Relatorio Ciclone IDAI 1
Relatorio Ciclone IDAI 1
Relatorio Ciclone IDAI 1
Ficha Técnica:
Centro de Integridade Pública
Maputo, 2019
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Relatório da monitoria da ajuda humanitária
às vítimas do ciclone Idai
Agosto, 2019
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Índice
Sumário Executivo........................................................................................................................ 5
3.2. Distribuição dos donativos dos armazéns distritais para os centros de acolhimento.11
Conclusões................................................................................................................................. 16
Recomendações....................................................................................................................... 17
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Sumário Executivo
Moçambique é constantemente afectado por vários desastres provocados por fenómenos
naturais tais como inundações, seca, ciclones e sismos. Alguns destes fenómenos são de
carácter cíclico, enquanto outros são ocasionais. Os ciclones, secas e inundações devem-
se à influência de factores como anticiclones subtropicais do oceano Índico, a Zona de
Convergência Intertropical, depressões térmicas da África Austral e a passagem das frentes
frias no sul sobre o clima do país.
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Nota introdutória
Em Março do presente ano, Moçambique foi afectado pela maior catástrofe natural da
vivida na África subsaariana. A região central de Moçambique, com maior ênfase para a
cidade da Beira, foi a que sofreu danos avultados, entre humanos e materiais e, segundo
dados fornecidos/partilhados pelo Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC),
registou mais de 600 mortes, foram afectadas cerca de 1,4 milhões de pessoas e a cidade
ficou parcialmente destruída.
Uma das primeiras acções desencadeadas após a passagem do ciclone foi a abertura de
centros de acomodação, num total de 18, que estavam distribuídos da seguinte forma: 5
na cidade da Beira, 2 no distrito de Dondo, 4 no distrito de Nhamatanda e 7 no distrito de
Buzi.
A nível dos distritos, em Nhamatanda foram afectadas 273,676 mil pessoas e destas foram
assistidas 56 444, o que corresponde a 20,6% dos afectados pertencentes a 11, 262 famílias.
A assistência às vítimas foi prestada por intermédio de 51 centros de acolhimento instalados
ao nível do distrito.
No distrito de Dondo foram afectadas 185.012 pessoas. Desse universo, 23, 3%, que
corresponde a 43.183 pessoas pertencentes a 8.763 famílias, receberam assistência em 66
centros de acolhimento montados ao nível do distrito.
No distrito de Buzi foram afectados 177. 000 pessoas. Desse universo foram assistidas 9500, o
que corresponde a 5,3 % dos afectados pertencentes a 1706 famílias. Para assistir a essas
pessoas foram criados 7 centros de acolhimento que ficaram sob gestão do INGC a nível
do distrito.
Para fazer face à emergência causada pela acção deste desastre natural, houve uma
onda de solidariedade nacional e internacional caracterizada por doações de bens
alimentares que ascendiam a 500 toneladas e de valores monetários que, até ao dia 31
de Março, ascendiam aos 100 milhões de meticais1.
Os donativos arrecadados eram enviados para as zonas afectadas por via marítima,
terrestre e aérea. Na cidade da Beira, a recepção era feita por uma equipa técnica
constituída por técnicos do INGC e do Grupo Terra Mar que faziam a gestão dos donativos
a partir dos armazéns locais criados para o efeito.
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1. Gestão dos donativos por parte do INGC a nível
central
No âmbito do apoio às vítimas do ciclone Idai e da resposta do Governo de Moçambique,
o INGC tem recebido donativos provenientes de diversos países, instituições públicas e
privadas, ONG’s, sociedade civil, confissões religiosas, singulares, organismos internacionais
e outras entidades.
Num acto de prestação pública de contas, o INGC decidiu partilhar quinzenalmente a lista
dos donativos recebidos. A primeira publicação foi feita no dia 3 de Abril. Essa publicação
arrolava todos os donativos recebidos até ao dia 31 de Março. Da lista publicada constavam
produtos de primeira necessidade, entre alimentares e de higiene, bem como os valores
monetários recebidos em meticais e dólares norte-americanos. De acordo com o mesmo,
foram arrecadados 301, 516, 00 dólares e mais de 70 milhões de meticais.
