Tradução Audiovisual - Apostila

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TRADUÇÃO AUDIOVISUAL (TAV)1

1. Introdução

1.1 Conceito de Tradução e de Tradução Audiovisual

Conforme o Dicionário de linguística (DUBOIS, et al, 2006), traduzir “é


enunciar numa outra língua (ou língua de chegada) o que foi enunciado numa língua-
fonte, conservando as equivalências semânticas e estilísticas” (p.594) No entanto, essa é
uma definição que ainda reflete em parte o senso comum, quando limita a tradução à
transposição de uma língua para outra. Na verdade, Jakobson (1967-2013) distingue três
espécies de tradução:

A tradução intralingual ou reformulação [rewording] consiste na interpretação


dos signos verbais por meio de outros signos da mesma língua.
A tradução interlingual ou tradução propriamente dita consiste na interpretação
dos signos verbais por meio de alguma outra língua.
A tradução intersemiótica ou transmutação consiste na interpretação dos signos
verbais por meio de sistemas de signos não verbais. (JAKOBSON, 1967-2013,
p. 81)

Com a chegada da era tecnológica, uma das áreas da tradução passa a ser
definida como Tradução Audiovisual (TAV). A conceituação de TAV passa pela
definição de meio audiovisual. Desta forma, como Franco e Araújo (2011, p. 3) colocam
com base em Diaz Cintas (2005): “o meio audiovisual inclui todos os espaços onde há
um sinal acústico e um sinal visual, independentemente de ser transmitido através de uma
tela (que pode ser ao vivo ou não) ou de um palco (sempre ao vivo).”

1.2 Tipos de Tradução Audiovisual

A definição de Tradução Audiovisual engloba formas tradutórias usadas em


mídias audiovisuais, como cinema, televisão e DVD. Podemos citar como exemplos a

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Janaína Vieira Taillade Abud é mestranda em Linguística Aplicada, pelo Programa de Pós-Graduação
em Linguística Aplicada (PosLA) da Universidade Estadual do Ceará (Uece).
dublagem, a legendagem para ouvintes e o voice-over, todas elas envolvendo línguas
distintas.
Prosseguindo no caminho adotado por Franco e Araújo (2011), considerar-se-à
como conceito de TAV, mais que meramente uma tradução interlingual, estendendo esse
conceito para traduções intersemióticas, como a audiodescrição (AD) e a Legendagem
para Surdos e Ensurdecidos (LSE). Segundo as autoras, os limites da TAV “tiveram que
ser revistos por causa do novo cenário que se impôs desde o começo do novo século, em
que leis de acessibilidade para o audiovisual forçaram a tecnologia a pensar em novos
recursos que tornassem a comunicação nesse meio acessível a pessoas com deficiência
auditiva e visual” (p. 4)

1.3 Estudos da Tradução

Holmes (1988, 2004) introduz o termo Estudos da Tradução (Translation


Studies), que foi incorporado por outros acadêmicos da área. Nesse mesmo trabalho,
Holmes define como os Estudos da Tradução se subdividem. Com base na sua
categorização, Toury (1995) sistematiza as ideias criando um mapa, mais conhecido
como Mapa de Holmes. (FARIAS JÚNIOR, 2016)

Figura 1 – Campo disciplinar dos Estudos da Tradução segundo o Mapa de


Holmes

Fonte: Toury (1995, p. 10) apud Farias Júnior, 2016, p.29.


Observa-se que várias pesquisas do Grupo de Pesquisa Tradução e Semiótica
na linha Legendagem e Audiodescrição (LEAD) da Universidade Estadual do Ceará
(Uece), envolvendo Tradução Audiovisual e Sistema de Avaliatividade (SA), se
enquadram nos Estudos Descritivos da tradução, orientados ao produto.

2. Tradução Audiovisual Acessível

Aderaldo (2014) especifica ainda mais o conceito de TAV, adotando, também


no Brasil, o termo Tradução Audiovisual Acessível (TAVa). Desta forma, a autora
engloba duas formas de TAVa – a Legendagem para Surdos e Ensurdecidos (LSE) e
Audiodescrição (AD), o que consideramos interessante por deixar claro a característica
fundamental dessas duas formas de TAV que é dar acessibilidade às PcDVs a um produto
artístico e educacional.

2.1 Legendagem para Surdos e Ensurdecidos (LSE)

A Legendagem para Surdos e Ensurdecidos (LSE) consiste “na passagem do


texto oral para o texto escrito na mesma língua, porém contendo informações
paralinguísticas - descrição de efeitos sonoros e identificações dos personagens - no
intuito de auxiliar o público surdo e ensurdecido a compreender o material audiovisual de
modo efetivo” (CHAVES, 2014).

A LSE é de natureza intralingual e intersemiótica, “tendo em vista consistir


na interpretação de códigos verbais orais por meio de códigos verbais escritos na mesma
língua.” (CHAVES, 2014)

2.2 Audiodescrição (AD)

Como pesquisadoras que se tornaram referência em pesquisas nesse campo,


Franco e Araújo (2011, p. 17) definem que:
A audiodescrição (audiodescription) é a tradução em palavras das impressões
visuais de um objeto, seja ele um filme, uma obra de arte, uma peça de teatro,
um espetáculo de dança ou um evento esportivo. O recurso tem o objetivo de
tornar esses produtos acessíveis a pessoas com deficiência visual. A AD pode
ser pré-gravada ou ao vivo. A AD pré-gravada é geralmente usada em filmes,
programas de TV e obras de arte, enquanto a AD ao vivo acontece em eventos
e no teatro. (FRANCO, ARAÚJO, 2011, p. 17)

A audiodescrição (AD) é um tipo de tradução em decorrência da classificação


de Jakobson (2010/1967), o qual divide a tradução em três espécies, entre as quais a
intersemiótica ou tradução de signos verbais para signos não verbais, concepção esta
alargada por Plaza (2013). Desta forma, a AD se enquadra como uma tradução
intersemiótica, pois acontece entre dois meios semióticos diferentes. Além disso, a AD é
uma modalidade de tradução que se inscreve nos estudos da Tradução Audiovisual
(TAV), porque pressupõe o trabalho tradutório em um meio acústico e visual.

