Cardiologia
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Anatomia
É importante se ter uma noção da anatomia da valva mitral para que nós possamos
entender a fisiopatologia da estenose mitral.
Fisiopatologia
Quando a valva mitral se encontra aberta ela tem uma área de 4 a 6 cm². Com
essa abertura, há uma boa vazão sangüínea do átrio para o ventrículo esquerdo.
No ritmo sinusal normal, nós temos um ciclo pressórico nas cavidades
cardíacas que se mantém mais ou menos constante.
Epidemiologia
A estenose mitral tem uma maior incidência no sexo feminino numa proporção
de 60 a 70% dos casos.
Etiologia
Complicações
Exame físico
Lesões associadas
fechem adequadamente. Quando essa insuficiência é pequena, tratada a estenose mitral, ela
pode regredir. Porém, quando ela for importante, faz-se necessário tratamento cirúrgico.
O sopro sistólico dessa insuficiência tricúspide, audível ao nível da borda
esternal esquerda, deve ser diferenciado de uma insuficiência mitral associada. Um meio de
diferenciá-los são as manobras de apnéia pós-inspiratória e pós-expiratória, que intensificam,
respectivamente, o sopro da insuficiência tricúspide e o sopro da insuficiência mitral.
Também devido a dilatação do ventrículo direito, os folhetos da valva
pulmonar podem sofrer separação e não conseguir se fechar normalmente. Com isso, surge
um chiado característico causado pelo refluxo de sangue da valva pulmonar, ao qual se dá o
nome de sopro de Graham-Stiel.
Como a principal causa da estenose mitral é a febre reumática, pode
ocorrer acometimento de outras valvas simultaneamente, especialmente da valva aórtica.
Exames complementares
O ecocardiograma é o exame
complementar mais específico para o
diagnóstico da estenose mitral. Ele mostra a
anatomia da valva mitral; o comprometimento
do aparelho valvar e subvalvar (cordoalhas
tendíneas), que podem sofrer fibrose;
dimensiona volumes e diâmetros das câmaras
cardíacas; estima pressões, bem como o grau de
hipertensão arterial pulmonar; reconhece
disfunção ventricular esquerda; quantifica em
centímetros quadrados a área valvar mitral;
revela trombos atriais; e identifica lesões
Figura 10 - Ecocardiograma unidimensional associadas, como a valvopatia aórtica e
vegetações de endocardite infecciosa.
CARDIOLOGIA - 8
Diagnósticos diferenciais
cirúrgico, no qual se retira a membrana que separa essa 3a câmara atrial do restante do átrio
esquerdo.
Tratamento
Anatomia
Epidemiologia
Etiologia
Insuficiência coronariana
A falta de irrigação de uma região com isquemia
leve de um músculo papilar pode levar a um prolapso da cúspide valvar para o
átrio esquerdo. Porém, isso pode ser revertido corrigindo-se a isquemia.
Doença reumática
Miocardiopatias
A miocardiopatia dilatada pode levar a uma dilatação dos
anéis átrio-ventriculares causando uma insuficiência que pode ser mitral e/ou
tricúspide.
Nessa patologia não ocorre uma alteração anatômica nos
aparelhos valvares e subvalvares, mas apenas uma inadequada coaptação entre
suas cúspides. Por isso, pode-se dizer que essa insuficiência é funcional.
A miocardiopatia hipertrófica também pode gerar uma
insuficiência mitral leve por provocar uma hipertrofia dos músculos papilares e
conseqüentemente um processo isquêmico crônico, com fibrose e retração
desses músculos.
Doenças congênitas
Defeito do coxim endocárdico;
Fibroelastose endocárdica;
Valva mitral em pára-quedas;
Outras.
Outras causas
Calcificação idiopática do ânulo mitral Ocorre principalmente em mulheres
idosas e pode ter causa degenerativa;
Lupus Eritematoso Sistêmico;
Artrite Reumatóide;
Espondilite Anquilosante.
CARDIOLOGIA - 14
Fisiopatologia
Exame físico
Figura 7 - Diferenciação entre o sopro de uma insuficiência mitral crônica severa, à esquerda, e de uma
insuficiência mitral aguda, à direita
Exames complementares
Através do
eletrocardiograma, nós podemos
detectar uma onda P bífida, indicando
dilatação atrial esquerda, ou nos casos
com maior grau de evolução, a
ausência de onda P, que é substituída
por ondulações irregulares, de pequena
Figura 9 - Eletrocardiograma demonstrando ausência de
ondas P e presença de ondas f, características de Fibrilação
Atrial
CARDIOLOGIA - 17
O ecocardiograma contribui no
diagnóstico da insuficiência mitral e
na sua provável etiologia; no grau de
hipertensão pulmonar e da
insuficiência cardíaca; na presença
de trombos intracavitários; etc.
O cateterismo cardíaco entrou
em desuso com a ecocardiografia e,
atualmente, só é usado na pesquisa
de insuficiência coronariana em
pacientes acima dos 45 anos
indicados para cirurgia.
Tratamento clínico
Anatomia e fisiologia
Etiologia
Fisiopatologia
Normalmente, a abertura da valva aórtica tem uma área variando entre 2,5 a 3,5
cm². Quando sua área de abertura apresenta medidas inferiores a estas, nós dizemos que existe
uma estenose aórtica.
Ainda em relação a área de abertura da valva aórtica, nós podemos classificar a
estenose aórtica em leve, quando essa área está entre 1 e 2,5 cm²; moderada, quando sua área
mede entre 0,75 e 1 cm²; ou severa, quando a área de abertura é inferior a 0,75 cm².
Essa classificação, contudo, não é estanque. Com a estenose aórtica, vai haver
uma obstrução gradual e evolutiva, em termo de décadas, ao nível do ventrículo esquerdo,
com conseqüente hipertrofia compensatória (os miócitos podem aumentar em até 5 ou 7 vezes
seu diâmetro normal) e diminuição do seu diâmetro interno. Isso ocorre com a finalidade de
manter constante o débito cardíaco e pode ser demonstrado pela lei de LaPlace.
A lei de LaPlace diz que a tensão no interior de uma cavidade é igual a pressão
exercida em suas paredes multiplicada pelo seu diâmetro e dividida pelo dobro da sua
espessura.
PD
T= (1)
2E
área de abertura da valva aórtica for inferior a 0,75 cm², nós vamos ter a manifestação
sintomatológica da doença.
Muitas vezes, porém, o paciente passa anos assintomático, sendo sua estenose
aórtica detectável somente pelo exame físico de rotina e pelos exames complementares.
Quando o ventrículo esquerdo não for mais capaz de compensar o débito
cardíaco, ou seja, a pressão no seu interior for superior ao mecanismo compensatório de
hipertrofia ventricular e de redução do seu diâmetro, vai haver uma redução da contratilidade
miocárdica com redução ainda maior do débito cardíaco e do tempo de ejeção, associada a
uma redução do gradiente pressórico entre o ventrículo esquerdo e a aorta, entrando o coração
numa disfunção sistólica ventricular, com dilatação e morte.
Desta forma, para a adequada quantificação do grau de estenose é importante
que se recorde que caso haja disfunção ventricular e redução do débito cardíaco pode haver
redução do gradiente pressórico transvalvar, mesmo em casos de estenose grave com redução
extrema do orifício aórtico.
Assim, o gradiente pressórico é bom indicador do grau de estenose em
pacientes que apresentam débito cardíaco normal, mas pode subestimar o grau de estenose
quando houver disfunção ventricular.
Exame físico
Pode ocorre irradiação desse sopro da estenose aórtica para a fúrcula esternal e
para os vasos da base.
A intensidade do sopro pode diminuir nos casos graves em que haja disfunção
ventricular, podendo mesmo desaparecer.
Exames complementares
Figura 6 - Eletrocardiograma
Tratamento
A média de duração das próteses valvares é de oito anos, ou seja, esses pacientes
tem que ser freqüentemente reoperados e, a cada vez, a anatomia vai ficando mais difícil, com
cada vez mais fibrose, o que torna os resultados cada vez piores.
Desta forma, a troca valvar não é uma medida curativa e, sim, paliativa que,
porém, aumenta sobremaneira a sobrevida do paciente e permite uma qualidade de vida
melhor.
A valvoplastia por cateter-balão é útil em crianças com estenose aórtica
congênita justamente pelo fato de serem necessárias repetitivas cirurgias para a troca de uma
prótese valvar, mas também é indicada quando o paciente recusa o tratamento cirúrgico ou
quando o risco da cirurgia é extremo.
Nas estenoses aórticas calcificadas, a utilização da valvoplastia por cateter-balão
é inútil porque em 50% dos pacientes a valva aórtica reestenosa em 6 meses.
Prognóstico
Etiologia
Basicamente, nós podemos dizer que a insuficiência aórtica pode ser aguda ou
crônica e suas causas podem ser de origem valvar ou da raiz da aorta.
