SEB - Anjos e Demônios-eBook

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Copyright 2020 by

Paulo da Silva Neto Sobrinho (Paulo Neto)


Belo Horizonte, MG.

Capa:
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Revisão:
Hugo Alvarenga Novaes

Diagramação:
Paulo Neto
site: www.paulosnetos.net
e-mail: [email protected]

Belo Horizonte, 09 de abril de 2020.


Série O Espiritismo na Bíblia
1 – Anjos e Demônios

2 – Comunicação com os Mortos

3 – Evocação de Espíritos

4 – Imortalidade da Alma

5 – Influência dos Espíritos

6 – Mediunidade

7 – Reencarnação

8 – Imposição das mãos (O passe)

9 – A mulher

10 – Qual ressurreição: da carne, na carne ou é


a do Espírito?

2
Série O Espiritismo na Bíblia

Anjos e demônios

“E a gente só cresce em sabedoria


quando tem a coragem de trocar velhas
e superadas ideias por novas, não
simplesmente porque são novas, mas
porque têm algo mais avançado a nos
ensinar.” (HERMÍNIO C. MIRANDA)

Paulo Neto

3
Índice
Introdução..................................................................5

Os anjos nos textos bíblicos.......................................8


a) Antigo Testamento.............................................8
b) Novo Testamento.............................................23
Os demônios nos textos bíblicos..............................38
a) Antigo Testamento...........................................38
b) Novo Testamento.............................................43
Anjos (demônios) decaídos, como assim?...............52

Anjos e demônios segundo o Espiritismo.................69

Conclusão................................................................82

Referências bibliográficas........................................84

Dados biográficos do autor......................................89

4
Introdução

A princípio, afirmar que os anjos e demônios


são Espíritos humanos desencarnados, poderá
causar uma certa estranheza aos que se apegaram
aos dogmas impostos pelos teólogos de antanho.
Uma vez acostumados a receber informações de
seus líderes de que os anjos são uma criação divina
à parte, recusam a aceitar esse fato, ainda que, na
verdade, eles não sejam nada mais do que Espíritos
humanos desencarnados.

É bem curioso ver que muitos crentes das


religiões cristãs tradicionais acreditam piamente que
Deus tenha criado os anjos, mesmo que, em
Gênesis, primeiro livro da Bíblia, ao se relatar tudo
quanto Ele criou, não se faz nenhuma menção que
criara os seres designados de anjos.

O objetivo do presente estudo, portanto, é


provar tal assertiva, ou seja, que os anjos são
Espíritos humanos desencarnados, baseando-nos,
primeiramente, nos textos bíblicos e,

5
secundariamente, em opiniões de estudiosos das
Escrituras Sagradas.

“A verdade que liberta”, preconizada por Jesus,


só a conseguiremos quando olharmos os textos
bíblicos com visão crítica, única forma de nos
libertarmos dos dogmas que nos foram impostos
pelos teólogos do passado, que, por mais
conhecimento que tivessem, seguramente, perdem
em muito para os exegetas atuais, posto que esses
dispõem de mais recursos e informações científicas
do que aqueles.

Podemos citar, como um bom exemplo, o


desenvolvimento de análises dos textos, que podem
confirmar, ou não, a autoria dos nomes que
compõem vários de seus títulos.

As pesquisas arqueológicas, e as descobertas


de vários manuscritos de textos bíblicos, que nos
eram desconhecidos, certamente, nos proporcionam
uma base mais segura para essa análise.

Pessoalmente, empreendemos uma pesquisa


que resultou no ebook “Os nomes dos títulos dos
Evangelhos designam seus autores?” (1)

6
Informamos que nas transcrições e no texto
normal todos os grifos em negrito são nossos.
Quando ocorrer de não ser, avisaremos.

7
Os anjos nos textos bíblicos

a) Antigo Testamento

Um ponto que precisa ficar muito bem definido


é que, todas as vezes que aparecem as expressões
“anjo do Senhor” ou “Espírito do Senhor”, não as
devemos entender como se fosse a própria
divindade se manifestando ao homem, porquanto
“ninguém jamais viu a Deus” (João 1,18; 1 João
4,12).

Os anjos, como se sabe, são os executores da


vontade de Deus, o que se pode confirmar nas
seguintes passagens:

Salmos 34,7: “[…] O anjo do Senhor acampa-


se ao redor dos que o temem e os livra.”

Salmos 91,11: “Porque aos seus anjos dará


ordens a teu respeito, para que te guardem
em todos os seus caminhos.”

Salmos 103,20-21: “Bendizei ao Senhor,


todos os seus anjos, valorosos em poder, que
executais as suas ordens e lhe obedeceis à
palavra. Bendizei ao Senhor, todos os seus

8
exércitos, que fazei a sua vontade.”

A relação existente entre os anjos e os


Espíritos pode ser vista em Hebreus, carta que
anteriormente se presumia ser da autoria de Paulo,
mas hodiernamente não se sabe quem foi o autor
dela:

Hebreus 1,13-14: “Ora, a qual dos anjos


jamais disse: Assenta-te à minha direita, até
que eu ponha os teus inimigos por estrado dos
teus pés? Não são todos eles espíritos
ministradores, enviados para serviço a favor
dos que hão de herdar a salvação?”

Então, por esses textos, podemos dizer que os


anjos são Espíritos ministradores, ou seja, são
ministros que, de boa vontade e por prazer,
executam a vontade de Deus. Aliás, o próprio
significado da palavra anjo é o de “mensageiro”.

Vejamos a definição de anjo e de Espírito,


constante do Dicionário Prático Barsa:

Anjos. puros espíritos criados por Deus


provavelmente no mesmo tempo em que o resto da
criação. A palavra anjo quer dizer mensageiro e
designa algumas vezes a pessoa humana que faz
as vezes de mensageiro (ls 18,2; 33,7). Mas

9
ordinariamente usa-se esta palavra na Bíblia só
para designar os puros espíritos que atuam como
mensageiros divinos. Assim, Deus envia anjos para
anunciar sua vontade, para corrigir, punir, ensinar,
repreender, consolar (Sl 102,20; Mt 4,11; 13,49;
26,53). Mencionam as S. Escrituras
constantemente missões e aparições de anjos,
[…]. Alguns anjos rebelando-se contra Deus,
pecaram, foram expulsos do céu e condenados ao
inferno (2 Pdr 2,4). […]. (2)

Espírito. 1. A alma, principio de vida no


corpo, e que continua a viver depois da morte (I
Cor 5,3); [...]; 5. O demônio (Mc 5,13); 6. Um anjo
ou uma aparição (At 23,9); [...]; 10. No Antigo
Testamento designa, não a Terceira Pessoa da
Santíssima Trindade, mas simplesmente qualquer
manifestação externa de Deus. (3)

Encontramos três anjos cujos nomes são


mencionados em textos da Bíblia:

Gabriel (Daniel 8,16; 9,21; Lucas 1,19; 1,26);

Rafael (Livro Tobias), e

Miguel (Daniel 10,13.21; 12,1, Judas 1,9;


Apocalipse 12,7).

O detalhe bem curioso desses três nomes –


Gabriel, Rafael e Miguel – é que são os mesmos que
nós, seres humanos, damos aos nossos filhos, o que

10
torna extremamente viável serem eles nada mais
que Espíritos humanos desencarnados, fato que será
confirmado no desenrolar deste estudo.

Ressalte-se, ainda, que o nome Gabriel em


hebraico significa “homem de Deus” (4). Bem
sintomático, não?

Nossa pesquisa se dividirá em textos do Antigo


e do Novo Testamento, visando facilitar a
identificação dessa crença entre os judeus e, se for o
caso, confirmar sua presença até entre os cristãos
primitivos.

Vários são as narrativas que citam contatos


com seres espirituais, inclusive, muitos deles foram
confundidos como sendo com a própria divindade, o
que se explica pelo fato da total ignorância sobre os
naturais fenômenos psíquicos, tomados, por
superstição, como sobrenaturais.

Êxodo 3,2: “O anjo do Senhor apareceu-lhe


numa chama entre as sarças. Moisés prestou
atenção: a sarça ardia sem consumir-se.”

Se “ninguém jamais viu a Deus” (João 1,18; 1


João 4,12), como já dito, então, poderemos dizer

11
que o teor desse passo deveria ser este:

Êxodo 3,2: “Um anjo do Senhor apareceu-lhe


numa chama entre as sarças. Moisés prestou
atenção: a sarça ardia sem consumir-se.”

Ao se substituir o artigo definido “o”, que


antecede a palavra anjo, pelo indefinido “um”,
produz uma grande diferença naquilo que se deve
entender do texto.

Não bastasse isso, temos, em Atos dos


Apóstolos, algo bem interessante, senão vejamos:

Atos 7,30.35: “Passados quarenta anos,


apareceu-lhe um anjo no deserto do monte
Sinai, na chama de uma sarça que ardia. A
este Moisés que haviam rejeitado […] Deus o
enviou como libertador por meio do anjo
que lhe apareceu na sarça.”

Ora, esse passo vem justamente corroborar o


que falamos anteriormente, não foi “o anjo”, mas
“um anjo” do Senhor quem apareceu a Moisés.

Gênesis 19,1-3: “Ao anoitecer, os dois anjos


chegaram a Sodoma. Ló estava sentado à
porta da cidade e, ao vê-los, levantou-se para
os receber e prostrou-se com o rosto por
terra. E disse: 'Senhores, fiquem hospedados

12
em casa do seu servo, lavem os pés e, pela
manhã, continuarão seu caminho'. Mas eles
responderam: 'Não! Nós vamos passar a noite
na praça'. Ló insistiu tanto que eles foram para
a casa dele e entraram. Ló preparou-lhes uma
refeição, mandou assar pães sem
fermento, e eles comeram.”

Observamos que, os anjos, aos quais Ló


oferece sua hospitalidade, são tratados por
“Senhores”, que, inclusive, comem pães sem
fermento que lhes foram oferecidos.

É interessante ver como Russell Philip Shedd


(1929-2016), teólogo evangélico da Igreja Batista e
tradutor da Bíblia Shedd, explica tal ocorrência: “Tais
homens eram, na verdade, anjos que, pela
aparência, não se distinguiam, prontamente, dos
homens” (5)

Parece-nos que Shedd não quis se dobrar à


evidência, pois, está bem claro que esses anjos
tinham a aparência humana. Não nos iludamos,
porquanto isso não é senão pelo motivo deles serem
Espíritos humanos desencarnados.

Sobre o fato deles comerem, veremos, a


seguir, que, no livro de Tobias, pois é uma situação

13
que também pode acontecer.

A reverência de Ló ao “prostrar-se com o rosto


por terra” demonstra que os Anjos/Espíritos eram
tidos como seres supra-humanos, e, como já dito,
algumas vezes, confundidos com a própria
divindade, o que pode ser perfeitamente
comprovado em um trecho do capítulo 28 do
primeiro livro de Samuel, no qual se narra a aparição
do Espírito Samuel a Saul, por meio da pitonisa de
Endor:

“Samuel tinha falecido e todo o Israel o


chorara. Tinham-no sepultado em Ramá, sua
cidade. […] Os filisteus mobilizados vieram
acampar em Sunam, enquanto Saul ajuntava
os israelitas, acampando em Gelboé. Ao ver o
acampamento dos filisteus, Saul inquietou-se e
teve grande medo. E consultou o Senhor, o
qual não lhe respondeu nem por sonhos, nem
pelo urim, nem pelos profetas. O rei disse aos
seus servos: ‘Procurai-me uma necromante
para que eu a consulte’. ‘Há uma em Endor’
– responderam-lhe. Saul disfarçou-se, tomou
outras vestes e pôs-se a caminho com dois
homens. Chegaram, à noite, à casa da mulher.
Saul disse-lhe: ‘Predize-me o futuro,
evocando um morto; faze-me vir aquele que
eu te designar’. […] Disse-lhe então a mulher:

14
‘A quem evocarei?’. ‘Evoca-me Samuel.’ E a
mulher, tendo visto Samuel, soltou um grande
grito: ‘Por que me enganaste?’ – disse ela ao
rei –. ‘Tu és Saul!’ E o rei: ‘Não temas! Que
vês?’. A mulher: ‘Vejo um deus (6) que sobe da
terra’ Qual é o seu aspecto?’ ‘É um ancião,
envolto num manto.’ Saul compreendeu que
era Samuel e prostrou-se com o rosto por
terra.” (7)

O rei Saul ao perceber que o Espírito Samuel se


apresentou à necromante, incontinente “prostrou-se
com o rosto por terra” (v. 14), exatamente como Ló
fez diante dos anjos. Daí, acreditamos, não ser
impróprio, considerar que, de fato, Espírito e anjo
são a mesma coisa. Entendendo-se, portanto, o
primeiro, ou seja, o anjo como sendo Espírito
humano desencarnado.

