Espiríto Santo Indigena - Cap 4-Compactado

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 23

A sçrviço do_ Império e da Nação..

Trabalho como obstáculos que "infestavam" as matas e sertões, impedindo o


indígena e fronteiras étnicas no Espírito Santo avançoda"civilização",doquecomopersonagensdahistóriapátria.
A renovação historiográfica das décadas de ig3o-ig4o não
(i822-1860)
resolveu o problema da exclusão dos índios da história nacional,
apesar da geração modernista da década de ig2o ter elegido os ín~
Por diferentes meios e argumentos, os índios têm sido excluídos di` dioscomoumdossímbolosdanacionalidade.3Naverdade,agregou
história]. Com a fundação do lnstituto Histórico e Geográfico Bri` ao velho problema outros conteúdos. Um dos historiadores mais
sileiro, em i839, e o desenvolvimento da historiografia propriameii representativos do período, autor de uma obra de grande e longa
te nacional, por exemplo, instituiu-se uma visão europeia sobre u 1nfluência,publicadaprimeiramenteemig42,foiCaioPradoJúnior.
Brasil e a sua história, na qual náo havia lugar para eles. Francis{ u Em Formação do Brasil contemporâneo4, ele construiu e consolidou
Adolfo de Varnhagen frisou, dentre outros pontos, que os índios m`\t ) alguns argumentos que tornaram a história dos índios desnecessá-
eram objeto da história, mas da etnografia2 e boa parte da historiti ria à efetiva compreensão do Brasil pós-colonial. Postulou que, com
grafia oitocentista os ignorou, de fato, referindo-se a eles muito mi.`

3 MOREIRA, Vânia Maria Losada. História, etnia e nação: o índio e a formação na-
1 Este texto foi originalmente publicado em Anos go, Porto Alegre, v. i7, n. 3i, )ul cional sob a ótica de Caio Prado Júnior. Memória Americana - Cuadernos de Etnohis-
2oio, P.13-55. tória, Buenos Aires, n. i6 (i), 2oo8, P. 7i.

2 MONTEIRO, John Manuel. ``Tupis, tapuias e historiadores". Tese (Livre Docêi"i ). 4 PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo. São paulo: Brasilien-
Universidade Estadual de Campinas, 2ooi, p. 3., Se, 1g7i (iia Ed).

130 131
exceção dos grupos indígenas que ainda viviam insulados nas ma- terra, de John Manuel Monteiros e da coletânea de artigos História
tas, especialmente na Região Amazônica, os demais estavam ``extin- dos índios no Brasil, organizado por Manuela Carneiro da Cunha.9
tos", "aculturados" ou "miscigenados" na maior parte do território Desde então, há um crescente interesse pelos índios na História do
brasileiro, desde o fim do período colonial.5 Em outras palavras, os Brasil, traduzido em novas pesquisas, publicações e congressos, pre-
índios náo mais interferiam no "sentido da colonização", pois só ocupados em recuperá-los onde ou quando eles são maioria ou es-
existiam (transitoriamente) nas franjas periféricas (e desimportan- senciais, mas também onde ou quando eles são minoria, segundo
tes) do Brasil. A possibilidade de uma história que incluísse os ín- o ideário de que a historiografia não deve ser apenas o reduto dos
"vencedores" ou das "grandes massas anônimas", em um país que se
dios foi restringida, desse modo, aos períodos ou lugares mais remo-
tos da Colônia. Além disso, a presença dos índios terminava muito quer construir na linha democrática e plural.
rapidamente na história pátria, pois no pós-contato com ``brancos" 0 ponto de partida do presente estudo é a hipótese de que
e "negros" prevalecia, mais cedo ou mais tarde, o desaparecimento a população indígena é um setor bastante importante para o enten-
dos (verdadeiros) índios em razão das mortes (epidemias, guerras e dimento da história social do Espírito Santo, durante a primeira
superexploração do trabalho), da mestiçagem biológica e da acultu- metade do oitocentos, e, mais ainda, que isso pode ser observado
ração.6 na organização e no funcionamento do mundo do trabalho na re-
As operações historiográficas que tornaram os índios invisí- gião. Este artigo procura enfrentar este tema. Para isso, analisa a
veis na história representam um tema importante que tem sido ana- organização política e social dos índios residentes na vila de Nova
lisado por diferentes autores.7 É também um dos fundamentos que Almeida (antiga missão jesuítica dos Reis Magos) e o processo de
sustentou um importante movimento de renovação historiográfica recrutamento dos índios para trabalharem para o Estado, durante a
no sentido de incluí-los na História do Brasil, cujos marcos mais primeira metade do século xix.
importantes deste processo foram as publicações do livro Negros da São dois os principais objetivos da reflexão: (i) analisar o sis-
tema político-administrativo que controlava o trabalho dos índios,
identificando os lugares e tipos de serviços realizados por eles, as
principais autoridade civis e militares responsáveis pelas questões
5 Ibidem,p.ioo.
indígenas e os temas e questões mais recorrentes levantados pelos
6 MOREIRA, Vânia Maria Losada. História, etnia e nação: o índio e a formação
nacional sob a ótica de Caio Prado Júnior. Memória Americana -Cuadernos de Etno- próprios índios que estavam submetidos ao "serviço imperial e na-
história, Buenos Aires, n. i6 (i), 2oo8, p. 78. cional"; e (2) verificar o impacto desse sistema político-administra-
7 ALMEIDA, Maria Regina celestino. Metamorfoses indígenas: identidade e cul- tivo criado para captar o trabalho indígena na reprodução das fron-
tura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2,oo3;
CUNHA, Manuela Carneiro da. Política indigenista no século XIX. In: CUNHA,
teiras étnicas entre os índios e os "outros" moradores da província.
Manuela Carneiro da (Org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das
Letras/Secretaria Municipal de Cultura/ Fapesp, igg2, pp. ii5-i74; MONTEIRO, John
Manuel. "Tupis, tapuias e historiadores». Tese (Livre Docência), Universidade Estadual 8 MONTEIRO, John Manuel. Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de
de Campinas, 2ooi; MOREIRA, Vânia Maria Losada. História, etnia e nação: o índio e a São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, igg4.
formação nacional sob a ótica de Caio Prado Júnior. Memória Americana - Cuadernos 9 CUNHA, Manuela Carneiro da (Org.). História dos índios no Brasil. São Paulo:
de Etnohistória, Buenos Aires, n. i6 (i), 2oo8, p. 63-84. Companhia das Letras/Secretaria Municipal de Cultura/ Fapesp, igg2.

32 13
Para subsidiar a análise dos problemas em foco neste artigo, Primeiro: durante boa parte do período colonial, as redu-
foi compulsado um conjunto de fontes de natureza bem diversa, ções e fazendas jesuíticas foram, de longe, os setores mais dinâ-
como leis, memórias, estimativas estatísticas e relatos de viajantes e micos da sociedade e da economia local e, por isso mesmo, em
naturalistas. Também foi construída uma série documental a par- termos de história social, uma das melhores páginas sobre a ca-
tir da correspondência oficial entre os presidentes da província do pitania ainda são as de Serafim Leite]°, pois essa obra escapa da
Espírito Santo e as autoridades civis e militares da vila indígena narrativa sobre os feitos dos poucos personagens ilustres de uma
de Nova Almeida, no período entre i828 e i853, a partir da qual foi capitania que nem prosperou nem tampouco foi destruída pelos
índios dos sertões. Segundo: a história dos padres e das missões se
possível identificar práticas governativas, os principais temas rela-
cionados aos índios arrolados na correspondência oficial, os gentes confunde com a história dos índios e, por isso mesmo, o entendi-
mento históricossocial do Espírito Santo colonial passa, necessa-
políticossociais que exerciam controle sobre a população indíge-
na, as formas legais ou costumeiras de exercício desse poder, bem riamente, pelos índios e sua experiência histórica. Terceiro: a me-
como as reivindicações e os tipos de ação realizados pelos próprios 1hor historiografia sobre a região é bastante concorde em afirmar
índios. A natureza, importância e representatividade da série docu- que as grandes mudanças sociais e econômicas do Espírito Santo
mental para o estudo da população indígena serão avaliadas mais ocorreram tardiamente no lmpério e durante os anos da Repúbli-
adiante. ca velha. A primeira grande transformação foi fruto do desenvol-
vimento das lavouras de café, principalmente a partir da segunda
metade do século xix, quando foram organizados os planteis de
escravos em plena crise do próprio sistema escravista.]] A segunda
Índios súditos do Estado e índios (rplativamente) ocorreu por causa do colapso das plantations cafeeiras, em função
independentesnahtstóriaregional da abolição dos escravos, quando foi intensificada a imigração eu-
ropeia, pulverizada a produção agrícola comercial em pequenas
e médias posses ou propriedades e, em razão disso, houve uma
Apesardosavançosnacompreensãosobreaparticipaçáodosíndios expansáo da economia cafeeira durante a República velha.[2
na História do Brasil, não há como ignorar o poder da inércia que Assim, no transcorrer de década de i75o os padres foram
ainda grassa em parte da historiografia regional que, acostumada a
interpretar o processo histórico sem os índios, continua reprodu-
zindo o velho hábito, mesmo onde e quando eles eram muitos e im- io LEITE, Serafim. História da companhia de Jesus no Brasil. Rio de Janeiro/Lisboa:
Instituto Nacional do Livro/Livraria Portugália, ig45, 5v.
prescindíveis. Não é demais frisar, por isso mesmo, a importância ii ALMADA, Vilma. Escravismo e transição: o Espírito santo. Rio de Janeiro: Graal,
dos índios na formação histórica do Espírito Santo, um lugar, além ig84; SALETO, Nara. Transição para o trabalho livre e pequena propriedade no Espíri-
disso, ainda pouco conhecido pela historiografia contemporânea. to Santo. Vitória: Edufes, igg6a.
i2 SALETO, igg6a, op.cit.; SALETO, Nara. Trabalhadores nacionais e imigrantes no
Emlinhasbemgerais,pode-seafirmar,compoucaschancesdeerro
mercado de trabalho do Espírito Santo. Vitória: Edufes, igg6b.
ou exagero, três dados importantes para nortear a reflexáo sobre o
desenvolvimento histórico do Espírito Santo.

