27 Craniana 1
27 Craniana 1
Osteopatia Craniana
1 - INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 4
6.4.5 – Técnicas para correção das disfunções fisiológicas e adaptativas da SEB .......................... 99
1 - INTRODUÇÃO
William Garner Sutherland (1873 – 1954), discípulo de A.T. Still, é considerado o pai da
Osteopatia craniana. Estudou na American School of Osteopathy em Kirksville, nos Estados
Unidos, onde se graduou em 1899. Em seguida, passou cerca de 30 anos estudando
profundamente e realizando experiências em seus pacientes e nele mesmo para que
posteriormente pudesse compartilhar suas ideais sobre a mobilidade craniana. Sugeriu a presença
de um movimento sutil, rítmico e involuntário da caixa craniana denominado por ele como o
“mecanismo respiratório primário” (MRP).
Esse mecanismo foi inicialmente descrito no ano de 1939 na primeira obra publicada por
Sutherland, “The Cranial Bowl”. Insinuou que o MRP afetaria a respiração celular e outros
processos fisiológicos orgânicos, e que seria um mecanismo fisiológico vital para o ser humano –
o “sopro da vida”. Na literatura atual, outros termos podem ser encontrados relacionados ao
movimento inerente do crânio além do termo inicialmente denominado por Sutherland de MRP,
como o “ritmo craniosacral” (RCS) ou também o “impulso rítmico craniano” (IRC).
Para Sutherland, o MRP era a força propulsora do movimento dos ossos cranianos.
Propôs que esse mecanismo seria influenciado por uma ação rítmica do cérebro que levava à
contração e dilatação rítmica dos ventrículos cerebrais para bombear o líquido cerebroespinhal.
As meninges intracranianas (foice do cérebro, foice do cerebelo e tenda do cerebelo), designadas
por ele como membranas de tensão recíproca, receberam uma atenção especial. As meninges
cranianas seriam responsáveis pela transmissão de forças entre crânio e pelve através da dura-
máter, dessa forma produzindo um movimento sincrônico entre os ossos e cranianos e pelve.
W.G. Sutherland faleceu com 82 anos deixando discípulos admiráveis como Harold
Magoun, Denis Brooks e Viola Frymann. A osteopatia craniana desde então vem sendo ensinada
nas escolas de osteopatia ao redor do mundo. As abordagens técnicas cranianas requerem que o
praticante estude profundamente a anatomia e fisiologia dos ossos cranianos, das suturas, das
meninges além de todo o conteúdo intracraniano. Essas informações são necessárias para buscar
compreender os possíveis mecanismos fisiológicos relacionados ao IRC e como as disfunções
cranianas podem se manifestar no corpo. Além disso, é necessário praticar muito e desenvolver
progressivamente a percepção mobilidade craniana para saber reconhecer padrões fisiológicos ou
disfuncionais.
2.1 - Ossos
O crânio pode ser dividido em
Netter, 2015.
Netter, 2015.
Os detalhes anatômicos e relações fisiológicas de cada osso serão descritos mais adiante.
2.3 - Suturas
As articulações do corpo humano são locais de união/junção entre dois ou mais ossos ou
partes de ossos. Tecidos conjuntivos/conectivos flexíveis fixam os ossos e permitem movimento.
Algumas proporcionam proteção e não movimentos angulares, mas apresentam capacidade de
adaptação plástica às tensões impostas sobre elas. Quando os ossos que compõem as articulações
são próximos, a articulação é forte – movimento restrito.
A posição dos:
Ligamentos,
Músculos,
Tendões.
Gonfose – dentes;
Sincondroses;
Sínfises.
Planas;
Dobradiça (gínglimo);
Selares;
Bicondilares;
Esferóideas;
Trocóideas.
Dependendo da localização dos ossos, podemos dizer que estes ossos apresentam:
• Bisél externo: quando a “faceta” deste osso que se articula com outro, fica voltada
para fora.
• Bisél interno: quando a “faceta” deste osso que se articula com outro, fica voltado
para dentro.
Osteopatia Craniana
Palpe o vértice do crânio e sinta toda a extensão serrilhada da sutura sagital. Busque
assimetrias e alterações de densidade tecidual. Siga a sutura sagital anteriormente, até sentir o
bregma, a junção das suturas sagital e coronal. A partir do bregma, palpe toda a extensão da
sutura coronal bilateralmente. Busque assimetrias, densidade e sensibilidade das articulações.
Partindo do astério, palpe a sutura lambdóide no sentido medial e superior, até chegar ao
lambda, junção da sutura lambdóide e sagital. Volte até o astério e palpe o processo mastóide
do temporal bilateralmente comparando o posicionamento. Posteriomente aos processos
mastoides palpe a sutura occiptomastoide até que seus dedos se percam nos tecidos moles que
se fixam nesta região.
