Artigo Franciele e Gizele - Métodos de Ensino

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Linguagens, Educação e Sociedade – Teresina, Ano 17, n. 27, jul./dez.

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Linguagens, Educação e Sociedade
Revista do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPI

ISSN 1518-0743

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LINGUAGENS, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE – ISSN -1518-0743, Ano 17, n. 27, jul./dez. 2012.
Revista de divulgação científica do Programa de Pós-Graduação em Educação
do Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal do Piauí

Missão: Publicar resultados de pesquisas originais e inéditos e revisões bibliográficas


na área de Educação, como forma de contribuir com a divulgação
do conhecimento científico e com o intercâmbio de informações.

Reitor: Prof. Dr. Luiz de Sousa Santos Júnior

Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação: Prof. Dr. Saulo Cunha de Serpa Brandão

Centro de Ciências da Educação:


Diretor: Prof. Dr. José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho

Programa de Pós-Graduação em Educação


Coordenadora: Prof.ª Dr.ª Ivana Maria Lopes de Melo Ibiapina

Editora: Prof.ª Dr.ª Maria Vilani Cosme de Carvalho

Editoras Adjuntas: Prof.ª Dr.ª Carmen Lúcia de Oliveira Cabral


Prof. Dr. Antonio de Pádua de Carvalho Lopes

COMITÊ EDITORIAL
Prof. Dr. António Gomes Alves Ferreira – Universidade de Coimbra – Portugal
Prof.ª Dr.ª Anna Maria Piussi – Università di Verona – Itália
Prof.ª Dr.ª Margarida Maria Pereira dos Santos Louro Felgueiras – Universidade do Porto – Portugal
Prof. Dr. Ademir Damásio – Universidade do Extremo Sul Catarinense
Prof. Dr. Ademir José Rosso – Universidade Estadual de Ponta Grossa
Prof.ª Dr.ª Flávia Obino Corrêa Werle – Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Prof. Dr. Manoel Oriosvaldo de Moura – Universidade de São Paulo
Prof.ª Dr.ª Maria Cecília Cortez Christiano de Souza – Universidade de São Paulo
Prof.ª Dr.ª Maria Salonilde Ferreira – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Prof.ª Dr.ª Marília Pinto de Carvalho – Universidade de São Paulo
Prof.ª Dr.ª Vera Maria Vidal Peroni – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Prof.ª Dr.ª Maria Jurací Maia Cavalcante – Universidade Federal do Ceará
Prof.ª Dr.ª Stella Maris Bortoni Ricardo – Universidade de Brasília
Prof.ª Dr.ª Wanda Maria Junqueira de Aguiar – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Profª. Dr.ª Ivana Maria Lopes de Melo Ibiapina – Universidade Federal do Piauí
Prof.ª Dr.ª Maria da Glória Soares Barbosa lima – Universidade Federal do Piauí
Prof.ª Dr.ª Maria do Amparo Borges Ferro – Universidade Federal do Piauí
Prof. Dr. Luís Carlos Sales – Universidade Federal do Piauí

Pareceristas ad hoc (deste número)


Prof. Dr. Samuel Luis Velázquez Castellanos, Prof.ª Dr.ª Maria Salonilde Ferreira, Prof.ª Dr.ª Jaíra Alcobaça,
Prof.ª Dr.ª Hilda Mara Lopes Araújo, Prof.ª Dr.ª Ana Valéria Marques Fortes Lustosa, Prof.ª Dr.ª Germaine
Elshout de Aguiar, Prof.ª Dr.ª Telma Ferraz Leal, Prof.ª Dr.ª Rosa Maria de Almeida Macêdo,
Prof.ª Dr.ª Raquel Godoy Retz, Prof.ª Dr.ª Pollyana Jericó Pinto Coêlho, Prof.ª Dr.ª Nilza Maria Cury Queiroz,
Prof.ª Dr.ª Marta Maria de Araújo, Prof.ª Dr.ª Marlúcia Barros Lopes Cabral, Prof.ª Dr.ª Laura Cristina
Vieira Pizzi, Prof.ª Dr.ª Jaqueline Lima Dourado, Prof.ª Dr.ª Helka Fabbri Broggian Ozelo,
Prof.ª Dr.ª Cleania de Sales Silva, Prof.ª Dr.ª Carmen Lúcia de Oliveira Cabral, Prof.ª Dr.ª Antonia Dalva
França Carvalho, Prof.ª Dr.ª Ana Maria Iorio Dias, Prof.ª Dr.ª Maria de Fátima Uchoa de C. Macedo, Prof.ª
Dr.ª Cristine Tinoco da Cunha Lima Rosado, Prof. Dr. Wellington Oliveira, Prof. Dr. Marcelo de Sousa
Neto, Prof. Dr. Luís Carlos Sales, Prof. Dr. Júlio Ribeiro Soares, Prof. Dr. José Edwar Costa de Araújo,
Prof. Dr. Jader Jane Moreira Lopes, Prof. Dr. Francisco Laerte Juvêncio Magalhães,
Prof. Dr. Francis Musa Boakari, Prof. Dr. Alcebíades Costa Filho, Prof. Dr. Ademir Damázio,
Prof. Dr. José Augusto Sobrinho, Prof. Dr. Odailton Aragão Aguiar, Prof.ª Lívia Fernanda Nery da Silva
Viana, Prof.ª Dr.ª Benigna Villas Boas, Prof.ª Dr.ª Guiomar de Oliveira Passos, Prof. Dr. Antonio José
Gomes, Prof.ª Dr.ª Ivana Maria Lopes de Melo Ibiapina, Prof.ª Dr.ª Maria da Glória Soares Barbosa Lima,
Prof.ª Dr.ª Josânia Lima Portela, Prof.ª Dr.ª Cláudia Cristina da Silva Fontineles, Prof.ª Dr.ª Maria Vilani
Cosme de Carvalho, Prof.ª Dr.ª Ana Teresa Silva Sousa, Prof.ª Dr.ª Iveuta de Abreu Lopes,
Prof.ª Dr.ª Rosana Evangelista da Cruz.

Endereço para contato


Universidade Federal do Piauí
Centro de Ciências da Educação “Prof. Mariano da Silva Neto”
Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGEd) – Prédio Novo
Campus Universitário “Ministro Petrônio Portella” - Ininga – CEP 64.049-550
TELEFAX: (86) 3237-1277 / 3237-1214
<www.ufpi.br/ppged/index/pagina/id/1766> – E-mail: [email protected]

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Linguagens, Educação e Sociedade
Revista do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPI

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LINGUAGENS, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE – ISSN -1518-0743, Ano 17, n. 27, jul./dez. 2012.
Revista de divulgação científica do Programa de Pós-Graduação em Educação
do Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal do Piauí

Editora Responsável:
Prof.ª Dr.a Maria Vilani Cosme de Carvalho

Editores Adjuntos:
Prof.a Dr.a Carmen Lúcia de Oliveira Cabral
Prof. Dr. Antonio de Pádua de Carvalho Lopes

Supervisão editorial: Tatiane Sousa de Carvalho


Diagramação: Maria da Conceição de Souza Santos
Revisão: Maria da Conceição de Souza Santos
Instruções para os colaboradores/autores: vide final da revista.

Pede-se permuta / We ask for exchange.

_________________________________________________________
Linguagens, Educação e Sociedade: Revista do Programa de Pós-
Graduação em Educação da UFPI/Universidade Federal do Piauí/
Centro de Ciências da Educação, ano 17, n. 27, 2012 – Teresina:
EDUFPI, 2012 – 320p.
Desde 1996

Semestral (jul./dez. 2012)


ISSN 1518-0743
1. Educação – Periódico CDD 370.5
I. Universidade Federal do Piauí CDU 37(05)
_________________________________________________________

Indexada em/ Indexed in:

- IRESIE – (Índice de Revistas en Educación Superior e Investigación

Educativa) – Universidad Nacional Autonoma do México – UNAM.

- BBE – Bibliografia Brasileira de Educação – Brasília – CIBEC/INEP.

- EDUBASE – Faculdade de Educação / UNICAMP – Campinas – SP.

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Sumário

Editorial .............................................................................................11

ARTIGOS

FUNDAMENTAL ISSUES IN CULTURAL-HISTORICAL RESEARCH:


THE MARXIST CONNECTION
Peter E. Jones ..................................................................................17

QUESTÕES FUNDAMENTAIS NA PESQUISA HISTÓRICO-


CULTURAL: A CONEXÃO MARXISTA
Peter E. Jones ..................................................................................29

DESEMPENHO PROFISSIONAL, MOTIVO DA PERMANÊNCIA NO


MAGISTÉRIO E OS SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS À PROFISSÃO
DOCENTE: NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS DE PROFESSORAS
DO 1º AO 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
Maria Goreti da Silva Sousa
José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho .....................................43

SABERES FORMATIVOS DA AÇÃO DOCENTE NO ENSINO DE


CIÊNCIAS
Francisco Marcôncio Targino de Moura
Claudia Christina Bravo e Sá Carneiro ................................................63

SABERES CONSTITUTIVOS DA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES


DO CURSO DE HOTELARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO
MARANHÃO
Jonilson Costa Correia
Lélia Cristina Silveira de Moraes .......................................................87

SER PROFESSOR DE PORTUGUÊS: UMA ANÁLISE DOCUMENTAL


NA UNIVERSIDADE DO MINHO-PORTUGAL
Andréa Jane Da Silva .........................................................................107

MODOS DE FAZER, MODOS DE ENSINAR: OS MÉTODOS DE


ENSINO NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO PÚBLICA PARANAENSE
NO SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX
Franciele Ferreira França
Gizele de Souza ..............................................................................135
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O GÊNERO PARÓDIA NA SALA DE AULA
Alan Caldas Simões ...........................................................................161

CRIATIVIDADE DO PROFESSOR E CRIATIVIDADE NO TRABALHO


PEDAGÓGICO: OS ESTUDOS REALIZADOS NO BRASIL
Tatiana Santos Arruda
Albertina Mitjáns Martínez .................................................................179

A LEITURA DE TEXTOS PARADIDÁTICOS NA FORMAÇÃO DO


FUTURO PROFESSOR DE FÍSICA
Micaías Andrade Rodrigues ................................................................209

AS PERCEPÇÕES DOS PROFESSORES DO ENSINO SUPERIOR,


NA MODALIDADE A DISTÂNCIA SOBRE SUAS ATIVIDADES
DOCENTES: NOVO OLHAR NA PERSPECTIVA DA ERGONOMIA
Rejane Esther Vieira Mattei ................................................................233

O EDUCADOR PROGRESSISTA: ANÁLISE DE ALGUNS


PRESSUPOSTOS DA SUA FORMAÇÃO
Pedro Pereira dos Santos ...............................................................255

RESENHAS

CARTA A UMA PROFESSORA PELOS RAPAZES DA ESCOLA DE


BARBIANA
Domenica Martinez ..........................................................................273

DESARROLLO PROFESIONAL DOCENTE: COMO SE APRENDE A


ENSEÑAR
Fernanda Cristina Gaspar Lemes
Juliana Perloti Piunti
Maria Helena de Fátima Luchesi Martins
Monique Aparecida Voltarelli
Renata Cristina da Cunha
Rosa Maria Moraes Anunciatto de Oliveira ....................................277
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RESUMOS

A CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE DO GRADUANDO


DE PEDAGOGIA: DE PROFESSOR A GESTOR
Elizangela Fernandes Martins .........................................................295

TRABALHO COLETIVO EM CONTEXTO DE PLANEJAMENTO:


SENTIDOS E SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS PELOS PROFESSORES
Maria Luiza Santos Gama .................................................................297

FORMAÇÃO CONTINUADA NA INTERFACE COM A PRÁTICA


PEDAGÓGICA: O QUE PENSAM OS PROFESSORES
Adélia de Deus Meireles.......................................................................299

O OLHAR DOS DISCENTES SOBRE O CURSO DE LICENCIATURA


EM PEDAGOGIA DA UFPI: NARRATIVAS DE FORMAÇÃO
Patrícia Sara Lopes Melo ................................................................301

MULHER AFRODESCENDENTE NA DOCÊNCIA SUPERIOR EM


PARNAÍBA: MEMÓRIAS DA TRAJETÓRIA DE VIDA E ASCENSÃO
SOCIAL
Maria do Rosário de Fátima Vieira da Silva .....................................303

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: TENSÕES E INTERAÇÕES


ENTRE O CURRÍCULO E A PRÁTICA PEDAGÓGICA
Djanira Espírito Santos Lopes Cunha .................................................305

PEDAGOGO DA EDUCAÇÃO INFANTIL: SIGNIFICADOS E


SENTIDOS DA ATUAÇÃO PROFISSIONAL
Lília Cristiana Lopes de Carvalho .......................................................307

OS DESAFIOS DA/NA PRÁTICA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO


PROFISSIONAL TECNOLÓGICA: O SER E O FAZER DO
PROFESSOR-TUTOR À DISTÂNCIA
Soraya Oka Lôbo .............................................................................309

SABER ENSINAR LÍNGUA MATERNA: VIVÊNCIAS DA PRÁTICA


PEDAGÓGICA NO ENSINO MÉDIO
Lúcia Maria de Sousa Leal .............................................................311

A FORMAÇÃO INICIAL E A PRÁTICA PEDAGÓGICA DE


PROFESSORES DE BIOLOGIA DE BOM JESUS-PI: ARTICULAÇÕES
POSSÍVEIS
Wanna Santos de Araújo ................................................................313
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Instruções para o envio de trabalhos ......................................... 315

Formulário de Permuta .................................................................... 319

Ficha de Assinatura ......................................................................... 320

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Editorial

O vigésimo sétimo número da Revista Linguagens, Educação


e Sociedade (LES) do Programa de Pós-Graduação em Educação
da Universidade Federal do Piauí, notadamente, traz para o debate
questões relativas à temática “Formação de professores e práticas
pedagógicas”que preservam a centelha do campo educacional
epistemologicamente vibrante.
Composta de 11 artigos de autores brasileiros e estrangeiros,
a revista oferece ao leitor reflexões sobre temas como a atividade
da pesquisa e a prática de ensino. E, de modo mais direto, focaliza a
profissão docente considerando a ecologia da sala de aula, seja no
contexto da educação básica, seja no contexto da educação superior,
abordando sobre seus saberes, sua formação, sua identidade e a
percepção dos professores sobre sua ação educativa. Conjuntamente
estes artigos evidenciam a fertilidade da área e a riqueza da produção
intelectual no Brasil e em outros países.
Com seu texto sobre Questões fundamentais na pesquisa
histórico-cultural: a conexão Marxista, o professor Peter E. Jones, da
Sheffield Hallam University, na Inglaterra, inicia o debate. Pontuando
sobre questões com a relevância da obra de Marx para a teoria e a prática
educacional e as perspectivas para o diálogo e o desenvolvimento do
trabalho histórico-cultural na educação, o autor discute as implicações
dessas questões para a teoria e a prática educacional.
Tendo como referencial dados de uma pesquisa realizada
com professores em uma escola pública de Teresina-PI, o estudo
Desempenho profissional, motivo da permanência no magistério e os
significados atribuídos à profissão docente: narrativas autobiográficas
de professoras dos anos iniciais do ensino fundamental, de Maria
Goreti da Silva Sousa e José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho,
mostra o amor pela profissão, a realização pessoal e profissional, a
identidade profissional e a crença na relevância social da profissão
para a sociedade, como indicadores de permanência dos professores
no magistério.
Em Saberes formativos da ação docente no ensino de Ciências,
os autores Francisco Marcôncio Targino de Moura e Claudia Christina
Bravo e Sá Carneiro discorrem sobre uma investigação que analisa
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se a ação docente no ensino de ciências pode se caracterizar como
um processo de formação de professores de ciências. Seus achados
revelam que a formação dos professores de Ciências deixa lacunas
que são preenchidas, em parte, na docência, onde são construídos os
saberes experienciais.
Nessa mesma direção, os professores Jonilson Costa Correia
e Lélia Cristina Silveira de Moraes procuram analisar os saberes
constitutivos da formação dos professores do Curso de Hotelaria da
Universidade Federal do Maranhão a partir do pensamento dos sujeitos
e da imersão teórica sobre os diversos determinantes desse fenômeno.
O artigo Saberes constitutivos da formação dos professores do curso de
hotelaria da Universidade Federal do Maranhão trata, portanto, de uma
pesquisa que evidencia que o professor jamais forma-se sozinho e que
os saberes docentes são constantemente modificados e aperfeiçoados.
Buscando compreender o ser professor de Português nos
documentos oficiais que legislam sobre a formação do professor de
Português em Portugal, a autora Andréa Jane da Silva, em Ser Professor
de Português: uma análise documental na Universidade do Minho-
Portugal, focaliza o curso de Letras-Português e Línguas Clássicas
da Universidade do Minho (Braga/PT), cujo currículo encontra-se
regulamentado através de uma legislação específica. A autora reflete
que a regulamentação está imbricada na formação inicial dos docentes
e ajuda a construir essa profissão, apesar das ressonâncias e das
dissonâncias.
Franciele Ferreira França e Gizele de Souza, em seu artigo
Modos de fazer, modos de ensinar: os métodos de ensino na história
da educação pública paranaense na segunda metade do século XIX,
analisam as práticas educativas decorrentes das apropriações dos
professores primários e das autoridades de ensino, advindas dos
debates em torno da utilização dos métodos de ensino no cenário da
instrução pública paranaense. Identificando, no século XIX, os métodos
de ensino simultâneo e intuitivo, as autoras afirmam que a instituição
dos mesmos no interior das escolas paranaenses contribuiu para a
estruturação e a consolidação da uma escola primária na província.
Na esteira das metodologias, o artigo de Alan Caldas Simões, O
gênero paródia em sala de aula, discute novas metodologias de abordar
conteúdos tradicionais do ensino de Língua Portuguesa, através de
propostas criativas, apresentando práticas de produção textual que
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utilizam o gênero paródia como instrumento de ensino. A reflexão incide
no uso de práticas multidisciplinares, em especial as que conjugam a
área de Língua Portuguesa e Música, tendem a ser fonte de estímulo
para produção textual.
Tatiana Santos Arruda e Albertina Mitjáns Martínez escrevem
Criatividade do professor e criatividade no trabalho pedagógico: os
estudos realizados no Brasil, onde analisam teses e dissertações de
2000 a 2012 que abordam a criatividade do professor. As produções
indicaram a existência de lacunas significativas sobre a criatividade no
trabalho pedagógico, no que concerne às pesquisas que considerem o
professor como sujeito criativo em suas práticas docentes, observando
o processo de criatividade na perspectiva do professor.
O artigo A leitura de textos paradidáticos na formação do futuro
professor de Física, de autoria de Micaías Andrade Rodrigues, relata
uma experiência metodológica acerca do uso de textos paradidáticos na
formação dos professores da área de Física. Os resultados evidenciam
que a metodologia, além do baixo custo, amplia as possibilidades
metodológicas no ambiente escolar, internaliza conceitos e estreita a
distância entre a Física lecionada na escola e a realidade dos alunos.
Tomando como base a ergonomia cognitiva, a autora Rejane
Esther Vieira Mattei apresenta, no artigo As percepções dos professores
do ensino superior na modalidade à distância sobre suas atividades
docentes, uma proposta de investigação acerca das percepções dos
professores sobre suas ações pedagógicas docentes, na modalidade
à distância.
Para fechar a seção artigos, Pedro Pereira dos Santos em O
educador progressista: análise de alguns pressupostos da sua formação
reflete sobre a formação do educador progressista fundamentando-se
nos pressupostos antropológicos e político. O autor, também, discute
as dimensões técnica, científica, ética e política do processo formativo
na perspectiva de colaborar para o entendimento sobre a formação no
enfoque freireano.
Na sequencia de trabalhos, esta edição consta, também, das
seções de comunicações nas modalidades Resenha Crítica e Resumo
de Dissertações. A primeira, atendendo ao objetivo de resenhar obras
significativas, tanto pela atualidade das discussões que desenvolvem
quanto pela importância das informações que retêm em suas amplitudes
históricas, em campos de conhecimentos diversos, apresenta a resenha
de Domenica Martinez sobre o livro “Carta a uma professora pelos
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rapazes da escola de Barbiana”, e outra de Fernanda Cristina Gaspar
Lemes, Juliana Perloti Piunti, Maria Helena de Fátima Luchesi Martins,
Monique Aparecida Voltarelli, Renata Cristina da Cunha e Rosa Maria
Moraes Anunciatto de Oliveira sobre o livro “Desarrollo profesional
docente: como se aprende a enseñar”.
A seção Resumo de Dissertações, ao ter por finalidade maior
informar à comunidade acadêmica sobre pesquisas desenvolvidas no
âmbito do PPGEd – UFPI, apresenta o resumo de doze dissertações
defendidas, no decorrer do segundo semestre do ano de 2012.
Vale registrar que os artigos, as resenhas e os resumos que
compõem a LES de n. 27, oferecem visões distintas que ampliam a
epistemologia do campo educativo, cuja leitura é instigante.

Antonia Dalva França Carvalho – UFPI


Teresina, novembro de 2012

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ARTIGOS

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FUNDAMENTAL ISSUES IN CULTURAL-HISTORICAL
RESEARCH: THE MARXIST CONNECTION

Peter E. Jones
Communication Studies
Sheffield Hallam University
Sheffield
UK S1 1WB
P. [email protected]

AFIRSE, 9th November 2011

‘On the one side there are workers and a majority of people
and on the other are global capitalists, bankers, profiteers on
stock exchanges, the big funds. It’s a war between peoples
and capitalism... and as in each war what happens on the
frontline defines the battle. It will be decisive for the war
elsewhere’. Alexis Tsipras, 19th May, 2012.1

1 Issues

In this paper I intend to touch on a range of questions which I believe


are fundamental for the further development of cultural-historical and activity
theory research today. I have looked in more detail at these questions el-
sewhere (Jones, 2009, 2011a,b) and will, therefore, aim mainly to summarise
this previous discussion. But I will also take the opportunity to make some fur-
ther comments on the implications of these questions for educational theory
and practice specifically.2
The issues which I will touch on here are the following:
1. The problem of the relevance of Marx to cultural-historical
theory
1
The quotation is taken from an interview between Tsipras, leader of Syriza,
the Greek coalition party of the left, and the journalist Helena Smith (Guardian,
2012).
2
I am especially indebted to my Brazilian friends and colleagues for the
opportunity to discuss and reflect on these questions. In particular, I would
like to express my hearfelt gratitude to Professors Cecilia Magalhaẽs and
Fernanda Liberali of PUC, São Paulo for organizing and hosting my wonderful
trip to Brazil in November 2011. At PUC I had the pleasure of leading a 4-day
mini-course on the theme of ‘Marx, Activity and Education’ and would like to
thank all those who took part in what was a very enjoyable, and, I hope, fruitful
exchange of views on these matters. I am also extremely grateful to Professor
Ivana Ibiapina of the Federal University of Piauí for her hospitality and her
invitation to make a presentation on these questions at the 6th Colloquium
of AFIRSE. The present paper is based on this presentation and is informed
by the discussions we had in São Paulo and Teresina.

Recebido em: 10/08/2012 – Aceito em: 02/09/2012

* Communication Studies . Sheffield Hallam University. E-mail: P.E.Jones@


shu.ac.uk
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2. Marx, ‘activity’ and problems of methodology in cultural-histo-
rical research
3. Marx and education: the relevance of Marx’s work to educa-
tional theory and practice
4. Perspectives for dialogue and development in cultural-histori-
cal work in education

2 The problem of the relevance of Marx to cultural-historical theory

It is often taken for granted in discussions of cultural-historical theory


that the fundamental principles of this tradition are traceable to Marx’s theo-
retical and scientific legacy. Did not Lev Vygotsky, after all, aspire to create
a ‘Marxist psychology’, informed by the method of Marx’s Capital (Vygotsky,
1986)? And was not A N Leont’ev’s ‘activity theory’ (Leont’ev, 1978) a concre-
tization of the concept of ‘activity’ which Marx set out most clearly in that same
work? But the answers to these two questions, as the reader will know, are by
no means straightforward or uncontroversial. Scholars differ on what aspects
of Vygotsky’s approach, for example, could be said to be ‘Marxist’ in origin or
inspiration. Similar problems surround Leont’evan theory (Jones, 2009) and
the alternative perspective offered by S L Rubinštejn (1987), while the more
recently developed version of ‘Activity Theory’ of Y Engeström (e. G.,1990)
appears to mark a radical break with the Marxist tradition despite some ter-
minological commonalities (Jones, 2009, 2011b). It seems sensible, there-
fore, not only to raise questions about the continuity between contemporary
cultural-historical theory and Marx but also to ask whether such continuity is
desirable any way. Does the Marxian connection actually matter any more? Is
it perhaps time to acknowledge the limitations of Marx’s theoretical concepts
and analysis for our contemporary needs and explore the advantages of stri-
king out in a different direction? But, if so, what direction should we go in? And
what theoretical system should be our compass?
These are important and timely questions. One way to address them
is to try to get as clear as we can on Marx’s ideas on the crucial issues so
that we can carefully evaluate their relevance and usefulness for us today. In
that spirit, I hope this paper may offer a small contribution to the business of
clarification.

3 Marx, ‘activity’ and problems of methodology in cultural-historical


research

We know that a concept of ‘activity’ is key to Marx’s philosophical and


scientific explorations of the human condition generally and to his critique of
political economy in Capital more specifically. We also know that ‘Activity The-
ory’ in its various manifestations has attempted to take a Marxian concept of
‘activity’ as a foundational principle for its analysis of modern forms of social
practice. The big question, of course, is whether the same concept is in play
here.
We have become accustomed, through our acquaintance with (or appli-
cation of) ‘Activity Theory’, particularly in the version developed by Engeström
and colleagues, (e. G, Engeström and Miettinen,1999) to talk about the social
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world today as if it could be broken down essentially into complex intercon-
nected networks of ‘activities’ or ‘activity systems’, these being the irreducible
building blocks of social practice and, hence, the starting point (or ‘unit of
analysis’) for theoretical exploration and critical analysis. So: here we have
educational activity, here medical activity, here scientific research activity,
here industrial activity of some kind. Or we could zoom in even further: here is
a lesson in school, here is an academic lecture, here is a doctor at work, here
is a surgical operation in progress etc.
It is often claimed, or assumed, that this notion of ‘activity’ or ‘activity
system’ is ultimately due to Marx himself since it emerges from and builds on
the ‘psychological theory of activity’ which A N Leont’ev sought to construct on
the basis of Marx’s conception of activity as the distinctive, or even defining,
characteristic of human existence.
But if we look back at Marx’s work from the perspective of this assump-
tion, then his way of going about things in Capital must appear especially odd.
In particular, why does Marx not begin this celebrated work with a detailed list
and description of all the ‘activities’ and ‘activity systems’ on display in his day
and then try to connect them all up into one mega ‘system’? Why did he not
start with, say, separate types of profession or employment – factory work,
management, transport, banking, teaching, trading etc –, and, from there, put
together a composite picture of ‘activity’ and ‘activity systems’ on the scale of
social practice as a whole? Why, in other words, does he start his analysis in
Capital with the commodity?
One might easily conclude from this that Marx’s approach and the ‘ac-
tivity system’ approach are simply not methodologically compatible. And inde-
ed, it should be noted that the concept of ‘activity system’ as a ‘unit of analysis’
was actually proposed as an alternative to Marx’s methodology. Evaluating
the relevance of Marx’s commodity-based methodology to the complexities
of contemporary social practice, Engeström and Miettinen (1999: 9) draw the
conclusion that ‘there is a demand for a new unit of analysis’, a demand which
their new concept of ‘activity system’ is designed to meet.
In order to appreciate the reasons for this methodological divergence
between Marx and ‘Activity Theory’ I believe it is necessary to understand
the very special meaning that Marx gave to his concept of ‘activity’ in Capital.
Here, Marx (at least in the English translation) uses the three terms ‘activity’,
‘labour process’, and ‘work’ as synonyms. For instance, at one point he an-
nounces:

“Work is the eternal natural condition of human existence.


The process of labour is nothing but work itself, viewed at
the moment of its creative activity” (1976: 998).

Marx goes on to examine human activity, or the ‘labour process’, more


carefully, arguing that the ‘simple elements of the labour process’ (1976: 284)
are ‘independent of every specific social development’ (1976: 998).
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It seems obvious, then, that Marx could not have used an analytical
category which is ‘independent of every specific social development’ as a
means of uncovering what is historically and socially specific about capitalist
production or indeed about any actually existing form of society. Life-affirming,
life-sustaining activity serving human needs and pleasures is the common
underpinning of all forms of social organization, he argues, and cannot there-
fore in itself serve as a criterion or method for distinguishing different forms of
social organization from one another.
On the contrary, Marx finds the distinctiveness of capitalist production
not in the fact that ‘activity’ (the ‘labour process’) is going on within it, but in
the incorporation of the labour process within another process, which he calls
the ‘valorization process’ (1976: 293). Capitalist production produces useful
goods which serve human needs, but

‘production is also a process of valorization, and here


the capitalist devours the labour-power of the worker, or
appropriates his living labour as the life-blood of capitalism.
Raw materials and the object of labour in general exist only
to absorb the work of others, and the instrument of labour
serves only as a conductor, an agency, for this process of
absorption” (1976: 1007).

The ‘capitalist labour process’, Marx explains, ‘does not cancel the ge-
neral definitions of the labour process’ since it ‘produces both product and
commodity’ (things which are useful but also have a price). However, ‘the
labour process is merely a means for the self-valorization of capital” (1976:
1039).
In Marx’s analysis, then, it is not ‘activity’ (or ‘the labour process’) as
such but, rather, the specific relationship (the ‘unity’) between labour process
and valorization process which is the foundation and impetus for the develop-
ment of all the historically specific work practices in all spheres within capitalist
production.
The capitalist production process feeds on the labour process; it ex-
ploits it; it is parasitic on that process. Like every parasite it has to keep its
host alive but it uses its host and subordinates it to its own purposes and
aims. And because the valorization process exists only in and through the
labour process, it is not easy to distinguish the two processes: they look like
the same thing. A car plant looks like a factory for producing cars but it is also
– and more importantly – a factory for producing surplus value from living la-
bour; it is the site where the creative capacities of human agents are captured
(via the commodity) and subordinated to the production of profit. Marx empha-
sised this difficulty in seeing through to the valorization process and expressly
warned against ‘confusing the appropriation of the labour process by capital
with the labour process itself’ (1976: 998).
Marx begins his account of capitalist production in Capital with the com-
modity, a product of labour, in order to pin down precisely what is distinctive
about capitalist production. Now, of course, it is not the case that commodity
production per se is capitalist production: commodity production has existed
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for thousands of years in different forms and within quite different forms of so-
cial organization. But Marx’s analysis shows that capitalist production needs
commodity production and is impossible without it. The commodity absorbs
the labour of the producer in a ‘portable’ form, a form which can be separa-
ted from (‘alienated’ from) the active producer, and it is this socially achieved
separating of product from producer which is the necessary premise for the
exploitation of productive activity within specifically capitalist relations.
Marx starts here and shows how capitalist production emerges as a
system of general commodity production where all things are commodified,
including labour power itself. And once labour power is a commodity then
we get not only value (appearing in exchange value) but surplus value as
the wealth created by living labour is drawn off in the production process and
absorbed into commodities which contain more value than the wages offered
to the producers in return.
This brief summary of Marx’s approach allows us to appreciate the key
difference between his concept of ‘activity’ and that in circulation within ‘Activi-
ty Theory’. ‘Activity’ (or ‘the labour process’) in Marx’s work is not meant as a
generic description or descriptive-analytic framework for all the concrete work
practices within capitalist society (or any society): it is used to show us the
difference between acting freely, acting humanly, acting in accordance with
human needs on the one hand and acting as per the dictates of capital on the
other. It is a concept which allows us to see our creative potential as a spe-
cies as being trapped, confined and degraded by another process. ‘Activity’
in Marx is, therefore, not a description of contemporary work practices but a
critique of them; it is a criterion by which we can evaluate our social practices
in relation to human needs and change them in order to free our creative ca-
pacities from their temporary imprisonment in inhuman forms of life. If ‘Activity
Theory’ takes ‘activity’ or ‘activity system’ as a ‘unit of analysis’ for contempo-
rary forms of social organization and work practices then Marx, by contrast,
shows that it is the exploitation of activity by capital which is the foundation of
such forms and practices – a foundation which must be removed if people are
to act towards each other in a way that does justice to their human potential.
Marx’s concept of ‘activity’ (or ‘labour process’), therefore, must always
be understood in opposition to the concept of the valorization process, that is
the process of exploitation of the labour process, however difficult it may be
to distinguish these two processes on the basis of immediate appearances or
experience. The distinction in fact becomes all the more crucial as capitalist
development proceeds, giving rise to forms of value that are increasingly dis-
tant from the actual creation of value in the production process: here we have
in particular what Marx calls ‘fictitious capital’, including the mountains of debt
now crushing the productive life out of the world economy, and all the financial
‘instruments’ within contemporary capital movement and banking practice –
the shadow banking system, hedge funds, futures, derivatives and so on (see
Harvey, 2011: 280-1). The quotation from Alexis Tsipras with which I began
this paper vividly, and pithily, puts all this into perspective.
No sphere of social life anywhere in the world escapes from or is immu-
ne from the direct or indirect consequences of the rule of capital over social
production, over activity. While Marx’s work puts the struggle to free creative
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labour from capitalist exploitation at the centre of his analysis, that struggle,
along with the distinguishing characteristics of capitalist work practices, di-
sappears from the picture altogether when a bland and generic concept of
‘activity’ or ‘activity system’ (see Bakhurst, 2009) is made into the point of
departure, and overarching framework, for analysis.
However, these comments are not intended as a dismissal of the in-
sights and achievements of any brand of ‘Activity Theory’ from some doctri-
naire ‘Marxist’ perspective, but in order to provoke a discussion about where
our theories are leading us and what we want from them. More specifically, I
believe we need to clarify a number of things: a) the scope, advantages and
limitations of versions of ‘Activity Theory’ in relation to Marx’s project in Capital
and b) the relationship of ‘Activity Theory’ as developed by Engeström and
colleagues to the activity psychologies of A N Leont’ev and S L Rubinštejn in
particular.

4 Marx and education: the relevance of Marx’s work to educational


theory and practice

The general problem we are addressing is the basic question of how


we understand what is going on in society and how we work out what to do
about it. More specifically, we are concerned with how we approach the task
of understanding the specific social role and social function of educational
institutions and educational practices within society today, what we might do
to transform them, and how that transformation may contribute to the transfor-
mation of social relations more generally. In that context, what are the implica-
tions of the method and ideas of Marx discussed above for an understanding
of education within capitalist society?
We have seen that Marx’s analysis in Capital begins with the commo-
dity, and we have seen why. But Marx’s analysis does not end there; it is
simply the starting point for a systematic re-creation of all the social relations,
functions and practices peculiar to a society based on the exploitation of hu-
man activity via commodity production. His initial analysis takes the process
of production in isolation from all the other processes and forms of ‘activity’ in
a more general sense, including education, law, politics and so on, in which it
is necessarily embedded. Such isolation, or ‘abstraction’, is viewed by Marx
as essential to constructing a fully ‘concrete’ picture of capitalist society, on
the assumption that capitalist production in its ascendancy strives to reshape
and redesign all domains of social life to serve the interests of capital and to
quell or suborn all forms of resistance to that dominance. At the same time
the agents of the labour process struggle to protect themselves from exploi-
tation, to get a bigger share of the product of their own labour in the shape of
higher wages, housing, education, health care and so on and develop their
own forms of organization – trade unions and political parties – to enhance
and amplify through collectivity their powers of resistance and to articulate an
alternative vision.
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If the exploitation of living labour is the basic economic ‘fact’ of capitalist
production then this ‘fact’ is continually contested, a contest which plays out
everywhere in society since all spheres of life and work are interconnected on
the basis of this ‘fact’.
Marx himself was no doctrinaire ‘maximalist’ but the staunchest suppor-
ter of any attempt to improve working conditions and practices or conditions
of life generally within the framework of existing exploitative relations of pro-
duction. Any humane measure, including legal or constitutional change, which
would encroach on and limit the demands and dominance of capital was taken
as a positive step towards the affirmation and assertion of human values, of
human potential. All such struggles, however small scale, offered scope for a
contest of political aims and priorities and any achievements made created
staging posts for wider and deeper social change and transformation.
Accordingly, Marx’s method does not involve reducing each and every
sphere of production or working practice in society to the same abstract model
but in tracing how these spheres and practices grow up as inter-dependent
and inter-related on the basis of the struggle to impose, and to resist, capi-
talist exploitation of labour. Indeed many spheres of professional life do not
appear to involve the production of surplus value at all, or even commodities,
although of course they are dependent on, and connected to, commodities
and commodity production at every point. The very labour power of the pro-
fessionals who work within these spheres is commodified (they work for a
wage) after all. Schools, while ‘serving’ students, are ‘business entities’ wholly
reliant on budgets for purchase and consumption of commodities in addition
to paying wages. But who sets the budget and where does the money come
from? What strings (political or strategic) are attached? And what effects, what
results and consequences do the practices of education have within society?
In all such cases the analytical problem is not simply to notice that commodi-
ties are consumed (since commodities are everywhere), or that resources are
tight and their allocation contested, but to see how this particular social sphere
is connected to the broader but also deeper spheres of economic activity and
the exploitation of labour by capital. Marx’s approach is not about applying a
generic analytical template or formula but about tracing and analysing inter-
connection, interaction and possibilities for change within the whole system.
In other words, even if we grant that teachers within the public education
sector, for example, are not “productive workers” (MARX, 1976: 1044) (i. E.
producing surplus value), then the primary task of analysis is to understand
their position within the social formation that is built around “productive work”.
What, then, is specific to ‘education’ under capitalist conditions? What is
the concrete role played by educational institutions and practices in societies
built up around the exploitation of labour? First of all, it would be unwise from
Marx’s perspective to take the self-proclaimed values and virtues of educa-
tional institutions themselves at face value, or as a starting point for analysis.
The car plant, we noted, is producing cars (when times are good) but, more to
the point, it is a site for the production of surplus value. What exactly is being
‘produced’, then, in schools and classrooms?
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Here is one view, from Reimer’s classic work on global education (1971:
23):

‘Different schools do different things, of course, but


increasingly, schools in all nations, of all kinds, at all
levels, combine four distinct social functions: custodial
care, social-role selection, indoctrination, and education as
usually defined in terms of the development of skills and
knowledge. It is the combination of these functions which
makes schooling so expensive. It is conflict among these
functions which makes schools educationally inefficient’.

It is interesting that ‘education as usually defined’ comes last, and least,


in Reimer’s list of functions. Reimer’s analysis is not based on Marx, although
it would not be too difficult to critically re-work it from a Marxian perspective.
And, indeed, there is no shortage of Marxist scholarship on education and its
social role and potential (see Green, Rikowski & Raduntz, 2007).
As noted in Jones (2011a), Marx didn’t see compulsory schooling as a
capitalist conspiracy to ideologically enslave the working class but as a ne-
cessary and progressive reform which protected the children of working class
families from exploitation in factories and mines, sparing their lives and health
in the process. This move also protected them at the same time from their own
families who, as a result of poverty and exhaustion, were obliged to force their
own children into abusive and exploitative work. In Marx, Reimer’s ‘custodial
function’ is a shield, a humanitarian measure, a mitigation of the exploitati-
ve forces at work in society and, by that same measure, represents both a
cultural as well as an economic inroad into capitalist hegemony. This legally
enforced separation of (child) labour from both capital and the pressures of
domestic poverty creates a space of possibilities for intellectual and practical
action in relation to social relations inside and outside the school. Exactly
what goes on at school is therefore from the very beginning also a contest or,
rather, is part of the wider contest between labour and capital. At the same
time, the separation of school systems from the world of work turns ‘education’
into a very peculiar, problematic and deeply conflicted business, as cultural-
-historical theory has been careful to point out (see the discussion in Jones,
2011a). Thus, concrete school systems are always the outcome of a complex
balance of competing and conflicting forces within society overall.
Any educational system or institution, therefore, represents an unstable
confluence of various social functions representing conflicting social interests.
That also means that the role of the school, or of the individual teacher, with
respect to these wider social struggles, is neither pre-determined nor set in
stone: the social role of the school is up for grabs. To affirm, for instance, that
education is a right for all, that it should really educate, motivate and inspire,
that it should help protect us from exploitation and poverty, that it should not
reproduce but counter social inequality – all of this is also a call to arms: it
says what education should be, what it can be, and leads us to find ways and
means to make it so. Just as, for example, to say that good clean water should
be accessible and free to everyone is at the same time a challenge to the
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private utilities (and their political backers) who profit from natural resources
while leaving billions of people worldwide without proper drinking water. From
Marx’s perspective the struggle against exploitation is one to be carried out on
all fronts and may begin anywhere, since all challenges to the status quo can
become, in Harvey’s (2011: 231) words, ‘the co-revolutionary points around
which social action could converge and rotate’.
This means that teachers have the chance, when circumstances are
propitious, to make a real difference to their communities and their class.
Schools can provide safe opportunities to learn outside of the home, outside
of the workplace, off the streets; they can help to raise awareness in children
and their families of basic health issues; they can become catalysts of com-
munity self-education; they can help communities to organize, to help them
find their voice and have a voice; they can help communities gain confidence
and strengthen their sense of identity; they can help to create a vision of an
alternative future for the working people and poorest sections of society and
challenge the inequalities of wealth that determine life chances and, indeed,
life expectancy; and they can help to create a new vision of what real learning
is and how it should be developed and rewarded. If opportunities of this kind
can be made or seized, then schooling becomes a powerful transformative
practice. In these circumstances teachers can become role models for empo-
werment and social conscience, just as enlightened employers, in providing
conditions for labour to take place with dignity and in spaces where personal
learning and growth can take place, can also play a part in advancing the
cause of progressive social change.

5 Perspectives for dialogue and development in cultural-historical work


in education

I began with some rather abstruse theoretical considerations and then


moved on to talk, hopefully in more concrete terms, about the implications
of these issues for an understanding of education and the potential role that
schools may play within the wider social contest over the exploitation of la-
bour. In this discussion, I have tried to emphasise what I think are the advanta-
ges, or at least possibilities, in Marx’s approach to social processes in relation
to an ‘activity’ or ‘activity system’ approach as developed by ‘Activity Theory’.
However, it should be acknowledged that cultural-historical theory, and
‘Activity Theory’ specifically, have already made considerable and significant
contributions both to the critique of contemporary educational practices and to
their change and improvement in practice (e. G., Engeström, 1999, 1991 and
see Jones, 2011a). In that light, perhaps it would be sensible not just to hi-
ghlight divergence between Marx and the ‘activity’ approaches but to explore
convergence or complementarity, at least within certain limits.
It might perhaps be better, then, not to take ‘Activity Theory’ as an al-
ternative to Marx’s theory or methodology in terms of a ‘grand theory’. Rather
than criticising this approach for not providing a view of capitalist social re-
lations, or of the specificity of these relations, perhaps we should positively
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emphasise its useful role in relation to local issues of work organization where
exploitation of labour in Marx’s sense is not taking place, i. E. in public health
care and education or within other working teams which are at some distan-
ce from or have some degree of autonomy in relation to the labour-capital
relationship? After all there are many problems which arise and which can be
solved on a day to day basis to be solved and which can be solved without
making a revolution. There are many ways to improve working conditions, to
improve the quality of service, to improve people’s lives and their health and
general social status without overthrowing capitalism. The ‘activity approach’
has undoubtedly served as a useful tool for ‘fair weather’ exploration and in-
tervention in public sector environments where value is consumed rather than
created. But fair weather conditions are not guaranteed, of course: you may
work hard to improve patient care in the clinic or to improve literacy teaching in
the classroom only to find that your clinic has disappeared thanks to ‘austerity
measures’ or your literacy programme has been replaced by a government-
-imposed (and privately contracted) ‘synthetic phonics’ regime.
But this is exactly where Marx comes into his own, i. E. where we need
to see the bigger picture into which our own professional practices and aspi-
rations fit. The apparently very concrete work ‘activity’ of any particular profes-
sional sphere or branch of the social division of labour may then strike us as
a rather abstract and, consequently unhelpful, starting point for trying to find
a clear understanding of the deeper societal processes and conflicts which
shape, often drastically and without compromise, the lives and livelihoods of
hundreds of millions of people. When we reach these major crises in social life
it becomes perhaps rather more obvious that ‘Activity Theory’ is not so much
a continuation of Marx’s approach as a kind of theoretical fudge which blurs
the clear conceptual lines that Marx drew and papers over the cracks and
faultlines within social reality which Marx sought to expose.
However, others may disagree with this evaluation. I hope, therefore,
that discussion and debate around these issues will continue.

References

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Review, 61 (2) 197-210.

Engeström, Y. (1990) Learning, Working and Imagining: Twelve Studies in


Activity Theory. Helsinki: Orienta-Konsultit.

ENGESTRÖM, Y. (1991). ‘Non Scolae Sed Vitae Discimus: Toward
Overcoming the Encapsulation of School Learning’. Learning and
Instruction (1): 243-259.

______.; Miettinen, R. (1999). Introduction. In: Y. Engeström et al (eds.)


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JONES, P. E. (2009). ‘Breaking away from Capital? Theorising Activity in


the Shadow of Marx’. Outlines, 1, 45-58.
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Julian Williams. Mind, Culture and Activity 18 (4), 365-373.
______. (2011b) ‘Activity, Activity Theory, and the Marxian Legacy’. In:
______. (ed.), 193-213.
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Pedagogy and Culture. New York: Palgrave Macmillan.
LEONT’EV, A. N. (1978) Activity, Consciousness, and Personality.
Englewood Cliffs: Prentice Hall.
HARVEY, D. (2011) The Enigma of Capital and the Crises of Capitalism.
London: Profile Books.
GREEN, A, Rikowski, G.; Raduntz, H. (eds.) (2007) Renewing Dialogues in
Marxism and Education. Openings. New York: Palgrave Macmillan.

GUARDIAN (2012) ‘Greece’s leftwing leader: “I do not believe in heroes or


saviours”’; interview between Helena Smith and Alexis Tsipras; The
Guardian, 19th May 2012.

MARX, K. (1976). Capital. A Critique of Political Economy.


Harmondsworth: Penguin Books.
REIMER, E. (1971) School is Dead. An Essay on Alternatives in Education.
Harmondsworth: Penguin Books.
RUBINŠTEJN, S. L. (1987) ‘Problems of Psychology in the Works of Karl
Marx’, Studies in Soviet Thought, 33: 111-130.
VYGOTSKY, L. S. (1986). Thought and Language. A. Kozulin (Ed.).
Cambridge, Mass: MIT Press.

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QUESTÕES FUNDAMENTAIS NA PESQUISA
HISTÓRICO-CULTURAL: A CONEXÃO MARXISTA*

Peter E. Jones**

“Por um lado, há os trabalhadores e a maioria das


pessoas e, de outro, são capitalistas globais, banqueiros,
especuladores das bolsas de valores, os grandes fundos.
É uma guerra entre os povos e o capitalismo ... e como
em cada guerra, o que acontece na linha da frente define a
batalha. Ele será decisivo para a guerra em outros lugares
“. Alexis Tsipras, 19 de Maio de 2012.1

1 Questões

Neste artigo pretendo tocar em uma série de questões que eu


acredito que são fundamentais para o desenvolvimento da atividade
de pesquisa da teoria histórico-cultural. Eu olhei mais detalhadamente
estas questões em outros lugares (Jones, 2009, 2011a, b) e, portanto,
visarei principalmente resumir esta discussão anterior. Mas também
aproveitarei a oportunidade para fazer alguns comentários adicionais
sobre as implicações dessas questões para a teoria e prática educacional
especificamente.2
1
A citação é tirada de uma entrevista entre Tsipras, líder do Syriza, o partido
de coalizão grega de esquerda, e a jornalista Helena Smith (The Guardian,
2012).
2
Eu sou especialmente grato aos meus amigos brasileiros e colegas pela
oportunidade de discutir e refletir sobre essas questões. Em particular, eu
gostaria de expressar minha gratidão de coração às Professores Cecília
Magalhães e Fernanda Liberali da PUC, em São Paulo, por organizarem e
me hospedarem em minha maravilhosa viagem ao Brasil, em Novembro de
2011. Na PUC eu tive o prazer de conduzir um minicurso de quatro dias sobre
o tema “Marx, Atividade e Educação” e gostaria de agradecer a todos aqueles
que fizeram parte do que foi uma muito agradável, e, espero, frutífera troca de
pontos de vista sobre estas matérias. Eu também sou muito grato à professora
Ivana Ibiapina, da Universidade Federal do Piauí pela sua hospitalidade e
seu convite para fazer uma apresentação sobre estas questões no Colóquio
de AFIRSE VI. O presente artigo é baseado nesta apresentação e é informado
pelas discussões que tivemos em São Paulo e Teresina.

Recebido em: 10/08/2012 – Aceito em: 02/09/2012

* Traduzido do original “Fundamental issues in cultural-historical research:


the Marxist connection” por Izabela Rodrigues Melo Souza e Renata Cristina
da Cunha
** Communication Studies . Sheffield Hallam University. E-mail: P.E.Jones@
shu.ac.uk
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As questões que eu vou tocar aqui são os seguintes:
1. O problema da relevância de Marx para a teoria histórico-
cultural;
2. Marx, “atividade” e problemas de metodologia na pesquisa
histórico-cultural;
3. Marx e educação: a relevância da obra de Marx para a teoria
e prática educacional;
4. Perspectivas para o diálogo e o desenvolvimento do trabalho
histórico-cultural na educação.

2 O problema da relevância de Marx para a teoria histórico-cultural

Muitas vezes, é dado como certo nas discussões da teoria


histórico-cultural que os princípios fundamentais desta tradição são
rastreáveis ao legado teórico e científico de Marx. Não foi Lev Vygotsky,
afinal, quem aspirou a criar uma “psicologia Marxista”, informada pelo
método de O Capital de Marx (Vygotsky, 1986)? E não foi a “Teoria
da Atividade” de A. N. Leont´ev (Leont´ev, 1978) a concretização do
conceito de “atividade” que Marx definiu mais claramente na mesma
obra? Mas as respostas a estas duas perguntas, como o leitor sabe, não
são simples ou incontroversas. Estudiosos divergem sobre que aspectos
da abordagem de Vygotsky, por exemplo, poderiam ser considerados
“Marxistas” de origem ou inspiração. Problemas semelhantes cercam as
teorias de Leont’ev (Jones, 2009) e a perspectiva alternativa oferecida
por S. L. Rubinštejn (1987), enquanto a versão mais recentemente
desenvolvida da “Teoria da Atividade” de Engeström Y (por exemplo,
1990) parece marcar uma ruptura radical com a tradição marxista,
apesar de algumas semelhanças terminológicas (Jones, 2009, 2011b).
Parece sensato, portanto, não apenas levantar questões sobre a
continuidade entre a teoria histórico-cultural contemporâneo e Marx,
mas também perguntar se essa continuidade é desejável. Será que
a conexão Marxista realmente ainda importa? Será que é hora de
reconhecer as limitações dos conceitos teóricos e an de Marx para as
nossas necessidades contemporâneas e explorar as vantagens de bater
em uma direção diferente? Mas, se assim for, que direção devemos ir?
E o sistema teórico deve ser a nossa bússola?
Estas são perguntas importantes e oportunas. Uma maneira
de lidar com elas é tentar chegar o mais claro quanto pudermos
30 Linguagens, Educação e Sociedade – Teresina, Ano 17, n. 27, jul./dez. 2012

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às idéias de Marx sobre as questões cruciais para que possamos
avaliar cuidadosamente a sua relevância e utilidade para nós hoje.
Nesse espírito, espero que este artigo possa oferecer uma pequena
contribuição em termos de esclarecimento.

3 Marx, “atividade” e problemas de metodologia na pesquisa


histórico-cultural

Sabemos que o conceito de “atividade” é a chave para exploração


filosófica e científica de Marx sobre a condição humana em geral e à
sua crítica da economia política em O Capital, mais especificamente.
Sabemos também que, “Teoria da Atividade” em suas diversas
manifestações tentou pegar um conceito Marxista de “atividade” como
um princípio fundamental para a sua análise das modernas formas de
prática social. A grande questão, claro, é se o mesmo conceito está
em jogo aqui.
Acostumamo-nos, através do nosso conhecimento (ou aplicação)
da “Teoria da Atividade”, particularmente na versão desenvolvida por
Engeström e colegas, (por exemplo, Engeström e Miettinen, 1999)
a falar sobre o mundo social hoje, como se ele pudesse ser dividido
essencialmente em complexas redes interconectadas de “atividades”
ou “sistemas de atividade”, sendo estes os blocos irredutíveis da prática
social e, portanto, o ponto de partida (ou “unidade de análise”) para a
exploração teórica e análise crítica. Assim, temos atividade educacional,
a atividade médica, a atividade de pesquisa científica, e atividade
industrial de algum tipo. Ou podemos ampliar ainda mais: uma lição na
escola, uma palestra acadêmica, um médico do trabalho, uma operação
cirúrgica em andamento etc.
Afirma-se frequentemente, ou assume-se, que esta noção de
“atividade” ou “sistema de atividade” é, em última análise, devido ao
próprio Marx, uma vez que emerge e se baseia na “Teoria psicológica da
atividade” que A. N. Leont’ev procurou construir com base na concepção
de Marx da atividade como o distintivo, ou até mesmo a definição,
característica da existência humana.
Mas se olharmos para a obra de Marx a partir da perspectiva
deste pressuposto, então, a sua maneira de fazer as coisas em Capital
deve parecer especialmente estranha. Em particular, por que Marx não
começa este célebre trabalho com uma lista detalhada e descrição de
todas as “atividades” e “sistemas de atividade” em exposição no seu
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dia e tenta conectar todos em um “mega sistema”? Por que ele não
começa com, digamos, tipos distintos de profissão ou emprego - trabalho
de fábrica, gestão, transporte, bancos, ensino, negociação etc - e, a
partir daí, elabora um quadro composto de “atividade” e “sistemas de
atividade” em uma escala de prática social como um todo? Por que,
em outras palavras, ele começa a sua análise em O Capital com a
mercadoria?
Pode-se facilmente concluir que abordagem de Marx e abordagem
do “sistema de atividades” simplesmente não são metodologicamente
compatíveis. E, de facto, deve notar-se que o conceito de “sistema
de atividade” como uma “unidade de análise” foi proposto como uma
alternativa à metodologia de Marx. Avaliar a pertinência da metodologia
baseada em mercadoria de Marx às complexidades da prática social
contemporânea, Engeström e Miettinen (1999: 9) concluem que “há uma
demanda por uma nova unidade de análise”, exigência que seu novo
conceito de “sistema de atividade “ é projetado para atender.
A fim de apreciar as razões para esta divergência metodológica
entre Marx e a “Teoria da Atividade” eu acredito que é necessário
compreender o significado muito especial que Marx deu ao seu conceito
de “atividade” em O Capital. Aqui, Marx (pelo menos na tradução do
Inglês) usa o termo triplo “atividade”, “processo de trabalho”, e “trabalho”
como sinônimos. Por exemplo, em um ponto, ele anuncia: “O trabalho é
a condição natural eterna da existência humana. O processo de trabalho
é nada mais que o trabalho em si, visto no momento da sua atividade
criativa”(1976: 998).
Marx continua a examinar a atividade humana, ou o “processo de
trabalho”, com mais cuidado, argumentando que os “elementos simples
do processo de trabalho” (1976: 284) são “independentes de todo o
desenvolvimento social específico” (1976: 998).
Parece óbvio, então, que Marx não poderia ter usado uma
categoria analítica que é “independente de todo o desenvolvimento
social específico” como um meio de descobrir o que é historicamente
e socialmente específico sobre produção capitalista ou mesmo sobre
qualquer forma realmente existente da sociedade. Afirmação da vida,
atividade de suporte de vida servindo as necessidades humanas e
prazeres é a base comum de todas as formas de organização social,
argumenta ele, e não pode, portanto, por si só, servir como um critério
ou método para distinguir as diferentes formas de organização social
de um para o outro.
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Ao contrário, Marx encontra o carácter distintivo da produção
capitalista não no fato de que a “atividade” (o “processo de trabalho”)
está acontecendo dentro dele, mas na incorporação do processo de
trabalho dentro de um outro processo, que ele chama de “processo de
valorização” (1976: 293). A produção capitalista produz bens úteis que
servem as necessidades humanas, mas

[...] produção também é um processo de valorização, e


aqui o capitalista devora a força de trabalho do trabalhador,
ou se apropria de seu trabalho vivo como o sangue vital
do capitalismo. Mercadorias e o objeto do trabalho em
geral existem só para absorver o trabalho dos outros, e o
instrumento de trabalho serve apenas como um condutor,
uma agência, para este processo de absorção. (1976: 1007).

O “processo de trabalho capitalista”, Marx explica, “não anula as


definições gerais do processo de trabalho”, uma vez que “produz tanto
o produto como a matéria prima” (coisas que são úteis, mas também
tem um preço). No entanto, “o processo de trabalho é apenas um meio
para a auto-valorização do capital” (1976: 1039).
Na análise de Marx, então, não é “atividade” (ou “processo do
trabalho”) como tal, mas sim, a relação específica (a “unidade”) entre o
processo de trabalho e processo de valorização que “é a base e estímulo
para o desenvolvimento de todas as práticas de trabalho historicamente
específicas em todas as esferas dentro de produção capitalista”.
O processo de produção capitalista se alimenta do processo de
trabalho; o explora; ele é um parasita para esse processo. Como todo
parasita que tem que manter seu hospedeiro vivo ele usa seu hospedeiro
e subordina-o para seus próprios fins e objetivos. E porque o processo
de valorização só existe na e através do processo de trabalho, não
é fácil distinguir os dois processos; eles se parecem a mesma coisa.
A fábrica de automóveis parece uma fábrica para a produção de
automóveis, mas é também - e mais importante - uma fábrica para a
produção de mais-valia do trabalho vivo, é o local onde as capacidades
criativas dos agentes humanos são capturadas (através da mercadoria)
e subordinadas à produção de lucro. Marx enfatizou essa dificuldade
em ver até o processo de valorização e expressamente advertido contra
a “confundir a apropriação do processo de trabalho pelo capital com o
próprio processo de trabalho” (1976: 998).
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Marx começa sua conta de produção capitalista em O Capital com
a mercadoria, um produto do trabalho, a fim de definir precisamente o
que é distintivo sobre produção capitalista. Agora, é claro, não é o caso
de que a produção de mercadoria por si só é de produção capitalista:
a produção de mercadoria já existe há milhares de anos em diferentes
formas e dentro de formas bastante diferentes de organização social.
Mas a análise de Marx mostra que a produção capitalista necessita de
produção de mercadoria e é impossível sem ela. O produto absorve o
trabalho do produtor de uma forma “portátil”, uma forma que pode ser
separada a partir do (‘alienado’ do) produtor ativo, e esta é socialmente
conseguida pela separação do produto a partir do produtor, que é a
premissa necessária para a exploração da atividade produtiva nas
relações especificamente capitalistas.
Marx começa aqui e mostra como a produção capitalista surge
como um sistema de produção de matérias-primas em geral, onde
todas as coisas são mercadorias, incluindo a força de trabalho em si.
E uma vez que a força de trabalho é uma mercadoria, então não só
obter o valor (que aparece no valor de troca), mas a mais-valia como
a riqueza criada pelo trabalho vivo é retirada no processo de produção
e absorvida em mercadorias que contêm mais valor do que os salários
oferecidos para o produtores em troca.
Este breve resumo da abordagem de Marx nos permite apreciar
a diferença fundamental entre o seu conceito de “atividade” e o que
circula dentro da “Teoria da Atividade”. “Atividade” (ou “o processo
de trabalho”) na obra de Marx não é apenas a descrição genérica ou
quadro descritivo-analítico para todas as práticas de trabalho concretas
na sociedade capitalista (ou de qualquer sociedade); ela é usada para
nos mostrar a diferença entre agir livremente, agir humanamente, agir
de acordo com as necessidades humanas por um lado e agir conforme
os ditames do capital, por outro. É um conceito que nos permite ver
nosso potencial criativo como uma espécie sendo presa, confinada e
degradada por outro processo. “Atividade” em Marx não é, portanto,
uma descrição das práticas de trabalho contemporâneas, mas uma
crítica delas; é um critério pelo qual podemos avaliar nossas práticas
sociais em relação às necessidades humanas e alterá-las, a fim de
libertar as nossas capacidades criativas de sua prisão temporária em
formas desumanas de vida. Se a “Teoria da Atividade” leva “atividade”
ou “sistema de atividade”, como uma “unidade de análise” para formas
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contemporâneas de organização social e práticas de trabalho, em
seguida, Marx, ao contrário, mostra que é a exploração da atividade de
capital, que é o fundamento de tais formas e práticas - uma fundação
que deve ser removida se as pessoas agirem em relação uns aos outros
de uma forma que faz jus ao seu potencial humano.
O conceito de Marx de ‘atividade’ (ou ‘processo de trabalho “),
portanto, deve ser sempre entendido em oposição ao conceito do
processo de valorização, que é o processo de exploração do processo
de trabalho, por mais difícil que seja para distinguir estes dois processos
com base em aparências imediatas ou experiência. A distinção de fato
se torna ainda mais crucial à medida que prossegue o desenvolvimento
capitalista, dando origem a formas de valor que são cada vez mais
distantes da verdadeira criação de valor no processo de produção:
temos aqui, em especial o que Marx chama de “capital fictício”, incluindo
a montanhas de dívidas agora esmagando a vida produtiva fora da
economia mundial, e todos os “instrumentos” financeiros dentro do
movimento do capital contemporâneo e prática bancária - o sistema
bancário sombra, fundos de hedge, futuros, derivados e assim por
diante (ver Harvey, 2011: 280 -1). A citação de Alexis Tsipras com que
comecei este trabalho vividamente, e sucintamente, coloca tudo isso
em perspectiva.
Nenhuma esfera da vida social em qualquer lugar do mundo
escapa ou é imune às consequências diretas ou indiretas da dominação
do capital sobre a produção social, sobre a “atividade”. Enquanto a
obra de Marx coloca a luta para o trabalho criativo, livre da exploração
capitalista no centro de sua análise, esta luta, juntamente com as
características distintas de práticas de trabalho capitalistas, desaparece
da imagem por completo quando um conceito sem graça e genérico
de “atividade” ou “sistema de atividade” (ver Bakhurst, 2009) é feita no
ponto de partida, e no quadro geral, para análise.
No entanto, estes comentários não são destinados como um
despedimento dos insights e realizações de qualquer marca de “Teoria
da Atividade” do ponto de vista doutrinário de alguns “Marxistas”, mas,
afim de provocar uma discussão sobre onde nossas teorias estão nos
levando e o que nós queremos delas. Mais especificamente, eu acredito
que nós precisamos esclarecer uma série de coisas: a) o escopo, as
vantagens e limitações de versões de “Teoria da Atividade” em relação
ao projeto de Marx em Capital e b) a relação de “Teoria da Atividade”
desenvolvida por Engeström e colegas para as psicologias de atividade
de A. N. Leont’ev e Rubinštejn SL, em particular.
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4 Marx e educação: a relevância da obra de Marx para a teoria e a
prática educacional

O problema geral que estamos abordando é a questão básica


de como entendemos o que está acontecendo na sociedade e como
trabalhamos o que fazer sobre isso. Mais especificamente, estamos
preocupados com a forma como abordamos a tarefa de compreender
o papel social específico e função social das instituições de ensino e
práticas educativas na sociedade de hoje, o que podemos fazer para
transformá-las, e como essa transformação pode contribuir para a
transformação das relações sociais de modo geral. Nesse contexto,
quais são as implicações do método e idéias de Marx discutidas acima
para a compreensão da educação na sociedade capitalista?
Vimos que a análise de Marx em O Capital começa com a matéria-
prima, e nós vimos o porquê. Mas a análise de Marx não termina aqui,
é simplesmente o ponto de partida para uma recriação sistemática de
todas as relações sociais, funções e práticas próprias de uma sociedade
baseada na exploração da atividade humana através de produção de
mercadorias. A sua análise inicial leva o processo de produção de forma
isolada a partir de todos os outros processos e formas de “atividade”,
num sentido mais geral, incluindo a educação, direito, política e assim
por diante, em que é necessariamente incorporado. Tal isolamento,
ou “abstração”, é visto por Marx como essencial para a construção
de uma imagem totalmente “concreta” da sociedade capitalista, no
pressuposto de que a produção capitalista em ascendência se esforça
para reformular e redesenhar todos os domínios da vida social para
servir os interesses do capital e de reprimir ou subornar todas as
formas de resistência a essa dominação. Ao mesmo tempo, os agentes
do processo de trabalho lutam para se proteger da exploração, para
obter uma maior parte do produto de seu próprio trabalho na forma de
salários mais elevados, habitação, educação, saúde e assim por diante
e desenvolver suas próprias formas de organização - os sindicatos e
partidos políticos - para melhorar e ampliar seus poderes através da
coletividade de resistência e de articular uma visão alternativa.
Se a exploração do trabalho vivo é o “fato” econômico básico da
produção capitalista, esse “fato” é constantemente contestado, uma
competição que se desenrola em toda a sociedade, pois todas as
esferas da vida e do trabalho estão interligados na base deste “fato”.
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O próprio Marx não era doutrinário “maximalista”, mas o mais
ferrenho apoiante de qualquer tentativa de melhorar as condições de
trabalho e as práticas ou condições de vida em geral, dentro do quadro
das relações de exploração de produção. Qualquer medida humana,
incluindo a mudança legal ou constitucional, que invadir e limitar as
demandas e domínio do capital foi tomada como um passo positivo para
a afirmação e certificação de valores humanos, do potencial humano.
Todas essas lutas, ainda que em pequena escala, ofereceram espaço
para um concurso de objetivos e prioridades políticas e as realizações
feitas criaram pontos de paragem para a mais ampla e profunda
mudança e transformação social.
Assim, o método de Marx não implica uma diminuição de toda e
cada esfera de produção ou prática de trabalho na sociedade para o
mesmo modelo abstrato, mas no traçado como essas esferas e práticas
crescem como interdependentes e inter-relacionados na base da luta
para impor, e para resistir, à exploração capitalista do trabalho. Na
verdade muitas esferas da vida profissional não parecem envolver a
produção de mais-valia em tudo, ou até mesmo mercadorias, embora,
claro, eles sejam dependentes, e conectados, à mercadoria e à
produção de mercadoria em cada ponto. O próprio poder de trabalho dos
profissionais que trabalham dentro dessas esferas é mercantilizado (eles
trabalham por um salário) depois de tudo. Escolas, enquanto ‘servindo’
estudantes, são “entidades empresariais” inteiramente dependentes de
orçamentos para a compra e consumo de mercadorias, além de pagar
os salários. Mas quem define o orçamento e de onde o dinheiro veio?
Quais linhas (política ou estratégica) estão ligadas? E que efeitos, que
resultados e conseqüências as práticas de educação têm dentro da
sociedade? Em todos os casos, o problema analítico não é simplesmente
notar que os produtos são consumidos (já que os mesmos estão em
todos os lugares), ou que os recursos são apertados e sua alocação
impugnada, mas ver como esta esfera social está ligada às esferas
mais amplas e também mais profundas da atividade econômica e da
exploração do trabalho pelo capital. A abordagem de Marx não é sobre
a aplicação de um modelo genérico de análise ou de fórmula, mas sobre
o rastreamento e análise de interação, interconexão e possibilidades
de mudança dentro de todo o sistema. Em outras palavras, mesmo
que admitamos que os professores no setor da educação pública, por
exemplo, não sejam “trabalhadores produtivos” (Marx, 1976: 1044) (ou
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seja, a produção de mais-valia), a tarefa principal da análise é entender
sua posição dentro da formação social que é construída em torno de
“trabalho produtivo”.
O quê, então, é específico para a “educação” sob condições
capitalistas? Qual é o papel desempenhado pelas instituições de
concreto e práticas educativas nas sociedades construídas em torno
da exploração do trabalho? Primeiro de tudo, não seria sensato do
ponto de vista de Marx tomar os valores auto-proclamados e virtudes
das instituições de ensino próprias pelo valor de face, ou como ponto
de partida para a análise. A fábrica de automóveis, observamos, é a
produção de automóveis (quando os tempos são bons), mas, mais para
o momento, é um local para a produção de mais-valia. O que exatamente
está sendo “produzido”,então, nas escolas e salas de aula?
Aqui é um ponto de vista do trabalho clássico Reimer na educação
mundial (1971: 23):

Escolas diferentes fazem coisas diferentes, claro, mas cada


vez mais, as escolas em todas as nações, de todos os tipos,
em todos os níveis, combinam quatro diferentes funções
sociais: cuidados de custódia, a seleção do papel social,
doutrinação e educação, geralmente definidas em termos
de desenvolvimento de habilidades e conhecimentos. É a
combinação destas funções o que torna a escolaridade tão
cara. É o conflito entre essas funções o que torna escolas
educacionalmente ineficientes.

É interessante que a “educação como geralmente definido” vem


por último, e como menos importante, na lista de Reimer de funções.
A análise de Reimer não é baseada em Marx, embora ele não seria
muito difícil retrabalhá-la a partir de uma perspectiva marxista. E, de
fato, não há falta de erudição marxista sobre a educação e seu papel
social e potencial (ver Green, Rikowski & Raduntz, 2007).
Como observado em Jones (2011a), Marx não via a escolaridade
obrigatória como uma conspiração capitalista para escravizar
ideologicamente a classe trabalhadora, mas como uma reforma
necessária e progressiva que protegia os filhos de famílias da classe
trabalhadora contra a exploração nas fábricas e minas, poupando suas
vidas e saúde no processo. Este movimento também os protegeu de
suas próprias famílias, que, como resultado da pobreza e exaustão,
foram obrigados a forçar seus filhos para o trabalho abusivo e
explorador. Em Marx, a “função de custódia” de Reimer é um escudo,
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uma medida humanitária, uma atenuação das forças de exploração no
trabalho na sociedade e, na mesma medida, representa uma incursão
tanto cultural quanto econômica em uma hegemonia capitalista. Esta
separação legalmente forçada de trabalho (infantil) a partir de capital
e as pressões da pobreza doméstica cria um espaço de possibilidades
para a ação intelectual e prática em relação às relações sociais dentro
e fora da escola. Exatamente o que acontece na escola é, portanto,
desde o início também um concurso, ou melhor, faz parte da maior
competição entre trabalho e capital. Ao mesmo tempo, a separação
dos sistemas de ensino do mundo do trabalho transforma “educação”
em um negócio muito peculiar, problemático e profundamente em
conflito, como a teoria histórico-cultural tem tido o cuidado de salientar
(veja a discussão em Jones, 2011a). Assim, os sistemas escolares
concretos são sempre o resultado de um complexo equilíbrio de forças
concorrentes e conflitantes na sociedade em geral.
Qualquer sistema ou instituição de ensino, portanto, representa
uma confluência instável de várias funções sociais que representam
interesses sociais conflitantes. Isso significa também que o papel da
escola, ou do professor individual, com relação a essas lutas sociais
mais amplas, não é nem pré-determinado nem gravado em pedra: o
papel social da escola é ganhar. Afirmar, por exemplo, que a educação
é um direito de todos, que deve realmente educar, motivar e inspirar,
que deve ajudar a proteger-nos da exploração e da pobreza, que não
deve reproduzir, mas combater a desigualdade social - tudo isso é
também uma chamada às repartições: ele diz o que a educação deve
ser, o que pode ser, e nos leva a encontrar formas e meios para torná-
la assim. Assim como, por exemplo, dizer que a água boa e limpa deve
ser acessível e gratuita para todos é ao mesmo tempo um desafio para
as concessionárias privadas (e seus apoiadores políticos) que lucram
com os recursos naturais, deixando milhares de milhões de pessoas
no mundo todo sem beber água adequada. Do ponto de vista de Marx
a luta contra a exploração é uma a ser realizada em todas as frentes e
pode começar em qualquer lugar, já que todos os desafios para o status
podem se tornar, nas palavras de Harvey (2011: 231), “os pontos co-
revolucionários em torno do qual a ação social poderia convergir e girar”.
Isto significa que os professores têm a oportunidade, quando as
circunstâncias são propícias, para fazer uma diferença real para as suas
comunidades e sua classe. As escolas podem oferecer oportunidades
seguras de aprender fora de casa, fora do local de trabalho, fora das ruas,
pois eles podem ajudar a aumentar a conscientização de crianças e suas
famílias de problemas básicos de saúde, podem se tornar catalisadores
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de auto-educação de uma comunidade, podem ajudar comunidades
a se organizar, ajudá-los a encontrar sua voz e ter uma voz, a ganhar
confiança e reforçar o seu sentido de identidade, a criar uma visão de
um futuro alternativo para as pessoas que trabalham e os mais pobres
da sociedade e desafiar as desigualdades financeiras que determinam
oportunidades de vida e, de fato, a expectativa de vida, e que podem
ajudar a criar uma nova visão do que é a verdadeira aprendizagem e
como deve ser desenvolvida e recompensada. Se oportunidades deste
tipo podem ser feitas ou apreendidas, então, a escolaridade torna-se
uma prática poderosa de transformação. Nessas circunstâncias, o
professor pode se tornar modelo para capacitação e consciência social,
assim como os empregadores iluminados, ao fornecer condições para o
trabalho e realizar com dignidade e em espaços onde a aprendizagem
e crescimento pessoal pode ocorrer, também pode desempenhar um
papel no avanço da causa de mudança social progressista.