3. Pesquisa em TAV e Linguística de Corpus

Para desenvolver pesquisas no campo da TAV, buscou-se um suporte teórico-


metodológico que sirva aos objetivos pretendidos. Vários estudos já desenvolvidos
apontaram como suporte adequado a Linguística de Corpus, especificamente pela
metodologia baseada em corpus (Corpus Based Research) que se caracteriza pelos
procedimentos de coleta, tratamento e análise do corpus. Como explica Tagnin, 2010
(apud CHAVES, 2012, p. 25):

Segundo o glossário de Linguística de Corpus [a metodologia baseada em


corpus] é utilizada para comprovar (ou não) uma hipótese ou para extrair
exemplos, diferentemente da pesquisa direcionada pelo corpus (Data Driven
Research) que consiste num estudo desenvolvido conforme dados
apresentados pelo corpus, sem pressuposições teóricas. (p. 25)

Segundo Silva (2012), desde os anos 50, as pesquisas linguísticas vêm


utilizando como suporte a Linguística de Corpus, inclusive nos estudos de tradução, e,
especificamente, nos estudos de Tradução Audiovisual (TAV).
Entre os pesquisadores em pesquisas de TAV que utilizam essa metodologia,
estão Payá (2010) Jiménez Hurtado (2007; 2010) e Salway (2007). Dentre as vantagens
dessa metodologia está a possibilidade de gerar dados empíricos e analisar grande
quantidade desses dados com precisão. Payá (2010) argumenta em favor da análise
baseada em corpus como base científica sólida na investigação de textos multimodais,
como é o caso de filmes audiodescritos.

REFERÊNCIAS:

ADERALDO, M. F. Proposta de parâmetros descritivos para audiodescrição de


pinturas artísticas: interface da Tradução audiovisual acessível e a semiótica social-
multimodalidade. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada _ Universidade Federal de
Minas Gerais _ UFMG), Belo Horizonte, 2014.

CHAVES, E. G. Legendagem para surdos e ensurdecidos: um estudo baseado em


corpus da segmentação nas legendas de filmes brasileiros em DVD. Dissertação
(Mestrado Acadêmico em Linguística Aplicada _ Universidade Estadual do Ceará -
Uece), Fortaleza, 2012.

CHAVES, E. G.; ALVES, S. F.; MASCARENHAS, R. O. Aula 1 - tradução


intersemiótica. Fortaleza, 2014. 23 slides.

DUBOIS, J., at al. Dicionário de Linguística. São Paulo: Cultrix, 2006.

DIAZ CINTAS, J. Audiovisual Translation Today. A question of accessibility for all.


Translating Today, v. 4, p. 3-5, 2005.

FARIAS JÚNIOR, L. R. O roteiro de AD em português do filme 'Ensaio sobre a


cegueira: um estudo descritivo sobre o estilo avaliativo do texto. Dissertação (Mestrado
Acadêmico em Linguística Aplicada _ Universidade Estadual do Ceará – Uece),
Fortaleza, 2016.

FRANCO, E. P. C.; ARAÚJO, V. L. S. Questões terminológico-conceituais no campo


da tradução audiovisual (TAV), Fortaleza, 2011.

HOLMES, J. The Name and the Nature of Translation Studies. Translated Papers on
Literary Translation and Translation Studies, Amsterdam: Rodopi, 1988. p. 67-80

JAKOBSON, R. Linguística e comunicação. São Paulo: Cultrix, 1967-2010.

JIMÉNEZ HURTADO, C.. Fundamentos teóricos del análisis de la AD. In: JIMÉNEZ
HURTADO, C.; RODRÍGUEZ, A.; SEIBEL, C. (Org.) Un corpus de cine: Teoría y
práctica de la audiodescripción. Granada: Tragacanto, 2010. p. 13-56.

PAYÁ, M. P. Recorte de cine audiodescrito: el lenguaje cinematográfico em Tagetti


Imagen y su reflejo en la audiodescripción. In: JIMÉNEZ HURTADO, C.;
RODRÍGUEZ, A.; SEIBEL, C. (Org.) Un corpus de cine: Teoría y práctica de la
audiodescripción. Granada: Tragacanto, 2010. p. 13-56.

PLAZA, J. Tradução intersemiótica. São Paulo: Perspectiva, 2013.

SALWAY, A. A corpus-based analysis of audio description. In: DIAZ CINTAS, J.;


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SILVA, O. M. M. da. A audiodescrição dos personagens de filmes: um estudo baseado


em corpus. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Linguística Aplicada – Universidade
Estadual do Ceará), Fortaleza, 2012.

TAGNIN, S. E. O. Corpora on-line. In: VIANA, V.; TAGNIN, S. E. O. (orgs.).


Corpora no ensino de línguas estrangeiras. São Paulo: Hub Editorial, p. 363-370,
2010. ISBN: 978-85-63623-66-9.

TOURY, G. The Nature and Roles of Norms in Translation. In: Descriptive Translation
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