenas, tornando-se o grande polo da
cultura helenística (difusão da civilização grega para os territórios conquistados por
Alexandre, O Grande). Todo manuscrito que entrava no país era classificado em catálogo,
copiado e incorporado ao acervo da biblioteca. No século seguinte à sua criação, já reunia
entre 500 mil e 700 mil documentos. Além de ser a primeira biblioteca com essas
características, foi também a primeira universidade, tendo formado grandes cientistas,
como os gregos Euclides e Arquimedes.
Na idade medieval, o que mais se assemelha à ideia de museu eram os tesouros da Igreja
(grande receptora de doações). No final do período, a força de alguns príncipes inicia a
formação de tesouros privados.
No Renascimento, objetos das civilizações grega e romana passam a atrair o interesse dos
colecionadores e as casas reais e os nobres obtêm tesouros de toda parte da terra, além de
atuarem como mecenas de grandes artistas, tais como Botticelli, Leonardo da Vinci,
Michelangelo etc. As coleções eram símbolo de poder econômico.
59
Somente após os movimentos revolucionários do século XVIII é que a instituição museu
começa a ganhar forma tal qual se conhece hoje – de abertura do patrimônio da
humanidade ao público – e, assim, surgem os grandes museus europeus: Museu Britânico
(1753), Museu Hermitage (1764), Museu do Louvre (1753) etc.
O primeiro museu do Brasil foi o Museu Nacional (Museu Real), em 1818, seguido do
Museu Goeldi, em Belém (1866), e do Museu do Ipiranga, em São Paulo (1895). No
século XX, temos a criação do Museu Histórico Nacional (1922), do Museu Imperial de
Petrópolis (1943), e a criação de vários museus de arte em São Paulo, como o Museu de
Arte de São Paulo (MASP - 1947) e o Museu de Arte Moderna (MAM - 1948).
Essa é a grande transformação da museologia no século XX: o foco muda do objeto para
o sujeito, para o homem, para o público.
60
1- monumentos e sítios naturais, arqueológicos e etnográficos de natureza
museológica, que adquirem, conservam e exibem evidências materiais do homem
e seu ambiente;
2- instituições que reúnem coleções e apresentam espécimes vivos de plantas e
animais, tais como: zoológicos e jardins botânicos, aquários e viveiros;
3- centros de ciências e planetários;
4- galerias de arte não comerciais;
5- reservas naturais;
6- organizações internacionais, nacionais, regionais ou locais, ministérios e
departamentos ou instituições públicas responsáveis por museus;
7- instituições ou organizações não lucrativas encarregadas de conservar, pesquisar,
educar, treinar, documentar e outras atividades relacionadas a museus e
museologia;
8- centros culturais e outras entidades que facilitam a preservação, continuidade e
gestão de patrimônio tangível e intangível;
9- instituições com algumas ou todas as características de um museu, que apoiam
museus e profissionais de museus por meio de pesquisa, educação e treinamento
museológico.
Essa relação altera-se no tempo conforme as mudanças da sociedade; para que ela
aconteça, são necessárias ações que denominamos processo museológico.
As ações podem ser divididas em duas orientações: uma caracterizada pela introversão
do acervo e outra pela extroversão. Pela introversão, entendemos as áreas técnicas que
trabalham com a documentação e preservação do acervo; por extroversão, entendemos as
áreas que trabalham com a comunicação entre o acervo e o público.
61
A seleção e a aquisição do acervo dependem do projeto, do plano museológico, que
indicarão, dentre outras questões, a missão, a visão e os objetivos do museu. A aquisição
pode ser realizada por meio de doações, coletas e compras.
Após a entrada na instituição, o acervo tem que ser registrado. Esta é a fase da
documentação que fará uma catalogação dos objetos, observando suas características
físicas (dimensão, peso, descrição), fotografando, enfim, identificando o objeto e dando-
lhe uma identidade. Após a catalogação e a numeração, os objetos são marcados de forma
permanente com materiais apropriados para a função.
62
intervenção destinada a manter em funcionamento, a facilitar a leitura e a transmitir
integralmente ao futuro obras e objetos identificados como de interesse patrimonial.
A restauração é uma atividade que exige muita cautela, estudo e, geralmente, tem alto
custo. A maior parte dos museus brasileiros procura profissionais terceirizados para a
função, com exceção de grandes museus. Também é necessário conhecer muito bem o
profissional, pois há muitos “reformadores” que modificam o patrimônio, ao invés de
restaurá-lo.
63
museográfica inclui os objetos, o espaço, o mobiliário, o roteiro de visitação, o desenho
de cores, a luz, as texturas, os aspectos de conservação, entre outros.
As grandes exposições geralmente contam com uma equipe ampla; mesmo em pequenos
museus, por mais que as pessoas acumulem variadas atividades, deve haver profissionais
responsáveis pelas seguintes funções e/ou serviços:
Como vimos, a exposição é uma fala complexa que busca uma comunicação simples,
elaborada para fazer com que os sujeitos queiram dialogar, conversar com o acervo
exposto e com as histórias que ele apresenta.