5 Perspectivas para o diálogo e o desenvolvimento histórico-


cultural do trabalho na educação

Comecei com algumas considerações teóricas abstrusas e depois


mudei para uma conversa, espero que em termos mais concretos, sobre
as implicações dessas questões para a compreensão da educação
e o papel potencial que as escolas podem desempenhar dentro do
mais amplo contexto social sobre a exploração do trabalho. Nesta
discussão, tentei enfatizar o que acho que são as vantagens, ou pelo
menos possibilidades, na abordagem de Marx de processos sociais
em relação a uma “atividade” ou abordagem de “sistema de atividades”
como as desenvolvidas pela “Teoria da Atividade”.
No entanto, deve-se reconhecer que a teoria histórico-cultural,
e a “Teoria da Atividade” especificamente, já fizeram contribuições
consideráveis e significativas tanto para a crítica contemporânea das
práticas educativas e para a sua mudança e melhoria na prática (por
exemplo, Engeström, 1999, 1991 e ver Jones, 2011a). Com essa luz,
talvez seria sensato não apenas destacar a divergência entre Marx
e as abordagens de “atividade”, mas explorar a convergência ou
complementaridade, pelo menos dentro de certos limites.
Talvez seja melhor, então, não tomar “Teoria da Atividade” como
uma alternativa à teoria de Marx ou metodologia em termos de uma
“grande teoria”. Em vez de criticar esta abordagem por não fornecer
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uma visão das relações sociais capitalistas, ou da especificidade
dessas relações, talvez devêssemos positivamente enfatizar seu papel
útil em relação a questões locais de organização do trabalho onde a
exploração de mão de obra no sentido de Marx não está ocorrendo
, ou seja, na área da saúde pública e da educação ou de outras
equipes de trabalho que estão a alguma distância ou têm algum grau
de autonomia no que diz respeito à relação trabalho-capital? Afinal
há muitos problemas que surgem e que podem ser resolvidos em um
dia-a-dia sem fazer uma revolução. Há muitas maneiras de melhorar
as condições de trabalho, a qualidade do serviço, a vida das pessoas
e sua saúde e o status social em geral, sem derrubar o capitalismo. A
“abordagem da atividade”, sem dúvida, serviu como uma ferramenta
útil para a exploração do “tempo justo” e intervenção em ambientes
públicos onde o valor é consumido em vez de criado. Mas as condições
do tempo justo não são garantidos, é claro: você pode trabalhar duro
para melhorar o atendimento ao paciente na clínica ou para melhorar
o ensino de alfabetização em sala de aula apenas para descobrir que
sua clínica desapareceu graças a “medidas de austeridade” ou o seu
programa de alfabetização tem sido substituído por um imposto do
governo (e contratados privadamente) de regime “sintético fonético”.
Mas isso é exatamente onde Marx se encontra, ou seja,
onde nós precisamos ver o cenário maior em que nossas próprias
práticas e aspirações cabem. O aparentemente concreto trabalho
de “atividade” de qualquer esfera profissional particular ou ramo da
divisão social do trabalho pode então nos parecer um tanto abstrato
e, conseqüentemente inútil, ponto de partida para tentar encontrar
uma compreensão clara dos processos mais profundos da sociedade
e os conflitos que formam, muitas vezes de forma drástica e sem
compromisso, as vidas e os meios de subsistência de centenas de
milhões de pessoas. Quando chegamos a essas grandes crises na
vida social torna-se talvez um pouco mais evidente que a “Teoria
da Atividade” não é tanto uma continuação da abordagem de Marx
como uma espécie de teoria desacreditada que borra as linhas claras
conceituais que Marx desenhou e artigos sobre as rachaduras e defeitos
dentro da realidade social que Marx procurou expor.
No entanto, outros podem discordar dessa avaliação. Espero,
portanto, que a discussão e o debate em torno destas questões
continuem.
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DESEMPENHO PROFISSIONAL, MOTIVO DA PERMANÊNCIA
NO MAGISTÉRIO E OS SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS À
PROFISSÃO DOCENTE: NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS DE
PROFESSORAS DO 1º AO 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

Maria Goreti da Silva Sousa*


José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho**

RESUMO

O presente artigo é o recorte de uma das categorias de análise da


Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Educação da Universidade Federal do Piauí – UFPI- PPGEd no
ano 2008, cujo objetivo é revelar o desempenho profissional, o motivo
da permanência no magistério e os significados atribuídos à profissão
docente de professoras do 1º ao 5º ano do ensino fundamental da
Escola Municipal Moaci Madeira Campos, em Teresina-PI. Optamos
pela pesquisa qualitativa, empregando os pressupostos teóricos
e metodológicos da pesquisa autobiográfica (história de vida).
Fundamentamos nossa opção metodológica em diversos teóricos que
têm contribuído com seus estudos e pesquisas, sobre a importância
do uso dessa alternativa de investigação que leva em conta novas
propo stas sobre formação de professores e profissão docente, dentre
eles destacamos: Ferraroti (1988), Dominicé (1988), Nóvoa e Finger
(1988), Nóvoa (1988), Pineau (1988), Josso (1988, 2004) Bolívar
(2002), e outros. Utilizamos como técnica de coleta de dados entrevista
semiestruturada com 12 professoras em efetivo exercício do magistério.
Os resultados evidenciaram que a formação inicial e continuada, o
exercício da docência, a participação em movimentos sindicais, sociais,
religiosos, vida familiar, o compromisso, a responsabilidade, trocas com
colegas, convivência com profissionais comprometidos, competentes e
responsáveis com a educação foram fundamentais nesse percurso e
Recebido em: 17/09/2012 – Aceito em: 11/11/2012

* Mestre em Educação- UFPI; Especialista em Psicopedagogia e docente


da FAESPI; Supervisora de Projetos-SEMEC; Professsora Formador do
PARFOR- UFPI. E-mail: [email protected];
**Prof. Dr Associado da UFPI/CCE Prog. de Pós- Graduação em
Educação(PPGEd); Diretor do Centro de Ciências da Educação –CCE –
UFPI. E-mail: [email protected]
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desempenho profissional das interlocutoras desta pesquisa. O grupo
revelou também que o amor pela profissão, a realização pessoal e
profissional, a identidade profissional e a crença na relevância social
da profissão para a sociedade são indicadores fundamentais para que
permaneçam no magistério até os dias atuais.

Palavras-chave: Profissão docente. Desempenho profissional.


Professoras. História de Vida.

ABSTRACT

This article is the cutout of a category of analysis Dissertation submitted


to the Graduate Program in Education, Federal University of Piauí
– UFPI-PPGEd in 2008, whose goal is to reveal the professional
performance, the reason for the permanence in teaching and the
meanings attributed to the teaching profession of teachers from 1st to
5th grade of elementary school in Madeira City School Moaci Fields in
Teresina-PI. We chose qualitative research, employing the theoretical
and methodological research autobiography (life story). Fundamentamos
our methodological choice for many theorists who have contributed
their studies and research on the importance of using this alternative
research that takes into account new proposals on teacher education
and the teaching profession, among which we highlight: Ferraroti (1988),
Dominicé (1988) and Finger Nóvoa (1988), Nóvoa (1988), Pineau (1988),
Josso (1988, 2004) Bolivar (2002), and others. Used as a technique for
data collection semistructured interviews with 12 teachers in effective
practice of teaching. The results showed that the initial and continued
the practice of teaching, participation in trade union movements, social,
religious, family, commitment, responsibility, exchanges with colleagues,
living with committed professionals, competent and responsible with
education were essential in this course and professional performance
of the interlocutors of research. The group also revealed that love for
the profession, the personal and professional achievement, professional
identity and belief in the social importance of the profession to society
are key indicators to remain in teaching until today.

Keywords: Teaching profession. Professional performance. Teachers.


Life History.
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1 Introdução

Este estudo é resultado de parte da pesquisa desenvolvida em


nível de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal do Piauí – UFPI- PPGEd (SOUSA,
2008). O propósito deste artigo é revelar o desempenho e o percurso
profissional de professoras do 1º ao 5º ano do ensino fundamental
da Escola Municipal Moaci Madeira Campos¹1, situada na cidade de
Teresina-PI. Escolhemos a referida escola como campo da pesquisa pelo
fato de essa instituição apresentar dados concretos que a caracterizam
como uma singularidade no contexto educacional, tanto em nível local,
como nacional pelas práticas pedagógicas que nela têm se realizado.
O trabalho pedagógico da escola tem sido destaque, tornando-se
inclusive, objeto de várias pesquisas de mestrado e doutorado. Essas
pesquisas têm propiciado ao grupo momentos de reflexão sobre o
trabalho pedagógico e social que desenvolve na sociedade teresinense.
Para concretização desse propósito, fizemos opção pela pesquisa
qualitativa, empregando os pressupostos teóricos e metodológicos da
pesquisa autobiográfica (história de vida). Pela natureza do trabalho, foi
necessária a imersão na história de vida profissional das professoras
para que pudéssemos analisar o seu percurso profissional a fim de
buscarmos respostas para atender ao objetivo proposto neste trabalho
de pesquisa.
O estudo autobiográfico, portanto, aprofundou sistematicamente
o conhecimento da realidade das interlocutoras, tendo como referência
seus processos formativos, desde a formação inicial até a formação
continuada, enfocando suas contribuições para a profissionalização
docente a partir de uma perspectiva de formação como mudança. As
narrativas de cunho autobiográfico, colhidas através das entrevistas,
permitiram ainda tratar de temas que foram além das nossas
expectativas.
Para realização desta investigação, empregamos, como técnica
de coleta de dados, a entrevista semiestruturada gravada com o grupo
de doze professoras em efetivo exercício do magistério que atendiam
aos critérios pré estabelecidos e aceitaram participar desta investigação.
A seguir pontuamos, com base no posicionamento de alguns
autores, as concepções teóricas sobre o método autobiográfico e
os estudos sobre histórias de vida de professores; na sequência,
apresentamos um breve perfil da equipe pedagógica da Escola
1
A Escola Municipal Moaci Madeira Campos está situada na Rua Dean Rusk de
Andrade Nº 4726 – Residencial Santa Sofia- Teresina Piauí. CEP 64. Apresenta
IDEB de 6.1, no quadro das escolas da rede municipal de Teresina.
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Municipal Moaci Madeira Campos, os relatos do desempenho e o
percurso profissional dessas professoras; os motivos da permanência
no magistério e os significados atribuídos à profissão docente e por fim
as conclusões acerca da investigação.

2 O método autobiográfico e os estudos com histórias de vida de


professores: pontuais questões teóricas e metodológicas

O método autobiográfico e os estudos com história de vida dos


professores é uma opção metodológica que encontrou apoio em diversos
teóricos que têm contribuído com seus estudos e pesquisas. Para
esses autores, a importância do uso dessa alternativa de investigação
leva em conta novas propostas sobre formação de professores e
profissão docente, ou seja, trata-se de uma abordagem da formação
que considera os professores como sujeitos do processo. Dentre esses
autores, podemos destacar: Ferraroti (1988), Dominicé (1988), Nóvoa e
Finger (1988), Nóvoa (1988), Pineau (1988), Josso (1988,2004) Bolívar
(2002), e outros.
O método autobiográfico e os estudos com histórias de vida de
professores têm sido uma opção no campo da pesquisa qualitativa.
Nóvoa (1995) destaca a importância crescente que as histórias de vida
têm adquirido nos estudos sobre a vida, as carreiras e os percursos
profissionais, as biografias/ autobiografias ou o desenvolvimento
pessoal dos professores. Segundo o autor, tal relevância deu-se a
partir da publicação da obra “O professor é uma pessoa,”de autoria
de Ada Abraham, publicada em 1984. Na visão de Nóvoa, trata-se de
uma produção heterogênea, de uma importância fundamental para a
educação, haja vista “[...] recolocar os professores no centro dos debates
educativos e das problemáticas de investigação” (1995, p. 15), o que
tem sido uma necessidade contemporânea.
Assim, a ênfase nessa modalidade de pesquisa requer um
novo olhar em relação aos métodos convencionais de investigação
existentes desde as primeiras décadas do século passado, ou seja
o século XX. No âmbito de tais considerações, é preciso frisar que,
apesar das diferentes modalidades de pesquisa, o interesse crescente
pelo uso das abordagens (auto) biográficas, conforme destaca Ferraroti
(apud NÓVOA, 1995, p. 18), justifica-se devido à crise dos paradigmas
hegemônicos da sociologia e da ciência, para esse autor:
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O homem é o universo singular. Pela sua práxis sintética,
singulariza nos seus actos a universalidade de uma
estrutura social. Pela sua actividade destotalizadora/
retotalizadora, individualizada, a generalidade de uma
história social coletiva. Eis-nos no âmago do paradoxo
epistemológico que nos propõe o método biográfico. [...]. Se
nós somos, se todo o indivíduo é a reapropriação singular
do universal social e histórico que o rodeia, podemos
conhecer o social a partir da especificidade irredutível de
uma práxis individual.

Essa concepção remete para o fato de que o eu é uma construção


que integra o eu e o si, o sujeito e o indivíduo, para fazer dele um ator
social, ou seja, não separa o sujeito do individual de seus papéis sociais.
Nessa perspectiva, Josso (2004, p. 23) afirma que

O entusiasmo pela perspectiva biográfica aparece


inseparável da reabilitação do sujeito e do autor. Esta
reabilitação pode ser interpretada como um retorno ao
pêndulo depois da hegemonia do modelo de causalidade
determinista das concepções funcionalistas, marxistas
e estruturalistas do indivíduo, que dominaram até o final
dos anos setenta. Dentre as conseqüências desses dois
conceitos para pensar a pessoa, encontramos, de forma
bem evidente, uma redescoberta da problemática da
intencionalidade e a sua tradução pragmática nas múltiplas
facetas do projeto, (grifos da autora).

Segundo Bolívar (2002), as metodologias (auto) biográficas


permitem constituir os professores como sujeitos de sua própria
formação, com trajetórias profissionais e um estágio de desenvolvimento
determinado. Nas narrativas, manifesta-se o mundo dos sujeitos, e as
histórias pessoais da experiência profissional permitem:

[...] fazer um inventário de experiências, saberes e


competências profissionais; ao mesmo tempo, ao
recuperar, biográfico-narrativamente, o sujeito a formar ¬- a
partir de suas experiências e lembranças do passado no
presente – convertem-se numa metodologia de formação.
(BOLIVAR, 2002, p. 107).

Com essa perspectiva de formação, em que o sujeito é ator e autor


ao mesmo tempo, o método (auto) biográfico afirma-se como solução
alternativa aos desafios advindos dos processos educacionais colocados
pela educação pós-moderna, pois, numa mudança paradigmática,
apoia-se numa posição humanística, facultando a compreensão do
que pensa o sujeito (professor) sobre sua formação, ao tempo que ele
mesmo se forma e aprende (GONÇALVES, 1995).
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Os estudos mostram que o método autobiográfico contribui para
que se dê voz e vez aos profissionais do ensino, conforme postula Nóvoa
(1995), a docência é uma profissão sobre a qual há muito que se dizer.
Essa renovação metodológica, que atribui à subjetividade do sujeito
um valor de conhecimento, considerando o comportamento humano
com toda sua complexidade, é fundamental nesta investigação sobre o
processo de profissionalização docente, embora não desconsideremos
a objetividade dos fatos.
Ainda segundo Nóvoa (2004), o processo formativo que a
metodologia autobiográfica desencadeará, ao explicitar a singularidade
e com ela vislumbrar o universal, oportuniza a percepção do caráter
processual da formação e da vida. Esse processo articulado aos
vários contextos foi, para nós, uma preocupação ao relacionarmos os
fatos a serem observados neste tipo de pesquisa. Nessa perspectiva,
concordamos com Moita (1995, p. 114), ao afirmar que “[...] o conceito
de formação é tomado não só como uma actividade de aprendizagem
situada em tempo e espaços limitados e precisos, mas também como
a ação vital de construção de si próprio [...]”nesse sentido a relação
entre vários polos de identificação é fundamental. Assim, a abordagem
autobiográfica confirma-se como um movimento de investigação-
formação, ao dar destaque aos processos de conhecimento e formação
de professores.
Para o prosseguimento deste trabalho, as doze professoras
da amostra passaram a ser chamadas de interlocutoras e nomeadas
da seguinte forma: P1, P2, P3, P4, P5, P6, P7, P8, P9, P10, P11
e P12. As narrativas colhidas através da entrevista representaram
uma reinterpretação dos acontecimentos vivenciados em diferentes
momentos da vida pessoal e profissional dessas profissionais. Segue
breve perfil do grupo que participou da pesquisa.

3 A equipe pedagógica da Escola Municipal Moaci Madeira Campos

A equipe pedagógica da Escola Municipal Moaci Madeira


Campos é constituída somente por mulheres, fato que não nos
causou estranheza, visto que a presença marcante do sexo feminino
no magistério advém de um longo processo histórico cuja tendência é
analisada por vários pesquisadores da educação, como Séron (1999),
Chamon (2005), Vilella (2000), dentre outros.
A esse respeito, Séron (1999) destaca que “Um traço peculiar
do professorado como grupo de status é a feminização; numa primeira
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aproximação, o processo pelo qual a mulher foi se incorporando à
docência, até ultrapassar em número ao homem” (p. 58). Ainda nesse
sentido é importante ampliar essa percepção, ressaltando que a presença
marcante de mulheres trabalhando na Escola Municipal Moaci Madeira
Campos e no Magistério, de um modo geral, é decorrente de todo um
processo de feminização do magistério, sendo que “[...] existem mais
professoras do que professores, mas de forma majoritária no ensino
infantil e primário; sendo menor sua presença no ensino secundário e
na universidade” (SÉRON, 1999, p. 58). Todo esse processo de inserção
da mulher no mercado de trabalho (setor público) está inserido numa
teia das dinâmicas sociais que inclui a motivação para o acesso ao
ensino, a idade de ingresso no sistema educativo, os fatores de ordem
econômica, demográfica, religiosa e política.
As professoras interlocutoras desta pesquisa estão na faixa
etária que se estende dos 32 aos 47 anos de idade, e pelo tempo que
exercem a docência, há mais de 6 anos, todas já passaram pelo choque
da realidade e descoberta, conforme descreve Huberman (1995), ao
estudar as tendências gerais do ciclo de vida dos professores. O ciclo
de vida não se configurou aqui objeto deste estudo, portanto fizemos
apenas uma breve menção a tal situação, haja vista que tratamos
também de tempo de serviço das professoras.
No traçar desse perfil, buscamos também dados referentes à
situação de trabalho dessa equipe de profissionais, verificando que
9 professoras (75%) trabalham em regime de 40 horas na escola
pesquisada, enquanto somente 3 (25%) trabalham 20 horas. Do total
das 12 professoras, aparecem ainda 3 (25%) que atuam como docentes
em instituições de Cursos Superiores, Ensino Médio e Fundamental
das redes pública e privada, totalizando uma jornada de trabalho de
60 horas semanais.
Considerando que as doze interlocutoras selecionadas
encontram-se em efetivo exercício da docência, pontuaremos a partir
de agora aspectos relevantes do seu percurso profissional, a fim de nos
aproximarmos do propósito deste artigo que é revelar o desempenho e
o percurso profissional desse grupo de professoras dos anos iniciais
do ensino fundamental da Escola Municipal Moaci Madeira Campos.
Assim, partindo dessas reflexões, da problemática, deste trabalho
apresentamos, neste artigo, a análise e interpretação e conclusões
resultantes das leituras e releituras dos relatos autobiográficos das
doze professoras interlocutoras desta investigação.
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4 O Desempenho e o Percurso Profissional de Professoras do 1º
ao 5º ano do Ensino Fundamental

O desempenho e o percurso profissional de professores têm


sido uma temática bastante discutida no contexto da sociedade
contemporânea. A dimensão profissional do trabalho docente requer,
como parte essencial do processo de profissionalização, a formação
inicial e a continuada, concebidas de forma articulada, tanto entre si
como em relação ao projeto mais amplo da profissionalização docente.
É, pois, próprio da formação permitir ao professor a compreensão
das questões envolvidas no trabalho, a competência para identificá-
las, bem com a autonomia para tomar decisões, inserir-se e interagir
coletivamente com a comunidade social em que se insere. Nesse
particular, comungamos com o pensamento de Contreras (2002, p. 82),
quando destaca que:

Já não estamos falando do professor, da professora


isolados em sua sala de aula, como forma de definir o lugar
de sua competência profissional, mas da ação coletiva
e organizada e da intervenção naqueles lugares que
restringem o reconhecimento das conseqüências sociais
e políticas, do exercício profissional do ensino.

Há um consenso de que a natureza da prática pedagógica requer,


no atual contexto, competências necessárias ao exercício da profissão,
o que se confirma com alguns artigos da nova Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDBEN 9394/96), que traz, no seu
texto, a abrangência, finalidades e incumbências hoje atribuídas ao
professor. Tudo isso sinaliza para uma nova cultura profissional, uma
vez que não se restringem somente à docência, mas a um projeto
maior de educação. São, pois, funções que trazem no seu bojo mais
responsabilidade e compromisso aos professores e delineiam o campo
de atuação profissional dos docentes.
As competências profissionais referenciadas apoiam-se também
no domínio dos saberes, abordados por Tardif (2002), que enfoca a
natureza deles, e como são adquiridos, além de outros aspectos da
sua gênese. Segundo o autor, contrapondo-se a outros conhecimentos
reproduzidos, o saber dos professores é um construto social, significado
e resssignificado na prática docente. Os professores devem, portanto,
ser sujeitos do conhecimento, criando e recriando suas práticas sem
submeter-se a modelos, nem à mera aplicação de teorias ou ações
prévias programadas por outros.
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Esse sentido de determinar e assegurar que o professor
desenvolva as competências, saberes e atitudes que o definem como
profissional docente é, desse modo, uma tarefa indispensável à
profissionalização do ensino. Nessa perspectiva, é urgente perceber
o processo de formação dos professores de uma forma muito mais
ampla, que incorpore a ideia de trajetória profissional não como uma
linearidade, mas uma como construção em que as experiências se
juntem a outros saberes, e que os momentos estáveis e instáveis, quer
sejam políticos, sociais, pessoais, e culturais, sejam influenciadores
e proporcionadores de aprendizagens significativas no processo de
profissionalização docente.
Esses processos devem ser construídos a partir das trocas no
exercício da profissão, contextualizados nas instituições escolares nas
quais os docentes atuam, propiciando-lhes oportunidades de estudos
e reflexão sobre a trajetória profissional, desde o seu início.
Ao abordarmos o desempenho e o percurso profissional das
professoras interlocutoras desta pesquisa, imergimos numa reflexão
profunda sobre nossa prática docente, haja vista termos histórias de
vida semelhante a alguns aspectos da trajetória profissional desse grupo
de professoras, entretanto não nos envolvemos intensamente, a fim de
não prejudicarmos as análises. Nessa busca, imergimos nas histórias
de vida dessas profissionais, na intenção de encontrarmos elementos
que nos proporcionassem um olhar interpretativo e analítico sem perder
de vista o objetivo maior deste trabalho.
A compreensão dessa categoria que se volta para o desempenho
e o percurso profissional de professoras nos levou a concordar com
Carvalho (2006, p. 12), ao destacar que “Ao atravessar os portões da
escola, da faculdade, da universidade, o professor não deixa lá dentro
dos seus muros o trabalho e as preocupações com o ensino. Sua
casa, seu lar tem sido a extensão do fazer docente”. Essa afirmação
vai se confirmando nos relatos que colhemos das doze professores
que participaram desta pesquisa, conforme pode ser constatado em
alguns recortes narrativos selecionados para as análises pontuados
no decorrer do texto.
Nos relatos que abordam o desenvolvimento e o percurso
profissional das professoras, foi possível constatarmos como tem se
dado sua evolução pessoal e profissional ao longo da carreira. Buscamos
apoio em Carrolo (1997, p. 23), ao postular que: “[...] a dimensão
pessoal e a profissional se interpenetram e interferem produzindo,
uma ambivalência [...].”Em nosso entendimento, essa ambivalência
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diz respeito ao fato de nossas interlocutoras viverem uma situação em
que uma dimensão está fortemente imbricada na outra, sendo que, às
vezes, se confundem numa só. Nóvoa (1995, p. 15) esclarece que “o
professor é a pessoa; e uma parte importante da pessoa é o professor”,
teorização confirmada nas falas de nossas interlocutoras.
A evolução pessoal e profissional ao longo da carreira é relatada
pela P5 como uma evolução que foi se afunilando ao longo de mais de
vinte anos de atuação docente, ao ponto de ela se considerar professora
não só no campo profissional, conforme podemos constatar no recorte a
seguir: “[...] eu comecei a atuar muito jovem, fui amadurecendo no agir
e no pensar, essa identidade pessoal e profissional foram se misturando
a ponto de eu me considerar professora em todos os momentos de
minha vida [...]”. A interlocutora revelou ainda que o seu desempenho
profissional é fruto da experiência adquirida no contexto de trabalho, da
vivência em movimentos sindicais e da igreja, o que suscita uma reflexão
sobre alguns elementos fundamentais no processo de profissionalização
docente. Essa compreensão se articula a outros com o mesmo teor.
Diante de alguns questionamentos como: É natural essa forte
vinculação pessoal e profissional? Que profissão é essa que entremeia
o profissional e o pessoal, a ponto de não se conseguir separar essas
duas dimensões? É amor, paixão, vocação? Carrolo (1997) diz tratar-
se de uma ambivalência em que a paixão e a dedicação se confundem
com o “mal-estar,”e, embora os professores tentem buscar explicações
racionais para tal efeito, não o conseguem em curto prazo. Algumas
constatações dessa nossa análise podem ser confirmadas na fala
de P6 ao postular: “[...] Tudo que eu faço na minha vida pessoal está
relacionada à vida profissional. A profissional fala mais alto, é uma
identidade profissional muito forte.”A interlocutora P6 fala da identidade
como elemento condutor dos aspectos que envolvem o aspecto
profissional e relacional do professor. Nóvoa (1995, p. 16) corrobora
essa discussão ao explicar que “A identidade não é um dado adquirido,
não é uma propriedade, não é um produto. A identidade é um lugar de
lutas e de conflitos, é um espaço de crescimento, de maneiras de ser
e estar na profissão”. Trata-se, pois, de um processo em que esses
professores se apropriam do sentido que tem para eles a sua história
pessoal e profissional.
No que concerne ao desempenho profissional, resultado dessa
trajetória pessoal e profissional, interlocutora P1 diz que foi uma
experiência de muitos anos, incluindo os conhecimentos adquiridos
na formação inicial e na formação continuada, bem como as trocas,
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momentos de leitura e reflexão partilhadas com o seu grupo de
trabalho. Nos relatos dessa professora, pode-se perceber um percurso
formativo associado à prática, que lhe permitiu atingir um patamar de
profissionalização nessa trajetória.
É conveniente destacar que, embora os professores passem por
um processo de desvalorização da profissão, muito de sua prática é
realizado com responsabilidade, compromisso, a exemplo do que nos
revela P6. Vejamos:

P6-Acredito que o meu desempenho é fruto de uma caminhada


pessoal e profissional que se resume em um conjunto de habilidades
e competências que venho desenvolvendo ao longo desses vinte anos
no magistério. A luta de classe, a formação inicial e continuada, o
exercício da docência, esse conjunto e o compromisso pessoal que, no
meu entender, é o principal, pois ele desencadeia os demais. Se formos
levar em conta a desvalorização dos governantes, a falta de políticas
públicas, colegas desanimados, perdas salariais, salários defasados, o
nosso desempenho tende a cair. Temos que zelar pela nossa imagem
e profissionalismo

A interlocutora P6 deixa clara a compreensão que tem sobre ser


professora, desenvolvendo uma reflexão com postura profissional,
posto que reconhece as dificuldades advindas da profissão, o que
lhe possibilita uma reconstrução de referenciais que a ajudam na
compreensão de sua atuação profissional. Como postula Freire
(2001), é a reflexão crítica sobre a prática e as experiências pelas
quais os docentes passam na sua carreira que proporciona mudanças,
desenvolvimento e novas formas de pensar e repensar a prática em
comunhão com o processo formador. P6 assinala, com muita clareza,
esses referidos aspectos.
Ainda para P6 e as demais professoras que participaram
desta pesquisa, a profissionalidade constitui o processo interno de
desenvolvimento das competências necessárias ao exercício da
profissão. Comungam com esse pensamento Gauthier; Nuñez, Ramalho
(2000), ao definirem que o profissionalismo é processo externo, de
busca de um status social, compreensões essas, explícitas nos relatos
autobiográficos desta investigação.
Cabe reafirmar ainda com base nos escritos de Gauthier, Nuñez e
Ramalho (2000), ao identificarem algumas características de um projeto
de profissionalização docente com uma formação mais integrada:
vinculação da pesquisa à formação; o caráter interativo do trabalho
docente; os novos contextos sociais e das escolas, que modificam o
significado de competência necessária para ensinar. Esse conjunto de
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características da profissão, bem como a reivindicação de um status
social são percebidos como uma busca constante, conforme revelam
as histórias de vida dessas profissionais.
Na trajetória dessa investigação, a interlocutora P8, ao ser
questionada sobre o seu desempenho profissional, rememora uma
trajetória em que não consegue dissociar a pessoa e a profissional. É
patente na sua fala a construção de uma identidade com a profissão,
quando narra:

P8 – O meu desempenho profissional é resultado de uma construção.


O meu lado profissional recebe muita influência do meu lado pessoal
e às vezes um ajuda o outro [...]. Posso dizer que acontecem
simultaneamente. Não consigo separar a professora dos outros papéis
que assumo na sociedade e assim cresço como pessoa e profissional.
Então, nesse percurso, muitas coisas têm contribuído para o meu
desenvolvimento profissional: a formação, a prática docente, as trocas
e a formação continuada.

Esse relato nos dá forte indicativo de que o professor que de


fato se identifica com a profissão docente não consegue desvincular
as dimensões pessoal e profissional. O “professor de profissão”vive,
na sua maioria, envolvido com as questões profissionais não só no
local de trabalho, mas estende-as aos seus lares e até mesmo aos
momentos de lazer. Nesse sentido é muito comum encontrarmos grupos
de professores, reunidos fora dos locais de trabalho, falando de escolas,
alunos e aspectos relacionados à sua profissão. É como pontua Nóvoa,
(1995, p. 17) “nós e a profissão”.
No prosseguimento das análises, observamos também, no relato
da interlocutora P10, que o percurso de desenvolvimento profissional
não deixa de envolver aspectos pessoais, imbricados fortemente na
construção identitária, profissional:

P10 – O meu desempenho profissional é fruto de muito compromisso


e responsabilidade não só da fase adulta, mas desde criança. Sempre
fui muito responsável com os meus estudos, pois via nesses estudos
a possibilidade de melhorar de vida. Portanto, sempre tive uma carga
de responsabilidade muito grande. A formação inicial e continuada, as
leituras que sempre fiz e a busca constante ao querer saber mais para
fazer o melhor me fez acreditar que a profissionalização não vem de fora
para dentro. Se quisermos alcançar autonomia profissional, devemos
partir, em primeiro lugar, da nossa vontade pessoal.
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Um ponto importante, ao analisarmos o relato da interlocutora
P10, foi a imagem positiva que tem de si como profissional e que o seu
desempenho profissional é fruto de uma longa caminhada, desde a mais
tenra idade. Há uma sintonia entre a revelação da interlocutora P10 e
o que concebe Cavaco (1999, p. 155), ao considerar que “a escolha
da profissão e a trajectória de trabalho de um indivíduo resultam de
muitos factores: implicam redes de relações sociais e culturais tecidas
a diversos níveis e atravessadas por lógicas próprias, feitas de acasos
e circunstâncias [...] e de decisões”. Para essa interlocutora, a lógica
partiu de decisões próprias, o que a deixa muito confortável para falar
com entusiasmo da profissão que exerce. É consubstancial, no seu
relato, a superação de fatores que têm produzido a desvalorização
social da profissão, como comodismo, alienação dentre outros aspectos.
No relato da interlocutora P10, foi pontual o que defende Bolivar
(2002, p. 107) ao postular que, nas narrativas, “manifestam-se o
mundo dos sujeitos e as histórias pessoais da experiência profissional,
permitem fazer um inventário de experiências, saberes e competências
profissionais; ao mesmo tempo, ao recuperar, biográfico-narrativamente,
o sujeito a formar”. A Figura a seguir apresenta aspectos que
consubstanciam a análise empreendida.

Figura 01– Aspectos que consubstanciam os relatos sobre o


desempenho e o percurso profissional das professoras dos anos iniciais
do ensino fundamental

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5 Motivos da Permanência no Magistério e os Significados
Atribuídos à Profissão Docente

Os motivos que levaram as interlocutoras da pesquisa a


permanecer no magistério até os dias atuais e os significados atribuídos
à profissão conforme relatos representam uma vida com significados.
Para Gonçalves (1995, p. 147), “os comportamentos, as atitudes
e as representações dos professores sobre si mesmos enquanto
profissionais e sobre suas carreiras modificam-se ao longo dos tempos,
repercutindo [...] nas atitudes e trabalho escolar dos seus alunos e a
prazo mais dilatado na própria identidade”. Foi o que se observou nos
relatos das interlocutoras, lembrando que, ao ingressarem na carreira,
muitas revelaram que não tinham a certeza de continuar no magistério.
Também o ingresso no curso de formação, para a maioria, não se
deu por vontade própria, sendo os familiares decisivos nessa escolha
conforme seus relatos. Como postula Dominicé, (1988, p. 59), “[...] a
família é muitas vezes um lugar de confronto. Obriga a oposição para
nos afirmamos e alcançarmos os nossos fins.”Ainda segundo esse
autor, em alguns momentos da nossa vida, os pais impõem uma direção
escolar ou mesmo profissional.
Nos relatos das interlocutoras desta pesquisa, houve uma forte
evidência dessas afirmações, pois as dimensões relacionais levaram
a maior parte desse grupo de professoras a seguir uma carreira cuja
imagem é negativa para muitos. Entretanto o percurso formativo e
profissional foi se delineando, e hoje essas profissionais, apesar
do processo de desvalorização por que ainda passa o magistério,
demonstram uma representação positiva da profissão, revelando que
continuam no magistério pelos seguintes motivos conforme relatos
abaixo:

P1 – A princípio eu não queria estar na profissão, mais depois, com o


tempo, eu fui tomando gosto por ela. Aprendi gostar, amar o que eu
faço e permanecer nela até hoje. A formação continuada, as trocas de
experiência ao longo desses 10 anos fizeram com que eu aprendesse a
gostar e não querer mais sair dela. A profissão tem um significado muito
forte para mim. Eu gosto do que faço, então, se você faz algo que gosta,
tende a fazer bem feito e, se faz bem feito, conseqüentemente vai fazer
com que seus alunos aprendam e eles vão ser fruto do seu trabalho na
sociedade em que vivem. Eles serão o reflexo desse trabalho, espero
estar contribuindo para que eles possam se tornar bons profissionais
e bons seres humanos, e assim me realizar como profissional e como
pessoa.
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P2 – [...] Eu me realizo com os meus alunos, fico feliz quando vejo aquele
brilho nos seus olhos, acho gratificante. Acredito que eu não seria mais
a contabilista que pensei ser no início. Eu me sinto gratificada e não tem
dinheiro que pague, principalmente quando ouço meus ex-alunos falarem
de seus sucessos e dizerem que ainda lembram-se de mim como sua
primeira professora. Amo essa profissão de paixão!
P3 – Querer melhorar e continuar minha trajetória profissional, gosto
do que faço. Não sou satisfeita é com o salário que ganho, às vezes
comento que, na minha profissão, a minha insatisfação é em relação
ao salário que eu ganho, pois nós professores deveríamos ser bem
remunerados, visto que é um trabalho árduo, bonito e gratificante.
Quando estou na sala de aula, eu me sinto realizada em relação às
expectativas que lancei, é uma satisfação pessoal. [...] é uma profissão
que tem muitos significados pessoais na minha trajetória de vida. Penso
ser um pouco de sacerdócio, pois, se formos levar em conta o descaso
com os profissionais da educação, não faríamos o que temos feito por
estes pais até hoje [...]. Assumo que sou professora por onde ando,
tenho orgulho de ser professora, defendo essa profissão brigo por ela
e acredito que se continuarmos lutando, ainda teremos uma profissão
onde todos respeitem e valorizem. Tenho orgulho de ser professora!

É evidente, nesses três relatos, assim como nos demais, a


dedicação, o compromisso e a responsabilidade das interlocutoras
com a profissão que abraçaram. Reconhecem que, mesmo não sendo
valorizadas como deveriam, não deixam de assumir um compromisso
ético com a profissão, construindo assim uma identidade profissional.
Acreditamos que esses atributos são resultantes de uma ação conjugada
nos três processos postulados por Gonçalves (1995, p. 147):

Processos de crescimento individual,em termos, de


capacidades, personalidade, capacidade pessoal e interação
com o meio; processo de aquisição e aperfeiçoamento de
competências de eficácia no ensino e de organização
do processo de ensino-aprendizagem; e processo de
socialização profissional, em termos normativos ou de
adaptação ao grupo profissional a que pertence e à escola
onde trabalha, e interactivos,[...].

Nessa perspectiva de crescimento, as interlocutoras foram se


constituindo professoras, como relata a interlocutora P3 no seguinte
fragmento de fala: “Assumo que sou professora por onde ando, tenho
orgulho de ser professora, defendo essa profissão, brigo por ela e
acredito que, se continuarmos lutando, ainda teremos uma profissão
onde todos respeitem e valorizem. Tenho orgulho de ser professora!”. É
visível que essa interlocutora fala da profissão com muito entusiasmo,
o que mais uma vez justifica a opção pela abordagem biográfica, pois
permite o acesso ao estudo de vida dessas professoras, com acesso às
dimensões pessoal, social e profissional, numa perspectiva diacrônica
(GONÇALVES, 1995, p. 147).
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No relato da P4, fica patente a sua crença no valor que a educação
tem para o social, portanto sente-se responsável pelos resultados
e, porque reconhece suas limitações, não deixa de investir na sua
formação, na construção de saberes e competências que a farão crescer
profissionalmente. Nesse percurso, constrói-se como profissional
e supera outras visões a respeito da profissão. Essa atitude da
professora é fundamental no desenvolvimento de sua profissionalidade
e profissionalização, tendo em vista que reconhece os direitos e deveres
da profissão, manifestando consciência da necessidade de luta por
melhorias, vejamos:

P4 – Continuo no magistério até hoje porque acredito que estou


contribuindo para o social, porque gosto do que faço. Apesar da
desvalorização do magistério, me sinto responsável por parte dos
resultados da educação. Gostaria de poder ajudar mais, mas às vezes
me sinto impotente diante de algumas situações. Quero estudar mais
para continuar sendo professora, não consigo mais me ver não sendo
essa profissional, quero crescer profissionalmente mais continuar sendo
professora. A profissão, para mim é uma realização pessoal. Gosto do
que faço, não sou boa samaritana, irmã de caridade, mas apesar das
dificuldades, a profissão é algo que me satisfaz. Não acho que o meu
trabalho seja um fardo na minha vida, pelo contrário, ao chegar em
casa cansada de um dia de trabalho, agradeço a Deus por tê-lo, pois
é dessa profissão que eu vivo, portanto ela tem um grande significado
para mim e minha família. Cabe lutar por ela. A profissão docente me
deixa realizada!

Os relatos da P5, P6, P7, P8, P10, P11 e P12 convergem para
as mesmas representações e significados evidenciados nas falas
anteriores. Essas professoras ressaltam, dentre outros aspectos,
que continuam na profissão por amor, por gostarem do que fazem,
reconhecendo sua importância para a sociedade. Podemos sintetizar,
na fala da P12, a comunhão de pensamentos dessas professoras.

P12-Continuo no magistério porque amo o que faço e acredito no


que faço. Vejo na educação a oportunidade das pessoas se tornarem
melhores, de termos uma sociedade mais justa e igualitária, então, por
essas e outras razões, estou e vou continuar no magistério. A profissão
docente para mim significa vida! Não sei se conseguiria viver não sendo
a professora.

As afirmações da interlocutora P12 corroboram a compreensão


já mencionada neste estudo de que o compromisso social com a
profissão é um dos aspectos demarcadores da profissão. Os relatos
autobiográficos desse grupo de professoras comungam com Freire
(2001), ao defender que um dos saberes que o professor não pode
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ignorar é o de que não é possível exercer a atividade do magistério como
se nada ocorresse conosco, portanto é preciso o compromisso ético,
político, social e cultural com a profissão. Isso pode ser evidenciado no
relato da interlocutora P9, que foi para o magistério contra sua vontade,
mas, mesmo rotulada e com uma imagem muito negativa da profissão,
conseguiu superar parte desses traumas e assumiu a profissão com
responsabilidade.

P9 – [...], A profissão docente tem um significado muito importante na


minha vida. Apesar de ter sido rotulada de professorinha primária, tenho
compromisso e responsabilidade pelo que faço , entendo o quanto a
educação é importante para a sociedade e sei do meu papel como
alguém que, pode proporcionar mudanças. Construí uma identidade com
a profissão e acredito que até mesmo em outros espaços que não seja
a escola, estarei sendo professora. Já me aceitei como professorinha
e tento no dia-a-dia da sala de aula melhorar minha atuação, procuro
superar algumas falhas. A profissão representa hoje, para mim, a minha
forma de vida, talvez eu não eu não saiba mais fazer outra coisa.

Os relatos nos revelaram os motivos da permanência no magistério


e os significados atribuídos à profissão docente, como ingressaram e
chegaram onde estão; como foi se dando a construção do ser professor
– acontecendo em cada etapa de suas vidas, em que a formação
tanto a inicial como a continuada estiveram presentes. Todos esses
elementos nos proporcionaram analisar os níveis de profissionalização
dentre outros aspectos que esse grupo de professoras alcançou,
considerando especialmente a formação continuada como processo
acelerador dessa profissionalização docente. As histórias de vida
dessas professoras nos mostraram os conhecimentos que possuem
e os adquiridos em formações, que a rede de ensino da qual fazem
parte tem lhes proporcionado, bem como os adquiridos por iniciativa
própria. Denunciam, outrossim, que precisam ser valorizadas em outros
aspectos, para que se concretize a profissionalização, de fato. A figura
sintetiza os relatos das interlocutoras quanto à categoria analisada.

Figura 02 – Indicadores da permanência e significados atribuídos à


docência

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6 Considerações finais

As conclusões acerca dessas análises nos levam à seguinte


reflexão: uma profissão que não tenha sujeitos engajados ,
comprometidos, responsáveis e com uma identidade com a profissão
dificilmente atingirá níveis elevados de profissionalização. Os relatos
das interlocutoras desta pesquisa revelaram que a formação inicial e
continuada, o exercício da docência, a participação em movimentos
sindicais, sociais, religiosos, vida familiar, o compromisso, a
responsabilidade, trocas com colegas, convivência com profissionais
comprometidos, competentes e responsáveis com a educação foram
fundamentais nesse percurso e desempenho profissional. O grupo
pesquisado revelou também que o amor pela profissão, a realização
pessoal e profissional, a identidade profissional e a crença na relevância
social da profissão para a sociedade são indicadores fundamentais
para que permaneçam no magistério até os dias atuais. Demonstraram
ainda que o profissional do ensino tem que, de fato, se identificar com
o que faz, ou seja, a construção da identidade docente é fundamental
e reafirmamos aqui, não só para o magistério, mas para todos os
profissionais.

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SABERES FORMATIVOS DA AÇÃO
DOCENTE NO ENSINO DE CIÊNCIAS

Francisco Marcôncio Targino de Moura*


Claudia Christina Bravo e Sá Carneiro**

Resumo

Esta pesquisa de mestrado teve por intenção investigar se a ação


docente no ensino de ciências pode se caracterizar como um processo
de formação para a docência. Nosso objetivo geral foi investigar se a
ação docente no ensino de ciências pode se caracterizar como um
processo de formação de professores de ciências, a partir da análise
do cotidiano da sala de aula. Escolhemos como metodologia para
essa pesquisa qualitativa, o estudo de caso com enfoque etnográfico,
cujos instrumentos para coleta de dados foram análise de documentos,
entrevistas espontâneas e semi-estruturadas e observação participante.
Inicialmente foram testadas as possibilidades da pesquisa, com ampla
revisão de literatura e seleção dos sujeitos, de acordo com critérios
previamente estabelecidos. Tratamos da ação docente como um
processo de formação de professores, decorrência dos resultados
da pesquisa de campo. Pudemos considerar que a formação dos
professores de ciências deixa lacunas que são preenchidas, em parte,
na docência, que o cotidiano da sala de aula contempla os professores
com saberes experienciais adquiridos pela interação com outros pares
e políticas que perpassam o cenário escolar.

Palavras-chave: Formação de Professores. Ação Docente e Saberes


Experienciais.

ABSTRACT

This Master thesis was to investigate whether the intention of


teaching activities in Science education can be characterized as a
Recebido em: 30/09/2012 – Aceito em: 25/11/2012

*Mestre em Educação com Área de Concentração em Formação de


Professores pela Universidade Estadual do Ceará e Doutorando em
Educação pela Universidade Federal do Ceará. E-mail: [email protected]
**Doutora em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará
(UFC) com pós-doutorado na Universidade de Brasília (UnB), Professora
Aposentada da UFC. Professora Permanente do Programa de Pós-
Graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal do Ceará
(UFC). E-mail: [email protected]
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process of teachers’ education. Our overall objective was to investigate
whether the teaching in science education could be characterized as
a process of training of science teachers, based on the analysis of
everyday classroom. We chose as a methodology for this qualitative
research, the case study with an ethnographic approach, and the
instruments for data collection were document analysis, spontaneous
and semi-structured interviews, and participant observations. Initially,
we tested the possibilities of research, with extensive literature review
and selection of research subjects, according to previously established
criteria. We treat the action as a teaching process as a consequence
of the results of field research. We find that the training of Science
teachers leaves gaps that are filled in, in part, by teaching. The everyday
classroom experience includes teachers with experiential knowledge
acquired through interaction with peers and other policies that go through
the school setting.

Keywords: Teacher Education. Action and Knowledge Experiential


Teaching.

1 Introdução

A formação de professores de ciências, passados quinze anos da


promulgação da LDB, sofreu mudanças insipientes no que diz respeito
a situações como a articulação entre as disciplinas pedagógicas e
específicas; dicotomia entre licenciatura e bacharelado e distanciamento
entre a escola de educação básica e a universidade como centro de
formação (SCHNETZLER, 2000). Tais mudanças se detiveram mais
no aspecto curricular, como o aumento na carga horária dos estágios
supervisionados e na organização político pedagógica. O que temos
observado, no entanto, é que os professores saem da universidade
tendo poucas condições de lidar com as situações de sala de aula e
de ensino aprendizagem, pois sua formação inicial deixa lacunas que,
possivelmente, poderão ser preenchidas na ação docente em sala de aula.
No âmbito específico do ensino de ciências, a formação de
professores é distanciada da realidade pela qual passa a escola,
principalmente a escola pública e suas necessidades. Isso leva as
instituições formadoras a assumirem um modelo de formação que
não visa à reflexão crítica da realidade e sua possível transformação
(SCHNETZLER, 2000). O fato é que a formação de professores, no
modelo tradicional, separada da realidade cultural, social e política,
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tornam o professor um mero transmissor de conteúdos. Para Severino,
“a formação do profissional só pode ser planejada e executada com base
numa clara concepção do que se espera da educação” (2001, p. 145).
A busca de uma articulação entre a formação do professor de
ciências e sua ação docente poderá possibilitar uma diminuição dos
impactos causados pela diferença de realidade entre o estudado nos
centro de formação e o vivido na realidade escolar.
A ação docente do professor de ciências pode caracterizar-se
como um processo formativo, pois “as ideias de movimento, processo,
continuidade, reconstrução, indagação, entre outras, nos remetem a uma
concepção de que a formação e a ação docentes estão estreitamente
vinculadas uma à outra.” (ESTEBAN, 2001, p. 49).
Pode-se intuir, então, que a valorização dos saberes docentes e
as necessidades formativas dos professores de ciências (CARVALHO;
GIL-PÉREZ, 2003), podem ser aspectos a serem considerados
para a melhoria da formação docente no ensino de ciências e
conseqüentemente da ação docente dos professores.
Diante do exposto, alguns questionamentos ecoam em nossas
reflexões: Como a formação docente para o ensino de ciências está
preparando o professor para o exercício da docência? De que forma a
ação docente no ensino de ciências se torna um processo de formação?
Que saberes são mobilizados pelos professores de ciências em sua
ação docente e que se tornam formativos para o exercício da docência?
Portanto, de acordo com tais questionamentos, rever a relação
teoria e prática na formação de professores de ciências, e na sua ação
docente é buscar a superação de mais um desafio na educação da
atualidade.
Assim, partindo dessas premissas e tendo como pretensão
contribuir para um estudo mais crítico sobre a formação de professores
de ciências e conseqüente melhoria do ensino de ciências, este trabalho
visou investigar a ação docente de professores de ciências como um
processo de formação para a docência.
O nosso objetivo geral foi investigar se a ação docente no ensino
de ciências pode se caracterizar como um processo de formação de
professores de ciências, a partir da análise do cotidiano da sala de
aula, mais especificamente: a) Analisar o desenvolvimento docente dos
professores de ciências, a partir da sua formação inicial; b) Caracterizar
a ação docente dos professores de ciências, observando suas ações
didáticas relativas ao planejamento e prática pedagógica, analisando
inclusive se as abordagens utilizadas em sala de aula condizem com
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as orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais e c) Investigar
que saberes são mobilizados pelos professores de ciências em sua
ação docente e que se tornam formativos para o exercício da docência.

2 Pressupostos Metodológicos

A pesquisa desenvolvida nesse trabalho teve uma abordagem


qualitativa, onde foi mantido um contato direto com o ambiente,
pessoas e situações investigados, pois “as acções podem ser melhor
compreendidas quando são observadas no seu ambiente habitual de
ocorrência. Os locais têm de ser entendidos no contexto da história
das instituições a que pertencem” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 48).
Escolheu-se como metodologia o estudo de caso com enfoque
etnográfico, pois “o estudo de caso é uma investigação empírica que
investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida
real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto
não estão claramente definidos” (YIN, 2001, p. 32).
Por outro lado, a título de esclarecimento, a pesquisa do tipo
etnográfico em educação originou-se na antropologia. A partir da
década de 70 começou a ser empregada por pesquisadores da área
de educação, com adaptações. Os estudos passaram a ser do tipo
etnográfico e não verdadeiramente etnográficos. A etnografia se presta,
então, para desvendar os problemas mais rotineiros do dia-a-dia da
escola, os vários significados que os sujeitos vão edificando a partir de
seus hábitos, rituais, comportamentos, cheios de significados políticos
e sociais.
A teoria em um estudo de caso é construída, em parte, antes da
coleta de dados, isso porque “entre outras organizações, os contatos
de campo relevantes dependem da compreensão – ou da teoria – do
que está sendo estudado” (YIN, 2001, p. 49).
Os instrumentos usados na coleta de dados foram escolhidos
a partir das características do objeto de estudo. Para aumentar a
confiabilidade da pesquisa foi criado um protocolo, que conteve: uma
visão geral do estudo de caso (objetivos, questões de estudo, leituras),
procedimentos de campo, questões do estudo de caso e guia para o
relatório do estudo de caso (resumo, formato, bibliografia).
Para a coleta de dados foram usados os seguintes instrumentos:
a) A análise de documentos, sendo de grande importância para o
estudo de caso, pois forneceram dados que puderam contribuir para
a confirmação de informações de outras fontes; b) A entrevista, por
ser considerada uma das mais importantes fontes de informação,
podendo assumir várias formas, como espontânea, estruturada e
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semiestruturada. Na pesquisa utilizamos os depoimentos espontâneos
e entrevistas semiestruturadas e por último, c) A observação de campo,
onde recolhemos informações diretas sobre o objeto de estudo. A
observação se deu de forma participativa, pois estávamos inclusos no
ambiente e em contato com os “atores”da pesquisa, no entanto não foi
feita nenhuma intervenção no processo pedagógico que observávamos.
A análise dos dados coletados seguiu a estratégia geral de
“basear-se em proposições teóricas” (YIN, 2001), uma vez que já
tínhamos feito uma ampla revisão da literatura com intenção de dar
forma a pesquisa.
As evidências foram analisadas seguindo a adequação ao padrão
que “compara um padrão fundamentalmente empírico com outro de base
prognóstica (ou com varias outras previsões alternativas)” (TROCHIM
1989 apud YIN, 2001, p. 136).
Segundo Gil,

A adequação ao padrão envolve a especificação de um


padrão teórico, a aquisição de um padrão empírico a
demonstração dos vínculos ou das discrepâncias entre
os dois. Se os padrões se ajustassem em duas ou mais
instâncias dentro de um estudo de caso único ou entre os
diversos casos de um estudo de casos múltiplos, então sua
validade interna estaria reforçada. (2009, p. 94).

Nesse estudo de caso etnográfico fizemos várias análises


procurando sempre manter uma relação entre o arcabouço teórico
construído e as evidências coletadas.
Optou-se por investigar as aulas de ciências da 5ª série1 do ensino
fundamental. Tal escolha se deu porque para ensinar nesta série o
professor precisa ter nível superior, no caso ser licenciado em ciências,
química, física ou biologia, sendo essa formação inicial preparação para
o magistério. Os alunos desta série encontram-se em uma faixa etária
onde o nível cognitivo de escrita e leitura são mais desenvolvidos do
que alunos das séries anteriores, o que facilita o trabalho. Além disso, o
conteúdo curricular de tal série trabalha com noções de química, física
e biologia, o que não acontece em outras séries.
Com o intuito de avaliar as condições de execução do projeto
proposto, fez-se um estudo preliminar que constou de visitas a algumas
escolas com o objetivo de delinear melhor o universo da pesquisa. Foi
uma forma de detectar problemas e contradições, de selecionar os
sujeitos da pesquisa de modo mais específico, de acordo com algumas
categorias.
1
A 5ª série equivale hoje ao 6º ano do Ensino Fundamental de nove
anos.
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3 Formação de Professores de Ciências: Caminhos e Perspectivas

Com a extinção da antiga Licenciatura Curta em Ciências, curso


que formava professores de ciências para lecionar do 6º ao 9º anos do
ensino fundamental, a formação de professores para essa disciplina
curricular passou a ser exercida pelo licenciado em química, física ou
biologia, ou ainda por profissionais de outras áreas afins como nutrição,
engenharia, enfermagem etc. Esses profissionais são habilitados para
a docência através de cursos de formação pedagógica.
Os cursos de licenciatura em química, física e biologia, mesmo
após as modificações pós LDB, ainda ocorrem de forma desarticulada
da realidade e o professor, geralmente, é formado para o ato de ensinar,
que é visto como um momento e não como um processo.
Devemos reconhecer que a profissão docente não tem se
mostrado atraente, tal fato decorre de situações como: baixos salários,
precária condição de trabalho, carga horária excessiva, além das
condições de formação oferecidas. Gatti, se referindo à evasão nos
cursos de licenciatura nos diz que,

Se, por um lado podemos pensar que esta evasão se


deve a problemas ligados à forma como estes cursos são
oferecidos, por outro, este fator, associado às péssimas
perspectivas de carreira, potencializa em muito a
verdadeira deserção que se opera nos cursos de formação
de professores, a intensificação da baixa procura pelos
mesmos e as desistências quando já estão no exercício
da profissão. (GATTI, 2000, p. 61).

Junta-se a isso a falta de uma política voltada para a formação


de professores e para a educação em geral. Nos discursos políticos
tais temas aparecem como meta prioritária, mas o que se vê e ouve é a
falta de interesse para com a educação e a profissionalização docente.
As licenciaturas vêm apresentando desde a sua criação,
problemas inerentes à sua estrutura curricular, eficácia e funcionalidade,
a necessidade de rever pontos que procurem melhorar estes cursos vem
sendo discutida por pesquisadores na área de formação de professores
ao longo dos anos.
O professor B (um dos pesquisados), quando lhe perguntamos
sobre sua formação, expressou que:

Infelizmente o nosso curso de física aqui na faculdade, ele não é um


curso visto para educação, ele precisa melhorar nessa área da educação,
principalmente por que as aulas não visam o cotidiano é um curso voltado
mais para as disciplinas específicas de física, ele precisa melhorar muito.
(PROFESSOR B).
68 Linguagens, Educação e Sociedade – Teresina, Ano 17, n. 27, jul./dez. 2012

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Observamos na sua fala a evidência do primeiro dilema
apresentado pelos cursos de licenciatura, que é a desarticulação das
disciplinas pedagógicas com as disciplinas específicas (PEREIRA J.,
1998; GATTI, 2000; MALDANER, 2000; SCHNETZLER, 2000). Esse
problema é resultado do velho modelo três-mais-um e remota da
criação das licenciaturas na década de 30. As disciplinas específicas
de química, física e biologia são ministradas pelos professores das
áreas específicas, preocupados em “dar o conteúdo”, a teoria, que é
necessária para que o futuro professor de ciências domine a matéria
que vai lecionar. As disciplinas pedagógicas ficam com os professores
das faculdades de educação, pois estes devem preparar o futuro
professor para o exercício da docência, a prática. Ao contrário do
exposto, “a relação teoria/prática, do saber e do saber fazer em relação
aos conteúdos pedagógicos, precisa ter um papel de destaque, pois
muitos dos saberes pedagógicos influenciam diretamente as práticas de
ensino de qualquer conteúdo especifico” (CARVALHO, 2001, p. 120).
Vemos com isso que os cursos de formação de professores
de ciências, apesar dos esforços recentes de mudanças, ainda se
preocupam em transmitir conteúdos específicos e menos em preparar
pedagogicamente o professor para exercer o magistério dentro de uma
perspectiva de contextualização do ensino.
Um fato a observar é que o professor B ainda cursava Física, não
sendo, portanto, graduado. Pelo que se percebe, as mudanças ocorridas
com a LDB e as novas diretrizes curriculares para as licenciaturas não
foram ainda implantadas devidamente.
Devemos trabalhar na formação de professores de ciências com
situações concretas da realidade do ensino fundamental, buscando
familiarizar os futuros professores com o trabalho docente na escola e
articulando as disciplinas de conteúdos específicos com as de conteúdo
pedagógico (SCHNETZLER, 2000).
Na verdade o que tem acontecido ao longo desses anos é que
as “universidades têm tido dificuldades de superar esse fosso que
separa a formação pedagógica da formação específica no campo de
conhecimento em que vai atuar” (MALDANER, 2000, p. 45).
A desarticulação das disciplinas pedagógicas e específicas para
o ensino de ciências leva o professor de ciências a não conseguir fazer
uma recontextualização didática do conteúdo para os alunos. Para
Carvalho,
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Um profissional, para ser professor, precisa dominar os
saberes pedagógicos e, no meu ponto de vista, em maior
profundidade do que atualmente se faz nas licenciaturas
específicas. Ainda na minha opinião, estes saberes
deveriam ser acompanhados de um saber fazer, de tal
modo que os conteúdos pedagógicos não sejam como
ocorrem em muitos cursos de licenciatura, completamente
distanciados da realidade educacional do futuro professor.
(2001, p. 120).

O exposto por Carvalho nos remete ao segundo dilema vivido


pelas licenciaturas, ou seja, o fato da formação de professores de
ciências estar ainda distanciada da realidade pela qual passa a escola
(PEREIRA J., 1998; GATTI, 2000), principalmente a escola pública e
suas necessidades. Isso leva as instituições formadoras a assumirem
um modelo de formação que não visa a reflexão crítica da realidade e
a sua possível transformação, evidenciando um distanciamento entre
o que é ensinado na universidade e a realidade da escola. A formação
universitária é “excessivamente afastada da prática escolar, sem
nenhum valor e utilidade para o trabalho na escola de ensino básico
[...]” (GATTI, 2000, p. 53). Essa realidade parece não ser só nossa, pois
segundo Tardif, pesquisador Canadense,

Até agora, a formação para o magistério esteve


dominada sobretudo pelos conhecimentos disciplinares,
conhecimentos esses produzidos geralmente numa redoma
de vidro, sem nenhuma conexão com a ação profissional,
devendo, em seguida, serem aplicados na prática por meio
de estágios ou de outras atividades do gênero. (2002, p. 23).

O fato é que a formação de professores de ciências no modelo


tradicional, separado da realidade cultural, social e política não
consegue fazer com que o professor de ciências, ao terminar o curso
universitário, lide adequadamente com as especificidades da ação
docente em sala de aula. Para que tal fato seja superado, é preciso
“trazer o licenciado mais cedo para dentro da escola, fazendo em todas
as disciplinas profissionalizantes uma interação entre teoria e prática,
entre a Universidade e a Escola” (CARVALHO, 2001, p. 115).
A universidade forma para o exercício docente sem saber ao
certo o que a escola precisa, quais seus anseios, que dúvidas tem o
professor de ciências e qual a realidade da sala de aula, como nos
mostra Gonçalves e Gonçalves ao dizerem:
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Uma lacuna percebida pelos licenciados, com a qual
concordamos, é a falta de uma prática mais efetiva, em que
o estudante universitário possa ter contato com o ambiente
escolar, tendo contato com os alunos e a complexidade que
lhe é natural, uma vez que a prática de ensino vigente é, em
geral, insuficiente para lhes proporcionar essa experiência
reclamada. (1998, p. 115).

É importante trabalhar na formação de professores de ciências


com situações concretas da realidade da escola, familiarizando os
licenciandos, futuros professores, com o trabalho da sala de aula,
diminuindo a dicotomia entre teoria e prática.
Não se pode mais pensar a formação do professor de ciências
para a simples transmissão de conhecimento, é necessária uma nova
fundamentação para o exercício de formar professores.

O processo de formação deve dotar os professores de


conhecimentos, habilidades e atitudes para desenvolver
profissionais reflexivos ou investigadores. Nesta linha, o
eixo fundamental do currículo de formação do professor é
o desenvolvimento da capacidade de refletir sobre a própria
prática docente, com o objetivo de aprender a interpretar,
compreender e refletir sobre a realidade social e a docência.
(IMBERNÓN, 2000, p. 39).

Sabemos que o processo de formação do professor é contínuo,


iniciando-se desde sua escolarização, onde ele é influenciado pelos
seus professores. Assim, ao iniciar seu curso de formação, já possui
algum conhecimento sobre o ato de ensinar (SCHNETZLER, 1998).
A valorização da experiência docente é um ponto de grande
importância para uma nova visão na formação de professores de
ciências, pois na formação docente para o ensino de ciências, em geral,
não se encontra espaço para uma troca de experiências didáticas entre
a escola e a universidade. Normalmente, a universidade forma para o
exercício docente sem saber ao certo o que a escola precisa, quais
seus anseios, que dúvidas tem o professor de ciências.

4 A Ação Docente no Ensino de Ciências

É na ação docente que nossa formação acadêmica se torna ação.


A teoria da formação vira prática nem sempre num movimento de ação-
reflexão-ação. Questionar-se é o primeiro passo para a reflexão da sua
prática. O importante é que a busca da mudança da prática pedagógica
nos tire do estático e nos leve a um movimento prático-reflexivo.
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A reflexão, nessa perspectiva, é reafirmada por vários
autores como a categoria essencial da formação docente:
condição tida como capaz não só de transformar a prática
pedagógica do professor e prepará-lo para atender
às exigências que se colocam para sua profissão na
atualidade, mas, sobretudo, como capaz de modificar a
pessoa do professor, construindo-o como sujeito autônomo
no mundo”. (AQUINO; MUSSI, 2001, p. 218).

A ação docente no ensino de ciências, não deve ser entendida


como técnicas ou procedimentos a serem seguidos na condução do
trabalho pedagógico, desde que vários elementos estão envolvidos
na busca de melhorar o processo ensino aprendizagem, objetivando
levar o educando a construir seu conhecimento. Levando em conta o
seu contexto, o professor de ciências precisa preparar sua aula, tendo
claros seus objetivos e sabendo que estratégias e recursos usará.
Ao perguntarmos aos sujeitos da pesquisa sobre sua metodologia
de ensino quando se iniciaram no magistério e como planejavam suas
aulas, obtivemos as seguintes respostas:

O planejamento eu acho tradicional, pois planejamos algo para uma


turma que a gente não conhece [...]. Eu pegava o conteúdo que era
para dar naquela aula, colocava o conteúdo, os objetivos, as estratégias,
eram aulas expositivas, bem tradicional mesmo. (PROFESSORA A).

Na verdade era uma coisa objetiva para aquela aula, eu pegava o livro
via o que era mais importante e resolvia as questões. Não havia critérios
para planejar, eu sabia muito pouco, pois não tinha experiência. Foi
uma batalha diária, procurei pessoas que sabiam mais, na escola, na
faculdade e assim fui aprendendo. Eu chegava dava aula e achava que
todo mundo aprendeu, eu não tinha a preocupação de ver naquela aula,
algo que não fosse o conteúdo. (PROFESSOR B).

Planejar significa fazer uma previsão metódica reflexiva e flexível


de ações a serem executadas com um objetivo definido. Durante
o planejamento o professor deve considerar elementos como: a)
conhecimento dos alunos, interesses, diferenças e habilidades; b)
atividades realizadas e a serem realizadas, que determinam o nível
cognitivo em que os alunos estão; c) A interdisciplinaridade e d) aspectos
organizacionais como tempo e local, além de recursos pedagógicos.
(TARDIF; LESSARD, 2005).
Para Therrien e Loiola (2001, p. 148):

À luz de abordagens que o concebem como prática


situada, contextualizada, o trabalho docente revela-se fruto
de processo que envolve múltiplos saberes oriundos da
formação, da área disciplinar, do currículo, da experiência,
da prática social e da cultura entre outros.
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A necessidade de mudança torna-se um desafio para a prática
pedagógica no ensino de ciências e, para que sua efetivação aconteça,
o professor precisa refletir sobre ela, revendo pontos importantes:
planejamento, metodologia e avaliação. Refletindo sobre sua prática
pedagógica o professor evita o automatismo no ensino aprendizagem.

O(A) docente, nessa situação, adquire um papel


preponderante, de maior visibilidade; para isso, é preciso
refletir sobre sua prática, aperfeiçoando-a, sobre si mesmo,
aperfeiçoando-se, procurando trilhar caminhos em direção
a uma profissionalização comprometida com a luta pelo
direito à educação, por construção de escolas dignas e
dignificantes, por uma pedagogia e por metodologias e
práticas educativas mais adequadas à realidade – ciente de
seu papel nas mudanças necessárias. (DIAS, 2004, p. 32).

O planejamento no ensino de ciências, ponto que necessita ser


revisto, ainda se resume a dois objetivos: preparação de aula e elenco
de conteúdos a ser ensinado, isso feito mediante o preenchimento do
plano de aula. Talvez resida aí a resistência que os professores possuem
ao ato de planejar, pois isso reduz o planejamento à simples ação de
preenchimento de formulários.
A metodologia no ensino de ciências, por seu lado, tem como
finalidade organizar a seqüência de aula na busca de alcançar a
aprendizagem, através da motivação e interesse dos alunos. Para
isso, o professor de ciências pode fazer uso de recursos como:
Jornais, Revistas, Vídeos, CD ROMs, experiências, jogos e aulas de
campo, além de “espaços de divulgação científica e cultural, como
museus, laboratórios abertos, planetários, parques especializados,
exposições, feiras e clubes de ciências fixos ou itinerantes [...]”
(DELIZOICOV; ANGOTTI; PERNAMBUCO, 2002, p. 37), não tendo
mais só o livro didático como fonte de conhecimento científico e recurso
de aprendizagem.
Outro aspecto importante é a avaliação. Para Carvalho e Gil-
Pérez “é provável que a avaliação seja um dos aspectos do processo
ensino/aprendizagem, em que mais se faça necessária uma mudança
didática [...]” (2003, p. 55).
Segundo Luckesi, “o termo avaliar também tem sua origem no
latim, provindo da composição a-valere, que quer dizer “dar valor a
...`” (2002, p. 92), por isso para muitos professores a avaliação é tida
como o momento de dar ao aluno uma nota, um valor quantitativo. A
verdade é que a avaliação ainda é um assunto complexo para nós
educadores, pois a forma como fomos avaliados em nossa vida escolar
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e até acadêmica nos prende a um modelo de avaliação, nos fazendo
reproduzi-lo no processo avaliativo.
O ensino de ciências deve facilitar e proporcionar uma melhor
praticidade para o processo avaliativo, mas compete a cada educador
buscar transformar sua avaliação e seus instrumentos avaliativos
em algo mais dinâmico, fazendo com que a avaliação se torne mais
interativa.

5 A Ação Docente no Ensino de Ciências e os Saberes Formativos


para Docência

A racionalidade técnica dos cursos de formação de professores de


ciências faz com que o ato de ensinar seja encarado como desprovido de
saberes, tornando o professor um executor de tarefas. A ação docente
no ensino de ciências dentro desta visão do professor de ciências
como um “tarefeiro”, seria um momento de execução de objetivos
preestabelecidos, tendo como finalidade promover a aprendizagem.
Contrário a esse pensamento, Tardif nos diz que ensinar vai
além, pois,

Ensinar é agir na ausência de indicações claras e precisas


sobre os próprios objetivos do ensino, o que requer
necessariamente uma grande autonomia dos professores.
Quando ensinamos, nunca nos contentamos em aplicar
objetivos; ao contrário, interpretamo-los, adaptamo-los e
transformamo-los de acordo com as exigências da situação
de trabalho. (2002, p. 127-128).

Segundo Tardif (2002) um postulado tem orientado as pesquisas


sobre os saberes dos professores. Este postulado propõe que os
professores são sujeitos que possuem e produzem saberes que são
utilizados na sua ação docente. Mas que saberes são estes? Como
são construídos?
Durante o seu percurso profissional o professor, mais
especificamente o de ciências, vai construindo e reconstruindo os
saberes que necessita em sua ação docente. Ensinar é um processo
complexo que envolve saberes sociais, culturais, afetivos, políticos e
históricos e a articulação entre esses saberes possibilita ao professor de
ciências lidar adequadamente com a complexidade do ato de ensinar,
fazendo com que tenha claro os objetivos da sua ação docente.
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É na prática pedagógica do ensino de ciências que o professor
coloca em prática os saberes sociais, culturais, afetivos, políticos e
históricos construídos e reconstruídos durante o processo formativo2.
Assim, o saber fazer da prática pedagógica exige competências para
uma docência de qualidade, pois “é no fazer que se revela o domínio
dos saberes e o compromisso com o que é necessário, concretamente, e
que se qualifica como bom – por que e para quem.” (RIOS, 2003, p. 88).
Dessa forma, a ação docente no ensino de ciências deve exigir
do professor saberes que devem ser mobilizados em sua prática
pedagógica, pois este é o espaço onde se processa a construção e
reconstrução de saberes. O cotidiano da sala de aula passa a ser o
“lócus”onde estes saberes se efetivam, pois eles fornecem princípios
que possibilitam o trabalho com as questões especificas da sala de aula.
A ação docente é permeada por saberes que são construídos não só
nos cursos de formação docente. Assim “percebe-se que esses saberes
vêm sendo construídos desde a infância, juntamente com a família, e
vão se reconstruindo conforme o seu nível de desenvolvimento em
seus diferentes âmbitos histórico-sociais.” (MORÉS et al., 2000, p. 57).
Os saberes que conduzem a ação docente em sala de aula
são chamados por Therrien de “cultura docente”, sendo entendida
como “a pluralidade de saberes ou o repertório de conhecimentos
constantemente disponível e mobilizado pelo docente para conduzir
sua ação pedagógica no contexto da sala de aula” (THERRIEN, 2002,
p. 110). A elaboração de um jogo sobre o lixo, o uso de um filme para
predição de um determinado conteúdo, a elaboração de uma atividade
que necessite de um raciocínio mais elaborado, o saber lidar com uma
situação específica surgida numa aula são situações que exemplificam
essa cultura docente no ensino de ciências.
O cotidiano da sala de aula, além de ser o espaço onde se
dinamiza o processo ensino aprendizagem, é onde o professor de
ciências articula saberes para a condução do processo educativo e
tais saberes não são construídos somente nesse espaço, de forma
individual.
Para Tardif (2002) o saber dos professores está ligado ao seu
trabalho com alunos, colegas, pais etc. Desse modo, ele torna-se
interativo e pode ser construído na relação com o grupo social onde
o professor está inserido, pois o “saber não é isolado, ele é partilhado
e transforma-se, modifica-se a partir da troca de experiências e da
reflexão coletiva com os outros.” (FIORENTINI; SOUZA JR.; MELO;
1998, p. 322).
2
Processo formativo não deve ser encarado somente como o curso de f
formação inicial ou continuada
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Dessa forma, a ação docente no ensino de ciências é um processo
de construção e reconstrução de saberes, que envolve o conhecimento
3
dos professores e dos alunos, na sua interação no cotidiano da sala de
aula. Na dinâmica da sala de aula o saber fazer envolve vários saberes
que se cruzam, possibilitando a criação de novos saberes, o que faz da
ação docente um processo de formação para a docência.
Segundo Therrien (2002) as situações reais da ação docente
fazem com que os professores gerem e produzam saberes numa
interação com os alunos, isso então situaria o professor na categoria
de produtor de conhecimento.
Então, os saberes docentes não podem ser encarados como
algo que surge espontaneamente na ação docente dos professores de
ciências, ao contrário, eles devem ser relacionados com o trabalho do
professor, com a experiência de vida, com sua trajetória profissional,
com as relações com outros professores e com os alunos. Os saberes
docentes não podem ser relacionados somente a uma atividade
cognitiva, pois surgem de uma interação do ser individual com o meio em
que se encontra, portanto esses saberes são contextuais e individuais.
Os saberes experienciais são “o conjunto de saberes atualizados,
adquiridos e necessários no âmbito da prática da profissão docente e que
não provêm das instituições de formação nem dos currículos (TARDIF,
2002, p. 48-49). Percebe-se, assim, que a ação docente no ensino de
ciências torna-se “terreno fértil”para a construção e reconstrução de
saberes, além de ser o “lócus”onde os saberes da formação profissional,
disciplinares e curriculares se articulam, promovendo uma prática
pedagógica mais efetiva no processo ensino aprendizagem.
Conforme Tardif,

Os saberes são elementos constitutivos da prática docente.