Chegando ao násio, mova para cima entre as duas cristas supra-orbitárias do osso fontal
até chegar no ponto chamado de glabela. Superiormente a glabela, o terapeuta pode sentir a
sutura metópica como uma depressão ou crista.
Bordoni e Lagana relata aspectos anatômicos e fisiológicos do tecido ósseo, com a proposta de
inseri-lo como parte do sistema fascial.
Uma das classificações mais utilizadas atualmente (Willard et al, 2019) que as fáscias
podem ser divididas em:
Podemos encontrar todos os 4 tipos de fáscias no crânio, porém nesse momento o texto
dará enfoque nas fáscias meníngeas ou neurais.
São compostas pelas meninges dispostas no crânio e no canal vertebral, assim como o
envelope dos nervos periféricos (epineuro). As meninges do sistema nervoso central são
formadas por três camadas de dentro para fora: pia-máter, aracnóide e dura-máter (Adeeb, 2012).
2.6.2 - Aracnóide
Membrana muito fina justaposta à dura-máter que se separa desta num espaço virtual
denominado espaço subdural. Este espaço contem pequena quantidade de líquido necessário
para lubrificar as superfícies de contato. O espaço subaracnoideo separa a aracnóide da pia-
máter, e contem líquido cérebro-espinhal ou líquor.
Em certos pontos a aracnóide forma pequenas invaginações que penetram nos seios da
dura-máter, chamadas de granulações aracnoides, encontradas abundantemente no seio sagital
superior. São estruturas com função de absorver o líquor do espaço subaracnoideo para o sangue
venoso dos seios.
2.6.3 – Dura-máter
A dura-máter é a membrana mais superficial, espessa e resistente das três. É formada por
tecido conectivo rico em colágeno contendo vasos e nervos. A dura-máter intracraniana é
diferente da espinhal, pois é formada por dois folhetos (externo e interno), sendo que apenas o
folheto interno deixa o crânio e envolve a medula espinhal. Dentro do crânio, o folheto externo
da dura-máter fica intimamente ligado ao periósteo dos ossos cranianos. O folheto interno da
dura-máter intracraniana forma a as foices (do cérebro e cerebelo) e a tenda do cerebelo
(diafragma craniano) que criam verdadeiros compartimentos dentro da calota craniana. Os
folhetos internos também formam sulcos que permitem a passagem do sangue venoso
intracraniano – seios venosos.
Sobotta, 2018.
É ligada ao forame magno do osso occipital e desce pelo canal medular se fixando na
coluna cervical superior (C0-C1-C2) e continua até se fixar no sacro (S2). Sutherland sugeriu
que esta ligação da membrana de tensão recíproca (inelástica) permite a conexão do mecanismo
craniossacral, promovendo ao sacro movimentos sincronizado com a flexão/extensão craniana.
ü dura-máter = epineuro
ü aracnóide = perineuro
ü pia-máter = endoneuro
Foice do cérebro
Dupla camada de tecido conjuntivo disposto no plano sagital. Fixa-se anteriormente na
crista gali do osso etmóide e no osso frontal, segue posteriormente sob a sutura sagital (entre os
parietais) até a protuberância interna do occipital, na superfície da tenda do cerebelo (Adeeb et
al, 2012). Divide o crânio em dois compartimentos delimitando os dois hemisférios cerebrais.
Forma na sua parte superior o seio sagital superior, e na sua extensão inferior o seio sagital
inferior. O ponto de encontro com as outras duas membranas (foice e tenda do cerebelo) forma o
seio reto.
Schunke, 2013.
Foice do cerebelo
Pequeno septo vertical mediano abaixo da tenda do cerebelo que divide os dois
hemisférios cerebelares.
Apresenta uma margem livre em formato de U para dar passagem ao tronco encefálico –
incisura tentorial). No ápice da porção petrosa, logo abaixo do seio petroso superior, a camada
inferior da tenda forma um recesso para o gânglio trigeminal (Gasser) (Adeeb et al, 2012).
Schunke, 2013.
As fibras sensoriais da dura- máter craniana seguem o trajeto das artérias cerebrais para
alcançar o tecido alvo. Muitos neurônios apresentam sensibilidade mecânica, térmica e química.
VASCULARIZAÇÃO DA DURA-MÁTER
Foi sugerido por muito tem que a que a dura-máter craniana era uma estrutura avascular,
exceto em suas camadas periosteais. Porém os trabalhos de Kerber e Newton, em 1973,
iniciaram uma nova perspectiva sobre a vascularização e o metabolismo dessas fáscias.
