Cap. I: Escola Secundária de Monserrate Teste de Português 11º D
Cap. I: Escola Secundária de Monserrate Teste de Português 11º D
TESTE DE PORTUGUÊS
11º D
março 2020
Cap. I
Os quinze anos de Simão têm aparência de vinte. É forte de compleição; belo homem com as
feições de sua mãe, e a corpulência dela; mas de todo avesso em génio. Na plebe de Viseu é que
ele escolhe amigos e companheiros. Se D. Rita lhe censura a indigna eleição que faz, Simão
zomba das genealogias, e mormente do general Caldeirão que morreu frito. Isto bastou para ele
5 granjear a malquerença de sua mãe. O corregedor via as coisas pelos olhos de sua mulher, e
tomou parte no desgosto dela, e na aversão ao filho. As irmãs temiam-no, tirante Rita, a mais
nova, com quem ele brincava puerilmente, e a quem obedecia, se lhe ela pedia, com meiguices
de criança, que não andasse com pessoas mecânicas.
Cap. II
No espaço de três meses fez-se maravilhosa mudança nos costumes de Simão. As
10 companhias da ralé desprezou-as. Saía de casa raras vezes, ou só, ou com a irmã mais nova, a
sua predileta. O campo, as árvores, e os sítios mais sombrios e ermos eram o seu recreio. Nas
doces noites de estio demorava-se por fora até ao romper da alva. Aqueles que assi o viam
admiravam-lhe o ar cismador e o reconhecimento que o sequestrava da vida vulgar. Em casa
encerrava-se no seu quarto, e saía quando o chamavam para a mesa. (…)
15 Simão Botelho amava. Aí está uma palavra única, explicando o que parecia absurda reforma
aos dezassete anos.
Amava Simão uma sua vizinha, menina de quinze anos, rica herdeira, regularmente bonita e
bem-nascida. Da janela de seu quarto é que ele a vira pela primeira vez, para amá-la sempre.
Não ficara ela incólume da ferida que fizera no coração do vizinho: amou-o também, e com mais
20 seriedade que a usual nos seus anos.
Cap. X
Apeou Mariana defronte do mosteiro, e foi à portaria chamar a sua amiga Brito.
- Que boa moça! – disse o padre capelão, que estava no raro lateral da porta, praticando com
a prioresa, acerca da salvação das almas, e dumas ancoretas de vinho do Pinhão que ele
recebera naquele dia, e do qual tinha engarrafado um almude para tonizar o estômago da
25 prelada.
- Que boa moça! – tornou ele, com um olho nela e outro no raro, onde a ciumosa prioresa se
estava remordendo.
- Deixe lá a moça, e diga quando há de ir a servente buscar o vinho.
- Quando quiser, senhora prioresa; mas repare bem nos olhos, no feitio, naquele todo da
30 rapariga! (…)
Donde é vossemecê? – disse brandamente o padre capelão.
- Sou da aldeia – respondeu Mariana.
- Isso vejo eu; mas de que aldeia é?
- Não me confesso agora.
35 - Mas não faria mal se se confessasse a mim, menina, que sou padre…
- Bem vejo.
- Que mau génio tem!...
- É isto que vê. (…)
Numa das janelas, através das reixas de ferro, viu ela uma senhora sem hábito.
40 - Será aquela? – perguntou Mariana ao seu coração, que palpitava – Se eu fosse amada como
ela!...
(…) A voz de Mariana tremia, quando D. Teresa lhe perguntou quem era.
- Sou a portadora desta carta para Vossa Excelência.
- É de Simão! – exclamou Teresa.
45 - Sim, minha senhora.
A reclusa leu convulsiva a carta duas vezes, e disse:
- Eu não posso escrever-lhe, que me roubaram o meu tinteiro, e ninguém me empresta um.
Diga-lhe que vou de madrugada para o convento de Monchique do Porto. Que não se aflija,
porque eu sou sempre a mesma. Que não venha cá, porque isso seria inútil, e muito perigoso.
50 Que vá ver-me ao Porto, que hei de arranjar modo de lhe falar. Diga-lhe isto, sim?
- Sim, minha senhora.
- Não se esqueça, não? Vir cá, por modo nenhum. É impossível fugir, e vou muito
acompanhada. Vai o primo Baltasar e as minhas primas, e meu pai, e não sei quantos criados de
bagagem e das liteiras. Tirar-me no caminho é uma loucura com resultados funestos. Diga-lhe
55 tudo, sim? (…)
- Adeus, adeus – disse Teresa, sobressaltada. – Tome lá esta lembrança como prova da minha
gratidão.
