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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS JURÍDICAS

A INCLUSÃO SOCIAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA


ATRAVÉS DO DIREITO HUMANO À EDUCAÇÃO

Celmira Alfredo Barros

João Pessoa-PB
2014
CELMIRA ALFREDO BARROS

A INCLUSÃO SOCIAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA


ATRAVÉS DO DIREITO HUMANO À EDUCAÇÃO

Dissertação de Mestrado apresentada como


requisito parcial para obtenção de Grau de
Mestre em Ciências Jurídicas, na área de
concentração de Direitos Humanos, no
Programa de Pós-Graduação de Ciências
Jurídicas da Universidade Federal da Paraíba.

Orientadora:
Profa. Dra. Maria Aurea Baroni Cecato

João Pessoa-PB
2014
B277i Barros, Celmira Alfredo.
A inclusão social da pessoa com deficiência através do
direito humano à educação / Celmira Alfredo Barros.-- João
Pessoa, 2014.
191f.
Orientadora: Maria Aurea Baroni Cecato
Dissertação (Mestrado) - UFPB/CCJ
1. Direitos humanos. 2. Educação inclusiva - pessoas com
deficiência. 3. Direito à educação. 4. Princípio da igualdade.
5.Inclusão e integração.

UFPB/BC CDU: 342.7(043)


CELMIRA ALFREDO BARROS

A INCLUSÃO SOCIAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA


ATRAVÉS DO DIREITO HUMANO À EDUCAÇÃO

João Pessoa, 07 de abril de 2014

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________
Profa. Dra. Maria Áurea Baroni Cecato
Orientadora

______________________________________
Profa. Dra. Maria de Nazaré Tavares Zenaide
Membro Interno/UFPB

_____________________________________
Profa. Dra. Hertha Urquiza Baracho
Membro Externo/UNIPÊ
A Minha avó (in memoriam) Madalena
Nicolau Manuel, pelo amor de mãe e pai, pela
educação, por ter me tornado na mulher que
hoje sou por ter me deixado a maior riqueza
que é a palavra de Deus.
Aminha mãe (in memoriam) Teresa Desejada
Augusto Alfredo, cuja vida arrancou cedo não
nos dando oportunidade denos conhecermos.
Obrigada mamã pelo teu amor incondicional.
Ao meu tio (in memoriam) Domingos Augusto
Alfredo (Tio Isaias), por ter sido, para mim,
um pai, amigo, conselheiro. Tenho-te presente
e por isso vou prosseguir. Nga sakidila.
A todas as pessoas com deficiência que lutam
e aspiram por um amanhã melhor na defesa,
promoção e proteção dos seus direitos. Eu
acredito nesta causa, juntos somos mais fortes.
AGRADECIMENTOS

Tudo o que hoje sou e tenho não teria conseguido jamais se não fosse a mão de Deus.
Não sou nada sem Teu amor,Tua luz, por isso minha primeira palavra de agradecimento é
toda a Ele, pelo amor incondicional, pela grandeza da Sua força, por me ter permitido chegar
até aquisou muito grata.

Aos meus tios e tias, Nicolau Alfredo e António Alfredo, Joana Baptista, Ana Maria
Diniz. Leopoldina Diniz, pelo amor, educação e carinho de pai que sempre me doaram, não
medindo esforços para que o essencial não me faltasse.

Aos meus irmãos e primos, vocês me dão força para continuar.

Ao carinho especial da minha mana Katiavana Fernandes e Madalena Andrade, muito


obrigada, primas, suas mensagensde conforto, as conversas no chat, pondo-me apar de tudo,
seguramente permitiram que aqui chegasse.

A Fundação Open Society, todos os trabalhadores e colaboradores afetos,


particularmente ao Sr. Elias Isaac, a Sizaltina Cutaya, a Catila Pinto de Andrade, a Neusa, e a
todos quetornaram possível esta parceria com a UFPB- PPGCCJ, o meu muito obrigado.

Aos meus Professores da Universidade Metodista de Angola, em particular a


Professora Mihaela Webba e a Esteves Hilário, (meus pais na academia) não encontro
palavras para expressar o que sinto, tão pouco para qualificar o que fizeram por mim, espero
não defraudar a confiança que em mim depositaram. Muito, muito obrigada.