- dura-máter da fossa anterior: artéria meníngea anterior (ramo das artérias etmoidais anterior e
posterior, e da artéria carótida interna) e ramo da artéria meníngea média
- dura-máter da fossa média: ramos meníngeos e médios e acessórios (ramos da artéria maxilar),
ramos da carótida interna e um ramo recorrente da artéria lacrimal
- dura-áter da fossa posterior: ramos meníngeos da artéria occipital, ramos meníngeos posteriores
da artéria vertebral, e ocasionalmente ramos da artéria faríngea ascendente.
A maior e mais importante dessas artérias que suprem a dura craniana é a artéria
meníngea média – origina-se do ramo maxilar da artéria carótida externa. Raramente ela se
origina da artéria carótida interna (Adeeb et al, 2012).
CONSIDERAÇÕES OSTEOPÁTICAS
• A hipófise tem íntima relação com as meninges (diafragma hipofisário), de tal forma que
as restrições/disfunções podem ter repercussões tróficas sobre essa glândula e sobre o
sistema neuroendócrino;
• É necessário levar em consideração a importante relação dos primeiros níveis medulares
com o núcleo sensitivo do trigêmeo. Como citado acima, as fibras desses nervos
participam em conjunto da inervação sensorial da dura-máter craniana (além do
hipoglosso e vago)
Segundo Greenman (2001), é através destas conexões membranosas que ocorre o
movimento sincrônico do crânio e do sacro. A tenda do cerebelo pode ser vista como o
diafragma craniano. Ela desce e se achata durante a inspiração, da mesma forma que o diafragma
costal e o pélvico. Numa situação de homeostase, estes diafragmas devem funcionar de maneira
sincronizada. Se alguma disfunção interferir sobre um deles, os outros também serão alterados.
Através da continuidade das membranas intracranianas com a dura-máter espinhal
conectada ao forame magno, e especialmente nas vértebras cervicais superiores (ponte miodural)
e no sacro – existe uma conexão direta entre os movimentos cranianos e do sacro. Esta é a
chamada “conexão central”.
As veias encefálicas têm suas paredes muito finas por ter poucas fibras musculares, sendo
que a circulação ativa desses vasos é controlada por:
- pulsação arterial: é realizada numa cavidade fechada, e essa eficácia aumenta no seio
cavernoso que recebe as tensões da artéria carótida interna que o ultrapassa;
- impulso rítmico craniano???: sugere-se que esse ritmo involuntário e cíclico tenha papel
importante na drenagem fluídica craniana, que poderia ser influenciada pelas tensões
membranosas alternantes impostas durante o mecanismo dos movimentos cranianos.
Seios venosos cranianos – sagital superior e inferior, reto, sigmoide. Netter, 2015.
Schunke, 2013.
Schunke, 2013.
Segue-se os princípios que na fase de flexão do IRC, ocorre aumento da tensão nas
membranas com aumento da pressão nos seios venoso favorecendo a drenagem venosa. E que na
extensão o relaxamento membranoso ameniza a pressão nos seios durais.
Sobotta, 2018.
Schunke, 2013.
Schunke, 2013.
- artéria comunicante posterior: une-se com a artéria cerebral posterior (ramo da basilar)
contribuindo para o polígono de Willis;
A artéria basilar passa pelo sulco basilar da ponte (tronco encefálico) e anteriormente
forma as artérias cerebrais posteriores direita e esquerda. Ao longo desse trajeto a artéria basilar
emite:
- artéria do labirinto: entra no meato acústico interno junto com o n. facial (VII) e
vestibulococlear (VIII) para vascularizar o conteúdo do ouvido interno.
cerebral. O quarto ventrículo apresenta aberturas medianas e laterais que permitem que o líquor
formado nos ventrículos alcance o espaço subaracnoideo para depois finalmente ser absorvido
pelo sangue venoso nas granulações aracnoides principalmente do seio sagital superior ou
espinhal (dorsolateralmente a cada gânglio da raiz dorsal) (ETTLINGER e WILLARD, 2019).
Uma das principais ideias de W.G. Sutherland, era que o movimento respiratório primário teria
participação direta em mecanismos de oscilação da pressão ventricular durante a produção e
absorção do líquor.
Uma extensa revisão publicada recentemente em 2013 por Chickly e Quaghebeuer relata
os diversos estudos científicos que já foram feitos sobre a produção do líquor, e o modelo
clássico descrito em muitos livros de anatomia e fisiologia parece não ter suporte científico tão
relevante. Pesquisas experimentais sugerem que os plexos corióides dos ventrículos produzem
apenas parte do líquor e não todo seu volume, e que os capilares do restante do sistema nervoso
também teriam seu papel na produção desse fluído. Além disso, alguns estudos recentes mostram
que sistema venoso e linfático presente na dura e pia-máter tem função na absorção do líquido
cerebroespinhal e não somente os seios venosos. Sintetizando, diferentemente do que descreve o
modelo tradicional, os estudos mais recentes sugerem que o líquor parece ser produzido e
absorvido em qualquer espaço do sistema nervoso que ele circula.