64
Uma etapa geralmente esquecida pelas instituições, como pontua Cury (2005), é a
avaliação das exposições. Como podemos avaliar se a exposição realmente cumpre seu
papel de comunicação? A partir da definição de avaliação dada por Cury (2005), é
possível responder a essa questão. Vejamos, na concepção da autora, o que vem a ser
avaliação:
Munley (apud CURY, 2005) identifica quatro modos diversos de realização das
avaliações:
A ação cultural e educativa também pertence às ações de extroversão e tem como objetivo
maior intermediar a comunicação do acervo em exposição com o público visitante. A
ação fomenta a ampliação de conhecimentos, cultivando o respeito e a valorização do
patrimônio artístico, histórico e cultural por meio de atividades que integram os visitantes
como agentes fundamentais do processo, como protagonistas da imensa teia de relações
que se dá no museu (cenário do encontro homem e objeto).
65
O serviço educativo também tem como objetivo realizar atividades orientadas para grupos
diversos, tais como comunidades específicas, escolares (educadores, alunos), públicos
com necessidades especiais, dentre outros. Ele compõe a programação de palestras,
oficinas, cursos e seminários, com o objetivo de aproximar a comunidade local das
atividades do museu, formando novos públicos e fomentando a frequência das instituições
culturais.
4.6 Atividades
1- Qual a sua concepção de museu? Você já realizou uma visita a um museu que
tenha sido realmente uma experiência significativa?
66
2- Como vimos nesta Unidade, os conceitos transformam-se e ampliam-se. A
noção de patrimônio, hoje, abarca também os bens intangíveis, que chamamos
de imaterial. Reflita sobre isso e veja se há na sua região um saber, um modo de
celebrar, uma manifestação que você considere um patrimônio imaterial.
67
68
Unidade 5
Como vimos na unidade anterior, a ação educativa nos museus vem ganhando
importância.
Após a Segunda Guerra Mundial, a museologia passa por intensas renovações, sempre
buscando o protagonismo do público. Essa postura é acentuada a partir da década de 1960,
em meio aos movimentos de democratização da cultura.
69
Em 1964 é criado o Conselho Internacional de Museus (ICOM), na esfera da Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
Novas práticas e teorias apontam para a função social dos museus, contrapondo-se à
museologia tradicional que tinha o acervo como um “valor em si mesmo”, independente
do seu uso social.
Redefine-se, então, o papel dos museus, tendo como objetivo maior o público usuário,
imprimindo-lhes uma função crítica e transformadora. Embora as discussões já viessem
ocorrendo de forma intensa desde a década de 1960, somente em 1984, na Declaração de
Quebec, foi postulado o Movimento Internacional da Nova Museologia.
Podemos dizer que os museus buscam ampliar a participação do público, mas ainda são
poucos os apresentam propostas participativas. A maioria dos museus ainda oferece
apenas programas para o público.
Horta et al. (1999) apontam uma metodologia de leitura, uma sugestão de atividades para
exploração e análise do patrimônio cultural, como pode ser observada no quadro abaixo:
70
Exercícios de percepção / sensorial, por
Identificação do objeto:
meio de perguntas, manipulação de objetos,
1- Observação função/significado; desenvolvimento da
medição, anotações, dedução, comparação,
percepção visual e simbólica.
jogos de detetives etc.
Fixação do conhecimento percebido,
Desenhos, descrição verbal ou escrita, aprofundamento da análise crítica;
2- Registro gráficos, fotografias, maquetes, mapas e desenvolvimento da memória,
plantas baixas, modelagem etc. pensamento lógico, intuitivo e
operacional.
Análise do problema, levantamento de
Desenvolvimento das capacidades de
hipóteses, discussão, questionamento,
análise e julgamento críticos,
3 – Exportação avaliação, pesquisas em outras fontes como:
interpretação das evidências e
bibliotecas, arquivos, cartórios, documentos
significados.
familiares, jornais, revistas, entrevistas etc.
Recriação, releitura, dramatização, Envolvimento afetivo, internalização,
interpretação em diferentes meios de desenvolvimento da capacidade de
4- Apropriação expressão, como: pintura, escultura, drama, autoexpressão, apropriação,
dança, música, poesia, texto, filme e vídeo, participação criativa, valorização do
exposição em classe. bem cultural.
Podemos utilizar essas atividades tanto em sala de aula quanto em uma ida ao museu ou,
ainda, a oficinas. Uma visita ao museu pode (e deve) ter continuidade em sala de aula,
aprofundando os conteúdos desenvolvidos.