Essa dimensão da profissão docente lhe confere o status
de prática erudita que se articula, simultaneamente, com
diferentes saberes: os sociais, transformados em saberes
escolares através dos saberes disciplinares e dos saberes
curriculares, os saberes oriundos das ciências da educação,
os saberes pedagógicos e os saberes experienciais. (2002,
p. 39).
3
É interessante esclarecer que conhecimento e saber serão tratados aqui
como sinônimos. No entanto, vários autores os diferenciam. Fiorentini,
Souza Jr. e Melo (1998, p. 312), por exemplo os trata como sinônimos,
mas os diferencia dizendo que: o “conhecimento aproximar-se-ia mais com
a produção científica sistematizada e acumulada historicamente com regras
mais rigorosas de validação tradicionalmente aceitas pela academia”,
enquanto que saber “representaria um modo de conhecer/saber mais
dinâmico, menos sistematizado ou rigoroso e mais articulado a outras formas
de saber e fazer relativos à prática não possuindo normas rígidas formais
de validação”.
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Reportando ao ensino de ciências, durante a formação inicial
são adquiridos vários conhecimentos indispensáveis à ação docente
e tais conhecimentos teóricos servirão para o desenvolvimento do
ensino e aprendizagem, dentre os quais destacamos os saberes
curriculares e disciplinares.
Assim, os saberes experienciais dos professores de ciências
são formados pela integração dos outros saberes, que se transformam
em ação na docência. A partir desses saberes os professores
organizam sua prática pedagógica e tais saberes se estruturam no
contexto da sala de aula pela interação entre os sujeitos, pois são
eles constituintes da prática cotidiana, “sendo saberes práticos e não
da prática” (TARDIF, 2002). Estes saberes se tornam práticos, pois
servem de base para a ação docente no ensino de ciências e são os
saberes que os professores mobilizam em sua prática pedagógica
na organização curricular, na preparação de aulas, na metodologia
de ensino e na avaliação do processo ensino aprendizagem.
Para Tardif,

A prática cotidiana da profissão não favorece apenas o


desenvolvimento de certezas `experienciais´, mas permite
também uma avaliação dos outros saberes, através da
sua retradução em função das condições limitadoras
da experiência. Os professores não rejeitam os outros
saberes totalmente, pelo contrário, eles os incorporam
à sua prática, retraduzindo-os porém em categorias de
seu próprio discurso. Nesse sentido, a prática pode ser
vista como um processo de aprendizagem através do qual
os professores retraduzem sua formação e a adaptam à
profissão... (2002, p. 53).

Ao desenvolver saberes o professor se torna um sujeito


epistêmico que produz conhecimento gerado a partir de situações
reais da prática pedagógica (THERRIEN, 2002), isso gera um
processo de formação, sendo esse conhecimento validado por sua
experiência docente e integrado à sua prática cotidiana. Assim,
“é essencial encarar a prática docente não só como um processo
de formação continuada, mas também um “lócus”de produção de
conhecimento de saber docente (individual e coletivo)” (SILVA, 2005,
p. 3).
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6 O Campo de Pesquisa e o Encontro com o Objeto de Estudo

Esta pesquisa foi desenvolvida no curso de Mestrado Acadêmico


em Educação da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Durante
a pesquisa de campo visitamos as duas escolas selecionadas, onde
foi observado um total de 14 aulas de ciências do 6º ano4 do ensino
fundamental na escola municipal e da 5ª série do ensino fundamental
na escola particular.
Ao observarmos o cotidiano da sala de aula e das escolas tínhamos
o intuito de descrever as situações, os ambientes, a reprodução das
falas, os passos, os depoimentos, as ações e interações, categorias
de pensamento, procurando organizar o contexto da ação docente
do professor de ciências dentro do propósito da pesquisa, que era o
de caracterizar a ação docente como um processo de formação de
professores.
Através de conversas com a direção das escolas e da análise de
documentos, como o Projeto Político Pedagógico, regimento e planos,
pôde-se explorar a dimensão institucional das escolas.
As entrevistas formais com os professores de ciências foram
baseadas em um roteiro semi-estruturado, para possibilitar uma abertura
maior para as narrativas, que abrangeram a história de vida, formação
e trajetória profissional, opiniões, memória do antes e depois em sua
função docente, análise de sua prática pedagógica, organização de aula,
percepção do desempenho dos alunos etc. Já as entrevistas informais
aconteceram em conversas espontâneas com os professores, alunos
e diretores.
Os resultados das entrevistas, análise dos documentos,
projeto político pedagógico, regimentos, planos e observações foram
confrontados buscando compreender como se dava a ação docente
daqueles professores de ciências, qual a importância que eles atribuíam
à sua formação e como se organizavam didaticamente nas situações de
ensino aprendizagem. Procuramos estabelecer parâmetros relevantes
ao nosso objeto de pesquisa, que era verificar se a ação docente no
ensino de ciências se caracteriza como um processo de formação para
a docência.
A realização de entrevistas formais e informais e algumas
observações nos permitiram caracterizar os professores pesquisados e
sua formação para o ensino de ciências. Pelos dados eles apresentam
tipos bem diferentes entre si, tanto em desenvoltura, formação, simpatia,
segurança didática, organização e metodologia.
4
O 6º ano nas escolas municipais de Fortaleza, equivale à 5ª série nas escolas
particulares que na época da pesquisa ainda não tinham adotado o ensino
fundamental com 9 anos.
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Segundo seus depoimentos, ambos os professores gostam de sua
profissão, embora reclamem do salário e da carga horária de trabalho,
o que muitas vezes os impossibilitam de buscar melhorar sua formação
participando de cursos de formação continuada e até mesmo de cursar
uma pós-graduação, como é o caso da professora A, que trabalha os
três expedientes.
Segundo Gatti (2000) a relação entre a remuneração e o
desempenho profissional merece atenção, uma vez que está associada
a aspectos como autoestima e valorização profissional, interferindo,
portanto na relação entre os sujeitos. As políticas de valorização do
magistério precisam ser mais eficazes, promovendo verdadeiramente
a valorização daqueles que trabalham com a educação da juventude
deste país.
Quanto à formação dos professores pesquisados, vemos que a
professora A tem formação específica para o ensino de ciências, pois
cursou a extinta licenciatura curta em ciências, tendo se habilitado
em química para trabalhar com o ensino médio. O currículo dessa
Licenciatura abrangia disciplinas de química, física, matemática e
biologia, possibilitando uma visão mais ampla do conteúdo das ciências
naturais e exatas, talvez pelo fato de tratar-se de uma licenciatura
voltada mais especificamente para ciências em geral, o que nos
habilitava melhor para a docência no ensino de ciências. Já o professor
B cursa licenciatura em física, o currículo desse curso abrange em maior
ênfase as disciplinas específicas da física, o que também acontece com
as outras licenciaturas da área.
As reformas educacionais trazidas pela LDB 9394/96 e pelas
Diretrizes Curriculares para os cursos de licenciaturas, parecem,
ainda, não terem se efetivado na realidade dos cursos de formação de
professores de Física. Um quadro que, de acordo com a literatura, é
comum nas outras licenciaturas da área.
Percebe-se, então, uma desarticulação entre as disciplinas de
conteúdo específico e as disciplinas pedagógicas (PEREIRA, 1998;
GATTI, 2000; MALDANER, 2000; SCHNETZLER, 2000). Esse dilema
da licenciatura, já abordado anteriormente, acaba reforçando a ideia de
que o domínio do conteúdo específico de física é suficiente para que
alguém seja professor.
Através das observações em sala de aula e mesmo pelas
entrevistas, foi possível caracterizar a ação docente dos professores
de ciências.
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Eu era muito autoritária, achava que o professor estava em um ponto
mais alto, vivia pedindo silêncio na sala. Eu vejo que nisso eu mudei. Teve
muitas turmas que me ajudaram, com diálogo [...] Uma das coisas que
eu observo é que quando comecei tudo era novo, a gente acha que toda
informação que vai dar é importante, mas a gente aprende com eles que
o que eles trazem de informação também é importante. Esse feedback
aluno professor fez com que eu mudasse. Eu lembro que aprendi a fazer
algumas dinâmicas com outros professores que me ajudaram. Tenho
que melhorar ainda tenho com certeza. (PROFESSORA A).
[...] na convivência ocorrem trocas com os amigos, até com professores
e ai acabamos aprendendo. A cada ano nós vamos aprimorando nossa
ação docente, quando termina o ano eu avalio o que deu certo e não deu
certo, e assim vou mudando, lendo procuro coisas novas, numa aula de
campo, por exemplo, sempre trago coisas para sala de aula [...] Hoje
sei o momento de parar para exercitar o conteúdo, meu planejamento
é mais organizado. (PROFESSOR B).

A interação, troca e colaboração entre os professores (NÓVOA,


1999) como forma de aprendizagem (TARDIF, 2002) é evidenciado
como algo importante pela professora A, não só em seus saberes
organizacionais5, mas também em seus saberes relacionais6, e pelo
professor B.
Percebe-se que a escola é um local de aprendizagem não somente
para alunos, mas também para professores, que através da interação
com os pares aprimora sua prática pedagógica. A troca de experiências
e o trabalho coletivo podem levar a práticas que desenvolvam hábitos
de formação contínua em serviço.
Ambos os professores da pesquisa iniciaram suas atividades
docentes antes do término da sua formação inicial, tendo que lidar com
situações do cotidiano de sala de aula que muitas vezes exigia um saber
pessoal e particular. A ação docente foi o “lócus”de formação desses
professores para o exercício da docência, pois na interação com os
sujeitos, eles tentavam aprimorar sua prática pedagógica.
Sobre o exposto, Tardif nos diz:

Ora, esta capacidade de enfrentar situações é formadora: só


ela permite que o professor desenvolva certos habitus (isto
é, certas disposições adquiridas na e pela prática real) que
lhe darão a possibilidade de enfrentar os condicionamentos
e os imponderáveis da profissão. Os habitus podem se
5
Saberes organizacionais, entende-se aqui, como aqueles utilizados pelos
professores de ciências para a estruturação de suas aulas, estando ligados
ao planejamento, à metodologia e à regência de classe.
6
Saberes relacionais classificamos como aqueles ligados à interação e a
relação interpessoal entre professores e alunos.
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transformar num estilo de ensino, em ´truques do ramo`
ou mesmo em traços da ´personalidade profissional` eles
se expressam, então, através de um saber-ser e de um
saber-fazer pessoais e profissionais validados pelo trabalho
cotidiano. (2002, p. 181).

É preciso perceber que, a formação inicial precisa levar em


consideração os saberes experienciais dos professores de ciências, pois
“é nesse momento que o professor imprime a marca de sua identidade,
apropriando-se do reservatório de saberes que ele domina e que
construiu na trajetória de sua experiência docente [...].” (THERRIEN,
2002, p. 108).
Observamos que a formação de professores de ciências deixa
lacunas que são preenchidas no exercício da docência, pelos saberes
experienciais. É na sala de aula, em contato com situações peculiares
do fazer pedagógico, como: planejamento, execução da aula e avaliação
que o professor de ciências estrutura sua ação docente e forma-se
para a docência.
Nosso pensamento é reforçado por Matos (1998, p. 303) quando
diz que,

A chamada formação inicial oferece instrumentos e


prepara-nos o caminho abrindo horizontes para o
exercício da docência. Mas é no trabalho cotidiano que
efetivamente configuramos nosso jeito peculiar de ser e
atuar, configurando-nos uma identidade permanentemente
em mutação.

Sabemos que o processo de formação do professor é contínuo,


iniciando-se desde sua escolarização, onde ele é influenciado pelos
seus professores, como também por sua história de vida. Desse modo,
ao iniciarem seu curso de formação, já possuem algum conhecimento
sobre o ato de ensinar (SCHNETZLER, 1998).
A ação docente no ensino de ciências se torna formativa para
a docência à medida que proporciona ao professor a aquisição de
saberes que somente na prática pedagógica são perceptíveis, pois ao
contrário do que pensavam os positivistas, o cotidiano da sala de aula
cria situações que não comportam medição quantitativa.
A ação docente proporciona aos professores de ciências saberes
formativos para a docência, são eles os saberes organizacionais, que
ocorrem quando o professor prepara suas aulas buscando recursos
didáticos como jogos e dinâmicas; contextualiza suas aulas; estrutura
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sua avaliação dentro da metodologia trabalhada; organiza o conteúdo
de estudo etc. e os saberes relacionais presentes quando o professor
entende que sua prática pedagógica mantém uma relação dialética,
pois envolve seres afetivos e com sentimentos.
É o conhecimento adquirido na ação docente que forma também
o professor de ciências. O conjunto de saberes mobilizados pelos
professores na prática pedagógica cotidiana para desempenhar
sua função docente7, faz com que o professor seja um produtor de
conhecimento, que o forma para a docência no ensino de ciências,
deste que aprenda na prática a lidar com situações só existentes no
contexto da sala de aula.
A necessidade de reformulação dos currículos para que possam
efetivamente formar professores aptos a lidar com o cotidiano da sala
de aula é algo vigente em nossa realidade. Os cursos universitários de
formação de professores ainda seguem a linha tradicional, dando ênfase
aos conteúdos disciplinares, ao invés dos saberes profissionais, isso
faz com que esses cursos tenham pouca influência sobre os futuros
professores.

7 Considerações Finais

O estudo realizado, nos mostra que o cotidiano da sala de aula


comporta situações especificas, visto a prática pedagógica ter em si
uma relação dialética, pois envolve interação entre sujeitos. Sujeitos
estes, dotados de saberes advindos de muitas esferas durante a vida
profissional e que se efetivarão na ação docente, tornando-se saberes
experienciais.
Desse modo, a ação docente acaba se tornando um momento
de aprendizagem e formação do professor de ciências, que sai de
sua formação inicial, ou vai para sala de aula antes de concluí-la,
sem conhecer a realidade da sala de aula, “lócus”do exercício de sua
docência.
Assim, a pesquisa permitiu perceber que, de fato, a ação docente
no ensino de ciências, pode se constituir em um processo formativo,
desde que englobe saberes inerentes ao ato de ensinar. No entanto,
alguns elementos se fazem necessários, de modo a possibilitar a maior
7
Tardif (2002) chama o estudo desse conjunto de epistemologia da
prática.
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eficácia da formação do professor de ciências. A escola, por exemplo,
como ponto de encontro de vários sujeitos sociais, pode ser o local
de articulação de forças coesas para a melhoria da formação inicial e
continuada do professor de ciências, auxiliando-o na sua ação docente.
É preciso ver que a competência do docente pode ser aprimorada
através do trabalho coletivo. A partir de atividades variadas podem ser
estabelecidas rotinas de formação continuada. Dentre estas atividades
podem ser citados grupos de estudos e reflexão, planejamentos
conjuntos, debates, seminários e outros. Junto a isso, o compromisso e a
vontade política de uma formação mais efetiva, repensando os currículos
das licenciaturas e programas da formação continuada podem ajudar
a redimensionar o ensino de ciências visando sua melhoria.
Na ação docente os professores de ciências adquirem saberes
organizacionais, aprendendo a lidar adequadamente com as questões
de planejamento, metodologia e avaliação e organizando melhor suas
aulas, também adquirem saberes relacionais aprendendo a manter uma
relação de amizade, afeto e respeito para com seus alunos. Tais saberes
adquiridos na experiência docente tornam-se formativos para docência.
Concluindo o estudo, gostaríamos de enfatizar as seguintes
considerações: a) As licenciaturas em química, física e biologia, como
cursos de formação de professores de ciências precisam ter uma
melhor articulação entre as disciplinas pedagógicas e especificas,
fazendo com que a visão simplista de que para ser professor basta
dominar o conhecimento especifico acabe; b) O distanciamento entre a
escola e os centros de formação de professores de ciências precisa ser
diminuído, visto o futuro professor precisar ter contato com situações
peculiares do ensino aprendizagem e da sala de aula, antes do exercício
da docência; c) O professor de ciências constrói e reconstrói saberes
adquiridos não somente na carreira profissional, mas também na vida
familiar e escolar, sendo a sala de aula o “lócus”de validação desses
saberes e consequentemente de formação para a docência e d) A
ação docente no ensino de ciências, fornece ao professor de ciências
saberes formativos organizacionais, ligados à organização de sua
ação docente no que se refere a planejamento, recursos didáticos e
acompanhamento da aprendizagem e saberes relacionais que permitem
um melhor relacionamento interpessoal entre professor e aluno.
As constatações deste estudo permitem intuir que a formação de
professores de ciências deixa lacunas que são preenchidas, em parte,
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na ação docente, sendo que o cotidiano da sala de aula contempla os
professores com saberes experienciais adquiridos pela interação com
outros pares e políticas que perpassam o cenário escolar.
A ação docente no ensino de ciências é uma construção e
reconstrução de saberes, que envolve o conhecimento dos professores
e dos alunos, na sua interação no cotidiano da sala de aula. Na dinâmica
da sala de aula o saber fazer envolve vários saberes, que se cruzam
possibilitando a criação de novos saberes, como os organizacionais e os
relacionais, o que faz da ação docente um processo de formação para
a docência. Há, portanto, indícios, de acordo com a pesquisa realizada,
que a ação docente no ensino de ciências pode se caracterizar como
formativa para a docência.

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SABERES CONSTITUTIVOS DA FORMAÇÃO DOS
PROFESSORES DO CURSO DE HOTELARIA DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

Jonilson Costa Correia*


Lélia Cristina Silveira de Moraes**

RESUMO

Este estudo se propõe a analisar os saberes constitutivos da formação


dos professores do Curso de Hotelaria da Universidade Federal do
Maranhão a partir da imersão teórica sobre os diversos determinantes
desse fenômeno, bem como da escuta dos sujeitos envolvidos na
pesquisa. Para a análise dos dados sobre os saberes dos professores,
contamoas com as contribuições dos teóricos Paulo Freire (1996),
Pimenta (1999, 2009), Alarcão (2010), Tardif (2002) e Vázquez (1986)
que nos permitiram compreender que a constituição dos saberes possui
origens distintas, dando-se por diversas influências de muitos aspectos.
Na construção do presente estudo optamos pela abordagem qualitativa
utilizando a entrevista semiestruturada como instrumento de coleta
de dados, o que possibilitou garantir um clima favorável, a fim de que
os sujeitos se sentissem à vontade para se expressarem. Os sujeitos
envolvidos no estudo foram os docentes e discentes do Curso de
Hotelaria da UFMA atendendo, aos seguintes critérios: professores das
disciplinas de formação geral e das disciplinas específicas, alunos do
oitavo e nono período do curso. Concluímos que o professor durante o
exercício da docência busca referências em seus antigos docentes e na
sua experiência como aluno; o professor jamais forma-se sozinho, pois a
construção do conhecimento também ocorre no fazer diário do professor
e o prazer da profissão docente foi percebido como motivação na vida
dos professores; os saberes docentes são constantemente modificados
e aperfeiçoados, sendo assim, o professor está em constante formação
em sua vida profissional.

Palavras-chave: Curso de Hotelaria. Saberes Docentes. Formação


de Professores.

Recebido em: 25/09/2012 – Aceito em: 05 /11/2012

*Mestre em Educação. Professor do Departamento de Turismo e Hotelaria da


UFMA. E-mail: [email protected]
**Doutora em Educação. Professora do Programa de Pós-Graduação em
Educação da UFMA. E-mail: [email protected]
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ABSTRACT

This study aims to analyze the knowledge that guide the education of
teachers who work in the Course of Hospitality at Federal University of
Maranhão from the immersion on the various theoretical determinants
of this phenomenon, as well as listening to the subjects involved in the
research. For the analysis of data on the knowledge of teachers, we rely
on the theoretical contributions of Paulo Freire (1996), Pimenta (1999,
2009), Alarcão (2010), Tardif (2002) and Vázquez (1986) that allowed
us to understand that the constitution of knowledge, has different origins
and through the influences many aspects. In the construction of this
study we have chosen the qualitative approach using semi-structured
interview as a tool for data collection, allowing which enabled us to
ensure a favorable climate, so that the subjects feel free to express
themselves. The subjects involved in the study were the teachers and
students from the Course of Hospitality-UFMA meeting the following
criteria: teachers of general education and specific disciplines, students
in the eighth and ninth semester. We conclude that the teacher during
the teaching practice seeks for references from his former teachers
and his experiences as a student, the teacher is never formed alone,
the construction of knowledge also occurs in daily to the teacher, the
pleasure of the teaching profession was perceived as motivation in
the lives of teachers, the teachers knowledge are constantly modified
and improved, so the teacher is constantly being educated in their
professional lives.

Keywords: Course of Hospitality. Teachers knowledge. Teacher


Education.

1 Introdução

No presente estudo discutimos alguns elementos da pesquisa


sobre os saberes constitutivos da formação dos professores que atuam
no Curso de Hotelaria da Universidade Federal do Maranhão – UFMA.
Apontamos como fator principal na construção deste estudo a
possibilidade de refletirmos sobre como o professor organiza suas
aulas, forma, e avalia seus alunos, enfim, sobre o domínio dos saberes
didático-pedagógicos, tão necessários para o exercício da docência.
Partimos assim, do pressuposto de que, estudando de forma
aprofundada essa temática, seria possível encontrarmos algumas
respostas às indagações que permeiam os saberes dos professores
que atuam no Curso de Hotelaria.
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Com base nesta situação levantamos as seguintes questões:
como se constituem os saberes que orientam as práticas pedagógicas
dos professores do Curso de Hotelaria da Universidade Federal do
Maranhão? O professor que atua no Curso de Hotelaria organiza o seu
trabalho docente a partir de quais fundamentos teórico-metodológicos?
Estes questionamentos suscitam que o ensino de hotelaria
também exija um outro tipo de conhecimento além daquele específico
das disciplinas, visto que o objetivo do curso é formar profissionais
para atuarem no mercado hoteleiro (hotéis, restaurantes, eventos
etc.), porém estes profissionais acabam atuando também nos cursos
tecnológicos e na educação superior devido às necessidades das
instituições no momento de compor seu quadro docente para disciplinas
específicas.
Apesar dos constantes estudos sobre o conhecimento docente,
trazê-lo uma vez mais é sempre um desafio. Tardif (2002) diz que o
conhecimento docente é um saber complexo, sincrético, heterogêneo,
temporal e plural. E que os saberes se gestam na prática, pois o docente
age e, ao agir, elabora saberes. Nesse sentido, a epistemologia da
prática docente é o reconhecimento do conhecimento docente como
autoconhecimento. Significa dizer que, o trabalho docente se faz pela
ação mediada pela reflexão da sua prática.
Tratar de saberes docentes nesse estudo é também compreender
a dimensão humana do professor, isto é, perceber seus valores, suas
atitudes, suas queixas, a relação com seus pares, seu referencial teórico
e suas crenças.
Não menos importante foi percebermos as ferramentas que os
professores lançavam mão no seu dia a dia em sala de aula: técnicas,
metodologias, métodos, ou mesmo modelos didáticos.
A pesquisa sobre os saberes docentes tem se intensificado
significantemente desde os anos 90 do século XX, trazendo como
discussão a formação desse trabalho. A compreensão sobre os saberes
também tem contribuído como subsídio para a definição de referenciais
teórico-metodológicos justificando a inovação, seja no âmbito da
pesquisa educacional, seja no âmbito da escola.
Dessa forma, estudos sobre os saberes e a formação dos
professores de hotelaria são muito importantes por ser um fenômeno
carente de investigações científicas, bem como pela necessidade
de se caracterizar historicamente o ensino superior no Brasil e de
modo especial o ensino nos cursos superiores de hotelaria, e quais
aprendizagens e experiências foram significativas para a sua prática
educacional.
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2 Caminhos percorridos na construção da pesquisa

Vários são os caminhos e mecanismos de pesquisa a percorrer


quando se está construindo um trabalho científico. A primeira dúvida
nessa construção foi: que caminho é o mais adequado? Quais os
mecanismos que melhor conduziriam à apropriação do objeto?
Para responder a tais questões foi necessário antes de tudo saber
que o trabalho científico se caracteriza como tal quando possui um
objeto de pesquisa, uma metodologia e um corpo conceitual.
Segundo Deslandes (2009), a definição do problema ou objeto de
pesquisa às vezes é tarefa difícil, mas também é a razão da existência
de um estudo científico. A construção do objeto do trabalho científico
constitui um verdadeiro exercício contra a ideia de que as coisas estão
dadas na realidade e que basta apenas estar atento ao que acontece
no cotidiano.
Ao pensar sobre ‘os Saberes dos Professores do Curso de
Hotelaria’, como objeto desta pesquisa, foi necessário primeiramente
operar com uma série de rupturas considerando a condição de
pesquisador em um contexto no qual me encontro profundamente
imerso:
a) romper com as ideias e concepções circulantes sobre a
formação de professores, práticas pedagógicas no ensino superior e
saberes docentes;
b) desconstruir ideias pré-concebidas, por exemplo, de que o
professor universitário precisa apenas de conhecimento específico
para lecionar;
c) evitar as explicações simplistas, como dizer que o mercado de
trabalho determina a formação acadêmica.
Analisar as concepções acerca da formação e saberes dos
professores do curso de hotelaria significa entrar em um universo
de motivos, atitudes, crenças e valores que certamente é impossível
quantificar. Esta investigação, portanto, pautou-se numa abordagem
qualitativa, cuja preocupação não é com a representatividade numérica
do grupo pesquisado, mas com a compreensão profunda do contexto,
da trajetória desses professores a fim de desvelar a constituição dos
seus saberes.
Para Lima (2001), a preocupação básica da pesquisa qualitativa
é contextualizar o objeto de estudo numa realidade social dinâmica,
por meio de relações, interações e implicações advindas daquela,
objetivando assim uma análise profunda.
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Como paradigma qualitativo entendemos um enfoque
investigativo cuja preocupação primordial é compreender
o fenômeno, descrever o objeto de estudo, interpretar
seus valores e relações, não dissociando o pensamento
da realidade dos atores sociais e onde o pesquisador e
pesquisado são sujeitos recorrentes, e por consequência,
ativos no desenvolvimento da investigação científica.
(LIMA, 2001, p. 13).

Efetivamente o que importa é identificar e analisar o fenômeno,


estabelecendo suas inter-relações na medida em que se apresenta e
se mostra possível de ser estudado.
Toda pesquisa está situada dentro de um quadro de preocupações
teóricas. A leitura da bibliografia deve ser um exercício de crítica, na
qual devem ser destacadas as categorias usadas pelos diferentes
autores. Este é, segundo Goldenberg (2007, p. 79), “um exercício
de compreensão fundamental para a definição da posição que o
pesquisador irá adotar”.
Considerando que a hotelaria é uma atividade ainda muito nova,
principalmente no Brasil, pois foi no final da década de 70 que surgiram
os primeiros cursos, é imprescindível termos cuidado em não praticar a
pesquisa douta, pois as fontes teóricas nessa área são muito escassas.
Nesse sentido, as valiosas contribuições de Bachelard (1996), Trigo
(2000), Masetto (1998), Romanelli (2003), Saviani (1996), certamente
foram imprescindíveis para que não corrêssemos o risco de apreender
o fenômeno estudado em sua pseudoconcreticidade.
A partir deste aporte teórico, dos documentos oficiais sobre o
profissional em hotelaria e de outras fontes sobre formação docente,
ensino superior, saberes e práticas pedagógicas, foi possível realizarmos
o resgate histórico do curso de hotelaria, e dessa forma fazer o confronto
entre antigas e novas perspectivas de análises.
Um aspecto importante na definição do trabalho de pesquisa
é a metodologia. Primeiramente a definição da metodologia requer
dedicação e cuidado do pesquisador. Para Deslandes (2009), mais
que uma descrição formal dos métodos e técnicas a serem utilizados,
esta indica as conexões e a leitura operacional que o pesquisador fez
do quadro teórico e de seus objetivos de estudo.
Nessa fase do trabalho podem ser consideradas certas
características como: ter flexibilidade e capacidade de observação e de
interação com os pesquisados, principalmente porque os instrumentos
da investigação devem ser corrigidos e adaptados durante todo o
processo de trabalho, visando aos objetivos da pesquisa. Aparecem a
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partir disso, algumas preocupações ou um “medo”natural do que venha
a ocorrer ao longo da pesquisa. As preocupações surgem a partir de
alguns perigos latentes.
O primeiro perigo foi o envolvimento com o grupo de investigados,
exatamente o que Circourel (1980) adverte para o fato de o pesquisador
ficar envolvido com o grupo estudado e, “[...] tornar-se cego para muitas
questões importantes cientificamente”.
Dessa forma o pesquisador deve ser cuidadoso a fim de não
contaminar os resultados da pesquisa em função da sua personalidade
e de seus valores o que em alguns momentos pode inclusive interferir
nas respostas do grupo. Circourel (1980) aconselha que a melhor
maneira de controlar esta interferência é tendo consciência de como sua
presença afeta o grupo e até que ponto este fato pode ser minimizado
ou, inclusive, analisado como dado da pesquisa.
Um segundo aspecto importante foi ficarmos atentos em não omitir
fatos, ocorrências, detalhes que pudessem ser significativos quanto a
sua inclusão nos depoimentos dos investigados.
E um terceiro ponto refere-se ao fato de não nos iludirmos com as
primeiras experiências validando um saber equivocado. Nesse sentido
Bachelard (1996, p. 25) alerta que:

A primeira experiência ou, para ser mais exato, a


observação primeira é sempre um obstáculo inicial para
a cultura cientifica. De fato, essa observação primeira
se apresenta repleta de imagens; é pitoresca, concreta,
natural, fácil. Basta descrevê-la para ficar encantado.
Parece que a compreendemos.

Foram estas impressões primeiras sobre o objeto, o receio de


um ‘empirismo imediato’, de ficar vislumbrado com o aparente, que
poderiam se constituir como um forte obstáculo epistemológico. É
importante para a pesquisa que o pesquisador se mantenha em alerta
constante sobre seu objeto.
Bachelard (1996) enfatiza a possibilidade de valorizarmos
a experiência em detrimento de uma postura crítica, e isto pode
representar a própria “deformação”da formação do espírito cientifico.
Ainda sobre a questão do alerta epistemológico, é preciso

[...] aprender a pensar sistemática e metodicamente sobre


as coisas vistas. Portanto, exige muito mais do que ver as
coisas; implica perceber o que elas são e por que estão
sendo de modo como se apresentam. Com efeito, claro,
a educação do olhar cobra a percepção as múltiplas
representações do mundo e da cultura socialmente
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construídas. Para que isso seja possível, mais do que tudo,
é preciso aprender a penetrar no real para compreendê-lo
em sua radicalidade, ontológica, epistêmica e metodológica.
(GHEDIN, 2008, p. 73).

Diante destas da aparente simplicidade do tema da pesquisa e


da falta de muitas fontes sobre a hotelaria, o cerne da questão consiste
em defendermos o objeto de pesquisa como uma contribuição para a
formação do profissional dessa área.
Ainda discutindo uma proposta metodológica que possa criar
condições para a apreensão e compreensão dos Saberes dos
Professores do Curso de Hotelaria como um fenômeno da educação
e, portanto social, histórico e político, nascido da prática cotidiana,
ressaltamos que não pudemos esgotar todos os aspectos desse objeto
de pesquisa, ou seja, sua totalidade, pois como nos afirma Kosik
(1976, p. 35), “o conhecimento humano não pode jamais, por princípio,
abranger todos os fatos”. No entanto, a sua compreensão só adquire
importância na medida em que se considera o conjunto das relações
que processam a elaboração do conhecimento, contribuindo assim para
a integração entre a parte (fenômeno estudado) e o todo (a teorização).
Com esta compreensão procuramos defender uma proposta
metodológica que se afastasse de uma concepção puramente
instrumental que não se detivesse a procedimentos isolados ou
a se configurar como um ‘manual de ações do pesquisador’ a ser
criteriosamente seguido. A proposta metodológica que acreditamos
defender deve “[...] organizar-se em torno de um quadro de referências,
decorrentes de atitudes, crenças e valores que se configuram como
concepções de mundo, de vida, de conhecimento” (GHEDIN, 2008,
p. 108).
Destacamos aqui que apesar de existirem regras metodológicas
para cada etapa da pesquisa científica, a marca pessoal do investigador
é imprescindível. Afinal o pesquisador não é neutro, têm suas crenças,
valores, concepções e sabe como apreende e analisa melhor o
fenômeno estudado.
O objetivo deste estudo foi desvelar os saberes constitutivos
da formação dos professores que atuam no Curso de Hotelaria da
Universidade Federal do Maranhão. Desvelar estes saberes significa
conhecer, a partir dos depoimentos dos professores e alunos, como
os docentes planejam e executam o plano didático, escolhem suas
metodologias, elaboram as tarefas para os alunos e como acontece a
articulação entre a teoria e a prática na sala de aula.
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A coleta de dados foi realizada no próprio Curso de Hotelaria da
UFMA possui hoje 286 (duzentos e oitenta e seis) alunos regularmente
matriculados e distribuídos em nove semestres no turno vespertino. O
corpo docente é composto por seis professores graduados em hotelaria
que ministram disciplinas específicas e de 24 professores que trabalham
com disciplinas de formação geral ofertadas por diversos departamentos
que dão suporte ao referido curso.
Participaram deste estudo professores1 e alunos, sendo 04 (quatro)
professores das disciplinas específicas, que são: Hotelaria Hospitalar,
Teoria e Prática de Restaurante II, Marketing Aplicado à Hotelaria, Teoria
e Prática de Hotel I, Estágio Curricular, Hotelaria e Consultoria e 06
(seis) de formação geral que ministram as disciplinas: Inglês Técnico
I, Inglês Técnico II, Contabilidade Geral e de Custos, Introdução à
Administração Hoteleira, Gastronomia Aplicada e Introdução à Hotelaria
e Turismo, já os alunos, num total de 20 foram aqueles que cursavam
o oitavo e nono períodos.
Utilizamos a entrevista semiestruturada como o instrumento para
a coleta dos dados durante a pesquisa.
Para Ludke e André (1986), essa interação que permeia a
entrevista provoca influência recíproca entre os envolvidos. A vantagem
de utilizar tal instrumento de coleta de dados é a de captação imediata
e corrente da informação desejada. Nesse sentido, esses autores
mencionam que a entrevista pode se constituir uma estratégia dominante
para a obtenção de dados descritivos na linguagem do próprio sujeito
permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre
a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo.
Diante disso, foi elaborado um roteiro de entrevista contemplando
três categorias de análise: A primeira delas foi sobre as formas de
inserção na docência, em que este apontou suas escolhas, explicitando
as influências que recebeu até chegar à sala de aula. A segunda tratou
sobre a construção do saber-fazer, possibilitando identificarmos, por
meio de seus relatos sua atuação docente, o fazer de sala de aula e o
planejar a aula, a visão do professor frente ao aprendizado do aluno, à
1
Para identificação dos professores e alunos adotamos nomes de estrelas
como uma forma de homenagear a classificação hoteleira que até hoje é feita
usando-se o critério de estrelas, ou seja, de acordo com a categoria dos hotéis
estes podem ter uma, duas, três, quatro ou cinco estrelas. Segundo Bogdam
e Biklen (2002), as identidades dos sujeitos devem ser protegidas, para que
a informação que o investigador recolhe não possa causar-lhes qualquer
tipo de transtorno e prejuízo.
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avaliação e à reflexão. A terceira referiu-se à influência da experiência
profissional no saber docente, tratando-se das experiências profissionais
anteriores ou atuais que influenciam os docentes diariamente em seus
conteúdos de sala de aula; uma vez que as experiências vivenciadas
no campo profissional são marcantes e são fontes da experiência do
professor.
As respostas foram agrupadas e analisadas, a partir do que foi
apontado em cada categoria, entrecruzando-as e discutindo-as, com
base nos referenciais teóricos que embasaram esta pesquisa, na
perspectiva de penetrar na essência do objeto de estudo.
Buscando explicar como, no dia a dia da sala de aula o professor
vai construindo um conhecimento sobre o ensino, e como partilha com
os alunos e seus pares o resultado dessa elaboração, na análise e
apresentação dos dados nos fundamentamos nos estudos de Paulo
Freire (1986, 1996), Maurice Tardif (2002), Demerval Saviani (1987),
Selma Garrido Pimenta (1999, 2009), Alarcão (2010) e Vázquez (1986).
Dentre os dez professores entrevistados 40% possui graduação
em hotelaria, 20% em turismo, 10% em letras, 10% em contabilidade,
10% em engenharia civil e ciências imobiliárias, 10% em administração
e letras. E o tempo de serviço no magistério, entre os entrevistados,
varia de um a 30 anos.

3 Revelações da pesquisa

Todos os professores entrevistados expressaram gostar do que


fazem e afirmaram que tiveram suas primeiras experiências na docência
ainda durante a graduação em cursos de extensão e como monitores
de disciplinas específicas, como professores de ensino fundamental e
médio, no estágio docência do mestrado, como professores de cursos
técnicos e cursos livres fatos que os influenciaram a aceitar o desafio
da sala de aula, conforme relataram:

[...] quando eu iniciei a graduação de hotelaria eu já era professora


do município e dava aulas no ensino fundamental. Mas tive outras
experiências [...] antes de sair da universidade eu fui monitora na
cadeira de restaurante [...] logo em seguida fui para o ICEP lecionar
várias disciplinas de hotelaria e turismo, pois era um curso técnico e
posteriormente o Estado lançou cursos técnicos em que eu fui aprovada
e lá eu ministrei disciplinas de hotelaria, em seguida fui trabalhar no
ensino superior em faculdade particular e depois na UFMA... (SIRIUS).
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[...] eu me identifico muito com a docência, eu gosto muito da sala
de aula. Eu já dava aula anteriormente antes de ser professora
universitária, eu trabalhava no ensino médio e no fundamental, lecionava
biologia, química, matemática e física então estou na docência há
tempo... (CAPELLA).

Os entrevistados citados iniciaram na docência como professores


do ensino fundamental, médio e técnico e seus saberes docentes
tiveram, possivelmente, como fontes sociais de aquisição a prática
docente na escola e na sala de aula, ou seja, pela prática do trabalho.
Dentre os professores entrevistados, dois tiveram o seu primeiro
contato com a docência durante o curso de mestrado por conta do
estágio docência e também pelos convites que surgiram à época
conforme afirmam:

[...] durante o mestrado eu fazia o estágio docência e durante este


estágio fui despertando para o ensino e durante a graduação eu tinha
participado de projetos de extensão relacionados à docência, mas no
tema da educação ambiental [...] depois ministrei cursos de qualificação
e logo durante o mestrado comecei a ser professor substituto. (VEGA).

[...] quando estava no mestrado fui convidado para ministrar cursos


para servidores na área de hotelaria, e acabei me identificando com a
docência e passei a ministrar aulas em uma faculdade privada, a partir
daí me apaixonei pela profissão de professor. (ANTARES).

Vega e Antares receberam influências de fontes como estágios


e estudos da pós-graduação. Durante a docência esses saberes são
caracterizados como saberes provenientes da formação escolar e da
formação profissional.
Segundo Tardif (2002), existem os saberes pessoais dos
professores cujas fontes sociais de aquisição são a família, o ambiente
da vida, isto é, a história e socialização primária. A seguir podemos
verificar como Aldebaran evidencia a importância da família e de uma
professora no início da sua carreira.

Na verdade foi mais uma consequência porque eu tenho duas irmãs


nós três somos professoras de inglês e nos formamos na mesma
universidade a UEMA, eu sou a mais nova então as minhas irmãs mais
velhas entraram no curso de inglês primeiro ai viraram professoras e
quando eu fiz o ensino médio no CEFET eu tive uma professora de
português e literatura que me inspirava muito, então por ela eu comecei
a sentir gosto de dar aula. Segui o exemplo das minhas irmãs. Comecei
a dar aulas aos 15 anos de idade. (ALDEBARAN).
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Um dos primeiros resultados que sobressaem na pesquisa de
Tardif (2002) é que os saberes são temporais, ou seja, são adquiridos
através do tempo, isto é, uma boa parte do que os professores sabem
sobre ensino, sobre os papéis do professor e sobre como ensinar
provém da sua história escolar, portanto são saberes pessoais que
têm como fonte a família, os amigos. São saberes provenientes da
formação escolar anterior como a escola primária e secundária e
saberes da formação profissional como os estágios, os cursos de
formação continuada.
Os depoimentos nos mostram nitidamente que cada professor
investigado traz consigo estes saberes temporais na sua história de
trabalho docente, e principalmente quando dizem por que escolheram
trabalhar na docência.
Ao ingressar na profissão docente os professores passaram por
diversas dificuldades que foram desde a relação professor-aluno, a
incompatibilidade das disciplinas que lecionava com a sua formação, a
maneira de agir e falar na sala de aula, planejamento das aulas. Como
afirmam, por exemplo, os professores Altair e Antares:

Eu diria que pela primeira vez eu tive medo. Eu disse: eu enfrentar alunos
de nível universitário? Mas como eu já tinha certa prática do ensino de
nível médio e também havia enfrentado algumas platéias em cursos no
SEBRAE, eu pensei que ali não era para as pessoas me derrubarem,
foi assim que eu superei o medo. (ALTAIR).

[...] Como nunca tinha atuado na docência, a minha maior dificuldade


foi como agir em sala de aula, a maneira de falar, de vestir, de me fazer
notar pelos alunos. A maneira de superar as dificuldades foi no dia a dia
das aulas, e isso fez com que eu conseguisse obter confiança em mim
e em como agir com eles, sendo discreto e procurando passar respeito
a eles. (ANTARES).

Para conquistarem mais segurança Antares buscou recursos em


suas experiências anteriores de sala de aula e também no cotidiano,
considerando os alunos como parceiros no processo de esino-
aprendizagem.
Tardif apud Huberman (1989) explica que no início da carreira a
maioria dos professores aprende a trabalhar na prática, às apalpadelas,
por tentativa e erro. É a fase dita de exploração caracterizada pela
aprendizagem, frequentemente difícil e ligada àquilo que denominamos
sobrevivência profissional, quando o professor deve dar provas de sua
capacidade, ocasiona segundo Tardif (2002) a edificação de um saber
experencial, que se transforma muito cedo em certezas profissionais,
em truques das profissões, em rotinas, em modelos de gestão da classe
e transmissão de matéria.
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Ao longo da sua carreira, o professor passa por várias experiências
no processo de ensino-aprendizagem e, a partir disso, indagamos aos
docentes como eles avaliam a sua atuação presente em relação ao início
de sua carreira. Eles responderam que estão sempre se avaliando e
pensam na educação como um processo de aprendizado constante, e
veem a sala de aula como um cenário de relações, de aprendizagem
mútua, ou seja, que o amadurecimento do seu trabalho também
depende dos alunos, das respostas que estes dão a eles em relação
aos seus objetivos.
Dentre os respondentes, 30% dizem que estão mais maduros
em relação ao início do trabalho docente. Pimenta (1999) aponta que
o trabalho docente e a identidade do profissional da educação não
é um dado imutável, mas é um processo de construção do sujeito
historicamente situado e que ela se constrói a partir da significação
social da profissão, da revisão constante dos significados da profissão
e das práticas.
Eu avalio que estou aprendendo. Vejo isso pelas respostas dos
alunos. Estou alcançando os objetivos, agora estou muito envolvido com
a extensão aqui na universidade porque era uma carência muito grande
no Curso de Hotelaria, estou muito satisfeito com as atividades, quanto
à atividade de ensino é procurar melhorar a cada semestre. (VEGA)

Com a experiência de ter ministrado aulas em Faculdades Privadas,


Institutos Federais de Ciência e Tecnologia, Universidades Públicas,
sinto que houve uma grande evolução na minha carreira. No começo
sem experiência o cometimento de erros é muito grande, e com o tempo
o crescimento profissional, as coisas se tornam mais profissionais.
(ANTARES).

Analisando os depoimentos acima podemos inferir que os


professores dão grande importância às suas experiências, e as
técnicas utilizadas em sala como fonte de aprendizagem para o melhor
desenvolvimento do trabalho docente.
A professora Capella, por exemplo, percebe o valor e a importância
da avaliação constante bem como a colaboração dos alunos desde
o início da sua carreira até agora. É possível que concebam a sua
formação como um fenômeno continuo, inacabado:

[...] Eu sou uma eterna aprendiz, a cada sala de aula eu aprendo um


pouco mais [...] dificuldades nós sempre vamos ter. Mas ensinar é uma
interação ali quase que diária, você interagindo com aquele aluno, você
está sempre aprendendo com ele e isso é uma coisa que eu aprendi é
a aprender, eu ainda estou aprendendo. (CAPELLA).
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Paulo Freire (1996) enfatiza que “não existe docência sem
discência”, deixa claro que o professor deve ser um grande aprendiz,
e estar aberto a apreender a realidade de seus educandos. Reflete
que pelo fato de serem eternos aprendizes, estão sempre em busca de
novos conhecimentos, e que seu conhecimento está sempre inacabado.
O autor diz que o professor deve ter o bom senso de utilizar e respeitar
a bagagem de conhecimento que o educando traz de suas vivências.
Em sua obra a ‘Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática
educativa’ (1996), diz que o professor deve estar em constante pesquisa
de novos saberes, novas perguntas para novas respostas.
E ainda que “ensinar é uma especificidade humana”que exige do
pedagogo ter uma boa preparação e qualificação, e este deve estar
seguro da sua profissão para melhor desenvolver a sua atividade de
docência. E diz que para o professor poder ajudar o educando a superar
a sua ignorância, antes ele deve superar as suas próprias ignorâncias.
Os respondentes disseram que aprimoram os seus conhecimentos
técnico-pedagógicos de várias formas: através de leituras em revistas
especializadas em sua área de atuação, participam de eventos científicos
onde tem a oportunidade de apresentar e publicar trabalhos e assim
socializar suas experiências e conhecimentos com outros educadores.
Nos depoimento de Canopus parece evidente a consciência da
necessidade de aprimorar-se sempre:

Antes do mestrado eu tinha mais tempo pra fazer cursos, eu fiz cursos
na área de hotelaria, pra ser tutora a distância e outros pequenos de
extensão. Agora eu não fiz nenhum porque na verdade ainda estou no
processo pós-mestrado. Então eu leio, faço artigos essa é forma como
eu estou me atualizando. (CANOPUS).

Estas falas nos revelam que os saberes dos professores podem


ser aprendidos /construídos pelos professores em seu processo de
formação inicial e continuada, e que os saberes da formação profissional
são necessários para a construção de novas práticas que permitem
identificar avanços, dificuldades e possibilidades para a reconstrução
das aprendizagens dos alunos.
Para Pimenta (1999), a mobilização dos ‘saberes da docência’
é um passo importante para mediar o processo de construção da
identidade profissional dos professores. Sobre este aspecto, indica
que esses saberes são constituídos por três categorias: os saberes da
experiência, os saberes do conhecimento – referidos os da formação
especifica e os saberes pedagógicos aqui entendidos como os que
viabilizam a ação do ensinar.
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A maioria dos docentes entrevistados exerce, atualmente, a
docência como principal atividade profissional, embora em outros
momentos já tenham desempenhado atividades em segmentos às vezes
diferentes da sua formação acadêmica como técnico administrativo na
universidade, ou em consultoria de empresas. 20% dos professores
ainda se dedicam a uma atividade além da docência como trabalhos em
assessoria contábil para empresas de diversos ramos e como técnico
jurídico em um fórum de São Luís.
Dentre os respondentes percebemos que aqueles que tiveram
uma experiência na docência antes ou durante a graduação têm maior
preocupação com os aspectos pedagógicos, com o papel do docente
em sala de aula, bem como em fazer a conexão entre teoria e prática,
entre suas aulas e o mercado de trabalho.
Dessa forma, entendemos que os saberes docentes são
constituídos por vários saberes, com os quais os docentes mantêm
diferentes relações. Os saberes das experiências mostram um pouco
dessa relação quando influenciam na prática docente, um exemplo,
é como os professores articulam os conteúdos com a realidade do
mercado de trabalho:

[...] Nas disciplinas práticas eu levo os alunos para um pequeno estágio


e visitas técnicas aos hotéis. Digo mesmo olha nós não estudamos uma
teoria como filosofia e sociologia nós estudamos a realidade do mercado
então tem que estudar olhando para o mercado. (VEGA).

Em seu depoimento, Polaris percebe a visita técnica como uma


complementação didático-pedagógica da sua disciplina possibilitando
aos educandos a articulação dos seus conhecimentos teóricos e
práticos.

Por ter feito o curso [...] eu conheço e sei qual é a necessidade. Eu


tenho certeza que muitas coisas que hoje eu passo, não vi na faculdade
e acho que deveriam ser vistas. Eu falo de Coisas reais mesmo. Não
adianta você trabalhar com coisas utópicas, na verdade você sente falta
do que é real. (POLARIS).

Alguns alunos pensam que essa articulação entre a teoria e


prática é falha nas aulas do curso de hotelaria da UFMA, pois ao
serem indagados eles acham que deveria ter mais aulas práticas, e
todos disseram que falta este elemento para melhorar a aprendizagem.
Esta relação dos conteúdos com a realidade aparece como o ponto
mais importante durante a formação do profissional de hotelaria, por
que somente assim ele terá segurança para trabalhar em um meio de
hospedagem.
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Para os alunos, o mercado de trabalho aparece como campo de
aplicação do aprendizado teórico, ou seja, para eles o processo ensino-
aprendizagem só será completo quando houver a prática ostensiva no
curso de hotelaria, ”[...] que a UFMA criasse um convênio para parceria
com os hotéis e facilitar para professores mostrarem a realidade no
mercado de Hotelaria e o aluno saber o que é ser um verdadeiro
hoteleiro [...] (CASTOR).
Vázquez (1986) menciona que a atividade teórica por si só não é
práxis e apresenta também que enquanto a teoria permanece em seu
estado puramente teórico não se passa dela à práxis e, por conseguinte
esta de certa forma é negada. Para Vázquez existe uma contraposição
entre teoria e prática que tem sua raiz no fato de que a primeira, em si,
não é prática, isto é, não se realiza não se plasma, não produz nenhuma
mudança real. Para produzir uma mudança, segundo Vázquez, não
basta desenvolver uma atividade teórica, é preciso atuar praticamente.
Perguntamos aos alunos e professores quais os conhecimentos
que eles consideram importantes para se exercer o trabalho docente,
e responderam assim:

[...] Tem que ter conhecimento de planejamento escolar porque a gente


não tem isso, de didática, como preparar uma aula, qual o procedimento
que eu vou usar. Eu acho que falta didática na verdade. Por exemplo,
nas disciplinas que tem um foco mais de licenciatura (como as de línguas
principalmente por ele já ter uma base mais pedagógica) as aulas fluem
muito melhor e agente vê uma organização muito maior nos conteúdos.
A gente vê que tem todo um cronograma, é muito mais organizado do
que quem não tem uma licenciatura. (ALIOTH).

Com esses depoimentos percebemos como os alunos e


professores acham importante o conhecimento didático que o professor
tem que ter para desenvolver suas aulas, inclusive os próprios
estudantes observaram as diferenças entre as aulas de um professor
que vem da licenciatura comparando com as de um professor que não
tem muito conhecimento de metodologia do ensino, de didática, de
conhecimentos pedagógicos.
A experiência do formador no campo prático é colocada como
facilitadora, no momento de mostrar ao aluno a importância da teoria e
até como suporte para suprir determinadas lacunas do professor quanto
à sua preparação para a docência.

[...] Eu acho que o professor tem que ter bastante conhecimento teórico,
bastante teoria e ele também tem que conhecer a prática porque aí,
nesse caso, aliando as duas coisas ele vai passar isso para aluno. Às
vezes tem professor que tem mais teoria e não tem essa noção que a
prática é muito importante. (SARGAS).
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Alarcão (2010) diz que o papel do professor é criar, estruturar
e dinamizar situações de aprendizagem e estimular a aprendizagem
e a autoconfiança nas capacidades individuais para aprender. Estas,
segundo a autora, são competências que o professor de hoje tem que
desenvolver.

[...] Eu acho que ser professor antes de tudo é ser educador, pois a
gente não tá aqui só pra passar a matéria, mas pra educar o aluno no
aspecto moral, no aspecto ético. Nas minhas aulas eu faço esse tipo
de trabalho. Me preocupo em fazer o aluno pensar a realidade e não só
aquela coisa de conteúdo mais formar o aluno.(CANOPUS).

Destarte os educandos, segundo Freire (1996) vão também se


transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução dos
saberes ensinados, ao lado do educador igualmente sujeito do processo.
Assim os professores indagados perceberam a importância do
papel do educador não somente de ensinar conteúdos, mas também a
pensar certo, pensar sobre a realidade como relata Canopus:

[...] Eu acho que ser professor antes de tudo é ser educador, pois a
gente não tá aqui só pra passar a matéria, mas pra educar o aluno no
aspecto moral, no aspecto ético. Nas minhas aulas eu faço esse tipo
de trabalho. Me preocupo em fazer o aluno pensar a realidade e não só
aquela coisa de conteúdo mais formar o aluno.(CANOPUS).

Ser professor exige humildade, acompanhamento, orientação


aos alunos e ter consciência dos seus limites teórico-metodológicos
e sempre buscar meios que fortaleçam o seu trabalho, afirma Vega:

[...] Eu acredito que o professor é um orientador do aprendizado. Você


está ali na sala de aula para acompanhar, pra orientar, aprender sempre
com leituras. Inclusive comprei até recentemente um livro de formação
didática, eu considero que tem que ter uma formação na metodologia
do ensino superior importante. (VEGA).

As concepções que os professores apresentam da sua profissão


estabelece vínculos relacionados ao trabalho pedagógico à troca de
informações com estudantes, com os pares. Ao encontro dessa ideia,
Isaia e Bolzan (2004), comentam que aprender a ser professor não
pode ser um processo solitário, precisa ser construído com os colegas,
alunos e no espaço acadêmico.
Freire (1996) sinaliza que ser professor é respeitar a dignidade
do educando, sua autonomia, sua identidade em processo e que isto
exige do docente uma reflexão crítica permanente da sua prática a qual
leva à avaliação do seu fazer com os educandos.
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4 Considerações finais

O percurso investido na captura deste objeto nos possibilitou


perceber que os professores investigados revelaram que os
conhecimentos mobilizados para ensinar são adquiridos ao longo da
vida e originam-se de diversas fontes, são eles: saberes adquiridos no
ambiente social, saberes da formação escolar, e saberes adquiridos na
própria prática pedagógica, com os alunos e com seus pares.
Dessa forma, a interação com os diversos sujeitos e meios é
significativa para a construção dos saberes do professor, pois ele
jamais forma-se sozinho. A experiência vivida com seus pares e
alunos é fundamental para a formação dos docentes, pois serviram e
servem como parâmetros para o fazer – docente inicial e como troca
de experiências atuais, agora que já são mais experientes, mas há a
necessidade de mais trabalho coletivo.
Outro aspecto relevante observado nesta pesquisa é que o
professor do curso de hotelaria, ao buscar meios para aperfeiçoar-se
profissionalmente, o faz na maioria das vezes em campos científicos
diversos como congressos, seminários e leituras relacionadas à sua
formação ou em outras áreas que contribuam para as suas atividades
docentes e motivada pelas necessidades de sua prática.
Constatamos a partir disso que o professor universitário necessita
viver sempre um processo formativo, questionar-se, e assim buscar
aprimoramento de suas habilidades a cada dia no processo ensino-
aprendizagem.
No que diz respeito à concepção que os investigados (professores
e alunos) têm da profissão docente é unânime o pensamento de que
para ser professor é importante refletir sobre seu trabalho, suas aulas,
atualizar-se constantemente, conhecer a realidade do mercado de
trabalho e respeitar os conhecimentos prévios dos alunos. Para os
alunos, ficou evidenciada a grande importância dos saberes didático-
pedagógicos para o exercício da docência.
Nos depoimentos, os respondentes supõem que os saberes dos
professores são construídos à medida que ele busca a relação entre
o conhecimento teórico e o conhecimento prático. Um dos pontos
mais enfatizados pelos alunos, leva em conta o repensar a proposta
pedagógica do curso, buscando assim maior articulação entre teoria e
prática, pois desse modo os estudantes conseguiriam conhecer como
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é a realidade do mercado hoteleiro de São Luís, como funcionam os
diversos setores de um meio de hospedagem. Isto contribuiria, na
concepção dos alunos, para que eles fossem inseridos no mercado de
trabalho assim que deixarem a universidade.
O prazer da profissão escolhida e a possibilidade de atuar como
docente pode ser percebida como fator motivador na vida profissional
dos docentes sujeitos deste estudo, fato que se dá mesmo apesar das
dificuldades que têm e tiveram no exercício da docência.
A realização dessa pesquisa permitiu compreender que a
constituição dos saberes docentes possui origens distintas, dando-se
por diversos meios e através da influência de muitos aspectos.
Estudos como este, sobre formação de professores e saberes
docentes são muito significativos por que contribuem para possibilidades
de reflexão e melhoria da prática docente. Finalmente considera-se a
relevância desse trabalho tanto para da área de hotelaria quanto da
educação.

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SER PROFESSOR DE PORTUGUÊS: UMA ANÁLISE
DOCUMENTAL NA UNIVERSIDADE DO MINHO-PORTUGAL

Andréa Jane da Silva*

RESUMO

Nosso objetivo neste artigo é o de buscar compreender o ser professor


de Português nos documentos oficiais que regulamentam a formação
do professor de Português em Portugal, porém nosso foco recai sobre
o curso de Letras-Português e Línguas Clássicas da Universidade do
Minho (Braga/PT). No contexto português, buscamos junto ao site do
Ministério da Educação alguns documentos gerais que de forma direta
ou indireta tratassem da formação, uma vez que não há um dispositivo
regular da formação inicial do professor de Português. Dentre esses
documentos figuram: A Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei
46/1986), Declaração de Bolonha, Decreto-lei 74/2006, Decreto-lei
43/2007, Despacho 546/2007 (que trata do Plano Nacional de Ensino
de Português), Currículo Nacional do Ensino Básico, Programas de
Português do Ensino Básico e Currículo do curso de formação de
professor de Português e Línguas Clássicas da Universidade do
Minho em seus dois ciclos. Acreditamos que essa regulamentação
através desses documentos, hoje mais do que nunca, está imbricada
no processo formativo dos docentes e ajuda a construir essa profissão,
de tal modo que podemos ouvir as ressonâncias desses discursos nos
processos de formação inicial, na elaboração dos materiais didáticos,
na atuação dos professores em sala de aula etc. Isso não significa, de
forma alguma, que essas ressonâncias ocorram por semelhança de
ideias. Os discursos são interpretados, reinterpretados, aceitos ou não.
Poderíamos dizer até que, por vezes, as vozes que com eles dialogam
aproximam-se mais de uma dissonância.

Palavras-chave: Identidade profissional. Formação Inicial. Ensino de


língua materna.

Recebido em: 21/09/2012 – Aceito em: 12 /11/2012

* Possui graduação em Letras (1998), mestrado em Estudos da Linguagem


(2001) e Doutorado em Educação (2010) pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Atualmente, é professora Adjunto III da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. E-mail: [email protected]
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ABSTRACT

Our goal in this paper is to seek to understand the dimension of being


a Portuguese teacher in the official documents that rule the training of
Portuguese teachers in Portugal. However, our focus is on the course of
Letters-Portuguese and Classical Languages at the University of Minho
(Braga / Portugal). In the Portuguese context, we surveyed some general
documents on the website of the Ministry of Education that directly or
indirectly treat training, since there is a device regulating the initial training
of Portuguese teachers. Among these documents include: The Education
System Basic Law (Law 46/1986), Bologna Declaration, Decree-Law
74/2006, Decree-Law 43/2007, Order 546/2007 (which deals with the
National Plan for Teaching Portuguese), National Curriculum of Basic
Education, Portuguese Programs of Basic Education, Curriculum and
Teacher Training Course for Portuguese and Classical Languages at the
University of Minho in its two cycles. We believe this legislation through
these documents, now more than ever, is embedded in the training of
teachers and help build this profession, so that we can hear the echoes
of these discourses in the process of initial training, the preparation of
teaching materials, the performance of teachers in the classroom etc.
This does not mean in any way that these resonances occur by similar
ideas. The discourses are interpreted, reinterpreted, or not accepted.
We could even say that sometimes the voices that converse with them
are closer to a dissonance.

Keywords: Professional identity; initial training, mother tongue teaching.

1 Considerações sobre regulação e currículo

Este artigo foi elaborado a partir de um trabalho de pesquisa mais


amplo que objetiva investigar o que se entende por “Ser Professor de
Português”. Trata-se de um trabalho que faz análise contrastiva entre
dois contextos formativos: o Curso de Letras-Português e respectivas
Literaturas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/BR e o
Curso de Português e Línguas Clássicas da Universidade do Minho/
PT. Uma de nossas fontes de dados refere-se aos discursos oficiais,
tomados como os documentos que regulamentam e/ou orientam a
formação profissional de uma dada área. No trabalho ora apresentado,
dirigimos nossa atenção, especificamente, ao contexto português.
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São analisados documentos elaborados pelo Ministério da
Educação de Portugal e o projeto político-pedagógico da UMinho.
Acreditamos que tal regulamentação através desses documentos está
imbricada no processo formativo dos docentes e ajuda a construir essa
profissão, de tal modo que podemos ouvir as ressonâncias desses
discursos nos processos de formação inicial, na elaboração dos
materiais didáticos, na atuação dos professores em sala de aula etc.
Isso não significa que essas ressonâncias ocorram por semelhança de
ideias. Os discursos são interpretados, reinterpretados, aceitos ou não.
Poderíamos dizer até que, por vezes, as vozes que dialogam com os
discursos desses documentos aproximam-se mais de uma dissonância.
Assim, apresentamos, aqui, o resultado da leitura de alguns
documentos recentes elaborados na última década – por considerar
que constituem veículos de informação importantes, especialmente por
sua autenticidade e por estarem acessíveis a todos –, bem como de
propostas curriculares da Universidade do Minho, situada em Braga/
Portugal. Decidimos realizar uma análise documental com o objetivo
de compreender, mediante o discurso dos documentos oficiais, como
o professor de Língua Portuguesa está circunscrito no tocante ao perfil
esperado, ao objetivo dessa área de ensino, aos conteúdos, dentre
outros fatores que pudessem nos levar a tal compreensão. Essa
circunscrição via esses elementos leva-nos aos saberes que constituem
o professor de Português.
No nosso estudo, consideramos relevantes as informações
contidas em dois tipos de documentos: 1) os de foro interno, elaborados
pelas instituições formadoras aqui estudadas, e 2) os de origem externa,
produzidos pelos órgãos do governo sobre ensino e formação docente,
especialmente no tocante à área de Português como disciplina.
Assumimos, então, a ideia de Antunes (2008), para quem muitas
decisões no campo da educação têm origens supranacionais. Além
disso, modelos, orientações e programas destinados a regular a
educação emanam de organismos internacionais, como Banco Mundial,
Organização Mundial de Comércio e outros. Assim sendo, a educação
passa por uma nova ordem educativa que é mundial. Dentro desse
contexto, Antunes (2008, p. 102) destaca quatro vertentes: “governação
pluriescalar”, “ação transnacional”, “novo modelo educativo mundial”e
“agenda globalmente estruturada para a educação”. Sobre a governação
pluriescalar, a autora afirma que, atualmente, a definição de metas e
de objetivos, além dos procedimentos de controle da educação nas
nações, parte de instâncias como a União Europeia. Convivendo com
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diretrizes de organismos diferentes, as nações precisam aliar seus
objetivos aos de outras, como a Organização Mundial de Comércio,
que em seu Acordo Geral de Comércio de Serviços coloca a educação
como objeto passível de se submeter às regras por ele ditadas.
Portanto, diante dessa governação advinda de várias fontes, a
educação está inserida dentro de um campo de regulação transnacional.
Os sistemas educativos dos países passam a ser orientados,
estruturados e avaliados por organizações internacionais, com base
em visões pseudoconsensuais, que direcionam formas de pensar e de
atuar. Nesse sentido, constituem também no campo da educação o que
Antunes (2008), em concordância com outros, chama de sociedade civil
global. Quanto à terceira vertente, a autora destaca dentro da lógica
mencionada que não se pode falar mais em sistema educativo, pois se
antes havia incertezas, estas estavam dentro de margens aceitáveis,
havia um universo de relações reiteráveis.

O nosso “sistema”educativo é já outra coisa: pluralizou-


se, fragmentou-se, balcanizou-se, num certo sentido,
mas também se localizou, se tornou mais heterogéneo,
mais poroso, mais mestiço, hoje, é mais inclusivo do que
há trinta ou quinze anos, mas é ainda injusto, elitista e
discriminatório. (ANTUNES, 2008, p. 103).

A agenda globalmente estruturada para educação diz respeito


à atuação das forças transnacionais nos sistemas educativos,
ultrapassando as instâncias nacionais. “[...] a partir deste ângulo de visão
ganham realce os imperativos, exigências, prioridades e expectativas
colocados à educação pelos arranjos e processos econômicos, políticos
e culturais globais em construção” (ANTUNES, 2008, p. 104). Assim,
os documentos reguladores dos países assumem as propostas de
instâncias internacionais como se houvesse um currículo global. Desse
modo, as especificidades dos sistemas educativos das nações são
desconsideradas.
No que diz respeito ao modo de olhar para esses documentos,
cabe-nos ressaltar que a compreensão de leitura que temos toma por
base Bakhtin (2003, p. 315), para quem a leitura de uma obra e de seu
autor significa “[...] ver e compreender outra consciência, a consciência
do outro e seu mundo, isto é, outro sujeito”. Compreendemos ainda,
com base nesse autor, que o texto é o objeto das ciências humanas
(ciências do homem), e este sempre se exprime através de textos. “O
objeto das ciências humanas é o ser expressivo e falante. Esse ser
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nunca coincide consigo mesmo e por isso é inesgotável em seu sentido
e significado” (BAKHTIN, 2003, p. 395, grifo do autor). Queremos dizer
com isso que a leitura dos textos produzidos por um ou mais sujeitos,
inevitavelmente, gera dinâmicas de relações entre as vozes presentes
no texto analisado e as do sujeito analista, produzindo o que Bakhtin
chama de “texto emoldurador”, o qual comenta e avalia o texto objeto,
mas não é reflexo deste. É com esse olhar que voltamo-nos para os
documentos.
Como vamos fazer a leitura do currículo da instituição, precisamos
mobilizar uma breve discussão sobre currículo, embora não seja o
objetivo principal deste capítulo. Tomamos então o projeto político-
pedagógico como sinônimo de currículo. Entendemos também que
uma proposta pedagógica deve ser compreendida como sendo situada,
por ter sido elaborada por sujeitos distintos e, por isso mesmo, emerge
de múltiplas vozes – concordantes ou discordantes. Para Moreira e
Silva (2001), há muito o currículo deixou de ser apenas um artefato
voltado para questões de técnicas, de métodos e de procedimentos.
Por isso, acreditamos, assim como esses autores, que ele deve ser
considerado um instrumento social e cultural, guiado, portanto, por
questões sociológicas, políticas e epistemológicas.

O currículo não é um elemento inocente e neutro de


transmissão desinteressada do conhecimento social. O
currículo está implicado em relações de poder, o currículo
transmite visões sociais particulares e interessadas,
o currículo produz identidades individuais e sociais
particulares. O currículo não é um elemento transcendente
e atemporal – ele tem uma história, vinculada a formas
específicas e contingentes de organização da sociedade
e da educação. (MOREIRA; SILVA, 2001, p. 7).

No entanto, o que se percebe ainda a respeito do currículo é uma


prática de elaborá-lo como forma de cumprir uma exigência institucional,
evitando-se, muitas vezes, os embates para que ele seja concluído
o mais rápido possível. De um modo geral, o que ocorre é que cada
um se preocupa com sua disciplina e com sua metodologia, e isso já
está de “bom tamanho”. Elaborado para dar conta de uma exigência
das instituições, o currículo perde seu caráter processual, de proposta
construída continuamente, e torna-se apenas mais um documento
engavetado, um sistema fechado em si, que não permite reformulações
nem o movimento dialético de negar, recuperar e superar (RAMALHO;
NÚÑEZ; GAUTHIER, 2004).
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Na elaboração curricular, é preciso, também, a definição do
profissional que se deseja formar, uma vez que a estrutura curricular será
construída em função desse perfil. Afinal, os saberes e as situações-
problema a serem apresentados aos futuros professores decorrem
dessa definição. Segundo Ramalho, Núñez e Gauthier (2004), a
organização curricular assim pensada passa a ser o eixo articulador
que leva à reflexão, à crítica e à pesquisa.
Garcia (1999), tomando a proposta de Lasley e Payne (1991),
menciona três modelos de currículo: integrado, colaborativo e
segmentado. O integrado é aquele em que existe profunda conexão
entre as disciplinas com o objetivo de atingir metas interdisciplinares.
Exige, portanto, grande relação/interação entre os professores e o
dispêndio de tempo. O colaborativo relaciona a especialização com
a integração. Esse tipo de currículo segmenta-se em disciplinas que,
mesmo tendo sua especificidade, possuem um objetivo em comum.
O currículo segmentado é constituído por disciplinas que têm pouca
ligação entre si. O curso de formação passa, assim, a se caracterizar
por entidades separadas, cada professor dá suas aulas sem nenhuma
preocupação com o outro professor.

2 Análise documental do contexto de Portugal

O nosso percurso foi da regulamentação mais geral (documentos


reguladores do ensino em Portugal) para a mais específica (documentos
que tratassem mais diretamente do ensino de Português e da formação
de professores de Língua Portuguesa). A leitura dos documentos será
neste artigo apresentada na seguinte ordem: A Lei de Bases do Sistema
Educativo (Lei 46/1986), Declaração de Bolonha, Decreto-lei 74/2006,
Decreto-lei 43/2007, Despacho 546/2007 (que trata do Plano Nacional de
Ensino de Português), Currículo Nacional do Ensino Básico, Programas
de Português do Ensino Básico e Currículo do curso de formação de
professor de Português e Línguas Clássicas da Universidade do Minho
em seus dois ciclos (Dossiê Interno).
Inicialmente, recorremos à legislação maior que rege a educação
portuguesa: a Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE). A Lei n.
46/1986 data de 14 de outubro de 1986, tendo sofrido alterações em
setembro de 1997 e consolidado sua versão em agosto de 2005. O
objetivo primeiro dessa lei é estabelecer o quadro geral do sistema
educativo. Após apresentar princípios gerais, passa a tratar da
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organização do sistema educativo em seus níveis: pré-escolar, escolar
e extraescolar. No nível escolar, a subsecção III é dedicada ao ensino
superior, compreendido em ensino universitário e politécnico. Sobre o
ensino universitário, dita:

O ensino universitário, orientado por uma constante


perspectiva de promoção de investigação e de criação do
saber, visa assegurar uma sólida preparação científica e
cultural e proporcionar uma formação técnica que habilite
para o exercício de actividades profissionais e culturais e
fomente o desenvolvimento das capacidades de concepção,
de inovação e de análise crítica. (LEI DE BASES DO
SISTEMA EDUCATIVO, Artigo 11º, 2008, item 3).