Hitscherich e colegas (2016) ressaltam que a produção do líquor não ocorre somente nos
plexos corióideos dos ventrículos, mas também pela dinâmica do fluxo líquido no espaço de
Vischow-Robin. Esse espaço envolve as arteríolas penetrantes, vênulas e capilares do espaço
subaracnóide para o interior do parênquima cerebral.
eliminação de resíduos do SNC, que utiliza um sistema de canais perivasculares, formado por
células astrogliais – o sistema glinfático (Jesse et al, 2015).
Louveau, 2017.
A descrição desse sistema sugere que os fluídos teciduais extracelulares e parte do líquor
são drenados pelos espaços de Virchow-Robin diretamente para o sistema de retorno venoso
(ETTLINGER e WILLARD, 2019). O trajeto desse sistema:
ü Forças conectivas direcionam os fluídos além das paredes arteriais para dentro dos
espaços paravenosos;
Esse sistema é influenciado pelas diferentes posturas corporais (Lee et al, 2015) e tem sua
atividade dobrada durante o sono (Mendelsohn e Larrick, 2013). Parece ter importante relação na
manutenção da cognição e na patogênese de doenças neurológicas degenerativas. Sugere-se que
a qualidade e duração do sono afetem diretamente a fisiologia desse sistema de eliminação de
toxinas do tecido cerebral (Mendelsohn e Larrick, 2013).
Mecanismo refere aos movimentos interdependentes dos tecidos e fluídos com propósitos
específicos.
• Movimento do sacro.
O movimento iniciado no crânio, segundo as hipóteses de Sutherland, se propaga para o
sacro de tal forma que este se movimenta livremente e inerentemente entre os ossos ilíacos. A
dura-máter é a conexão principal entre o crânio e sacro, fazendo com que os movimentos
ocorram de forma simultânea em condições normais.
Sutherland defendia a ideia que essa mobilidade fisiológica involuntária dos ossos
cranianos estava presente na saúde, e que as restrições ou disfunções do MRP poderiam ser
causadas por traumas, doenças sistêmicas ou outras patologias.
• Atividade elétrica que ocorre no cérebro causaria uma espécie de motricidade que
se espalha pelo corpo;
este produzido de forma intermitente nos ventrículos, causaria uma motilidade no sistema
nervoso e consequentemente no restante do crânio. Sua teoria defende que os ciclos de expansão
e retração do crânio poderiam ser controlados por um sistema composto por receptores sensoriais
localizados nas suturas cranianas que seriam neurologicamente relacionados aos centros de
produção e absorção do líquido cerebroespinhal nos ventrículos. Os receptores teriam papel de
proporcionar um feedback dos movimentos do crânio auxiliando no controle da produção e
absorção e também no dinamismo do líquor.
(Nelson, 2002).
Representação esquemática dos movimentos dos ossos ímpares na fase de flexão craniana.
Gehin, 2007.
Sugere-se nas descrições tradicionais que na fase de flexão do IRC o forame magno e a
SEB são tensionados no sentido superior. Com citado anteriormente, a dura-máter se insere
firmemente na base do crânio, especialmente no forame magno do occipital, e envolve toda a
medula espinhal até se inserir inferiormente no sacro. O deslocamento superior da SEB e do
forame magno do occipital na fase de flexão do IRC se propaga até o sacro de tal forma que
provoque um movimento: sua base se desloca no sentido posterior e seu ápice anteriormente.
Esse movimento do sacro no IRC é descrito como flexão em virtude da etapa que
simultaneamente deve ocorrer no crânio. Ocorre através de um eixo transversal que passa pela
área do segundo segmento sacral, chamado de eixo respiratório do sacro.
As figuras abaixo demonstram os movimentos simultâneos entre crânio e sacro nas fases
de flexão e extensão do IRC.
4 - DISFUNÇÕES CRANIANAS
As disfunções cranianas seguem os mesmos conceitos de qualquer disfunção
somática: restrições de mobilidade teciduais em um ou vários parâmetros de
movimento.
5.1 – Anamnese
As informações obtidas na anamnese, tanto para queixas locais ou distantes do crânio,
podem auxiliar o osteopata de acordo com os sintomas e relações:
Algumas situações que podem ser observadas pelo avaliador, como a posição e formato:
permanecer com o contato sensitivo estático numa só área. Áreas mais quentes que as demais
sugerem zonas de restrição tecidual.
- tecido miofascial: músculos que fixam ao crânio pode causar sensibilidade palpatória.
