Moura Livro PDF
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HISTÓRIA DE FREI
MIGUELINHO
O BANDOLEIRO/
A FONTE
E O FRADE
SEVERINO R. DE MOURA
biblioteca pernambucana de
história municipal 15
Tem o Centro de Estudos de Historia
Municipal, da FIAM, especial alegria na
publicação deste livro. Imaginado inicialmente para
divulgar originais já escritos mas com dificuldades
de publicação, logo as atividades do CEHM ga-
nharam outro vulto com o surgimento de
pesquisadores que se sentiram estimulados seja a
desdobrar ou concluir suas investigações, seja a
reduzí-las a texto corrido. Apareceram-nos, assim,
trabalhos novíssimos, que não teriam vindo à
luz, se não fosse a existência do Centro. Será o caso
do livro sobre Ouricuri, de Raul Aquino, ou deste
aqui, sobre Frei Miguelinho, Município só há
bem pouco emancipado, em 1964, mas , que,
graças a Severino Moura, Já pode contar sua
caminhada.
E o segundo livro do autor. No primeiro,
"Memórias de um camponês", ele contou sua
própria história — a epopeia de um "curumba"
que vai ascendendo na vida, a partir de
paupérrimos começos, tendo feito da educação
dos filhos o ideal supremo e da retidão e da
integridade pessoal, a regra máxima de seu
viver. Agora, Severino Moura nos vem relatar a
história de sua terra, desenvolvida em torno de
uma fonte de águas cristalinas, nas cercanias do
riacho Topada, afluente do Capibaribe. E "a
fonte" do expressivo subtítulo e primeira parte do
livro.
As duas outras partes tratam da biografia
de dois importantes personagens da história
pernambucana, separados no tempo, por todo um
século, e nas vocações, sendo um frade e o outro,
cangaceiro, mas aproximados seja nas agitações
que promoveram, e agitações armadas (de
diferentes inspirações, é certo), seja na ligação
a Frei Miguelinho. "O frade", a que Mário Melo
recorreu para rebatizar o Município, antigamente
chamado de Olho d'Agua da Onça, é o
importante Frei Miguel Joaquim de Almeida
Castro, do movimento de 1817: acossado pelas
forças governamentais, ele teria ido parar no
território do Município onde, segundo carta
lenda, enterrou valioso canhão que Já não
mais podia transportar, uma vez que
precisara abater alguns animais para o
sustento da tropa. "O bandoleiro" é o famoso
Antônio Silvino, Manoel Batista de Morais que,
segundo Severino Moura, "viveu constantemente
nas fazendas vizinhas do povoado".
Nem tudo, no entanto, são violências e
sangue na história de Frei Miguelinho: enquanto o
frade via desabar sua revolução, os Irmãos Moura
abriam campos para criação de gado, nos quais se
iriam erguer as casinhas, as lojas, a igreja, o
cemitério, o povoado todo. Severino Moura cuida
de tudo isso: não só dos fatos extraordinários,
as revoluções, a agitação, mas também da rotina
árdua e maçante do dia-a.dia, e mergulha num
levantamento, decerto incompleto mas, sem
dúvida, Já precioso, até da genealogia das
principais famílias que povoaram a região.
O BANDOLEIRO,
A FONTE
E O FRADE
Governador do Estado de Pernambuco
Secretário de Planejamento
DE HISTÓRIA MUNICIPAL
RECIFE — 1983
VOLUMES PUBLICADOS
TEMPO MUNICIPAL
NELSON BARBALHO
7
Durante as lutas libertárias de Pernambuco — tanto no
Movimento Revolucionário de 6 de março de 1817, quanto nas
pendengas advindas da Confederação do Equador, em 1824, —
OLHO D'ÁGUA DA ONÇA serviu de cenário para algumas de
suas escaramuças, pois muitos dos líderes dos revolucionários
separatistas e ao mesmo tempo republicanistas transitaram
por seus caminhos, abrigaram-se em suas matas, pelejaram em
suas terras, foram perseguidos dentro de suas fronteiras. E as.
sim acontecendo, OLHO D'ÁGUA DA ONÇA entrou em cheio
na História de Pernambuco. Entre os heróicos líderes que pal-
milharam o solo de OLHO D'ÁGUA DA ONÇA, no primeiro
quartel do século XIX, destacam-se dois frades notabilíssimos
- Frei Miguel Joaquim de Almeida Castro, em 1817 e Frei
Caneca, em 1824.
Miguel Joaquim de Almeida Castro, herói-mártir da Re
volução Republicanista de 1817, é o FREI MIGUELINHO, cujo
apelido é o atual nome do antigo povoado de OLHO D'ÁGUA
DA ONÇA, por sugestão, surgida em 1939, do historiador Má-
rio Melo, de saudosa memória. Justa homenagem a um gran-
de vulto de nosso passado histórico, em torno do qual, com
muita propriedade, o autor da HISTÓRIA DE FREI MIGUE-
LINHO, no texto deste livro, traça excelente resumo biográ-
fico, valorizando sobremaneira a obra aqui focalizada.
Severino Rodrigues de Moura, ao que me contam, é um
homem bom e simples, um eterno apaixonado pela terra na.
tal, um chefe de família exemplar. Gostei demais de seus es-
critos em torno de FREI MIGUELINHO, de suas gentes, sua
flora, seus usos, seus costumes, sua evolução político-social.
administrativa, suas lutas, inclusive as lutas travadas durante
o reinado do cangaceiro António Silvino, que, por sinal, em
1914, seria dominado pelos milicos do sertanejo Teófanes Fer-
raz exatamente em terras de OLHO D'ÁGUA DA ONÇA, ter-
ras nas quais também transitou um outro heróico personagem
da História do Brasil — o bravo Tenente Valdemar Lima, ré.
voltoso de 1926, companheiro de Cleto Campeio na campa-
nha tenentista terminada vitoriosa com a Revolução de 1930.
Por sinal, quando em marcha para juntar-se à Coluna Prestes,
o Tenente Valdemar Lima seria morto em terras de OLHO
D'ÁGUA DA ONÇA, exatamente no Riacho, ou melhor, no
Povoado Topada, que hoje se chama VALDEMAR LIMA, em
sua homenagem.
Tudo quanto aqui estou dizendo é pinto diante do que
historia Severino Rodrigues de Moura no extraordinário tra-
8
balho que fez acerca do passado histórico de FREI MIGUE-
LINHO, trabalho gigantesco, inclusive de cunho genealógico,
para mim simplesmente notável.
Melhor, porém, que estas minhas pobres palavras é
o livro de Severino Rodrigues de Moura, autor já publicado
e que dispensa apresentação. Que o leitor esqueça o prefácio e
emburaque no miolo da obra, escrita em estilo ameno e agra-
dável, tudo com muita simplicidade e também com segurança
invulgar. Vale a pena tomar-se conhecimento da HISTÓRIA
DE FREI MIGUELINHO, de Severino Rodrigues de Moura.
9
AGRADECIMENTOS
11
ESCLARECIMENTOS
Este livro compõe-se de três partes, com um total de
nove capítulos, escrito por incentivo dos habitantes do
lugar e a confiança no diretor do Centro Histórico Municipal
de Pernambuco, Dr. José Marques Luiz Delgado. O autor,
além de ter apenas instrução primária, nas suas pesquisas,
teve grandes dificuldades por falta de dados históricos.
Portanto, é uma história pobre de detalhes, escrita com o
máximo de boa vontaade, no intúito de que nossa
comunidade disponha de um ponto inicial para a sua
futura história
Lendo livros, observei as narrativas ricas de detalhes,
referentes às origens de outros municípios, o que não existe na
humilde história que escrevi da minha terra, chegando até a
pensar de impedir sua publicação. Porém, a gente dá
aquilo que pode.
A primeira parte, como já foi dito acima, com po-
breza de detalhes, compreendidos de cinco capítulos, refere-
se à fundação da nossa cidade, desde a descoberta da
fonte até o mandato do prefeito Zezon Alexandre de
Oliveira, quando do seu afastamento ocorrido no dia 15 de
março de 1981, incluindo os 06 povoados, quase todas as
famílias que povoaram o município, as manifestações
populares e fatos pitorescos.
Na segunda parte com apenas um capítulo, está
inserido um trabalho de pesquisas sobre o Frade
revolucionário de 1817, Miguel Joaquim de Almeida Castro,
(o Frei Miguelinho), que é hoje o nome de nossa cidade em
substituição ao seu primeiro nome Olho D'Água da Onça.
A troca de nome foi uma lembrança do jornalista Dr.
Mário Melo, no ano de 1939. Naquela mesma época, Dr.
Mário Melo escreveu com ênfase uma crónica divulgando
que o Frade estivera na fonte (Olho D'Água da Onça)
acompanhado de vários companheiros revolucionários em
1817, acossado pela força do governo. Em condições
precárias, mandou abater alguns animais para saciar a fome
da tropa, ficando sem possibilidades de transportar um dos
canhões.
13
Disse ainda Dr. Mário Melo que o Frade ordenou abrir
uma vala na areia da Serra da Onça, próximo à fonte, e en-
terrou a peça bélica.
Isso criou, tempos depois, motivos de discussões entre
os habitantes da localidade, ao ponto de alguns proprietários
abrirem valas em diversas direções, na tentativa de achar o
canhão que alguns ainda julgam enterrado. Não tive oportu-
nidade de ler a crónica publicada em uma das revistas da
época em que o Dr. Mário era um dos mais destacados jorna-
listas brasileiros.
A referida crónica depois que virou história na região,
deve estar diferente da escrita na revista.
No começo do século XIX, a nossa região ainda era
quase desabitada. A estrada mais próxima era a que passava
em Bezerros. Como poderia uma tropa transportar carretões,
puxando canhões, em tais condições? Pela lógica deduzimos
que o Frade nem sabia que os irmãos Moura estavam abrin-
do os primeiros campos para criação de gado, onde hoje está
encravada a sede do município.
Os comentários que vêm passando de gerações a gera-
ções, dizem que em 1824 o Frei Joaquim do Amor Divino (o
Frei Caneca), percorrendo parte do Nordeste, perseguido pelas
forças do governo, seguindo por estradas precarissimas; mar-
geando o rio Capibaribe, chegou até o povoado Capivara do
nosso município e quando estava acampado, foi surpreendido
pela tropa do governo, havendo um choque onde morreram
vários revolucionários, sendo os mesmos sepultados no mesmo
local, cujo acontecimento ocorreu quando já haviam passados
sete anos do fuzilamento do Frei Miguelinho e outros compa-
nheiros de ideias, na cidade de Salvador.
A terceira parte, composta de três capítulos, narra
parte da história do senhor Manoel Batista de Morais, o famoso
capitão António Silvino, em vista do mesmo ter vivido cons-
tantemente nas fazendas vizinhas do povoado Olho D'Água da
Onça, ao ponto de imprimir respeito e angariar até simpatia
de muitos habitantes da região, deixando motivos para ser in-
cluído na história do hoje município de Frei Miguelinho.
Utilizei como fontes revistas do Instituto
Arqueológico e Geográfico de Pernambuco, arquivo do
Diário de Pernambuco, e comentários populares.
Humildemente, peço desculpas dos inúmeros erros con-
tidos nesse trabalho.
O AUTOR
14
PRIMEIRA PARTE
17
gro". Segue este até à sua foz no rio Capibaribe, acompanhan.
do-o até a foz do riacho "Topada".
Dizem que a área do município antigamente
pertenceu a uma Sesmaria, doada pelo Imperador a Dona
Maria Ferraz de Brito, dona de Taquaritinga. Outros
afirmam que eram terras devolutas, em vista de se acharem
muito distantes das primeiras estradas construídas pelos
pioneiros.
TOPOGRAFIA
A área é plana e suave, destacando-se apenas as eleva-
ções das serras da Onça ao Sul e do Manso ao Norte. O mu-
nicípio ocupa uma área de 144 km2, densamente
habitada, com seis povoados: Lagoa do João Carlos, Algodão
do Manso, Capivara, Chã do Carmo, Placas e Valdemar
Lima, todos eletrificados com energia de Paulo Afonso.
Destas terras férteis sente-se a euforia dos lucros agrí-
colas, por todo o ano, na serra de Taquaritinga, verdadeiro
oásis, e o clamor ressequido dos limites da Paraíba com suas
caatingas características de um sol implacável e explorações
rudimentares.
VEGETAÇÃO
Os primeiros povoadores encontraram uma vegetação
composta de marmeleiro, umbuzeiro, caatingueira, baraúna,
arueira, juá, velame, angico, bom-nome, jurema, jucá, pinhão,
pereiro, umburana e muitos outros. Descrevemos abaixo pe-
quenas definições sobre os vegetais acima citados, como
também sua utilidade para os antigos colonos;
MARMELEIRO — Servia para fazer cerca. Era a lenha
preferida por todos, haja vista sua facilidade de combustão.
Seco, verde ou na chuva, não dava trabalho para se
acender a fogueira.
UMBUZEIRO – Apresentava frutos deliciosos e bata-
tas ricas em água, sendo estas utilizadas em doces e cocadas.
Antes, matava a sede dos cangaceiros, quando
perseguidos pela polícia.
CAATINGUEIRA — Muito utilizada como lenha de
primeira qualidade, devido ao calor que desprendia e o
tempo que durava aceso o seu carvão. A flor serve de
medicamento contra a. tosse e é muito procurada pelas
abelhas.
18
BARAÚNA — Considerada a madeira mais forte da re-
gião,usada para esteio, travejamento de casas e vigas de ponte,
setindo centenas de anos sem deteriorar-se.Usava-se também
para dormente de estrada de ferro, reconhecida pela sua
durabilidade no solo.
23
Capim sempre-verde Panicum maximum
Capim colonião Panicum maximum
Capim elefante Pennisetum purpureum
Capim planta Brachiaria purpuracens
Grama de burro Cynodon doctylon
Algaroba Prosopis juliflora
Palma gigante Opuntia ficus indica
Palma miúda Nopalia cochenillífera
FAZENDAS
26
que dá acesso ao município de Cumaru, e o outro dá
acesso ao município de Surubim.
FREI MIGUELINHO -- LAGOA DO JOÃO
CARLOS, sai da cidade direto a este povoado,
ultrapassando-o e formando dois ramos; uma, próxima ao
município de Santa Maria do Cambucá e a outra, a cidade
de Surubim.
Um dos maiores desejos dos freimiguelinhenses é asfaltar
os 9 km de estrada que dão acesso à cidade. Com a ascensão
do Dr. José Francisco de Moura Cavalcanti ao Governo do
Estado, tivemos quase a certeza que este sonho seria reali-
zado, pois o mesmo esteve na cidade e nos prometeu o asfal-
tamento. No entanto, isto ficou só na promessa e a esperança
está depositada agora no governo do Dr. Marco António
Maciel.
BANDEIRA DO MUNICÍPIO DE FREI MIGUELINHO
Criada em 1973 por José Vitorino de Almeida, estu-
dante da Escola São José
VERDE — As matas que aqui existem
BRANCO — A paz da nossa terra
CÍRCULO — A terra
PAISAGEM DO CIRCULO -- A fonte, quixabeiras, e
pedras existentes no local, de descoberta do Município —
Olho D'água da Onça, nome primitivo de Frei
Miguelinho.
ONÇA — A soberana do local descoberto.
27
Capela de São José Frei Miguelinho — PE — Construída em 1899.
Escola São José — Ensino de l*?, e 2°. graus, inaugurada no dia 14 de dezembro
de 1974. Frei Miguelinho — Administração Gaudêncio José Assunção — Prefeito.
CAPÍTULO II
29
Dos seus filhos, destacamos o casal João Francisco de
Moura e Maria Francisca da Conceição, que tiveram os se-
guintes filhos: Vítor, Joventino, Porfírio, Trajano, João Mo-
rotó, João Brito, António Pedra, António "Chocho", Pedro,
Maria Quitéria e Felicidade. Destes, destacou-se João Morotó,
casado com Maria Branca, que se dedicou ao comércio de
gado e hoje, é fazendeiro no município. A origem do nome
Morotó, deve-se ao fato de que João Francisco de Moura e
dona Conceição tiveram, entre outros, dois filhos de nome
João. Resolveram então denominar a um deles por Morotó
em vez de Moura. Batizado, registrado e casado com esse
nome, deu origem à família Morotó, que está projetando-se
no município. Através dos esforços do casal, seus filhos,
conseguiram estudar em outros municípios. São eles:
Maria Medeiros Morotó — diretora do Órgão
Municipal de Educação, formada em Pedagogia, no ano de
1970, em Caruaru;
Maria José Morotó — diretora da Escola São José, for-
mada em Pedagogia, em 1970, na cidade de Caruaru;
José Carlos Morotó - - ex-vice-prefeito do município;
Maria Isabel Morotó — supervisora, formada em Peda-
gogia no ano de 1975, na U.F.PE., e estudante de
Odontologia em Caruaru;
António Medeiros Morotó — médico veterinário,
casado com a médica Maria José de Moura, formado em 1977
na U.F.R.-PE.;
Luis Medeiros Morotó — médico veterinário,
formado em julho de 1978, na U.F.R.PE.
Citaremos ainda Manoel Pereira de Moura, filho de
António Francisco de Moura, casado com Maria Leonor do
Carmo. Não sabemos por que motivo, ele decidiu que seus
filhos passariam a chamar-se, em vez de Moura,
MORAIS; daí a origem dessa família. Seus descendentes
são:
António Manoel de Morais,
Leonel Manoel de Morais,
Luis Manoel de Morais,
Dalila Manoel de Morais,
Idalina Manoel de Morais,
Capitulina Manoel de
Morais.
30
António Manoel de Morais foi um grande fazendeiro
município e ex-vereador. Casou-se com Maria Fonseca de
Morais, tendo os seguintes filhos:
Regina Morais (professora e fazendeira),
Olímpio Morais (fazendeiro),
Abdias Morais (atual vice.prefeito e fazendeiro).
Leonel Manoel de Morais, casado com Delmira
Fran-cisca de Arruda, teve os seguintes filhos:
34
Manoel Alexandre de Oliveira Filho.
João Alexandre de Oliveira — casou-se com a Sra
Amara Pereira de Sousa. Seus filhos:
35
Maria José Silva — supervisora do Órgão Municipal de
Educação;
Normando José da Silva — fiscal do DETERPE;
Paulo Roberto da Silva — alto comerciante;
Rejane Maria da Silva — cursando o 4°. ano de Medi-
cina;
Vital Romero da Silva
Fábio Rogério da Silva.
Aliete Alexandre de Oliveira — casou com o Sr Juarez
Bezerra de Medeiros. Seus filhos:
Maria Gorete de Oliveira Medeiros
Juarez Bezerra de Medeiros Júnior
Julião Alexandre de Oliveira — é casado com a Sra.
Santa Hipólito de Medeiros. Seus filhos são:
Maria Alexandre de Medeiros
Juliana Oliveira de Medeiros
António Alexandre de Oliveira — casou-se com a Sra.
Francisca Maria da Silva. Vereador em Altinho e Farmacêu-
tico. Seus filhos:
Severino Alexandre de Oliveira
Edite Alexandre de Oliveira
Erinete Alexandre de Oliveira
Maria do Carmo de Oliveira
Juracy Alexandre de Oliveira
António Alexandre de Oliveira, conhecido como Sambu,
era enfermeiro e dedicava-se de corpo e alma aos doentes, sen-
tindo-se realizado quando distribuía seus remédios. Sentia-se
como um médico, pois não era formado, mas atuava como se o
fosse.
Manoel Alexandre de Oliveira Filho — casou-se com a
Sra. Maria Silvina Moura e teve os seguintes filhos:
Maria Alexandre de Oliveira
António Alexandre Sobrinho
Agaton Alexandre de Oliveira
Epiópia Alexandre de Oliveira
Laura Alexandre de Oliveira
Elza Alexandre de Oliveira (solteira)
36
Maria Alexandre de Oliveira — casada com o Sr. Cor-
nélio Lucas de Arruda. Possuem quatro filhos:
Ivete Lucas de Arruda (esposa do vereador Severino
Bezerra Batista)
Ismael Lucas de Arruda
Maria das Graças de Arruda
José Everaldo Lucas
António Alexandre Sobrinho — casou-se com a Sra.
Maria Santa de Medeiros. Seus filhos são:
Leny Alexandre de Medeiros — funcionária do INPS,
esposa do Sr. Luiz Gonzaga de Melo, funcionário federal;
Laurinete Alexandre de Medeiros — casada com o
Sr. Ivo Siqueira de Miranda, contador;
Linete Alexandre de Medeiros — casada com Manoel
Bezerra;
Leda Oliveira de Medeiros — professora;
Laurinéia Oliveira de Medeiros — formada em
Advocacia, e em Ciências Sociais, casada com o advogado
Joelson;
Lenilson Oliveira de Medeiros — casado com Lucilene
Oliveira;
António Oliveira de Medeiros — casado com Maria
Gorete, é fazendeiro;
Lenilda Oliveira de Medeiros — professora;
Lecilda Oliveira de Medeiros — casada com
Cláudio Lucena;
José Lupércio de Oliveira de Medeiros.
Agaton Alexandre de Oliveira — casou-se com a Sra.
Maria de Lourdes Bezerra. Seus filhos são:
Wilson Bezerra de Oliveira — Agente da Polícia Fe-
deral;
Lindomar Bezerra de Oliveira — professora;
Vanda Maria Bezerra — dentista.
38
Noé Hipólito de Medeiros — foi Prefeito por duas
vezes em Riacho das Almas;
Maria Ferreira de Medeiros
João Hipólito de Medeiros
Ana Hipólito de Medeiros — casada com o Bel
Moura.
Apolônio Hipólito de Medeiros — casado e pai de dois
filhos: Hilário Hipólito de Medeiros e José Hipólito de Me-
deiros .
João Hipólito de Medeiros — casado com a Sra. Josefa
Oliveira de Medeiros. Seus filhos: Ivanildo, Ivaldecí (ve-
reador, advogado em Caruaru), Ivaldenise, Ivonete, Hipólito,
José Hipólito, João Hipólito Irmão e António Hipólito de Me-
deiros Neto.
Laurentino Hipólito de Medeiros — casou-se com a Sra.
Minervina Viturina de Moura. Tiveram os filhos:
Crispim Hipólito de Medeiros
Maria José de Medeiros
Maria Minervina de Medeiros
Maria Branca de Medeiros
Maria Santa de Medeiros
Crispim Hipólito de Medeiros — casou-se com a Sra.
Martinha Jerônimo de Medeiros. Deste casal nasceram três
filhos:
Severino Hipólito de Medeiros
Apulclo Hipólito de Medeiros
Etemistoclis Hipólito de Medeiros
Maria José de Medeiros (falecida) — casou-se com o
Sr. Artur Gonçalves de Lima. Tiveram duas filhas:
Diva Gonçalves de Lima
Iraci Gonçalves de Lima
Maria Minervina de Medeiros — casada com o Sr. Ma-
noel Pereira de Sousa. Não tiveram filhos. Era conhecida por
todos como dona Quirina.
Maria Branca de Medeiros — casada com o Sr. João
Pereira Morotó. Falamos sobre a mesma, quando tratamos da
família Moura.
39
Maria Santa de Medeiros — casou-se com o Sr. Antó-
nio Alexandre Sobrinho. Também falamos sobre a mesma,
quando descrevemos a família Alexandre.
Crispim Hipólito de Medeiros -- arrematador de feira,
depois foi comerciante. Comprou o primeiro fogão a lenha e,
depois, a gás; o primeiro rádio e foi comprador de algodão.
Como político, exerceu a função de vereador por três vezes,
procurando atender e defender os interesses do Distrito de Frei
Miguelinho. Batalhou pela emancipação do município, conse-
guindo realizar seu sonho em 1963. Lutou pela questão dos
limites territoriais do município, sendo definitivamente resol-
vido após a sua morte, pelo Tabelião Público João Alexandre
de Oliveira, que contratou o advogado Barros Melo, para re-
solver a questão, ficando o povoado de Lagoa do João Carlos
pertencendo a Frei Miguelinho. Desejava ser prefeito para
beneficiar a fonte (ainda hoje desprezada), e construir um
novo cemitério. Todas as vezes que submeteu-se a votação
(para Vereador, pelo Distrito), nunca foi derrotado, pois seus
amigos políticos sempre lhe foram fiéis. Faleceu em 23 de se-
tembro de 1965, de colapso cardíaco
João Hipólito de Medeiros — foi para Contendas, em
Vertentes. Seus filhos:
Hipólito Laurentino de Medeiros
Amaro Hipólito de Medeiros
Raul Hipólito de Medeiros
João Hipólito de Medeiros Filho
Santa Hipólito de Medeiros
Manoel Hipólito de Medeiros
Todos desempenham atividades como agricultores e
criadores.
Bernardino Hipólito de Medeiros — casou-se com a Sra.
Maria Silvina de Medeiros, e tiveram duas filhas: Maria
Bernardina de Lima (falecida) Severina Bernardna de Lma
Maria Bernardina de Lima — casou-se com o Sr. Aní-
sio Gonçalves de Lima, e tiveram os seguintes filhos:
Hilda Gonçalves de Lima
António Gonçalves de Lima
40
Emílio Gonçalves de Lima Maria
Socorro Gonçalves de Lima
Berenice Gonçalves de Lima
Severina Bernardina de Lima — casada com o Sr. Del-
miro Gonçalves de Lima. Não tiveram filhos.
Maria Hipólito de Medeiros — casou-se com o Sr. João
Ferreira de Melo. Seu filho:
António Simão de Arruda — casou-se com Ana Fer-
reira de Medeiros e tiveram os seguintes filhos:
Eva Simão de Arruda
António Simão de Arruda Filho
Eunice Simão de Arruda
Enok Simão de Arruda (faleceu solteiro)
Enedina Simão de Arruda
Elizabete Simão de Arruda
Maria Ferreira de Arruda — casou.se com o Sr José
Bezerra de Barros. Seus filhos:
Anália Hipólito de Medeiros
Hipólito de Medeiros
Maria Hipólito de Medeiros
José Ferreira de Melo — casou-se com a Sra Idalina
Pereira de Sousa. Não tiveram filhos.
42
Péricles Almeida — ex-Prefeito de Maraial e por duas
vezes Prefeito da cidade de Santa Maria do Cambucá;
Severino de Almeida Filho — advogado e Deputado
Estadual;
Eurídice de Almeida — advogada;
Maria de Jesus Almeida — professora;
Jeruza de Almeida — professora;
Dalva de Almeida
José Bezerra de Almeida
Santozinho de Almeida — Tabelião de Santa Maria do
Cambucá;
Abgail de Almeida — esposa do Dr. Rubens
Rodrigues dos Santos, médico cirurgião descendente da
família Rodrigues, de Vertentes.
44
António Pereira de Sousa (Guarda Rodoviário Federal)
Maria de Fátima de Sousa (professora)
Laura Pereira de Sousa — casada com o viúvo Sr.
Artur Gonçalves de Lima (falecido). Tiveram os filhos:
Domingos Gonçalves de Lima (Guarda da Secretaria
da Fazenda, de Mercadoria em Trânsito);
Marlene Gonçalves de Lima (professora e formada em
Pedagogia);
Marluce Gonçalves de Lima (professora e também for-
mada em Pedagogia);
Marinalva Gonçalves de Lima (professora);
Maria das Graças Gonçalves de Lima (professora e
funcionária do DETRAN);
Maria Aparecida Gonçalves de Lima (Universitária de
Veterilnária).
Devido a contradições quanto às informações das árvo-
res genealógicas das citadas famílias, é bem possível que ha-
jam sido cometidos enganos, pelos quais, humildemente peço
desculpas.
45
CAPÍTULO III
LAGOA DE JOÃO CARLOS
Segundo a tradição, São José dos Bezerros foi forne-
cedor de algodão e gado para a Bahia, isto no tempo do Brasil-
Colônia.
Alguns criadores que povoavam o lugar saíram à pro-
cura de área melhor, que proporcionasse boas condições para
seus rebanhos Um deles, João Carlos, nessa busca agradou-se
da região onde existe uma lagoa, fazendo aí seu campo e edifi-
cando um curral para estabelecer sua criação. Construiu uma
casa para sua moradia e daí por diante a lagoa passou a ter
seu nome: LAGOA DE JOÃO CARLOS. O povoado surgiu
disso, mas não sabemos a data inicial.
Além das ótimas condições para criação de gado, o
lugar é também de primeira qualidade para o cultivo de todo
tipo de lavoura, devendo-se a isso também a chegada dos seus
povoadores.
PRIMEIROS HABITANTES:
Manoel Pereira Ramos, casado com Dona Ana, vinda
de São José dos Bezerros (atualmente Bezerros). Tiveram
entre outros, os seguintes filhos:
João Pereira de Souza
Francisco Pereira Ramos
Amâncio Pereira Ramos
José Pereira Ramos
Severino Pereira Ramos
José Pereira Ramos Irmão
Maria José Ramos
Ana Pereira Ramos
47
Maria Pereira Ramos
Madalena Pereira Ramos
Conceição Pereira Ramos
João Pereira de Souza, casado com Maria Luisa da
Conceição, tiveram os seguintes filhos:
Joaquim Pereira Ramos
Manoel Pereira Alves (declarante)
José Pereira Alves
Luzia Pereira Alves
Manoel Pereira Alves, casado com Josefina Maria de
Jesus, tiveram os seguintes filhos:
José Manoel de Souza — ex.vereador
Otávio Pereira Alves
Eugênio Pereira Alves
Luiz Pereira Alves
Irene Rosa de Lima
Aurora Maria de Jesus
Maria Pereira Alves
Júlia Alves de Jesus — esposa do ex-prefeito Gaudên-
cio José Assunção
Ivone Maria de Morais
Edite Pereira Alves
FAMÍLIAS INFLUENTES DO POVOADO:
INDÚSTRIAS DO POVOADO:
Cerâmicas em quantidade de dez, tendo entre outros,
por proprietário-
Luis Pereira Alves
Linaldo Manoel de Souza
Valdecir Alves de Assunção
A de maior produção pertence ao Sr. Pedro Cordeiro
COMISSÁRIOS:
José Gomes de Souza
José Pedro de Souza
José António Leandro
José Pedro Alves.
"MIGUEL ALVES DE MOURA"
Data do Nascimento: 26 de junho de 1884
Falecimento: 25 de fevereiro de 1955
Miguel Alves de Moura nasceu e viveu em Lagoa de
João Carlos, onde constituiu família e fincou as raízes de
sua vida criando um nome que se firmou em uma base de hon-
radez e dignidade, merecendo o respeito e admiração de todos
os que o conheceram.
