Perceção Dos Enfermeiros Acerca Da Passagem de Turno

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MESTRADO EM ENFERMAGEM

ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE UNIDADES DE CUIDADOS

PERCEÇÃO DOS ENFERMEIROS


ACERCA DA PASSAGEM DE TURNO

Margarida Madeira Frota Antunes

Coimbra, 2019
______________________________________________________________________

MESTRADO EM ENFERMAGEM
ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE UNIDADES DE CUIDADOS

PERCEÇÃO DOS ENFERMEIROS


ACERCA DA PASSAGEM DE TURNO

Margarida Madeira Frota Antunes

Orientador: Professora Doutora Maria Manuela Frederico Ferreira


Professora Coordenadora na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

Dissertação apresentada à Escola Superior de Enfermagem de Coimbra para


obtenção do grau de Mestre em Enfermagem na Área de Especialização em
Gestão de Unidades de Cuidados

Coimbra, 2019
O Sonho Comanda a Vida!
Aos meus Filhos

José e João
Agradecimentos

Esta dissertação é o culminar de uma longa sequência de acontecimentos. Qualquer


expressão de agradecimento às pessoas que partilharam comigo esta caminhada,
jamais conseguirá contemplar o verdadeiro significado e importância que tiveram na
minha vida.

À minha orientadora, Professor Doutora Maria Manuela Ferreira Frederico, devo a


superior orientação, que me fez acreditar pode ser acompanhada pela amizade, apoio,
incentivo e dedicação.

À Direção dos CHUC, pela autorização concedida para a aplicação do instrumento de


colheita de dados.

Às Equipas de Enfermagem do Serviço de Neurologia A, B e C, pela disponibilidade e


colaboração durante o processo de colheita de dados.

Aos meus pais, pela ajuda e apoio, estando sempre presentes.

Ao Vítor Nuno Graça, pela paciência, apoio e incentivo.

Ao Dr. José Manuel Marques, grata pelo apoio concedido.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACSS – Administração Central do Sistema de Saúde

AVC – Acidente Vascular Cerebral

CIPE – Classificação Internacional para a prática Enfermagem

CHC – Centro Hospitalar de Coimbra

CHUC – centro Hospitalar de Coimbra

CSD – Cultura De Segurança do Doente

CO – Cuidados Omissos

DGS – Direção geral da Saúde

ICN – International Council of Nurses

ISBAR – Identification, Situation, Background, Assessment, Recommendation

HUC – Hospitais da Universidade de Coimbra

JCI – Joint Commission International

MECE – Modelo da Efetividade dos Cuidados Omissos

OE – Ordem dos Enfermeiros

OMS – Organização Mundial de Saúde

PNS – Plano Nacional de Saúde

PNSD – Plano Nacional para Segurança do Doente

REPE – Regulamento do Exercício Profissional do Enfermeiro

SIE – Sistemas de Informação Enfermagem

SPSS – Statistical Package for the Social Sciences


RESUMO

A passagem de turno é considerada a transmissão de informação pertinente acerca dos doentes,


entre profissionais de saúde, sempre que acaba um turno e começa outro, de forma a
proporcionar segurança e qualidade de cuidados seguros e contínuos. É um mecanismo de
transferência de informação, responsabilidade e autoridade que deveria, idealmente, ser um
momento de partilha de conhecimento entre os profissionais de saúde, contribuindo para uma
continuidade dos cuidados de uma forma informal, relacional e de gestão. Estudos demonstram
que a falta de tempo, as interrupções e uma elevada carga de trabalho são barreiras na
comunicação, originando falta e ou perda de informação acerca das condições do doente
podendo levar a diagnósticos e procedimentos incorretos. Deste modo, uma passagem de turno
destruturada têm contribuído para erros, omissões, eventos adversos, aumento da duração de
internamento ou reinternamentos evitáveis e aumento de custos.
A fim de conhecer a perceção dos enfermeiros relativamente à passagem de turno formulou-se
a seguinte questão de investigação: Qual a perceção dos enfermeiros do serviço de Neurologia
do CHUC–HUC acerca da passagem de turno?
O presente estudo teve como principais objetivos:
• Identificar a perceção dos enfermeiros sobre a passagem de turno, discutir as metodologias
usadas na passagem de turno e sua implicação para a segurança do doente no serviço de
Neurologia do CHUC-HUC.
• Identificar os pontos fortes e os pontos que necessitam de melhoria no que diz respeito à
passagem de turno.
Desenvolveu-se um estudo descritivo, correlacional, exploratório de abordagem quantitativa,
numa população alvo/acessível de 61 enfermeiros do serviço de Neurologia do CHUC-HUC.
Para a colheita de dados foi utilizado o questionário – Handover Evaluation Scale – HES-PTO.
Face à perceção dos enfermeiros acerca da passagem de turno e do que foi identificado pode-
se afirmar que as práticas efetuadas pela equipa de enfermagem promovem uma passagem de
turno eficiente e devem ser divulgadas de forma a incentivar a sua manutenção. As boas práticas
realizadas prendem-se com a realização das passagens de turno com recurso à comunicação
verbal, ao facto de ser o enfermeiro responsável pelo doente, a transmitir a informação durante
a mesma e a existência de um ambiente onde os enfermeiros se sintam à vontade para realizar
a mesma. De entre os fenómenos identificados podemos observar que relativamente às
interrupções causadas pelos doentes e seus familiares, à informação importante que nem
sempre é transmitida e ao tempo despendido na passagem de turno, são áreas que requerem a
nossa atenção.
Palavras-chave: Passagem de Turno; Comunicação; Qualidade dos Cuidados; Segurança do
Doente; Gestão em Enfermagem.
ABSTRACT

Handover is considered the passage of critical information between health professionals


about the condition of patients when a shift ends and another begins, to ensure the
continuity of quality and secure healthcare. It’s a way to transfer information,
responsibility and authority that should, ideally, be a moment of sharing of knowledge
between health professionals, thus contributing to an informal, relational and managerial
continuity of healthcare. It is also a moment of complicity between professionals, in which
the practices are thought over, giving way to changes in behavior and attitudes.
Information passed during handover should be precise in a way to ensure the safety of
patients and to promote the quality of services provided. Recent studies show that
shortage of time, interruptions and a high workload are the main communicational
barriers, causing lack, and sometimes loss, of relevant information about the condition
of patients, potentially leading to a wrong diagnosis and incorrect procedures. Therefore,
we can say that a poorly conceived handover has been contributing to a series of errors,
adverse events, increase in admission times, preventable readmissions and higher cost.
In order to evaluate the perception of nurses about handover, the following line of inquiry
was formulated:
What is the impression of nurses in the Neurology service of CHUC-HUC about
handover?
The following study had as primary objectives:
To identify nurses’ impressions about handover, to discuss the methods used in
handover and their implications to patient safety in the Neurology service of CHUC-
HUC.
To identify the strong areas and the areas that need improvement regarding
handover.
Given nurses’ impressions of handover, and what was identified, we can state that the
practices of the nursing team result in an efficient handover and should be promoted to
ensure their continuity. Good handover habits consist in the following: handover being
made verbally, the nurse in charge of the patient being the one passing on the
information and the existence of an environment where nurses can feel at ease to
perform handover. Some of the areas identified as needing special attention are
interruptions caused by relatives of patients, relevant information sometimes not being
passed on and time spent in handover.
Keywords: Handover, Communication, Healthcare Quality, Patient Safety, Nursing
Management.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Processo de mudança/passagem de turno em enfermagem .............. 59

Figura 2 – Distribuição do número de enfermeiros por turnos no serviço

de Neurologia do CHUC-HUC ............................................................................. 66


LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Técnica ISBAR ................................................................................. 54

Quadro 2 – Características sócio-profissionais da população alvo/acessível ...... 80

Quadro 3 – Estrutura do handover de manhã ..................................................... 83

Quadro 4 – Distribuição das respostas dos enfermeiros inquiridos quanto à


perceção do handover da manhã ........................................................................ 85

Quadro 5 – Perceção sobre o handover da manhã ............................................. 87

Quadro 6 – Afirmações em que a perceção sobre o handover da tarde e da


noite é diferente da manhã .................................................................................. 88

Quadro 7 – Pontos fortes, limitações e forma de melhorar o handover da


Manhã ................................................................................................................. 89

Quadro 8 – Outras questões na passagem de turno da manhã que não foram


abordadas............................................................................................................ 89

Quadro 9 – Diferenças na forma de realizar o handover da manhã, da tarde e


da noite................................................................................................................ 90

Quadro 10 – Estrutura do handover da tarde e da noite...................................... 91

Quadro 11 – Pontos fortes, limitações e forma de melhorar o handover da


tarde e da noite .................................................................................................... 92

Quadro 12 – Handover mais efetivo no serviço ................................................... 92

Quadro 13 – Sugestões/Observações sobre o handover ou sobre este estudo


que contribua para as metodologias de “handovers” e suas implicações
para a segurança do doente ................................................................................ 93

Quadro 14 – Relação da perceção sobre o handover e o tempo de exercício


profissional e de exercício no atual serviço .......................................................... 94

Quadro 15 – Relação da perceção sobre o handover e a categoria profissional . 94


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 21

CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1 – A PROFISSÃO DE ENFERMAGEM .............................................................................. 27

2 – QUALIDADE EM SAÚDE............................................................................................... 31

3 – CULTURA DE SEGURANÇA DO DOENTE .................................................................. 37

3.1- A CULTURA DE SEGURANÇA NA GESTÃO E ORGANIZAÇÃO


DOS CUIDADOS DE ENFERMAGEM ......................................................................... 42

4 – A IMPORTÂNCA DA COMUNICAÇÃO EM ENFERMAGEM PARA A


SEGURANÇA DO DOENTE ........................................................................................... 47

4.1 – A COMUNICAÇÃO NA PASSAGEM DE TURNO - HANDOVER – FACTOR


CRÍTICO PARA A SEGURANÇA ................................................................................. 55

4.1.1 – HANDOVER – UM MOMENTO DE TRANSIÇÃO ........................................... 59

CAPÍTULO II - ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

1 – METODOLOGIA ........................................................................................................... .65

1.1 – TIPO DE ESTUDO .............................................................................................. 67

1.2 – QUESTÕES E OBJETIVOS DE INVESTIGAÇÃO.............................................. 67

1.3 – VARIÁVEIS EM ESTUDO ................................................................................... 69

1.4 – POPULAÇÃO ALVO/POPULAÇÃO ACESSÍVEL ............................................... 71

1.4.1 – CARACTERIZAÇÃO DO SERVIÇO ....................................................... 71

1.5 – MÉTODO DE COLHEITA DE DADOS ................................................................ 73

1.6 – PROCEDIMENTOS FORMAIS E ÉTICOS ......................................................... 74

1.7 – TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS DADOS .................................................... 75

CAPÍTULO III – ESTUDO EMPÍRICO

1 – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS .............................................................. .79

2 – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................................................ 95

CONCLUSÃO .................................................................................................................... 113

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................. 119


ANEXOS

ANEXO I – Instrumento de colheita de dados

ANEXO II – Parecer Nº P334-3/2016 Comissão de ética da UICISA:E da ESENFC

ANEXO III – Autorização do Conselho de Administração do CHUC para a


realização do estudo

ANEXO IV – Consentimento informado


INTRODUÇÃO

A passagem de turno surge como uma das diversas ações desenvolvidas no trabalho
da enfermagem, e constitui-se como um elo integrador da assistência contínua prestada
ao doente, nas vinte e quatro horas do dia. Quando se pensa em passagem de turno,
imediatamente há uma referência à organização do trabalho, pois é na passagem de
turno que a equipa de enfermagem tem a possibilidade de avaliar os cuidados
prestados, definir prioridades e assegurar um fluxo de informações que poderá orientar
a organização do trabalho no decorrer do turno.

Os enfermeiros são das classes profissionais que mais tempo passam junto dos
doentes, sendo muitas vezes o profissional que lhes presta cuidados diretos. Deste
modo, é uma classe com bastante enfoque na qualidade dos cuidados e na segurança
do doente. A qualidade é, fundamentalmente, uma filosofia de vida antes de ser uma
filosofia de ação, que o profissional deve incorporar na sua prática diária. A necessidade
de potenciar a qualidade dos cuidados prestados aos doentes leva a considerar a
segurança uma prioridade nos serviços de saúde, focalizando um dos aspetos da
mesma, a comunicação nos cuidados de enfermagem, mais especificamente, no
momento de passagem de turno.

Assim, a comunicação permeia todas as atividades desenvolvidas pela enfermagem,


influenciando a tomada de decisões relacionadas com o cuidado ao doente, refletindo
diretamente no planeamento dos cuidados de enfermagem (Neves, 2012). Está cada
vez mais claro que as falhas no processo de comunicação durante as passagens de
turno em ambiente hospitalar comprometem a segurança do doente e que eventos
adversos podem ser reduzidos ou evitados, se existir uma completa e precisa
transmissão de informações entre profissionais dentro destas instituições (Jefferies,
Johnson e Nicholls, 2012). Neste sentido, a passagem de turno pode ser considerada
uma atividade essencial para a comunicação entre profissionais, promovendo a
transmissão de informações acerca do estado de saúde dos doentes, e também, a
transferência de responsabilidades dos cuidados prestados aos mesmos pelos
profissionais de enfermagem (Manser et al, 2010).

21
Porém as passagens de turno são, frequentemente, conduzidas de uma forma rápida
devido à limitação de tempo que existe nos diferentes serviços, o que resulta num uso
excessivo de abreviações (Meibner, Hasseljorn, Estryn-Behar et al, 2007). Por outro
lado, e segundo o estudo de O’Connell, Macdonal e Kelly (2008), os enfermeiros
consideraram importante a existência de uma linguagem comum no serviço, contudo
reconheceram que o uso de determinada terminologia pode não ser familiar a
profissionais que nunca tenham estado em contacto com o serviço.

Em junho de 2008, a JCI lança novas metas no que se refere à segurança do doente.
Uma das medidas criadas volta a frisar a eficácia da comunicação entre profissionais de
saúde. Definiu, assim, a comunicação padronizada da passagem de turno como um
processo em que a comunicação acerca do cuidado ao doente é transmitida de uma
forma consistente de um prestador de cuidados para outro, através de uma
comunicação atual, precisa, completa, inequívoca e entendida por todos, reduzindo os
erros e melhorando os resultados da segurança do doente (Riesenberg, Leitzsch e
Cunningham, 2010).

Segundo JCI (2009), o principal objetivo de uma passagem de turno é de providenciar


informação precisa acerca dos cuidados ao doente e seu tratamento, atual condição e
alteração recente ou que possa ser antecipada. Dos eventos sentinela analisados, a JCI
identificou os erros de comunicação como o fator que mais contribui para os erros em
saúde, sendo a passagem de informação responsável por 80% dos eventos adversos
que poderiam ser evitados (Popovich, 2011).

Em Portugal, a problemática da qualidade em saúde tem sido progressivamente


trabalhada e legislada. Mais recentemente, foi aprovado o Plano Nacional para a
Segurança dos Doentes 2015 - 2020 (PNSD). O despacho correspondente enfatiza a
característica multidimensional da qualidade em saúde, enfatizando que a qualidade na
saúde assenta na pertinência dos cuidados, na sua segurança, na sua aceitabilidade e
acessibilidade e na sua prestação no momento oportuno. Para além disto, reforça que
assenta ainda na garantia da continuidade dos cuidados, na sua eficiência e na sua
efetividade (Despacho nº 1400-A/2015 de 10 de fevereiro, 2015).

Tendo em conta os objetivos estratégicos delineados para o PNSD, no segundo ponto,


refere que o processo hospitalar para uma comunicação eficaz na passagem de turno,
inclui uma comunicação interativa que permita a oportunidade de trocar questões entre
comunicador e o recetor da informação do doente.

22
Através da criação de ferramentas de comunicação padronizadas, pretende-se colmatar
a lacuna identificada, relativamente à falta de estrutura formal e linhas orientadoras, que
ajudem o profissional a organizar a informação. Um dos desafios para os profissionais
é mesmo a decisão sobre qual a informação a transmitir ao colega. Em alguns casos os
elementos que são rendidos têm tendência para transmitir informação em excesso,
enquanto noutros casos partilham informação insuficiente, irrelevante, desnecessária
ou omitem aspetos importantes (Jorm, White e Kaneen, 2012). Quando o tempo é
ocupado na transmissão de informação irrelevante, esse tempo poderia ser utilizado na
prestação de cuidados que o doente necessita.

Têm surgido diversas ferramentas de estruturação da comunicação, sendo a mais


referida o ISBAR (Identification, Situation, Background, Assessment, Recommendation).
A metodologia ISBAR foi desenvolvida com o objetivo de estabelecer uma conversação
sistematizada entre enfermeiros e médicos, na situação específica decorrente de um
contacto telefónico. Posteriormente este método de comunicação foi disseminado para
a comunicação presencial, entre profissionais de saúde de várias disciplinas. Algumas
das razões para o sucesso da utilização do ISBAR estão relacionadas com a sua fácil
memorização pelos profissionais e pela possibilidade de ser adaptado a diferentes
realidades.

Tendo em conta os aspetos referidos e após reflexão sobre as práticas vivenciadas em


contexto profissional, pareceu-nos oportuno a realização de um estudo, no sentido de
avaliar a perceção dos enfermeiros acerca da passagem de turno. Pelo facto de a nossa
atividade profissional ser exercida no serviço de Neurologia, optámos por efetuar o
nosso estudo com a equipa de enfermagem do referido serviço, com o intuito de dar
resposta relativamente à nossa questão de investigação de partida: “Qual a perceção
dos enfermeiros do serviço de Neurologia do CHUC-HUC acerca da passagem de
turno?”

Deste modo, estabelecemos os seguintes objetivos para o presente estudo:

• Identificar a perceção dos enfermeiros sobre a passagem de turno, discutir as


metodologias usadas na passagem de turno e sua implicação para a segurança do
doente no serviço de neurologia do CHUC-HUC;

• Identificar os pontos fortes e os pontos que necessitam de melhoria no que diz respeito
à passagem de turno.

Este estudo encontra-se estruturado em três partes, sendo elas o enquadramento


teórico, o enquadramento metodológico e o estudo empírico. No enquadramento teórico
23
realça-se a importância da qualidade em saúde, desenvolvendo conceitos como a
segurança do doente e a comunicação na passagem de turno. A segunda parte diz
respeito às diferentes etapas da metodologia utilizada e na terceira parte é feita a
apresentação e análise dos dados obtidos, a discussão dos resultados as respetivas
conclusões e a bibliografia.

24
CAPÍTULO I
ENQUADRAMENTO TEÓRICO

25
26
1 – A PROFISSÃO DE ENFERMAGEM

A enfermagem é uma profissão exigente, para a qual é necessário um saber teórico


específico, um fazer técnico próprio e capacidade para tomar decisões em situações de
grande complexidade, na relação permanente com outras pessoas (Vieira, 2009).

Para a dignificação da profissão de enfermagem, muitos foram os passos dados até ao


momento, contribuindo para tal, a própria regulamentação entretanto criada. Neste
contexto, o Regulamento do Exercício Profissional do Enfermeiro (REPE), criado pelo
Decreto-Lei n.º 161/96, de 4 de Setembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto
que cria a Ordem, muito contribuiu para essa mesma dignificação ao referir nos pontos
1 e 2 do artigo 4º, que a enfermagem é ”a profissão que, na área da saúde, tem como
objetivo prestar cuidados de enfermagem ao ser humano, são ou doente, ao longo do
ciclo vital, e aos grupos sociais em que ele está integrado, de forma que mantenham,
melhorem e recuperem a saúde, ajudando-os a atingir a sua máxima capacidade
funcional tão rapidamente quanto possível”, e que o enfermeiro é “o profissional
habilitado com um curso de enfermagem legalmente reconhecido, a quem foi atribuído
um título profissional que lhe reconhece competência científica, técnica e humana para
a prestação de cuidados de enfermagem gerais ao indivíduo, família, grupos e
comunidade, aos níveis da prevenção primária, secundária e terciária”.

De acordo com o mesmo decreto, o artigo 9º do capítulo IV, relativo ao exercício e


intervenção dos enfermeiros, refere no ponto 6 que “os enfermeiros contribuem, no
exercício da sua atividade na área de gestão, investigação, docência, formação e
assessoria, para a melhoria e evolução da prestação dos cuidados de enfermagem”.

A Enfermagem é uma profissão de relação centrada em interações onde cada pessoa,


por vivenciar um projeto de saúde, se torna singular, único e indivisível num momento
único de cuidado. A singularidade, pessoalidade e a exigência da qualidade da relação
interpessoal, tornam cada momento específico, especializado e complexo.

É na prestação de cuidados que nos confrontamos com as situações de grande


complexidade que, como refere Hesbeen (2001), para cuidar, o complexo está
omnipresente desde que se trate de prestar uma atenção individual à pessoa.

27
Refletir sobre a enfermagem como uma profissão, ciência e disciplina pode envolver
alguma complexidade na medida em que a enfermagem se sustenta numa teoria que é
construída por saberes oriundos de outras ciências médicas e não exclusivamente
obtida pela investigação de problemas únicos de enfermagem e por sua vez, a sua
prática envolve também uma dependência de prescrições médicas (Gameiro, 2003).
Contudo, é essencial compreender que a enfermagem possui um conteúdo funcional
autónomo, sustentado em conhecimentos próprios que lhe permitem cuidar (Gameiro,
2003). Este mesmo autor, refere ainda que ciência não é sinónimo de teoria, assim como
arte de prática. Deve-se distinguir os conhecimentos científicos que os enfermeiros
necessitam (oriundos de outras ciências) dos conhecimentos específicos de
enfermagem, embora ambos sejam obrigatórios para a prática de cuidados.

Gameiro (2003, p.19) afirma que “a arte é uma forma de interrogação qualitativa e supõe
um tipo de perceção ativa, dinâmica e em desenvolvimento contínuo; a ação artística é
guiada por uma qualidade emocional, mas envolve um reforço da inteligência e do
pensamento.” Assim se afirma a enfermagem como disciplina e os resultados dos
cuidados de enfermagem como a arte.

Nos últimos anos, as alterações ocorridas na prestação de serviços de saúde têm


afetado as expetativas e as práticas de muitos grupos profissionais que atuam neste
contexto.

Para Kim (2010), a prática de enfermagem é caracterizada por um caráter científico,


devido à sua orientação instrumental e à sua base disciplinar, que assenta no
conhecimento científico. A autora define caráter científico como a tomada de decisões
práticas orientadas pela ciência e pelo conhecimento científico. No entanto, o caráter
científico da prática de enfermagem não depende apenas da transferência direta do
conhecimento científico para a prática, mas da avaliação da ciência para a sua
heurística e poder explicativo, bem como da aplicação da racionalidade prática
relativamente aos resultados esperados e requisitos situacionais.

A Enfermagem caracteriza-se, então, por um processo sistémico de desenvolvimento


de inúmeros conceitos, modelos e teorias específicas que, constituindo uma base de
conhecimentos próprios e singulares, conduz a uma afirmação clara e única da sua
autonomia profissional. A sua influência, que se procura transmitir nos ganhos em saúde
para a população, deve ser reconhecida não só numa dimensão económica imediata,
mas pela perceção das realidades e modificações sociais que engloba (Vieira, 2009).

28
Reconhecer o que identifica um serviço oferecido por uma disciplina autónoma implica
ter em conta a sua natureza e tomar consciência das dimensões sociais e económicas
descritas (Collière, 1999). A mesma autora refere que se esta vertente socioeconómica
influencia a orientação da prática de cuidados, então os cuidados de enfermagem num
contexto de saúde influenciam também diretamente estas dimensões de modo muito
significativo. A prática dos cuidados de enfermagem e a forma de os adequar à pessoa
que os procura, porque tem necessidade destes, exercem uma marca social, mas ao
mesmo tempo definem a própria imagem que os define. Contudo, seja pelas tecnologias
utilizadas, pelo modo de hierarquização social que criam, as formas institucionais que
definem, a sua organização ou pelo alcance social do ato de cuidar, o cuidado de
enfermagem tem uma influência social inquestionável mesmo que esta não seja
assumida de forma imediata num contexto desvirtuado de conteúdo e conhecimento.

Os enfermeiros, ao orientarem a finalidade das suas ações enquanto prestadores de


cuidados para a pessoa, considerando o seu modo de vida, estimulando a participação
ativa e direta da população no encontro dos seus aspetos mais específicos, implicam a
representação bilateral de um custo económico que não poderia isoladamente
constituir-se pois não pode ser dissociado das suas incidências sociais. “Se é verdade
que as correntes económicas influenciam a orientação e a maneira de exercer a prática
de cuidados, reciprocamente os cuidados de enfermagem contribuem para afirmar ou
pôr em causa as correntes sociais” (Collière, 1999, p.12).

Segundo Deodato, Martins e Carneiro (2008) a enfermagem enquanto disciplina está


centrada na produção de conhecimentos sobre o cuidado na experiência de saúde
humana. A sistematização dos cuidados prestados pode levar à exigência, cada vez
maior, da formação específica e especializada dos enfermeiros que a exercem em
busca da melhoria na qualidade dos serviços prestados. Com isso, a enfermagem como
profissão vai se solidificando gradualmente.

Uma vez que as relações humanas são a base para o trabalho na área da saúde, o
processo de comunicação é um instrumento fundamental para o bom desenvolvimento
em contexto de trabalho. Gameiro (2003) defende que o cuidar constitui a essência no
campo da competência específica da enfermagem e que ninguém exerce enfermagem,
nem como arte, nem como ciência, sem comunicar eficientemente. Uma vez que o ser
humano enriquece o seu referencial de conhecimentos, transmite sentimentos e
pensamentos, esclarece, interage e conhece o que os outros pensam e sentem, face à
capacidade de perceber e comunicar. O enfermeiro tem junto de quem cuida, uma
função tão complexa, tão individual e tão ligada à personalidade como é a comunicação.

29
30
2 - QUALIDADE EM SAÚDE

A qualidade é um pilar fundamental de qualquer sector de atividade. No sector da saúde,


a qualidade deixou de ser um fator opcional e tornou-se uma prioridade, uma exigência
e um requisito de enorme importância na gestão das organizações de saúde,
representando a sua responsabilidade, ética e respeito pelos cidadãos que a elas
recorrem.

Atualmente a qualidade em saúde representa umas das principais metas das


instituições de saúde no que diz respeito à prestação de cuidados. No entanto esta
preocupação não é algo recente, estando pelos princípios éticos da beneficência e não
maleficência, desde sempre inerente à prática clínica (Campos, Saturno e Carneiro,
2010). Para além disso, existem fatores que exigem o aumento da qualidade e da
segurança com que os profissionais prestam os cuidados. Entre eles está, por um lado,
o crescente interesse dos doentes acerca dos cuidados a que são sujeitos, o que se
traduz numa maior intolerância destes face aos erros e à falta de qualidade dos serviços
e por outro lado, o especial e atual interesse por parte dos media na divulgação de
eventos adversos que ocorrem nas instituições.