15
Nessa imagem (8), temos retratada a atitude
do rei Saul perante o Espírito de Samuel. Da
esquerda para a direita: os dois servos do rei, a
pitonisa, Saul, de joelhos, e o Espírito Samuel.

Necromantes eram pessoas que praticavam a


necromancia, que se entendia como sendo um “meio
de adivinhação evocando um morto” ( 9), em outras
palavras, era a prática da evocação dos mortos para
fins de adivinhação.

O versículo 13 “vejo um deus que sobe da


terra”, em outras versões bíblicas, consta “Vejo um
espírito”. Sobre isso, trazemos algumas explicações
que tradutores bíblicos nos fornecem:

a) Em hebr. Um “elohim”, um ser sobre-humano


(cf. Gn 3,5; Sl 8,6). Só aqui aplicado aos mortos.
(10)

b) Vi deuses: i.e. um espírito (11)

c) Um deus que sobe da terra: a palavra


hebraica para significar Deus, também designa os
seres supra-humanos e, como neste caso, o
espírito dos mortos. Havia a convicção de que os
espíritos dos mortos estavam encerrados no sheol,
e este se situaria algures por baixo da terra. (12)

d) Um deus. Uma figura sobre-humana ou um

16
espírito (o de Samuel). (13)

Então, temos que em, pelo menos, alguns


casos, os Espíritos eram mesmo confundidos como
um deus.

Juízes 13,2-21: “Havia um homem de Zorá,


da linhagem de Dã, chamado Manoá, cuja
mulher era estéril e não tinha filhos. Apareceu
o Anjo do Senhor a esta mulher e lhe disse:
Eis que és estéril e nunca tiveste filho; porém
conceberás e darás à luz um filho. Agora, pois,
guarda-te, não bebas vinho ou bebida forte,
nem comas coisa alguma imunda; porque eis
que tu conceberás e darás à luz um filho sobre
cuja cabeça não passará navalha; porquanto o
menino será nazireu consagrado a Deus desde
o ventre de sua mãe; e ele começará a livrar a
Israel do poder dos filisteus. Então, a mulher
foi a seu marido e lhe disse: Um homem de
Deus, veio a mim; sua aparência era
semelhante à de um anjo de Deus,
tremenda; não lhe perguntei donde era, nem
ele me disse o seu nome. Porém me disse: Eis
que tu conceberás e darás à luz um filho;
agora, pois, não bebas vinho, nem bebida
forte, nem comas coisa imunda; porque o
menino será nazireu consagrado a Deus, desde
o ventre materno até ao dia de sua morte.
Então, Manoá orou ao Senhor e disse: Ah!

17
Senhor meu, rogo-te que o homem de Deus
que enviaste venha outra vez a nos ensine o
que devemos fazer ao menino que há de
nascer. Deus ouviu a voz de Manoá, e o Anjo
de Deus veio outra vez à mulher, quando
esta se achava assentada no campo; porém
não estava com ela seu marido Manoá.
Apressou-se, pois, a mulher, e, correndo,
noticiou-o a seu marido, e lhe disse: Eis que
me apareceu aquele homem que viera a
mim no outro dia. Então, se levantou Manoá,
e seguiu a sua mulher, e, tendo chegado ao
homem, lhe disse: És tu o que falaste a esta
mulher: Ele respondeu: Eu sou. Então, disse
Manoá: Quando se cumprirem as tuas
palavras, qual será o modo de viver do menino
e o seu serviço? Respondeu-lhe o Anjo do
Senhor: Guarde-se a mulher de tudo quanto
eu lhe disse. De tudo quanto procede da
videira não comerá, nem vinho nem bebida
forte beberá, nem coisa imunda comerá; tudo
quanto lhe tenho ordenado guardará. Então,
Manoá disse ao Anjo do Senhor: Permite-nos
deter-te, e te preparar um cabrito. Porém o
Anjo do Senhor disse a Manoá: Ainda que me
detenhas, não comerei de teu pão; e, se
preparares holocausto, ao Senhor o oferecerás.
Porque não sabia Manoá que era o Anjo do
Senhor. Perguntou Manoá ao Anjo do
Senhor: Qual é o teu nome, para que,
quando se cumprir a tua palavra, te

18
honremos? Respondeu-lhe o Anjo do
Senhor e lhe disse: Por que perguntas assim
pelo meu nome, que é maravilho? Tomou, pois,
Manoá um cabrito e uma oferta de manjares e
os apresentou sobre uma rocha ao Senhor; e o
Anjo do Senhor se houve maravilhosamente.
Manoá e sua mulher estavam observando.
Sucedeu que, subindo para o céu a chama que
saiu do altar, o Anjo do Senhor subiu nela; o
que vendo Manoá e sua mulher, caíram com o
rosto em terra. Nunca mais apareceu o Anjo
do Senhor a Manoá, nem a sua mulher;
então, Manoá ficou sabendo que era o
Anjo do Senhor.”

Certamente que se esse “Anjo” do Senhor não


tivesse uma aparência humana, os personagens
Manoá e sua mulher, não o tomariam como sendo
um homem de Deus.

Pode ser que surja questionamento, por parte


dos protestantes, quanto ao livro de Tobias, uma vez
que não o consideram como canônico, contrariando
os católicos. Que seja! Porém, não podem jamais
negá-lo como uma representação da cultura dos
judeus, fato este que sobressai por ser o mais
importante e acima da contenda teológica.

19
Tobias 5,4-17: “Tobias saiu para procurar uma
pessoa que pudesse ir com ele até a Média e
conhecesse o caminho. Logo que saiu,
encontrou o anjo Rafael bem à frente
dele, mas não sabia que era um anjo de
Deus. Tobias lhe perguntou: 'De onde você é,
rapaz?' Ele respondeu: 'Sou israelita, seu
compatriota, e estou aqui procurando
trabalho'. Tobias lhe perguntou: 'Você sabe o
caminho para a Média?' 6. Ele respondeu: 'Sim.
Já estive lá muitas vezes e conheço bem
todos os caminhos. Fui muitas vezes à
Média, e me hospedei na casa do nosso
compatriota Gabael, que mora em Rages,
na Média. São dois dias de viagem de
Ecbátana até Rages, pois Rages fica na região
montanhosa e Ecbátana fica na planície'.
Tobias disse: 'Espere aqui, rapaz, enquanto
vou contar isso a meu pai. Estou precisando
que você viaje comigo. Eu lhe pago depois'.
Rafael disse: 'Está bem. Ficarei esperando,
mas não demore'. Tobias entrou em casa e
contou a seu pai Tobit: 'Pai, encontrei um
israelita, que é nosso compatriota!' Tobit lhe
disse: 'Chame-o para que eu saiba de que
família e tribo ele é, e se é de confiança para
viajar com você, meu filho'. Tobias saiu para
chamá-lo e disse: 'Rapaz, meu pai está
chamando você!' O anjo entrou na casa, e Tobit
se apressou em cumprimentá-lo. […] Tobit lhe
perguntou: 'Meu irmão, de que família e tribo

20
você é? Conte para mim'. O anjo respondeu:
'Para que você quer saber sobre minha família
e tribo?' Tobit insistiu: 'Gostaria de saber de
quem você é filho e qual é o seu nome'. Rafael
respondeu: 'Sou Azarias, filho do grande
Ananias, um compatriota seu'. Tobit disse:
'Seja bem-vindo, meu irmão. Não leve a mal se
eu procuro saber exatamente seu nome e sua
família. Acontece que você é parente meu e
vem de uma família honesta e honrada.
Conheço bem Ananias e Natã, os dois filhos do
grande Semeías. […] Seja bem-vindo, porque
você vem de uma raiz muito boa'. E
acrescentou: Vou lhe pagar uma dracma por
dia, além do necessário para você e meu filho.
Acompanhe meu filho, que depois eu ainda
posso lhe aumentar o pagamento'. O rapaz
respondeu: 'Vou com ele. Não tenha medo.
Iremos e voltaremos sãos e salvos. O caminho
é seguro'. […].”

O anjo, por vezes tratado como “rapaz”, cita


seu nome e também o de seu pai; ainda diz ser um
compatriota deles, no que Tobit, pai de Tobias,
reconhece a família de Azarias (antes era Rafael).

O anjo Rafael (Azarias), cumpre o combinado,


levando Tobias ao destino. Na volta, o anjo revela
quem realmente era. Eis a narrativa:

21
Tobias 12,15-22: “'Eu sou Rafael, um dos
sete anjos que estão sempre prontos para
entrar na presença do Senhor glorioso'. Os
dois ficaram assustados e caíram com o rosto
por terra, cheios de medo. Rafael, porém, lhes
disse: 'Não tenham medo! Que a paz esteja
com vocês! Bendigam a Deus para sempre. Se
eu estive com vocês, não foi por vontade
minha, mas de Deus. É a ele que vocês
devem sempre bendizer e cantar hinos. Vocês
pensavam que eu comia, mas era só
aparência. Agora, bendigam ao Senhor na
terra, e agradeçam a Deus. Volto para
aquele que me enviou. Escrevam tudo o que
lhes aconteceu'. E o anjo desapareceu.
Quando se levantaram, não o puderam ver
mais. Então louvaram a Deus e entoaram
hinos, agradecendo-lhe as maravilhas que ele
tinha realizado, porque o anjo de Deus tinha
aparecido a eles.”

Ao dizer de sua família e que era compatriota


de Tobias e que conhecia a região, o anjo Rafael
afirmava sobre coisas de seu tempo quando Espírito
humano encarnado. Certamente, por ter progredido
bastante mereceu de Deus a incumbência de ajudar
a Tobias, missão que cumpriu integralmente.

Interessante, foi a explicação que o anjo Rafael

22
deu para se justificar quanto ao fato de que comia,
dizendo tratar-se só de aparência. É exatamente isso
que aconteceu com os dois anjos, que se
hospedaram na casa de Ló, conforme consta do
texto mencionado um pouco mais atrás.

b) Novo Testamento

Vemos que, no domingo de manhã, após a


crucificação de Jesus, as mulheres dirigiram-se ao
túmulo, onde seu corpo fora colocado, para ultimar
os derradeiros preparativos para o sepultamento
definitivo. Transcrevamos o relato do que aconteceu
e o que elas viram no local:

Mateus 28,1-5: “Depois do sábado, ao


amanhecer do primeiro dia da semana, Maria
Madalena e a outra Maria foram ver a
sepultura. De repente houve um grande
tremor de terra: o anjo do Senhor desceu
do céu e, aproximando-se, retirou a pedra, e
sentou-se nela. Sua aparência era como a
de um relâmpago, e suas vestes eram
brancas como a neve. Os guardas tremeram
de medo diante do anjo, e ficaram como
mortos. Então o anjo disse às mulheres: 'Não
tenham medo. Eu sei que vocês estão
procurando Jesus, que foi crucificado'.”

23
Marcos 16,1-8: “Quando o sábado passou,
Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e
Salomé, compraram perfumes para ungir o
corpo de Jesus. E bem cedo no primeiro dia da
semana, ao nascer do sol, elas foram ao
túmulo. […] Então entraram no túmulo e viram
um jovem, sentado do lado direito, vestido
de branco. E ficaram muito assustadas. Mas o
jovem lhes disse: 'Não fiquem assustadas.
Vocês estão procurando Jesus de Nazaré, que
foi crucificado? Ele ressuscitou! Não está aqui!
Vejam o lugar onde o puseram. Agora vocês
devem ir e dizer aos discípulos dele e a Pedro
que ele vai para a Galileia na frente de vocês.
Lá vocês o verão, como ele mesmo disse'.
Então as mulheres saíram do túmulo
correndo, porque estavam com medo e
assustadas. E não disseram nada a ninguém,
porque tinham medo.”

Lucas 24,1-6: “No primeiro dia da semana,


bem de madrugada, as mulheres foram ao
túmulo de Jesus, levando os perfumes que
haviam preparado. Encontraram a pedra do
túmulo removida. Mas ao entrar, não
encontraram o corpo do Senhor Jesus, e
ficaram sem saber o que estava acontecendo.
Nisso, dois homens, com roupas
brilhantes, pararam perto delas. Cheias de
medo, elas olhavam para o chão. No entanto,
os dois homens disseram: 'Por que vocês estão

24
procurando entre os mortos aquele que está
vivo? Ele não está aqui! Ressuscitou! […].”

João 20,1-11: “No primeiro dia da semana,


Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus bem de
madrugada, quando ainda estava escuro. Ela
viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo.
[…] Maria tinha ficado fora, chorando junto ao
túmulo. Enquanto ainda chorava, inclinou-se e
olhou para dentro do túmulo. Viu então dois
anjos vestidos de branco, sentados onde o
corpo de Jesus tinha sido colocado, um na
cabeceira e outro nos pés. Então os anjos
perguntaram: 'Mulher, por que você está
chorando?' Ela respondeu: 'Porque levaram o
meu Senhor, e não sei onde o colocaram'.”