As principais etiologias de origem valvar são:
Febre reumática Que é muito comum;
Figura 1
Figura 2
Valva bicúspide congênita Que pode dar origem a uma estenose ou a uma
insuficiência aórtica;
Desalinhamento do folheto não-coronariano.
CARDIOLOGIA - 29
Figura 3
Fisiopatologia
Figura 4
Exame físico
Sinal de Traube
É a manifestação auditiva do “pulso martelo d’água”
quando se posiciona o diafragma do estetoscópio sobre a artéria femoral. O
som auscultado assemelha-se aos sons produzidos por “tiros de pistola”.
Sinal de Müller
O paciente apresenta um movimento pendular da úvula ao
exame da cavidade oral.
Sinal de Duroziez
CARDIOLOGIA - 32
Sinal de Quincke
É a visualização da pulsação capilar arterial quando se
realiza uma compressão ungueal ou através da transiluminação das polpas
digitais.
Exames complementares
Figura 7 - Eletrocardiograma
CARDIOLOGIA - 34
Tratamento
Introdução
Fisiopatologia
Mas isso só é verdade até um certo limite, pois a partir de então, o aumento da
pressão ventricular não é mais acompanhado por um débito adequado e o coração pode
descompensar, dilatar e levar o paciente ao óbito.
Outro fator do qual o débito cardíaco depende é a pós-carga.
A pós-carga pode ser definida como a resistência do sistema vascular a ejeção
de sangue, ou arteriolar pulmonar, ou arteriolar periférico.
A pós-carga oferecida pelo sistema vascular arteriolar pulmonar pode ser
avaliada pelo ecodopplercardiograma através da pressão pulmonar. A pós-carga esquerda, por
sua vez, pode ser avaliada com a medida da pressão arterial.
Trazendo esses conceitos para o dia-a-dia nós podemos dizer que um paciente
que tem hipertensão arterial tem uma pós-carga aumentada.
Desta forma, nós concluímos que quanto maiores as pressões arteriais
periférica ou pulmonar, menor o volume de ejeção ventricular, ou seja, menor o débito
cardíaco.
Volume Volume
sistólico sistólico
Pré-carga Pós-carga
Figura 1
Mecanismos de compensação
Manifestações clínicas
As manifestações clínicas
da insuficiência ventricular esquerda originam-se
fundamentalmente da congestão venocapilar
pulmonar, decorrente, por sua vez, da
incapacidade contrátil desse ventrículo e
compreendem dispnéia progressiva aos esforços
que, por ser subjetiva, é difícil de ser
quantificada; ortopnéia, quase sempre uma
manifestação que surge mais tardiamente que a
dispnéia de esforço; dispnéia paroxística
(noturna); palpitações, que traduzem o aumento
da freqüência cardíaca; tosse, que acompanha ou
substitui a dispnéia; expectoração hemoptoica;
crepitações pulmonares, que são os sinais mais
precoces de congestão pulmonar; e, às vezes,
respiração sibilante decorrente do broncoespasmo
causado por essa congestão venocapilar.
Além desses, há também
os sinais originados do próprio coração como a
taquicardia, que é o mecanismo compensador
mais elementar de que o organismo pode lançar
mão para tentar manter o débito cardíaco em
níveis adequados; o ritmo em galope, que decorre
da audição da terceira bulha cardíaca e é quase
patognomônico de insuficiência cardíaca; a
alternância cardíaca, que consiste na sucessão de
um batimento forte e um fraco; e a convergência Figura 2 - Paciente com insuficiência cardíaca
pressórica, que decorre tanto da diminuição da esquerda
pressão arterial sistólica em conseqüência da
redução da força de contração do ventrículo esquerdo, quanto do aumento da pressão
diastólica pela hiperatividade periférica do sistema simpático, que aumenta a resistência
vascular.
Ainda, como conseqüência da diminuição do débito podem surgir
sintomas decorrentes da má oxigenação cerebral e de outros órgãos tais como irritabilidade,
cefaléia, insônia, confusão mental, anorexia, fatigabilidade e astenia.
A sintomatologia da insuficiência ventricular direita é menor do que a
da insuficiência ventricular esquerda e se restringe a astenia; dor no hipocôndrio direito por
distensão da cápsula de Glisson provocada pela hepatomegalia congestiva; anorexia, dor
abdominal difusa quando há ascite; diarréia devido a estase do tubo intestinal; e oligúria
devido a retenção de sódio e água pelos rins.
Os sinais atribuíveis ao próprio coração são a taquicardia e o ritmo em
galope, tal qual na insuficiência ventricular esquerda.
CARDIOLOGIA - 42
Tratamento clínico
Febre
Hipertensão arterial
A rápida elevação da pressão arterial, como a que
pode ocorrer em alguns casos de hipertensão renal ou com a suspensão
de uma medicação anti-hipertensiva, pode resultar em descompensação
cardíaca.
Tireotoxicose
A insuficiência cardíaca pode ser uma das primeiras
manifestações clínicas do hipertireoidismo numa pessoa com
cardiopatia subjacente previamente compensada.
Anemia / Hemorragia
Nesses casos, as necessidades de oxigênio para
o metabolismo tecidual só podem ser supridas por meio de um aumento
do débito cardíaco.
Hipoproteinemia
Exercícios físicos
CARDIOLOGIA - 44
Arritmias
Constituem numa das causas mais comuns de insuficiência
cardíaca em pacientes com cardiopatia compensada subjacente devido a
redução do tempo de enchimento ventricular, dissociação entre as
contrações atriais e ventriculares, perda do sincronismo normal da
contração, etc.
Infarto do miocárdio
Em pacientes com cardiopatia isquêmica
crônica, o infarto do miocárdio, às vezes silencioso, pode prejudicar
ainda mais a função ventricular e precipitar a insuficiência cardíaca.
Embolia pulmonar
Resulta em elevação da pressão arterial pulmonar,
provocando ou intensificando a insuficiência ventricular.
Gestação
Não é raro que a insuficiência cardíaca se manifeste pela
primeira vez durante a gravidez em mulheres com cardiopatia prévia,
nas quais a compensação cardíaca pode retornar após o parto.
Insuficiência renal
Insuficiência hepática
DPOC
Fármacos que fazem retenção de sódio (DAINEs e corticosteróides)
Ingestão importante de sal
Fármacos inotrópicos negativos (-bloqueadores)
Interrupção da medicação
Outros
Tabela 1
Digital Nome Dose de Dose de Meia-vida Apresentação
comercial impregnação manutenção
Digoxina Digoxina® 2,5 mg 0,25 mg 36 horas Ampolas
Lamoxon® de 0,5 mg
Comprimidos
de 0,25 mg
Lanatosídeo C Cedilanid® 1,6 mg - 33 horas Ampolas
de 0,4 mg
Além dos digitais, existem ainda mais dois tipos de medicamentos capazes
de melhorar o inotropismo cardíaco.
O primeiro deles são os simpatomiméticos como a dopamina, dobutamina,
norepinefrina, epinefrina e isoproterenol, que existem somente em preparações de uso
parenteral. Seu uso é preferível para aqueles pacientes mais graves e seus efeitos incluem a
intensificação da freqüência cardíaca e da resistência vascular periférica.
O outro compreende os fármacos inotrópicos não-digitálicos, que têm
como exemplo a amrinona e a miorinona.
Também é recomendável ao paciente fazer repouso físico e emocional com
alguma freqüência, pois eles tendem a diminuir a pressão arterial e a reduzir a carga sobre o
miocárdio ao diminuírem as necessidades do débito cardíaco.
Às vezes, vale a pena prescrever ansiolíticos como o Diazepam® durante
alguns dias.
Nos pacientes com insuficiência cardíaca leve e crônica, o repouso ao leito
nos fins de semana quase sempre possibilita a continuidade do seu trabalho profissional.
Somente pacientes mais graves devem ser restritos ao seu domicílio ou ao
hospital, porque isso pode levar a situações desagradáveis como a depressão.
Os riscos de flebotrombose e de embolia pulmonar que ocorrem com o
repouso ao leito podem ser reduzidos com anticoagulantes, exercícios com as pernas e uso de
meias elásticas. De qualquer modo, o repouso absoluto ao leito raramente é necessário.
Após a recuperação da insuficiência cardíaca, as atividades do paciente
devem ser avaliadas e, com freqüência, reduzidas suas responsabilidades profissionais,
familiares e/ou sociais. O repouso intermitente durante o dia e a recomendação de evitar
exercícios pesados são quase sempre úteis após a compensação do paciente.
Dependendo do biotipo do paciente, deve-se tentar fazer uma correção da
obesidade, que também diminui a carga do trabalho cardíaco, constituindo um componente
essencial ao programa terapêutico.
Ainda no sentido de atenuar o esforço cardíaco, pode-se empregar
vasodilatadores, que não somente melhoram a insuficiência cardíaca mas também retardam
seu desenvolvimento em pacientes com disfunção ventricular esquerda.