Assim, numa perspetiva economicista e vendo as instituições hospitalares como


organizações que fornecem cuidados, torna-se essencial que a definição de qualidade
em saúde seja sob a forma de normas e processos de modo a que permitam a sua
avaliação, uma vez que esta tem um papel fulcral na área da gestão (Fragata, 2012).
Por conseguinte, o mesmo autor define qualidade em saúde como “um nível de cuidados
que se aproximasse das expetativas dos consumidores e interessados” (Fragata, 2012,
p.17).

Em Portugal, a problemática da qualidade em saúde tem sido progressivamente


trabalhada e legislada. Em 1990, a Assembleia da República aprovou a Lei de Bases
da Saúde, decretando que a proteção da saúde constitui um direito de todos os
cidadãos. Esta lei estabelece a universalidade da cobertura dos cuidados de saúde
como um dos alicerces básicos do sistema de saúde português, estabelecendo que os
serviços públicos de saúde se devem estender a toda a população. Para além disto,
determina a equidade como um princípio do sistema de saúde, devendo ser garantido
31
o acesso a cuidados de saúde em condições de igualdade. Finalmente, a lei torna
relevante que as ações do sistema de saúde devem direcionar-se para a promoção da
saúde e prevenção da doença (Lei nº 48/90 de 24 de Agosto, 1990). Isto implica uma
conceção integral da saúde e impõe o desafio aos prestadores de cuidados de
integrarem, num quadro de melhoria contínua, as ações de promoção da saúde e de
prevenção da doença, tal como incorporam a prestação de cuidados curativos,
reabilitadores ou paliativos (Despacho nº 14223/2009 de 24 de junho, 2009; Ministério
da Saúde. Direcção-Geral da Saúde, 2013).

Mais tarde, em 2009, o Ministério da Saúde aprovou em despacho a Estratégia Nacional


para a Qualidade na Saúde. Esta estratégia tem como missão promover e disseminar
uma cultura de melhoria contínua da qualidade e, para isso, estabelece prioridades
estratégicas. Estas prioridades são: qualidade clínica/organizacional, informação
transparente ao cidadão, segurança do doente, qualificação e acreditação nacional de
unidades de saúde, gestão integrada da doença e inovação, gestão da mobilidade
internacional de doentes e avaliação/orientação das reclamações/sugestões dos
cidadãos (Despacho nº 14223/2009 de 24 de junho, 2009). Simultaneamente, e assim
como Fragata (2011), a Estratégia Nacional aborda a questão da participação tanto do
profissional de prestação do serviço de saúde, como do cidadão, enquanto utilizador
desse mesmo serviço (Despacho nº 14223/2009 de 24 de junho, 2009).

Já em 2013, com a publicação do Plano Nacional de Saúde 2012-2016 (PNS), a


qualidade em saúde ganha nova visibilidade (Ministério da Saúde. Direcção-Geral da
Saúde, 2013). O PNS reforça a ideia da adequação dos cuidados de saúde às
necessidades do cidadão, elencando que o acesso a cuidados de qualidade é um direito
fundamental e que este tem toda a legitimidade para o exigir. Paralelamente, o PNS
esclarece que a promoção da qualidade em saúde envolve, entre outras questões, ciclos
de melhoria contínua da qualidade e desenvolvimento profissional e instituição e, ainda,
monitorização, benchmarking e avaliação. A concretização dos ciclos de melhoria
contínua pode ser conseguida através da identificação sistemática de problemas e
oportunidades, a fim de os solucionar, estabelecer padrões realistas, identificar e atuar
sobre pontos críticos, assim como planear e implementar mudanças e monitorizar.
Qualquer um destes processos deve ser multidisciplinar, não punitivo e estar associado
a planos de desenvolvimento profissional e institucional. Por outro lado, a monitorização,
o benchmarking e a avaliação devem incluir processos de acreditação, de avaliação e
identificação das boas práticas ao nível do profissional, da equipa, do serviço, da
instituição e da decisão política (Ministério da Saúde, Direcção-Geral da Saúde, 2013).

32
Mais recentemente, foi aprovado o Plano Nacional para a Segurança dos Doentes 2015-
2020 (PNSD). O despacho correspondente enfatiza a característica multidimensional da
qualidade em saúde, enfatizando que a qualidade na saúde assenta na pertinência dos
cuidados, na sua segurança, na sua aceitabilidade e acessibilidade e na sua prestação
no momento oportuno. Para além disto, reforça que assenta ainda na garantia da
continuidade dos cuidados, na sua eficiência e na sua efetividade (Despacho nº 1400-
A/2015 de 10 de fevereiro, 2015).

Face ao referido, é possível constatar que a qualidade dos cuidados tem se tornado
também uma prioridade em Portugal, justificando assim o aparecimento de alguns
estudos de investigação. De facto, Silva, et al (2013), levaram a cabo um estudo sobre
as perspetivas dos profissionais de saúde portugueses e dos doentes relativamente ao
significado de “qualidade dos cuidados” e aos aspetos que influenciam a qualidade. Os
participantes deste estudo mencionaram questões relacionadas com a estrutura,
processo e resultados, mas também abordaram a questão da gestão relacionada com
qualidade. Os doentes focaram-se, principalmente, nos aspetos do processo dos
cuidados, nomeadamente na relação interpessoal e na existência de suporte emocional,
por parte dos profissionais de saúde. Ainda assim, valorizaram também aspetos como
o tempo de espera, o conforto e as instalações (aspetos de estrutura). Relativamente
aos profissionais de saúde, estes consideraram os aspetos relacionados com a gestão
como o maior obstáculo ao seu trabalho, pelo que defendem que a qualidade dos
cuidados poderia ser melhorada com a existência de mudanças a esse nível.

Para além disto, os profissionais de saúde portugueses também conferiram grande


importância aos aspetos interpessoais, aos recursos materiais e ao ambiente físico,
quando lhes é pedido que pensem na qualidade dos cuidados (Silva, et al., 2013). A par
deste estudo, e principalmente ao nível internacional, têm surgido vários artigos que se
debruçam sobre a influência que os enfermeiros têm sobre a qualidade dos cuidados.

Segundo Martin (2015), a existência de dotações seguras de enfermeiros, melhora os


resultados dos cuidados para os doentes, para os enfermeiros e para as próprias
organizações. Ainda nesta ótica, o mesmo autor, considera que a existência de mais
enfermeiros juntos dos doentes ajuda a aumentar a satisfação destes, melhora a
qualidade dos cuidados e aumenta a satisfação dos enfermeiros.

Também Kieft, Brouwer, Francke, e Delnoij (2014), desenvolveram um estudo sobre


como os enfermeiros e o seu ambiente de trabalho afetam as experiências de qualidade
dos cuidados dos doentes.

33
Os participantes, enfermeiros, identificaram os seguintes elementos como facilitadores
da qualidade dos cuidados:

- Enfermeiros clinicamente competentes (ao nível das competências sociais, da perícia


e experiência e da capacidade de priorização);

- Relações de trabalho onde haja colaboração e comunicação eficaz;

- Prática de enfermagem autónoma;

- Dotações adequadas;

- Controlo sobre a prática de enfermagem;

- Suporte por parte da gestão;

- Cuidados centrados no doente.

Atendendo ao supracitado, é possível concluir que as investigações atuais têm provado


que os enfermeiros influenciam o nível da qualidade em saúde. Assim, a sua promoção
deve ser uma preocupação constante de todos os enfermeiros.

Devido a isso mesmo, em 2002, a Ordem dos Enfermeiros elaborou os Padrões de


Qualidade dos Cuidados de Enfermagem, que qualquer enfermeiro deveria procurar
respeitar. Neste documento, é esclarecido que a qualidade dos cuidados de
enfermagem é visível em seis resultados: a satisfação do cliente, a promoção da saúde,
a prevenção de complicações, o bem-estar e o autocuidado, a readaptação funcional e
a organização dos cuidados de enfermagem (Ordem dos Enfermeiros, 2002 - revisão
em 2012). No que se refere à satisfação do cliente, o enfermeiro deve respeitar as suas
capacidades, crenças e valores, demonstrando uma constante empatia nas suas
interações com o cliente. Deve ainda encará-lo como parceiro no planeamento dos
cuidados e envolver os seus significativos nos mesmos, de forma a minimizar o impacto
negativo das mudanças de ambiente a que o cliente foi forçado (Ordem dos
Enfermeiros, 2002 - revisão em 2012). Relativamente à promoção da saúde, o
enfermeiro deve identificar a situação de saúde e os recursos do seu cliente/família,
promover oportunidades promotoras de estilos de vida saudáveis e fornecer informação
geradora de novos conhecimentos e capacidades do cliente. No que se refere ao bem-
estar e autocuidado, cabe ao enfermeiro maximizar o bem-estar dos clientes e
complementar as atividades de vida nos quais são dependentes (Ordem dos
Enfermeiros, 2002 - revisão em 2012). Para além destes, relativamente à readaptação
funcional, o enfermeiro deve desenvolver processos eficazes de adaptação aos

34
problemas de saúde, em conjunto com o cliente (Ordem dos Enfermeiros, 2002 - revisão
em 2012). Já relativamente à prevenção de complicações, o enfermeiro deve prevenir
eventuais complicações para a saúde dos doentes. Para isso, é necessário que, dentro
do seu campo de ação, identifique potenciais problemas do doente e que, a partir daí,
prescreva, implemente e avalie intervenções de enfermagem, que tenham como fim
evitar ou minimizar os efeitos indesejáveis desses problemas. Nestes casos, o
enfermeiro deve assegurar o rigor técnico-científico da sua ação e, no caso de os
problemas ultrapassarem as suas competências ou capacidades, deve referenciar a
situação para outros profissionais que consigam dar uma resposta mais eficaz. Ainda
neste campo, é exigido ao enfermeiro a supervisão de eventuais intervenções que
tenham sido delegadas e a sua responsabilização pelas decisões que toma.

Por último, no que se refere à organização dos cuidados, é esperado que o enfermeiro
contribua para a sua máxima eficácia. Para isso, é necessário a existência de referencial
para o exercício profissional, bem como a existência de um sistema de melhoria
contínua da qualidade desse mesmo exercício. Além dos anteriores, são elementos
importantes a existência de um sistema de registos de enfermagem (onde os resultados
sensíveis às intervenções de enfermagem estejam bem claros) e a satisfação dos
enfermeiros relativamente à qualidade da sua ação. Paralelamente, é desejado a
garantia de um número adequado de enfermeiros face às necessidades dos cuidados e
a adoção de uma política e de metodologias promotoras do desenvolvimento
profissional e da qualidade (Ordem dos Enfermeiros, 2002 - revisão em 2012).
Atendendo aos padrões, torna-se importante destacar o foco do presente trabalho nos
enunciados da “organização de cuidados”.

Fragata (2011) agrupa os componentes fundamentais para a qualidade em saúde


definidos pelo IOM e agrupa-os de forma a simplificar o que deve ser a qualidade em
saúde nos dias de hoje:

• Efetividade (eficácia e eficiência);

• Experiência dos doentes (satisfação);

• Segurança dos cuidados (ausência de complicações).

Tendo em conta estes componentes, e adaptando-os à Enfermagem, será pertinente


abordar o Nursing Role Effectiveness Model, que em português se designa modelo da
efetividade dos cuidados de enfermagem (MECE), os cuidados centrados na pessoa
(experiência dos doentes) e os cuidados omissos (CO) (interferem com a segurança dos
cuidados). A garantia da qualidade é uma das competências dos enfermeiros gestores.
35
Pode ler-se no Regulamento do Perfil de Competências do Enfermeiro Gestor (Diário
da República, 2015, p. 5949) que o enfermeiro gestor “garante o cumprimento dos
Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem” e é gestor “da segurança dos
cuidados”.

36
3 – CULTURA DE SEGURANÇA DO DOENTE

A segurança do doente é um dos itens da qualidade dos cuidados prestados, não


podendo existir qualidade nos serviços de saúde sem que haja segurança, logo, este é
um tema que tem mobilizado a comunidade científica a nível internacional. O sucesso
da melhoria da segurança do doente depende assim, do envolvimento, entusiasmo e
dedicação de todos os profissionais que intervêm nos cuidados de saúde aos doentes
(Sousa, 2011).

A segurança é, então, uma dimensão da qualidade, tendo esta um especial papel nos
cuidados de saúde, uma vez que tem grandes implicações quer nos custos económicos
e sociais das organizações, quer no grau de confiança nos profissionais de saúde e
instituições, como também pode ter implicações nos resultados esperados (Sousa,
2006). Fragata (2012, p.19) complementa referindo que “qualidade e segurança andam,
assim, de mão dada, podendo dizer-se que mais segurança promove sempre qualidade
superior e ainda menos custos”.

Deste modo, a OMS como referido pela DGS (2013, p.2) define cultura de segurança
como sendo “o produto de valores individuais e de grupo, atitudes, perceções,
competências e padrões de comportamento que determinam o compromisso com a
segurança e o estilo e competência da gestão da segurança de uma organização de
saúde”.

Fragata (2006, p.12) reconhece que a prestação de cuidados de saúde envolve riscos,
definindo risco como a “probabilidade de ocorrência de um qualquer evento adverso” e
evento adverso como “qualquer ocorrência negativa ocorrida para além da nossa
vontade e como consequência do tratamento causando algum tipo de dano”. Segundo
o autor, a prestação de cuidados tem-se tornado cada vez mais diferenciada, o que a
sujeita a uma série de variáveis que podem traduzir-se em erros, 50% deles evitáveis.

Na mesma ótica, os meios diagnósticos e terapêuticos apresentam uma maior eficácia,


mas também uma maior capacidade invasiva, tornando-os potencialmente perigosos.
Assim, esta perigosidade, a forma incorreta de utilizar os recursos técnicos e os
fármacos, a imprevisibilidade da natureza humana e as várias pressões fazem da
37
prestação de cuidados uma atividade de risco a que é preciso estar atento (Fragata,
2011).

Nesse sentido, a segurança do doente pode ser de difícil abordagem devido à elevada
complexidade e ao carácter multifatorial que está associado aos cuidados de saúde. Isto
porque as organizações têm que prestar cuidados a todos os doentes de igual forma,
sob os princípios de universalidade e equidade. Para além disso, os cuidados de saúde
exigem que as instituições possuam uma vasta complexidade tecnológica, com um
desenvolvimento científico rápido, necessitando, assim, que os profissionais de saúde
tenham uma formação vasta e com diferentes especializações. No entanto, as pessoas
que procuram as organizações de saúde são essencialmente pessoas fragilizadas com
a doença, muitas das vezes com fracos conhecimentos acerca da sua doença, mas, por
outro lado, com altas expetativas dos resultados (Fragata, 2010; Sousa, 2006).

Instituir a cultura de segurança numa organização passa por implementar medidas,


consolidar conhecimentos, esclarecer dúvidas e direcionar no sentido da melhoria
contínua, sendo que se pode efetuar práticas mais seguras através da criação de uma
cultura de aprendizagem e partilha onde os profissionais se sintam capazes de falar e
agir em prol da segurança do doente e os gestores/líderes através da valorização da
cultura de segurança (Vogus, Stucliffe e Weick, 2010). Deste modo, Campos et al.
(2010) definem que os fatores que interferem com a segurança do doente e a qualidade
na saúde são os fatores humanos, organizacionais e o acaso.

Como fatores humanos individuais do profissional, considera-se a sua experiência


profissional, os conhecimentos adquiridos, a sua capacidade de ser liderado e ou liderar,
a comunicação, a capacidade de trabalhar em equipa, entre outros. Claro que nas
organizações de saúde, a maioria das vezes os cuidados são prestados após uma
sequência de decisões da equipa multidisciplinar. O conhecimento em saúde está em
constante mutação exigindo dos profissionais uma rápida capacidade de adaptação e a
necessidade de se irem integrando nas evidências científicas. Assim, o trabalho em
equipa é essencial no seio dos cuidados de saúde, a fim de que todos os profissionais
de saúde possuam as mesmas metas e objetivos, utilizando uma metodologia
semelhante e tendo em conta cada especificidade de cada profissão, todos os
profissionais tenham noção do que foi feito e do que falta fazer, assegurando assim uma
correta monitorização dos cuidados a fim de precocemente se detetar possíveis erros e
deste modo evitar os eventos adversos (Campos et al., 2010). Desta forma, deve-se
também promover ações de formação com o intuito de garantir que os profissionais

38
possuam os conhecimentos mais atualizados, pois 60 a 70% dos erros devem-se aos
fatores humanos (Campos et al., 2010; Fragata, 2012).

Sammer, et al., (2010) defende a existência de sete subculturas da segurança do doente


nomeadamente: a liderança, o trabalho em equipa, o trabalho baseado na evidência, a
comunicação, a aprendizagem, a justiça e os cuidados centrados no doente. Já Fragata
(2012) refere que para a promoção da cultura de segurança do doente é necessário:
comunicação, supervisão, colaboração em equipa, coordenação e liderança. Segundo
o mesmo autor, a avaliação das equipas está associada à tríade input/process/output,
onde o input remete-nos para as características dos membros da equipa e o contexto
onde trabalham, os processos estão relacionados com os métodos de trabalho, de
interação entre os profissionais e a sua capacidade de trabalharem em equipa. Por
último, o output está relacionado com a eficácia, eficiência, satisfação e nível de
segurança.

Deste modo, a nível dos inputs, cabe ao líder possuir competências nas áreas de gestão
e liderança. A nível dos processos, o líder deve ser um participante ativo da equipa,
motivando os profissionais através do exemplo, sendo também um elemento
influenciável pelos restantes membros contribuindo assim para melhores outputs. O
papel do líder nos outputs passa por melhorar a satisfação e a efetividade no seio da
equipa.

Na área da saúde, há uma certa dificuldade em destacar a liderança uma vez que as
equipas de saúde possuem muitos estratos profissionais e diferentes níveis hierárquicos
(Fragata, 2012). Cabe ao líder ter um conjunto de competências, para além do
conhecimento acerca dos métodos de trabalho, como uma boa capacidade de análise
e controlo, através da visão e planeamento das metas e resultados pretendidos,
capacidade para estabelecer uma boa comunicação com os elementos da equipa e,
quando necessário, uma boa capacidade para reformulação de processos. Tendo assim
o líder a responsabilidade de promover uma nova cultura organizacional em torno da
segurança (Fragata, 2012). No que concerne ao trabalho em equipa, Fragata (2012),
corrobora estes dados referindo que é uma necessidade inegável e as vantagens do
trabalho em equipa são múltiplas, não só pelo nível de prestação atingido como,
sobretudo, pela maior segurança que gera. Quanto à prática baseada na evidência, está
demonstrado que as instituições de saúde que possuem normas, protocolos,
procedimentos, listas de verificação, entre outros, tem uma cultura de segurança mais
forte (Sammer et al., 2010).

39
A cultura de aprendizagem é também uma mais-valia para a implementação destas
medidas. É também mais-valia para a implementação da cultura de segurança numa
organização de saúde, pois promove o conhecimento através do erro, implementando
medidas mais concretas de modo a diminuir os incidentes (Sammer et al., 2010). Os
cuidados centrados no doente são também associados à cultura de segurança pois
permite que o doente seja um participante ativo do seu plano de cuidados, mobilizando-
o assim para uma melhor adesão terapêutica. Quanto à justiça, prende-se com o
sistema de notificação do erro, que deve ser não punitivo, e, ao mesmo tempo, a
implementação de uma cultura justa (Sammer et al., 2010).

Tendo em conta o que foi referido anteriormente, Fragata (2012) refere que a cultura de
segurança assenta em três premissas que são: uma cultura de aprendizagem em torno
do erro, uma cultura de notificação do erro e uma cultura justa ou não punitiva. Assim,
para o sucesso da cultura de segurança é fundamental uma boa capacidade de
comunicação como garantia da qualidade com que esta é transmitida, a existência de
profissionais competentes e motivados, prestando cuidados segundo normas e
procedimentos de modo a prestar os melhores cuidados possíveis (Carneiro, 2010).

Se o trabalho em equipa é fundamental para o sucesso da segurança do doente, então


a comunicação é uma peça indispensável. Desta maneira, a comunicação tem um papel
preponderante para o sucesso da segurança do doente. Sem esta, segundo estudos
realizados pela Joint Commission International (JCI) Center for Patient Safety e
realçados no The Global Patient Safety Challenge, pode haver falhas na comunicação
intra e inter equipas o que provocará diminuição da qualidade dos cuidados. É
importante quer a comunicação entre profissionais e doentes como também entre os
próprios profissionais (Santos et al., 2010).

Deste modo, a comunicação entre profissional e doente torna-se problemática quando


não se estabelece uma boa relação entre estes. Isto pode ocorrer pela utilização de
questões fechadas, não permitindo assim ao doente transmitir os seus problemas ou
quando o profissional duvida da informação dada pelo doente. Outro motivo passa pela
utilização de terminologia científica que pode levar o doente a sentir-se pouco à vontade
por não compreender ou então confundi-lo (Santos et al., 2010). Assim, é importante
assegurarmo-nos que estamos num meio que permita ao doente expor os seus
problemas, através de uma escuta ativa, perguntas abertas, entre outros meios. Já na
comunicação entre profissionais estamos perante dois momentos específicos, as
passagens de turno e as transferências de doentes para outras unidades de
internamento ou para outras unidades hospitalares. Os doentes em meio hospitalar

40
estão acompanhados por profissionais de saúde 24h/dia, assim a comunicação é
essencial para a articulação entre os diferentes profissionais (JCI, 2007; Santos et al.,
2010).

É importante também reforçar a ideia de que a gestão da segurança está intimamente


relacionada com a existência de modelos que proporcionam uma melhoria na prática
dos cuidados. De acordo com vários autores, existem medidas que podem ser adotadas
pelas instituições e que proporcionam condições para que sejam reduzidos ou
eliminados os fatores que potencializam os eventos adversos e os erros. Essas medidas
são a existência de: Sistema de notificação de eventos adversos; Formação profissional
contínua; Processo clínico informatizado; Sistema de prescrição de medicação e
indicações terapêuticas on-line; Guidelines, Checklists e protocolos de atuação nos
serviços (Lima, 2011).

Os enfermeiros são das classes profissionais que mais tempo passam junto dos
doentes, sendo muitas vezes o profissional que lhes presta cuidados diretos. Deste
modo, são uma classe com bastante enfoque na qualidade dos cuidados e na segurança
do doente. De tal forma que no regulamento das competências dos enfermeiros,
elaborado pela Ordem dos Enfermeiros (OE), refere-se que o enfermeiro deve
desenvolver uma prática de cuidados com responsabilidade, referindo mesmo que o
exercício profissional deve ser seguro, com competência através do conhecimento e na
avaliação sistemática das melhores práticas. Assim, cabe ao enfermeiro promover um
ambiente seguro com a avaliação de potenciais riscos, através de uma correta
administração de terapêutica, de medidas que promovam o controlo de infeção e
“estratégias de garantia da qualidade e de gestão do risco” (OE, 2011, p.19).

Em consonância, Fernandes e Queirós (2011) reforçam a ideia que o enfermeiro, tendo


por base o Código Deontológico, deve implementar medidas que visem a segurança do
doente e avaliar, através dos meios à sua disposição, se a qualidade dos cuidados é
alcançada, pois, desta forma, o modo como os enfermeiros planeiam, executam e
avaliam tem um papel primordial na cultura de segurança do doente. Para além disso,
em 2001, a OE redigiu o documento – Padrões de qualidade dos Cuidados de
Enfermagem, já referido anteriormente no capítulo anterior, com o objetivo de refletir,
numa perspetiva de melhoria contínua de cuidados, sobre o exercício profissional dos
enfermeiros, definindo que o enfermeiro deve “promover a existência de um sistema de
melhoria contínua da qualidade do exercício profissional (…), a satisfação dos
enfermeiros relativamente à qualidade do exercício profissional; (…) a existência de uma
política de formação contínua dos enfermeiros, promotora do desenvolvimento

41
profissional e da qualidade e a utilização de metodologias de organização dos cuidados
de enfermagem promotoras da qualidade” (OE, 2011, p.18).

3.1 – A CULTURA DE SEGURANÇA NA GESTÃO E ORGANIZAÇÃO DOS


CUIDADOS DE ENFERMAGEM

De acordo com o ICN, a enfermagem é responsável por contribuir quer na gestão e


coordenação dos serviços de saúde quer no planeamento e política de saúde, tanto a
nível local, como nacional e internacional, por meio de papéis de gestão e liderança e
associações profissionais de enfermagem (ICN, 2010). É acentuado que a gestão dos
serviços de enfermagem é da responsabilidade exclusiva dos gestores de enfermagem.
É característico da área da saúde o antagonismo entre os recursos que são finitos e as
necessidades que são crescentes. Consequência deste antagonismo, em conformidade
com Escoval (2009), para gerir é primordial respeitar o cumprimento dos objetivos
definidos através do desenvolvimento de regras criteriosas e procurar fontes alternativas
de financiamento. Neste sentido, gerir é avaliar, responsabilizar, transmitir, exigir, para
conduzir pessoas com saber, competência e rigor assente em informação e
conhecimento (Escoval, 2009).

A enfermagem é a profissionalização da capacidade humana de cuidar, e conforme é


referido por Santos et. al (2013), a gestão de cuidados centra-se no doente e suas
necessidades, compreendendo ações educativas, administrativas e de cuidado em prol
do mesmo, ou seja, concentra-se em desenvolver condições e organizar o trabalho em
função do processo de cuidar. A gestão de cuidados em enfermagem também se
destaca na gestão da minimização de acidentes e eventos adversos, realçando a sua
figura de administração/gestão como promotora de cuidados mais seguros. Sabendo
que o estado de saúde do doente pode ser prejudicado por influência de fatores do
ambiente (ventilação, aquecimento, condições sanitárias, ruídos, alimentação, entre
outros), cabendo ao enfermeiro garantir a recuperação da saúde do doente e evitar o
desenvolvimento de complicações, isto é, cabendo-lhe promover a segurança do seu
doente.

42
A promoção da segurança dos cuidados e a avaliação da CSD insere-se no campo de
ação da enfermagem, pois a gestão dos cuidados e dos estímulos ambientais fazem
parte das funções do enfermeiro. Também a enfermagem tem um papel na segurança
do doente, enquanto profissão. A enfermagem é responsável por melhorar a saúde e
promover resultados de qualidade, sendo que os resultados relativos à segurança são
um componente essencial da qualidade (White, McGillis Hall, e Lalonde, 2011).