Para ficar mais fácil a visualização do


acontecido segundo cada Evangelho, montamos este
quadro resumo:

O que exatamente as mulheres


Evangelho
viram

Mateus 28,2-3 Um anjo do Senhor com vestes brancas

Marcos 16,5 Um moço sentado, vestido de branco

Lucas 24,4 Dois homens com roupas brilhantes

João 20,12 Dois anjos vestidos de branco, sentados

25
Levando-se em conta de que todas as
narrativas se referem ao mesmo episódio, então as
denominações são importantes para se saber no que
acreditavam. Não daremos destaque à divergência
na quantidade, pois, no momento, isso não é aqui o
nosso foco; em tal caso temos: “um anjo/um moço” e
“dois homens/dois anjos”.

Portanto, a conclusão é óbvia: anjos e homens


têm a mesma aparência; mas, por qual motivo?
Simples: porque anjos nada mais são do que seres
humanos desencarnados. Daí, talvez, seja essa a
explicação plausível para o medo sentido pelas
mulheres, ao verem os Espíritos desencarnados
(anjos/homens), o que, de uma certa forma,
aconteceria, a quase todos nós, se lá estivéssemos e
se algum deles nos aparecessem.

Destaque para o Evangelho Segundo Lucas


que, além de denominar de “homens” os que lá
estavam, mais à frente, no verso 23, quando os
discípulos, que se dirigiam a Emaús, contam a Jesus
que as mulheres se dirigiram ao túmulo, mas de lá
voltaram, por não encontrarem o corpo,
“declarando que tinham tido uma visão de

26
anjos que diziam estar ele vivo”.

Ora, como o mesmo autor, que disse antes que


elas, as mulheres, viram homens, agora afirma que
elas tiveram a visão de anjos, só podemos concluir
que essa é mais uma prova incontestável de que,
para os judeus contemporâneos de Jesus, anjos e
homens desencarnados são a mesma coisa.

Há uma narrativa em Mateus que sempre nos


causou espécie, pela sua singularidade; vejamos:

Mateus 18,10: “Cuidado para não desprezar


nenhum desses pequeninos, pois eu digo a
vocês: os anjos deles no céu estão sempre
na presença do meu Pai que está no céu.”

Que “anjos” seriam esses? Só com o tempo,


depois de muito estudo, conseguimos entender que
Jesus estava falando de Espíritos; se substituirmos o
primeiro termo, a frase ficará com esse teor:
“Cuidado para não desprezar nenhum desses
pequeninos, pois eu digo a vocês: os Espíritos
deles no céu estão sempre na presença do meu
Pai”, ou seja, caso morressem, os Espíritos deles
estariam junto a Deus. Há até quem considere esse
verso como uma alusão ao anjo da guarda, com cada

27
um nós tendo o seu.

Na legislação mosaica havia uma lei designada


de “levirato” (Deuteronômio 25,5-6), pela qual se
obrigava uma mulher a casar-se com o viúvo de seu
irmão, caso ele morresse sem deixar filhos. Curioso é
que o primogênito desse casamento era considerado
como se fosse do morto.

Os saduceus, querendo esclarecimento quanto


à ressurreição, disseram a Jesus que uma mulher, em
cumprimento dessa lei, teve que se casar com sete
irmãos, daí lhe perguntaram, quanto à situação dela
no plano espiritual: de qual dos irmãos ela seria
mulher. Vejamos a resposta, que o Mestre lhes deu:

Lucas 20,34-36: “Jesus lhes respondeu: 'Os


filhos deste mundo casam-se e dão-se em
casamento; mas os que forem julgados dignos
de ter parte no outro mundo e na
ressurreição dos mortos, não tomam nem
mulher nem marido; como também não
podem morrer: são semelhantes aos anjos
e são filhos de Deus, sendo filhos da
ressurreição.” (ver também Mateus 22,29-30;
Marcos 12,24-25).

Bem sintomático o fato de que, na

28
ressurreição, ou seja, no outro plano da vida,
seremos semelhantes aos anjos, ou seja, da mesma
natureza.

Atos 8,26-40: “Um anjo do Senhor falou a


Filipe, dizendo: 'Prepare-se e vá para o sul,
pelo caminho que desce de Jerusalém para
Gaza; é o caminho que se acha no deserto.'
Filipe levantou-se e foi. Nisso apareceu um
eunuco etíope, ministro de Candace, rainha da
Etiópia. Ele era administrador geral do tesouro
dela. Tinha ido a Jerusalém em peregrinação, e
estava voltando para casa. Ia sentado em seu
carro, lendo o profeta Isaías. Então o Espírito
disse a Filipe: 'Aproxime-se desse carro e o
acompanhe.' Filipe correu, ouviu o eunuco ler o
profeta Isaías, e perguntou: 'Você entende o
que está lendo?' O eunuco respondeu: 'Como
posso entender, se ninguém me explica?' Então
convidou Filipe a subir e a sentar-se junto a
ele. A passagem da Escritura que o eunuco
estava lendo era esta: 'Ele foi levado como
ovelha ao matadouro. E como um cordeiro
perante o seu tosquiador, ele ficava mudo e
não abria a boca. Eles o humilharam e lhe
negaram a justiça. Quem poderá contar seus
seguidores? Porque eles o arrancaram da terra
dos vivos.' Então o eunuco disse a Filipe: 'Por
favor me explique: de quem o profeta está
dizendo isso? Ele fala de si mesmo, ou se

29
refere a outra pessoa?' Então Filipe foi
explicando. E, tomando essa passagem da
Escritura como ponto de partida, anunciou
Jesus ao eunuco. Continuando o caminho,
chegaram a um lugar onde havia água. Então o
eunuco disse a Filipe: 'Aqui existe água. O que
impede que eu seja batizado?' Filipe lhe disse:
'É possível, se você acredita de todo o
coração.' O eunuco respondeu: 'Eu acredito
que Jesus Cristo é o Filho de Deus!' Então o
eunuco mandou parar o carro. Os dois
desceram junto às águas, e Filipe batizou o
eunuco. Quando saíram da água, o Espírito
arrebatou Filipe, e o eunuco não o viu mais.
Então prosseguiu sua viagem, cheio de alegria.
E Filipe foi parar em Azoto; e, passando
adiante, evangelizava todas as cidades, até
chegar a Cesareia.”

O ser que apareceu a Felipe primeiramente foi


designado de “um anjo”, depois de “Espírito”, o que
prova, incontestavelmente, que os anjos eram
mesmo Espíritos.

Isso ficará ainda mais claro com o relato dessas


três passagens relativas a uma manifestação de um
ser espiritual a Cornélio:

Atos 10,3-4: “Certo dia, pelas três horas da


tarde, Cornélio teve uma visão. Viu

30
claramente que um anjo de Deus vinha ao
seu encontro, chamando: 'Cornélio!' E Cornélio
olhou para ele; e cheio de medo perguntou: 'O
que há, Senhor?' O anjo respondeu: 'As
orações e esmolas que você fez foram aceitas
por Deus em seu favor.'”

Atos 10,22-23: “Eles responderam: 'O


centurião Cornélio, homem justo e temente a
Deus, estimado por todo o povo judeu, recebeu
de um anjo santo a ordem de convidar você
para ir à casa dele, a fim de escutar o que você
tem a dizer. Pedro então os fez entrar e lhes
deu hospedagem.”

Atos 10,30-31: “Cornélio então respondeu:


'Há quatro dias, nesta mesma hora, eu estava
em casa recitando a oração das três horas da
tarde, quando se apresentou diante de mim
um homem com vestes resplandecentes e
me disse: 'Cornélio, sua oração foi ouvida e
suas esmolas foram lembradas diante de
Deus'.”

Na primeira narrativa, temos “um anjo de


Deus”; porém, na segunda, quando os varões
enviados por Cornélio relatam o acontecido a Pedro,
eles dizem tratar-se de “um anjo santo”; já na
terceira, o próprio Cornélio se refere a “um homem
com vestes resplandecentes”.

31
Diante disso, comprova-se, portanto, que anjos
tinham a mesma aparência dos homens, pela
simples razão, de que, na verdade, eram esses após
o desencarne, sobrevivendo com o corpo espiritual.

Essa última narrativa é semelhante à que


encontramos nos Evangelhos a respeito do ser
espiritual (ou seres) que apareceu às mulheres que
foram, no domingo de manhã, ao sepulcro de Jesus.

O que é bem curioso é o designá-lo de “um


anjo santo”, pois isso pode derrubar toda estrutura
bíblica montada para sustentar a Trindade cristã, já
que se deve entender a menção do “Espírito Santo”
como exatamente entendiam, ou seja: um anjo
santo.

Um último passo do Novo Testamento vai


clarear mais ainda o que estamos propondo. Apesar
de longa, transcreveremos a narrativa, por completo,
para não comprometer o entendimento de ninguém
à respeito da ocorrência:

Atos 12,1-16: “Nesse tempo, o rei Herodes


começou a perseguir alguns membros da
Igreja, e mandou matar à espada Tiago,
irmão de João. Vendo que isso agradava

32
aos judeus, decidiu prender também
Pedro. Eram os dias da festa dos pães sem
fermento. Depois de o prender, colocou-o na
prisão e o confiou à guarda de quatro grupos
de quatro soldados cada um. Herodes tinha a
intenção de apresentar Pedro ao povo logo
depois da festa da Páscoa. Pedro estava
vigiado na prisão, mas a oração fervorosa da
Igreja subia continuamente até Deus,
intercedendo em favor dele. Herodes estava
para apresentar Pedro. Nessa mesma noite,
Pedro dormia entre dois soldados. Estava preso
com duas correntes, e os guardas vigiavam a
porta da prisão. De repente, apareceu o anjo
do Senhor, e a cela ficou toda iluminada.
O anjo tocou o ombro de Pedro, o acordou, e
lhe disse: 'Levante-se depressa'. As correntes
caíram das mãos de Pedro. E o anjo continuou:
'Aperte o cinto e calce as sandálias'. Pedro
obedeceu, e o anjo lhe disse: 'Ponha a capa e
venha comigo'. Pedro acompanhou o anjo, sem
saber se era mesmo realidade o que o anjo
estava fazendo, pois achava que tudo isso era
uma visão. Depois de passarem pela primeira e
segunda guarda, chegaram ao portão de ferro
que dava para a cidade. O portão se abriu
sozinho. Eles saíram, entraram numa rua, e
logo depois o anjo o deixou. Então Pedro caiu
em si e disse: 'Agora sei que o Senhor de
fato enviou o seu anjo para me libertar do
poder de Herodes e de tudo o que o povo

33
judeu queria me fazer'. Pedro então refletiu e
foi para a casa de Maria, mãe de João,
também chamado Marcos, onde muitos se
haviam reunido para rezar. Bateu à porta, e
uma empregada, chamada Rosa, foi abrir. A
empregada reconheceu a voz de Pedro,
mas sua alegria foi tanta que, em vez de
abrir a porta, entrou correndo para contar
que Pedro estava ali, junto à porta. Os
presentes disseram: 'Você está ficando louca!'
Mas ela insistia. Eles disseram: 'Então deve
ser o seu anjo!' Pedro, entretanto, continuava
a bater. Por fim, eles abriram a porta: era
Pedro mesmo. E eles ficaram sem palavras.”

Os que se achavam na casa de Maria, não


acreditaram que Pedro estava à porta, porque
julgavam que, por ordem de Herodes, ele já havia
sido executado, ou seja, encontrava-se morto.

Essa foi a razão de terem dito: “Então deve ser


o seu anjo!”, ou seja, como consideravam que Pedro
estaria morto, diante da informação de que ele
aparecera à porta, isso os levaram a supor que só
poderia ser o “anjo dele”.