Quando existe uma zona mais densa e sensível em regiões com suturas localizadas, pode-
se diferenciar qual o tecido responsável pela dor pedindo para o paciente contrair o músculo
localizado na região: caso a dor amenize durante a contração – sensibilidade óssea/sutural; caso a
dor se mantenha ou aumente durante a contração – sensibilidade causado por tecido miofascial.
A meta desse teste é encontrar áreas restritas que devam ser analisadas localmente na
sequencia da avaliação do crânio. Sempre de global à local, do macro ao micro.
É interessante dar certa atenção ao teste nas áreas referentes aos pontos craniométricos
cranianos: ptério, asterio, bregma e lambda. Quando a avaliação mostra restrição e aumento de
sensibilidade local, indica disfunção de um ou mais ossos e suturas que fazem parte dessa zona.
Como supracitado, é possível encontrar a zona mais restrita nas áreas compostas por ossos
e membranas e não por suturas. Nesses casos deve-se considerar e testar as disfunções
intraósseas.
A descrição técnica dessa análise será descrita na avaliação da SEB, mais adiante nessa
apostila. Essa ausculta, assim como a ausculta de qualquer outro osso craniano pode ser feita de
três distintas formas:
• com auxilio da respiração profunda + movimentos dos tornozelos: essa condição pode ser
feita para amplificar os movimentos de cada tecido, independente do IRC. A proposta é
que as tensões fasciais extrínsecas cheguem ao crânio e amplifiquem a mobilidade dos
tecidos, expondo eventuais zonas de restrição. O osteopata toma o devido contato e
solicita:
Esses princípios podem e devem ser aplicados para qualquer teste de mobilidade craniana
que será descrito durante o curso.
qual das membranas está envolvida. Quando encontra uma disfunção intraóssea, deve-se avaliar
a mobilidade intrínseca do próprio osso.
Os testes de mobilidade de cada osso craniano assim como de suas suturas serão descritos
individualmente nos próximos capítulos dessa apostila. O capítulo seguinte irá abordar a sutura
central do crânio, a SEB, e os capítulos seguintes irão abordar os ossos periféricos ímpares e
pares.
1 – inspeção visual
6 – avaliar especificamente a (s) área (s) restrita (s), definindo os ossos, suturas e membranas
envolvidos.
2 - Corrigir a mobilidade do (s) osso (s) de maneira generalizada, trabalhando seu movimento
como um todo
• Suturas;
• Fibras ósseas;
• Meninges;
• Aponeuroses;
• Nervos espinhais e cranianos;
• Fluídos (arterial, venoso, líquor, linfático e glinfático);
• Gânglios neurovegetativos;
• Hipófise;
• Glândulas (lacrimais, salivares);
• Mucosa nasal e paranasal;
• Estruturas do sistema nervoso central (telencéfalo, tronco encefálico, cerebelo, etc).
Diferentes formas de buscar o equilíbrio tecidual. A – Técnica com ação indireta; B – Técnica
com ação direta; C Técnica com ação descompressiva.
7 - SINCONDROSE ESFENOBASILAR
A sincondrose esfenobasilar (SEB) é uma articulação entre a porção basilar do occipital
com o corpo do esfenoide, e ocupa uma posição central no crânio. Os ossos que compõem a SEB
servem de fixação de fascias (neurais, viscerais e profundas). A ossificação dessa sutura se dá
entre os 13 e 17 anos de idade (Bordoni, 2015). É improvável que essa sincondrose seja capaz de
apresentar movimentos angulares em adultos, porém está sujeita a importantes tensões
membranosas que refletem na elasticidade e densidade teciduais.
Netter, 2015.
A dura-máter que envolve todo conteúdo do sistema nervoso central. Caudalmente se fixa
no sacro (ao nível de S2), e cefalicamente essa membrana penetra no crânio formando as
meninges descritas anteriormente, mas também se fixa firmemente no forame magno do
occipital. Sendo assim, existe uma conexão direta formada através de um tecido conectivo pouco
elástico (dura) entre o sacro e o occipital, de tal forma que disfunções num nível se adaptam no
outro. Sugere-se que as disfunções do sacro que aumentem a tensão membranosa podem
produzir adaptações na SEB. O mecanismo inverso também pode ocorrer, quando as disfunções
do occipital adaptam o sacro pela tensão imposta na dura-máter.
As análises da mobilidade e das adaptações da SEB refletem uma percepção fascial geral
do crânio.
ü Membranas: as membranas sofrem aumento das tensões nessa fase. A tenda do cerebelo
tem sua porção mais interna (próximo a SEB) tensionada cefalicamente e suas fixações
laterais se expandindo no sentido lateral. A foice do cérebro tem suas regiões anterior e
posterior sendo tensionadas caudalmente.