Finalmente, os inibidores da enzima conversora da angiotensina (ou
inibidores da ECA) têm sido mostrados, em estudos mais recentes, como fatores muito
importantes capazes de retardar a progressão da insuficiência cardíaca qualquer que seja a sua
classe funcional.
CARDIOLOGIA - 49
Tratamento cirúrgico
deixadas a sua evolução natural, levam a morte 20 a 45% dos recém-natos ao final dos dois
primeiros anos de vida.
Felizmente, a maioria dessas crianças pode ser tratada pelos meios
convencionais. Entretanto, quando se analisa as cardiopatias mais complexas, que cursam
com cianose, uma média de 85% das crianças morre nos dois primeiros anos.
E existem algumas cardiopatias complexas, dentre as quais a Síndrome
da Hipoplasia de Ventrículo Esquerdo é a mais comum, que não se tem nenhum recurso para
tratá-las.
Então, tanto para essas situações como para as situações em que foram
tentadas as correções convencionais e não se obteve sucesso, é indicado o transplante
cardíaco.
O primeiro transplante pediátrico foi realizado, por coincidência, alguns
dias depois que Christiaan Barnard fez o primeiro transplante em adulto, no ano de 1967.
Porém, ele foi um insucesso e ninguém mais tentou realizá-lo.
Somente em 1984 um homem chamado Leonard L. Bailey, da
Universidade de Loma Linda (Califórnia), realizou o primeiro transplante pediátrico de
sucesso utilizando macacos do grupo Baboo, os babuínos, como doadores. A criança que
recebeu esse coração tinha uma hipoplasia de ventrículo esquerdo e acabou ficando muito
famosa. Ela sobreviveu muito bem a cirurgia, recuperou-se, acordou, foi extubada, etc. e já
estava até mamando. No entanto, ela passou a desenvolver algumas infecções respiratórias,
voltou ao respirador e acabou falecendo com vinte e dois dias de transplante.
A necrópsia, todavia, mostrou que não havia rejeição porque esse grupo
de macacos tem uma compatibilidade histológica muito próxima do ser humano e, também,
tem o mesmo grupo ABO. Assim, sob esse ponto-de-vista, eles são muito parecidos com o
ser-humano.
Contudo, a Sociedade Protetora dos Animais impediu a realização de
outros transplantes porque esses animais sobrevivem muito mal em cativeiro e conseguem se
reproduzir somente “in natura”. Então, se nós utilizássemos todos esses macacos para
fazermos transplantes nós iríamos simplesmente dizimar essa raça. E com isso, a Sociedade
Internacional de Transplantes concordou em parar de realizar esses transplantes.
A partir de então, a Universidade de Loma Linda, na Califórnia, passou
a fazer uma procura ativa de crianças que nasciam sem cérebro. Durante a gestação,
identificava-se as crianças que iriam nascer sem cérebro por ultra-sonografia e comunicava-se
a Universidade de Loma Linda, que buscava essas crianças anencefálicas, quando elas
nasciam, para serem doadoras de outras crianças que necessitavam de transplante.
Depois, com o tempo, entendeu-se que era possível também identificar
a morte cerebral em neo-natos, em crianças que tinham esmagamento cerebral, em crianças
que tinham morte cerebral durante o nascimento, ou mesmo em crianças que nasciam com
tumor primário no cérebro e que acabavam fazendo morte cerebral.
Atualmente, esses são os possíveis doadores para o transplante cardíaco
em crianças.
Além do transplante cardíaco nós temos ainda duas possibilidades como
tratamento cirúrgico da insuficiência cardíaca.
Uma delas é a cardiomioplastia, um procedimento com envolvimento
do músculo grande dorsal sobre o coração.
CARDIOLOGIA - 55
Figura 3 - Cardiomioplastia
Anatomia
Figura 1 - Anatomia
A túnica externa, ou pericárdio fibroseroso, tem uma face interna forrada por uma
membrana serosa e uma face externa que é composta por uma camada densa de feixes
colágenos entrelaçados com um esqueleto de fibras elásticas em suas partes mais profundas.
Por isso, o pericárdio fibroseroso é quase sempre inextensível e é também tão
firmemente aderido aos grandes vasos que, caso se acumule líquido rapidamente no seu
interior, o coração poderá ser comprimido e o retorno venoso impossibilitado.
Por outro lado, se o líquido se depositar lentamente na sua cavidade, o pericárdio
fibroseroso pode se distender gradualmente, de modo que considerável quantidade de líquido
possa ser contida.
A reflexão da lâmina serosa do pericárdio parietal sobre o coração dá origem ao
pericárdio seroso ou visceral.
O pericárdio seroso envolve todo o coração, com exceção do espaço entre as quatro
veias pulmonares no átrio esquerdo. Por isso, ele também é chamado de epicárdio.
As lâminas visceral e parietal do pericárdio, cujas superfícies opostas são recobertas
por mesotélio, acham-se separadas por um espaço virtual e são umedecidas por uma película
líquida de 15 a 50 ml.
Sua função ainda não foi bem estabelecida, mas sabe-se que eles agem como uma
barreira anatômica contra infecções vizinhas e no sentido de manter a dinâmica entre os dois
ventrículos, impedindo que eles dilatem.
Porém, uma pessoa pode viver muito bem sem o pericárdio. Já foi observada a
ausência congênita do pericárdio e, nesses casos, não se relataram efeitos cobre o coração.
Classificação
CARDIOLOGIA - 58
Etiologia
Origem bacteriana
Inespecíficas Como as pericardites supurativas causadas por
estafilococos
Específicas Como as pericardites caseosas de origem tuberculosa;
Doenças auto-imunes
Febre reumática
É responsável freqüentemente por uma pancardite, mas pode
manifestar-se simplesmente por uma pericardite aguda na sua fase crônica. É
freqüente a presença de uma epicardite moniliforme;
Metabólicas
Uremia Irrita praticamente todas as mucosas e serosas do organismo;
Mixedema;
Gota.
Pós-infarto do miocárdio
Quando ocorre organização de um infarto cardíaco,
pode haver pericardite de duas maneiras.
Uma delas ocorre numa fase precoce, cerca de 72
horas após o infarto, e decorre da inflamação provocada pelo tecido necrosado,
principalmente quando o infarto foi transmural.
Então, geralmente acontece uma extensão dessa
inflamação para o pericárdio parietal, resultando clinicamente em dor do tipo
CARDIOLOGIA - 59
aguda e atrito pericárdico, que é o principal fator que diferencia essa dor
pericárdica da angina pectoris.
Em uma fase tardia, cerca de 30 a 180 dias após o
infarto miocárdico, pode ocorrer uma reação imunológica dos anticorpos
produzidos pelo organismo contra o tecido necrosado também contra o
pericárdio. Essa é uma reação cruzada chamada de síndrome de Dressler.
Traumática
Decorrente de um traumatismo frechado, como um acidente
automobilístico, por exemplo; ou de um traumatismo aberto, como o causado
por uma arma branca.
Síndrome pós-pericardiotomia
Também é causada por um processo auto-imune
que pode ocorrer em qualquer paciente submetido a uma cirurgia em que é
aberto o pericárdio.
Nos países desenvolvidos, esta é a causa mais
freqüente de pericardites.
Neoplasias
As neoplasias primárias do pericárdio, como os mesoteliomas, são
raras mas podem dar origem a uma pericardite.
As neoplasias secundárias que mais freqüentemente podem acometer
o pericárdio são as metástases de pulmão, mama, leucemias e linfomas, no
adulto.
Nas crianças, os linfomas não-Hodgkin, os sarcomas e o tumor de
Wilms são as neoplasias secundárias que mais freqüentemente podem causar
pericardite.
Pós-radioterapia
A radioterapia pode levar a um espessamento do pericárdio,
geralmente produzindo uma pericardite constritiva.
Medicamentos
Procainamida
Hidralazina
Outros
Idiopática
Pericardites agudas
Derrame pericárdico
Exame citológico
Indica a presença de células neoplásicas e
leucócitos no líquido pericárdico.
Conforme o tipo predominante de leucócitos nós
podemos ter algumas suspeitas. Por exemplo, quando há um
predomínio de neutrófilos, provavelmente a pericardite tem etiologia
viral ou tuberculosa, numa fase inicial. Quando o predomínio é
monomorfonuclear, podemos estar defronte a um tuberculose na fase
tardia. O predomínio de piócitos indica a presença de infecção
purulenta por bactérias inespecíficas.
Exame bioquímico
Analisa a composição do líquido pericárdico.
Por exemplo, quando há uma diminuição na taxa de glicose nós
geralmente temos uma infecção. O nível elevado da
adenosinadeaminase pode ser um indicativo de infecção tuberculosa.
Pericardite constritiva
A principal causa de
pericardite constritiva é a tuberculose, mas ela
também pode ser causada por uma infecção
purulenta, traumatismos, cirurgias cardíacas,
neoplasias, pericardite viral, etc.
As manifestações clínicas
mais proeminentes da pericardite constritiva
simulam uma insuficiência cardíaca congestiva ou
global.