Entendemos que essa foi a razão de usarem o


termo “anjo” para designar o Espírito dele. Mais claro
que isso, é impossível; porém, como o direito de

34
protesto cabe aos contraditores, deixemo-los bradar
aos quatro ventos…

É oportuno ver em O Novo Testamento


Interpretado Versículo por Versículo – Vol. 3 os
comentários de Russell Norman Champlin (1933-
2018), com relação à passagem de Atos 12,15, do
Novo Testamento:

Os cristãos primitivos têm com toda a razão


sido criticados por essa sua atitude. Primeiramente
rebateram a jovem escrava completamente, não
crendo nela, preferindo acreditar que ela estava
louca a crerem que as suas próprias orações
haviam sido respondidas! E então, quando ela
insistiu tão veementemente que não se equivocara
com respeito à presença de Pedro ao portão,
porquanto ele tinha um timbre de voz todo pessoal,
chegaram eles a acreditar que Pedro já fora
executado, à semelhança de Tiago, e que a
aparição fora de seu espírito.
[…].
Aqueles primitivos crentes devem ter crido
que os mortos podem voltar a fim de se
manifestarem aos vivos, através da agência da
alma. Observemos que a segunda alternativa, por
eles sugerida, sobre como Pedro poderia estar
no portão, era que ele teria sido morto e que o
seu “anjo” ou “espírito” havia retornado.
Portanto, aprendemos que aquilo que é
ordinariamente classificado como doutrina

35
“espírita” era crido por alguns membros da
igreja cristã de Jerusalém. Isso não significa,
naturalmente, que eles pensassem que tal fosse a
regra nos casos de morte; porém, aceitaram a
possibilidade da comunicação dos espíritos, que a
atual igreja evangélica, especialmente em alguns
círculos protestantes dogmáticos, nega com tanta
veemência. (14) (grifo do original)

O que exegeta R. N. Champlin explica a


respeito do episódio de Pedro ter ido à casa de Maria
e os que lá estavam, julgarem que só podia se tratar
do anjo dele, corrobora o que nós deduzimos da
narrativa.

Citaremos, ainda um conselho do autor de


Hebreus (13,1-2), que, conforme já dissemos, na
atualidade os exegetas já não tem como sendo
Paulo: “Perseverem no amor fraterno. Não se
esqueçam da hospitalidade, pois algumas pessoas,
graças a ela, sem saber acolheram anjos”.

Sim, se, como supunham, os anjos têm


aparência humana, então a possibilidade de se
hospedar um deles sem o saber, seria algo
concebível.

36
Embora o livro
Apocalipse, que a tradição
atribui como de autoria de
João Evangelista, contenha um
teor muito enigmático, por
isso é muito raro o citarmos,
há nele algo que serve ao
nosso propósito e está bem
retratado na imagem (15).

Leiamos, o texto bíblico:

Apocalipse 22,8-9: “Eu, João, fui ouvinte e


testemunha ocular dessas coisas. Tendo-as
visto e ouvido, ajoelhei-me para adorar o
Anjo, aquele que me havia mostrado essas
coisas. Mas ele não deixou: 'Não! Não faça
isso! Eu sou servo como você, como os
seus irmãos, os profetas, e como aqueles
que observam as palavras deste livro. É a
Deus que você deve adorar'.”

Aqui é o próprio anjo que diz ser igual a João, e,


por consequente, a todos nós; isso não é,
exatamente, pelo fato dele ser um Espírito humano
desencarnado?

37
Os demônios nos textos bíblicos

a) Antigo Testamento

Destacamos um mesmo fato narrado de forma


diferente, que irá nos dar a pista de quando os
demônios passaram a existir:

2 Samuel 24,1: “Tornou a ira do Senhor a


acender-se contra os israelitas, e ele incitou
a Davi contra eles, dizendo: Vai, levanta o
censo de Israel e de Judá.”

1 Crônicas 21,1: “Então, Satanás [ou Satã]


se levantou contra Israel e incitou a Davi a
levantar o censo de Israel.”

Na Bíblia Sagrada Barsa, há esta


interessante nota elucidativa de 1 Crônicas 21,1:

Este é o único lugar do A.T. em que lemos


Satanás: como nome próprio, sem artigo. Em
todos os outros lugares, mesmo quando
designa um ser bem determinado, aparece com
artigo com o significado de “o adversário”.
(16) (itálico do original)

É bem uma exceção, ou temos problemas de

38
tradução? E aqui, já demonstra que satanás
significa adversário, portanto não deveria ser
tomado com uma entidade maligna. Na verdade, o
termo aparecerá, pelo menos, em Jó 1,6, conforme
ainda veremos.

Na obra Analisando as Traduções Bíblicas,


o autor explica a razão dessa variação do
personagem que incitou a Davi:

Uma outra observação interessante é que o


livro de Samuel foi escrito antes da influência
persa no ano de 622 a.C . […].
Agora veja essa mesma passagem no I Livro
das Crônicas, que foi escrito no começo do
ano 300 a.C. , portanto, já sob a influência do
Zoroastrismo persa, com o já conhecimento de
“Ahriman”, – “Satanás”. […].” (17) (grifo simples
do original, o sublinhado é nosso)

Em complemento a essa informação,


trazemos a jornalista Raquel Ribeiro, que, no artigo
“Assim falou Zaratustra”, nos apresenta a seguinte
informação:

“A religião de Zaratustra, também


influenciou muito o Judaísmo no período pós-
exílio, entre os anos 538 a.C. a 63 a.C.,
acentuando ainda mais o dualismo entre Deus

39
e Satanás, e povoando os textos judaicos de
anjos e demônios que se combatem
constantemente”, afirma o teólogo Paulo
Nogueira, da Universidade metodista de São
Paulo. (18)

Certamente, que todas as diversas culturas


que, ao longo dos tempos, dominaram os judeus
devem ter contribuído para alterar ou, no mínimo,
influenciar a crença religiosa deles. Assim, temos
que judeus foram dominados pelas nações:
Babilônia – 587 a 538 a.C.; Pérsia – 538 a 333 a.C.;
Grécia – 333 a 165 a.C. e Roma – 63a.C. até 4º sec.
d.C. (19)

O trecho de Jó 1,6-12 inicia relatando que os


filhos de Deus se apresentaram perante o Senhor,
entre eles veio também Satanás (Heb sãtãn, o
adversário, o acusador 20
). Eis o diálogo entre ele e
Deus:

“– Donde vens? – Venho de dar uma volta


pela terra, andando a esmo. – Reparaste no
meu servo Jó? Na terra não há outro igual: é
um homem íntegro e reto, que teme a Deus e
se afasta do mal. – É por nada que Jó teme a
Deus? Porventura não levantaste um muro de
proteção ao redor dele, de sua casa e de

40
todos os seus bens? […] Mas estende tua
mão e toca nos seus bens; eu te garanto que
te lançará maldições em rosto. – Pois bem,
tudo o que ele possui está em teu poder, mas
não estendas tua mão contra ele.” (Bíblia de
Jerusalém, texto adaptado)

Na Bíblia Sagrada Vozes a explicação é


bem taxativa: “Satanás não é o demônio da
concepção cristã, mas mero personagem
funcional da narrativa.” (21)

Na Bíblia do Peregrino, em nota rodapé


sobre essa passagem, lemos:

Deus tem sua assembleia celeste, de


deuses inferiores ou anjos […] com os quais
faz reuniões periódicas, talvez para decidir a
sorte dos mortais. Entre esses […] há um que
representa uma espécie de oposição, que
gosta de criticar e ainda procura que os fatos
justifiquem sua crítica; como um policial, dá
voltas inspecionando, para poder informar sobre
os desmandos cometidos lá embaixo na terra.
Este personagem é ‘o Satã’ (com artigo); dá
voltas (verbo shut) e se opõe (substantivo satan).
Essas ideias, ampliadas nas religiões do antigo
Oriente, foram parcialmente recolhidas na
Escritura, e o autor as incorpora livre e
audaciosamente à sua ficção narrativa. […].
Não confundamos o Satã desta narração

41
com nossa imagem ou concepção do
demônio, do anjo caído que odeia a Deus e
suas obras. Ainda que alguns pontos de contato
nos levem à confusão, devemos defender-nos
para contemplar rigorosamente a função do
personagem.

[…] O Satã não é uma afirmação teológica,


mas um personagem funcional no relato. E se
continuarmos perguntando a que corresponde na
realidade, o autor do livro não nos responde,
abandona-nos a nossas suposições. ( 22)

Observa-se, portanto, que os tradutores


bíblicos têm consciência de que satanás não se trata
de um ser maligno, mas apenas um anjo (filho de
Deus) que tem a função de advogado.

O historiador Flávio Josefo (37-103 d.C.), em


História dos Hebreus, noticia uma crença curiosa
do seu povo, ao referir-se a uma planta chamada
“bara”:

[…] ela tem uma virtude, que faz não se


temer expor a qualquer perigo, para apanhá-la,
isto é, os demônios ou as almas dos maus,
que entram no corpo dos homens vivos, e que os
matariam se não se lhes impedisse,
abandonam-nos imediatamente, quando deles
se aproxima essa planta. (23)

42
Não se pode deixar de destacar que Josefo
falando dessa planta, que funciona como uma
espécie de apetrecho de exorcismo, também afirma
que “os demônios” são “as almas dos (homens)
maus”.

b) Novo Testamento

Inicialmente, trazemos um passo que, à


primeira vista, parece não ter relação com o nosso
assunto; porém, as considerações dos entendidos
nos ajudarão a compreender mais ainda a crença dos
cristãos primitivos.

Lucas 8,26-31: “Jesus e os discípulos


desembarcaram na região dos gerasenos,
que está diante da Galileia. Ao descer à terra,
um homem da cidade foi ao encontro de
Jesus. Era possuído por demônios, e há
muito tempo ele não se vestia, nem morava
em casa, mas nos túmulos. Vendo Jesus, o
homem começou a gritar, caiu aos pés dele, e
falou com voz forte: 'Que há entre mim e ti,
Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Eu te peço,
não me atormentes!' O homem falou assim,
porque Jesus tinha mandado que o Espírito
mau saísse dele. De fato, muitas vezes o
Espírito tinha tomado posse dele. Para

43
protegê-lo, o prendiam com correntes e
algemas; ele, porém, arrebentava as
correntes, e o demônio o levava para
lugares desertos. Então Jesus lhe perguntou:
'Qual é o seu nome?' Ele respondeu: 'Meu
nome é Legião.' Pois muitos demônios
tinham entrado nele. Os demônios pediam
que Jesus não os mandasse para o abismo.”

Observar que ao se usar as designações


“Espírito mau” e “demônios”, num mesmo
contexto, vem significar que sinônimas, ou seja,
ambas expressam a mesma coisa.

Esse episódio é relatado em Marcos 5,1-5, que


só usa a expressão “um espírito mau”, para designar
o ser que possuía aquele homem.

Champlin, em O Novo Testamento


Interpretado versículo por versículo, vol. 1,
explicando o versículo 2, que cita “um espírito mau”,
estabelece relação com o termo “demônios”, sobre
os quais nos informa:

Esse vocábulo era empregado, no grego


clássico, ocasionalmente como sinônimo do termo
“theos”, “deus”. Assim usou Homero (século IX
A.C.). Por outros autores, entretanto, a palavra foi
utilizada para indicar certas divindades

44
subordinadas, que inocentavam os deuses maiores
da prática de muitas maldades; e é provável que
por causa dessa mesma circunstância é que a
palavra eventualmente passou a significar alguma
entidade sobrenatural cujo propósito é o de praticar
a maldade. Esse termo também tem sido usado
para referir-se às almas dos homens que, por
ocasião da morte, são elevados a determinados
privilégios, e, posteriormente, passou a indicar
os espíritos humanos em geral, partidos deste
mundo. Gradualmente esse vocábulo foi-se
limitando aos espíritos malignos em geral,
exclusivamente, sem qualquer definição sobre a
origem ou natureza desses espíritos.
Do princípio ao fim as Escrituras comprovam a
realidade do mundo dos espíritos, que tanto podem
ser maus quanto bons. Os espíritos, tanto os bons
quanto os maus, são apresentados como
extremamente numerosos (ver Efé 1;21; 6;12; Col.
1;16 e Marc. 5;9). Os espíritos malignos têm
influência sobre os homens, e procuram ocupar os
seus corpos (ver Marc. 5;8 e Mat 12;43,44). São
imundos (o que significa que tornam o indivíduo
incapaz de entrar em contato com Deus, com o
culto ao Senhor e com a adoração). […].
Era ponto teológico comum, entre os judeus
(sendo ensinado nas escolas teológicas judaicas
dos fariseus e de outros), que os demônios,
capazes de possuir e de controlar um corpo
vivo, são espíritos de mortos partidos deste
mundo, especialmente aqueles de caráter vil e de
natureza perversa. (Ver Josefo, de Bello Jud. VII.
6.3). […]. (24) (itálico do original)

45
Dos comentários de Champlin a respeito da
passagem de Atos 12,15, tomaremos o seguinte
trecho:

[…] por toda a parte abundam histórias de


fantasmas, e muitos céticos negam tudo. Todavia,
há muitos desses fenômenos, sob tão grande
variedade, e cruzam todas as fronteiras religiosas,
para que se possa duvidar dos mesmos como
fatos. Algumas vezes os mortos voltam, e entram
em comunicação com os vivos. Os teólogos
judeus aceitavam isso como um fato, havendo
entre eles a crença comum de que os
“demônios” são espíritos humanos maus,
desencarnados.
Essa ideia era forte na igreja cristã, até o século
V d.C., tendo sido apresentada por pais da igreja
como Clemente de Alexandria, Justino Mártir e
Orígenes, os quais também acreditavam na
possibilidade do retorno e até mesmo da
reencarnação de alguns espíritos, como o
propósito de realizarem ou continuarem suas
missões. (ver esta doutrina em Mat. 16:14). Os
essênios, dos quais João Batista parece ter
sido membro, também mantinham crenças
idênticas. É um equívoco cercarmos as doutrinas
de muralhas, supondo em vão que somente nós,
da moderna igreja cristã do século XX, temos as
corretas interpretações das verdades bíblicas.
Ainda temos muito a aprender, sobre muitas
questões, e convém que guardemos nossas
mentes abertas, pelo menos o suficiente para