A minha orientadora, Professora Doutora Maria Aurea Baroni Cecato, não encontro
palavras para descrever o quão bom tem sido para mim, o quanto tenho aprendido com sua
orientação, que denomino de excelente. Muito obrigada pelo carinho, força e pelo
acolhimento de mãe que me proporcionou, porque me senti filha. Não Poderia estar em
melhor mãos.

Aos professores do programa de Mestrado Maria Luísa Feitosa, Nazaré Zenaide,


Renata Rolim, Fredys Sorto, Luciano Maia, Lorena Freitas, Enoque Feitosa, Gustavo Rabay.
Ao professor António da Cruz, do curso de Língua Portuguesa e Comunicação da
Universidade Metodista de Angola. Ao Isaac Paxe, que incansavelmente envia-me jornais de
modo que tivesse atualizada sobre o nosso belo país.

Aos colegas de Mestrado que juntos começamos trilhando os marcos e meandros da


academia, Emiliana Nangacovie, Florita Cuhanga, António Ventura, Claudio Tchivela,
Roberto Francisco, Domingos de Morais. O meu apreço aos colegas, Larissa Teixeira de
Menezes (irmã de orientação), Fernanda Queiroga, Ana Laura, Priscila Seixas, João Adolfo,
Iarley Pereira, Raissa Lustosa, Rui Seamba, Andrezza Nogueira e Victor Ventura.

As minhas amigas Lídia Tandela, de fato és para mim a irmã que pedi a Deus, muito
obrigada pelo teu amor, afeição, conselhos de ouro. A Micaela Mangunda, que direi não
encontro palavras, espero encontrar maior e melhor do que esta muito obrigada, por todo
apoio emocional, serei eternamente grata.

A Madalena Carlos, pela companhia amizade que me prestou em solo brasileiro e não
só. A Neide, Stela Liahuca a São muito grata pelo apoio, seguramente vocês contribuíram
para o resultado final deste trabalho.

Ao Orlando da Cruz, mano, obrigada pelas conversas longas no Skype e por me


atualizar sempre sobre a nossa casa de oração, Igreja Metodista Unida de Bethel. Ao Lwitu
Cabange, mano, obrigada pela amizade, a minha OJA, as vossas orações tem me fortalecido
foi graças a elas que cheguei até aqui, Nga sakidila, a minha classe de Elias, ao coro Central
de Bethel. Ao Reverendo Adriano Kilende, pela força e encorajamento, “tua pandula” .Aos
irmãos daIgreja Metodista do Bessa em João Pessoa, minha família em Cristo nosolo
brasileiro, particularmente a Patrícia Monteiro, Luís Mendes, JoséliaOlímpio, Evanise
Queiroga, Mariana Borba e Carlos Henrique, muito obrigada, pelo amor, e por me fazerem
sentir em casa.

Aos meus colegas da Universidade Metodista de Angola (UMA), Higildo Capilla (in
memória), Pedro Kinanga, Manuel Direito, Olga Campos, Liliana da Silva, Delvina Manuel,
Elisa Lukeny, Margarida Jorge, Tania Leite, Iorma Isabel, Manuela da Silva, Mateus
Magalhães, Paulo Sebastião, Gentiliano Manuel, Castro António, Dinis Brok, Miguel
Agostinho,Elsa Feliciana, Esperança Domingos,Edson Neto, Patrício Vemba, muito obrigada
por tudo, tenho-lhes como irmãos e companheiros de luta.
A Liga de Apoio à Pessoa com Deficiência (LARDEF), na pessoa da sua diretora Sra.
Carla Luís, Ivo Tonet, a Sra. Idalina Bota. A AANCA (Associação Nacional de Cegos e
Amblíopes) particularmente o seu presidente, Venceslau Muginga, Ana Sebastião, e Sr.
Ribeiro. Nossos agradecimentos são extensivos também ao Instituto Nacional para Educação
Especial, na pessoa da Dra. Benvinda Ndahalemona, a direção da escola Óscar Ribas,
fundamentalmente a sua diretora Marisa, e de um modo muito especial aos alunos que,
tiraram uns minutos para encontrar as possíveis respostas. A direção da escola especial de
Luanda e a todas as pessoas que de forma direta ou indiretamente contribuíram para que
pudéssemos apresentar este trabalho. O nosso muito obrigada.
“Um homem que sabe ler e escrever é como uma lâmpada acessa, ilumina o caminho do
progresso” - Martin Luther King.
RESUMO