A sintomatologia prove-
niente da diminuição do débito cardíaco do
ventrículo direito é decorrente principalmente da
ascite e do edema de membros inferiores.
A insuficiência ventricular
esquerda pode gerar dispnéia, ortopnéia, tosse,
fraqueza muscular, anorexia, perda de peso, etc.
Ao exame físico, nós vamos
observar uma elevação da pressão venosa jugular,
Figura 9 - Pericardite constritiva de origem
sinal de Kussmaul positivo, hepatomegalia e, tuberculosa
eventualmente, esplenomegalia.
Na ausência de endocardite infecciosa ou valvopatia mitral, a presença
de esplenomegalia em um paciente com insuficiência cardíaca congestiva deve sempre levar a
suspeita de pericardite constritiva.
Cerca de um terço dos pacientes também apresenta pulso paradoxal.
Na radiografia, nós geralmente vamos observar a área cardíaca normal
com calcificação pericárdica na metade dos pacientes, mas alguns pacientes podem apresentar
aumento do átrio esquerdo. Nestes casos nós vamos poder observar duplo contorno do átrio
direito, presença de 4o arco na borda cardíaca esquerda, elevação do brônquio fonte esquerdo
e deslocamento posterior do esôfago no Raio-X de perfil contrastado com bário.
Introdução
Classificação
Etiologia
Fatores predisponentes
Patogenia
Desta maneira, nós observamos que qualquer situação que provoque um aumento
na velocidade do fluxo sangüíneo em uma estrutura pode causar uma lesão em jato e,
conseqüentemente, uma endocardite infecciosa.
As vegetações da endocardite têm a tendência de se localizar predominantemente
no coração esquerdo, onde se localizam em 85% das endocardites subagudas e em 65% das
infecções agudas.
A freqüência de acometimento do coração direito é, em média, de 5%. Todavia, nos
pacientes droga-aditos, o acometimento do lado direito pode ter um aumento de até 55%.
As lesões provocadas pela endocardite aguda são rapidamente destrutivas e podem
provocar perfuração e rotura das valvas e cordas tendíneas, produzindo freqüentemente uma
insuficiência valvar aguda.
As vegetações podem se fragmentar, desprender e provocar embolia arterial
sistêmica, no caso da endocardite de câmaras cardíacas esquerdas, ou embolia arterial
pulmonar, no caso de endocardite de câmaras direitas.
Patologia
Complicações
Embolizações
Baço (44%)
Rins (52% na endocardite subaguda e 7% na endocardite aguda)
IAM (40 a 60%)
Cérebro (Jochman 1914)
A primeira hipótese que deve ser levantada na
história clínica de AVC em pacientes jovens é a endocardite infecciosa
com aneurisma micótico.
Aneurismas micóticos 3 a 5%
São mais freqüentes na aorta proximal e ocorrem
devido a microembolias sépticas causadas pela deposição de complexos
imunes nos vasa vasorum da parede arterial, propiciando a invasão direta da
parede pelo microorganismo.
O aneurisma micótico é, na realidade, um pseudo-
aneurisma, porque ele se constitui de um hematoma perivascular sem parede
arterial, e não implica etiologia fúngica como o nome sugere.
Neurológicas
Embolias
Aneurismas
Abscessos;
Renais
Infecção renal maciça
Microinfartos
Nefrite intersticial
Glomerulonefrites;
Musculoesqueléticas
Artralgia
Artrites.
CARDIOLOGIA - 75
Diagnóstico
Exames complementares
Figura 3 - À esquerda, ecocardiografia unidimensional mostrando ecos densos, tremidos, na valva aórtica
(setas) que são praticamente diagnósticos de vegetações valvares. À direita, ecocardiografia bidimensional
com uma vegetação (VEG) sobre a valva aórtica e outra no átrio esquerdo (setas) (LV = Ventrículo
esquerdo; Ao = Aorta; MV = Valva mitral; LA = Átrio esquerdo)
Princípios terapêuticos
Escolha terapêutica
Esquemas terapêuticos
Enterococos
Penicilina G-cristalina ou ampicilina (12 g por dia em administração
endovenosa) associadas a gentamicina (1 mg por Kg de 8 em 8
horas)
Staphylococcus aureus
Sensível a penicilina
1a escolha - Oxacilina (2 g E.V. de 4 em 4 horas)
2a escolha - Cefalotina (2 g E.V. de 4 em 4 horas) ou cefazolina (2
g E.V. de 6 em 6 horas) ou vancomicina (7,5 mg por Kg E.V. de 6
em 6 horas).
Quando houver prótese valvar deve-se associar gentamicina numa
dose de 1 mg por Kg de 8 em 8 horas.
Resistente a penicilina
Vancomicina (500 mg E.V. de 6 em 6 horas). Pode-se associar
outro antibiótico conforme o antibiograma.
Staphylococcus epidermidis
Sensível a penicilina
Em valva natural (4 semanas)
1a escolha - Oxacilina (2 g E.V. de 4 em 4 horas)
2a escolha - Cefalosporina ou vancomicina
Problemas terapêuticos
Em valva prostética
Vancomicina associada a gentamicina;
CARDIOLOGIA - 80
Streptococcus 4 a 6 semanas
Sensível a penicilina - Penicilina G-cristalina (20 x 106
unidades por dia)
Resistente a penicilina e enterococos - Penicilina G-cristalina
(20 x 106 unidades por dia) associada a gentamicina
2a escolha - Cefalosporina ou vancomicina associadas ou não
a gentamicina
Tratamento cirúrgico
Tabela 1
Antibioticoterapia Antibioticoterapia e cirurgia
Agentes Em valva Em prótese Tardia Em valva Em prótese Tardia
nativa precoce nativa precoce
S. viridans 98% 65% 80% 98% 80% 90%
S. aureus 90% 25% 40% > 90% 50% 60%
XXX 50% 25% 40% 70% 50% 60%
Fungos <5% <1% <1% 50% 30% 40%
Profilaxia
Amoxacilina
3 gramas, V.O., 1 hora antes e 0,5 g 6 horas depois;
Introdução
Lipoproteínas
VLDL1
São partículas relativamente grandes produzidas no fígado de
acordo com a oferta de ácidos graxos livres ao hepatócito.
Sua função é transportar os triglicerídios endógenos e colesterol
para os tecidos periféricos, onde serão utilizados como fonte de energia ou
serão estocados.
IDL2
São formadas pela ação da lipase lipoproteica sobre as partículas
VLDL, resultando em partículas mais densas.
As IDL são removidas da circulação sistêmica pelo fígado. As
partículas restantes sofrem ação da lipase hepática dos triglicerídios,
perdendo triglicerídios e fosfolipídios, dando origem às LDL.
LDL3
São as lipoproteínas que carregam maior conteúdo de colesterol,
transportando-o para regiões onde este exerce papel fisiológico como, por
1
Do inglês, “Very Low Density Lipoprotein” (N do A)
2
Do inglês, “Intermediate Density Lipoprotein” (N do A)
3
Do inglês, “Low Density Lipoprotein” (N do A)
CARDIOLOGIA - 83
HDL4
Sua função é o transporte do colesterol livre dos tecidos periféricos
para o fígado (transporte reverso do colesterol).
Podem ser encontradas na circulação em diversos subtipos, dos quais
a HDL2 e HDL3 encontram-se em maiores concentrações. À subfração
HDL2 atribui-se certa proteção ao desenvolvimento da aterosclerose
prematura.
4
Do inglês, “High Density Lipoprotein” (N do A)
CARDIOLOGIA - 84
Classificação
Hiperlipoproteinemia Tipo II
Hipercolesterolemia poligênica
É a causa mais comum de aumento
isolado do colesterol sérico e da LDL.
Hipercolesterolemia familiar
Apresenta caráter autossômico dominante,
podendo exteriorizar-se na forma heterozigótica, na qual os níveis de
colesterol estão entre 250 e 500 mg/dl; ou na forma homozigótica, em
que a colesterolemia varia de 500 a 1.200 mg/dl.
Ocorre em virtude de uma mutação do gene
que codifica a formação dos receptores hepáticos de LDL, prejudicando
o seu catabolismo.
O achado clínico de maior importância é a
aterosclerose, que acomete os indivíduos homozigóticos na infância ou
adolescência e os indivíduos heterozigóticos na quinta ou sexta décadas
de vida.
Xantomas, xantelasmas e arco corneano
podem ser observados ao exame físico.
Hiperlipoproteinemia Tipo IV
CARDIOLOGIA - 85
Hipertrigliceridemia familiar
É uma desordem autossômica dominante
em que se observa maior produção e menor depuração de VLDL,
conferindo ao soro um aspecto turvo.
Em geral, está associada à obesidade,
intolerância à glicose, diabetes mellitus, hiperinsulinemia, resistência à
insulina e hiperuricemia.
Hiperlipoproteinemia Tipo V
Dislipidemia pouco comum na qual se
observa aumento de quilomícrons e VLDL, conferindo ao soro uma faixa
cremosa superior sobre um infranadante turvo.