ü Seios venosos durais: todos sofrem aumento da tensão favorecendo o aumento do fluxo
venoso.
Flexão craniana
Durante a extensão:
ü Seios venosos durais: todos sofrem redução da tensão favorecendo a redução do fluxo
venoso.
A imagem abaixo demonstra a fase de flexão do IRC. Nessa fase o crânio realiza os
movimentos descritos acima e o sacro realiza um movimento involuntário e suave de flexão –
base posterior e ápice no sentido anterior. Na extensão ocorre o mecanismo no sentido oposto.
1 – Fisiológicas: fixação em uma das fases fisiológicas devido a tensões fasciais de origem intra
(fáscia neural/meníngea) ou extracranianas (fáscias superficiais, profundas, viscerais).
- flexão
- extensão
- Inclinação lateral
- Rotação
- Compressão
Flexão da SEB
Extensão da SEB
Essa disfunção é acompanhada de uma inclinação lateral no caso das escolioses cranianas,
com verdadeiras modificações da morfologia do crânio. A disfunção é denominada pelo lado
onde a asa maior está baixa.
Pode ser a causa primária de uma escoliose com fatores descendentes predominantes.
Tensões membranosas/ósseas causadas por posicionamentos intrauterinos, ou até mesmo parto
com instrumentos (fórceps) poderiam ser o motivo dessas disfunções
Da mesma forma, pode ser uma adaptação do crânio a uma escoliose vertebral com
componentes ascendentes predominantes, causada primariamente por uma perna curta anatômica
por exemplo, ou qualquer outra fonte de tensão primária ascendente.
• A literatura propõe que a escoliose craniana repercute sobre os ossos da face, e sobre a
oclusão.
Insinua-se que provoque importante tensão nas membranas, e que por isso afete os seios
venosos, em especial o seio cavernoso e seu conteúdo.
A disfunção é denominada para o lado que a asa maior do esfenoide está mais anterior.
No vertical strain baixo do esfenoide - esfenoide está em flexão (assas maiores baixas) e o
occipital e extensão (escama alta).
No vertical strain alto do esfenoide - esfenoide está em extensão (assas maiores altas) e o
occipital e flexão (escama baixa).
Osteopatia Craniana
MECANISMOS:
A literatura sugere que essa disfunção restrinja a mobilidade das membranas e afeta o
“bombeamento” fisiológico que o diafragma hipofisário realiza na glândula de tal forma que isso
afete seu trofismo vascular. As consequências poderiam ser:
• Letargia
• Alterações endócrinas
• Depressão
• Vagotonia
• Debilidade muscular geral
O crânio encontra-se rígido, com restrição importante dos movimentos fisiológicos de
flexão e extensão. É um crânio que o avaliador sente dificuldade de auscultar.
Sugere-se que essa disfunção também provoque redução da dinâmica fluídica craniana –
venosa, glinfática, líquor, arterial.
MECANISMOS:
• Repercussões sobre o seio cavernoso: afeta a drenagem venosa do olho e seus nervos (III,
IV, V1 e VI)
• Tensão sobre o ligamento de petroesfenoidal (Gruber) – neuropatia de compressão do VI:
hipoconvergência ocular.
• Tensão sobre a tenda do cerebelo.
MECANISMOS:
• Trauma direto:
– Trauma vertical sobre o frontal de superior para inferior – vertical strain baixo do
esfenóide.
– Trauma sobre a mandíbula no sentido superior – vertical strain alto do esfenóide.
• Trauma indireto: queda sentado pode produzir vertical strain alto do occiptal.
Num dos contatos, o Osteopata fica sentado numa cadeira atrás da cabeça do paciente.
Deve apoiar os cotovelos na maca para dar estabilidade e permitir a concentração máxima na
palpação. As mãos devem ficar espalmadas na face lateral do crânio de tal forma que:
Com esses contatos o avaliador pode buscar sentir a qualidade, amplitude, frequência e
simetria dos movimentos que ocorrem nos dois lados do crânio. A palpação da mobilidade da
sincondrose esfenobasilar é valiosa pois é possível ter uma ideia do que ocorre com o restante do
crânio. Esta sutura localizada no centro do crânio se adapta ao que acontece no resto do crânio e
vice-versa.
Assim como descrito no texto acima, o avaliador pode executar o teste com 3 princípios
distintos:
o Flexão: o osteopata desloca seu tronco no sentido caudal, levando as asas maiores e a
escama do occipital no sentido caudal, e permitindo a expansão lateral da calota
craniana;
o Extensão: o osteopata desloca seu tronco no sentido cranial, levando as asas maiores e
a escama do occipital no sentido cranial, e permitindo a retração medial da calota
craniana;
Os testes descritos abaixo, tanto para as disfunções adaptativas como as traumáticas são
todos realizados com o osteopata induzindo os movimentos:
6.3.2.1 – Torção
ü Para impor uma torção direita: o osteopata realiza um desvio radial com a mão direita
(elevando a asa maior direita e descendo a escama ao lado direito), e desvio ulnar com a
mão esquerda (descendo a asa maior esquerda e descendo a escama ao lado esquerdo).