134
Tabela 1: População da província do Espi'rito Santo e sertões do rio Doce na
expulsos da capitania, as antigas missões foram transformadas em década de 1820.

vilas e lugares e os índios foram submetidos, desde entáo, ao duro Extratos e condição civil da população Total
Localidade
sistema governativo do Diretório dos Índios. Mas a despeito dessas Livres Escravos lndependentes

importantes transformações, a população e a economia do Espírito Brancos Índ.ios Pardos Pretos Pardos Píetos Índios

Província 8.094 5.788 5.601 2.682 3.287 9.901 35.353


Santo, definida muito usualmente como "letárgica", não se alterou
de forma dramática até meados da década de i84o. Afinal, o incre-
Sertão do 20.000 20.000
mento do ingresso de forâneos (africanos escravizados e imigrante rio Doce
nacionais e estrangeiros) e o desenvolvimento da economia cafeei- Total
ra foram processos que se intensificaram gradualmente a partir da
Fonte: Vasconcellos (1828) e Marliêre (Apud Mattos, 2004).
segunda metade do oitocentos. Os dados sobre a década de i82o
confirmam, aliás, a importância dos índios para o entendimento da
histórica social da província.
De acordo com o presidente provincial lgnácio Accioli de Gráfico 1 : População Livre segundo grupos étnicorraciais

Vasconcellos, em i824, a província possuía 35.353 almas, divididas


em 8.og4 brancos, 5.788 índios, 5.6oi pardos livres, 3.22i pardos ca-
tivos, 2.682 pretos livres e 9.9oi pretos cativos. Isso significa que a
I
`à.ã
PF(ETOS

PARDOS

1
população 1ivre, formada por 22.i65 indivíduos, embora majoritária
com relação à população escrava, composta por i3.i22 pessoas, era
tambémbastantepluraldopontodevistaétnicorracial,representan-
do os índios 25% da população livre da província (ver Gráficos i e 2).
I 'NDIOS

BRANCOS

Mais ainda, se confrontarmos os dados fornecidos por Vas-


Fonte: Tabela 1
concellos com outro produzido por Guido T. Marliêre, na mesma
década, sobre a população de índios tribalizados e relativamente in-
Gráfico 2:População total segundo condição civil.
dependentes que viviam no vale do rio Doce, entre os quartéis de
Minas Gerais e do Espírito Santo, podemos construir um quadro
mais realista sobre o que era o Espírito Santo na primeira metade do
oitocentos. Ele ponderou, em i827, que os índios perfaziam aproxi~
madamente 2o mil indivíduos, acrescentando, além disso, que con-
tar índios nas matas e calcular formigas em um formigueiro eram
tarefas bem semelhantes.[3 Acrescente-se a essa informação o fato

Fonte: Tabela 1
i3 MATTOS, Izabel Missagia de. Civilização e revolta: os botocudos e a catequese na

136
Gráfico 3: População do Espírito Santo e adjacências segundo condição civil. de que estão fora desse número os índios que viviam nas fronteiras
do Espírito Santo com o Rio de Janeiro (puris, coroados e botocu-
dos) e os que viviam nas fronteiras entre o Espírito Santo e a Bahia
População escrava (pardos e pretos)
(botocudos, pataxós, dentre outros). Os vizinhos mais próximos dos
População livre (brancos, Índios, pardos e pretos) capixabas não eram, portanto, os concidadãos da Corte, de Minas
Gerais ou da Bahia, mas a população indígena de diferentes grupos
População independete (Índios de diferentes grupos étnicos)
étnicos, muitos deles, ademais, em guerra com a população 1ocal. Os
Gráficos 3 e 4 ilustram os argumentos aqui levantados.
Os números ilustrados nos gráficos são aproximações gros-
seiras da realidade demográficossocial do Espírito Santo e dos ser-
Fonte: Tabela 1
tões e florestas adjacentes, mas possuem o mérito de terem sido co-
lhidos em um mesmo período histórico, refletindo, por isso mes-
mo, os erros, os acertos e as concepções de mundo mais correntes
daquele momento. Observando-se o Gráfico 3, portanto, entende-se
com mais rapidez porque Francisco Adolfo de Varnhagen se irritava
Gráfico 4: População indígena do Espírito Santo e adjacências com relação aos tanto com o Espírito Santo, a incômoda província fronteiriça à Cor-
outros extratos.
te, cheia de índios "selvagens"!`4 Além disso, homens como ele, de
gabinete, não viam muito diferença entre os "selvagens" da mata e os
Outros (livres e escravos)
"semisselvagens" que estavam sob a autoridade do lmpério, embora

muitos deles estivessem vivendo, há várias gerações, sob o governo


Índios (independentes e súditos do lmpério)
luso-brasileiro.
Para homens como lgnácio Accioli de Vasconcellos, que go-
vernou a província do Espírito Santo entre fevereiro de i824 e no-
vembro de i829, a diferença entre índios "civilizados" e "selvagens"
cra clara, pois frequentemente utilizavam-se aqueles para o combate
{)u "amansamento" destes. Homens como ele certamente também
``abiam os limites de tais diferenças, pois o trânsito de índios do ser-
Fonte: Tabela 1

província de Minas. Bauru: Edusc, 2oo4, p. ii6.

14 VARNHAGEN, Francisco Adolpho de. Discurso preliminar. Os índios frente a


nacionalidade brazileira [1852]. In: MOREIRA NETO, Carlos Araújo. Os Índios e a
Ordem lmperial. Brasília: Funai, 2005, p. 338.

13
tão para a província e, inversamente, de índios das vilas para os ser- Legislação e fronteiras étnicas
tões era intenso e difícil de ser controlado. 0 Gráfico 4 procura ilus-
trar, portanto, outra realidade social do Espírito Santo: a necessidade
de governar uma importante população indígena em diferentes es- Informações qualitativas deixadas por viajantes que passaram pelo
tágios de contato e de transculturação, por meio de regras legais ou Espírito Santo, na segunda década do século xix, como Auguste de
costumeiras, artificios e instituições nem sempre iguais. Mais ainda, Saint-Hilaire e o bispo visitador do Rio de Janeiro, d. José Caetano
em razão do fato de os "índios civilizados" representarem 25% da po- da Silva Coutinho, são bastante explícitas em atestar duas situações
pulação livre da província, também não se deve estranhar, finalmen- importantes na capitania nesse período. Em primeiro lugar, a nar-
te, a presença dos índios na vida social, política e econômica local. rativa desses observadores atentos asseguram que os índios ocupa-
Em i828, por exemplo, Vasconcellos expediu ofício ao capi- vam, no início do oitocentos, senão todos, pelo menos uma parte
tão-mor da vila de Nova Almeida, listando os índios jornaleiros que dos postos da República nas vilas indígenas de Nova Almeida (an-
deixavam o trabalho na Diretoria do Rio Doce para regressarem à tiga missão dos Reis Magos) e Benevente (antiga missáo de Nossa
vila, solicitando, além disto, outros i4 índios para rendê-los no ser- Senhora de Reritiba).i7
viço.[5 Pouco depois, o mesmo presidente escreveu ao sargento-mor Não é demais lembrar, a propósito deste assunto ainda pou-
do Regimento Norte pedindo duas índias que fossem "desembara- co conhecido pela literatura não especializada, que o alvará de 7 de
çadas" para trabalharem na Santa Casa de Misericórdia, para cuidar junho de i755 estimulou e deu preferência aos índios na ocupação
dos "expostos", recomendando ainda que elas fossem avisadas de que dos cargos de vereadores e oficiais da Justiça em suas respectivas
seriam "bem-tratadas" e receberiam "gratificação".]6 Tal como esses vilas.'8 0 sistema político e administrativo conhecido como Dire-
documentos, existem muitos outros nos arquivos atestando um fato tório dos Índios (i757-i798)[9 introduziu, no entanto, a figura tutelar
ainda não plenamente estudado e compreendido pela historiografia: dos diretores sobre os índios e, na opinião de diferentes autores, isso
o sistema político e administrativo organizado para captar o traba- comprometeu o princípio do autogoverno dos índios, que, suposta-
lho indígena exigido pelo Estado e que eles cumpriam na rubrica de
"Serviço lmperial e Nacional". Nas páginas que se seguem, analiso

a legislação que dava sustentação política e jurídica à exploração do i7 COUTINHO, D. José caetano da silva. Apontamentos secretos sobre a visita de
isii e isi2. Vista de isig-i82o. In: NEVES, Luiz Guilherme Santos (org). 0 Espírito
trabalho indígena pelo Estado.
Santo em princípio do século XIX. Apontamentos feitos pelo bispo do Rio de Janeiro à
capitania do Espírito Santo nos anos de isi2 e isig. Vitória: Estação Capixaba e Cultu-
ral-ES, 2oo2, p. 87. SAINT-HILAIRE, Auguste de. ig74 [i833]. Viagem ao Espírito Santo
e Rio Doce. São Paulo: Edusp, ig74 [i833], P. 65.
is SAMPAIO, Patrícia Maria Melo. Espelhos partidos: etnia, legislação e desigual-
dade na colônia. Sertões do Grão-Pará, c.i755-c.i823. Tese (Doutorado), Universidade
Federal Fluminense, Niterói, 2ooi, p. ii3.
ig Cf. "Diretório que se deve observar nas povoações dos índios do pará e do Mara-
i5 APEES (Arquivo Público do Estado do Espírito Santo). Série 75i, Livro i7i,
nhão enquanto sua majestade não mandar o contrário". In: ALMEIDA, Rita Heloisa de.
ii/o7/i828, P. 4V-5.
0 diretório dos índios. Um projeto de "civilização" no Brasil do século XVIII. Brasília:
i6 APEES. Série75i, Livro i7i, i5/o6/i829,p. 23.
Ed. Universidade de Brasília, igg7, Apêndice pp.i-4i.

