Paul Freston IURD e Europa
Paul Freston IURD e Europa
Paul Freston IURD e Europa
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O
processo pelo qual a Igreja universal do reino de Deus (IURD) tem-
se expandido por várias dezenas de países, inclusive Portugal e
Inglaterra, é um capítulo importante de uma das principais
transformações religiosas do final do século XX : a transformação do
pentecostalismo em religião global e a mudança do centro, não só numérico
mas também do impulso expansionista internacional, para regiões distantes
dos centros históricos do protestantismo1.
10. Os países eram listados na seguinte ordem : Rússia, Jamaica, Angola, Guiné-Bissau, Costa
do Marfim, Quênia, Malawi, Moçambique, Nigéria, África do Sul, Tanzânia, Uganda,
Zâmbia, Zimbabwe, Cabo Verde, Índia, Israel, Japão, Filipinas, República dominicana,
El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Porto Rico, Inglaterra, França, Alemanha,
Holanda, Itália, Luxemburgo, Portugal, Espanha, Suiça, Canadá, México, EUA, Argentina,
Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Perú, Bélgica. Faltam países que constam de
listas publicadas na mídia, seja por erro jornalístico ou porque o trabalho lá não vingou,
ou mesmo (uma hipótese improvável) porque a Igreja esqueceu de incluí-los no documen-
tário : Uruguai, Venezuela, Panamá, Congo, Senegal, Botswana.
11. Veja, 19 de abril de 1995. O documentário de 1997 fala em mais de 40 templos na Argentina
e 21 no México.
12. Folha universal, 31 de out. de 1993.
13. Embora fora desses blocos, mesmo Itália (herança latina e católica) e Filipinas (catolicismo
e colonização espanhola) podem ser vistas como culturalmente próximas.
14. The Sower, julho de 1997.
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15. O Estado de São Paulo, 18 de Set. de 1995 ; Folha de São Paulo, 17 de set. de 1995 ; Isto É, 14 de
dez. de 1994.
16. Isto É, 14 de dez. de 1994 ; Ronaldo Didini em Veja, 23 de abril de 1997 ; O Estado de São
Paulo, 18 de set. de 1995.
17. Folha universal, 14 de ag. de 1994.
18. Agradeço ao antropólogo Ari Pedro Oro pelas informações sobre a Argentina. Oro estuda a
transnacionalização de vários grupos religiosos brasileiros na esfera do Mercosul.
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27. Ibid.
28. Folha de São Paulo, 13 de nov. de 1995.
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32. O primeiro número da revista da IURD na Inglaterra contém artigos aconselhando a não
dar atenção aos sonhos (The Sower, abril de 1996). O segundo número (maio de 1996) dá
« Dez razões por que não acreditar nos sonhos ».
33. Folha universal, 13 de março de 1994.
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35. Dados sobre o campo religioso britânico são tirados de SINCLAIR 1993, BRIERLEY 1996 e as
várias edições do UK Christian Handbook.
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uma população mais idosa e clima inclemente, essa parece ser uma ênfase
maior do que no Brasil.
O folheto publicitário começa com uma declaração de fé que enquadra
a Igreja no cristianismo ortodoxo (« um Deus, subsistindo eternamente em
três pessoas »), no protestantismo (« duas ordenanças – batismo em água
e a Ceia do Senhor » ; « a santificação como obra progressiva da graça »),
no evangelicalismo (« as Escrituras como plenamente inspiradas nos origi-
nais » ; « sacrifício substitutivo » de Cristo) e no pentecostalismo (« batismo
do Espírito Santo » ; « cura divina como parte integral do evangelho »).
Afirma a escatologia como o dínamo da Igreja (« a visão é de dar ao mundo
uma última chance de receber a salvação […] antes da Segunda Vinda » –,
uma ênfase que parece ser mais acentuada agora do que nos primórdios
da IURD). Em seguida, como em Portugal, frisa-se o trabalho
social. « Compromisso social : a fé sem obras é morta […] orfanatos, lares
para os idosos, campanhas contra a fome, assistência médica gratuita,
doações de sangue, escolas, reintegração dos sem-teto… ». O último item
pode render no contexto inglês, onde os homeless surgidos nos anos
Thatcher são grande problema social.
Num culto matinal de agosto de 1997, no Rainbow Theatre, o próprio
bispo Macedo aparece e dirige metade do culto. Como as 350 pessoas pre-
sentes não enchem o recinto, ele convida todos a ficar de pé junto do palco.
Por meia hora, conduz o culto no típico ritmo oscilante da IURD, alternando
momentos de música alta e oração fervorosa com momentos de calma
e concentração. De acordo com o estilo dos cultos de domingo de manhã,
e com sua ênfase recente na maior formação espiritual dos membros,
ele pede a Deus que « mais do que a cura ou a prosperidade, dê a esta gente
a salvação ». As canções misturam tradicionais corinhos evangélicos
ingleses, músicas de Graham Kendrick, o maior compositor evangélico
britânico da atualidade, e uma tradução de corinho evangélico brasileiro
(no culto da tarde, canta-se tradução da famosa música da IURD, usada
depois dos exorcismos : « sai, sai, sai »).
Na mesma tarde, houve o grande culto anual do Day of Decision, com
templo cheio de 1 500 pessoas. Mas Macedo não apareceu. Mesmo de
manhã, sua aparição foi discreta : não foi apresentado e provavelmente
muitos lá não sabiam quem era. Macedo não é do tipo de líder carismático,
tão comum no protestantismo brasileiro, que tem que ser sempre mencio-
nado e enaltecido. Ele fala um inglês compreensível mas com forte sotaque
brasileiro. Fala devagar, e seu estilo fica algo limitado, mas o seu inglês
simples talvez seja vantagem para uma congregação cheia de pessoas sim-
ples, e de muita gente que fala o inglês como segunda língua.
No grande culto, o ritmo é outro. Dirigido por um pastor brasileiro com
maior proficiência no inglês, o exorcismo predomina. O pastor convoca
o mal nas vidas das pessoas a aparecer : « come out, manifest » (pronunciado
como « manifeste »). Inicialmente, é o mal em geral que convoca ; depois,
especifica vudu, oxóssi, candomblé e alguns nomes que parecem ser
entidades religiosas da África ocidental. Os Africanos predominam entre os
exorcizados.
Em 1997, a IURD pediu filiação à Evangelical Alliance, entidade centenária
(fundada em 1846) agora presidida por um pentecostal negro. Alertada pelo
noticiário sobre o Brixton Academy, a Alliance sondou a AEVB. A revista de
Caio Fábio noticia o fato com certa satisfação, sob a manchete « Círculo
400 Paul FRESTON
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Outubro de 1997
Paul FRESTON
Universidade federal de São Carlos (Brasil)
BIBLIOGRAFIA