Angola mergulhou durante cerca de vinte e sete anos numa instabilidade político-militar cujo
término se deu com a assinatura do Memorando da Paz, em 04 de Abril de 2002. Por conta
do conflito muitas infraestruturas foram destruídas, inclusive escolas, permitindo que muitas
crianças e adultos ficassem fora do sistema de ensino. Porém, passaram-se doze anos desde o
alcance da paz, mas a garantia e efetivação por parte do Estado angolano dos Direitos
Econômicos Sociais e Culturais (DESC), mormente o direito à educação, protelado na
Constituição de 2010, continuam sendo um dilema para a sociedade angolana, contribuindo
para o atraso do desenvolvimento que se pretende, uma vez que não podemos falar em
desenvolvimento sem mencionar que, para a sua concretude, é necessário que as pessoas
estudem, quer esta seja educação formal ou técnico profissional. O direito à educação em
Angola, no que tange a acessibilidade, passou a constituir o calcanhar de Aquiles para as
pessoas não deficientes, que se dirá então das pessoas com deficiência, que,apesar de o
constituinte angolano ter consagrado norma específica, a violação e os problemas decorrentes
da acessibilidade ao ensino para as pessoas com deficiência são cada vez maiores, na medida
em que têm direito à educação, mas preferencialmente em escola especial. O direito a um
ensino inclusivo, como afirmação social da pessoa com deficiência, é que pretendemos
dissertar, partindo da premissa de que a deficiência nãoé um empecilho, mas a estruturação da
sociedade contribui em larga medida para exclusão nos diferentes espaços sociais. Neste
Estado que sefunda na dignidade da pessoa humana, justiça e igualdade.

Palavras-chave: Pessoas com deficiência; Educação inclusiva; Dignidade da pessoa humana;


Direito à educação; Princípio da Igualdade; Inclusão e integração.
RESUMEM

Angola sumergió durante casi veintisiete años en una inestabilidad político-militar cuyo
término se dio con la firma del Memorando de la Paz, el 04 de abril de 2002. A causa del
conflicto, se destruyeron muchas infraestructuras, incluso escuelas, permitiendo que muchos
niños y adultos se quedaran fuera del sistema de enseñanza. Sin embargo, doce años se
pasaron tras el alcance de la paz, pero la garantía y la efectividad por parte del Estado
angoleño de los Derechos Económicos Sociales y Culturales (DESC), sobre todo el derecho a
la educación, de la Constitución de 2010, siguen siendo un dilema para la sociedad angoleña,
contribuyendo para el retraso del desarrollo que se pretende, ya que no podemos hablar en
desarrollo sin mencionar que, para su concreción, se hace necesario que las personas estudien,
sea esta educación formal o técnico profesional. El derecho a la educación en Angola, en
cuanto a accesibilidad, pasó a constituir el Talón de Aquiles para las personas no deficientes,
¿qué se dirá entonces de los deficientes?, los que pese al constituyente angoleño haber
consagrado norma específica, la violación y los problemas derivados de la accesibilidad a la
enseñanza para las personas con deficiencia son cada vez más grandes, desde que tenga
derecho a la educación, pero preferentemente en escuela especial. Sobre el derecho a una
enseñanza inclusiva, como afirmación social de la persona con deficiencia, es que
pretendemos disertar, partiendo de la premisa de que la deficiencia no es un obstáculo, pero la
estructuración de la sociedad mucho contribuye para la exclusión en los diferentes espacios
sociales. En este Estado que se funda en la dignidad de la persona humana, justicia e igualdad.

Palabras clave: Personas con deficiencias; Educación Inclusiva; Dignidad de la persona


humana; Derecho a la educación; Principio de Igualdad; Inclusión e integración.
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AANCA Associação Nacional dos Cegos e Amblíopes

CADHP Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos

CEIC Centro de Estudos e Investigação Científica

CSDPCD Convenção Sobre os Direitos das Pessoas Com Deficiência

CRA Constituição da República de Angola

DECS Declaração de Salamanca

DESC Direitos Econômicos Sociais e Culturais

DSDD Declaração Sobre o Direito ao Desenvolvimento

DUDH Declaração Universal dos Direitos Humanos

EMEE Estatuto de Modalidade da Educação Especial

EUA Estados Unidos da América

FNLA Frente Nacional de Libertação de Angola

INIDE Instituto Nacional de Investigação e Desenvolvimento da Educação

INEE Instituto Nacional Para Educação Especial

IMNE Instituto Médio Normal de Educação

LARDEF Liga de Apoio à Integração dos Deficientes

ME Ministério da Educação (Angola)