Nos tempos atuais, em que temos grandes possibilidades de utilizar reproduções de obras
de arte, tanto impressas quanto virtuais, podemos ampliar e muito o nosso repertório e de
nossos alunos. O encontro com a cultura material é imprescindível para uma boa análise
estética, além de estarmos frente à criação original. Lembrando que o conceito de museu
é amplo, como vimos no início da Unidade 4, a visita aos museus, além de fomentar
hábitos de frequentar espaços culturais, permite-nos um encontro com a produção artística
e cultural da humanidade.
O encontro com o patrimônio deve ser incentivado, pois segundo Horta et al.
(1999),
Nada substitui o objeto real como fonte de informação sobre a rede de
relações sociais e o contexto histórico em que foi produzido, utilizado e
dotado de significado pela sociedade que o criou. Todo um complexo
sistema de relações e conexões está contido em um simples objeto de uso
71
cotidiano, uma edificação, um conjunto de habitações, uma cidade, uma
paisagem, uma manifestação popular, festiva ou religiosa, ou até mesmo
em um pequeno fragmento de cerâmica originário de um sítio
arqueológico. Descobrir esta rede de significados, relações, processos de
criação, fabricação, trocas, comercialização e usos diferenciados, que dão
sentido às evidências culturais e nos informam sobre o modo de vida das
pessoas no passado e no presente, em um ciclo constante de continuidade,
transformação e reutilização, é a tarefa específica da Educação Patrimonial
(HORTA et al., 1999, p. 6).
Vamos ver no próximo item como podemos explorar nosso patrimônio por meio da leitura
de imagens.
73
apropriam-se do conhecimento e recriam, transformam o aprendido em algo novo, feito
por eles.
Sobre isso, Freire (2001) pontua:
é como sujeito e somente enquanto sujeito, que o homem pode
realmente conhecer. [...] no processo de aprendizagem, só aprende
verdadeiramente aquele que se apropria do aprendido, transformando-
o em apreendido, com o que pode, por isto mesmo, reinventá-lo; aquele
que é capaz de aplicar o aprendido-apreendido a situações existenciais
concretas (FREIRE, 2001a, p. 27-28).
Essa atividade pode ser feita no próprio ambiente expositivo, pois muitos museus não têm
ateliês que possam ser utilizados ao final da visita.
74
5.3 Exemplo de atividade: recriando a partir do acervo
Os museus procuram, por meio de seus serviços educativos, criar programas que atendam,
de forma ampla, à diversidade de público existente.
Vários museus têm seu próprio programa para grupos familiares, geralmente para atender
a pais e filhos nos finais de semana.
Também são alvos fundamentais os trabalhadores das instituições, pois todos necessitam
ter envolvimento com o que há exposto, tanto por motivos de conservação quanto de
comunicação do acervo.
Programar para públicos com necessidades especiais também é fundamental. Para cada
deficiência faz-se necessária a criação de atividades específicas, que atendam a tais
necessidades. Falando em visualidade, devido à preservação do acervo (impossibilidade
de tocar nas obras), são criadas em museus réplicas de esculturas e pinturas com volumes,
para que deficientes visuais possam utilizar o sentido do tato na leitura da imagem.
75
A exposição foi composta por imagens de alguns fragmentos e peças de cerâmica
indígena encontradas durante a escavação para a construção da rodovia Carvalho
Pinto e a ação educativa foi organizada com três tipos de atividades: interação no
espaço expositivo, ação “brincando de arqueólogo” e ateliê de argila. Estas duas
últimas atividades ocorreram complementando a interação, após a visita à
exposição e em outros horários após a visita, destinando-se a crianças, jovens e
interessados em geral.
Após a leitura da exposição, os participantes, numa caixa de areia feita para a atividade,
realizaram escavações em buscas de fragmentos cerâmicos (fragmentos de cerâmica de
vasos comuns, material didático, simulacros) e, em seguida, reconstituíram as vasilhas
como um quebra-cabeça tridimensional, utilizando-se de mapas como fazem os
arqueólogos.
76
Figura 5.5 – reprodução fotográfica da
Autora.
77
Figura 5.8 – reprodução fotográfica da autora. Figura 5.9 – reprodução fotográfica da autora.
5.6 Atividades
1- Partindo da proposta de leitura de imagem de Robert Ott, elabore um texto analisando
uma obra de arte (pintura, desenho, escultura, fotografia) relacionada à cultura afro-
brasileira. Pode ser a Baiana, de Di Cavalcanti, ou uma das pinturas utilizadas da Unidade
3, ou outra a sua escolha. Tente realizar todas as etapas da proposição e fundamente seu
texto com uma pesquisa sobre o artista e/ou grupo.
78
Referências
DIAS, P. A. F. São Paulo - Corpo e Alma. São Paulo: Associação Cultural Cachuera,
2003.
MONTEIRO LOBATO, J. B. Almeida Junior. In: ______. Ideias de Jeca Tatu. São
Paulo: Brasiliense, 1956. (Obras Completas de Monteiro Lobato)
79
Referências Complementares
80
81