Figura 1 Lista dos donativos recebidos, publicada no Jornal Noticias do dia 17 de Abril de 2019.
A terceira publicação foi feita no dia 3 de Maio e era referente às doações recebidas de
10 a 20 de Abril. Constavam da lista produtos alimentares, de higiene, roupas e s doações
monetárias recebidas em meticais, dólares norte-americanos e euros, num total de
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189.241.597,56 meticais. Na publicação do dia 3 de Maio não houve nenhuma menção
ao valor de 119 milhões de dólares de apoio prestado pelo Fundo Monetário Internacional
(FMI).
Esta publicação trouxe matéria nova ao apresentar o valor total arrecado durante o
intervalo de tempo em alusão no final da tabela. Porém, o valor global apresentado não
incluía a doação feita pelo Ministério do Interior (MINT) na ordem dos 10.112.446,50 de
meticais, sendo que o mesmo vem arrolado na tabela do jornal.
As doações feitas por via do porto de Maputo por uma pessoa ou instituição eram
devidamente registadas por equipas de recepção compostas por voluntários e era emitida
e entregue ao doador uma cópia da nota de recepção e outra era conservada pela
Companhia de Desenvolvimento do Porto de Maputo (MPDC). Este procedimento não
mereceu qualquer excepção.
Por via marítima, através do porto de Maputo, foram transportados 93 contentores, o que
correspondia a 2 243 toneladas, com destino à cidade da Beira.
Em relação aos s donativos transportados por via terrestre por meio de camiões alugados,
até ao momento não se conhece o nome da empresa que os alocou e quais foram as
contrapartidas que a mesma recebeu. Os camiões que eram carregados no armazém
central do INGC em Maputo, no acto de carregamento recebiam uma guia de entrega a
ser apresentada no local de chegada, que era a cidade da Beira. Constatou-se que que
os camiões não eram escoltados ou não eram acompanhados por agentes da Polícia
da República de Moçambique, o que não garantia o mínimo de segurança para evitar
desvios dos produtos ao longo do percurso.
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Depois da ocorrência do ciclone, os armazéns do INGC a nível da província de Sofala
ficaram destruídos e, como forma de garantir um espaço para colocar os produtos,
recorreu-se aos armazéns da empresa privada Terra Mar.
Segundo César Tembe, Director Nacional da Logística do INGC, esta empresa era
responsável por receber os produtos, quer os que chegavam via marítima, quer os que
chegavam via terrestre ou aérea, sendo que o INGC tinha uma equipa de despachantes
aduaneiros que tratava do processo de isenção dos direitos alfandegários mediante os
acordos que o INGC tem com as Alfandegas. No caso dos bens que vinham de fora do
país usando a via aérea ou terrestre, o INGC tramitava expediente alfandegário. Ou seja,
os trabalhadores da empresa Terra Mar tinham que estar no acto da entrega dos bens para
fazer o registo e a confirmação física dos mesmos físicos com os técnicos do INGC. Após
essa verificação os bens eram transportados em camiões para os armazéns da TerraMar.
Figura 2. À esquerda o avião russo que transportou donativos para as vítimas do Idai; à direita, polícia a escoltar
os donativos para o armazém do INGC
Após a chegada dos aviões internacionais com donativos para o INGC, a equipa que
se encontrava no aeroporto tratava de todas as questões de logística alfandegária. Na
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ocasião emitia-se -se uma nota de recebimento que era partilhada entre o INGC e o
doador. De seguida, procedia-se à descarga e ao recarregamento dos camiões que
transportavam os produtos doados para os armazéns sendo que, nalguns casos, os camiões
eram acompanhados por uma escolta policial, como ilustra a figura 2.
Com vista a garantir maior controlo no transporte dos bens doados, introduziu-se um
sistema eletrónico. O referido sistema tinha como função alertar as autoridades em caso
do camião parar durante o seu trajecto parão local da descarga, de modo a que fosse
assegurado que os produtos chegassem até aos destinatários.