50
Exerceu intensa atividade que abrangeu todos os setores
da sua vida naquela comunidade que era constituída pra-
ticamente de uma só família.
Sem ter frequentado escolas em centros adiantados,
idquiriu vasto cabedal de conhecimentos práticos com o
que pontificava não só na povoação onde viveu mas em todo
o município de Vertentes, ao qual pertencia Lagoa de João
Carlos. Dono de uma inteligência fulgurante, era o tipo do
homem dos sete instrumentos. Em todos os serviços onde fosse
necessaria a sua presença, sua atuação era preponderante e,
por isso, tinha sempre a palavra final na execução de serviços,
obras ou negócios.
Existem particularidades de aspectos bastante interes-
santes da vida de Miguel Alves de Moura, que merecem des-
taque na análise de sua atuação como homem público.
Lembra Dr. Otávio Correia de Araújo, ex-governador
de Pernambuco, seu compadre e amigo, que Miguel Alves de
Moura poderia ter ficado com a maior parte das terras da re-
gião. Sendo agrimensor prático, fez a divisão de todas as ter-
ras da região e muitas vezes teve oportunidade de oficializar
áreas consideradas "sem dono", talvez devolutas, regularizando
tudo em nomes daqueles que ali trabalhavam. Na época, o Dr.
Otávio era Promotor Público de Vertentes e a autoridade que
homologava as demarcações. Ninguém melhor do que aquele
ilustre homem público pernambucano para atestar a idoneidade
do "capitão" Miguel. Fazia as demarcações, estabelecia os
limites, lavrava escrituras particulares, fazia acordos e
arrumações e os tabelionatos a tudo reconheciam, respeitavam
e davam a cobertura legal que veio assegurar ao povo da
região a legitimidade da posse de suas terras, nunca havendo
desentendimentos que provocassem rupturas na paz daquela
gente que tinha no velho Miguel o amparo, o apoio e a
orientação segura e firme de que necessitassem. Muito te-
ríamos que falar sobre a personalidade marcante do patriarca
de Lagoa de João Carlos, o que serviria de exemplo para as
gerações de hoje.
Conversando com José Dudu, seu sobrinho-neto, foi
lembrado o fato de que o "capitão" tinha um bom rebanho de
gado leiteiro mas nunca vendeu um litro de leite à pobreza
da vizinhança. De manhã quando tiravam o leite no curral,,
quem quisesse podia chegar com seu vasilhame e levar a quan-
tidade que precisasse para alimentar os filhos, demonstrando
qualidades humanitárias sem limites.
51
Bastante ligado à política, era um entusiasmado pes-
sedista, aliado do seu compadre e amigo Dr. Emílio Caval-
cante. Vivia lendo o que lhe chegasse as mãos e não dispen-
sava a leituia da "Folha da Manhã", jornal de Agamenon Ma-
galhães, cacique do PSD de Pernambuco, interventor federal
e governador eleito, com quero Miguel Alves mantinha rela-
cionamento.
Outra figura da política pernambucana com quem man-
teve bom relacionamento, foi Etelvino Lins. Este o nomeou
fiscal arrecadador da coletoria de Vertentes.
Sua autoridade moral pairava acima de tudo. Não gos-
tava de jogos e enquanto viveu ninguém jogava em Lagoa de
João Carlos e não era preciso que ele proibisse.
Foi casado em primeiras núpcias com Dona Maria Ma-
dalena de Moura que, faleceu muito jovem em 1939, deixando
um casal de filhos, Manoel e Maria.
Casado pela segunda vez com Maria Azevedo Moura,
nascendo da união dez filhos, todos vivos e residindo parte
em Lagoa de João Carlos e parte em São Paulo, onde também
reside a viúva junto aos filhos: Mércia Maria de Moura, Gló-
ria, Maria, Maria de Lourdes, Maria do Rosário, Maria do Am-
paro, José, Júlio e Jaime. Este último, professor em Frei Mi-
guelinho.
Dos filhos do primeiro casamento, só Maria Alves de
Moura está viva, casada com um primo, José Pedro de Moura,
residente em Lagoa de João Carlos e tem três filhos que vivem
do comércio e da agricultura.
Para fechar a análise sumária da vida de Miguel Alves
de Moura, gostaríamos de destacar o fervor religioso que mar-
cou sua vida. Construiu às suas expensas a capela de Nossa
Senhora da Conceição em Lagoa de João Carlos. Perto da
data de sua morte, lembrou-se de que havia feito uma pro-
messa a Santa Luzia, quando sofreu de um problema de visão
Iria construir a calçada da capela assim que estivesse curado
do mal que lhe afetava a vista. Esqueceu de cumprir por um
certo tempo e, de repente, mandou fazer a calçada com a maior
pressa.
No dia em que foram concluídos os trabalhos, sofreu
o terceiro enfarte e morreu. Está enterrado na capela que cons-
truiu e no beiral da capela está gravada a data em que ficou
pronta no cumprimento de sua promessa: 25-02-1955. Hoje a
igreja é conservada pelos seus netos, José Pedro de Moura Fi-
lho, Severino Alves de Moura e Lindalvo Alves de Moura com
a colaboração da comunidade.
52
MANUEL ALVES DE MOURA
Data do Nascimento: 17 de outubro de 1908
Falecimento: 30 de março de 1973.
Nasceu em Lagoa de João Carlos como seus antepas-
sados e ali, também, constituiu sua família. Fez o curso que
era possível fazer na escola do professor João Gualberto.
onde o seriado era medido em termos de primeiro, segundo e
.terceiro livros, todos de autoria de Felisberto de Carvalho.
Manuel Alves chegou ao terceiro livro e sem dificuldades
endeu as chamadas "quatro peças de conta", surpreendendo
pela agilidade de seus cálculos.
Logo cedo abriu uma "bodega" onde vendia de tudo:
secos e molhados. Na mercearia de Manuel Alves todos se
abasteciam tivessem ou não dinheiro para pagar na hora. O
fiado, às vezes passava de um ano para o outro. Muita gente
comprava durante todo o ano e pagava na safra do algodão.
Outros mais necessitados trocavam na venda seus produtos
por outros que não produziam. Não raro chegava uma mulher
com uma dúzia de ovos e levava sal, açúcar e café. Outros
traziam mamona e levavam um corte de tecido: brim, caque,
Doriano ou mescla alvorada. O sistema era bom para as duas
partes.
Montou uma padaria e foi o primeiro na produção de
pães e bolachas na região com seu compadre Severino Rufino
fazendo entrega em Olho D'Água da Onça (atual Frei Migue.
finho), Algodão do Manso, Capivara e Santa Maria do Cum-
buca, município vizinho.
Trabalhava duro das cinco da manhã às oito da noite e
ainda tinha tempo para fazer um roçado de milho, feijão e
algodão, sem falar nas doces melancias e nos suculentos jeri-
muns.
Casou com Dona Guilhermina de Albuquerque Moura,
filha de João Urbano e Maria Carneiro de Albuquerque. Sua
esposa apareceu em sua vida quando veio do Algodão do
manso para ensinar as primeiras letras às crianças de Lagoa
de João Carlos.
Atravessaram períodos difíceis e juntos enfrentaram
as dificuldades. Enquanto Manuel enfrentava a luta no
roçado, Guilhermina tomava conta do balcão da mercearia e
costurava em sua velha singer. Também ensinava à
meninada de lagoa de João Carlos. Manuel foi o pioneiro em
instalar um gerador elétrico para iluminação e para carregar
baterias para
53
rádios. O primeiro rádio foi comprado em 1939 e vinha gente
de toda redondeza para ouvir os programas da Rádio Clube e
da Rádio Nacional.
Comprou o primeiro automóvel a rodar naquelas
plagas.
Durante a segunda guerra, conseguiu com um amigo
de Vertentes uma quota de querozene e, graças a isso, melho-
rou suas vendas em face da grande procura daquele derivado
de petróleo para iluminação. Tendo o querozene para vender,
aumentou as vendas de géneros e outros produtos.
No ano de 1949, transferiu-se para Surubim, onde esta-
beleceu-Se com uma boa mercearia e uma seção de tecidos.
Com o crédito amealhado durante o tempo em que trabalhou
em Lagoa de João Carlos, foi fácil expandir-se em Surubim.
A mercearia de Lagoa de João Carlos, com padaria e tudo,
ficou para o cunhado e primo José Pedro, casado com sua irmã
Maria.
Trabalhando com afinco, firmou-se como um dos maio-
res comerciantes de Surubim.
Matuto humilde de Lagoa de João Carlos, chegou onde
podia chegar com esforço, abnegação e serenidade, criando
seus filhos com o exemplo do trabalho persistente, recebendo
a homenagem de Surubim com seu nome em uma das ruas da
cidade.
São filhos do casal: o economista Valdemir Alves de
Moura, casado com Eunice Moura e que tem quatro filhos.
Valdemir Moura, tem atuação na área de planejamento, sen-
do um dos pioneiros da SUDENE e autor de mais de uma cen-
tena de projetos industriais, agropecuários e de refloresta-
mento implantados em quase todos os Estados do nordeste.
Teve destacada atuação no jornalismo e na política e atual-
mente presta assessoria empresarial a grupos económicos de
São Paulo e, também, dirige um empreendimento florestal e
agroindustrial em implantação na Bahia.
Vanildo Alves de Moura, bacharel em direito. É um
destacado dirigente da SUDENE, altamente relacionado nas
altas esferas administrativas e técnicas do governo federal,
tendo inclusive, feito o curso da Escola Superior de Guerra por
designação do presidente da República General Ernesto Geisel,
Casado com Eralda Andrade Moura, tem um casal de filhos e
reside em Recife; Maria do Carmo Moura Santos, diplomada
em pedagogia (licenciatura plena) é supervisora local do setor
"B" do DERE de Limoeiro. Casada com o comerciante Edvaldo
Leal Santos e tem seis filhos. Colabora com o esposo nas ati-
54
vidades do Rotary Club de Surubim e na direção do Clube So-
cial "Cara e Coroa" daquela cidade; Valdomiro Alves de
Moura, tem o curso médio e prepara-se para ingressar na Uni-
versidade. É funcionário da SUDENE e participa das gestões
de administração da Associação dos Servidores da SUDENE.
Casado com Mirian Barreto de Moura e tem quatro filhos.
VALDEMAR LIMA — ANTIGA "TOPADA"
O primeiro nome dessa localidade foi "Topada", pelo
motivo de dois agrimensores enviados pelo governo, ao que
todo indica vindo demarcar sesmarias, ou áreas devolutas,
encontrarem-se nesse pequeno rio que desemboca no rio Capi.
baribe, e que até hoje permanece com o nome de "Riacho de
Topada". Outros dizem que é devido à posição da desembo-
cadura do riacho Topada no rio Capibaribe, desembocando de
supetão e formando com este um ângulo de quase 90°. É esse
mesmo riacho que serve de limite entre os municípios de Ver-
tentes e Frei Miguelinho.
Os dois agrimensores partiram, um da nascente do rio
Capibaribe, na serra de Jacarará e o outro de Limoeiro, pró
vavelmente. Um deles, o Comandante Barros, de nacionalida-
de italiana, permaneceu no lugar, fixando residência na foz do
riacho. Fez doação de uma área de 420 braças de frente por
5/4 de léguas de fundo — cuja área, tempos depois conferida,
verificou-se ser equivalente a l km de frente por 12 km de fun-
- a Nossa Senhora da Conceição, edificando aí uma Capela e
o cemitério. Até hoje é festejado o dia 08 de dezembro, em
homenagem à Santa padroeira.
A terra que foi doada à Santa foi depois ocupada por
dezenas de pequenos agricultores, sendo posteriormente ven-
dida pelo Bispo de Nazaré aos mesmos, restando hoje uma limi-
tada área onde está localizado o povoado. A transação foi
realizada pelo Pé. José Távora, representando D. Ricardo Vi-
lela, Bispo da Diocese de Nazaré. Foi patrono dos posseiros o
advogado Dr. Otávio Correia de Araújo, radicado em Verten-
tes, ex-deputado Federal e Estadual, ex-Presidente da Assem-
bleia Legislativa do Estado e ex-Governador interino do Esta-
do de Pernambuco.
Podemos encontrar no Livro de Registro de Imóveis de nº
11°, folhas 23 e 24, uma Escritura de Compromisso de Compra e
Venda de vários posseiros.
O primeiro comerciante da localidade foi Francisco
Alves do Nascimento, oriundo do município de Caruaru, tendo
55
constituído família e sendo um dos primeiros habitantes do
lugar. Casou com Paulina Vieira de Melo e teve entre outros
filhos Manoel Vieira de Melo. casado com Francisca Vieira
de Melo.
Manoel Vieira de Melo, também conhecido por Manoel
Alves, foi fazendeiro, agricultor e chefe político do povoado
por muito tempo. Junto a Dona Francisca teve três filhos:
Severino Alves do Nascimento, que foi o primeiro
vereador da localidade, compondo a Câmara Munici-
pal de Frei Miguelinho; fazendeiro e agricultor.
Agripina Terezinha de Jesus, casada com Luiz Ave-
lino da Silva; também comerciante no lugar e poste-
riormente próspero comerciante em Campina Grande.
Josefa de Lourdes do Nascimento, casada com José
Vitorino de Moura; professora por nove anos no po-
voado, sendo depois professora municipal e transfe-
rida para Recife.
A primeira bolandeira foi construída pelo senhor An-
tónio Costa, parente do fundador do lugar, na fazenda Pitom-
beira, às margens do rio Capibaribe. Anualmente ele com-
prava toda a produção de algodão, beneficiava e vendia em Ca-
ruaru, a 40 km ou em Limoeiro, a 100 km, transportando em
lombo de animais os fardos de 80 kg. As estradas eram pre-
cárias e esse percurso era feito num período de três dias, para
cobrir os cem quilómetros.
A bolandeira, após o falecimento do seu proprietário e
o aparecimento de modernas beneficiadoras em Caruaru, en
trou em decadência, sendo a fazenda Pitombeira hoje de cria-
ção de gado, com modernas instalações, eletrificada e perten-
cente ao senhor João Galdino.
O fundador Francisco Alves do Nascimento, Tenente
da Guarda Nacional, na mesma época do início da bolandeira
fundou uma engenhoca por nome de Engenho TOPADA, onde
eram fabricadas rapaduras e aguardente em alambiques de
barro. A variedade de cana usada era a saborosíssima cana
caiana, variedade quase extinta, cuja produção distribuia-se
com os fazendeiros e habitantes da região. Não se pagava im-
posto à Fazenda Nacional.
O primeiro vereador pela Câmara Municipal de Ver-
tentes, representando a localidade, foi o senhor Severino Ave-
lino de Barros, vulgo Biu de Isaac — filho do Sr. Isaac Ave-
56
lino de Barros, proprietário da fazenda Barro Vermelho, hoje
encravada no município de Vertentes.
A primeira professora foi dona Mocinha, filha de
Vertentes e tia do Coronel Braz Bezerra.
FAMÍLIAS INFLUENTES:
Manoel Soares da Silva e Maria Soares da Silva, que
fundaram a localidade de Patos, ali construindo uma capela.
Entre outros filhos do casal se sobressaiu o Sr. João Soares
da Silva, vulgo João Doutor — próspero comerciante e indus-
trial na cidade de Caruaru.
O segundo vereador do lugar foi Luis Dionísio dos San-
tos vulgo Lu Fonseca, representante na Câmara Municipal
de Frei Miguelinho.
AUTORIDADES
José Batista da Silva e Severino José de Oliveira, co-
missários no povoado e parentes do fundador
O TENENTE MORTO DE EMBOSCADA
Em fevereiro de 1926, o Tenente Cleto Campelo conse-
guiu levantar parte do exército contra o Governo daquela
época. Chegando em Jaboatão tomou o trem de passageiros,
seguindo destino ao Sertão pela linha central. No percurso
parou em Gravata, sendo aí assassinado por um militar da
polícia do Estado, de nome Machadinho. Após a morte do Co-
mandante, o Tenente Valdemar Lima assumiu o posto de che-
fia dos revoltosos e ordenou ao maquinista seguir em frente.
Nas imediações da estação Gonçalves Ferreira, entre Bezerros
e Caruaru, o trem descarrilhou por motivo duvidoso.
O Tenente Valdemar Lima, sem condução, resolveu de-
sistir do seu plano: atingir as margens do São Francisco, onde
se encontrava a Coluna Prestes, comandada pelo Capitão Luís
Carlos Prestes, Cavaleiro da Esperança, até 1928, quando lan-
çou um manifesto à Nação, renunciando à chefia dos revolu-
cionários e se transformando num líder comunista.
Valdemar Lima rumou sem destino para o Norte. A
essa altura, todas as autoridades constituídas haviam se mo-
bilizado para conter os revoltosos. Coube ao Sargento José
Joaquim, vindo de Limoeiro pelas margens do rio Capibaribe
e sendo informado que os revoltosos iriam atravessar o rio na
57
fazenda Pitombeira, bem próximo ao povoado de topada,
estrategicamente assassinar o Tenente Valdemar Lima.
Preparou uma emboscada, escondendo-se com seus co-
mandados atrás de umas pedras, ficando seguramente prote-
gido. O oficial revoltoso vinha montado a cavalo, guiado pelo
senhor Amaro Jerônimo, pequeno proprietário na região, que
na noite anterior havia hospedado a tropa em sua casa.
A força do governo, em número de dezesseis, rompeu
fogo contra os revoltosos (trinta) que não fizeram nenhuma
vítima e sequer viram seus inimigos. Valdemar Lima e dois
soldados morreram no mesmo instante, ficando ferido mais
um soldado revoltoso e o senhor Amaro Jerônimo. O resto da
tropa debandou na hora, e não mais se organizou. Os três
cadáveres foram postos na calçada da capela do povoado To-
pada. O Sr. Amaro Jerônimo, depois de provada sua inocên-
cia, foi encaminhado para tratamento de saúde em
Vertentes e ficou bom. O soldado ferido foi fuzilado, e
sepultaram todos os cadáveres no cemitério de Vertentes.
Após algumas horas, chegou também ao lugar o tenente
Zumba, acompanhado de trinta e dois soldados, encontrando o
Sargento José Joaquim e sua tropa na casa do Sr. Manoel
Alves.
Os dois militares se desentenderam no momento, quase
havendo graves consequências, pelo seguinte motivo: O te-
nente morto trazia uma bolsa contendo muito dinheiro — era
o que diziam naquele tempo. No entanto, quando o sargento
apresentou a importância para contar havia apenas trinta e
dois contos de réis, quantia que Zumba acreditava ser mais.
Porém José Joaquim perguntou por que ele. com trinta
e dois soldados e tão pertinho, em Vertentes, não chegou antes
para matar os revoltosos e apanhar a bolsa em primeiro lugar.
"A importância é esta, que lhe entrego devido às minhas con-
dições de subalterno". O tenente guardou a bolsa e ainda exi-
giu o revólver de Valdemar Lima, que o sargento pretendia
guardar pelo resto da vida.
Um fenômeno importante aconteceu naquele dia: a po-
pulação de Topada saiu em polvorosa para se embrenhar nos
matos, apavorada com a notícia de que as tropas do Governo
iriam exterminar com todos dali.
Até 1930 os mortos eram considerados "fora da lei"
mas após esse tempo tornaram-se heróis. Daí mudaram o nome
de Topada para Valdemar Lima, em homenagem àquele te-
nente que tombou às margens do rio Capibaribe, dando sua
vida por um Brasil melhor. Era pernambucano do Recife.
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Declarantes — Manoel Alves do Nascimento e
Severino Alves do Nascimento.
ALGODÃO DO MANSO
A origem do nome deve-se ao fato de que inicialmente,
seus fundadores plantaram no local uma lavoura ou roçado de
algodão, às margens de um riacho chamado riacho do Manso,
denominando-se assim naturalmente o lugar de Algodão do
Manso.
Esse povoado foi fundado pelo Capitão da Guarda Nacional
António Cabral de Arruda — oriundo do senhor Manoel
Baié, residente às margens do rio Capibaribe. Em 1890, o
Capitão Cabral deixou a sede da fazenda e construiu sua
residência próximo ao riacho, por ser mais fértil Seus amigos,
seguindo seu exemplo, construíram aí suas casas.
FILHOS DO FUNDADOR:
João Cabral de Arruda — casado com Dona Luisa Baié,
sua parente;
Manoel Cabral de Arruda — casado com Antônia, des-
cendente da família Moura:
José Cabral de Arruda — casado com Maria, também des-
cendente da família Moura. Dessa família existe
Conrado Cabral de Arruda, filho de Manuel Ca-
bral de Arruda, casado com Raimunda — des-
cendente das famílias Moura e Cabral.
O restante da família emigrou para o Estado de
Mato Grosso.
Conrado Cabral de Arruda — viúvo, não possui filhos.
O senhor Manoel Vitor Chaves de Araújo, vindo do
município de Bom Jardim, estabeleceu-se na localidade como
comerciante de estivas e construiu a primeira capela em 1931.
Tempos depois emigrou para o município de Caruaru.
A capela desmoronou e foi reconstruída em 1933 por
Henrique José de Souza e demais pessoas, contando com a
orientacão do Padre Lima, de Surubim.
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A padroeira é Santa Teresinha, que recebe todas as ho-
menagens .
Chegou ao povoado o senhor Manoel Francisco da Silva,
que fez negócios com diversas propriedades, formando a Fa-
zenda União. Veio do município de Surubim e tornou-se co-
nhecido como Néu Chico. Casado com Dona Guilhermina, teve
um filho, José Francisco da Silva — que apesar da fazenda
estar em decadência, continua como agricultor.
FAMÍLIAS INFLUENTES:
João César da Silva — vindo de Surubim, casado com
Dona Maria César da Penha, tendo como filhe
Alberes César da Silva, formado em Engenharia,
emigrado para o Sul do país.
1°. comerciante — António Cabral de Arruda e seu filho
João Cabral de Arruda;
1°. padre a celebrar missa — Padre António Lima;
Ia. bolandeira -- pertenceu ao Capitão António Cabral.
Construída em 1890, funcionou até 1912, quando
foi comprada pelo Tenente Galdino. Em 1915
vendeu, tendo reformado para caldeira. Em 1932
foi extinta.
A produção de algodão, após ser comprada, sofria o pro-
cesso de descaroçamento e era vendida em fardos de 80 kg. O
transporte era feito em lombos de burros e o comprador era
o Dr. Pinheiro, de Limoeiro.
O célebre bandoleiro António Silvino visitou o lugar,
por mais ou menos quatro vezes, entre 1907 a 1914. Hospe-
dava-se na Fazenda Manso, pertencente ao Dr. Joaquim
Guerra acompanhado de no máximo seis bandoleiros.
1°. sub-delegado — Capitão António Cabral, e também
Conselheiro;
2°. sub-delegado -- Capitão Firmino Correia Queiroz;
3°. sub-delegado — Manoel Deodato, morador no sítio
Brinco:
60
4°. sub-delegado - - Capitão Severino Almeida, que per
maneceu por mais de dez anos. Constituiu famí
lia e mudou-se para Santa Maria do Cambucá;
António Vítor Chaves de Araújo, irmão de Manoel
Vítor Victor -- residiu no povoado, também foi negociante;
DECLARANTE:
José Maria de França, morador do povoado e pró-
prietário do sítio Lagoa do Pega-Pé. Nasceu em 1895. Des-
cendente de portugueses, aqui chegando construiu casa e fa-
mília — 15 filhos. Sua esposa chama-se Adélia Maria da Con-
ceição .
Todos os fundadores de Algodão do Manso, são
oriundos de Capivara.
A fazenda Manso, uma das maiores do município, fun-
dada pelo Dr. Joaquim Guerra, foi vendida em 1916 ao Dr.
José Gayão e tempos depois passou para o Dr. Paulo Guerra,
pertencendo até hoje à mesma família,
Chã Grande — Chã do Carmo
62
A primeira bolandeira pertencia ao Tenente da Guarda
nacional -- Manoel Pereira da Silva Braz, que comprava a
produção da região, descaroçava e enviava a lã para Limoeiro
em fardos de 80 kg, em lombo de burros.
Inicialmente, a bolandeira era movida por intermédio
de bois e posteriormente a vapor. Quando surgiu a beneficia-
dora moderna em Surubim, a bolandeira entrou em decadên-
cia, extinguindo.se no ano de 1938.
O primeiro comerciante — mestre Zumba, que estabe-
leceu-se com uma venda de estivas;
A primeira padaria pertenceu ao senhor Severino
Braz de Souza
O primeiro proprietário de caminhão — José Leitão
Filho, vulgo Duda Leitão;
O primeiro proprietário de automóvel — José Braz da
Paixão.
Em 1955, chegou no povoado o senhor José Marques,
vindo de Santa Maria do Cambucá, estabelecendo-se com uma
farmácia. Infelizmente faleceu, sendo extinto aquele estabele-
cimento que tanto serviu aos habitantes.
FAMÍLIAS TRADICIONAIS:
Manoel Pereira de Lucena — casado com Isabel Pereira
de Lucena;
Manoel Barbosa de Lucena — casado com Maria Fran-
cisca de Jesus, vindos de João Alfredo, antigo
Boa Vista;
José Agostinho Maciel — casado com Maria Maciel;
João Agostinho Maciel — casado com Joana Maria da Con-
ceição, vindos de Bom Jardim;
Manoel Pereira da Silva Braz — casado com Francisca
Maria da Conceição. Tiveram os seguintes filhos:
Manoel Félix Pereira da Silva — casado com Vicên-
cia Isabel das Mercês;
63
Francisco Braz da Silva — casado com Belarmina
Francisca de Jesus;
Braz Pereira de Souza — casado com Francisca Ma-
ria da Conceição;
Firmino Braz da Silva - - casado com Maria Fran-
cisca de Jesus;
João Pedro Pereira da Silva — casado com Joaquina
Francisca das Mercês.
— José Pereira da Silva Braz — casado com Amara Josefa
da Conceição, tiveram os seguintes filhos:
Joaquim Braz da Silva — casado com Olímpia Fran-
cisca de Jesus;
Anacleto Braz da Silva — casado com Maria Ferreira
da Silva;
Maria Francisca de Jesus — casada com João Adelino
Pereira de Lucena;
Josefa Francisca de Jesus — casada com Braz Pereira
de Lucena;
Rita Francisca de Jesus — solteira.
O primeiro vereador -- João Braz de Lucena, vulgo
João Pimpa;
O segundo vereador — Braz Pereira de Sousa Filho.
-Graciete Alves de Almeida Calado — universitária no Rio
de Janeiro, filha de Manoel Braz de Souza e Josefa Cabral
de Souza;
-Marcos José de Aguiar — universitário no Rio de Janeiro,
e Michel António de Aguiar -- pré-vestibulando também
no Rio de Janeiro; filhos de Miguel António de Aguiar e
Justina Braz da Silva;
— Everaldo Braz de Souza — filho de Braz Pereira de Souza
Filho e Judite Costa de Lucena, cursando o 2°. Grau em
Frei Miguelinho;
64
Elizabete Lucena de Souza e Eliane Lucena de Souza —
filhas de Higino Braz de Souza Irmão e Laura Maria de
Lucena Souza — cursando o 1°. Grau em Frei Miguelinho;
Ivone Agostinho da Silva — filha de Abdias Agostinho da
Silva e Iraci Fonseca da Silva, cursando o 1°. Grau em
Frei Miguelinho;
Eugenia Deodato de Lucena -- filha de Pedro Deodato de
Lucena e Maria Deodato de Lucena — curso superior, Di-
retora de um educandário em Caruaru;
66
A área onde se encontra instalado o povoado foi com-
prada pelo fundador — João Leitão Filho, a Francisco André
da Silva e João Ferreira de Moura, doando em seguida à Santa
Nossa Senhora das Dores -- padroeira de lugar cuja festa
realiza-se todo dia 1°. de fevereiro.
A 1ª missa foi celebrada na casa de Francisco Leitão,
no dia 10 de fevereiro de 1949, pelo Padre António Barbosa. O
fundador nesse dia, manifestou o desejo de construir a capela,
expondo suas ideias ao Padre Barbosa que respondeu-lhe nega-
tivamente, achando que prejudicaria a capela de Chã do Carmo.
No entanto, após sua transferência para outra paróquia, chegou
Padre Renato Correia Guedes que aprovou a ideia e demarcou
o local da capela. E assim, a primeira missa celebrada na capela
foi no dia 1° de fevereiro de 1951, por Padre Renato. O
mesmo permaneceu dando assistência espiritual por trinta
longos anos, sendo muito estimado por toda a população do
povoado. Faleceu no dia 06 de julho de 1978, deixando uma
lacuna na nossa comunidade.
João Leitão Filho organizou ainda, uma feira que teve
a duração de apenas três anos, extinguindo.se em 1952 devido
à seca.
O primeiro comerciante foi o senhor Francisco Leitão
Alves, irmão do fundador.
A primeira professora foi Dona Delfina, lecionando
pelo município.
FAMÍLIAS ILUSTRES:
Manoel Ferreira de Moura, casado com Maria Seve-
rina de Jesus, pais da primeira professora filha da localidade
- Maria Severina de Moura, formada em Frei Miguelinho,
em 1977.
Filhos do fundador que se destacaram no ramo do co-
mércio:
Odilon Leitão Alves, casado com Efigênia Cecília Alves;
Alves;
Albertino Leitão Alves, casado com Maria José Alves;
Maria Tertulina Alves, casada com Abílio Leitão Alves,
ex-vereador do município e pai de Lourinaldo Leitão Alves,
candidato não eleito a vereador.
Estudantes cursando 1°. e 2°. Graus, na Escola São José,
de Frei Miguelinho:
Maria de Fátima de Lucena, filha de Arlindo Cas-
simiro de Lucena e Enedina Pinheiro de Lucena;
67
Ivonete Josefa Alves e Ivaldete Josefa Alves, filhas de
Abdias Leitão Alves e Josefa Maria Alves;
Severino Cassimiro de. Lucena, filho de José Cassimiro
Sobrinho e Edite Pinheiro de Lucena;
Sueli Iracema de Lucena, filha de Inocêncio Ferreira
de Moura e Iracema Francisca de Lucena.
Esses, portanto, são os primeiros ginasianos do povoado.
A população vive de agricultura e pequeno criatório,
além do comércio de cereais.