40
14
i798,foramtransferidasparaasCâmarasnãoapenasatarefadego-
mente, seria viabilizado pela subordinação política deles à autorida-
vernarosíndios,mastambémafunçãodegeriraestruturamontada
de das Câmaras, cujos vereadores, juízes e oficias seriam, de prefe-
anteriormenteparacaptaroseutrabalho.Note-se,alémdisso,quea
rência, índios.2o
situação dos índios do Espírito Santo na época das descrições feitas
A abolição do Diretório dos Índios, por meio da carta Régia
de i7982], tornou mais factível, do ponto de vista legal, o proclamado por d. Coutinho e Saint-Hilaire assemelha-se muito ao que aconte-
cia com os índios do Rio Negro, Pará e Amazônia, casos observados
governo dos índios pelas câmaras, igualando-os, nesse aspecto, aos
e estudados por Patrícia Sampaio.23
demais vassalos livres do lmpério português, que não tinham dire-
tores (tutores). Mais ainda, embora a nova lei não recomendasse dar Mais ainda, o modelo governativo instituído pela Carta Ré-
nenhumapreferênciaaosíndiosnaocupaçãodoscargosdaRepúbli- giadei798tevelongaduraçãoentreosíndiosdoEspíritoSanto,pois
continuou operativo na região mesmo depois da lndependência,
ca, deixava bastante claro, contudo, que eles continuavam bastante
sendobastanteacionadoatéi84o.24Issoéumdadoimportante,pois
aptos ao exercício daqueles cargos, desde que tivessem competência
demonstra que a Carta Régia de i7g8 foi fundamental não apenas
paraisso.Portanto,nãosedeveestranharqueosíndiostenhamsido
vereadores, juízes e capitães-mor de ordenança de suas respectivas para as províncias do Norte, como parece acreditar Patrícia Sam-
vilas, tal como, aliás, acontecia nas vilas do Espírito Santo, segun- paio25,mastalvezparamuitasoutrasregiõesonde,nalongaduração
de seu desenvolvimento, foi expressiva a população de índios inte-
do as narrativas de Saint-Hilaire e d. Coutinho. Além disso, ambos
também descrevem a existência de um sistema bastante coercitivo grados ao sistema social, tal como era o caso também do Espírito
Santo.
de obtenção do trabalho dos índios nas vilas e lugares indígenas,
Desde as reformas de Pombal, o discurso oficial insistiu so-
Controlado no topo pelos governadores da capitania.22
hre a necessidade de promover a equiparação jurídica e política de
Correlacionando esses testemunhos e a legislação indigenis - `.i'iidios" e "brancos" e, por isso mesmo, Carlos de Araújo Moreira
ta do período, pode-se inferir que o sistema de exploração da forçi`
Niú se referiu à legislação pombalina como um ``esforço de `inte-
de trabalho dos índios na capitania do Espírito Santo foi organizadti
segundo as diretrizes do Diretório dos Índios e, posteriormente, re- gração' e de `nacionalização' dos índios".26 A Carta Régia de i798
orientado segundo as novas regras instituídas pela Carta Régia di`
i798.Assim,comaextinçãodocargodeDiretordeÍndiospelaleitli. 23 SAMPAIO, Patrícia Maria Melo. Espelhos partidos: etnia, legislação e desigual-
dade na colônia. Sertões do Grão Pará, c.i755-c.i823. Tese (Doutorado) Universidade
Fcderal Fluminense, Niterói, 2ooi, p. 236.
24 Veja a Tabela 2 e o Gráfico 5, deste artigo> onde fica registrado que a requisíção
2o SAMPAIO, op.cit., P. 25o.
•1.` índios para o trabalho público é o principal assunto tratado entre os presidentes
2,i Carta Régia de i2 de maio de i798 sobre a civilização dos índios. In: RUBIM, Fr.ui
da província do Espírito Santo e as autoridades civis e militares de Nova Almeida até
cisco Alberto. Notas, apontamentos e notícias para a história da província do Espíi ii.
itl39. A partir dessa data, temas e assuntos relacionados às terras indígenas adquirem
Santo. Revista do IHGB, i856, n° 22, P.3i3-325.
t) i)rimeiro plano.
22 SAINT-HILAIRE , op. Cit., p.69; COUTINHO, D. José caetano da silva. Ainm
2ç SAMPAIO, Patrícia Maria Melo. Espelhos partidos: etnía, legislação e desigual-
tamentos secretos sobre a visita de isii e isi2. Vista de isig-i82o. In: NEVES, Lui7. ( ;u i
`li`tle na colônia. Sertões do Grão Pará, c.i755-c,i823. Tese (Doutorado) Universidade
lhermeSantos(org).0EspíritoSantoemprincípiodoséculoXIX.Apontamentosli"
l.'t`.leral Fluminense, Niterói, 2ooi, p. 2i8.
pelo bispo do Rio de Janeiro à capitania do Espírito Santo nos anos de isi2 e isig. V nu
tó MOREIRA NETO, Carlos de Araújo. Os índios e a ordem imperial. Brasília: CG-
ria: Estação Capixaba e Cultural-ES, 2oo2, p. 89.

142 14
seguiu, nesse aspecto, a mesma direção da legislação pombalina so- ção das fronteiras étnicas entre eles. Nas páginas que se seguem,
bre os índios, acabando com a figura tutelar do Diretor de Índios, procurarei destrinchar o funcionamento do sistema de captação do
segundo o argumento de que isso era necessário para estabelecer a trabalho indígena, durante o regime imperial, nas vilas e lugares do
igualdade entre os vassalos. Assim, os índios deveriam ser tratados Espírito Santo. Mais ainda, tentarei demonstrar que, principalmen-
e governados do mesmo modo que os demais súditos, isso é, não ter te onde o trabalho indígena era mais cobiçado do que suas terras,
``diretores" e submeter-se ao governo da Câmara, como todo e qual-
como aconteceu em algumas partes da província do Espírito Santo
quer outro vassalo. Em outras palavras, entre a Carta Régia de i798 na primeira metade do século xix, o sistema político e administrati-
e a promulgação do Regulamento das Missões de Catequese e Civili- vo, criado à sombra da Carta Régia de i2 de maio de i798, terminou
zação dos Índios, em i845, que recriou a figura tutelar dos Diretore`` por estimular e reproduzir as fronteiras étnicas entre os "índios" e
de Índios, vigorou, ao menos do ponto de vista legal, o autogoverno os ``outros" moradores da província.
dos índios que, isentos de tutela, poderiam ser juízes e vereadores
de suas respectivas Câmaras e governar seus pares.27 Entenda-se por
"autogoverno" dos índios, portanto, além da extinção da tutela dos
"diretores", a subordinação dos índios ao governo da Câmara, cujo``
Estado e trabalho indígena
oficiais poderiam ser índios ou brancos.28
A lei não basta, contudo, para criar ou abolir uma determi-
nada situação social, embora possa, como se sabe, contribuir numa Na correspondência oficial entre os presidentes da província do Es-
ou noutra direção. No campo das relações interrétnicas que, efeti- pírito Santo e as autoridades civis e militares da vila de Nova A1-
vamente, vigoravam na Colônia, a Carta Régia de i7g8 teve, na rea- meida, mantida no período entre i827 e i853, foi identificado um
lidade, um impacto ambíguo, pois favoreceu tanto a superação da`` universo de 85 documentos nos quais os índios são citados textual-
diferenças entre os "índios" e os "outros" vassalos como a reprodu- mente. Esses documentos foram tirados de quatro livros diversos.29
Do livro i7i, foram compulsados 64 documentos com datas-limite
entre 7/5/i828 a 2o/ii/i837, que representam aproximadamente 4i,5%
DOC/Funai, 2oo5, P. 233.
27 CUNHA, Manuela carneiro da. Política indigenista no século xIX. In: CUNH^.
da correspondência total registrada no período.3° Nos outros livros,
Manuela Carneiro da (Org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia d``
Letras/Secretaria Municipal de Cultura/ Fapesp, igg2, P. i52.
28 Para uma discussão da ideia de autogoverno dentro da tradição corporativi``i.i 29 APEES. Série 75i, Livro i7i - "Este livro há de servir para o registro da correspon-
portuguesa, Cf. HESPANHA, António Manuel e XAVIER, Ângela Barreto. A repri` dência deste governo com as autoridades civis e militares da vila de Nova Almeida";
sentação da sociedade e do poder. In: MATTOSO, José (dir.). História de Portug:`l. APEES. Série 75i, Livro i72 - "Este livro há de servir para o registro da correspondência
0 Antigo regime (i62o-iso7). Lisboa: editorial Estampa, s/d, p. i23-i34; MONTEIR( ). deste governo com as autoridades civis, e militares da vila de Nova Almeida"; APEES.
Nuno Gonçalo. Os conselhos e as comunidades. In: MATTOSO, José (dir.). Históri.` Série 75i, Livro isi - Há de servir este livro para o registro da correspondência com as
de Portugal. 0 Antigo regime (i62o-iso7). Lisboa: editorial Estampa, s/d, p. 3i6; Sobit. câmaras municipais das vilas da Serra, Nova Almeida, Linhares, Barra de São Matheus,
a aclimatação de ideias e instituições do Antigo Regime no Brasil, cf. FRAGOSO, Jo:.`o, e Sáo Matheus."; APEES. Série 75i, i82 - "Servirá este livro para o registro da correspon-
GOUVEA, Maria de Fátima e BICALHO, Maria Fernanda (orgs.). 0 antigo regime nti` dência com todas as câmaras municipais do Norte da Província".
trópicos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2ooi, p. 2i. 3o Estimei o número de correspondências em cada livro a partir do seguinte método:

44 14
a frequência de correspondências na quais os índios são citados de livres e que existem boas chances de parte deles serem índios, pois
forma explícita cai vertiginosamente, e as possíveis razões disso se- eram índios a maior parte dos oficiais no começo do século, tal
rão tratadas ao longo do artigo. Por hora, importa registrar que no como atestaram Saint-Hilaire e d. Caetano Coutinho.
livro i72 foram compulsados i3 documentos, com datas-limite entre A partir da série, procurou-se verificar, ao longo do período,
2/2/i838 e ig/8/i842, representando, aproximadamente, ii,5% da cor- os principias temas presentes na correspondência oficial (ver Tabela
respondência total; que no livro isi foram encontrados seis docu- 2); as autoridades responsáveis pelos assuntos relativos aos índios
mentos, com datas-limite entre ii/3/i848 e i7/3/i85i, representando em Nova Almeida, isso é, aqueles agentes civis ou militares da vila
3% da correspondência total; e que no livro i82 foram compulsados para quem os presidentes da província remetiam ordens, instruções
dois documentos, com datas-1imite entre 3o/4/i853 e um documento ou outro tipo de demanda (ver Tabela 3); e, cruzando os dados das
Tabelas2e3,foipossíveltambémidentificarquaisosassuntostrata-
posterior não datado, representando 2,6% da correspondência total.
Importante frisar, além disso, a importância da correspon- dos mais amiude por cada autoridade da vila durante o período em
dência entre a presidência da capitania e as autoridades civis e mili- foco(verTabela4).Noslimitesdestareflexão,contudo,serãoapenas
tares de Nova Almeida para o estudo dos índios. Pois, como observei analisados os aspectos centrais da governança dos índios, com vis-
anteriormente, entre i7g8, com a extinção do Diretório dos Índios, e tas a captá-1os para trabalharem para o Estado.3]
i845, com a aprovação pelo governo de d. Pedro ii do Regulamento Na Tabela 2, pode-se observar que o assunto mais tratado na
de Catequese e Civilização do índios, vigorou o governo dos índios documentação foi sobre o trabalho indígena (58,8%), seguido bem
delongepelasquestõesrelativasàssuasterras(23,5%),pelasreivindi-
pelas Câmaras, por meios dos oficiais civis e militares das vilas. Essa
documentação é, portanto, uma das mais diretas que existem sobrc cações feitas pelos próprios índios (5,9%) e por um conjunto variado
os índios desse período, e foi produzida, ademais, no calor da ação de questões que foram agrupadas no descritor "Outros" (ii,7%). No-
te-se que na composição do assunto "Terra" foram incluídos alguns
política e social. Também observei que tais oficiais civis e militares
das vilas poderiam ser índios ou não. Infelizmente, contudo, as in- documentos de índios, reivindicando direitos com relação às terras
formações da série documental não permitem que seja apurado si` que ocupavam e que poderiam ser dispostos também na linha "Rei-
os oficiais civis e militares vinculados à Câmara de Nova Almeida vindicações dos índios". Para evitar distorções, optou-se por man-
e citados na documentação eram índios, brancos, pardos, pretos ou tê-1os na linha ``Terra". Porém, na tabulação dos dados sobre tipos
mestiços. Sabe-se, no entanto, que eram necessariamente homem de ação do índios, que operacionaliza, entre outros dados, aqueles
referentes às suas reivindicações, incluímos no descritor "Reivindi-
cações dos índios" também aquelas demandas indígenas vinculadas
nos livros, são usadas a frente e o verso das folhas para armazenar as correspondêncii``.
mas só a frente recebe uma numeração. De modo geral, cada correspondência ocupa ii
frente e metade do verso da folha. Com esses dados, estimei que no livro i7i, que pos.su 1
ii6 folhas, tinha 2.32 páginas, contadas a frente e o verso de cada folha. Assim, estimt`l 3i lmportante frisar, contudo, que a documentação compulsada versa sobre um con-
que as 66 correspondências que citavam os índios correspondiam a 4i,5% do total d:`N junto variado de temas e problemas. Mas apesar da importância destes temas, eles não
correspondências. Apliquei o mesmo método para estimar o número de correspondên serãoanalisadosnestetexto,pois,paraserembem-entendidoseexplorados,demandam
cias do livro i72 (85 folhas ou i7o páginas), do livro isi (i5o folhas ou 3oo páginas) c` tln muitomaisespaçodoquesedispõeagora.Noslimitesdestareflexão,portanto,tratarei
livro i82 (ii5 folhas ou 23o páginas). fundamentalmente do universo relativo ao trabalho indígena, tema central deste texto.

146 14
ao tema terra, tal como explicitam as notas explicativas da Tabela 7. prestar ao ``Império e à Nação". Nos demais, não há como auferir o
A Tabela 5 organiza os principais tipos de ocorrência no as- tempodeserviçocombinadoentreaspartesnemtampoucootempo
sunto "Trabalho" e o Gráfico s procura visualizá-los de forma mais de serviço efetivamente prestado pelos índios.
satisfatória. Note-se, além disso, que cada documento pode ter mais As notificações de que índios fugiram de seu posto de tra-
de uma ocorrência dentro do assunto "Trabalho". Assim, nas 5o cor- balho, com ou sem mandato de prisão, por abandono do Serviço
respondências classificadas como pertencendo ao assunto "Traba- Nacional e lmperial, formam a terceira ocorrência mais frequente
lho", foram identificadas 58 ocorrências ligadas ao tema trabalho. A (6,9%). Seguem-se a essa as correspondências que visam organizar
solicitação de índios para a prestação de serviço ao Estado ou para o sistema de recrutamento dos índios (3,4%). Nesse caso, destaca-
render outros índios que já estavam trabalhando para o "Império e -se a preocupação do vice-presidente José Francisco de Andrade e
a Nação" é, em disparado, a principal ocorrência (7o,7%). A título de Almeida Monjardin que, em ig/8/i83o, mandou ao capitão-mor da
exemplo, vale citar a correspondência do presidente da província, vila a ordem expressa de que, sendo ele "capitão-mor dos mesmos
José Francisco de Andrade e Almeida Monjardim, que, em 2/4/i83o, índios", deveria zelar para que ``quando lhe exigir gente, seja sem-
demandou ao capitão-mor de Nova Almeida sete índios para subs- pre recolhido de todos aqueles lugares [i.e., Nova Almeida e Aldeia
tituir os que estavam com o tempo de trabalho vencido.32 0u aind:`. Velha], porquanto, todos devem concorrer para o serviço público",
a correspondência de 26/i/i83o, do Visconde da Vila Real de Praiii acrescentando ainda não ser justo que só o distrito das Águas des-
Grande, solicitando oito índios para render os que se encontravam Sem seus índios.36
no "Serviço Nacional e lmperia|".33 Essa correspondência é bem interessante. De um lado, tes-
A segunda ocorrência mais frequente refere-se aos pagii temunha a existência de um sistema de recrutamento e de rodízio
mentos já realizados ou que deveriam ser feitos a bem dos índiti` de índios para o trabalho que envolvia diferentes lugares. De outro,
(i3,8%). Assim, em i7/g/i828, o presidente lgnácio Accioly de Va`` também testemunha, nas entrelinhas, as relações de poder entre ín-
concellos mandou um aviso ao juiz ordinário de Nova Almeid:i. dios, capitão-mor e as autoridades provinciais. Ou seja, o poder do
ordenando que o administrador da passagem da vila pagasse o jor- capitão-mor, que, ao que tudo indica, era um índio principal que
nal devido aos índios.34 0u ainda, a correspondência expedida pel() podia escolher quais dos "seus índios" seguiriam para o trabalho,
mesmo presidente ao capitão-mor da vila de Nova Almeida, man- Iiberando certos distritos ou grupos, e alistando e prejudicando ou-
dando pagar os vencimentos dos índios que estavam servindo m tros. Mas também o poder de negociação dos índios, que podiam,
Diretoria do Rio Doce e orientando que eles deveriam permane( n entre outras características, recorrer ao presidente e impetrar recla-
nesse serviço por seis meses.35 Esse documento é, ademais, o úiii inações, pois, certamente, foi em razão de reclamações vindas dos
co da série que indica o tempo de serviço que os índios deveriani índios do distrito das Águas que o presidente Monjardim passou
a recomendar ao capitão-mor maior equidade no ``recolhimento"
de "sua gente" para o serviço imperial. As outras ocorrências são
32 APEES. Série 75i, Livro i7i, o2/o4/i83o, p. 35v.
33 APEES. Série 75i, Livro i7i, 26/oi/i83o,p. 33v.
34 APEES. Série75i, Livro i7i, i7/og/i828,p. 8-8v.
35 APEES. Série 75i, Livro i7i, 2i/oi/i82.9, p. i6. 36 APEES. Série 75i, Livro i7i, ig/o8/i83o, p. 40.