Os erros são o resultado de uma complicada interface entre os prestadores de cuidados


e a tecnologia, dos prestadores e do sistema ou ainda da complexa interação ente
diferentes prestadores de cuidados (White, McGillis Hall, e Lalonde, 2011). Por isto
mesmo, pode-se afirmar que a cultura organizacional afeta o número e o tipo de erros
que têm vindo a ser relatados, na medida em que a presença de uma cultura punitiva
desencoraja os indivíduos a reportarem erros, conduzindo à subnotificação e em última
análise, à falha na identificação das origens dos problemas.

Assim sendo, a segurança do doente pode ser o resultado da qualidade do papel


independente/autónomo da enfermagem e a comunicação precisa e oportuna entre os
vários elementos da equipa multiprofissional. Desta forma, pode-se concluir que a
enfermagem desempenha um importante papel na prevenção de resultados adversos e
que, por isso, cabe aos gestores estruturarem a enfermagem, de forma a criarem um
ambiente de cuidados promotor da segurança do doente (White, McGillis Hall, e
Lalonde, 2011).

Face ao que foi referido, é então possível afirmar que o enfermeiro, principalmente o
enfermeiro com funções de liderança e gestão, tem um papel essencial na promoção e
melhoria da qualidade e da segurança dos cuidados.

Fradique e Mendes (2013) procuraram estudar os efeitos da liderança na melhoria da


qualidade dos cuidados de enfermagem e chegaram à conclusão que a liderança em
enfermagem está direta e positivamente relacionada com a qualidade dos cuidados de
enfermagem prestados. Também segundo os autores, o enfermeiro-chefe é o elemento-
chave enquanto gestor da liderança, sendo decisivo para o funcionamento eficaz da
organização e adotando o papel de motivador da equipa que lidera. Para além disto, a
capacidade do enfermeiro-gestor influenciar os resultados das organizações depende
mais da implementação de estratégias, da motivação e da liderança, do que do seu
peso hierárquico (Fradique e Mendes, 2013).

Na mesma ótica, os autores consideram que os líderes são os principais responsáveis


pela melhoria do desempenho, desenvolvendo, implementando e monitorizando a

43
gestão do serviço. Por isso mesmo, cabe aos enfermeiros-gestores garantir a qualidade
dos cuidados de enfermagem que, por sua vez, é influenciada pelo estilo de
comunicação e colaboração entre os profissionais e pelos modelos de supervisão.
Assim sendo, os autores consideram que os enfermeiros-líderes devem dar importância
à inovação, incentivando e permitindo que os elementos das suas equipas sejam
criativos na implementação de estratégias promotoras da qualidade dos cuidados
(Fradique e Mendes, 2013).

Esta ideia é corroborada por Santos, Lima, Pestana e Garlet (2013), que afirmam que a
liderança deve ser encarada como um instrumento importante à implementação de
mudanças que visem a melhoria dos cuidados de enfermagem. Para além dos autores
mencionados, também Haycock-Stuart e Kean (2012) defendem que a existência de
cuidados de enfermagem com elevada qualidade é função específica dos líderes em
enfermagem. Ainda assim, os autores destacam a necessidade de se identificarem
indicadores de avaliação da qualidade, bem como importância de se demonstrar o
impacto da enfermagem na qualidade dos cuidados de saúde (Haycock-Stuart e Kean,
2012). Paralelamente ao mencionado, tem também surgido alguma literatura que
associa o papel da gestão e da liderança em enfermagem especificamente à promoção
da segurança do doente.

Estes autores consideram, que os líderes devem ter responsabilidades claras para
introduzir as mudanças necessárias, com vista a reduzir o número de danos e defendem
que todos os enfermeiros devem reconhecer a sua própria responsabilidade na
implementação da segurança e na prestação de cuidados baseados na evidência. As
autoras continuam ao afirmar que promover uma cultura onde a segurança do doente
seja levada a sério é uma responsabilidade fundamental da liderança em enfermagem.
Os enfermeiros-líderes devem, ainda, definir as suas expectativas relativas à segurança
do doente, podendo atuar como visionários, ajudando os restantes enfermeiros a
planear, liderar, controlar e organizar as atividades que promovem a segurança nos
cuidados (Wiiliams e Reid, 2009).

Assim, enquanto os enfermeiros são essenciais na criação do ambiente da prática de


cuidados (devendo atuar como defensores da segurança do doente), os enfermeiros-
líderes encontram-se em posição de influenciar o foco sobre a segurança do doente
(Wiiliams e Reid, 2009).

Na mesma linha de pensamento, encontram-se Vaismoradi, Bondas, Salsali, Jasper e


Turunen (2014). Estes desenvolveram um estudo de investigação que pretendia
explorar de que forma os enfermeiros líderes facilitariam a prestação de cuidados

44
seguros, na perspetiva de enfermeiros e enfermeiros-líderes. Os autores chegaram à
conclusão que, de forma a facilitar a prestação de cuidados seguros, compete aos
enfermeiros-líderes: melhorar as condições de trabalho dos enfermeiros; desenvolver
as competências práticas dos enfermeiros; atribuir funções aos enfermeiros de acordo
com as suas competências e capacidades; proporcionar supervisão apropriada;
melhorar as relações profissionais entre os vários prestadores de cuidados e encorajar
a colaboração entre todos; conferir maior controlo aos enfermeiros; recompensar a
prática segura. Os enfermeiros-líderes estão numa posição que lhes permite ter um
papel essencial na promoção e melhoria da segurança do doente.

Num outro artigo, Kangasniemi, Vaismoradi, Jasper e Turunem (2013) afirmam que o
enfermeiro-líder desempenha um papel ético e estratégico na garantia da segurança do
doente, na medida em que o seu trabalho de gestão organizacional e de prática clínica
cria a possibilidade de realizar, evidenciar e promover as questões éticas da segurança.
De facto, promover a compreensão e consciencialização dos valores e princípios da
segurança do doente pode ser conseguido. Para isso, o enfermeiro-líder deve
padronizar e decretar protocolos relativos a práticas seguras, adaptar modelos de
segurança adequados, promover o desenvolvimento da equipa multidisciplinar que vise
a segurança e desenvolver uma imagem cultural da segurança do doente.

O papel dos enfermeiros-gestores inclui incorporar os valores éticos da segurança do


doente em todas as tomadas de decisão da organização, pois a existência de uma
segurança sensível às suas questões éticas, proporciona práticas sustentáveis nas
quais a dignidade humana é respeitada (Kangasniemi, Vaismoradi, Jasper, e Turunem,
2013). A qualidade e a segurança dos cuidados prestados relacionam-se diretamente
com o papel dos enfermeiros-gestores, isso quer dizer que enfermeiros-gestores
competentes propiciam cuidados seguros e de qualidade (Fradique e Mendes, 2013).

Por esta razão, em 2015, foi aprovado o Regulamento do Perfil de Competências do


Enfermeiro Gestor, onde o papel do enfermeiro-gestor na promoção e avaliação da
segurança do doente está bem clarificado (Regulamento n.º 101/2015 de 10 de março,
2015). Assim, torna-se crucial que os enfermeiros-gestores trabalhem a problemática
da CSD, particularmente nas instituições de saúde onde exerçam funções. O
enfermeiro-gestor tem como domínios de competência acrescida a gestão e a sua
assessoria.

45
46
4 - A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO EM ENFERMAGEM PARA A
SEGURANÇA DO DOENTE

A comunicação constitui uma ferramenta importante para a enfermagem. Sem ela


haveria dificuldades para dar sequência nas atividades a serem desenvolvidas pelos
enfermeiros nos cuidados a prestar, com a finalidade de dar continuidade e garantia de
segurança ao doente (Barbosa et al, 2013).

A exploração do tema processo de comunicação é importante na enfermagem, pois é


por meio da comunicação vivida entre enfermeiro e doente que se definem metas,
objetivos a serem atingidos pelo doente, por ele próprio ou pela equipa, para em
conjunto se encontrarem soluções.

A comunicação promove a alteração do comportamento das pessoas, portanto é um


instrumento de trabalho valioso para a equipa de saúde. A comunicação tem como
objetivos: proporcionar informação e compreensão necessárias para que as pessoas
possam conduzir as suas tarefas, proporcionar as atitudes necessárias que promovam
a motivação, cooperação e satisfação nos cargos.

O enfermeiro, como elemento da equipa, tem por dever desenvolver a habilidade de


comunicar e socializar esse conhecimento com a equipa, pois a comunicação permeia
todas as ações de enfermagem e influencia decisivamente na qualidade do atendimento
ao doente, pois é a equipa de enfermagem que mantém contacto mais direto e contínuo
com o doente, sendo responsável, portanto, por apreender, perceber, interpretar,
observar e avaliar as informações oriundas deste, e que serão o ponto de partida para
a prescrição das intervenções de enfermagem a desenvolver com o doente.

A comunicação existente no setor da saúde está intimamente ligada com a sua natureza
e especificidade do trabalho realizado. Atualmente, diversos fatores estão a alterar a
natureza do trabalho das organizações de saúde, aumentando a pressão nos processos
e estruturas existentes. Provavelmente, a alteração mais significativa está relacionada
com a urgência que as instituições de saúde sentem para responder às crescentes
exigências aos seus serviços, que mantêm recursos limitados e garantem qualidade e
segurança. Este sentimento de urgência deve-se, em parte, às crescentes expetativas

47
de resposta em todo o tipo de serviços e ao aumento do número de doentes (Nemeth,
2008). Uma segunda tendência que afeta as organizações de saúde é o aumento da
complexidade do trabalho, pois a maioria das instituições responde a uma ampla gama
de condições complexas e especializadas (Nemeth, 2008).

A prestação de cuidados de saúde exige um elevado trabalho cognitivo. Este trabalho


cognitivo é realizado, não só a nível individual, como também a um nível coletivo, que
inclui a avaliação dos recursos, a alocação dos mesmos, a antecipação de eventos
futuros, a especulação sobre as melhores atuações, a negociação para criar consenso
e a partilha de decisões. Para que tal seja possível é essencial que ocorra uma
sincronização entre pessoas, equipamentos, ferramentas e instalações. Só é possível
obter uma boa sincronização entre pessoas e recursos se a comunicação na
organização ocorrer de forma eficiente. A comunicação na saúde deve ser tão complexa
como o domínio que pretende controlar. Outro fator que permite uma boa coordenação
de pessoas e recursos é o trabalho de equipa. A existência de um modelo de
comunicação eficiente permite que as equipas atinjam os seus objetivos. A comunicação
engloba a troca verbal, mas também outras formas de transmitir informação que utilizam
aspetos físicos, como quadros, registos e sistemas eletrónicos.

Um dos problemas que advém de falhas de comunicação e que tem preocupado o setor
da saúde está relacionado com a eficiente transição de cuidados. Existem mecanismos
amplamente divulgados e utilizados para promover uma transição de cuidados eficiente
(quadros eletrónicos, passagens no início e final dos turnos), no entanto tem-se
verificado que não funcionam tão bem quanto se espera. Um obstáculo à comunicação,
frequentemente identificado, é o nível de ruído acústico do local, apesar de muitas
instalações terem realizado um esforço para criar um ambiente mais tranquilo para os
profissionais e doentes. De acordo com o modelo de transmissão de comunicação, a
redução do ruído físico faz sentido como uma tática eficaz na melhoria da qualidade dos
cuidados (Nemeth, 2008).

Ao ser referida a existência de uma comunicação eficiente em saúde, considera-se que


esta é atempada, precisa, completa, não ambígua e compreendida pelo recetor,
reduzindo os erros e promovendo a segurança do doente. Para que a comunicação
eficiente seja uma realidade, é essencial que indivíduos e equipas tenham acesso
atempado a informação adequada e necessária ao desempenho dos seus papéis, de
forma eficiente e apropriada. A utilização de termos técnicos e de calão, abreviaturas e
diagramas na comunicação, pode influenciar a qualidade da partilha de informação e
consequentemente a eficiência da comunicação (VQC, 2010). As consequências das

48
falhas de comunicação não prejudicam apenas os doentes e os seus familiares, quer a
nível físico quer emocional, originam também elevados custos financeiros, por exemplo,
com o aumento do tempo de internamento e pagamento de indemnizações.

As falhas de comunicação em saúde têm diversas causas ou origens. Após terem sido
investigadas, foram enumerados fatores que propiciam e ou originam essas quebras de
comunicação tais como: fatores humanos como atitudes, comportamentos, moral,
lapsos de memória, stress e fadiga do pessoal, distrações e interrupções, mudança de
turnos, diferenças sociais e culturais, hierarquia ou relações de poder distantes, como
por exemplo os elementos mais jovens são relutantes em questionar os elementos mais
velhos, diferenças entre enfermeiros e outros profissionais, pressões relacionadas com
tempo e sobrecarga de trabalho, habilidade limitada para desempenhar múltiplas tarefas
mesmo quando o elemento é hábil, inexistência de um modelo mental comum
relacionado com os objetivos a atingir, carência de protocolos ou procedimentos
organizacionais, cultura organizacional que desencoraja a comunicação e necessidade
de definição de papéis e responsabilidade entre os elementos da equipa multidisciplinar
(VQC, 2010).

Quando a comunicação eficiente é praticada pela equipa de saúde, ocorre a


compreensão partilhada de uma situação e em alguns momentos um percurso de ação
partilhado. Para tal, é essencial que os elementos da equipa sejam treinados em
técnicas de comunicação, desde a negociação à escuta, de forma a definir objetivos de
modo assertivo e a ser possível aplicar essas capacidades numa ampla variedade de
contextos e situações (VQC, 2010). Para que as medidas a implementar nas
organizações de saúde, com vista à melhoria da comunicação, sejam sustentáveis, é
imprescindível que ocorra uma sincronização de esforços a três níveis: a nível individual,
a nível da equipa e por fim a nível organizacional (VQC, 2010).

O nível individual está relacionado com os aspetos inerentes aos fatores humanos. A
eficiência da comunicação a este nível é fortemente influenciada pela fadiga e stress
dos elementos da equipa, pela personalidade e atitudes, pelos lapsos de memória e
pelas distrações e interrupções. Como forma de debelar a influência negativa deste
fator, devem ser desenvolvidas capacidades como a assertividade, a escuta ativa e a
negociação. A assertividade consiste num comportamento assertivo, ou seja, um
conjunto de comportamentos e atitudes que permitem ao profissional afirmar-se
positivamente, não sendo negligente ou agressivo. Por sua vez a escuta ativa está
relacionada com o desenvolvimento da capacidade de ouvir e manter a concentração
na mensagem que está a receber, evitando distrações. A escuta ativa implica também

49
a manutenção de uma mente aberta às ideias de outros elementos, mesmo que não
concorde com estas. Por fim, a negociação atinge-se com o desenvolvimento da
autoconsciência, acerca dos vários estilos de comunicação, e da capacidade para
dialogar com profissionais de saúde de outras disciplinas, dando valor às diversas
perspetivas e gerindo situações em que ocorra conflito.

A sincronização ao nível da equipa é essencial pela grande diversidade de profissionais


que compõem as equipas de saúde. Habitualmente existe a suposição que os
profissionais de saúde são bons comunicadores, no entanto, verifica-se a falta de treino
formal. Numa equipa de saúde, tal como já foi referido anteriormente, encontram-se
elementos com diferentes técnicas, experiências e estilos de comunicação, o que pode
dificultar a realização de uma comunicação eficiente e consequentemente afetar o seu
funcionamento e a segurança do doente. É por isso importante que os elementos da
equipa tenham treino no desenvolvimento de competências de comunicação, o que
consequentemente melhora o trabalho de equipa, mais especificamente a nível da moral
da equipa, da satisfação no trabalho e na segurança do doente através da redução da
quantidade e tempo dos atrasos relativos aos cuidados prestados. Uma forma de
proporcionar uma melhoria contínua é através do feedback às equipas, ou seja, dar
informação construtiva e oportuna com o objetivo de melhorar o desempenho destas.

No que respeita á organização, é essencial um compromisso por parte desta, no entanto


este compromisso necessita de ser bidirecional, ou seja, do topo para a base e da base
para o topo (Hughes, 2008). Desta forma a cultura organizacional desempenha um
importante papel na facilitação e apoio da comunicação por toda a organização, como
por exemplo, através de canais de comunicação abertos, transparência e confiança,
assertividade e forte liderança, que são fatores importantes na facilitação do fluxo
eficiente de informação de qualidade e da partilha de conhecimento. Uma forte liderança
organizacional conduz a melhorias de comunicação e da segurança do doente, através
da implementação de políticas e procedimentos e na identificação de líderes que
conduzam essas melhorias. De uma forma geral, a comunicação eficiente é apoiada por
uma organização que:

- Relaciona de forma clara a comunicação eficiente e o trabalho de equipa com a


segurança do doente;

- Articula de forma clara as expetativas da organização sobre a forma como a


comunicação vai ser conduzida;

50
- Promove um processo de comunicação que facilita a melhoria contínua da segurança
do doente e da qualidade dos cuidados;

- Avalia a atual cultura organizacional de segurança do doente e identifica áreas de


melhoria;

- Promove uma cultura de trabalho que valoriza a cooperação, trabalho de equipa,


abertura, colaboração, honestidade e respeito por cada um e promove uma
comunicação aberta e eficiente;

- Cria um ambiente onde os elementos das equipas se sentem seguros em falar sobre
assuntos relacionados com os cuidados ao doente, independentemente da sua posição;

- Providencia recursos e identifica estratégias de comunicação apropriadas, que


garantem que a informação é efetivamente trocada entre as pessoas.

Outra das formas de comunicar em enfermagem revela-se pelos registos de


enfermagem efetuados, que são o testemunho que perdura no tempo. São uma forma
de comunicar na equipa, é o meio de individualização dos cuidados prestados aos
doentes, mas também facultam proteção legal e ética e apoiam no processo de tomada
de decisão clínica. Por estes motivos houve necessidade da evolução dos registos de
enfermagem através dos sistemas de informação em enfermagem (Sousa, 2009).

Os SIE informatizados deram o impulso necessário para que a informação produzida


numa organização não se restrinja a um pequeno núcleo, mas faça parte da estratégia
competitiva da organização. Aliás, o benefício da sua utilização tem a ver com a
qualidade dos dados que são utilizados pelos enfermeiros em diversas funções tais
como:

• Documentar, armazenar e processar grandes quantidades de dados;

• Comunicar e, se necessário, recuperar dados para a tomada de decisões;

• Gerar informação para controlo e qualidade da prestação de cuidados, controlo de


custos e avaliação;

• Orientar alunos e profissionais de enfermagem sobre o conhecimento e práticas de


enfermagem, mas também o doente sobre os cuidados de saúde a que é submetido e
a importância para a gestão da tomada de decisão.

Os SIE, segundo Silva e Sousa (2006), trazem alguns benefícios para a prática diária
de enfermagem: Minimizam o tempo gasto em documentar as informações do doente;

51
Eliminam duplicações; Melhoram o tempo de comunicação entre a equipa, bem como a
tomada de decisão; Otimizam o acesso à informação; Oferecem informações à equipa
multidisciplinar; Auxiliam no processo de trabalho; Proporcionam flexibilidade para
visualizar e recolher informação necessária; Fornecem informação on-line sobre
medicamentos, guias de conduta e protocolo da prática; Aumentam o tempo dos
enfermeiros para o cuidado direto; Melhoram qualidade da documentação; Aumentam
a produtividade; Reduzem a margem de erro; Não permitem apagar registos prévios;
Desenvolvem uma base de dados clínica comum aos profissionais envolvidos nos
cuidados.

São vários os sistemas de informação informatizados de apoio à prática de enfermagem,


mas todos eles assentam numa linguagem classificada de enfermagem CIPE®. É uma
classificação criada pelo ICN (International Council of Nurses), tendo como propósito
definir uma linguagem científica e unificada, comum à prática de enfermagem,
representar conceitos e descrever os cuidados (ICN 2010).

De acordo com o ICN (2010), foram estabelecidos os seguintes objetivos para a CIPE®:

- Estabelecer uma linguagem comum para descrição da prática de enfermagem;

- Possibilitar o uso para a tomada de decisão clínica;

- Dotar a enfermagem com um vocabulário e uma classificação, de modo a serem


usados na inserção de dados de enfermagem em sistemas de informação;

- Fornecer dados da prática de enfermagem, capazes de influenciar as políticas de


saúde.

Além disso, o ICN (2010) acrescenta que, como é uma linguagem unificada e partilhada
globalmente, a CIPE® deverá facilitar a correlação entre as atividades desenvolvidas
pela prática de enfermagem e permitir comparações de dados entre setores clínicos,
áreas geográficas ou em períodos de tempo distintos. O ICN (2010) considera a CIPE®
como um projeto a longo prazo, com a capacidade de descrever e organizar a
informação de enfermagem integrados em SIE, que permita a utilização desta
informação para a investigação e utilizar esta forma de comunicação dentro das equipas
de enfermagem.

No entanto os problemas que surgem com as passagens de informação são causados


por vezes pela falta de linhas orientadoras claras e concisas, pela forma como os
profissionais de saúde são educados, ou não (em treino de equipa e capacidades de

52
comunicação), pela falta de bons modelos de desempenho e por um sistema de saúde
que promove e recompensa a autonomia e desempenho individual (Tranquada, 2013).

São identificadas ainda outras falhas na comunicação, que se encontram relacionadas


com o processo de transição de cuidados, nomeadamente: omissões de informação,
erros nas informações, falta de precisão e a falta de priorização das atividades, bem
como a falta de uma metodologia de comunicação estandardizada (Stewart, 2016).

Como tal, urge encontrar-se estratégias de forma a contornar a problemática das falhas
de comunicação, passando em grande parte pela adoção de técnicas de comunicação.
A incidência de eventos adversos resultantes de uma comunicação ineficaz tem
consequências nefastas para a segurança do doente, pelo que têm vindo a ser
implementadas ferramentas de padronização de comunicação com vista à
uniformização da mesma.

Destas, a metodologia ISBAR é recomendada por diversas organizações pela sua fácil
memorização pelos profissionais e pela possibilidade de replicação em diferentes
contextos da prestação de cuidados, mas também, porque é uma estratégia de
compreensão de mensagens, recorrendo a uma metodologia padronizada, simples,
flexível, concisa e clara para comunicar informações desses cuidados (DGS, 2017).

A metodologia ISBAR apresenta cinco componentes-chave do processo de


comunicação na transição de cuidados e apresenta como vantagem o facto de servir
como apoio de memória que permite, através de formas simples, memorizar
construções complexas, para serem utilizadas na transmissão verbal (DGS, 2017). O
modelo explicativo da metodologia ISBAR, pode ser encontrado no quadro 1.

53
Quadro 1 – Técnica ISBAR

I
IDENTIFICAÇÃO a) Nome completo, data de nascimento, género e
nacionalidade do doente;
Identificação e localização precisa dos intervenientes na b) Nome e função do profissional de saúde emissor;
comunicação (emissor e recetor) bem como do doente a c) Nome e função do profissional de saúde recetor;
que diz respeito a comunicação d) Serviço de origem e destinatário;
e) Identificação da pessoa significativa/cuidador informal.

S
SITUAÇÃO ATUAL/CAUSA a) Data e hora de admissão;
b) Descrição do motivo atual da necessidade de cuidados
Descrição do motivo atual de necessidade de cuidados de saúde;
de saúde c) Meios complementares de diagnóstico e terapêutica
(MCDT) realizados ou a realizar.

B
ANTECEDENTES/ANAMENESE a) Antecedentes clínicos;
b) Níveis de dependência;
Descrição de factos clínicos; de enfermagem e outros c) Diretivas antecipadas de vontade;
relevantes, diretivas antecipadas de vontade d) Alergias conhecidas ou da sua ausência;
e) Hábitos relevantes;
f) Terapêutica de ambulatório e adesão à mesma;
g) Técnicas invasivas realizadas;
h) Presença ou risco de colonização/infeção associada
aos cuidados de saúde e medidas a implementar;
i) Identificação da situação social e da capacitação do
cuidador.

A
AVALIAÇÃO a) Problemas ativos;
b) Terapêutica medicamentosa e não medicamentosa
Informações sobre o estado do doente, terapêutica instituída;
medicamentosa e não medicamentosa instituída, c) Alterações do estado de saúde significativas e
estratégias de tratamento, alterações do estado de saúde avaliação da eficácia das medidas implementadas;
significativas e avaliação da eficácia das medidas d) Focos de atenção, diagnósticos e intervenções ativas.
implementadas.

R
RECOMENDAÇÕES a) Indicação do plano de continuidade de cuidados;
b) Informação sobre consultas e (MCDT) agendados);
Descrição de atitudes e plano terapêutico adequados à c) Identificação de necessidades do cuidador informal.
situação clínica do doente.

Fonte: DGS (2017, p.8)

54
De acordo com alguns estudos realizados, a implementação da metodologia ISBAR
permitiu melhorar a comunicação entre profissionais, promovendo um clima de
segurança e reduzindo os incidentes causado por erros e ou falhas de comunicação
(Randmaa et al., 2014).

De acordo com um estudo realizado por Randmaa et al. (2014), ficou demostrado que
o uso da metodologia ISBAR, diminui os eventos adversos relacionados com as falhas
de comunicação durante os momentos de transição de cuidados de 31% para 11%, e
que a ocorrência destes está associada à não compreensão, incorreta interpretação ou
omissão de informação (Stewart, 2016).

Esta metodologia de comunicação é uma ferramenta eficiente para colmatar os


diferentes estilos de comunicação e ajudar a colocar todos no mesmo plano de
informação, o que permite a diminuição de erros derivados do processo de comunicação
num momento crítico, como seja na transição dos cuidados de saúde (Tranquada,
2013).

4.1 - A COMUNICAÇÃO NA PASSAGEM DE TURNO – “HANDOVER” - FATOR


CRÍTICO PARA A SEGURANÇA DO DOENTE

A passagem de turno é uma atividade realizada pela equipa de enfermagem com a


finalidade de transmitir as informações de forma objetiva e clara em relação às
intercorrências durante um período de trabalho, envolvendo os cuidados prestados
direta e indiretamente ao doente (Almeida e Costa, 2017).

Tem como objetivo principal assegurar o fluxo de informação entre a equipa de


enfermagem nos diferentes turnos que se sucedem no período de vinte e quatro horas.
Pode ser considerada um elo no processo de trabalho de enfermagem com o turno
subsequente. É essa ligação que assegura a continuidade da prestação de cuidados.

Segundo Teodoro e Aquino (2010) a razão da existência da reunião da passagem de


turno está no facto de os cuidados de enfermagem serem contínuos nas vinte quatro
horas, interligando-se por turnos, com a mudança dos profissionais. É uma atividade
dinâmica e cabe ao enfermeiro coordenar e planear a mesma, pois é uma forma rápida
de transmitir, receber e delegar atribuições.

Camargo et al (2013) descrevem a passagem de turno como sendo um instrumento de


comunicação relevante que a enfermagem utiliza para a informação do estado de saúde

55
do doente, com o objetivo de planear os cuidados de enfermagem e estimular a reflexão
crítica sobre os mesmos cuidados.