CAPIVARA
O nome teve origem devido à existência desse animal
às margens do rio Capibaribe, encontrado com muita frequên-
cia pelos caçadores da época, que assim o denominaram:
CAPIVARA,
O senhor Manoel Ferreira da Silva, vindo de São José
dos Bezerros, conhecido também por Manoel Baé, em 1825
construiu na localidade três casas e aí fixou residência.
Filhos do fundador Manoel Baé:
Serafim Ferreira da Silva, casado com Ana Maria Con-
ceição;
João Ferreira da Silva, casado com Luiza Maria Con-
ceição;
António Cabral de Arruda, casado com Josefa Maria Con-
ceição;
Joaquim Ferreira da Silva, casado com Antônia Maria
Conceição;
Amaro Ferreira de Arruda, casado com Maria Prancisca
Conceição;
Francisco Ferreira da Silva, casado com Josefa Ferreira
Souza;
José Ferreira da Silva.
Manoel Baé doou uma área de terra à Santa — Nossa
Senhora da Conceição, construindo aí sua primeira Capela,
em 1833.
68
A festa tradicional do lugar, portanto, é no dia 08 de
dezembro. A capela foi reformada em 1875 por Nito Joaquim
Gomes de Souza; e em 1951 pelo povo em geral e sob a orien-
tação do Padre Jonas Menezes.
Um dos primeiros padres a celebrar na capela foi o Pa-
dre França. Esse religioso morou durante muitos anos em
Santa Maria do Cambucá, e celebrava nas capelas de toda a re-
gião, durante longo tempo.
Outro padre que prestou assistência ao local, foi o pa-
dre Tejo.
Contamos também com a presença do padre António
Lima, de Surubim, orientador espiritual que edificou no dia
14 de dezembro de 1933 o primeiro cruzeiro do lugar, erigido
a monte, em cima de uma pedra, dominando o panorama do
povoado. Tivemos ainda a assistência do Padre Rocha, de Ta-
quaritinga.
Dos filhos do fundador, um dos que conseguiram
pror-se, como fazendeiro, criador de gado e agricultor foi
Joaquim Ferreira da Silva. Após a sua morte, a fazenda entrou
em decadência, subdividiu-se, e seus filhos se transformaram
em humildes agricultores, permanecendo ainda na região.
Outro filho que se sobressaiu foi Francisco Ferreira da
Silva, dando origem posteriormente à família Almeida. Uma
sua filha de nome Josefa (dona Senhorinha), casou com Ma-
noel Almeida, nascendo entre outros:
José Ferreira de Almeida (Dedé de Almeida), morto em
corrida de mourão ainda jovem;
Miguel de Almeida
Sebastião de Almeida
Libânio de Almeida
Severina Freire de Almeida, casada com o Sr. Aureliano
Ferreira de Almeida. Ela foi ferida pelos cangaceiros do
Capitão António Silvino no dia 12/06/1912, em Santa
Maria do Cambucá;
Eulália de Almeida, casada com o Sr. Pedro de Moura
Pororoca;
Josefa Ferreira de Almeida, casada com o Sr. Cassiano
Valentim de Lima;
69
Maria Emília de Almeida, casada com o Sr. António José
de Lima;
Severino Ferreira de Almeida, casado com Dona Teodora
Bezerra, já citada na relação das famílias que povoaram
Frei Miguelinho.
Entre dezenas de netas de Dona Senhorinha, podemos
citar com destaque Dona Izabel Ferreira de Almeida, prima
Manoel Cabral de Arruda, casado com Antônia Josefa
Conceição;
José Cabral de Arruda, casado com Maria Josefa da Con-
ceição;
e esposa do Sr. Péricles de Almeida, filha de Dona Severina
Freire de Almeida, atingida pelas balas dos cangaceiros.
Atrações do povoado:
—Festas na igreja, durante o mês de maio.
—Festa da Padroeira Nossa Senhora da Conceição.
— Festa de São João,
---Festa de São Pedro.
— Festa de Santo António.
Foi declarante do histórico do povoado acima, João
Tomé de Arruda, casado com Libertina Maria da Conceição,
nascido em 1899 na localidade.
71
CAPÍTULO IV
OS PRIMEIROS POVOADORES
Contam que o criador de gado Tomé José de Moura, re-
sidente na margem direita do rio Capibaribe, no município de
Bezerros (início do século XIX), sentiu falta de alguns ani-
mais de sua propriedade. Reclamando a seus empregados, o
escravo Mateus disse-lhe que tinha quase certeza que as mes-
mas estavam desaparecendo para o lado norte do rio, região
desabitada e de difícil acesso, onde havia onças e outros ani-
mais ferozes.
O fazendeiro levou em conta as informações do seu es-
cravo e, munido de ferramentas e armas, seguiu para a região
citada, indo encontrar uma fonte natural de água e vários ca-
dáveres de animais que haviam sido devorados pelas onças.
Impressionado com a abundância da água, resolveu construir -
uma fazenda no local. Com habilidade, armou uma tocaia e
matou a tiros todos os gatos selvagens que ali apareceram.
Ao mesmo tempo foi abrindo uma clareira, onde fundou
uma fazenda e pôs-lhe o nome de Olho D'água da Onça, em
alusão às onças que povoavam o lugar para onde, poste-
riormente, veio residir com seus irmãos António Francisco de
Moura, João de Moura Cabral e Manoel José de Moura.
Devido à falta de documentos comprobatórios, não te-
mos certeza se as terras eram devolutas ou se pertenciam ao
terreno que foi doado a D. Maria Ferraz de Brito, dona de
uma sesmaria com uma vasta área em Taquaritinga. O que
conhecemos é que tempos depois os habitantes da região foram
definitivamente legalizando as propriedades.
Depois que estavam localizados, Tomé de Moura e seus
irmãos, foram aparecendo outros povoadores, entre eles José
Estanderlau, que com o consentimento de Tomé de Moura teve
a primazia de construir as primeiras casas da localidade e
73
abrir o primeiro estabelecimento comercial. Resolvendo reti-
rar-se para outras paragens, vendeu suas casas e o estabeleci-
mento comercial ao Capitão Manoel Gomes de Oliveira (Ma-
rinheiro) que, tempos depois, deixou como herança para o seu
filho Manoel Alexandre de Oliveira. O Arruado tomou o
nome de Olho D'água da Onça, em referência à fonte que
deu início ao povoamento.
O progresso da localidade foi muito lento e só em 1883
Olho D'água da Onça era povoado, pertencendo ao
município de Taquantinga. Naquela época, o vigário chamava-
se Padre Renovato de Assis Pereira Tejo, vindo do Estado da
Paraíba, conhecido em toda a freguesia como Padre Tejo, que,
além de religioso era o chefe político da região, o qual nomeou
como primeiro professor interino, José de Moura que voltava
a sua terra como cabo reformado. Ele agora seria o responsável
pela alfabetização dos moradores do povoado.
A PRIMEIRA MISSA
A primeira missa da localidade foi celebrada pelo Pa-
dre Tejo, no Natal de 1883, numa capela improvisada na casa
de Maria Fonseca, onde hoje se encontra o cemitério velho.
Esta moça uniu-se em matrimónio com um membro da família
Moura.
Em 1899, foi construída a capela pelos colonizadores,
tendo como padroeiro o Glorioso S. José e como primeiro vi-
gário o padre Tejo. Podemos deduzir que os Mouras não eram
muito religiosos, pois se o fossem não haveriam passado de-
zenas de anos sem que doassem uma área de terra para se
construir uma capela para o santo. Segundo diziam os seus
descendentes mais chegados, o Senhor Tomé de Moura du-
rante sua longa existência, só se preocupava com a criação de
gado. Gostava de lugares desertos, não gostava de política e
não incentivava o progresso da terra. Daí os motivos de haver
passado tanto tempo sem os habitantes edificarem uma cape-
linha, tão necessária para a população.
A igreja localizada na sede do município de Frei Mi-
guelinho é atualmente a comprovação de que os nossos con-
terrâneos herdaram do primeiro habitante do lugar a indefe-
rença para a religião católica. A igreja é muito pequena e se
apresenta como uma capelinha de povoado decadente. As pa-
redes manchadas denunciam o desprezo que há muito vem re-
cebendo. Os bancos e cadeiras de inferior qualidade e ainda
74
sem conservação. Até as imagens parecem tristes e desassis-
tidas, diferente da capela de Chã do Carmo, povoado do mesmo
município, que tem aspecto de matriz bem cuidada. Somente
agora no ano de 1980, João Morotó e Manoel Pereira doaram
uma área onde está sendo construída uma igreja que, como
demonstra o projeto e construção já em andamento, é um tem-
plo moderno de acordo com o progresso atual.
O primeiro professor diplomado foi o Sr. João Sizino
que lecionou por muitos anos, até quando foi substituído pela
professora Maria Antônia. Infelizmente não dispomos de da-
dos biográficos para fazer referência a esses dois educadores
que por aqui passaram, semeando a cultura e o saber em nossa
terra.
Até 1915, Olho D'Água da Onça pertenceu ao municí-
pio de Taquaritinga, com o povoado situado no Distrito de Ver-
tentes.
O PRIMEIRO TABELIÃO E AS LUTAS PELA SEDE DO
MUNICÍPIO
A 16 de novembro de 1928, por lei municipal, foi criado
o 1°. Distrito de Olho D'Água da Onça e nomeado oficial de
Registro Civil, com as funções de Tabelião, João Alexandre
de Oliveira, pelo Dr. Álvaro Simões Barbosa, Juiz de Direito
da Comarca de Taquaritinga do Norte. A 03 de março de 1939,
o Distrito de Olho D'Água da Onça passou a chamar.se Frei
Miguelinho, em homenagem ao frade revolucionário. Adiante
iremos dar a biografia do padre.
Vale salientar que Olho D'Água da Onça — Frei Mi-
guelinho, não tomou parte ativa nas lutas políticas entre Ver-
tentes e Taquaritinga.
Conta a tradição que, sendo o Dr. Maciel Pinheiro
nomeado Juiz de Direito da Comarca de Taquaritinga, insta-
lou a sede da Comarca no povoado de Vertentes, motivado
pela dificuldade de transporte para a cidade serrana, haja
visto naquela época não existir estrada. Por força da lei Pro-
vincial n°. 1260, de 26 de maio de 1877, foi Vertentes tornada
sede da Comarca de Taquaritinga. Instalada a sede em Ver-
tentes, foi esta elevada a Vila, pela lei Provincial n°. 1517, de
04 de fevereiro de 1879.
A rivalidade entre taquaritinguenses e vertentenses
pela primazia da sede do município e da Comarca, começou
em 1879 e prolongou-se até 1945, quando o Estado Novo extin-
guiu os termos.
75
TORNOU-SE MUNICÍPIO
Quase todas as informações acima foram baseadas em
histórias que passaram de pais para filhos e destes para os
netos e que, pelos fatos, achamos certas e estamos registran-
do, enquanto ainda podemos ouvir algumas pessoas de idade
avançada, que não esqueceram as palestras dos seus avós.
A televisão não deixa mais se ouvir histórias do pas-
sado, fora dos arquivos já anotados.
Em 1963, após reivindicações e debates, o deputado
António de Arruda Farias conseguiu a aprovação do seu pro-
jeto de Lei, subscrito pelo então Governador do Estado, Dr.
Miguel Arraes de Alencar, no dia 20 de dezembro, elevando-se
à categoria de município pela Lei n°. 4977. Foi realizada a
instalação no dia 10 de agosto de 1964.
PRIMEIRO PREFEITO
Depois de emancipado, teve como seu primeiro Prefeito
nomeado (interventor) o 1°. Tenente do Exército, Geraldo
Soares da Silva, empossado no dia 04 de agosto de 1964.
No dia 20 de março de 1965, às 14:00 horas, tomou posse
como Prefeito o Dr. António Heráclio do Rego, nomeado por
ato do Exmo. Sr. Governador Paulo Pessoa Guerra. Político
influente na região, fazendeiro e filho do Capitão Jerônimo
Heráclio do Rego, um dos maiores valores do norte de Per-
nambuco .
Com as eleições de 1964, teve o nosso município a sua
primeira legislatura, através do voto livre. Foi eleito para o
cargo de Prefeito o Sr. Naércio Correia Gayão, que adminis-
trou o município de 16 de maio de 1965 a 30 de janeiro de 1970.
A PRIMEIRA CÂMARA
A primeira câmara constituiu-se dos seguintes verea-
dores:
Crispim Hipólito de Medeiros
António Manoel de Moraes
Domingos Gonçalves de Lima
Severino Cardoso de Arruda
José Pedro de Moura Filho
76
"ANTÓNIO ARRUDA DE FARIAS"
80
11— Aquisição de Veículos:
12— Perfuração de cinco poços artesianos: l em
Placas, l em Algodão do Manso, l em Lagoa
de João Carlos e 2 em Frei Miguelinho;
6 — Grupos Escolares:
João Bezerra da Silva — Sítio Manduri;
Manoel Soares da Silva — Sítio Patos;
7 — Eletrificação: Urbana — duas extensões:
Bica e Fazenda Velha;
Rural — Povoados: Valdemar Lima e Lagoa
de João Carlos;
8 — Calçamentos: Travessa Cleto Campelo
Travessa José Estanislau;
9 — Bueira sobre o riacho Salitre;
10 — Instalação de um posto dos Correios e Telé-
grafos;
11 — Televisores públicos para a sede e os po
voados;
14— Arborização das principais ruas da cidade;
15— Fundação da Associação Educacional de Frei
Miguelinho, mantenedora da Escola S. José,
Ensino de 1°. e 2°. Graus.
Na terceira legislatura foi eleito para o cargo de Prefeito
o Sr. Gaudêncio José Assunção, que administrou o município
durante o período de 1973 a 1976. O Vice-Prefeito foi o Sr.
José Carlos Morotó, sendo Juiz da Comarca o Dr. Senyr Jatahy
de Sampayo e Promotor o Dr. Enéas Chaves Filho.
Concorreram à eleição os seguintes candidatos:
Gaudêncio José Assunção — Prefeito
José Carlos Morotó — Vice-Prefeito
Odon David de Souza — Prefeito
Delmiro Gonçalves de Lima — Vice-Prefeito
81
O novo Prefeito tomou posse em 31 de janeiro de 1973.
A Câmara Municipal constituiu-se dos seguintes vereadores:
Anastácio Severino da Silva (MDB)
Nelson Alves de Souza (MDB)
Abdias Morais da Fonseca
Severino Cardoso da Silva Filho
Severino Bezerra Batista
Honório Sabino de Almeida
Manoel de Souza Filho
As principais realizações do novo Prefeito, foram:
82
Escola São José — Ensino de !<?. e 2>. graus, inaugurada no dia 14 de dezembro de
1974 — Frei Miguelinho — Administração Gaudêncio José Assunção
(Prefeito),
José de Moura Sobrinho -- agricultor;
Saturnino José da Costa — agricultor de Algodão do
Manso;
Manoel de Souza Filho
Luís Amaro de Assunção -- criador e parente de
Zuza Pinheiro;
Luis Dionísio dos Santos;
Braz Pereira de Souza Filho;
Severino Bezerra Batista;
Severino Cardoso da Silva Filho;
José António da Silva — agricultor.
As principais realizações do novo Prefeito, foram:
4— Maternidade;
5— Aquisição de veículos;
6— Projeto de Construção de Grupos Escolares:
no sítio Maracajá, l no sítio Pintos, estes já
com plantas e terrenos adquiridos. Mais seis
em outros sítios;
4 — Calçamentos nas ruas: Pedro II —
Santo Antônio — Av. Municipal.
2a. CONCLUSÃO
Concluintes:
84
3a. CONCLUSÃO
Dia, mês e ano: 18 de dezembro de 1976.
Paraninfa: Dra. Maria José Moura. Patrono:
Ivanildo Pereira de Oliveira, Madrinha: Maria
Medeiros Morotó.
Concluintes:
Betânia Maria de Melo
Eraci Medeiros de Assunção
Eunice Pedro Silva
Ivonete Josefa da Silva
João Alexandre de Oliveira Neto
José Alberes da Mata
José Evandro Gonçalves de Lima
José Patrocínio Pereira
Jeruza Maria de Moura
Maria Adélia de Almeida
Maria da Conceição Ferreira de Macedo
Maria José Pereira de Melo (Oradora)
Maria José dos Santos Lima
4a. CONCLUSÃO
Dia, mês e ano: 17 de dezembro de 1977.
Paraninfo: Ivanildo Pereira de Oliveira.
Patrono: Gaudêncio José Assunção.
Madrinha: Laurinéia da Conceição Oliveira de Medeiros
Concluintes:
Carlos Felício da Silva
Cleonice Pereira de Moura
Edite Santos de Lima
Egilson Vitorino de Arruda
Everaldo Braz de Souza
Francisco de Assis Almeida
José Jerônimo da Silva (Orador)
Maria do Carmo Silva
Maria de Fátima de Barros
Maria Ivanise de Moura
Maria José de Espíndola
Maria de Lourdes Ferreira de Macedo
85
Michel António de Aguiar
Severino Deodato de Lucena Neto
Vilma Pessoa da Silva
Ia. FORMATURA DA ESCOLA SÃO JOSÉ
ENSINO DE 1°. E 2°. GRAUS
FREI MIGUELINHO
PERNAMBUCO
88
CAPÍTULO V
MANIFESTAÇÕES POPULARES
l — NOVENAS
Considerando a influência que recebemos dos descen-
dentes lusos que aqui se fixaram, poderemos salientar o gosto
do nosso povo pelas novenas dedicadas a diversos santos, e a
Nossa Senhora, no mês de maio, que reflête mais um diverti-
mento do que mesmo uma devoção.
Além da reza tradicional do terço, coloca-se uma ban-
deira no topo de um enorme mastro em frente à casa, enfeita-
se com bandeirinhas coloridas e improvisa-se um oratório,
onde se colocam enfeites de papel, velas e muitas flores. As
flores ofertadas à Santa são guardadas, dia-a-dia, embaixo
do altar. Durante esse período o chá das flores serve para os
males do corpo, e como defumador para doenças do espírito
(mau-olhado, encosto, etc.). A cura depende sempre da fé.
Os moradores dos arredores comparecem às novenas e
trazem flores, fogos e velas Depois do terço, ficam conver-
sando sobre o inverno, lavoura e criação. Comem cocadas, ta-
piocas, rapaduras e os homens bebem pinga. As moças arris-
cam um namoro e contam estórias.
No último dia do mês de maio, quando termina o terço,
todas as flores são queimadas numa fogueira, acompanhadas
de cânticos e louvações à Santa, que lá no céu recebe a fumaça
com as mensagens dos devotos. Nessa mesma ocasião arreia-se
o mastro e guarda-se a bandeira com muito respeito, para ser
novamente hasteada no ano seguinte.
Ainda são festejados com muito entusiasmo os padroei-
ros de cada localidade. Na cidade temos a festa de São José,
em 19 de março, cujo ponto alto é a procissão com banda de
música, fogos de artifício, parque de diversões, barracas de
89
prendas e tiro ao alvo. Ainda observam-se outros jogos popu-
lares, pastoris e bares de palha de coco espalhados pela rua
principal. À noite acontece o tradicional baile, que reúne a
sociedade local.
De maneira idêntica acontece em Chã do Carmo, feste-
jando Nossa Senhora do Carmo; em Placas, Nossa Senhora
das Dores; em Valdemar Lima, Nossa Senhora da Conceição;
em Algodão do Manso, Santa Teresinha; em Lagoa de João
Carlos, Nossa Senhora da Conceição, que é também festejada
no povoado de Capivara.
2 — BANDA DE PÍFANOS
É organizada por populares da zona rural do municí-
pio, cultiva a música caipira e faz suas apresentações em fes-
tejos populares, geralmente passando pelas ruas e tocando na
frente das residências dos mais abastados da localidade, para
que os mesmos ajudem financeiramente os que formam a ban-
da. Infelizmente contamos com apenas duas bandinhas deste
tipo.
Os instrumentos que formam uma banda de pífanos,
são os seguintes: bombo, tarol, surdo, pratos, sineta e FLAU-
TAS.
3 — MAMULENGO
É um folguedo popular que ainda existe no município,
havendo um esquecimento total das autoridades no sentido
de ajudar e preservar este tipo de cultura popular. Apesar
disso, com dificuldades, alguns ainda se apresentam em ter-
reiros, contando a estória tradicional de Simão e Quitéria, onde
os seus donos arrecadam algum dinheiro para o seu sustento.
O mamulengo é muito apreciado na zona rural.
4 — PASTORIL
Também em decadência, face ao despreparo das auto-
ridades no sentido de incentivar a prática deste grupo folcló-
rico.
É constituído de um grupo de pastoras e um palhaço,
que cantando e dançando conseguem levantar uma forte
disputa entre dois cordões: vermelho e azul.
O cordão vencedor é aquele que arrecadar mais di-
nheiro .
90
Geralmente aparece no mês de dezembro. Suas canti-
gas são próprias.
As pastoras iniciam assim:
"Boa noite, meus senhores todos
Boa noite, senhoras também
Somos pastoras, somos pequeninas
Alegremente vamos a Belém. . . "
5 - - VIOLEIROS
Muito atuantes na zona rural. Marcam a cantoria na
casa de um líder da localidade e este se encarrega da propa-
ganda
Na noite da apresentação, o pessoal bebe pinga, paga
para que sua amada seja cantada ou ainda outro assunto que
esteja interessando no momento. Os violeiros afinam as violas
e "boca no mundo".
Para assistir à cantoria basta trazer alguns trocados e
ter coragem para pedir versos.
São tratados assuntos da roça e também novidades da
cidade. Os violeiros aproveitam para mostrar a sua sabedo-
ria, cantando os feitos dos grandes centros, pois assim eles se
sentem superiores aos assistentes. Cantam também os amores
acatados pelos pais e os amores proibidos, mesclando os versos
de dificuldades e heroísmo.
6 — FESTA JUNINA
É realizada no mês de junho, com forró, quadrilha, a
tradicional fogueira, bandeirinhas e fogos de artifícios.
Geralmente é realizada em frente às residências, em
especial na zona rural.
A dona da casa se encarrega de preparar as comidas
típicas, que constam de pamonha, canjica, pé-de-moleque, bolo
de milho, munguzá, etc.
Encarrega-Se também de enfeitar o terreiro, enquanto
os homens preparam a fogueira. A bebida preferida é sempre
a pinga.
É indispensável a presença do sanfoneiro, que é a fi-
gura mais importante da festa. O povo sempre está feliz nesta
época, porque ela representa o início da colheita, quando todo
o trabalho duro, realizado durante os primeiros meses do ano,
é recompensado.
91
Antes de começar o forró, é realizado o casamento ma-
tuto, onde se fazem gozações. A parte mais divertida é quan-
do se anunciam os bens levados pelo noivo e pela noiva. De-
pois de realizado o casamento, o dono da casa inicia o forró
e os que não dançam correm para a beira da fogueira a fim
de assarem milho e fazerem adivinhações. Na cidade, os fes-
tejos são realizados de maneira semelhante, mas no lugar de
forró realizam bailes e coroam a rainha do milho.
7 _ VAQUEJADA
Festa de gado, realizada na sede do município. É orga-
nizada por criadores de gado.
Os vaqueiros preparam seus cavalos, para na pista de
corrida mostrarem as qualidades das suas montarias. Os ven-
cedores da disputa recebem prémios que são angariados das
autoridades e dos próprios criadores.
É uma diversão muito rude e perigosa, mas muito po-
pular entre os criadores de gado.
O povo assiste entusiasmado e vibra com o sucesso do
seu preferido. Os pares vencedores recebem prémio que cons-
tam de garrotes, taças e medalhas.
Podemos observar que, em geral, o nosso município não
dispõe de uma organização que preserve estas manifestações
populares, e por isso algumas tendem a desaparecer por falta
de organização e incentivo. Mas mesmo assim elas ainda per-
manecem, porque há uma preocupação de continuidade ou
mesmo de imitação dos velhos tempos e que sendo tradição,
muitos fazem força para que elas não desapareçam, embora
estes esforços sejam, muitas vezes, individuais.
Podemos considerar ainda que a sobrevivência destas
manifestações populares é decorrente da falta de outros meios
de diversão, que a comunidade não dispõe para aproveitar as
folgas semanais e os feriados.
GONÇALO E O ECLIPSE
No dia primeiro de outubro do ano de 1940, das 8:30
às 8:40 horas, o Nordeste escureceu. Houve naquele dia um
eclipse do sol, que já vinha sendo anunciado e divulgado há
vários dias, pelas rádios e jornais de todo o Brasil. Foi um
espetáculo lindo; aquele fenómeno para as pessoas que o espe-
92
ravam e sabiam o que significava a passagem da lua nova
entre o sol e a terra. Quando a lua é nova e passa entre a terra
e o sol ocasiona o eclipse do sol, quando a lua está cheia e a
terra passa entre a lua e o sol ocorre o eclipse da lua.
Gonçalo Moura, já citado na família Moura, teve uma
mocidade muito movimentada. Como todo mundo, ele pen-
sava ser um homem rico e para alcançar o que 'desejava, já
era proprietário de uma área de terra no Maracajá, o sufi-
ciente para fundar a futura fazenda, algumas cabeças de gado,
muito dinamismo e o curso primário daquela época. Classifi-
cavam como um candidato a futuro fazendeiro e grande agri-
cultor da região.
Gonçalo Moura era um tipo atlético e muito simpático,
considerado como um bom partido para qualquer moça da sua
época casar.se. Enamorou-se de uma jovem do mesmo lugar
e quando esperava com toda confiança ser correspondido com
o mesmo calor de sua paixão, pelo seu único amor em toda
a vida, sua amada o desprezou para casar-se com outro. Foi
tão grande a sua decepção e desgosto que adoeceu mental-
mente. Passou muitos dias trancado dentro de casa, sem
falar com ninguém. Quando apareceu nas casas dos parentes
e amigos era completam ente diferente. Abandonou a sua pro-
priedade e todas as suas atividades agrícolas, perdeu o entu-
siasmo pelo futuro. Apenas se manteve usando roupas limpas,
no entanto como um dos protestos contra a traição recebida,
passou a usar o cabelo cortado a zero; de 8 em 8 dias mandava
passar a navalha na cabeça, passou também a usar chapéu de
palha de carnaúba. Andava sempre pelas estradas conversan-
do só. Visitava as pessoas mais humildes da vizinhança, ofe-
recendo.se para escrever cartas para quem não sabia ler, nem
escrever. Gostava de fazer discursos nas reuniões e festinhas
de gente muito pobre. Chamavam-lhe de doido útil e manso.
Não gostava de falar do futuro e menos do passado.
Naquele tempo, ou seja, até mais ou menos 1950, ainda
existia em todas as cidades do interior do Estado, um pequeno
cercado denominado de Quintal da Prefeitura, onde todo fei-
rante guardava os animais pagando uma taxa ao município.
Porém, naqueles locais, nos dias de feira, muito cedo do dia,
lá encontravam-se diversos garotos pobrezinhos para lavar
cavalos e dar água, ganhando alguns tostões. Gonçalo Moura,
sem necessidade e contra a vontade dos parentes, todos os
dias de feira de Olho D'água da Onça, hoje Frei Miguelinho,
dirigia-se para o Quintal para executar o mesmo trabalho que
os garotos faziam, entendendo-se bem com os mesmos. Alguns
93
amigos aproveitavam a oportunidade para lhe dar dinheiro,
além do valor do serviço prestado. Ele recebia o pagamento
sem comentários. Gonçalo tornou-se uma pessoa que servia de
brincadeiras, para os que não conseguiam entender o seu
drama. Jamais procurou outra namorada, ficou velho dizen-
do que o homem só ama uma vez.
No dia primeiro de outubro de 1940, várias pessoas reu-
niram-se para esperar o eclipse, na fazenda de nome Maracajá,
de propriedade do Sr. António Manoel de Morais, sobrinho
de Gonçalo Moura, que também se encontrava no mesmo local.
Quando o tempo começou a mudar com a aproximação do fe-
uômeno, Gonçalo foi ficando muito triste até o momento que
escureceu. Naquele instante Gonçalo deu um grito com ex-
pressão de horror dizendo, com toda força dos pulmões: é o
fim, o mundo acabou, ficando mudo a partir daquele mo-
mento. Sete minutos depois o sol apareceu e, aos poucos, to-
das as atividades foram voltando ao ritmo normal, seguidos
de comentários. Gonçalo recolheu.se dentro de sua casa no
Maracajá por muito tempo, sem falar, os vizinhos, uns acha-
vam que não podia falar e outros que ele não queria. Fizeram
muitas tentativas e não conseguiram arrancar uma só pala-
vra dele, nem sequer deu a entender se ouvia ou não os ape-
los. Sua fisionomia não demonstrava expressão de horror ou
de alegria, era como se estivesse vivendo num mundo dife-
rente. Alimentava-se quando os parentes colocavam a comida
ao alcance da sua mão. Não teve mais cuidado de barbear-se,
nem cortar o cabelo de 8 em 8 dias, como era acostumado a
fazer. Os parentes e amigos procuraram os médicos das cida-
des vizinhas, sem lograr êxito, foram aos médicos do Recife
e até de São Paulo, sem nenhum resultado, apelaram para os
padres, bispos e até Frei Damião e Gonçalo nem assoviou, re-
correram ao espiritismo de Allan Kardec até a baixa magia
e Gonçalo continuou mudo até o ano de 1946, quando faleceu
sem dar um gemido.
O AVIÃO
No mês de fevereiro do ano de 1949, os habitantes de
Frei Miguelinho. foram surpreendidos com um pequeno avião
sobrevoando a Vila. Era uma quinta-feira, infelizmente não
94
sabemos a data. A pequena nave voava tão baixo que quan-
do declinava o povo via perfeitamente os ocupantes do avião,
só não conheceram o aviador por causa do capacete e os gran-
des óculos que usava. Depois de muitas voltas e quando o povo
já esperava o avião regressar tiveram mais uma surpresa,
viram o aparelho baixar a venta em direção de uma área plan-
tada com mandioca, bem perto da rua, aterrissando sem ne-
nhum problema, apenas estragando um pouco a lavoura do Sr.