46
permitirmos a entrada de uma réstia de luz.
Sabemos pouquíssimo sobre o mundo
intermediário dos espíritos e supomos que o
estado “eterno” já existe, o que todas as evidências
mostram não ser ainda assim. (25) (grifo do original)

Para completar a explicação de Champlin,


transcrevemos de sua outra obra Evidências
científicas demonstram que você vive depois
da morte:

[…] O judaísmo helenista, bem como o


cristianismo antigo (até ao tempo de
Crisóstomo, falecido em 407 D.C.), pensavam
que a maioria dos demônios (se não mesmo
todos) era composta de espíritos humanos
desencarnados, de natureza negativa; e essa
ideia continua comum na teologia cristã, apesar de
hoje em dia ela não seja definida pela maioria dos
teólogos. Crisóstomo preferia considerá-los todos
“anjos decaídos”, e é bem provável que alguns
demônios sejam precisamente isso. […]. (26)

E da obra Enciclopédia de Bíblia, Teologia e


Filosofia – Vol. 5, de autoria de Russell Norman
Champlin e de João Marques Bentes, temos mais
esta informação:

[…] visto não haver informação exata, no N. T.,


sobre a origem dos demônios, é impossível

47
afirmar-se a natureza exata da possessão
demoníaca. Josefo (de Belo Jud. VII.6,3)
pensava que os demônios eram os espíritos
dos homens maus, que depois da morte
voltariam a este mundo, e essa ideia era
comum entre os antigos, incluindo os gregos.
Também foi ideia de alguns dos pais da Igreja,
como Justino (cerca de 150 d.C.) e Atenágoras.
Tertuliano foi o primeiro a mudar de ideia na igreja,
aceitando que os demônios são anjos caídos, e
não espíritos humanos. Finalmente, Crisóstomo
(407 d.C.) rejeitou a ideia de que os demônios
são espíritos humanos, e a igreja aceitou que
os demônios são outros espíritos, talvez
pertencentes à ordem dos anjos. Mas até hoje
existem estudiosos que acreditam que, pelo
menos, alguns demônios possam ser espíritos
humanos. Lange, por exemplo, acreditava que
talvez os demônios fossem espíritos de pessoas
que já morreram, e que agora fazem parte da
ordem dos anjos caídos. (27)

Tudo isso, que aqui foi dito, vem confirmar o


que estamos afirmando desde o início, embora os
autores citados, por defenderem sua teologia, não se
mostrem totalmente coerentes com as próprias
conclusões a que chegaram.

Veja, caro leitor, este quadro que demonstra


que, em outros passos, os demônios também são
designados como sendo Espíritos:

48
Fica evidente, por todos estes textos bíblicos
mencionados, que, de fato, naquele tempo,
entendiam os demônios como sendo mesmo
Espíritos maus, cabendo aos teólogos atuais
reformularem suas interpretações para serem fiéis às
crenças da época dos episódios narrados nos
Evangelhos.

É só atentarem para a passagem de Mateus


10,1, onde Jesus delegou aos apóstolos a autoridade
de expulsar Espíritos impuros e de curar; ora, se
Jesus concede tais poderes aos apóstolos é porque
Espíritos existem, ainda que se os denominem de

49
demônios.

Atos 19,13-16: “Ora, também alguns dos


exorcistas judeus, ambulantes, tentavam
invocar o nome de Jesus sobre os que tinham
Espíritos malignos, dizendo: Esconjuro-vos
por Jesus a quem Paulo prega. […] eram sete
filhos de Ceva, […] respondendo, porém, o
Espírito maligno, disse: A Jesus conheço, e sei
quem é Paulo; mas vós, quem sois? Então o
homem, no qual estava o Espírito maligno,
saltando sobre eles, apoderou-se de dois e
prevaleceu contra eles, de modo que, nus e
feridos, fugiram daquela casa.”

Pelo Dicionário Houaiss, temos que o verbo


“esconjurar”, significa “afastar (ger. o Demônio,
espíritos maus etc.) por meio de exorcismo;
conjurar, desconjurar, exorcizar.” Assim, temos que
na época de Jesus, era comum entre os judeus a
prática do exorcismo.

Pela crença das religiões cristãs tradicionais,


poderíamos dizer que Deus não é muito justo, pois

50
Diante disso, se pode concluir que Deus é um
sádico, por deixar a porta do inferno bem aberta,
enquanto a do céu sempre permanece fechada.

51
Anjos (demônios) decaídos, como
assim?

Várias vezes ouvimos que os demônios


seriam anjos decaídos. Consultando em
Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia –
Vol. 1, no vocábulo “anjo”, no item IV. Anjos
caídos, temos a seguinte explicação:

Em tempos remotos, houve rebelião entre


os seres espirituais, nos lugares elevados. Ver
Jó. 4:18; Mat. 25:41; II Ped. 2:4; Apo. 12:9. O
mais elevado dos anjos (Satanás, ver artigo a
respeito) encabeçou essa rebelião. Sem dúvida,
alguns demônios (ver o artigo) são anjos
caídos, mas muitos deles são débeis demais
para serem tanto. […]. ( 28)

Em Enciclopédia de Bíblia, Teologia e


Filosofia – Vol. 6, no vocábulo “Satanás”, no item
III. Sua Queda, lemos:

É notável e tocante a observação de que


Satanás, obviamente inchado de orgulho por
causa das perfeições e belezas de seu ser, além
de sua vastíssima inteligência, deve ter

52
realmente crido ser possível exaltar-se acima
do próprio Deus, estabelecendo a si mesmo
como a autoridade suprema do universo. (Ver
Isa. 14: 13, 14). O seu plano era ousado,
astucioso, incrível. Em tudo isso transparece que
o mundo dos anjos, incluindo o próprio Lúcifer,
fora dotado de livre-arbítrio perfeito quanto às
suas ações, e que nenhum anjo estava forçado a
servir e a adorar a Deus, a não ser pelos laços
da razão, do amor e do senso de correção moral.
A elevada posição de Satanás nos céus é
ilustrada pelo fato de que ele deve ter crido
possuir bons motivos para esperar obter sucesso
no mais ousado de todos os feitos jamais
tentados – a derrubada do próprio Deus. Sua
revolta começou onde ele se encontrava, na
presença de anjos, que também são aceitos
como seres dotados de grande poder e
inteligência. […].
A rebeldia e o plano audaz do diabo não se
limitaram ao reino celestial, porquanto nem bem
Deus realizou a criação terrena, e eis que
Satanás foi capaz de propagar sua rebeldia à
face da terra, mediante a sua astúcia. […]. ( 29)

Assim, essa ideia sobre a queda dos anjos


vem sendo passada, entre os cristãos, de geração
em geração. Mas encontramos uma informação que
nos remete a possibilidade dessa crença ser
apenas um mito pagão.

Na Revista Espírita 1859, mês de dezembro,

53
Allan Kardec (1804-1869) registrou uma nota do
Senhor Tug…, enviada à Sociedade Espírita de Paris,
a respeito da “Doutrina da reencarnação entre os
Hindus”, da qual destacamos o seguinte trecho:

[…] Citemos aqui o que diz Zimmermann sobre


a religião hindu no Journal dês Voyages
(Taschenbuch der Reisen).
“O fundo dessa religião é a crença num ser
primeiro e supremo, na imortalidade da alma, e na
recompensa da virtude. O verdadeiro e único Deus
se chama Brahm, que não se pode confundir com
Brahma, criado por ele. É a verdadeira luz, que é a
mesma, eterna, feliz em todos os tempos e em
todos os lugares. Da essência imortal de Brahm
emanou a deusa Bhavani, quer dizer, a natureza, e
uma legião de 1.180 milhões de Espíritos. Entre
esses Espíritos, há três semi-deuses ou gênios
superiores: Brahma, Vichnou e Shiva, a trindade
dos Hindus. Por longo tempo a concórdia e a
felicidade reinaram entre os Espíritos; mas, em
seguida, uma revolta estourou entre eles, e
vários recusaram obedecer. Os rebeldes foram
precipitados do alto do céu aos abismos das
trevas. Então ocorreu a metempsicose: cada
planta, cada ser foi animado por um anjo decaído.
Essa crença explica a bondade dos Hindus para
com os animais: eles consideram-nos como seus
semelhantes e não querem matar nenhum.
[…].
“O que é excessivamente notado, acrescenta

54
Zimmermann, é que não se encontra, entre os
Hindus, uma só imagem do ser supremo: parece-
lhes muito grande. Toda a Terra, dizem, é seu
templo e eles o adoram sob todas as figuras.”
Assim, segundo os Hindus, as almas tinham
sido criadas felizes e perfeitas, e sua queda foi
o resultado de uma rebelião; sua encarnação no
corpo de animais é uma punição. […]. (30)

Sendo a cultura dos judeus posterior à dos


hindus, que “é uma das sociedades mais antigas do
mundo” (31), não há como negar a influência pagã
sendo transmitida à dos primeiros.

Identificamos as duas passagens bíblicas que


apresentam para justificarem a existência deles. (É,
caro leitor, também eles têm defensores!)

Será oportuno vemos esta definição,


constante do Dicionário Prático Barsa:

Anjos. puros espíritos criados por Deus


provavelmente no mesmo tempo em que o resto
da criação. A palavra anjo quer dizer mensageiro
[…]. Mas ordinariamente usa-se esta palavra na
Bíblia só para designar os puros espíritos que
atuam como mensageiros divinos. Assim,
Deus envia anjos para anunciar sua vontade,
para corrigir, punir, ensinar, repreender, consolar
(Sl 102,20; Mt 4,11; 13,49; 26,53). […]. Alguns

55
anjos rebelando-se contra Deus, pecaram,
foram expulsos do céu e condenados ao inferno
(2 Pdr 2,4). […]. ( 32)

Essa imagem é bem ilustrativa ( 33):

Então, aqui temos que os anjos foram criados


por Deus na condição de Espíritos puros. Beleza!
Mas como um Espírito puro pode rebelar-se contra
Deus, seu criador? Leiamos esta explicação
encontrada no site Palavra da Salvação:

56
Os anjos foram criados perfeitos. (Ezequiel
28.15). Porém, numa época muito remota, um
desses seres espirituais criados, um anjo
chamado Lúcifer, da ordem dos querubins
(Ezequiel 28.14) foi tomado pela soberba
(Ezequiel 28.17) e intentou ser semelhante ao
Altíssimo e desejou tomar para si o Reino do
seu Criador (Isaías 14.13,14). Com esse
propósito convenceu um terço dos anjos
(Apocalipse 12,4) a se unirem a ele como futuro
soberano. ( 34)

Duas palavras, citadas no texto, merecem


explicações: Lúcifer e Querubim.

O que é Lúcifer
Lúcifer é o portador da luz, a estrela da
manhã.
Na tradição cristã, é um dos nomes do
diabo.
A palavra Lúcifer vem do latim lux, que
significa luz, e ferre, que é levar, portar. É
portanto o portador da luz, ou ainda a estrela da
manhã ou filho d'alva, como se encontra em
registros antigos.
Estas expressões também representavam o
Planeta Vênus, um dos corpos celestes mais
brilhante e que mantém sua luz ao lado da lua
até os primeiros raios da manhã.
Em hebraico, o nome lúcifer é traduzido para
helel.

57
Há um entendimento teológico de que o termo
lúcifer enquanto nome próprio é um equívoco de
uma das traduções da Bíblia ao longo dos
milênios. O único versículo que fala em “lúcifer” é
Isaías 14:4, e que corresponderia na verdade ao
Rei Nabucodonosor da Babilônia, chamado de
“estrela da manhã”. ( 35) (grifo do original)

Muito estranho que um nome que significa


“portador de luz” venha ser relacionado com um
ser maligno, que detesta a luz.

No Dicio – Dicionário Online da Língua


Portuguesa, encontramos, a seguinte explicação
para o termo querubim:

Anjo que possui grande conhecimento.