MPLA Movimento do Popular de Libertação de Angola

OGE Orçamento Geral do Estado

ODM Objetivos do Desenvolvimento do Milénio

ONU Organização das Nações Unidas

ONG Organização Não Governamental


OUA Organização de Unidade Africana

PIDESC Pacto Internacional Sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

RPA República Popular de Angola

UA União Africana

UNITA União Nacional para Independência Total de Angola

URSS União das Repúblicas Socialistas Soviética.


LISTA DE QUADROS

Quadro I - Tratados internacionais sobre direitos humanos da pessoa com


deficiência............................................................................................. 45
Quadro II - Diferenças entre ensino público e privado............................................ 52
Quadro III - Os Objetivos do Milênio (ODM).......................................................... 59
Quadro IV - Questões inerentes aos paradigmas especial e inclusivo...................... 71
Quadro V - Instrumentos jurídicos referentes aos direitos sociais........................... 85
Quadro VI - Escolas especiais existentes no país...................................................... 101
Quadro VII - Orçamento Geral do Estado.................................................................. 108
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 18
2 DIREITOS HUMANOS E SEU CONTEÚDO NORMATIVO NOS
DIFERENTES DOCUMENTOS INTERNACIONAIS............................... 22
2.1 A CARTA AFRICANA E A PESSOA COM DEFICIÊNCIA......................... 24
2.2 DECLARAÇÃO DE SALAMANCA DE 1994, SOBRE PRINCÍPIOS DE
NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS............................................... 28
2.3 A DECLARAÇÃO DA ONU DE 1986 SOBRE O DIREITO AO
DESENVOLVIMENTO.................................................................................... 34
2.4 A CONVENÇÃO DA ONU DE 2006 SOBRE O DIREITO DAS PESSOAS
COM DEFICIÊNCIA SUA RELEVÂNCIA JURÍDICA................................. 41
3 DIREITO HUMANO A EDUCAÇÃO: O PARADIGMA INCLUSIVO... 49
3.1 DIREITO A EDUCAÇÃO PARA TODOS...................................................... 49
3.2 DO DIREITO À EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INCLUSIVA:
DEFINIÇÕES E PERSPECTIVAS................................................................... 53
3.3 O DIREITO A EDUCAÇÃO INCLUSIVA COMO A AFIRMAÇÃO DOS
PRINCÍPIOS DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DA
IGUALDADE.................................................................................................... 62
4 DIREITO À EDUCAÇÃO INCLUSIVA DAS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA NO ORDENAMENTO JURÍDICO ANGOLANO........... 75
4.1 AS CONSTITUIÇÕES ANGOLANAS DE 1992 E 2010 E A LEI DE BASE
DO SISTEMA DE EDUCAÇÃO: AVANÇOS E RETROCESSOS
QUANTO À PROTEÇÃO DOS DIREITOS DA PESSOA COM
DEFICIÊNCIA.................................................................................................. 76
4.2 INSTRUMENTOS JURÍDICOS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS
SOCIAIS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA................................................. 84
4.3 A LEI DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA...................................................... 86
4.4 DEMOCRATIZAÇÃO E UNIVERSALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO DA
PESSOA COM DEFICIÊNCIA........................................................................ 88
4.5 DIREITO À EDUCAÇÃO INCLUSIVA EM ANGOLA: UM ESTUDO
COMPARATIVO À LUZ DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988.... 92
5 O ESTADO ANGOLANO E A EFETIVAÇÃO DO DIREITO À
EDUCAÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA...................................... 95
5.1 ANGOLA: ASPECTOS GEOGRÁFICOS, HISTÓRICOS, POLÍTICOS E
CULTURAIS..................................................................................................... 96
5.2 O ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO DE 2007 A 2012............................ 100
5.3 DIREITO À EDUCAÇÃO: DA FORMULAÇÃO A SUA REAL
EFETIVAÇÃO.................................................................................................. 103
5.4 EDUCAÇÃO ESPECIAL- EDUCAÇÃO INCLUSIVA.................................. 106
5.5 UM OLHAR CRÍTICO SOBRE A EFETIVAÇÃO DA EDUCAÇÃO DA
PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO ESTADO ANGOLANO......................... 110
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................... 119
REFERÊNCIAS............................................................................................... 123
ANEXOS........................................................................................................... 131
QUESTIONÁRIOS.......................................................................................... 132
CASOS REAIS DE PESSOAS QUE VENCERAM A DEFICIÊNCIA...... 135
LEI DE BASE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA..................................... 141
“Esperamos um dia que a escola seja só escola, nem especial integradora ou inclusiva.
Seja escola e ponto- dispensando adjetivos, somando qualidade e diversidade a um
universo de saberes, multiplicando a tolerância e dividindo com todos a experiência de
ser como é”. Claudia Werneck.
18