Juventino Moura, que muito admirado não reclamou nada ré-
ferente ao estrago, especialmente porque foi um fato inédito
no lugar. Depois dos solavancos o avião parou e descendo do
mesmo José Bezerra e mais dois colegas alagoanos que não
sabemos os nomes. Dentro de poucos minutos era uma ver-
dadeira multidão para ver de perto e saber o motivo que oca-
sionou a descida da nave em lugar impróprio. Era voz geral
que o avião cairá e para os que presenciaram de longe o pre-
visto era que morreram todos os ocupantes, e para o local
corriam espalhando boatos sinistros e todos muito apreensi.
vos. Para a população de Frei Miguelinho aquele dia tornou-se
histórico porque o solo da Serra da Onça foi tocado pela pri-
meira vez por um avião. O ocorrido foi motivo de comentá-
rios por muito tempo. Embora no momento ninguém se lem-
brou de anotar com detalhes o acontecido por exemplo o pre-
fixo do avião e os nomes dos colegas de José Bezerra.
Não houve pane no avião, foi apenas José Bezerra que
como filho da Terra lembrou-se de fazer mais uma façanha
para os seus conterrâneos como antes era acostumado a por
em provas a sua audácia. José Bezerra de Barros, já citado
como membro da família Bezerra, homem de génio forte e
muito destemido, cursou apenas o ginásio daquela época no
Recife, saiu de Frei Miguelinho para residir em Maceió, Ca.
pitai do Estado das Alagoas.
Lá chegando ingressou na Polícia Civil e não demorou
a se entrosar com as altas autoridades alagoanas, passando a
ser homem de confiança do Governo. Era considerado detetive
de primeira classe e como tal era designado para desvendar
os mais difíceis problemas, sempre com êxito nas tarefas que
assumia. Muitas vezes chegou a se disfarçar de trabalhador
rural, operário e até de malandro para alcançar objetivos.
Morreu em Maceió, na sua residência cercado de amigos
e admiradores.
Depois de 31 anos é que estamos registrando o fato com
falhas e muito pobre de detalhes, por falta de informações
95
que poderiam ter sido feitas nos momentos que ocorreram os
acontecimentos que forma a história de um lugar.
José Bezerra quando jovem, antes da revolução de 1930,
nunca permitiu que forasteiros desmoralizassem o povoado de
Olho D'água da Onça, Frei Miguelinho, nem a polícia ele res-
peitava, os soldados que vinham de Vertentes para os dias de
feira ou festas, tinham que policiar com muito cuidado, porque
se cometessem qualquer arbitrariedade teriam que acertar
contas com José Bezerra, as poucas vezes que alguns soldados
quiseram bancar os valentões, foram desmoralizados, chegando
a voltar para Vertentes sem os fuzis, divisas de cabos e quepes.
Quando o problema ficava difícil os Alexandres de Oliveira
entravam na briga a favor de José Bezerra e tudo que fosse
forasteiro, ou corria ou ficava preso e humilhado.
Por muito tempo, os habitantes de Frei Miguelinho
eram cognominado nos Municípios e Vilas vizinhas de as
"Onças". Esse apelido foi desaparecendo depois que Zé Be-
zerra, Júlio Alexandre e António Alexandre Sambul, Manoel
Alexandre e João ficaram mais velhos.
97
da usina José Rufino — Cabo, Guilherme do engenho Vila
Real -- Cabo, João Docas do engenho Arariba da Pedra de
Cima — Escada, João Benedito do engenho Dois Braços — Es-
cada, Dr. Luiz Alvin de Palmares e muitos outros que nego-
ciavam bois e burros com João Morotó, mantendo a mesma
tradição de honestidade recíproca
João Morotó além de cavaleriano ou boiadeiro como
era chamado, também se orgulhava de ser vaqueiro e derru-
bador de bois nas corridas de pé de mourão, foi dono do me-
lhor cavalo de vaquejada de toda a região, o cavalo chamava-
se Miron, tinha pelos caxitos. Miron não era para vender,
chegou a recusar um automóvel zero km pelo cavalo
Nos idos de 1935 a 1950, os vaqueiros que faziam vaque-
jadas em toda a região eram muitos, entre os mais famosos
podemos citar: João Morotó, de Frei Miguelinho no seu cavalo
Miron, António Alexandre Cabral, de Serra da Cachoeira no
seu cavalo Dourado (aliás Miron e Dourado disputavam o 1°.
lugar), José Francisco Macacos, de Cabaceira, Paraíba, vaqueiro
de primeira categoria quando montado em bons cavalos e dos
aboios sonoros, Apolinário Farias, de Gameleira, Rui Dias, de
Ribeirão, Raul Araújo, de Amaraji, José Vitorio, de Palmares
(este transportava cavalos até de avião para as vaquejadas
distantes), Severino Miguel, de Salgadinho (Cabeça Branca),
Severino Miguel, de Caruaru, Severino Vicente, de Pinhões, mu-
nicípio de Riacho das Almas, Zezinho Queiroz de Escada, Ge-
naro Trajano de Vitória de Santo Antão, Manoel Pereira de
Caruaru (este também gostava de prado junto Zezon Alexan,
dre de Frei Miguelinho), Cabo Lúcio, de Caruaru. Outro ca-
valo que marcou época foi Cadilac de pelos caxitos quase preto
do Senhor Daniel, poeta repentista, tendo gravado toadas
poesias em discos, foi substituído pelo Senhor Manoel de
França, dono do burro Cebola que não tinha inveja de cavalo
para correr em pé de mourão, um dos vaqueiros mais famosos
de todos os tempos, conhecido em todo Brasil como um dos
melhores improvisadores de versos bonitos em festas de va-
quejadas da fazenda Calderões — Caruaru. Eram esses os ho-
mens que faziam as festas de corrida de mourão, também cha-
madas de vaquejadas até mais ou menos 1950. Uns eram Se-
nhores de engenhos, outros fazendeiros e os que eram apenas
exímios montadores de cavalos e derrubadores de bois nas
pistas ou nas caatingas adentro como Piteta.
Muitos deles já partiram definitivamente, outros enve-
lhecidos vêem com saudades as vaquejadas de hoje, muito di-
ferentes do tempo passado. É negócio de gente, com pistas
98
sofisticadas feitas a capricho, com luminárias e serviço de som,
inscrições acima de um salário mínimo da região, prémios de
milhões e muito Whisky.
Os atuais vaqueiros são: Romildo Brandão no seu ca-
valo Sabu, substituindo João Morotó e Miron, Genildo Gonçal-
ves, de Caruaru, Herculano, de Limoeiro, António Galdino, de
Surubim, Abdias Nunes, de Fazenda Nova, Zezinho, de Ta-
caimbó, Dr. Luiz Morotó e Dr. António Medeiros Morotó, de
Frei Miguelinho, Dr. Carlos António, de Caruaru, Carlos Vi-
dal, de Bezerros, Zezinho Andrade, de Vitória de Santo Antão,
Adélio Andrade, de Vitória de Santo Antão, dono do cavalo
Urubu um dos melhores da época, animal de pelos castanhos,
Dr. Laert Pedrosa, da usina Nossa Senhora do Carmo, dono do
cavalo Latino de pelos alazão, que também marcou época nas
corridas de pé de mourão, Piteta, vaqueiro de primeira gran-
deza, atualmente morando no Estado do Rio Grande do Norte,
Dr. Joaquim Guerra, de Igarassu, Dedé Galdino e Dão Galdino
de Surubim, José Carlos Pedrosa, de Barreiros, Carlos Romero,
do engenho Jatobá da usina Catende, Dr. Romero e Dr. Mar-
celo Lacerda, de Recife, filhos do ex-secretário da agricultura,
Dr. Mário Lacerda, Odimilson Mendes de Palmares e muitos
outros até de outros Estados que vem concorrer com os va-
queiros de nossa região nas mais famosas vaquejadas.
No ano de 1976, Morotó compareceu a uma corrida de
pé de mourão na cidade de Caruaru. O Manoelzinho aboiador
notou que ele estava se lembrando do tempo de moço, apro-
veitou a oportunidade e dedicou-lhe presente a vaqueirama
com força dos pulmões o aboio Coração de Vaqueiro Morotó
chorou de saudade.
"CORAÇÃO DE VAQUEIRO"
—I—
Hoje estou velho acabado
vivendo no sofrimento
minha vida é um tormento
por me afastar do gado
to vivendo despresado fora
dos meus companheiros
não vou mais no taboleiro
perdi toda rapidez
vou dividir com vocês
meu coração de vaqueiro
99
— II -
Quem fui eu na mocidade
quem estou sendo hoje em dia
só me chega agonia
perdi toda liberdade
não tem mais velocidade
correndo no mameleiro
pegando boi vi ligeiro
já estou velho e cocundo
mas dividi com o mundo
meu coração de vaqueiro
— III -
As festas que eu já andei
as canas que eu tomava
quando eu mesmo aboiava
mostrava de ser cortês
eu tinha mais rapidez
era honesto verdadeiro
era caboclo faceiro
hoje estou um morimbundo
mas eu dividi com o mundo
meu coração de vaqueiro
— IV -
As meninas que amava
quando eu estava bebendo
parecia está roendo
que elas me atraçoava
muitas vezes me enganava
judiava com o vaqueiro
eu por ser prisioneiro
e elas por me ouvir
pra o mundo eu vou dividir
meu coração de vaqueiro
— V -
Já gostei de vaquejadas e
de pegar boi no mato
mostrava de ser pacato
100
brincar e cantar toadas
arranjar as namoradas
e brincar com meus companheiros
já me tornei cachaceiro
perdi tudo num segundo
e vou dividir com o mundo
meu coração de vaqueiro
— VI —
— VII -
101
Entre as centenas de viagens que João Morotó fez tan-
gendo burros e bois no tempo que não havia estradas asfal-
tadas, a mais famosa em distância, despesas, trabalho, sofri-
mento e tempo, foi uma que ele junto com seus trabalhadores
de viagem saiu do município de Teófilo Otoni, Estado de Mi-
nas Gerais, no dia 02 de maio de 1944 e chegando na usina
Pedroza no dia 22 de agosto do mesmo ano. Naquele tempo
a usina Pedroza pertencia ao município de Amaraji, Cortês
ainda era distrito. Eram 120 burros e 6 cavalos, 8 tangermos,
um cozinheiro responsável pelas compras de alimentação.
João Morotó e António Alexandre de Oliveira no coice da bur-
rama.
No início da viagem houve muito trabalho devido os
animais estarem descansados e não quererem sair do pasto.
Precisava de muitos vaqueiros para conduzi-los até aos lugares
estranhos distantes das fazendas onde nasceram quando então
se tornava um pouquinho mais fácil tanger a burrama pelos
caminhos desconhecidos para os burros.
A caminhada era executada da seguinte maneira: na
frente seguia um portador conhecedor da estrada, dos cami-
nhos e veredas, montado num cavalo enchocalhado, no meio
da burrama outro portador cavalgando outro cavalo também
enchocalhado. Chamavam-se aqueles trabalhadores de guias.
É difícil de acreditar que os burros depois de chegarem em
pastagens diferentes seguiam os cavalos enchocalhados como
se fossem bezerros novos atrás das vacas suas mães. Só os
muito cansados ou manhosos tentavam uma fuga. Mesmo
assim era preciso fazer esteira dos dois lados por 6 tangeri-
nos, mais ou menos em distâncias iguais, sendo 3 de cada lado
dos animais e com muito cuidado, porque quando menos se
esperava, um burro manhoso ou estropiado desgarrava mato
a dentro. Morotó não se afastava do coice da burrama e sem-
pre muito vigilante corrigindo as falhas dos portadores. Quan-
do desconfiava de alguma fuga de animais, parava em lugares
mais ou menos apropriados, num recanto de cerca ou margem
de um rio e recontava todos os bichos. Era difícil João Mo-
rotó desconfiar de alguma fuga para de fato não ter aconte-
cido. Justificava ele, é aquele ou aquela burra dos sinais tais
que compramos na fazenda tal, não está aqui, vamos procurá-la
ou procurá-lo e logo encontrava fora da burrama o animal
procurado.
Nas pousadas, todas as noites conferia os animais e de
manhã também na saída do rancho. Muitas vezes no fim do
102
dia não encontravam acomodação, era só ficar em redor dos
animais no pé de um monte, improvisarem uma barraca com
uma lona e passarem a noite revezando-se na vigilância dos
animais. Às vezes chovia para aumentar o sofrimento. Dizia
António Alexandre de Oliveira concunhado de Morotó, se eu
não morrer nesta viagem, vou pagar muitas promessas.
Nas paradas enquanto se organizava a burrama para
repouso, o cozinheiro e vaqueiro Domingos preparava o jantar
mais delicioso que você possa imaginar. Carne assada no es-
peto, farofa de farinha de mandioca, cebola, rapadura, bana-
na, bolacha e café fervido na hora sem cuar. Quando havia
tempo cozinhava-se feijão e arroz. O cozinheiro viajava mon-
tado num burro encangalhado conduzindo dois baús feito de
couro cru, munido de géneros alimentícios. De manhã, en-
quanto Morotó contava os animais e preparava as montarias,
Domingo preparava o café reforçado para aguentarem até a
noite. Durante o dia poderiam ou não encontrar alguma coisa
para comer andando estrada a fora
Eram contratados vários vaqueiros em Minas Gerais
para trabalharem até o limite com o Estado da Bahia, onde
mais uma vez eram contratados outros vaqueiros agora baia-
nos, para chegarem até as margens do rio São Francisco, limite
de Pernambuco. Com os burros já viajados seguiam dando
menos trabalho. Os cavalos já sem condições de continua-
rem viagem eram trocados por outros para continuarem via-
jando até as margens do São Francisco, onde foram trocados
por outros descansados para terminarem a jornada.
O percurso desta viagem foi assim: saíram do muni-
cípio de Teófilo Otoni. Estado de Minas Gerais, passando por
Padre Paraíso, Itaobim, Medina e Pedra Azul, entrando no
Estado da Bahia no município de Cândido Sales, passando por
Belo Campo, Vitória da Conquista, Manoel Vitorino, Maracás,
Irajuba, Marcionilo Souza, laçu, Itaberaba, Rui Barbosa, Mun-
do Novo, Perituba, Miguel Calmon, Jacobina, Caem, Saúde,
António Gonçalves, Campo Formoso, Senhor do Bom Fim,
Auá, Tabatinga, Santa Rosa, Caldeirão, Cana Brava, Patamuté.
Região do Curaçá, Xorroxó, Tarrachi, Rio São Francisco. Para
atravessarem os animais utilizavam-se de barcos conduzindo
15 cabeças de cada vez. Precisaram dar 9 viagens para fica-
rem todos do lado de cá do rio ou seja no Estado de Pernam-
buco.
Depois de efetuado o pagamento dos vaqueiros baia-
nos, os agradecimentos e despedidas, o vaqueiro e cozinheiro
Domingos resolveu voltar para sua terra natal, havia acerta-
103
do com João Morotó vir morar em Pernambuco na fazenda
Maracajá, onde queria mais vez a sua amada, sendo noiva de
outro vaqueiro, porém decidiu voltar e lutar para ver se con-
seguia uma reconciliação com o seu amor. Pediu desculpas
a João Morotó e acompanhou os vaqueiros baianos. Do lado
de cá do rio era como se estivessem em casa. Os burros can-
sados viajando em terra diferente, com melhores condições
para os tangermos, conhecedores da região, não havia porque
temer de continuar andando apenas com os portadores de sua
confiança, seus moradores da fazenda Maracajá; Severino Pau-
lino na guia montado num cavalo enchocalhado descansado,
Pedro Moura e Targino fazendo esteira, enquanto João Morotó
e António Alexandre de Oliveira viajavam palestrando no
coice da burrama um pouco mais tranquilos.
O problema maior era os animais estropiados que para
não interromperem a jornada, era preciso botar sapatos nos
burros de patas doentes. A operação era feita assim: Morotó
conduzia na sua bagagem câmaras de ar velhas de pneus de ca-
minhões; pegavam um pedaço de borracha e protegia o casco
do burro afetado, para que continuasse andando. Os tangermos
diziam-se sapateiros de burros. Foi assim que partiram das
margens do velho Chico, passaram por Belém do São Francisco,
Floresta, Ibimirim, Cruzeiro do Nordeste, Arco Verde, Mimoso,
Pesqueira, Sanharó, Belo Jardim, Tacaimbó, São Caetano, Ca-
ruaru, Encruzilhada, Sapucaia, Camocim de São Felix, Barra
de Guabiraba, Cortês e Usina Pedroza. Naquela época era
assim que se conduziam animais, ais caminhadas eram penosas.
Quando a burrama atingiu a zona dos brejos, surgiram pro-
blemas com os donos de lavoura das margens das estradas.
Os animais esfomeados não respeitavam as cercas de madeira
e de construção frágil e invadiam os roçados. Morotó pagava
as lavouras estragadas dialogando com muita inteligência com
os prejudicados que sempre ficavam mais ou menos satisfei-
tos. De Sapucaia até a usina eram contratados novos tange-
rinos. Os estragos não eram maiores porque a notícia da bur-
rama ia na frente e quase todos os proprietários de roças nas
beiras das estradas, lá estavam para ajudarem os tangermos
na protecão de suas lavouras.
Na usina, oito dias antes da chegada de Morotó todo
mundo já sabia. O Sr. Carlos de Barros Cavalcante (Sr. Car-
linho) ia encontrá-lo e fazia questão que ele viesse na frente
deixando os animais com os tangermos. Morotó não aceitava
a ideia, só chegando na usina no coice dos burros. A marcha
era lenta e muitas vezes Morotó atrasava ainda mais a fim
104
de os animais pastarem em alguns locais das estradas. Esta
foi a maior burrama que a usina comprou de uma só vez em
toda sua história. Os burros comprados foram colocados na
solta do engenho Ilha de Flores, para descansarem alguns dias.
Morotó hospedava.se na casa do Sr. Carlinho gerente da usina,
apenas para dormir e quase não fazia refeições porque desde
das quatro horas da manhã até a noite não saia de perto dos
burros.
O negócio da venda dos animais já estava fechado ;
porém ainda tinha Morotó a obrigação de ferrar os burros di-
vidi-los para os engenhos de acordo com o número que o Sr.
Carlinho determinasse. No dia da partilha o Sr. gerente com
uma relação nas mãos, chegava no curral do engenho Ilha de
Flores, já encontrava Morotó com os burros presos e reconta-
dos. Todos os administradores e cargueiros dos engenhos esta-
vam presentes. Várias marcas de ferro com as iniciais U. P.
e uma coivara de lenha especial de piripitanga e murici. Mais
ou menos às nove horas começava-se a marcar os animais que
destinavam-se para os engenhos mais distantes, ferrava.se por
último os burros que ficariam no engenho Ilha de Flores.
Eram 18 administradores que haviam pedido para Morotó
trazer um burro bom de sela para a sua montaria no serviço
do engenho. Morotó prometia a todos que não esqueceria de
atendê-los. Quando chegava a hora de separar os burros, os
administradores perguntavam qual o burro de sua montada.
Morotó rapidamente apontava um qualquer dizendo é este aí,
é bom de mais, é uma rede, viajei muito nele de Minas Ge-
rais até aqui, é um animal lorde, dengoso, foi o mais caro
que comprei nesta burrama. Agora tem uma coisa, burro via-
jado é diferente de burro descansado. Ele já engordou, mande
o cargueiro montar primeiro, você sabe que todo burro é ma-
nhoso. Assim ele convencia a todos que não havia esquecido
o pedido. A primeira coisa que o administrador fazia quando
chegava no seu engenho, era mandar o cargueiro experimen-
tar o animal escolhido. Era aquela decepção. O burro quando
não era bravo ou manhoso, era lerdo.
Dias depois quando se encontravam com João Morotó
comentavam tristes, o burro não prestou para a sela, Morotó
respondia penalizado, é uma pena, um bicho tão bonito como
aquele não prestar pra gente andar. Não sei como é uma
coisa dessa, aquele burro de Minas até aqui não deu uma
poupa. Eu acho que ele estranhou a zona da cana; é Sr. Mo-
rotó eu mandei os cambiteiros transportarem canas nele; Mo-
105
roto respondia, fez bem já vi que homem não conhece burro.
É mesmo de admirar, ajeite ele pra ver se presta pra sela.
O serviço de marcar os burros e distribuí-los para os
engenhos era a última tarefa pesada que Morotó realizava,
para então sentir-se livre das responsabilidades com os ani-
mais. Depois era só receber o dinheiro e regressar montado
no seu burro gigante para Frei Miguelinho, onde repousava
alguns dias com a família e voltar para Minas Gerais e Ba-
hia, a fim de fazer novos negócios com burros e bois para
as usinas e engenhos da zona mata sul do Estado de Pernam-
buco, enfrentando os mesmos problemas das viagens anterio-
res. Os burros foram vendidos para a usina Pedroza a Cr$
500,00 daquele tempo em 1944.
Os tangermos de confiança que viajaram com João
Morotó, especialmente nas viagens da Bahia e Minas Gerais
foram Severino Paulino, Pedro Moura e Targino, que enfren-
tavam qualquer obstáculo, frio, calor, as distâncias e as exi-
gências de Morotó, que dificilmente dizia a hora de partir ou
de dormir ou para onde ia ou quando vinha. Os seus tra-
balhadores comentavam escondidos: "oh homem difícil de a
gente entender". Não gostava de dormir em hotéis ou dormi-
tórios de beira de estrada. Quando menos se esperava, ele
arranchava debaixo de um pé de umbu dentro do mato. Arma-
vam as redes e dormiam. Às vezes quando chovia protegiam-
se com lonas. Os tangermos reclamavam e ele argumentava;
aqui estamos mais seguros e o ar livre aumenta a saúde.
O dinheiro era guardado nos lugares mais fáceis que
se possa imaginar, dentro de um bornal velho e sujo, debaixo
de uma cangalha ou numa estopa misturado com outros ape-
trechos de viagens, sempre a poucos metros de sua rede.
Nunca foi assaltado ou roubado, era precavido e muito des-
confiado, especialmente viajando. Em algumas viagens foi
acompanhado por seu cuncunhado e amigo António Alexan-
dre de Oliveira, que ia apenas para conhecer.
Outro amigo e companheiro de vaquejada que também
viajou foi o Sr. António Alexandre Cabral, de Serra da Ca-
choeira .
João Morotó como vendedor tinha o dom de conven-
cer os compradores. Pintava os seus animais como os mais
bonitos e melhores do mundo. Certa vez o Sr. Hilton Alves
Cavalcante, fornecedor de cana do engenho Sebastiãozinho
para a usina Pedroza, precisou comprar um animal que lhe
servisse de montada para o seu trabalho de administração e
acima de tudo fazer as viagens dos dias de sábado para a usina
106
e para tal procurou João Morotó; este prontamente lhe disse
que possuia uma mula linda de mais, um pouco cara, no en-
tanto era uma jóia que não podia pertencer a todo mundo, tão
mansa que podia carregar até criança sem nenhum risco de
acidente, boa e famosa que no mundo não existia outra igual.
Faz o que você quiser sem apanhar, é uma beleza rara, até
hoje nunca montei num animal tão bom. Só tem um defeito
para quem comprá-la, é porque quando você viaja nelu só pode
andar só. Hilton indagou: Como se explica que uma burra
tão completa, de tão bons predicados só possa andar sozinha?
Morotó emendou, é o seguinte: ela anda tão rápido que nin-
guém acompanha. Hilton comprou a jóia de animai pelo preço
que ele pediu.
Dias depois Hilton comentava com os amigos das via-
gens dos engenhos nos dias de sábado para a usina e até com
o próprio vendedor, que de fato estava sempre andando sozi-
nho, porém atrás de todo mundo. Não havia mais lerda do
que a burra famosa que Morotó tanto elogiou.
Certa vez Morotó tangendo uma burrama de 70 ani.
mais na ladeira do Mimoso, um caminhão sem freio entrou
no meio dos burros matando 9 na hora e deixando 26 feridos.
Morotó prestou queixa na justiça, constituiu advogado
de defesa, levantou a tese que a burrama viajava na ladeira
cheia de curvas sem a bandeira vermelha de uso obrigatório
nas ladeiras, tanto na frente como atrás da burrama. Por isso
Morotó além de perder os animais ainda pagou as custas e o
conserto do caminhão. Foi um grande prejuízo.
Poucos acidentes aconteceram durante toda sua vida.
Era precavido e teve muita sorte.
Não gostava de cheques, dizia que aquele pedaço de
papel não era dinheiro. Fazia questão de pagar com dinheiro
e também de receber. Muitas vezes dizia quando lhe paga-
vam com cheques: Eu gostaria que você trocasse e me desse
o dinheiro. Achava também que o verdadeiro banco era o
seu cofre dentro do quarto de dormir. Passou a usar bancos
para depósitos ou empréstimos depois que seus filhos e o genro
Nito Alexandre o convenceram da facilidade dos negócios
feitos com a participação dos estabelecimentos bancários.
Mesmo assim ele sempre dizia: ninguém brinque com bancos,
por qualquer descuido a gente perde o que tem. Quando a
pessoa fica sem direitos, além do mais ninguém sabe quem é
o dono do banco. Todos os funcionários só sabem dizer que
receberam ordens para isso ou aquilo. Já vi amigos ficarem
na miséria por causa de empréstimo em bancos Vem a seca,
107
a doença ou os roubos e o banco não quer saber de justifica-
tivas, quer é receber.
Como Morotó comprou a primeira geladeira? Chega-
ram dois vendedores de eletrodoméstico na sua casa, fazendo
propaganda. Dona Branca interessou-se pelo objeto mas só
podia comprar com o consentimento do esposo que no mo-
mento encontrava-se na fazenda. Os rapazes resolveram espe-
rá-lo. Quando Morotó chegou os moços fizeram as mesmas
explanações das utilidades da geladeira, inclusive que a mesma
servia para guardar resto de comida. Morotó respondeu: até
que eu poderia comprar esse negócio para atender o pedido
de minha mulher mas pelo que os senhores estão dizendo,
aqui em casa não precisa dessa coisa que vocês e Branca acham
tão necessária para uma casa de família. Para guardar restos
de comida aqui já temos duas geladeiras. Por obséquio me
acompanhem. Atravessaram a casa e no quintal mostrou aos
rapazes dois suínos de uns 100 quilos cada. Olhe aí duas gela-
deiras para guardar restos de comida. Os vendedores acha-
ram que haviam perdido o tempo e Dona Branca ficou triste
pensando que não iria ficar com tão útil objeto dentro de
casa. Porém Morotó continuou o diálogo com os vendedores
dizendo que entre as apresentações que vocês fizeram da gela-
deira, se eu não estou enganado, ela esfria água, só por isso
Branca pode comprar esse negócio tão desejado.
A compra foi realizada e o pagamento feito na hora
de Cr$ 700,00. Era muito dinheiro no ano de 1958. Em tom de
brincadeira dizia aos vendedores: vocês acabem com esse ne-
gócio de estarem botando nas cabeças das mulheres que gela-
deira serve para guardar restos de comida. Vamos ensinar
essas mulheres a criarem porcos. Morotó só alimentava-se de
comida feita na hora e não comia enlatados.
Marcou época como vaqueiro em corrida de pé de mou-
rão, como cavaleriano e boiadeiro, como benfeitor da sua gente
humilde no Maracajá. Era analfabeto (avalia se não fosse) e
muito inteligente, fazia qualquer conta de cabeça.
Orientado por sua esposa Maria Branca, Morotó criou
seis filhos condignamente. Conseguiu educá-los da melhor
maneira que podia. Deixou cinco deles formados, apenas um
não quis ingressar numa escola de nível superior. Orgulhava-
se muito deles. Seus filhos são os seguintes: Maria Medeiros
Morotó formada em pedagogia, Maria José Morotó também
formada em pedagogia, José Carlos Morotó terminou apenas
o científico (2°. grau), Maria Izabel Morotó formada em pe-
dagogia e em odontologia, António Medeiros Morotó médico
108
veterinário e Luiz Medeiros Morotó também médico veteri-
nário.
Morotó foi embora para o outro lado da vida no dia
31 de março do ano de 1981 com 81 anos de idade, quando era
útil devido a seu estado físico, acostumado com os trabalhos
pesados. Deixou muitas saudades. Muita gente desejaria ir
como ele foi.
A CONFISSÃO
109
do a contar mais de dois mil partos que assistiu. Dona Con-
ceição faleceu já de idade avançada cercada de centenas de
afilhados na fazenda Maracajá. João Moura era o agricultor
dos serviços rústicos, homem do queixo do burro, perdidos
por mulheres. Gostava de piadas obscenas e não escolhia am-
bientes para contá-las. Era muito conhecido em toda região.
Nos dias de feira em Olho D'Água da Onça, hoje Frei Migue,
linho, onde estivessem João Moura e Laurentino Hipólito, en-
contravam-se também todos os que gostavam de ouvir piadas
safadas. Era proibido às famílias passarem por perto. Nos
idos de 1935, João Moura já era um homem velho. Naquela
época a Senhora Maria Luzia separou-se do esposo o Senhor
João Amâncio. Mulher bonita e leviana, depois que conside-
rou-se livre dos compromissos de senhora casada, causou um
grande desassossego para as mulheres casadas com homens
jovens de boa situação financeira. Muitos olhares maliciosos
da Dona Maria Luiza permaneciam no pensamento de muitos
senhores casados, aguardando uma oportunidade propícia,
para viver o prazer de alguns momentos gozando os carinhos
de uma mulher bonita e acima de tudo casada. Depois de se-
parada usou de todos os seus encantos e malícias para gozar
a vida de mulher cobiçada. Vestia-se da melhor maneira,
usando jóias e perfumes de primeira qualidade, cheia de mei-
guice provocante fazendo todos os homens suspirarem de an-
siedades e as esposas desconfiarem da fidelidade dos maridos.