Podemos dizer que estruturalmente, e por seu objetivo de


regular os níveis educacionais, esse documento assemelha-se à
Lei de Diretrizes e Bases 9.394 (LDB) para a educação, documento
implementado no Brasil em 1996.
Ainda que esse e outros documentos não fizessem qualquer
referência à nossa área de interesse, buscávamos, ao menos, pontos
que tangenciassem o ensino superior, uma vez que o nosso olhar se
volta para esse nível, mais diretamente à formação inicial de professores
de Português, procurando por meio desses pontos de inter-relação
desenhar essa formação. Deparamo-nos, então, com um documento
que envolve toda a Europa: o Tratado de Bolonha. A declaração do
tratado de Bolonha foi assinada por vários ministros da educação
europeus em Bolonha/Itália, em junho de 1999. Segundo o texto, esse
tratado surge da necessidade de se criar uma Europa mais completa,
capaz de oferecer aos seus cidadãos as competências necessárias
para enfrentar os desafios no novo milênio.
Desse modo, vê o ensino e a cooperação pedagógica como
sendo basilares nesse processo, bem como o ensino superior como o
caminho para promover a circulação desses cidadãos, dando-lhes mais
oportunidades de empregos e favorecendo o desenvolvimento global
do continente (conforme expressam em seu texto). Assim, os países
signatários, dentre eles Portugal, comprometeram-se em promover
reformas em seus sistemas de ensino para a adoção de um sistema
com graus acadêmicos de fácil equivalência baseado em duas fases:
pré-licenciatura e pós-licenciatura. É desse modo que a Área Europeia
de Ensino Superior deve estar constituída até 2010. No que diz respeito
à duração, o ensino superior está organizado em três ciclos: 1º ciclo
– tem duração de 6 (seis) semestres ou 3 (três) anos, corresponde ao
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grau de licenciatura; 2º ciclo – tem duração de 4 (quatro) semestres
ou 2 (dois) anos, corresponde ao grau de mestre; e 3º ciclo – com
duração de seis semestres ou três anos, corresponde ao grau de doutor
(DECLARAÇÃO DE BOLONHA, 1999).
O processo de Bolonha remete para a mesma ideologia dos
documentos reguladores brasileiros por nós analisados. O ideário
mercadológico da competitividade, produtividade, garantia de qualidade,
entre outros termos, são assumidos nesse processo como argumento
para sua legitimidade. Desse modo, pode apontar para a fragilização
da profissão docente, para a pouca ênfase na formação inicial e para
a abertura para o setor privado (conforme ocorreu no Brasil). Cabe
destacar que nesse documento são desconsideradas as questões
próprias do Estado português, e de outras nações, dando-lhes
configurações uniformes e desconsiderando os contextos peculiares.
Além disso, conforme nos coloca Antunes (2008, p. 30):

Ainda que as questões mais conhecidas de acesso,


sucesso, financiamento, governo, regulação dos sistemas
nacionais estejam permanentemente na agenda interna
dos Estados envolvidos, e sejam, por vezes discutidas a
par da evocação do processo de Bolonha, e dos temas aí
dominantes, estão, no entanto, sistematicamente ausentes
dos documentos oficiais decorrentes desse processo.

Essa autora chama-nos a atenção para a exclusão dos principais


atores envolvidos nas decisões que se referem a esse processo. Com
o Tratado de Bolonha, temos um exemplo da agenda supranacional
para a educação.
Após nos inteirarmos do conteúdo do Tratado, fomos a busca
de posicionamentos do Ministério da Educação acerca de proposta
que havia de ser implementada em Portugal. Chegamos, portanto, ao
Decreto-lei 74/2006, documento elaborado pelo Ministério da Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior dentro do processo de reformas a serem
instituídas a partir do Processo de Bolonha no sentido de concretizá-
lo. O objetivo primeiro desse decreto é regulamentar alterações
introduzidas na Lei de Bases do Sistema Educativo no que concerne ao
novo modelo de organização do ensino superior, em ciclos de estudos.
Quanto aos níveis de licenciatura e mestrado, o decreto regulamenta
o ensino politécnico e universitário. Porém, neste estudo, iremos tratar
somente do universitário, uma vez que o nosso contexto investigativo,
a Universidade do Minho, forma através desse modelo de ensino.
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No ensino universitário, o ciclo de estudos que conduz ao grau
de licenciado têm de 180 a 240 créditos e duração compreendida entre
seis e oito semestres curriculares. Ao final da licenciatura, é emitida
uma carta pelo estabelecimento de ensino superior que atribui o grau
de licenciado. Quanto ao grau de mestre, podem se candidatar ao
segundo ciclo aqueles que possuam grau de licenciado ou equivalente
ou titulares de um grau acadêmico superior que satisfaça os objetivos
da licenciatura. Esse ciclo de estudos tem de 90 a 120 créditos e
duração compreendida entre três e quatro semestres. A sua estrutura
é constituída por um curso de especialização, composto por unidades
curriculares, e de um trabalho de final de curso (dissertação, trabalho
de projeto ou um relatório advindo do estágio profissional). Percebemos,
portanto, que o Estado português assume a estrutura dentro do âmbito
do modelo de Bolonha, o que, para nós, representa o claro interesse
em diminuir o tempo de formação, já que em vez de cinco anos para a
graduação e mais dois para o mestrado (7 anos) se adota cinco anos
para os dois graus. Como nosso trabalho de pesquisa está focado no
estudo do percurso formativo do professor de Língua Portuguesa, a nós
não interessa descrever o ciclo que confere o grau de doutor.
O Decreto-lei 43/2007 tem por objetivo definir as condições
para a obtenção de habilitação profissional para a docência em uma
determinada área, retomando o Decreto-lei 74/2006 para seu melhor
esclarecimento. Afirma manter os princípios da LBSE referentes à
qualificação profissional para a docência, mas, “com a transformação
da estrutura dos ciclos de estudos do ensino superior, no contexto
do Processo de Bolonha, este nível será agora de mestrado […]”
(DECRETO-LEI 43/2007, p. 132).
Assim, o primeiro ciclo que conduz ao grau de licenciado em
Educação Básica deve constar de 180 créditos. Ao concluir esse ciclo,
o licenciado poderá receber certificação, porém não terá permissão para
dar aula. Para que seja concedido o título de mestre, é necessário que
se tenha obtido o número de créditos fixado para o ciclo de estudo de
mestrado e a aprovação no ato público de defesa do relatório de estágio.
Nesse decreto, são definidos os créditos para os ciclos e a sua
distribuição pelos componentes de formação (formação educacional
geral, didáticas específicas, prática de ensino supervisionada e
formação na área de docência). Sobre o professor de Português, é
estabelecido que sua certificação abrange o 3º ciclo do ensino básico e
ensino secundário e que os créditos mínimos devem ser de 120 créditos
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em Português e 40 créditos em Línguas Clássicas. Interrogamo-nos
sobre o próprio título da disciplina: “Português e Línguas Clássicas”.
No campo de atuação, onde estariam as línguas clássicas? Em que
medida essa disciplina com tal configuração atende aos propósitos das
necessidades atuais?
Os documentos acima destacados não têm por objetivo discutir
especificamente sobre a formação do professor de Português, conforme
já foi mencionado, por isso sentimos necessidade de ir a busca de
documentos oficiais mais diretamente relacionados à formação docente
para termos ideia de como oficialmente se compreende essa área de
formação. Para tanto, buscamos no Ministério da Educação documentos
reguladores da formação inicial do professor de Língua Portuguesa.
Encontramos apenas um projeto voltado para a formação contínua, o
Programa Nacional de Ensino do Português (PNEP).
De acordo com esse projeto, “a melhoria das condições de ensino
e aprendizagem da língua portuguesa e a valorização das competências
dos professores desta área disciplinar constituem objectivos prioritários
da política educativa do XVII Governo Constitucional” (DESPACHO N.
546/2007, p. 899).
O que justifica, segundo tal documento, essa necessidade
são os resultados dos projetos internacionais e nacionais dos quais
participou Portugal, entre eles: Reading Literacy, 1992, PISA (Programa
Internacional de Avaliação de Alunos), 2000 e 2003, e Literacia em
Portugal, 1995. O objetivo central do PNEP é melhorar os níveis
de compreensão de leitura e de expressão oral e escrita no 1º ciclo
por meio da modificação de práticas docentes no ensino da língua.
Nesse documento, também fica clara a influência dos instrumentos de
avaliações como forma de orientar políticas públicas para a educação.
Lembremos que as avaliações do PISA são elaboradas pela Organização
para o Desenvolvimento e Cooperação Econômicos (OCDE).
Debruçamo-nos, ainda, sobre o “Currículo Nacional do Ensino
Básico”, que, embora não trate da formação inicial de professores de
Português, pressupõe os seus saberes necessários, na medida em que
define as competências necessárias aos alunos. É importante dizer
que o nível básico em Portugal não inclui o nível médio (secundário,
conforme nomeiam), como se faz no Brasil. Nesse documento, o básico
é organizado em três ciclos: o fundamental I, que corresponde aos 1º e
2º ciclos, e o fundamental II, que diz respeito ao 3º ciclo. Para fazermos
uma analogia com o contexto brasileiro, esse documento corresponderia
aos Parâmetros Curriculares Nacionais, uma vez que objetiva oferecer
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parâmetros para a definição de um currículo nacional. O documento
apresenta as competências que considera serem essenciais no âmbito
desse currículo. Trata das competências gerais e das específicas
que dizem respeito a cada uma das disciplinas. Quanto ao termo
“competência”, diz adotar uma noção ampla que integra conhecimentos,
capacidades e atitudes:

Com o significado que aqui lhe é atribuído, a competência


não está ligada ao treino para, num dado momento,
produzir respostas ou executar tarefas previamente
determinadas. A competência diz respeito ao processo de
activar recursos (conhecimentos, capacidades, estratégias)
em diversos tipos de situações, nomeadamente situações
problemáticas. Por isso não se pode falar de competência
sem lhe associar o desenvolvimento de algum grau de
autonomia em relação ao uso do saber. (CURRÍCULO
NACIONAL DO ENSINO BÁSICO-INTRODUÇÃO, 2001,
p. 9).

Nosso olhar dirige-se às competências específicas de Língua


Portuguesa. No tocante a essa disciplina, entendem a língua materna
como fator de unidade nacional e cultural e, por isso, seu domínio é
fundamental para o desenvolvimento individual e para o relacionamento
social. Segundo expressam, o objetivo do currículo de Língua
Portuguesa na Educação Básica é:

(i) Compreender e produzir discursos orais formais e


públicos;
(ii) Interagir verbalmente de uma forma apropriada em
situações formais e institucionais;
(iii) Ser um leitor fluente e crítico;
(iv) Usar multifuncionalmente a escrita, com correcção
linguística e domínio das técnicas de composição de vários
tipos de textos;
(v) Explicitar aspectos fundamentais da estrutura e do uso
da língua, através da apropriação de metodologias básicas
de análise, e investir esse conhecimento na mobilização das
estratégias apropriadas à compreensão oral e escrita e na
monitorização da expressão oral e escrita. (CURRÍCULO
NACIONAL DO ENSINO BÁSICO-COMPETÊNCIAS
ESSENCIAIS, 2001, p. 31).

Nesse caso, diferentemente dos PCN, não há qualquer referência


aos gêneros textuais. Quando trata da escrita, destaca os aspectos
mais estruturais e linguísticos do que os discursivos. Apresenta, ainda,
as competências para cada um dos eixos que constituem o ensino de
língua: compreensão oral, expressão oral, leitura e expressão escrita.
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Entende-se por compreensão do oral a capacidade
para atribuir significado a discursos orais em diferentes
variedades do Português [...].
Entende-se por expressão oral a capacidade para produzir
cadeias fônicas dotadas de significado e conformes à
gramática da língua [...].
Entende-se por leitura o processo interactivo entre o leitor
e o texto em que o primeiro reconstrói o significado do
segundo [...].
Entende-se por expressão escrita o produto, dotado de
significado e conforme à gramática da língua, resultante
de um processo que inclui o conhecimento do sistema da
representação gráfica adoptado [...].
Entende-se por conhecimento explícito o conhecimento
reflectido, explícito e sistematizado das unidades, regras
e processos gramaticais da língua [...]. (CURRÍCULO
NACIONAL DO ENSINO BÁSICO, 2001, p. 32, grifo do
autor).

Os processos discursivos, tomando por base o que está expresso


acima, parecem ser excluídos dessas habilidades. Consideremos, por
exemplo, a expressão oral, que é vista como a capacidade de produzir
cadeias fônicas dotadas de significado. Parece-nos, da forma como é
exposto no documento, que qualquer falante nativo da língua portuguesa
tem tal capacidade. Além disso, nessa competência não é contemplada
a capacidade de produzir gêneros orais variados em situações formais,
informais e institucionalizadas. A nosso ver, é responsabilidade da
escola desenvolver não só a expressão oral utilizada no cotidiano,
mas também o seu papel nas situações de trabalho (entrevista) e nos
contextos acadêmico-escolares (apresentação de atividades orais, por
exemplo). Além desse documento, no início de 2009, foram divulgados
pelo Ministério da Educação os Programas de Português do Ensino
Básico (Programas-LPEB). Em sua parte introdutória, o programa atual
tem sua criação justificada pelo tempo que vigorou o anterior (datado
de 1991) e pelas necessidades advindas dos avanços na investigação
referente à prática pedagógica e à didática da língua, embora tome
aquele programa como ponto de partida. Ainda na introdução, destaca
algumas coordenadas que direcionaram a reelaboração, dentre elas
menciona dois pontos que chamaram a nossa atenção:

Nos últimos anos, foram bem audíveis vozes que


reclamaram uma presença efectiva dos textos literários
no ensino de língua, valorizados na sua condição de
testemunhos de um legado estético e não meramente
integrados como casos tipológicos de a par de outros com
muito menor densidade cultural. Uma tal condição não
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deve ser desqualificada por utilizações pedagógicas que a
desvirtuem, com prejuízo da possibilidade que se levantem
à integração dos textos literários nos programas de
Português, é obrigação da escola trabalhar para que essa
integração seja inequívoca e culturalmente consequente.
[...] Do mesmo modo, não foram poucos os testemunhos
que sublinharam a necessidade de se acentuar, no ensino
do Português, uma componente de reflexão expressa sobre
a língua, sistematizada em processos de conhecimento
explícito do seu funcionamento e da sua gramaticalidade,
sem que isso se traduza necessariamente numa artificial
e rígida visão prescritiva da nossa relação com o idioma.
(PROGRAMAS DE PORTUGUÊS DO ENSINO BÁSICO,
2008, p. 5).

Esses dois pontos indicam certo apego a uma tradição literária e


gramatical, que, mesmo sendo de “vozes reclamantes”, como aparece
no texto, significa um andar para trás, uma vez que as investigações no
campo da didática da língua e os resultados de exames, como o PISA,
por exemplo, apontam para a necessidade de se trabalhar com gêneros
variados, não apenas com o literário. Destaca, ainda, a necessidade de
se formar alunos que sejam leitores e escritores de textos proficientes.
Não estamos, de forma alguma, dizendo que os textos literários não
devam estar presentes em sala de aula, tampouco que não haja uma
reflexão explícita sobre a língua. Porém, não se pode perder de vista
o porquê de se ensinar Português. Ainda na fase introdutória, citando
as Actas da Conferência Internacional sobre o Ensino de Português,
diz o texto:

[...] importa sensibilizar e mesmo responsabilizar todos


os professores, sem exceção e seja qual for a sua área
disciplinar, no sentido de cultivarem uma relação com a
língua que seja norteada pelo rigor e pela exigência de
correcção linguística, em todo o momento e em qualquer
circunstância do processo de ensino e aprendizagem.
(ACTAS. CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE
O ENSINO DE PORTUGUÊS, 2008, p. 240 apud
PROGRAMAS DE PORTUGUÊS DO ENSINO BÁSICO,
2008, p. 5).

Nessa citação, chamamos atenção para a expressão “correção


linguística em qualquer circunstância”. O termo correção nos parece
muito prescritivo, e essa característica não é adequada se tomarmos o
objetivo, expresso no documento, de que o ensino de Português deve
formar leitores e escritores proficientes. Não estamos querendo dizer
que o domínio notacional – referente às convenções da língua – não
deva ser considerado no ensino de língua materna, porém ele não deve
se pautar apenas na convenção e na correção, na norma.
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Após a leitura da introdução dos programas, fomos à caracterização
do 3º ciclo. O nosso foco recai sobre esse ciclo, uma vez que a formação
inicial do professor de Português e Línguas Clássicas da Universidade
do Minho volta-se para o terceiro ciclo e o ensino médio. No entanto,
como o ensino médio tem configurações, muitas vezes, heterogêneas
– algumas escolas têm foco na formação técnica –, quando caracteriza
esse nível, o programa diz que é necessário se trabalhar com textos
mais complexos, uma vez que acredita que os alunos já experimentaram
situações de uso da linguagem oral e escrita em contextos diversos.
Nesse estágio, segundo coloca o texto dos programas, o ensino
de Português deve levar os alunos para além da operacionalização
concreta da linguagem, fazendo-os construir um conhecimento sobre
a língua.

Neste sentido, há que proporcionar aos alunos


oportunidades de utilização da linguagem oral e escrita
em experiências de aprendizagem e projectos cada vez
mais alargados e exigentes, que visem o aprofundamento
de um olhar crítico sobre o real, a capacidade de utilizar
com critério as potencialidades das tecnologias da
informação e comunicação, bem como o desenvolvimento
de uma educação cultural e literária. (PROGRAMAS DE
PORTUGUÊS DO ENSINO BÁSICO, 2008, p. 38).

Em seguida, aborda rapidamente os seguintes domínios:


comunicação oral, leitura, produção escrita e conhecimento explícito
da língua. Cabe, dessa forma, destacar que, quando trata da leitura, diz
que esse processo se estende a textos de vários tipos, apresentados em
diferentes suportes. Ao que nos parece, há uma confusão entre gêneros
e tipos textuais. No contexto atual, a ênfase deve ser dada à leitura de
gêneros variados ou de tipos variados. Devemos reforçar, de acordo com
Marcushi (2002) e outros estudiosos desse tema, que existem somente
5 ou 6 tipos de texto, de acordo com a classificação, os quais estão
ligados a uma estrutura linguística. Enquanto os gêneros, uma vez que
se ligam às práticas sociais de linguagem, são infinitos e se relacionam
a funções sociais diversas. Há confusão também a respeito da atividade
de produção escrita: “Escrever com autonomia e fluência diferentes
tipos de texto adequados ao contexto, às finalidades, aos destinatários
e aos suportes da comunicação, adoptando as convenções próprias do
género seleccionado” (PROGRAMAS DE PORTUGUÊS DO ENSINO
BÁSICO, 2008, p. 30). Ainda sobre a leitura, mais à frente, tem-se: “ler
de forma persistente”. Não conseguimos compreender o que entendem
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por uma leitura persistente. Leitura persistente quer dizer uma leitura
fluente? Pensamos que o termo está usado de modo inadequado, pois,
posto dessa forma, leva-nos à compreensão de que se deve formar um
leitor que persiste na leitura de maneira a criar um hábito.
Chegamos, enfim, ao nosso lócus de pesquisa: a Universidade do
Minho. Essa instituição de ensino superior, desde 2007-2008, tem todos
os cursos funcionando segundo o modelo de Bolonha. Por isso, nossa
análise ocorreu em dois momentos: inicialmente no primeiro ciclo, que
concede o grau de licenciado, mas não a possibilidade de atuar em sala
de aula, e, depois, no segundo ciclo, que concede o grau de mestre e
possibilita a atuação como professor. A licenciatura, objeto de nossa
análise, é em “Estudos Portugueses e Lusófonos”, que corresponde ao
primeiro ciclo de estudos e tem, portanto, duração de três anos ou seis
semestres, constituída de 180 créditos. Essa licenciatura possibilita a
atuação nos seguintes domínios:

1. Supervisão editorial, 2. Do jornalismo cultural; 3. Do


turismo; 4. Da indústria cultural no âmbito ou de conteúdos;
5. Da animação sociocultural; 6. Da assessoria cultural no
âmbito das administrações central e local; 7. Da leccionação
de Português nos Ensinos Básico e Secundário; 8. Do
Ensino de Português para Estrangeiros e do Português
Língua Segunda em Universidades e outras instituições
nacionais, bem como para a leccionação em universidades
de outros países com leitorados de Português; e 9. De
funções de assessoria cultural no âmbito da Diplomacia
(http://www.ilch.uminho.pt).

Para termos uma ideia melhor de como está organizada essa


licenciatura, vamos abaixo colocar a grade curricular, chamada de
plano de estudo.

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Quadro 2 – Plano de Estudos do curso de Licenciatura em Estudos
Portugueses e Lusófonos do ILCH da Universidade do Minho/Portugal

Fonte: Instituto de Letras da Uminho (s/d). Disponível em: <http://www.ilch.


uminho.pt>.
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A unidade curricular “Interartes e Média”tem no seu programa,
dentre outros, o estudo da comunicação e cultura de massas na pós
modernidade, a microcomputação e as estruturas como meios de
reconfiguração da comunicação em nível global, as novas tecnologias
e espaços de sociabilidade e os isolamentos/integrações em contexto
de tecnologias digitais. Trata-se, como podemos ver pelo programa, de
uma disciplina bastante alinhada à configuração da sociedade atual.
A disciplina “Introdução à Literatura Comparada”tem entre seus
objetivos: 1) conhecer os contextos de emergência e evolução da
disciplina “Literatura Comparada”; 2) reconhecer objetivos e problemas
dos estudos comparados e identificar áreas de estudo e métodos da
abordagem comparatista; 3) refletir sobre fronteiras interdisciplinares
no campo dos estudos literários; 4) efetuar comentários comparatistas
de textos selecionados. Essa disciplina servirá como base para a
investigação em literatura. No Brasil, em muitas universidades, essa
abordagem só ocorre em nível de mestrado, especificamente na área
de investigação em Literatura Comparada.
A disciplina “Introdução aos Estudos Culturais”possui os seguintes
conteúdos: natureza e cultura; as diferentes vertentes da cultura;
condicionantes e variáveis da cultura (raça, gênero, classe social); os
Estudos Culturais: genealogia e arqueologia; cultura e estudos pós-
coloniais. Assim, como podemos perceber, as disciplinas (unidades
curriculares) que compõem o primeiro ciclo não têm componentes
voltados para as questões pedagógicas. Antes desse tipo de organização,
o curso de Letras da UMinho funcionava mediante o modelo integrado
de formação de professores, por mais de duas décadas. Baseado nesse
modelo, o currículo tinha a coexistência das dimensões do conhecimento
disciplinar especializado, do conhecimento educacional, das didáticas
específicas e da iniciação à prática profissional.
Vale ressaltar que o estatuto que nos interessa nesse momento é
o que diz respeito à “leccionação de Português”– para usarmos o termo
do próprio documento. Para receber esse tipo de certificação, o aluno
precisa fazer o segundo ciclo, equivalente ao nível de mestrado, sobre
o qual falaremos a seguir.
Em março de 2007, o Instituto de Educação e Psicologia,
juntamente com o Instituto de Letras e Ciências Humanas, institui
em seu Dossiê Interno o projeto para o ciclo conducente ao grau de
mestre em ensino de Português e Línguas Clássicas no 3º ciclo do
ensino básico e no ensino secundário. Cabe dizer que a Universidade
do Minho tem tradição em cursos de formação docente, criados na
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década de 1970 como resposta à acentuada demanda decorrente da
acelerada expansão do sistema educativo ocorrido nesse período. O
modelo formativo aceito pela UMinho tinha forte correspondência com
as políticas de formação e com a investigação na área de educação:
modelo integrado de formação. Esse modelo foi adotado, em linhas
gerais, por um número significativo de instituições de ensino superior.
Como a UMinho possui experiência acumulada no que tange aos
projetos de formação de professores, procurou reestruturar seu
programa formativo, tendo em vista o Processo de Bolonha, do qual
decorre o documento ora analisado. A visão de professor que se tem no
dossiê é a de “um profissional capaz de se adaptar às características
e desafios das situações singulares em função das especificidades
dos alunos e dos contextos escolares e sociais em que atua” (DOSSIÊ
INTERNO, 2007, p. 3).
Dentre os objetivos propostos para esse ciclo, destacamos:

v. Fundamentar um posicionamento crítico face a


instrumentos reguladores das práticas pedagógicas no
ensino de Português e das Línguas Clássicas (currículos,
programas, manuais…), de forma a tomar opções
fundamentadas, ajustadas aos contextos e orientadas para
o desenvolvimento progressivo da autonomia dos alunos.
vi. Propor estratégias de diferenciação pedagógica em
função da diversidade dos alunos (experiências anteriores,
estilos de aprendizagem, expectativas, necessidades…),
como forma de garantir aprendizagens significativas para
todos. (DOSSIÊ INTERNO, 2007, p. 3).

É importante que sejam previstos na formação o conhecimento


dos instrumentos reguladores e o posicionamento crítico frente a eles.
Além disso, devemos compreender a necessidade de diferenciação
pedagógica de acordo com o contexto de atuação profissional.
Observamos, porém, que os objetivos presentes nesse dossiê são,
por assim dizer, muito gerais, direcionáveis a qualquer professor de
outra área que não a de Português. Parece-nos, portanto, carecer de
alguns pressupostos que possam esclarecer mais e melhor o tipo de
professor de Língua Portuguesa que se quer formar. É necessário,
ainda, esclarecer a visão teórico-metodológica na qual essa formação
está embasada. Não há, por exemplo, a concepção de linguagem que
fundamenta essa formação.
Quando trata do perfil desses profissionais, no entanto, oferece
elementos mais diretamente relacionados à formação do professor de
língua materna:
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Definir um perfil para o professor de Português e de
Línguas Clássicas nestas dimensões supõe uma visão
alargada do papel da educação em línguas, da relação
entre educação formal e sociedade e do papel que aquela
pode desempenhar na transformação social. Vivendo-
se hoje numa era da informação e da comunicação, do
conhecimento e da aprendizagem, na qual se jogam forças
e lógicas conflituais, exige-se do professor um conjunto
alargado de competências (conhecimentos, capacidades,
atitudes, valores) que lhe permitam desempenhar um
papel relevante na construção de uma escola reflexiva e
na formação de cidadãos informados, críticos e actuantes.
(DOSSIÊ INTERNO, 2007, p. 4).

Pensamos que, para se ter uma visão mais alargada do papel da


educação em línguas que permita uma melhor atuação na sociedade
descrita na citação, é necessário que o currículo da formação esteja
ancorado em uma visão de linguagem como prática social, para além da
forma. Destacamos, a seguir, o quadro de disciplinas correspondentes
a esse ciclo.

Quadro 3 – Plano de Estudos do curso de Mestrado em Ensino de


Português e Línguas Clássicas no 3º ciclo do ensino básico e no ensino
secundário

Fonte: Dossiê Interno (2007, p. 8).

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Dentre as unidades curriculares mencionadas, selecionamos
e analisamos os programas daquelas mais voltadas para o ensino
de Português, ou seja, cujo foco seja o trabalho com a língua e seu
uso, quais sejam: “Educação em Línguas Portuguesas e Clássicas”,
“Pragmática Linguística e Literária”, “Metodologia do ensino de
Português”, “Avaliação e concepção de materiais didáticos de Português
e de Línguas Clássicas”.
A disciplina “Educação em Línguas Portuguesas e Clássicas”tem
como objetivo principal proporcionar aos alunos conhecimentos críticos
de questões que cercam a educação em Língua Portuguesa e em
Línguas Clássicas, tomando por base os conhecimentos produzidos
sobre a educação literária e a linguística. Destacamos a seguir os
resultados pretendidos nessa unidade:

a) Integrar discursos e práticas sobre o ensino e a


aprendizagem das línguas portuguesa e clássicas em
políticas, modelos e paradigmas de educação nestas
línguas;
b) Discutir as funções sociais, culturais e individuais
do ensino e aprendizagem do Português e das Línguas
Clássicas;
c) Discutir objectos, objectivos e estratégias do ensino e
aprendizagem do Português e das Línguas Clássicas num
quadro de valorização cultural e humanista dos indivíduos;
d) Analisar os processos sociodiscursivos e individuais
envolvidos no ensino, aprendizagem e avaliação das
línguas portuguesas e clássicas;
e) Conceber estratégias e recursos para aprendizagens
curriculares relevantes numa perspectiva multi/
interdisciplinar, centradas no Português e nas Línguas
Clássicas.(DOSSIÊ INTERNO, 2007, p. 19).

A unidade curricular “Pragmática Linguística e Literária”tem como


objetivo explorar teorias e métodos relativos à dimensão pragmática da
língua e da literatura, para que os futuros mestres “tenham competências
interpretativas em relação a qualquer tipo de textos verbais” (DOSSIÊ
INTERNO, 2007, p. 22). O que mais nos chama atenção nessa disciplina
é que, mesmo estando no segundo ciclo, mais diretamente voltado para
questões de ensino, não apresenta discussões sobre o ensino em seus
tópicos programáticos.
Outra unidade curricular por nós selecionada é “Metodologia
do ensino de Português”, que tem por finalidade através de suas
discussões promover metodologias e instrumentos que permitam aos
alunos, quando professores, desenvolver procedimentos coerentes e
embasados teoricamente. Como resultado, preveem:
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a) Discutir orientações teóricas, políticas e curriculares para
o ensino de Português;
b) Desenvolver acções pedagógicas teoricamente
sustentadas conducentes à promoção de competências
do domínio do oral;
c) Conceber práticas de ensino da leitura construídas sobre
saberes produzidos em áreas que têm a literacia e a leitura
como objectos;
d) Construir actividades didácticas sobre textos literários,
tendo em conta o papel da literatura na escola;
e) Operacionalizar princípios estruturadores de didáctica
da escrita, fundados na teoria e nos dados da investigação;
f) Organizar processos de ensino que visem a promoção do
conhecimento explícito sobre a língua. (DOSSIÊ INTERNO,
2007, p. 32).

No que tange aos tópicos programáticos, essa disciplina


encontra-se organizada em cinco áreas: oralidade, leitura, literatura,
escrita e conhecimento explícito sobre a língua, contemplando, assim,
as habilidades envolvidas no ensino-aprendizagem de Português,
igualmente apontadas nos programas.
A disciplina “Avaliação e concepção de materiais didáticos
de Português e de Línguas Clássicas”é pouco comum em alguns
currículos, uma vez que oportuniza um curso completo para tratar de
materiais didáticos, em especial o manual, que é, em muitas práticas
pedagógicas, o único material utilizado pelos professores. Os objetivos
principais dessa unidade são: promover a capacidade de avaliar
criticamente os materiais didáticos voltados para o ensino de Português
e Línguas Clássicas e desenvolver as competências necessárias para
a concepção de materiais didáticos.
A última unidade curricular do programa, “Estágio Profissional”,
está organizada em três eixos de formação: análise do contexto
de intervenção pedagógica, competências na área de docência e
intervenção pedagógica. A esses eixos articulam-se as dimensões
conceptual, estratégica e axiológica da prática profissional, constituindo
assim três módulos, distribuídos ao longo do segundo ano, perfazendo
45 créditos. Só poderão cursar essa unidade aqueles alunos que tiverem
todos os créditos concluídos.
O módulo 1, “Análise e intervenção pedagógica”, tem por
objetivo principal promover a compreensão do contexto de intervenção
pedagógica dos alunos, através da observação direta e indireta da sala
de aula. Durante a execução desse módulo, é elaborado um projeto de
intervenção supervisionada.
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Na sua globalidade, o módulo 1 deve preparar os estagiários
para uma intervenção pedagógica fundamentada na
compreensão crítica do contexto em que essa intervenção
tem lugar, favorecendo uma visão da educação em Línguas
Portuguesa e Clássicas como um fenómeno complexo e
situado. (DOSSIÊ INTERNO, 2007, p. 60).

O módulo 2, “Seminário em Estudos Portugueses e Clássicos”,


tem por finalidade fornecer as bases linguísticas e literárias em estudos
portugueses e clássicos, visando aprofundar o conhecimento dos planos
discursivos dos textos com os quais os docentes trabalharão e, desse
modo, facilitar o trabalho interventivo.
O módulo 3, “Intervenção pedagógica”, tem como objetivo central:

Promover competências de intervenção pedagógica dos


alunos estagiários na educação em Línguas Portuguesa e
Clássicas, através do desenvolvimento e avaliação de um
projecto de intervenção pedagógica supervisionada. Tal
como os restantes módulos, visa também incentivar uma
cultura investigativa e colaborativa na formação profissional
e promover a integração das dimensões cultural, social e
ética na formação profissional. (DOSSIÊ INTERNO, 2007,
p. 65).

No sentido de termos mais clareza a respeito do que esse


documento entende por “ser professor de Português”, ainda no âmbito
do Dossiê Interno, no item destinado ao perfil, selecionamos algumas
competências-chave que devem integrar o perfil ao mesmo tempo em
que buscamos nos programas das unidades curriculares qual delas
podem oferecer subsídios para desenvolver essas competências. Assim,
nesse item, tem-se que o professor de Português deve: “Equacionar e
interpretar problemas culturais, económicos e políticos contemporâneos,
manifestando abertura a diversas áreas do saber e construindo uma
visão crítica e multidisciplinar do conhecimento e da realidade” (DOSSIÊ
INTERNO, 2007, p. 3). Acreditamos que o programa de “Sociologia
da Educação”apresenta um conteúdo que pode vir ao encontro dessa
competência. Vejamos:

• O campo da sociologia da educação: problemáticas


actuais e emergentes.
• Diversidades, práticas e interacções em contextos de
escolarização.
• Juventudes, percursos, trabalho e sentidos da escola.
• A escola e os outros contextos, espaços e tempos
educativos.
• Políticas de educação: os espaços nacional,
internacional e transnacional.
• Redefinições sociológicas de profissão e profissão
docente. (DOSSIÊ INTERNO, 2007, p. 10).
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O segundo item do Dossiê Interno (2007, p. 5) coloca como
competência: “Perspectiva o sistema educativo, a escola e a sala de
aula como espaços de intervenção ética e cívica, de formação inclusiva
e de intervenção social, no quadro de uma educação para a cidadania
democrática”. Pensamos que essa competência está diluída nos
programas das disciplinas, além de haver uma disciplina de caráter
opcional, “Ética e deontologia da prática docente”, que prevê no seu
conteúdo programático os seguintes tópicos: temas e problemas
da ética contemporânea: implicações para o ensino; a díade ética/
deontologia; a ética e a deontologia profissional da prática docente;
tradição e educação: a questão da transmissão de conteúdos; a relação
pedagógica: o professor como educador; o compromisso deontológico
do professor (DOSSIÊ INTERNO, 2007, p. 42). O documento ainda
cita que o professor “conhece a(s) disciplina(s) que lecciona (duma
perspectiva histórica e epistemológica), reflectindo criticamente sobre
o seu valor social e as relações que estabelece(m) com outros saberes,
nomeadamente no quadro do currículo escolar” (DOSSIÊ INTERNO,
2007, p. 42). A unidade curricular “Educação em Línguas Portuguesa
e Clássicas”, que tem dentre os objetivos “discutir as funções sociais,
culturais e individuais do ensino e aprendizagem do Português e das
Línguas Clássicas”, possui em seus tópicos programáticos temas que
podem potencialmente desenvolver essa competência.
No que diz respeito ao professor, ainda no quadro das
competências referentes ao seu perfil, afirma: “Conhece perspectivas
teóricas relevantes à compreensão dos fenómenos educativos,
nomeadamente no âmbito da sociologia, psicologia, pedagogia,
desenvolvimento curricular, tecnologia educativa e didácticas
específicas” (DOSSIÊ INTERNO, 2007, p. 5). Acreditamos que o
desenvolvimento dessa competência pode acontecer ao cursar algumas
disciplinas do currículo, nomeadamente: “Psicologia da Motivação e da
Aprendizagem”, “Tecnologia Educativa”, “Correntes Fundamentais da
Pedagogia”, “Sociologia da Educação e da Profissão Docente”. A seguir,
listamos as demais competências que deve possuir um professor de
Português, conforme expressa o dossiê:

(e) Posiciona-se criticamente face a instrumentos


reguladores das práticas pedagógicas (legislação,
currículos, programas, manuais…), de forma a tomar opções
fundamentadas, ajustadas aos contextos e orientadas para
o desenvolvimento progressivo da autonomia dos alunos.
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(f) Promove aprendizagens curriculares relevantes, no
quadro epistemológico das áreas de conhecimento que
lecciona e das respectivas didácticas, numa perspectiva
multi/interdisciplinar.
(g) Adopta estratégias de diferenciação pedagógica em
função da diversidade dos alunos (quadros de referência,
experiências anteriores, estilos de aprendizagem,
expectativas, interesses, necessidades…), como forma de
garantir aprendizagens significativas para todos.
(h) Mobiliza, de forma criteriosa, linguagens e suportes
diversificados de apoio ao ensino e à aprendizagem,
promovendo a autonomia dos alunos no seu uso e
avaliando o seu impacto nas aprendizagens realizadas.
(i) Estimula nos alunos o desenvolvimento de competências
de aprendizagem, o espírito crítico e inventivo, a
curiosidade intelectual, a abertura à diversidade, o trabalho
colaborativo, a autoestima e a autoconfiança.
(j) Promove uma prática curricular participada, através do
envolvimento dos alunos em processos de construção
do conhecimento, negociação pedagógica e gestão de
situações problemáticas.
(k) Avalia o ensino e a aprendizagem com recurso a
diversas fontes e instrumentos, envolvendo os alunos
na regulação (planificação, monitorização e avaliação)
sistemática do processo de aprender.
(l) Reflecte criticamente sobre dimensões pedagógicas,
éticas e sociais da sua prática, apoiando-se na experiência,
na investigação (sua e de outros) e em outros recursos de
desenvolvimento profissional.
(m) Participa no desenho, desenvolvimento, avaliação e
disseminação de projectos que propiciem a compreensão
e a mudança das práticas educativas, nomeadamente
no sentido da melhoria das práticas de ensino e de
aprendizagem em contexto pedagógico.
(n) Colabora com outros professores e demais actores
educativos na construção, desenvolvimento e avaliação
de projectos educativos e curriculares, assim como em
actividades de gestão pedagógica, procurando envolver as
famílias e a comunidade sempre que relevante.
(o) Participa no debate público sobre as questões da
educação, em lugares e modalidades de diversas ordem,
comprometendo-se activamente na constituição de
comunidades críticas.
(p) Envolve-se no seu desenvolvimento pessoal e
profissional, numa perspectiva de formação permanente.
(DOSSIÊ INTERNO, 2007, p. 42).

Assim, embora não diga diretamente o que significa ser professor


de Português, parece-nos ser, como coloca em seu dossiê, o profissional
responsável pela
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[…] formação de indivíduos que saibam usar textos
escritos e sobre eles reflictam, de modo a atingir os seus
objectivos, a desenvolver os seus próprios conhecimentos
e potencialidades e a participar activamente na sociedade.
Neste quadro, abre-se a possibilidade de ultrapassagem
de uma visão meramente funcional da educação e,
numa perspectiva de desenvolvimento humanista, sejam
conciliados a herança cultural, o crescimento pessoal, as
necessidades do quotidiano e a compreensão crítica do
mundo. (DOSSIÊ INTERNO, 2007, p. 6).

Notadamente preocupado com as avaliações, apresenta


“apenas”o aspecto referente ao uso da língua escrita e não às demais
habilidades, conforme mostram os Programas de Português do Ensino
Básico. O dossiê trata como função do professor: “desenvolver os seus
próprios conhecimentos e potencialidades e a participar activamente
na sociedade”. Acreditamos que trabalhar as habilidades de leitura,
escrita e compreensão pode proporcionar esse desenvolvimento e,
por conseguinte, essa participação, mas achamos por demais vago e
amplo, podendo ser tal assertiva aplicada a qualquer área profissional.
Percebemos que nesse documento há um apagamento das
discussões sobre o ensino de Língua Portuguesa. De fato, parece que
toda experiência dessa universidade com formação docente se apaga,
como forma de assimilar as modificações provenientes do Ministério
da Educação.

3 Considerações finais

Com base na análise do contexto de Portugal, notadamente, os


documentos analisados surgem nesse contexto de regulamentação
supranacional em função das necessidades de reestruturação do
capitalismo. Vemos claramente o afastamento de uma legislação
advinda de um interesse exclusivo pela educação para aquela que
está subjugada a interesses econômicos. Em Portugal, a maior parte
dos documentos analisados que visa a modificação da formação se
relaciona com a proposta contida no chamado Tratado de Bolonha.
Assim, a constituição do professor de Português, em termos
de regulamentação, se dá de uma forma um tanto nebulosa. O que
observamos no tocante aos programas educacionais em Portugal, tanto
quanto no Brasil, é que os sistemas educativos buscam se ajustar às
necessidades econômicas e instituem, de um modo bastante acelerado,
novos direcionamentos que devem ser acolhidos pelas instituições
formadoras para que se ajustem às novas diretrizes. Muitas vezes, ainda
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estão em processo de ajuste a normas anteriores. Encaminhadas dessa
forma, essas instituições desenvolvem atividades mais mecânicas,
formais, sem envolver processos de reflexão e discussão. Como
resultado, tem-se uma indefinição na identidade do profissional docente,
que acaba não tendo clareza sobre o estatuto da sua profissão.
Em Portugal, a legislação é mais geral, ficando a cargo das
instituições de formação definirem as concepções que embasam,
fundamentam, o currículo, o perfil do professor que se quer formar,
as competências e os saberes implicados. Porém, na medida em que
propõe um conjunto de programas para o ensino básico sob a égide
das avaliações como o PISA, direciona, de certo modo, a formação
de professores naquele país. Diante disso, depreendemos que ser
professor em Portugal é:
a) preparar os alunos para obterem bons resultados nas
avaliações;
b) trabalhar com as capacidades de ler, escrever, falar e
compreender oralmente;
c) dar bastante atenção ao ensino de literatura, pois é
instrumento de identidade e unificação nacional;
d) trabalhar com diferentes tipos de textos.
No contexto de Portugal, o que pudemos observar é que muitos
documentos que visam propor encaminhamentos para a formação
do professor de Português e/ou para o ensino-aprendizagem dessa
disciplina partem da necessidade de melhorar os resultados dos alunos
nos sistemas avaliativos, principalmente no PISA. Além disso, há uma
interação entre os discursos mais ligados ao ensino tradicional (enfatizar
o ensino de literatura), relacionado à forma e preocupado com a unidade
nacional através da língua, e os mais atuais (trabalhar com diferentes
tipos de textos), parecendo não haver ainda clareza do que cabe ao
professor de Português.
No que diz respeito à grade curricular da instituição em estudo,
observamos, por meio das disciplinas oferecidas, que a formação da
Universidade do Minho caracteriza-se por ser mais geral e humanística,
se levarmos em consideração os três primeiros anos de formação.
Porém, devemos ressaltar que a configuração atual da universidade
portuguesa, sob o regime de Bolonha, aponta para essa formação mais
geral no primeiro ciclo e para um direcionamento em relação a questões
pedagógicas no segundo ciclo. O interessante é que essa formação mais
geral constituirá, ao menos no plano da oferta de disciplinas, a formação
de quem trabalhará com línguas, não só o professor de Português.
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MODOS DE FAZER, MODOS DE ENSINAR: OS MÉTODOS DE
ENSINO NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO PÚBLICA PARANAENSE
NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX

Franciele Ferreira França*


Gizele de Souza**

Resumo

Este artigo tem o intuito de analisar as práticas educativas decorrentes


das apropriações dos professores primários e das autoridades de ensino,
advindas dos debates em torno da utilização dos métodos de ensino no
cenário da instrução pública paranaense, em especial sobre o método
de ensino simultâneo e a paulatina troca deste pelo método intuitivo.
O método de ensino simultâneo, instituído em regulamento em 1857,
foi determinado com a justificativa de proporcionar o desenvolvimento
da instrução na província, pois possibilitaria o ensino de muitos alunos
conjuntamente provocando um rápido adiantamento destes. Já em
fins da década de 1870, as discussões e recomendações quanto ao
método a ser utilizado, nos textos legais e relatórios, ganharam novas
perspectivas e a pauta passou a ser sobre as vantagens do método
intuitivo para a efetivação do ensino. Com base nas fontes e estudo
realizado é possível afirmar que a instituição e utilização dos métodos
de ensino no interior das escolas paranaenses contribuíram para a
estruturação e consolidação da uma escola primária na província. No
que se refere às fontes, a pesquisa valeu-se de relatórios presidenciais,
relatórios de inspetores escolares e de professores e da legislação
educacional no período imperial. O aporte teórico aqui utilizado reporta-
se às contribuições da historiografia educacional brasileira que trata
do tema em questão, bem como aos conceitos de “apropriação”e
“representação”provenientes da perspectiva da História Cultural.

Palavras-chave: Métodos de ensino. Escola primária. Instrução


paranaense.

Recebido em: 28/09/2012 – Aceito em: 14/12/2012

* Mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade


Federal do Paraná. E-mail: [email protected]
**Professora efetiva do Setor de Educação da Universidade Federal do
Paraná e da Linha de História e Historiografia da Educação do Programa de
Pós-Graduação em Educação da mesma universidade. E-mail: gizelesouza@
uol.com.br
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Abstract

This article has the intention to analyze educational practices


resulting from the appropriation of primary teachers and education
authorities, arising from discussions around the use of teaching methods
in the scenario of public instruction Paraná, especially about the method
of simultaneous teaching and the slow exchange by this intuitive method.
The teaching method simultaneous, established in regulation in 1857,
was determined with the justification of providing the development of the
instruction in the province because it would allow the education of many
students together causing rapid advance of these. Already in the late
1870s, discussions and recommendations on the method to be used in
legal texts and reports, gained new perspectives and the agenda was
about the advantages of intuitive method for effective teaching. Based
on the sources and study it can be said that the establishment and use
of teaching methods within schools paranaenses contributed to the
structuring and consolidation of a primary school in the province. With
regard to the sources, the research availed itself reports of presidential
reports of school inspectors and teachers and educational legislation
in the imperial period. The theoretical approach used here refers to
the contributions of Brazilian education historiography that treats the
subject in question, as well as the concepts of “appropriation”and
“representation”from the perspective of Cultural History.

Keywords: Teaching methods. Primary school. Education in Paraná.

1 Os métodos de ensino na história da educação no Brasil


Imperial

O objeto tratado neste estudo refere-se à análise de fontes


relacionadas aos métodos de ensino utilizados nas escolas primárias
paranaenses, a partir da segunda metade do século XIX, e tem
o intuito de discutir de que forma os métodos de ensino foram
introduzidos nas escolas primárias e de que modo foram apropriados
pelos sujeitos envolvidos na organização do ensino.
Diante do exame das fontes, é possível indicar que, durante
o período demarcado, na província paranaense, foram utilizados
os métodos de ensino individual, monitorial ou mútuo1, simultâneo e
1
O método de ensino mútuo, criado por Joseph Lancaster e André Bell, no
início do século XIX, é caracterizado por centrar suas atividades nas ações dos
alunos, no qual estes eram divididos em grupos ou classes e dispostos a frente
de monitores que ensinariam as matérias determinadas pelos professores.
Para monitores seriam denominados os mais adiantados das últimas
classes, aos professores cabia orientar os monitores em suas atividades.
As classes seriam divididas de acordo com as matérias ensinadas e o grau
de adiantamento dos alunos.
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intuitivo, no entanto, somente os métodos simultâneo e intuitivo foram
os recomendados na legislação e relatórios, para uso nas escolas, pelos
presidentes e inspetores após sua emancipação política. Dessa forma,
este estudo incide na análise das práticas educativas decorrentes das
apropriações dos professores primários e das autoridades de ensino,
advindas dos debates em torno da utilização dos métodos de ensino no
cenário da instrução pública paranaense, em especial sobre o método
de ensino simultâneo e a paulatina troca deste pelo método intuitivo,
durante a segunda metade do oitocentos.
Destaca-se aqui o ano de 1857 por trata-se da primeira alusão
ao método de ensino simultâneo, no Paraná, e esta se encontra no
regulamento de 1857, que determinava o uso do método em questão
para organização do ensino nas escolas. Entretanto, a partir de 1880,
o método de ensino simultâneo deixa de ser fonte das discussões e
recomendações dos presidentes da província e inspetores escolares,
uma vez que o método de ensino intuitivo começa a ser introduzido na
legislação e a ser citado nos relatórios.
No que se refere às fontes, a pesquisa valeu-se do acervo
disponível no Departamento do Arquivo Público Paranaense – composto
por: relatórios presidenciais de 1854 a 1889, relatórios de inspetores
escolares encontrados em anexo aos relatórios presidenciais 2;
livros contendo comunicações governamentais e de professores de
escolas primárias, denominados APs, dentre estas correspondências
encontram-se àquelas advindas dos sujeitos associados à instrução
pública, como cartas dos professores com pedidos de materiais e móveis
para sua escola, anotações de visitas feitas às escolas pelos inspetores
paroquiais, relatórios dos professores expondo a situação de sua escola,
assim como manuscritos dos inspetores escolares; além da legislação
educacional do Paraná no período imperial. Utilizou-se ainda do acervo
disponível no Círculo de Estudos Bandeirantes no tocante aos relatórios
presidenciais e de inspetores escolares. Na análise destes documentos
procurou-se estabelecer relações entre o que estava determinado pela
lei, o que pensavam e discutiam os presidentes da província e inspetores
gerais, e a organização da escola feita pelos professores e inspetores
locais com base em tais determinações.
A discussão acerca dos métodos de ensino se faz presente desde
o início do século XIX no Brasil, “a partir da modernidade o método
tornou-se a espinha dorsal do conhecimento, de um modo geral, e
de conhecimento escolar de forma mais específica. Os discursos
pedagógicos modernos são atravessados de alto a baixo pela questão
do método de ensino”. (INÁCIO et al., 2006, p. 40). As primeiras escolas
ou salas de instrução, no Brasil, localizadas frequentemente na casa do
professor ou em casa familiar seguiam o método individual de ensino,
2
Relatórios dos anos de 1858, 1859, 1862, 1867, 1870, 1873, 1882,
1884.
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vulgarmente chamado “método de instrução doméstica”, o qual foi
criticado pela demora do ensino e pela brevidade de permanência do
professor com o aluno (FARIA FILHO, 2003). Devido aos inconvenientes
advindos do ensino individual, outros métodos foram propostos para a
efetivação da instrução escolar. Dessa forma, os métodos simultâneos
de organização em classes foram introduzidos nas escolas elementares
brasileiras, dentre esses, o método monitorial/mútuo foi o primeiro a
se difundir pelo território brasileiro seguindo as determinações da lei
de 15/10/18273 para instrução elementar em todo o império. Contudo,
autores da historiografia educacional brasileira4 apontam que este
também apresentou dificuldades em sua aplicação no interior das
escolas e que, portanto, foi substituído por outros métodos que melhor
se adequassem às necessidades e dificuldades escolares, entre estes,
os métodos simultâneo e intuitivo.
No Paraná, a primeira menção aos métodos de ensino data do ano
de 1854, exposta no primeiro relatório presidencial, no qual o presidente
em exercício, Zacarias de Góes e Vasconcelos, se referia à lei nº34
de 1846 da Província de São Paulo, da qual o Paraná fazia parte até
o ano de 1853. Segundo o que está disposto no relatório, a lei n. 34
não definia o uso de um método específico, Desse modo o presidente
assinalava que o método deveria se adequar às diferentes necessidades
do ensino, sendo o inspetor de instrução o responsável por defini-lo.
3
A lei de 1827, além da determinação do método mútuo a todas as escolas
de primeiras letras das capitais das províncias brasileiras e das cidades mais
populosas, entre outras determinações, mandava criar escolas de primeiras
letras em todas as vilas, cidades e lugares mais populosos do império, definia
o valor do ordenado dos professores e regulamentava a nomeação destes,
bem como explicitava as matérias a serem ensinadas nas escolas de acordo
com o método determinado.
4
O estudo da utilização dos métodos de ensino nas escolas primárias no
século XIX está relacionado a estudos mais abrangentes da História da
Educação no que concerne a temas que envolvem as formas de organização
escolar, formação de professores, ou mesmo relacionados aos materiais
e móveis que compunham a escola. Alguns trabalhos já produzidos têm o
intuito de identificar e analisar a configuração dos métodos no interior das
escolas e, portanto, discutem o tema de forma mais aprofundada procurando
estabelecer de que modo a escola foi organizada para execução do método
adotado, e como este foi entendido pelos professores e outros responsáveis
por introduzi-lo no ambiente escolar (BASTOS & FARIA FILHO, 1999; INÁCIO
et al, 2006). Os trabalhos que se dedicam a estudar temas relacionados aos
materiais e móveis utilizados nas escolas imperiais tendem a explicitar o
método a fim de analisar o motivo do uso de tais objetos (BARRA, 2001;
GALLEGO, 2006; OLIVEIRA, 1986). Outros trabalhos tendem a analisar
a constituição do método de ensino intuitivo, o qual foi inserido nas escolas
brasileiras a partir da década de 70 do século XIX, encontramos tal temática
abordada no interior de teses, dissertações e artigos sobre grupos escolares,
sobre a formação de professores seguindo os preceitos de renovação
pedagógica (SOUZA, 2004; FARIA FILHO, 2000; SOUZA, 1998; PINHEIRO,
2002) ou mesmo em estudos de uma determinada disciplina seguindo a “lição
das coisas”, (VIDAL, 2003; VALDEMARIN, 2001), bem como a explicitação
do método exposto por Vera Tereza Valdemarin (2004) em seu livro
“Estudando a lição das coisas”.
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Conforme evidencia Valdeniza da Barra (2001), a falta de especificação
do método na lei precisa ser entendida por meio da análise de outros
aspectos, dentre eles a frequência escolar, “a falta da especificidade
do método de ensino estava diretamente ligada ao número médio da
frequência escolar, um fator que se vinculava às matérias de ensino
‘estabelecidas por lei’” (BARRA, 2001, p. 64, grifos da autora).
No ano de 1856, foram determinadas as instruções para
organização da turma de alunos em três classes, promovendo assim, o
modo de ensino simultâneo nas escolas. As orientações gerais para a
instrução tornaram-se específicas no Regulamento instituído em 1857,
intitulado como sendo de ordem geral para as escolas de instrução
primária. Segundo este, o ensino deveria ser simultâneo por classes
e o professor deveria nomear da última classe monitores5. Durante
os anos seguintes permaneceram nos regulamentos e relatórios as
mesmas prescrições, quanto ao ensino simultâneo, determinadas no
regulamento de 1857.
Nos documentos analisados, por vezes, não se encontram alusões
específicas quanto ao método utilizado, mas sim determinações quanto
ao modo de organização da escola, divisão da turma em classes,
nomeação de professores adjuntos e alunos mestres6, materiais a
serem utilizados nas aulas, assim como exigências quanto à formação
de professores. A partir da década de 70 do oitocentos, as discussões
e recomendações quanto ao método a ser utilizado, nos textos legais e
de relatórios, ganharam novas perspectivas e os presidentes provinciais
passaram a debater sobre as vantagens do método de ensino intuitivo
para a efetivação do ensino.
Entende-se que a utilização dos métodos de ensino interferiu nos
modos de organização da escola primária paranaense, pois, junto a
estes, espaços específicos foram sendo pensados para a instalação de
escolas e dos alunos, assim como o uso de outros materiais e mobília,
além de mudanças nas exigências de seleção e formação docente.

2 Os métodos de ensino na província paranaense

No século XIX, o estado imperial brasileiro tomou como questão


de pauta a organização de sua instrução pública primária, e esta foi
marcada por ideais e proposições veiculadas em vários lugares do
mundo, principalmente em países europeus. Instruir, educar e civilizar
passaram a ser objetivos recorrentes da instrução, pois segundo o
5
PARANÁ. Regulamento de 08/04/1857, art. 8º e 10º.
6
A classe de alunos mestres e professores adjuntos foi instituída em 1857 por
meio do regulamento já citado. Este sistema caracterizava-se em conduzir
os alunos que se mostrassem aptos ao ensino e que apresentassem
bons resultados nos exames finais, para a categoria de alunos mestres e/
ou professores adjuntos os quais tinham por tarefa assistir os professores
efetivos ao mesmo tempo em que aprendiam o ofício de ensinar (PARANÁ.
Regulamento de 08/04/1857, art. 21º-24º, cap.VI).
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debate posto naquele período apenas o “ler, escrever e contar”ensinado
nas escolas de primeiras letras não era suficiente, Desse modo era
preciso rever as matérias ensinadas, mudar os espaços e pensar sobre
os métodos (que serviriam também, segundo posição de muitos, para
uma instrução rápida e econômica). Diante disso, a instituição escolar,
de “escola de primeiras letras”lentamente foi substituída pela educação
elementar, que além dos rudimentos de leitura, inseriu rudimentos de
gramática, língua pátria, aritmética e rudimentos de conhecimentos
religiosos (FARIA FILHO, 2003).
Em meio aos debates sobre a organização da instrução, a questão
da utilização dos métodos de ensino se fez pertinente, visto que era
por meio deles que se organizariam as instituições escolares, com a
justificativa de uma necessidade de escolarizar um grande número da
população. Segundo Luís Siqueira (2008), os métodos de ensino eram
considerados pelos administradores provinciais como a mais moderna
técnica pedagógica. Marcilaine Inácio (2003) ainda afirma que “ao
incidirem sobre a organização global do fenômeno educativo, os novos
métodos de ensino abarcavam os tempos, os espaços, os sujeitos, os
conhecimentos e as práticas escolares” (INÁCIO, 2003, p. 12).
Diante do cotejamento das fontes, é possível demonstrar que as
ações voltadas para a instrução, relacionadas ao método de ensino,
eram definidas pelas representações e apropriações dos sujeitos
envolvidos com a organização da instrução, advindas dos discursos
e debates em torno das prescrições sobre os métodos de ensino.
Por representação se entende as diferentes formas com as quais os
sujeitos compreendem a realidade, e a partir da apropriação que fazem
dessa realidade estruturam e organizam “os esquemas de percepção
e apreciação a partir dos quais estes classificam, julgam e agem”
(CHARTIER, 1994, p. 104), e por apropriação, as distintas formas como
os sujeitos se apoderam e agem diante de uma determinada realidade
(CHARTIER, 1991,1994). De acordo com Michel de Certeau (1990),
a análise das representações não pode ser descolada da análise das
produções concernentes a essas, pois essa vem de modo a demonstrar
que o que é produzido pelos sujeitos não está somente subordinado ao
que lhes é oferecido; mais do que isso, é a partir dessa relação que os
sujeitos criam maneiras de empregar o que lhes é imposto em favor do
seu entendimento. Logo, a partir do uso desses conceitos, é possível
compreender as ações dos sujeitos envolvidos com a instrução em
relação à organização escolar em favor do método de ensino, uma vez
que eles auxiliam na identificação e análise das tensões estabelecidas
entre esses sujeitos, provenientes dos discursos e debates em torno das
prescrições acerca da instrução pública; permite ainda, evidenciar os
modos como os professores e inspetores realizaram seu oficio perante
a imposição de saberes.
Atinente à província do Paraná, as discussões em relação à
instrução e, portanto, quanto ao modo de organização do ensino em
favor do método a ser utilizado, podem ser encontradas nos relatórios
presidenciais, nos relatórios dos inspetores escolares e em alguns
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relatórios de professores, ou ainda na legislação educacional que
podia ser o reflexo de tais discussões ou mesmo inferir sobre elas. Na
apreciação desses documentos é possível indicar o uso dos métodos
simultâneo e intuitivo pelos professores primários e junto a eles, de que
modo foram organizadas as escolas na província paranaense.
Após sua emancipação política, no ano de 1853, a província
paranaense tem a liberdade em deliberar suas próprias leis7, com isso o
presidente da província, no que tange a instrução primária, prescreveu
o modo de organização da aula e do ensino, com a instrução de
27/12/1856: a escola primária seria divida em três classes de acordo
com a evolução dos alunos nos estudos e gradação das matérias. Esta
instrução ainda definia quais os conteúdos a serem ensinados nas
escolas, além dos livros, materiais e moveis que seriam usados para
essa tarefa. A prescrição de divisão da turma em classes viabilizava o
modo de ensino simultâneo por classes, o qual viria a ser determinado
no regulamento de 18578. Com este regulamento as orientações gerais
para a instrução tornaram-se mais específicas, o mesmo instituía o
ensino simultâneo por classes para todas as escolas, nomeação de
monitores da última classe pelos professores, além de responsabilizar
o inspetor geral de determinar e fiscalizar o método a ser utilizado nas
escolas (Regulamento de 08/04/1857, art. 8º e 10º, p. 54). Durante o
período analisado, permanecem nos regulamentos que se seguiram
ao de 1857, estas determinações quanto ao modo de ensino.
No exame das fontes, nota-se a preocupação das autoridades
de ensino em instituir um método eficaz contra as más condições da
instrução no estado. Segundo os presidentes e inspetores gerais, um
método bem aplicado pelos professores, impediria a baixa frequência
dos alunos garantindo sua permanência e adiantamento nos estudos,
de mesmo modo tal método só teria garantia de boa execução se o
professor estivesse bem preparado e possuísse vocação para o ensino.
Entre os anos de 1858 a 1864 nenhuma referência ao método
adotado é identificada tanto na legislação educacional como nos
relatórios presidenciais, outra lacuna, quanto à falta de referências ao
método utilizado, é identificada entre os anos de 1864 e 1871, talvez
porque durante estes anos os encaminhamentos com a Instrução
Pública ficaram restritos aos dados relacionados a valores despendidos
à Instrução Pública, bem como a criação de escolas e cadeiras ou a
nomeações e exonerações de professores, Desse modo tais referências
são apontadas somente em alguns relatórios de inspetores escolares
e de professores, conforme demonstrado no quadro 1.
7
Até o ano de 1853 o Paraná fazia parte da Província de São Paulo como sua
5ª comarca.
8
O regulamento de 08/04/1857 foi o primeiro sobre a instrução a ser deliberado
na província após sua emancipação.
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Quadro 1 – Referências aos modos e métodos de ensino presentes
nos relatórios presidenciais, relatórios de inspetores e de professores.

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Fonte: Relatórios de presidentes da província do Paraná entre os anos de
1854-1889, relatórios dos inspetores de ensino e de professores disponíveis
no acervo do Arquivo Público.
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Ante a exposição das fontes no quadro n.1, é possível identificar
que em seus relatórios, os presidentes da província, ao apresentarem
de forma resumida suas apreciações e recomendações quanto ao
estado da instrução, assumiam uma posição frente ao método adotado:
em alguns relatórios as declarações eram favoráveis com elogios à
aplicabilidade do método, estes ainda apontavam outras falhas para
a precariedade do ensino como a irregularidade na frequência dos
alunos ou mesmo a falta de auxiliares para o professor; já em outros
relatos o método, classificado como “mecânico”, aparece como causa
do atraso em que se encontravam as escolas; há ainda presidentes que
acusavam a falta de método, por parte dos professores, como agente
da fragilidade da instrução na província.
Algumas razões da dificuldade em aplicar o método, determinado
em regulamento, são assinaladas também nos documentos
provindos dos inspetores, como é possível perceber no quadro n. 1.
Estes relatavam encontrar professores que não compreendiam os
procedimentos do método e o executavam de forma arbitrária, por
mais que a turma estivesse dividida em classes acabavam por ensinar
seus alunos individualmente; outros professores demonstravam boa
vontade em aplicá-lo, no entanto seus alunos não apresentavam
adiantamento condizente e não podiam prestar os exames, a turma,
Desse modo, ficava disposta somente em duas classes, além disso, os
professores acabavam por colocar em classes superiores alunos que
não apresentavam adiantamento nos estudos.
Ao nomear, em relatórios e cartas enviados ao inspetor geral,
suas dificuldades em executar o método simultâneo e prover o ensino
das crianças, principalmente o das crianças pobres, os professores
assinalavam: a falta de material igual para todos, o que inviabilizava os
procedimentos que deveriam ser seguidos, pois nem todos possuíam
os compêndios necessários; a irregularidade na frequência dos alunos,
pois também prejudicava o bom ensino, uma vez que provocava o
atraso daqueles que já estavam avançados; estes pediam ainda a
nomeação de alunos mestres e professores adjuntos quando o número
de alunos era excessivo em sua escola e como justificativa, apontavam
a dificuldade em ensinar muitos alunos ao mesmo tempo em classes
diferentes; a falta de instruções relacionadas ao método aplicado
tornava-se mais uma entre as reclamações elencadas. Contudo, ao
apresentarem os inconvenientes em aplicar o método, os professores
evidenciavam também as vantagens encontradas: são recorrentes as
opiniões do quão vantajoso o método era, pois proporcionava o rápido
adiantamento dos alunos além de poupar o tempo do professor, uma
vez que as lições eram repassadas simultaneamente aos alunos.
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Em relação ao método simultâneo, pode-se identificar, nas fontes
examinadas, certa confusão quanto à sua concepção e nomeação,
ora era entendido como uma forma de organização da classe, ora era
pensado como um procedimento de ensino.
Ao ser determinado em regulamento, o ensino simultâneo por
classes referia-se o modo de organização do ensino na escola: de que
maneira seriam divididas as classes e os alunos, quais os materiais
necessários para que o modo de ensino fosse executado, quantidade
de alunos, frequência e permanência destes na escola; o qual poderia
utilizar um método que se adequasse a esse tipo de organização. Aqui
é possível identificar as apropriações, dos professores e inspetores de
ensino, advindas das prescrições estabelecidas e quais foram as práticas
realizadas em decorrências dessas, uma vez que “ensino simultâneo”foi
considerado pelos gestores de ensino, e consequentemente pelos
professores, como sinônimo de “método simultâneo”, e este deveria
ser aplicado de modo condizente às instruções prescritas em 1856.
O método de ensino simultâneo foi criado por Jean-Baptiste de La
Salle em finais do século XVII e se caracterizava pela divisão da turma
em classes de acordo com a matéria e grau de adiantamento dos alunos.

O Método simultâneo é coletivo e apresentado a grupos


de alunos reunidos em função da matéria a ser estudada,
[...] o ensino não se dirige mais a um único aluno, como no
modo individual, mas pode atender a cinquenta ou sessenta
alunos ao mesmo tempo. Esse ensino [...] comporta em
nível de estrutura, três classes sucessivas, a primeira é
consagrada unicamente a leitura, [...] a segunda destina-
se a aprendizagem da escrita, [...] na terceira classe, são
abordadas as disciplinas mais complexas elaboradas:
gramática, ortografia e cálculo. (LESAGE, 1999, p. 10-11).

La Salle recomendava escolher entre os alunos, os mais capazes


e os mais estudiosos, “que seriam encarregados da vigilância, de fazer
os outros repetirem as lições do mestre, além de repreender os alunos
quando estes se descuidavam de seus deveres e de guiar as mãos
hesitantes dos jovens escritores” (BUISSON apud PINARD, 1981, p.
95, tradução minha).
O quadro 1 permite visualizar que no Paraná o método utilizado
recebeu variadas nomeações, os inspetores referiam-se ao método
adotado nas escolas como simultâneo ou simultâneo-misto e este
se destinava à forma como o professor deveria ensinar seus alunos,
fazendo uso ou não de monitores. Esta forma de conceber o método
como misto, caracterizava-se, segundo Cynthia Veiga (2007), por
combinar características do método mútuo com intervenções diretas do
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professor em atividades simultâneas, ou seja, aliava o ensino individual
às vantagens do método Lancasteriano (VEIGA, 2007).
Para os professores não havia diferença entre mútuo e
simultâneo, ambos tinham as mesmas características, uma vez que se
configuravam como simultâneos. O professor José Antônio da Rocha,
de Guaratuba, em seu relatório de 1866, afirmava que utilizava em sua
escola o “simultâneo e individual”e que este método proporcionou um
adiantamento considerável de seus alunos. Já o professor Joaquim
Duarte de Camargo, de Castro, ao expor sua análise sobre o método
simultâneo em 1880, dizia que este era o melhor para uma turma de
até 50 alunos, mas para uma turma que ultrapassasse este número o
único método possível seria o misto.
Notam-se, entretanto, contradições nos relatos dos inspetores,
mesmo nomeando o método como misto, ao adentrarem a escola para
análise da prática do professor condenavam seu modo de ensinar se
este assistisse seus alunos individualmente em uma turma dividida em
classes. Em seu relatório de 1859, o inspetor geral Joaquim Ignácio
Silveira da Motta, declarava que um professor de São José dos Pinhais
exercitava o método simultâneo misto “adotado pela lei”, sua crítica,
no entanto, incidia sobre o modo como o professor ensinava seus
alunos – individualmente mesmo a turma sendo dividida em duas
classes. O inspetor utilizava esta situação como justificativa para o
atraso no rendimento dos alunos, Desse modo recomendava que
o professor cumprisse as orientações prescritas em 1856, e que se
não correspondesse a tal determinação fosse punido pela lei. Outra
contradição está nos relatos em que os inspetores diziam encontrar a
turma dividida em classes, mas não conseguiam identificar o método
adotado pelo professor, e, portanto, não podiam aferir sobre o ensino
nestas escolas. Esperava-se que, por ser de responsabilidade do
inspetor geral a determinação do método que seria aplicado nas
escolas, estes compreendessem os princípios do qual adotariam
e os repassassem aos professores, mas nota-se que não era isso
que acontecia na província, já que mesmo sendo determinado em
regulamento e fiscalizado pelos responsáveis, o método não era
praticado de forma semelhante nas escolas. No ano de 1882 o inspetor
geral, depois de algumas informações advindas dos professores,
concorda que o método empregado era feito de forma incompleta, já que
não havia uma regra geral que servisse como guia. Ou seja, o inspetor
reconhecia a falta de um manual a ser seguido pelos professores que
definisse os procedimentos a serem aplicados.
Estas situações de confusão, por parte dos inspetores, muitas
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vezes interferiam na prática do professor ocasionando diferentes
adaptações por parte deles em suas escolas, algumas não expressas
nos relatórios. Somente em fins da década de 1870, quando se pode
perceber que as críticas dos professores passaram a destinar-se ao
modo de ensinar os alunos e não mais no modo em que se organizava
o ensino, as descrições tornam-se mais evidentes.
O professor da 1ª cadeira de Castro, Pedro Saturnino de Oliveira
Mascarenhas, ao descrever como estava o ensino na sua escola,
apresentava sua preocupação com o atraso em se aprovar um novo
regulamento interno para as escolas, afirmava que este havia sido
encaminhado no ano de 1879 e até o ano de 1883 – data de seu relatório,
não havia uma conclusão. O professor se referia a um documento
elaborado pelo inspetor paroquial, no ano de 1879, para ser usado
nas escolas nos moldes da instrução de 1856, a diferença consistia
na divisão da turma em cinco classes e não mais em três, além da
recomendação de uso de alguns livros de leitura específicos. O professor
queixava-se do atraso na aprovação e da falta de consideração dos
seus relatórios que declaravam aprovar o referido regulamento, além
de afirmar que ainda utilizava as instruções aprovadas em 1856
classificando-as como antigas, embora proveitosas.
Referência à elaboração de um regulamento interno também
esta presente no relatório da Professora Gertrudes que lecionava na
colônia Abranches no ano de 1880, segundo a professora, o modo de
ensino na sua escola era o simultâneo, mas o mesmo só era de serventia
quando associado ao seu regulamento interno encaminhado no ano de
1876 para aprovação da inspetoria.
Com a análise das fontes, pode-se perceber, a partir de 1880,
sinais de uma possível distinção entre método e modo de ensino (quadro
n. 1), logo as apropriações em relação às prescrições tornaram-se
outras, o que suscitou diferentes práticas em relação à aplicabilidade
do método. Os professores continuavam a afirmar que organizavam
sua escola de acordo com o modo simultâneo de ensino, no entanto
indicavam o uso de outro método adotado.
No ano de 1880 foi apresentado por um professor um livro
para o ensino simultâneo da leitura e escrita composto pelo método
fonético. Em 1883, o professor de Guarapuava, declarava que havia
realizado uma experiência com o método “João de Deus”9 no ensino
da leitura e escrita e que dele obteve um ótimo resultado. No mesmo

9 “O ‘método João de Deus’ ou ‘método da palavração’ baseava-se nos


princípios da moderna linguística da época e consistia em iniciar o ensino
da leitura pela palavra, para depois analisá-la a partir dos valores fonéticos
das letras.” (MORTATTI, 2006, p.06 – grifos da autora).
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ano, outro professor, afirmava que o modo simultâneo era o melhor
para a igual difusão do ensino em classes, porém o método aplicado
não correspondia à eficácia do modo adotado. O professor referia-se
como “método aplicado”, aos livros de leitura de Abílio, livros estes que
foram determinados para uso nas escolas primárias, e que, segundo o
professor, apresentava erros de ortografia que prejudicavam o ensino
das crianças.
Junto aos professores, as avaliações dos inspetores e presidentes
de mesmo modo avançaram para a forma como acontecia o ensino nas
escolas, e é neste período que pode ser identificada a inserção dos
princípios do método intuitivo nos discursos destes sujeitos.
Desse modo, passaram a permear as críticas, dos inspetores e
presidentes, ao método até então utilizado, termos como “mecânico,
antiquado, formalista, mnemônico”entre outros, e às recomendações
foram inseridos adjetivos ao método que viria a ser utilizado (intuitivo),
este foi classificado como prático e explicativo, racional e completo.
O método intuitivo caracterizava-se como um método

[...] concreto, racional e ativo, denominado ‘ensino pelo


aspecto’, ‘lição de coisas’ ou ‘ensino intuitivo’. O novo
método pode ser sintetizado em dois termos: observar e
trabalhar. Observar significa progredir da percepção para
a ideia, do concreto para o abstrato, dos sentidos para
a inteligência, dos dados para o julgamento. Trabalhar
consiste em fazer do ensino e da educação na infância uma
oportunidade para a realização de atividades concretas,
similares àquelas da vida adulta. Aliando a observação
e trabalho numa mesma atividade, o método intuitivo
pretende direcionar o desenvolvimento da criança de modo
que a observação gere o raciocínio e o trabalho prepare o
futuro produtor, tornando indissociável pensar e construir.
(VALDEMARIN, 2001, p. 158-159, grifos da autora).