E tirou do dedo um anel de ouro, que ofereceu a Mariana.
- Não aceito, minha senhora.
60 - Porque não aceita?
- Porque não fiz algum favor a Vossa Excelência. A receber alguma paga há de ser de quem
me cá mandou. Fique com Deus, minha senhora, e oxalá que seja feliz. (…)
Mariana, durante a veloz caminhada, foi repetindo o recado da fidalga; e, se alguma vez se
distraía deste exercício de memória, era para pensar nas feições da amada do seu hóspede, e
65 dizer, como em segredo, ao seu coração: “Não lhe bastava ser fidalga e rica: é, além de tudo,
linda como nunca vi outra!”. E o coração da pobre moça, avergando ao que a consciência lhe ia
dizendo, chorava.
Responde às questões que se seguem com frases completas, bem estruturadas e ilustrando as
tuas respostas com expressões textuais.
1. Indica em que medida o comportamento de Simão está de acordo com o modelo do herói
romântico, tendo em conta os dois primeiros excertos. (20 pontos)
Simão, nos dois primeiros excertos, apresenta um comportamento revolucionário, rebelde e corajoso,
pois escolhia os seus próprios amigos e não permitia que lhe dissessem com quem andar. No entanto,
quando se apaixona pela sua vizinha Teresa acalma. Ainda assim, este defende sempre a sua honra e a
da sua amada.
2. Identifica o recurso expressivo presente em “Não ficara ela incólume da ferida que fizera no
coração do vizinho” (ll. 18-19) e comenta o seu valor expressivo. (16 pontos)
Metáfora
No último excerto conseguimos detetar uma certa inquietação por parte de Mariana quando vê D.
Teresa, pois esta era a verdadeira paixão de Simão e Mariana sentia-se triste por o seu amor pelo
mesmo não ser correspondido. Na verdade, Teresa não podia contactar com Simão pela rivalidade e
ódio entre famílias. Assim, foram-lhe tirados todos os meios de comunicação e esta pede a Mariana para
enviar uma mensagem. Com isto, podemos dizer que o amor por Simão traz tristeza a Mariana e prisão
a D. Teresa.
4. Apresenta duas características de Mariana, tendo em conta as suas falas e as suas atitudes,
comprovando com expressões textuais. (16 pontos)
Mariana mostra ser uma personagem nobre ao seu carácter (digna), pois perante o pagamento de D.
Teresa, Mariana não aceitou justificando-se: “Porque não fiz algum favor a Vossa Excelência. A receber
alguma paga há de ser de quem me cá mandou. Fique com Deus, minha senhora, e oxalá que seja feliz.”.
Efetivamente, Mariana mostra também ser uma pessoa reservada e de certa forma, altruísta, pois
mesmo estando a sofrer pelo amor não correspondido por Simão mostra todo o carinho e sinceridade a
D. Teresa.
5. Mostra em que medida, nestes excertos, é possível detetar a crítica social. (16 pontos)
Nestes excertos, conseguimos identificar uma crítica social. Na verdade, Mariana era uma rapariga do
povo e D.Teresa era uma pessoa com dinheiro. Desta forma, mal D.Teresa fez o pedido deu
inevitavelmente um anel de ouro a Mariana. Assim, se esta fosse uma pessoa com poder não lhe teria
oferecido um objeto tão material. Efetivamente, a requintada desvalorizou Mariana e nem se apercebeu
que o que ela desejava era uma coisa tão simplória como o amor de Simão.
O narrador tem um papel importante na obra e surge assim como uma figura sensível e apaixonada.
Efetivamente, crítica inúmeras vezes ações e a personalidade das personagens. Desta forma, diz que a
mudança de Simão perante a presença de Teresa foi “maravilhosa”. Porém, diz também que o amor de
D.Teresa por Simão apresenta mais “seriedade que a usual nos seus anos” o que nos diz que a fidalga já
teve bastantes amores na sua vida mas a que nenhum deu valor e remete-nos a alguma vulgaridade da
parte dela. Por fim, o narrador diz-nos que: “o coração da pobre moça, avergando ao que a consciência
lhe ia dizendo, chorava.” O que nos leva a pensar que Mariana por mais que se quisesse perder em
lágrimas, tinha de deixá-las no seu coração e não se deixar levar pela fraqueza de ser vista assim em
público.
Grupo II – 60 pontos
3. Classifica a oração “que me roubaram o meu tinteiro” (l.46). (6 pontos) Oração subordinada
adjetiva relativa restritiva.