Maria Luzia gostava de usar vestidos pretos. Ela achava-se
mais irresistível para os seus amantes se trajando assim. Era
de pele alva, achando que a cor preto lhe caia bem. Por isso
passou a ser chamada de a mulher do vestido preto. João
Moura vivia recordando o tempo de moço com inveja dos que
eram cortejados pela mulher do vestido preto. Dizia ele que
ficaria muito feliz se Maria Luzia lhe desse a oportunidade
de abraçá-la e sentir o calor do seu corpo e o cheiro de mulher
nova. Ela não lhe dava a mínima importância, não lhe con-
cedia nem sequer um olhar. O velho octagenário lastimava-se
porque sabia que ia morrer sem abraçar a mulher mais bonita
da época e que vendia amor em retalhos. Pensando assim,
adoeceu sem conseguir o seu desejo. Quando estava nas últi-
mas horas de vida, no leito da morte, as filhas combinaram
para chamar um padre, para ver se conseguiam fazer seu pai
mudar de ideia a respeito de religião e se confessasse, para
assim a família ficar tranquila com o destino da alma do ge-
nitor morrendo nas graças de Deus. Quando o padre chegou,
uma das filhas disse baixinho bem no ouvido do velho enfer-
110
mo: "papai, ô papai, o padre está aqui, o Senhor vai se con-
fessar para ficar bom e ir para o céu sem pecados". João Moura
abriu os olhos já sem luz, com a sonolência da morte e divul-
gou a figura do padre de pé a beira da cama com a sua batina
preta. Com dificuldades, perguntou com a voz arrastada. É
Maria Luzia? vamos fazer menino? e com grande esforço le-
vantou a mão trémula tentando acariciar a batina preta do
padre à altura do ventre, interrogando: Tá raspadinho? vamos
Maria Luzia, deita aqui junto de mim. Pousou a palma da
mão no colchão do seu lado direito, repetindo várias vezes,
"deita aqui Maria Luzia, vamos para o céu comigo". As filhas
se retiraram do quarto enquanto o sacerdote comentava como-
vido; coitado ele enlouqueceu. É possível que o vigário tenha
se lembrado de algumas queixas de mulheres casadas da sua
paróquia, contra a mulher do vestido preto. Horas depois João
Moura deu o último suspiro balbuciando as palavras: "vamos
Maria Luzia para o céu".
João Negrinho, genro de João Moura foi quem relatou
o fato.
FAMÍLIA DO SENHOR E SENHORA HERÁCLIO
Capitão Jerônimo Heráclio, pai do segundo Prefeito de
Frei Miguelinho e Coletor de Vertentes.
Esposo de Dona Josefa Lucena Heráclio e genitor dos
seguintes filhos: Maria Geralda Farias, professora, esposa
do ex-Prefeito do Recife, Dr. António de Arruda Farias, ex-
deputado estadual em duas legislaturas, proprietário da Usina
de óleo de algodão em Surubim (sua terra natal), da Usina
Pedroza, situada no município de Cortês, dono de destilaria
de álcool no município de Baía Formosa, no Estado do Rio
Grande do Norte e acionista das empresas Rádio Jornal do
Comércio, escrita, falada e televisionada de Pernambuco.
Dona Geralda é uma das primeiras damas, de alto valor so-
cial e de coração filantrópico, merecedora do respeito e admi-
ração de todos os pernambucanos.
Dr. António Heráclio do Rego, advogado, foi depu-
tado estadual por quatro legislaturas, tendo sido constituinte
em 1946. Era o deputado mais jovem nesta legislatura. Ex-
Diretor de várias autarquias estaduais e criador de gado, co-
nhecido em toda região do agreste como um homem destemi-
do, capaz de sacrificar-se por um amigo. Foi o segundo Pre-
feito nomeado de Frei Miguelinho. É falecido.
111
Dr. Luis Heráclio do Rego, advogado, foi funcio
nário da Secretaria da Fazenda, Delegado de Polícia na capi
tal e era Diretor do I.P.S.E.P., quando faleceu.
-Dr. Jader Heráclio do Rego, advogado no foro da
capital, funcionário do I.P.S.E.P. e criador de gado
em Bom Jardim.
-Dona Maria do Carmo Heráclio do Rego, professora,
esposa do senhor Francisco de Morais, fazendeiro de
projeção, ex-deputado atuante na Assembleia
Legislativa do Estado. Prefeito do município de
Passira. É pai do atual deputado estadual Luis
Heráclio (advogado) .
-Dona Maria de Lourdes do Rego Ferreira, profes
sora, esposa do senhor José Joaquim, comerciante de
nacionalidade portuguesa.
— Dona Maria José Heráclio Cabral, professora, es
posa do senhor António Farias Cabral, criador de gado em
Surubim.
— Dona Maria Bernadete Heráclio do Rego, solteira,
professora, funcionária da U.F.PE.
O Capitão Jerônimo veio de famílias tradicionais de
Pernambuco. Projetou-se no Estado como grande construtor
de estradas, reabrindo veredas de povoados a povoados, ainda
na época em que quase não havia veículos motorizados. Po-
rém o Capitão Jerònimo Heráclio previa o progresso, tornando-
se um verdadeiro baluarte das construções de estradas na nossa
região.
Quase todos os governadores daquela época lhe con-
fiaram os trabalhos das rodagens. Não era engenheiro diplo-
mado mas sua prática no setor era reconhecida por todos os
engenheiros de seu tempo. Era o melhor construtor. A difi-
culdade de viajar constituia-se num grande problema. De
Vertentes a Recife, o pior trecho situava.se perto de Pauda-
Iho, numa ladeira onde qualquer chuva interrompia o trân-
sito por dias seguidos.
Certa ocasião, o Capitão Jerônimo, num dos seus co-
nhecidos impulsos violentos, concentrou todo seu dispositivo
de trabalho para acabar com aquele flagelo que existia perto
de Paudalho. Iniciou o trabalho sem a autorização do Gover-
no, o que só veio depois. Recebeu apoio de todos que trafe-
gavam por aquela rodagem e dentro de poucas semanas con-
seguiu colocar pedras em todo trecho, trabalho que beneficiou
bastante a região. Foi elogiado pelos governantes de então e
para o povo tornou-se ainda mais respeitado.
112
Devido a sua profissão, viajava muito pelo agreste e
norte do Estado. Apesar de ser conhecido como homem de
génio forte e quando ofendido até violento, gostava de
brincar e dar caronas.
Contam que no povoado de Tamboatá, município de
Bom Jardim, ele gostava de parar e conversar com todos e não
demorava para vários garotos se aproximarem dele e pedir
dinheiro, se oferecendo para qualquer mandado.
Certo dia ele parou o carro e distribuiu laranjas da
baía para todas as crianças, avisando que na volta queria
as sementes. Os garotos se prontificaram alegres a cumprir
a ordem do Capitão. Todavia, como laranja-baía não tem se-
mentes, na volta o Capitão estacionou o carro, perguntando
pelos garotos do lugar, sem que ninguém desse notícias.
Também gostava de dar caronas. Uma vez surgiu um
homem pedindo ao Capitão Jerônimo para conduzi-lo até um
pouco adiante. Foi atendido e logo o Capitão iniciou um
diálogo, perguntando se o passageiro conhecia os Heráclios de
Limoeiro. O idiota disse que apenas ouvia falar que eram
homens maus, que gostavam de espancar gente e que o pior
deles era um tal de João Heráclio. O Capitão insistiu, pergun-
tando: O senhor acredita que João Heráclio é ruim mesmo?
- resposta afirmativa. O senhor Jerônimo freou o veículo
bruscamente e então o biguzeiro perguntou: O que foi que
houve? o automóvel desmantelou? o Capitão respondeu com
violência: Não, o senhor João Heráclio é meu pai e não é o
que você disse. Desça do carro. O homem obedeceu, e o Ca-
pitão aplicou-lhe uma surra com varas de mameleiro dizendo-
lhe: nunca mais fale de quem você não conhece e corra se não
quiser morrer. O homem embrunhou-se mato a dentro.
'As estradas eram precaríssimas, verdadeiras veredas.
O senhor Jerônimo Heráclio viajava no seu Ford, modelo 1920,
em alta velocidade. As vezes quando trafegava trechos me-
lhores, acelerava até 60 kms, uma verdadeira loucura, rece-
bendo denominações de corredor e bom volante.
Não respeitava galinhas, cabritos, carneiros, porcos e
outros animais domésticos. Só respeitava crianças, as quais
eram difíceis de aparecer na estrada, com medo tremendo dos
automóveis,
Comentavam em palestras:
— "Quem não quiser morrer que saia da frente do auto-
móvel do Capitão". Assim era o pensamento de muita gente
daquele tempo, nas estradas de Vertentes a Limoeiro, embora
jamais tenha acidentado uma pessoa.
113
Quanto aos animais domésticos, se os atropelava, de
volta saia perguntando quem eram os donos dos "bichos" aci-
dentados e pagava um preço acima do valor real, com uma
recomendação: "cuidado com seus bichinhos, para não mor-
rerem na estrada".
Gostava muito de buzinar. De longe as donas-de-casa
quando ouviam a buzina "ron-ron-ron", gritavam para os fi-
lhos: "tange os bichos do terreiro e da estrada que lá vem o
Capitão Jerônimo, buzinando em toda carreira no seu auto-
móvel". Era aquele corre-corre, espantando os animais para
dentro do mato. Os garotos mais inteligentes, diziam: "Mãe,
deixe o Capitão matar as galinhas, porque ele paga e a gente
come".
O Capitão Jerônimo foi coletor de Vertentes e chefe
político da região até a sua morte em 22 de março de 1950.
Udenista, fazia oposição à altura ao seu poderoso irmão Co-
ronel Chico Heráclio, pessedista até a medula. Os dois irmãos
marcaram épocas na política do agreste pernambucano.
114
SEGUNDA PARTE
O FRADE
Miguel Joaquim de Almeida Castro
"Frei Miguelinho" (bico de pena
de Angelo Meyer)
CAPÍTULO VI
FREI MIGUELINHO
UM FRADE RE VOLUC IONÁR IO
Sua certidão de idade, extraída dos livros existentes na
matriz da cidade de Natal, Rio Grande do Norte, mostra-nos
que o padre MIGUEL JOAQUIM DE ALMEIDA CASTRO,
nasceu em Natal a 17 de setembro de 1768, filho legítimo do
capitão Manoel Pinto de Castro, natural de São Veríssimo
de Valbom, bispado do Porto (Portugal), e de Dona Francisca
Antonia Teixeira, natural da freguesia de Natal.
Teve oito irmãos, dos quais seis varões, sendo três, como
ele, padres.
Com o Rio Grande do Norte, Frei Miguelinho teve de
comum os laços familiares e a educação primária. Quando
completou seus dezesseis anos de idade, foi enviado para o
Recife. Chegando lá, entrou na ordem dos frades carmelitas.
Professou a 4 de novembro de 1784, com o nome de Frei Mi-
guel de São Bonifácio, donde lhe veio o apelido de "Frei Mi-
guelinho".
Dos seus oito irmãos, o padre Ignácio Pinto de Almeida
Castro foi vigário de Jaboatão; o padre Manoel Pinto de Castro
figurou na política da província, que chegou a administrar;
o Coronel Joaquim Felício Pinto de Almeida Castro apresen-
tou papel importante nos acontecimentos de Pernambuco, em
1824; Dona Bonifácia Pinto Garcia de Almeida, residente sem-
pre em Natal, foi mãe de uma descendência ilustre e Dona
Clara Joaquina de Almeida Castro foi a companheira fiel e
devotada do herói Frei Miguelinho (seu irmão), acompanhan-
do-o até o começo do seu martírio.
Frei Miguelinho não mais voltou ao Rio Grande do
Norte e não teve portanto, interferência direta no movimento
117
patriótico chefiado em Natal pelo Coronel André de Albu-
querque .
O desejo constante de aperfeiçoar cada dia mais seus
conhecimentos, levou-o a Portugal, na qualidade de compa-
nheiro do procurador que sua ordem tinha junto à Corte. Ao
chegar a Lisboa, Miguelinho cultivou as Ciências e as Letras,
frequentou Cursos e as instituições científicas e literárias, onde
sempre foi acolhido com respeito e agrado o "frade rio-gran.
dense". como era chamado no convívio dos maiores sábios da
época.
Reconhecendo que não possuía muita vocação para a
vida monástica, obteve da Santa Sé o breve de secularização
e retornou em 1800 a Pernambuco.
Foi recebido com entusiasmo pelo público e todos o
respeitavam, segundo o padre Dias Martins, como grande
Teólogo, sublime filósofo, profundo político e consumadíssimo
orador. Tudo isto, além do mais, realçado por sua modéstia,
sua religião, sua humanidade e todas as virtudes sociais.
Já em Pernambuco, o bispo Azeredo Coutinho, um dos
grandes luminares da igreja brasileira, que o havia conhecido
em Lisboa, chamou-o para o seminário de Olinda, confiando-
lhe a cadeira de Retórica, que regeu até a época do seu mar-
tírio.
Partidário ardente e ferrenho das doutrinas democrá-
ticas, conseguiu impor.se aos adeptos das ideias liberais em
Pernambuco, que o escutavam como a um Deus e dizem que:
"Quantos mancebos se haviam educado com ele, todos abraça-
ram ardentemente a causa da liberdade".
Convivendo no meio pernambucano, exercendo seme-
lhante ascendência, era, portanto, natural que tomasse parte
saliente e preponderante no movimento revolucionário de
1817, cuja celebridade deve-se mais à hecatombe de homens
ilustres que ocasionou do que pelo resultado do próprio movi-
mento, visto que, na insuspeita opinião de Oliveira Lima, "não
fora a revolução um plano bem combinado para simultanea-
mente rebentar em outras capitanias, não possuía elementos
materiais e morais para vingar, nem em número de soldados,
nem em universalidade de convicção e não passou duma explo-
são frenética do sentimento nacional desdenhado, brotada de
cérebros exaltados pelos sucessos da Revolução Francesa, afer-
vorados em seus sonhos por uma misteriosa solidariedade e an-
siosos pela integração da liberdade americana".
118
A marcha para a Liberdade
O sistema de colonização portuguesa favoreceu a ror-
mação da nacionalidade brasileira. Ao contrário dos ameri-
canos do norte que repeliram o gentio, o português a ele se
aliou, misturando-se o sangue das duas raças, surgindo assim
o aborígene, com a epopeia do Caramuru, o valor de Camarão,
a graça de Paraguaçu, nos acontecimentos mais notáveis da
nossa história. O elemento negro vindo para aqui devido à
escravização de várias tribos livres da África, vinculou-se ao
solo, ligando-se aos povoadores e entrando também na forma-
ção da raça, saindo daí o tipo brasileiro, preso desde logo à
terra do seu berço por esses laços indefiníveis que só o amor
pátrio sabe explicar.
No Brasil-Colônia só permanecia português de coração
o funcionário público ou o soldado que vinha a serviço da Mãe
Pátria. O colono, o homem de negócios, ligando.se ao índio e
ao negro pelas relações sexuais ou pelas conveniências do tra-
balho, tornava-se 'brasileiro.
Pouco a pouco, a distância ia diminuindo os laços que
prendiam a colónia à metrópole; a pátria livre tornou-se a as-
piração geral dos brasileiros — desde que a expulsão dos ho-
landeses lhes dera a consciência de sua força, concretizada de
fato na guerra dos Mascates de 1710, na sublevação de Vila
Rica, de 28 de junho de 1710, na Inconfidência de Minas Ge-
rais, a célebre revolução, sonho dos poetas, que levou à forca
Tiradentes, no projeto de república dos irmãos Suassuna, de
Pernambuco em 1800; na revolução de 06 de março de 1817;
no Grito do Ipiranga a 7 de setembro de 1822.
Influências da Corte portuguesa no Brasil
Logo, como sabemos, foi lento o percurso dos brasilei-
ros na sua aspiração emancipacionista, o que é explicado pela
disseminação da população em um território vasto, de comu.
nicações difíceis entre si, pela indolência que nos é própria
e pela sujeição severa às antigas leis e regulamentos coloniais,
peculiares do caráter brasileiro.
A mudança da Corte portuguesa para o Brasil (1808),
muito influiu nos intuitos autonomistas dos nacionais, que a
esta altura acalentaram a esperança de se tornarem indepen-
dentes sem a agitação revolucionária.
Portanto, para o Brasil foi muito vantajosa a vinda da
Corte portuguesa, em consequência das novas relações que
119
adquiriu a colónia, aberta ao convívio mundial, e pela posi-
ção em que os acontecimentos a colocaram, muito superior à
Mãe Pátria.
Segundo escrevia Henry Koster, em 1808, a chegada do
soberano D. João VI despertou o desejo de competição entre
alguns brasileiros que de há muito estavam entregues a hábitos
de indolência e aumentou a atividade de outros que aguardavam
como paciência ocasião para evidenciá-la. Os brasileiros
sentem que se tornaram uma nação, a sua terra natal dá
presentemente leis à mãe pátria.
D. João VI, debaixo de uma aparência de grande co.
vardia, era, no entanto, um consumado e hábil político. Fugindo
à invasão napoleônica, poupou sua autoridade às humilhações
por que passaram todas as cortes europeias, com exceção da
Rússia e Inglaterra e, chegando ao Brasil concebeu o "plano
ardiloso de resistência, que consistiu em conceder à colónia
o máximo das franquias económicas para garantir o mínimo
das cedências políticas", segundo Oliveira Lima.
Os brasileiros, porém, logo compreenderam que da corte
portuguesa nenhum benefício lhes podia advir, uma vez que
estavam destinados a servir de "bestas de carga" para saciar
a ganância da fidalguia ociosa e faminta que acompanhara D.
João VI e se apoderara de todas as posições e de todos os em-
pregos, com exclusão acintosa dos nacionais.
Lavrava intenso, como um fogo subterrâneo, o espírito
de discórdia e rivalidade entre brasileiros e portugueses, o que
fazia com que uns e outros ficassem inquietos.
Motivos porá um governo provisório republicano
Descrevendo o cenário onde se desenrolou a revolução
de 1817, Oliveira Lima salienta que a ideia emancipacionista
crescia com exaltação nos quartéis, pela preferência concedida
aos oficiais portugueses e ainda mais nas cinco Lojas Maço.
nicas que existiam na capital de Pernambuco em 1816, e que
estavam então no seu auge de animação, ligadas às de outras
capitanias e às do Velho Mundo por laços de irmandade e de
filiação, propositalmente avivadas pelas viagens de alguns
consórcios.
O sentimento independente transparecia até publica-
mente nos banquetes, donde eram banidos como protesto o
pão e o vinho de Portugal, substituídos pela mandioca e aguar-
dente indígenas.
Quanto à parte doutrinária do movimento de emanci-
pação era incentivada pelos padres que formavam a classe
120
mais ilustrada da sociedade e que, para honra do clero bra-
sileiro, tomaram parte principal, ativa e saliente nas revolu-
ções, pagando alguns com a vida o seu amor à liberdade.
O campo estava preparado para a revolta, mas não havia
concerto para ela conforme os acontecimentos posteriores
demonstraram.
A 6 de março de 1817 ninguém, no Recife, cogitava
organizar um movimento revolucionário.
A denúncia falsa de um pequeno motim, que as auto-
ridades portuguesas consideravam verdadeira, a displicência
do governador Caetano Pinto, a violência do brigadeiro Bar-
bosa determinaram o movimento do quartel de Cinco Pontas
e o levante da soldadesca, obrigando o governador a refugiar-
se na fortaleza do Brum, organizando.se logo o Governo Pro-
visório, cuja posse foi solenizada por um "Te Deum" a meio
do qual orou Miguelinho, particularmente reputado pela elo-
quência de suas palavras, que realmente, naquela ocasião, hon-
rou o género pela unção comovedora e doce evangelismo do
discurso que proferiu, provocando inclusive, lágrimas de con-
tentamento entre portugueses e brasileiros, que se abraçaram
jurando muito concórdia, ao que afirma Muniz Tavares.
Vitoriosa a Revolução
Iniciada portanto, com bom êxito a revolução, com in-
tuito de conciliação e paz, mais ainda com um caráter fran-
camente republicano e autonomista, abraçaram-na as capita-
nias da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Ao certo não
se sabe se foi Miguelinho que teve ação direta no movimento
revolucionário em Natal, desde que os documentos conhecidos
não se referem a ele e nem a nenhum dos seus familiares,
como participante da revolução.
Foi organizado ainda um governo provisório no período
do governo Martins, para substituir o da capital, porém seus
membros logo se dispersaram, porque a causa da revolução
fracassava desde Alagoas ao Ceará.
No seu começo nenhum obstáculo havia encontrado a
revolução de 1817, e talvez seja isso que a destruiu, porque
os revolucionários confiaram demais em sua obra.
Homens que, como Frei Miguelinho, faziam da liber-
dade um novo evangelho, custavam a acreditar que a tirania
fosse tão terrível e tão desumana na represália de um movi-
mento que se apresentava com incidentes tão pacíficos. Con-
fiavam também, os revolucionários na proteção e bons ofícios
121
dos Estados Unidos da América, para onde foi mandado um
emissário e, na incumbência do padre Abreu e Lima, da qual
esperavam a adesão das capitanias de Alagoas e Bahia.
Nenhuma atitude dos revolucionários demonstrava es-
pírito violento. Com exceção de alguns criminosos que fugi-
ram à regra normal, mas que logo depois foram reintegrados
na cadeia, a Revolução não se manchou com represálias pes-
soais, nem com destruições vergonhosas. Os adversários fo-
ram tratados com toda educação, o que deu à revolução um
aspecto simpático de doutrinarismo e desinteresse, desistindo
com nobreza o diretório de qualquer ordenado que lhe com-
petisse e dirigindo um apelo aos cidadãos distintos da capi-
tania, no qual dizia: "A capital está em nosso poder; a pátria
está salva. Ela vos chama; vinde unir-vos aos vossos irmãos.
Eles vos esperam com os braços abertos e ansiosos por vos
apertar entre eles. O céu abençoará o fim de nossa obra, assim
como tem abençoado o seu princípio".
Realizações dos republicanos no curto período
que conseguiram governar
Foram adotadas no entanto, medidas que mostram que,
se os revolucionários de 1817 não possuíram o senso prático
para fazer vingar o movimento, tinham a intuição dos gover-
nos democráticos. Foi assim que abateram-se as coroas, inuti-
lizaram-se as armas portuguesas e emblemas reais, decreta-
ram-se leis e estabeleceram.se novas bandeiras. Deliberou-se
ainda que os atos do governo seriam datados da "segunda era
da liberdade pernambucana; escolheu-se a bandeira — duas
cores, azul e branca, repartidas horizontalmente, a- primeira
na parte superior, onde haveria um arco-íris com uma estrela
por cima e o sol por baixo e, a segunda tendo ao centro uma
cruz vermelha. O Governo Provisório foi instalado composto
de cinco membros representando as classes seguintes; as quais
hoje seriam os ministérios:
Militar — Domingos Teotônio Jorge
Eclesiástico — Padre João Ribeiro
Judicial — Dr. José Luís de Mendonça
Agrícola — Manoel Correia de Araújo
Comerciante — Domingos José Martins.
Deste modo, adquiria a revolução características de
grande revolta social; as classes burguesas, cansadas do pre-
122
domínio de nobreza abusiva, subiam ao poder para defesa dos
seus interesses.
Decretou-se ainda a tolerância religiosa, aboliu-se o
tratamento de excelência, sendo substituído pelo de "vós", pá-
triota, tomaram medidas que tendiam a acabar com a escrava-
tura e não se descuidaram dos meios de resistência à reação
monárquica, organizando-se o exército e a armada para a de-
fesa da Pátria.
Derrotados pela Contra-Revolução
O Recife foi bloqueado pela esquadra do Almirante
Lobo e, com a aproximação por terra, do exército sob o coman-
do do Marechal Lacerda, o Governo Provisório sentiu.se en-
fraquecido pelas falhas de alguns revolucionários e pelo terror
que foi se apoderando da população.
Em meio a tudo isto, Domingos José Martins vai com-
bater o inimigo e é derrotado em Pindoba. Ocorre então, o
conflito de jurisdição entre Domingos Martins e Suassuna.
Domingos Teotonio Jorge assume a ditadura e declara a pá-
tria em perigo. O Almirante Lobo proclama aos habitantes
do Recife e faz intimação insolente aos revolucionários.
Domingos Jorge responde propondo a rendição com as
honras de guerra, sob pena de serem passados a fio de espada
todos os europeus residentes no Recife. A resposta de Domin-
gos Teotonio foi levada ao Almirante Lobo, por Cruz Ferreira,
e aceita. No entanto, voltando o enviado a Recife, não mais
encontrou com quem tratar, visto que, de véspera, na noite
de 18 de maio, o Governo Provisório havia se retirado com
todas as suas forças para a cidade de Olinda.
, Epopeia do martírio de Frei Miguelinho
É justamente aqui que tem início a epopeia do martí-
rio de Frei Miguelinho. Na qualidade de secretário do gover-
no, possuía em suas mãos muitos papéis e documentos com-
prometedores de inúmeras pessoas.
Para livrá-las da fúria dos agentes da tirania, o herói
potiguar, em vez de acompanhar seus amigos para o engenho
"Paulista", na noite de 20 de maio, condenou-se voluntária,
mente à morte e tratou, antes de morrer, de salvar o maior
número possível dos seus concidadãos implicados no movi-
mento revolucionário.
123
Nessa mesma noite, Miguelinho subiu as escadas da
casa de sua residência em Olinda, onde, banhada em lágri-
mas, recebeu-o sua irmã, D. Clara.
Frei Miguelinho estreitou ternamente a irmã
querida e disse-lhe com meiguice:
"Mana, não quero choro. Estás órfã. Tenho enchido
os meus dias, logo me vêm buscar para a morte; entrego-te
à vontade de Deus; n'Ele terás um pai que não morre. Mas
aproveitemos a noite; imita-me e ajuda-me a salvar a vida
de milhares de desgraçados".
Imediatamente trataram os dois heróis de queimar to-
dos os documentos e papéis sobre a revolução, que havia na
sala e que podiam complicar a sorte dos seus companheiros.
Cumprida tão patriótica quão humanitária missão, es-
perou que o dia amanhecesse e resignado aguardou que se ve-
rificassem, a seu respeito, as ameaças de morte, com que pró,
curavam abater-lhe o ânimo varonil.
Estas felizmente não se realizaram; e, apesar de estai ainda
em tempo de fugir à sanha de seus perseguidores, se deixou
ficar em Olinda, onde foi preso; caminhando satisfeito para
o cárcere, por se haver devotado pela salvação de seus
companheiros, desviando-lhes da cabeça o cutelo do algoz. Preso
e encafuado no porão do navio "Carrasco", juntamente com
outros companheiros seguiu para a Bahia, onde o aguardava
o rancor feroz do Conde dos Arcos.
Encerrado nos cárceres daquela cidade, foi conduzido
à presença da comissão militar, a 10 de junho, para ser inter-
rogado .
Miguelinho espantou os juizes com a doçura evangélica
da sua fisionomia, onde transparecia a calma absoluta da sua
consciência.
O mártir, semelhante a Cristo, conservou-se mudo e
parado diante dos juizes impiedosos.
Nem uma palavra de defesa, nem um gesto de revolta! O
Conde dos Arcos, no entanto, fascinado pela sublimidade desse
martírio, ou preso pelo remorso na condenação de um
inocente, propôs a si mesmo salvar Miguelinho e admirado do
silêncio que este guardava sobre todos os artigos da acusação,
disse-lhe, em plena sessão:
— Padre, não pense que somos alguns bárbaros e sel-
vagens, que somente respiramos sangue e vingança. Fale! diga
alguma coisa em sua defesa.
E continuando o silêncio por parte de Miguelinho, o
Conde retrucou, como que insinuando-lhe logo a resposta:
124
— O padre não tem inimigos? Não seria possível que
eles lhe falsificassem a firma e com ela subscrevessem todos
ou parte dos papéis que estão presentes?
Falou então, pela primeira vez o herói, para responder
ao Conde:
— Não, senhor, não são contrafeitas; as minhas firmas
nestes papéis são todas autênticas, e por sinal, em um deles,
o de Castro ficou metade por acabar, porque faltou papel.
Calou-se, recusando outra qualquer resposta.
E nesse traço de coragem, foi o epílogo glorioso de sua
vida de mártir, impondo ainda mais à nossa admiração o ato
de devotamento com o Padre Miguelinho, antes de ser preso,
sacrificou-se pelos seus companheiros de infortúnio na revo-
lução de 1817.
Foi proferida contra ele a sentença de morte, com data
de 11 de junho de 1817.
Miguelinho ouviu, em profundo silêncio, a leitura cruel
e, sem o menor sinal de impaciência, encaminhou-se para o
terrível oratório.
Sendo, pela manhã de 12 de junho, ele e José de Men-
donça intimados da rejeição dos embargos, José Luis excla-
mou indignado:
— Juizes malvados! Cegos e vis instrumentos da tira
nia! Eu vos emprazo para os infernos! Setenta réus de pena
última tenho livrado da forca sem alegar um só fato que ti
vesse meio peso dos muitos dos meus embargos; juizes...
Ia continuar, quando, pela segunda vez, faiou o herói
riograndense, que fitando-lhe os olhos, disse:
— Querido amigo, façamos e digamos unicamente
aquilo para que temos tempo.
Ajoelhou diante do crucifixo e começou a repetir, de-
bulhado em lágrimas, o salmo "miserere mei Deus" que não
cessou de alternar com José Luis de Mendonça, enquanto du-
rou sua agonia.
Às quatro horas da tarde desse mesmo dia, 12 de ju-
nho de 1817, Miguelinho, revestido da alva, corda ao pescoço,
algemado, pés descalços, cabeça descoberta, no meio de uma
escolta de soldados, foi conduzido ao Campo da Pólvora, onde
foi fuzilado, sendo, na mesma tarde, enforcados os seus com-
panheiros de infortúnio.
A sorte, todavia dentro de pouco tempo tornou-se con-
trária à revoloção, que não teve elementos para oferecer resis-
tência às forças que foram enviadas da Bahia e do Rio de Ja-
neiro para combatê-la.
125
Desta maneira brilhantíssima consumou o seu martí-
rio o insigne astro natalense, exclama um seu contemporâneo,
padre Dias Martins.
Foram muitos os brasileiros que, demonstrando patrio-
tismo, sacrificaram-se para nos legar uma Pátria gigante,
livre e feliz; no entanto, quase todos são esquecidos, como se
o ato extremo de dar a vida pela liberdade do Brasil não va-
lesse a pena para nós que temos o dever de reverenciar os
heróis brasileiros, a exemplo do que fazemos imerecidamente
para com Tiradentes, que não foi maior do que Miguel Joaquim
de Almeida Castro.
Já houve quem dissesse que as revoluções no Brasil
prescindem, em geral, do sangue, o elemento vital que lhes
dá força e vigor, a argamassa com que podem ser solidamente
cimentadas.
Em todas elas, tem predominado um certo fundo de
misticismo, ou um entusiasmo ingénuo e transbordante, talvez
em acordo com a índole da nossa raça. São, no começo, aplau-
didas incondicionalmente para serem, mais tarde, verberadas
sem exame.
Foi assim a Revolução de 17; assim, o 7 de Setembro;
assim, o 15 de Novembro...
A força do tempo vai depois polindo a figura dos pro-
tagonistas desses movimentos, sagrando heróis da liberdade
os que nele preponderaram.
A figura de Miguelinho tem-se tornado épica e legen-
dária através dos tempos.