Como instrumento de trabalho para a enfermagem a passagem de turno é influenciada


por fatores como tempo de duração, infraestrutura, organização do trabalho, ausências,
comportamento da equipa durante a passagem de turno. Outros problemas também
podem surgir, como o atraso de membros da equipa, conversas paralelas, “brincadeiras”
entre elementos da equipa, chamadas atendidas no telemóvel, campainhas, entrada e
saída de funcionários da sala de enfermagem, interrupções de outros funcionários,
presença de doentes e familiares, saídas apressadas de funcionários, falta de
pontualidade para o início da atividade. Todos estes pontos colocam em risco o êxito da
passagem de turno.

A passagem de turno deve ser considerada a primeira etapa do planeamento, pois


permite clarificar os cuidados a prestar e prescrever as intervenções de enfermagem a
executar. Deste modo o enfermeiro gere os cuidados de enfermagem e a sua
participação torna-se fundamental nesse momento.

Smeulers, Tellingen, Lucas et al. (2012) descrevem a existência de diferentes tipos de


passagem de turno, que decorrem em diversos momentos do dia, sendo: junto à cama
do doente (a passagem de turno localiza-se junto à cama do doente, promovendo a
participação do doente nos seus cuidados, encorajando-o através de uma conversa face
a face e colocando o doente como ponto central na troca de informação), verbal
(localizada em sala própria, o enfermeiro responsável por um grupo de doentes troca
informação relevante e documentada com os colegas), não verbal (localizada em sala
própria, os enfermeiros passam informação lendo o registo do doente, o que inclui notas
de evolução de enfermagem, medicação prescrita e plano de cuidados de enfermagem).

Quando se pensa em passagem de turno, imediatamente há uma referência à


organização do trabalho, pois é na passagem de turno que a enfermagem tem a
possibilidade de avaliar os cuidados prestados, definir prioridades e assegurar um fluxo
de informações que poderá orientar a organização do trabalho no decorrer do turno e
proporcionar cuidados seguros e contínuos.

É um mecanismo de transferência de informação, responsabilidade e autoridade que


deveria, idealmente, ser um momento de partilha de conhecimento ou de senso comum
entre os profissionais de saúde, contribuindo para uma continuidade dos cuidados de
uma forma informal, relacional e de gestão. Contudo, este conceito tem vindo a evoluir,
considerando-se também como a transferência de informação que acontece nos

56
cuidados contínuos ao doente nos momentos de transição e que inclui a oportunidade
de levantar questões, clarificar e confirmar (Manser, Foster, Gisin et al, 2010).

Esta transferência de informação ocorre, essencialmente, na troca de turno, cuja


frequência pode ser duas, três ou mais vezes durante o dia, nos sete dias da semana.
É um processo determinante do quotidiano profissional do enfermeiro, uma vez que
representa um tempo de simbolismo significativo, pela avaliação do trabalho realizado
num turno, pela organização do turno seguinte e pela discussão dos assuntos e dos
problemas surgidos (Ferreira, Luzio e Santos, 2010).

É também um momento de cumplicidade entre profissionais, no qual se reflete acerca


das práticas prestadas, gerando mudanças de comportamento e atitudes. Existe um
crescente reconhecimento que a falta de treino do trabalho em equipa, de uma eficaz
comunicação aliada com uma falta de um sistema formal de passagem de turno é
impeditiva de uma correta prática, necessária para manter elevados os requisitos no
cuidar em todas as áreas do sistema de saúde (Manser, Foster, Gisin et al, 2010).

Assim, existem diversas formas de conduzir uma passagem de turno diferindo em


termos de localização e de comunicação. A informação é habitualmente transmitida
oralmente, através de uma folha de registo da informação, contudo o momento da
passagem de turno pode também ocorrer junto à cama do doente, numa sala de
enfermagem ou ainda num ponto adequado ao efeito (O’Connell, Macdonal e Kelly,
2008). É essencial que sejam consideradas as diferentes funções da passagem de
turno, quando se procedem a alterações na prática, de forma a garantir que a melhoria
em determinado ponto, não irá deteriorar outro.

As passagens de turno são, frequentemente, conduzidas de uma forma rápida devido à


limitação de tempo que existe nos diferentes serviços, o que resulta num uso excessivo
de abreviações (Meibner, Hasseljorn, Estryn-Behar et al, 2007). Os enfermeiros
participantes no estudo de O’Connell, Macdonal e Kelly (2008), consideraram
importante a existência de uma linguagem comum no serviço, contudo reconhecem que
estes termos podem não ser familiares a profissionais que nunca tenham estado em
contacto com este serviço.

Segundo O’Connell, Macdonal e Kelly (2008), os enfermeiros têm preferência em


receber o turno por parte do enfermeiro responsável do doente, do que receber por parte
do enfermeiro coordenador de turno, valorizando também receber a informação
completa acerca de todos os doentes do serviço, sendo particularmente útil quando é

57
necessário assumir a responsabilidade pelos doentes na ausência momentânea dos
colegas.

A informação trocada durante a passagem de turno deve ser precisa de modo a coincidir
com as metas de segurança do doente. Estudos demonstram que a falta de tempo, as
interrupções e uma elevada carga de trabalho são barreiras na comunicação, originando
falta e/ou perda de informação acerca das condições do doente, podendo levar a
diagnósticos e procedimentos incorretos (Burley, 2011).

Apesar de todas as inovações em torno da passagem de turno, não existe um consenso


ou uma evidência empírica acerca da efetividade da passagem de turno. A investigação
realizada nesta área tem sido feita numa escala pequena, preocupada essencialmente
em como a passagem de turno é realizada (Meiber, Hasselhorn, Estryn-Behar et al,
2007). Contudo, a variação da perceção acerca da passagem de turno sugere que
diferentes grupos de enfermeiros possuem diferentes necessidades perante este
momento, pelo que a sua qualidade varia substancialmente nos diferentes serviços do
hospital (O’Connell, Macdonal e Kelly, 2008). É importante também referir que a
variabilidade dos procedimentos da passagem de turno pode também incrementar o
erro. É essencial que os procedimentos para uma efetiva passagem de turno sejam
desenvolvidos e que os enfermeiros sejam adequadamente treinados para os mesmos
(Riesenberg, Leitzsch e Cunningham, 2010).

Considerando estes resultados, a passagem de turno com um formato padronizado


aumenta a conformidade, e pode resultar numa melhor precisão. Contudo, nenhum
formato pode ser considerado universal, sendo necessária a sua adaptação para cada
área (Riesenberg, Leitzsch e Cunnigham, 2010). O processo da passagem de turno, de
forma a manter a sua eficiência, deve ter em conta determinados pressupostos, como
seja o local onde se realiza, informação a transmitir, comportamentos a evitar e a adotar
e o tempo, obedecendo ao modelo da figura seguinte (Figura 1).

58
Passagem de turno

Assegura a continuidade de cuidados, pela transmissão verbal de informação, num momento de análise das
práticas e de formação em serviço

LOCAL – UNIDADE DO DOENTE


Informação a transmitir

Abordagem estandardizada, Intervenientes Comportamentos

Incluir informações pertinentes a evitar

Excluir informações fúteis Enfermeiro Enfermeiro

Emissor Recetor Conversas paralelas

Tempo Telefonemas

Doente Solicitações médicas

O necessário para comunicar Entrada e saída de

as informações e permitir profissionais

espaço a esclarecimento Não pontualidade

de dúvidas

Figura 1 - Processo de mudança/passagem de turno em enfermagem

Fonte: (Cavaco e Pontífice-Sousa, 2014)

4.1.1 – Handover – Um momento de transição

À transferência de responsabilidade dos cuidados entre profissionais de saúde e à


transmissão de informação durante a passagem de turno, sobre alguns ou todos os
aspetos relacionados com o atendimento de um ou mais doentes para uma outra
pessoa, ou grupo profissional, de forma temporária ou permanente também podemos
dar o nome de “Handover” (Johnson,2013).

Trata-se de um momento de transição na prestação de cuidados ao doente em que a


transmissão de informação e a transferência de responsabilidades relativas ao mesmo,

59
passam de um profissional ou equipa de saúde para outros com vista a assegurar a
continuidade de cuidados. A palavra “Handover” encontra-se traduzida no dicionário
inglês-português como uma “transferência”.

As fragilidades no processo de comunicação entre os profissionais de saúde têm sido


associadas à diminuição da qualidade de cuidados sendo que um dos momentos
cruciais deste processo é o momento do handover (Brás e Ferreira, 2016).

Segundo a Joint Commission International Center for Patient Safety (2005), handover é
um processo de transmissão de informação entre os profissionais de saúde que tem
como objetivo a continuidade e segurança dos cuidados tratando-se de uma interação
importante que implica um processo de comunicação entre profissionais, assim como a
transferência de responsabilidade do cuidado e que acontece num sistema
organizacional e cultural complexo.

De acordo com Friesen, White e Byers (2008), a complexidade do tipo de informação a


ser transmitida, os meios de comunicação adotados e as características dos vários
profissionais têm impacto na efetividade e eficiência do handover e, consequentemente,
na segurança do doente. Os momentos de handover são frequentemente pouco formais
e a documentação disponível é raramente utilizada para auxiliar na transmissão de
informação verbal (Manser e Foster, 2011).

As transferências de cuidados destruturadas têm contribuído para erros, omissões,


atrasos de tratamento, ineficiências de trabalho, tratamento inadequado, eventos
adversos com danos menores ou maiores, aumento da duração de internamento ou
reinternamentos evitáveis e aumento de custos (Patterson e Wears, 2010). As falhas de
comunicação são dos incidentes mais citados na literatura, sendo responsáveis por
cerca de 60% a 70% dos eventos adversos que ocorrem durante o processo de
transferência (The Victorian Quality Council Safety and Quality in Health, 2010).

Este facto é corroborado pelo Plano Nacional para a Segurança do Doente 2015- 2020
identificando como causas mais comuns de incidentes associados à segurança os
defeitos na organização, na coordenação e na comunicação (Despacho do Diário da
República nº 1400-A/2015, p. 3882).

Sendo a comunicação essencial para assegurar a segurança do doente, em especial


quando existe transferência de responsabilidade da prestação de cuidados de saúde,
as instituições prestadoras de cuidados de saúde devem implementar procedimentos
normalizados para assegurar uma comunicação precisa e atempada de informações
entre os profissionais, evitando lacunas na comunicação que podem causar quebras
60
graves na continuidade de cuidados e no tratamento adequado, potenciando, assim, os
incidentes com dano para o doente (Despacho do Diário da República nº 1400-A/2015,
p. 3882).

Assim, a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou a World Alliance for Patient
Safety e várias organizações internacionais têm procurado desenvolver e monitorizar
iniciativas na área da segurança fornecendo informações, elaborando orientações e
construindo checklists que, posteriormente podem ser mobilizadas e adaptadas à
realidade dos contextos de cuidados de saúde. Isso permitirá, assim, garantir a
sistematização e a organização da informação transmitida, assegurando a continuidade
e a segurança dos cuidados (Santos e Ferrão, 2015).

Deste modo, existem várias abordagens para a padronização da comunicação nos


momentos de transferência como, por exemplo, a ISBAR, referenciada pela Direção
Geral da Saúde (2017), que consiste numa ferramenta de padronização de
comunicação em saúde e é reconhecida por promover a segurança do doente em
situações de transição de cuidados, já referida neste trabalho no ponto anterior.

Face ao apresentado anteriormente, parece-nos pertinente considerar que é


fundamental promover uma cultura de segurança do doente, no momento de transição
dos cuidados. Existem medidas que podem ser tomadas e que preconizam a segurança
do doente e da equipa. Estas medidas estão relacionadas com a introdução de
protocolos escritos que sirvam de guiões de consulta, a realização de “checklists”,
“briefings” iniciais, antes de começar qualquer caso, envolvendo todos os potenciais
intervenientes, é verdadeiramente crucial e deve ser prontamente adotada por todos
numa equipa (Fragata, 2006).

A abordagem padronizada do handover na comunicação ajuda a minimizar os riscos. A


padronização deste processo melhora as atividades diárias e respetivas rotinas,
uniformiza procedimentos e contribui para a melhoria da comunicação dos profissionais
de saúde e estratégias para melhorar o trabalho que contribuem para melhorar o
sistema.

61
62
CAPÍTULO II
ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

63
64
1 – METODOLOGIA

A investigação em Enfermagem contribui, em grande medida, para o fortalecimento da


profissão, uma vez que possibilita a construção de conhecimentos sólidos e fiáveis, bem
como instrumentos fundamentais para enfrentar novos desafios da atualidade.

Segundo Fortin (2009), a investigação é um campo que permite descrever, explicar e


predizer factos, fenómenos ou acontecimentos, sendo o método mais utilizado a
investigação científica, já que tem por base um processo sistemático, racional, rigoroso
e aceitável. O seu objetivo é encontrar as respostas para o problema que se pretende
investigar.

A passagem de turno é o momento onde se realiza a transmissão de informação, para


a transferência de cuidados, entre os elementos da equipa de enfermagem. Para
transmitir informação é impreterível comunicar. Comunicar é “uma atividade
multifacetada inerente ao Homem”, (Almeida, 2011). Comunicar e comunicação são
dois conceitos indissociáveis. Para nos fazermos compreender é importante saber o que
comunicar para que a comunicação tenha “um papel fundamental na performance dos
profissionais de saúde”, (Ricardo, 2012).

Na prática diária profissional, a comunicação efetuada pela equipa de enfermagem


durante a passagem de turno deve garantir a segurança e continuidade de cuidados.
Sendo os enfermeiros os profissionais que mais tempo passam próximo do doente,
acompanhando 24/24horas, estes tornam-se fundamentais na cadeia da prevenção de
acidentes, eventos adversos, sendo um elo fulcral para a qualidade e segurança dos
cuidados. Diariamente em cada passagem de turno de enfermagem nos serviços de
internamento (serviço de Neurologia do CHUC – serviço onde é realizado o estudo)
estão presentes entre quatro a dez enfermeiros, incluindo enfermeiros com funções de
gestão e de prestação direta de cuidados (Figura 2).

65
3 Enfermeiros
5 a 8 Enfermeiros
3 Enfermeiros

I-----------------------------------I-----I----------------------I-----I------------------------------I

22H30 8H00 8H30 14H30 15H00 23H00

Figura 2 – Distribuição do número de enfermeiros por turnos no serviço de Neurologia

do CHUC – HUC

No contexto profissional diário, a transmissão da informação referente aos doentes


internados é realizada pelos enfermeiros responsáveis por estes, uma vez que o método
de trabalho de prestação de cuidados, é o método de trabalho de Enfermeiro
Responsável.

O método de trabalho Enfermeiro Responsável, centra a sua atenção nas necessidades


dos doentes, valorizando a personalização e individualização dos cuidados, por meio da
distribuição de um número de doentes em função do grau de dependência para cada
enfermeiro, responsabilizando este, durante o turno, pela prestação de cuidados globais
aos doentes que lhe foram atribuídos (Costa, 1999).

Desta forma, a informação relativa aos doentes é transmitida pelo profissional que
esteve responsável pelos cuidados de enfermagem prestados durante o turno. Este
momento de transmissão da informação pela equipa de enfermagem, no momento da
passagem de turno, também pode ser chamado de “Handover”, no que concerne à
prestação de cuidados e respetiva responsabilidade. É de referir que no
desenvolvimento deste trabalho o termo utilizado é passagem de turno. O termo
“Handover” é utilizado apenas quando há referência ao instrumento de colheita de
dados.

Tendo em conta os aspetos referidos, e após a reflexão sobre as práticas vivenciadas


no dia-a-dia, pareceu-nos oportuno a realização de um estudo, no sentido de avaliar a
perceção dos enfermeiros acerca da passagem de turno no serviço de internamento,
em contexto hospitalar. E pelo facto de a nossa atividade profissional ser exercida no
serviço de Neurologia, optámos por efetuar o nosso estudo em enfermeiros do referido
serviço.

66
Assim, neste capítulo será apresentado o processo que serviu de base a esta
investigação, abordando o tipo de estudo a realizar, as questões de investigação, os
objetivos da investigação, as variáveis, população alvo/acessível, instrumentos para
colheita de dados, procedimentos formais e éticos e tratamento de dados.

1.1 – TIPO DE ESTUDO

O estudo desenvolvido é descritivo, correlacional, exploratório e de abordagem


quantitativa. Pretendemos estudar as caraterísticas de uma população, num
determinado momento, e conhecer a relação entre as variáveis. Pretendemos também
analisar factos e fenómenos observáveis, contribuindo, assim, para o desenvolvimento
do conhecimento. Fortin (2009), caracteriza o estudo quantitativo como um processo de
colheita de dados possíveis de serem quantificados e observáveis através de um
método sistemático.

Com o estudo descritivo pretendemos especificar as características do objeto do estudo


através da descrição e análise dos dados, permitindo assim a resolução do problema
(Reis, 2010). Deste modo, Fortin (2009, p.162) define que “ o objetivo do estudo
descritivo consiste em descriminar os fatores determinantes ou conceitos que, possam
estar associados ao fenómeno em estudo”.

1.2 – QUESTÕES E OBJETIVOS DE INVESTIGAÇÃO

Com a elaboração da questão de investigação, pretendemos definir de forma clara e


concisa o que se pretende estudar, a sua área de ação e as suas particularidades. A
questão de investigação deve ser mensurável e realista, assim como o tema deve ser
pertinente não havendo possibilidade de ambiguidades (Pocinho, 2012).

No sentido de conhecer, num determinado serviço de internamento, a perceção que os


enfermeiros têm sobre a temática da passagem de turno em contexto hospitalar definiu-
se uma questão global de partida:

- Qual a perceção dos enfermeiros do serviço de Neurologia do CHUC-HUC acerca


da passagem de turno?

67
De seguida traçamos questões específicas:

Q1 - Quais são os pontos fortes, e/ou limitações, que os enfermeiros consideram na


passagem de turno da manhã (8h00)?

Q2 - De que forma poderia ser melhorada a passagem de turno da manhã?

Q3 - Existem diferenças na forma de realizar a passagem de turno de manhã, à tarde


ou à noite?

Q4 - Quais os pontos fortes, limitações e medidas de melhoria na passagem de turno à


tarde e à noite?

Q5 - Qual é a passagem de turno mais efetiva?

Q6 - A perceção dos enfermeiros sobre a passagem de turno está relacionada com o


tempo de serviço?

Q7 - A perceção dos enfermeiros sobre a passagem de turno está relacionada com a


categoria profissional?

Assim, para dar resposta às questões de investigação formularam-se objetivos de modo


a “estabelecer factos e por em evidência relações entre variáveis” (Fortin, 2009, p.101).
Ainda segundo a mesma autora, com o objetivo de investigação, o investigador refere o
que vai estudar com o propósito de dar resposta às questões de investigação. O objetivo
deve estar formulado de modo a “indicar de forma clara e límpida qual é o fim que o
investigador persegue. Ele especifica as variáveis-chave, a população alvo, junto da
qual serão recolhidos os dados e o verbo de ação que serve para orientar a
investigação” (Fortin, 2009, p.100).

Deste modo, estabelecemos os seguintes objetivos para o presente estudo:

• Identificar a perceção dos enfermeiros sobre a passagem de turno, discutir as


metodologias usadas na passagem de turno e sua implicação para a segurança do
doente no serviço de Neurologia do CHUC-HUC.

• Identificar os pontos fortes e os pontos que necessitam de melhoria no que diz respeito
à passagem de turno.

Estes objetivos específicos do nosso estudo enquadram-se na perspetiva da segurança


do doente – Handover Evaluation, projeto coordenado pela Professora Doutora Manuela

68
Frederico e inscrito na Unidade de Investigação (UICISA:E), da Escola Superior de
Enfermagem de Coimbra.

1.3 - VARIÁVEIS EM ESTUDO

As características de uma população passam a ser designadas variáveis quando, num


estudo de investigação, pretendemos estudar de que forma um determinado
comportamento, objeto, pessoa, entre muitos outros conceitos influenciam um ambiente
ou processo (Pocinho, 2012).

De acordo com Fortin (2009), as variáveis são qualidades, propriedades ou


caraterísticas de objetos, de pessoas ou de situações que são estudadas numa
investigação. Uma variável pode tomar diferentes valores para exprimir graus,
quantidades ou até mesmo diferenças. A autora considera ainda que após a
identificação das variáveis importa clarificar a sua operacionalização, ou seja, esclarecer
e definir as variáveis em função da questão de investigação.

Sendo fundamental conhecer-se a realidade hospitalar acerca da passagem de turno,


realizada pelos enfermeiros, de forma a implementar intervenções de melhoria e
posteriormente monitorizar a sua evolução, esta surge como variável central para a
realização deste estudo, tendo sido operacionalizada através do Questionário -
“Handover Evaluation Scale” - HES-PTO.

O questionário HES foi desenvolvido pelos autores O’Connell et al. (2008), validado na
população australiana, e trata-se de um instrumento que permite avaliar o método e a
perceção dos profissionais de saúde relativamente ao “Handover” em organizações de
saúde. A tradução, adaptação cultural e linguística para Português e validação foi
realizada no âmbito do projeto coordenado pela Professora Doutora Manuela Frederico.
De entre várias definições sobre “Handover” (passagem de turno) segundo a Joint-
Commission, esta define “Handover” como um processo em tempo real de transmitir
informações especificas sobre um doente, de um cuidador para outro ou de uma equipa
de saúde para outra.

O presente questionário é constituído por 3 secções distintas, nomeadamente, a secção


A – “Dados Sócio-Profissionais” que contempla 7 itens (sexo, tempo de exercício
profissional, tempo no atual serviço, categoria profissional, vínculo laboral, regime de
horário profissional e tempo despendido por turno em registos de enfermagem), a
secção B – “Estrutura do handover de manhã” (transição do turno da noite para o turno

69
da manhã “08:00h”) que é constituída por 9 questões (tempo despendido na preparação
e duração do “handover”, método, local, elemento responsável por transmitir a
informação e a presença de outros grupos de profissionais) e a secção C – “Perceção
do handover” que é constituída por um conjunto de itens agrupados em 4 fatores ou
dimensões, tais como a qualidade de informação (6 itens), interação e suporte (5 itens),
eficiência (3 itens) e envolvimento do doente no processo (3 itens).

Os itens estão associados a uma escala de Likert de 1 a 7 pontos com respostas que
variam de discordo plenamente (1); discordo (2); discordo parcialmente (3); nem
concordo nem discordo (4); concordo parcialmente (5); concordo (6) e concordo
plenamente (7). Além disso, a parte final do questionário contempla 5 questões de
resposta aberta para identificar qual o “handover” mais efetivo, as diferenças existentes,
pontos fortes, limitações e estratégias de melhoria.

Segundo a literatura, o HES foi aplicado em três estudos desenvolvidos na Austrália,


isto é, o questionário foi aplicado pela primeira vez num hospital terciário metropolitano
na Austrália, abrangendo cerca de 176 enfermeiros (O’Connell et al., 2008), entretanto
em 2012 foi aplicado numa Unidade Neonatal de S. João de Deus na cidade de Subiaco,
do qual participaram 22 enfermeiros. Neste estudo foi possível verificar a validade de
conteúdo do HES através da análise exploratória e fatores confirmatórios que
evidenciaram uma excelente confiabilidade (Cronbach alfa > 0,7) para as subescalas de
qualidade da informação, interação e suporte, e uma aceitável correlação (Cronbach
alfa 0,67) entre os diversos itens da subescala de eficiência (Brown e Sims, 2014).

Em 2013 foi publicado o estudo mais recente, tendo sido desenvolvido numa Unidade
de Saúde em Melbourne (Victoria), com 299 enfermeiros em 24 serviços, com o intuito
de identificar os vários métodos de “handover” utilizados nos serviços e uma pré / pós-
avaliação de uma intervenção para melhorar as práticas de “handover” (O’Connell et al.,
2014).

De acordo com os autores, foi possível verificar que o HES é um instrumento válido,
confiável e útil para avaliar a qualidade da informação transmitida entre os enfermeiros
contribuindo para a criação de diretrizes eficazes na melhoria das políticas e processos
de “handover”.

70
1.4 - POPULAÇÃO ALVO/POPULAÇÃO ACESSÍVEL

A população é composta por um conjunto de elementos que apresentam caraterísticas


comuns, que atendem a um conjunto de critérios. A população alvo é aquela que vai ser
objeto de estudo e se define como um conjunto de elementos que cumprem os critérios
de seleção pré-definidos pelo investigador e para os quais irá generalizar os resultados
(Fortin, 2009).

A população acessível deve ser representativa da população alvo, é constituída pela


porção da população alvo que é acessível ao investigador. A população alvo raramente
é acessível na sua totalidade ao investigador (Fortin, 2009).

Apesar da passagem de turno ser realizada pelas equipas de enfermagem dos vários
serviços a nível hospitalar, o objetivo deste trabalho constitui somente a perceção dos
enfermeiros no serviço de Neurologia do CHUC-HUC. Uma vez que são a classe
profissional que, para além de terem uma prestação de cuidados diretos no doente 24
sob 24 horas, são um dos maiores grupos profissionais dentro das instituições
hospitalares. Estes detêm, também, devido às suas competências e funções, “um papel
preponderante através da passagem de turno, na prevenção do erro e
consequentemente na segurança do doente” (Fernandes e Queirós, 2011).

1.4.1 – Caracterização do serviço

O Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra - CHUC é constituído por seis polos:


HUC; CHC; Sobral Cid; Maternidade Daniel de Matos; Maternidade Bissaya Barreto;
Hospital Pediátrico. Para a realização do nosso estudo, este apenas incidiu no serviço
de Neurologia do CHUC-HUC.

O serviço de Neurologia localiza-se no piso 1 do Centro Hospitalar Universitário de


Coimbra, polo - HUC, estando funcionalmente subdividido em três serviços: Neurologia
A, B e C.

O serviço de Neurologia A é constituído por trinta camas, englobando no seu espaço


físico o Hospital de Dia. Os doentes internados no serviço são provenientes do serviço
de urgência, unidade de AVC, consultas externas e domicílio. Trata-se de um serviço
mais vocacionado para o estudo de patologias desmielinizantes.

A equipa de enfermagem é constituída por trinta e quatro enfermeiros, sendo que trinta
elementos estão alocados no internamento e quatro elementos destacados para o

71
Hospital Dia. Nesta equipa de enfermagem sete enfermeiros possuem a especialidade
de Enfermagem de Reabilitação, cinco elementos possuem a especialidade de
Enfermagem de Médico-Cirúrgica e um elemento possui a especialidade de
Enfermagem de Saúde Comunitária.