Embora não tendo sido determinado em regulamento até o fim


do período estudado (1889), somente em regulamento destinado a
escola normal , há indícios de que os professores passaram a inserir
o método intuitivo em suas escolas em meados da década de 1870.
Vale lembrar, que tais indicações nos relatórios, por vezes, não
são específicas quanto ao uso do método intuitivo, portanto é a partir
dos princípios e características deste método, definidas por autores
anteriormente citados, que é possível afirmar que algumas práticas
descritas pelos professores configuravam-se com base neste método.
Consta no relatório do professor de Paranaguá, do ano de
1880, que para evitar as distrações dos seus alunos durante as
lições, fazia perguntas relacionadas ao conteúdo fazendo com que
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a criança refletisse sobre sua resposta, não usando mais apenas de
sua memória, mas sim do seu entendimento acerca do assunto. Ao
expor sua experiência com o método “João de Deus”, o professor de
Guarapuava utilizava um livro elaborado para o ensino da leitura e
escrita baseado nos princípios do método intuitivo. Em algumas listas
com pedidos dos professores de materiais para sua escola, constam
alguns objetos específicos para a execução do método intuitivo, como
o museu escolar elaborado pelo Dr. Saffray e caixas Carpantier para o
ensino do sistema métrico e “lição de coisas”10.
De mesmo modo, nos relatórios dos presidentes, alusões ao
método intuitivo no mesmo período são evidentes. No ano de 1884 o
presidente da província, Luís Alves Leite de Oliveira Bello, declarava
que os alunos da escola normal deveriam exercer o magistério conforme
os métodos intuitivos. Dois anos antes, foram encomendados pelo
presidente em exercício, Carlos Augusto de Carvalho, materiais para as
escolas que serviriam para os exercícios práticos dos alunos da escola
normal, dentre os materiais solicitados estavam a caixa para lição de
coisas de Saffray, caixas Carpantier e coleção de cartas Arnold Guyot.
Estes materiais destinavam-se aos exercícios que os alunos deveriam
aplicar em tais escolas, de acordo com o que instituía o regulamento do
Instituto Normal e de preparatórios de 188211. Em 1885, em seu relatório,
o presidente Brazilio Augusto Machado de Oliveira, apontava algumas
dificuldades nos usos dos materiais destinados ao método intuitivo,
afirmando que estes eram de origem e organização desconhecida,
tanto dos professores como dos alunos, e que esta situação provocava
a distração dos alunos prejudicando o aproveitamento do método.
Assim como no Paraná, as discussões relacionadas ao método
intuitivo também estavam presentes em outras províncias do império
brasileiro, Anallete Schelbauer (2006) ao traçar os primeiros passos
em direção a adoção deste método em São Paulo, afirma que há
indícios de seu uso em princípios dos anos de 1870 nesta província
bem como no Rio de Janeiro. Segundo Vera Tereza Valdemarin (2004),
o método intuitivo era entendido por seus propositores como “um
instrumento pedagógico capaz de reverter a ineficiência do ensino
escolar” (VALDEMARIN, 2004, p. 103). Estudos mostram que embora
10
Dr. Saffray foi autor de um dos manuais de lições de coisas traduzidos no
Brasil. Mme. Pape-Carpantier foi responsável pela elaboração de materiais
para trabalhos voltados para a lição de coisas. (SCHELBAUER, 2006)
11
O regulamento do Instituto Normal e de preparatórios determinava que na
sétima série os alunos da disciplina de pedagogia teriam metodologia especial
com exposição dos diferentes modos de ensino e sua aplicação e regras do
ensino intuitivo.
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seu ingresso nas escolas brasileiras date de 1870, sua efetivação só se
concretizou no Brasil com o advento da República e do movimento em
prol de uma pedagogia renovada. Os “renovadores”recomendavam o uso
deste método para a efetivação de uma escola primária renovada, como
aponta Rosa Fátima de Souza (1998), “a escola popular, instrumento
da reforma social, deveria ser completamente renovada de acordo com
os padrões educacionais considerados os mais modernos da época.
O método intuitivo foi símbolo dessa renovação e modernização do
ensino” (SOUZA, 1998, p. 159).

3 Considerações finais

Com base na análise das fontes, os métodos de ensino foram


determinados para uso nas escolas primárias com a justificativa de
proporcionar o desenvolvimento da instrução na província, já que estes
se caracterizavam pelo ensino de muitos alunos conjuntamente com
a distribuição uniforme do tempo do professor. De mesmo modo, o
método constituía como parte essencial da prática do professor, assim
como esta interferia no modo de organização escolar.
Na tentativa de estruturar e normatizar a instrução da infância
paranaense, os administradores provinciais produziram práticas
escolares constituindo uma cultura escolar no processo de escolarização
da infância. Junto a estes, os inspetores e professores contribuíram
para este processo, de acordo com suas apropriações e consequentes
representações das normas e discursos.
Na tarefa de executar e fiscalizar o método, professores e
inspetores compreendiam o método de formas distintas; entendia-se
por ensino simultâneo o ensino conjunto de muitos alunos divididos por
classes segundo seu adiantamento e as matérias ensinadas, todavia
esta era maneira encontrada para organizar a escola de forma graduada,
pois dividir a turma em classes não significava emprego do método
definido, já que há relatos em que a turma encontrava-se dividida em
classes, mas sobre o método era impossível comentar por não ter sido
identificado.
O “ensino simultâneo”determinado em regulamento foi
compreendido como método a ser seguido pelos professores e
fiscalizado pelos inspetores, no entanto as nomeações ao método
praticado, assim como as descrições dessa prática, mostravam-
se variadas. Para os professores, o método se distinguia como
procedimento didático, cujo qual deveria ser executado com o apoio de
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monitores ou alunos-mestres e professores adjuntos, além do auxílio
de materiais e móveis iguais para todos de forma a promover o avanço
dos alunos, por meio do emprego da emulação entre eles e os castigos
morais. Para tal, professores associavam seus saberes e a experiência
da prática às dificuldades de falta de materiais e orientações específicas
do método a seguir.
Durante o período estudado, nota-se que a compreensão de
ensino por parte dos professores e autoridades, passou por significativas
mudanças, uma vez que suas avaliações e recomendações não focaram
somente os princípios de organização da escola, mas passaram a
influir sobre um modo de ensinar voltado para o aluno. Desse modo,
a criança ganhou outro espaço nas discussões referente à instrução,
ela tornou-se o centro do processo de ensino que passa a considerar
sua efetiva aprendizagem. Portanto, um método que atendesse essa
especificidade se fazia necessário, com isso o método simultâneo e
suas variações até então usado, foi sendo substituído lentamente pelo
método intuitivo.
É possível afirmar ainda que, a instituição e utilização de métodos
de ensino no interior das escolas paranaenses contribuíram para a
estruturação e consolidação da uma escola primária, e se por um lado
ela se estabelecia com dificuldades e imposições, por outro, as novas
maneiras de organização, compostas por fazeres e saberes produzidos
no seu interior, constituíram no desenvolvimento da instrução escolar
no Paraná.

Fontes

BRASIL. Decreto-Lei de 15 de outubro de 1827. Manda criar escolas


de primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugares mais
populosos do Império.

DEAP-PR. APs0122 – 0776, 1861 – 1886. Correspondências de


governo.

______. AP0122, 1861, p. 114. Relatório da professora Emília de


Faria Erichsen.

______. AP0124, 1861, p. 33. Relatório da Professora Maria


Prudência da Luz

______. AP0244, 1866, p. 77. Relatório da Professora Emilia


Erichsen.
152 Linguagens, Educação e Sociedade – Teresina, Ano 17, n. 27, jul./dez. 2012

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______. AP0244, 1866, p. 100. Relatório do professor José Antônio
da Rocha.

______. AP0244, 1866, p. 140-143. Relatório do professor Honório


Décio da Costa Lobo.

______. AP0339, 1870, p. 135-138. Relatório professor Jose Cleto da


Silva.
______. AP0344, 1870, p. 64-68. Relatório professor Domingos
Carneiro d Silva Braga.
______. AP0393, 1872, p. 57-62. Relatório Professor Jeronymo
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Saturnino de Oliveira Mascarenhas.
______. AP0605, 1880, p. 179-184. Relatório do Professor Joaquim
Duarte de Carvalho.
______. AP0605, 1880, p. 185-194. Relatório do Professor Pedro
Saturnino de Oliveira Mascarenhas.
______. AP0609, 1880, p. 199-205. Relatório do Professor Honório
Décio da Costa Lobo.
______. AP0609, 1880, p. 196-198. Relatório da Professora
Gertrudes Leocádia da Costa Netto.
______. AP0618, 1880, p. 75-76. Relatório do Professor João Batista
Marconi.
______. AP0640, 1881, p. 93. Relatório do Professor Crispim José de
Freitas Castro.
______. AP0673, 1882, p. 166-167. Relatório de Professor.
______. AP0698, 1883, p. 161-162. Relatório do Professor José
Ferreira das Neves, de Guarapuava.
______. AP0700, 1883, p. 70-79. Relatório do Professor Pedro
Saturnino de Oliveira Mascarenhas.
______. AP0700, 1883, p. 224-226. Relatório do Professor da 2ª
cadeira masculina de Antonina.
______. AP0713, 1884, p. 200-204. Relatório do Professor Pedro
Saturnino de Oliveira Mascarenhas.
Linguagens, Educação e Sociedade – Teresina, Ano 17, n. 27, jul./dez. 2012 153

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Relatório do vice-presidente para Francisco Liberato de Mattos na
entrega da administração, sem data, referente ao ano de 1857, mas
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Relatório do vice-presidente para Francisco Liberato de Mattos na
entrega da administração, sem data, referente ao ano de 1857, mas
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O GÊNERO PARÓDIA EM SALA DE AULA

Alan Caldas Simões*

RESUMO

Nas últimas décadas temos visto que as teorias de ensino e aprendizagem


têm buscado abordagens pedagógicas que valorizem a participação
ativa do aluno em sala de aula, de modo a tornar a aprendizagem
estimulante e significativa. Nesse sentido, professores vêm buscando
abordar conteúdos tradicionais do ensino de língua portuguesa através
de propostas criativas. No que se refere à produção textual, entendemos
que uma forma de se construir propostas criativas é através do uso de
abordagens multidisciplinares. Dentro desta perspectiva, em nossa
exposição, apresentaremos práticas de produção textual que utilizam
o gênero paródia como instrumento de ensino. Assim, ilustramos tal
processo com duas músicas da mídia. Ressaltamos que a interseção
língua portuguesa e música é bastante comum nas aulas de línguas,
embora muitas vezes, aspectos relacionados à linguagem musical não
sejam explorados, talvez por falta de instrumentos didáticos apropriados.
De nossa abordagem, concluímos que práticas multidisciplinares, em
especial as que conjugam a área de língua portuguesa e música, tendem
a ser fonte de estímulo para produção textual. Ao produzirem o gênero
paródia os alunos podem observar ainda que a língua portuguesa não
se pauta em construções rígidas ou fechadas, mas que com ela, pode-
se criar, aprender e se divertir.

Palavras-chave: Gênero textual paródia. Práticas de ensino.


Abordagem multidisciplinar.

ABSTRACT

In recent decades we have seen that the theories of teaching and


learning has sought pedagogical approaches that enhance the student’s
Recebido em: 20/09/2012 – Aceito em: 25/10/2012

* Mestrando em Música pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ);


Licenciado em Música pela Universidade Federal do Espírito Santo
(UFES). Professor do Departamento de Cultura, Linguagens e Educação
da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). E-mail: alanmpb@
yahoo.com.br
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active participation in the classroom to make learning exciting and
meaningful. In this sense, teachers have sought to address traditional
content of teaching English through creative proposals. As regards the
production textual understood that one way of constructing creative
proposals is through the use of multidisciplinary. Within this perspective,
in our exposition, we will present practices of textual production that
use genre parody as a teaching tool. Thus, we illustrate this process
with two songs from the media. We emphasize that the intersection
Portuguese language and music is quite common in language classes,
but often, aspects related to the musical language are not exploited,
perhaps for lack of appropriate teaching tools. In our approach, we
conclude that multidisciplinary practices, especially those that combine
the area of Portuguese language and music, they tend to be a source of
encouragement for textual production. By producing the genre parody
students can also observe that the Portuguese language is not based on
rigid or closed buildings, but with it, you can create, learn and have fun.

Keywords: genre parody, teaching practices, multidisciplinary approach;

1 Introdução

Nas últimas décadas temos visto que as teorias de ensino e


aprendizagem têm buscado abordagens que valorizem a participação
ativa do aluno em sala de aula, de modo a tornar a aprendizagem
estimulante e significativa1. Mas, afinal, como realizar uma prática
educativa estimulante, que os alunos gostem, admirem e queiram
realizá-la sem reclamações ou desmotivações? No nosso caso, como
ensinar conteúdos de língua portuguesa de maneira leve e descontraída?
Antes de encaminharmos nossas questões de pesquisa, cabe-
nos aqui realizar um pequeno panorama teórico-descritivo sobre
as relações professor-aluno na prática educativa. Entendemos que
elucidar esta relação é uma atividade relevante para o entendimento
de toda e qualquer prática pedagógica, seja ela de língua portuguesa
ou de qualquer outra disciplina curricular. Esta ação, como veremos
mais a frente, será importante para o entendimento de nossa proposta
de criativa de ensino, uma vez que ela tem como inspiração uma
filosofia educacional bastante específica, a pedagogia crítico social
dos conteúdos.
1
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL,
1999, p. 104): “[...] a aprendizagem significativa pressupõe a existência de um
referencial que permita aos alunos identificar e se identificar com as questões
propostas.”
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Feitas as nossas ressalvas iniciais, podemos dizer, ainda em
senso comum, que quando pensamos em educação uma das primeiras
palavras que nos vem à mente é escola, ou, possivelmente, as palavras
professor ou aluno. Essa, portanto, é a base de todo o processo
educativo: a escola, que contém os professores (e outros gestores,
embora não muito lembrados) e os alunos. Aqui não queremos dizer que
somente existe educação na escola com a presença de um professor
ou de um aluno. Aqui enfatizamos que somente existe educação na
medida em que existe um sujeito que aprende e outro que ensina,
independente do local em que este processo ocorra. Nesse caso, o
ser que ensina pode ser professor, coordenador ou diretor e o ser que
aprende pode ser aluno; da mesma forma que o ser que ensina pode
ser o diretor ou coordenador e o ser que aprende pode ser o professor.
Apesar dessas considerações, em muitos casos, a este ser que
ensina chamamos de professor e a este ser que aprende chamamos de
aluno. Essa concepção de ensino é a chamada concepção tradicional
de educação, onde há um sujeito (professor) que detêm todo o saber
e outro sujeito (aluno) que representa um vaso a ser preenchido pelo
conhecimento que será depositado pelo professor (ou outro). A própria
etimologia da palavra aluno, derivada do latim alumnus (MONIZ, 2001),
que significa sem luz, reforça a imagem de um sujeito que nasce
sem conhecimento (luz), e, a partir do momento em que este entra
em contato com o professor, do latim professore (MONIS, 2001), que
significa aquele que faz declarações, começa a receber luz e deixar de
ser vazio ou não iluminado.
Dentro desta concepção existem somente duas figuras no
processo educativo: o professor, ser que ensina; e o aluno, ser que
aprende. Essas figuras permeiam todas as disciplinas escolares, a
começar pelas mais básicas, como o português e a matemática.
Essa é a concepção tradicional de processo educativo. É ela que
tem ancorado as práticas de ensino atuais e, como sabemos, pensar a
educação dessa forma é limitar seu desenvolvimento, impedindo que
professores e alunos desenvolvam uma capacidade crítica e reflexiva
frente à realidade.
Pautados nessa situação, apresentaremos em nossa exposição
uma prática de ensino de língua portuguesa que tenha como foco
a produção textual. Ela é de inspiração crítica-social de conteúdos
(SAVIANI, 2008), e, seguindo indicações dos PCN de língua portuguesa
(BRASIL, 1997) e também as indicações dos PCN Música (BRASIL,
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1997a, 1998), se desenvolverá a partir do gênero paródia, a fim de
instrumentalizar o ensino de conteúdos musicais e de práticas de
linguagem em sala de aula. Escolhemos tal gênero, uma vez que
essa interseção é bastante comum nas aulas de língua materna ou
estrangeira, mas, muitas vezes, aspectos relacionados à linguagem
musical não são desenvolvidos, talvez por falta de instrumentos
didáticos apropriados. Nossa proposta, então, é uma sugestão criativa
que pretende encaminhar essa demanda educativa, ao se pautar
em filosofias educacionais não tradicionais e utilizando estratégias
multidisciplinares de aproximação disciplinar (ANTOLÍ, 1998; FAZENDA,
1998; JAPIASSU, 1976).
Tendo como foco os objetivos acima, dividiremos a nossa
discussão em dois momentos: (a) a apresentação de nosso referencial
teórico-metodológico, onde apresentaremos discussões referentes
à filosofia educacional, o ensino de língua portuguesa articulado à
música; e (b) nossa proposta de ensino de produção textual que teve
como foco o gênero paródia. Ao final de nossas exposições teceremos
considerações sobre o assunto.

2 Filosofias educacionais, ensino de língua portuguesa e de


conteúdos musicais

Nossa fala inicial partiu da descrição mais comum e conhecida


concepção de ensino, a tradicional. Entretanto, como sabemos, há
muitas outras concepções de ensino. Essa seção pretende discorrer
sobre tais filosofias e indicar a que subsidiará a criação de nossas
estratégias de ensino.
Já tendo citado a concepção tradicional, falaremos um pouco
agora sobre a concepção de ensino progressista. Essa concepção
é inspirada pelo pensamento de Dewey (1933), que traz ao mundo
a concepção do indivíduo que é mutável e constrói o conhecimento.
Dessa maneira, o professor passa de dono do saber a personagem
coadjuvante no processo de ensino e aprendizagem.
Libâneo (1985) apresenta uma classificação das tendências
pedagógicas na prática escolar que levam em consideração critérios
de posição frente a condicionantes sociopolíticos. Assim, segundo tal
classificação, as tendências pedagógicas se dividem em dois grandes
grupos: a Tendência Liberal e a Tendência Progressista.
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Cada um destes grupos, seja liberal ou progressista, possui suas
respectivas ramificações, a saber:
Figura 1 – Tendências pedagógicas

Libâneo (1985) descreve cada uma das ramificações acima (Figura 1),
enfatizando o papel da escola; os conteúdos de ensino; os métodos; a relação
professor-aluno; os pressupostos de aprendizagem; e as manifestações
da prática escolar. Para o nosso estudo resgataremos aqui somente as
concepções que resumem a relação professor-aluno (Tabela 1).

Tabela 1 – Relação professor-aluno frente às tendências pedagógicas


na prática escolar, segundo Libâneo (1985)

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Apesar do delineamento destas tendências pedagógicas isto
não assegura que o professor seja adepto de uma ou outra filosofia
educacional, na maior parte das vezes suas atuações se apresentam
como um misto de tendências, buscando-se aproveitar o que cada
uma apresenta de melhor, segundo a concepção de cada indivíduo
responsável pela organização do processo educativo (SAVIANI apud
LIBÂNEO, 1985).
Aqui entendemos que as relações entre professor e aluno
merecem uma atenção especial frente às pesquisas educacionais e
a frente à criação de estratégias de ensino, pois elas representam
um sistema complexo que envolve, não só a presença das figuras
do professor, do aluno e da instituição escolar, mas também relações
sociais, culturais, políticas e econômicas.
Foi pensando nessa relação que buscamos aqui delinear
diversas concepções de ensino-aprendizagem. Toda vez que criamos
estratégias de ensino é importante pensarmos, ainda que minimamente,
que concepção de ensino-aprendizagem subsidiou nossas práticas.
Ainda que outras pesquisas sejam necessárias para comprovar nossa
hipótese, podemos dizer que as concepções de ensino que tem como
foco o professor, parecem somente possibilitar a criação de estratégias
de ensino monótonas, onde possivelmente não há o engajamento do
aluno. Por outro lado acreditamos que concepções de ensino que tem
como foco o aluno parecem possibilitar a criação de estratégias de
ensino dinâmicas, onde há o engajamento do aluno. Dessa forma, as
estratégias aqui desenvolvidas são inspiradas2, em sua maior parte, em
uma tendência progressista, mais especificadamente uma pedagogia
crítica-social dos conteúdos, uma vez que nossa estratégia de ensino
se desenvolverá através da diretiva do professor, pois é ele que detém
o conhecimento necessário para orientar os alunos rumo à aquisição
de formas de saber mais elaboradas.
2
Dizemos inspiradas, pois sabemos que a corrente filosófica crítica-social dos
conteúdos possui diretrizes próprias de atuação. Segundo Saviani (2008), a
pedagogia Histórico-Crítica, enquanto método dialético na educação implica
a clareza dos determinantes sociais e a compreensão do grau em que as
contradições da sociedade se apresentam na educação. Dessa forma é
preciso se posicionar diante das visões ambíguas educativas para perceber
claramente qual é a direção que cabe imprimir a questão educacional. Aqui
buscamos uma prática educacional que se harmonize com as necessidades
e realidade do educando, para que este, após instrumentalização, possa
atuar de forma crítica e transformadora frente à sociedade. Passos didáticos
sistematizados sobre a pedagogia histórico-crítica podem ser consultados
no trabalho desenvolvido por Gasparin (2011).
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Tendo como método essa diretiva, passaremos agora a observar
como tem se desenvolvido o ensino de língua portuguesa no ciclo
Básico. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para o
ensino de Língua Portuguesa (BRASIL, 1997, p. 15),

[...] o domínio da língua, oral e escrita, é fundamental para


a participação social efetiva, pois é por meio dela que o
homem se comunica, tem acesso à informação, expressa
e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de
mundo, produz conhecimento. Por isso, ao ensiná-la, a
escola tem a responsabilidade de garantir a todos os seus
alunos o acesso aos saberes linguísticos, necessários
para o exercício da cidadania, direito inalienável de todos.
(BRASIL, 1997, p. 15).

Sabemos que o domínio da língua, seja ela oral ou escrita, é


fundamental para vida em sociedade, entretanto devemos observar quais
são os recursos didáticos e estratégias de ensino que os professores
de língua portuguesa têm utilizado no ambiente escolar para tornar os
processos de ensino e aprendizagem mais significativos e atraentes
para o aluno. Como já dissemos na introdução deste artigo, é muito
comum a utilização da música em sala de aula. Não é difícil observar
a música nas aulas de literatura, ao se ler poesias, ou a música nas
aulas de produção de texto, como tema de redações. Podemos entender
essa articulação entre língua portuguesa e os conteúdos musicais como
uma abordagem multidisciplinar 3 (JAPIASSU, 1976; POMBO, 2004).
É por meio dessa abordagem que resolvemos desenvolver nossas
estratégias de ensino.
Diante dessas duas escolhas metodológicas, por um corrente
filosófica progressista e por uma prática multidisciplinar entre língua
portuguesa e música, basta-nos agora pensar que conteúdos
3
O termo interdisciplinaridades possui caráter polissêmico, não existindo
consenso entre os autores que utilizam esta classificação. Adotaremos
aqui a seguinte classificação: (a) disciplina – representa o ramo do saber,
como componente curricular (POMBO, 2004); (b) Multidisciplinaridade/
Pluridisciplinaridade – ambas as palavras são sinônimos (POMBO, 2004),
adotaremos em nosso texto o termo multidisciplinaridade, e representam
uma ação simultânea que reúne em torno de uma temática comum diversas
disciplinas (JAPIASSU, 1976); (c) Interdisciplinaridade – pressupõe uma
cooperação dialógica coordenada entre disciplinas (JAPIASSU, 1976), onde
implica a transferência de leis de uma disciplina para outra, originando,
em alguns casos, um novo corpo disciplinar (ZABALA, 2002); e (d)
Transdisciplinaridade – representa uma ação coordenada de todas as
disciplinas e interdisciplinas do sistema disciplinar sob uma base axiomática
geral. Tal integração permite uma análise e interpretação em contextos
amplos e gerais, o que permite uma interpretação holística dos fatos ou
fenômenos observados (JAPIASSÚ, 1976).
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desenvolveremos nossa prática educativa. Percebemos, em nossa
prática como professor de música, em diálogo constante com
professores de língua portuguesa e de artes, que a maior dificuldade do
professor é desenvolver estratégias de ensino para produção textual.
Muitas vezes o professor elege temas do cotidiano, dos noticiários ou
das literaturas para a produção textual. Mas de fato, como deve ser a
produção textual no ensino de língua portuguesa?
Os PCN de língua portuguesa (BRASIL, 1997) sugerem que o
trabalho em sala de aula, desenvolva-se com base na utilização dos
gêneros textuais, sejam eles orais ou escritos, concepção esta também
compartilhada por Marcuschi (2008) e Pietri (2007). São, portanto, os
gêneros textuais instrumentos teórico-metodológicos para o trabalho
com as práticas de linguagem em sala de aula. São

[...] os gêneros textuais, formas verbais orais ou escritas


que resultam de enunciados produzidos em sociedade e,
no âmbito do ensino e aprendizagem de português, são
vias de acesso ao letramento, propõe-se que, no ensino, as
atenções esteja voltadas para os textos que encontramos
em nossa vida diária com padrões sócio-comunicativos,
objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados
por forças históricas, sociais, institucionais e tecnológicas.
Assim, a concepção de gênero diz respeito à forma, ao
conteúdo, aos propósitos comunicativos e ao seu percurso
social. O gênero textual reflete todo o processo social
envolvido na comunicação que encerra. (DELL’ISOLA,
2007, p. 19).

Dessa forma, são inúmeras as possibilidades que se apresentam


ao professor no momento de decidir sobre qual, ou quais, gêneros
textuais levar para sala de aula. Entendemos que, neste processo
de escolha/seleção, devemos considerar, não somente os gostos e
objetivos educacionais do professor que dirige o processo educacional
em sala de aula, mas também os gostos e interesses dos alunos.
Nesse sentido sugerimos, neste presente artigo, o trabalho textual
com o gênero paródia4, que pode muito bem abarcar nossa prática
multidisciplinar entre língua portuguesa e musica.
Na próxima seção, portanto, iremos apresentar o gênero paródia
e nossas estratégias de ensino para ele.
4
Segundo a lei brasileira sobre direitos autorais, Lei 9.610/98 Art. 47, são
livres as paráfrases e paródias que não forem verdadeiras reproduções da
obra originária nem lhe implicarem descrédito.
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3 Estratégias de ensino com o gênero paródia: articulando letra
e música

Antes de apresentarmos nossa prática de ensino com o gênero


paródia, cabe-nos pensar sobre a paródia. A paródia pode ser definida
como um gênero textual que possui em sua essência o processo de
intertextualidade. Tal processo ocorre quando, “[...] um texto, está
inserido em outro texto (intertexto) anteriormente produzido, que faz parte
da memória social de uma coletividade” (KOCH; ELIAS, 2011, p. 86).
Dessa forma, podemos entender que o gênero paródia se
caracteriza como uma forma de intertextualidade, implícita (KOCH;
ELIAS, 2011, 2011a; KOCH, 2011b). Ou seja, cabe ao interlocutor
recuperar em sua memória social os elementos que darão sentido ao
texto. No caso de uma paródia musical, escreve-se um novo texto (letra)
para uma música já conhecida, mantendo-se seus aspectos melódicos,
harmônicos e rítmicos, ou variando-se apenas pequenos elementos
para melhor atender a métrica da canção. Entretanto, neste processo
de reescrita, altera-se o sentido do texto, na maior parte das vezes para
gerar um efeito cômico, provocativo ou de interseção a algum tema que
esteja em alta em determinado contexto político, histórico ou social. Por
conseguinte, cabe ao interlocutor o conhecimento dos diversos tipos de
relações que este texto mantém com outros textos, a fim de se alcançar
os efeitos estilísticos desejados.
A seguir, apresentamos algumas estratégias de ensino de
produção textual que têm como base o gênero paródia. Sabemos que
alguns professores podem sentir-se desconfortáveis ao utilizar elementos
de outras disciplinas que não às de sua formação específica, como no
caso da intercessão entre as disciplinas música e língua portuguesa.
Entretanto, em nossa abordagem, ofereceremos elementos que
auxiliem essa aproximação multidisciplinar de forma simples, aplicável
e proveitosa para a ampliação do processo de ensino e aprendizagem
em sala de aula.
No cotidiano escolar é fácil observar como os alunos são criativos
e, em diversos momentos, criam rimas, jogos de palavras, e até mesmo
paródias, para divertir seus colegas e professores. Pensando nessas
cenas cotidianas da escola é que elaboramos as estratégias de ensino
com o gênero paródia, descritas abaixo.
Como primeiro movimento didático, assinalamos que o professor
deve conhecer a realidade musical de seu aluno, ou seja, deve saber
o que está em seu entorno musical, que bandas e gêneros musicais
são de sua preferência ou gosto. Esta atividade pode ser desenvolvida
através de uma roda de conversa ou através da produção de um
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pequeno texto com a seguinte temática: Que músicas costumo ouvir
em casa?; ou ainda, Que músicas carrego em meu MP3 agora?; entre
outras possibilidades. O principal é descobri que tipo de músicas, grupos
musicais ou estilos musicais, agradam o aluno.
Muitos podem se surpreender com esta atividade, pois, em nossa
prática, ao realizarmos esta atividade com alunos de ensino médio,
encontramos respostas diferentes das que imaginávamos. A maior parte
dos alunos pode gostar de rock e sertanejo, diferente de nossa suposição
que poderia ser funk e/ou pagode. Vale ressaltar que independente do
estilo musical escolhido a música a ser trabalhada deve ser, de maneira
geral, conhecida por todos os alunos. Pode-se escolher músicas que
estão na mídia ou na moda, como por exemplo, as música do cantor
Luan Santana, Paula Fernandes, Belo, entre outros, lembrando que os
alunos devem gostar dos grupos musicais escolhidos.
Esta atividade foi pensada para alunos do segundo segmento
do ensino fundamental (6° ao 9° ano) e ensino médio (1° ao 3° ano).
Entretanto, variações da mesma podem ser possíveis, em menor escala,
em diferentes níveis de ensino.
Conforme já mencionado, o professor deve realizar uma breve
pesquisa entre os alunos, a fim de identificar quais são os grupos
musicais, estilos ou músicas de seu agrado. De posse dessas
informações ele escolherá uma música que será o objeto de estudo/
trabalho em sala de aula.
Após a conclusão da desta primeira fase, o professor realizará
a leitura e análise do texto com seus alunos em sala de aula. Nessa
leitura se evidenciará as partes ou estrofes da música, bem como
suas possíveis assonâncias, aliterações e rimas, o que concerne à
estruturação da letra.
Como terceira fase, o professor apresentará exemplos de paródias,
e, consequentemente, uma exposição sobre as características do
gênero paródia. Pode-se, também, apresentar paródias produzidas por
outros alunos ou presentes na mídia, como forma de estimular o aluno
à atividade que se seguirá.
Como quarto momento será apresentado a proposta de produção
textual utilizando o gênero paródia. Depois de selecionada a música,
os alunos farão suas versões de letra sob uma temática escolhida pelo
professor. Tal tema pode também ser desenvolvido em conjunto com
outras disciplinas, como por exemplo, fazer uma paródia utilizando como
temática o movimento iluminista do século XVIII, o que assinala um
processo multidisciplinar de interação entre as disciplinas Português e
História, ou ainda, pode-se fazer uma paródia que descreva o processo
de digestão que ocorre no corpo humano, neste caso a interseção
multidisciplinar se dá com as disciplinas português e biologia, entre
outras possibilidades.
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Por fim, espera-se que o aluno faça um novo texto para uma música
já existente. Durante este processo de escrita, vários aspectos inerentes
à linguagem poética e musical serão abordados, tais como a busca por
uma quadratura e métrica5 semelhante à música original, a formação
de rimas e organização/disposição de frases na mesma estrutura do
original. Tais atividades requerem não apenas competências do domínio
da língua, mas também, do domínio musical, ambas estimulando a
criatividade em um processo de aprendizado significativo para o aluno.
Pode não parecer, mas o gênero paródia está muito presente em
nosso cotidiano. O professor, a título de ilustração, pode trazer para sua
sala de aula alguns exemplos, a fim de expor o aluno ao gênero paródia.
Em março de 2012, a Liderança Capitalização, colocou no ar sua nova
campanha publicitária, a Tele Sena de Páscoa, veiculada pela emissora
SBT, com a participação da banda Restart (Figura 2). A novidade desta
edição estava na premiação instantânea, em que os consumidores
poderiam concorrer a viagens com acompanhante para Orlando (EUA),
além de casa, carros, motos, notebooks e prêmios em dinheiro.

Figura 2 – Foto da banda Restart em atuação em comercial da Tela Sena

5
A métrica é o estabelecimento de unidades rítmicas que descrevem
características específicas de uma peça musical. Após o seu estabelecimento,
podemos antecipar subsequentemente uma série de eventos/ataques que
extraímos da superfície rítmica da música à medida que ela se estende no
tempo (LONDON, 2004).
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Com o slogan Tele Sena de Páscoa leva você e um acompanhante
para Orlando, foi produzido um comercial, em formato de vídeo clipe,
com banda, apresentando uma paródia da música Menina Estranha ,
cuja temática remete aos prêmios e possibilidades de premiação da nova
Tele Sena. Segue abaixo o texto original da música Menina Estranha e
sua versão em formato de paródia produzida para o comercial:

Tabela 2 – Menina Estranha, letra original e paródia

Observamos, na paródia feita pela banda Restart, que na


primeira estrofe as rimas são AABB, organizadas da seguinte forma:
diferente/gente, viajar/realizar; em alusão as rimas originais AABB –
diferente/repente, gostar/esnobar. A métrica da música foi mantida.
Observamos ainda, que no primeiro verso a palavra menina é
substituída pela palavra Tela Sena, e no último verso dessa estrofe a
palavra garota foi substituída por Orlando. Tais alterações introduzem
a nova temática e permitem a identificação da utilização de ligações
intertextuais.
Na segunda estrofe, novamente, mantém-se a métrica da
música original, entretanto, o esquema de rimas se alteram. No texto
original, temos o esquema de rimas ABCDBC, ao conjugar dirigir/
divertir e formar/conquistar. Na paródia temos o seguinte esquema
de rimas, ABCDDC, onde as rimas estão nas palavras ganhar/viajar
e assim/mim. Nesta estrofe, observamos que apenas algumas
palavras foram trocadas em relação ao texto original. Dessa forma,
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substituíram-se as palavras Nem sei se eu, por porque um carro eu
vou; as palavras garotinho por Tele Sena, e a palavra quer por moto,
palavras estas que fazem referência aos prêmios que a Tele Sena
oferece nesta edição.
No refrão, referente à terceira estrofe, mantem-se o esquema
métrico conforme o original. No primeiro verso se mantêm as palavras
minha roupa, entretanto os sentidos divergem, no texto parodiado a
palavra minha roupa é precedida por prepara minha mala, o que faz
referencia a viagem para Orlado que é oferecida como premiação. O
esquema de rimas é alterado, porém em nenhum momento a métrica
da música é modificada.
Conforme essa breve análise, observamos que uma característica
indispensável para produção de textual de uma paródia é a fidelidade
à métrica e à estrutura rítmica da melodia da música. Pois, estes são
alguns dos elementos, entre outros, que permitem ao interlocutor,
estabelecer relações intertextuais com outros textos, neste caso em
especial, identificar que a relação da paródia com a música Menina
Estranha da banda Restart.
Outro exemplo de paródia é encontrado na música A estufada ,
do grupo Comida dos Astros. Este grupo é famoso por fazer paródias
de músicas conhecidas utilizando a temática alimento/comida.
Assim, todas as letras produzidas pelo grupo remetem a frutas,
verduras, pratos, sobremesas, entre outros alimentos. Esta paródia
faz referência à música Na estrada , da cantora Marisa Monte. Segue
abaixo a letra da canção original e o texto parodiado:

Tabela 3 – Na estrada, letra original e paródia

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Na primeira estrofe existe um vocalize (Tchururu! Tchu, Tchu,
Tchu!) que, no texto parodiado, foi substituído por leitão pururuca
com chuchu, o que mantém a rima e a métrica com o verso original,
introduzindo a temática do texto.
Na segunda estrofe a métrica, novamente é mantida, entretanto
as rimas seguem as mesmas terminações do texto original, sem a
composição de rimas internas. Assim, temos: chegar/inchar; you/
muito; bela/mortadela; tonight/demais. Outro aspecto interessante é a
ocorrência de palavras em inglês, cuja a sonoridade foi redesenhada
com palavras em português, que enfatizam relações com comida ou
nome de alimentos.
Na terceira estrofe as rimas do texto parodiado se mantém
conforme o texto original, mantendo-se, da mesma forma a métrica.
Através do exposto até aqui podemos concluir que uma paródia
deve preservar, entre outros elementos, primordialmente, a métrica
e as rimas. Estes são elementos que, aliados a manutenção da
melodia, ritmo e harmonia da música original, inspiram o texto
parodiado e garantem os elementos ao interlocutor para identificar a
intertextualidade com a música original.
No início da produção textual utilizando o gênero paródia os
alunos podem ficar com receio de cantar ou criarem letras que, a
princípio não fazem sentido, o que acarretaria a inibição frente aos
colegas. O professor atento a isso deve ser o primeiro a propor o
seu texto parodiado, para servir de exemplo e mostrar que todos são
capazes de escrever um texto inserido nesse gênero.
Se o professor estiver familiarizado com a linguagem musical
pode levar algum instrumento musical para acompanhar os alunos, ou
disponibilizar instrumentos musicais para que eles mesmos toquem.
Outra opção é trazer para a sala de aula playback’s, onde existe o
acompanhamento da música sem a letra cantada. Tal material pode ser
facilmente encontrado na internet , possuindo diversas possibilidades
de escolhas, desde músicas da moda até as músicas mais tradicionais.
Conforme os alunos e os professores forem se tornado
familiarizados com o processo de produção textual de paródias, eles
podem iniciar a produção textual de músicas novas, ou seja, podem
realizar uma criação musical original, uma composição.
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4 Considerações finais

Nossa exposição pretendeu apresentar uma prática pedagógica


de produção textual, a partir do gênero paródia em aulas de língua
portuguesa. Iniciamos a nossa discussão enfatizando a necessidade
de refletirmos sobre a relação professor-aluno, em especial no tocante
as diversas filosofias de ensino. Acreditamos, como foi dito, que
as concepções de ensino que têm como foco o professor parecem
somente possibilitar a criação de estratégias de ensino monótonas,
onde possivelmente não há o engajamento do aluno. Por outro lado
acreditamos que concepções de ensino que têm como foco o aluno
parecem possibilitar a criação de estratégias de ensino dinâmicas,
onde há o engajamento do aluno. Foi por isso que nossa estratégia
de ensino teve como inspiração a tendência progressista de ensino
(LIBÂNEO, 1985), que acredita que é através da diretiva do professor
(mas não só através dele), que os alunos podem adquirir conhecimentos
sistematizados, referentes aos conhecimentos de mundo.
Nossa estratégia de ensino também se pautou em práticas
multidisciplinares, uma vez que pode articula a disciplina de língua
portuguesa com tópicos de conteúdos musicais. Entendendo a música
como uma linguagem, ela, por mais que não possa parecer, também
deve ser objeto de apreciação em aulas de língua portuguesa, uma vez
que o que deve ser trabalhando nas aulas de língua portuguesa são
as práticas de linguagem (PCN, 1997), ou seja, as diversas formas de
uso da linguagem (e de linguagens) na sociedade. Os pesquisadores
do campo da linguagem, tais como Marcuschi (2008) e Pietri (2007),
e orientações legislativas, tais como os PCN de língua portuguesa
(1997) e demais orientações estaduais, como os Conteúdos Comuns
de Minas Gerais (CBC-MG, 2005), têm indicado que as práticas de
linguagem sejam estudadas a partir dos gêneros textuais. Devem ser,
portanto, os gêneros textuais o núcleo das aulas de língua portuguesa
(DELL’ ISOLA, 2007). É a partir deste construto teórico que devem ser
desenvolvidas as práticas de ensino de língua portuguesa.
Foi pautados nessas indicações que construímos nossas
estratégias de ensino de produção textual, a partir do gênero paródia.
Pudemos compreender que o gênero paródia se caracteriza como
uma forma de intertextualidade, implícita (KOCH; ELIAS, 2011, 2011a;
KOCH, 2011b). Ou seja, cabe ao interlocutor recuperar em sua memória
social os elementos que darão sentido ao texto. No caso de uma
paródia musical, escreve-se um novo texto (letra) para uma música
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já conhecida, mantendo-se seus aspectos melódicos, harmônicos e
rítmicos, ou variando-se apenas pequenos elementos para melhor
atender a métrica da canção.
Com base nesses conceitos, indicamos aos professores de língua
portuguesa a seguinte estratégia de ensino: (a) observe em sua sala de
aula qual é a realidade musical de seus alunos, ou seja, quais são as
bandas e gêneros musicais que são de preferência deles; (b) escolha
uma música a ser objeto de estudo/trabalho em sala de aula que seja
de agrado da maioria; (c) realize uma leitura e análise do texto dessa
música; (d) traga para sala de aula exemplos de paródias e as analise
(como apresentamos nas paródias da música Menina Estranha da
Banda Restart e A estrada de Mariza Monte); (e) realize a produção
textual da paródia, cuja temática pode ser dirigida pelo professor, sendo,
por exemplo, o movimento iluminista do século XVIII, o processo de
digestão que ocorre no corpo humano, ou outra.
Durante todas essas etapas do processo de ensino, vários
aspectos inerentes à linguagem poética e musical serão abordados,
tais como a busca por uma quadratura e métrica semelhante à música
original, a formação de rimas e organização/disposição de frases na
mesma estrutura do original. Tais atividades requerem não apenas
competências do domínio da língua, mas também, do domínio musical,
ambas estimulando a criatividade em um processo de aprendizado
significativo para o aluno.
Por fim podemos dizer que nossa proposta visou incentivar os
alunos a se expressarem por escrito de forma lúdica, musical e poética
através do gênero paródia. Concluímos que práticas multidisciplinares,
em especial as que conjugam a área de língua portuguesa e música,
tendem a ser fonte de estímulo para produção textual. Ao produzirem
o gênero paródia os alunos podem observar ainda que a língua
portuguesa não se pauta em construções rígidas ou fechadas, mas
que com ela, pode-se criar, aprender e se divertir.

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CRIATIVIDADE DO PROFESSOR E CRIATIVIDADE NO TRABALHO
PEDAGÓGICO: OS ESTUDOS REALIZADOS NO BRASIL

Tatiana Santos Arruda*


Albertina Mitjáns Martínez**

RESUMO

O presente artigo possui como finalidade identificar os estudos


realizados no Brasil acerca da criatividade do professor e criatividade
no trabalho pedagógico, considerando as possíveis diferenças entre tais
expressões. Para a análise, foram selecionados artigos, dissertações
e teses produzidos no país no período de 2000 a junho de 2012,
que tinham o professor e a sua criatividade como um dos aspectos
centrais da pesquisa. Os resultados apontaram 73 trabalhos que,
dentre outros assuntos, possuíam quatro temáticas principais: 1) os
estudos cienciométricos a respeito da criatividade; 2) as concepções
de criatividade dos professores; 3) os fatores inibidores ou facilitadores
da expressão criativa do professor; 4) o papel do professor para o
estímulo à criatividade dos alunos. A análise das produções indica
que ainda há lacunas significativas sobre a criatividade no trabalho
pedagógico, no que concerne à pesquisas que considerem o professor
como sujeito criativo em suas práticas docentes, observando o processo
de criatividade na perspectiva do professor.

Palavras-chave: Criatividade. Professor. Trabalho pedagógico.

ABSTRACT

This article intends to identify studies conducted in Brazil about


creativity of the teacher and creativity in pedagogical work, considering

Recebido em: 17/09/2012 – Aceito em: 20/10/2012

*Doutoranda em educação pela Universidade de Brasília- UnB, mestre em


Educação – UnB, professora da Secretaria de Estado de Educação do
Distrito Federal. E-mail: [email protected]
**Pós-doutorado na Universidade Autônoma de Madri (2007), Doutorado
em Ciências Psicológicas – Universidad de La Havana (1993), professora
adjunta da Universidade de Brasília, professora colaboradora do Programa
de Mestrado e Doutorado em Psicologia da Universidade de São Carlos da
Guatemala. E-mail: [email protected]
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the possible differences between these expressions. For the analysis,
we selected articles, dissertations and theses produced in the country
from 2000 to June 2012, that had the teacher and his creativity as
central aspects of the research. The results showed that 73 works, had
four main themes: 1) the scientometric studies about creativity, 2) the
teachers’ conceptions of creativity, 3) inhibiting factors or facilitators
of the creative expression of the teacher, 4) the role of the teacher to
stimulate students’ creativity. Analysis of scientific production indicates
that there are still significant gaps on creativity in pedagogical work,
in relation to researches that consider the teacher as creative subject
in his/her teaching practices, observing the creative process from the
perspective of the teacher.

Keywords: Creativity. Teacher. Pedagogical work.

1 Introdução

Nos estudos a respeito da Criatividade no âmbito escolar é


recorrente a afirmação de que há uma valorização progressiva dos
processos criativos em função tanto das mudanças sociais como da
necessidade de formação integral dos estudantes. Os professores,
assim, passam a ter papel fundamental para o desenvolvimento da
criatividade, como afirmam diferentes estudos. (ALMEIDA, 2007;
CASTRO, 2007; OLIVEIRA; ENY, 2007; NAKANO, 2009; LIMA,
2010; NAKANO, 2011; AQUINO, 2012). O discurso da valorização
da criatividade torna-se, gradativamente, mais relevante, seja no
incremento às possibilidades de construção do conhecimento, seja na
diversificação de metodologias, estratégias de ensino.
Aliada à valorização da expressão criativa nas instituições
educativas estão os movimentos em prol do respeito e consideração
à diversidade humana, o que abrange a diferença como aspecto
constitutivo dos seres humanos. Isto inclui as diferenças relacionadas
aos processos de aprendizagem e desenvolvimento, e, traz para os
professores e o seu trabalho pedagógico a urgência em diversificar os
processos de ensino.
A criatividade no trabalho pedagógico se constitui, então, como
um imperativo, quando se tem em vista a diversidade presente no
contexto escolar e a própria finalidade do trabalho pedagógico:
ensinar, educar, como afirma Mitjáns Martínez (2006, 2009). Para
ela “[...] a complexidade, diversidade e singularidade dos processos
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de aprendizagem e desenvolvimento humanos demandam ações
diversificadas e criativas se a pretensão é realmente promovê-los de
forma efetiva” (MITJÁNS MARTÍNEZ, 2006, p. 73).
Essas diferenças solicitam, por sua vez, a mobilização dos
professores e desenvolvimento de recursos que lhes permitam a
criatividade no trabalho pedagógico. Emerge, assim, a necessidade de
estudos acerca da criatividade do professor no trabalho pedagógico,
os quais por sua especificidade possibilitariam a compreensão da
expressão criativa no curso da docência.
Nessa perspectiva, insere-se o objetivo deste artigo: identificar
os estudos realizados no Brasil a respeito da criatividade do professor
e criatividade no trabalho pedagógico, considerando as possíveis
diferenças entre tais expressões. Busca-se, com isso, compreender o
que os estudos a respeito do tema no Brasil permitem entender sobre
a expressão criativa no trabalho pedagógico, contribuindo tanto para a
identificação das temáticas em estudo, como das lacunas e dos aspectos
que ainda precisam ser enfatizados nas pesquisas.
A propósito, ressaltam-se os esclarecimentos acerca das
divergências que podem existir entre as expressões citadas. Do nosso
ponto de vista, criatividade do professor, conduz a uma individualização
e personificação da criatividade em um indivíduo, como se ele fosse
criativo em diversas esferas de sua vida, inclusive, em sua prática
profissional. Os estudos centrados nessa direção referem-se em geral
a elementos e aspectos vinculados ao professor, como sua concepção
de criatividade, o seu papel para o desenvolvimento da criatividade
dos alunos e as barreiras ou fatores inibidores e facilitadores de sua
expressão criativa.
A criatividade no trabalho pedagógico, por sua vez, indica a
criatividade presente no âmbito da docência, que abrange os diferentes
momentos da prática pedagógica, as relações entre o professor e
demais integrantes da comunidade escolar e sua atuação docente com
vistas ao desenvolvimento da função social da educação. As pesquisas,
nesse contexto, focam aspectos vinculados à expressão criativa no
trabalho pedagógico, em seus diversos aspectos constitutivos, como
organização dos conteúdos a serem trabalhados, elaboração e seleção
de estratégias de ensino, atividades a serem realizadas e os processos
comunicativos construídos entre professores, alunos e demais integrantes
da instituição educativa. Isto é, a criatividade se revela em ações
educativas que representam novidades com valor para a aprendizagem
e desenvolvimento dos alunos (MITJÁNS MARTÍNEZ, 2006).
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Nessa direção, Mitjáns Martínez (2006) afirma que para ela
a expressão criatividade no trabalho pedagógico pode favorecer a
compreensão da complexidade desse processo. Além disso, permite,
com maior precisão, focar os processos criativos no trabalho do
professor, que por meio da produção de novidades adquiram valor para
a aprendizagem e desenvolvimento dos alunos. Conceito de criatividade
no trabalho pedagógico no qual este artigo está pautado.
Tendo em vista tais aspectos, foram realizadas buscas nas bases
de dados, considerando as duas expressões- criatividade do professor
e criatividade no trabalho pedagógico- e os estudos desenvolvidos em
cada perspectiva. A metodologia envolvendo os materiais pesquisados
e os procedimentos para análise, bem como os resultados alcançados
serão apresentados a seguir.

2 Metodologia

Material
A revisão bibliográfica realizada considerou o período de 2000
a junho de 2012. Foram pesquisados artigos científicos, dissertações
e teses que se referiam especificamente ao professor e sua
criatividade. Os termos utilizados para a identificação das pesquisas
compreenderam: criatividade, professor, ensino, trabalho pedagógico,
escola e combinações entre eles. As buscas envolveram a base de
dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior – CAPES, SCIELO, PePSIC, Google Acadêmico e bibliotecas
digitais das seguintes instituições de nível superior: Universidade de
Brasília- UnB, Universidade Católica de Brasília- UCB, Universidade
Estadual de Campinas- UNICAMP, Pontífice Universidade Católica de
Campinas- PUC Camp., Pontífice Universidade Católica de São Paulo-
PUC SP e Universidade de São Paulo- USP.
Para fins de análise, foram selecionados aqueles materiais que se
referiam a pesquisas empíricas e que contemplavam como participantes
o professor e sua criatividade no exercício de sua atuação profissional.

Procedimento
Os trabalhos identificados segundo os critérios acima foram
analisados tendo em vista o tipo de material (artigo, dissertação ou tese),
os períodos de publicação, as etapas de ensino em que a criatividade
do professor foi investigada e as tendências de estudos predominantes
no campo. A elaboração das categorias temáticas considerou os
assuntos pesquisados e apresentados nos objetivos dos estudos, sendo
construídas após a seleção dos materiais.
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Resultados
O resultado apontou setenta e três trabalhos, sendo 41% artigos,
50% dissertações, 9% teses. Dos artigos identificados 32% tratavam de
resultados alcançados por meio de pesquisas de mestrado, mas devido
às especificidades do tipo de publicação os dados foram analisados e
computados nos índices que se seguem.
Os materiais identificados foram categorizados inicialmente
entre aqueles que se referiam a elementos e aspectos relacionados à
expressão criativa do professor, o que foi denominado como criatividade
do professor, e, os que envolviam a criatividade em diferentes momentos
da prática pedagógica, considerados como trabalhos que versavam
sobre criatividade no trabalho pedagógico. Nesse sentido, do total de
setenta e três trabalhos, 95% diziam respeito à criatividade do professor,
o que corresponde a 69 materiais, e 5% tinham como foco a criatividade
no trabalho pedagógico, representado por quatro trabalhos.
Para a análise, os materiais serão apresentados segundo estas
duas categorias iniciais: criatividade do professor e criatividade no
trabalho pedagógico, possibilitando com isso identificar o que as
pesquisas brasileiras encontraram acerca dos dois grandes temas que
envolvem o professor e sua expressão criativa.

3 Criatividade do professor: o que dizem os estudos

Em relação aos períodos de produção observa-se que 2007 foi o


ano com maior número de produções, com nove trabalhos publicados.
Em 2002, 2005 e 2012 foram os períodos com menor número de
publicações, apenas 03. De forma geral, constata-se que a partir do
ano de 2005 houve um aumento gradativo do número de trabalhos.
Quanto às etapas investigadas, considerou-se a classificação
presente na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei
9.394/1996, que estabelece no artigo 21 como educação básica:
educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, e educação
superior: graduação e pós-graduação. Com base nessas classificações,
foi possível observar que os trabalhos voltados para a criatividade
do professor na educação básica abrangem o maior volume, com 28
trabalhos, a educação superior sendo contemplada em 23 pesquisas.
Totalizaram 19 materiais aqueles que envolviam a criatividade do
professor em mais de uma ou em diferentes etapas.
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Foi identificado um trabalho a respeito da criatividade do professor
que atuava na educação de jovens e adultos (GUMS, 2003), e um com
professores de educação física que atendiam alunos com necessidades
educativas especiais (MELO, 2001). Tal resultado aponta que essas
duas modalidades de ensino, de grande relevância social, necessitam
ser mais contempladas nas pesquisas acerca da criatividade do
professor.
De forma mais específica, identificou-se que a criatividade do
professor no contexto da educação infantil constituiu-se como objeto de
estudo em cinco pesquisas; o ensino fundamental em 16 investigações
e o ensino médio em sete. Na educação superior, a expressão criativa
do professor que atuava na graduação foi palco de dezenove pesquisas,
a pós-graduação contemplou quatro estudos. As etapas em que a
criatividade do professor obtiveram maiores volumes de estudos foram,
portanto, a graduação, seguida pelas pesquisas no ensino fundamental.
Fundamentados nesses dados, torna-se possível afirmar que
ainda há lacunas significativas de estudos a respeito da criatividade do
professor na educação infantil, no ensino médio e na pós-graduação.
Estas informações corroboram com o que identificaram Bachert,
Damasceno, Nakano e Wechsler (2011).
A pesquisa realizada mostrou também que há a predominância
de quatro grandes tendências de estudos nos materiais selecionados
e que podem ser denominadas como: a) os estudos cienciométricos
a respeito da criatividade; 2) a identificação das concepções de
criatividade dos professores; 3) os fatores inibidores ou facilitadores da
expressão criativa do professor; 4) o papel do professor para o estímulo
à criatividade dos alunos.
Nos próximos tópicos, serão abordadas as contribuições de cada
uma dessas tendências, tentando com isso analisar outras possíveis
lacunas existentes a respeito da criatividade do professor, e indicar
linhas de pesquisa que estão em aberto nos estudos no Brasil.

4 Estudos Cienciométricos sobre Criatividade

Os estudos cienciométricos, por sua especificidade, possibilitam


o mapeamento da produção nacional e internacional acerca de uma
temática. Em relação à criatividade, tendo em vista o período dessa
pesquisa, foram identificados cinco artigos publicados no Brasil, o
que representa 5% dos materiais selecionados. Destes, apenas um
(NAKANO, 2007) referia-se especificamente à criatividade do professor.
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Apesar dos outros quatro artigos não se referirem ao tema de
forma direta, eles podem contribuir para a percepção sobre o papel do
professor nas pesquisas a respeito da criatividade. Verificando, assim,
os trabalhos que têm sido desenvolvidos e que possuem o professor e
sua prática pedagógica criativa como eixos de análise.
Nesse sentido, se insere a pesquisa de Wechsler (2001) que
buscou identificar em dissertações e teses o público pesquisado na
cultura brasileira e os principais temas investigados, tendo em vista o
período da década de 1990. A autora partiu do consenso atual de que
a criatividade é um processo multidimensional, que envolve a pessoa,
o processo, o produto e o ambiente. Tais dimensões estão em contínua
interação e por meio de suas combinações possibilitam a realização
profissional e pessoal.
Em seus resultados, apontou para a predominância de duas
grandes linhas de pesquisa. A primeira delas: a criatividade no ensino,
em que se inscrevem as pesquisas que privilegiam os efeitos de
programas específicos de criatividade na sala de aula e aqueles que
observam as estratégias de ensino usadas para conduzir à criatividade
dos alunos. Na segunda, estão os estudos voltados para a criatividade
no trabalho, os quais priorizam a identificação do perfil de um indivíduo
inovador, de líderes criativos que não necessariamente atuem no espaço
escolar.
Em um período semelhante, do ano de 1994 a 2001, Zanella
e Titon (2005) investigaram a criatividade nos materiais produzidos
nos programas de pós-graduação em Psicologia no Brasil. As autoras
buscaram em seu estudo identificar aspectos como o tipo do estudo,
a temática principal e o referencial teórico. Em suas conclusões,
evidenciaram que a principal temática pesquisada era a criatividade na
prática pedagógica, presente em 39,7% dos estudos.
Considerando as diferentes possibilidades temáticas, está a
pesquisa de Nakano e Wechsler (2007), que investigou dissertações,
teses e as publicações periódicas realizadas nos anos de 1984 a 2006.
Nesse período, as autoras concluíram que havia grande variedade
de estudos e pesquisas na cultura brasileira sobre criatividade, o que
estava para além das duas linhas apontadas anteriormente pelo estudo
de Wechsler (2001). A respeito do enfoque teórico, identificaram a
predominância de estudos qualitativos e de cunho educacional (31,8%),
sendo realizados 48,1% com adultos. E que os professores compunham
a amostra de 40% das publicações periódicas e 33,3% das teses e
dissertações.
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A pesquisa realizada por Nakano (2007) privilegiou a figura do
professor e teve como finalidade “identificar as pesquisas brasileiras
sobre criatividade realizadas com amostras de professores a fim de
verificar o que tem sido estudado e os resultados que vêm sendo
obtidos.” (p. 45) Aproxima-se do objetivo proposto para este trabalho,
no entanto, diferencia-se basicamente pelas bases de dados utilizadas
e pelos descritores usados para as buscas. A pesquisadora investigou
apenas a base Scielo, com a palavra-chave criatividade.
Com o descritor “criatividade”, Bachert et al. (2011) apresentaram
os resultados encontrados em bases de dados nacionais e internacionais,
em uma pesquisa que contemplou o período de 2000 a março de 2011.
O objetivo das autoras foi “analisar artigos empíricos que investigaram
a criatividade como caminho para a inovação e melhoria das práticas
pedagógicas nas diferentes fases de ensino, desde a educação infantil
até a pós-graduação.” (BACHERT et al., 2011, p. 348).
A análise apresentada por elas indicou que a criatividade tem sido
associada ao desempenho escolar, tanto de alunos com dificuldades
de aprendizagem como daqueles com altas habilidades. Além disso,
apontaram que os estudos com foco na formação de professores têm
ressaltado a relevância da criatividade como uma habilidade a ser
desenvolvida e exercitada, sendo considerada como um fator que pode
colaborar para o enfrentamento dos problemas presentes nas relações
professor-aluno e no desenvolvimento de outras estratégias de ensino.
Estas informações, aliadas aos demais estudos apresentados
acerca da identificação dos materiais produzidos a respeito da
criatividade, indicam que a expressão criativa no contexto escolar, em
especial, do professor, têm se constituído como objeto de estudo em
diferentes perspectivas. Tais estudos possibilitam a compreensão de
diversos assuntos pesquisados no campo da criatividade, permitindo
identificar as temáticas em foco, os sujeitos que compõem os trabalhos,
os tipos de pesquisa, dentre outros aspectos apontados acima. Além
disso, a leitura desses materiais oportuniza a visualização da figura do
professor em diferentes âmbitos, mesmo que o centro das pesquisas
não fosse a criatividade do professor no trabalho pedagógico.
Nestas pesquisas evidencia-se certo interesse pela criatividade
no contexto escolar, em especial, quando Nakano e Wechsler (2007)
afirmam que quase metade das amostras das pesquisas investigadas
sobre criatividade era composta por professores. Aliada a esta
afirmação, está a constatação de Zanella e Titon (2005) que em seus
dados mostram que no país a criatividade na prática pedagógica tem
se configurado como um tema presente em grande parte dos estudos.
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Entretanto, apenas um desses estudos buscou investigar a
criatividade do professor e as tendências de estudos nesta área, a
pesquisa de Nakano (2007). Em relação à criatividade no trabalho
pedagógico não foi identificado nenhum estudo cienciométrico
específico. Isso mostra que, a despeito do reconhecimento da relevância
da criatividade no ambiente escolar, ainda há lacunas na produção
cienciométrica sobre a criatividade do professor, em especial, carência
de estudos que possibilitem a investigação dos materiais produzidos,
artigos, teses, dissertações sobre a expressão criativa no trabalho
pedagógico. Também não foi encontrada investigação que envolva os
tipos de pesquisas, suas metodologias e objetivos, realizadas no campo
da expressão criativa no trabalho pedagógico.
Apesar disso, foram identificados 24 trabalhos que dentre suas
contribuições trouxeram as concepções de criatividade dos professores
em diferentes etapas e níveis de ensino. Assunto que compõe o
que chamamos de outra grande tendência de estudos no campo da
expressão criativa do professor.

5 Identificação das concepções de criatividade dos professores

Na pesquisa realizada foram encontrados diferentes materiais


que abordam entre suas construções a identificação das concepções
de criatividade dos professores, constituindo tema presente em 24%
dos trabalhos selecionados.
Tais estudos incluem as concepções de criatividade em outros
contextos pedagógicos, como o atendimento educativo oferecido em
hospital. Nessa direção está o trabalho de Cardoso e Leite (2009),
que procuraram refletir acerca do desenvolvimento da criatividade no
trabalho pedagógico hospitalar. As pesquisadoras verificaram que, para
as professoras que atuavam naquele espaço pedagógico, a criatividade
está associada às atitudes e capacidade de transformar, modificar
situações que vivenciam diariamente, sendo considerada como um
dos fatores que lhes inspiravam, capacitando-as para planejar com
flexibilidade em situações imprevistas.
Também há estudos com outros profissionais que compõem a
dinâmica educativa como coordenadores pedagógicos, participantes
do estudo de Oliveira, Edileusa (2009) e os gestores e orientadores
educacionais, sujeitos da pesquisa de Oliveira, Eny (2007) e Oliveira
e Alencar (2010). Estas últimas tinham como foco a investigação das
concepções de criatividade atribuídas por aqueles profissionais, a
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importância dada por eles à expressão criativa e a identificação dos
fatores inibidores e facilitadores da criatividade desses profissionais no
sentido de promovê-la na organização escolar.
Em sua análise, concluíram que os gestores e orientadores
educacionais julgavam a criatividade importante, contudo o conhecimento
que tinham a respeito do tema e que embasava sua prática advinha
do senso comum. As concepções apresentadas estavam relacionadas
à compreensão da criatividade como produtora de novidades ou do
diferente; como geradora de soluções; um atributo pessoal; elemento
de prazer; ou associada às artes.
Estas concepções pautadas no senso comum estiveram presentes
também nos resultados alcançados na pesquisa de Nakano (2011),
e, aproximam-se das concepções intuitivas, como denominadas por
Barreto e Martínez (2008). Concepções que vinculam a criatividade
à curiosidade, ousadia, solução de problemas, elementos externos.
Aspectos que foram percebidos nos estudos de Oliveira, L. (2006) e
Domingues (2008).
Tais concepções divergem dos achados de Garde (2003) e
Garde e Andrade (2003) autores que afirmam que as representações
sociais de professores de ensino médio estão associadas a diferentes
referenciais teóricos, como o psicanalítico, rogeriano e cognitivista. A
análise de suas representações indicou relações entre a criatividade e
a espontaneidade, transformação de algo, recriação, um novo sentido.
Próximo ao que colocaram os autores está a pesquisa de
doutorado de Schirmer (2001). Em seus resultados, afirma que as
professoras de educação infantil conhecem o conceito de criatividade e
têm atuações compatíveis com o cenário atual. Dentre as construções
da referida autora estão que as professoras entendem a criatividade
desde noções do senso comum às construções teóricas. Para elas a
criatividade pode se configurar como capacidade inata, capacidade
adquirida e/ou pensamento intuitivo (mágico), que surge de forma
repentina e deve ser aproveitada na dinâmica educativa.
Essas concepções que relacionam a criatividade à capacidade de
transformar, de fazer e inovar foram encontradas também nas pesquisas
de Oliveira, L. (2006); Oliveira e Alencar (2007); Libório (2009); Oliveira,
Edileusa (2009); Libório e Neves (2010); Nakano (2011); Chiodi et al.
(2011); Oliveira, Z. (2012).
Isto indica a forte relação existente no ambiente escolar entre
criatividade e inovação e criatividade e transformação, afirmativa
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corroborada pelos resultados alcançados no estudo de Oliveira, L.
(2006), o qual incluiu diferentes localidades do país. A autora encontrou
diferentes concepções de criatividade ao investigar a atuação criativa
em professores de educação infantil, com ênfase à autopercepção sobre
criatividade, às estratégias utilizadas em sala de aula e à interação
professor-aluno. Por meio da análise de questionários e observações em
sala de aula de nove professores, concluiu que há algumas diferenças
entre as concepções dos professores das regiões consideradas,
mas que todas demonstraram fazer uso da criatividade. A concepção
predominante, em relação às respostas para a pergunta: “para você, o
que é a criatividade?”, refere-se a inovar, com 146 escolhas, seguida
de capacidade de criar, com 135. A esse respeito a autora chama a
atenção para o fato das expressões serem as mais conhecidas ao se
tratar de criatividade.
Considerando o contexto específico da educação infantil, Fresquet
(2000) pesquisou os processos de coconstrução do conceito de
criatividade no contexto de um mini-curso para professores de educação
infantil. Em seu estudo analisou a mudança no conceito de criatividade
e seu impacto transformador na maneira de cada professor se perceber
e se relacionar com o mundo. Dentre os diferentes aspectos presentes
em seus resultados, a autora demonstrou que durante a construção
coletiva do conceito alguns mitos presentes inicialmente, como: a
criatividade é uma qualidade reservada a alguns privilegiados, e que,
todos trazem ao nascer, foram “derrubados”. O conceito de criatividade
passou a ser relacionado à cultura e compreendido como um processo
progressivo de criação do novo, e, segundo a autora, passou a se refletir
nas experiências profissionais dos professores envolvidos no mini-curso.
Também na educação infantil está a pesquisa desenvolvida por
Neves-Pereira (2004) que buscou investigar, em nível microgenético,
as práticas de professores de educação infantil e sua relação com a
promoção ou inibição da criatividade das crianças. Para isso, analisou
as concepções de criatividade das professoras, tendo em vista as
práticas pedagógicas com vistas à promoção do potencial criativo.
Em suas construções observou que as concepções das professoras a
respeito da criatividade se refletiram em suas práticas, determinando
o que acontecia em sala de aula.
Os resultados de Fresquet (2000) e Neves-Pereira (2004) divergem
do que encontrou Libório (2009) no contexto do ensino fundamental. A
autora investigou a relação professor-aluno, junto a oito turmas de 5ª
série do ensino fundamental, visando analisar as concepções que os
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professores possuem sobre relação professor-aluno, criatividade e clima
favorável à criatividade e compreender de que maneira essas relações
podem favorecer ou não à criatividade em sala de aula.
No âmbito das concepções de criatividade, identificou que, dos
oito professores de sua pesquisa, cinco afirmaram que a criatividade
se refere a uma capacidade de solucionar problemas de forma
inovadora. Outros dois participantes, que a criatividade é uma expressão
espontânea de uma realidade interna e que se trata de uma capacidade
de transformar. No entanto, ressaltou a pesquisadora: o preparo do
professor e o seu envolvimento indicam ter mais significado que suas
concepções sobre os “fenômenos”.
Atreladas às colocações de Libório (2009) estão as reflexões
expostas por Costa Júnior (2008) que destacou a relevância da
formação continuada para uma prática pedagógica criativa por parte
dos professores de artes. Dentre as concepções apresentadas pelos
docentes que integraram o seu estudo estão que a criatividade refere-
se à invenção, criação, produção de algo novo e que todas as pessoas
possuem um potencial criativo. Entretanto, alerta que apesar das
definições apresentadas estarem de acordo com conceitos reconhecidos
acerca da criatividade, aos professores falta embasamento teórico.
Além disso, eles ainda não têm consciência crítica a respeito de seu
agir criativo.
Em outra direção, estão os estudos que afirmam entre suas
construções que os professores têm concepções inatistas de criatividade,
resultados alcançados também por Fresquet (2000); Schirmer (2001),
Libório (2009), Lima (2010) e Libório e Neves (2010).
É possível, então, identificar três concepções de criatividade
predominantes entre os professores que participaram dos diferentes
estudos: a) concepções vinculadas ao senso comum; b) concepções que
relacionam a criatividade à transformação e inovação; c) concepções
inatistas, que julgam a criatividade como uma característica individual
com a qual a pessoa nasce, cabendo a escola deixá-los desenvolver.
Além disso, verifica-se com os resultados alcançados duas
grandes divergências, a primeira entre aqueles estudos que afirmam
que as concepções de criatividade são pautadas no senso comum e
aqueles que dizem serem as concepções referendadas em abordagens
teóricas diversas. A outra divergência está entre as pesquisas
que afirmam que as concepções de criatividade influem na prática
pedagógica dos professores e aqueles que ressaltam que não há
grande influência. Contudo, algumas pesquisas concordam que as
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concepções de criatividade estão relacionadas ao embasamento teórico
dos professores, o que permite a relação entre a criatividade e formação
inicial e continuada dos professores.
Apesar dos encontros e desencontros entre os resultados
alcançados, ressalta-se a importância dos estudos que abordam entre
os temas de estudo a identificação das concepções de criatividade do
professor. Possibilitam, com isso, uma compreensão geral das diferentes
visões de criatividade que podem perpassar os espaços escolares. E
com isso, a avaliação e compreensão das necessidades presentes, por
exemplo, nos momentos de formação inicial e continuada.
Entretanto, apenas identificar as concepções de criatividade não
permite compreender a expressão criativa no trabalho pedagógico,
se não há articulação com os diferentes espaços vivenciados pelos
professores e as relações sociais construídas no espaço educativo. Tais
estudos também não possibilitam por si só o entendimento do processo
de constituição e desenvolvimento da expressão criativa nas diferentes
faces da prática pedagógica.
As concepções se formam nas inter-relações entre o professor
e os espaços sociais de que participa. São relevantes, então, certas
ampliações nos estudos que envolvem a identificação da concepção
de criatividade do professor, buscando relacioná-los às pesquisas
sobre as concepções predominantes nos contextos escolares e da
singularidade de cada professor. Aspectos que se mostram significativos
também ao se tratar das barreiras ou fatores inibidores ou facilitadores
da criatividade do professor.