Místicos ou guerreiros, são por igual beneméritos da
Pátria os que sonham e os que combatem, porque, não sei qual
mais meritório, se a bala que redime uma afronta ao brio na-
cional, se a ideia, se o sonho que voam aos corações, num cân-
tico de fé, como aspiração de liberdade.
Frei Miguelinho foi fuzilado no dia 12 de junho de
1817, depois de preso, julgado e condenado à morte com infâ-
mia, tudo isto realizado no curto espaço de tempo de apenas
98 dias.
O mesmo aconteceu com os mártires Dr. José Luis
Mendonça e Domingos José Martins, que foram também fuzi-
lados no mesmo local, dia e hora, em Salvador, Bahia, pelo
ideal de uma nação independente.
Quanto aos outros presos, foram-se protelando os pro-
cessos, embora nas prisões fossem amarrados com ferros nos
pés e nas mãos.
126
O Governador de Pernambuco, depois de Caetano Pinto,
Luiz do Rego Barreto, mandou executar com a pena má.
xima, entre outros revolucionários, Domingos Teotonio e o
tenente António Henrique. Os mártires foram servindo de
bandeiras para aumentar o idealismo de independência, e não
demorou muito a realizar-se o sonho dos revolucionários per-
nambucanos de 1817, que era um país republicano.
Por ocasião do I Centenário da Revolução de 1817, os
poetas Francisco Palma e Ezequiel Wanderley recitaram ins-
pirados sonetos, que foram extraordinariamente aplaudidos:
INVOCAÇÃO
(À memória de Míguelinho)
Berço pendente ao sol puríssimo do Norte,
Terra cheia de luz, de bondade e carinho,
Já tingiram teu seio os negrores da sorte,
Já mancharam de sangue o teu longo caminho.
Berço cheio de amor, terra de Miguelinho,
Seio imenso de mãe consolador e forte,
Que lhe deste a beber o generoso vinho
Da Virtude e da Fé para enfrentar a morte.
Dá-me a triste visão do Calvário bendito»
A tirania humana em face do infinito
E o sereno perfil do grande fuzilado.
Morreu, dentro da luz de um ensinamento novo.
E é preciso guardar no coração do povo
O valor dos heróis e as glórias do passado.
Francisco Palma
12-junho-917.
IMORTAL
(No monumento a Miguelinho;
Padre, tu que surgiste aureolado da Lua
Que o futuro desvenda, o passado redime.
E, entre rubros clarões, a tu'alma conduz
— A bendita visão do teu bendito crime.
127
Padre, tu que aprendeste os mistérios da Cruz, -
Fonte augusta do Amor, redivivo e sublime!
E, entre salmos triunfais, disseste ao teu Jesus:
"A bendita visão, do teu bendito crime".
Padre, tu que afrontas os peloiros da sorte,
Sem curvares o joelho às leis do despotismo,
Na vida foste herói e foste herói na morte
Morreste sem morrer, e altivo e sobranceiro,
No zimbório da Fé, na torre do Civismo.
Legaste um nobre exemplo ao povo Brasileiro.
Ezequiel Wanderley.
129
TERCEIRA PARTE
O BANDOLEIRO
Manoel Batista de Morais, ou "Nezinho Morais", o famoso Capitão
António Silvino, Chefe de cangaceiros que se considerou por 18 anos
governador ao Sertão. (Do Arquivo Aziz Elihimas).
CAPÍTULO VII
DECLARAÇÕES DE UM SOBRINHO DE ANTÓNIO SILVINO
OLEGÁRIO LINO DE MORAIS, filho de dona Rita,
irmã do Capitão António Silvino, conta atualmente 86
anos de idade. É proprietário da fazenda Cedro, situada no
município de Iguaraci, nas margens do rio Pajeú, limitando-se
com o município de Ingazeira.
Apesar de sua idade, é um homem forte, em plena ati-
vidade na sua fazenda, na criação de gado e agricultura. De
estatura elevada, alvo, olhos azuis, denunciando que na mo-
cidade foi possuidor de um físico atlético, característico da fa-
mília Morais.
Depois de uma certa relutância, resolveu prestar as se-
guintes informações relacionadas com o seu avô, Batistão, sua
mãe e seus tios, inclusive os motivos que levaram seu tio Ma-
noel Batista de Morais, depois António Silvino, a transfor-
mar-se no chefe dos cangaceiros.
Em certa ocasião, interpelado, ele falou que quase tudo
que foi narrado a respeito de António Silvino até hoje, não é
verdadeiro. Perguntei-lhe: Por que você não conta a verdade?
Ele respondeu: E, se alguém contar história de parente, quem
irá acreditar?
Porém, após um longo diálogo, ele resolveu contar esta
história, relatando fatos conforme constam neste livro.
OS MOTIVOS QUE LEVARAM ANTÓNIO SILVINO A
TORNAR-SE O CHEFE DOS CANGACEIROS
Os pais de António Silvino
Em meados do século XIX, Pedro Rufino Batista de
Almeida, também conhecido como Pedro Batista de Morais,
133
apelidado de Batistão, partiu do município cearense de Inhaú-
mas e localizou-se no povoado de Colónia, do vastíssimo mu-
nicípio pernambucano de Flores, no médio sertão, onde corre
o decantado e histórico rio Pajeú. Ali fixado, casou com a se-
nhorita Balbina Pereira de Morais, descendente das famílias
Alencar, Peitosa e Brilhante, parenta próxima do Barão do
Pajeú, sertaneja do vale daquele rio, e decidiu residir em uma
das suas propriedades, Fazenda Cajueiro, encravada hoje no
atual município de Princesa Isabel.
Depois de um certo tempo voltou à Colónia, estabele-
cendo-se definitivamente, onde procriou. Fez um ótimo rela-
cionamento com os fazendeiros vizinhos, gozando assim do
prestígio e confiança de todos. Progrediu com toda a família
e em sociedade com duas irmãs, era proprietário, além da fa.
zenda Cajueiro, das fazendas Jasmim, Jardim e Batinga, todas
no vale do Pajeú.
SUAS VIRTUDES INVEJÁVEl
O tempo foi passando e seu prestígio pessoal aumen-
tava na região, pois era considerado homem justo, honesto e
de atitudes firmes e acertadas. Como consequência dessas vir-
tudes e de sua personalidade líder, surgiu a inevitável figura
daqueles tempos, tornou-se político. Por tudo isso, foi nomeado
Juiz Distrital.
Como todo homem que procura agir corretamente den-
tro dos princípios legais encontra opositores ferrenhos quan-
do a lei incide sobre essas pessoas, exatamente por este crité-
rio de aplicar a lei, não agradou a um certo grupo político da
época, encontrando assim dificuldades em fazer respeitar suas
atitudes e atribuições legais perante seus comandados, já que
os opositores exortavam seus simpatizantes a desobedecerem
suas decisões, tendo às vezes até mesmo de arriscar a própria
vida para não ser desmoralizado.
Contudo, esses eram fatos corriqueiros e comuns na-
queles tempos. Quem representava tal autoridade sabia dos
riscos a que se expunha. E não havia de ser diferente. Em
toda sociedade há duas tendências: uma que acata pacifica-
mente e a outra que se rebela.
Além desses aspectos comuns em todo conjunto hu-
mano, Batistão, como era também conhecido, possuía virtudes
invejáveis: uma audácia incomum, muito simpático e bas-
tante inteligente, sabia o momento psicológico de atacar e en-
134
volver as pessoas com as quais mantinha relacionamento, a
ponto de ser invejado por seus inimigos, especialmente polí-
ticos, pois tinha um poder extraordinário de persuasão para
fazer valer suas ideias.
SUA LEI ERA IGUAL PARA TODOS
Um dos seus maiores opositores políticos foi o Sr.
António Chaves, contando este com o apoio político dos go-
vernantes da região, que faziam política sistemática no sen-
tido de derrubar o prestígio cada vez mais promissor do Sr.
Batista de Morais, pois tornava-se perigosa sua popularidade
e intransigência no cumprimento do dever, sem respeitar gru-
pos fortes. Sua lei era igual para todos, sendo, portanto, um
obstáculo indesejável aos grandes chefes da época.
Somando a tudo isso a função de Juiz Distrital, era obri-
gado a resolver muitos problemas, nos quais tinha que opinar.
MUDOU DE NOME
Depois desses acontecimentos em Teixeira, o Batistinha
tornou-se grande admirador de Silvino Aires, passando inclu-
sive a usar o nome de António Silvino, para homenagear o
companheiro, seu ídolo, e também para despistar a polícia e
seus inimigos. Daí por diante denominava-se Manoel Batista
ou Batistinha, apenas entre os familiares.
Silvino Aires de Alencar, chefe do grupo, caiu morto
em um combate que teve com o tenente Luis Mansidão no
Estado da Paraíba, no ano de 1900, data em que Manoel Ba-
tista de Morais mudou o nome para António Silvino e assu-
mindo o chefe do grupo.
Naquele mesmo ano, os habitantes do Pajeú já sentiam-
se aterrorizados em virtude do perigo que os ameaçava, o ódio
e a sede de vingança de António Silvino. Agora eram teste-
munhas das façanhas daquele jovem revoltado que eles mes-
mos haviam criado tempos atrás.
Neste período, António Silvino comandava um grupo de
cangaceiros, todos injustiçados e com todo empenho em vin.
gar-se dos seus inimigos. Os soldados eram poucos nas cida-
des e vilas e já não tinham condições de enfrentar tão teme-
roso grupo.
139
UM DOS PRIMEIROS ENCONTROS COM A POLÍCIA
O governo, atendendo a solicitações da alguns prefeitos e
fazendeiros, destacou tenentes comandantes de tropas para o
sertão, no propósito de prender ou matar António Silvino.
Um dos primeiros encontros que teve repercussão na-
cional foi com o capitão José Augusto, comandando mais de
30 soldados. Após cinco horas de luta, os cangaceiros estrate-
gicamente foram saindo de mansinho, enquanto os soldados
ficaram brigando sozinhos, uns contra os outros, espalhados
na caatinga. Era noite.
Todavia, era uma "caçada" muito perigosa. Quase sem-
pre caíam em emboscadas, sem o mínimo perigo para os can-
gaceiros que os esperavam de tocaia. Além do mais, não ha-
via estradas e os proprietários das fazendas só possuíam duas
opções: ser amigo do Capitão António Silvino (como já era
chamado) e ter direito de permanecer em paz no lugar, ou ser
inimigo, perdendo tudo e fugindo para as grandes cidades. A
maioria deles, como era de se esperar, ficaram seus amigos,
e assim o Capitão imperou durante mais ou menos quatorze
anos, no norte do Estado de Pernambuco e sul do Estado da
Paraíba, ou seja, do litoral até o médio sertão, cobrindo toda
a área do agreste.
Apesar de suas andanças no Estado do Ceará e Rio
Grande do Norte terem sido menores, não deixou de haver
repercussão quando passava naqueles dois Estados. Contam
que, já considerado pelo povo como Governador do Sertão, foi
recebido no Rio Grande do Norte com banda de música, fogue-
tes, tomou cerveja e conferenciou com políticos e demais auto-
ridades da época e, até um bilhar foi reservado para o capitão
passar algumas horas de lazer.
A FAMÍLIA RAMOS QUEBROU COMPROMISSO
Francisco Batista de Morais, único filho de Batistão
que não saiu do vale do Pajeú, e que não se envolvera em cri-
mes, apesar das perseguições, atendendo ao pedido do seu
irmão António Silvino para tomar conta das fazendas, irmãs
e tias, nunca deixou de realizar seus negócios em Afogados da
Ingazeira. Procurava ser sempre precavido, levando alguns
trabalhadores como guarda-costas e regressando assim que
concluía suas compras, sem deixar "brechas" para quem quer
que fosse.
140
Os inimigos dos Morais, já receosos e esperando a qual-
quer momento uma represália de António Silvino, propuseram
um acordo para que Francisco Morais não viesse em Afoga-
dos, enquanto os Ramos não poriam os pés em Espírito Santo
(hoje Tabira), onde Francisco Morais deveria fazer suas com-
pras e resolver seus negócios.
O irmão de António Silvino cumpriu o que haviam
combinado, porém, certo dia, Manoel Ramos foi ao povoado
Espírito Santo e Francisco Morais o eliminou com um punhal,
no meio da rua. Não reagiu à prisão e esperou a resolução da
justiça. Não queria ser cangaceiro, havia assumido o compro-
misso com o irmão de cuidar das propriedades e do resto da
família.
Era comentário geral que Francisco ou seria condena-
do a muitos anos de prisão ou morto. Não se falava noutra
coisa.
O chefe político da época era responsável inclusive por
tudo que acontecia, até pelos estragos feitos nas proprieda-
des dos Morais. Já haviam incendiado por duas vezes a fa-
zenda Jasmim.
António Silvino, considerado o terror da região, saben-
do do que se passava com seu adorado irmão que sempre aca-
tara suas determinações, apareceu no Pajeú para confirma-
ções de uns e surpresa e medo de outros. O Capitão António
Silvino surgiu na frente do Coronel chefe político da região
dizendo:
— "Não tenha medo, Coronel. Não vim lhe matar agora,
porém se o meu irmão for morto ou pelo menos condenado,
lhe sangrarei como se faz com um bode". O Coronel sentiu-se
apavorado e desprotegido naquela hora, e até agradeceu ao
Capitão tê-lo deixado vivo.
Houve o julgamento e o réu foi absolvido e solto por
unanimidade de votos. Regressou para a fazenda onde fale-
ceu de idade avançada, embora as perseguições só tenham ces-
sado quando o Capitão entregou-se no ano de 1914.
Severino Manoel das Mercês, cavalariano, conhecido
na região de Palmares como Severino da Cabeça Branca, nas-
ceu no dia 05 de novembro de 1895, na fazenda Vargem Verde,
naquele tempo encravada no município de Limoeiro, atual-mente
no município de Passira.
Filho de Manoel Vicente de Santana Borba (grande
amigo do Capitão) e de Eleonora Ana das Mercês. Continua
sendo proprietário da mesma fazenda.
141
Genro do Sr. Francisco Alexandre do Nascimento, pro-
prietário do sítio Pedra da Cinta, naquele tempo município
de Bom Jardim, e atualmente tem o nome de CAIAÍ. Este era
também amigo do Capitão.
Foi dele as informações seguintes das escaramuças do
Capitão António Silvino.
142
Demonstração da vigilância utilizada pelo Capitão António Silvino, onde podemos ver um
dos seus em posição estratégica, enquanto os companheiros repousavam.
Severino Manoel das Mercês, caválariano, conheci na região de
Palmares como Severino da Cabeça Branca. Nascido no dia 05 de
novembro de 1895, na fazenda Vargem Verde, naquele tempo encravada
no município de Limoeiro, atualmente no município de Passira. Filho de
Manoel Vicente de Santana Borba (grande amigo do Capitão) e de
Eleonora Ana das Mercês. Continua sendo proprietário da mesma
fazenda. Genro do Sr. Francisco Alexandre do Nascimento,
proprietário do sítio Pedra da Cinta, naquele tempo município de
Bom Jardim, e atualmente tem o nome de CAIAI. Este era também
amigo do Capitão. Foram dele as informações das escaramuças do
Capitão António Silvino, narradas a partir do título " Cangaceiros
mansos".
CAPÍTULO VIU
ASSASSINATO DE ZEFERINO
Zeferino era tão valente quanto o seu irmão. Nas opoi-
tunidades em que atuavam juntos, julgavam-se invencíveis,
aumentando assim o ciclo de inimizades contra os dois. Par-
tindo daí seus inimigos arquitetaram um plano que demorou
muito tempo para ser realizado com êxito. Conseguiram que
Zeferino confiasse num suposto amigo pistoleiro, muito peri-
goso, de nome Pedro Rosa que traiçoeiramente o assassinou.
Mais uma vez a revolta de António Silvino recebia im-
pulso. Portanto, redobrou suas precauções e desconfianças,
apesar de possuir muitos amigos entre os fazendeiros.
Os tenentes que mais perseguiram António Silvino,
foram Chico Tolentino, Pedro Malta, Frederico, José Caetano,
Zacarias Neves, Maurício (morto em combate com o Capitão,
no município de Batalhão, hoje Taperoá, na Paraíba), Teófa-
nes Torres e muitos outros.
Entre os cangaceiros que fizeram parte do grupo do
Capitão António Silvino, levando uma vida de crimes e incer-
tezas por muito tempo, nos Estados do Ceará, Paraíba e Per-
nambuco, citamos: Cocada, Carcará, Salvino, Biano, Pilão
Deitado, Cobra Verde, Criança, Munguzá, Chico da Banda, An-
tónio Félix (foi chefe do grupo por pouco tempo, morto no
município de Canhotinho, numa emboscada), Borboleta, Ven-
tania, Tempestade, Jararaca e vários outros. (Salientamos
que o Jararaca de Lampião foi outro).
MORTE DE ANTÓNIO ROSA E SEUS
CANGACEIROS
Muitas tentativas foram feitas para exterminar o fa-
moso Capitão, sem no entanto lograr êxito.
Dizem que em certa ocasião a família Pessoa, da Pa-
raíba, preparou uma cilada com o maior zelo para matar ou
143
prender todos os cangaceiros. Acontece que nessa época, en-
contrava-se com o Capitão António Silvino o seu colega cha-
mado António Rosa e seu grupo.
António Silvino, desconfiando de uma possível embos-
cada, não atendeu a um convite, alertando ao seu colega de
sua desconfiança. António Rosa porém, menos precavido, se-
guiu com seu grupo para onde os esperavam dezenas de sol-
dados. Morreram todos, inclusive o chefe.
Com a finalidade de evitar perseguições aos seus pa-
rentes, António Silvino afastou-se do vale do Pajeú por muito
tempo, passando a viver no Agreste. Escolheu para o seu rei-
nado, uma região que iniciava no litoral indo até Caruaru,
chegando ao município de Escada onde certa vez, no Engenho
Jundiá, em um tiroteio, morreu uma professora de nacionali-
dade francesa, que lecionava para a família Santos Dias, gran-
des proprietários de cana-de.açúcar.
Os municípios mais atingidos pelo cangaceiro, naquela
época, foram: Timbaúba, Nazaré da Mata, Limoeiro, Bom
Jardim e Taquaritinga, onde terminou seu rosário de .crimes
e vinganças contra os milhares de inimigos que possuía.
JULGAVA-SE SENHOR DA REGIÃO
À medida que o tempo ia passando, aumentava o temor
que se tinha do Capitão, devido às medidas enérgicas que to-
mava contra aqueles que julgava errados.
Nos povoados e pequenas cidades, não se cobrava im-
postos, não construíam estradas nem instalavam linhas tele-
gráficas .
O Capitão António Silvino não gostava e nem permi-
tia ser fotografado, apesar de seu tipo atlético, de jovem bo-
nito que encantava as mulheres por onde passava. Comentam
que fora conquistado ou conquistara o grande amor de sua
vida, uma jovem formosa e educada, filha de gente da alta
sociedade de então. Desta união surgiram filhos para os quais
desejava um futuro brilhante, diferente de sua vida tão sem
sossego. Sua amada criou os filhos com amor e dedicação, dan-
do-lhes o sobrenome do pai.
António Silvino julgava-se senhor absoluto de toda
aquela região, onde implantou sua lei. Os fazendeiros eram
obrigados a fornecer dinheiro, roupas, alpercatas de camurça
ou peles bem flexíveis, para não fazerem calos quando das
grandes caminhadas forçadas pela polícia, nas horas em que
não dispunham de cavalos. Forneciam ainda munições, armas
144
e até perfumes e baralhos para jogarem nos momentos em
que os soldados os esqueciam um pouco. Quando faziam com-
pras de objeíos para o Capitão, os fazendeiros não queriam
receber nenhum dinheiro em troca.
Quando ele chegava numa cidade em que os ricaços
eram seus inimigos, pegava todo o dinheiro de níquel e cobre,
assim também os géneros alimentícios e cortes de fazenda, le-
vava para a frente da igreja e distribuía com os pobres e ne-
cessitados.
HAVIA MOMENTOS EM QUE CHORAVA
Entre tantos sonhos de sua vida, possuía o de ser um
grande criador de gado, numa fazenda organizada.
Com essa esperança, possuía suas reses espalhadas pelo
Sertão e Agreste da Paraíba e Pernambuco, sob os cuidados
de seus amigos, donos de propriedades. Acontecia até um fato
interessante, digno de nota: seus rebanhos eram sempre bem
protegidos. Nunca morria uma rês, não adoeciam, as cobras
não picavam-nas e muito menos eram roubadas. Os acidentes
ocorriam mais para os animais dos fazendeiros donos das ter-
ras. Não gastava um tostão com vaqueiros e poucas pessoas
sabiam que ele possuía tanto gado. Porém, não podia realizar
seu sonho que era juntar tudo em um só lugar.
Quando ocultava-se em casa de amigos, saboreava com
emoção a tranquilidade de viver em liberdade, direito que ha-
via perdido por culpa dos outros. Nesses instantes brotavam-
lhe as lágrimas do mais íntimo do seu ser. Às vezes, porém,
recordava o passado com rancor e transformava-se num mons-
tro que atemorizava até seus companheiros de luta.
Não era muito religioso, mas respeitava padres, semi-
naristas, mulheres casadas, moças donzelas e crianças, a não
ser que fossem delatores. A esses ele castigava. Era supersti-
cioso e qualquer coisa o fazia desconfiar, mudar de rumo ou
ideia. Suas precauções em excesso, por muitas vezes o salva-
ram da morte em emboscadas ou por envenenamento.
O QUE CONTAVAM A SEU RESPEITO
A simplicidade e inocência dos matutos o transforma-
ram num super-homem. Adivinhava e possuía o dom de trans-
formar-se no que bem quisesse: carneiro, cabra, jumento, toco
de madeira, cupim e, ainda por cima, transformava tantos
145
cangaceiros quanto estivessem em sua companhia. Era só
rezar a "Oração da Cabra Preta".
Comentam que em certa ocasião o Capitão António Sil-
vino viu um tenente com uma tropa a sua procura. Imediata-
mente, transformou-se com o seu grupo em vários tocos de
madeira. Todavia, entre a tropa de soldados, vinha um que
também sabia a oração tão famosa. Aproximou-se do toco,
que sabia ser António Silvino e dando-lhe uma boa "mijada",
disse-lhe baixinho: -- "Eu também sei da oração, de mim você
não se esconde. Mas não é nestas condições que vamos lhe pe-
gar. Nos encontraremos noutra oportunidade". Em seguida
juntou-se aos seus e seguiu caminho.
Muitas histórias de António Silvino, fantasiadas pelos
repentistas e contadores de estórias, deixaram de existir de-
pois que as façanhas de Lampião surgiram, superando-as.
A única solução para os fazendeiros daquele tempo não
saírem de suas propriedades, era ser amigo dos cangaceiros.
Não havia meio de comunicação além do portador a pé ou mon-
tado num animal.
As autoridades não possuíam condições para garantir
a integridade das famílias sertanejas. Os matutos não dispu-
nham de recursos para morar nas cidades. Evidentemente, só
tinham duas opções: ser amigo do Capitão e seus cangaceiros e
viverem atemorizados, apreensivos com a ação da polícia que
cometia verdadeiros absurdos e os taxava de Coiteiros; caso in-
formassem aos soldados, recebiam o castigo dos cangaceiros,
que muitas vezes chegavam a verdadeiros extremos. Portanto,
os habitantes das fazendas e pequenos povoados onde os can-
gaceiros atuavam, viviam em verdadeiro pânico.
Pelas vestimentas não se reconheciam as tropas, pois
muitas vezes os cangaceiros andavam com a farda da polícia,
assim também os soldados vestiam indumentárias usadas pelos
participantes do grupo de António Silvino. Os matutos fica-
vam na dúvida e ocasionalmente prestavam informações
erradas.
COMO VIVIA O CAPITÃO ANTÓNIO SILVINO
Procurar António Silvino dentro da caatinga era tarefa
muito difícil. Poucos se atreviam a enfrentar as dificuldades
do Sertão e Agreste daquele tempo, expondo-se às embosca-
das e estratégias do Capitão que era conhecedor de todos 09
labirintos das terras desabitadas, onde formava seus escon-
146
derijos. Somente homens da mesma têmpera do Capitão se
atreviam a esta aventura.
Um dos valentes que António Silvino encontrou foi o sub-
delegado Francisco Braz, que o deixou ferido em certo
combate, embora tenha falecido no cumprimento do dever.
Certa ocasião, disfarçado em suas vestimentas, passan-
do na casa de uma senhora viúva, mãe de duas filhas moças,
perguntou se as mesmas sabiam alguma notícia de António
Silvíno. A dona da casa sem imaginar o perigo a que se expu-
nha, respondeu que António Silvíno era um bandido deson-
rador, assassino, ladrão e amaldiçoado. Tão empolgada estava
em suas acusações que não percebeu a oportunidade dada pelo
Capitão, que lhe perguntou: - - A senhora, por acaso, já viu
esse António Silvino? Ao que ela respondeu:
— Não senhor, mas tenho certeza que ele é tudo que
falei e mais algumas coisa!
Uma das filhas pressentindo a difícil situação, tentou
apelar para sua mãe mudar de ideia, alegando que elas nunca
sofreram nada e nem sequer conheciam o Capitão ou seus mo-
tivos para agir de semelhante maneira. A viúva no entanto,
por inocência ou por ignorância, continuou sustentando o pen-
samento a respeito daquele homem. António Silvino, já um
pouco irritado, insistiu:
—Quer dizer que ele é tudo isso e mais alguma coisa
do que disse? E ela:
—É, e peço a Deus que os soldados o matem o mais
depressa possível, e que ele vá para o inferno!
O Capitão no auge de sua cólera, sentindo-se injustiça-
do, soltou um grito para surpresa das pobres mulheres, sur-
gindo nesse momento, por trás de uma cerca, vários canga-
ceiros. Ele fitando-a com ira, falou:
— "Eu sou o António Silvino e vou dar-lhe uma lição,
sua velha linguaruda, para nunca mais você falar mal da vida
de ninguém, especialmente de quem não conhece"!
No terreiro da casa havia um pé de mandacaru e o Ca-
pitão ordenou que o cangaceiro Cocada sustentasse a mulher
pelas mãos com firmeza, ficando o pé de espinho entre eles.
Quando ambos se encontravam nessa posição. O Capitão disse:
— Agora, quem tiver mais força defenda-se dos espinhos! Em
seguida, o Cocada puxou a pobre mulher contra os espinhos
umas três vezes, deixando-a sangrando do rosto até os joelhos.
Enquanto isso, uma das moças chorava dizendo em voz alta:
"Eu bem que disse a mamãe para não falar do Capitão que
nunca nos ofendeu". "Tenha piedade, deixe ela viva". Antô-
147
nio Silvino atendeu ao pedido e a mulher agradeceu de joelhos
por ter ficado com vida, pedindo até perdão. Quando se reti-
raram, o chefe fez o seguinte comentário: "Se fosse um ho-
mem, teria cortado a língua".
CANGACEIROS MANSOS
No auge de sua odisseia, o Capitão organizou um grupo
de companheiros que lhe foi muito eficiente. Classificou-os
de cangaceiros mansos. Esses homens eram praticamente for-
çados a assumir compromisso com o Capitão, uma vez que ne-
cessitavam ter trânsito livre e manter suas atividades nor-
mais. Entre eles encontravam-se almocreves, vaqueiros, com-
pradores de gado e até caixeiros-viajantes. Por intermédio de-
les o chefe sabia de todos os movimentos da polícia, que nunca
conseguia pegá-lo de surpresa, pois ele, ciente de tudo, fugia
para outros lugares ou preparava uma emboscada com todas
as possibilidades de êxito.
Os cangaceiros mansos, que de tudo sabiam, permane-
ciam de "bico calado" para não atrapalhar suas negociações
e muito menos as estratégias do misterioso cangaceiro que adi-
vinhava por onde os tenentes passariam com suas tropas.
Um dos oficiais da polícia mudou o rumo que deveria
seguir à procura dos cangaceiros e, para surpresa dos dois gru-
pos, encontraram-se quando julgavam estar em rumos opos-
tos. Nesse encontro morreram alguns companheiros de Antó-
nio Silvino. Este, todavia, desconfiou da informação do seu
cangaceiro manso, de nome Manoel Fortunato, o qual retirou-
se imediatamente para o Recife, depois do apelo comovedor do
seu sogro José Possidônio ao Capitão, para deixar o pai de
seus netos vivo, prometendo que jamais ele poria os pés na-
quelas terras.
Contam também que dois vizinhos, proprietários de
terras e amigos do Capitão, se desentenderam por motivos de
rumos de terras e não havia jeito de chegarem a um acordo.
A situação a cada dia se complicava mais e os familiares já
se preparavam para um choque de graves consequências, quan-
do um outro fazendeiro amigo resolveu pedir a António Sil-
vino para solucionar aquele problema pacificamente.
O Capitão, ciente do que estava acontecendo, pronti-
ficou-se a agir como se fosse uma autoridade constituída. Or-
denou que o amigo intermediário conseguisse um agrimensor
e que os dois brigões, e todos os familiares em questão, se en-
contrassem num determinado dia e hora no lugar litigioso, sem
148
saberem com certeza o que ia ser feito. Tudo aconteceu con-
forme determinara o juiz bandoleiro, e no dia marcado Antó-
nio Silvino e vários companheiros chegaram no local com a
fisionomia "fechada". Cumprimentou a todos com um bom dia
e foi logo perguntando aos proprietários onde era o rumo
certo. Cada qual indicou um ponto diferente. Ele, sem ne-
nhum comentário mandou o agrimensor, bastante apreensivo
e temeroso com sua missão, medir a distância entre os dois
pontos indicados. Em seguida, ordenou que fosse posta a ba-
liza no meio, dividindo pela metade a área em litígio. Mandou
colocar também uma pedra servindo de marco. Feito isso,
disse ele: "O rumo certo é aqui. Pode fazer a linha divisória.
Há alguma objeção por parte das duas famílias?". O silêncio
foi completo, o trabalho foi executado, as famílias se reconci-
liaram e as pedras criaram lodo no lugar.