O serviço de Neurologia B é constituído por vinte e duas camas, identificadas da cama


número trinta e um à cama número cinquenta e dois, possuindo ainda a Unidade de
Monotorização de Epilepsia e Sono, composta por cinco camas. A equipa de
enfermagem é constituída por vinte e cinco enfermeiros, dos quais, um enfermeiro
chefe, um enfermeiro especialista em Enfermagem de Reabilitação, quatro enfermeiros
especialistas em Enfermagem Médico-Cirúrgica e dois enfermeiros especialistas em
Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria. No que se refere aos doentes recebidos no
serviço de Neurologia B, apresentam patologias neurológicas de índole variada, como
AVC, Miastenia Gravis, Síndrome de Guillain Barré, Demências, Alzheimer, Parkinson,
Epilepsia, entre outras. Os doentes internados provêm do serviço de urgência, unidade
de AVC, consulta externa e domicílio.

No que se refere ao serviço de Neurologia C, este serviço é constituído por vinte e três
camas e nele encontra-se integrada a Unidade de Acidentes Vasculares Cerebrais
(UAVC), constituída por oito camas, especializando-se na receção de doentes com AVC
provenientes do Serviço de Urgência através da Via Verde AVC. Os doentes deste
serviço, provém do serviço de urgência, unidade de AVC, consulta externa, e domicílio.
A equipa de enfermagem é composta por trinta e oito enfermeiros dos quais: oito
enfermeiros possuem a especialidade em Enfermagem de Reabilitação; um enfermeiro
especialista em Enfermagem de Médico-Cirúrgica, um enfermeiro especialista em
Enfermagem de Saúde Comunitária e um enfermeiro especialista em Enfermagem de
Saúde Mental e Psiquiatria.

No serviço de Neurologia do CHUC-HUC a passagem de turno é realizada numa sala


fechada, com todos os enfermeiros intervenientes no turno que termina, e no turno que
se vai iniciar e conta também com a presença dos enfermeiros chefes. Pretende-se que
este seja um espaço de concentração, sem interferências ou distrações que possam
potenciar o erro ou falha.

O regime de horário da equipa de enfermagem relativamente ao número de horas


semanais de trabalho é de trinta e cinco horas e ou quarenta horas semanais. A grande
maioria da equipa de enfermagem realiza o horário de roulement (M, T, N), outros
enfermeiros realizam horário fixo (apenas M). Também se preconiza turnos em outros
horários: 13h00-20h00; 12h00-18h00.

72
A nossa população alvo é constituída pelos enfermeiros pertencentes ao serviço de
Neurologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. Os critérios de inclusão
são:

- Ser enfermeiro do serviço de Neurologia do CHUC-HUC, na prestação direta de


cuidados;

- Aceder livremente a participar no estudo;

- A exercer funções no período de colheita de dados.

Com a criação de critérios de inclusão pretende-se “obter uma população alvo/acessível


o mais homogénea possível, determina-se com a ajuda de critérios as características
que se deseja encontrar nos seus elementos …” (Fortin, 2009).

Foram entregues 90 questionários (número de enfermeiros existentes na prestação de


cuidados aquando a realização do estudo), tendo somente sido recolhidos 61
questionários.

A nossa população alvo é constituída por noventa enfermeiros, no entanto não


responderam ao questionário vinte e nove enfermeiros, pelo que o estudo foi
desenvolvido pelos restantes sessenta e um enfermeiros. Destes noventa enfermeiros
vinte e nove não responderam ao questionário devido ao período de licença de férias,
licença de maternidade e outros por indisponibilidade.

1.5 - MÉTODO DE COLHEITA DE DADOS

O instrumento de colheita de dados tem que ser capaz de dar resposta aos objetivos, à
questão delineada no processo de investigação e ao mesmo tempo deve ser um método
que o investigador saiba utilizar.

De acordo com a natureza e os objetivos do estudo, e por ser a forma mais rápida,
acessível e económica de efetuar um levantamento de dados, optámos pela aplicação
do questionário – “Handover Evaluation Scale” - HES-PTO (anexo I). Este questionário
foi traduzido e validada para Português, pela Senhora Professora Doutora Manuela
Frederico, Professora Coordenadora da ESENFC.

O questionário foi validado e testado previamente, através da realização de um pré‐


teste, que segundo Fortin (2009), constitui uma tentativa de determinar se o instrumento
está enunciado de forma clara, livre das principais tendências e além disso, se solicita

73
o tipo de informação e na qualidade que se deseja. Este consiste na aplicação
antecipada do instrumento a um grupo que apresenta as mesmas caraterísticas da
população selecionada para o estudo. O preenchimento do questionário, teve uma
demora média de cerca de quinze minutos.

1.6 - PROCEDIMENTOS FORMAIS E ÉTICOS

Qualquer investigação efetuada junto de seres humanos levanta questões morais e


éticas. A escolha do tipo de investigação determina a natureza dos problemas que se
podem colocar. Os conceitos em estudo, o método de colheita de dados e a divulgação
de determinados resultados da investigação podem contribuir para o avanço dos
conhecimentos científicos, no entanto, podem violar os direitos fundamentais dos
indivíduos (Fortin, 2009). Ao efetuar este tipo de estudos, o investigador tem que
assegurar que os direitos das pessoas em causa estão salvaguardados, pois só assim
estas se sentirão capazes para participar no estudo. E só desta maneira podemos
assegurar que o conhecimento científico construído é um conhecimento válido.

O projeto em que enquadra o estudo, foi submetido à apreciação da Comissão de Ética


da UICISA:E da ESENFC, que deu a sua apreciação favorável (Parecer nº P334-3/2016)
(anexo II).

No sentido do seguimento institucional, e de forma a garantir o respeito pelos princípios


éticos e deontológicos, inerentes a este tipo de trabalho de investigação, foi realizado
formalmente um pedido de autorização ao Conselho de Administração do Centro
Hospitalar e Universitário de Coimbra para a realização da investigação, onde se
apresentou os objetivos do estudo, a população selecionada, o instrumento de colheita
de dados proposto, tendo-se obtido um parecer favorável para a realização do estudo
(anexo III) O estudo foi iniciado após o parecer positivo do Conselho de Administração
do CHUC. Assumimos o compromisso de divulgar os resultados do estudo junto da
instituição após o seu términus.

Para a aplicação do questionário, foi elaborado um consentimento informado, em folha


anexa ao questionário, informando os enfermeiros acerca dos objetivos do estudo,
assegurando o anonimato da informação colhida e reforçando que o seu preenchimento
devia ser efetuado de forma voluntária (anexo IV).

Os questionários foram entregues no serviço de Neurologia, A,B e C, com os respetivos


consentimentos informados. Foi entregue também uma caixa fechada, onde os

74
questionários preenchidos eram colocados, não permitindo assim que fossem
visualizados depois de preenchidos, de modo a garantir a confidencialidade dos dados.
O processo de colheita de dados decorreu durante os meses de Maio a Julho de 2018.

1.7 - TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS DADOS

Para sistematizar a informação obtida com a aplicação do questionário elaborado,


utilizámos técnicas da estatística descritiva e da estatística inferencial. O tratamento
estatístico foi efetuado, informaticamente, recorrendo ao programa de tratamento
estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), na versão 25.

As técnicas estatísticas aplicadas foram as frequências (absolutas e relativas), medida


de tendência central (média, mediana e média ordinal), medidas de dispersão ou
variabilidade (desvio padrão, valor mínimo e valor máximo), coeficiente Rho de
Spearman e respetivo teste de significância, teste Kruskal-Wallis e testes Kolmogorov-
Smirnov e Shapiro-Wilk (testes de normalidade).

Na escolha das técnicas estatísticas, nomeadamente dos testes, atendemos às


características das variáveis envolvidas e às indicações apresentadas por Maroco
(2007) e por Pestana e Gageiro (2014).

Para todos os testes foi fixado o valor 0.05 como limite de significância, ou seja, a
hipótese nula foi rejeitada quando a probabilidade do erro tipo I (probabilidade de
rejeição da hipótese nula quando ela é verdadeira) era inferior ao valor atrás
mencionado, ou seja, quando p < 0.05.

75
76
CAPÍTULO III
ESTUDO EMPÍRICO

77
78
1 – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

A análise dos dados e resultados que apresentamos no quadro 2 permite-nos constatar


que os 61 enfermeiros que constituem a população alvo/acessível em estudo são,
maioritariamente (82%) do sexo feminino.

Verificamos que 39.3% desempenham funções no serviço de Neurologia A, seguidos


de 37.7% que trabalham na Neurologia B e dos restantes 23.0% que pertencem à
Neurologia C.

O tempo de exercício profissional situa-se entre 1 e 33 anos, sendo o valor médio


15.20±6.89 anos. Contatamos que 36.1% dos enfermeiros referem tempos entre 10 e
15 anos, seguindo-se 21.3% que indicam valores entre 15 e 20 anos e 18.0% cujo tempo
de exercício profissional está compreendido entre 20 e 25 anos. Metade dos
profissionais mencionam tempos iguais ou superiores a 14.00 anos (valor mediano) e a
distribuição de frequências desta variável pode ser considerada como normal (p =
0.189).

Para o tempo de trabalho no atual serviço, observamos entre 0.08 anos (1 mês) e 27.00
anos, sendo a média 10.50±8.19 anos. Verifica-se que 32.8% dos profissionais
mencionam tempos inferiores a 5 anos, seguidos de 18.0% cujo tempo no atual serviço
se situa entre 5 e 10 anos ou entre 15 e 20 anos. Metade dos elementos da população
em estudo desempenham as suas funções no atual serviço há, pelo menos, 9.00 anos
e a distribuição de frequências deste tempo afastou-se significativamente de uma curva
normal ou gaussiana (p < 0.001).

Verificamos que a maioria dos profissionais se situa na categoria de Enfermeiro, 50.8%,


seguidos de 29.5% que são Enfermeiros Graduados. Os restantes 19.7% ocupam a
categoria profissional de Enfermeiro Especialista.

Relativamente ao vínculo profissional constatamos que 70.5% dos enfermeiros tem


contrato por tempo indeterminado, seguindo-se 24.6% que possuem contrato definitivo.

79
Cerca de três em cada quatro enfermeiros, 75.4% tem horário de 35 horas semanais,
sendo que 23.0% referirem ter horários semanais de 40 horas. O roulement é o tipo de
horário mais referenciado atingindo a percentagem de 82.0%.

Segundo os profissionais inquiridos, o tempo médio despendido em cada turno para


efetuar os registos de enfermagem situou-se entre 0.67 e 3.00 horas, tendo a média de
1.51±0.57 horas. Metade dos inquiridos referiu tempo dedicado aos registos iguais ou
superiores a 1.50 horas. A maioria dos profissionais, 53.3%, referiu tempos entre 1 e 2
horas. A distribuição de frequências desta variável afastou-se significativamente de uma
curva normal (p < 0.001).

Quadro 2
Caraterísticas sócio-profissionais da população alvo/acessível
Variável n %
Sexo
Feminino 50 82.0
Masculino 11 18.0
Serviço onde exerce funções
Neurologia A 24 39.3
Neurologia B 23 37.7
Neurologia C 14 23.0
Tempo de exercício profissional (anos)
<5 5 8.2
[5 – 10[ 5 8.2
[10 – 15[ 22 36.1
[15 – 20[ 13 21.3
[20 – 25[ 11 18.0
≥ 25 5 8.2
x̅ = 15.20 Md = 14.00 s = 6.89 xmin = 1 xmáx = 33 p = 0.189
Tempo no atual serviço (anos)
<5 20 32.8
[5 – 10[ 11 18.0
[10 – 15[ 8 13.1
[15 – 20[ 11 18.0
[20 – 25[ 8 13.1
≥ 25 3 4.9
x̅ = 10.50 Md = 9.00 s = 8.19 xmin = 0.80 xmáx = 27.00 p < 0.001
Categoria profissional
Enfermeiro Especialista 12 19.7
Enfermeiro Graduado 18 29.5
Enfermeiro 31 50.8
Vínculo profissional
Contrato a termo certo 3 4.9
Contrato definitivo 15 24.6
Contrato por tempo indeterminado 43 70.5
Tempo de trabalho semanal (horas)
25 1 1.6
35 46 75.4
40 14 23.0
Tipo de horário
Horário fixo 11 18.0
Roulement 50 82.0
Tempo médio despendido, por turno, em registos de
enfermagem (horas)
<1 7 11.7
[1 – 2[ 32 53.3
[2 – 3] 21 35.0
x̅ = 1.51 Md = 1.50 s = 0.57 xmin = 0.67 xmáx = 3.00 p < 0.001

80
No que concerne à estrutura do “handover” da manhã, os dados e resultados que
constituem o quadro 3, permitem verificar que todos os enfermeiros responderam às
questões colocadas sobre o “handover” 1 (informações transmitidas pelo enfermeiro
responsável pelo doente). Relativamente ao “handover” 2 (informações transmitidas
pelo enfermeiro responsável pelo doente e pelo enfermeiro responsável pelo turno), o
número de enfermeiros que responderam às questões referentes a esta situação é
relativamente reduzido, não ultrapassando os 16 casos, ou seja, apenas 26.2% dos
inquiridos responderam às questões relacionadas com o “handover” 2.

Quanto ao tempo despendido na preparação do “handover” da manhã, expresso em


horas, obtivemos respostas que variam entre 0.17 e 2.00 horas, estando a larga maioria
das respostas entre a 0.5 e 1.5 horas. O valor médio situa-se nas 0.86±0.38 horas,
sendo que 41.0% dos enfermeiros que responderam a esta questão referem tempos
entre 0.5 e 1.0 horas e em igual percentagem mencionam tempos que se situam entre
1.0 e 1.5 horas. Metade dos enfermeiros refere tempos de preparação do “handover” da
manhã iguais ou inferiores a 0.86 horas. A distribuição de frequências observada para
esta variável não pode ser considerada normal (p < 0.001).

Quanto ao tempo que demora o “handover” 1 da manhã, verificamos que os


respondentes indicam valores compreendidos entre 20 e 90 minutos, sendo a média
50.49±13.71 minutos e metade destes profissionais referem tempos iguais ou inferiores
a 50.00 minutos. Constatamos, ainda, que 50.8% mencionaram tempos entre 30 e 60
minutos, seguidos de 42.6% que indicaram que o “handover” 1 da manhã demorava
pelo menos 60 minutos. A distribuição de frequências destes tempos não pode ser
considerada como seguindo uma curva normal (p < 0.001). Nesta mesma questão, mas
para o “handover” 2, metade dos respondentes referem tempos entre 30 e 60 minutos,
seguidos de 25.0% que indicam valores inferiores a 30 minutos ou iguais ou superiores
a 60 minutos. As respostas obtidas indicam tempos entre 5 e 90 minutos, sendo a média
44.69±23.13 minutos. Metade dos 16 respondentes menciona tempos iguais ou
inferiores a 45.00 minutos sendo que a distribuição de frequências das respostas pode
ser considerada como tendo caraterísticas de uma curva normal (p = 0.225).

Em ambas as situações (“handover” 1 e 2), todos os enfermeiros, afirmam que a


passagem de turno da manhã é realizada de forma verbal. Em ambos os casos, esta
forma de realização da passagem de turno da manhã é a preferida pela grande maioria
dos respondentes, com percentagens de 91.8% no “handover” 1 e 87.5% no “handover”
2.

81
Nas duas situações a maioria dos respondentes, 96.7% e 87.5%, refere que a
informação é transmitida pelo enfermeiro responsável pelo doente, sendo este
profissional o preferido para transmitir essa informação pela totalidade dos
respondentes, no caso do “handover” 1, e pela maioria, 93.7% no caso do “handover”
2.

Quer no “handover” 1 quer no “handover” 2, a larga maioria dos respondentes, 96.7% e


93.7% respetivamente, afirmou que passagem de turno da manhã é realizada no
gabinete de enfermagem, sendo este o local onde, também a maioria dos respondentes
90.1% e 93.7%, gostaria que fosse realizada esta passagem de turno.

Em ambas as situações, quase todos os respondentes, 93.4% e 93.7%, afirmaram que


durante a passagem de turno da manhã não estão presentes quaisquer outros grupos
profissionais.

82
Quadro 3
Estrutura do handover de manhã
Variável n %
Tempo despendido na preparação do handover da
manhã (horas)
< 0.5 7 11.5
[0.5 – 1.0[ 25 41.0
[1.0 – 1.5[ 25 41.0
≥ 1.5 4 6.5
x̅ = 0.86 Md = 0.86 s = 0.38 xmin = 0.17 xmáx = 2.00 p < 0.001
Handover 1 Handover 2
n % N %
Tempo que demora o handover da manhã (minutos)
< 30 4 6.6 4 25.0
[30 – 60[ 31 50.8 8 50.0
≥ 60 26 42.6 4 25.0
Handover 1: x̅ = 50.49 Md = 50.00 s = 13.71 xmin = 20 xmáx = 90 p < 0.001
Handover 2: x̅ = 44.69 Md = 45.00 s = 23.13 xmin = 5 xmáx = 90 p = 0.225
Forma como é realizado o handover da manhã
Verbal 59 100.0 16 100.0
Escrito 0 0.0 0 0.0
Gravado 0 0.0 0 0.0
Outro 0 0.0 0 0.0
Forma como gostaria que fosse realizado o
handover da manhã
Verbal 56 91.8 14 87.5
Escrito 4 6.6 2 12.5
Gravado 1 1.6 0 0.0
Outro 0 0.0 0 0.0
Quem costuma transmitir a informação de manhã
Enfermeiro responsável pelo turno 2 3.3 2 12.5
Enfermeiro responsável pelo doente 59 96.7 14 87.5
Outro 0 0.0 0.0 0.0
Quem gostaria que transmitisse a informação de
manhã
Enfermeiro responsável pelo turno 0 0.0 1 6.3
Enfermeiro responsável pelo doente 61 100.0 15 93.7
Outro 0 0.0 0 0.0
Onde é realizado o handover da manhã
Sala própria 2 3.3 1 6.3
Gabinete de enfermagem 59 96.7 15 93.7
Junto do doente 0 0.0 0 0.0
Outro 0 0.0 0 0.0
Onde gostaria que fosse realizado o handover da
manhã
Sala própria 2 3.3 1 6.3
Gabinete de enfermagem 55 90.1 15 93.7
Junto do doente 4 6.6 0 0.0
Outro 0 0.0 0 0.0
Outros grupos que estejam presentes no handover
da manhã
Médicos 1 1.6 0 0.0
Nutricionistas/dietistas 0 0.0 0 0.0
Não estão presentes 57 93.4 15 93.7
Outro (estudantes de enfermagem e/ou
orientadores de estágio) 3 5.0 1 6.3

A análise dos dados que apresentamos no quadro 4 permite verificar que 39.3% dos
inquiridos concordam com a afirmação “Tenho a oportunidade de discutir situações
clínicas mais complexas/difíceis”, seguidos de 24.6% que concordam parcialmente e de
19.7% concordam plenamente. Perante a afirmação “Sou capaz de verificar/observar

83
como está o doente durante o handover”, 32.8% dos enfermeiros manifestam
concordância e 23.0% concordam parcialmente. No entanto, 24.6% discordam
plenamente com esta afirmação. A maioria dos enfermeiros concorda, 47.5%, ou
concorda parcialmente 31.1% com a afirmação “Tenho informação suficiente sobre o
doente”. Relativamente à afirmação “Tenho a oportunidade de reunir e falar/discutir com
os meus colegas quando tenho situações mais difíceis”, constatamos que 52.5% dos
inquiridos dizem concordar, seguindo-se 18.0% que concordam parcialmente e de
16.4% que concordam plenamente. 36.1% dos enfermeiros concordam com a afirmação
“Tenho a oportunidade de discutir assuntos relacionados com a carga de trabalho”,
23.0% concordam parcialmente e 19.7% não concordam nem discordam. Na afirmação
“Durante o handover recebo muitas vezes informação que não é relevante para os
cuidados ao doente”, 32.8% dos enfermeiros manifestam concordância, 29.5%
concordam parcialmente e 14.8% concordam plenamente. A maior parte dos
enfermeiros, concretamente 57.4%, concorda com afirmação “A forma como a
informação me é transmitida é fácil de apreender”, seguidos de 23.0% que concordam
parcialmente. Perante a afirmação “Sou muitas vezes interrompido durante o handover,
pelos doentes e seus familiares”, 29.5% dos profissionais manifestam concordância
parcial, 16.4% concordam, mas 26.2% manifestam discordância. 62.3% dos
enfermeiros concordam com a afirmação “Consigo clarificar a informação que me foi
transmitida”, seguidos de 26.2% que concordam parcialmente. Verificamos, também,
que 44.3% dos enfermeiros concordam com a afirmação “A informação sobre o doente
é transmitida no momento certo” seguidos de 31.1% que concordam parcialmente e de
21.3% que não concorda nem discorda. Perante a afirmação “Tenho a oportunidade de
colocar questões sobre a informação que não compreendi”, 59.0% dos inquiridos
manifestam concordância, 21.3% concordam plenamente e 18.0% concordam
parcialmente. 34.4% concordam plenamente com a afirmação “Considero que o
handover demora muito tempo”, seguindo-se 31.1% que concordam e 23.0%
concordam parcialmente. A maioria dos profissionais concorda com a afirmação “A
informação que recebo está atualizada”, seguindo-se 26.2% que concordam
parcialmente. Na sua maior proporção, 68.9%, os enfermeiros discordam plenamente
com a afirmação “Os doentes participam no processo de handover” e 18.0% discordam.
Perante a afirmação “Consigo memorizar a informação que foi transmitida” 36.1% dos
inquiridos manifestam concordância, seguidos de 27.9% que concordam parcialmente
e de 14.8% que discordam parcialmente. A maioria dos enfermeiros, 59.0% concorda
com a afirmação “Tenho conhecimento sobre os diferentes aspetos dos cuidados de
enfermagem” e 21.3% concordam parcialmente. Verificamos que respostas
semelhantes foram dadas perante a afirmação “Sinto que há informação importante que

84
nem sempre me é transmitida” com a qual 41.0% dos enfermeiros concordam e 32.8%
concordam parcialmente.

Quadro 4
Distribuição das respostas dos enfermeiros inquiridos quanto à perceção
do handover da manhã
Afirmação A B C D E F G
Tenho a oportunidade de discutir situações n 1 2 6 1 15 24 12
clínicas mais complexas/difíceis. % 1.6 3.3 9.8 1.6 24.6 39.3 19.7
Sou capaz de verificar/observar como está o n 15 4 3 4 14 20 1
doente durante o handover. % 24.6 6.6 4.9 6.6 23.0 32.8 1.6
n 0 0 6 4 19 29 3
Tenho informação suficiente sobre o doente.
% 0.0 0.0 9.8 6.6 31.1 47.5 4.9
Tenho a oportunidade de reunir e falar/discutir n 1 0 4 3 11 32 10
com os meus colegas quando tenho situações %
1.6 0.0 6.6 4.9 18.0 52.5 16.4
mais difíceis.
Tenho a oportunidade de discutir assuntos n 2 3 6 12 14 22 2
relacionados com a carga de trabalho. % 3.3 4.9 9.8 19.7 23.0 36.1 3.3
Durante o handover recebo muitas vezes n 0 6 6 2 18 20 9
informação que não é relevante para os %
0.0 9.8 9.8 3.3 29.5 32.8 14.8
cuidados ao doente.
A forma como a informação me é transmitida n 1 0 2 5 14 35 4
é fácil de apreender. % 1.6 0.0 3.3 8.2 23.0 57.4 6.6
Sou muitas vezes interrompido durante o n 3 16 7 4 18 10 3
handover, pelos doentes e seus familiares. % 4.9 26.2 11.5 6.6 29.5 16.4 4.9
Consigo clarificar a informação que me foi n 0 0 0 5 16 38 2
transmitida. % 0.0 0.0 0.0 8.2 26.2 62.3 3.3
A informação sobre o doente é transmitida no n 0 0 1 13 19 27 1
momento certo. % 0.0 0.0 1.6 21.3 31.1 44.3 1.6
Tenho a oportunidade de colocar questões n 0 0 0 1 11 36 13
sobre a informação que não compreendi. % 0.0 0.0 0.0 1.6 18.0 59.0 21.3
Considero que o handover demora muito n 0 0 1 6 14 19 21
tempo. % 0.0 0.0 1.6 9.8 23.0 31.1 34.4
n 0 0 0 4 16 38 3
A informação que recebo está atualizada.
% 0.0 0.0 0.0 6.6 26.2 62.3 4.9
Os doentes participam no processo de n 42 11 2 3 1 1 1
handover. % 68.9 18.0 3.3 4.9 1.6 1.6 1.6
Consigo memorizar a informação que foi n 2 1 9 7 17 22 3
transmitida. % 3.3 1.6 14.8 11.5 27.9 36.1 4.9
Tenho conhecimento sobre os diferentes n 0 0 1 5 13 36 6
aspetos dos cuidados de enfermagem. % 0.0 0.0 1.6 8.2 21.3 59.0 9.8
Sinto que há informação importante que nem n 1 2 2 3 20 25 9
sempre me é transmitida. % 1.6 3.3 3.3 4.9 32.8 41.0 13.1
Legenda: A – Discordo plenamente B – Discordo C – Discordo parcialmente
D – Nem concordo, nem discordo E – Concordo parcialmente F – Concordo
G – Concordo plenamente

Para avaliar a perceção dos enfermeiros acerca do handover da manhã, foi apresentado
um conjunto de 17 afirmações cuja resposta era dada em termos de
discordância/concordância numa escala tipo Likert de sete postos. Todas as respostas
foram pontuadas de 1 a 7 de modo a que pontuação mais elevada traduzisse uma
melhor perceção acerca do handover da manhã. Para tal, houve necessidade de inverter

85
a cotação das respostas em quatro das afirmações por terem sido apresentadas com
um conteúdo “negativo” face às restantes. Assim, foram invertidas as cotações nas
afirmações “Durante o handover recebo muitas vezes informação que não é relevante
para os cuidados ao doente”, “Sou muitas vezes interrompido durante o handover, pelos
doentes e seus familiares”, “Considero que o handover demora muito tempo” e “Sinto
que há informação importante que nem sempre me é transmitida”.

Analisando a informação contida no quadro 5, podemos verificar que na maioria das


afirmações os inquiridos manifestam uma perceção positiva, situando-se a média e a
mediana acima do valor central da escala de resposta, ou seja, acima de 4. Podemos
ainda salientar as afirmações em que os inquiridos manifestam melhor perceção sobre
o handover: “Tenho a oportunidade de colocar questões sobre a informação que não
compreendi”, “Tenho conhecimento sobre os diferentes aspetos dos cuidados de
enfermagem”, ”A informação que recebo está atualizada”, ”Tenho a oportunidade de
reunir e falar/discutir com os meus colegas quando tenho situações mais difíceis” e
“Consigo clarificar a informação que me foi transmitida” e também aquelas em que os
enfermeiros traduziram uma perceção mais baixa: “Os doentes participam no processo
de handover”, “Considero que o handover demora muito tempo”, “Sinto que há
informação importante que nem sempre me é transmitida”, “Durante o handover recebo
muitas vezes informação que não é relevante para os cuidados ao doente” e “Sou muitas
vezes interrompido durante o handover, pelos doentes e seus familiares”.