É também um símbolo da sabedoria ou justiça
divina. Os querubins se classificam logo abaixo
da ordem dos anjos chamados serafins, na
tradição judaica e cristã. ( 36)

Essa é a crença comum, vinda por tradição,


entretanto, a verdade é bem outra. Na Bíblia
Sagrada Vozes, encontramos esta explicação:

Querubins são seres da mitologia


babilônica, metade homens e metade animais,
guardas dos portais de templos e palácios (cf. Ez
28,14-16). […]. ( 37)

58
Os querubins eram seres mistos,
representados com rosto humano e corpo de
leão ou touro ou outros quadrúpedes com
asas, vindo portanto a ser uma espécie de
esfinge. (38)

Eis uma imagem ilustrativa de Lamassu ( 39),


da Assíria, que pode representar um querubim ( 40):

E para confirmar de vez que querubim não é


um anjo, tememos desse Salmo do profeta Davi:

Salmos 18,10-11: “Ele inclinou o céu e


desceu, calcando aos pés escuras nuvens,
cavalgou sobre um querubim e voou,

59
planando nas asas do vento.” (ver também 2
Samuel 22,10-11)

Acreditamos que não será preciso dar o


significado de cavalgar…

Então, temos que Deus literalmente montou


em um querubim, quem sabe, para dar uma rápida
voltinha no “Céu”, à maneira de piloto
“asadeltista”.

Agora é o momento de analisarmos as duas


passagens mencionadas, que tratariam da queda
dos anjos:

1ª) Ezequiel 28,11-19, que, na Bíblia de


Jerusalém, recebe o título “A queda do rei de
Tiro”:

“A palavra de Iahweh me foi dirigida nestes


termos: Filho do homem, pronuncia um
lamento contra o rei de Tiro e dize: Assim
diz o Senhor Iahweh: Tu eras um modelo de
perfeição, cheio de sabedoria, de uma
beleza perfeita. Estavas no Éden, jardim de
Deus. […] Fiz de ti o querubim protetor de
asas abertas; estavas no monte santo de
Deus e movias-te por entre pedras de fogo.
Desde o dia da tua criação foste íntegro em
todos os teus caminhos até o dia em que se

60
achou maldade em ti. Em virtude do teu
comércio intenso te encheste de
violência e caíste em pecado. Então te
lancei do monte de Deus como um
profano e te exterminei, ó querubim
protetor, dentre as pedras de fogo. O teu
coração se exaltou com tua beleza.
Perverteste a tua sabedoria por causa do teu
esplendor. Assim te atirei por terra e fiz
de ti um espetáculo à vista dos reis. […]
fiz sair fogo do meio de ti, um fogo que te
devorasse. Reduzi-te a cinzas sobre a terra,
aos olhos de todos os que te contemplavam.
Todos os que te conhecem dentre os povos
estão apavorados por causa de ti. Um motivo
de espanto te tornaste e deixaste de existir
para sempre.”

Quem é o personagem principal do relato? O


rei de Tiro, é a resposta óbvia. É a ele que Deus
recomenda ao profeta Ezequiel pronunciar um
lamento, portanto, nada de anjo rebelde, como o
fanatismo enxerga.

2ª) Isaías 14,12-14, na Bíblia Shedd, onde


esse trecho está inserido, tem o título de “A morte
do rei da Babilônia”, em cujo início é determinado
ao profeta Isaías fazer “esta sátira a respeito do rei

61
da Babilônia”:

“Como caíste do céu, ó estrela da


manhã, filho da alva! Como foste lançado
por terra, tu que debilitavas as nações! Tu
dizias no teu coração: Eu subirei ao céu;
acima das estrelas de Deus exaltarei o
meu trono e no monte da congregação me
assentarei, nas extremidades do Norte;
subirei acima das mais altas nuvens e serei
semelhante ao Altíssimo.” (41)

Não podemos tirar esse relato do seu


contexto, pois só assim entenderemos de quem se
está falando. Algo fora do contexto, serve a
qualquer pretexto.

É imprescindível vermos os versículos iniciais


desse capítulo:

Isaías 14,3-4: “No dia em que Deus vier a dar-


te descanso do teu trabalho, das tuas
angustias e da dura servidão com que te
fizeram servir, então proferirás este
motejo contra o rei de Babilônia, e dirás:
Como cessou o opressor! Como acabou a
tirania!” (42)

É bem explícita a afirmação “proferirás este


motejo contra o rei de Babilônia”, mas,

62
infelizmente, não convence aos fanáticos.

Ainda na Bíblia Shedd, em nota, explicam-


nos duas expressões de Isaías 14,12:

Caíste do céu. A referência imediata se aplica


ao império da Babilônia rebaixado depois de se
exaltar. Não se deixará de perceber aqui uma
aplicação a Satanás que, ao se exaltar contra
Deus, foi rebaixado até o inferno.
Estrela da manhã. Heb hêlel “glorioso”,
“luzente”, que alguns interpretam como nome
próprio. “Lúcifer”, o assim considerado nome
original do diabo. ( 43)

Nada, portanto, do que querem atribuir ao


passo.

A Bíblia King James 1611 é um exemplo de


tradução que usa a palavra “Lúcifer” ( 44).

Em O Céu e o Inferno, cap. IX – Os


demônios, tópico “Os demônios segundo a igreja”,
item 9, Allan Kardec apresenta várias objeções a
respeito dessa doutrina, tomaremos uma delas,
onde explica que:

2ª) Visto que nem a Igreja e nem os anais da


história sagrada explicam a causa da rebelião
dos anjos contra Deus e apenas dão como

63
quase certa que se deveu à relutância no
reconhecimento da futura missão do Cristo,
perguntamos que valor pode ter o quadro tão
preciso e detalhado da cena que então
aconteceu? A que fonte recorreram para colher
palavras tão claras e até simples colóquios? De
duas uma: ou a cena é verdadeira ou não é. No
primeiro caso, não havendo dúvida alguma, por
que a Igreja não decide a questão? Se a Igreja e
a História se calam, se somente a causa parece
certa, é que não passa de hipótese e a cena
descritiva é mero fruto da imaginação. (45)

Ao final dessa fala, o Codificador insere uma


nota na qual cita o trecho Isaías 14,11 e seguintes,
analisando-o da seguinte forma:

Estas palavras do Profeta não se referem à


revolta dos anjos; é uma alusão ao orgulho e
à queda do rei da Babilônia, que retinha os
judeus em cativeiro, como atestam os últimos
versículos. O rei da Babilônia é alegoricamente
designado por Lúcifer, mas não se faz aí
nenhuma menção da cena descrita. Essas
palavras são do rei que as tinha no coração e se
colocava por orgulho acima de Deus, cujo povo
escravizara. A profecia da libertação do povo
judeu, da ruína da Babilônia e da derrota dos
assírios é, aliás, o assunto exclusivo desse
capítulo. (46)

64
Para Allan Kardec também o termo Lúcifer faz
referência à queda do orgulhoso rei da Babilônia,
que mantinha os judeus em cativeiro, nada mais
além disso.

O estudioso Thiago Toscano Ferrari, em


“Quem realmente é Satanás e quem são os
demônios?”, explica:

Satã não é Lúcifer mencionado em Is 14,12,


pois Isaías se referia ao Rei da Babilônia, já que a
narrativa da passagem inicia-se no capítulo treze,
que assim diz: “Sentença que, numa visão,
recebeu Isaías, filho de Amós, contra a
Babilônia”. (Is 13,1). Sentença que se proferia
contra a Babilônia e não a um anjo que, inclusive,
já houvera caído, segundo os que se apegam à
letra que mata. Ele, satã, não é um anjo que se
revoltou contra o Senhor. Ele é apenas um
acusador, ou seja, um dos “olhos” do Senhor, que
anda pela Terra e comparece perante o Senhor
para acusar os faltosos e não para se opor contra
Javé.
Analisando, dentro da concepção judaica,
lemos:

Yeshayahu (Isaías) 14:12 – “’ekh nafaleta


mi.shamaîm neyel ben-shachar nigda‘eta
la’aretz cholesh ‘al-goyim.” –
– “que! Tombada dos céus, astro filho da
conjuração. Tu ejetado para a terra, ó vencedor

65
de nações!
O termo – neyel ben-shachar – também pode
significar – brilhante filho da Aurora ou Alva. Na
LXX reza “heosforos = aquele que traz a
Aurora”; já Vulgata (Latin) é traduzido por
“Lucifer = portador da Luz”, ou seja aquele que
porta a claridade, mas que não a possui. Na
mitologia de Ugarit é associado a “deidade
Attar”, concorrente de Ba’al.
No Oriente Antigo, era comum a observação
dos astros e estrelas, e este texto faz alusão ao
planeta Vênus, que na época era confundido
com mais uma estrela (talvez por falta dos
instrumentos modernos), assim o identificavam,
porém a TaNaKh nos revelava que se tratava de
uma “Falsa Estrela”; pois uma estrela possui luz
própria; enquanto Vênus reflete a Luz do Sol,
assim como a Lua, é o espelho do Sol e
também traz claridade a Noite. [47]

No livro de Ezequiel, existe também a alusão da


queda de um querubim, ao qual transcrevemos
abaixo:

Ez 28:11-19 Veio a mim a palavra do


SENHOR, dizendo: Filho do homem, levanta
uma lamentação sobre o rei de Tiro, e dize-
lhe: Assim diz o Senhor DEUS: Tu eras o selo
da medida, cheio de sabedoria e perfeito em
formosura. Estiveste no Éden, jardim de Deus;
de toda a pedra preciosa era a tua cobertura:
sardônica, topázio, diamante, turquesa, ônix,
jaspe, safira, carbúnculo, esmeralda e ouro; em
ti se faziam os teus tambores e os teus pífaros;

66
no dia em que foste criado foram preparados. Tu
eras o querubim, ungido para cobrir, e te
estabeleci; no monte santo de Deus estavas, no
meio das pedras afogueadas andavas. Perfeito
eras nos teus caminhos, desde o dia em que
foste criado, até que se achou iniquidade em ti.
Na multiplicação do teu comércio encheram o
teu interior de violência, e pecaste; por isso te
lancei, profanado, do monte de Deus, e te fiz
perecer, ó querubim cobridor, do meio das
pedras afogueadas. Elevou-se o teu coração por
causa da tua formosura, corrompeste a tua
sabedoria por causa do teu resplendor; por terra
te lancei, diante dos reis te pus, para que olhem
para ti. Pela multidão das tuas iniquidades, pela
injustiça do teu comércio profanaste os teus
santuários; eu, pois, fiz sair do meio de ti um
fogo, que te consumiu e te tornei em cinza sobre
a terra, aos olhos de todos os que te veem.
Todos os que te conhecem entre os povos estão
espantados de ti; em grande espanto te
tornaste, e nunca mais subsistirá.

É importante frisar que o profeta está


predizendo a queda do rei Tiro, assim como lemos
“levanta uma lamentação sobre o rei de Tiro”.
Embora alguns isolem os versos 13 e 14 e aludem
também a um querubim, ou Lúcifer (satã),
igualmente em Isaías 14. Contudo, o verso 12
anterior é importante ser citado e testificado que a
profecia refere-se ao rei Tiro, sua soberba e futura
queda. (48) (grifos do original)

67
Portanto, o texto em hebraico nada tem a ver
com Lúcifer.

Os enciclopedistas Champlin e Bentes, em


Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia –
Vol. 3, no vocábulo “Lúcifer”, ao explicar sobre
“Satanás sua queda”, iniciam da seguinte forma:

O trecho de Isaías 14:12ss alude à queda de


Satanás. […] Historicamente, porém, a
referência é à derrocada dos poderes pagãos
e seus líderes. Os tiranos que se opunham a
Israel, como o rei da Babilônia, aspiravam ser
como os deuses, e se julgavam representantes
dessas divindades; mas haviam caído no sheol, o
mundo dos mortos. A Estrela Matutina
corresponde aos nomes hebraicos Helal e
Shahar, que são nomes de divindades pagãs. ( 49)

Além de confirmar que a passagem se refere


ao rei da Babilônia, ainda se diz que expressão a
“Estrela Matutina” é referência a uma divindade
pagã.

68
Anjos e demônios segundo o
Espiritismo

Em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec trata


dos anjos e demônios (questões 128 a 131), que
trazemos para conhecimento de quem for nos ler:

128. Os seres que chamamos anjos,


arcanjos, serafins, formam uma categoria
especial, de natureza diferente da dos outros
Espíritos?
“Não; são os Espíritos puros: os que se
acham no mais alto grau da escala e reúnem
todas as perfeições.”

“A palavra anjo desperta geralmente a ideia de


perfeição moral. Entretanto, ela se aplica muitas
vezes a designação de todos os seres, bons e
maus, que estão fora da Humanidade. Diz-se: o
anjo bom e o anjo mau; o anjo de luz e o anjo
das trevas. Neste caso, ele é sinônimo de
Espírito ou de gênio. Nós o tomamos aqui na sua
melhor acepção.” ( 50)

Pelo teor da pergunta, concluímos que


supunham existir duas classes de Espíritos: 1ª)
seres angelicais (criados nessa condição) e 2ª) os

69
humanos desencarnados. Na reposta fica claro que
isso não faz sentido, todos são espíritos criados por
Deus, os anjos são os Espíritos puros.