1 INTRODUÇÃO

O direito à educação é considerado fundamental, decorrente da Declaração Universal


dos Direitos Humanos de 1948 (DUDH), elencado no art. 26: “o direito de todos à instrução”.
A DUDH foi o trampolim para que os demais tratados de direito internacional viessem a
enunciar o direito à educação, bem como o surgimento de outros tratados, atentos
relativamente a este direito social. Nas constituições modernas é notório também a
consagração deste direito como um direito humano fundamental, e Angola não esta
indiferente no que toca este aspecto.
O direito à educação é um direito social, faz parte da 2ª dimensão de direitos e, para
sua efetividade, carecem de legislação infraconstitucional, ou seja, os programas não se
efetivam sem um ato legislativo e mediante uma política pública orçamentária. Ora, bem
passados 27 anos de conflito, o país começa a emergir dos escombros e a dar os primeiros
passos rumo ao tão sonhado desenvolvimento e, a questão que não se quer calar, por onde
começar? Certamente que a resposta não seria outra senão reconstruindo as infraestruturas, ou
seja, escolas com a finalidade de dotar as pessoas de qualificações aptas para contribuírem na
edificação de uma nova Angola, livre de quaisquer impedimentos.
O direito à educação é um direito fundamental constitucionalmente consagrado cujo
acesso deverá pautar-se no princípio da universalidade e da dignidade da pessoa humana. É
um direito de todos e para todos, sendo dever do Estado, em primeira instância, que seja
efetivado, pautado em princípio democrático.
Com o fim do conflito, que ceifou milhares de vidas, os sobreviventes nas zonas onde
houve maior fogo cruzado tiveram sequelas deixadas pelas minas terrestres ou estilhaços de
outro tipo de arma. A guerra é apontada como um dos fatores que contribui fortemente para
que haja no país um número elevado de pessoas com deficiência, mas queremos ressaltar que
as enfermidades como a poliomielite, que ainda não está erradicada, e a meningite, bem como
a falta de uma rede sanitária eficaz, contribui para o aumento de pessoas com deficiência no
país.
Segundo dados oferecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), apontam que
10% da população mundial possui alguma deficiência. A população angolana tem um total de
18.000.000,00 (dezoito milhões de habitantes), num cálculo aproximado, o país deverá ter
1.800.000,00 (um milhão e oitocentas pessoas) com os diversos tipos de deficiência, em
19