149
citava ao sargento-mor, comandante do Regimento Norte, Antônio
variadas (5%) e referem-se, por exemplo, a doenças ou maus-tratos
Bonifácio Pereira, que mandasse dez índios, "dos mais robustos e
ocorridosentreíndiosqueprestavamoServiçolmperialeNacional.
valentes'', acompanhados de suas armas, se as tivessem, para com-
Os tipos de trabalho realizados pelos índios ou os lugares
bater os "quilombos de negros fugidos que se sabe vagar por essas
onde tais serviços eram feitos podem ser consultados na Tabela 6 e
cidades".37 Por fim, as ocorrências classificadas em "outras" perfa-
melhor visualizados no Gráfico 9. A Tabela 6 trabalha com um uni-
zem i6o/o do total e referem-se a um universo bem variado, desde a
verso de 5o ocorrências sobre a prestação de serviço para o Estado,
solicitação de índias "desembaraçadas" (i.e., solteiras ou sem filhos)
nasquais22o/odelasusamasexpressõesgenéricas"ServiçoNacional
e lmperial» e io%, "Serviço Público» ou serviço em ``obras públi- para trabalhar na Santa Casa de Misericórdia com os "expostos"
cas". Somando-as, tem-se que 32% das ocorrências de solicitação de (i.e., crianças abandonadas) até a solicitação de índios para fazer
Serviços de correio.38
índios para prestarem serviço ao Estado não indicam o local ou a
função a ser exercida por eles. Mas se sabe que eles tanto poderiam
serindicadosparaalgumlugaroupostonaprovíncia,situaçáomai,`
frequente, como também poderiam ser enviados para a Corte oii
Governança e gestão do trabalho indígena
para onde mais se julgasse conveniente.
As demais ocorrências especificam a função ou o lugar tlt.
trabalho. Assim, tomando como base as 5o ocorrências, i6% delii`
0 Gráfico 5 visualiza a evolução dos dois principais assuntos trata-
indicam a Diretoria do Rio Doce, que era uma instituiçáo volta.l.`
tlos na correspondência oficial entre os presidentes da província e
para a "pacificação" e o aldeamento dos índios botocudos da prti
its autoridades da vila indígena: trabalho e terra. Mostra que o tema
víncia. Em outras palavras, os índios (civilizados/cidadãos) de Nov.i
i rabalho, embora dominante na correspondência oficial, foi saindo
Almeida eram recrutados para trabalhar no aldeamento dos índ i. w
``selvagens" do rio Doce e exerciam, ali, diferentes tarefas, niii`.. ilo foco das autoridades conforme os anos se passavam. Isso fica
tlemonstrado na queda vertiginosa da frequência desse assunto na
principalmente, os serviços na agricultura, na construção civil e i`i`
u)rrespondência oficial até o seu total desaparecimento, a partir do
defesa contra os ataques dos botocudos, não permitindo que t`I{.`,
siibperíodo i84o-i842. Desde então, o assunto mais frequentemente
entrassem de modo hostil nas áreas povoadas da província e ii"
i ratado na correspondência oficial são temas relacionados às terras
tampoucoquegruposarrediosroubassemplantaçõesedestruíssuii
il(is índios. Entretanto, como o Gráfico 5 bem ilustra, esse assunto
estabelecimentos no próprio rio Doce. Doze por cento refereiii ..i
i`i~`o se tornou uma prioridade para as autoridades, pois, apesar de se
ao trabalho prestado no Forte Sáo João e Passagens e io% indii .i m
i()rnar o assunto mais em voga, sua frequência na correspondência
o Escaler do Governo e Passagens. Em ambos os casos, os ímlin `
t`i`tre os presidentes das províncias e as autoridades civis e milita-
exerciam, principalmente, a funçáo de remeiros e, por isso, ftn ."
agrupados no Gráfico 5, perfazendo 22°/o das ocorrências. 8% W'.
ocorrências citam o corte de madeira e a construção naval e 6°/o rt`l.' 37 APEES. Série 75l, Livro l7l, 27/11/1828, p. 9v-10.
.}8 Cf., respectivamente, APEES. Série 751, Livro 171, 15/06/1829, p. 23; e APEES.
rem-seaocombatedequilombosouàcapturadeescravosfugiii\'in
Série 751, Livro 171, 21/03/1834, p. 72-72v.
Em 27/ii/i828, por exemplo, o presidente Vasconcello`` .\t il i

15
150
res de Nova Almeida é muito menor se comparada com o assunto Não é demais esclarecer que Santa Cruz era um distrito
``Trabalho'', que tanto interesse despertou entre as autoridades da
que surgiu a partir de seu desmembramento de Nova Almeida. Os
"trabalhadores" ali contratados, emi856, não foram devidamente
província.
A redução contínua da frequência do assunto "Trabalho" na identificados no relatório oficial desse ano. 0 mesmo não ocorreu,
correspondência mantida entre o presidente da província e as au- contudo, no relatório de i857, onde eles aparecem cabalmente defini-
toridades da vila, até o seu total desaparecimento, é um dado bas- dos como "índios". Desse modo, a abertura do novo núcleo colonial
tante importante. Sinaliza o progressivo desuso de um sistema de marchava lentamente pela ``dificuldade de obter-se trabalhadores
governo criado ainda no período colonial e cujo principal objetivo activos em número sufficiente tendo por isso continuado a servir-
era organizar os índios para trabalharem para o Estado e os parti- -me de alguns índios de Santa Cruz que só se prestavam a esse ser-
culares. Note-se, contudo, que é o sistema governativo para gerir viço com a condição de serem substituídos por outros em um prazo
o trabalho dos índios que entra em colapso a partir da década de que não devesse exceder de um até 2 meses."4°
i84o, não o costume de os índios prestarem serviços ao Estado e aos Resumindo, o desaparecimento do assunto "Trabalho" na
particulares nem tampouco a subordinação política deles ao gover- correspondência oficial não significa que os índios ficaram livres da
no municipal. Em i856 e em i857, por exemplo, ainda foram encon- obrigação de trabalharem para o Estado e os particulares. 0 traba-
trados registros textuais sobre o recrutamento dos índios da região lho continuou, mas os constrangimentos legais e as formas de orga-
de Nova Almeida para realizarem serviços públicos na província, nizar a gestão da mão-de-obra indígena tornou-se progressivamente
de um modo bastante próximo ao sistema normatizado pela Carta outra. Dentre os novos constrangimentos legais criados para forçar
Régia de i7g8. No relatório provincial de i856, referente à seção "Co- os índios a ingressarem no mercado de trabalho, destaca-se o recru-
lonização", registrava-se que tendo tamento militar compulsório.4[ 0 recrutamento era justificado, além
disso, não tanto no fato de eles serem "índios", mas segundo o argu-
"[...] o governo imperial resolvido definitivamente criar um mento de que os presos para o recrutamento eram "vadios". Desse
colônia nas margens do rio Santa Maria mandei (...) examinm modo, índio que não tivesse família e um estabelecimento próprio
aquelles logares pelo engenheiro João José Sepulveda e Vascoii (plantação), considerado razoável pelas autoridades, ou que não ti-
cellos (. . .) ordenei ontem ao mesmo engenheiro que partisse pai.n vesse um "amo" ou "patrão", caíam invariavelmente nas malhas do
aquelle ponto com 26 trabalhadores, que mandei engajar na villn recrutamento por serem "vadios" e passavam a servir na província
de Santa Cruz, a fim de fazer as picadas necessárias, marcar o ou na Corte do Rio de }aneiro.42
centro da povoação, e medir os prazos ao menos para as prin" Na Tabela 3, pode-se consultar quais foram os destinatários
ras cincoenta famílias, que devem chegar com brevidade à i```ii.
porto.'B9
4o ESPÍRITO SANTO. Relatório provincial, i857, p. i3.
4i MOREIRA, Vânia Maria Losada. Caboclismo, vadiagem e recrutamento militar
entre as populações indígenas do Espírito Santo (i822-i875). In: Diálogos Latino-ame-
ricanos, n. ii, 2o05, P. 1i4.
39 ESPIRITO SANTO. Relatório provincial, i856, p. i2,. 42 Ibidem,p.ii7.

52 153
das ordens e recomendações dos presidentes da província ao longo menores e que destino estava dando a eles?'43 0utro ofício do mes-
do período entre i827 e i853. Os capitães-mor receberam 4o% das mo presidente mandava o juiz de paz Vicente de Jesus devolver as
"crianças Índias" para suas respectivas mães. Mais ainda, advertia-o
correspondências, seguido pelos juízes de paz, que receberam 27°/o,
e pela Câmara, que ficou com i6,5% do total da correspondência ofi- enfaticamente que cessasse esse tipo de prática, segundo a justifica-
cial. As demais autoridades dividem entre si os restantes i6,5% da tiva de que os índios também eram "súditos do lmperador''.44
correspondência oficial do período em foco. A Tabela 4 estabelece a A prática de tirar-se as crianças índias de seus pais e cedê-las
correlação entre temas e autoridades e pode-se verificar que, entre a terceiros vigorava especialmente entre os indígenas recentemente
as três autoridades mais acionadas pela presidência da província, os destribalizados e classificados como "selvagens" pelas autoridades.
capitães-mor tratavam fundamentalmente de temas relativos ao tra- Amparava-se na legislação orfanológica e justificava-se segundo
balho, a Câmara só foi acionada para resolver questões de terra e os o argumento de que os tutores de tais índios (crianças ou adultos)
iriam educá-los, cristianizá-los e civilizá-los e, em troca, poderiam
juízes de paz tinham uma agenda bastante diversificada, tratando
além das questões de terra e trabalho, também de um conjunto va- dispor de seu trabalho a título de ressarcimento pelos gastos efe-
riado assuntos (prisão, investigação de delitos etc.). tuados (CuNHA, igg8, p. i47).45 Em uma passagem da narrativa de
0 Gráfico 7 procura ilustrar a relação entre assuntos e au- Auguste-François Biard sobre a viagem que fez ao Espírito Santo,
toridades e trabalha com números absolutos. Assim, das 34 corres em i858, pode-se ler:

pondências recebidas pelos capitães-mor, 3i relacionavam-se com "Desta vez ele [o anfitrião de Biard] me cedeu um dos seus índios.
o tema "Trabalho". Em outras palavras, 9i,i°/o da correspondênci:i
oficial entre a presidência da província e os capitães-mor eram pan Digo assim porque é costume na província do Espírito Santo to-
solicitar índios para o Serviço Nacional e lmperial ou outros temaL mar-secontadessascriaturasdesdemeninos,emborapertençama
vinculados ao mundo do trabalho. Com relação à Câmara, ioo% alguma instituição orfanológica; comprometem-se a criá-los e vi-
das correspondências recebidas tratavam de assuntos de terra, pois, giá-los até uma certa idade, não como escravos, mas apenas como
todas as i4 correspondências enviadas à Câmara eram sobre es,i:i- empregados." 46(Apud MOREIRA, 2ooi, 99)
tema. Já os juízes de paz receberam ao todo 23 correspondênciii..,
das quais oito eram sobre trabalho (34,7%), 4 sobre terras (i7,3%) e i i
sobre assuntos variados (47,8%). Apesar de legal, a tutela orfanológica não deixa de ser uma
Dentre as questões tratadas entre a presidência e o os juíz,u
de paz classificados em "Outros assuntos", destacam-se as cori"
pondências relativas ao sequestro de crianças índias de seus pai.. 43 APEES. Série 75i, Livro i7i, i5/i2/i829, p. 3o.
Em i5/i2/i829, por exemplo, o presidente da província Viscondt` tli 44 APEES. Série 75i, Livro i7i, 23/i2/i82g, p. 3iv.

Praia Grande questionou severamente o juiz de paz, perguntaml. . 45 CUNHA, Manuela carneiro da. Política indigenista no século xIX. In: CUNHA,
Manuela Carneiro da (Org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das
-lhe "por que ordem tem tirado do poder das Índias seus f`ill`.i'
Letras/Secretaria Municipal de Cultura/ Fapesp, igg2, p. i47.
46 BIARD, Auguste-François. Viagem à província do Espírito santo. Vitória: Secre-
taria Municipal de Cultura, 2.oo2 (2a ed.), p.