6 Identificação dos fatores inibidores ou facilitadores da expressão


criativa do professor

Outra forte tendência de estudos identificada nos trabalhos que


versam sobre a criatividade do professor está o levantamento das
barreiras ou fatores inibidores ou facilitadores da expressão criativa,
o que compreende 31% dos materiais encontrados. Muitos desses
estudos estão relacionados também ao papel do professor para o
estímulo à criatividade dos alunos, assunto que será abordado mais
adiante.
Os trabalhos identificados selecionados dentro desta tendência
se dividem ainda em duas direções, aqueles que abordam os fatores
inibidores e facilitadores da criatividade do professor em seu trabalho
pedagógico, e aqueles que apontam o envolvimento de tais fatores
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para o desenvolvimento criativo dos alunos. Esta constatação indica
que as pesquisas vinculadas à criatividade do professor precisam ser
analisadas cuidadosamente, pois apesar de anunciar o interesse pela
expressão criativa docente, podem ter como foco real a criatividade
dos alunos.
Schirmer (2001) envolveu em seu estudo as duas direções
indicadas acima, ao investigar o que impede o emprego da criatividade
em sala de aula. Em sua investigação encontrou relações com as
condições físicas, no que compete aos espaços adequados para
expressão criativa dos alunos, a falta de materiais e recursos, além do
apoio técnico. Obteve, ainda, indicações relacionadas às lacunas na
formação e motivação do professor, a repressão que faz às respostas
criativas dos alunos, bem como os limites e regras que impõe a eles.
No ensino fundamental Carvalho (2004) possuía como objetivo
investigar, no contexto da prática pedagógica, os componentes que
contribuem para favorecer ou inibir a criatividade dos alunos, de acordo
com professores de geografia de 5ª a 8ª séries do ensino fundamental,
verificando as possíveis diferenças entre professores da escola pública
e particular. Em seus resultados, constatou que as barreiras mais
indicadas estão associadas ao elevado número de alunos em sala de
aula, as situações de indisciplina, as dificuldades de aprendizagem e
desinteresse apresentados pelos alunos; a desvalorização do papel do
professor; a escassez de material didático; as poucas oportunidades
para realizar atividades extra classe e para trocar ideias com colegas
professores. Tais aspectos aproximam-se dos achados de Melo (2001),
Gums (2003), Souza, M. (2004), Souza e Alencar (2006), Silva, C.
(2007), Godinho (2008), Assis (2009), Libório (2009), Libório e Neves
(2010), Alencar e Fleith (2008, 2010a).
Mariani (2001) e Mariani e Alencar (2005), que por sua vez,
estudaram os componentes da organização do trabalho pedagógico e
os elementos de caráter pessoal/individual que agem como inibidores e
facilitadores da expressão criativa do professor, considerando aqueles
que atuam em história de 5ª à 8ª série. Em relação aos limites apontados
por elas estão: problemas na relação professor-aluno, a falta de
motivação e participação dos estudantes nas aulas, a responsabilidade
ou compromisso, a imaturidade que apresentam, as brincadeiras em
sala, sobrecarga de trabalho, a estrutura escolar, dentre outros.
Identificaram uma diversidade de fatores que podem trazer
estímulos à criatividade do professor, como liberdade, desinibição,
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paixão pelo trabalho, recursos materiais, trabalho em equipe, orientação
efetiva, relação professor-aluno. Fatores facilitadores que se relacionam
ao que outras pesquisas encontraram, como: Melo (2001), Oliveira, A.
(2002), Alencar e Fleith (2003), Barreto e Martínez (2007).
Tendo em vista os diferentes níveis de ensino, Alencar e Fleith
(2003) chegaram à conclusão que há distintas barreiras que se referem
direta ou indiretamente aos motivos, meios e oportunidades para a
expressão da criatividade pessoal dos professores, o que indica a
necessidade de estratégias que ampliem as suas possibilidades de
expressão criativa.
Nessa direção, encontram-se os achados de Castro (2007) e
Castro e Fleith (2008) que em relação ao tempo de docência na 4ª
série do ensino fundamental e as barreiras pessoais à criatividade do
professor, concluíram que houve divergência significativa em apenas
uma medida de criatividade entre professores com mais e menos
tempo de atuação, a que se refere à flexibilidade. E que em relação às
barreiras, não foi identificada diferença significativa entre os professores
nos diversos fatores examinados, sendo que a barreira que obteve maior
média nos dois grupos foi: falta de tempo/oportunidade. Esse fator foi
encontrado também por Oliveira, A. (2002), Ribeiro (2006) e Ribeiro e
Fleith (2007), Lima (2010), Moraes (2012).
Observa-se que há diferentes fatores inibidores e facilitadores
para a expressão criativa no contexto escolar, conforme apontado nas
pesquisas acima. Estes podem ser vistos como aspectos de natureza
pessoal e pedagógica, como apresentado por Oliveira, Eny (2007) e
Oliveira e Alencar (2010) ou de natureza administrativa, como número
de alunos, recursos materiais, organização do tempo, dentre outros. Tais
fatores apresentam semelhanças e diferenças nas diferentes etapas de
ensino, e, têm nos elementos pessoais e nas relações professor-aluno
as maiores indicações.
Para além da identificação dos fatores ou elementos inibidores,
estão às construções de Castro (2007), Castro e Fleith (2008) e Alencar
e Fleith (2003). As conclusões que as autoras alcançaram mostram que
as barreiras à expressão criativa do professor, propriamente, precisam
estar situadas na singularidade dos sujeitos que compõem a dinâmica
educativa e nos aspectos constitutivos do espaço escolar.
Os dados apresentados, ao afirmarem a diversidade de fatores
que podem influir na criatividade do professor, permitem a compreensão
de que expressão criativa precisa ser considerada tendo em vista o
professor e as relações construídas no espaço escolar (com outros
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professores, alunos, famílias). De maneira que para alguns professores
os elementos relacionais entre eles e seus alunos podem se tornar tanto
instigadores como barreiras à sua criatividade no trabalho pedagógico.
Mais uma vez, nota-se a importância de estudos acerca da
criatividade no trabalho pedagógico que considerem o professor como
real sujeito de pesquisa, o qual em suas relações sociais, na sua história
de vida única e singular pode indicar as barreiras à sua criatividade e
se há fatores facilitadores.

7 O papel do professor para o estímulo à criatividade dos alunos

Próximos à tendência de estudos a respeito da identificação


das barreiras ou fatores inibidores e facilitadores da criatividade do
professor, estão os trabalhos que versam sobre o papel do professor
para estímulo à criatividade dos alunos, e, que representam 32% dos
trabalhos selecionados.
No que se refere ao papel do professor enquanto facilitador da
criatividade dos alunos, Schirmer (2001) concluiu em sua pesquisa
que as ações pedagógicas das professoras pesquisadas estavam
fortemente condicionadas pelas representações construídas em sua
vida acadêmica ou no contato com modelos didáticos que convivem
em sua prática, e que a formação docente pode se situar entre as
dificuldades para a expressão criativa do professor.
A discussão sobre a articulação entre formação de professores e
criatividade está presente na dissertação de Ussene (2006). Esta teve
como objetivo analisar o processo de formação de professores em
exercício do Instituto de Magistério Primário da Matola (Moçambique) e
contribuir para que se desenvolva uma postura criativa e reflexiva desses
formandos e consequentemente melhoria da qualidade do ensino. Em
sua análise constatou, no entanto, que a criatividade e a reflexividade
não fazem parte do processo de ensino e aprendizagem da instituição
de ensino superior, nem da escola onde os formandos-professores
atuavam, especificamente, em relação aos sujeitos assistidos. De
modo que a relação teoria e prática é realizada sem que professores
e alunos tenham consciência plena da verdadeira interligação entre
estes tais aspectos.
No Brasil há a pesquisa realizada por Santeiro, Santeiro e Andrade
(2004) que buscaram caracterizar o professor universitário que segundo
seus alunos podem ser considerados como facilitadores ou inibidores de
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sua expressão criativa. Em seus resultados verificaram a predominância
de elementos vinculados ao preparo do professor, seguidos dos que
indicam a forma como ele se relaciona com os alunos. Os traços de
personalidade e técnicas instrucionais tiveram os menores índices.
Outros estudos verificaram as características de professores
facilitadores e ou inibidores da criatividade dos alunos, como a
pesquisa de Teixeira (2000), Souza, M. (2004), Souza, D. (2005),
Souza e Alencar (2006) que estudaram tais características também
em professores universitários, e, encontraram entre suas respostas
aspectos relacionados à: curiosidade, encorajamento da individualidade,
independência, promoção de um clima seguro, estímulo ao aluno para
correr riscos e expressar ideias inusitadas.
No contexto da Educação Infantil, Assis (2009) investigou os
atributos pessoais docentes considerados relevantes para a promoção
da criatividade e encontrou características como: responsabilidade,
domínio do conteúdo desenvolvido, dedicação ao trabalho.
Além dos atributos ou características do professor facilitador da
criatividade, alguns estudos se dedicaram a analisar os procedimentos
utilizados pelos professores que podem favorecer o desenvolvimento
criativo dos alunos. Nesses estudos estão situados os trabalhos de
Oliveira, A. (2002), Carvalho (2004), Alencar e Carvalho (2004), Almeida
(2007), Oliveira e Alencar (2007), Silva, C. (2007) e Godinho (2008).
Entre os seus achados encontram-se referências à importância da
relação professor-aluno, estímulo para os alunos analisarem diferentes
aspectos de um problema, esclarecimento de dúvidas, desenvolvimento
da capacidade crítica, a condução para que o aluno perceba e conheça
os pontos de vista divergentes acerca do mesmo problema ou tema de
estudo e incentivo a novas ideias.
Existem ainda aqueles estudos que trazem a avaliação de
professores e estudantes quanto ao estímulo à criatividade como: Silva,
O. (2001), Rodrigues Júnior (2000), Silva, P. (2000), Silva e Alencar
(2003), Ribeiro (2006), Ribeiro e Fleith (2007), Almeida (2007), Godinho
(2008), Aquino (2012). Nesses estudos há divergências entre o que
afirmam os professores e o que dizem os alunos. Os professores, em
sua maioria se dizem criativos. Os alunos se sentem pouco estimulados
e supõem apresentar maior criatividade que seus professores.
Outras divergências foram identificadas entre os resultados das
pesquisas de Souza, M. (2004), Souza e Alencar (2006) que afirmam:
para a maioria dos professores participantes de seus estudos há relação
entre ensino de forma criativa e o desenvolvimento da criatividade dos
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alunos, bem como entre criatividade, aprendizagem e desempenho
escolar. E, o que encontrou Moraes (2012) que colocou: para a quase
totalidade dos professores pesquisados o seu ensino era criativo, no
entanto, eles não percebiam como criativos os textos produzidos pelos
alunos.
As pesquisas de Garde (2003), Garde e Andrade (2003) e Aquino
(2012) trazem contribuições sobre o ensino criativo. Os primeiros
autores afirmam que para os participantes de seu estudo a criatividade
no ensino é considerada como um processo de reflexão e sensibilidade,
em que o professor é capaz de identificar as necessidades do aluno
e buscar no cotidiano subsídios para trabalhar o conteúdo de suas
disciplinas. Para Aquino (2012) as características de um ensino inovador
identificadas por professores e alunos de cursos de Pedagogia estão
relacionadas à: estar aberto a novas ideias, conecção de informações
a situações reais e a problemas e questões atuais, além de motivação
para buscar novos conhecimentos.
Ainda em relação ao ensino superior encontra-se a pesquisa de
Alencar e Fleith (2004) que procuram desenvolver um inventário de
práticas docentes que favorecem a criatividade no ensino superior.
Para isso, realizaram um estudo com o objetivo de construir e validar
um instrumento que possibilitasse avaliar a percepção de alunos
universitários quanto à extensão em que seus professores apresentavam
comportamentos e implementavam práticas docentes que favorecessem
o desenvolvimento e a expressão da criatividade do estudante.
Foram trabalhados quatro fatores que dizem respeito a distintos
atributos do professor facilitador da expressão criativa de seus alunos,
sendo o fator 1- incentivo a novas ideias; fator 2- clima para expressão
de ideias; fator 3- avaliação e metodologia de ensino; fator 4- interesse
pela aprendizagem do aluno. Os resultados sugeriram que o inventário
de práticas docentes se configurou como um instrumento útil para fins
de pesquisa e identificação de condutas docentes que favorecem o
desenvolvimento e expressão criativa dos estudantes.
A propósito do papel docente para o estímulo da criatividade,
ressalta-se que as pesquisas apresentadas acima partem do consenso
de que o contexto escolar, em especial, o professor tem uma função
relevante para a promoção de situações favoráveis ao desenvolvimento
criativo dos alunos. Não há dúvidas de que o espaço escolar participa
da constituição da criatividade dos alunos.
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Concordamos com Mitjáns Martínez (2002) que afirma que sendo
o professor criativo, ele pode possuir maior sensibilidade para a inovação
e a mudança; ser mais tolerante com os comportamentos vinculados
à ação criativa e ter maior disponibilidade de tempo e esforço para
atividades que estimulem a criatividade.
No entanto, compreendemos que a criatividade do professor não
conduz necessariamente à criatividade dos alunos, de maneira que
não há uma ação direta. Na relação entre o docente e seus estudantes
podem se estabelecer laços de confiança e amizade que favoreçam
o desenvolvimento da criatividade. Mas podem existir outros fatores
externos à relação professor-aluno e experiências para além do contexto
escolar que dificultem a expressão criativa dos alunos.
Nessa perspectiva, o papel do professor para a criatividade
dos alunos precisa incluir outros aspectos relacionados às vivências
pessoais dos estudantes, as relações com outros colegas, a história de
vida dos mesmos, os meios sociais de que participam, especialmente, a
família. Esses repercutem no desenvolvimento da criatividade, que não
depende de maneira exclusiva do professor. Esse sentido mais amplo
do desenvolvimento e expressão da criatividade pode ser encontrado
nos materiais identificados que versam a respeito da criatividade no
trabalho pedagógico.
Antes disso, destaca-se dentre os trabalhos que tratam a respeito
da criatividade do professor outras temáticas como aqueles que
envolvem instrumentos de avaliação da criatividade, encontradas em
Alencar e Fleith (2010b), Oliveira, Z. (2010), Fadel (2010), Morais e
Azevedo (2008). Outros assuntos fazem-se presentes em estudos como
o de Fortes (2003) que investigou a criatividade na fala de professores
de física, e Sousa Filho (2011) que investigou os efeitos de um programa
de criatividade ministrado na modalidade de educação a distância com
professores dos anos iniciais do ensino fundamental. Temas que não
foram categorizados segundo as tendências apresentadas acima e que
compõem 8% dos materiais que tratam de outros assuntos.

8 Criatividade no Trabalho Pedagógico: estudos realizados

Os resultados da pesquisa bibliográfica realizada indicam, de


forma geral, que em detrimento ao reconhecimento social e a valorização
da criatividade, ainda há lacunas significativas acerca da criatividade no
trabalho pedagógico. Esta afirmativa está pautada no reduzido número
de pesquisas e estudos (apenas quatro) que focam o assunto, e que
envolvam, efetivamente, a consideração da importância da criatividade
nas diferentes dimensões da prática educativa.
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Foram identificados três estudos desenvolvidos em nível de
mestrado, que estudaram a expressão criativa no ensino fundamental
e educação infantil, e compreendem as pesquisas de Cores (2006),
Arruda (2007), Távora (2010) e um em nível de doutorado que enfocou
a criatividade no ensino médio, trabalho realizado por Fernandes (2011).
No estudo mais recente, a autora procurou explicitar as
manifestações da criatividade no trabalho do professor de artes visuais
no ensino médio, no contexto da educação inclusiva. Com base em
sua análise, Fernandes (2011) afirmou que tais manifestações são
constituídas de dilemas que oscilam entre os aspectos de sua expressão,
que foram naturalizados e cristalizados no trabalho pedagógico, e as
expectativas daqueles professores que procuram condições para o
desenvolvimento e expressão da criatividade no espaço escolar.
No âmbito da alfabetização está o estudo de Távora (2010) que
tinha por objetivo evidenciar em que circunstâncias se expressa a
criatividade no trabalho pedagógico de professores alfabetizadores,
bem como, quais são os elementos subjetivos que contribuem para
explicar a expressão dessa criatividade. Entre seus resultados observou
que a criatividade dos citados professores acontece em momentos
caracterizados como transgressores, rompendo com o que está
estabelecido pela instituição. Para a pesquisadora, isso se deve ao
conjunto de crenças e valores presentes no espaço escolar, ao pouco
hábito da leitura e ao clima emocional desfavorável vivenciado pelos
docentes.
Utilizando a mesma abordagem teórica, que compreende a
criatividade como processo complexo da subjetividade humana, está o
trabalho de Arruda (2007) que buscou investigar, no desenvolvimento
do currículo, a expressão da criatividade do professor, na perspectiva
da qualidade da educação infantil. Em suas conclusões a pesquisadora
constatou que a participação dos professores e os processos de reflexão
acerca do currículo foram relevantes para que estes profissionais
pudessem ser criativos em suas práticas educativas. Tais momentos
também foram importantes para a constituição da função pedagógica
da educação infantil naquele espaço social, bem como dos critérios
definidores da criatividade do professor e da construção do significado
da qualidade na instituição educativa pesquisada.
A pesquisa empreendida por Cores (2006) buscou identificar
como professores de uma escola em situação de inclusão escolar
organizam e desenvolvem o trabalho pedagógico a fim de favorecerem
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a aprendizagem e desenvolvimento dos alunos com necessidades
educacionais especiais. A análise permitiu à pesquisadora afirmar que
as professoras que compuseram os dois estudos de caso utilizaram
novidades em seu trabalho pedagógico. Entretanto, não houve,
de forma efetiva, uma ação criativa, pois não foram observados os
impactos dessas novidades para a aprendizagem e desenvolvimento
dos alunos com necessidades educacionais especiais. Aspectos
que identificam o conceito usado para definir criatividade no trabalho
pedagógico: a promoção de novidades com valor para a aprendizagem e
desenvolvimento dos alunos, conforme defende Mitjáns Martínez (2006).
Dentre as possibilidades de estudo do tema, concordamos com
a citada autora: há uma forte tendência de analisar a criatividade do
professor no trabalho pedagógico a partir do que ele faz de novo, sem
considerar o critério de valor para a aprendizagem e desenvolvimento
dos alunos.
Nesse sentido, não identificamos estudos a respeito do
desenvolvimento da criatividade do professor no trabalho pedagógico,
das estratégias e recursos que poderiam ser desenvolvidos por estes
profissionais para viabilizar a sua expressão criativa, nem mesmo
estudos que abordassem a relação entre a formação do professor e
sua expressão criativa.
Ademais, a identificação de poucos estudos a respeito do tema
pode ser caracterizada como um fator que dificulta a organização de
ações efetivas para a promoção de situações favoráveis à mobilização
da criatividade do professor, com vistas à realização de práticas novas
e com valor para a aprendizagem e desenvolvimento dos alunos. O
que repercute, por sua vez, tanto nas discussões sobre a formação
docente inicial e continuada, como no cotidiano escolar e nas relações
entre os segmentos que o compõe: pais, alunos, professores, direção,
dentre outros.

9 Considerações finais

As pesquisas analisadas conduzem a distinções entre o que


consideramos como estudos voltados para o ensino com vistas ao
desenvolvimento da criatividade, em que o professor se configura como
o responsável pelo planejamento e realização de ações favoráveis à
expressão criativa dos alunos. E, o ensino criativo, situação em que
a criatividade caracteriza os diversos aspectos presentes no trabalho
pedagógico.
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Em nossa perspectiva, as tendências apresentadas, com exceção
dos estudos cienciométricos e daqueles relacionados à criatividade no
trabalho pedagógico, vinculam-se mais diretamente ao aluno e não ao
professor e sua expressão criativa nas diferentes dimensões da prática
pedagógica.
Relacionados ao ensino para a criatividade estão aqueles estudos
a respeito das concepções dos professores sobre a criatividade, os
trabalhos que buscam identificar as chamadas barreiras à expressão
criativa do professor, e o papel docente para o desenvolvimento da
criatividade dos alunos. Tais estudos são relevantes, no entanto, não
representam avanços na compreensão dos processos criativos no
trabalho pedagógico, seu desenvolvimento e expressão na dinâmica
educativa. Em especial, porque vislumbram, geralmente, a possibilidade
do professor desenvolver ações, no contexto escolar, que permitam a
expressão criativa dos alunos. A ênfase desses estudos, portanto, volta-
se para as oportunidades de ocorrer o desenvolvimento da criatividade
dos estudantes e não dos professores.
A maior parte desses estudos vislumbra o professor como
mediador e facilitador da criatividade dos estudantes, e não como
sujeito criativo, que no decorrer de sua história de vida e de suas
experiências desenvolve recursos que participam de sua criatividade
no trabalho pedagógico. Professor este que, no cotidiano educativo,
tem a possibilidade de aprender e desenvolver-se a partir das relações
interpessoais, da realização de suas práticas educativas, inclusive em
direção à produção de novidades com valor para a aprendizagem e
desenvolvimento dos alunos.
A consideração dessas relações e da singularidade de cada
contexto educativo pode ser encontrada nos estudos realizados e que
se voltam para a expressão da criatividade do professor no trabalho
pedagógico. Nessas pesquisas o foco estava no professor e em sua
criatividade no trabalho pedagógico, buscando analisar as situações
que indicavam a produção de novidades com valor para aprendizagem
e desenvolvimento dos alunos.
Verifica-se, portanto, a necessidade de investimentos em
pesquisas acerca da criatividade no trabalho pedagógico, que está
além da caracterização do professor criativo. Faz-se relevante, estudos
que, dentre as possibilidades elencadas por Mitjáns Martínez (2003)
e Virgolim (2007), priorizem o processo criativo do professor e não
apenas o produto de sua ação criativa, associada, muitas vezes, a
criatividade do aluno.
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A LEITURA DE TEXTOS PARADIDÁTICOS NA
FORMAÇÃO DO FUTURO PROFESSOR DE FÍSICA

Micaías Andrade Rodrigues*

RESUMO

Este artigo nos traz à reflexão a importância de se utilizar textos


paradidáticos na formação dos licenciandos em Física, pois documentos
como os PCN (BRASIL, 2000), os PCN+ (BRASIL, 2002) e a Matriz de
Referência para o Enem (BRASIL, 2009) defendem o uso de diferentes
linguagens e pesquisas demonstram que o professor utiliza-se dos
meios que vivenciou durante a sua trajetória enquanto estudante
(GIMENO SACRISTÁN; PÉREZ GÓMEZ, 1998, PIMENTA; LIMA, 2004,
TARDIF, 2000, 2004). Sendo assim, relatamos neste artigo a experiência
que tivemos no curso de licenciatura em Física da Universidade Federal
do Piauí, onde trabalhamos em uma turma de 23 (vinte e três) alunos
de Estágio Supervisionado I com quatro diferentes textos paradidáticos
que abordavam alguns conceitos de Física, tais como o movimento dos
corpos celestes, o magnetismo, a mudança de estado físico, a densidade
etc. Após a leitura destes textos, em grupos, os alunos discutiam sobre
quatro diferentes questões sobre o conteúdo do texto e a sua possível
utilização em sala de aula e, em seguida, discutiam os seus textos e
suas respectivas respostas com toda a turma, ampliando a discussão.
Como resultado, concluimos que os alunos acharam interessante a
utilização destes textos, pois, além de ter um baixíssimo custo para a
sua aplicação e ampliar as possibilidades metodológicas no ambiente
escolar, eram simples e abordavam conceitos da Física no cotidiano,
diminuindo a distância entre a Física lecionada na escola e a realidade
dos alunos.

Palavras-chave: Ensino de Física. Formação de professores. Estágio


Supervisionado. Textos paradidáticos. Leitura.

Recebido em: 20/08/2012 – Aceito em: 19/10/2012

* Licenciado em Física e mestre em Educação pela Universidade Federal


de Pernambuco. Professor do Departamento de Métodos e Técnicas de
Ensino do Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal do
Piauí. E-mail: [email protected].
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ABSTRACT

This paper brings us to reflect the importance of using paradidactic texts


in training of undergraduates in physics, because the PCN (BRASIL,
2000), the PCN+ (BRASIL, 2002) and the Matriz de Referência para o
Enem (BRASIL, 2009) carry out the use of the diferents languages and
researches show that the teacher used the means that he experienced
during his career as a student(GIMENO SACRISTÁN; PÉREZ GÓMEZ,
1998, PIMENTA; LIMA, 2004; TARDIF, 2000, 2004). Thus, in this paper
we report the experience we had in the course of degree in Physics
from the Universidade Federal do Piauí, where we work in a class of 23
(twenty three) Supervised Teacher Practice I students with four different
paradidactic texts that addressed some of the concepts of physics such
as the movement of heavenly bodies, magnetism, the change of physical
state, density etc. After reading these texts, in groups, the students
discussing four different questions about the content of the text and
their possible use in the classroom and, after this discuss with all class
about their texts and their answers, extend the discussion. As a result,
we conclude that students found interesting to use these texts because,
besides having a very low cost for its implementation and expand the
methodological possibilities in the school environment, were simple
texts that addressed concepts of physics in everyday life, decreasing
the distance between physics taught at school and the students’ reality.

Keywords: Physics teaching. Teacher education. Supervised teacher


practice. Paradidactic texts. Reading.

1 Introdução

A Lei 9394/1996 (BRASIL, 1996), a Lei de Diretrizes e Bases da


Educação Nacional – LDB, afirma no seu artigo 36, entre outras coisas
que o currículo do ensino médio:

I – destacará a educação tecnológica básica, a compreensão


do significado da ciência, das letras e das artes; o processo
histórico de transformação da sociedade e da cultura; a
língua portuguesa como instrumento de comunicação,
acesso ao conhecimento e exercício da cidadania;
II – adotará metodologias de ensino e de avaliação que
estimulem a iniciativa dos estudantes; [...]
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Afirma ainda, neste mesmo artigo que os conteúdos, as
metodologias e as formas de avaliação serão organizados de tal forma
que ao final do ensino médio o educando demonstre, entre outros
o domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a
produção moderna e conhecimento das formas contemporâneas de
linguagem.
As Bases Legais dos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL,
2000), ao comentar sobre a LDB, afirmam que a organização curricular
do Ensino Médio deve ser orientada para reconhecer as linguagens
como formas de constituição dos conhecimentos e das identidades,
portanto como o elemento-chave para constituir os significados,
conceitos, relações, condutas e valores que a escola deseja transmitir.
Esta linguagem pode ser a de algoritmos na Matemática e Física, a
escrita, a verbal ou ainda a não verbal, através dos gestos e atitudes.
Em relação ao uso das diferentes linguagens no ensino das
Ciências Naturais, as Orientações Complementares aos Parâmetros
Curriculares Nacionais – PCN+ (BRASIL, 2002, p. 24) afirmam que:

O domínio de linguagens, para a representação e a


comunicação científico-tecnológicas, é um campo comum a
toda a ciência e a toda a tecnologia, com sua nomenclatura,
seus símbolos e códigos, suas designações de grandezas
e unidades, boa parte dos quais já incorporada à
linguagem cotidiana moderna. A articulação dessa
nomenclatura, desses códigos e símbolos em sentenças,
diagramas, gráficos, esquemas e equações, a leitura e
interpretação destas linguagens, seu uso em análises
e sistematizações de sentido prático ou cultural, são
construções características dessa área de conhecimento,
mas hoje integram um instrumental igualmente necessário
para atividades econômicas e para o pensamento social.

O documento citado para ressaltar a importância dos códigos e


linguagens no estudo das Ciências da Natureza e Matemática criou,
como um dos objetivos educacionais no ensino médio, Representação
e Comunicação1 e comenta que o desenvolvimento de códigos e
linguagens em ciência e tecnologia deve ser tomado como um aspecto
formativo de cada disciplina científica.
Dentro desta perspectiva, os PCN+ Ciências da Natureza,
Matemática e suas Tecnologias (BRASIL, 2002) continuam afirmando
têm ocorrido em muitas escolas brasileiras novos projetos pedagógicos
e novas práticas educacionais, nas quais leituras, investigações,
1
Os outros objetivos listados são a investigação e compreensão e
contextualização sociocultural.
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discussões e projetos realizados por alunos superam ou complementam
a pedagogia do discurso e a didática da transmissão. Essas novas
práticas, usualmente, são resultado de um trabalho de toda a
comunidade, em cooperação com a direção escolar, em apoio à
transição entre o velho e o novo modelo de escola.
Os PCN+ (BRASIL, 2002) comentam que a leitura e a elaboração
de manuais de instrução, ou de outros textos técnicos, que se viabilizam
e se completam pelo uso das linguagens textuais, gráficas e pictóricas
combinadas podem possibilitar um aprofundamento e uma ampliação
tanto o sentido cultural do aprendizado quanto no sentido prático. A
Matriz Curricular do Exame Nacional do Ensino Médio (BRASIL, 2009),
ao tratar sobre a competência Entender métodos e procedimentos
próprios das ciências naturais e aplicá-los em diferentes contextos,
na Matriz de Referência de Ciências da Natureza e suas Tecnologias,
cita a seguinte habilidade: “Relacionar informações apresentadas em
diferentes formas de linguagem e representação usadas nas ciências
físicas, químicas ou biológicas, como texto discursivo, gráficos, tabelas,
relações matemáticas ou linguagem simbólica”.
Dessa forma, a maneira habitual que os alunos de física entram em
contato com a disciplina, com imensas listas de exercícios, memorização
de fórmulas e descontextualizado da realidade dos alunos (ANDRADE;
MAIA JUNIOR, 2008, BEZERRA et al., 2009, CAVALCANTE et al., 2009,
MONTEIRO; TEIXEIRA, 2004, REIS; LINHARES, 2008, TEIXEIRA,
2003) mostra-se em direção contrária ao que rege a lei supracitada. Para
modificar isto, os PCN+ (BRASIL, 2002) nos dão como sugestão utilizar
os meios de informação contemporâneos que estiverem disponíveis
na realidade do aluno, tais como notícias de jornal, livros de ficção
científica, literatura, programas de televisão, vídeos, promovendo
diferentes leituras e/ou análises críticas e enfatiza que uma prova pode
ser também um momento de aprendizagem, especialmente em relação
ao desenvolvimento das competências de leitura e interpretação de
textos e enfrentamento de situações-problema.

2 A formação do futuro professor e o estágio supervisionado

Existem várias formas de se pensar a educação, em especial o


processo ensino-aprendizagem. Pérez Gómez (1998) lista três diferentes
modelos para compreender a vida na sala de aula. O primeiro modelo
é o modelo processo-produto, no qual a vida da aula pode se reduzir
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às relações que se estabelecem entre o comportamento observável
do professor e o rendimento acadêmico do aluno, semelhante ao
modelo de educação bancária, descrito por Freire. O segundo modelo
é o mediacional, que pode ser centrado no professor (neste caso o
professor é o único instrumento suficientemente flexível para adaptar-se
às diferenças e peculiaridades de cada momento e de cada situação) ou
no aluno (este enfoque assume que o aluno não é um passivo receptor
de estímulos, e que o conhecimento não é nunca uma cópia fiel da
realidade, mas uma verdadeira elaboração subjetiva).
O terceiro modelo citado por Pérez Gómez (1998) é o modelo
ecológico, cuja compreensão requer atender ao conjunto de influências
explícitas ou implícitas que atuam de forma conjunta e sistemática no
ecossistema da sala de aula, favorecendo a elaboração dos estudantes
sobre o conhecimento e o significado a partir de sua experiência com
a realidade, reconstruindo a cultura (que o autor citado define como o
conjunto de significados e condutas partilhados, desenvolvidos através
do tempo por diferentes grupos de pessoas como consequência de
suas experiências comuns, suas interações sociais e seus intercâmbios
com o mundo), e não simplesmente a adquirindo.
Estes diferentes modelos de pensar a sala de aula irão influenciar
a forma de se pensar os estágios supervisionados, os quais estiveram
em discussão no aspecto legal e também têm sido foco de inúmeras
pesquisas acadêmicas. Castro (2002 apud FIORENTINI, 2008) e Rocha
(2005 apud FIORENTINI, 2008), afirmam que as práticas de ensino e
os estágios supervisionados representam uma instância importante e
fundamental à formação do professor, sendo marcada por intensa e
significativa aprendizagem profissional.
Fiorentini (2008) afirma que pesquisas sobre o estágio indicam
que, se queremos formar professores capazes de produzir e avançar
os conhecimentos curriculares e de transformar a prática/cultura
escolar, então é preciso que adquiram uma formação inicial que lhes
proporcione uma sólida base teórico-científica relativa ao seu campo
de atuação e que a mesma seja desenvolvida apoiada na reflexão
e na investigação sobre a prática. Isso requer tempo relativamente
longo de estudo e desenvolvimento de uma prática de socialização
profissional e iniciação à docência acompanhada de muita reflexão
e investigação, tendo a orientação ou supervisão de formadores-
pesquisadores qualificados.
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Houssaye (2004) afirma que a formação inicial pode suscitar
menos preocupações caso, entre outras coisas, a responsabilidade
seja assumida de modo progressivo. O autor citado continua:

O sistema de estágios / formação metodológica (lições-


padrão) / formação teórica (aulas ou debates) é inadaptado,
pois faz dos estágios exercícios de “sobrevivência”que
levam a um pragmatismo generalizado, e não a um
profissionalismo com diversidade; quanto aos ciclos
teóricos, na maioria das vezes desconexos de uma
vivência, eles têm sobretudo um caráter de oásis. A
sequência que leva o candidato ao domínio progressivo
da animação é antes a seguinte: períodos de observação,
períodos de atendimento mínimo (um aluno, um grupo, uma
oficina), períodos de atendimento mais amplo, períodos
de atendimento completo, tudo isso com uma supervisão
constante e estruturada. (HOUSSAYE, 2004, p. 30).

Sobre o termo formação inicial Diniz-Pereira, citando Lortie (1975


apud DINIZ-PEREIRA, 2007, p. 86) faz a seguinte observação:

O termo “formação inicial”, como se sabe, é criticado [...]


pelo fato dessa formação iniciar-se muito antes da entrada
em um curso ou programa que se desenvolve em uma
instituição de ensino superior. Como se sabe, a profissão
docente é suis generis, pois, mesmo antes da sua escolha
ou de seu exercício, o futuro profissional já conviveu
aproximadamente 12.000 horas com “o professor”durante
o seu percurso escolar.

Toda essa experiência anterior tem um impacto na construção


de modelos e concepções do que seja “o professor”, “a aula”, ou do
que seja “ensinar”. Segundo Wideen et al. (1998 apud TARDIF, 2000),
pesquisas produzidas em contextos educacionais bastante distintos
do contexto educacional brasileiro mostram que os programas de
“formação inicial”e, mais especificamente, os estágios e as práticas de
ensino, não são capazes de mudar concepções prévias dos alunos,
futuros professores, sobre ensino-aprendizagem e muito menos as
suas práticas pedagógicas.
Por sua vez, Diniz-Pereira (2007), afirma que na realidade
brasileira os estágios supervisionados e as práticas de ensino ocupam
espaços pouco prestigiados nos currículos: em geral, aparecem bastante
tardiamente nesse percurso, alimentando a ideia de que chegou a hora
de aplicar os conhecimentos aprendidos (ou supostamente aprendidos)
por meio das disciplinas de conteúdo específico e/ou pedagógicos.
Fiorentini et al. (2002) ao fazer uma revisão do tipo estado da
arte de 112 pesquisas brasileiras realizadas até 2002 sobre formação
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de professores, verificou que os principais problemas detectados
pelas primeiras pesquisas (décadas de 1970 e 1980) ainda continuam
presentes nos programas recentes de licenciatura em matemática (anos
de 1990 e início dos anos 2000). Esses problemas são:

[...] desarticulação entre teoria e prática, entre formação


específica e pedagógica e entre formação e realidade
escolar; menor prestígio da licenciatura em relação ao
bacharelado; ausência de estudos histórico-filosóficos
e epistemológicos; predominância de uma abordagem
técnico-formal das disciplinas específicas; falta de formação
teórico-prática em Educação Matemática dos formadores
(FIORENTINI et al., 2002, p. 154).

Parece-nos razoável subentender que o mesmo ocorre com as


demais licenciaturas. Pimenta e Lima (2004) afirmam que a dissociação
entre a teoria e a prática resulta em um empobrecimento das práticas
nas escolas, evidenciando a necessidade de explicitar por que o
estágio é teoria e prática. As autoras comentam ainda que a profissão
do educador é uma prática social, é uma forma de intervir na realidade
social, pois a atividade docente é ao mesmo tempo prática e ação.
Candau e Lelis (1988 apud FIORENTINI, 2008) comentam
que nas práticas de formação têm ocorrido uma mudança de uma
relação dicotômica dissociativa, com a teoria separada da prática,
para uma relação dicotômica associativa entre teoria e prática. Na
relação dicotômica associativa, segundo Fiorentini (2008) a teoria e
a prática podem acontecer concomitante ao longo do curso, porém,
desenvolvidas como disciplinas justapostas – teóricas, de um lado, e
práticas, de outro -, isto é, sem articulação entre elas ou sem que seja
estabelecida uma relação dialética entre as mesmas, de modo que
ambas possam enriquecer-se mutuamente.
Sobre isto, Pérez Gómez (1998), comenta que na escola o aluno
entra em contato com os conceitos abstratos das disciplinas, de modo
puramente teórico, não prático, e à margem do contexto e da cultura
em que aqueles conceitos adquirem sentido funcional, sendo assim, o
problema pedagógico não se refere tanto à motivação para aprender,
mas sim à necessidade de contextualizar as tarefas de aprendizagem
dentro da cultura da comunidade em que tais ferramentas e conteúdos
assumem um significado compartilhado e negociado, ao serem
utilizados na prática cotidiana. Tardif (2000) comenta que a lógica
disciplinar é altamente fragmentada e especializada, fazendo com que
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as diversas disciplinas não tenham relação entre si, pois constituem
unidades autônomas fechadas em si mesmas e de curta duração e,
portanto, têm pouco impacto sobre os alunos. Percebemos, então, que
este é um problema que vem desde a educação básica, não sendo uma
questão a ser resolvida apenas nos cursos de formação de professores.
Pimenta e Lima (2004) concluem que no estágio dos cursos de
formação de professores compete possibilitar que os futuros professores
compreendam a complexidade das práticas institucionais e das ações
praticadas por seus profissionais como alternativa no preparo para sua
inserção profissional e que isto só é conseguido se o estágio for uma
preocupação, um eixo de todas as disciplinas do curso, que devem
contribuir para formar professores a partir da análise, da crítica e da
proposição de novas maneiras de fazer educação, valorizando a prática
profissional como momento de construção de conhecimento por meio
de reflexão, análise e problematização dessa prática, atuando como
um professor reflexivo ou professor pesquisador de sua prática.
Gimeno Sacristán e Pérez Gómez (1998) destacaram a reflexão
sobre a prática no contexto em que ela ocorre. No caso dos professores
esta reflexão deve ocorrer nas escolas, ou mais especificamente,
nas salas de aula, levando o professor a construir seu conhecimento
profissional enquanto interpreta as situações que enfrenta e conquiste
uma compreensão das razões, motivos, valores e pressões que
influenciam no seu trabalho pedagógico.
Esta perspectiva ecológica defendida por Gimeno Sacristán e
Pérez Gómez (1998) somente ocorrerá no momento em que o docente
compreender realmente a dinâmica da sala de aula. Alarcão (2003)
afirma que a competência da compreensão é necessária para que
os cidadãos possam assumir o papel de atores críticos e que esta
competência se assenta na capacidade de escutar, observar e pensar,
mas também na capacidade de utilizar as várias linguagens que
permitem ao ser humano estabelecer com os outros e com o mundo
os mecanismos de interação e intercompreensão. Para esta autora,
compreender o mundo, compreender os outros, compreender-se a
si e compreender as interações que entre estes vários componentes
se estabelecem é o alicerce da vivência da cidadania. É através da
compreensão que nos preparamos para a mudança, para o incerto, para
o difícil, mas também para a permanente interação, contextualização
e colaboração. Para que isto de fato ocorra, o professor necessita
ver-se como inacabado (FREIRE, 2004), pois, este inacabamento e
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esta convicção de inacabamento, segundo Imbert (2003), abre novos
horizontes, deixando o saber de vir das influências externas, passando
a vir de suas próprias convicções.
O estágio prepara para um trabalho docente coletivo, pois o
ensino, segundo Pimenta e Lima (2004), não é um assunto individual do
professor, uma vez que a tarefa escolar é resultado das ações coletivas
dos professores e das práticas institucionais. As autoras continuam
afirmando que se pode pensar o estágio em propostas que consideram
que a teoria e a prática estão presentes tanto na universidade quanto
nas instituições-campo. O desafio é proceder ao intercâmbio, durante o
processo formativo, entre o que se teoriza e o que se pratica em ambas.
Para Houssaye (2004) um futuro pedagogo (aquele que procura
conjugar a teoria e a prática a partir de sua própria ação) só pode
constituir seu saber-fazer a partir do seu próprio fazer; é somente
sobre essa base que o saber, como elaboração teórica, se constitui.
Portanto, continua o autor, será útil e moverá tudo aquilo que suscitar
experiência para um aprendiz, ou seja, um saber-fazer que envolva
ao menos três elementos: primeiro, um saber do saber-fazer (em tal
situação, agi daquele modo e deu tal coisa); segundo, um saber para
o saber-fazer (tal experiência realizada em tais circunstâncias talvez
seja transponível para tais outras situações); terceiro, um saber a partir
do saber-fazer, saber que remeta àquela reflexão e àquela teorização
próprias da articulação teoria-prática em pedagogia. A experiência é,
então, ao mesmo tempo uma condição prévia, um meio e um fim da
formação inicial.
Houssaye (2004) prossegue dizendo que é preciso pensar a
formação como experiência e que esta formação não elimina o formador,
o desloca no dispositivo de formação. Os formadores estão sempre
presentes, mas estão a serviço daquilo que surge pelo dispositivo
experiencial implementado (o qual nunca é um dispositivo experimental
no sentido científico do termo). O autor comenta que esta formação
experiencial apresenta as seguintes características: a experiência
é englobante, é um processo que envolve todas as dimensões da
pessoa (o afetivo, o racional e o corporal sempre estão estreitamente
ligados); a pessoa que está em formação vai se apresentar como
“maciça”, plena de sua realidade; a experiência articula continuidade
e rupturas, a destruição da vivência imediata e a sua reelaboração
reflexiva; a formação experiencial se opõe à formação institucional,
visto que a última parece separar a aprendizagem da experiência, fazer
com que a experiência (estágio prático) seja antecedida por aquilo
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que se apresenta como um aprendizado, uma preparação (estágio
teórico), pronta a querer em seguida “retomar”a experiência em uma
nova aprendizagem.
Sobre a experiência, a qual é identificada por Tardif (2004) como o
saber experiencial, decorre do exercício da profissão. Tardif afirma que
este saber é formado de todos os saberes retraduzidos e submetidos
ao processo de validação constituído da prática cotidiana e que são
saberes abertos que se remodelam em função das mudanças na prática.
Incluem o conhecimento do contexto de atuação (normas da escola,
colegas de trabalho, alunos, tradições institucionais etc.), bem como a
experiência do trabalho em si.
Mas, para Tardif (2004) existem, além do saber experiencial
outros cinco saberes mobilizados pelos docentes durante a sua atuação
profissional. São eles: saberes pessoais, saberes provenientes da
formação escolar anterior, saberes da formação profissional, saberes
disciplinares e saberes curriculares.
Os saberes pessoais são aqueles oriundos de situações não
escolares, tais como o contato com a família e os diversos ambientes
que o docente frequenta ou frequentou. Os saberes provenientes da
formação anterior, que são aqueles que veem dos estudos realizados
na escola básica (ensino fundamental e médio) e de estudos não
especializados. Os saberes da formação profissional são aqueles que
fazem referência às ciências da educação (Psicologia, Sociologia,
História, Didática etc.) e às ideologias pedagógicas (escolanovismo,
abordagens comportamentalistas, pedagogias não diretivas,
construtivismo, pedagogia Freinet, pedagogia histórico-crítica etc.).
Estes saberes são popularmente conhecidos como saberes pedagógicos
e veem, normalmente, de cursos de formação inicial e/ou continuada.
Os saberes disciplinares referem-se ao conhecimento acerca da
matéria a ser ensinada (Língua Portuguesa, Física, Química, Biologia,
Artes, Geografia etc.). Durante muito tempo apenas estes saberes
foram considerados necessários para a formação do professor, pois a
visão existente era a de que o bom professor é aquele que domina o
assunto a ser lecionado com profundidade. Os saberes curriculares, por
sua vez, são aqueles que dizem respeito ao conhecimento do currículo
que é proposto para o nível de ensino em que o professor irá atuar, tais
como metas, conteúdos, atividades etc. Os saberes curriculares têm
origem nos parâmetros e propostas curriculares oficiais, livros didáticos,
projeto político-pedagógico da escola, planos de ensino das diferentes
disciplinas etc.
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Verificamos acima que Tardif (2004) citou seis saberes mobilizados
pelos docentes durante a sua atuação profissional e que a maior parte
destes saberes vêm de antes da sua efetiva prática profissional. Por
isto faz-se necessário repensarmos em como devemos trabalhar com
os licenciandos para que esta prática seja proveitosa para os seus
futuros alunos. A leitura de textos de divulgação ou paradidáticos2 pode
ser uma boa alternativa, como veremos na seção seguinte.

3 A importância da Leitura na formação do sujeito

Os textos paradidáticos podem ser utilizados como uma


ferramenta didática capaz de viabilizar a compreensão do aluno relativa
aos conceitos apresentados, bem como oportunizar ao estudante a
possibilidade de interagir reflexiva e criticamente com o seu meio social,
desenvolvendo e vivenciando a sua cidadania.
Almeida e Sorpreso (2011) ressaltam que as leituras não produzem
um único significado e nos trazem à reflexão a conveniência do acesso
a muitos tipos de discursos para um mesmo conteúdo, enfatizando
que a prática da leitura de diferentes textos (artigos científicos, textos
de divulgação científica, livros didáticos) parece uma perspectiva
promissora para a educação. Os autores supracitados exemplificam
que, um estudante que resista ao estudo por livros didáticos pode gostar
de ler textos de divulgação científica e que o aprendizado decorrente
da leitura dos diferentes tipos textuais certamente não será o mesmo,
porém, nos dois casos, provavelmente ocorrerão crescimentos culturais
significativos.
Neste mesmo trabalho, Almeida e Sorpreso (2011) também nos
alertam para a possível hierarquia entre diferentes linguagens no ensino,
a qual chamam de equívoco e citam como exemplo, no ensino da
Física, quando é proposto que se ensine determinado conteúdo primeiro
conceitualmente (linguagem comum) e, só depois, as operações
(linguagem matemática). Como alternativa, os autores sugerem que
as duas modalidades caminharem paralelamente e ressaltam não ser
possível uma tradução total de uma linguagem na outra, mas também
por não conhecer suficientemente as histórias de cada estudante e as
consequentes conexões que ocorrerão em suas memórias discursivas
na produção de significados.
2
Compreendemos textos paradidáticos como “textos que auxiliam no processo
de ensino formal junto com os materiais específicos” (ACADEMIA BRASILEIRA
DE LETRAS, 2008).
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Esta visão também é compartilhada por Cassiani, Von Linsingen e
Giraldi (2011), que identificam em seu trabalho algumas concepções de
leitura diferenciadas e categorizam duas: a primeira voltada à questão da
leitura de textos em si, em que a leitura torna-se importante por propiciar
a apropriação de bens culturais por parte do leitor; e a segunda visão,
a qual estes consideram mais abrangente, que aponta para a leitura
como uma forma de entender o mundo.
Sobre a primeira concepção Chartier (1996 apud ASSOLINI,
2011), traz para a discussão a concepção de leitura enquanto prática
cultural, que obedece às mesmas leis que outras práticas culturais,
com a diferença de que ela é mais diretamente ensinada e propagada
pelo sistema escolar.
Sobre esta segunda concepção Cassiani, Von Linsingen e Giraldi
(2011) afirmam que esta perspectiva se aproxima muito do que Paulo
Freire defende em suas teses, segundo as quais, a tomada da palavra
relaciona-se com as formas de ver o mundo. A leitura, assim, vai muito
além da leitura das palavras. É uma leitura de contextos, que promove
uma visão mais crítica sobre o mundo que nos rodeia. Nas palavras
de Freire:

Cada nova leitura pode provocar a descoberta, numa


“esquina”mal iluminada do texto, de uma dimensão até
então despercebida. É como se, uma vez escrito, o texto
jamais deixasse de poder ser reescrito pelas leituras dele
feitas por seus leitores (FREIRE, 2006 apud CASSIANI;
VON LINSINGEN; GIRALDI, 2011, p. 65).

Freire (2004) afirma que a leitura do mundo precede a leitura


das palavras e que o docente deve respeitar a “leitura do mundo” (grifo
nosso) com que o educando chega à escola. Sobre isto, Cassiani, Von
Linsingen e Giraldi (2011) afirmam que um texto é sempre incompleto,
pois seus sentidos não derivam das palavras ou das expressões em si,
mas são constituídos com base na intertextualidade e no interdiscurso,
na sua relação com a exterioridade.
A utilização de textos paradidáticos em aulas de física no sentido
de promover uma relação dialógica em sala de aula e, com isso,
viabilizar a aprendizagem significativa para o aluno é defendida por
Assis e Teixeira (2005), que embasam o seu trabalho em diversos
autores. As autoras concluem que uma prática pedagógica que utilize
textos paradidáticos em aulas de Física, pode mediar a compreensão
dos conceitos trabalhados de modo mais contextualizado, a articulação
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de diversos conceitos científicos, a articulação dos conteúdos com a
realidade do aluno, a formação do aluno enquanto indivíduo crítico,
reflexivo e criativo e a capacidade de ler e interpretar textos.
Assolini (2011) ressalta que, em oposição à compreensão de
leitura como simples e ingênuo gesto de decodificação – leitura essa
que permanece centrada no texto, tratado como portador de significação
única a ser desvendado e apreendido por um crédulo leitor –, o enfoque
discursivo concebe leitura como construção e produção de sentidos,
porém, nem texto, nem autor, nem leitor, sozinhos, são responsáveis
pelos sentidos de um texto.
A autora acima defende também que leituras (interpretações)
múltiplas são possíveis para um sujeito que pode ocupar a posição de
“intérprete-historicizado”, ou seja, uma posição que permite ao sujeito
do discurso produzir sentidos para além da relação termo a termo entre
as coisas e a linguagem.
Várias pesquisas (LIMA; CARVALHO, 2002; ASSOLINI, 2011;
CASSIANI; VON LINSINGEN; GIRALDI, 2011; DRESCH; LEBEDEFF;
DICKEL, 2011) mostram a importância da leitura no período de infância
em casa ou na escola na formação dos indivíduos, especialmente no
que diz respeito à herança cultural que este momento proporciona
aos indivíduos na fase adulta, em sua atuação profissional enquanto
docente e na base que utilizam nos momentos de formação, quer seja
em nível de Educação de Jovens e Adultos ou em nível de graduação.
Esta herança cultural que os alunos trazem da sua vivência dentro
e fora da escola é aplicada na forma que estes utilizam para explicar os
novos conceitos e conteúdos aprendidos durante a educação formal, na
escola e/ou na universidade. Por isto, a utilização de textos diversos na
escola e na academia deve proporcionar a dialogicidade e a interação.
Segundo Assis e Teixeira (2005) a construção de um espaço
dialógico em sala de aula requer uma mudança de postura do professor
superando o discurso autoritário, normalmente utilizado em aulas
tradicionais. As autoras citam Orlandi (2001 apud ASSIS; TEIXEIRA,
2005), que afirma que não só o professor, mas também os alunos
devem atuar como “produtores da instância de interlocução”, interagindo
simultaneamente, de modo que cada um possa se colocar como sujeito
crítico, “mergulhado no social que o envolve”, estabelecendo-se assim,
uma relação dialógica em sala de aula. Para tal, é fundamental que haja
espaço para que os estudantes exponham as suas ideias, formulem
perguntas e trabalhem diferentes pontos de vista. Assim, o professor
deve atuar como coordenador, organizando atividades de aprendizagem
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apoiadas em situações-problema criadas por ele e que serão resolvidas
pelos alunos, de forma a propiciar aos alunos um atuar com o saber
(PENTEADO, 2000 apud ASSIS; TEIXEIRA, 2005).
Para Assolini (2011) a importância de os cursos de formação
inicial, considerarem que, no processo de aprendizagem do educando,
ecoam sentidos já formulados, pois, todo discurso se delineia na relação
com outros dizeres: os presentes e os que se alojam na memória. Nossos
discursos são atravessados por outros, em nossas falas fazem-se
presentes outras falas; sob as nossas palavras, outras palavras são ditas.
Courtine (1981 apud DRESCH; LEBEDEFF; DICKEL, 2011)
afirma que a memória irrompe na atualidade do acontecimento; assim,
quando falamos de memória discursiva, estamos pensando numa
imensa rede de formulações tecidas na história, o que coloca a repetição
como um dos modos de a história aparecer no discurso. Vista dessa
forma, a memória que emerge dos discursos dos alunos, para além da
experiência pessoal de cada um, faz parte de um conjunto de práticas
sociais que discursivizam a leitura em nossa sociedade.
No seu trabalho, Assolini (2011) afirma que é desejável que os
futuros pedagogos3, possam ocupar o lugar de um sujeito-intérprete
(literato), o que lhes poderia assegurar o permanente exercício da
crítica e da autocrítica, condição fundamental para o magistério,
pois, segundo a autora supracitada, a docência não requer apenas o
domínio de conteúdos específicos nas diversas áreas do saber e do
ensino, mas também conhecimentos didático-pedagógicos, além da
compreensão dos aspectos políticos que sustentam a práxis pedagógica
do profissional da educação.
Cassiani, Von Linsingen e Giraldi (2011) evidenciam as
concepções de leitura como influência importante na busca de formação
e atuação profissional que considere o sujeito como leitor de mundo e
produtor de sentidos. Para estas autoras, abordar questões oriundas
dos estudos de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) a partir dessa
perspectiva torna-se um caminho muito adequado, na medida em que
contribui para que outras leituras sejam realizadas e debatidas como
algumas das possíveis e não as únicas viáveis. Considerar a ciência
e a tecnologia numa abordagem discursiva permite abrir espaço para
que sejam percebidas como construções culturais, localizadas histórica
e socialmente.
As autoras continuam, afirmando que o processo formativo
universitário não deve se limitar ao aprimoramento contínuo e exclusivo
3
Podemos estender isto aos demais licenciandos.
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de conhecimentos tecnocientíficos descontextualizados, mas tornar
possível percorrer outros caminhos, perceber outros cenários e os
mesmos cenários com outros olhares, os quais, segundo as autoras, são
bastante adequados para favorecer uma abordagem mais polissêmica
sobre linguagem e relações CTS.
O uso de um texto paradidático, segundo Assis e Teixeira (2005)
dentro de uma abordagem dialógica, mostra-se um bom exemplo de
uma atividade não linear, uma vez que a partir de uma determinada
discussão inicial acerca de um tema abordado no texto, suscitaram
outros temas inusitados. Esses momentos evidenciaram que o uso do
presente texto, com a mediação do professor, oportunizou que os alunos
explicitassem as suas ideias a qualquer momento, denotando a sua
não linearidade, bem como viabilizou a articulação entre os aspectos
científicos, tecnológicos, sociais, ambientais e políticos, de maneira
contextualizada e reflexiva.
Lima e Carvalho (2002) ao analisar a utilização de um texto
literário em aulas de iniciação à Física com crianças ressaltam que
novos problemas surgem a partir da discussão do texto e que a reflexão
proveniente deste momento permitiu que os alunos elaborassem
teoricamente situações para explicar o problema e que com a evolução
da discussão, inclusive o vocabulário empregado foi sendo alterado,
chegando a utilização de termos normalmente usados em aulas de
Física, sendo, pois, esta mais uma opção para às aulas de iniciação
à Física.
Para Maia (2011) uma boa metodologia se pode reduzir muito a
resistência dos alunos a aceitar ideias difíceis de assimilar e comenta
que hoje há sites ou blogs na Internet onde internautas (geralmente
jovens ainda) expressam o seu desagrado e rejeição a disciplinas como
Física e Matemática formando comunidades como “detesto física”ou
“odeio matemática”. Para este autor, faltou aos professores desses
jovens uma boa metodologia, uma metodologia que mostrasse a eles
que até aquilo que é muito difícil pode se tornar mais aceitável.
Maia, ao comentar sobre a utilização de um texto paradidático
explicita que este texto proporcionou ganhos na aprendizagem, tornou
o conteúdo abordado mais significativo aos alunos, permitiu que
ideias e conceitos básicos sobre o conteúdo abordado pudessem ser
assimilados de uma forma mais atrativa e estimulante e que poderia
ter ainda maior potencial de aproveitamento caso seja complementada
com vídeos instrutivos específicos dos conteúdos e com programas de
edição gráfica de grande poder apelativo.
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4 Metodologia

Tendo em vista que a LDB (BRASIL, 1996), os PCN (BRASIL,


2000) e os PCN+ (BRASIL, 2002) sugerem que os alunos leiam textos
para a compreensão dos fenômenos científicos e o que os autores
acima afirmaram ao defender a leitura na formação do professor e do
aluno, então nos questionamos sobre como fazer o professor utilizar
textos diversos, se ele durante o seu período na escola e na academia
não foi exposto a esta atividade.
Para modificar isto realizamos três atividades: a primeira, sobre
a qual trataremos especificamente neste artigo, consistiu na leitura e
discussão de quatro textos paradidáticos que tratam de fenômenos da
física abordados em situações do cotidiano; a segunda etapa consistiu
na complementação de um texto já iniciado o qual deveria ser concluído
pelos alunos em trios, explicitando conceitos físicos durante o seu
desenvolvimento; a terceira atividade foi a de elaboração de textos
integralmente escritos pelos próprios alunos, que, da mesma forma que
nas demais etapas, deveriam ter no seu conteúdo conceitos da física.
Os textos utilizados na primeira etapa foram escritos pelo autor
deste artigo, visto que o mesmo não encontrou textos paradidáticos ou
de divulgação mais curtos, apenas livros. Os textos curtos localizados
tratavam apenas da história da física, em especial sobre a vida de
grandes cientistas.
Os textos utilizados em sala de aula tratavam de assuntos de
física exposto em situações do dia-a-dia, expostas em forma literária.
O primeiro foi “A história do calendário”, que trata da construção do
calendário, baseado no movimento dos corpos celestes; o segundo foi
“Boia ou afunda”, que aborda questões sobre a densidade e empuxo;
o terceiro “Ciclo da água”, que explica como ocorre a formação das
nuvens e as mudanças de estados físicos; e o quarto “Desnorteados”,
que fala sobre o magnetismo, em especial abordando o funcionamento
da bússola e os polos magnéticos terrestres.
Com base no exposto acima, propusemos uma atividade de
leitura e discussão de textos paradidáticos em uma turma de Estágio
Supervisionado I em Física4, do curso de licenciatura em Física da
Universidade Federal do Piauí, na qual se encontravam matriculados
4
Esta disciplina, no âmbito da UFPI, ocorre integralmente na universidade e
serve de embasamento teórico (e também prático!) para a futura atuação nas
escolas.
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vinte e três (23) alunos. A atividade ocorreu em duas aulas da referida
disciplina e os alunos foram divididos em quatro grupos e cada um dos
grupos recebeu um dos textos citados no parágrafo anterior, de forma
que os quatro grupos estavam de posse de textos diferentes entre si.
O grupo 1 ficou com o texto 1, “A história do calendário”, o grupo 2 com
o texto 2 “Boia ou afunda”, o grupo 3 com o texto 3 “Ciclo da água”e o
grupo 4 com o texto 4 “Desnorteados”.
Foi solicitado que cada grupo lesse o seu texto e, posteriormente,
discutissem as seguintes questões:
1 – Existe(m) algum (ns) conceito (ou conceitos) de Física neste
texto? Se sim, qual (is)?; 2 – Se a sua resposta foi sim, este(s) conceito(s)
foi (ram) bem trabalhado(s)? Justifique.; 3 – É possível utilizar textos
como este em sala de aula? Em que momento(s) ou situação (ões)?
4 – Poderia ser feito algo para melhorá-lo? Apresente alguma(s)
sugestão (ões).
Após as discussões os alunos deveriam registrar por escrito as
suas respostas.
Em seguida, cada um dos textos foi lido para toda a turma
e os integrantes da equipe que analisou o texto lido relatavam as
suas respostas e era aberta a discussão para os demais grupos, se
concordavam ou não com as colocações feitas. O pesquisador também
registrou em um diário de campo as observações feitas durante a
execução da atividade.

5 A leitura de textos paradidáticos na formação dos futuros


professores de Física, segundo eles próprios

Após a leitura dos textos foi realizada uma discussão em cima


dos mesmos, investigando se os licenciandos encontravam conceitos
de física inseridos nos textos, bem como se foram bem trabalhados e
se era possível de utilizá-los em sala de aula.
Em relação à primeira questão, os licenciandos, unanimemente
concordaram que haviam conceitos de física envolvidos e os resultados
desta questão encontram-se redigidos na Tabela 1, abaixo.

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Como podemos perceber na tabela acima, os quatro grupos
concordaram que nos textos analisados haviam inseridos em seu
conteúdo conceitos de Física. Nos textos “A história do calendário”e
“Ciclo da água”foram listados alguns conceitos pelos alunos e estes
conceitos encontram-se relacionados entre si. Nos textos “Boia ou
afunda”e “Desnorteados”, foi listado apenas um único conceito de
física em cada.
Este fato nos leva a analisar a segunda questão Se a sua resposta
foi sim, este(s) conceito(s) foi (ram) bem trabalhado(s)? Justifique.
Como todos os grupos listaram conteúdos de física presentes nos
textos, eles afirmaram que estes conceitos foram bem trabalhados,
dependendo do nível que o texto fosse utilizado, pois, segundo os
próprios alunos, haviam textos que estavam redigidos de forma mais
básica, introdutória, como “O ciclo da água”e “A história do calendário”,
que seriam voltados para alunos do ensino fundamental e os textos
“Desnorteados”e “Boia ou afunda”, por apresentar maior profundidade
teórica, poderiam ser utilizados no ensino médio. Talvez, por este
mesmo motivo, nos textos voltados para o ensino médio os alunos
detectaram um único conteúdo de física, enquanto nos demais, que
eram “introdutórios”, os alunos listaram mais de um conteúdo da física
abordado.
A resposta a esta questão do grupo 2, sobre o texto “Boia ou
afunda”ilustra bem a visão dos alunos sobre a forma de se trabalhar
os conceitos nos textos: “Sim [o conceito foi bem trabalhado]. Pois foi
bem exemplificado e bem direto quando há a abordagem em relação
da massa de um corpo à massa do mesmo volume de outro corpo”.
O grupo 1, que analisou o texto “A história do calendário”, respondeu
o seguinte: “Os conceitos foram trabalhados de forma superficial. A
forma de como foi passada (sic), tem o objetivo de despertar interesse
do leitor”.
Podemos verificar nos enxertos acima que os alunos acharam
interessante e que mostram que eles têm objetivos distintos das
aulas tradicionais de física, que contam normalmente com fórmulas e
descontextualizadas da realidade do aluno e que “usa a criatividade
para instigar o interesse sobre o magnetismo” (GRUPO 4), ou sobre
qualquer outro conceito que venha a ser trabalhados nos textos.
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Em relação à terceira questão É possível utilizar textos como
este em sala de aula? Em que momento(s) ou situação (ões)?, os
licenciandos em física também concordaram que era possível e seria
interessante que fossem trabalhados em sala de aula, pois instigaria
os alunos a investigar os fenômenos físicos no seu cotidiano e fazê-
los compreender que a Física existe para explicar fenômenos que
ocorrem ao nosso redor, no nosso dia-a-dia. O grupo 3 comentou que
poderiam ser utilizados quando há necessidade de contextualização do
conteúdo abordado em sala e também para reter a atenção do aluno
para o assunto.
O grupo 4 também afirmou que estes textos poderiam ser
utilizados em momentos que a maioria não demonstra interesse pelo
assunto. O grupo 1 respondeu que poderia ser utilizado antes do
conteúdo específico, como um motivador ou elemento introdutor do
assunto a ser abordado e, por fim, o grupo 3 comentou que os textos
poderiam ser utilizados “no início como motivação e no final como
exemplo da utilidade prática dos conceitos”.
Com base nas respostas fica evidente que os textos poderiam
ser utilizados me sala de aula em conjunto com a aula tradicional e
que, com isto, agregaríamos um maior interesse pela física por parte
dos alunos, pois os mesmos passariam a vê-la mais facilmente como
presente no nosso cotidiano.
E, em relação à última questão Poderia ser feito algo para
melhorá-lo? Apresente alguma(s) sugestão (ões), o grupo 1 respondeu
que alguns conceitos presentes no texto não foram aceitos tão
rapidamente e enfatizaram a importância de desenvolver melhor a
contextualização histórica presente no mesmo. Isto também se deve
ao fato de que os textos foram curtos, com apenas duas laudas cada
um, não sendo, portanto, possível um grande aprofundamento tanto
em termos teóricos e conceituais quanto em termos históricos.
Já os alunos do grupo 4 responderam que nada poderia ser feito
para melhorá-lo e nada sugeriram e os dos grupos 2 e 3 destacaram
que, como tratavam-se de textos sem ilustrações, caso fossem
ilustrados a sua compreensão se daria de forma mais completa seriam
mais bem compreendidos, tal como também fora percebido por Maia
(2011) em seu trabalho.
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6 Conclusões

Com base nas observações realizadas e nas respostas e


colocações dos alunos investigados, verificamos que a utilização de
textos paradidáticos, em especial de textos literários sobre física, é algo
interessante de ser realizado em sala de aula e pode proporcionar o
interesse dos alunos pela temática abordada, bem como pode aproximar
mais a física do seu cotidiano. Os momentos de leitura e discussão
sobre os textos paradidáticos ocorrido nas aulas serviram para mostrar
para os alunos que se poderia falar de física sem utilizarmos fórmulas e
outras estratégias que se encontram distantes de sua própria realidade.
Segundo Lima (2006), o mundo atual requer um novo tipo de
profissional, cujos saberes sejam polivalentes e, sobretudo, amplos e
sólidos, para corresponder às peculiaridades e ao caráter multifacetado
da prática pedagógica. Para que isto, de fato ocorra, é necessário
considerarmos o ensino como um processo que facilita a transformação
permanente do pensamento, das atitudes e dos comportamentos dos
alunos (as), provocando a comparação de suas aquisições mais ou
menos espontâneas em sua vida cotidiana com as proposições das
disciplinas científicas, artísticas e especulativas,e também estimulando a
sua experimentação na realidade (PÉREZ GÓMEZ, 1998). Isto ocorrerá
quando deixarmos de observar a sala de aula como um modelo de
processo-produto ou como um modelo mediacional centrado no aluno ou
no professor e sim, quando observamos a sala de aula através de uma
perspectiva ecológica, assumindo a recíproca influência nas relações
de classe entre professores (as) e alunos (as), enfatizando o indivíduo
como processador ativo de informação e dando a devida importância
à criação e troca de significados subjacentes aos comportamentos.
A formação pela experiência defendida por Houssaye (2004)
proporciona que o futuro professor repense na sua forma de lecionar.
Por isto, esta proposta de utilizar textos paradidáticos em momentos
de formação de futuros licenciandos em Física pode ser um dos
mecanismos para melhorarmos o ensino desta disciplina, bem como
diminua também o alto índice de rejeição dos alunos por esta disciplina.
Sabemos também que dificilmente os professores atuam de
forma diferente da qual foram formados, pois os saberes oriundos
da formação anterior (escola) influencia muito na forma de atuação
do professor (TARDIF, 2000; TARDIF, 2004). Então, ao expormos os
licenciandos a atividades diferenciadas, os mesmos terão ampliadas
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as suas possibilidades futuras de atuação docente, bem como também
favorece o aprendizado dos seus futuros alunos, os quais não pensam
de maneira uniforme, além do que os PCN (BRASIL, 2000, 2002)
sugerem o uso de diferentes metodologias no ensino de Física e das
demais disciplinas também.
Enfatizamos que a utilização de textos paradidáticos na formação
dos futuros professores de física não irá suprir todas as dificuldades dos
seus futuros alunos para a compreensão e o interesse pela física, mas
mostra-se como um elemento motivador e que, certamente, ampliará
as metodologias possíveis de serem aplicadas na escola básica. Não
existe uma metodologia única que resolva o problema da dificuldade de
compreensão dos conceitos de física pelos alunos e se mostre eficaz
para que seja utilizada isoladamente das demais metodologias e sim, a
utilização de várias metodologias articuladas entre si, tais como aulas
expositivas, debates, simulações computacionais, experimentos entre
outras, as quais a utilização de textos paradidáticos vem a ser acrescida
e mostra-se uma ferramenta importante, devido ao seu baixo custo,
fácil aplicação e a possibilidade de adequação textual à realidade dos
alunos que a utilizarão.

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AS PERCEPÇÕES DOS PROFESSORES DO
ENSINO SUPERIOR SOBRE SUAS ATIVIDADES
DOCENTES NA MODALIDADE A DISTÂNCIA

Rejane Esther Vieira Mattei*

RESUMO

O presente artigo tem como temática investigativa as percepções


dos professores sobre suas atividades docentes, na modalidade a
distância. Nessa perspectiva, vale destacar a ergonomia cognitiva,
que conforme Borges (2010) e Falzon (2004), trata-se do estudo dos
processos mentais, tais como a percepção, a memória, o raciocínio e
as respostas motoras com relação às interações entre as pessoas e
outros componentes de um sistema. Na ergonomia, a atividade é o que
é feito, o que o sujeito mobiliza para efetuar a tarefa. A tarefa prescrita
se define por um objetivo e pelas condições de sua realização. Dessa
forma, entende-se que atividade é o conjunto dos processos que o
sujeito aciona para realizar a Tarefa. Compreende-se que tais processos
correspondem tanto as condições físicas, comportamentais, como os
processos intelectuais e cognitivos. Os professores acabam realizando
um processo de redefinição, de interpretação dessas tarefas (Tarefa
Redefinida) de acordo com sua experiência pessoal e profissional, com
sua competência, com seus objetivos pessoais e coletivos, elaborando,
assim, uma ressignificação particular à Tarefa Prescrita. Posteriormente,
temos a tarefa efetivamente realizada pelos professores, em termos
de ações concretas realizadas dentro de um dispositivo fortemente
instrumentado (Tarefa Realizada), que se constitui em síntese de todo
o processo, isto é, a atividade. A metodologia utilizada é de cunho
qualitativo, análise documental e de conteúdo.

Palavras-Chaves: Professores. Atividades Docentes. Modalidade a


distância.

ABSTRACT

This article is themed investigative perceptions of teachers about


their teaching activities in distance mode. Perspectia this, it is worth
Recebido em: 10/09/2012 – Aceito em: 26/11/2012

* Mestre em Educação pela Universidade do Estado de Santa Catarina


(UDESC-2012). Possui Bacharelado e Licenciatura Plena em História
pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC-2003). Bacharel em
Administração Pública pela Universidade do Estado de Santa Catarina
(UDESC/ESAG-2010). Especialista em Controle da Gestão Pública pela
Universidade Federal de Santa Catarina (2011). Pesquisadora CAPES-DS.
E-mail: [email protected]
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highlighting the cognitive ergonomics, which as Borges (2010) and
Falzon (2004), it is the study of mental processes such as perception,
memory, reasoning and motor responses with respect to interactions
between people and other system components. In ergonomics, the
activity is what is done, what mobilizes the subject to perform the task.
The task is defined by a prescribed purpose and the conditions of its
realization. Thus, it is understood that activity is the set of processes that
triggers the subject to perform the task. It is understood that these cases
represent both the physical, behavioral, and cognitive and intellectual
processes. Teachers end up doing a reset process, interpretation of these
tasks (Task Redefined) according to their personal and professional
experience, his expertise with your personal goals and collective,
producing thus a new meaning to the particular task Prescribed.
Subsequently, we have performed the task effectively by teachers in
terms of concrete actions performed within a heavily instrumented device
(Task Held), which constitutes the entire synthesis process, activity. A
methodology is qualitative, document analysis and content.

Keywords: Faculty. Faculty Activities. Distance Mode.

1 Introdução

A atualidade tem recebido várias denominações tais como:


sociedade da informação, (COLL; MONEREO, 2010), Stewart (1998),
Drucker (2002); do Conhecimento Sveiby (1998); Sociedade em
Rede, Castells (2002); A terceira onda (TOFFLER, 2003) dentre
outras. Destaca-se que a principal característica desse novo tempo é
a valorização do conhecimento (ou capital intelectual), Sveiby (1998),
que passa a ocupar lugar de destaque como principal recurso para a
produção e criação de riquezas.
Para Castells (2003) são profundas modificações que
estão ocorrendo em praticamente todos os setores da sociedade
contemporânea. Neste sentido, estamos diante de um novo paradigma
tecnológico, organizado em torno de tecnologias da informação e
associado a profundas transformações sociais, econômicas e culturais.
(CASTELLS, 2000). Uma destas modificações está relacionada à intensa
expansão das tecnologias digitais. Segundo autores como Millerand
(1999) e De Certeau (1990), existem diferentes fases de expansão
dos instrumentos de comunicação em rede, denominadas de inovação,
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difusão e apropriação dos instrumentos tecnológicos. Percebe-se que
estas fases também podem ser verificadas no acelerado processo de
expansão dos instrumentos digitais. Na atualidade, observa-se uma
fase de apropriação destes instrumentos, uma vez que eles estão
modificando as diferentes práticas sociais, em praticamente todos os
setores da sociedade contemporânea (CASTELLS, 2003).
Para Negroponte (2006) o século XX foi marcado por intensas
transformações nas relações sociais, políticas e econômicas, pelo
acelerado desenvolvimento tecnológico e eletrônico. Acredita-se que
hoje estamos nos primórdios da era digital, como evolução da era
industrial marcada pelas tecnologias digitais, que revolucionam a
percepção e a atuação humana sobre o mundo. É a mudança da era
industrial para a digital e o predomínio da cultura dos espaços plurais
e virtuais. Para Coll e Monereo (2010) as tecnologias da informação
e da comunicação revestem-se de uma especial importância, porque
afetam vários âmbitos de atividade das pessoas.
Conforme explanam Coll e Monereo (2010, p. 15):

As TIC têm sido sempre, em suas diferentes fases de


desenvolvimento, instrumentos para pensar, aprender,
representar e transmitir para outras pessoas e para
gerações os conhecimentos adquiridos. Todas as TIC
repousam sobre o mesmo princípio: a possibilidade de
utilizar sistemas de signos – linguagem oral, linguagem
escrita, imagens estáticas, imagens em movimento,
símbolos matemáticos, notações musicais etc. – para
representar uma determinada informação transmiti-la. [...]
As TIC diferem profundamente entre si quanto às suas
possibilidades e limitações para representar a informação,
assim como no que se refere a outras características
relacionadas à transmissão dessa informação (quantidade,
velocidade, acessibilidade, distância, coordenadas
espaciais e temporais etc).