Os donativos enviados para o distrito de Dondo eram recebidos por técnicos distritais do
INGC, membros do governo distrital e municipal. Neste distrito o processo de distribuição
dos donativos pelas localidades e centros de acolhimento estava a cargo do Programa
Mundial de Alimentação (PMA), como resultado de uma parceria firmada entre esta
instituição e o INGC.
Por seu turno, os produtos canalizados para o distrito de Nhamatanda eram transportados
em camiões sem escolta policial e eram recebidos por uma equipa técnica composta
por membros do INGC e do governo distrital e municipal. De seguida os produtos eram
acondicionados no armazém da Bolsa de Mercadoria de Moçambique (BMM). O referido
armazém estava sob gestão do governo do distrito. No armazém encontravam-se
depositados produtos de diversas organizações como o INGC, PMA, Parque Nacional de
Gorongosa (PNG), entre outras entidades que prestaram apoio às vítimas deste distrito.
Numa primeira fase, no distrito do Buzi a distribuição era feita por via de helicópteros do
PMA. Após terem sido criadas condições de transitabilidade por via terrestre, os produtos
passaram a ser enviados por meio de camiões. Os camiões saíam dos armazéns localizados
na cidade da Beira sem nenhum acompanhamento policial.
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3.2. Distribuição dos donativos dos armazéns distritais
para os centros de acolhimento
Nos centros de acomodação montados na cidade da Beira, inicialmente, a assistência era
feita em três dias intercalados. Depois passou a ser semanal e a partir de 1 de Abril passou
a ser quinzenal. Os produtos eram retirados do armazém mediante uma solicitação feita
pelo técnico do INGC afecto ao centro. No caso do centro de acolhimento de Peacock a
requisição era feita dois dias antes do stock acabar, porém, não há registo de nenhuma
guia de remessa nem de entrega dos produtos na posse dos responsáveis do centro, uma
vez que a gestão dos mesmos estava a cargo de técnicos do INGC.
O centro possuía uma tenda que servia como armazém protegida por dois agentes da
PRM. No centro de Peacock constatou-se que que, apesar de não ter havido distribuição
dos donativos pelas famílias, isso não evitou o desvio de produtos nem que fosse aberta
uma pequena banca no mesmo local, na entrada do centro de acomodação, onde
uma pequena quantidade dos produtos doados foi colocada à venda, conforme ilustra
a figura 3.
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Figura 4 À esquerda, membros da OMM proferindo discursos antes da entrega das roupas por si angariadas; à
direita, famílias acomodadas no centro.
As doações, tanto as que estavam sob gestão do município como as que estavam sob
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gestão do governo distrital foram acondicionadas nos armazéns da BMM. O armazém
estava na responsabilidade do governo distrital, porém a gestão do mesmo estava a cargo
dos colaboradores da BMM. Para a retirada dos produtos do armazém, era necessário
que o técnico apresentasse uma requisição assinada pelo responsável da logística distrital
ou municipal. No acto da retirada dos donativos o técnico do INGC ou do município
assinavam uma guia de recepção juntamente com o fiel do armazém, que era colaborador
da BMM. Há que salientar que os produtos eram retirados do armazém para os centros de
acolhimento sem nenhum acompanhamento policial.
Estes eram entregues ao técnico do INGC responsável pela logística a nível do distrito.
Após a certificação dos produtos o técnico assinava a guia de entrega, conforme ilustra
a figura 5.
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outros 6 centros de acolhimentos montados no distrito, como os centros de Estoquinha,
Bondua, Inharogue e Grudjo.
Figura 7 Requisições de produtos alimentares feitas pelo responsável do centro de acomodação Samora
Machel.
Como é possível ver na figura 7, o sistema usado para a certificação das quantidades
não era transparente, uma vez que o mesmo era fácil de adulterar. Para que o processo
fosse mais transparente, o INGC devia colaborar de forma mais activa com a PRM e a
polícia municipal das áreas afectadas para prevenir o desvio dos produtos por parte dos
transportadores.