ü Para impor uma torção esquerda: o osteopata realiza um desvio radial com a mão
esquerda (elevando a asa maior esquerda e descendo a escama ao lado esquerdo), e
desvio ulnar com a mão direita (descendo a asa maior direita e descendo a escama ao lado
direito).
ü Inclinação esquerda: aproximar os dedos do lado direito criando uma concavidade e afastar
do lado esquerdo para criar uma convexidade.
6.3.2.3 – Rotação
ü Rotação direita: sua mão esquerda leva o occipital e esfenoide ao lado esquerdo no sentido
caudal, e sua mão direita leva o occipital e esfenoide ao lado direito no sentido cefálico.
ü Rotação esquerda: sua mão direita leva o occipital e esfenoide ao lado direito no sentido
caudal, e sua mão esquerda leva o occipital e esfenoide ao lado esquerdo no sentido
cefálico.
ü Para induzir uma SBR direita: o osteopata cria uma concavidade ao lado esquerdo
aproximando seus dedos, e uma convexidade ao lado direito afastando seus dedos. Além
disso leva a asa maior e escama do lado esquerdo no sentido cefálico, e a asa maior e
escama do lado direito no sentido caudal.
ü Para induzir um lateral strain fisiológico a esquerda: o osteopata leva a asa maior e
escama do occipital do lado direito no sentido posterior, e a asa maior e escama do
occipital do lado esquerdo no sentido anterior.
ü Para induzir um vertical strain fisiológico alto do esfenoide: o osteopata realiza um desvio
radial com as duas mãos de tal forma que induza o esfenoide um deslocamento ceflaico
em suas asas maiores (extensão) e a escama o deslocamento caudal (flexão).
6.3.3.4 – Compressão
Quando a SEB se encontra em disfunção compressiva, o avaliador tem dificuldade de
perceber sua mobilidade fisiológica de flexão/extensão. É um crânio com rigidez e imobilidade
generalizada.
Para realizar os testes, o osteopata deve incialmente aproximar as asas maiores da escama
do occipital e em seguida deve afastar seus contatos com o intuito de perceber a flexibilidade dos
tecidos. Quando existe a disfunção, a amplitude é reduzida e a resistência é grande.
ü Para induzir um lateral strain traumático esquerdo: suas mãos bloqueiam o crânio e
somente os dedos indicadores deslocam as asas maiores em translação da direita para a
esquerda.
ü Para induzir um vertical strain baixo do esfenoide: suas mãos bloqueiam o crânio e
somente os dedos indicadores deslocam as asas maiores no sentido caudal.
No exemplo de lateral strain traumático à direita, deve-se tomar contato com a região tênar
da mão direita na asa maior direita do esfenoide. A mão esquerda toma contato com a região
tênar no processo mastoide do temporal esquerdo. O osteopata deve colocar seu centro de
gravidade sobre o crânio do paciente e seus antebraços devem estar perpendiculares ao paciente.
A mão superior envolve a escama do occipital de tal forma que seus dedos fiquem
apontados para os pés do paciente. A mão inferior (com luva) toma contato com as faces
palmares dos dedos índice e médio na face oclusal dos dentes maxilares.
O osteopata deve fixar o occipital com sua mão superior enquanto a mão inferior busca a
barreira tecidual levando as maxilas no sentido do teto. Encontrada a barreira osteomembranosa,
deve-se mantê-la e solicitar respirações profundas e movimentos dos tornozelos do paciente
(insp. + flexão dorsal, exp. + flexão plantar) até perceber o aumento da flexibilidade dos tecidos.
O osteopata deve fixar o occipital com sua mão inferior enquanto a mão superior busca a
barreira tecidual levando as asas maiores no sentido do teto. Encontrada a barreira
osteomembranosa, deve-se mantê-la e solicitar respirações profundas e movimentos dos
tornozelos do paciente (insp. + flexão dorsal, exp. + flexão plantar) até perceber o aumento da
flexibilidade dos tecidos.
O osteopata deve fixar o occipital com sua mão inferior enquanto a mão superior busca a
barreira tecidual levando as asas maiores no sentido inferior ou superior (dependendo da
disfunção ser alta ou baixa do esfenoide). Encontrada a barreira osteomembranosa, deve-se
mantê-la e solicitar respirações profundas e movimentos dos tornozelos do paciente (insp. +
flexão dorsal, exp. + flexão plantar) até perceber o aumento da flexibilidade dos tecidos.