termos percentuais daria a 20% da população angolana. (INSTITUTO NACIONAL PARA


EDUCAÇÃO ESPECIAL, 2008, p.28).
A questão da deficiência, sempre foi vista como doença (desde os tempos mais
remotos), por conta disto estas tinha de esconder-se da sociedade. Tal facto viria alterar com o
cristianismo, que considerou que todos são iguais.
Nestes termos, afastado o modelo médico de deficiência, com a preocupação da
Organização das Nações Unidas (ONU) em discutir a respeito dos direitos das minorias onde
também se enquadram as pessoas com deficiência, surge a convenção da ONU das pessoas
com deficiência em 2006, cuja novidade resulta da definição ainda em construção do que se
deve entender por pessoas com deficiência e da reafirmação do direito a educação inclusiva.
Angola aderiu à Convenção em 20 de novembro de 2012, seis anos depois da criação
e, quatro após sua entrada em vigor, também aderiu à convenção de 1990 sobre educação para
todos e, igualmente, à declaração de Salamanca sobre necessidades educativas especiais.
Em 27 de junho de 2012 aprovou a lei da pessoa com deficiência e a criou o Conselho
Nacional da Pessoa com Deficiência pelo Decreto Presidencial nº105/ 12, o estatuto da
Modalidade de Educação Especial, nº20/11. Até o presente, há uma vontade política em
elaborar documentos visados a garantir direitos à pessoa com deficiência, porém sua
efetivação é matéria que também merecerá tratamento ao longo deste estudo.
O acesso à educação formal em Angola é um dilema para as pessoas não deficientes
devido à corrupção, que ainda é muito forte no setor, porquanto o número de escolas não
satisfaz a demanda. Em face desse cenário imaginemos, então, a dificuldade que apessoa com
deficiência encontra, entre outros problemas sociais, como falta de meios para se locomover
porque a cidade não esta preparada para elas (inexiste mobilidade urbana). Posto isso, impõe
pensar em uma sociedade que inclua todos, pois “pensar numa sociedade melhor para as
pessoas com deficiência é também pensar em uma sociedade melhor para todos” (RIBAS,
2003, p. 98).
A convenção da ONU cuidou em trazer uma definição ao conceito de pessoa com
deficiência que está em construção, porém, por ora, “Pessoas com deficiência são aquelas que
padecem de uma diminuição permanente da capacidade física, mental, intelectual ou sensorial
que, diante de vários tipos de barreira, pode impedir uma plena e efetiva participação na
sociedade, em base de igualdade com os demais”.
Nosso questionamento em torno da presente pesquisaé que entre educação e
desenvolvimento há uma intrínseca relação, na medida em que é imprescindível falar de um
sem associar o outro, e todo e qualquer Estado que pretende conhecer certo nível de
20

desenvolvimento precisa e deve apostar no maior recurso de sempre, que é o recurso humano,
de outro jeito não há desenvolvimento quiçá crescimento. Segundo Hanna Arendt, a “essência
dos direitos humanos é o direito a ter direitos”. Assim, uma questão levantamos: como a
pessoa com deficiência poderá lutar pelos seus direitos se sequer disponibilizam recursos para
conhecê-los e verificar se tais estão a ser protelados ou não? A inacessibilidade ao ensino
contribui como um fator de exclusão social da pessoa com deficiência, o que estaria na base
disso e consequente garantia do direito humano a educação? A não inclusão da pessoa com
deficiência no ensino geral contribui como um fator de exclusão nos diversos espaços sociais?
Nossas hipóteses apontam que o fato de não estarem em classes inclusivas aumenta o
estigma e convida para estar distante dos diferentes espaços sociais. O desconhecimento das
leis por falta de informação e formação,a ausência de fiscalização e materialização das leis
que visam à proteção, promoção e defesa dos direitos das pessoas com deficiência contribuem
para violação dos seus direitos.
Propusemo-nos a pesquisar sobre o presente tema porque verificamos que na
sociedade angolana – quanto à proteção e efetivação dos direitos da pessoa com deficiência –
tanto o Estado (na pessoa dos seus agentes) quanto à sociedade em geral refere-se àpessoa
com deficiência como mendiga, ou seja, incapaz de realizar esta ou aquela outra tarefa. Temos
visto um total descumprimento dos direitos humanos à pessoa com deficiência, não há
respeito à sua dignidade humana,é tratada como coisa, contrastando com este princípio tido
como basilar de toda ordem constitucional angolana (HILÁRIO, 2013, p. 180).
Nesta perspectiva, tendo em atenção que o direito não seria suficiente para responder
nosso problema, pretendemos abordar aspectos de ordem social e políticos numa perspectiva
crítica, descritiva e exploratória. Assim estabelecemos um elemento temporal de 2007 até o
presente para verificar, analisar as ações levadas a cabo pelo Instituto Nacional para Educação
Especial (INEE), que medidas estão a ser tomadas com o intuito de efetivar o direito à
educação da pessoa com deficiência.
Para tanto, no primeiro capítulo trouxemos quatro documentos internacionais
eprocuramos estabelecer a relação existente entre os mesmos e a temática a que nos
propusemos, bem como a sua relevância no ordenamento jurídico angolano, seus avanços
quanto à proteção dos direitos desta minoria.
No segundo capítulo trazemos o trajeto do direito à educação do Estado Socialista ao
Estado democrático e de direitoem que, no primeiro, a educação era da responsabilidade
exclusiva do Estado ao passo que o último, em face das novas transformações políticas
econômicas, deu lugar às instituições de ensino privado, pois a educação virou fonte de
21