Hipoalfalipoproteinemia
Caracteriza-se por níveis baixos de HDL no soro.
Associa-se positivamente com a doença arterial coronariana.
Dislipidemias secundárias
Suas principais causas são:
Diabetes mellitus
Hipotireoidismo
Síndrome nefrótica
Insuficiência renal crônica
Drogas
Obesidade
Etilismo
Gestação
Doença hepática
Anorexia nervosa
Mieloma
Lúpus eritematoso sistêmico
Lipodistrofia
Doença de estoque do glicogênio
Osteogênese imperfeita
Hipervitaminose D
Síndrome de Werner
Doença de Tangier
Valores de referência
Tabela 1
Colesterol total (mg/dl) LDL (mg/dl) Triglicerídios Nível
< 200 < 130 < 200 Ideal
200 a 239 130 a 159 200 a 500 Limítrofe
> 240 > 160 > 500 Alto
HDL (mg/dl) Nível
> 65 Ideal
35 a 64 Limítrofe
< 35 Baixo
Introdução
Dieta
Colesterol da dieta
Em geral, a elevação do colesterol total sérico dependente da ingestão de colesterol é
saturável, ou seja, a partir de determinado valor (variável para cada pessoa), novos aumentos
do aporte de colesterol alimentar não produzirão incremento do colesterol total sérico. O
colesterol só está presente em produtos alimentares de origem animal.
Os ácidos graxos monoinsaturados apresentam apenas uma dupla ligação na sua cadeia.
Eles têm capacidade, semelhantemente aos ácidos poliinsaturados do grupo ômega-6, de
reduzir a colesterolemia com a vantagem de não produzir queda das HDL, podendo até elevar
os seus níveis. Seu principal representante na alimentação é o ácido oleico, presente no óleo
de oliva.
Outro aspecto importante que determina a capacidade dos ácidos graxos de elevar ou
reduzir a colesterolemia é a sua apresentação espacial nas formas cis ou trans. Os ácidos
graxos insaturados na forma cis podem reduzi-la, enquanto os trans têm tendência a elevá-la.
Isto é importante, por exemplo, pelo problema das margarinas vegetais, que no processo de
solidificação (hidrogenação) têm parte de seus óleos vegetais, ricos em ácidos graxos
poliinsaturados ômega-6 da forma cis, transformados em saturados ou em forma trans, o que
faz com que sua ingestão leve à elevação da colesterolemia.
Hidratos de carbono
Os hidratos de carbono simples, principalmente a glicose e a sacarose, têm capacidade
de elevar a trigliceridemia e, em geral, reduzir as HDL; enquanto os complexos,
principalmente os presentes em frutas e vegetais, podem produzir redução do colesterol total
sérico.
Fibras
Estão presentes em nossa alimentação dois tipos de fibras, as hidrossolúveis,
representadas principalmente pela pectina (presente nas frutas cítricas) e as gomas (presentes
nos feijões e no farelo de aveia); e as não hidrossolúveis, tais como a lignina (presente nos
vegetais), a celulose e a hemicelulose (presentes no trigo e centeio).
As fibras hidrossolúveis apresentam ação redutora do colesterol total; enquanto as não
hidrossolúveis, apesar de não agirem diretamente nas concentrações de colesterol, também
podem auxiliar no tratamento das hipercolesterolemias por produzirem plenitude gástrica e,
com isso, levar o indivíduo a ingerir menos alimentos ricos em ácidos graxos saturados e
colesterol.
Recomendações dietéticas
Diante do que foi discutido anteriormente, as recomendações dietéticas que são feitas
para qualquer indivíduo a partir de dois anos de vida são as seguintes:
1. Controle do peso corporal
2. Consumo total de gorduras menor que 30% do valor calórico total
3. Consumo de ácidos graxos saturados menos que 10% do valor calórico total
4. Aumento no consumo de ácidos graxos mono e poliinsaturados em substituição aos
saturados Seguindo-se a relação 1:1:1 (10% de saturados, 10% de
monoinsaturados e 10% de poliinsaturados)
5. Consumo de colesterol menor que 300 mg/dia
6. Aumento no consumo de carboidratos complexos
7. Aumento no consumo de frutas, vegetais e fibras cereais
Inibidores da HMG-CoA-redutase
Colestiramina
Fibrates
Considerações finais
2. Hipertrigliceridêmicos puros
Para estes pacientes, os medicamentos de
primeira escolha são os que têm ação predominante sobre os
triglicerídios (fibrates, ácido nicotínico ou acipimox).
Na eventualidade de ocorrer, com estes
produtos, elevação das LDL acompanhando a queda dos triglicerídios,
poderá ser necessário o emprego de um produto de ação preferencial
sobre o colesterol total.
Introdução
Fisiopatologia
Tipo II
É uma lesão macroscópica que apresenta estrias de gordura, células
musculares lisas, etc.
Tipo III
É a lesão pré-ateromatosa, quando há um aumento do número de
células inflamatórias e um aumento do número das células musculares lisas;
Tipo IV
Ateroma, com a presença de células espumosas;
Tipo V
Fibroateroma, com a presença de colágeno, fibrina, plaquetas, etc.
Complicações
Modalidades clínicas
Angina estável
Caracteriza-se por sintomatologia que se mantém
sem alterações significantes, quanto à freqüência, intensidade,
duração, fatores desencadeantes e de alívio das crises anginosas, por
período de três meses ou mais.
Angina instável
É caracterizada por alterações significantes e
recentes no padrão de angina, pelo caráter progressivo ou acelerado
dos episódios isquêmicos e pela ocorrência de angina em repouso ou
aos mínimos esforços.
Sua classificação mais comum engloba três
subgrupos:
Angina de começo recente, rapidamente evolutiva, com acentuada
redução da capacidade física
Angina estável, crônica, com padrão evolutivo progressivo e
acelerado
Angina em repouso, com dores prolongadas, recorrentes e de
difícil controle clínico
CARDIOLOGIA - 98
Angina vasoespástica
Também denominada de “angina variante de
Prinzmetal”, caracteriza-se por dor precordial ou retroesternal em
repouso, acompanhada de supradesnivelamento do segmento ST no
eletrocardiograma, conseqüente à redução espástica abrupta do
calibre da artéria coronária.
Isquemia silenciosa
É identificada pelas alterações do segmento ST
no eletrocardiograma de repouso, teste ergométrico e/ou
monitorização eletrocardiográfica dinâmica (Holter).
Não se deve confundir doença arterial coronária
assintomática com isquemia silenciosa. A isquemia silenciosa é o
degrau subseqüente da doença arterial coronária assintomática. Além
disso, enquanto a isquemia silenciosa pode ser detectada por exames
não-invasivos, a doença arterial coronária assintomática só é
diagnosticada através do estudo angiográfico.
Introdução
Resposta ao tratamento
Sem tratamento clínico prévio
Resposta completa ao tratamento
Apresenta sintomas recidivantes após o início do tratamento
Considerações fisiológicas
Isquemia não provocada (Holter)
Sem alterações isquêmicas do segmento ST
Isquemia detectada em menos de 60 minutos por 24 horas
Isquemia detectada em mais de 60 minutos por 24 horas
Considerações anatômicas
Quantificação da gravidade da lesão à coronariografia
Complexidade qualitativa da doença à coronariografia
Aspecto e localização do ateroma
Trombose associada
Medidas gerais
Nitratos
Os nitratos atuam sobre a parede vascular através do íon nitrito, que leva a formação
de radicais relativamente livres de óxido nítrico, ativando a enzima guanilato ciclase.
Essa ativação aumenta a síntese de GMP cíclico no músculo liso e em outros tecidos,
levando a uma desfosforilação da miosina.
Assim, como é a fosforilação da miosina que regula o estado contrátil do músculo
liso, os nitratos vão produzir uma diminuição dessa contratilidade e, com isso, provocar uma
vasodilatação sistêmica.
Contudo, há um predomínio na vasodilatação sobre o leito venoso, reduzindo o
retorno venoso. Por outro lado, a arteriodilatação, que é mais evidente nos vasos de
capacitância do que nos vasos de resistência, determina redução da pós-carga por reduzir a
resistência arterial periférica.
Conseqüentemente, ocorrerá redução do consumo de oxigênio pelo miocárdio e
redução do trabalho cardíaco.
Os nitratos também melhoram a circulação colateral do coração.
Ademais, os nitratos previnem o espasmo arterial coronário, tanto dos vasos normais
como ateroscleróticos.
Ainda, eles possuem um efeito antiadesivo plaquetário, que diminui a possibilidade
de se desenvolverem trombos.
Os efeitos benéficos dos nitratos na terapia da cardiopatia isquêmica são amplamente
aceitos na atualidade. Pela sua eficácia, efeitos colaterais pouco significantes e baixo custo, os
CARDIOLOGIA - 101
Beta-bloqueadores
Inibidores da ECA
Considerações finais
Introdução
Definições
Como não existem limites precisos entre uma pressão sangüínea normal ou
elevada, níveis arbitrários foram estabelecidos para definir aqueles pacientes que apresentam
um maior risco de desenvolver morbidade cardiovascular e/ou que vão se beneficiar com o
tratamento clínico.