Através da soma das pontuações correspondentes às respostas dadas em cada uma


das afirmações podemos avaliar a perceção global acerca do “handover”, sendo o
resultado expresso numa escada de que poderia variar entre 17 e 119 pontos e que tem
como valor central 68 pontos. Os resultados que encontramos no final do quadro 5
permitem-nos afirmar que os enfermeiros apresentam resultados compreendidos entre
57 e 93 pontos, sendo o valor médio 76.79±8.69 pontos. Para metade dos enfermeiros
observaram-se pontuações iguais ou superiores a 78.00 pontos e a distribuição de
frequências afasta-se significativamente de uma curva normal (p = 0.019). Verificamos,
ainda, que a maioria dos enfermeiros, concretamente 82.0%, evidencia uma perceção
positiva acerca do “handover” ao apresentar pontuações compreendidas entre 69 e 94
pontos, ou seja, acima do valor central da escala.

86
Quadro 5
Perceção sobre o handover da manhã
Afirmação 𝐱̅ Md s xmin xmáx
Tenho a oportunidade de discutir situações clínicas mais
5.41 6.00 1.42 1 7
complexas/difíceis.
Sou capaz de verificar/observar como está o doente
4.02 5.00 2.07 1 7
durante o handover.
Tenho informação suficiente sobre o doente. 5.33 6.00 1.02 3 7
Tenho a oportunidade de reunir e falar/discutir com os
5.61 6.00 1.19 1 7
meus colegas quando tenho situações mais difíceis.
Tenho a oportunidade de discutir assuntos relacionados
4.75 5.00 1.42 1 7
com a carga de trabalho.
Durante o handover recebo muitas vezes informação que
2.90 3.00 1.50 1 6
não é relevante para os cuidados ao doente.
A forma como a informação me é transmitida é fácil de
5.49 6.00 1.04 1 7
apreender.
Sou muitas vezes interrompido durante o handover,
4.02 3.00 1.75 1 7
pelos doentes e seus familiares.
Consigo clarificar a informação que me foi transmitida. 5.61 6.00 0.69 4 7
A informação sobre o doente é transmitida no momento
5.25 5.00 0.86 3 7
certo.
Tenho a oportunidade de colocar questões sobre a
6.00 6.00 0.68 4 7
informação que não compreendi.
Considero que o handover demora muito tempo. 2.13 2.00 1.06 1 5
A informação que recebo está atualizada. 5.66 6.00 0.68 4 7
Os doentes participam no processo de handover. 1.64 1.00 1.28 1 7
Consigo memorizar a informação que foi transmitida. 4.87 5.00 1.40 1 7
Tenho conhecimento sobre os diferentes aspetos dos
5.67 6.00 0.83 3 7
cuidados de enfermagem.
Sinto que há informação importante que nem sempre me
2.61 2.00 1.24 1 7
é transmitida.
Perceção global do handover n %
17 – 42 0 0.0
43 – 68 11 18.0
69 – 94 50 82.0
95 – 119 0 0.0
x̅ = 76.79 Md = 78.00 s = 8.69 xmin = 57 xmáx = 93 p = 0.019

No quadro 6, apresentamos as afirmações sobre as quais alguns enfermeiros


consideram que a perceção sobre a passagem de turno da tarde e da noite é diferente
da perceção sobre a passagem de turno da manhã. Relativamente à passagem de turno
da tarde, 17 enfermeiros mencionam perceções diferentes nas afirmações, “Sou muitas
vezes interrompido durante o handover, pelos doentes e seus familiares” 70.6%,
“Considero que o handover demora muito tempo” 17.6%, “Tenho a oportunidade de
reunir e falar/discutir com os meus colegas quando tenho situações mais difíceis” e
“Sinto que há informação importante que nem sempre me é transmitida”, ambas com
5.9%. Comparativamente com a perceção revelada sobre o a passagem de turno da
manhã apenas nove enfermeiros mencionam afirmações em que a sua perceção é
diferente quando considerado a passagem de turno da noite, sendo estas afirmações
“Tenho a oportunidade de reunir e falar/discutir com os meus colegas quando tenho
situações mais difíceis”, 33.3%, “Sou muitas vezes interrompido durante o handover,

87
pelos doentes e seus familiares” 33.3%, “Considero que o handover demora muito
tempo” 22.2% e “Tenho a oportunidade de discutir situações clínicas mais
complexas/difíceis” 11.1%.

Quadro 6
Afirmações em que a perceção sobre o handover da tarde e da noite
é diferente da manhã
Afirmação n %
Handover da tarde
Tenho a oportunidade de reunir e falar/discutir com os meus colegas
1 5.9
quando tenho situações mais difíceis.
Sou muitas vezes interrompido durante o handover, pelos doentes e
12 70.6
seus familiares.
Considero que o handover demora muito tempo. 3 17.6
Sinto que há informação importante que nem sempre me é transmitida. 1 5.9
Handover da noite
Tenho a oportunidade de discutir situações clínicas mais
1 11.1
complexas/difíceis.
Tenho a oportunidade de reunir e falar/discutir com os meus colegas
3 33.3
quando tenho situações mais difíceis.
Sou muitas vezes interrompido durante o handover, pelos doentes e
3 33.3
seus familiares.
Considero que o handover demora muito tempo. 2 22.2

Quanto aos pontos fortes, limitações e formas de melhorar o “handover” da manhã, os


dados que apresentamos no quadro 7, permitem-nos afirmar que os pontos fortes
referidos com maior frequência são: “A informação que se transmite para a continuidade
dos cuidados” 40.0%, “Maior número de elementos da equipa presentes” 27.5% e
“Discussão e reflexão sobre situação clínica dos doentes” 17.5%. As limitações mais
mencionadas são: o “Tempo despendido no handover” 53.5%, a “Abordagem de
assuntos externos ao handover” 20.9%, a “Repetição de informação durante o
handover” 11.6% e o “Desgaste dos enfermeiros do turno da noite no momento do
handover” 7.0%.

Os enfermeiros indicam como principais formas de melhorar o handover da manhã a


“Sistematização da informação durante o handover com o apoio de uma folha de
passagem de turno” 37.5%, o “Evitar repetição de informação durante o handover”
25.0%, o “Evitar interrupções durante o handover” 12.5%, o “Rentabilizar o tempo do
handover” 10.0% e o “Basear o handover apenas nos diagnósticos de enfermagem”
7.5%.

88
Quadro 7
Pontos fortes, limitações e forma de melhorar o handover da manhã
Pontos fortes n %
A informação que se transmite para a continuidade dos cuidados 16 40.0
Maior número de elementos da equipa presentes 11 27.5
Discussão e reflexão sobre situação clínica dos doentes 7 17.5
Menos interrupções durante o handover por parte de outros grupos
2 5.0
profissionais
Discussão de casos 1 2.5
Discussão e planeamento dos cuidados 1 2.5
Mais rápido para serem menos profissionais 1 2.5
São apenas dois enfermeiros a transmitir a informação 1 2.5
Limitações n %
Tempo despendido no handover 23 53.5
Abordagem de assuntos externos ao handover 9 20.9
Repetição de informação durante o handover 5 11.6
Desgaste dos enfermeiros do turno da noite no momento do handover 3 7.0
Interrupções durante o handover 1 2.3
Não utilização da linguagem CIPE durante handover 1 2.3
Sala inapropriada, sem lugar para sentar 1 2.3
Forma de ser melhorado n %
Sistematização da informação durante o handover com o apoio de uma folha
15 37.5
de passagem de turno
Evitar repetição de informação durante o handover 10 25.0
Evitar interrupções durante o handover 5 12.5
Rentabilizar o tempo do handover 4 10.0
Basear o handover apenas nos diagnósticos de enfermagem 3 7.5
Criar momento de reflexão 1 2.5
O handover deveria ocorrer junto do doente 1 2.5
Sem sugestões de melhoria, uma vez que a forma como é realizada
1 2.5
atualmente parece-me eficaz

Quando questionados acerca de outras questões na passagem de turno da manhã que


não foram abordadas apenas cinco enfermeiros responderam, sendo que 60.0%
referem “Qual a informação mais pertinente a ser abordada no handover”, 20.0%
indicam a “Presença de outros profissionais durante o handover” e igual percentagem
referiu o “O encaminhamento dos doentes” (quadro 8).

Quadro 8
Outras questões na passagem de turno da manhã que não foram abordadas
Outras questões n %
Qual a informação mais pertinente a ser abordada no handover 3 60.0
Presença de outros profissionais durante o handover 1 20.0
O encaminhamento dos doentes 1 20.0

Quando questionados acerca da existência de diferenças na forma de realizar o


“handover” da manhã, da tarde e da noite, a maioria dos enfermeiros, concretamente
69.5%, responde negativamente, ou seja, afirmam que não existiam diferenças (quadro
9)

89
Quadro 9
Diferenças na forma de realizar o handover da manhã, da tarde e da noite
Diferenças na forma n %
Sim 18 30.5
Não 41 69.5

Os 18 enfermeiros que respondem afirmativamente na questão anterior deveriam ter


dado resposta às questões referentes ao “handover” da tarde e da noite. No entanto, os
dados que apresentamos no quadro 10, evidenciam que nem todos o fizeram. Tendo
por base as respostas obtidas podemos verificar que a maioria dos profissionais
considera que o “handover” do turno da tarde e do turno da noite demora entre 30 e 60
minutos, sendo as percentagens de 70.6% e 94.1%, respetivamente. Em ambas as
situações é referido que o “handover” demora entre 30 e 60 minutos, sendo o tempo
médio de 48.53±8.97 minutos, para o “handover” da tarde, e 37.65±8.86 minutos, para
o “handover” da noite. Metade dos respondentes afirma que o “handover” da tarde
demora, no máximo, 45.00 minutos e que o da noite tem uma duração máxima de 35.00
minutos. Em ambas as situações a distribuição de frequências das respostas afasta-se
significativamente de uma curva normal (p = 0.048 ; p = 0.002).

Todos os enfermeiros que responderam à questão sobre a forma como é realizado o


“handover” referirem que é utilizada a forma verbal, quer à tarde quer à noite e a maioria
afirma que esta é a forma que gostam e preferem, sendo as percentagens 88.2% e
86.7%, respetivamente.

Em ambos os momentos, a totalidade dos enfermeiros que respondeu, afirmou que a


informação é normalmente transmitida pelo enfermeiro responsável pelo doente, sendo
este profissional preferido também pela totalidade dos respondentes.

Quase todos os enfermeiros respondentes à questão sobre o local onde é realizado o


“handover” da tarde e da noite referem o gabinete de enfermagem, com percentagens
de 94.1% e 93.7%. Este é, também, o local preferido pela maioria dos respondentes,
82.4%, para realizar o “handover” da tarde, mas, à noite, 93.7% dos enfermeiros gostam
que o “handover” seja realizado junto do doente.

Quase todos os respondentes, 92.9% e 92.3%, afirmam que na passagem de turno da


tarde e da noite não estão presentes outros grupos profissionais.

90
Quadro 10
Estrutura do handover da tarde e da noite
Handover Tarde Noite
Variáveis n % n %
Tempo que demora o handover da tarde/noite
(minutos)
< 30 0 0.0 0 0.0
[30 – 60[ 12 70.6 16 94.1
≥ 60 5 29.4 1 5.9
Handover da tarde: x̅ = 48.53 Md = 45.00 s = 8.97 xmin = 30 xmáx = 60 p = 0.048
Handover da noite: x̅ = 37.65 Md = 35.00 s = 8.86 xmin = 30 xmáx = 60 p = 0.002
Forma como é realizado o handover da tarde/noite
Verbal 18 100.0 18 100.0
Escrito 0 0.0 0 0.0
Gravado 0 0.0 0 0.0
Outro 0 0.0 0 0.0
Forma como gostaria que fosse realizado o
handover da tarde/noite
Verbal 15 88.2 13 86.7
Escrito 1 5.9 1 6.7
Gravado 0 0.0 0 0.0
Outro (digital) 1 5.9 1 6.7
Quem costuma transmitir a informação de
tarde/noite
Enfermeiro responsável pelo turno 0 0.0 0 0.0
Enfermeiro responsável pelo doente 17 100.0 16 100.0
Outro 0 0.0 0 0.0
Quem gostaria que transmitisse a informação de
tarde/noite
Enfermeiro responsável pelo turno 0 0.0 0 0.0
Enfermeiro responsável pelo doente 17 100.0 16 100.0
Outro 0 0.0 0 0.0
Onde é realizado o handover da tarde/noite
Sala própria 1 5.9 1 6.3
Gabinete de enfermagem 16 94.1 15 93.7
Junto do doente 0 0.0 0 0.0
Outro 0 0.0 0 0.0
Onde gostaria que fosse realizado o handover da
tarde/noite
Sala própria 0 0.0 0 0.0
Gabinete de enfermagem 14 82.4 1 6.3
Junto do doente 3 17.6 15 93.7
Outro 0 0.0 0 0.0
Outros grupos que estejam presentes no handover
da tarde/noite
Médicos 0 0.0 0 0.0
Nutricionistas/dietistas 0 0.0 0 0.0
Não estão presentes 13 92.9 12 92.3
Outro (estudantes de enfermagem e/ou
orientadores de estágio) 1 7.1 1 7.7

Os dados que constituem o quadro 11, permitem-nos constatar que são poucos (no
máximo cinco) os enfermeiros que indicam pontos fortes, limitações e formas de ser
melhorado o “handover” da tarde e da noite.

Verificamos, que todos os enfermeiros respondentes, indicam como ponto forte do


“handover” da tarde a “Continuidade dos cuidados”. Quanto ao “handover” da noite,
60.0% dos cinco enfermeiros indicam o “Resumo do dia”.

91
Quanto às limitações do “handover” da tarde, 37.5% dos respondentes indicam a
“Interrupção do handover no gabinete de enfermagem por outros colegas, médicos,
visitas e ou familiares dos doentes” e igual percentagem refere “O momento do handover
coincide com a realização dos registos de enfermagem”. Para o “handover” da noite,
66.7% dos enfermeiros que respondem a este aspeto mencionam a “Interrupção do
handover no gabinete de enfermagem por outros colegas, médicos, visitas e ou
familiares dos doentes”.

Relativamente às formas de melhorar o “handover” da tarde, 50.0% dos quatro


enfermeiros referem “Não permitir interrupções durante o handover” e os outros dois
enfermeiros mencionam a “Objetividade no momento do handover através da utilização
do PCE informático durante o handover” e “Doentes próximos”. Um enfermeiro
considera que o “handover” da noite seria melhorado ao “Não permitir interrupções
durante o handover” e outro refere que poderiam resultar melhorias ao “Ser atribuído os
doentes que se acompanham com maior frequência”.

Quadro 11
Pontos fortes, limitações e forma de melhorar o handover da tarde e da noite
Handover Tarde Noite
Pontos fortes n % n %
Continuidade dos cuidados 2 100.0 1 20.0
Possibilidade de discutir dúvidas e complementar informação 0 0.0 1 20.0
Resumo do dia 0 0.0 3 60.0
Limitações n % n %
Interrupção do handover no gabinete de enfermagem por
3 37.5 2 66.7
outros colegas, médicos, visitas e ou familiares dos doentes
O momento do handover coincide com a realização dos
3 37.5 0 0.0
registos de enfermagem
Muito exaustivo 1 12.5 0 0.0
Ter conhecimento de um maior número de doentes 1 12.5 0 0.0
Necessidade do conhecimento de todos os doentes internados 0 0.0 1 33.3
Forma de ser melhorado n % n %
Não permitir interrupções durante o handover 2 50.0 1 50.0
Objetividade no momento do handover através da utilização do
1 25.0 0 0.0
PCE informático durante o handover
Doentes próximos 1 25.0 0 0.0
Ser atribuído os doentes que se acompanham com maior
0 0.0 1 50.0
frequência

Para a maioria dos enfermeiros, concretamente 67.8%, o handover mais efetivo é o da


manhã (quadro 12).

Quadro 12
Handover mais efetivo no serviço
Handover mais efetivo n %
Manhã 40 67.8
Tarde 10 16.9
Noite 9 15.3

92
Solicitámos aos enfermeiros, que colaboraram no estudo para apresentarem, se assim
o entendessem, sugestões/observações sobre o “handover” ou sobre este estudo que
contribua para discutir as metodologias de “handovers” e suas implicações para a
segurança do doente. Como podemos verificar pelos dados apresentados no quadro
13, apenas nove enfermeiros apresentam sugestões/observações, sendo que 55.6%
referiram que “Seria importante sistematizar a informação a transmitir em cada handover
e fazê-lo de igual forma em todos os momentos”, 33.3% mencionam a necessidade da
“Existência de um documento (folha de passagem de turno) com informação pertinente
sobre os doentes internados, devidamente atualizada no turno”; “Realizar reflexões
sobre a prática da enfermagem na passagem de turno pelo menos uma vez semana e
num máximo de três vezes semana”; “A passagem de turno deve ser sempre realizada
em ambiente fechado e na presença apenas dos profissionais essenciais à mesma” e
11.1% consideram útil um “Sistema informático de registos de enfermagem, que permita
a visualização fácil e cronológica do utente (de forma esquemática), sem necessidade
de duplicação de registos ou de criação de outra aplicação e que saliente
alertas/procedimentos agendados”.

Quadro 13
Sugestão/observação sobre o handover ou sobre este estudo que contribua para
discutir as metodologias de “handovers” e suas implicações para a segurança do
doente
Sugestões/observações n %
Seria importante sistematizar a informação a transmitir em cada handover e
5 55.6
fazê-lo de igual forma em todos os momentos
Existência de um documento (folha de passagem de turno) com informação
pertinente sobre os doentes internados, devidamente atualizada no turno.
Realizar reflexões sobre a prática da enfermagem na passagem de turno pelo
3 33.3
menos 1 vez semana e num máximo de 3 vezes semana. A passagem de turno
deve ser sempre realizada em ambiente fechado e na presença apenas dos
profissionais essenciais à mesma
Sistema informático de registos de enfermagem, que permita a visualização
fácil e cronológica do utente (de forma esquemática), sem necessidade de
1 11.1
duplicação de registos ou de criação de outra aplicação e que saliente
alertas/procedimentos agendados

Os resultados do cálculo do coeficiente de correlação de Spearman e da aplicação do


respetivo teste de significância permitem obter os resultados que constituem o quadro
14. Com base nestes resultados podemos responder às questões «a perceção dos
enfermeiros sobre a passagem de turno está relacionada com o tempo de
exercício profissional?» e «a perceção dos enfermeiros sobre a passagem de
turno está relacionada com o tempo de exercício no serviço atual?». Como se
verifica, em ambas as situações foram encontradas correlações negativas. Estes
resultados sugerem que existe alguma tendência para que os enfermeiros que
desempenham funções e que trabalham no atual serviço há mais tempo evidenciem

93
uma perceção menos positiva acerca da passagem de turno. No entanto, nenhuma das
correlações é estatisticamente significativa (p > 0.05) pelo que a resposta às duas
questões é no sentido de que a perceção dos enfermeiros sobre a passagem de turno
não está relacionada com o tempo de exercício profissional ou com o tempo de exercício
no serviço atual.

Quadro 14
Relação da perceção sobre o handover e o tempo de exercício profissional
e de exercício no atual serviço
Perceção sobre o
Variáveis handover
n rs p
Tempo de exercício profissional 61 -0.14 0.293
Tempo de exercício no serviço atual 61 -0.20 0.118

Para obter a resposta para a questão «a perceção dos enfermeiros sobre a


passagem de turno é diferente conforme a categoria profissional?» aplicámos o
teste Kruskal-Wallis tendo obtido os resultados que apresentamos no quadro 15.

Verificamos que os Enfermeiros Graduados tendem a apresentar uma perceção menos


positiva acerca da passagem de turno, mas as diferenças não são estatisticamente
significativas (p = 0.395). Este facto leva-nos a concluir que as evidências estatísticas
vão no sentido de nos permitir afirmar que a perceção dos enfermeiros sobre a
passagem de turno não é diferente conforme a categoria profissional.

Quadro 15
Relação da perceção sobre o handover e a Categoria profissional
Perceção sobre o handover
Variáveis n 𝐱̅𝐨𝐫𝐝 𝐱̅ Md 2 p
Categoria profissional
Enfermeiro Especialista 12 34.38 78.83 77.50
1.856 0.395
Enfermeiro Graduado 18 26.36 75.00 75.50
Enfermeiro 31 32.39 77.03 79.00

94
2 – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Após a apresentação e análise dos dados, torna-se necessário a sua discussão de


modo a serem daí retiradas as conclusões, permitindo desta forma a compreensão dos
dados recolhidos no nosso estudo.

No presente estudo tivemos como principal objetivo, identificar a perceção dos


enfermeiros sobre a passagem de turno, discutir as metodologias usadas na passagem
de turno e sua implicação para a segurança do doente no serviço de Neurologia do
CHUC-HUC e identificar os pontos fortes e os pontos que necessitam de melhoria no
que diz respeito à passagem de turno.

No meio hospitalar, em que os doentes estão internados e monitorizados vinte e quatro


horas por dia, a efetiva articulação entre os profissionais de saúde está muito
dependente da comunicação. Segundo Santos et al (2010), os problemas de
comunicação entre os vários profissionais têm sido associados à diminuição da
qualidade de cuidados e a erros que poderiam ser evitados.

A nossa população em estudo é constituída por noventa enfermeiros, (100%), que


desempenham funções no serviço de Neurologia do CHUC-HUC, sendo que apenas
sessenta e um, (67.8%), responderam ao questionário.

Na primeira seção do nosso questionário, pretendia-se conhecer os dados Sócio-


Profissionais dos enfermeiros: Sexo; Tempo de exercício profissional, Tempo no atual
serviço, Categoria profissional, Vínculo Laboral, Regime de horário profissional, Tempo
que despende por turno em registos de enfermagem.

Dos 61 enfermeiros que responderam ao questionário, 50 enfermeiros (82.0%), são do


sexo feminino e 11 (18.0%) do sexo masculino, o que é expectável face à tradicional
predominância feminina na profissão, indo ao encontro dos vários estudos realizados
(AboulFotouh, Ismail, Ez Elarab, & Wassif, 2012; Fernandes & Queirós, 2011).

No que refere ao tempo de serviço, a maior percentagem de enfermeiros desenvolve a


sua atividade profissional entre 10 a 15 anos, com 36.1%, contrariando, assim, os

95
resultados de Sousa (2013), cuja maioria tem uma experiência profissional de 1 a 5
anos. No que diz respeito ao tempo no atual serviço, dos 61 enfermeiros que
responderam, 20 (32.8%) enfermeiros desenvolvem a sua atividade profissional no atual
serviço, com tempo inferior a 5 anos, estando de acordo com os resultados de Nie, et
al. (2013), em que a maioria apresenta entre 1 a 5 anos de atividade no atual serviço.

Relativamente à categoria profissional dos 61 enfermeiros participantes no estudo, 31


(50.8%) possuem a categoria de enfermeiro. Em relação ao vínculo profissional, 43
(70.5%) enfermeiros possuem contrato por tempo indeterminado.

Relativamente ao tipo de horário praticado, 46 (82.0%) dos enfermeiros realizam


roulement, o que é revelador de conhecimento sobre os vários momentos de passagem
de turno no serviço, sendo útil ao estudo e avaliação da CSD (Fernandes & Queirós,
2011).

Relativamente ao tempo médio despendido, por turno, em registos de enfermagem, 32


(53.3%) enfermeiros referem entre 1h a 2h para registos de enfermagem.

O presente questionário visa efetuar um estudo acerca da perceção que os enfermeiros


possuem acerca da passagem de turno de enfermagem, sendo essencialmente
composto por questões que visam a reflexão da prática realizada no serviço onde os
enfermeiros prestam cuidados.

Como sabemos, no meio hospitalar em que os doentes estão internados e


monitorizados vinte e quatro horas por dia, a efetiva articulação entre os profissionais
de saúde está muito dependente da comunicação. Segundo Santos, Grilo, Andrade et
al (2010), os problemas de comunicação entre os vários profissionais têm sido
associados à diminuição da qualidade de cuidados e por erros que poderiam ser
evitados. Num estudo, referido pelos mesmos autores, realizado em 28 hospitais
australianos, a comunicação é a principal causa de eventos adversos nos serviços e os
problemas de comunicação são responsáveis por duas vezes mais mortes do que a
ineficiência clínica. Segundo Santos, Grilo, Andrade et al (2010), as características dos
cuidadores, assim como a complexidade da informação e os meios de comunicação
adotados, têm impacto na efetividade e eficiência da passagem de turno e,
consequentemente, na segurança do doente.

Relativamente à Secção B: Estrutura do “Handover” de manhã, verificámos que no item


“Tempo despendido na preparação do Handover da manhã”, 25 (41.0%) dos
enfermeiros respondeu entre 0,5h a 1h00 e 25 (41.0%) respondeu entre 1h00 a 1h30m.
Estes dados estão de acordo com alguns estudos efetuados nomeadamente, Afonso
96
(2017), num estudo efetuado num hospital português, sobre a análise dos obstáculos
existentes na transferência de informação durante a passagem de turno, verificou que
o tempo médio de preparação da passagem de turno é de cerca de 50minutos. Outro
estudo efetuado num hospital em Florianópolis por Carlos (2014), conclui que o tempo
médio de preparação da passagem de turno com a realização dos registos de
enfermagem é de cerca de 1H30M.

Relativamente à informação que as equipas de enfermagem recebem durante a


passagem de turno da manhã, foram apresentadas duas situações através do
questionário:

“Handover” 1 e “Handover” 2 – Na situação em que a equipa de enfermagem, recebe


regularmente informação de dois profissionais, respetivamente: Enfermeiro responsável
pelo turno e Enfermeiro responsável pelo doente.

“Handover” 1 – Na situação em que a equipa de enfermagem recebe regularmente


informação apenas por um elemento, Enfermeiro responsável pelo doente.

No que concerne à estrutura do “handover” da manhã, os dados e resultados permitem


verificar que todos os enfermeiros responderam às questões colocadas sobre o
“Handover” 1 (informações transmitidas por um único profissional). Relativamente ao
“Handover” 2 (informações prestadas por um segundo profissional), o número de
enfermeiros que responderam às questões referentes a esta situação foi relativamente
reduzido, não ultrapassando os 16 casos, ou seja, apenas 26.2% dos enfermeiros
responderam às questões relacionadas com o “Handover” 2. Estes dados vão de
encontro ao estudo efetuado por Sousa (2013), num hospital Português, sobre a
segurança do doente, onde conclui que a informação transmitida na passagem de turno
apenas pelo enfermeiro responsável pelo doente é uma garantia que toda a informação
relevante foi selecionada e comunicada, associada a um discurso claro e conciso,
adequado a uma comunicação assertiva, em que o enfermeiro demonstra confiança.
Outro estudo realizado por Afonso (2017), num Hospital Português, constatou que o
enfermeiro responsável pelo doente é o emissor da informação em 85% dos casos,
sendo a informação transmitida por Outro em 15% das vezes.