rendimento. Procurar-se-á saber que atenção merece por parte do administrador da “res
publica”, o direito à educação inclusiva para pessoa com deficiência, considerando que
deficiência e pobreza estão sempre associadas e num cenário em que primeiro vem o lucro
esta não teria acolhimento. Impõe-se também fazer um contraponto com o princípio basilar do
constitucionalismo contemporâneo, a dignidade da pessoa humana, como fator a ter atinente
na questão da inclusão educacional.
No terceiro capítulo far-se-á um estudo, não muito exaustivo, mais numa perspectiva
histórica, do constitucionalismo angolano, seus “avanços e retrocessos”. Analisa-se também a
universalização da educação para pessoa com deficiência.O fato de o Brasil ter adotado a
convenção da ONU e dado a esta um tratamento equiparado à Constituição, entendemos fazer
a partir da Constituição de 1988 um estudo comparativo com o angolano.
Por derradeiro, destina-se a pesquisa de campo qualitativa, pelo seu caráter
exploratório, com a finalidade de compreender os quatro pressupostos enunciados por
Katarina Tomaveski: disponibilidade, aceitabilidade, acessibilidade e adaptabilidade, no que
toca ao número de escolas especiais em detrimento de inclusivas. Pela elaboração de
questionários e entrevistas a pessoas afetas ao INEE (Instituto Nacional para Educação
Especial), associações ligadas à pessoa com deficiência, pessoas com deficiência e não
deficientes.
O que a prática demonstra é que o texto constitucional angolano enuncia um direito a
educação especial para pessoa com deficiência, repare que o constituinte de 2010 reafirma
que “o Estado fomenta e apoia o ensino especial”, mas, em momento algum, se refere ao
direito à educação na perspectiva da inclusão. A Constituição, a nosso ver, não se despiu da
visão assistencialista, paternalista e da coisificação da pessoa com deficiência. Pretende-se
com isso analisar as ações do Governo a propósito da temática.
Nosso trabalho cingir-se-á também à análise de documentos oficiais, relatórios do
Estado e de Organizações Não Governamentais (ONG), que no país dedicam-seà proteção,
promoção e defesa dos direitos da pessoa com deficiência.
22

2 DIREITOS HUMANOS E SEU CONTEÚDO NORMATIVO NOS DIFERENTES


DOCUMENTOS INTERNACIONAIS

A discussão em torno dos direitos humanos intensifica-se no século XX, com o


surgimento da ONU, em 1945, e consequente Declaração Universal dos Direitos Humanos
(DUDH), adotada em 10 de dezembro de 1948,com o objetivo de “manter a paz, a segurança
e a cooperação entre as nações” e evitar atrocidades idênticas às que ocorreram no final da
Segunda Guerra Mundial. A DUDH foi o marco essencial para os diferentes tratados que a
posteriori vêm surgir um pouco por todo mundo, todos eles cada vez mais preocupados em
garantir direitos das minorias, em salvaguardar o princípio fundamental dos princípios,
diríamos, a dignidade da pessoa humana. O discurso disposto na declaração começou
inicialmente com objetivo de evitar o abalo da paz mundial, mas urgiu a necessidade de outras
causas, como discriminação, opressão, uma vez que o continente africano ainda estava sob
domínio europeu, a luta por igualdade entre todose a dignidade da pessoa humana em defesa
dos seus direitos civis e políticos1. Porém, nem tudo foi o que se esperava, na medida em que,
com a aprovação da DUDH, veio também toda uma discussão em como deveriam ser
entendidos estes direitos:Serão universais? Como assim, em meio a tanta diversidade cultural?
Universalismo e Relativismo uma temática muito discutida entre doutrinadores. Por um lado,
os que compreendem a perspectiva universal dos direitos humanos entendem que tais direitos
serão aplicáveis a todos, independentemente da cultura, raça, sexo ou mesmo regime político
adotado, como bem pontua Flávia Piovesan (2013, p.210). Por outro lado, os relativistas
sustentam que os direitos humanos devem ser aplicados em respeito à diversidade cultural
existente no mundo (MADRUGA, 2013, p. 94). Quanto a nós, entendemos a perspectiva
relativista como fundamental para comunhão mundial, sem descurar o universalismo.
Vale lembrar que a dignidade da pessoa humana, consagrada na DUDH, se tornou
hoje o princípio fundamental do constitucionalismo moderno, de modo que se torna quase
impossível visualizar um texto que não a disponha como princípio norteador de toda a ordem
constitucional. Outra questão prende-se com as consequentes invasões, em nome da