SOU APENAS UM JUSTICEIRO
Um pernambucano de Palmares, paupérrimo, porém
muito esperto e com tendências de poderio, foi residir na Pa-
raíba e conseguiu ser fornecedor de dormentes à Great Wes-
tern. Ganhou com isso muito dinheiro e comprou um enge-
nho denominado BURACO. Mudou o nome da propriedade para
engenho Nossa Senhora da Conceição, construiu um sobrado,
instalou várias casas comerciais e tornou-se o "poderoso" do
lugar, atemorizando os habitantes e conhecidos. António Sil-
vino conhecendo seu rigor contra aquele povo, invadiu suas
casas comerciais, propriedades e distribuiu com todos os po-
bres o estoque completo de mercadorias e dinheiro.
Na cidade de Pilar na Paraíba, António Silvino foi à
casa do comerciante Pio Napoleão e mandou que ele abrisse
o cofre onde guardava quarenta contos de réis. Retirou apenas
duzentos mil réis que precisava, e disse: "Caso fosse ladrão
levaria toda sua fortuna, mas sou apenas um justiceiro". O
pobre homem agradeceu, ficando muito surpreso com a ati-
tude.
Segundo pesquisas feitas pelo historiador Mário Souto
Maior, certa ocasião António Silvino, julgando-se Governador
do Sertão, passou um telegrama ao Governador do Estado da
Paraíba, Dr. Castro Pinto, usando os seguintes termos: "Go-
vernador bandido. Não precisa reunir quatro Estados para
perseguir-me, pois garanto que de dois não saio, fazendo per-
seguição ao seu governo. Dr. Massa (chefe de polícia), toda
perseguição que me fizer vingarei em sua família. Dr. José
149
Rodrigues (Secretário do Governo), pise milho, cesse massa e
dê a esse pinto que o mal dele é fome". Assinado: António
Silvino de Morais.
Nessa época havia mais ou menos quinhentos soldados,
empenhados em eliminar o Capitão que contava com um grupo
de mais ou menos quinze homens, além de seus cangaceiros
mansos.
VISITA À FAZENDA MANSO — MUNICÍPIO DE
TAQUARITINGA
Como já foi dito, os fazendeiros e proprietários na época
dos cangaceiros não distinguiam as forças volantes ou os ho-
mens do Capitão António Silvino pelas vestimentas, quando
surgiam em suas terras. Os habitantes viviam preocupados
na maneira como se conduzirem, pois tanto os soldados anda-
vam disfarçados de cangaceiros com suas indumentárias carac-
terísticas, como também os cangaceiros usavam a mesma tá-
tica, andando fardados, semelhantes aos militares. Ainda por
cima usavam também distintivos: O Capitão com a farda de
Coronel, seu imediato com farda de Tenente, Sargento, Cabo
e vários soldados. Contam que foi nessas condições que An-
tónio Silvino fez uma visita ao Dr. Joaquim Guerra, nos
meados de 1910, proprietário da fazenda Manso, naquele tempo
pertencente ao município de Taquaritinga. Esta fazenda pas-
sou a pertencer ao Dr. José Gaião em 1916, e atualmente faz
parte do espólio do ex-Governador e Senador Dr. Paulo Pessoa
Guerra.
Chegando na fazenda, deixou sua tropa sob o coman-
do de seu imediato (tenente), pediu licença e subiu para falar
com o dono do local, no terraço da Casa Grande. Cumpri-
mentou-o com todo o respeito e solicitou dinheiro para alimen-
tar sua tropa de "soldados", identificando-se como paraibano
à procura de cangaceiros -- assunto principal daquela época.
O fazendeiro atendeu o pedido do suposto militar, ofereceu
almoço e pousada para todos, embora sabendo que o viajante
era António Silvino. O mesmo agradeceu o almoço e o des-
canso saindo em seguida, justificando que tinha pressa.
A visita do Capitão António Silvino ao Dr. Joaquim
Guerra na fazenda Manso foi quase idêntica à visita que fez
ao Dr. José Gaião no engenho Palma, pertencente ao muni-
cípio de Bom Jardim. Atualmente é de propriedade do Dr.
Enio Pessoa Guerra, neto do Dr. José Gaião. Contam que
para o Dr. José Gaião ele identificou-se como cangaceiro usan-
150
do farda de Coronel e pedindo cento e cinquenta mil réis, la-
mentando-se que estava sendo muito perseguido pela polícia e
se encontrava em dificuldades financeiras.
SUAS BOAS AÇÕES
Em suas jornadas o Capitão passou por um pequeno povoado
no município de Bom Jardim e deparou-se com um pequeno
cemitério, cercado apenas de arame farpado, onde haviam, no
dia anterior, sepultado o cadáver de uma criança numa cova
rasa e, naquele momento, uns cachorros estavam comendo o
braço do pequenino defunto. O Capitão presenciando aquele
quadro triste, parou no lugar, mandou chamar todos os
habitantes a sua presença e, muito zangado com a falta de
respeito ao ser humano, ordenou que se construísse um
cemitério com paredes de tijolos, todo rebocado, com portão de
ferro e cadeado, determinando um curto prazo para a construção
do mesmo, avisando que voltaria e, caso não encontrasse como
determinara, aplicaria sua lei para os faltosos No prazo
determinado o Capitão apareceu no lugar, e lá estava o
cemitério construído. Agradeceu a todos e disse ainda:
Fiquem descansados que não mais passarei aqui.
O Capitão António Silvino mandou também construir
o cemitério de Malhadinha, nas margens do rio Capibaribe.
Outro caso muito comentado foi o de um homem que
não podia trabalhar porque sofria de um desvio da coluna
Sentia-se muito triste e envergonhado ao pedir esmolas. Di.
zia ele que se possuísse dois jumentos, arranjaria um garoto
e abasteceria o povoado d'água, apenas administrando seus
animais, que viveria condignamente e seria útil para os seus
vizinhos.
Procurou alguns fazendeiros, expondo seu pensamento
na esperança de um deles doar ou vender-lhe fiado os dois
jericos. As respostas eram sempre desanimadoras.
Certo dia, alguém disse-lhe que o seu caso só poderia
ser resolvido pelo Capitão António Silvino — comentando em
tom de brincadeira. O aleijado porém, levou em conta as pa-
lavras que ouvira e aproveitando uma oportunidade contou
sua história ao Capitão, que sem nenhuma objeção redigiu de
próprio punho um bilhete para o senhor Álvaro Timóteo, pro-
prietário abastado do município de Taquaritinga, mandando
entregar dois animais encangalhados com caçambas para o
serviço de abastecimento. O doente de posse dos animais cum-
priu o que havia planejado, servindo seu povoado Serrinha da
151
Cachoeira e agradecido pelo ato digno do "Governador do
Sertão", daquela época.
FAZIA JUSTIÇA ATÉ COM OS SEUS
152
de ingerir certa quantidade, já sem ação, seguiu em frente do
seu chefe por uma vereda e todos os acompanharam.
O Capitão agradeceu mais uma vez, pediu desculpas e
deixou o seguinte recado: "Diga a seu esposo que faça o en-
terro desse meu ex-companheiro, pois tenho pressa e não
posso demorar".
Instantes depois a dona da casa ouviu o estampido de
um tiro. No dia seguinte o seu marido sepultou o cadáver,
que tinha uma perfuração no meio da testa.
Medida tão drástica seria apenas pelo alimento sem sal
ou pela somação de outros inconvenientes?
Segundo comentários dos fazendeiros daquela época,
ele possuía inimigos dentro do seu grupo.
NÃO ACEITAVA A DENOMINAÇÃO DE BANDIDO
Naquela época, em que o Capitão António Silvino im-
perava no agreste como "Governador do Sertão" e "protetor
dos pobres", o senhor Pedro Limeira era grande comprador
de algodão na região e criador de gado na fazenda Barreira
Queimada, situada no município de Caruaru, onde existia um
motor potente com capacidade de fornecer luz à fazenda e des-
caroçar algodão em grande quantidade. O negociante e fazen-
deiro era um dos inimigos do Capitão que não se omitia de
classificá-lo de bandido e salteador.
António Silvino para arranjar um pretexto a fim de
saber se o fazendeiro era ou não seu inimigo, mandou um
portador com um recado, pedindo certa importância em di-
nheiro. Esse não foi atendido e ainda teve a confirmação do
que lhe falaram, pôs o senhor Limeira de fato era seu inimigo
e não fazia segredo de que não media esforços para prendê-lo
ou matá-lo.
Sabendo dessa notícia o Capitão, irritadíssimo, invadiu
a fazenda Barreira Queimada acompanhado do seu grupo, no
propósito de exterminar o proprietário e queimar tudo que
houvesse no lugar. Porém, foi informado pelos moradores que
o patrão se encontrava na cidade de Caruaru, juntamente com
a família. António Silvino falou aos trabalhadores que tinha
vindo a fim de matar o dono da fazenda, mas como não o en-
contrara, iria deixar uma lembrança para ele ter razão de cha-
má-lo de "bandido", pois sabia que ele vivia falando dele in-
justamente sem nunca ter sofrido nada.
Em seguida, obrigou aos próprios trabalhadores incen-
diar todo o algodão que estava estocado nos armazéns e os
153
cercados de pastagens. Embora os moradores se encontrassem
em pânico, não maltratou a nenhum, e disse ainda:
— "Digam a seu patrão que não inutilizei o motor por-
que serve para vocês, e se ele continuar a me maltratar vol-
tarei numa oportunidade em que possa encontrá-lo, pois desta
vez a viagem considero perdida". Tirou uma bala da cartu-
cheira, mostrou aos seus moradores dizendo: Com esta eu ia
matá-lo, mas como não o encontrei, vou gastar a bala e, atirou
na testa do melhor touro da fazenda.
No outro dia, o senhor Limeira chegou à fazenda acom-
panhado da polícia e vários amigos bem armados, encontran-
do um quadro desolador. No entanto, tudo isso de nada adian-
tou, uma vez que os cangaceiros estavam bem distantes e a
fazenda arrasada.
Dentro de poucos dias a fazenda estava recuperada, e
por falta de garantias o senhor Limeira passou a residir de-
finitivamente em Caruaru. Deixou de maltratar o Capitão e
este nunca mais voltou ao lugar.
A VALENTIA DO INSPETOR ANTÓNIO NICÁCIO
VIROU HISTÓRIA
Em Trapiá, pequeno povoado às margens do rio Capi-
baribe, pertencente ao município de Caruaru e que atualmente
pertence ao município de Riacho das Almas, havia missa todos
os meses, como também casamentos e batizados celebrados por
um padre que vinha a cavalo da cidade de Caruaru. Naquelas
oportunidades, o lugarejo ficava com aspecto de festa. Numa
dessas ocasiões, sem ninguém esperar, chegou o Capitão An-
tónio Silvino cavalgando um bonito cavalo. O Capitão havia
deixado seus companheiros escondidos debaixo dê umas moi-
tas, na margem do rio a pouca distância dali. O Capitão não
queria que o povo ficasse em pânico ou abandonasse as fes-
tividades, pois tinha vindo com espírito festivo. Contam que
quando o Capitão desmontou do cavalo, o senhor António Ni-
cácio, inspetor de quarteirão, reconheceu o homem "fora-da.
lei", e munido de punhal e garrucha interpelou o recém-
chegado para confirmar:
— "Você é António Silvino?", ouvindo a resposta afir-
mativa com um gracejo: "Pronto para servi-lo".
O inspetor, rapidamente usando a sua pistola, atirou
em direção ao peito do Capitão, indo o tiro atingir a parede
de uma casa. Quase ao mesmo tempo o Capitão, usando seu
rifle, errou também. Estavam tão próximos um do outro que
154
não foi possível usar armas de fogo. Logo depois, resolveram
utilizar os punhais.
Foi uma luta tremenda, resultando a mesma na morte
do inspetor e vários ferimentos no seu adversário. Os canga-
ceiros que haviam ficado escondidos, ouvindo os tiros, apro.
ximaram-se para ajudar seu chefe, porém quando chegaram
no local não encontraram mais ninguém, inclusive o padre,
noivos e pais dos recém-nascidos haviam desaparecido. Ape-
nas dois matutos vendedores de farinha permaneceram juntos
de sua mercadoria. Os cangaceiros enfurecidos assassinaram
os indefesos e derramaram toda a farinha que havia para o
abastecimento da feira, sobre os cadáveres, bem defronte da
capela.
António Silvino enquanto se recuperava dos ferimen-
tos, em casa dos amigos, dizia que sentia-se triste pelo aconte-
cimento em Trapiá e fazia elogios da bravura do inspetor, di-
zendo: "Poucos foram os homens que tiveram a coragem de
enfrentar-me frente a frente, como o valente Nicácio".
A valentia do inspetor Nicácio virou história que pas-
sou de pai para filho, como um dos homens mais destemidos
que viveu nas margens do rio Capibaribe, na época dos can-
gaceiros
MOMENTOS MAIS DIFÍCEIS DE SUA VIDA
Certa vez, um amigo fazendeiro perguntou a António
Silvino quais foram as horas mais difíceis de sua vida. Ele
respondeu: "Quando fui atacado por uma onça dentro da
caatinga, em lugar difícil de lutar, após ter caído de minhas
mãos o rifle e o punhal grande. Usando apenas um punhal
pequeno e um chapéu de couro, consegui dominá-la. Outro
momento difícil foi quando lutei com António Nicácio e um sub-
delegado no Estado da Paraíba. Outro dia, numa noite de trovões
e relâmpagos, tempestade nunca vista antes, encontrei-me
sozinho numa loca de pedras, onde vi fantasmas e tive a
impressão que iria enlouquecer. Foram esses os momentos
mais difíceis de minha vida.
COMO ANTÓNIO SILVINO FEZ AMIZADE COM
MANOEL ALEXANDRE DE OLIVEIRA
Em 1911, o General Dantas Barreto venceu as eleições
como candidato da oposição. O jovem político Brás Bezerra
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da Silva, um dos incentivadores da polémica entre Vertentes
e Taquaritinga, foi o chefe da campanha eleitoral em prol da
candidatura do militar. Depois da vitória recebeu o apoio do
Governador eleito, começando aí a sua carreira política.
Antes do General Dantas Barreto assumir o governo
do Estado, o Capitão António Silvino soube que o senhor Ma-
noel Alexandre de Oliveira usava com o fim de prender ou
castigar as pessoas, um tronco de madeira que havia sido utili-
zado no tempo da escravidão como instrumento de tortura
dos negros cativos e rebeldes, em sua propriedade. Acampa-
dos na fazenda Manso, o Capitão mandou o cangaceiro Cocada
com um bilhete, pedindo uma importância em dinheiro ao se-
nhor Manoel Alexandre. A resposta do farmacêutico foi que
não dispunha do dinheiro no momento e, também, não devia
nada a cangaceiros, falando em tom arrogante. Horas depois,
Cocada estava de volta, na casa do fazendeiro, dizendo que o
Capitão não gostara da maneira como foi dado o recado, sen-
tindo-se ofendido e que na próxima sexta-feira viria ao po-
voado a fim de ver se Manoel Alexandre mantinha o que man-
dou dizer.
Espalhou-se a notícia. No dia marcado, o povoado ama-
nheceu deserto. Apenas o sentenciado à morte permaneceu a
espera do Capitão.
Às sete horas da noite, conforme havia prometido, e
acompanhado de quatro companheiros, o Capitão chegou ao
alpendre do chalé, deu boa-noite e perguntou: "É o senhor
Manoel Alexandre de Oliveira?" a resposta foi afirmativa.
Então disse o Capitão: "Quando mando dizer que vou matar
uma pessoa é dando uma oportunidade de fuga, porém você
esperou e por isso vai morrer". O dono da casa respondeu:
"Capitão António Silvino, quando um homem foge de sua casa
sem cometer crime, não pode mais voltar, com vergonha da
família. Vou morrer constrangido porque estou vendo diante
de mim, um grupo. Por que o senhor não veio só?"
Um dos cangaceiros que estava de prontidão aguardan-
do ordens, disse para o chefe: Vamos matar logo esse homem.
Mas foi repreendido.
Dona Zefinha, esposa do dono da casa, aguardava o
desfecho. Nesse momento, falou António Silvino: "Manoel
Alexandre, não me agrada matar um homem de sua qualida-
de. Vamos fazer um trato: Você queima o tronco que a tantos
maltratou, vai criar tua família e nos tornaremos amigos.
Feito isso, e após algumas horas, a dona da casa serviu um
jantar aos visitantes, havendo a partir daí o respeito e ami-
156
zade entre eles até o fim da vida atribulada do Capitão. Na-
quele dia os cangaceiros ficaram acampados na fazenda
Manso.
Assim, muitas e muitas histórias eram contadas a res-
peito dos crimes e atos bons praticados por António Silvino
e seu bando.
Naturalmente, uma boa parte não passava de frutos
da imaginação fértil dos seus contemporâneos. A verdade é
que existiu no agreste e sertão nordestino, de 1896 a 1914, um
grupo de cangaceiros comandados por um homem que se trans-
formou num fora-da.lei, forçado por tantas injustiças, querendo
vingança com as próprias mãos. Dizia ser o defensor dos
pobres contra os poderosos.
ANTÓNIO SILVINO EM SANTA MARIA
Naquela época, Santa Mana era apenas um pequeno
povoado pertencente ao município de Taquaritinga, onde todas
as segundas-feira era realizada uma feirinha.
O homem mais influente do lugar era o senhor José
Braz, político, proprietário de terras e criador de gado.. Na-
quele tempo o Governador do Estado era o General Dantas
Barreto.
A pressão sobre os cangaceiros se intensificava, embora
o Capitão António Silvino reagisse, como sempre fizera com
outros governos. Considerava-se "Governador do Sertão" e
não admitia comentários a respeito de sua pessoa. Apesar de
viver ocultamente dentro das caatingas, sabia de tudo que se
comentava ao seu respeito e do seu próprio grupo.
Sabemos que o Capitão António Silvino e o Coronel
José Braz eram amigos, porém, foi o Coronel obrigado a for-
necer animais selados, redes, dormida e alimentação de pri-
meira para a tropa de soldados, comandada pelo Sargento João
Nunes e o cabo António Tetéu, que em perseguição aos can-
gaceiros haviam acampado em Santa Maria.
Após iniciada a desavença o senhor José Braz não de-
monstrou medo de António Silvino, afirmando que se ele
tivesse a audácia de vir a Santa Maria, não seria recebido com
banda de música e fogos, como foi numa cidade do Rio Grande
do Norte, mas seria sim, recebido à bala porque era o que me-
recia diante de sua prepotência e de todo o mal que fizera no
Nordeste.
Não demorou muito tempo para o Capitão António Sil-
vino ficar sabendo das ideias e propósitos do senhor Braz a
157
seu respeito. Mandou um portador saber se era verdade o que
lhe disseram. A resposta do proprietário e criador de gado
foi afirmativa. Então, o mesmo portador que levara a resposta
voltou dizendo que a qualquer hora o Capitão visitaria o po-
voado, para ter certeza da valentia do chefe do lugar.
Nesse povoado não havia soldados para manter a ordem
e garantir a segurança dos moradores. Havia apenas um sub-
delegado civil e um inspetor de quarteirão. Depois que a notí.
cia espalhou-se, o povo ficou bastante apreensivo, querendo
inclusive abandonar suas atividades. Porém o chefe (Zé Braz)
tranquilizou a todos dizendo que o senhor Pequeno, inspetor
do povoado, era um homem muito disposto e que de modo
algum tinha medo dos cangaceiros. Além disso, haviam con-
tratado dez homens corajosos para defender o povoado. Diante
das precauções tomadas, não havia razão para ninguém retirar-
se. O senhor Pequeno não iria permitir que bandidos des-
moralizassem aquele povo.
Os voluntários recebiam um salário acima do normal,
naquele tempo, e em virtude de ser uma missão perigosa rece-
biam café, almoço e ceia. armas de fogo e munição para en-
frentar os foras-da-lei.
A expectativa era grande nos primeiros dias, mas os
cangaceiros não deram sinal de vida durante meses. Ninguém
dava notícia do Capitão. A feira que quase acabara estava
voltando ao seu ritmo normal.
Além do senhor José Braz, se destacavam ainda os se-
nhores José Patrício e José Alvino de Queiroz, sem falar no
senhor Pequeno que dizia a todos com plena convicção, que
os cangaceiros não iriam cumprir o recado enviado pelo Capi-
tão, garantindo ao senhor Zé Braz que "dois bicudos não se
beijam".
O senhor José Braz todavia, tinha suas dúvidas, e como
chefe, repetia as mesmas instruções de sempre para o inspe-
tor, perguntando se os voluntários enfrentariam mesmo os
bandidos, correndo o risco de morrer lutando. O inspetor sem-
pre respondia: "Vá dormir descansado, que cangaceiro só en-
tra aqui depois que eu estiver morto com meus companheiros,
o que é muito difícil".
Entretanto, o senhor José Braz não duvidava da audá-
cia de António Silvino e esperava-o a todo momento. Dizia
sempre que António Silvino era audacioso e felino como um
gato selvagem, e que a qualquer instante apareceria. Ficava
de prontidão em sua residência. Seus colegas José Patrício e
José Alvino, também aguardavam nas suas casas.
158
Quando a maioria já pensava que o Capitão desistira
de invadir o povoado, num dia de segunda-feira, na hora em
que a feira estava repleta de pessoas, surgiram por trás do
cemitério os cangaceiros, fazendo alguns disparos para o ar,
amedrontando os feirantes. O senhor Pequeno e seus homens
romperam fogo contra os invasores.
O Capitão António Silvino revidou com tamanha vio-
lência e rapidez que impressionou o inspetor, de maneira que
o mesmo, tomado de medo, fugiu com os seus companheiros
voluntários, enquanto os outros, sem comando, abandonaram
o campo de luta. Os senhores Alvino e Patrício ocultaram-se
diante do perigo, haja vista que naquele momento o povoado
estava entregue aos "fora-da-lei". O senhor José Braz ficou
sozinho, entrincheirado num prédio de primeiro andar que
era a sua residência, sustentando o tiroteio até a munição
acabar.
DONA JOSEFA LUCENA HERÁCLIO RELATA ESSE FATO
Dona Santa Heráclio conta que esse acontecimento
ocorreu no dia 12 de junho de 1912. António Silvino invadiu
o povoado de Santa Maria, acompanhado de vinte e quatro
cangaceiros. Após dominar o lugar, ocupou o mercado público
como se fosse legalmente um oficial do governo.
O irmão de Dona Santa, Miguel Braz Pereira de Lucena,
temendo ir pela rua, foi de telhado em telhado até conseguir
chegar no mercado para conversar com o Capitão, na espe-
rança de que ele mudasse de ideia e não matasse seu pai.
Os cangaceiros ficaram admirados com a audácia do
Dr. Miguel (era advogado), especialmente pela eloquência e
maneira de falar com o Capitão, dizendo-se amigo e na cer-
teza que pouparia, a vida do seu genitor.
Soltando gracejos, os cangaceiros disseram que teria
sido ótimo caso o tivessem visto andando por cima das casas,
pois certamente receberia uma bala muito certeira.
António Silvino ordenou que seus cabras terminassem
as brincadeiras e disse para o Dr. Miguel:
- "Foi até bom você vir se entregar, porque ficou mais
fácil de sangrar seu pai. Você ficará aqui enquanto eu vou
matar seu velho". Ordenou aos companheiros não fazerem
nada com o advogado e nem deixá-lo fugir, o que os cabras
cumpriram à risca, e foi com outros capangas matar o Coronel
José Braz que se encontrava com a família, no primeiro andar
de sua residência. O Capitão, aos gritos, perguntava se José
159
Braz preferia morrer em cima, no sobrado, ou na calçada da
rua. Nesse momento, José Braz desceu a escadaria acompa-
nhado de sua filha Santa, dizendo: "Você só chegou à minha
porta, porque as balas acabaram e já não tenho com que me
defender".
Os cangaceiros fizeram um círculo, dentro do qual fica-
ram António Silvino, o Coronel José Braz, Jararaca e Santa.
O Capitão iniciou, dizendo: "José Braz, você sabia que não
podia comigo e por que ficou contra mim? Agora vai morrer
sangrado como um porco".
Com um punhal chamado "bico de lavandeira" na mão,
colocava a ponta do mesmo na garganta do Coronel. Santa,
que de tudo participava, tomou posição entre o cangaceiro e
seu pai, sustentando a lâmina da arma, e pediu:
"Mate-me, mas deixe meu pai vivo, eu lhe suplico"
O Capitão retirou o punhal, no entanto continuou torturando-o
com sua arma, que encostava ora no peito, ora na barriga do
seu inimigo, ouvindo as súplicas da moça. Já estavam sem
condições de suportar tanto sofrimento e humilhação, quando
António Silvino afastou-se um pouco e o cangaceiro Jararaca
aproximou-se de Santa, dizendo baixinho no seu ouvido:
— "Não tenha medo, moça. Seu pai não vai morrer.
Quando ele quer mesmo matar, não judia".
MOMENTO DE CORAGEM DA MENINA SANTA
Atualmente, ao relatar esse fato, D. Santa diz que as
palavras de Jararaca, naquele momento, foram mesmo que
uma injeção energética, tornando-a mais tranquila e ao mesmo
tempo afoita, chegando a dizer ao Capitão:
—"Você só mata Papai, porque o meu noivo não está
aqui". Ele observando-a, sem maltratar o Coronel,
perguntou:
—"Quem é seu noivo, menina?". Ela respondeu:
- "É Jerônimo Heráclio". O Capitão, muito sério,
guardou a arma e disse para José Braz: "Você não vai morrer
agora; agradeça à sua filha, que me impressionou com tanta
coragem. E além disso, não quero encrencas com os Heráclios,
Agora, tem uma coisa: mande para mim dois contos de réis,
pelo Coronel António Farias".
Naquele tempo, dois contos de réis era muito dinheiro,
mas o Coronel foi obrigado a cumprir a palavra.
O senhor Jerônimo Heráclio foi de opinião que o seu
futuro sogro mandasse o dinheiro imediatamente, servindo ele
mesmo de portador para entregar a importância ao Coronel
160
António Farias (pai do senhor Severino Farias e avô do Dr
António de Arruda Farias, ex-Prefeito do Recife)
O Coronel António Farias era amigo do Capitão, e pá-
rente do senhor José Braz, que forçado pelas circunstâncias,
continuou amigo do Capitão, que recebeu o dinheiro, dizendo:
"Só perdi a amizade de José Braz por causa daqueles maca-
cos safados", referindo-se ao Sargento João Nunes e ao Cabo
António Tetéu.
Por ter dado pousada aos soldados, o Capitão achou
que o Coronel havia se tornado inimigo seu, daí os recados
desaforados e os preparativos que culminaram com o
encontro e invasão do povoado por vinte e quatro cangaceiros,
juntamente com seu chefe, quando incendiaram quase todas as
casas comerciais, após retirar e fazer entrega ao povo de
tecidos, géneros alimentícios e tudo que encontraram.
Somente o dinheiro em cédulas António Silvino guardava.
Níquel, prata e cobre eram distribuídos com os curiosos que
já haviam invadido o lugar a chamado do "bandido-chefe".
Foi verdadeiramente um dia de juízo para os moradores do
povoado.
Os amigos do Coronel José Braz, que tanto o incenti-
varam, sem falar no senhor Pequeno, se omitiram de aparecer
na hora difícil. Eram eles José Patrício e José Alvino de Quei-
roz que, tempos depois, demonstraram tanta audácia sob o
comando do alferes Teófanes Ferraz Torres.
O senhor Pequeno, ex-inspetor, com vergonha de apre-
sentar-se ao chefe político (o único a enfrentar os cangacei-
ros) , demorou muito tempo a aparecer, e quando voltou não
era mais o valentão de antes. O senhor José Braz (que também
ocupava o posto de sub-delegado) demitiu-o.
DONA SANTA NÃO ESQUECEU A BOA AÇÃO DO
CANGACEIRO JARARACA
Após afastar-se da senhorita Santa e do Coronel, An-
tonio Silvino foi para o mercado público onde o Dr. Miguel
Braz Pereira de Lucena se encontrava sob a guarda incómoda
de vários cangaceiros. Ao chegar, chamou seus companheiros
para irem embora, dizendo ainda: "Não matei José Braz, nem
vou matar o Dr. Miguel".
Enquanto o Dr. Miguel esteve com os cangaceiros
aguardando o desfecho daquele triste dia, não demonstrou
muito medo, mas o contrário, conversando com eloquência, im-
pressionando aos bandoleiros.
161
O Capitão disse ao Dr. Miguel: "O seu pai sabia que
não podia comigo". Após esse encontro, retirou-se com seu
grupo, deixando os habitantes do povoado sofrendo os prejuízos
material e moral por muito tempo.
Santa ficou muito grata ao cangaceiro Jararaca e ainda
hoje tem gravado na mente o perfil do mesmo: homem preto,
de estatura elevada, timbre de voz bonito e olhos verdes.
Apesar de sua cor preta não era feio, e pareceu-lhe até bonito
naquela hora tão amargurada. Ainda hoje ela comenta: "agra-
deço e ainda ouço aquelas palavras de esperança, pronuncia,
das por um bandido num momento tão difícil. Diariamente,
faço preces a Deus por sua alma".
Era um verdadeiro inferno na época de António Sil-
vino, naquelas regiões. Naqueles dias ela contava com ape-
nas 16 anos de idade. No ano seguinte, em 1913, com 17 anos
casou-se com o senhor Jerônimo Heráclio do Rego, homem
azogado, muito trabalhador e honesto.
A FAMÍLIA SALDANHA
A demora da invasão dos cangaceiros em Santa Maria,
no período das trocas dos recados entre o Coronel José Braz
e o Capitão António Silvino, foi porque o chefe dos canga-
ceiros desconfiou que seria derrotado, levando em conta a ma-
neira como recebia os recados desaforados do representante
de Santa Maria. Por isso, enviou um seu companheiro para
cientificar seu poderoso amigo, Coronel Quincas Saldanha, que
o Coronel José Braz havia dito que Santa Maria não era a
cidade do Rio Grande do Norte onde um bandido da quali-
dade de António Silvino era recebido com festas pelas autori-
dades .
O Coronel Quincas Saldanha, proprietário da fazenda
Sauim, encravada no distrito de Jardim das Piranhas naquele
tempo município de Caicó, no vale do Seridó. O Coronel amigo
do Capitão António Silvino, prontamente atendeu a solicita-
ção do bandoleiro enviando dez cabras de confiança para aju-
dar a derrotar o Coronel José Braz. Os homens vieram do Rio
Grande do Norte disfarçados de almocreve, montados em mu-
las, encangalhados como se fossem compradores de géneros
alimentícios.
A vitória do chefe dos cangaceiros foi total e os dois
amigos, Coronel Quincas Saldanha e o Capitão António Sil-
vino, comemoraram o êxito obtido.