154 155
forma disfarçada de trabalho compulsório imposto aos índios, mui- balho dos índios foi o capitão-mor da vila. Ademais, com fim das
to próxima, ademais, à "administração particular" impingida aos ordenanças e do posto de capitão-mor, quem passou a selecionar
índios em São Paulo, durante a maior parte do período colonial, es- os índios para o Serviço lmperial foram os juízes de paz. Também
tudada por John Manuel Monteiro.47 Por isso, as reclamações dos isso não foi por acaso. Pois as ordenanças foram substituídas pela
índios de Nova Almeida contra essa prática é bem interessante, pois Guarda Nacional, a milícia cidadã do lmpério, e a Guarda Nacional
demonstra a luta deles para garantir a própria liberdade e a dos fi- estava subordinada aos juízes de paz, aos juízes criminais, aos presi-
1hos, e o conhecimento que tinham de seus direitos. Não é demais dentes das províncias e ao ministro da |ustiça.5°
lembrar que os índios de Nova Almeida foram agraciados pela Lei Não cabe aqui discutir os novos objetivos vinculados à cria-
de 6 de junho de i755, conhecida como a Lei das Liberdades48, e disso ção da Guarda Nacional. Por hora, basta lembrar algumas conti-
eles não se esqueciam. Assim, embora muitos índios botocudos do nuidades importantes entre ela e as ordenanças, especialmente o
rio Doce fossem entregues aos particulares, de acordo com a Lei de trabalho prestado pelos guardas nacionais ao Estado que, em tudo,
27 de outubro de i83i - que concedeu a liberdade a todos os índios é comparável ao trabalho que antes esses homens deviam ao Estado
cativados durante a vigência das guerras joaninas de isos e isog, e na qualidade de membros das ordenanças de suas respectivas vilas.5[
estendeu-lhes, além disso, a condição de órfãos49 -, o mesmo não Assim, os dados disponíveis apontam que os índios de Nova Almei-
ocorria com a mesma facilidade entre os índios de Nova Almeida. da, depois de extinta as ordenanças, continuaram sob a jurisdição
Afinal, os registros documentais demonstram que eles reclamavam do governo local das Câmaras e no tocante à organização e distri-
veementemente quando isso acontecia e, mais ainda, eram ouvidos e buição deles para o trabalho, ficaram sob o controle do juiz de paz,
atendidos pelas autoridades superiores nessa questão particular, por que também tinha jurisdição e autoridade sobre a Guarda Nacional.
serem reconhecidos como "súditos livres" do Estado. 0 Gráfico 6 visualiza a evolução temporal das correspon-
Note-se, ainda, que os capitães-mor simplesmente deixam dências recebidas pelos capitães-mor, juízes de paz e pela Câmara.
de receber qualquer ofício da presidência da província a partir do Note-se que o declínio das correspondências recebidas pelo capitão-
subperíodo i834-i836 (ver Tabela 3). E isso por uma razáo bem sim- -mor se dá concomitantemente a um pequeno aumento das cor-

ples: em i83i, é criada a Guarda Nacional, extinguindo-se os corpos respondências recebidas pelos juízes de paz, que, a partir de i83i,
de ordenança e, por extensão, também o cargo de capitão-mor das passam a receber as ordens para enviar índios aos serviços lmperial
ordenanças. De qualquer modo, enquanto vigoraram as ordenan- e Nacional. 0 ofício enviado pela presidência da província ao juiz
ças, o principal responsável pela organização e pelo controle do tra- de paz Dionísio Álvaro Ramos, em 9/7/i836, é bem ilustrativo so-
bre as novas funções atribuídas ao cargo que ele ocupava. Informou,
pois, que os índios José Manoel dos Santos, Manoel Joaquim, Ma-
47 MONTEIRO, John Manuel. Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens d{' noel Victoriano, Julião Baptista, Ignácio Francisco, Domingos dos
São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, igg4, P. i37.
48 DOMINGUES, Ângela. Quando os índios eram vassalos: colonização e relaçõc`
de poder no Norte do Brasil, na segunda metade do século XVIII. Lisboa: Comissãt} 5o URICOECHEA, Fernando. O minotauro imperial. A burocratização do Estado
Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2ooo, p. 25. patrimonial brasileiro no século XIX. Rio de Janeiro-São Paulo: Difel, ig78, p i35.
4g CUNHA,op.cit.,p. i48. 5i lbidem,p.i5o.

156 157
Ramos e Ângelo da Victoria estavam regressando à vila depois de dios souberam aproveitar as oportunidades abertas pelo fim da tutela
prestarem serviços na construção da casa para a administração das e pelo autogoverno, pois a participação deles nos postos da República
rendas provinciais e ainda ordenou que o juiz providenciasse outros comojuiz,vereador,capitão-morousargento-mor,porexemplo,pare-
seis índios para substituí-1os no mesmo serviço.52 Mais ainda, em ceterfacilitadoatramitaçãolegaldesuasreivindicaçõeseaspirações.
2o/ii/i837, o presidente José Thomas Nabuco de Araújo reconhecia, No Gráfico io, que ilustra os dados da Tabela 7, optou-se por
de modo bastante enfático, o empenho com que o juiz de paz recru- somar as queixas (32%) e as representações formais (44%) por se tra-
tava índios para o Serviço lmperial. Por isso mesmo, solicitava a ele tarem,naprática,deummesmotipodeaçãobaseadanaestratégiade
o ``maior número possível de índios".53 negociar as demandas e os conflitos pelos canais formais do período.
É importante frisar, portanto, que, durante o autogoverno dos índios
deNovaAlmeida,76%dasaçõesrealizadasporelessãoreclamaçõese
reivindicaçõesexpressasdemaneiraformalouinformalnoscanaisda
Os índios em ação.. prioridades e negociação administração. Ou seja, as reivindicações feitas diretamente ao presi-
dentedaprovínciaforam,delonge,aestratégiapolíticamaisutilizada
por eles.
A Tabela 7 informa sobre os tipos de ação realizados pelos índios que Entre as representações ou queixas encaminhadas pelos ín-
podem ser inferidas a partir da correspondência oficial entre os anos dios, seis referem-se a conflitos de terra, quando os índios pedem a
i827 e i853. Em um total de 25 ocorrências identificadas na série do- devolução das terras das quais foram desapossados ou solicitam que
cumental, duas referem-se a rebeliões (8%) , quatro são sobre fugas ou não sejam perturbados na posse de seus terrenos. Bem exemplar des-
deserção dos postos de trabalho (i6%) e as demais são requerimentos se tipo de requerimento feito pelos índios é o caso narrado em oficio
formalmente apresentados pelos índios (449/o) ou são queixas de índios datadodeig/8/i842.Nessedocumento,opresidentedaprovínciaJoão
que aparecem de modo indireto na documentação (32%). Importante LopesdaSilvainformaaojuizdepazquerecebeuumarepresentação
esclarecer a diferença estabelecida entre "requerimentos" e "queixas". dos índios Miguel da Silva e Antônio das Neves, que reclamvam "das
Em certas correspondências, fica bastante evidente que a preocupação violências[e]arbitrariedadescontraelespraticadasporVictorinoJosé
dopresidentefoimotivadaporqueixasoudemandasdeíndios.Como Pinto, o qual confiado na proteção de algumas autoridades e outras
não há, contudo, um modo seguro de auferir se se tratavam de reque- pessoas, tem [perturbado] a posse dos Índios das terras que lhes fo-
rimentos formais impetrados por eles, arrolaram-se esses documen- ramconcedidas".0presidenteaindaordenouqueVictorinoassinasse
``termodenãoincomodarmaisosÍndiosnogozodesuasterras",afir-
tos na rubrica "queixas". Os requerimentos, ao contrário, sáo queixas
formalizadas nos canais institucionais da vila e da província. Este é mando ainda que o juiz seria responsabilizado caso a ordem não fosse
um dado muito importante. Sinaliza, dentre outros itens, que os ín- Cumprida.54
Entre os demais requerimentos e as queixas, cinco reclama-

52 APEES. Série 75i, Livro i7i, og/06/i836, p. ioo.


53 APEES. Série 75i, Livro i7i, 2o/ii/i837, p. ii4v. 54 APEES. Série75i, Livro i72, ig/o8/i843, P. 73.

158
159
vamsobreosequestrodefilhos,istoé,procuravamgarantirodireitoà dim,emexercícionocargodepresidentedaprovínciaemi83i,man-
liberdade dos filhos; seis, contra o comportamento violento de autori- dou o capitão-mor das ordenanças da vila de Nova Almeida tomar
dades ou moradores; e dois, contra os procedimentos de recrutamento providências contra os índios que "espalham boatos ameaçadores e
deíndiosparaoServiçolmperial.Umaúltimacorrespondênciaman- aterradores de lançarem fora os brancos [. . .] fazendo conhecer a esta
da que seja assinado um "termo de bem viver" entre os índios e um genteignorantequeserãocastigados[...]norigordasleis.'38Alémdis-
moradordaregião.Nãohácomosaberomotivodoconflitoqueestava so, o presidente ainda recomendou ao capitão-mor que empenhasse
em pauta, mas apenas especular que, possivelmente, tratavam-se de todooseu``zeloparadissuadi-loseinformá-1osarespeitodasleisedas