130. Sendo errônea a opinião dos que


admitem a existência de seres criados perfeitos e
superiores a todas as outras criaturas, como se
explica que essa crença esteja na tradição de
quase todos os povos?
“Fica sabendo que teu mundo não existe de
toda a eternidade e que, muito tempo antes
que ele existisse, já havia Espíritos que
tinham atingido o grau supremo. Os homens
então acreditaram que eles sempre foram assim.”
(51)

Achar que os Espíritos só existem a partir do


tempo assinalado em Gênesis, é julgar que Deus
estava inativo antes de criar o Espírito humano.
Sendo eterno e ativo, o resultado de sua criação se
perde na eternidade.

Na questão 131, o mais importante, para o


nosso estudo, são os comentários de Allan Kardec:

“A palavra demônio não implica a ideia de


Espírito mau, senão na sua acepção moderna,
pois a palavra grega daïmon, da qual se
origina, significa gênio, inteligência, e se

70
aplicava aos seres incorpóreos, bons ou maus,
indistintamente.
Por demônios, segundo a acepção vulgar da
palavra, se entendem seres essencialmente
malfazejos; seriam, como todas as coisas,
criados por Deus. Ora, Deus, que é
soberanamente justo e bom, não pode ter
criado seres naturalmente predispostos ao
mal e condenados para sempre. Se não fossem
obra de Deus, existiriam, como Ele, de toda a
eternidade, ou então haveria muitas potências
soberanas.
A primeira condição de toda doutrina é ser
lógica. Ora, a dos demônios, no sentido absoluto,
falha neste ponto essencial. Concebe-se que
povos atrasados, que desconhecem os
atributos de Deus e admitem em suas crenças
divindades malfazejas, também admitam
demônios, mas, para todo aquele que faz da
bondade de Deus um atributo por excelência, é
ilógico e contraditório supor que Ele tenha
criado seres votados ao mal e destinados a
praticá-lo perpetuamente, por isso seria negar
a sua bondade. Os partidários dos demônios se
apoiam nas palavras do Cristo; certamente não
seremos nós quem conteste a autoridade de
seus ensinos, que gostaríamos de ver mais no
coração do que na boca dos homens. Mas
estarão bem certos do sentido que Ele dava à
palavra demônio? Não é sabido que a forma
alegórica é uma das marcas distintivas de sua
linguagem? E dever-se-á tomar ao pé da letra
tudo o que o Evangelho contém? Não

71
precisamos de outra prova além da que nos
fornece esta passagem: “Logo após esses dias
de aflição, o Sol obscurecerá e a Lua não mais
dará sua luz, as estrelas cairão do céu e as
potências celestes serão abaladas. Em verdade
vos digo que esta geração não passará, sem que
todas estas coisas se tenham cumprido.”
(Mateus, 24:29 e 34).
[…].
Os homens fizeram com os demônios o que
fizeram com os anjos. Da mesma forma que
acreditaram na existência de seres perfeitos
desde toda a eternidade, tomaram os Espíritos
inferiores por seres perpetuamente maus. Pela
palavra demônio se deve, pois, entender os
Espíritos impuros, que muitas vezes não
valem mais do que as entidades designadas
por esse nome, com a diferença, porém, de
que seu estado é transitório. São Espíritos
imperfeitos que se rebelam contra as provas que
devem suportar e que, por isso, as sofrem por
mais tempo, mas que também alcançarão a
perfeição, […]. Poder-se-ia então aceitar a
palavra demônio com esta restrição; porém,
como a entendem atualmente, poderia induzir ao
erro, levando à crença na existência de seres
especiais criados para o mal.
Satanás é evidentemente a personificação
do mal sob forma alegórica, pois não se
poderia admitir um ser mau a lutar de igual
para igual com a Divindade e cuja única
preocupação consistisse em contrariar os
seus desígnios. Como o homem precisa de

72
figuras e imagens para impressionar a sua
imaginação, pintou os seres incorpóreos sob uma
forma material, com atributos que lembram suas
qualidades ou seus defeitos. […]. Os Modernos
representaram os anjos, os Espíritos puros, por
uma figura radiosa, de asas brancas, emblema
da pureza; e satanás com chifres, garras e os
atributos da bestialidade, emblemadas paixões
inferiores. O vulgo, que toma as coisas ao pé
da letra, viu nesses emblemas individualidades
reais, como outrora vira Saturno na alegoria do
Tempo. (52) (itálico do original)

Portanto, basta ter bom senso para não admitir


os demônios como também anjos já criados nessa
condição.

De O que é o Espiritismo, transcrevemos


este diálogo:

Padre. – O Evangelho ensina que o anjo das


trevas, ou Satã, se transforma em anjo de luz
para seduzir os homens.
A. K. – Satã, segundo o Espiritismo e a
opinião de muitos filósofos cristãos, não é um
ser real; é a personificação do mal, como
Saturno era outrora a do tempo. A Igreja apega-
se à letra dessa figura alegórica; é uma
questão de opinião que eu não discutirei.
Admitamos, por um instante, que Satã seja um
ser real; a Igreja, à força de exagerar seu

73
poder, tendo em vista intimidar, chega a um
resultado totalmente contrário, isto é, à
destruição, não somente do medo, mas também
da crença em tal personagem, segundo o
provérbio: “Quem muito quer provar, nada prova.”
Ela o representa como eminentemente fino,
sagaz e ardiloso, mas, na questão do Espiritismo,
fá-lo desempenhar o papel de louco ou de tolo.
Uma vez que seu fim é alimentar de vítimas o
inferno e arrebatar almas do poder de Deus,
compreende-se que se dirija àqueles que estão
no bem para induzi-los ao mal, e, para tal fim, se
veja obrigado a transformar-se, segundo
belíssima alegoria, em anjo de luz, isto é, que
ele hipocritamente simule a virtude, mas que
deixe escapar aqueles que já estavam em
suas redes, é o que não se pode
compreender.
Os que não admitem Deus nem a alma, que
desprezam a prece e vivem mergulhados no
vício, são dele, quanto é possível ser-se; nada
mais lhe resta fazer para sepultá-los no lamaçal;
ora, excitá-los a voltar a Deus, a orar, a
submeter-se à vontade do Criador, animá-los a
renunciar ao mal, mostrando-lhes a felicidade
dos escolhidos e a triste sorte que aguarda os
maus, seria ato de um simplório, mais estúpido
que o de dar liberdade a aves que estejam numa
gaiola, com o pensamento de apanhá-las de
novo.
Há, pois, na doutrina da comunicação
exclusiva dos demônios uma contradição que
fere todo homem sensato; nunca se persuadirá

74
alguém que os Espíritos que reconduzem a Deus
aqueles que o renegavam, ao bem os que
praticavam o mal; que consolam os aflitos, dão
força e coragem aos fracos; que, pela
sublimidade de seus ensinos, elevam a alma
acima da vida material, sejam auxiliares de Satã,
e que, por este motivo, se deva interdizer-nos
qualquer relação com o mundo invisível. ( 53)

Allan Kardec mantém em sua linha de


argumento uma lógica impecável, que faria calar
qualquer pessoa de bom senso.

Em O Livro dos Médiuns, no capítulo I, “Há


Espíritos?”, Allan Kardec tece seus comentários a
respeito desses dois personagens:

[…] Dizei mais que as almas não atingem o grau


supremo, senão pelos esforços que façam por se
melhorarem e depois de uma série de provas
adequadas à sua purificação; que os anjos são
almas que galgaram o último grau da escala,
grau que todas podem atingir, tendo boa vontade;
que os anjos são os mensageiros de Deus,
encarregados de velar pela execução de seus
desígnios em todo o Universo, que se sentem
ditosos com o desempenho dessas missões
gloriosas, e lhes tereis dado à felicidade um fim
mais útil e mais atraente, do que fazendo-a
consistir numa contemplação perpétua, que não
passaria de perpétua inutilidade. Dizei, finalmente,
que os demônios são simplesmente as almas

75
dos maus, ainda não purificadas, mas que
podem, como as outras, ascender ao mais alto
cume da perfeição e isto parecerá mais
conforme a justiça e a bondade de Deus, do
que a doutrina que os dá como criados para o
mal e ao mal destinados eternamente. Ainda
uma vez: aí tendes o que a mais severa razão, a
mais rigorosa lógica, o bom-senso, em suma,
podem admitir.
Ora, essas almas que povoam o Espaço são
precisamente o a que se chama Espíritos.
Assim, pois, os Espíritos não são senão as
almas dos homens, despojadas do invólucro
corpóreo. Mais hipotética lhes seria a existência,
se fossem seres à parte. Se, porém, se admitir que
há almas, necessário também será se admita que
os Espíritos são simplesmente as almas e nada
mais. Se se admite que as almas estão por toda
parte, ter-se-á que admitir, do mesmo modo, que
os Espíritos estão por toda parte. Possível,
portanto, não fora negar a existência dos Espíritos,
sem negar a das almas. (54)

Essa é uma versão resumida; mas, caso se


queira ver os argumentos de Allan Kardec, mais
desenvolvidos, recomendamos a obra O Céu e o
Inferno, capítulos VIII, “Os anjos” e cap. IX, “Os
demônios”.

Transcrevemos da Revista Espírita 1862,


mês de dezembro, o seguinte trecho:

76
O primeiro ponto no qual importa penetrar é a
natureza dos Espíritos do ponto de vista moral.
Não sendo os Espíritos senão as almas dos
homens, e não sendo os homens todos bons, não
é racional admitir que o Espírito de um homem
perverso se transforme subitamente, de outro
modo não haveria necessidade de castigo na vida
futura. A experiência vem confirmar esta teoria ou,
melhor dizendo, esta teoria é o fruto da
experiência. As relações com o mundo invisível nos
mostram, com efeito, ao lado de Espíritos sublimes
de sabedoria e de saber, outros Espíritos ignóbeis,
tendo ainda todos os vícios e todas as paixões da
Humanidade. A alma de um homem de bem será,
depois de sua morte, um bom Espírito; do
mesmo modo um bom Espírito, se encarnando,
fará um homem de bem; pela mesma razão, um
homem perverso, morrendo, dá ao mundo
invisível um Espírito perverso, e um mau
Espírito, se encarnando, não pode fazer um
homem virtuoso, e isto enquanto o Espírito não
estiver depurado ou não tiver sentido o desejo de
se melhorar; porque, uma vez entrado no caminho
do progresso, despoja-se pouco a pouco de seus
maus instintos; ele se eleva gradualmente na
hierarquia dos Espíritos, até que haja alcançado a
perfeição acessível a todos, não podendo Deus
ter criado seres votados ao mal ou infelizes
para a eternidade. (55)

A essas almas de homens perversos é que se


poderia designar de demônios, porém, levando-se
em conta que, também eles, atingirão ao topo da

77
escala espírita, tornando-se Espíritos puros, ou, no
linguajar popular, anjos. Na Revista Espírita
1863, Allan Kardec, explica exatamente isso:

“[…] Uns os chamam diabos ou demônios;


nós os chamamos simplesmente maus
Espíritos ou Espíritos inferiores, o que não
implica uma melhor qualidade, mas o que é muito
diferente pelas consequências, tendo em vista
que a ideia ligada aos demônios é a de seres à
parte, fora da Humanidade, e perpetuamente
votados ao mal, ao passo que não são outros
senão as almas dos homens que foram maus
sobre a Terra, mas que acabarão por se
melhorar um dia; […].” (56)

Do Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XII –


Amai os vossos inimigos, item 6, transcrevemos o
seguinte trecho:

Antigamente, sacrificavam-se vítimas


sangrentas para aplicar os deuses infernais, que
não eram senão os Espíritos maus. Aos deuses
infernais sucederam os demônios, que são a
mesma coisa. O Espiritismo vem provar que
esses demônios nada mais são do que as
almas dos homens perversos, que ainda não se
despojaram dos instintos materiais; que ninguém
logra aplacá-los a não ser pelo sacrifício de seu
ódio, isto é, pela caridade; que a caridade não
tem por efeito, unicamente, impedi-los de

78
praticar o mal, e sim o de os reconduzir ao
caminho do bem, contribuindo para a salvação
deles. […]. (57)

Eis a razão de nas casas espíritas existirem


reuniões destinadas ao esclarecimento dos Espíritos
infelizes, buscando trazê-los para o caminho do bem,
no qual encontrão a felicidade.