Para Coll e Monereo (2010) uma das perspectivas de futuro mais


prováveis é a possibilidade de expandir as opções de aprendizado
para outros cenários que não sejam os tipicamente escolares. A
progressiva miniaturização e integração das tecnologias, junto com
o desenvolvimento de plataformas móveis e da conexão sem fio,
permitirão que os alunos possam continuar avançando em sua formação
tendo acesso, a qualquer momento, por meio de seu celular, de agendas
eletrônicas, computadores de bolso ou de outros dispositivos, a
documentos, portfólios, fóruns, chats, questionários, listas de discussão
etc.
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Dentro desse contexto, assistimos, no Brasil e em outros países,
a expansão significativa da modalidade de formação a distância, sob
novas configurações. A partir de um processo de apropriação dos
instrumentos digitais pela sociedade em geral propiciada pela rede
mundial, a Internet, com computadores conectam sujeitos em diferentes
localidades, em diferentes temporalidades. Assim, a educação a
distância ganha novos horizontes, possibilidades e desafios.
Estamos vivendo na atualidade a abertura de um novo espaço
de comunicação e o chamado ciberespaço (LÉVY, 2000). Conforme
Borges (2007), o ciberespaço se apresenta como um terreno onde
a humanidade está se desenvolvendo hoje. É, portanto, um espaço
de interação humana, no campo econômico, científico, educacional,
político, comercial etc, onde ocorre a instauração de uma rede de
todas as memórias informatizadas e de todos os computadores. Sendo
assim, uma poderosa ferramenta de comunicação, a Internet, onde
as mensagens se tornam interativas, ganham plasticidade e têm a
possibilidade de uma metamorfose imediata.
Destacamos o ciberespaço como sendo toda a estrutura virtual
transacional de comunicação interativa. Para Lévy (2000, p. 25):

O ciberespaço é um dispositivo interativo e comunicatório,


apresenta-se justamente como um dos instrumentos
privilegiados da inteligência coletiva, trata-se de um novo
espaço de “socialização, organização e transação e um
novo mercado da informação e do conhecimento.

Assim, o crescimento do ciberespaço resulta de um movimento


internacional de sujeitos para experimentar, coletivamente, formas de
comunicação diferentes daquelas que as mídias clássicas nos propõem.
Nesse contexto, as condições para o ensino e a aprendizagem
serão cada vez mais influenciadas pelas oportunidades para a
aprendizagem on-line. Conforme expõe Peters (2003, p. 85):

Isso irá significar que os professores e os alunos irão se


confrontar com novos critérios e estratégias pedagógicas.
Aqueles que desejam ser apresentados ao novo campo de
aprendizagem e que pensam em sua crescente importância
podem se sentir estimulados.

A emergência de uma sociedade globalizada onde é necessário


aprender a aprender continuamente, caracterizada pela velocidade na
geração e na distribuição de informações, marca as últimas décadas
do século XX. Para Moraes (2004), questões fundamentais como o
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acesso à informação e ao conhecimento, o respeito às diferenças
étnicas e culturais e a preservação de uma postura ética colocam-se
como desafios para a educação.
Esse cenário estabelece novas formas de pensar as organizações,
inclusive a Universidade, que deve preparar-se para os novos desafios,
para um mercado de educação superior competitivo, cuja população
de estudantes já não tem as características homogêneas do passado
para as demandas pela educação continuada e para a formação de um
profissional preparado para um novo contexto de trabalho.
Conforme Ritto et al. (1995, p. 31), a função da educação na
atualidade é “promover o desenvolvimento das pessoas e estar
comprometida com o aumento de seus conhecimentos e da sua
percepção de mundo visando a sua formação para a atuação no
mercado de trabalho”.
Para Delors (2003), o desafio colocado para a educação é
preparar os educandos para aprender a aprender, a ser, a fazer e a viver
com os outros. Essas dimensões do educar apontam para o convívio
com o diferente, com a constante preocupação com a formação, para
o desenvolvimento das diversas potencialidades e a necessidade de
formação profissional para enfrentar situações diversificadas no trabalho
e na sociedade.
Dentro desse mercado, observa-se a educação a distância e os
profissionais que atuam nesta área. Conforme Litto (2009), no Brasil a
educação a distância é marcada por uma trajetória de sucessos, não
obstante a existência de alguns momentos de estagnação provocados
por ausência de políticas públicas para o setor.
Segundo Litto (2009, p. 09):

Há registros históricos que colocam o Brasil entre os


principais no mundo no desenvolvimento da EAD,
especialmente até os anos 70. A partir dessa época, outras
nações avançaram e o Brasil estagnou, apresentando
uma queda no ranking internacional. Somente no final do
milênio é que as ações positivas voltaram a acontecer e
pudemos observar novo crescimento, gerando nova fase
de prosperidade e desenvolvimento.

Nesse sentido, caracteriza-se a educação a distância como


modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica
nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de
meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e
professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos
diversos (BRASIL, 2006).
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Para Pretti (1996, p. 4) a educação a distância é uma modalidade
não tradicional, típica da era industrial e tecnológica, que realiza distintas
formas de ensino-aprendizagem.
Conforme Peters (2001), os tópicos básicos que caracterizam
a educação a distância, onde também é possível perceber a
modalidade como um fenômeno da era moderna, são educação por
autoaprendizagem e meios de comunicação de massa. Entende-se que
a aprendizagem na educação a distância pode ocorrer não só mediante
a proposição de atividades pelo professor e o esforço dos alunos para
atingir os objetivos educacionais, mas também pela interação (entre
professor/tutor e alunos e entre alunos), pela reflexão discente/docente
(sobre o material proposto e as interações subseqüentes).
Sabe-se que as práticas docentes na educação a distância
foram afetadas pelo desenvolvimento tecnológico. Na era digital
ou cibercultura, conforme Levy (2000) a prática docente permitia
se assentar na construção individual e coletiva de conhecimentos.
Atualmente, é possível imaginar a docência a distância como capaz de
promover mudanças, comprometidas com a aprendizagem significativa,
problematizadora e reflexiva na formação profissional.
Borges (2007) afirma que atualmente vivemos em um mundo
repleto de tecnologia, as chamadas tecnologias de informação e
comunicação (TIC), especialmente as tecnologias digitais, onde
sujeitos têm acesso e usam os instrumentos tecnológicos em suas
práticas cotidianas. A tecnologia faz parte do cotidiano e das práticas
sociais da maioria da população de muitos países, não somente países
desenvolvidos, mas também dos chamados países emergentes.
Nesse espaço, os professores em educação a distância, diante
das tecnologias de informação e comunicação como parte do cotidiano
e das práticas sociais, apresentam novas atividades no seu exercício
docente. Questionamos: que novas práticas são essas? Quais são
essas novas atividades?

2 Atividade docente na educação a distância

A atividade docente e o papel do professor vêm passando por


uma fase expressiva de mudanças. As atividades dos professores,
a metodologia de ensino e até mesmo a função das instituições de
ensino tem sido objeto de discussão no mundo inteiro (COLL, 2010;
PERRENOUD, 2000; PRETTO, 2001; RAMAL, 2002; MARINHO,
2002; MORIN, 2001). Nesse sentido, as inovações tecnológicas como
a Internet e a sua inserção no cotidiano da sociedade assumem um
papel cada vez mais importante.
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Para Coll e Monereo (2010), o impacto das TIC sobre o
aparecimento das novas necessidades educacionais e a importância
das novas competências que precisamos adquirir e desenvolver no
marco da Sociedade da Informação é um tema complexo, sendo que
por um lado, ambos os fatores estão na origem das novas necessidades
educacionais e de formação, mas, por outro lado parecem destinados
a desempenhar um papel decisivo na satisfação dessas mesmas
necessidades.
Belloni (1999) afirma que o processo de desenvolvimento
tecnológico e social passa a nortear a visão, as formas e as estratégias
de transmissão de informações e conhecimentos. As mudanças na
sociedade e na forma como ela se relaciona com seus integrantes e
com o sistema produtivo solicitam reflexões sobre como o ensino deve
ser estruturado.
Conforme expõe Behrens (2000, p. 78):

Num mundo globalizado, que derruba barreira de tempo


e espaço, o acesso à tecnologia exige atitude crítica e
inovadora, possibilitando o relacionamento com a sociedade
como um todo. O desafio passa por criar e permitir uma
nova ação docente na qual professor e alunos participam
de um processo conjunto para aprender, de forma criativa,
dinâmica e encorajadora, e que tenha como essência o
diálogo e a descoberta.

Dessa forma, as inovações tecnológicas (principalmente os


sistemas informatizados e a Internet) e a sua inserção no cotidiano da
sociedade assumem um papel cada vez mais importante. Rasmussem
(2000) afirma que a sociedade torna-se mais dinâmica e integrada em
função do uso intensivo dessas tecnologias, acarretando mudanças
expressivas nas diversas formas de produção humana.
Kenski (2001) explica que o uso das TIC na educação têm como
conseqüência uma mudança estrutural no trabalho do professor. Isso
exige dele uma visão crítica do uso dessas tecnologias: qual estratégia
utilizar, em qual momento do ensino e com quais finalidades. No entanto,
as profundas mudanças tecnológicas e a velocidade de informação no
mundo globalizado vêm provocando alterações no relacionamento entre
as pessoas e conseqüentemente na prática educativa, principalmente
na modalidade EAD no país e no mundo (KENZI, 2001).
Belloni (1999, p. 84) agrupa as funções docentes em três grandes
grupos:
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O primeiro é responsável pela concepção e realização do
curso e materiais; o segundo assegura o planejamento
e organização da distribuição de materiais e da
administração acadêmica (matrícula e avaliação); e o
terceiro responsabiliza-se pelo acompanhamento do
estudante durante o processo de aprendizagem (tutoria,
aconselhamento e avaliação).

Um dos primeiros passos da formação do professor consiste


em tomar consciência destes três grupos e em se preparar para
exercer essas funções de maneira colaborativa. Esta visão de Belloni
(1999) complementa a definição de educação: “Um projeto contínuo
e inclusivo de desenvolvimento das capacidades físicas, emocionais
e intelectuais, baseado em valores culturais e morais, permitindo que
o indivíduo se relacione com o universo, se torne uma pessoa e um
construtor do saber”. A formação busca preparar os professores para a
inovação tecnológica e suas conseqüências pedagógicas. Sabe-se que
muitos professores não receberam nenhuma formação para integrar
as novas tecnologias da informação e da comunicação no seu trabalho
pedagógico e que, em muitos casos, o medo do desconhecido faz
rejeitar essas novas possibilidades.
Para Belloni (1999, p. 102-103), a EAD é um processo educativo
essencialmente centrado no aluno:

Um primeiro caminho extremamente importante a


operacionalizar em qualquer experiência de EAD é a
ênfase na interação entre os estudantes e professores
e dos estudantes entre eles; e criação de estruturas
de apoio pedagógico e didático ao estudante (tutoria,
aconselhamento, plantão de respostas a dúvidas, monitoria
para o uso de tecnologias etc...). Estas estruturas são
especialmente importantes em um país como o Brasil, onde
os níveis de cultura geral e de escolaridade são, de modo
geral, pouco elevados, e onde a escola não instrumentaliza
os jovens para o exercício da auto-aprendizagem.

Dessa forma, questionamos até que ponto será que isso se efetiva
na prática? Será que os professores do IF-SC do Curso estudado
(CSTGP) estão preparados para trabalhar com EAD?
Na EaD, Belloni (1999) aponta que o uso da tecnologia
amplia a possibilidade de interação e quando utilizada de forma
contextualizada dentro de um ambiente de aprendizagem que privilegie
fundamentos pedagógicos e as formas de aprender, pode se tornar
uma das ferramentas para que o aluno desenvolva uma aprendizagem
significativa. Mas para isso, não basta somente a postagem de textos
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e a criação de fóruns nos ambientes virtuais de aprendizagem, é
necessário a presença de um educador, de um mediador, alguém que
levante questionamentos, provocando discussões, criando situações
problematizadoras para que o aprendiz desperte o pensamento crítico
e construa seu próprio conhecimento.
Na maioria dos programas de Educação a Distância o professor
é oriundo do ensino presencial da universidade e apresenta pouca ou
nenhuma experiência na modalidade a distância. Ao participar de um
curso na modalidade da EAD, ele terá que desenvolver habilidades não
apenas com as ferramentas tecnológicas, mas compreender quem é o
aluno de um curso a distância e qual a melhor forma de contribuir para
promover a aprendizagem.

3 Contextualização: campo da pesquisa

A pesquisa é classificada como qualitativa e foram realizadas


entrevistas com os professores do Curso Superior em Tecnologia da
Gestão Pública (CSTGP) do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC)
e foi aplicado um questionário com o objetivo de identificar o perfil dos
professores Neste artigo, foca-se na análise das entrevistas realizadas
com os professores de uma instituição de ensino superior na modalidade
a distância. Foram realizadas entrevistas classificadas como qualitativas
semiestruturadas com seis professores. As entrevistas foram gravadas,
transcritas e analisadas posteriormente. Sabe-se que os principais tipos
de entrevistas qualitativas na educação são classificados conforme
o nível de estruturação e roteiro de questões utilizadas. Podem ser:
estruturada, semiestruturada e livre (ROSA, 2008).
Identificaram-se três grupos de professores no CSTGP. Estes
grupos indicam o tempo de atuação no IFSC: Grupo I- Atua no IFSC a
menos de um ano, sendo escolhidos aleatoriamente dois professores
de três professores pertencentes a esse grupo; São identificados pelos
entrevistados P4 e P5, Grupo II- Atua no IFSC de um a cinco anos,
sendo escolhidos aleatoriamente dois professores de oito professores
pertencentes a esse grupo; São os entrevistados P1 e P3, Grupo III-
Atua no IFSC de 21 a 30 anos, sendo escolhidos os dois professores
os únicos pertencentes a esse grupo; São os entrevistados P2 e P6.
Identificados os grupos, buscou-se por meio de e-mail e mediante
autorização da coordenação do curso, realizar o agendamento das
entrevistas. Foram seis professores convidados realizar as entrevistas,
e todos aceitaram participar das entrevistas. O local escolhido foi o
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próprio IF-SC, sala dos professores, onde foram gravadas por meio de
máquina digital. Posteriormente, foram transcritas de forma literal. Foi
realizada uma primeira leitura para confirmar a escrita das transcrições
e uma segunda leitura com a finalidade de categorizar as falas dos
professores, levantando os principais aspectos para iniciar a análise.

4 Percepções dos professores sobre suas atividades docentes

Com as entrevistas realizadas com seis professores do curso


pesquisado, identificaram-se quatro categorias que são fundamentais
para a compreensão das atividades efetivadas pelos professores. A
primeira categoria intitulada a “precarização do trabalho docente”; a
segunda categoria, a “interação do professor e o aluno”; a terceira
categoria, a “formação docente para EAD”; a quarta categoria,
“atividades docentes”destacando o enfoque no “planejamento”.
Na primeira categoria intitulada a “precarização do trabalho
docente”buscou-se apresentar as concepções dos professores sobre
a questão do regime de contrato atribuído aos professores do CSTGP
do IFSC, na modalidade a distância. Este aspecto prepondera na
percepção dos fatos que formalizam o enfoque desta pesquisa, já que
esta situação tem reverberação em todas as atividades desenvolvidas
no curso. Outra questão importante é o fator da “rotatividade”de
professores na composição da equipe profissional.
Conforme professor (a) P5, trabalhar na modalidade EAD é
porque o profissional gosta e se identifica com a modalidade e não pelas
garantias trabalhistas, pois não possuem. Porém, por mais idealista
e apaixonado que seja um profissional, a falta de reconhecimento e
condições de trabalho vai desmotivando os professores com o passar
do tempo.
Conforme expõe professor (a) P5:

Eu sou apaixonada pelo que faço, mas eu me vejo como a maioria


das pessoas que estão envolvidas, eu me vejo como uma pessoa não
valorizada, por quê? Porque não temos professores na modalidade EAD
da Universidade Aberta do Brasil com registro,... não temos garantias
trabalhistas, nós temos apenas bolsas de professor pesquisador,...não
sou enquadrada como docente, estou trabalhando com pessoas, estou
formando pessoas e não tenho esse reconhecimento profissional. (P5).

Corroborando, professor (a) P1 salienta que “há uma rotatividade


profissional muito grande nas várias áreas de atividade que tem
na EAD, materiais, tutorias, coordenação”. (P1). Entende-se que a
rotatividade dos profissionais em uma organização têm duas vertentes
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a serem apontadas como hipóteses possíveis. Os dados recolhidos nas
entrevistas com os professores evidenciam as condições de estrutura no
Curso Superior em Tecnologia da Gestão Pública a Distância, portanto
a primeira hipótese supracitada parece ser iminente no IFSC.
Professor (a) P1:

Outro problema que vejo é o fato de que a própria instituição não abraçou
100% ainda o ensino a distância. Agora é que está começando, mas
esse processo já existe há quatro anos, então a própria instituição, os
dirigentes, não viabilizam condições, estrutura. (P1).

Outro fator que sofre influência dessa situação reside na falta de


continuidade dos investimentos públicos já realizados no curso.

A precarização do trabalho é um problema gravíssimo e o que acontece


é uma espécie de economia dos recursos públicos que o governo
faz não sei pra que, pois não justifica. Porque se o professor bolsista
com uma bolsa de R$ 1.200,00 reais que não repercute em nada em
termos de aposentadoria, décimo terceiro e tudo mais, atende um X de
alunos, então o governo pode estar usando isso para aumentar índice
de números. (P1).

Dados como regime de trabalho (para preparação, para interação,


para avaliação) das atividades desenvolvidas pelos professores do
CSTGP do IFSC para a manutenção do curso, também foi bastante
citado pelos entrevistados. Entende-se que o professor, ao aceitar
trabalhar na modalidade a distância, enfrenta uma série de desafios
acrescidos dos que já enfrenta no ensino tradicional. Ele arrisca olhar o
novo, em uma educação mediada e dependente do uso de Tecnologias
da Informação Comunicação (TIC), mas tem como referência e prática
a realidade do ensino presencial, em que ele está relativamente à
vontade, pois ali tem parâmetros e história. Suas referências foram
construídas desde a sua experiência como aluno, depois, nos cursos
de formação de professores e, principalmente, na sua prática docente
no contexto escolar. É com essa bagagem que ele é desafiado a olhar
o novo (LAPA; PRETO, 2010).
Conforme Preto (2008), mesmo com os avanços nos debates
do campo educacional, que defendem e propõe uma educação
transformadora, libertária e autônoma, o lugar comum em que o
professor se encontra hoje ainda é o de único detentor do conhecimento
que precisa ser transmitido ao aluno, aquele que vai mediar o acesso
ao saber. De modo geral, o professor organiza sua prática por meio de
um planejamento individual, que contempla todos os fragmentos de
conteúdos exigidos na ainda denominada “grade”curricular posta, e
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centraliza os processos de aprendizagem quase que exclusivamente
no seu ensino: controlando desde as aulas preparadas e conduzidas
em continuidade a esse papel onipresente, até o exercício do poder de
avaliar o aluno quanto à sua capacidade de reproduzir o conhecimento
transmitido (PRETO, 2008).
O professor na EAD terá que se confrontar com situações
inusitadas que provocarão, no mínimo, grande instabilidade. Essa
instabilidade torna-se um momento potencial para a reflexão sobre
a educação, com a possibilidade de uma ressignificação do papel de
docente, propiciando a transformação. Estes também são os desafios
enfrentados pelos professores do CSTGP ao trabalharem na EaD,
refletindo sobre os seus limites e potencialidades.
A segunda categoria aborda a “interação”do professor e o
aluno. Considera-se uma categoria porque foi discutida pela maioria
os professores entrevistados. Esta categoria é importante porque
apresenta a concepção dos professores sobre as interações que
ocorrem durante o curso. Mas, o que significa interação? Para Belloni
(2006) a interação é uma ação recíproca entre dois ou mais atores no
qual ocorre a intersubjetividade, isto é o encontro entre duas ou mais
pessoas que adaptam seus comportamentos e ações um ao outro,
ação esta que pode direta ou indireta (mediatizada por algum veículo
técnico de comunicação).
Conforme Castro (2009), a interação entre os participantes de
um curso a distância como um dos elementos mais importantes para
o sucesso da educação on-line. Neste sentido, o papel do professor é
fundamental motivando o compartilhamento de ideias, um dos aspectos
mais poderosos na educação a distância.
Nesse contexto, observou-se que a questão “interação”é realmente
importante para trabalho do professor, que se sente valorizado e percebe
a expectativa dos alunos quando acontece o encontro presencial.
Professor (a) P2:

Você se sente mais valorizado como profissional, o aluno repassa isso,


a outra é que ele percebe que é uma modalidade nova, desafiadora
para ele, mas que lê precisa de qualquer forma se aproximar mais do
professor, porque o professor não é tanto um ensinador de conteúdos,
e sim um indivíduo motivador do momento de aprendizagem de um
individuo que tenha um conteúdo enorme. [...] E tem muito a ver com
o ensino a distancia, a pessoa vai lá descobre, estabelece seu tempo
de estudo, e acaba desenvolvendo seu próprio conhecimento, claro
que o ensino a distância se torna-se um pouco mais presencial e o
ensino presencial se torna-se um pouco mais a distancia para usar as
tecnologias. (P2)
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As interações acontecem em diversos momentos, principalmente
nos fóruns, nas videoconferências e nos poucos encontros presenciais
com os alunos. Para o professor (a) P2, os fóruns permitem que aconteça
a “democratização do saber”, funcionando como um instrumento de
discussão de ideias diferentes:

A interação acontece em diversos momentos, por exemplo, num


domingo eu entro no fórum tenho algumas coisas respondidas e você
acaba respondendo, “ah estou lá no ensino presencial, entro no fórum,
respondo, se tem alguma dúvida e ai a gente começa interagir”.Os
alunos apresentam questionamentos ou apresentam sugestões, o fórum
é bastante um instrumento interessante de discussão porque ele permite
que tanto o professor quanto o aluno fique movimentando ideia, e os
outros alunos acabam tento acesso aquelas informação. (P2)

Já Silva (2005) afirma que a “interatividade”emerge com a


cibercultura, não se tratando de um novo modismo, mas de uma
modalidade de comunicação que traz a revolução da cocriação da
mensagem. Para Borges (2003), a dimensão da interatividade apresenta
alguns avanços com relação à abordagem tradicional de ensino, e
atividades colaborativas representam o principal diferencial de cursos
online, possibilitando efetivamente uma ruptura com a abordagem
tradicional em direção a uma abordagem de caráter inovador (BORGES,
2003, p. 16).
No entanto, observa-se que nas verbalizações dos professores do
CSTGP, encontram-se diferenças na prática do ensino presencial e do
ensino a distância e assim apontam dificuldades em atingir a interação.
Conforme expõe professor (a) P4:

É muito diferente do que um trabalho, porque o trabalho presencial,


eu trabalho desde 91,... eu tenho muito daquela coisa de rever o
planejamento que não está funcionando, no presencial se dá um jeito,
puxa outro conteúdo, antecipa alguma coisa ali, recupera outra, ou seja,
...o flexível...isso não existe no ensino a distância. (P4).

No entanto, os entrevistados relatam a necessidade de


aproximação do professor e aluno. Tal fato sugere compromisso humano
no processo de ensino e aprendizagem, como pano de fundo no cenário
da EAD- CSTGP- IFSC.
Professor (a) P3:

As respostas geralmente os professores já dão na interação, mas os


alunos perdem as interações ou faltam, se faltar um ou dois dias, já
perdem bastante conteúdo, então em alguns momentos, parece que
acontece assim essa mensagem truncada entre o aluno e o professor,
que se fosse no presencial, o aluno conversaria e o professor diria: _
Olha você não prestou atenção, foi explicado assim...(P3)
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Professor (a) P4:

Então eu senti muita falta de olho no olho, de conseguir ter o felling


do momento, até quando o professor tá dando aula para o pessoal de
Cachoeira do Sul e outro em Jales. Porque em Cachoeira do Sul pode
estar um dia muito quente e as pessoas estão sofrendo por causa do
calor e isso mexe no ânimo delas. Já lá em Jales pode estar frio e
chovendo. (P4).

Corroborando com essa afirmação, Lapa e Preto (2010)


afirmam ser um desafio o afastamento espacial entre professores e
alunos. A princípio, os recursos tecnológicos aproximariam aqueles
afastados geograficamente, contudo, vale refletir sobre a capacidade
de professores e alunos construírem esses vínculos e manterem a
presença por meio das TIC, pelo menos nos atuais tempos e com as
condições de infraestrutura existentes. Essa não é uma tarefa simples,
longe disso. Professores e alunos estão acostumados à comunicação
síncrona, oral e ainda contando com outros recursos, com o improviso,
com a linguagem corporal, como o sorriso ou o “olho no olho”.
Entende-se que dar uma aula em um estúdio vazio, elaborar e
apresentar uma dúvida em texto escrito, esperar o tempo do outro para
a resposta e compreender as entrelinhas dos discursos são situações
inéditas, que deslocam professores e alunos e os afastam. Ressalta-se
que o que faz a comunicação não é o recurso tecnológico disponível,
mas as pessoas que o utilizam como meio para a interação (LAPA;
PRETO, 2010).
A terceira categoria, a “formação docente para EAD”. Nesta
categoria, apresentam-se as discussões dos professores sobre a sua
formação docente para a EAD. Discutem-se os cursos de capacitação
oferecidos pelo IFSC em parceira com outras universidades aos
professores e a visão dos professores sobre a necessidade da formação
direcionada para a EAD. Esta categoria é entendida pelos professores
como algo primordial para lecionar no ensino a distância. Conforme,
professor (a) P2:

Antes de nos entrarmos na atuação propriamente dita, fizemos trezentas


e poucas horas de capacitação para essa atividade. Então a gente
não entrou simplesmente sem saber, não sabíamos como fazer, mas
sabíamos que tinha um norte, e ai houve todo uma preparação de
capacitação para o ensino a distância, o professor foi realmente treinado,
foi capacitado para desenvolver. (P2).
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Conforme Litwin (2001), o traço distintivo da EAD, consiste
justamente na mediatização das relações entre docentes e alunos.
No entanto, para que isto ocorra é necessário o trabalho constante de
um coordenador pedagógico que norteará as ações, desde a matriz
curricular até a etapa de validação do material produzido, além de
envolver a presença da equipe de especialistas responsáveis pela
elaboração das unidades temáticas, pela definição do projeto gráfico
do material e pela organização do fluxo de aprendizagem a ser adotado
na utilização dos diferentes suportes.
Porém, considera-se o planejamento das aulas junto aos
professores e à equipe de materiais, antecipando à coordenação de
tutoria e aos tutores através de uma reunião denominada de “aula
magna”todo o plano de aula de cada docente são pontos positivos
da chamada “rotina”de procedimentos utilizados no curso, idealizada
através de um trabalho de equipe, onde as coordenações buscam
balizados na própria experiência dos colaboradores, as soluções para
os problemas existentes.
A quarta categoria, “atividades docentes”destacando a dimensão
do “planejamento”. Esta categoria pode ser considerada a mais
importante para esta pesquisa porque apresenta as atividades dos
professores no curso e discute a questão do tempo dedicado ao
planejamento destas atividades. Esta categoria é importante porque
o planejamento, em todas as áreas da atividade humana, é uma
necessidade constante. Entende-se que o planejamento é a previsão
das ações e procedimentos que o professor vai realizar junto a seus
alunos, e a organização das atividades discentes e das experiências de
aprendizagem, visando atingir os objetivos estabelecidos (JOHNSON,
2008). Tendo em vista a complexidade e multidimensionalidade do
planejamento, torna-se fundamental e imprescindível para a garantia
de uma boa qualidade do sistema e sua eficácia.
Conforme Johnson (2008), define que o planejamento é o
processo de decisão que depende de informações fidedignas e que
traça para o futuro o cenário de satisfação das necessidades sociais da
população. Neste sentido, a importância de planejar determinada ação
se faz necessária a partir do momento que se aspira alcançar um bom
resultado, seja esta ação em qualquer segmento. No entanto, ao planejar
o ensino, o professor antecipa, de forma organizada todas as etapas
do trabalho escolar. Cuidadosamente, identifica os objetivos, indica os
conteúdos que serão desenvolvidos, seleciona os procedimentos que
utilizará como estratégia de ação e prevê quais os instrumentos que
empregará para avaliar o progresso dos alunos (JOHNSON, 2008).
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O planejamento das aulas e demais atividades no CSTGP exige
do professor dedicação, tempo e um roteiro de pesquisa. Conforme
professor (a) P1, “cada passo é planejado, tudo bem finalizado, pensado,
pesquisado”, busca-se fazer um “roteiro”para cada passo da aula:

[...] trabalho que antecede a preparação da aula propriamente dita,


porque eu particularmente, por exemplo, para cada aula que eu ministro
ali eu monto um roteiro, e também eu não tenho, não chego ali e pronto
e dou aula, eu tenho um roteiro montado pra que eu não perca nenhuma
informação que eu acho que é importante passar naquela aula, então é
diferente de uma que eu tenho no ensino presencial que eu tenho que
um material impresso imprime o trabalho aquilo que ta na aula hoje, é
claro tem o livro que já foi elaborado por mim no caso, mas que eu não
estou usando aquele material na minha mão eu tenho sim um roteiro que
vai me dar seqüência lógica do que eu preciso falar, o que eu acho que
devo que é importante, então eu elaboro esse roteiro da aula, elaboro
questões de prova com antecedência porque todo material da EAD é
montado previamente. (P1).

As atividades relacionadas com as correções de provas e


elaboração de questões discursivas exigem esforços e fazem parte do
planejamento das aulas.
Professor (a) P1:

[...] eu tenho o esforço de correção, até o próprio fazer a


prova, essas questões que são discursivas, elas exigem
que nos não temos a resposta que o aluno deve responder,
mais ou menos estar naquela linha. Mas isso tudo é um
esforço que é maior, diferente de fazer uma prova aqui o
aluno responde e eu consigo mais ou menos com o que
trabalhamos aqui ver se ele seguiu aquela linha e ver se
está mais para cá ou para lá o resultado para ele. E ali
não eu tenho que estabelecer isso dentro do conteúdo
ministrado de alguns exercícios que foram feitos que tem
que estar bem marcados, o que requer um pouco mais de
trabalho. (P1).

Salienta-se que é pela linguagem em ambiente virtual que


o professor cria estratégias que envolvem e motivam os alunos.
A linguagem tem que ser diferente do ensino presencial, é uma
metodologia necessitando de mais planejamento.
Professor (a) P2:

Eu não sabia como fazer porque era uma linguagem a distancia, diferente
da linguagem de ensino presencial, eu era acostumado a fazer apostilas
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para o ensino presencial, e quando vai trabalhar com o ensino a distancia
tem que ter uma outra metodologia tem que ter uma programação muito
mais rígida que o ensino presencial, uma experiência significativa. Agora
foi um desafio bom o porque era como se estivesse reoxigenado está
atividade do magistério, ao mesmo tempo desafiadora, oportuniza a ver
a educação sobre outro prisma. (P2).

Professor (a) P4:

O planejamento leva muito tempo. Aí o seguinte quando começa o


processo das interações abre o fórum. Aí o seguinte o fórum toma muito
tempo, pelo menos de quem como eu, se dispõe a dar muita atenção
para isso. Na experiência que eu tive, agora um semestre eu posso
dizer, não sei se algum aluno que escreveu alguma coisa ficou sem uma
resposta. Pessoal presente diz isso não é comigo. (P4).

No entanto, a EAD exige tempo, dedicação e o planejamento


prévio de todas as tarefas que a envolve. Compreende-se que antes de
iniciarem as aulas para os alunos, os professores precisam ter elaborado
os materiais (conteúdos) com antecedência, os ambientes virtuais de
ensino e aprendizagem precisam estar “alimentados”e os professores
cabem apresentar à equipe (coordenação de curso, coordenação de
tutoria e tutores) sua “aula magna”, explanando o seu plano instrucional
e seu plano de ensino, contemplando as atividades que serão aplicadas
aos alunos e forma de avaliação. Conforme professor (a) P3:

[...] eu tenho como atividades tudo aquilo que envolve o preparo das
aulas então eu tenho que fazer toda uma pesquisa de literatura, eu tenho
que fazer um estudo aprofundado dos livros que são utilizados como
base dessa disciplina, dessa unidade curricular que já foi planejada,
estudada quando foi feita no projeto pedagógico do curso. Então tem
todo uma emenda com conteúdos, com habilidades, competências
que os alunos desenvolver em uma bibliografia de apoio. Então, de
início, vamos supor que eu tenha iniciado meu trabalho na unidade
recentemente, então eu tenho que no meu primeiro trabalho, primeira
atividade isso. (P3).

Compreende-se que o planejamento faz parte da modalidade de


educação a distância. A composição de uma equipe multidisciplinar
integrada reflete no bom desempenho do curso. É importante acrescentar
que as equipes de trabalho,em suas trajetórias, ressignificam e
recontextualizam, continuamente, todo o processo de desenvolvimento
num movimento de complexas e subjetivas interrelações (MOREIRA,
2009, p. 371).
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4 Considerações finais

Diante de todo o exposto, compreende-se que a Atividade é o


resultado de múltiplas e complexas operações intelectuais, sua análise
não ocorre de maneira imediata nem direta (BORGES, 2010). Dessa
forma, os professores acabam realizando um processo de redefinição,
de interpretação dessas tarefas de acordo com sua experiência pessoal
e profissional, com sua competência, com seus objetivos pessoais e
coletivos, elaborando, assim, uma ressignificação particular da Tarefa
Prescrita. Posteriormente, temos a tarefa efetivamente realizada pelos
professores, em termos de ações concretas realizadas dentro de um
dispositivo fortemente instrumentado (Tarefa Realizada), que se constitui
em síntese de todo o processo, isto é, a atividade.
No tocante a questão do tempo, a EAD exige tempo, dedicação e
o planejamento prévio de todas as tarefas a envolve. Antes de iniciarem
as aulas para os alunos, os materiais já foram produzidos, os ambientes
virtuais de ensino e aprendizagem já foram “alimentados”, os professores
já apresentaram à equipe (coordenação de curso, coordenação de
tutoria e tutores) sua “aula magna”, expuseram seu plano instrucional e
seu plano de ensino, contemplando as atividades que serão aplicadas
aos alunos e forma de avaliação. Enfim, o planejamento faz parte da
modalidade de educação a distância. A composição de uma equipe
multidisciplinar integrada reflete no bom desempenho do curso. Cabe
salientar que o bom desempenho interno reflete no bom desempenho
externo, ou seja, uma equipe bem estruturada e em sintonia, por si
só, torna-se facilitadora e/ou condutora do bom desempenho dos
acadêmicos no curso.Com relação às categorias mencionadas neste
trabalho identificadas nas verbalizações, destaca-se a categoria
atividade docente, destacando a dimensão do planejamento das
atividades pelos professores do curso estudado.

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O EDUCADOR PROGRESSISTA: ANÁLISE DE
ALGUNS PRESSUPOSTOS DA SUA FORMAÇÃO

Pedro Pereira dos Santos*

RESUMO

O artigo visa analisar os pressupostos da formação do educador


progressista, entendendo-a como um processo de desenvolvimento
da sua integralidade e que por tal motivo opõe-se às políticas de
formação de cunho neoliberal que prezam pela unilateralidade do
processo formativo, restringindo-o à dimensão técnica em detrimento
de outras. Com esta intenção, optou-se pelo delineamento bibliográfico
conforme Gil (2007, 2011) e adotou ainda como fundamentação teórica
o pensamento de Freire (1985, 1986, 2002, 2005, 2006) em diálogo
com autores como Giroux (1999), Sacristán (2002), Torres (2007), Demo
(2007), Habermas (2007), Goergen (2011) e outros. Como resultado
do estudo, emergiram quatro dimensões do pressuposto antropológico
e um pressuposto político da formação do educador progressista. Em
consonância com estes pressupostos, discutiu-se também sobre cinco
dimensões do processo formativo como a teórica, a técnica, a científica,
a ética e a política. Espera-se então contribuir para o entendimento
sobre a formação na perspectiva freireana, compreendendo-a como
uma ferramenta para a construção da curiosidade epistemológica do
educador e do educando a fim de que transformem as situações-limites
do seu tempo histórico.

Palavras-chave: Pressupostos da Formação. Dimensões da prática


educativa. Educador progressista.

ABSTRACT

The article aims to analyze the assumptions of the progressive educator


training, understanding it as a process of developing its entirety and
for this reason opposes neoliberal education policies which have

Recebido em: 30/09/2012 – Aceito em: 02 /12/2012

*Mestre em Educação: Currículo pela Pontifícia Universidade Católica de


São Paulo-PUC/SP. Vinculação profissional: Universidade Federal do Piauí-
UFPI. E-mail: [email protected]
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the one-sidedness of the training process, restricting it to technical
dimension over others. With this intention, we’ve chosen to design
literature as Gil (2007, 2011) and also adopted as theoretical thinking
of Freire (1985, 1986, 2002, 2005, 2006) in dialogue with authors
such as Giroux (1999), Sacristan (2002), Torres (2007), Demo (2007),
Habermas (2007), Goergen (2011) and others. As a result of the study,
four dimensions emerged from the anthropological assumption and
an assumption of the formation of political progressive educator. In
line with these assumptions, discussed also on five dimensions of the
educational process as a theoretical, technique, science, ethics and
politics. So expected to contribute to the understanding of the formation
in Freiriana perspective, understanding it as a tool for the construction
of epistemological curiosity of the educator and the student in order to
transform the situations limits of its historical time.

Keywords: Assumptions Training. Dimensions of educational practice.
Progressive educator.

1 Introdução

Este trabalho tem como objetivo analisar alguns pressupostos


que alicerçam a formação do educador progressista na perspectiva
freireana, tido como um sujeito crítico, reflexivo e comprometido com
a luta estratégica para a superação das diversas situações-limites que
negam as condições de possibilidades de o ser humano se tornar o
construtor da liberdade tanto pessoal como coletiva.
Nesta direção, visa também discutir sobre as dimensões da
formação do supracitado educador, alicerçando-se teoricamente na
pedagogia libertadora freireana, entendida como um conjunto de escritos
que tem como centralidade a criação de andarilhagem humanas que
rompem com o instituído para construir a autonomia do sujeito social.
Por fim, pretende-se ainda apontar as possíveis contribuições do
pensamento de Freire para a prática educativa no cenário neoliberal.
Tais propósitos relacionam-se também com a nossa preocupação
acerca da prevalência cada vez mais intensa no contexto atual do que
Giroux (1999) denomina de racionalidade tecnocrática, compreendida
como uma forma de mentalidade amesquinhada que enfatiza
demasiadamente a dimensão técnica da formação, ocasionando dentre
outras conseguências a fragilização do papel político do educador.
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Considerando tal problema, realizou-se então uma pesquisa
bibliográfica fundamentada em Gil (2007, 2011) e tendo como aporte
téorico o pensamento de Freire com abertura para o diálogo com outros
autores, visando construir respostas a estas três indagações: quais os
pressupostos que sustentam a formação do educador progressista?
Quais as dimensões da sua formação? E que contribuições emergem
a partir da pedagogia libertadora no sentido de se opor à relativa
despolitização do educador no cenário vigente?
Elaborou-se então um quadro síntese com as categorias
pressupostos da formação, educador progressista e possíveis
contribuições para o processo formativo. Isto possibilitou o registro de
partes do pensamento de Freire pertinentes para a compreensão do
assunto em questão.
Dos registros então, emergiram dois pressupostos que alicerçam
a formação do educador progressista. O primeiro é o antropológico
constituído de quatro dimensões quais sejam o ser humano paradoxal
e misterioso, relacional, perfectível e por fim curioso e; o ultimo deles
refere-se ao pressuposto político da educação.
Com base nestes pressupostos, definiu-se ainda num segundo
momento o educador progressista como um sujeito crítico e
comprometido com as profundas transformações sociais e a formação
dele como um processo de desenvolvimento da sua integralidade para
a inserção crítica e transformadora no mundo.
Espera-se então contribuir para o debate sobre a formação do
educador progressista, entendendo-o como intelectual ético-político que
esperançoso luta contra as mazelas do contexto atual.

2 Alguns pressupostos sustentadores da formação do educador


progressista

O humano é um ser de enraizamentos num determinado
contexto socioeconômico e cultural, construindo-se numa teia de
relações. Nesse sentido, Berger e Luckman (1976) entendem que o
sujeito social se constrói nos encontros com os outros significativos
que marcam de forma relevante a sua biografia existencial.
É por meio da socialização que o sujeito se apodera do acervo
cultural do seu tempo histórico e, pelo processo de individuação, torna-
se um ser único, mas com marcas significativas de outrem. Noutros
termos, o humano é constituído de retalhos de crenças, valores e
saberes de outrem, todavia tudo o que foi herdado deve ser recriado
por ele, imprimindo-lhe as suas próprias marcas.
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Nessa direção, Sacristán (2002) entende o sujeito como síntese
do múltiplo na medida em que nele existem as influências de muitos
outros, ressignificados de tal forma que lhe permite ser um ator social
capaz de fazer escolhas comprometidas consigo e com aqueles que
convivem.
Conforme o exposto, o ser humano é resultado das relações
estabelecidas com os outros e do acesso a um conjunto de fatores
como o econômico, o político, o cultural e o social. Dependendo das
correlações de forças na arena social, tais fatores podem contribuir ou
não para o seu desenvolvimento enquanto sujeito crítico proativo no
seu cenário histórico.
Nesse sentido, Freire (2005) acrescenta que todo ser humano é
datado porque vive num determinado período histórico e situado devido
pertencer a um tipo de sociedade civil e política. Esta é constituída
tanto de forças proativas como de forças reativas, sendo as últimas
mantenedoras do status quo dos grupos mais privilegiados.
Numa linguagem metafórica, Boff (2002) compreende a condição
humana como um processo dialético de forças que podem promover
o ser humano como águia capaz de voar e transcender os limites
existenciais. No entanto, também podem aprisioná-lo como galinha
que vive no galinheiro a ponto de negar até mesmo a possibilidade de
sonhar em superar os limites do contexto em que se encontra.
Dito isto, depreende-se então que o humano é repouso na medida
em que se sente confortável no solo em que pisa. Porém, ele é também
ruptura no sentido de criar estratégias de superação dos entraves que
obstaculizam a construção de si como ator social.
Esta questão sobre o humano como ser de algemas e de
superação delas já estava presente no contexto da filosofia grega
clássica de Platão (2004). No livro VII Alegoria da Caverna da sua
obra República, o filósofo dialoga com Glauco e o desafia a imaginar
a existência numa caverna. Nela, diversos prisioneiros acorrentados
reduziram-se a viver apenas nesse lócus existencial, pois jamais tinham
saído do seu habitat e por tal motivo o que sabiam era resultado de
suas vivências, das sombras que viam na parede da caverna.
Todavia, num determinado momento, um dos prisioneiros rompe
a corrente que o prende, escala a parede da caverna e se situa noutro
mundo que exige dele um novo conhecimento para se adaptar ao novo
contexto.
Depois de um longo período e já familiarizado com aquilo que
antes lhe era estranho, o referido prisioneiro entende que deve retornar
à caverna para libertar os prisioneiros que lá ficaram.
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Mas ao regressar para tal fim, foi morto pelos seus companheiros,
porque entendiam que ele tinha enlouquecido devido ter ousado sair
da caverna e ter conhecido o para além dela, o que o fazia dizer algo
estranho para aqueles familiarizados no contexto das sombras. Outra
razão da sua morte é que serviria de exemplo para que os mais jovens
não ousassem fugir do chão em que pisava.
Nesta alegoria, parece-me que emergem dois tipos de educação.
A primeira visa acorrentar os sujeitos a fim de adaptá-los ao lócus de
origem, tornando-os silenciosos e incapazes de pensar em transcender
o estágio cavernal no qual predomina a doxa (opinião). O segundo tipo
de educação visa tornar o sujeito um admirador do mundo para escalar
a caverna, romper o limite dela para conhecer (episteme) o que lhe era
estranho, aprender com ele e se comprometer em modificar o que era
problemático na caverna.
Para Platão este é o intuito do filósofo que deve superar os
obstáculos da caverna existencial. Cabe a ele admirar o que os demais
não admiram e descontente com o mundo sensível (costumeiro,
familiarizado) quebrar as correntes que o aprisionam a fim de conhecer
o mundo para além do habitual, denominado de inteligível.
Desta feita, entende-se que do dialogo com Platão e com
outros autores citados emergem quatro dimensões relacionadas ao
pressuposto antropológico, entendido como um conjunto de ideias que
contribuem para compreensão sobre o ideal de sujeito a ser formado
pela educação.
A primeira dimensão que sustenta a formação do educador
progressista é a que preconiza que o humano é paradoxal e misterioso.
Nesse sentido, compreende-se que o sujeito social é paradoxo, porque
ele é um ser de sapiência na medida em que pode se comprometer
consigo e com os outros para a construção de uma sociedade
relativamente livre e democrática. Mas é também um ser de demência,
pois pode promover um conjunto de ações catastróficas na sociedade,
ocasionando efeitos deletérios contra si mesmo, a natureza e os que
convivem com ele.
Além de paradoxal o humano é também misterioso no sentido
de que quanto mais o conhecemos, mas necessitamos conhecê-
lo em profundidade. Noutros termos, o sujeito é fonte infindável de
conhecimento, pois mesmo conhecendo-o, ele pode surpreender a
qualquer momento. Tal aspecto se explicita na alegoria da caverna
quando aquele que a transcende retorna para ela sendo surpreendido
pelo ataque fatal dos que conviviam antes com ele.
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Nessa direção, Freire em Pedagogia da Autonomia (2006) define
o sujeito como um ser de condicionamentos, mas não de determinação.
O que demonstra que o sujeito histórico jamais pode ser previsível de tal
forma que exerça sobre ele um controle total. Destarte, o oprimido que
é hospedeiro do opressor, pode surpreendê-lo devido criar estratégias
de luta capazes de se consolidarem numa ação cultural construtora da
sua liberdade.
Este entendimento torna-se relevante para a formação do
educador progressista, pois compreende que no seu ato educativo lida
com educandos paradoxais. Sendo estes dotados de limites a serem
superados e com potencialidades a serem desenvolvidas por meio da
prática educativa.
Sendo assim, sua aposta enquanto educador é tanto reconhecer
e superar os limites de cada educando, como também criar condições
para que suas potencialidades não sejam abortadas na arena social.
Ainda sobre o mistério, intui-se que este aspecto pode fortalecer
o trabalho do educador na medida em que ele compreende o educando
como alguém que pode surpreendê-lo tanto no aspecto positivo como
negativo. Por tal motivo, não cabe a ele estereotipar o educando, mas
compreender e ajudá-lo na superação dos seus desafios.
A segunda dimensão apresenta o humano como relacional, no
sentido de que ele se constrói numa trama de relações sociais por meio
das quais faz empréstimos de crenças, saberes e valores de outrem,
podendo ressignificá-los com sentido para si e para o seu grupo de
pertença.
Sacristán (2002), opondo-se ao individualismo moderno,
preconiza o fortalecimento do sujeito engajado, tido como híbrido porque
é resultado da tessitura das relações sociais e por tal motivo traz consigo
as influências de outros que convivem ou conviveram com ele. Esta
existência compartilhada com os outros, exige dele alguns atributos
como o compromisso, a solidariedade, a autonomia, a capacidade
de promover o bem comum e a criação de propostas que solucionem
problemas de interesse público.
Conforme o exposto, o supracitado autor afirma que “o indivíduo
[...] é alguém que está com os demais e colabora com eles, que realiza
sua liberdade e sua autonomia também na participação com os demais,
o que significa que se desenvolve como indivíduo na esfera pública e
sendo solidário.” (p. 199).
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Para Goergen (2011), a alteridade é uma condição para a
construção do sujeito, pois a cultura entendida como um conjunto de
produção humana de dimensões material (objetos materiais), como
também imaterial (crenças, valores, saberes populares, conhecimento
científico e outros) antecede o indivíduo e com base nela ele se constrói
num determinado convívio social.
Sendo o alter a herança cultural e mais a presença relevante do
outro num lócus comunicativo, o ego se constitui nesta relação sendo
tanto influenciado como também influenciador do outro.
Depreende-se então que desta relação indissociável entre o ego
e o alter, o humano se constitui como individualidade na medida em que
é capaz de elaborar o seu próprio projeto existencial. Mas o faz assim
porque incluiu os outros que contribuíram para a sua autodeterminação.
Noutros termos, o sujeito é resultado também das suas escolhas e dos
vínculos de pertencimento estabelecidos com aqueles do seu ciclo de
convivência, fundado no respeito, na solidariedade e no reconhecimento
mútuo entre o alter-ego.
Habermas (2007) defende que a efetivação deste propósito torna-
se viável, mas exige a construção de um novo sujeito ético- relacional
que pauta a sua ação na ética do discurso.
Esta exige dos sujeitos falantes a capacidade intelectual de
interpretar criticamente os proferimentos dos sujeitos comunicativos;
respeitar o seu direito de argumentar caso concorde ou não e; entender
devidamente as pretensões de validade presentes nos argumentos
de um proponente. Este último objetivo tem por finalidade identificar
os interesses dominantes que enclausura o ser humano e aqueles
emancipatórios que prezam pela reflexão crítica e transformadora do
poder dominação.
A ética do discurso exige ainda a capacidade de os sujeitos
comunicativos defenderem proposições e contraproposições,
construírem consenso racional, conhecerem e intervirem de forma
coletiva para solucionar os problemas do seu contexto social.
Percebe-se, então, que Habermas (2007) compartilha da ideia
de que o sujeito se constitui nas relações sociais, porém alerta que na
sociedade capitalista os participantes de uma comunidade comunicativa
correm sérios riscos devido o seu valor ser reduzido a meros produtores
e consumidores de mercadorias.
Contrapondo-se a este contexto, o mesmo autor preconiza então a
construção de uma nova sociedade fundada na razão emancipadora que
tem como fim a liberdade do ser humano, tornando-o comprometido com
os demais para lutarem contra as diversas formas de poder dominação.
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Na perspectiva habermasiana, o humano se faz presença
emancipatória no mundo com os outros desde que o seu agir se
sustente na ética comunicativa. Esta entendida como a que defende a
autoridade do argumento racional do sujeito proponente e dos ouvintes;
a clareza das pretensões de validade do argumento; a construção de
consensos para resolver problemas públicos; a negação do argumento
de autoridade que valida a petulância daqueles que dizem saber mais
que outros; e o acesso ao conhecimento a todos os falantes para que
possam participar ativamente do processo decisório democrático.
Embora num contexto social diferente, Freire (2002) aproxima-
se do filósofo alemão Habermas (2007) no tocante ao pressuposto em
discussão na medida em que, para o educador brasileiro, o humano se
faz no mundo, com o mundo e com os outros. Nesta relação dialógica,
os sujeitos se inserem criticamente no seu cenário histórico não para
contemplá-lo, mas transformá-lo em prol da sua humanização.
Todavia, a inserção crítica e projetiva do ser humano no mundo,
não se efetiva de forma solitária, mas por meio de andarilhagens
políticas coletivas. Nestas, os sujeitos sociais constroem por meio do
diálogo amoroso e respeitoso, estratégias de luta para a emergência de
uma nova sociedade democrática que valoriza principalmente a polifonia
de vozes dos menos privilegiados, tidos como sujeitos da história e não
meros objetos hospedeiros do opressor.
É nesta relação dialógica com o outro que cada sujeito supera o
seu ponto de vista restritivo e o torna mais amplo para compreender o
mundo que o circunda com os seus desafios e possibilidades. Desta
feita, a superação do sectarismo, do individualismo e do monólogo
exige um profundo exercício do diálogo, compreendido como processo
dialético de consenso e dissenso sobre as temáticas discutidas pelos
sujeitos envolvidos nos círculos epistemológicos.
Freire (1985) compreende que uma relação dialógica autêntica
pressupõe o reconhecimento dos saberes populares; a unidade teoria-
prática; a compreensão de que a liberdade é uma conquista coletiva e
não um presente a ser recebido de outrem; o respeito ao ponto de vista
do interlocutor, o que não significa necessariamente estar sempre de
acordo com ele; e o compromisso político com os menos privilegiados
da sociedade para que conquistem a sua cidadania.
Numa discussão com Freire, o filósofo chileno Faundez (1985)
entende que no diálogo o que predomina é a força argumentativa dos
sujeitos, o que o diferencia da força repressiva do monólogo no qual um
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sujeito fala e os outros ouvem. Diferente deste, o diálogo é polifônico,
é tessitura de vozes na construção do projeto antropológico.
Por meio do diálogo, os sujeitos podem tanto aproximar-se como
distanciar-se de forma respeitosa, sem agressão e qualquer forma de
discriminação. Sendo assim, dialogar pressupõe um amor profundo
pelo sujeito que expõe o que pensa, como também exige daquele que
ouve a capacidade de avaliar criticamente o dito para posteriormente
se posicionar a favor ou contra o argumento pronunciado.
Isto significa que o diálogo nem sempre é consenso, porque
mesmo numa relação de sujeitos comunicativos, a discordância exige
o respeito ao ponto de vista do interlocutor proponente.
Neste sentido, o humano torna-se presença crítica imersa
no mundo para transformá-lo e se transformar, mas tal intenção se
concretiza em comunhão com outros sujeitos por meio do diálogo
definido por Freire (2002, p. 78-9) como:

[...] o encontro dos homens, mediatizados pelo mundo, para


pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu.
[...] é o encontro em que se solidarizam o refletir e o agir de
seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado
e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar
ideias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se
simples trocas de ideias.

Considerando o conjunto de ideias discutidas nesta dimensão,


destaca-se ainda algumas contribuições dela para a formação do
educador, como uma atuaçao pautada no respeito aos saberes dos
educandos e a capacidade de dialogar para resolver problemas, tanto
no âmbito restrito da comunidade educativa como na esfera mais ampla
da sociedade.
Além destas, acrescenta-se ainda outras contribuições como
a humildade para ouvir e valorizar os pontos de vista diferentes que
emergem nos encontros dos sujeitos dialógicos; a promoção da
diversidade de gênero, étnica e racial; o entendimento de que cada
sujeito se constrói em comunhão com os outros; a solidariedade
principalmente com os menos privilegiados; o saber propor e contrapor
ao seu interlocutor sem o uso da violência; e a participação ativa na
sociedade a fim de transformá-la num convívio salutar para todos os
sujeitos e, não apenas, para alguns deles.
A terceira dimensão refere-se à perfectibilidade humana, que
se sustenta numa ideia básica de que o sujeito não pode ser perfeito,
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todavia, deve-se apostar nas suas potencialidades para desenvolvê-lo
o máximo possível. O que subjaz a esta dimensão é a crença de que
o humano pode ser melhor do que já e por tal motivo ele é perfectível.
Reconhece-se então que este pressuposto está presente nas
teorias dos mais diversos pensadores, mas neste trabalho restringe-se
apenas a Marx (2003) e posteriormente a Freire (2002), o que demanda
de outros pesquisadores um estudo mais relacional com outros teóricos.
O primeiro deles na sua obra O Dezoito Brumário de Louis
Bonaparte,indigna-se com os autores Victor Hugo e Proudhon que
ratificavam e enobreciam a figura heróica de Napoleão, desconhecendo
as táticas truculentas dele para conquistar o poder.
Para Marx (2003), Napoleão não merece reconhecimento
algum como herói, porque para se tornar imperador no século XIX
na França, adotou um conjunto de estratégias drásticas contra a
classe proletária. Sendo algumas delas, a dissolução da Assembléia
Legislativa em 1851, a criação da Sociedade Beneficente para atender
os desafortunados, impedindo-lhes de se revoltarem contra o poder
instituído; desarticulação de manifestações contrárias ao sistema político
vigente; e a separação entre pequeno burqueses e proletário, aliando
o primeiro deles à burguesia.
Opondo-se à veneração a Napoleão, o supracitado filósofo a
desmistifica, pois demonstra que o venerado foi o instaurador da
burguesia francesa e que para tal fim inssurgiu contra o proletariado.
Tendo como resultando três mil mortos e quinze mil deportados do país
sem nenhum julgamento, o que contribuiu para que ele implantasse
em 9 de novembro de 1799 o golpe de Estado e o seu governo militar.
A explicitção destas artimanhas feitas por Marx, possibilita
uma compreensão diferente sobre o personagem Napoleão,
metamorfoseando-o de herói à ave de rapina, um conquistador do poder
legitimador da burguesia francesa em detrimento da classe operária.
Este empreendimento de Marx para desmistificar a figura
napoleônica, exigia dele uma aposta na classe trabalhadora como
condição de possibilidade para a superação de uma consciência de
veneração do herói truculento para, no seu lugar, instaurar outra crítica
e transformadora do mundo. Nesse sentido, o mesmo autor adverte que:

Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem


segundo a sua livre vontade; não a fazem sob circunstâncias
de sua escolha, mas sob aquelas circunstâncias com que se
defrontam legadas e transmitidas pelo passado. A tradição
de todas as gerações mortas oprime o cérebro dos vivos
como um pesadelo (2003, p. 15).
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Conforme esse pensamento, o humano é um ser de intervenção
no mundo com poder para transformá-lo, porém ele não efetiva tal
propósito apenas porque deseja, pois traz consigo a herança dos
antepassados que pode aprisioná-lo de tal tal forma que ele se torna
refém da tradição e com receios de lutar por profundas transformações
no seu período histórico.
Mesmo concebendo o homem como um ser condicionado pela
tradição, Marx (2003) enfatiza o seu poder de fazer uma nova história
que garanta tanto as condições materiais básicas de sobrevivência,
como os bens espirituais por meio dos quais se interpreta e intervem
criticamente no processo de transição de uma sociedade capitalista
para a socialista e desta para a comunista.
Esta intenção pressupõe de Marx (2001) no seu Manifesto
do Partido Comunista uma profunda aposta na perfectibilidade da
classe operária , entendendo-a como capaz de superar a exploração
da burguesia que comprava a sua força de trabalho por um salário
insuficiente para garantir as condições básicas de sobrevivência.
Acreditandob então que os trabalhadores eram potentes a ponto
de superar a sua condição de objeto da burguesia para se tornarem
sujeitos históricos, Marx (2001) conclama a unidade de todos os
trabalhores em busca da sua emancipação.
Nesse sentido, perfectibilidade é o processo de devir humano na
história, para negar aquilo que o desumaniza e lutar coletivamente pela
criação de um novo cenário social emancipador.
Como estudioso de Marx, Freire (2002) também entende que
o humano não é um ser pronto e acabado, porque está em contínuo
processo de formação. E esta inconclusão o faz um ser de busca que
pode reconhecer aquilo que é, todavia sedento pelo que ainda deve ser.
Destarte, Freire (2002) analisa a relação contraditória entre o
opressor e o oprimido. O primeiro deles já é desumanizado e por este
motivo, desumaniza o outro também, tornando-o num objeto da sua
ação. Nesse sentido, o opressor torna-se num hóspede que se apossa
do oprimido e faz dele a sua morada.
Para manter-se como parasita do oprimido, o opressor adota
posturas como a de negação do seu hospedeiro como ser potente,
concebendo-o como o inferior, o néscio, o menor, o ingrato e o rebelde
quando se organiza politicamente para lutar contra a opressão.
Por negar as forças de transformação dos oprimidos e validar
as de manutenção do status quo, o autor parafraseando From (1967)
compreende que uma das caraterísticas do opressor é a consciência
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necrófila, que se manifesta pela forte atração pela dominação do outro,
a fim de torná-lo objeto efetivador dos seus interesses. Esta consciência
possessiva concebe a natureza e o ser humano apenas como objetos do
seu desfrute, abortando as potencialidades humanas de andarilhagens
rebeldes transformadoras do mundo.
Desta relação despotencializadora do oprimido, resulta a situação
vivida por ele, que tende a conceber o opressor como o potente em
detrimento de si, a postura mimética devido desejar o modo de vida do
opressor, tido como modelo de civilidade e a crença na invencibilidade
de quem o domina.
Opondo-se ao opressor que percebe o oprimido como feixe de
carências, Freire (2002) entende-o como embriões de potencialidades
que podem organizar-se coletivamente para lutarem em prol da sua
liberdade, libertando também quem o oprime.
Para este fim, exige do oprimido a consciência da sua situação
enquanto hóspede do opressor, a luta estratégica para conquistar a
liberdade, a crença no seu potencial transformador e o reconhecimento
de si, como sujeito recriador crítico do mundo, compreendendo que a
liberdade

É condição indispensável ao movimento de busca em que


estão inscritos homens como seres inconclusos [...]. A
libertação [...] é um parto. E um parto doloroso. O homem
que nasce deste parto é um homem novo que só é viável
na e pela superação da contradição opressores-oprimidos,
que é a libertação de todos. (FREIRE, 2002 p. 34-5).

Acreditando então na perfectibilidade humana, entendida como a


capacidade de superar o trágico para instituir condições de vida digna
para todos, Freire nega a consciência necrófila e anuncia outra que
será denominada neste trabalho de consciência biófila. Esta preza pelo
amor à vida, à liberdade, à diversidade étnico-racial, aos desnudados
do mundo e à plena realização do sujeito como cidadão diálogico
comprometido com a transformação dos problemas sociais.
Acrescenta-se então que esta crença na capacidade de o ser
humano transitar de uma situação concreta de opressão para outra
de liberdade, contribuiu para que Freire (2002) escolhesse o oprimido
como centralidade do seu pensamento educacional, concebendo-o
como instigador de profundas mudanças sociais.
Nessa direção, o autor metamorfoseou o quadro axiológico que
enfatizava as carências do oprimido e configurou outro que valorizava
as suas forças de transformação na sociedade. Esta inversão demonstra
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a crença de Freire (2002) numa maior perfectibilidade do ser humano
que, na luta pela sua dignidade, já não pretende ser nem oprimido e
nem opressor, mas um arquiteto da liberdade.
Esta dimensão pode contribuir para a formação do educador no
sentido de torná-lo cada vez mais capaz de apostar no educando como
feixe de potencialidades, embora existam as dificuldades de cada um
deles. Bem como, zelar pela efetivação da sua cidadania, respeitá-los
como sujeitos de direitos e superar qualquer tipo de discriminação que
destrua as suas forças proativas.
Dito isto, discute-se então a quarta dimensão que defende a
ideia-força de que o ser humano é curioso, pois desde os primeiros
anos de vida já se pergunta sobre as razões de ser no mundo em que
se encontra. Freire (1985) entende então que o ato de perguntar é
ontológico, porque constitutivo da existência humana e contribui tanto
para construir conhecimento como também intervir de forma crítica no
mundo.
Na contramão da pedagogia da resposta que nega a criatividade
do educando, doando-lhe apenas doses homeopáticas de conhecimento,
Freire (1985) e Faundez (1985) preconizam a pedagogia da
problematização, que aposta na ousadia do sujeito para construir
respostas a fim de solucionar os problemas enfrentados por ele no
contexto social.
Esta pedagogia estimula o gosto pelo risco de inventar e reinventar
o conhecimento, no sentido de superar a relação autoritária entre o
educador que sabe e o educando tido como ignorante. Aposta-se, Dessa
forma, no poder de perguntar do educando a fim construir respostas
provisórias e válidas para responder problemas do seu cotidiano.
Conforme o exposto, a pedagogia da pergunta opõe-se ao
medo de indagar e consequentemente errar, propondo o pasmo
epistemológico como força propulsora que desperta a curiosidade do
educando para aventurar-se na arquitetura de respostas. Esta exigência
contribui para a formação do educando e do educador como sujeitos
curiosos, metódicos, criadores e recriadores críticos do conhecimento
e do mundo a ser transformado.
Nos âmbitos escolar e universitário a ênfase na curiosidade e no
poder de criação é uma preocupação de Demo (2007). Este constata
a precária capacidade de invenção de novos conhecimentos pelos
professores e estudantes e propõe a pesquisa como base da formação
docente.
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Para o autor, a educação é um processo contínuo de construção
de competências para que o ser humano intervenha qualitativamente
no mundo de forma teórica, técnica, científica, política e ética. Porém
o que se percebe no contexto global é a fragilização deste propósito
na medida em que as instituições de ensino, tanto da educação básica
como as da educação superior, enfatizam demasiadamente o ensino e
secundarizam a pesquisa que é o pilar da construção do conhecimento.
Como resultado deste cenário, Demo (2007) destaca algumas
consequências, como a postura do estudante como assistente de aula, a
negação da sua curiosidade e a do professor, a redução da capacidade
reflexiva e a predominância da atitude repetitiva de ambos.
A proposta do autor é o inverso da lógica mimética petrificada
em algumas instituições de ensino, pois defende a pesquisa como um
procedimento epistemológico inventivo, curioso, provocativo e construtor
de novas ideias para a emancipação do ser humano.
Entende-se que, embora Demo (2007) atue de forma mais intensa
no âmbito do ensino formal, ele se aproxima das ideias da pedagogia
popular de Freire (2006) na medida em que se preocupa com uma
educação para a formação de sujeitos e não de objetos subjugados
àqueles que detêm maior poder de decisão na sociedade.
No tocante ainda a esta questão, Giroux (1999) contrapondo-se
à racionalidade tecnocrática, que preza pela eficiência e negligencia
as discussões acerca do poder e da política, propõe a formação do
professor como intelectual engajado na luta pela transformação social.
Este professor valoriza a história e as vozes da classe popular,
instiga a sua curiosidade para compreender e intervir ativamente
no poder instituído, democratizando-o a fim de permitir uma maior
participação da sociedade civil.
De acordo com este entendimento, percebe-se que a dimensão
em questão contribui para a formação do educador, porque lhe permite
atentar para a valorização das indagações dos educandos, a fim de
considerá-las como ponto de partida para a construção do conhecimento.
Além disso, permite também a compreensão de que o educando
deve ter acesso às teorias para recriá-las, o reconhecimento dos sonhos,
valores e saberes das classes populares, a aposta nas potencialidades
dos menos privilegiados e a prática da pesquisa como base do trabalho
educativo, aliando-a a interesses emancipatórios.
Tendo concluído a discussão à respeito das dimensões
constitutivas do pressuposto antropológico, reflete-se agora sobre
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o segundo pressuposto político o qual defende a ideia de que toda
educação é interessada e endereçada. Isto demonstra que não há
neutralidade no processo educativo, porque constituído por um conjunto
de interesses implícitos e explícitos e endereçado geralmente pelos
grupos sociais mais privilegiados àqueles que devem ser educados.
Tal entendimento não significa desconhecer o poder de decisão
dos movimentos sociais nos processos decisórios das políticas públicas
educacionais. Porém, sua participação ainda não é efetiva o que exige
uma longa, tensa e intensa luta histórica desses movimentos para
que, de fato, a sua cultura seja reconhecida, valorizada e incluída nos
programas educacionais oficiais.
Por este motivo, compartilha-se com Foucault (2007) da ideia de
que não existe um lócus no qual se centraliza o poder, porque ele é fluído
e perpassa todo o tecido social. Todavia, acrescenta-se que mesmo
nessa fluidez, há grupos sociais que detém fatias de poder mais que
outros e Dessa forma influencia significativamente as decisões mais
relevantes sobre questões de natureza pública na sociedade.
Desta feita, ressalta-se ainda que compreender a educação como
um processo interessado e endereçado não visa constatar para validar
o poder dos grupos mais privilegiados. Ao contrário, objetiva-se desvelar
as tramas do poder para provocar a revolta amorosa, entendida como
luta coletiva organizada dos grupos marginalizados a fim de celebrar o
banquete público da cidadania.

3 As dimensões indissociáveis da formação do educador


progressista

Tendo como base os pressupostos sustentadores da formação do


educador progressista, compreende-se que a pedagogia freireana exige
do educador uma maior clareza possível sobre a sua opção política a
ponto de responder a esta indagação: para quem e para que tipo de
sociedade pretendo educar o educando que educo?
A resposta a esta questão torna-se pertinente para que o educador
tenha consciência dos seus interesses políticos, daqueles presentes
nas propostas educacionais oficiais e das suas consequências para os
destinatários cidadãos (TORRES, 2003).
Este compromisso para desvelar as intencionalidades do poder
dominação e a construção coletiva de estratégias para superá-lo, torna
o educador progressista um sujeito crítico; rigoroso porque metódico
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na construção do conhecimento; amoroso devido respeitar os saberes
dos educandos e se comprometer com a aprendizagem deles; humilde
para reconhecer que o seu saber exige sempre saber mais; e político
no sentido de ter certa clareza dos propósitos da luta pela efetivação
da transformação social.
Este educador é ainda curioso epistemológico porque desconfia
das verdades instituídas no contexto social e instiga metodologicamente
os educandos a problematizarem o tido por eles como óbvio para criarem
uma nova compreensão e poderem intervir criticamente.
Apostando então nos educandos como agentes críticos de
transformação social, o educador progressista é ainda esperançoso,
porque sendo capaz de esperançar não espera a concretização dos
acontecimentos históricos de forma acomodada. Ele é um forjador de
rupturas por meio de andarilhagens estratégicas coletivas que objetivam
a superação das relações sociais assimétricas fragilizadoras do ímpeto
emancipador do ser humano.
Adotando esta postura contra-ideológica, Freire e Shor (2006)
entendem que o educador em questão corre riscos devido enfrentar
forças reacionárias validadoras da petrificação do poder.
No campo de embate, o educador poderá sentir medo das
ameaças feitas pelos grupos detentores de um maior poder decisório,
porém cabe a ele adotar estratégias, sendo uma delas a paciência
histórica que exige o recuo em alguns momentos da luta apenas para
se fortalecer e retornar posteriormente para a arena social.
Decerto para este educador de pasmos e de construção de sonhos
possíveis a sua formação é entendida como um processo contínuo
intencional, rigoroso, amoroso e que tem como ponto de partida a
curiosidade ingênua, transitando-a para a curiosidade epistemológica.
Pelo exposto, percebe-se que esta formação opõe-se ao
treinamento, pois propõe o desenvolvimento do educador na sua
integralidade. Nesse sentido, este processo formativo é constituído
de várias dimensões, como a técnica que exige o saber fazer bem o
trabalho educativo no ciclo gnosiológico com os educandos, a teórica
que reivindica o domínio do aporte teórico adotado pelo educador e a
científica que se funda na exigibilidade do problema para possibilitar a
transitoriedade da curiosidade ingênua para a crítica.
Acrescenta-se ainda a estas dimensões, outras como a política
que intenta definir um conjunto de fins emancipatórios norteadores da
prática educativa do educador e a ética, entendida como a decência
dos seres humanos, para que se comprometam com o bem comum,
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tendo como base os princípios como a solidariedade, o amor brigão, a
compaixão e outros.
Dito doutro modo, o educador progressista não é espontaneísta e
a sua prática educativa exige o rigor metódico, a consistência teórica e
científica, o compromisso amoroso com os educandos, a decência e a
boniteza do agir na comunidade educativa e a luta intensa, contínua e
paciente. Tais características contribuem para garantir a aprendizagem
dos educandos cidadãos e também a valorização dos profissionais
atuantes tanto no lócus educativo escolar como extraescolar.