litígiosporterras,tendoemvistaocrescimentodessetipodeproblem autoridadesconstituídas.'39Emoutrodocumentoenviadoaocapitão-
-mor,solicitaquesemandeojuizprocederauma``inquisição"sobreo
na região.
Enfim, os dados mostram que os problemas de terra, os se- casoe,maisainda,quefossemprocessadososcabeçasdarebeliãodos
índios.6o
questros de filhos (garantia da liberdade) e os atos de violência são oS
trêsmotivosbásicosquesustentamasqueixaserepresentaçõesdosíii 0conjuntodedocumentosapartirdosquaisseaufereotipo
dios.Porexemplo,em2,3/8/i838,opresidenteJoãoLopesdaSilvainfoi-
deaçãorealizadapelosíndiosnoperíodoemfocoaponta,commuita
mava ao juiz de paz que havia recebido o requerimento do índio Josi'` clareza,queelesnegociavamcomasautoridadesseusinteressese,mais
Bernardino e pedia explicações circunstanciadas sobre o assunto, atl que isso, dentro dos limites da legalidade. Isso não excluía, no entan-
vertindo-oque"náopodeenemdevetirarosindígenasdopoderdiH to,açõesindividuaisoucoletivasque,aosolhosdasautoridades,eram
consideradas ilegais, como a fuga do posto de trabalho ou a rebelião
pais ou daqueles que os tenham criado para dá-1os a terceira pessoa.
não havendo melhoramento de condição, como no caso presente.'tç coletivacontraosbrancos.Nãoépretensãodesteartigoexplorarare-
Também bastante elucidativo é o ofício datado de 2i/3/i834. i w i beliãodosíndiosdeNovaAlmeidaque,pelaspoucasindicaçõespre-
sentes, provavelmente, relacionava-se com o progressivo avanço dos
qual o presidente Manoel José Pires da Silva Pontes ordenava ao jiiií "brancos''sobresuasterras.Importantefrisar,contudo,queosíndios
depazqueeleparassede``violentar"osíndios,obrigando-osalevarciii
à Vitória ofícios. Recomendava que para esse serviço extraordinárl. . participavam da sociedade imperial capixaba não apenas como mão-
-de-obra,trabalhandoaServiçodolmpérioedaNação,mastambém
deveriam ser contratado "caminheiros", abonando-os com a quai`t i.i
agindoafavordeseusprópriosinteresses,talcomoficademonstrado
que fosse de ``razão".56 0u, ainda, a correspondência de 23/5/i837, ii i
em suas fugas, seus requerimentos e suas rebeliões.
qualopresidenteinquireojuizdepazdeNovaAlmeidaseelejáhavli
procedidoaosumáriodeculpadosoldadodepolíciaJoséJoaquimtli.
Reisporter"cometidoinsultoseviolências"contraosín-dios.57
Apenas 8% das ocorrências são sobre rebelião, isto é, doi`` .1. .
cumentos. No primeiro, José Francisco Andrade e Almeida Mtn w

58 APEES. Série75i, Livro i7i, ii/ii/i83i, p. 52.


55 APEES. Série 75i, Livro i72, 23/o8/i838, p. i4.
59 Idem.
56 APEES. Série 75i, Livro i7i, 2i/o3/i834, p. 72-72v.
6o APEES. Série75i, Livro i7Hi/ii/i83L p. 52v.
57 APEES. Série75i, Livro i7i, 23/o5/i837, p. ii2.

160
161
Considerações f inais.. trabatho e fronteiras étnicas mia regional camponesa, especialmente aquela existente antes do
ingresso dos imigrantes italianos e alemães no Espírito Santo, e
que era exercida pelos seguimentos pobres e livres da província.
0 Espírito Santo oitocentista foi uma regiáo do lmpério bastante Ambas as questões, no entanto, ainda não foram enfrentadas pela
indígena. Não apenas no sentido mais frequentemente estudado e historiografia sobre a região.
aceito pela historiografia, isto é, como uma província que abrigava Em suma, existiu no Espírito Santo um ativo aparato admi-
muitas tribos de índios puris e botocudos em suas matas e sertões. A nistrativo voltado para obtenção e organização do trabalho dos ín-
província foi uma região muito indígena também porque os índios dios para o Estado. Esse sistema foi montado segundo as regras ins-
atuavam no cotidiano de sua vida social e política, contribuindo tituídas pela Carta Régia de i2 de maio de i798 e adaptado às novas
para moldar e desenvolver a vida local, juntamente com os brancos, condições políticas e institucionais do período pós-Independência,
os pardos, os pretos e os escravos. demonstrando que as leis e práticas coloniais com relação aos índios
As estatísticas oficiais elaboradas no período e os diferentes durou muito na província do Espírito Santo. Mais ainda, o interesse
testemunhos históricos sobre a região durante a primeira metade pelo trabalho dos índios e o sistema governativo e administrativo
do século xix demonstram que os índios representavam uma fatia criado para garantir a captação deles para o mundo do trabalho aca-
da população importante para a estruturação e o funcionamento da bou reforçando as fronteiras étnicas entre eles e os outros, apesar de
vida local. A preocupação das autoridades em organizá-los e contro- o discurso oficial do lmpério pregar a igualdade jurídica dos índios
lá-los, inserindo~os de modo compulsório na economia local, não com relação aos demais cidadãos e, mais que isso, incentivar a mis-
foi, por isso mesmo, uma ação esporádica ou feita ao acaso das cir- cigenação e assimilação social deles sem diferença com relação aos
cunstâncias. Bem ao contrário, essa ação das autoridades provinciais demais brasileiros.
foi sistemática e de longa duração, demonstrando que a organização Como bem argumentou Fredrik Barth, a etnicidade é um
social e política das vilas e lugares indígenas estavam sistematizadas processo históricossocial relacional. Ocorre, portanto, entre gru-
segundo regras e costumes instituídos ainda no período colonial. pos sociais que estão em contato e interação, quando se atribui e/
0 serviço prestado pelos índios ao lmpério e à Nação não ou assume-se uma identidade étnica, isto é, uma identidade baseada
esgota, de modo algum, a contribuição do trabalho dos índios para na presunção de uma origem comum, criando-se, desse modo, fron-
a estruturação da economia e da sociedade local. Ao longo do tex- teiras étnicas (e sociais) entre os grupos sociais.6] (igg8, p.ig5) Mas
to, foi frisado que eles também eram obrigados a trabalhar pari` como ainda observou o autor, onde indivíduos e grupos de culturas
si e para os particulares, dimensões importantes para se compre, diversas então em interação, a expectativa é a de que, ao longo do
ender os diferentes processos de inserção dos indígenas ao mun- tempo, desenvolva-se "uma congruência de códigos e valores - uma
do social dominante, mas que, nos limites desta reflexão, não foi similaridade ou comunidade de cultura. [...] Assim, a persistência
possível explorar. Apesar disso, não é demais lembrar que esses
dados sugerem duas situações: que os índios trabalhavam para (i* 6i BARTH, Fredrik. Grupos étnicos e suas fronteiras. In: POUTIGNAT, Philippe e
particulares, tanto no meio rural como nos estabelecimentos ur- STREIFF-FENART, Jocelyne (orgs) . Teorias da etnicidade. São Paulo: Fundação Edi-
banos; e que eles também eram responsáveis por parte da econt)- tora da Unesp, igg8, P. i95.

162 163
de grupos étnicos em contato implica critérios e sinais de identifica- que isso não quer dizer que o Estado cessou de requisitar o traba-
ção, mas igualmente uma estruturação da interação que permite a lho dos índios e menos ainda que eles tenham "desaparecido" da
persistência das diferenças culturais.'%2. história e da sociedade. 0 que estava em processo de extinção não
Essas ponderações de Fredrik Barth são fundamentais para eram os índios de Nova Almeida nem o uso de seu trabalho, mas as
se começar a destrinchar o problema sobre como e por que determi- formas coloniais de classificação social e governança.
nados setores da população indígena do lmpério foram progressi-
vamente adotando outras identidades, como de ``cidadão" e "lavra-
dor", ou sendo classificados segundo outras categoria sociais como
"trabalhador" ou "vadio", por exemplo, enquanto outros indivíduos
e grupos continuaram sendo etiquetados como "índios" e vivendo
primordialmente segundo essa condição étnica e social. No âmbito
deste artigo, restringi a análise sobre o impacto da Carta Régia de i2
de maio de i798 e do sistema político e administrativo criado a sua
sombra no Espírito Santo, pois foi esse sistema políticossocial que
estimulou e reproduziu as fronteiras étnicas entre os "índios" e os
"outros" na província. Em outras palavras, o interesse do Estado eni

obter a mão-de-obra indígena incentivou a reprodução das frontei.


ras étnicas na vila de Nova Almeida. Da parte dos índios, contudo, i`
documentaçáo sugere outro ponto. Ao que tudo indica, era o desejti
de manterem as terras que legalmente possuíam que os estimulava a
assumir socialmente a identidade indígena, mesmo que isso signifi-
casse ficar a serviço do lmpério e da Naçáo.
Outra conclusão decisiva que se pode tirar do material an:i
lisado nos gráficos e tabelas deste artigo é a de que, ao mesmo temp{ i
que as fontes atestam a existência e a eficácia de um sistema monta-
do para a extração do trabalho indígena, a instituição estava cain(h
em desuso durante o regime imperial. Afinal, à proporção que sc
avançou para a metade do século, houve uma profunda redução (lti
uso da estrutura política e administrativa da vila para controlar ü
força de trabalho indígena. Mas é muito importante que se perccbü

62 Ibidem, p. ig6-ig7.

164
Tabela 2: Assuntos indígenas tratados na correspondência oficial entre os presi-
dentes da província do Espírito Santo e as autoridades civis e militares da vila de
Nova Almeida, no período entre 1828 e 1853

Assuntos

Trabalho

Terra

Reivindícaçõesdos índios

Outros

Total
3
'.88238o-

34

39
8

i4
',%33t3-

i
3

7
2
',%%.

9
2*
',8á79-

7"

8
lntervalos de anos

tí#°2-

Fonte: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, Série 75i, Livro i7i -"Este livro h{'i
de servir para o registro da correspondência deste governo com as autoridades civis e
militares da vila de Nova Almeida"; Série 75i, Livro i72 - ``Este livro há de servir para ()
Registro da correspondência deste Governo com as autoridades civis, e militares da vila tli
Nova Almeida"; Série 75i, Livro isi - Há de servir este livro para o registro da correspon
dência com as câmaras municipais das vilas da Serra, Nova Almeida, Linhares, Barra dt.
São Matheus, e São Matheus."; Série 75i, i82 - "Servirá este livro para o registro da cori t".
pondência com todas as câmaras municipais do Norte da Província''.
* Os dois documentos referem-se a requerimentos de índios reivindicando a devolução tl.
',8á35.