162
A família Saldanha era das mais destacadas no vale
do Seridó, em propriedades e audácia. O Coronel Quincas Sal-
danha tinha um irmão tão valoroso quanto ele e eram adver-
sários políticos, viviam em constantes litígios, revidando qual-
quer ofensa recebida de um ou de outro; incendiavam cer-
cados, sacrificavam os animais e até os moradores de con-
fiança. O irmão do Coronel Quincas chamava-se Coronel An-
tonino Saldanha, da fazenda São Pedro do mesmo vale do
Seridó.
Os descendentes dessa valorosa família (Saldanha)
ainda hoje gozam de prestígio no Rio Grande do Norte.
Atualmente, um deles é deputado Estadual, Dr. Wil-
liam Saldanha.
163
Dona Josefa Lucena Heráclio "Dona Santa".
Esata casa, 1914 era a residência do fazendeiro Joaquim Gonçalves de Lima, conhecido por todos como Joaquim
Pedro. Atualmente, a casa serve de depósito de utensílios agrícolas e esta em verdadeiro abandono.
Anízio Gonçalves de Lima, conhecido como Anízio Pedro, o mesmo que
foi levar almoço aos cangaceiros. Atualmente com 75 anos de idade, reside
em Frei Miguelinho.
Manoel Gonçalves de Lima, conhecido como Nenéu, conta atualmente 79
anos de idade. Foi quem levou almoço para os cangaceiros e foi mostrá-los
ao alferes, junto ao seu genitor.
CAPÍTULO IX
O ÚLTIMO ENCONTRO DO CAPITÃO ANTÓNIO
SILVINO
COM A POLÍCIA
O Governador Dantas Barrete havia prometido ao povo
nordestino que acabaria com António Silvino e seu grupo, du-
rante o seu período governamental.
Ordenou aos oficiais da polícia que queria de qualquer
maneira os cangaceiros, presos ou mortos. Com ordens severas
do Governo do Estado, uniram-se os delegados de Timbaúba,
Igarassu, Nazaré, Limoeiro, Bom Jardim, Taquaritinga e
muitos voluntários dos distritos e povoados, para realizar as
determinações do Governo.
O cangaceiros, acossados pelos comandantes, começa-
ram a fazer zig-zags dentro da caatinga, sem no entanto os
soldados perderem o seu rastro. Nesse esconde.esconde, o ca-
pitão com seu grupo já bem menor, quando regressava, não
sabemos se de Timbaúba ou Bom Jardim, tentando despistar a
polícia, deu a entender que estrategicamente havia seguido
para o Estado da Paraíba. Porém voltou, passando por Santa
Maria e dirigindo-se para a fazenda Lagoa da Laje, que no ano
de 1914 pertencia ao distrito de Vertentes, município de Ta-
quaritinga. Esta propriedade localizava-se bem perto do po-
voado Olho D'água da Onça, pertencente ao ex-distrito de Ver-
tentes .
Era uma quinta.feira, 25 de novembro de 1914. O fa-
zendeiro Joaquim Pedro achava-se na sua residência, no seio
da família, discutindo assuntos corriqueiros, juntamente com
a sua esposa dona Tatá e os filhos Adélia (Moça), Maria
(Liça), Delmiro, Manoel (Nenéu), e Anízio. Naquele dia Ar-
tur, o filho mais velho, achava-se em Caruaru.
Quando menos esperavam, foram surpreendidos com a
presença, na calçada da Casa Grande, do famoso Capitão An.
165
tônio Silvino e os cangaceiros "seu Sempre" (não sabemos seu
verdadeiro nome), Joaquim de Moura (lugar-Tenente), Espa-
lhado (Paulino), Copeiro (Severino) e Pau Reverso (Jordão).
PENSAVA EM ENTREGAR-SE
166
procuraram esconder-se dentro do mato, bem perto da casa.
O senhor José Patrocínio viu-os e foi buscá-los para a pre-
sença do alferes.
Os meninos traziam enrolados numa toalha, uma ba-
cia contendo talheres, pratos, garrafas de vinho vazias, res-
tos de alimentos, e de boas sobremesas. O almoço fora carne
de carneiro guisada.
O FAZENDEIRO NÃO PODIA NEGAR
Desfeito o embrulho, o militar olhou para o fazendeiro,
rindo com ironia: "E agora não vá me dizer que serve tão
bem aos seus trabalhadores".
Diante do tão forte argumento, o homem não teve outra
desculpa. A solução foi contar que o capitão estava nos fun-
dos da propriedade com cinco cangaceiros, embaixo de um
pé de juá
O alferes prendeu dentro de um dos quartos da casa
Dona Tatá, Adélia, Maria, Delmiro, Anízio e um trabalhador
de nome Manoel Purça.
O Nenéu foi obrigado a ir com o pai, mostrar onde os
cangaceiros estavam. Estes encontravam-se jogando sueca
embaixo do juazeiro, tão entretidos que Joaquim Pedro e o
filho fizeram vários zig.zags e eles não notaram. O fazendeiro
pensava que eles perceberiam a aproximação da polícia e da-
riam o fora, o que não aconteceu.
Pai e filho na frente da tropa se aproximaram até uma
distância de mais ou menos 120 metros dos bandoleiros, quando
o alferes, certo que era mesmo o capitão António Silvino,
mandou Joaquim Pedro e Nenéu voltarem. Naquele momento
um dos soldados, tremendo de medo, queria correr. Teófanes
encostou a boca do rifle em suas costas, dizendo baixinho:
"Ou enfrenta os cangaceiros ou lhe mato primeiro", empur-
rando-o com força para frente, embora não fosse somente esse
soldado que demonstrasse medo.
O comandante avançou mais uns vinte metros, arras-
tando-se todos de peito no chão, dilacerando a pele nos espi-
nhos. Tomou posição e rompeu fogo, atirando de pontaria, en-
quanto o fazendeiro e o filho escondiam-se por trás de uns
tocos de madeira.
Em fração de segundos os cangaceiros soltaram as car-
tas do baralho e revidaram o ataque, com uma precisão im-
pressionante. Passados os primeiros minutos, o comandante
percebeu que os cangaceiros haviam desaparecido caatinga a
167
dentro. O encontro aconteceu às quatorze horas do dia 26 de
novembro.
Os policiais, com muito cuidado, chegaram até o pé de
juá e apanharam alguns objetos deixados no local: baralhos,
lenços, cigarros, perfumes e uma espingarda de matar nambu.
Havia sangue no lugar. Não havia dúvidas de que havia ban-
doleiro ferido, confirmando-se o que o comandante dissera:
ter visto um cabra sair cambaleando,
O CAPITÃO NÃO TEVE CORAGEM DE MATAR-SE
António Silvino, gravemente ferido, encontrou apenas
Joaquim de Moura com um ferimento grave, encostado numa
cerca, sustentando o rifle.
Foi o próprio António Silvino quem contou ao senhor
Manoel Mendes que Joaquim de Moura o aconselhou a não en-
tregar-se à polícia, dizendo que cadeia não foi feita pra can-
gaceiro e na presença do seu chefe, armou o rifle, colocou-o
debaixo do queixo, retirou o pé da alpercata e com o dedo pu-
xou o gatilho. António Silvino presenciou a cena dramática,
e ouviu o estampido e a queda do cadáver do leal amigo e com-
panheiro de infortúnios. Eram mais ou menos quinze horas.
Olhando seu companheiro morto diante de si, sentiu o maior
desânimo de toda sua vida atribulada, e conscientizou-se na-
quele momento que Joaquim, sim, é que era o verdadeiro ho-
mem, valente cangaceiro, para quem deveriam todas as gló-
rias. Chorou como menino e não teve coragem de suicidar-se,
a essa altura ferido moral e fisicamente, pois uma bala o atin-
gira no peito e a hemorragia era constante. Foi nesse estado
que procurou o fazendeiro Manoel Mendes, entregando-se e
pedindo para que o fazendeiro chamasse a polícia.
O que acima foi dito, foi narrativa do próprio Antônio
Silvino, conforme Manoel Mendes contou milhares de vezes
aos seus amigos e trabalhadores.
O senhor Manoel Mendes mandou imediatamente o al-
mocreve Martins Figueiredo avisar à polícia.
O portador viajou as pressas para Vertentes e Taqua-
ritinga, não encontrando o comandante Teófanes Torres, o que
não surpreendeu Manoel Mendes, porque dona Tatá, sua irmã,
na ausência do portador, mandara uma empregada avisar que
o tenente e seus comandados se encontravam aquartelados em
sua casa, esperando notícias dos cangaceiros. Quando o por-
tador Martins Figueiredo voltou de Taquaritinga, Manoel Men-
des o enviou à casa do seu cunhado Joaquim Pedro, avisar
168
que António Silvino estava em sua residência, ferido, queren-
do se entregar.
Ciente do recado, o alferes pôs o portador na sua
frente, nas condições de que se fosse mais uma das artima-
nhas do cangaceiro, ele, o portador, seria o primeiro a mor-
rer e, seguiu na frente da tropa para o encontro do chefe fe-
rido, na mira do rifle do alferes.
Às cinco horas da manhã do dia 27 de novembro de
1914, a polícia chegou à casa citada e viu com surpresa o
famoso chefe dos cangaceiros deitado numa cama, gravemente
ferido. Os soldados de arma em punho, em posição de com-
bate apontavam para o ferido, aguardando ordens do alferes.
António Silvino olhou para o alferes e disse: "só pode
ser um castigo contra mim. Desde minha mocidade que sou
insultado. Até neste instante, que me encontro entre a vida
e a morte, faltando-me por momentos até a visão, ainda sou
ameaçado. Seu Tenente, estou entregue". Disse ainda: "Joa-
quim de Moura está morto", e indicou o lugar dentro da
caatinga. "Os outros quatro companheiros não mais os vi".
Queria esconder a pista dos mesmos, que se despediram cho-
rando, e aos quais pedira para irem pra bem longe e viverem
como homens de bem.
Jamais ouviu-se falar daqueles cangaceiros, depois da
prisão de António Silvino.
VIAJOU A CAVALO, QUASE MORTO
O comandante Teófanes mandou buscar o cadáver de
Joaquim de Moura para o cemitério de Vertentes, e autorizou
o senhor Joaquim Barbosa, sub-delegado, a fazer o sepulta-
mento do suicida.
Em seguida mandou buscar, às pressas, o cavalo de
Joaquim Pedro para conduzir o baleado para a sede do mu-
nicípio de Taquaritinga, distante uns 10 kms da fazenda.
Foi uma tarefa penosa. Ninguém acreditava que o ho-
mem resistisse à viagem, porém o cabra era forte e acostu-
mado à dureza da vida, possuidor de um preparo físico ina-
creditável. Recebeu também ajuda do alferes, que o cercou
de todos os cuidados possíveis. Alguns dos primeiros socorros
práticos de fonte natural, eram indicados pelo próprio António
Silvino, que era acostumado a socorrer seus homens dentro
da caatinga.
O prisioneiro estava entre a vida e a morte. Assim
mesmo, a cavalo, subiu a serra e chegou na sede de Taquari-
169
tinga. No mesmo dia, a altas horas da noite, foi transportado
num jumento até o povoado de Torres, hoje Toritama. O
preso sentia uma pequena melhora devido aos curativos de
urgência, aplicados pelo oficial, que não se afastava do doente.
Sob indicação do próprio António Silvino, o oficial extraiu
leite de pinhão, aplicando sobre o ferimento, a fim de
estancar a hemorragia. A essa altura, o alferes Teófanes não
media esforços para seu prisioneiro não morrer, pois além de já
admirá-lo, queria ter o orgulho de entregá-lo vivo a seus
superiores.
CARREGADO NUMA REDE, COMO UM DEFUNTO
Em Torres já o esperava o médico Dr. Frederico, que
recebeu ordens em Caruaru para ir urgente socorrer o canga-
ceiro, utilizando todos os meios possíveis para salvá-lo, por-
que as altas autoridades queriam vê-lo vivo e ouvir a sua voz.
Para Caruaru, o ferido não pôde mais viajar a cavalo.
O Dr. Frederico mandou providenciar uma rede e pessoas para
conduzi-lo. O médico lançou mão de todos os meios de socorro
para o paciente. O alferes não se afastava do seu ex-inimigo
um só minuto, fazendo tudo que estivesse ao seu alcance.
A caravana era grande, acompanhando o homem mais
falado daqueles dias. De Torres a Caruaru, não faltaram volun-
tários para carregar o doente dentro da rede. Os habitantes
da região corriam curiosos para a margem da estrada, a fim
de ver e ter transportado.
De quilómetro em quilómetro, o Dr. Frederico exami-
nava seu paciente. O alferes não admitia que estranhos se
aproximassem, e o prisioneiro indefeso já começava a confiar
no oficial, seu ex-perseguidor.
Num sofrimento extremo chegou à estação da Great
Western, em Caruaru, acompanhado por centenas de pessoas
e grande número de autoridades da época, vindas do Recife.
Algumas dessas autoridades, montados a cavalo, foram encon-
trar com a tropa comandada pelo alferes Teófanes Ferraz Tor-
res, que conduzia o prisioneiro mais importante da época.
Entre as autoridades que vieram do Recife estava o
Chefe de Polícia ou Secretário Geral e muitas altas personali-
dades. O trem foi especial, com percurso sem escala — Re-
cife a Caruaru. De volta, parou alguns minutos em Gravata,
para um cafezinho.
Em Caruaru, Dr. Frederico, contando com melhores
meios de atendimento e ajuda de colegas, proporcionou ao
doente melhor assistência médica. Além das altas autorida.
170
dês, acompanharam o preso o alferes e seus comandados
que participaram do combate.
No Recife, o ferido submeteu-se a uma junta médica,
na Penitenciária onde passou 23 anos. Lá, aumentou seus co-
nhecimentos culturais, recuperou-se fisicamente e fazia de
tudo em artesanato. Tornou-se líder respeitado e estimado.
Um dos Diretores da Casa de Detenção, senhor Carlos de Bar-
ros Cavalcanti (Carlinhos), tornou-se seu amigo e admirava-o
por sua força de vontade. No dia de sua libertação, presen-
teou-o com uma bengala de sua estimação.
O Capitão António Silvino foi identificado na Polícia
sob o número 1122, e seu prontuário na casa de Detenção do
Recife era o de número 959.
Recolhido à Detenção no dia 01 de dezembro de 1914,
foi processado em apenas seis comarcas e indiciado em 26 pro-
cessos, sendo condenado a 239 anos e 8 meses de prisão. Se
fossem julgados todos os processos, de todas as Comarcas dos
quatro Estados, Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte e Per-
nambuco, teria sido condenado a quase mil anos.
O capitão, durante seus dias na Detenção, estava aca-
brunhado. Não era mais aquele homem disposto e temido, con-
siderado Governador do Sertão durante quase catorze anos,
período em que muitos o acharam bom e outros ruim, em toda
a zona nordestina.
Sabia que não ia mais usar seu repetição de 14 tiros
e nem seu famoso punhal "bico de lavandeira", de 12 polega-
das. Estava agonizante, o vingador e protetor dos pobres.
Depois da prisão do Capitão António Silvino, mais de
oitenta por cento dos que ele considerava amigos se declara-
ram muito satisfeitos com sua prisão, inclusive aqueles que
tomavam conta do seu gado. Dizem que apenas um fazen-
deiro do Rio Grande do Norte e outro de Pernambuco ven-
deram seus animais, entregaram o dinheiro e guardaram con-
veniências das transações que mantiveram com o ex-capitão.
António Silvino foi libertado em 1937, por um indulto
decretado pelo Presidente da República, na época Getúlio
Vargas.
Quando saiu da prisão era um homem sem ódio. Não
procurou seus amigos e muito menos seus inimigos. Nunca se
ouviu falar que tenha procurado reaver o que deixou entre-
gue a alguns fazendeiros. Dizia ele: "Não quero mais encrenca
com ninguém". Passou a viver humildemente em companhia
de parentes.
171
No período de sua liberdade fez uma carta ao Presi-
dente da República, Getúlio Vargas, pedindo uma indeniza-
ção pelos trabalhos prestados ao Nordeste, no soerguimento
moral da região. Getúlio Vargas mandou que ele trabalhasse
na rodovia Rio-Bahia. O capitão residia em Muriaé, e aceitou
por um curto tempo. Deixou porque o ordenado era pouco.
Voltando ao Nordeste, aqui viveu seus últimos anos,
vindo a falecer em Campina Grande, conforme se comprova
pela certidão de óbito 16.195, cuja cópia reproduzimos.
172
ANEXOS
"TEÓFANES FERRAZ TORRES»
175
Além das injecções de óleo canforado e estriquinina, An-
tónio Silvino está tomando uma porção de morfina e hidro-
lato de canella, à noite, como calmante.
O estado do doente é considerado grave pelo dr. Vieira
da Cunha Filho.
Às 11 1/2 de hoje o pulso acusava 112 pulsações.
As visitas ao criminoso foram absolutamente proibidas.
Somente quando Silvino apresentar sensíveis melho-
ras, será interrogado pelo dr. chefe de polícia em companhia
do major Santiago Ramos.
Também será interrogado o terrível Balisa, que foi com-
panheiro de António Silvino durante muito tempo e se acha
preso na casa de Detenção.
Os companheiros dos oficiais que prenderam António
Silvino cogitam de inaugurar seus retratos no gabinete do
comando da força pública desta capital, fazendo-lhes os infe-
riores grande manifestação de apreço.
* * *
Telegramas de felicitações recebidos pelo alferes
Teophanes Torres
RECIFE, 29. — Deante vosso rasgo heroísmo, felicito-
vos — Capitão Carlos Afonso.
RECIFE, 29. — Deante vossos relevantes serviços pres-
tados causa publica e ato bravura praticado combate contra
horda celerados cangaceiros infestaram sertão este Estado,
resultando prisão bandido António Silvino congratulo-me jun-
tamente oficiaes intrepidez demonstrastes campo ação que
muito nos rejubila e glorifica governo — Coronel Alfredo
Duarte.
ANEXO II
NOTÍCIA DO "CORREIO DE CAMPINAS"
Uma das últimas proezas que António Silvino prepa-
rava era certamente um assalto à fazenda e propriedade do
coronel Lauritzen, prefeito do município de Campina Grande.
Em princípios do mês passado o famoso bandoleiro
mandara pedir ao coronel Lauritzen a quantia de dois contos
de réis, não sendo, ao que parece, prontamente atendido.
Do "Correio de Campinas", órgão político desse muni-
cípio, e de propriedade do coronel Lauritzen, extraímos a se-
guinte notícia publicada em o número de 22 de Novembro
findo:
176
"António Silvino — Este destemido e audaz bando-
leiro que há mais de 10 anos vem caminhando com desassombro
na sua estrada intérmina de crimes e ladroeiras, esteve quarta-
feira da semana decorrida no povoado Focinhos, distante desta
cidade 6 léguas.
Ali chegou aproximadamente 7 horas da noite, reti-
rando-se às 12 horas, segundo informaram-nos.
Fez a sua costumeira visita de grande senhor das zo-
nas dos Carirys, encontrando da parte dos habitantes daquelle
vilarejo a melhor acolhida, atenta a circunstancia gravíssima
de nunca existir força pública nesses lugares, a fim de evitar
as encomodas visitas de um homem destituído das honrarias de
cidadão.
ANEXO III
TELEGRAMAS AO ALFERES TEÓFANES TORRES
Diário de Pernambuco
TERÇA-FEIRA, 01 DE DEZEMBRO DE 1914
Telegramas de felicitações recebidos pelo alferes
THEOPHANES TORRES
RECIFE, 29. -- Felicito-vos pelo vosso procedimento
na captura do celebre facinora António Silvino, cuja acção
criminosa fazia o terror dos Estados vizinhos de Pernambuco.
Informae acerca do procedimento do inferior, vosso auxiliar,
e das praças. — Saudações — Dantas Barreto".
FLORESTA, 29. — Parabéns —
Miguel Cyrillo.
FLORESTA, 29. -- Felicitações —
Odorico.
"7LORESTA, 29. -- Parabéns —
Saudações — sargento Alfredo.
FLORESTA, 29 — Parabéns —
Manoel Henrique.
OLINDA, 29. — Felicitações brilhante feito —
Padre Moura Lyra.
177
FLORESTA, 29. — Parabéns.
Saudações — José Januário.
RECIFE, 29. - - Apertado abraço
mil parabéns captura terrível cangaceiro Silvino — Jacyntho.
PESQUEIRA, 29. - - Abraço e felicito valorozo amigo
— Correia.
BOA VISTA, 29. - - Cumprimento amigo feliz diligên-
cia captura Silvino — Balduino.
TRIUMPHO, 29. - - Queira aceitar sincero abraço
vitória prizão bandido Silvino - - Saudações — Aprigio.
FLORESTA, 29. — Parabéns —
Leoncio, Apollonio, Joaquim Barboza.
RECIFE, 29. - - Sinceros parabéns — Elisio.
FLORESTA, 29. — Aceite bênçãos pães avô abraços
irmãs parabéns amigos - - João, Quincas, Manoel, Tiburtino,
Café.
FLORESTA, 29. — Abraça-o —
Correia Cruz.
FLORESTA, 29. — Parabéns
prisão António Silvino - - Saudações — Américo Leite|
FLORESTA, 29. — Parabéns
memorável feito. Abraço — Diniz.
FLORESTA, 29. — Parabéns
prisão António Silvino — Alfre Barros.
FLORESTA, 29. — Parabéns
prisão António Silvino — Saudações — Gominho.
VILLA BELLA, 29. — Sinceros
parabéns — Ribeiro. Elias Amaro, Corte. Innocente, Joca, Cas-
siano e Nozinho.
RECIFE, 29. - - Felicito-o pelo seu denodo, prova evi-
dente e manifesta do que é e do que merece —
Abraços -- Saudações -- Olympio Magalhães.
TRIUMPHO, 29. — Parabéns amigos regosijados ato
heróico felicitam affectuosamente — Themistocles, Piloto,
Prides, Aprigio, Tude, Ernestinho, Pompilio Malaquias, Luiz
Maria, Maria Maia, Emygdio, Alcochiades, Izaias, João Ri-
beiro, Manoel Lima, Modesto José e Manoel.
FLORESTA, 29. — Enthusiasmados enviamos felicita-
ções vietoria acontecimento estrondoso alcançado pelo nosso
patrício — Que exerça altas funções, são os nossos votos. Gló-
ria! -- Adelino, Toinho, João Maneco, Ancilou, Aristides, Mi-
guel Yôyô.
178
ANEXO IV
TEÔFANES TORRES
Teófanes Ferraz Torres, filho de Floresta, cidade en-
cravada nas margens do rio Pajeu, no alto sertão de Pernam-
buco. Na sua terra educou-se até quando ainda quase menino
e incorporou-se na polícia do Estado de Pernambuco. Não fez
curso superior. No entanto, cultivou o que aprendera nas es-
colas de sua cidade, ao ponto de ser elogiado como um bom
orador de português correto e caligrafia muito bonita. Moti-
vos pelos quais, também ajudou junto a sua bravura para as
merecidas promoções na sua carreira militar. Aos vinte anos,
já era alferes e delegado do município de Taquaritinga. Nesse
cargo coube-lhe a difícil missão de prender o famoso capitão
António Silvino, na Lagoa da Lage, perto do povoado de Olho
d'Água da Onça, pertencente ao distrito de Vertentes, que por
sua vez pertencia ao município de Taquaritinga, cujo povoado
é hoje o município de Frei Miguelinho. Enfrentou o capitão
António Silvino, dentro da caatinga com apenas cinco solda-
dos e alguns civis, prendendo o chefe do grupo e desbaratan-
do o resto dos cangaceiros. Por esse ato de bravura, merecida-
mente tornou-se um herói para o orgulho da polícia pernam-
bucana, seus parentes e conterrâneos. Anos mais tarde, por
um triz, não acabou também com Lampião, comandando ele
mesmo uma tropa, quando era chefe das forças volantes contra
os bandidos que flagelavam todo o Estado de Pernambuco,
com sede em Serra Talhada.
Quando rebentou a revolução de 1930, Teófanes Ferraz
Torres contava apenas 36 anos de idade e já ocupava o posto
de Coronel e comandava o primeiro batalhão de polícia do
Estado de Pernambuco.
Vitoriosa a revolução pelos liberais, o comandante do
quartel do Derbi reuniu todos os oficiais, para juntos levan-
tarem a bandeira branca aos vitoriosos. O coronel não con-
cordou e no momento colocou um caminhão na frente do quar-
tel e convidou voluntários para o acompanhar para lugar
indefinido. Não estava ele ainda acreditando na derrota do
governo. Com alguns? soldados, rumou para o sertão, indo se
acampar na Serra da Cangalha, município de Custódia, região
do Moxotó. Quando soube que a revolução estava definitiva-
mente consolidada, mandou os seus fiéis seguidores apresenta-
rem-se e permanecerem dentro do mato, disposto a não se
179
apresentar ao novo governo. Porém a sua esposa não mediu
esforços para encontrar o esposo, tentando normalizar a vida
do seu companheiro com o novo governo. Pensando assim, a
sua dinâmica mulher procurou o Dr. Caio de Lima Caval-
cante, irmão do Dr. Carlos de Lima Cavalcante e pediu a sua
interferência para o seu esposo se apresentar, merecendo o res-
peito de oficial que foi fiel ao seu governo até o último mo-
mento. Depois que o irmão do novo governador prometeu que
o coronel poderia se deixar prender ou se entregando recebe-
ria o tratamento de oficial de nível superior, a Dona Amélia
viajou às pressas para o sertão, sem saber onde encontrar o
esposo. Foi indagando até quando um farmacêutico em
Custódia, com um gesto no olhar, deu a entender que sabia
de alguma coisa a respeito do coronel. Particularmente infor-
mou para Dona Amélia que o seu esposo se encontrava na
Serra da Cangalha, ali mesmo no município de Custódia. Ho-
ras mais tarde o coronel foi localizado pela esposa, já muito
doente, com as roupas todas rasgadas pelos garranchos e espi-
nhos. Na sua túnica existia, apenas um botão e estava muito
edemaciado. A sua esposa voltou com ele para o Recife, indo
residir numa casa muito humilde perto de uma vacaria no
Cordeiro, concedida por um seu amigo, até a noite que a polí-
cia foi prendê-lo.
ANEXO VI
CERTIDÃO DE ÓBITO DE ANTÓNIO SILVINO
REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL
ESTADO DA PARAÍBA SEDETDA COMARCA
Município de Campina Grande
1°. CARTÓRIO — Avenida Floriano Peixoto
REGISTRO DE ÓBITO
Severino Cavalcanti Júnior Hélio Cavalcante Albuquerque
Escrivão do Registro Civil Escrivão Substituto
ANEXO VII
182
Filiação:
Manoel Possidônio de Moura
Josefa Maria de Jesus
Residência:
183
Atividade Política e Social.
184
ÍNDICE
Págs
Prefacio ...................................................................... .......................... 7
Agradecimentos..................................................................... ................. 11
Esclarecimentos....................................................................................... 18
PRIMEIRA PARTE — O MUNICÍPIO DE FREI MIGUELINHO
Capítulo l
Localização ............................................................................................. 17
Limites .................................................................................................... 17
Topografia ............................................................................................ .. 18
Vegetação................................................................................................ 18
Fazendas ................................................................................................. 24
Fauna ..................................................................................................... 25
Fontes ..................................................................................................... 26
Estradas ....................................................................................................... 26
Capítulo H
Família Moura ............................................................................................ 29
Família Alexandre ...................................................................................... 34
Família Hipólito de Medeiros.................................................................... 38
António Bezerra de Barros ...................................................................... 42
António Francisco da Silva ...................................................................... 43
Joaquim Pedro Ferreira ............................................................................. 43
Manoel Clementino Gonçalves de Lima ............. ................................... 43
Manoel Sardote de Souza ........................................................................ 44
Capítulo III
Lagoa de João Carlos ........................................................................... 47
Primeiros habitantes ............................................................................. 47
Famílias influentes do povoado ........................................................... 48
Valdemar Lima (antiga Topada) ....................................................... 55
Famílias influentes ................................................................................ 57
O Tenente morto de emboscada .......................................................... 57
Algodão do Manso ................................................................................. 59
Chã Grande ou Chã do Carmo .......................................................... 81
Famílias tradicionais.............................................................................. 63
Venturosa — Placas .............................................................................. 66
Famílias ilustres..................................................................................... 67
Capivara ................................................................................................. 68
Filhos do fundador Manoel Baé .......................................................... 68
Atrações do povoado ................................................... ........................... 71
Capítulo IV
Os primeiros povoadores ........................................................................ 73
A primeira missa ................................................................................... 74
O primeiro tabelião e as lutas pela sede do município........................ 75
Tornou-se município .............................................................................. 76
Primeiro Prefeito . . . . ......................................................................... 76
A primeira Câmara ............................................................................. 76
Ata de instalação da Prefeitura Municipal da cidade de Frei Mi-
guelinho, no Estado de Pernambuco .......................................... 77
Primeira conclusão da escola São José, ensino de l', e 2'. graus ------ 83
Segunda conclusão .. ............................................................................ 84
Terceira conclusão .................................................................................. 85
Quarta conclusão .................................................................................. 86
Primeira formatura da escola São José, ensino de l 9 , e 2"?. graus .. 86
Luiz Gonsaga de Andrade Vasconcelos ................................................. 87
Capítulo V
Novenas .................................................................................................. 89
Manifestações populares......................................................................... 89
B anda de pif anos— . . . . . . . . ....................................................... 90
Mamulengo............ ................................................................................ 90
Pastoril ............... ................................................................................ 90
Violeiros.................................................................................................. 91
Festa Junina . . . . ; ........................................................................................................................... 91
Vaquejada .. .... ............................................................................... 92
Gonçalo e o eclipse ................................................................................ 92
O avião ................................................................................................... 94
Morotó o fura mundo ........................................................................... 96
Coração de vaqueiro .............................................................................. 99
A confissão ............................................................................................. 109
Família do senhor e senhora Herácllo ................................................. 111
SEGUNDA PARTE — O FRADE Capítulo VI
Capitulo VII
Declarações de um sobrinho de António Silvino................................. 133
Os motivos que levaram António Silvino a tornar-se o chefe dos
Cangaceiros..................................................................................... 133
Capitulo VIU
Capitulo IX
ANEXOS
próximos lançamentos:
12 — MACAPARANA CENTENÁRIA
Geraldo Batista dos Santos
governo do estado
secretaria de planejamento