4 Considerações (in)conclusivas

O pensamento não é um produto acabado, mas processo contínuo


que se desdobra em diversos níveis de aprofundamento. Por tal
motivo, neste trabalho não existem considerações finais, mas algumas
inconclusivas que deixam em aberto para outras reflexões.
Feita esta consideração, indago-me sobre as possíveis
contribuições de Freire para a formação do educador no cenário atual
marcado pela vigência do pensamento neoliberal que cada vez mais
restringe a responsabilidade do Estado em garantir efetivamente os
direitos dos cidadãos, o que contribui para o aumento do poder da
iniciativa privada.
Nesse contexto, o mercado dita as regras e, muitas vezes, torna-se
o colonizador da política, da educação, da ética, da ciência e de outros
campos da vida humana. Esta lógica mercadológica sustenta-se numa
exigência exacerbada de produção de conhecimento para alimentá-la a
qualquer custo, tornando o educador num tarefeiro de ideias supérfluas
para atender às exigências imediatas do sistema produtivo.
Por esta razão, Moraes (2003) entende que na sociedade
contemporânea manifesta-se um iluminismo invertido no sentido
de defender a necessidade do conhecimento como o iluminador, o
solucionador dos seus problemas. Todavia, nega-o na medida em que
enfatiza apenas a dimensão técnica e negligencia o aspecto teórico,
científico e ético.
Esta racionalidade tecnocrática, como bem a denomina Giroux
(1999), ocasiona sérios problemas para o educador como, a prática
educativa reduzida ao saber fazer acrítico, a despolitização do educador
e a superficialidade do seu conhecimento. Tais desafios são resultados
da exigência da produção imediatista pelas agências nacionais e
internacionais financiadoras de pesquisa.
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Contrapondo-se a este cenário, o pensamento profético de Freire
possibilita tanto a crítica às forças reativas como também o anúncio de
forças proativas de transformação social.
Nesse sentido, o pressuposto antropológico com suas dimensões
e o pressuposto político discutidos neste trabalho contribuem para
que se compreenda o sujeito como condicionado pelos aspectos
econômicos, políticos, sociais e culturais. Porém, não determinado por
eles, porque capaz de romper as algemas sociais do seu tempo histórico.
Esta compreensão torna-se relevante para os educadores e toda
a sociedade, porque demonstra que o contexto neoliberal não é o fim
da história. Ele é apenas um dos momentos que pode ser superado
pelo pacto fraternal possível entre os sujeitos sociais comprometidos
com a arquitetura de uma sociedade fundada no pilar emancipador e
não no da lógica acumulacionista do mercado.
Sem esta nova morada humana construída com paciência-
impaciência histórica e sustentada em princípios como o respeito
às diferenças; o não endeusamento do ter em detrimento do ser; a
solidariedade para com todos os seres humanos e não humanos; o
diálogo como constitutivo das relações decentes entre os sujeitos
sociais; e o esperançar como condição de possibilidade de construção
da cidadania, a educação e outras áreas da vida humana continuarão
à mercê da lógica mercadológica.
Isto significa que o projeto societário vigente deve mudar, pois
caso contrário a educação não terá forças para instituir uma nova
racionalidade dialógica comprometida com a emancipação humana.
Nesta direção, compartilha-se com o pensamento de Freire de que a
educação transforma a sociedade, mas sozinha não tem poder para
tal empreendimento.
Todavia, nesta mesma sociedade que coisifica o ser humano
existem também os relampejos de esperança que emergem em diversas
ações dos movimentos contra- ideológicos, como o dos Sem-Terra,
os fóruns mundiais de oposição às tendências homogeneizadoras da
globalização, a luta do movimento feminista pela igualdade de direitos
entre homens e mulheres, o movimento pela diversidade sexual, o
movimento ambientalista, os grêmios estudantis nas escolas do ensino
fundamental e médio, os conselhos escolares com a participação dos
pais, dos educandos, dos professores e de lideranças comunitárias,
dentre outros.
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Estes movimentos demonstram que o tempo histórico vigente tem
tanto traços de barbárie como também embriões de possibilidades. Com
base neste pensamento, (in) conclui-se o presente trabalho, enfatizando
que a tarefa primordial da pedagogia progressista é a criação de sujeitos
críticos capazes de analisar os entraves do seu tempo histórico para criar
com autonomia soluções provisórias para a transformação do mundo.
Se este propósito for relevante para a consolidação de uma
sociedade democrática, exige-se então do autor a não conclusão das
reflexões para que outros pesquisadores ajudem-no a aprofundar o
assunto em discussão. Esta é a intenção e o trabalho ainda está por
fazer...

Referências
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RESENHAS

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ESCOLA DE BARBIANA; MILANI, Don Lorenzo. (1967) Carta a uma
professora pelos rapazes da escola de Barbiana. 3. ed. Lisboa:
Presença, 1977.

Domenica Martinez*

Escrita em 1967, por oito rapazes estudantes da escola de


Barbiana, na Itália, a obra é um relato não só de uma experiência
educativa, mas, também, uma crítica cirrada à Educação. Em verdade, o
texto foi editado por Don Lorenzo Milani, protagonista dessa experiência,
o qual utilizou-se de características da personalidade, ou da história de
vida de oito rapazes, que já haviam fracassado em sua vida escolar,
para relatar os fatos, descobertas e reflexões acerca da experiência
que tiveram em Barbiana, enfim, para descrever os conceitos sociais
necessários para realizar a crítica à escola e à sociedade da época .
Exemplo disso é o conceito de timidez reposto em grande parte do texto,
inicialmente exposto como parte do caráter de um dos estudantes, que
aos poucos vai servindo de explicação para evidenciar características
das relações entre professor e aluno.
O tema central do texto é a injustiça social, caracterizada pelos
embates entre duas classes sociais: a dos ricos e a dos pobres. A
educação escolar é colocada sob o olhar dos autores como um dos
principais pilares de sustentação dessa injustiça, por ser considerada
a fonte de cultura necessária à ascensão social ou, quando há uma
falha nesse processo de aculturação pela educação escolar, a fonte
responsável pelo fracasso social, sendo essa falha a impossibilidade do
acesso à escola, a evasão escolar, ou mesmo as dificuldades cognitivas
dos próprios sujeitos fatidicamente diagnosticadas pelos professores .
Partindo do objetivo de evidenciar as injustiças e desigualdades sociais
outros temas e conceitos são explicitados.
É interessante ressaltar a linguagem em que o texto foi redigido:
com exageros, ironias e palavras de baixo calão, o que aproxima
o leitor das críticas feitas à educação escolar, identificando o ódio
desses rapazes como sentimento de revolta contra o formato da escola
da década de 1960, na Itália. Aliás, além do estilo da linguagem ser

Recebido em: 12/09/2012 – Aceito em: 19/10/2012

* Mestra e Doutoranda pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em


Educação: História, Política, Sociedade - PUC/SP. E-mail: prof.domenica@
gmail.com
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distinto nesse relatório, há, também, o reconhecimento por parte dos
autores a respeito da importância da “palavra”, do domínio da língua,
como sinônimo de poder. Sobre isso dizem: “quando todos possuirmos
a palavra, então os arrivistas poderão seguir seus estudos até onde
quiserem. [...] O que é importante, é que não se sirvam de uma fatia
de poder muito grossa como têm feito até agora” (p. 112). Nota-se,
portanto, que o texto faz da linguagem, ao mesmo tempo, acessório e
parte constitutiva de críticas, difundindo as reflexões acerca da escola
com argumentos sustentados pelo exemplo que é a própria existência
da obra que escreveram.
Afora linguagem, também merece destaque o uso das estatísticas.
De modo peculiar os autores dispuseram gráficos e quadros por meio
dos quais organizaram e expuseram dados a respeito dos argumentos
que fazem sobre a frequência e participação escolar de estudantes.
Com isso, pode-se considerar que a obra sustenta críticas conscientes
da situação em que esses rapazes viviam, quando são utilizados
dados divulgados por instituições oficiais da época. Percebe-se que
a experiência escolar que tiveram em Barbiana não foi superficial. Os
rapazes foram levados a desenvolver suas capacidades cognitivas
para realizar as reflexões de modo aprofundado, indo além da
superficialidade promovida pela escola que eles mesmos criticaram e
deixaram registrado no texto. É interessante identificar que a obra é
resultado de uma experiência escolar que considerou os estudantes
capazes de organizar dados e interpretá-los por meios abstratos como
o são os meios estatísticos, a fim de sustentar e, portanto, canalizar
o sentimento de revolta contra a mesmice egoísta da vida instaurada
pelas instituições sociais. Ao mesmo tempo em que ressaltam o uso
das estatísticas, aproveitam para apontar à professora seus equívocos
quanto ao julgamento que faz em relação à capacidade cognitiva de
um de seus alunos.
Todo o texto nos leva a pensar que está bem fundamentado e
é exposto de modo que o que é quantitativo está atrelado ao que é
qualitativo, a lógica linguística é atrelada ao conteúdo do relatório,
a ironia e a revolta típicas do espírito jovem é atrelada à critica feita
à “prisão de espírito”pela educação escolar. Isso tudo voltado à
perseguição do desvendar das injustiças sociais por quem se identifica
como parte delas e faz algo para transformar a vida, nem que seja pela
liberdade de pensamento por meio de estudo que coloca em xeque a
situação em que se vive.
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Além dessas características dos recursos lingüísticos e
estatísticos utilizados, são vários os fatores apontados pelos autores
como determinantes de uma sociedade em que há injustiças e
desigualdades sociais.
Os autores colocam-se como pertencentes à classe dos pobres,
a qual deve ser recolocada na sociedade, o que não é de se estranhar
haja vista suas inspirações nos anarquistas da época . Definem as
classes sociais como: “um pobre é alguém que gasta tudo o que ganha.
Um rico, alguém que só gasta uma parte” (p. 79).
A revolta e o reconhecimento da injustiça entre as classes fica
evidente quando identificam o pensamento de que os pobres são
a força motriz para a sustentação econômica dos ricos, fornecendo
praticamente de graça toda a energia que têm ao trabalho e, portanto,
à economia. Nesse meio de desigualdades sociais, a condição social do
jovem sujeito determina sua oportunidade de acesso à escola, o que, por
sua vez, determina sua vida futura. Quem pertence à classe abastada
prossegue uma vida de bem aventurança; os que nasceram em “berço
de capim”, provavelmente só terão pela vida a roça e o impedimento de
“ideias novas”, o que é mal visto pelos autores, uma vez que consideram
o “estar na roça”algo que está aquém da opção de vida. Consideram a
vida rural, quando fechada em si mesma, uma condição de improvável
mudança devido a decisões políticas influenciadas pelos ricos.
Os autores também identificam uma discriminação contra os
pobres, sustentada pelos argumentos de que são “preguiçosos e
cretinos”e que, por isso, não necessitam de formação escolar, enquanto
os filhos dos burgueses são privilegiados na escola, independente de
sua disposição cognitiva, moral ou emocional. No raciocínio desse
mesmo argumento, afirmam que as condições profissionais dos pais,
especificamente a do pai, são fatores determinantes à formação escolar.
Pais operários, por exemplo, que têm a possibilidade de planejar
uma formação escolar a seus filhos “fazem das tripas o coração para
conseguir ter filhos na escola durante dez ou onze anos” (p. 69).
Em contrapartida, quando se tem luta de classes reconhecida
socialmente, o que é feito pelos ricos que se incomodam com as
desigualdades sociais, presencia-se ações “distintas”, pois “quando
os senhores finos se ocupam da luta de classes [...] não escandaliza
nem os padres, nem os professores que lêem o Espresso [L´Espresso:
semanário de esquerda que está muito na moda]” (p. 85).
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A respeito disso os autores são firmes em suas colocações e
não cedem em pensar ingenuamente sobre sua situação social, nem
mesmo quando notam que há movimentos sociais favoráveis à crítica
das injustiças sociais. É clara a convicção de que a escola favorece os
ricos e de que se há uma mudança em vista ela é inerte ao movimento
dos favorecidos: “não, o ensino não paira acima das classes sociais
como este diretor pretende. É o ensino dele que é alheio às classes;
está apenas ao serviço dos que têm dinheiro para continuar” (p. 92).
Ainda com afirmações de desconfiança, escreveram: “há que desconfiar
das palavras: as instituições mais marcadas pela política de classes
dos ricos são precisamente aquelas que, segundo os mesmos ricos,
não têm preconceitos de classes” (p. 104).
No que se refere à distinção entre os ricos e os pobres, os
autores são convictos de que não há uma Pedagogia perfeita, mesmo
a disposta nas entrelinhas do que escreveram ao criticar a professora, a
escola, enfim, a sociedade (p. 161). O que esperam das relações sociais,
da cultura fomentada pela escola, é o reconhecimento das diferenças
entre as classes sociais. Na visão dos autores, não há uma verdade a
ser seguida pela humanidade, seguindo um padrão de comportamentos
e mantendo-se em uma única forma econômica. A verdade só pode
ser realizada com a liberdade de poder pertencer às verdades que se
opta seguir. Para isso não se pode ter classes umas sobre (ou sob) as
outras, manipulando-se para favorecer a cada um de modo egoísta.
É preciso reconhecer-se como parte de uma única “massa”, na qual é
permitida diferenciação concomitante às oportunidades e, portanto, a
manutenção da justiça social, pois “todas as classes têm sua cultura
própria e não há uma classe que tenha mais ou menos cultura que
outra” (p. 133).
Outra questão levantada pelos autores que merece destaque é a
professora ser responsabilizada pelo sucesso ou fracasso do aluno. Em
todas as afirmações sobre o incentivo, a avaliação e o método de ensino
da professora é mencionado o favorecimento aos alunos pertencentes
à classe rica e o desfavorecimento dos alunos pobres. Sobre os alunos
pobres sempre resta a reprovação, ou o “tomar chumbo”, enquanto
aos ricos a promoção é inerente à sua condição econômica. A respeito
disso são pontuais, afirmando que, ao invés de fazer a sua parte,
insistindo no aprendizado do aluno, a professora escusa-se de suas
obrigações justificando o chumbo na incapacidade mental dos alunos,
fundamentada em “teoria racista de aptidões” (p. 94).
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O chumbo e suas razões é um assunto sobre o qual persistem
até o fim, sendo tema para muitos de seus gráficos e quadros, pelos
quais apresentam o índice de reprovação (pp. 40-43), evasão escolar
(pp. 50-54), o número de reprovados por classe (pp. 57-60), o número
de ricos e pobres aprovados e reprovados (pp. 61-66), a relação entre
trabalho e escola (pp. 67-68). Segundo os autores, chumbar é ser
impedido de crescer, de amadurecer (p. 55) e soa amargo desde o
início da obra o peso que a reprovação tem para os alunos pobres,
filhos de camponeses e operários: “chumbam-nos, mandam-nos para
os campos ou para a fábrica e depois esquecem-se de nós (p. 11). Os
autores interpretam que o ato de chumbar despropositadamente pelos
professores é algo simples de se resolver; os problemas não deveriam
recair sobre os alunos, mas, antes disso, a postura dos professores é
que deveria ser revista.
Contra o chumbo sugerem como a postura dos que ensinam
é simples de mudar pode ser dado com a afirmação: “tinha bastado
que a senhora professora lhe dirigisse algumas palavras animadoras
e que tivesse lhe dado passagem para o terceiro ano (p. 21)”. Com
esse trecho percebe-se a importância dada ao incentivo ao aluno,
ou seja, os rapazes apostam o tempo todo no exemplo de persistir e
gostar da escola que deveria vir primeiramente dos adultos; os autores
“cobram”dos adultos que sejam, de fatos, adultos, o que significa ser,
primeiramente, um sujeito altruísta e honesto.
Com a perspicácia de jovens, que estão sempre alertas para captar
as mais sutis expressões dos adultos, questionam a desonestidade e
o egoísmo autoritário dos professores e profissionais da escola, que
acarretam no desgosto por essa instituição. Também reclamam do
fato dos métodos de ensino serem impostos. Sobre os métodos, não
reclamam apenas pelo fato de serem impostos autoritariamente, mas
por serem abstratos, incompreensíveis. Sobre isso, parece não haver
saída, pois identificam que mesmo quando substituído o método antigo
por um novo oficialmente, a mudança foi superficial; o que mudou foram
as palavras, mas a lógica da sistematização dos conteúdos continuou a
mesma. Eles reconhecem essa mudança como a chegada de apenas
“novas etiquetas” (p. 29).
Se por um lado criticam piamente o comportamento, objetivos e
o caráter dos profissionais da escola, por outro são espertos em deixar
claro o que apensam que escola deveria ser. Ao definir o que é escola,
afirmam: “a escola somos nós” (p. 91). Acreditam que a Pedagogia é
“a arte de educar as crianças” (p. 15), a qual, assim como a Psicologia
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é uma ciência que só pode ser aprendida na universidade (p. 132).
Afirmam que o fim da educação escolar “consiste em compreender os
outros e em fazer com que eles nos compreendam” (p. 110). A educação
escolar deve ser realizada, portanto, com a máxima dedicação dos
adultos aos mais jovens, respeitando os limites e incentivando todas
as capacidades, estimulando virtudes opostas ao egoísmo e à falta de
liberdade.
Embora a escola pareça ser mais uma prisão de espírito e corpo,
os autores entendem que frequentá-la é um privilégio (p. 17) e que
a marca da formação escolar, deixada pelas convicções intelectuais
transmitidas, é mais forte que a força bruta: “a vossa caneta deixa
marcas que não se apagam, nem durante um ano inteiro. A marca
de um tabefe ou de uma reguada desaparece ao fim de poucos
segundos” (p. 96). Por isso, reconhecem a importância da escola e,
inclusive, sugerem que os professores deveriam ser formados diante
de comprovada vocação (p. 128), a fim de superar a insensibilidade
desses profissionais.
Ao fim de todos os argumentos, podemos destacar que embora
tentem encontrar e sugerir fontes de esperança à manutenção da escola,
sempre acabam apelando. Identificam a professora como uma sádica
contra a qual podem se vingar de duas maneiras: persistindo nos estudos
e não chumbando e enviando-lhe uma carta pela qual evidenciam todas
as atrocidades cometidas por ela de forma fundamentada, lúcida e
clara (p. 160).
Ao longo da Carta são expostas três considerações que podem
ser feitas em relação à formação e existência humana referentes ao
caráter, sexualidade e revolta.
A respeito do caráter, considerou-se as afirmações acerca da
preguiça, da cretinice, da honestidade e da timidez. Sobre a sexualidade,
considerou-se afirmações sobre a professora e os jovens voltadas
à liberação da libido e ao celibato, além da relação entre homens e
mulheres. Já sobre a revolta, fez-se um apanhado das expressões
vulgares e de baixo calão utilizadas ao longo do texto, podendo, assim,
traçar alguns assuntos que mais impulsionaram a revolta dos autores.
Considerações sobre a obra
Embora escrito em 1967, na Itália, a obra é atual. Após 40
anos a educação escolar está praticamente do mesmo jeito, senão,
em muitos casos, pior. Provavelmente se pedíssemos a um grupo de
adolescentes para fazer o mesmo tipo de atividade fazendo-os refletir
sobre a sociedade, o resultado seria muito próximo. Isso pode nos levar
a pensar que o ser humano continua o mesmo.
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Mas, para o bem e para o mal, o espírito de revolta dos jovens
sempre há de despertar na alvorada do amadurecimento. Talvez
tenhamos que dar mais espaço a eles para que possam se expressar,
fazendo da produção humana algo mais proveitoso.
No entanto, desnecessário seria permanecer jovem. Podemos
amadurecer e tornarmo-nos adultos que, embora não consigam mais
criar com encanto ou revoltar-se com firmeza, pode construir. Tal como
afirmou Nietszche: “o melhor de nós é ainda novo: excita os paladares
velhos” (1885/2002). Ao passo que os jovens estão na agitação de
novas ideias e não têm o equilíbrio necessário para concretizá-las, os
adultos podem escutá-las e fomentá-las com o entusiasmo necessário.
Enfim, podem promover experiências como Don Milani o fez e Walter
Benjamin (1933/1987) já anunciara 30 anos antes, em seu texto Rua
de mão única.
Ao fim, jovens como eram na época, os autores não dão respostas
nem sugestões efetivas, mas questionam o próprio leitor a dar sua
opinião; suscitam mais perguntas ao que respostas.

Referências

BENJAMIN, Walter. (1933). Rua de mão única. In: BENJAMIN,


Walter. Obras escolhidas – volume II. São Paulo: Brasiliense, 1987.

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GARCIA, Carlos Marcelo; VAILLANT, Denise. Desarrollo profesional
docente: como se aprende a enseñar? Madrid: Narcea, S.A. de
Ediciones, 2009.

Resenhado por Fernanda Cristina Gaspar Lemes


Juliana Perloti Piunti
Maria Helena de Fátima Luchesi Martins
Monique Aparecida Voltarelli
Renata Cristina da Cunha
Rosa Maria Moraes Anunciatto de Oliveira*

Carlos Marcelo Garcia é professor catedrático de Didática


e Organização Escolar da Universidade de Sevilha, na Espanha.
Atualmente é diretor do mestrado em E-learning: novas tecnologias
para a aprendizagem pela Internet. É diretor do grupo de investigação
IDEA, diretor do Projeto Prometeo. Tem investigado e publicado livros
e artigos sobre a formação de professores e os processos de aprender
a ensinar. Tem realizado estudos e publicações em relação com os
processos de interação didática em ambientes virtuais de aprendizagem.
Denise Vaillant é doutora em Educação pela Universidade
de Québec, Montreal, Canadá; atualmente ocupa um cargo na
Administração Nacional de Educação Pública do Uruguai, é professora
universitária, consultora de vários organismos internacionais e autora de
numerosas publicações sobre o tema de formação docente, mudança
planejada em educação e inovação educativa.
O livro Desenvolvimento profissional docente, escrito em
espanhol, está estruturado em doze capítulos distribuídos em duas
partes distintas, mas interligadas entre si: Linhas e vieses da docência
e O desenvolvimento profissional docente, além de uma esclarecedora
introdução e de atualizadas e extensas referências ao final das 176
páginas.
No capítulo inicial, Mudança social, escola e docentes, os autores
levam leitor a refletir sobre as mudanças pelas quais todos os setores
sociais passam, desde a família até a economia. Ao longo do texto vão
sendo apresentas e explicadas como essas mudanças acontecem em

Recebido em: 10/08/2012 – Aceito em: 02/09/2012

* Membros do grupo de pesquisa Estudos sobre a docência: desafios e práticas


do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar).
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cada âmbito da sociedade. Os autores indicam que, nesse novo contexto
social, é necessário destacar que o conhecimento se tornou fator
fundamental para o desenvolvimento econômico. No tocante à formação
dos professores, os autores nos levam a refletir sobre os conhecimentos
adquiridos na formação inicial que têm “data de validade”, Membros do
grupo de pesquisa Estudos sobre a docência: desafios e práticas do
Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar).
Isto é, os professores precisam aprender a ter uma atitude de
permanentes aprendizes. Os autores afirmam que as transformações
pelas quais a sociedade passa, nos dias de hoje geram novas
necessidade de formação e atitudes que precisam ser contempladas
no processo formativo dos cidadãos, para que não se crie um abismo
entre os que têm acesso às informações e condições de transformá-
las em conhecimento e os que não têm. Em relação à necessidade de
constante formação e atualização que o novo modelo social exige, os
autores afirmam que já não é suficiente que cada indivíduo acumule
no início de sua vida um reservatório de conhecimentos ao qual possa
recorrer sempre. Sobretudo, deve estar sempre preparado para utilizar
e desfrutar de cada oportunidade de aprendizagem, vislumbrando
enriquecer, aprofundar e saber, em primeiro lugar a adaptar-se a um
mundo em constante transformação.
O capítulo 2, Algumas constantes do ensino, é iniciado com
as questões: “Em que consiste a profissão docente? Qual é o seu
trabalho específico? Ensino é uma profissão?”Questões essas que
não se tem o intento de responder ao final do texto, mas que tem como
propósito nortear a discussão tecida ao longo do capítulo. Salienta-se
antes na introdução dessa discussão que a definição de profissão é
socialmente construída, variando assim de acordo com as condições
sociais e históricas do contexto em que se insere. Nessa direção, os
autores trazem o que a literatura das últimas décadas apresenta como
características para identificar o que vem a ser uma profissão, assim
como apresentam características comuns as profissões. Diante disso,
os autores afirmam que a docência, assim como outras profissões, vem
desenvolvendo ao longo de sua história um conjunto de características
constantes que a diferenciam de outras ocupações e profissões,
características essas que também influenciam na maneira como se
aprende aperfeiçoa o trabalho docente. A partir dessas considerações,
o texto apresenta uma crítica à fragmentação do currículo dos cursos
de formação de professores, alegando que existe um divórcio entre a
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formação inicial e a prática docente, o que não deveria acontecer, já
que os autores defendem que é ensinando que se aprende. Isso é na
perspectiva adotada pelos autores, existem características do fazer
docente que são aprendidas e desenvolvidas com a prática docente,
a aprendizagem na prática isto é, a aprendizagem a partir da reflexão
acerca da ação docente.
No capítulo 3, Identidade e profissão, os autores continuam
com a discussão iniciada nos capítulos anteriores, mas o foco está na
construção da identidade profissional dos professores, assim como nas
diversas relações que ao longo de sua trajetória, desde estudante até
professor experiente, influenciam na construção dessa identidade. Ao
longo do capítulo são apresentadas algumas polêmicas que permeiam
esta temática e os autores relacionam uma à outra explicitando o que
é o cerne do capítulo: a identidade profissional dos professores é uma
construção simultaneamente individual e coletiva e se edifica dentro de
um processo complexo e dinâmico. Nesse sentido, os autores propõem
que a construção da identidade se inicia no coletivo e a modelagem/
acabamento se dá individualmente, a partir dos valores que cada
indivíduo atribui às experiências vividas. Em suma, “a identidade não
é algo dado ou possuído, mas algo que é desenvolvido ao longo da
vida. Identidade não é um atributo fixo para uma pessoa, mas sim um
fenômeno relacional.” (p. 37).
No capítulo 4, O processo de transformar- se em docente, os
autores enfatizam que o desenvolvimento da identidade docente e
o processo de converter-se em um bom professor envolvem uma
longa jornada. Um dos motivos é o fato dos estudantes chegarem às
instituições de formação inicial não como “vasos vazios”, mas com
um próprio e repleto sistema de crenças a respeito do como ensinar.
É indiscutível a afirmação de que a formação inicial, apesar de todas
as críticas, é necessária e fundamental. A formação inicial do futuro
professor é o primeiro ponto de acesso ao desenvolvimento profissional
contínuo. Porém, a universidade/curso de formação inicial e a escola
devem conversar para que a formação inicial docente “fale a linguagem
da prática”.
No capítulo 5, As características dos docentes eficazes, são
apresentadas, segundo diferentes autores, características que
identificam professores eficazes, ou seja, que obtêm bons resultados
com seus estudantes. Entre elas destacamos: comprometimento com
seu trabalho, manifestação de amor por crianças e adolescentes,
conhecimentos pedagógicos adequados, uso de diferentes modelos
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de ensino, colaboração com seus colegas e reflexão sobre sua
prática, habilidades intelectuais e competências didáticas, domínio de
conteúdos, identificação com a profissão e percepção das condições
nas quais se desenvolvem os estudantes. De acordo com a literatura
analisada pelos autores há um ponto coincidente fundamental entre
os professores eficazes em vários países: o comprometimento com os
estudantes e sua aprendizagem.
De acordo com o capítulo 6, Crenças e mudanças, Garcia e
Vaillant descrevem as crenças como preconceitos ou premissas que as
pessoas possuem acerca do que consideram verdadeiro e que diferem
dos conhecimentos, pois possuem clara conotação afetiva e valorativa.
Também são praticamente estáticas e sem base em evidências. Os
professores antes de se tornarem profissionais docentes passam por
experiências que influenciam suas crenças e conhecimentos sobre o
ensino: experiências pessoais, com o conhecimento formal e experiência
escolar e de aula. Os candidatos a professores ingressam nos cursos
de formação com crenças pessoais acerca do ensino, com imagens
acerca do que é um bom professor, com uma imagem de si mesmos
como professores, e a memória de si mesmos como estudantes. Estas
crenças influenciam na forma como aprendem a ser professores e
também influenciam os processos de mudança que os professores
podem protagonizar.
No capítulo 7, Definições de desenvolvimento profissional docente,
os autores trazem alguns conceitos e definições para o desenvolvimento
profissional docente, visto como uma forma melhorar a prática
professoral em sala de aula, tendo em vista o uso do conhecimento
a partir da experiência associado ao conhecimento teórico. Este tem
um caráter de continuidade e evolução, por se tratar de um processo
no qual o professor reflete sobre sua prática, levantando indagações
frequentes na sua atuação e buscando soluções para esses problemas.
O processo de desenvolvimento docente é um fenômeno complexo e
multidimensional posto que depende do contexto em que o profissional
está inserido, por se referir a diversas formas de atuação profissional,
assim como pelas diversas definições que pode ter. Por implicar em
uma análise de um contexto, o profissional em desenvolvimento deve
questionar sempre sua prática a fim de compreender o significado de
sua atuação e buscar uma aprendizagem profissional.
No capítulo 8, Materiais e conteúdos, os autores apresentam
questionamentos sobre conhecimentos que o professor deve saber
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e de como se adquire esses conhecimentos, citando autores como
Shulman e Schön para ressaltar sobre a necessidade do ensino
estar ligado a uma ação e a uma prática. O que devem conhecer os
professores? Entre alguns apontamentos citados reside a importância
dos professores possuírem o domínio da matéria que ensinam, de
forma que a relacionem com utilidades para a vida cotidiana. Além
disso, o professor também deve conhecer sobre seu aluno, levando em
consideração a sua cultura e linguagem, e conhecer sobre a didática e
modelos de ensino. Ressaltam a importância de o professor dominar o
conhecimento do conteúdo, que possuam um conhecimento pedagógico
geral e um conhecimento pedagógico os quais influenciam no que e
como ensinar.
O capítulo 9, Avaliação de professores, traz a questão da avaliação
docente apontando a inexistência de indicadores confiáveis, assim
como de uma cultura eficaz de avaliação. Mostra que os sistemas de
avaliação docente são mais burocráticos do que técnicos e que não
vem trazendo processos reais de transformação. A preocupação com a
avaliação docente vem aumentando atualmente devido à intenção de se
melhorar e fortalecer o desenvolvimento profissional dos docentes. Para
que a avaliação seja utilizada como um dispositivo de aprendizagem
profissional é necessário que se estabeleçam modelos contextualizados
de avaliação a partir de uma investigação do cenário educacional a ser
avaliado.
O capítulo 10, Os programas de desenvolvimento profissional
docente, é iniciado com perguntas que provocam a reflexão do leitor:
Que componentes da formação docente demonstram ser mais eficazes?
O que sabemos sobre a melhor forma de organizar a aprendizagem
docente? Dispomos de conhecimentos consistentes sobre esse
assunto? Na tentativa de responder essas questões, o autor aponta
como aspecto mais relevante a necessidade de relacionar as demandas
dos professores por atividades formativas, fundamentando-se para
isso em outros pesquisadores do assunto. Segundo os autores (p.
110), “[...] os professores devem ter um sólido conhecimento teórico,
compreender ações e ideias dentro do contexto desse marco conceitual
e organizar o conhecimento de forma que facilite sua recuperação caso
ela seja colocada em prática”, para que assim possam desenvolver suas
competências em uma determinada área de conhecimento.
No capítulo 11, Casos e iniciativas de êxito, os autores ressaltam
que são numerosas as investigações recentes em países com alto
desenvolvimento educativo que revelam a relação existente entre o
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tipo de certificação dos docentes e as aprendizagens dos estudantes.
Nesta linha, mencionam o trabalho realizado nos Estados Unidos em
50 Estados que confirma a correlação entre o nível de qualidade da
formação dos professores com a aprendizagem dos estudantes. Lançam
perguntas como: Quais são os modelos inspiradores? Quais são as
experiências que funcionam? Apresenta exemplos de iniciativas que
mostram bons resultados no desenvolvimento profissional docente. Os
autores ressaltam que entre os anos 80 e 90, as investigações deixaram
em evidência que os cursos de aperfeiçoamento para professores na
América Latina foram de pouco impactos e que eram preparados para
compensar as insuficiências da formação inicial.
A excelência do desenvolvimento profissional docente é o último
capitulo do livro e, portanto propõe-se a apontar caminhos possíveis
para o desenvolvimento profissional docente bem-sucedido. Para tanto,
Garcia e Vaillant afirmam que isso é plenamente alcançável, muito
embora esteja diretamente relacionado às decisões políticas. “O que
podemos concluir à luz do que foi analisado nesse livro? Podemos
efetivamente orientar a prática do desenvolvimento profissional docente
a partir do acúmulo de investigações e trabalhos realizados?”são as duas
interrogações que norteiam as reflexões apresentadas nesse capítulo,
dividido em quatro subtópicos. No primeiro, premissas e princípios
de base, os autores (p. 150) enfatizam que “[...] o desenvolvimento
profissional docente deve ser visível, reconhecido, promovido e
prestigiado pela instituição educativa”. Para tanto, elencam e explicitam
uma série de valores que devem ser incorporados pelos membros dessa
comunidade a fim de que a excelência no desenvolvimento profissional
docente seja alcançada, a saber: institucionalidade, diversidade,
continuidade, transparência, integração, indagação, implementação,
racionalidade, oportunidade, compromisso profissional e social e
contextualização.
Na conclusão do capítulo e por que não dizer do livro, os autores
enfatizam que, muito embora não existam receitas perfeitas para a
resolução dos problemas latentes e recorrentes na educação hodierna,
a contratação de professores bem qualificados e a promoção de seu
desenvolvimento profissional caracterizam-se como fundamentais e
indispensáveis para o sucesso da aprendizagem dos alunos e, para
corroborar essa constatação, os autores encerram o capítulo afirmando
que, acima de tudo, “[...] devemos respeitar o direito do aluno de
aprender”.
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Em síntese, a leitura do texto é indicada aos profissionais da
educação, especialmente aqueles preocupados com o desenvolvimento
profissional docente, uma vez que aprendizagem da docência é um
fenômeno complexo que depende tanto da qualidade da formação
inicial do professor quanto do conhecimento construído na prática
pela troca de experiências com os demais professores. Assim, como
o conhecimento didático do conteúdo é tão importante para o bom
desenvolvimento profissional do professor, os cursos de formação inicial
devem se preocupar em fornecer uma base sólida para o professor,
pois essa é uma etapa essencial para a aprendizagem da docência, e
se o professor não estiver preparado para lidar com ela e/ou não tiver
domínio do conteúdo a ser ensinado, provavelmente não terá uma
atuação exitosa em sala de aula. Destarte é necessário rever como e
de que forma estão sendo realizados os cursos de formação para o
trabalho docente e (re) pensar em novas maneiras de preparo e suporte
para contribuir com a formação do professor.

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RESUMOS

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ELIZANGELA, Fernandes Martins. A constituição da identidade
docente do graduando de pedagogia: de professor a gestor.
Dissertação (Mestrado em Educação), 140 f. Programa de Pós-
Graduação em Educação, Centro de Ciências da Educação da
Universidade Federal do Piauí, 2012.

RESUMO

Este trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa cujo objetivo


geral foi investigar o processo de identificação dos graduandos do curso
de Pedagogia com a docência dos anos iniciais do Ensino Fundamental,
acadêmicos do Centro de Estudos Superiores de Caxias (CESC), da
Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Por sua vez, teve como
objetivos específicos: identificar os motivos que orientaram a escolha
pelo curso de Pedagogia; compreender o que pensam os graduandos
acerca do processo de formação que estão vivenciando; analisar as
expectativas esperadas pelo graduando em relação à sua atuação
profissional como pedagogo; e compreender os sentidos produzidos
pelos graduandos de Pedagogia em relação à docência dos anos
iniciais do Ensino Fundamental. A realização desta pesquisa, mediante
abordagem qualitativa, firmou-se sobre os pressupostos da Psicologia
Sócio-Histórica defendidos por Vigotski (2001) e Leontiev (1978), em
que as categorias Historicidade, Mediação, Atividade, Consciência,
Significado, Sentido e Identidade auxiliaram na compreensão do
homem como ser construído dialeticamente, e da identidade humana
como mutável. Fundamentou-se, ainda, na concepção psicossocial de
Ciampa (2007), que defende a Identidade como metamorfose, que tende
à emancipação; e em Dubar (2005) acerca da identidade profissional.
Na realização da pesquisa empírica utilizou-se como instrumento de
produção de dados a entrevista narrativa que, segundo Sousa (2008),
permite captar os aspectos subjetivos do narrador. Para o processo de
análise do corpus empírico, adotou-se o procedimento metodológico
elaborado por Aguiar e Ozella (2006), denominado Núcleos de
Significação, que permitem captar o movimento dialético que constitui
o processo de identificação dos graduandos. Os resultados permitiram
o entendimento do movimento de identificação dos graduados por
meios de quatro Núcleos de Significação que constituem os processos
identitários. O Núcleo “A escolha profissional: o enlace entre o pessoal
e o social”revelou os motivos classificados em compreensíveis, que não
têm relação com o objeto de estudo; e os eficazes, que mantém essa
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relação e podem ser mediadores no processo de identificação, mas
não definem a identidade profissional. O Núcleo “A formação inicial:
revelando identificação com a docência”clarificou que os conhecimentos
produzidos durante a formação são significativos na constituição da
identidade profissional; O Núcleo “Expectativas para o pedagogo: de
professor a gestor”demonstrou que as vontades, os desejos, enfim os
aspectos subjetivos contribuem para o processo de identificação. O
Núcleo “Ser professor dos anos iniciais: alfabetizar, ensinar e cuidar
gostando do que faz”retratou a realidade do professor que atua nesse
nível de ensino, ao passo que revelou os significados e os sentidos
construídos pelos graduandos acerca da docência. Os processos
identitários permitiram a assimilação de que os motivos, a formação, as
expectativas e o significado de ser professor não são determinantes na
constituição da identidade. Os graduandos de Pedagogia se identificam
com a docência em suas diferentes formas, como professores da
Educação Infantil, dos anos iniciais do Ensino Fundamental e do
Ensino Superior, ou como gestores e coordenadores. A análise e a
interpretação dos Núcleos revelaram que a identificação é processo,
multidimensional; a identidade não é fixa, é dinâmica, mutável, sujeita
às determinações do contexto social.

Palavras-chave: Identidade Profissional. Pedagogia. Concepção


Psicossocial de Identidade. Psicologia
Sócio-Histórica.

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GAMA, Maria Luiza Santos. Trabalho coletivo em contexto de
planejamento: sentidos e significados atribuídos pelos professores.
Dissertação (mestrado em Educação). 178 f. Programa de Pós-
Graduação em Educação, Centro de Ciências da Educação,
Universidade Federal do Piauí, 2012.

RESUMO

Esta pesquisa investiga os sentidos e os significados que os professores


atribuem ao trabalho coletivo no contexto da prática de planejamento,
relacionando-os às necessidades formativas que possibilitem a
expansão desses sentidos e significados. Fundamenta a discussão
teórico-metodológica na Abordagem Sócio-Histórica, nos princípios
de articulação entre a formação e a pesquisa (DESGANÉ, 1997,
FIORENTINI, 2004, IBIAPINA, 2007, 2008), na produção e negociação
de sentidos e no compartilhamento de significados (VIGOTSKI, 1998,
MAGALHÃES, 2007). A discussão parte da perspectiva do planejamento
de ensino como prática coletiva crítico-reflexiva, e se respalda nos
estudos de autores como Gandin (1983, 1995); García (1987, 1997);
Gómez (1997); Vigotski (1998, 2009); Marx (2002); Vasconcellos
(2003, 2006, 2007); Fiorentini (2004); Ibiapina (2007); Ibiapina e Lima
(2007); Vázquez (2007); Liberali (2008); Imbernón (2010), entre outros.
Os sujeitos da pesquisa são quatro professores e a pesquisadora.
A produção dos dados ocorreu entre os meses de maio de 2011 a
abril de 2012, oportunidade em que utilizou como procedimentos
metodológicos o questionário, o encontro colaborativo, o diário reflexivo
de planejamento e as sessões reflexivas. A enunciação é o objeto
de análise e de interpretação dos dados, embasadas na análise do
discurso de Bakhtin (2010). Desse modo, evidencia a compreensão do
discurso dos participantes, nos quais os sentidos de trabalho coletivo
em relação à prática de planejamento encontram-se diluídos nas
categorias de trabalho individual e coletivo; a prática de planejamento
apresenta características das perspectivas normativa, estratégica e
participativa-cooperativa. A pesquisa aponta, por um lado, o trabalho
individualizado com necessidade de expansão para a forma de trabalho
coletivo colaborativo e, por outro, revela como necessidades formativas:
a possibilidade relacional entre teoria e prática; e a criação de espaços
de reflexão crítica, coletiva e contínua da prática de planejamento.

Palavras-chave: Trabalho coletivo. Prática de planejamento. Formação


continuada
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MEIRELES, Adélia de Deus. Formação Continuada na Interface com
a Prática Pedagógica: o que pensam os professores. Dissertação
(Mestrado em Educação). 137f. Programa de Pós-Graduação em
Educação, Centro de Ciências da Educação, Universidade Federal do
Piauí, 2012.

RESUMO

Este estudo reside em uma investigação acerca das implicações da


formação continuada na prática pedagógica. A abordagem da pesquisa
está alicerçada em uma metodologia que se inscreve nos parâmetros da
investigação qualitativa; para tanto, utiliza as narrativas como princípio
teórico-metodológico, que direcionam os instrumentos, memorial e
entrevista semiestruturada, perspectivando aos interlocutores uma
autorreflexão para [re]planejar ações futuras, tendo em vista seu
desenvolvimento profissional e pessoal. Estabelece como objetivo
geral analisar, sob o ponto de vista dos professores dos anos iniciais
do Ensino Fundamental das escolas municipais de Teresina-PI, as
implicações da formação continuada na prática pedagógica. O alcance
desse objetivo geral orienta-se pelas seguintes questões norteadoras:
Como se caracteriza a formação continuada dos professores dos
anos iniciais do Ensino Fundamental? Que concepção de formação
continuada orienta os processos formativos desses professores? Quais
as necessidades formativas dos professores dos anos iniciais? Em
que medida a formação continuada responde às demandas da prática
pedagógica? Todas essas questões surgiram a partir da formulação do
problema da investigação, a saber: Quais as implicações da formação
continuada dos professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental
das escolas municipais de Teresina-PI na prática pedagógica? Os dados
foram produzidos tendo como colaboradores oito professores dos anos
iniciais do Ensino Fundamental das escolas municipais de Teresina-PI.
Para melhor compreensão do fenômeno pesquisado, empreende-se
uma discussão fundamentada nos seguintes autores: Nóvoa (1995),
Brito (2006), Mendes Sobrinho (2006), Souza (2006), Josso (2004),
Poirier, Clapier-Valladon e Raybaut (1999), entre outros. O processo de
produção de dados efetiva-se por meio da utilização do questionário, das
entrevistas semiestruturadas e do memorial de formação continuada.
O estudo registra a importância da formação continuada enquanto
processo no qual o professor se coloca como agente e sujeito de sua
prática e da construção e reconstrução de seu conhecimento, em
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um movimento dialético ─ prática/teoria. Os resultados da pesquisa
apontam para a necessidade de revisão dos processos formativos, no
sentido de melhor explorar as potencialidades da formação continuada.
A partir desta investigação, compreende-se que a formação continuada
constitui espaço de discussão, de compartilhamento de experiências;
Desse modo, no autoconhecimento e conhecimento mais acurado da
própria prática. Este estudo revela, ainda, que a formação continuada
necessita potencializar o exercício da reflexão crítica que se fundamenta
na perspectiva da transformação social, isto é, ter por referencial um
projeto de emancipação social e pessoal.

Palavras-chave: Formação Continuada. Prática Pedagógica. Ensino/


Aprendizagem.

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MELO, Patrícia Sara Lopes. O Olhar dos Discentes sobre o Curso de
Licenciatura em Pedagogia da UFPI: Narrativas de formação. 2012.
102f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Centro de Ciências da
Educação, Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2012.

RESUMO

Esta pesquisa apresenta como tema as concepções dos discentes


sobre a formação oferecida pelo curso de Licenciatura em Pedagogia
da Universidade Federal do Piauí (UFPI), e traz como objetivos: geral –
investigar as concepções dos discentes sobre a formação oferecida pelo
Curso; específicos – descrever as concepções dos discentes; analisar
a Proposta Curricular em seus componentes estruturais para perceber
o tipo de pedagogo que se propõe formar; identificar as contribuições
do Curso para a atuação do pedagogo na concepção dos discentes;
caracterizar os limites da formação do pedagogo no Curso, expostos
pelos discentes da pesquisa. A partir desses objetivos, apresenta como
questões norteadoras: Que pedagogo o Curso se propõe a formar? Os
objetivos e o perfil presentes na Proposta Curricular do Curso estão
sendo efetivados? Quais as contribuições do Curso na formação
profissional segundo as concepções dos discentes? Quais os limites
encontrados no processo de formação pelos discentes no Curso de
Pedagogia? Essas proposições surgiram a partir do momento que foi
possível conhecer as ambiguidades históricas, referentes ao perfil do
pedagogo; o posicionamento do Curso frente às mudanças educativas
e legislativa; e a oportunidade de ter vivenciado a experiência de ser
discente do curso de Licenciatura em Pedagogia da UFPI. Para tanto,
foi necessária uma revisão de literatura sobre formação do pedagogo
que fundamentasse as discussões. Eis alguns teóricos que discutem
esse aspecto: Libâneo (1998, 2002, 2006, 2008), Pimenta (1998, 2002),
Franco (2002), Silva (2002), Brzezinski (1996, 2003) e outros. Este
trabalho, devido à complexidade de seu estudo, apresenta-se como uma
pesquisa narrativa, com abordagem qualitativa, trazendo as histórias de
vida como técnica investigativa, que conta como recurso de produção de
dados o desenvolvimento da escrituração de um memorial de formação e
a realização de entrevistas semiestruturadas, orientadas por um roteiro.
Para estruturação do enfoque teórico-metodológico, dentre os autores
utilizados, destaca: Guedes-Pinto, Silva e Gomes (2008); Poirier, Clapier-
Valladon e Raybaut (1999). Os dados produzidos foram organizados
com base nos seguintes eixos: O ingresso no curso de Licenciatura em
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Pedagogia da UFPI; Entendimento conceitual; Efetivação da Proposta
Curricular; e Sugestões para superação dos limites. Com base nessas
orientações, as análises dos dados revelaram que, dentre os motivos
do ingresso no Curso, a concentração maior está na identificação e na
facilidade de acesso. Foi apontado que a contribuição maior do Curso
é a formação teórica, enquanto que o limite evidenciado diz respeito à
ênfase na formação docente. O desdobramento deste estudo apresenta
discussões teórico-empíricas sobre a formação do pedagogo, situando
o contexto local de produção das narrativas, bem como a consideração
das disposições legais. Portanto, esta pesquisa se apresenta como
referência para permanentes discussões em torno da formação do
pedagogo.

Palavras-chave: Curso de Pedagogia. Concepção de Formação.


Formação de Pedagogo.

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SILVA, Maria do Rosário de Fátima Vieira da. Mulher Afrodescendente
na Docência Superior em Parnaíba: Memórias da Trajetória de Vida e
Ascensão Social. Dissertação (Mestrado em Educação).178f. Programa
de Pós-Graduação em Educação, Centro de Ciências da Educação,
Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2012.

RESUMO

A presente dissertação evidencia a história de vida e formação de


professoras afrodescendentes que atuam no ensino superior em
Parnaíba. De forma geral, o estudo investiga o processo de inserção
da mulher afrodescendente na docência superior em Parnaíba.
Estabelece diálogo com autores da Nova História Cultural: Pesavento
(2005), Chartier (1990), Le Goff (2003); da História da Educação:
Ferro (2009), Lopes (2009), Lopes e Galvão (2001); da História e
Memória: Halbwachs (1990), Bosi (2003), Félix (1998), Pollak (1989);
das Narrativas: Josso (2004), Dominicé (1988), Souza (2006, 2008);
de Raça e Etnia: Cunha Júnior (2005, 2011), Gomes (1995), Jaccoud e
Beghin (2002), Jaccoud (2008), Munanga (2005, 2007, 2008), Boakari
(1994, 1998, 2007), Teixeira (2003, 2006), Paixão (2010), Henriques
(2001, 2002); de Gênero: Scott (1990), Louro (1997), Gonçalves
(2006), Perrot (1988); de Identidade: Hall (1998, 2003, 2005, 2006),
Silva (2000), Dubar (2005); de Mobilidade Social: Hasenbalg e Silva
(1988, 1999, 2003), entre outros teóricos como Bourdieu (1994, 1998,
1999, 2007) e Foucault (1979, 1996, 2007). A abordagem da pesquisa
é de natureza qualitativa de cunho narrativo e tem como instrumento
de produção dos dados o memorial de vida e formação elaborado por
quatro professoras afrodescendentes, duas da Universidade Estadual
do Piauí – UESPI e duas da Universidade Federal do Piauí – UFPI,
ambas na cidade de Parnaíba – PI. Aliada ao memorial utiliza como
técnica complementar a entrevista narrativa. A análise dos dados
está fundamentada na proposta de Bardin (2006) que trabalha com
a técnica de análise de conteúdo. A pesquisa aponta entre outras
questões a educação como a principal via de acesso para superação
das barreiras que historicamente foram impostas a esse grupo de
mulheres; a existência de um projeto educacional por parte da família
como decisiva para a conquista da ascensão social. Aponta, ainda, sobre
o enfrentamento de dificuldades para o exercício da profissão docente
no ensino superior, espaço privilegiado, onde tiveram que provar sua
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competência e a desconstrução da crença da suposta incapacidade
intelectual da mulher afrodescendente.

Palavras-chave: Mulher Afrodescendente. Raça. Gênero. Docência


Superior. Educação.

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CUNHA, Djanira Espírito Santos Lopes. Educação de Jovens
e Adultos: tensões e interações entre o currículo e a prática
pedagógica. Dissertação (Mestrado em Educação). 140f. Programa
de Pós-Graduação em Educação, Centro de Ciências da Educação,
Universidade Federal do Piauí, 2012.

RESUMO

A presente dissertação é o produto de uma investigação tendo como


objeto de estudo o currículo e a prática pedagógica vivenciada no
interior das escolas, influenciadas pelas propostas curriculares oficiais.
Assim, as discussões giraram em torno do problema evidenciado,
buscando investigar em que medida as tensões e interações resultantes
da concepção dos professores sobre o currículo oficial interferem no
desenvolvimento das praticas pedagógicas na modalidade Educação
de Jovens e Adultos (EJA), objetivando analisar a concepção dos
professores sobre o currículo oficial, visando à superação de tensões
e interação com as práticas pedagógicas desenvolvidas na escola.
Trata-se de uma pesquisa qualitativa de caráter interpretativo, do tipo
descritivo, fundamentada, sobretudo, nos pressupostos apresentados
por Bortoni-Ricardo (2008), Flick (2009), Gil (1999), González Rey
(2010), Oliveira (2007). O corpus desta investigação foi constituído por
dados produzidos através de questionário, entrevista semi-estruturada
e grupo focal, realizados com os professores que atuam na EJA na
rede de ensino estadual do Piauí e nos sistemas municipais de ensino
de Teresina, Bom Jesus, Floriano e Parnaíba, visando a encontrar nos
dados coletados respostas para a questão que norteou o estudo: como
a concepção dos professores sobre o currículo oficial da Educação de
Jovens e Adultos contribui para superação de tensões e consolidação de
práticas pedagógicas no contexto escolar? Os dados foram organizados
em categorias e interpretados à luz da técnica da Análise de Discurso,
a partir das concepções de Bardin (2009), Fairclough (2008), Focault
(2009), Gracia (2004), Maingueneau (1997), May (1993), Nicolaci-da-
Costa (2007), Pêcheux (2008). A investigação está embasada nas
formulações teórico-conceituais que abordam a problemática da EJA
na visão de teóricos estudiosos da temática evidenciada, como: Arroyo
(2001, 2011), Brunel (2004), Di Pierro (2010), Haddad (2003, 2007),
Moura (2003, 2006, 2007), Oliveira (2010), Oliveira (2001, 2008), Paiva
(2007) dentre outros. Na perspectiva do currículo, fundamenta-se em
Apple (1999), Goodson (1995), Macedo (2007, 2011), Moreira e Silva
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(1999), Pacheco (1996), Sacristán (2000), Silva (2005). A relevância
do estudo incide na contribuição para a pesquisa em educação,
tendo em vista possibilitar uma análise sobre o currículo praticado e o
prescrito no contexto da prática pedagógica. Os resultados apontam
para a predominância da concepção de currículo como um conjunto de
conteúdos programados e distribuídos em disciplinas, não alcançando,
ainda, o suporte desejado para o trabalho docente. No caso específico
da EJA, foco do estudo, mesmo com a existência da proposta oficial,
desde 2000, ainda não é reconhecida pela maioria dos interlocutores,
que preferem sustentar sua prática orientada pelo livro didático, apesar
de não reconhecer que não atende às necessidades do aluno. As
tensões vivenciadas na prática explicitam angústias, improvisações
e inconclusões do trabalho docente, dificultando as interações entre
professor, aluno e conhecimento, e a possibilidade de um trabalho
participativo e de qualidade. Diante disso, faz-se necessário uma
publicidade maior das propostas curriculares existentes no contexto
escolar, a fim de redimensionar as práticas pedagógicas desenvolvidas
no sentido de promover discussões coletivas que considerem o currículo
como fonte de todos os aspectos da realidade escolar, com vistas ao
alcance da qualidade do processo de ensino e aprendizagem, no âmbito
da educação de pessoas jovens e adultas.

Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos. Currículo. Prática


Pedagógica.

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CARVALHO, Lília Cristiana Lopes de. Pedagogo da Educação Infantil:
significados e sentidos da atuação profissional. Dissertação (Mestrado
em Educação). 110 f. Programa de Pós-graduação em Educação, Centro
de Ciências da Educação, Universidade Federal do Piauí, 2012.

RESUMO

Este trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa que teve


como objetivo investigar os significados e os sentidos atribuídos pelo
pedagogo da Educação Infantil à sua atuação profissional no município
de Teresina-Piauí. A abordagem teórico-metodológica adotada foi a
Psicologia Sócio-Histórica, com especial destaque para as categorias
significado e sentido, pensamento e linguagem. Teve como participantes
quatro pedagogas dos Centros Municipais de Educação Infantil de
Teresina – PI. Para a produção de dados foi realizada a entrevista
narrativa e para análise foi focada em cinco eixos temáticos: motivos
que orientaram a escolha para atuar na Educação Infantil; compreensão
sobre a atuação do pedagogo; reconhecendo-se como pedagoga;
ações que caracterizam a atuação do pedagogo e desafios da atuação
profissional. A interpretação dos dados deu-se à luz de cada narrativa,
buscando a aproximação com as zonas de sentido, partindo da empiria
à crítica, tendo como suporte as proposições de Bruno (2008), Placco
(2004, 2008, 2010), Libâneo (2010), Pimenta (2006), Rangel (2011),
Souza (2008), Leontiev (1978, 1984), Vigotski (1998). Analisando os
sentidos atribuídos pelas pedagogas quanto aos motivos que as levaram
a atuar na Educação Infantil, percebeu-se que não tinham conexão
com sua atividade, pois estavam relacionados aos aspectos pessoais
e à autopromoção, por acreditarem que o trabalho do pedagogo seja
mais fácil do que permanecer em sala de aula, como professor. A
compreensão sobre a atuação do pedagogo foi sendo constituída a
partir de significados sociais construídos ao longo da história, em que
o pedagogo é “bombeiro que apaga fogo em todo lugar”, atuando em
situações emergenciais. O seu reconhecimento como pedagogas, a
partir das vivências e das ações desenvolvidas nos CMEIs, proporcionou
a identificação de novos sentidos direcionados ao acompanhamento
das atividades do professor para o bom trabalho na sala de aula e
para que a criança aprenda. Junto a esses novos sentidos também
aparecem desafios à atuação do pedagogo, como a burocratização
na realização das ações pedagógicas; a necessidade de formação
continuada; e a busca constante pelas boas relações interpessoais.
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Contudo, não provoca o desvio do foco do pedagogo à sua atividade.
Como resultado, foi constatado que os sentidos constituídos pelas
pedagogas acerca da sua atuação profissional se aproximam das suas
ações em uma perspectiva de acompanhamento do processo de ensino
e de aprendizagem, significado social assumido pela atuação no Centro
Municipal de Educação Infantil, que considera as particularidades desse
contexto e a importância de seu papel. As considerações apontam,
ainda, que os significados e os sentidos denotam que elas pretendem
mediar o movimento entre o professor e o desenvolvimento social da
criança, contribuindo para o processo de ensino-aprendizagem.

Palavras-chave: Pedagogo. Educação Infantil. Significado e Sentido.

308 Linguagens, Educação e Sociedade – Teresina, Ano 17, n. 27, jul./dez. 2012

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LÔBO, Soraya Oka. Os desafios da/na Prática Pedagógica na
Educação Profissional Tecnológica: O Ser e o Fazer do Professor-
Tutor à Distância. 2012. 198f. Dissertação (Mestrado em Educação)
– Centro de Ciência da Educação, Universidade Federal do Piauí,
Teresina, PI, 2012.

RESUMO

Esta pesquisa realizada no Colégio Agrícola de Floriano-CAF tem


como objeto de estudo os desafios da/na prática pedagógica de seis
professores-tutores a distância. O objetivo geral é investigar os desafios
da/na prática pedagógica na educação profissional e tecnológica
do CAF/UFPI integrante da Rede e-Tec/Brasil. A justificativa deste
trabalho centra-se nas experiências docentes e no trabalho inerente
à coordenação do ensino presencial, bem como através de vivências
na Educação a Distância-EaD. A relevância desse estudo se destaca
no intuito de identificar os desafios e, a partir dele, promover estudos
e discussões para melhoria da qualidade da educação profissional
e tecnológica, principalmente, nesta modalidade à distância. No
que concerne aos aspectos teórico-metodológicos, conta-se com as
contribuições de Preti (2005), Mattar (2011), Coll e Monereo (2010), Silva
(2003, 2011), Bauer e Gaskell (2000), Bogdan e Biklen (1994), Bertaux
(2010), Perrenoud (1993, 1997, 2000), Charlot (2009), Behrens (2005),
Sacristán; Pérez-Gómez (1998) entre outros. Trata-se, de um estudo de
natureza qualitativa, contemplando os aspectos da pesquisa narrativa.
Na produção dos dados utiliza-se as técnicas da entrevista narrativa e da
observação analítica do ambiente virtual de aprendizagem. Para analisar
os dados se emprega a técnica de análise de conteúdo, sugerido por
Bardin (1977), que possibilita a partir dos mesmos a organização em
03 (três) EIXOS, os quais são: EIXO 1: As Funções do Professor-Tutor
a Distância – (O SABER SER); EIXO 2: Caracterização da Prática
Pedagógica dos Professores-tutores a distância (O SABER FAZER),
se refere às ações (comportamentos) de como os professores-tutores
a distância atuam no modelo híbrido; EIXO 3: Desafios da/na Prática
Pedagógica dos Professores-tutores a Distância, satisfazendo, assim,
o objeto de estudo desta pesquisa. Tanto o Eixo 1, quanto o Eixo 2
revelam 04 (quatro) categorias: Pedagógica, Social, Gerencial e Suporte
Técnico. Enquanto que no Eixo 3, revelam 05 (cinco) categorias: não
linearidade, planejamento, conteúdo, didática e registro escrito. O
resultado do estudo constata as funções criadas por Berge (1995, 1996),
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uma vez que incide com os desafios do Ser e do Fazer dos saberes
necessários a se trabalhar na EaD, especialmente no momento online.
Constata-se também que os professores-tutores que estão a frente do
processo, enfrentam os desafios da/na sua prática pedagógica, como
também toda a equipe CAF/UFPI integrante da Rede e-Tec/Brasil, a
fim (re)construir-se e delinear-se novas práticas como um processo de
melhoria na qualidade do ensino.

Palavras-chave: Prática Pedagógica. Desafios. Professor-Tutor.


Educação a Distância.

310 Linguagens, Educação e Sociedade – Teresina, Ano 17, n. 27, jul./dez. 2012

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LEAL, Lúcia Maria de Sousa. Saber ensinar língua materna: vivências
da prática pedagógica no ensino médio. Dissertação (Mestrado em
Educação). 157f. Programa de Pós-Graduação em Educação, Centro
de Ciências da Educação, Universidade Federal do Piauí, 2012.

RESUMO

Este estudo constitui pesquisa realizada junto ao Programa de Pós-


Graduação em Educação – PPGEd e tem como título “Saber ensinar
língua materna: vivências da prática pedagógica no ensino médio”.
Reflete inquietações profissionais e pessoais acerca do como aprender
e ensinar língua materna na ação docente nos meandros da prática
pedagógica, o que configura a motivação para seu desenvolvimento.
Tem como objeto de estudo a construção do saber ensinar língua
materna na vivência da prática pedagógica no ensino médio, o que
gera a produção das seguintes questões norteadoras: Qual o perfil
profissional dos professores de língua materna? Como se dá a prática
pedagógica dos professores de língua materna? Que fatores concorrem
para a consolidação do processo de saber ensinar língua materna no
ensino médio? Estabelece como objetivo geral o propósito de investigar
a construção do saber ensinar língua materna na vivência da prática
pedagógica no ensino médio e define como objetivos específicos traçar
o perfil profissional dos professores de língua materna; caracterizar
a prática pedagógica dos professores; analisar os fatores que
concorrem para a consolidação do processo de ensinar e aprender
língua portuguesa no nível referido. Recorre aos estudos de Imbernón
(2010a; 2010b), Schön (2000), Zeichner (1993), Woods (1999), como
fundamentação teórica central. Fundamenta-se, também, em autores
como Nóvoa e Finger (2010), ao tratar do paradigma biográfico,
associado à história de vida, enquanto seu princípio metodológico
orientador. A opção pelas histórias de vida justifica-se, na forma de sua
natureza narrativa e retrospectiva e, assim, possibilitarem um melhor
e mais aprofundado conhecimento sobre os processos formativos dos
professores, sobre o contexto da prática pedagógica na articulação com
as demandas do ser professor de um dado grau de ensino, bem como
sobre a construção docente e do saber ensinar. Utiliza instrumentos de
produção de dados, quais sejam: questionário, memorial de formação
e a entrevista autobiográfica. Para efeito de análise delineia categorias
cujos dados foram analisados com base em Bardin (1977), com o
emprego da técnica análise de conteúdo. As análises narrativas revelam
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que os professores de língua materna constroem o processo de saber
ensinar durante o percurso da formação inicial e continuada, associado
à aquisição e à produção dos saberes concernentes ao exercício
docente. A compreensão que emerge é que a construção do processo
de saber ensinar língua materna na vivência da prática pedagógica no
ensino médio se consolida por meio de uma tessitura entre o pessoal
e o profissional, com o acúmulo de experiências vivenciadas na prática
pedagógica, especialmente no que tange ao compartilhamento de
experiências entre os que estão inseridos no contexto da ação docente.

Palavras-chave: Formação de Professor. Vivências da Prática


Pedagógica. Pesquisa Narrativa. Saber Ensinar.

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ARAÚJO, Wanna Santos de. A formação Inicial e a prática pedagógica
de professores de Biologia de Bom Jesus-PI: articulações possíveis.
2012. 113f Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal
do Piauí, Programa de Pós-Graduação em Educação, Teresina, 2012.

RESUMO

O estudo tem como problema de pesquisa: quais as influências da


formação inicial na prática pedagógica dos professores de Biologia,
do Ensino Médio, de Bom Jesus? Seu objetivo geral é investigar as
influências da formação inicial na prática pedagógica dos professores de
Biologia do Ensino Médio, de Bom Jesus. Especificamente, pretende:
traçar o perfil dos docentes de Biologia; conhecer as técnicas de
ensino e os recursos didáticos utilizados nas aulas de Biologia; listar
os conteúdos de Biologia que são abordados no Ensino Médio, de Bom
Jesus-PI; caracterizar a prática pedagógica dos docentes de Biologia;
analisar a ocorrência da articulação da prática pedagógica com a
formação inicial do docente de Biologia. Como aporte teórico apoia-se
em Alarcão (2001), Carvalho (1993), Chizzotti (2010), Krasilchik (1987,
2000), Mendes Sobrinho (2002, 2006, 2008, 2011), Marandino (2009),
Nóvoa (1995), Pimenta (2010), Souza (2009), Vasconcelos e Lima
(2010), Tardif (2002), dentre outros autores que estudam a temática.
Emprega-se para a coleta de dados o questionário, a fim de traçar o perfil
dos docentes pesquisados; a entrevista semiestruturada para constatar
a partir das falas dos docentes como eles caracterizam sua formação
inicial e suas práticas pedagógicas; e a observação livre, tanto da ação
docente como do espaço físico das escolas para perceber na prática as
revelações das falas coletadas na entrevista. Constituem-se sujeitos da
pesquisa cinco docentes de Biologia, do Ensino Médio, da cidade de
Bom Jesus-PI e como campo empírico duas escolas públicas: Centro de
Ensino Médio de Tempo Integral (CEMTI) – Franklin Dória, vinculado ao
Estado e, o Colégio Agrícola de Bom Jesus (CABJ), instituição federal.
A análise de dados orienta-se em Bardin (2011) que trabalha com a
técnica de análise de conteúdo. Os dados produzidos encontram-se
agrupados e categorizados em duas categorias: formação inicial e
práticas pedagógicas, decorrentes subcategorias. Como conclusões
apresenta lacunas no processo de formação inicial dos docentes, uma
formação destoante da atuação docente; práticas pedagógicas e a
formação inicial pouco articuladas, tanto no tocante aos conhecimentos
pedagógicos quanto aos conteúdos específicos da área. Aponta também
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que os docentes consideram o livro didático um instrumento básico para
sua prática, embora tentem buscar outras formas que complementem
esse instrumento. Conclui que quanto ao contato dos professores com
os PCNEM, se revela um guia para subsidiar a prática docente, bem
como ao trabalho docente, percebendo-se que estão muito aquém da
realidade de seus contextos de sala de aula.

Palavras-chave: Formação Inicial. Prática Pedagógica. Biologia. Ensino


Médio.

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LINGUAGENS, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE
REVISTA SEMESTRAL DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
EDUCAÇÃO DA UFPI

INSTRUÇÕES PARA O ENVIO DE TRABALHOS


NORMAS PARA COLABORAÇÕES

1 Linguagens, Educação e Sociedade -ISSN –1518-0743 – é a Re-


vista de divulgação científica do Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal do Piauí. Publica, preferencial-
mente, resultados de pesquisas originais ou revisões bibliográficas
desenvolvidas por autor(es) brasileiros e estrangeiros sobre Edu-
cação.

2 Linguagens, Educação e Sociedade aceita para publicação textos


escritos em português, inglês, italiano, francês ou em espanhol.

3 Os artigos recebidos são apreciados por especialistas na área


(pareceristas ad hoc) e/ou pelo Conselho Editorial, mantendo-se
em sigilo a autoria dos textos.

4 A apresentação de artigos deve seguir o disposto na NBR 6022


da ABNT e possuir a seguinte estrutura: título, resumo, palavras-
chave, abstract, keywords; texto (introdução, desenvolvimento e
conclusão) e elementos pós-textuais: Referências, apêndices e
anexos. Referências e citações devem seguir as normas específi-
cas da ABNT, em vigor.

5 O resumo (250 palavras aproximadamente) deve sintetizar o tema,


o(s) objetivo(s), o problema, Referências teóricas, a metodologia,
resultado(s) e as conclusões do artigo.

6 Os artigos devem ser encaminhados ao editor, para o endereço


eletrônico - [email protected], em versão Word for
Windows, fonte Times New Roman, tamanho 12, espaçamento 1,5
e em versão PDF. O texto deve conter entre 18 e 25 páginas, in-
cluindo as referências, resumo e abstract. A estrutura do artigo, o
resumo, as citações diretas e indiretas, as referências, imagens,
quadros e tabelas devem obedecer às normas da ABNT em vigor;
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7 Na identificação do(s) autor(es), em arquivo à parte, deverão con-
star o título do trabalho, o(s) nome(s) completo(s) do(s) autor(es),
titulação, vinculação institucional, endereços residencial e profis-
sional completos, e-mail, telefone e, quando for o caso, apoio e
colaborações;

8 Para citações, organizações e Referências, os colaboradores de-


vem observar as normas em vigor da ABNT. No caso de citações
diretas recomenda-se a utilização do sistema autor, data e página
e nas indiretas o sistema autor-data. As citações de até três linhas
devem ser incorporadas ao parágrafo e entre aspas. As citações
superiores a três linhas devem ser apresentadas em parágrafo es-
pecífico, recuadas 4 cm da margem esquerda, com letra tamanho
10 e espaçamento simples entre linhas.

9 Referências citadas no texto devem ser listadas em item específico


e no final do trabalho, em ordem alfabética, segundo as normas da
ABNT/ NBR 6023, em vigor.

a) Livro (um só autor):


FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17. ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
MENDES SOBRINHO, J.A. de C. Ensino de
ciências naturais na escola normal: aspectos
históricos. Teresina: Ed. UFPI, 2002.

b) Livro (até três autores):


ALVES-MAZZOTTI, A.J.; GEWANDSZNAJDER, F. O método
científico nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e
qualitativa. 2. ed. São Paulo: Pioneira, 2002.

c) Livros (mais de três autores):


RICHARDSON, R. J. et al. Pesquisa social:
métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999.

d) Capítulo de livro:
CHARLOT, B. Formação de professores: a pesquisa e a política
educacional. In: PIMENTA. S. G.; GHEDIN, E. (Orgs.). Professor
reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. São Paulo:
Cortez, 2002. p. 89-108.
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e) Artigo de periódico:
IBIAPINA, I. M. L de M.; FERREIRA, M. S. A
pesquisa colaborativa na perspectiva sóciohistórica. Linguagens,
Educação e Sociedade, Teresina - PI, n. 12, p. 26-38, jan./jun.
2005.

f) Artigo de jornais:
GOIS, A.; Constantino. L. No Rio, instituições
cortam professores. Folha de S. Paulo, São
Paulo, 22 jan. 2006. Cotidiano, caderno 3, p.
C 3.

g) Artigo de periódico (eletrônico):


IBIAPINA, I. M. L de M.; FERREIRA, M. S. A pesquisa colaborati-
va na perspectiva sóciohistórica. Linguagens, Educação e Socie-
dade, Teresina - PI, n. 12, p. 26-38, 2005. Disponível em <http://
www.ufpi.br>mestreduc/ Revista.htm. Acesso em: 20 dez. 2005.

h) Decreto e Leis:
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federa-
tiva do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.

i) Dissertações e teses:
BRITO, A. E. Saberes da prática docente alfabetizadora: os senti-
dos revelados e ressignificados no saber-fazer. 2003. 184 f. Tese
(Doutorado em Educação) – Centro de Ciências Sociais Aplica-
das, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2003.

j) Trabalho publicado em eventos científicos:


ANDRÉ, M. E. D. A. de. Entre propostas uma proposta pra o en-
sino de didática. In: ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E
PRÁ-TICA DE ENSINO, VIII, 1996, Florianópolis. Anais .... Flori-
anópolis: EDUFSC, 1998. p. 49.

10 A responsabilidade por erros gramaticais é exclusivamente do(s)


autor(es), constituindo-se em critério básico para a publicação.

11 O conteúdo de cada texto é de inteira responsabilidade de seu(s)


respectivo(s) autor(es).

12 Os textos assinados são de inteira responsabilidade de seus au-


tores.
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13 O Conselho Editorial se reserva o direito de recusar o artigo ao
qual foram solicitadas ressalvas, caso essas ressalvas não aten-
dam às solicitações feitas pelos árbitros.

14 A aceitação de texto para publicação implica na transferência de


direitos autorais para a Revista.

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
CENTRO DE CIENCIAS DA EDUCAÇÃO “PROF. MARIANO DA SILVA NETO”
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO - PPGEd

FORMULÁRIO DE PERMUTA

A Universidade Federal do Piauí (UFPI), por meio do Programa de Pós-Graduação em Educação


(PPGEd) está apresentando o Número ____________________________ , da Revista
“Linguagens, Educação, Sociedade” e solicita o preenchimento dos dados a seguir relacionados:

Identificação Institucional

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Endereço: ________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
CEP:________________Cidade: ______________________ Estado: _________________
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( ) Há interesse institucional de continuar recebendo a Revista Linguagens, Educação,


Sociedade como doação (sujeito a análise e confirmação).
( ) Há interesse institucional de continuar recebendo a Revista Linguagens, Educação,
Sociedade como permuta.
Em caso positivo, indicar, a seguir: título, área e periodicidade da revista a ser permutada.
________________________________________________________________________
_ ________________________________________________________________________
_ _________________________________________________________________________

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Assinatura do Representante Institucional

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Universidade Federal do Piauí
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Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGEd) – Prédio Novo
Campus Universitário “Ministro Petrônio Portella” - Ininga
TELEFAX: (86) 3237-1277
64.049-550
<www.ufpi.br/ppged/index/pagina/id/1766>

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REVISTA LINGUAGENS, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE
Universidade Federal do Piauí
Centro de Ciências da Educação
Programa de Pós-Graduação em Educação -PPGEd
(Prédio Novo)
Campus Min. Petrônio Portela - Ininga
64.049.550 Teresina – Piauí
Fone: (086) 3237-1214/3215-5820. Fone/Fax: 3237-1277
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Nome: ....................................................................................................................................
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Cidade: .................................................. CEP: .................. - ........... UF: ..............................
Telefone: ...................................... Fax: ................................... E-Mail: .................................

Professor:( ) Educação Básica ( ) Educação Superior ( )Outros:........................................

Assinatura a partir de 2006 (4 números) – R$ 50,00 – Brasil Número avulso – R$ 20,00 –


Brasil

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