2
',#68.

3
',¥5:-

3
',%323-Totai(%)

5o (58,8%)

20 (23.5%)

5'.' (5,9%)

io (ii,7%)

85 (99,9%)
\ Gráfico 5: Evolução dos assuntos no período 1828-1853

v»NS*%§ SX*"S SN*ffs& v$3N*HS +%sWF v%N#*S v%#R*§ §*"S +SgffivsFb

Fonte: Tabela 2
-Trabalho -Terra

Gráfico 6: Evolução da frequência das correspondências recebidas


pelas autoridades de Nova Almeida no período 1828-1853

suas terras.
" Dentre os 7 documentos, 4 referem-se a requerimentos de índios reivindicando seus
diretos sobre as terras.
*** Este resultado não inclui os 6 documentos onde há referência de índios reivindicamli i

suas terras, que foram arrolados na coluna temática "Terra».

vsst8*Sb S*NS S*SS S«*SSS ,Sff° SSXS ,SS vsSg*SS Sfi¥S


-Capitão-mor -i.`i-.Juiz de paz -Câmara

Fonte: Tabela 3

166 167
Tabela 4: Relação entre os assuntos e as autoridades civis e militares da vila de
Tabela 3: Autoridades civis e militares da vila de Nova Almeida responsáveis
Nova Almeida, no período entre 1828 e 1853.
pelos assuntos indígenas no período entre 1828 e 1853.

Assuntos

Autoridades Trabalho Terra Reivindicações dos índios Outros Totai (%)

1849 - 1852- Total


1828. 1831- 1834- 1837- 1840- 1843- 1846-
1851 1853 (%) Capilão-mor' 31 1 2 34 (40%)
1830 1833 1836 1839 1842 1845 1848
34
Cap.itão-mor 24 io (40%)
Sargento-mor 6 6 (7o/o)

Juiz ordinário 1 i 2 (2,4°/o)


Sargento-mor 6
Juiz de paz 8 4 3 8 23 (27%)
Juizordinário 2
Câmara" 14 14 (16,5)
23
93
Juizdepaz 3 3 5 (27%) Outros 4 2 6 (70/o)

14 Total (°/o) 50 (58,8°/o) 20 (23,5%) 5"* (5,9°/o) 10 (11,7°/o) 85 (99,9)


Câmara.* 1 2 3 2 3 3 (16,5%)

6 (7%)
Fonte: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, Série 75i, Livro i7i - "Este livro há
de servir para o registro da correspondência deste governo com as autoridades civis e
militares da vila de Nova Almeida"; Série 75i, Livro i72 - "Este livro há de servir para o
Totai 39 14 7 9 8 2 3 3 :959"
Registro da correspondência deste Governo com as autoridades civis, e militares da vila de
- "Este livro há
Fonte: Arquivo
L``'.._' ---l-__ _ Público do
Estado do Espírito Santo, Série 75i, Livro i7i Nova Almeida"; Série 75i, Livro isi - Há de servir este livro para o registro da correspon-
deservirparaoregistrodacorrespondênciadestegovemocomasautoridadescivise dência com as câmaras municipais das vilas da Serra, Nova Almeida, Linhares, Barra de
militaresdaviladeNovaAlmeida»;Série75i,Livroi72-"Estelivrohádeservirparao São Matheus, e São Matheus."; Série 75i, i82 ~ "Servirá este livro para o registro da corres-
RegistrodacorrespondênciadesteGovernocomasautoridadescivis,emilitaresdavila.1t. pondência com todas as câmaras municipais do Norte da Província».
* As correspondências enviadas aos "capitão-mor", "capitão-mor das ordenanças" e "co-
NovaAlmeida";Série75i,Livroisi-Hádeservirestelivroparaoregistrodacorrespon-
dênciacomascâmarasmunicipaisdasvilasdaSerra,NovaAlmeida,Linhares,Barrade mandante da ordenança" estão todos arrolados nesta coluna.
" As correspondências enviadas à ``câmara", ao "presidente e vereadores da câmara" ou
SãoMatheus,eSãoMatheus`'';Série75i,i82-"Serviráestelivroparaoregistrodacorrü
pondênciacomtodasascâmarasmunicipaisdoNortedaProvíncia". ao "presidente da câmara" estão todos arrolados nesta coluna.
*Ascorrespondênciasenviadasaos"capitáo-mor","capitão-mordasordenanças»,"co- *** Este resultado não inclui os 6 documentos onde há referência de índios reivindicando

mandantedaordenança''estãotodosarroladosnestacoluna. suas terras por meio de requerimentos ou representações, que foram arrolados na coluna
"Ascorrespondênciasenviadasà``câmara"eao`.presidenteevereadoresdacâmara"" temática ``Terra".
ao``presidentedacâmara"estãotodosarroladosnestacoluna.

169
168
Tabela 5: Tipos de ocorrência no assunto "Trabalho" presentes na correspondên-
cia oficial entre os presidentes da província do Espi'rito Santo e as autoridades
Gráfico 7: Relação entre os assuntos e autoridades no civis e militares da vila de Nova Almeida, no período entre 1828 e 1853.
período 1828-1853
Tipos de ocorrência no assunto "Trabalho' Número de ocorrências (°/o)

Solicitação e/ou substituição de Índios para o `Servíço Naclonal e lmperiar 41 (70,7%)

Prisão por deserção ao trabalho e/ou notificação de deserção 4 (6,9%)


40
Remuneração de trabalho realizado 8 (13,8%)

30 Organização do processo de recrutamento para o Serviço Nacional e lmperial 2 (3,4%)

Outros 3 (5.1%)
20

1.1
Total 58(99,9o/o)
10

Fonte: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, Série 75i, Livro i7i - "Este livro há
0
Juiz de paz de servir para o registro da correspondência deste governo com as autoridades civis e
militares da vila de Nova Almeida"; Série 75i, Livro i72 - "Este livro há de servir para o
•Trabalho lTerra |Outrosassuntos
Registro da correspondência deste Governo com as autoridades civis, e militares da vila de
Nova Almeida"; Série 75i, Livro isi - Há de servir este livro paLra o registro da correspon-
Fonte: Tabela 4 dência com as câmaras municipais das vilas da Serra, Nova Almeida, Linhares, Barra de
São Matheus, e São Matheus."; Série 75i, i82 - "Servirá este livro para o registro da corres-
pondência com todas as câmaras municipais do Norte da Província».
Observação: um mesmo documento compulsado pode possuir mais de uma ocorrência.
Gráfico 8: Tipos de ocorrências no assunto ``Trabalho"
presentes na correspondência oficial no período 1827-1853

• Solicitação e/o u su bstitiiiç,íu

-Prisão e/ou deserção

•Remuneração

-Orga nização do rec rutarnm i o

11 Ol'tros

Fonte: Tabela 5

17
70
Tabela 6: Tipos ou lugares de trabalho citados na correspondência oficial entre
os presidentes da província do Espírito Santo e as autoridades civis e militares da
Gráfico 9: Ocorrências de lugares e tipos de trabalho na
vila de Nova Almeida, no período entre 1828 e 1853.
corresponência ofical no peri'odo 1828-1853

Número de ocorrências (%)

11 (22%)

5 (10%) • Sffviço Nacional e lmperial e


Sffviço Público
5 (10%)

6 (12%) • Escaler do govemo, Forte São


João e passagens
8 (16%)
• Diretoria do Rio Doce
3 (6%)

4 (8%) • Combate a quilombos e captura


8 (16%) de escravos fijgitwos

5o (100%) • Corte de madeira e construção


de escuna

Fonte: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, Série 75i, Livro i7i - "Este livro há 1 Outros

de servir para o registro da correspondência deste governo com as autoridades civis e


Fonte: Tabela 6
militares da vila de Nova Almeida"; Série 75i, Livro i72 - "Este livro há de servir para o
Registro da correspondência deste Governo com as autoridades civis, e militares da vila de
Nova Almeida"; Série 75i, Livro isi - Há de servir este livro para o registro da correspon-
dência com as câmaras municipais das vilas da Serra, Nova Almeida, Linhares, Barra de
São Matheus, e São Matheus."; Série 75i, i82 - ``Servirá este livro para o registro da corres-
pondência com todas as câmaras municipais do Norte da Província".
Observação: um mesmo documento compulsado pode possuir mais de uma ocorrência.

172 173
Tabela 7: Tipos de ação dos Índios inferidos ou citados na correspondência
oficial entre os presidentes da província do Espírito Santo e as autoridades civis e Gráfico 10: Tipos de ação dos Índios presentes na
militares da vila de Nova Almeida, no período entre 1828 e 1853. corresponência Ofical no período 1828-1853

Tipos de ação dos índios Número de ocorrências (%)

Rebelião 2 (8%)

Fuga e deserção do trabalho 4 (Ió%)


1 Rebelião
Requerimento ou repre sentação às autoridades* 11 (44%)

Queixas 8 (32%)
• Fuga e/ou deserção
Total 25 (100%)

I Requerimentos,
Fonte: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, Série 75i, Livro i7i - "Este livro há representações e queixas
de servir para o registro da correspondência d€ste governo com as autoridades civis e
militares da vila de Nova Almeida"; Série 75i, Livro i72 - "Este livro há de servir para o
Registro da correspondência deste Governo com as autoridades civis, e militares da vila de
Nova Almeida"; Série 75i, Livro isi -Há de servir este livro para o registro da correspon-
dência com as câmaras municipais das vilas da Serra, Nova Almeida, Linhares, Barra de Fonte: Tabela 7
São Matheus, e São Matheus."; Série 75i, i82 - "Servirá este livro para o registro da corres-
pondência com todas as câmaras municipais do Norte da Província".
Observação: um mesmo documento compulsado pode possuir mais de uma ocorrência.
*foram contabilizados nesta coluna todos as ocorrências de requerimentos ou represen-

tações, inclusive os 6 requerimentos referentes a terras ou terrenos que na Tabela i foram


arrolados na coluna "Terra».

174
175

Você também pode gostar