Esta definição deve considerar não apenas o nível de pressão diastólico mas
também a pressão sistólica, a idade, o sexo e a raça.
Em adultos, a pressão arterial pode ser definida da seguinte maneira:
Pressão sangüínea diastólica
Menor que 85 mmHg - Normal
Entre 85 e 90 mmHg - Normal alta
Entre 90 e 104 mmHg - Hipertensão leve
Entre 105 e 114 mmHg - Hipertensão moderada
Maior que 115 mmHg - Hipertensão severa
A pressão arterial flutua na maioria das pessoas, quer elas sejam normotensas ou
hipertensas. Os pacientes classificados como tendo hipertensão lábil são aqueles que às vezes,
mas não sempre, apresentam níveis pressóricos no limite hipertensivo.
A hipertensão maligna freqüentemente apresenta níveis pressóricos acima de
200/140 mmHg, mas é o edema de papila, geralmente acompanhado por hemorragias e
exsudatos retinianos, que define esta condição.
A hipertensão acelerada compreende um aumento significante da pressão arterial
associado a evidências de lesões vasculares ao exame de fundo de olho mas sem edema de
papila.
CARDIOLOGIA - 105
Fisiologia
DC = FC VEV (6)
Fatores neurais
Na parede vascular, existem receptores que, quando
estimulados, também podem produzir vasoconstrição ou vasodilatação.
Desta forma, nós podemos influir terapeuticamente nesses
receptores, estimulando-os ou bloqueando-os.
Fatores humorais
As substâncias humorais que tendem a alterar a resistência
periférica e, com isso, modificar a pressão arterial, são as mesmas substâncias
que tendem a aumentar a volemia.
Ou seja, a angiotensina e o hormônio antidiurético tendem a
aumentar a resistência vascular periférica e a pressão arterial; enquanto a
bradicinina e as prostaglandinas tendem a reduzir a pressão arterial através da
redução da resistência vascular periférica.
Hipertrofia vascular
Antigamente achava-se que a hipertrofia vascular era só
uma conseqüência da hipertensão arterial.
Hoje, porém, se sabe que a hipertrofia vascular
provocada por outros fatores como a diabetes, a hiperinsulinemia, etc. tem
uma maior tendência em desenvolver hipertensão arterial.
Fatores volêmicos
Sódio circulante
Semiologia
Classificação
Endócrinas
Contraceptivos orais
Hiperfunção adrenocortical
Feocromocitoma
Mixedema
Acromegalia
Neurogênicas
Psicogênica
“Síndrome diencefálica”
Disautonomia familial
Polineurite
Hipertensão intracraniana aguda
Traumatismo medular
Miscelânea
Coartação da aorta
Volume intravascular aumentado
Poliarterite nodosa
Hipercalcemia
Drogas
Outras
CARDIOLOGIA - 109
Complicações
Tabela 1
Órgãos alvo Complicações hipertensivas Complicações ateroscleróticas
Coração Hipertrofia ventricular esquerda Angina
Insuficiência cardíaca Infarto
Cérebro Acidente vascular cerebral hemorrágico Acidente vascular cerebral isquêmico
Rins Nefroesclerose Ateromatose de artérias renais
Vasos Dissecção aórtica Aneurismas com dilatação dos vasos
Introdução
Para o tratamento da hipertensão arterial nós vamos ter que fazer uma avaliação
do hipertenso.
Essa avaliação não consiste simplesmente na medida da pressão arterial pois a
doença hipertensiva é diagnosticada pela medida da pressão arterial, mas a sua avaliação deve
ser feita como um todo, com auxílio da anamnese, do exame físico e dos exames
complementares.
Através dessa avaliação nós devemos procurar:
Detectar formas secundárias;
Diagnosticar condições associadas Principalmente a insuficiência cardíaca,
o diabetes e a angina, que vão influir na escolha terapêutica da hipertensão;
Avaliar a repercussão orgânica da hipertensão;
Determinar a presença de outros fatores de risco para o desenvolvimento
de doença aterosclerótica.
Anamnese
Síndrome de Cushing
Ganho de peso
Labilidade emocional
Feocromocitoma
Cefaléias episódicas
Palpitações
Diaforese
Repercussões orgânicas
Dispnéia
Angina
Acidentes vasculares cerebrais
Epixtase
Hematúria
Insuficiência cardíaca
Insuficiência vascular periférica
Exame físico
Grau I
Esclerose arteri-
olar discreta, com
tortuosidade e brilho central
das arteríolas reduzindo a
relação artério/venosa.
Grau II
Esclerose arteri-
olar grave, com cruzamentos
patológicos, arteríola em
“fio de cobre” ou “fio de
prata” e lesões retinianas
antigas, como exsudatos
duros.
Grau III
Grau II asso-ciado
a lesões recentes como
exsudatos algodo-nosos e
hemorragias.
Grau IV
Grau III com
edema de papila
(hipertensão intracraniana).
Exames complementares
Figura 5 - Fundoscopia
CARDIOLOGIA - 113
Tratamento não-farmacológico
pacientes ao tratamento, o que pode ser difícil pois a maioria desses pacientes são
assintomáticos.
Outro aspecto que nós também precisamos chamar a atenção
é que nenhuma droga atualmente disponível cura a hipertensão arterial. Elas apenas a
controlam. Ou seja, o paciente deve estar informado que não é porque a sua pressão baixou
que ele pode interromper o tratamento.
O primeiro passo no tratamento da hipertensão arterial é o
tratamento não-farmacológico, que deve ser utilizado em todos os pacientes hipertensos,
mesmo naqueles que vão ser tratados posteriormente com medicamentos.
O tratamento não-farmacológico da hipertensão consiste em:
Reduzir o estresse
Diminuir ou interromper o hábito de fumar
Modificações na dieta no sentido de:
Reduzir o consumo de sal
Controlar o peso Principalmente nos obesos,
reduzindo a ingestão de calorias
Controlar a ingestão de lipídios Caso haja alteração
de triglicerídios ou do colesterol
Tratamento farmacológico
Diuréticos
Um dos fármacos utilizados no tratamento da hipertensão arterial
são os diuréticos, que agem sobre o néfron da seguinte maneira.
Local de ação:
O - Diuréticos osmóticos
I - Diuréticos da anidrase carbônica
T - Diuréticos tiazídicos
A - Diuréticos de alça
P - Diuréticos poupadores de potássio
Bloqueadores adrenérgicos
Os bloqueadores adrenérgicos agem sobre os receptores das
terminações sinápticas que estão abaixo ilustrados.
Precursor
Armazenamento Receptor 1
Síntese
Receptor
Liberação
Beta-bloqueadores
Como a ativação dos receptores beta
produz vasodilatação, parece contraditório que o seu bloqueio
vai reduzir a pressão arterial.
Porém, além de agir sobre os vasos, os -
bloqueadores também agem sobre o coração, reduzindo sua
freqüência e a sua contratilidade.
Por isso, a administração de -
bloqueadores até provoca, inicialmente, um certo grau de
vasoconstrição, mas seus efeitos sobre o coração e, também,
sobre os rins, reduzindo a liberação de renina pelas células
justaglomerulares, vão resultar em uma redução da pressão
arterial.
Desta forma, os -bloqueadores são
medicamentos muito bons para o tratamento da hipertensão,
mas como eles diminuem o cronotropismo e o inotropismo
CARDIOLOGIA - 118
Vasodilatadores
Os vasodilatadores orais são drogas pouco utilizadas atualmente.
CARDIOLOGIA - 119
1o passo
Tratamento não-farmacológico através da modificação do
estilo de vida do paciente.
2o passo
Tratamento farmacológico através de drogas como os
diuréticos, os bloqueadores adrenérgicos, os vasodilatadores, os
inibidores da ECA e os bloqueadores dos canais de cálcio.
Contudo, a recomendação atual é que cada paciente seja
individualizado através da análise do nível de sua hipertensão arterial,
de doenças associadas, da sua idade, do seu poder aquisitivo, etc.
Por exemplo, um paciente hipertenso que também tenha
insuficiência coronariana tem como tratamento preferido os -
bloqueadores e os antagonistas do cálcio, que tanto reduzem a pressão
arterial quanto diminuem o trabalho cardíaco através da redução da
freqüência cardíaca e do inotropismo cardíaco.
Nesses pacientes, deve-se evitar o uso de guanetidina, um
bloqueador adrenérgico neuronal que tem um efeito hipotensor muito
importante e que, por isso, pode agravar a insuficiência coronariana.
Os pacientes que tenham uma hipertensão arterial associada a
uma insuficiência cardíaca devem ser tratados preferencialmente com
diuréticos, que reduzem a pressão diminuindo tanto o débito cardíaco
quanto a resistência vascular e melhoram a insuficiência cardíaca
através do aumento na excreção de sódio; -bloqueadores como o
prazosin; e inibidores da ECA como o captopril e o enalapril.