Relativamente ao item “Tempo que demora o handover da manhã”, podemos constatar


relativamente ao “Handover” 1 que a maioria dos enfermeiros, 50.8%, situou entre os
30 a 60 minutos, seguido de 42.6% com uma demora de mais de 60 minutos, tendo se
verificado o mesmo valor para “Handover” 2. Estes valores vão de encontro a um estudo
efetuado por Sousa (2013), num hospital central em Lisboa, que constatou que, no que

97
respeita à duração da passagem de turno, 56.5% dos enfermeiros referiram que a
passagem de turno no seu serviço tem a duração de 30 a 45 minutos. Outro estudo
efetuado por Tranquada (2013), também num hospital central em Lisboa, referiu que a
duração média das passagens de turno é de 44 minutos, variando entre 28 e 63 minutos.

No item, “Forma como é realizado o handover da manhã”, 61 dos enfermeiros (100%)


responderam de forma verbal. Alguns estudos, realizados noutras instituições,
contrariam estes dados. Segundo Afonso (2017), num estudo efetuado em Portugal,
constatou relativamente aos métodos utilizados pelos enfermeiros, para a transferência
de informação, durante a passagem de turno, que o método Verbal foi referido em 24,2%
das respostas (usado de forma isolada). O método Escrito (verbal + escrito) surge em
40,2% das respostas, constituindo o conjunto de métodos com maior percentagem de
referências. Também a utilização de uma folha pré-impressa (método verbal + escrito +
folha), em que o enfermeiro transmite ao colega a informação, fornecendo também um
suporte escrito previamente impresso, foi referido em 18,2% das respostas. Também
Tranquada (2013), num estudo efetuado num hospital central em Lisboa, constatou em
todas as observações realizadas no seu trabalho de campo com enfermeiros, durante a
passagem de turno, que era usual tanto o método verbal como o escrito para a
transmissão de informação. Este facto vai ao encontro da opinião dos autores que
consideram a utilização simultânea destes métodos como a mais frequente para a
realização da passagem de turno nas equipas de enfermagem (Cohen e Hilligoss,
2009). O uso destes métodos permite uma comunicação cara-a-cara e diminui o risco
de esquecimento da informação transmitida apenas verbalmente, sem apoio à escrita,
no entanto torna-se um processo mais longo (Bhabra, et al, 2007) ; (Riesenberg,
Leitzsch e Cunningham, 2010).

Relativamente ao item “Forma como gostaria que fosse realizado o handover da


manhã”, verificou-se que 91.8% dos enfermeiros prefere a forma verbal para o
“Handover” 1 e 87.5% forma verbal para o “Handover” 2, embora numa percentagem
residual os enfermeiros também fazem referência à forma escrita 6.6% - “Handover” 1
e 12.5% - “Handover” 2. Alguns autores defendem mesmo que a transmissão de
informação de forma presencial é a melhor forma de realizar uma passagem de turno
eficiente (The Joint Commission, Joint Commission International e World Health
Organization, 2007). O facto de ocorrer uma comunicação cara-a-cara vai permitir que,
para além da informação transmitida, seja possível avaliar a linguagem não-verbal,
como por exemplo um sobrolho franzido, o que permite um maior esclarecimento da
informação e melhor compreensão da mesma (Cohen e Hilligoss, 2009).

98
Relativamente à questão “Quem costuma transmitir a informação de manhã”,
verificamos que 96.7% dos enfermeiros referem ser o enfermeiro responsável pelo
doente no “Handover” 1 e 87.5% dos enfermeiros refere ser o enfermeiro responsável
pelo doente no “Handover” 2. Sendo o método de trabalho de Enfermeiro responsável
o preconizado no serviço de Neurologia, onde são distribuídos um determinado número
de doentes aos enfermeiros, escalados para o turno, caberá a esse enfermeiro a
responsabilidade da passagem de turno desses mesmo doentes. Estes dados estão de
acordo com Afonso (2017), que constatou no seu estudo que o enfermeiro responsável
pelo doente é o emissor da informação em 85% dos casos sendo a informação
transmitida por outro em 15% das vezes. O que vai ao encontro do item seguinte, “Quem
gostaria que transmitisse a informação de manhã”, onde se verificou que 100% dos
enfermeiros preferem que seja o enfermeiro responsável pelo doente a transmitir a
informação durante a passagem de turno.

No item “Onde é realizado o handover da manhã” verifica-se que 96.7% dos enfermeiros
refere o gabinete de enfermagem para o “Handover” 1 e 93.7% dos enfermeiros refere
gabinete de enfermagem para o “Handover” 2. Nos estudos encontrados,
nomeadamente Rodrigues, Azevedo e Calvo (2016), num estudo realizado em Portugal
com o objetivo de perceber como os enfermeiros gerem a transmissão de informação
na passagem de turno e identificar as estratégias de trabalho que estes aplicam para a
garantia da segurança na prestação de cuidados, estes concluíram que, no que diz
respeito ao local ideal para a realização da passagem de turno, os enfermeiros
consideram a sala de enfermagem como o lugar ideal para a sua realização, sendo que
uma percentagem mais baixa escolheram o método misto, isto é, junto da cama dos
doentes e na sala de enfermagem. Outro estudo realizado por Sousa (2013), em
Portugal, refere em relação ao local onde ocorre a passagem de turno, que os
enfermeiros optam por realizar a passagem de turno em sala própria para o efeito.

No item “Onde gostaria que fosse realizado o handover da manhã”, 90.1% dos
enfermeiros refere no gabinete de enfermagem para o “Handover” 1 e 93.7% dos
enfermeiros referem o mesmo para o “Handover” 2. A existência de um local próprio
para a realização da passagem de turno vai de encontro a alguns estudos, (Sousa,
2013), (Tranquada, 2013); (Afonso, 2017), no entanto, outros autores referem que a
utilização de espaços comuns, como a sala de enfermagem e os quartos dos doentes,
podem ser fator propício à ocorrência de interrupções (Cohen e Hilligoss, 2009).

No item “Outros grupos que estejam presentes no Handover da manhã”, 93.4% dos
enfermeiros referiram para o “Handover” 1 que outros grupos não estão presentes, e

99
93.7% dos enfermeiros referiram que outros grupos não estão presentes no “Handover”
2. Estes dados vão ao encontro de estudos analisados. Afonso (2017) e Tranquada
(2013), verificaram, que os enfermeiros participantes não fizeram referência a quaisquer
grupos profissionais presentes na passagem de turno.

Relativamente à nossa questão de investigação de partida: “Qual a perceção dos


enfermeiros do serviço de Neurologia do CHUC-HUC acerca da passagem de
turno?” esta foi avaliada através do questionário no item Seção C – Perceção do
“Handover”.

O âmbito da passagem de turno pode ter diferentes objetivos, que incluem a


transferência de informação sobre o doente, discussão de assuntos de interesse mútuo
entre a equipa de enfermagem, suporte e educação em enfermagem. Todas as
afirmações desta secção do presente questionário são alusivas à Meta 2 das “Metas
Nacionais para a Segurança do Paciente”, que refere que, no processo hospitalar uma
comunicação eficaz na passagem de turno, inclui uma comunicação interativa, que
permita a oportunidade de trocar questões entre o comunicador e o recetor da
informação do Paciente.

Na Secção C – Perceção do “Handover”, foram avaliadas determinadas afirmações.

Assim, podemos verificar que 39.3% dos enfermeiros concorda com a afirmação “Tenho
a oportunidade de discutir situações clínicas mais complexas/difíceis”, enquanto que
24.6% dos enfermeiros concorda parcialmente com a afirmação. Ao receber o turno, os
enfermeiros participantes consideram que, procuram obter respostas para as suas
dúvidas, colocando sempre questões passiveis de discussão e adequadas às
necessidades do doente de uma forma clara e percetível. Como refere Riley (2004),
perguntar é fundamental para a avaliação e desenvolvimento da relação de prestação
de cuidados de enfermagem, demonstrando interesse e competência. Quanto mais
eficaz a pergunta, mais tempo o enfermeiro poupa, mais pertinente é a informação que
recolhe e mais eficiente se torna a sua experiência. Muitos enfermeiros fazem por
responder de forma completa às questões dos colegas, mas nem todos expressam a
sua opinião acerca dos cuidados a prestar ao doente. Contudo, o comportamento
assertivo passa também por expressar a sua própria opinião, expondo o que se pensa
e o que se sente.

Numa outra afirmação, 32.8% dos enfermeiros concorda que “Sou capaz de verificar/
observar como está o doente durante o handover”, embora 24.6% dos enfermeiros
discorda plenamente desta afirmação. Segundo JCI (2009), o processo hospitalar para

100
uma comunicação eficaz inclui a oportunidade de o recetor da informação rever os
dados relevantes do doente, ou seja, que tome perceção durante a passagem de turno
da sua condição que pode incluir cuidados prévios.

Na afirmação seguinte que se refere, “Tenho informação suficiente sobre o doente”,


47.5% dos enfermeiros concorda com a afirmação, enquanto que 31.1% concorda
parcialmente. Na passagem de turno, a prestação de muitos enfermeiros passa por
repetir a informação importante ou complexa de modo a confirmar e a obter a informação
que necessitam. Existem, segundo Patterson e Wears (2010), algumas
responsabilidades que devem estar presentes no enfermeiro presente na passagem de
turno, tais como, ter conhecimento da história do doente, saber quais os dados
importantes para monitorizar mudanças, gerir o impacto dos acontecimentos passados,
antecipar futuros acontecimentos, planear as estratégias dos cuidados aos doentes e,
ainda, realizar as tarefas planeadas, desta forma toda a informação necessária é
transmitida.

Relativamente à afirmação “Tenho oportunidade de reunir e falar/discutir com os colegas


quando tenho situações mais difíceis”, 52.5% dos enfermeiros concorda com esta
afirmação, embora 18.0% dos enfermeiros concorde parcialmente e 16.4% concorde
plenamente. Também Sousa (2013), concluiu no seu estudo, realizado num hospital em
Lisboa, com o objetivo de avaliar a comunicação durante a passagem de turno, que
56.5% dos enfermeiros inquiridos estão completamente de acordo quando questionados
se a sua prestação passa por discutir os cuidados, expor dúvidas ou discutir decisões
complexas da equipa. Como refere Riley (2009), perguntar é fundamental para a
avaliação e desenvolvimento da relação de prestação de cuidados de enfermagem,
demonstrando interesse competência. Quanto mais eficaz a pergunta, mais tempo o
enfermeiro poupa, mais pertinente é a informação que recolhe e mais eficiente se torna
a sua experiência.

Relativamente ao item “Tenho a oportunidade de discutir assuntos relacionados com a


carga de trabalho”, 36.1% dos enfermeiros concorda com a afirmação, embora 23% dos
enfermeiros concorde parcialmente e 19.7% nem concorda nem discorda. Tal como
refere Sousa (2013), os enfermeiros fazem por discutir sobre o impacto dos
acontecimentos ocorridos no turno, não só relativos ao doente como aspetos
relacionados com a logística.

À afirmação, “Durante o handover recebo muitas vezes informação que não é relevante
para os cuidados ao doente”, 32.8% dos enfermeiros concorda que recebe muitas vezes
informação que que não é relevante para os cuidados ao doente, 29.5% dos enfermeiros

101
nem concorda nem discorda face à referida afirmação, enquanto que 14.8% concorda
plenamente. Tradicionalmente verifica-se que durante as passagens de turno, há um
maior enfoque por parte dos enfermeiros no relato relativamente ao que foi realizado
durante o turno, dando enfase à carga de trabalho realizada em detrimento do que se
planeia executar para dar continuidade aos cuidados de enfermagem (Rienseberg,
Leitzsch e Cunningham, 2010). Existem, segundo Patterson e Wars (2010), algumas
responsabilidades que devem estar presentes no enfermeiro durante a passagem de
turno, tais como: ter conhecimento da história do doente, saber quais os dados
importantes para monitorizar mudanças, gerir o impacto dos acontecimentos passados.
O facto de ser transmitida informação insignificante para os cuidados ao doente,
também implica um aumento desnecessário do tempo de passagem de turno e,
consequentemente, redução do tempo para a prestação de cuidados aos doentes
(Sexton et al, 2009).

Ao receber o turno, os enfermeiros consideram que procuram obter respostas para as


suas questões, colocando sempre questões adequadas às necessidades do doente, de
uma forma clara e percetível. A maioria concorda que tem oportunidade de discutir e
obter toda a informação relevante necessária para a prestação de cuidados. Como
refere Riley (2004), perguntar é fundamental para a avaliação e desenvolvimento da
relação de prestação de cuidados de enfermagem, demonstrando interesse e
competência. Quanto mais eficaz a pergunta, mais tempo o enfermeiro poupa, mais
pertinente é a informação que recolhe e mais eficiente se torna a sua experiência. Este
aspeto também está refletido no nosso estudo tendo em conta a firmação seguinte, “A
forma como a informação me é transmitida é fácil de apreender”, em que 57.4% dos
enfermeiros concorda com a afirmação e 23.0% apenas concorda parcialmente.

À afirmação seguinte, “Sou muitas vezes interrompido durante o handover, pelos


doentes e seus familiares”, 29.5% dos enfermeiros concorda parcialmente, ser muitas
vezes interrompido durante o handover pelos doentes e seus familiares, enquanto que
26.2% dos enfermeiros discorda desta afirmação e 16.4% concorda. Runny (2012)
considera que os problemas físicos no local, propícios a barulho e interrupções
constantes, são uma das principais barreiras da passagem de turno, sendo que a
permanente interrupção e os ruídos frequentes inviabilizam a clareza da informação que
está a ser transmitida. Outros estudos referidos por Santos, Grilo, Andrade et al (2010),
concluem que um terço das situações de comunicação é interrompido por familiares dos
doentes onde, na maioria, os profissionais demoram tempo a retomar o assunto no
ponto em que o tinha deixado, perdendo-se muitas vezes informação fulcral para a
continuidade dos cuidados.

102
Na afirmação, “Consigo clarificar a informação que me foi transmitida”, 62.3% dos
enfermeiros concorda com esta afirmação. No item seguinte, “A informação sobre o
doente é transmitida no momento certo”, 44.3% dos enfermeiros concorda com a
afirmação, 31.1% dos enfermeiros concorda parcialmente e 21.3% nem concorda nem
discorda. Os enfermeiros fazem por providenciar a informação histórica relevante dos
doentes aos colegas, de forma completa, às questões do enfermeiro durante a
passagem de turno, providenciando informação completa e adequada às necessidades
do doente. Segundo Patterson e Wears (2010), existem algumas responsabilidades que
devem estar presentes no enfermeiro presente na passagem de turno, tais como, ter
conhecimento da história do doente, saber quais os dados importantes para monitorizar
mudanças, gerir o impacto dos acontecimentos passados, antecipar futuros
acontecimentos, planear as estratégias dos cuidados aos doentes e, ainda, realizar as
tarefas planeadas, sendo esta informação fulcral para a continuidade dos cuidados.

Também no nosso estudo, relativamente à afirmação seguinte, “A informação sobre o


doente é transmitida no momento certo”, 44.3% dos enfermeiros concorda com a
afirmação, seguido de 31.1% concorda parcialmente. Em contexto hospitalar, para uma
comunicação eficaz e eficiente, é necessário que a informação seja transmitida em
tempo útil e de forma clara, pois só assim se pode dar continuidade aos cuidados de
forma segura (Patterson e Wears, 2010).

Já na afirmação seguinte, “Tenho oportunidade de colocar questões sobre a informação


que não compreendi”, 59% dos enfermeiros concorda com a afirmação, seguidos de
21.3% dos enfermeiros que concorda plenamente e 23% que concorda parcialmente. A
passagem de turno é um momento de interação regular entre os profissionais presentes
no turno, o que nem sempre é fácil de conjugar em diferentes alturas do dia. Este
momento contribui para uma comunicação consistente entre profissionais, no qual se
discutem prioridades, planos de cuidados, e se coloca questões de alguma informação
obtida, procurando sempre melhores resultados (Dingley, Daugherty, Derieg et al,
2008).

Tendo em conta a afirmação, “Considero que o Handover demora muito tempo”, 34.4%
dos enfermeiros concorda plenamente, enquanto que 31.1% dos enfermeiros concorda
com a afirmação e 23.0% concorda parcialmente. A duração da passagem de turno é
um desafio para os profissionais de saúde, pelo que uma longa passagem de turno pode
levar a que os profissionais trabalhem mais horas, ou pode originar uma perda de tempo
noutras áreas do cuidar. Contudo, passagens de turno mais apressadas podem resultar

103
em mal-entendidos, reduzindo as oportunidades para clarificar as informações,
ameaçando a qualidade do cuidar (Cohen e Hilligoss, 2009).

Relativamente à afirmação, “A informação que recebo está atualizada”, 62.3% dos


enfermeiros concorda com a afirmação. Afonso (2013), num estudo realizado em
Portugal num hospital Central em Lisboa, conclui que a maioria dos enfermeiros procura
obter toda a informação relevante necessária para a prestação de cuidados e que essa
informação é transmitida atempadamente e atualizada. Como refere Riley (2004),
quanto mais eficaz a informação transmitida, mais tempo o enfermeiro poupa, mais
pertinente é a informação que recolhe e mais eficiente se torna a sua experiência.

Face à afirmação, “Os doentes participam no processo de Handover”, 68.9% dos


enfermeiros discorda plenamente. No serviço de Neurologia, tal como os dados deste
trabalho demonstram, a passagem de turno é sempre realizada no gabinete de
enfermagem, sem a presença dos doentes internados, para que possa existir
privacidade e os dados pessoais e condição clínica dos doentes não seja exposta.
Afonso (2017), no seu estudo não encontrou nenhuma observação a realização da
passagem junto do doente, no entanto, no seu estudo, constatou que 87,9% dos
enfermeiros considerou a realização da passagem de turno junto dos doentes
importante, para poder avaliar os doentes e realizar uma observação direta do mesmo.

Sousa (2013), constatou no seu trabalho que 27,3% dos enfermeiros referiu que a
passagem de turno ocorre na sala de enfermagem, e em 28,0% na unidade do doente.
Outro aspeto essencial no momento da passagem de turno é a manutenção da
privacidade, uma vez que são referidas informações confidenciais referentes à situação
clínica do doente. O estudo efetuado por Riesenberg, Leitzsch e Cunningham, (2010),
relatam que em 100% das observações efetuadas no seu estudo foram detetados
fatores que podem colocar em risco a privacidade da passagem de turno, quer seja pela
porta da sala aberta (60%) quer seja pela proximidade de pessoas estranhas à equipa
quando a porta está aberta (40%).

Relativamente à afirmação seguinte, “Consigo memorizar a informação que foi


transmitida”, 36.1% dos enfermeiros concorda com a afirmação, 27.9%dos enfermeiros
concorda parcialmente. A passagem de turno, utilizando apenas o método verbal pode
ser considerada longa, com informação desnecessária e irrelevante, parcial, enigmática
e casual, em vez de informação coerente, confiável e precisa baseada no processo do
doente (Chaboyer, McMurray e Wallis, 2010).

104
Na afirmação “Tenho conhecimento sobre os diferentes aspetos dos cuidados de
enfermagem”, 59% dos enfermeiros concorda com a afirmação, enquanto que 21.3%
dos enfermeiros concorda parcialmente. A passagem de turno é um momento de
interação regular entre os profissionais presentes no turno, o que nem sempre é fácil de
conjugar em diferentes alturas do dia. Este momento contribui para uma comunicação
consistente entre profissionais, no qual se discutem prioridades e planos de cuidados,
procurando sempre melhores resultados (Dingley, Daugherty, Derieg et al, 2008).

No presente estudo, os enfermeiros consideram que conseguem reter a informação que


lhes é transmitida e, ao mesmo tempo, conseguem adquirir conhecimento sobre os
diferentes aspetos dos cuidados de enfermagem, embora também reconheçam que
existe informação importante que nem sempre é transmitida. Também Sousa (2013),
apurou que 53.2% dos enfermeiros inquiridos estão completamente de acordo quando
questionados se a sua prestação passa por garantir que entendeu todas as informações
fornecidas pelo colega, por forma a ter conhecimento sobre os diferentes aspetos dos
cuidados de enfermagem. O mesmo autor conclui também que, 53.2% dos enfermeiros
estão completamente de acordo quando questionados se a sua prestação na passagem
de turno passa por garantir que, entendeu todas as informações de forma correta, já
71% dos enfermeiros estão mais de acordo quando questionados se a sua prestação
passa por garantir que toda a informação relevante foi selecionada e comunicada.

Relativamente à informação transmitida, “Sinto que há informação importante que nem


sempre me é transmitida”, 41% dos enfermeiros concorda com esta afirmação enquanto
que 32.8% concorda parcialmente. Na passagem de turno, a prestação de muitos
enfermeiros passa por repetir a informação importante ou complexa de modo a
confirmar e a obter a informação que necessitam. Segundo JCI (2009), para que exista
uma comunicação eficaz, deve existir, a oportunidade de o recetor da informação rever
os dados relevantes do doente. É essencial que todos os profissionais assumam um
papel na equipa, com determinadas funções, e trabalhando em colaboração e
cooperação uns com os outros. Tal como referiam os estudos de Evanoff, Potter, Wolf
et al (2005), a elevada colaboração entre a equipa está associada a melhores resultados
nos doentes, uma vez que cada profissional traz nova informação e conhecimento à
equipa. Tranquada (2013) constatou, no seu estudo, que a transmissão de informação
irrelevante demonstrou uma correlação positiva, moderada e muito significativa com a
questão “sinto que há informação importante que não é transmitida”, o que permite
afirmar que quanto maior o nível de concordância dos sujeitos com a existência de
transmissão de informação irrisória, também mais se eleva o nível de concordância, de
que nem toda a informação importante é transmitida. O facto de ser transmitida

105
informação insignificante para os cuidados do doente também implica um aumento
desnecessário do tempo da passagem de turno e consequentemente redução do tempo
para prestar cuidados aos utentes (Sexton et al, 2004).

Relativamente ao ponto 34 da Secção C – “Perceção do Handover”, quadro 6 – Se em


alguns dos itens considerados no handover da manhã se é diferente do handover da
tarde ou do handover da noite há a considerar o seguinte:

Na passagem de turno da tarde verificou-se que 70.6% dos enfermeiros referiu, “Sou
muitas vezes interrompido durante o handover, pelos doentes e seus familiares”, uma
percentagem muito superior à passagem de turno da manhã, 29.5%. Esta situação
deve-se ao facto de a hora de passagem de turno (14H30-15H00) coincidir com a hora
da visita (14H30-20H00) e muitos vezes os familiares sentem a necessidade de obter
informações acerca dos doentes nestes momentos do dia. Por outro lado, 17.6% dos
enfermeiros referiu que “considero que o handover demora muito tempo”. Consideramos
este valor muito pouco significativo (n=3).

Na passagem de turno da noite, verificou-se um número pouco significativo de respostas


nomeadamente, “Tenho oportunidade de reunir e falar/discutir situações com os meus
colegas quando tenho situações mais difíceis” (n=3) e “Sou muitas vezes interrompido
durante o handover, pelos doentes e seus familiares” (n=3).

Foram formuladas para este estudo questões de investigação específicas:

Q1 - Quais são os pontos fortes e ou limitações, que os enfermeiros consideram


na passagem de turno da manhã (8h00)?

Relativamente aos pontos fortes no “handover” da manhã, os dados permitem-nos


afirmar que os pontos fortes referidos com maior frequência são: 40.0% dos enfermeiros
referem que consideram como ponto forte “A informação que se transmite para a
continuidade dos cuidados” e 27.5% dos enfermeiros referem, “Maior número de
elementos da equipa presentes, enquanto que 17.5% mencionou, “Discussão e reflexão
sobre situação clínica dos doentes”.

É de realçar que o caráter essencial da informação a ser transmitida aos colegas que
iniciam o turno seja clara, sem ambiguidades e sistematizada, de modo a evitar a
banalização desse momento, contribuindo para a continuidade dos cuidados e
segurança do doente (Nagpal, 2013).

106
Quando se encontra a passar o turno, a maioria dos enfermeiros explica a condição
atual do doente, com as alterações mais recentes e antecipando as possíveis alterações
da condição do doente. É através de um discurso claro e conciso, adequado a uma
comunicação assertiva, que o enfermeiro demonstra confiança. Os enfermeiros fazem
por providenciar a informação histórica relevante do doente, promovem a discussão e
reflexão de alguns casos (Riley, 2004).

Relativamente às limitações sentidas no “handover” da manhã, os dados permitem


afirmar que: 53.5% dos enfermeiros refere o “Tempo despendido no handover”, 20.9%
menciona “Abordagens de assuntos externos ao handover” e 11.6% dos enfermeiros
refere “Repetição de informação durante o handover”. Estes dados vão de encontro ao
estudo efetuado por Tranquada (2013), com enfermeiros num hospital central em
Lisboa, onde verificou nas observações que realizou, a presença maioritária de
repetição de informações (86,7%), transmissão de excesso de informação (93,3%) e
realização de juízos de valor (66,7), o que levou ao alargamento do tempo da passagem
de turno. O mesmo autor contatou no seu estudo que 81,8% considera que a duração
das passagens de turno é inadequada, o que nos remete para uma duração excessiva.
Esta é mesmo uma barreira já identificada para existência de uma passagem de turno
eficiente e para responder às necessidades dos utentes (Rienseberg, Leitzsch e
Cunningham, 2010).

Q2 - De que forma poderia ser melhorada a passagem de turno da manhã?

Relativamente a esta questão, 37.5% dos enfermeiros mencionou a “Sistematização da


informação durante o handover com o apoio de uma folha de passagem de turno”,
25.0% dos enfermeiros considerou “Evitar repetição de informação durante o handover”
e 10.0% dos inquiridos referiu “Evitar interrupções durante o handover”.

Estes aspetos vão de encontro a alguns estudos, nomeadamente Sousa (2013), num
estudo efetuado em Lisboa num Hospital central, onde foram sugeridas propostas de
melhoria para uma eficaz passagem de turno, sendo a sugestão de “Redução de
interrupções” a mais solicitada, seguido de “Passar informação importante dos doentes,
reduzindo assuntos não pertinentes” e “Evitar ruído ambiente/conversas paralelas”.
Tranquada (2013), em Portugal, verificou no seu estudo com enfermeiros algumas
estratégias de melhoria para a passagem de turno nomeadamente, ser utilizado o
método verbal e escrito para a transmissão de informação, recorrendo a equipa de
enfermagem a uma folha de passagem de turno pré-preenchida.