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4. Evidências de corrupção / desvios e falta de
transparência na gestão dos donativos
A procuradoria recebeu muitas denúncias, mas devido à falta de colaboração dos
denunciantes, por receio ou por outros motivos, somente registou-se a abertura de 2
processos crime, um dos quais já foi julgado e culminou com a condenação de 2 arguidos
a uma pena suspensa de 14 meses de prisão.
No que diz respeito aos critérios usados pelo INGC no Procurement para a contratação de
empresas para a prestação de serviços de transporte dos donativos, a falta de informação
de interesse público denota falta de transparência no processo de assistência humanitária.
Mesmo considerando a situação de emergência em que as zonas efectadas pelo ciclone
se encontravam, devia ter sido disponibilizada informação suficiente para garantir maior
transparência aos processos ao nível do INGC e do Estado moçambicano.
A não prestação de contas sobre o uso dos valores monetários doados para fazer face aos
efeitos do ciclone por parte das autoridades competentes, colocou em dúvida a resposta
à emergência em matéria de transparência.
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Conclusões
O processo de ajuda humanitária às vítimas do ciclone Idai nas zonas afectadas,
concretamente na província de Sofala, não foi totalmente transparente, atendendo que
houve muitas situações em que não foram implementadas medidas de segurança durante
o transporte dos bens doados para as zonas afectadas, o que pode ter propiciado a
ocorrência de desvios não detectados ao longo do percurso. Este facto elevou o nível de
desconfiança sobre os sistemas de controlo e gestão do INGC.
Neste processo de gestão dos bens doados, deviam ter estado envolvidas organizações
da sociedade civil ou cidadãos de reconhecido mérito, bem como instituições religiosas
organizadas e outras entidades na gestão da ajuda na altura da sua recepção,
acondicionamento e posterior distribuição às populações afectadas. Estas entidades
iriam conferir uma maior credibilidade ao processo e confirmariam, a posterior, se teria
acontecido um uso racional e transparente dos recursos disponibilizados em todas as suas
vertentes (ou seja, tanto no que se refere aos bens, como no que se refere aos valores
monetários).
Um dos aspectos que gera desconfiança sobre a integridade deste processo é o facto de,
até ao momento, não ter sido partilhada informação oficial acerca dos critérios usados
para se proceder ao aluguer dos camiões que efectuaram o transporte dos bens doados
de Maputo para a cidade da Beira, assim como daqueles que estiveram envolvidos no
transporte dos produtos doados e que partiam dos armazéns, na cidade da Beira, para os
distritos afectados.
A não existência de um regulamento sobre as etapas que devem ser observadas para
a canalização dos bens doados, suas condições e medidas de segurança, entre outras
medidas, cria espaço para a o aproveitamento individual por parte de indivíduos de
dentro e de fora das instituições encarregadas de gerir o processo de ajuda humanitária.
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Recomendações
O Governo deve disponibilizar informação sobre toda a ajuda recebida em conexão com
o ciclone Idai (seja financeira, seja por via dos bens doados) e outros eventos extremos de
igual natureza e dimensão que venham a ocorrer.
É necessário que se crie uma entidade de auditoria ou controle interno no INGC, que seja
dotada de autonomia bastante para exercer as suas atribuições e competências, visando
conferir integridade e transparência à actuação dos funcionários deste órgão e à forma
como estes se relacionam com os colaboradores de outros órgãos envolvidos nas acções
de ajuda subordinada ao respectivo director ou à Ministra da Administração Estatal e
Função Pública, na situação actual.
Nas acções a serem desencadeadas no local onde ocorrem os desastres naturais em que
os afectados necessitem da intervenção do INGC, é importante que:
Para além das organizações não governamentais e associações, existem outros actores
da sociedade civil que têm tido um papel relevante na gestão de desastres naturais que
podiam ser envolvidos no processo de gestão de calamidades e dos seus efeitos
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Parceiros:
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