Nesses casos, deve-se evitar o uso de -bloqueadores como o
propranolol, devido ao seu efeito inotrópico negativo, que pode
agravar ou até mesmo precipitar a insuficiência cardíaca.
Pacientes hipertensos que tenham associada uma
insuficiência renal têm como drogas preferidas os diuréticos de alça
(furosemide); bloqueadores adrenérgicos centrais como a metildopa e
a clonidina; e bloqueadores alfa-adrenérgicos como o prazosin.
Os diuréticos tiazídicos devem ser evitados porque eles só
agem quando o rim tem um clearance mínimo de 30 ml/min e, na
insuficiência renal, o clearance é menor.
Os diuréticos poupadores de potássio também devem ser
evitados porque os indivíduos com insuficiência renal já retêm
potássio.
Da mesma forma que na insuficiência coronariana, a
guanetidina é contra-indicada na insuficiência renal porque o seu
efeito hipotensor vai levar a uma isquemia renal ainda maior.
Finalmente, como um dos efeitos colaterais dos inibidores da
ECA é a insuficiência renal, este grupo de medicamentos está
proscrito nesses casos.
3o passo
Caso haja uma resposta inadequada deve-se:
Aumentar a dose;
Substituir a droga;
Adicionar outra droga de outra classe.
CARDIOLOGIA - 121
4o passo
Adicionar uma segunda ou terceira droga, de preferência de
grupos farmacológicos distintos.
CARDIOLOGIA - 122
Introdução
O nó sinusal (ou
sinu-atrial) situa-se
próximo à junção da veia
cava superior com o átrio
direito e possui dois tipos
de fibras musculares
especiais, as células P
(marca-passo) e as células
T (transicionais).
O nó átrio-
ventricular situa-se abaixo
do endocárdio do átrio
direito, na parte do septo
interatrial que forma o
folheto septal da valva
tricúspide, imediatamente
acima do óstio do seio
coronário.
O feixe de His é a
continuação do nó átrio-
ventricular, que se
condensa a fim de atingir
Figura 1 - Anatomia
os ventrículos. No septo
interventricular muscular, ele divide-se em dois ramos, o esquerdo e o direito.
As fibras de Purkinje formam uma rede extensa interconectada na superfície
endocárdica de ambos os ventrículos.
Assim, simplificadamente, esse é os sistema de condução do estímulo cardíaco,
que tem algumas peculiaridades interessantes.
O estímulo que ativa o coração origina-se nas células P do nó sinusal, atinge a
musculatura atrial e penetra no nó átrio-ventricular, onde sofre um importante retardo que irá
permitir o enchimento ventricular. Então, o estímulo propaga-se para o sistema His-Purkinje
com uma velocidade extremamente rápida, atingindo a musculatura ventricular.
É importante nós sabermos que sempre que o estímulo é propagado através desse
sistema de condução sua velocidade é maior do que se fosse propagado fora dele.
Outra peculiaridade desse sistema de condução é a sua automaticidade, ou seja,
ele apresenta um automatismo latente, gerando um ritmo de freqüência menor quanto mais
inferior for a sua localização no sistema de condução. Por exemplo, o nó sinusal despolariza-
CARDIOLOGIA - 123
Ritmo sinusal
Taquicardia sinusal
O ritmo sinusal com uma freqüência acima de 100 batimentos por minuto
é denominado taquicardia sinusal.
Clinicamente, o paciente habitualmente vai relatar palpitação e, ao exame
físico, nós vamos detectar uma freqüência cardíaca aumentada com as bulhas regulares.
CARDIOLOGIA - 124
Farmacológica
Simpatomiméticos
Estimulantes Café, álcool, fumo
Patológica
Febre
Choque
Infecções
Anemia
Hipertireoidismo
Insuficiência cardíaca
Bradicardia sinusal
Extra-sístoles
São situações também muito freqüentes que podem ser subdivididas em:
Extra-sístoles atriais
Extra-sístoles juncionais
Extra-sístoles ventriculares
Extra-sístole atrial
A extra-sístole atrial é aquela em que o impulso elétrico se origina em algum
lugar dos átrios fora do nó sinusal.
Como ele se origina no átrio, portanto, próximo ao nó sinusal, o impulso
elétrico geralmente causa despolarização do nó sinusal. Desta forma, o intervalo entre a onda
P da extra-sístole (P’) e a próxima onda P sinusal é igual, ou discretamente maior, que o
intervalo PP normal. Todavia, o intervalo entre a onda P sinusal que precede a extra-sístole e
a onda P que se segue a ela geralmente é menor que duas vezes o PP normal. Este fenômeno é
chamado de pausa não compensadora.
Extra-sístole juncional
A extra-sístole juncional é aquela em que o impulso elétrico se origina no nó
átrio-ventricular, podendo despolarizar os átrios de maneira retrógrada.
Apesar de ser possível diferenciar as extra-sístoles atrial e juncional pelo
eletrocardiograma, ambas são agrupadas sob o termo de extra-sístoles supraventriculares pois
tanto a sua abordagem terapêutica como as suas implicações clínicas são absolutamente as
mesmas, com a exceção de que a extra-sístole juncional, quando gera uma arritmia mais
grave, resulta em taquicardia juncional paroxística, enquanto a extra-sístole atrial resulta em
taquicardia atrial paroxística.
Ao eletrocardiograma, observa-se:
Ritmo irregular
Ondas P negativas em D2, D3 e aVF
A relação da onda P com o
complexo QRS vai depender do tempo de condução desde o local de origem
no nó átrio-ventricular aos átrios e ventrículos. Um foco alto vai resultar
numa onda P ocorrendo antes do complexo QRS, um foco médio vai
resultar numa onda P ocorrendo durante o QRS e um foco baixo vai resultar
numa onda P que ocorre após o QRS.
Extra-sístole ventricular
As extra-sístoles ventriculares são batimentos que tem origem abaixo do nó
átrio-ventricular, ou seja, nos ventrículos.
A extra-sístole ventricular é comum em pessoas jovens normais e sua
freqüência aumenta com a idade. A extra-sistolia ventricular esporádica em pessoas normais
não tem mau prognóstico, porém, quando ocorre como manifestação de uma cardiopatia,
aumenta o risco de morte súbita. Quando causada por drogas como digital, quinidina ou
antidepressivos tricíclicos, podem levar a um ritmo letal, a menos que a droga seja
interrompida.
As extra-sístoles ventriculares pode ser:
Monomórficas
São extra-sístoles que apresentam morfologia igual, na mesma
derivação eletrocardiográfica.
Polimórficas
São as extra-sístoles que apresentam morfologia diferente, na
mesma derivação eletrocardiográfica.
Em salvas
Quando tempos mais de 3 extra-sístoles ventriculares em salva,
dizemos que existe taquicardia ventricular.
Bigeminadas
Ocorrem intercaladas com os batimentos normais. Se
tivermos uma extra-sístole a cada dois batimentos normais, dizemos que
ocorre trigeminismo. Se a cada 3 batimentos, quadrigeminismo, e assim por
diante.
CARDIOLOGIA - 130
As extra-sístoles ventriculares
bigeminadas, também conhecidas por
bigeminismo ventricular, são indicativas de
intoxicação digitálica. Nestes casos a
freqüência de pulso é a metade da freqüência
cardíaca, pois as extra-sístoles, sendo Figura 11 - Extra-sístoles
precoces, têm um volume sistólico muito ventriculares bigeminadas
pequeno, não produzindo onda de pulso.
Precoces
Uma extra-sístole é precoce quando ocorre junto a onda T do
batimento sinusal que a precede (no período refratário relativo da
repolarização ventricular).
Quanto mais precoce for uma extra-sístole no batimento sinusal,
mais perigosa ela é, porque ela pode levar a uma fibrilação ventricular, com
conseqüente morte do paciente. Nesses casos, é necessário um tratamento
mais agressivo da arritmia.
Fibrilação atrial
Existem situações em que vários focos ectópicos atriais começam a se
contrair numa freqüência de 400 a 700 vezes por minuto. Cada impulso elétrico resulta na
despolarização de uma pequena ilhota do miocárdio atrial, e não de todo o átrio. Como
conseqüência, não há contração atrial efetiva. A transmissão desses impulsos atriais aos
ventrículos ocorre aleatoriamente, resultando num ritmo ventricular irregular, com freqüência
menor que a atrial.
A fibrilação atrial pode acontecer nas seguintes circunstâncias:
Doença mitral reumática
Hipertensão arterial
Cardiopatia isquêmica
Tireotoxicose
Pessoas normais Fibrilação atrial isolada
Como conseqüências, a fibrilação atrial pode reduzir o débito cardíaco em
torno de 20%, o que pode ser tolerado em uma pessoa normal mas, em um indivíduo que já
tenha uma função ventricular diminuída, pode resultar em insuficiência cardíaca e edema
agudo de pulmão; e pode levar a formação de trombos atriais, principalmente nos apêndices
atriais, causando embolia sistêmica ou pulmonar.