107
O uso destes métodos permite uma comunicação cara-a-cara e diminui o risco de
esquecimento da informação transmitida apenas verbalmente, sem apoio à escrita, no
entanto torna-se um processo mais moroso (Bhabra, et al, 2007) e (Riesenberg, Leitzsch
e Cunningham, 2010).

Relativamente a outras questões referentes à passagem de turno da manhã, que não


foram abordadas no questionário, apenas cinco enfermeiros (8.2%) responderam,
sendo que 60.0% destes referiram “Qual a informação mais pertinente a ser abordada
no handover” e 20.0% indicaram a “Presença de outros profissionais durante o
handover” e igual percentagem referiu “O encaminhamento dos doentes”.

Segundo alguns autores, nomeadamente Tranquada (2013), verificou no seu estudo


relativamente à informação mais pertinente a ser abordada na passagem de turno
verbalmente que, as categorias mais frequentemente referidas são: a identificação dos
doentes pelo nome próprio, a ocorrência de acontecimentos prévios, o plano de
tratamentos e a avaliação dos sinais. Por sua vez, a informação que é omissa mais
frequentemente são os antecedentes pessoais. Tradicionalmente, verifica-se também
que, durante as transições das equipas, há um maior enfoque relativamente ao que foi
realizado em detrimento do que se planeia executar (Rienseberg, Leitzsch e
Cunningham, 2010).

Ainda segundo o mesmo autor, e dando um exemplo do que por vezes se pode
considerar como um “dado omisso”, são as “alergias” que nem sempre são
referenciadas nas passagens de turno. A referência à existência de alergias é um aspeto
crítico, que pode colocar em causa a segurança do doente (O’Malley et al, 2007).
Segundo Tranquada (2013), as alergias são um dos itens que constam na folha de
passagem de turno pré-preenchida, no entanto o autor verificou que 18,2% dos
enfermeiros não lê a totalidade das informações presentes nessa folha, o que torna
muito importante que as alergias sejam referidas verbalmente.

Q3 - Existem diferenças na forma de realizar a passagem de turno, de manhã, à


tarde ou à noite?

Quando questionados acerca da existência de diferenças na forma de realizar o


“handover” da manhã, da tarde e da noite, a maioria dos enfermeiros, 69.5%, respondeu
negativamente, ou seja, afirmou que não havia diferenças entre os vários momentos de
passagem de turno. Estes dados vão de encontro ao estudo efetuado por O’Connell,
Macdonal e Kelly (2008), que refere a passagem de turno como um momento com
108
função de socialização, de organização, de educação e de esclarecimento pelo que é
primordial a preocupação constante com a qualidade e efetividade da mesma em todos
os momentos em que é realizada. Assim, pode-se concluir que a passagem de turno
possui várias funções, para além da função de comunicação expressa, que inclui a
informação sobre aspetos objetivos essenciais ao cuidado e ao ensino das práticas
médicas; a função de informação encoberta, que integra os elementos psicológicos e
sociais dos cuidados; a função de integração cultural, com o objetivo de construção da
identidade profissional. Pode-se constatar que possui também a função de suporte
emocional dos profissionais, elemento motivador e de coesão das equipas de saúde,
uma vez que a passagem de turno é uma excelente oportunidade para trocar
experiências, lidar com o stress ocupacional, sendo uma forma de socialização e
promoção da integração nas equipas de saúde (Santos, Grilo e Andrade, 2010).

Q4 - Quais os pontos fortes, limitações e medidas de melhoria na passagem de


turno à tarde e à noite?

Tendo em conta os 18 enfermeiros que responderam afirmativamente à questão referida


anteriormente, todos deveriam ter dado respostas referentes à passagem de turno da
tarde e da noite, no entanto, os dados evidenciam que nem todos o fizeram.
Relativamente à estrutura da passagem de turno da tarde e da noite, podemos
considerar muito idêntico à estrutura da passagem de turno da manhã. Relativamente
ao “Tempo que demora o handover da tarde/noite” podemos observar que 70.6% dos
enfermeiros responderam entre 30-60 minutos (tarde) e 94.1% mencionaram 30-60
minutos (noite). Relativamente à “Forma como é realizado o handover da tarde/noite”
obtivemos 100% de resposta, evidenciando a forma verbal. O item “Forma como
gostaria que fosse realizado o handover da tarde/noite”, 88.2% dos enfermeiros referiu
a forma verbal no turno da tarde e 86.7% dos enfermeiros referiram forma verbal para o
turno da noite. Relativamente a “Quem costuma transmitir a informação de tarde/noite”,
100% dos enfermeiros referiu o enfermeiro responsável pelo doente. Da mesma forma
à questão “Quem gostaria que transmitisse a informação de tarde/noite”, obtivemos
100% de respostas indicando o enfermeiro responsável pelo doente.

Relativamente à questão “Onde á realizado o handover da tarde/noite”, 94.1%


responderam gabinete de enfermagem, e 93.7% também referiram gabinete de
enfermagem. Relativamente à questão “Onde gostaria que fosse realizado o handover
da tarde/noite”, 82.4% referiu gabinete de enfermagem no turno da tarde e 93.7% referiu
que gostaria que a passagem de turno se realizasse junto do doente.

109
Relativamente à questão “Outros grupos que estejam presentes no handover da tarde
/noite”, 92.9% referem não estão presentes para o turno da tarde e 92.3% não estão
presentes para o turno da noite.

Relativamente aos pontos fortes da passagem de turno do turno da tarde/noite, o


número de respostas foram escassas, pelo que na tarde foi referenciado pelos
enfermeiros (n=2) a “Continuidade dos cuidados” e no turno da noite foi mencionado “O
resumo do dia”.

Quanto às limitações da passagem de turno no turno da tarde/noite, 37.5% dos


enfermeiros referem “Interrupção do handover no gabinete de enfermagem por outros
colegas, médicos, visitas e ou familiares dos doentes” e “O momento do handover
coincide com a realização dos registos de enfermagem”, este último referido apenas no
turno da tarde.

Em relação à forma como poderia ser melhorado a passagem de turno da tarde/noite


50.0% dos enfermeiros propuseram “Não permitir interrupções durante o handover”.

Q5 - Qual é a passagem de turno mais efetiva?

Relativamente à passagem de turno mais efetiva, 67.8% dos enfermeiros mencionou o


turno da manhã, 16.9% dos enfermeiros o turno da tarde e 15.3% o turno da noite.

É no turno da manhã que se encontra um maior número de elementos da equipa


multidisciplinar, ocorrendo em determinados dias da semana, a visita médica para
decisão terapêutica. É durante o turno da manhã que a maioria dos doentes, efetua
exames complementares de diagnóstico, existindo desta forma um aumento de
informação acerca dos doentes, pelos resultados que são encontrados e pelas decisões
terapêuticas.

Foi solicitado aos enfermeiros, através do questionário, para apresentarem, se assim o


entendessem, sugestões/observações sobre o “handover” ou sobre o próprio estudo,
que contribuíssem para discutir as metodologias da passagem de turno e suas
implicações para a segurança do doente. Como podemos verificar pelos dados
apresentados, apenas nove enfermeiros apresentam sugestões/observações, sendo
que 55.6% referem que «Seria importante sistematizar a informação a transmitir em
cada handover e fazê-lo de igual forma em todos os momentos», 33.3% mencionaram
a necessidade da: “Existência de um documento (folha de passagem de turno) com
informação pertinente sobre os doentes internados, devidamente atualizada no turno”;
110
“Realizar reflexões sobre a prática da enfermagem na passagem de turno pelo menos
uma vez semana e num máximo de 3 vezes semana”; ”A passagem de turno deve ser
sempre realizada em ambiente fechado e na presença apenas dos profissionais
essenciais à mesma”. Por outro lado, 11.1% dos enfermeiros consideram útil um
“Sistema informático de registos de enfermagem, que permita a visualização fácil e
cronológica do doente (de forma esquemática), sem necessidade de duplicação de
registos ou de criação de outra aplicação e que saliente alertas/procedimentos
agendados”.

Após a análise dos dados obtidos sobre a perceção dos enfermeiros durante a
passagem de turno consideramos pertinente verificar se existia relação entre a perceção
da passagem de turno com o tempo de serviço e com a categoria profissional.

Q6 -A perceção dos enfermeiros sobre a passagem de turno está relacionada com


o tempo de exercício profissional e tempo de exercício no serviço atual?

Para dar resposta a esta questão de investigação determinámos os resultados através


do coeficiente de correlação de Sperman e da aplicação do respetivo teste de
significância que permitiram obter resultados, e onde podemos constatar que em ambas
as situações foram encontradas correlações negativas (p>0.05). Assim, pode-se afirmar
que a perceção dos enfermeiros sobre a passagem de turno não está relacionada com
o tempo de serviço profissional ou com o tempo de serviço. Um dos aspetos fulcrais na
passagem de turno é a informação a transmitir, contrariando o estudo realizado por
Tranquada (2013), que conclui que os enfermeiros que apresentam maior dificuldade
na organização da informação durante a passagem de turno possuem menos tempo de
serviço, e que os enfermeiros com mais tempo de serviço, possivelmente mais
experientes, são os que sentem menos dificuldade na organização e sistematização da
informação a transmitir na passagem de turno.

Q7 - A perceção dos enfermeiros sobre a passagem de turno está relacionada com


a categoria profissional?

Para dar resposta a esta questão de investigação aplicámos o teste Kruskal-Wallis,


conclui-se que a perceção dos enfermeiros acerca da passagem de turno não apresenta
diferenças significativas em relação à categoria profissional. Estes dados vão de
encontro a um estudo realizado por Tranquada (2013), onde verificou que todos os

111
enfermeiros independentemente da sua categoria profissional (enfermeiro, enfermeiro
graduado, enfermeiro especialista), demonstraram um papel ativo na comunicação
durante a passagem de turno, com iniciativa e uma atitude positiva, numa busca de
informação pertinente para a melhoria dos cuidados a prestar.

112
CONCLUSÃO

Pela sua Natureza e características, o conhecimento científico é sempre um elemento


em permanente mudança, em busca quer de um novo aperfeiçoamento, quer de novos
conceitos dotados de maior rigor. É facto assente que a investigação em enfermagem
é cada vez mais necessária para adquirir conhecimentos, proporcionar novos horizontes
e criar alicerces para o seu estatuto no seio das ciências do homem.

A realização deste estudo pretendeu ser uma mais-valia para o serviço onde foi
realizado, através da avaliação da perceção que a equipa de enfermagem tem acerca
da passagem de turno, a identificação dos pontos fortes, das limitações e os aspetos
que necessitam a ser melhorados, em suma, esta investigação funcionou como um
diagnóstico das práticas existentes, referentes à passagem de turno de enfermagem.

Face à perceção dos enfermeiros acerca da passagem de turno e do que foi identificado,
pode-se afirmar que as práticas efetuadas pela equipa de enfermagem estão de acordo
com a bibliografia consultada, no sentido que promovem uma passagem de turno
eficiente e que devem ser divulgadas de forma a incentivar a sua manutenção. As boas
práticas realizadas prendem-se com a realização das passagens de turno com recurso
à comunicação verbal, ao facto de ser o enfermeiro responsável pelo doente a transmitir
a informação durante a mesma e a existência de um ambiente onde os enfermeiros se
sintam à vontade para realizar essa mesma passagem de turno.

De entre os fenómenos identificados, podemos observar que relativamente às


interrupções causadas pelos doentes e seus familiares, há informação importante que
nem sempre é transmitida e ao tempo despendido na passagem de turno, são áreas
que requerem a nossa atenção. Estes dois aspetos são identificados por alguns autores.
Uma das formas possíveis de minimizar este fenómeno passa pela consciencialização
de todos os elementos da equipa de saúde de que as interrupções conduzem a uma
ineficiente comunicação e consequentemente à ocorrência de eventos adversos. Por
outro lado, esta situação leva ao aumento do tempo da passagem de turno e à quebra
de raciocínio muitas vezes sobre os assuntos a abordar.

113
Podemos constatar que os enfermeiros participantes neste estudo, desenvolvem
diversas competências adequadas a uma comunicação eficaz, procurando a qualidade
da passagem de turno. Destas competências pode-se destacar a oportunidade da
equipa para discutir situações clínicas mais difíceis e a informação que se transmite
para a continuidade dos cuidados ser realizada de uma forma fácil de apreender e no
momento certo. As competências comunicacionais desenvolvidas pela equipa de
enfermagem promovem ambiente profissional entre a equipa de enfermagem, aumento
da produtividade, uma gestão eficaz do tempo e consequente melhoria da qualidade no
cuidar.

Uma passagem de turno efetiva passa por uma passagem de turno cara a cara sempre
que possível, garantindo que a comunicação acontece nos dois sentidos, permitindo o
tempo que for necessário, utilizando a forma verbal e escrita com oportunidade para
clarificar a informação transmitida e envolvendo toda a equipa no processo de
passagem de turno, o que na maioria das vezes acontece no serviço de Neurologia.

A melhoria da qualidade na passagem de turno é uma das lutas constantes de uma


gestão adequada, uma vez que pode sempre existir informação mal interpretada que
pode causar sérias lacunas na continuidade dos cuidados e risco potencial do paciente,
contudo, o conhecimento que o enfermeiro possui dos fatores humanos é um grande
benefício no modo de comunicação da passagem de turno, reduzindo os passos do
processo e consequentemente as oportunidades de errar.

Existem diversas ações que devem ser consideradas em prol da qualidade da


comunicação na passagem de turno, tal como garantir que as organizações de saúde
implementem uma abordagem padronizada da comunicação na passagem de turno.
Essa abordagem pode ser realizada através do uso da técnica ISBAR. Esta técnica
promove: a atribuição de tempo suficiente para comunicação de informações
importantes e para a equipa colocar e responder a questões sem interrupções, sempre
que possível; a transmissão de informação, tendo em conta o estado do doente, a sua
medicação, tratamentos, entre outros e limitando a informação apenas ao que é
realmente é necessário para prestação de cuidados seguros ao doente.

Como seguimento deste trabalho sugere-se a criação de um protocolo determinante


para a qualidade da passagem de turno, tendo por base as propostas mencionadas
pelos enfermeiros participantes neste estudo. Assim, é fundamental sistematizar a
informação a transmitir em cada passagem de turno, recorrendo ao uso de um
documento de apoio (folha de passagem de turno), com informação pertinente sobre os
doentes internados, devidamente atualizada no turno. Apesar das passagens de turno

114
implicarem contacto frequente, a existência de momentos de reflexão sobre a prática de
enfermagem são fundamentais para evitar lapsos através de transmissão formal de
informação a todos os membros da equipa, com troca de propostas mais refletidas para
a resolução de problemas, sendo também momentos de excelência para a promoção
do espírito de equipa.

A Gestão e a organização dos cuidados em Enfermagem, assume um papel fulcral na


qualidade, conferindo uma elevada segurança dos cuidados, aliando o seu
conhecimento de gestão com as suas competências de enfermagem. É importante que
o enfermeiro tenha também, como uma das suas principais preocupações a prevenção
e gestão dos riscos. É então necessário garantir ambientes e práticas seguras,
identificando riscos e lidando com situações imprevistas, gerindo-os e introduzindo
medidas corretivas, assim um enfermeiro competente determinará cuidados seguros.
Para que tal aconteça, e como é sugerido no nosso estudo, a passagem de turno deve
ser sempre realizada em ambiente fechado e na presença apenas dos profissionais
essenciais à mesma.

As consequências da realização deste estudo pretendem tocar em diversas áreas de


atuação de enfermagem, uma vez que aborda uma das suas principais componentes –
a qualidade. No que se refere à implicação para a prática, este estudo pretende reforçar
a importância da passagem de turno, alertando para os erros que dela poderão surgir.
A enfermagem é a classe profissional com o maior potencial para assegurar uma
assistência rentável na sua prática eficaz em função dos custos, uma vez que os
enfermeiros estão representados em todos os serviços, trabalhando próximos do
doente, podendo avaliar a assistência prestada.

A qualidade é uma das principais preocupações de uma gestão adequada, pelo que
este estudo assume uma base essencial de reflexão para mudanças e melhorias a
realizar perante as dificuldades existentes nas passagens de turno. Numa constante
procura da máxima segurança dos seus cuidados, o enfermeiro responsável pela gestão
deverá adequar as dotações às necessidades identificadas, promover, implementar e
monitorizar as boas práticas, identificar e divulgar as evidências da eficácia das ações,
promover e utilizar os resultados da investigação relevante, incentivar a produtividade,
identificar e monitorizar os riscos e, ainda, promover a satisfação dos seus
colaboradores e doentes. É importante que se aposte na formação dos profissionais, na
investigação, na comunicação, lutando sempre pela excelência da qualidade. Só desta
forma os serviços terão missão cumprida, com valores e princípios consistentes, através
de processos com resultados adequados.

115
116
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126
ANEXO I
Instrumento de Colheita de Dados

127
128
129
Secção B: Estrutura do “Handover” de manhã
Nesta secção, por favor responda às questões considerando como decorre, no serviço onde
trabalha atualmente, o “handover” de manhã (transição do turno da noite para o turno
da manhã “8:00 horas”).

8. Tempo despendido na preparação do handover da manhã:


horas ou minutos

Em alguns serviços/unidades, as equipas de enfermagem recebem regularmente informação


de dois profissionais (ex: enfermeiro responsável pelo turno e enfermeiro responsável pelo
doente). Se, por norma, recebe informação de apenas um enfermeiro, por favor deixe a
segunda coluna em branco.

Questões “Handover” 1 “Handover” 2


9. Normalmente, quanto tempo
demora o handover da manhã? ______ minutos ______ minutos
10. De que forma é realizado o Verbal Verbal
handover da manhã ? Escrito Escrito
Gravado Gravado
Outro (especifique) Outro (especifique)

11. De que forma gostaria que Verbal Verbal


fosse realizado o handover da Escrito Escrito
manhã? Gravado Gravado
Outro (especifique) Outro (especifique)

12. Quem costuma transmitir a Enfermeiro responsável Enfermeiro responsável


informação de manhã ? pelo turno pelo turno
(por favor selecione apenas Enfermeiro responsável Enfermeiro responsável
uma opção) pelo doente pelo doente
Outro (especifique) Outro (especifique)

13. Quem gostaria que Enfermeiro responsável Enfermeiro responsável


transmitisse a informação de pelo turno pelo turno
manhã ? Enfermeiro responsável Enfermeiro responsável
pelo doente pelo doente
Outro (especifique) Outro (especifique)

14. Onde é realizado o Sala própria Sala própria


handover da manhã Gabinete de enfermagem Gabinete de
Junto do doente enfermagem
Outro (especifique) Junto do doente

© Centre for Nursing Research – Deakin University & Monash Health Partnership
“Permissão a Manuela Frederico-Ferreira para tradução e validação da HES para utilizar em Portugal”

130
Outro (especifique)

15. Onde é que gostaria que Sala própria Sala própria


fosse realizado o handover da Gabinete de enfermagem Gabinete de
manhã ? Junto do doente enfermagem
Outro (especifique) Junto do doente
Outro (especifique)

16. Indique outros grupos que Médicos Médicos


estejam presentes no handover Nutricionistas/dietistas Nutricionistas/dietistas
da manhã Não estão presentes Não estão presentes
Outro (especifique) Outro (especifique)

Secção C: Perceção do “Handover”


O “handover” pode ter diferentes objetivos que incluem a transferência de informação sobre o
paciente, discussão entre a equipa de enfermagem, suporte e educação em enfermagem.
Tendo em conta o “handover” e considerando que está a iniciar o turno (turno “8-16h”), por
favor indique em que medida concorda ou discorda com as afirmações seguintes

Discordo Discord Discordo Nem Concordo Concordo Concordo


plenament o parcialmen concordo, parcialmente plenament
e te nem e
discordo
17. Tenho a oportunidade de
discutir situações clínicas mais
complexas/dificeis
18. Sou capaz de
verificar/observar como está o
doente durante o handover
19. Tenho informação suficiente
sobre o doente.
20. Tenho a oportunidade de
reunir e falar /discutir com os
meus colegas quando tenho
situações mais difíceis.
21. Tenho a oportunidade de
discutir assuntos relacionados
com a carga de trabalho.
22. Durante o handover recebo
muitas vezes informação que não
é relevante para os cuidados ao
doente.
23. A forma como a informação
me é transmitida é fácil de
apreender.
24. Sou muitas vezes
© Centre for Nursing Research – Deakin University & Monash Health Partnership
“Permissão a Manuela Frederico-Ferreira para tradução e validação da HES para utilizar em Portugal”

131
interrompido durante o
handover, pelos doentes e seus
familiares.
25. Consigo clarificar a
informação que me foi
transmitida.
26. A informação sobre o doente
é transmitida no momento certo.
27. Tenho a oportunidade de
colocar questões sobre a
informação que não compreendi.
28. Considero que o handover
demora muito tempo.
29. A informação que recebo
está atualizada.
30. Os doentes participam no
processo de handover
31. Consigo memorizar a
informação que foi transmitida.
32. Tenho conhecimento sobre
os diferentes aspetos dos
cuidados de enfermagem.
33. Sinto que há informação
importante que nem sempre me
é transmitida.

34. Se em alguns dos itens da questão anterior a sua concordância é diferente se considerar o
“handover” da tarde (16:00 h) ou o “handover” da noite (00:00 h), pf favor preencha
Discordo Discord Discordo Nem Concordo Concordo Concordo
plenament o parcialmen concordo, parcialmente plenament
e te nem e
discordo
Item nº ___
Tarde (16:00 h)
Noite (00:00 h)
Item nº ___
Tarde (16:00 h)
Noite (00:00 h)
Item nº ___
Tarde (16:00 h)
Noite (00:00 h)
Item nº ___
Tarde (16:00 h)
Noite (00:00 h)

35. Que pontos fortes considera no handover da manhã (08:00 horas)?

© Centre for Nursing Research – Deakin University & Monash Health Partnership
“Permissão a Manuela Frederico-Ferreira para tradução e validação da HES para utilizar em Portugal”

132
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________

36. Que limitações considera no handover da manhã (08:00 horas)?

_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________

37. De que forma poderia ser melhorado o handover da manhã (08:00 horas)?

_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________

38. Existem outras questões no handover da manhã (08:00 horas) que não foram abordados
neste estudo? Se sim, descreva-as.

_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________

39. Existem diferenças na forma de realizar o handover de manhã (08:00 horas), à tarde
(16:00 horas) e à noite (00:00 horas) no seu serviço?

Sim Não (Se respondeu não, por favor passe à questão 41).

Se respondeu sim, por favor responda às questões seguintes.

Questões a)Tarde (16:00 horas) b)Noite (00:00 horas)


39.1. Normalmente, quanto
tempo demora o handover da ______ minutos ______ minutos
manhã?
39.2. De que forma é realizado Verbal Verbal
o handover da manhã ? Escrito Escrito
Gravado Gravado
Outro (especifique) Outro (especifique)

© Centre for Nursing Research – Deakin University & Monash Health Partnership
“Permissão a Manuela Frederico-Ferreira para tradução e validação da HES para utilizar em Portugal”

133
39.3. De que forma gostaria Verbal Verbal
que fosse realizado o handover Escrito Escrito
da manhã? Gravado Gravado
Outro (especifique) Outro (especifique)

39.4. Quem costuma transmitir Enfermeiro responsável Enfermeiro responsável


a informação de manhã ? pelo turno pelo turno
(por favor selecione apenas Enfermeiro responsável Enfermeiro responsável
uma opção) pelo doente pelo doente
Outro (especifique) Outro (especifique)

39.5. Quem gostaria que Enfermeiro responsável Enfermeiro responsável


transmitisse a informação de pelo turno pelo turno
manhã ? Enfermeiro responsável Enfermeiro responsável
pelo doente pelo doente
Outro (especifique) Outro (especifique)

39.6. Onde é realizado o Sala própria Sala própria


handover da manhã Gabinete de enfermagem Gabinete de
Junto do doente enfermagem
Outro (especifique) Junto do doente
Outro (especifique)

39.7. Onde é que gostaria que Sala própria Sala própria


fosse realizado o handover da Gabinete de enfermagem Gabinete de
manhã ? Junto do doente enfermagem
Outro (especifique) Junto do doente
Outro (especifique)

39.8. Indique outros grupos que Médicos Médicos


estejam presentes no handover Nutricionistas/dietistas Nutricionistas/dietistas
da manhã Não estão presentes Não estão presentes
Outro (especifique) Outro (especifique)

40. Pontos fortes, limitações e medidas de melhoria

Handover da tarde (16:00h)? Handover da noite (00:00h)?


Que pontos fortes considera

© Centre for Nursing Research – Deakin University & Monash Health Partnership
“Permissão a Manuela Frederico-Ferreira para tradução e validação da HES para utilizar em Portugal”

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ANEXO II
Parecer Nº P334-3/2016 Comissão de ética
da UICISA:E da ESENFC

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ANEXO III
Autorização do Conselho de Administração do
CHUC para a realização do estudo

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ANEXO IV
Consentimento Informado

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CONSENTIMENTO INFORMADO

Título: Perceção dos Enfermeiros acerca da Passagem de Turno

Serviço: Serviço de Neurologia do CHUC

Investigador: Enfermeira - Margarida Madeira Frota Antunes

____________________________________________________________________________

Objetivo: Está a ser solicitada a sua participação neste estudo, porque é Enfermeiro e exerce
funções no serviço de Neurologia. O objetivo deste estudo é identificar a perceção e expetativas
dos enfermeiros sobre da passagem de turno.

Procedimento: O investigador entrega-lhe um questionário, onde são solicitadas algumas


informações gerais sobre si e sobre o tema em investigação.

Benefícios: Possíveis benefícios para si incluem o valor de refletir nas suas práticas diárias e
por conseguinte criar estratégias para modificar as práticas e melhorar o método de passagem
de turno.

Alternativas: A sua decisão de participar ou não, não o vai afetar individualmente.

Confidencialidade: A confidencialidade da sua participação neste estudo será mantida.

Disponibilidade para o esclarecimento de dúvidas: Qualquer dúvida ou questão que poderá


ter sobre este estudo pode ser colocada a Margarida Frota (Enf.ª) através do telemóvel
(914713715) ou através do serviço onde exerce funções (239400652) extensão (12102); Centro
Hospitalar e Universitário de Coimbra. Polo - Hospitais da Universidade de Coimbra, Serviço de
Neurologia B; Praceta Mota Pinto. 3000-075 Coimbra.

Custos: A sua participação no estudo não terá qualquer custo para si.

Assentimento (Concordância): A sua assinatura indicará que concordou em participar no


estudo, tendo lido e percebido a informação acima fornecida.

Assinatura do Participante Assinatura do Investigador

____________________ _______________________

*Data: ___/___/2018

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