Na Revista Espírita 1864, mês de março,


Allan Kardec publica um “Resumo da pastoral do Sr.
Bispo de Estrasburgo”, que é bem curioso:

“O demônio se esconde sob todas as


formas possíveis, para eternizar sua
conspiração contra Deus e os homens, para
continuar sua obra de sedução. No paraíso, está
disfarçado sob a forma da serpente; se for
preciso, ou se isso puder contribuir para a
realização de seus projetos, transforma-se em
anjo de luz, como o provam mil exemplos
consignados na história.” ( 58)

Há uma intenção de provocar medo nos fiéis


e o demônio é um excelente instrumento. Aliás,
sempre dissemos que ele só existirá enquanto os
líderes religiosos dele se servirem para dominar os
que lhes seguem nas igrejas.

79
A afirmativa de que demônio pode se
transformar em anjo de luz, possivelmente, seja
ideia de Paulo, pois foi isso que disse aos coríntios:
“E não é de admirar, porque o próprio Satanás se
disfarça em anjo de luz.” (2 Coríntios, 11,14).

O “porém” dessa fala é que ela bem contraria


o que João disse no Evangelho, supostamente de sua
autoria: “Quem pratica o mal, tem ódio da luz, e não
se aproxima da luz, para que suas ações não sejam
desmascaradas.” (João 3,20)

Nós espíritas sabemos que o corpo espiritual,


designado de perispírito, emite luz, compatível com
o grau de evolução do Espírito. Daí ser impróprio
dizer “Espírito de Luz” e “Espírito das sombras”.

Em O Céu e o Inferno, o Espírito São Luís,


explica que:

“Por sua natureza, o perispírito possui uma


propriedade luminosa que se desenvolve sob
o influxo da atividade e das qualidades da
alma. […] A intensidade da luz é diretamente
proporcional à pureza do Espírito, de sorte que
as menores imperfeições morais a atenuam e
enfraquecem. A luz irradiada por um Espírito
será tanto mais viva, quanto maior o seu
adiantamento. […].” (59)

80
O único e importante detalhe é que essa
luminosidade não está sobre o comando da
vontade do Espírito, mas estritamente ligada à sua
evolução moral, razão pela qual não há como os
inferiores se disfarçarem em Espíritos de luz.

81
Conclusão

O fato é que sempre que nos envolvemos em


alguma pesquisa, numa profundidade desejável,
acabamos por descobrir a verdade.

É uma pena que a grande massa de crentes


fique satisfeita com as informações que seus líderes
religiosos lhes passam. Já que, infelizmente, o que
eles mais querem é tê-la como massa, para moldá-la
a seu gosto, do que a esclarecer sobre as verdades
espirituais.

Com isso, acabam por “abafar” as vozes de


milhares de Espíritos que recebem de Deus a nobre a
missão de ajudar a humanidade em seu progresso
moral e espiritual.

Lembramo-nos da obra O Além Existe, onde


encontramos a importante mensagem dada pelo
Espírito André Albertini a seu pai, Dr. Lino Sardos
Albertini (1915-2005), sobre a razão de haver
desencarnado tão jovem, quando contava apenas
com 26 anos de idade.

82
Destacamos este trecho da narrativa do Dr.
Lino:

[…] André disse-nos ter nascido e morrido para


executar uma missão especial, isto é, fornecer
as provas da existência da vida após a morte,
de modo que muitas pessoas acreditem mais em
Deus e respeitem a sua lei. […]. (60)

Aqui no Brasil, essa obra foi publicada em


1989, pela editora Edições Loyola, mas infelizmente,
só ficou na primeira edição. Joga-se a verdade para
debaixo do tapete.

Bom, esperamos que a nossa pesquisa tenha


servido a você, caro leitor, no sentido de ver o
quanto é ilógica a crença no demônio.

Se você não faz o mal com medo dele,


sentimos em lhe informar que você não é uma
pessoa boa, porquanto, que é bom faz o bem por
prazer não por medo. Pense nisso!

83
Referências bibliográficas

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Imagens:

Céu e do Inferno: capa livro “Mitos Cristãos” de José


Pinheiro de Souza.
ENCYCLOPEDIA SUMMIT LIGHTHOUSE, São João
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disponível em:
https://encyclopedia.summitlighthouse.org/images/thu
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%2C_san_giovanni_evangelista_a_patmos.jpg/360px-
Jacopo_vignali
%2C_san_giovanni_evangelista_a_patmos.jpg. Acesso
em: 26 jul. 2022.

88
Dados biográficos do autor

Paulo da Silva Neto Sobrinho é


natural de Guanhães, MG. Formado em
Ciências Contábeis e Administração de
Empresas pela Universidade Católica
(PUC-MG). Aposentou-se como Fiscal de
Tributos pela Secretaria de Estado da
Fazenda de Minas Gerais. Ingressou no
movimento Espírita em Julho/87.
Escreveu vários artigos que foram publicados em seu
site www.paulosnetos.net e alguns outros sites
Espíritas na Web.
Livros publicados por Editoras:
a) impressos: 1) A Bíblia à Moda da Casa; 2) Alma
dos Animais: Estágio Anterior da Alma Humana?; 3)
Espiritismo, Princípios, Práticas e Provas; 4) Os Espíritos
Comunicam-se na Igreja Católica; 5) As Colônias
Espirituais e a Codificação; 6) Kardec & Chico: 2
missionários. Vol. I; 7) Reuniões de Desobsessão
(Momento de Acolher Espíritos em Desarmonia); e 8)
Espiritismo e Aborto.
b) digitais: 1) Kardec & Chico: 2 missionários. Vol. II,
2) Kardec & Chico: 2 missionários. Vol. III; 3) Racismo em
Kardec?; 4) Espírito de Verdade, quem seria ele?; 5) A
Reencarnação tá na Bíblia; 6) Manifestações de Espírito
de pessoa viva (em que condições elas acontecem); 7)
Homossexualidade, Kardec já falava sobre isso; 8) Chico
Xavier: uma alma feminina; 9) Os nomes dos títulos dos

89
Evangelhos designam seus autores?; 10) Apocalipse:
autoria, advento e a identificação da besta; 11) Chico
Xavier e Francisco de Assis seriam o mesmo Espírito?; 12)
A mulher na Bíblia; 13) Todos nós somos médiuns?; 14)
Os seres do invisível e as provas ainda recusadas pelos
cientistas; 15) O Perispírito e as polêmicas a seu respeito;
16) Allan Kardec e a lógica da reencarnação; 17) O fim
dos tempos está próximo?; 18) Obsessão, processo de
cura de casos graves; 19) Umbral, há base doutrinária
para sustentá-lo?; 20) A aura e os chakras no Espiritismo;
21) Os Quatro Evangelhos, obra publicada por Roustaing,
seria a revelação da revelação?; 22) Espiritismo: Religião
sem dúvida; 23) Allan Kardec e suas reencarnações; 24)
Médiuns são somente os que sentem a influência dos
Espíritos?; 25) EQM: prova da sobrevivência da alma; 26)
A perturbação durante a vida intrauterina; e 27) Os
animais: percepções, manifestações e evolução.

Belo Horizonte, MG.


e-mail: [email protected]

90
1 SILVA NETO SOBRINHO, Os nomes dos títulos dos
Evangelhos designam seus autores?, disponível em:
http://www.paulosnetos.net/artigos/summary/6-ebook/10-os-
nomes-dos-ttulos-dos-evangelhos-designam-seus-autores0
2 Dicionário Pratico Barsa, p. 18.
3 Dicionário Pratico Barsa, p. 94.
4 PASTORINO, Sabedoria do Evangelho, vol. 1, p. 30.
5 BÍBLIA SHEED, p. 23.
6 Nota da Transcrição: “Um deus: um ser comparável a um
deus.”
7 BÍBLIA CATÓLICA ONLINE (site), 1 Samuel 28, disponível em:
https://www.bibliacatolica.com.br/biblia-ave-maria/i-
samuel/28/
8 MOUNT, Saul and the Witch of Endor, 1828, óleo sobre tela,
Smithsonian American Art Museum, disponível em:
https://s3.amazonaws.com/assets.saam.media/files/styles/x_
large/s3/files/images/1966/SAAM-1966.48.1_1.jpg?
itok=FaIe8-Zf
9 MONLOUBOU e DU BUIT, Dicionário Bíblico Universal, p. 556.
10 Bíblia de Jerusalém, p. 428.
11 Bíblia Sagrada Barsa, p. 222.
12 Bíblia Sagrada Santuário, p. 392.
13 Bíblia Mundo Cristão, p. 400.
14 CHAMPLIN, O Novo Testamento Interpretado Versículo por
Versículo, vol. 3, p. 250.
15 ENCYCLOPEDIA SUMMIT LIGHTHOUSE, São João Evangelista
em Patmos, Jacopo Vignali (século XVII), disponível em:
https://encyclopedia.summitlighthouse.org/images/thumb/f/f
3/Jacopo_vignali
%2C_san_giovanni_evangelista_a_patmos.jpg/360px-
Jacopo_vignali%2C_san_giovanni_evangelista_a_patmos.jpg
16 Bíblia Sagrada Barsa, p. 309.
17 SILVA, Analisando as Traduções Bíblicas, p. 278.

91
18 RIBEIRO, Assim falou Zaratustra, in A Revista Religiões, nº 3,
p. 44.
19 LUZA, Etapas da história de Israel, disponível em:
https://www.paulus.com.br/portal/etapas-da-historia-de-
israel/#.Yt7EYj3MK5c
20 Bíblia Shedd, p. 720.
21 Bíblia Sagrada Vozes, p. 634.
22 Bíblia do Peregrino, p. 1062-1063.
23 JOSEFO, História dos Hebreus, p. 695.
24 CHAMPLIN, O Novo Testamento Interpretado versículo por
versículo, vol. 1, p. 694-695.
25 CHAMPLIN, O Novo Testamento Interpretado versículo por
versículo, vol. 3, p. 250.
26 CHAMPLIN, Evidências científicas demonstram que você vive
depois da morte, p. 100.
27 CHAMPLIN e BENTES, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e
Filosofia – Vol. 5, p. 342-343.
28 CHAMPLIN e BENTES, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e
Filosofia – Vol. 1, p. 172.
29 CHAMPLIN e BENTES, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e
Filosofia – Vol. 6, p. 130-131.
30 KARDEC, Revista Espírita 1859, p. 323-325.
31 SILVA, Civilização Hindu, in InfoEscola, disponível em:
https://www.infoescola.com/historia/civilizacao-hindu/
32 Dicionário Prático Barsa, p. 18.
33 GAVETA DE BAGUNÇAS (site), A queda de lúcifer e dos anjos
rebeldes, por Gustave Doré, disponível em:
https://i2.wp.com/gavetadebaguncas.com.br/wp-content/upl
oads/2015/05/Onde-fala-sobre-a-queda-de-L%C3%BAcifer-
na-B%C3%ADbila.jpg?w=959&ssl=1
34 PALAVRAS DE SALVAÇÃO (site), O que a bíblia nos ensina
sobre anjos decaídos, disponível em:
https://homota2.wordpress.com/2006/08/09/o-que-a-biblia-
nos-ensina-sobre-anjos-caidos/

92
35 SIGNIFICADOS, Significado de Lúcifer, disponível em:
https://www.significados.com.br/lucifer/
36 DICIO, Querubim, disponível em:
https://www.dicio.com.br/querubim/
37 Bíblia Sagrada Vozes, p. 31.
38 Bíblia Sagrada Vozes, p. 376.
39 WIKIPÉDIA, Lamassu, disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lamassu
40 DEPOSITFOTOS (site), Querubim, disponível em:
https://st3.depositphotos.com/1902695/15621/i/1600/deposi
tphotos_156214886-stock-photo-ancient-babylonia-and-
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41 Bíblia Shedd, p. 997.
42 Bíblia Shedd, p. 996.
43 Bíblia Shedd, p. 997.
44 Bíblia King James 1611, p. 408.
45 KARDEC, O Céu e o Inferno, p. 116-117.
46 KARDEC, O Céu e o Inferno, p. 117.
47 Nota transcrição: Traduções do hebraico para português
feitas por um judeu ortodoxo no Fórum Evangelho em
2005/2006. (http://forumevangelho.com.br/)
48 FERRARI, Quem realmente é Satanás e quem são os
demônios?, disponível em:
https://apologiaespirita.com.br/quem-realmente-e-satanas-
e-quem-sao-os-demonios/, p. 3-4.
49 CHAMPLIN e BENTES, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e
Filosofia – Vol. 3, p. 916.
50 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 100.
51 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 100-101.
52 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 101-102.
53 KARDEC, O Que é o Espiritismo, p. 138-139.
54 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 21-22.
55 KARDEC, Revista Espírita 1862, p. 353-354.

93
56 KARDEC, Revista Espírita 1863, p. 139.
57 KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, p. 162.
58 KARDEC, Revista Espírita 1864, p. 83.
59 KARDEC, O Céu e o Inferno, p. 258.
60 ALBERTINI, O Além Existe, p. 24-25.

94

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