Ao exame físico, nós observamos que as bulhas cardíacas estão arrítmicas.
Caso a freqüência ventricular seja elevada, vai ocorrer déficit de pulso e o pulso arterial será
menor que a freqüência cardíaca.
Os critérios diagnósticos eletrocardiográficos são:
Freqüência cardíaca variável
Ritmo irregular
Ausência de ondas P e presença de ondas f
Complexos QRS normais
Flutter atrial
Taquicardia ventricular
Parada cardíaca
Não cardíaca
Afogamento
Eletrocussão
Assistolia
Ausência total de atividade elétrica cardíaca
Figura 19 - Assistolia
2 - 360 J Adrenalina
(após 30 a 60 seg) Adrenalina (1mg a cada 5 min)
(1mg a cada 5 min)
FV persistente Atropina
Bradicardia severa (1mg EV a cada 5 min
até 0,04 mg/kg)
3 - Lidocaína
(1,5mg/kg em bolo) Atropina
(1mg EV a cada 5 min Considerar para
até 0,04 mg/kg) a reanimação
4 - 360 J
(após 30 a 60 seg)
Ritmo sinusal
Verificar pulso Manter lidocaína
e ritmo (2 a 4mg/min)
FV persistente
5 - Repetir 3 e 4
Verificar pulso
e ritmo
FV persistente
6 - Reavaliar toda
a seqüência
7 - Procainamida
(30mg/min até 17 mg/kg)
8 - 360 J
(após 30 a 60 min)
CARDIOLOGIA - 138
Bloqueios átrio-ventriculares
Bloqueio átrio-ventricular de 2
grau o
Bloqueio átrio-ventricular de 3 o
grau (bloqueio total)
O bloqueio átrio ventricular total indica a completa ausência de
condução entre os átrios e os ventrículos. Ele pode ocorrer no nó átrio-ventricular, no feixe de
His ou nos seus ramos.
Quando o bloqueio ocorre no nó átrio-ventricular,
freqüentemente um marca passo juncional assumirá o comando com uma freqüência entre 40
a 60 batimentos por minuto. Este marca-passo é estável e, como ele se situa acima da
bifurcação do feixe de His, a despolarização ventricular será normal e, conseqüentemente, o
complexo QRS também será normal. Este tipo de bloqueio átrio-ventricular total pode resultar
do aumento no tônus parassimpático associado com infarto inferior, por efeito de drogas ou
por lesão no nó átrio-ventricular. Geralmente tem bom prognóstico.
CARDIOLOGIA - 140
Introdução
Classificação
Comunicação interatrial
Figura 3 - Raio-X de tórax de uma criança de 4 anos de idade com comunicação interatrial
Figura 4 - Eletrocardiograma
CARDIOLOGIA - 144
Comunicação interventricular
Figura 9 - Raio-X de um paciente de 3 anos de idade com uma CIV de tamanho moderado
O ecocardiograma confirma o
diagnóstico clínico e oferece informações
sobre a localização e o diâmetro da CIV,
além de avaliar o grau de hiperfluxo
pulmonar.
Após o diagnóstico, o tratamento
consiste na profilaxia da endocardite
infecciosa, medidas anticongestivas, se
presentes, e correção cirúrgica.
O tratamento cirúrgico da CIV, devido
a rapidez com que se desenvolvem suas
manifestações clínicas, deve ser feito
precocemente, em geral nos primeiros dois
anos de vida.
Figura 10 - Ecocardiograma bidimensional Quando a CIV é de pequeno diâmetro
demonstrando CIV (seta) (RV = Ventrículo direito;
e sem repercussão hemodinâmica, a conduta
LV = Ventrículo esquerdo)
é conservadora pois sabe-se que pode haver
fechamento espontâneo da lesão, geralmente no primeiro ano de vida. Alguns casos,
entretanto, podem ter resolução apenas na idade escolar ou, excepcionalmente, na
adolescência.
CARDIOLOGIA - 147
Figura 13 - Eletrocardiograma
CARDIOLOGIA - 149
Estenose pulmonar
miocárdica ventricular direita for grande. A cianose periférica, insuficiência cardíaca direita e
mesmo morte súbita podem ocorrer durante a evolução.
Ao exame físico pode-se observar um abaulamento da caixa torácica
proporcionado pelo ventrículo direito hipertrofiado. Na ausculta, pode-se detectar um sopro
sistólico que se intensifica com a manobra de apnéia pós-inspiratória. O componente
pulmonar da segunda bulha pode estar hipofonético.
A estenose pulmonar valvar pode apresentar um estalido proto-sistólico na
área pulmonar, correspondente ao clique de abertura desta valva.
O eletrocardiograma pode evidenciar uma sobrecarga de ventrículo direito
através do desvio do eixo do complexo QRS para a direita.
O ecocardiograma e a
angiografia permitem análise dos detalhes anatômicos e dos tipos de obstrução.
CARDIOLOGIA - 151
A B C
Figura 17 - A – Ecocardiografia bidimensional de um paciente com estenose pulmonar grave
evidenciando espessamento valvar (seta); B – Angiografia de uma EP valvar típica; C – Angiografia
demonstrando EP grave (setas branca e preta) à nível infundibular. A valva pulmonar (seta preta longa)
está levemente espessada (RV = Ventrículo direito; Ao = Aorta; L = Artéria pulmonar esquerda; R =
Artéria pulmonar direita; MPA = Tronco pulmonar)
Estenose aórtica
C
Figura 18 - Ecocardiograma
bidimensional evidenciando:
A – Estenose aórtica valvar
(setas); B – Estenose aórtica
B supravalvar (setas); C – Estenose
a
aórtica subvalvar (setas) (RV = Ventrículo direito; LV = Ventrículo
A
esquerdo; Ao = Aorta; LA = Átrio esquerdo; VS = Septo a
interventricular; PW = Parede ventricular posterior; amv = Folheto valvar anterior; av = Valva aórtica)
Coartação da aorta
A C
Figura 21 - A – Raio-X de uma mulher de 23 anos de idade com CoAo evidenciando sinal de Roesler
(setas); B – Desenho esquemático dos sinais de corrosão nas bordas inferiores das costelas; C – Detalhe do
Raio-X de uma mulher de 54 anos (LSA = Artéria subclávia esquerda; COARC = Coartação da aorta;
DA = Aorta descendente; Ao = Aorta)
Introdução
Figura 1 - Cianose
Classificação
Tetralogia de Fallot
Figura 4
Dentre os exames
complementares, a radiografia de tórax mostra
um coração em forma de “tamanco holandês” ou,
como alguns autores preferem, em forma de
“sabonete”.
O eletrocardiograma
evidencia uma sobrecarga de ventrículo
direito sem sobrecarga atrial.
CARDIOLOGIA - 160
Figura 7 - Eletrocardiograma
uma reoperação, provavelmente devido a uma estenose residual pulmonar ou por uma lesão
da valva pulmonar.
Introdução
Epidemiologia
Embora pacientes de qualquer idade, sexo e raça possam ser acometidos pela
miocardiopatia dilatada, a doença é mais freqüente em pacientes de meia-idade, sexo
masculino e raça negra.
CARDIOLOGIA - 166
Etiologia
Manifestações clínicas
Métodos diagnósticos
Tratamento
Como a miocardiopatia dilatada não tem etiologia definida, ela não apresenta
tratamento específico.
A terapêutica convencional para a insuficiência cardíaca congestiva com dieta
hipossódica, cardiotônicos e diuréticos freqüentemente provoca alívio dos sintomas,
principalmente aqueles relacionados à congestão venocapilar.
CARDIOLOGIA - 169
Introdução
Classificação
Assimétrica
Septal
Médio-ventricular
Apical
Póstero-septal e/ou ântero-lateral
Ventrículo direito
Etiopatogenia
Fisiopatologia
O gradiente suba-
órtico obstrutivo ocorre devido ao
estreitamento na via de saída do
ventrículo esquerdo e causa um
turbilhonamento na corrente de
sangue ejetado. Este turbilho-
namento provoca uma aspiração
anterior do aparelho valvar mitral,
que encosta no septo
interventricular e obstrui de forma
variável a via de saída ventricular,
ao mesmo tempo que propicia a
ocorrência de regurgitação mitral.
Além disso, a
hipertrofia miocárdica retarda o
relaxamento ventricular na diástole Figura 3 - Fisiopatologia da miocardiopatia hipertrófica (A
e, mais importante, aumenta a = Normal; B = Miocardiopatia hipertrófica)
rigidez da câmara, comprometendo importantemente a função diastólica nos pacientes com
miocardiopatia hipertrófica.
Manifestações clínicas
CARDIOLOGIA - 172
Exames complementares
C D E
Tratamento
Aliviar os sintomas
Aumentar a expectativa de vida