- direita: simplesmente levando os tecidos até a barreira e aumentar a barreira a medida que os
tecidos permitam;
7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADEEB, N; MORTAZAVI, M; TUBBS, S; GADOL, A. The cranial dura mater: a review of its history,
embryology, and anatomy. Childs Nerv Syst, 28:827–837, 2012.
BORDONI, B; LAGANA, M. Bone Tissue is an Integral Part of the Fascial System. Cureus 11(1), 2019.
BORDONI, B; ZANIER, E. Sutherland’s Legacy in the New Millennium: The Osteopathic Cranial Model and
Modern Osteopathy. Advances, 29 (2), 2015.
BORDONI, B; BORDONI, G. Reflections on osteopathic fascia treatment in the peripheral nervous system. Journal
of Pain Research (8), 2015.
CHILA, A. G. Foundations of osteopathic medicine, 3 ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2010.
ETTLINGER, H; WILLARD, F. 2019. Anatomy and Physiology of the Lymphatic System. n:_____ Foundations
of osteopathic medicine, 4 ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2019.
FERGUSON A. A review of the physiology of cranial osteopathy. Journal of Osteopathic Medicine. 2003; 6 (2): 74
– 88.
FEHRENBACH, M; HERRING, S. Ilustrated Anatomy of the Head and Neck. 2 ed. EUA: Saunders, 2002.
GEHIN, A. Atlas of Manipulative Techniques for the Cranium & Face. 10 ed. USA: Eastland Press, 2007.
GEHIN, A. Cranial Osteopathic Biomechanics, Pathomechanics & diagnostics for practioners. Chruchill
Livinstone, 2007.
KERBER, C; NEWTON, T. The macro and microvasculature of the dura mater. Neuroradiology 6:175–179; 1973.
LOUVEAU, A; NEDERGAARD, M; KIPNIS, J. Understanding the functions and relationships of the glymphatic
system and meningeal lymphatics. The Journal of Clinical Investigation. 127 (9), 2017.
LV, X; WU, Z; LI, Y. Innervation of the Cerebral Dura Mater. The Neuroradiology Journal. 27, 20154.
MENDELSOHN, A; LARRICK, J. Sleep Facilitates Clearance of Metabolites from the Brain: Glymphatic Function
in Aging and Neurodegenerative Diseases. REJUVENATION RESEARCH. 16 (3), 2013.
MICHAEL, D; RETZLAFF, E. A preliminary study of cranial bone movement in the squirrel monkey. JAOA.
1975;74:866-9.
MOORE, K; DALLEY, A. Anatomia orientada para a clínica. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001.
NELSON, K. The Primary Respiratory Mechanism. The American Academy Osteopathic Journal. 2002; 25 – 34.
NELSON, K; SERGUEEF, N; GLONEK. Cranial Osteopathy and the baroreflex, Traube-Hering (Mayer) oscilation.
Proceedings of the Internationa Research Conference in Celebrating the 20th Anniversary of the Osteopathic
Center for Children, 2002.
NELSON, K; SERGUEEF, N; LIPINSKI, C; CHAPMAN, A; GLONEK, T. Cranial rhythmic impulse related to the
Traube-Hering-Mayer oscillation: comparing laser-Doppler flowmetry and palpation. The Journal of the American
Osteopathic Association. 2001 mar; 101 (3): 163 – 173.
NELSON, K; SERGUEEF, N; GLONEK, T. Recording the Rate of the Cranial Rhythmic Impulse. The Journal of
the American Osteopathic Association. 2006 jun; 106 (6): 337 – 341.
PARSONS, J; MARCER, N. Osteopathy: Models for Diagnosis, Treatment and Practice. 1 ed. Elsevier Health
Sciences, 2006.
SERGUEEF, N. Cranial Osteopathy for Infants, Children and Adolescents: A Practical Handbook. Churchill
Livingstone, 2007.
SERGUEEF, N ; GREER, M; NELSON, K; GLONEK, T. The palpated cranial rhythmic impulse (CRI): Its
normative rate and examiner experience. International Journal of Osteopathic Medicine. 2011; 14: 10 – 16.
SUTHERLAND, W.G. The Cranial Bowl. Monkato: Free Press CO., 1939.
UPLEDGER, J. CranioSacral Therapy II: Beyond the Dura. USA: Eastland Press, 2007.
ZUGEL, M, MAGANARIS, C, WILKE, J. Fascial tissue research in sports medicine: from molecules to tissue
adaptation, injury and diagnostics. Br J Sports Med. 2018, 52:1497.
WILLARD, F; FOSSUM, C; STANDLEY, P. The fascial system of the body. In:_____ Foundations of
osteopathic medicine, 4 ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2019.