1
Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/sobre/cidadania/direitos-do-cidadao/declaracao-universal-dos-
direitos-humanos>
23

democracia e dos direitos humanos, cometidos pelas grandes potências2 com uso da força:
quanto tempo sobreviverá tal discurso em meio a tanta distorção dos direitos humanos?
(PIOVESAN, 2013, p. 221).
A DUDH foi o marcopara o surgimento de outros documentos tanto a nível
internacional como regionais. Ostratados são acordos entre Estados, com a finalidade de estes
virem a produzir efeitos jurídicos em sua ordem interna. Para o efeito no presente capítulo
pretendemos trazer à liça a essência desses documentos, bem como o posicionamento de
Angola em face da adesão e promoção proteção dos mesmos na sua ordem jurídica. Assim,
trouxemos quatro documentos internacionais com a finalidade de focar a salvaguarda dos
direitos das pessoas com deficiência.
Para tanto, começamos nosso estudo com a carta africana, documento regional do
continente africano, em que procuramos sob o método descritivo e explicativo, verificar suas
nuances quanto ao direito à educação e culminando em uma análise da nossa temática. Em
seguida, impõe-se trazer à liça aquele que ficou conhecido como marco da educação
inclusiva, a Declaração de Salamanca,que impôs um novo paradigma do direito à educação da
pessoa com deficiência, pois até então sóse ouvia falar em educação especial, um ensino
segregado, e ela trouxe a necessidade de incluir e reformular os currículos para que a pessoa
com deficiência pudesse satisfazer seu direito em escola regular. Porém, os questionamentos
começaram: como assim, inclusão? Será isso possível? Pretendemos responder com a
declaração de Salamanca, seus avanços em torno desta discussão.
Outro documento que gostaríamos de abordar é a Convenção da ONU sobre o direito
ao desenvolvimento, uma vez que o compreendemos ser um componente do direito à
educação. Assim, urge a necessidade de fazer essa abordagem, importante para a nossa
temática.Oúltimo, e não menos importante,que queremos permear, refere-se àConvenção da
ONU das Pessoas com Deficiência, o único até aqui elaborado pela ONU, de curta duração,
pela necessidade em aprovar um documento que só se refira a pessoa com deficiência, esta
convenção foi inovadora em muitos aspectos, desde a definição de pessoa com deficiência,
bem como a forma de tratamento, pondo cobro à celeuma até então existente,se deve dizer
“pessoa portadora de deficiência” ou pessoa com deficiência. Assim, em síntese, é o que
pretendemostrazer neste primeiro capítulo.

2
Para variar, EUA invadiram o Iraque, em março de 2003, e a Líbia, em 2001.Em nome da democracia e dos
direitos humanos, matam, ou seja, cometem todo tipo de atrocidades, pelo tão aclamado Estado democrático e
de direito e dos direitos humanos. Direitos humanos, quo vadis?
24

2.1 A CARTA AFRICANA E A PESSOA COM DEFICIÊNCIA

O ano de 1960 foi marcado, em África, pelo processo de descolonização. Os africanos


conquistaram sua autonomia e viriam, então, em 25 de maio de 19633, a fundar a Organização
de Unidade Africana (OUA), uma organização regional com vista a pôr fim à ingerência
externa e à ocupação colonial no continente. A OUA tinha como princípios norteadores o
seguinte: promoção da unidade e da solidariedade entre os Estados africanos; o respeito à
soberania de cada Estado, mantendo intocáveis as fronteiras conquistadas do colonialismo
com o objetivo deevitar um desmembramento do continente; promoção do desenvolvimento
econômico e social, bem como a extinção total do colonialismo em África ou qualquer outra
forma de dominação. Com isso, era imperiosa a elaboração de um documento vinculativo –
doravante denominada Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (CADHP) – para
promover a unidade dos Estados africanos.
A CADHP, também conhecida como Carta de Banjul4, em observância ao disposto no
artigo 63,entrou em vigor a 21 de outubro de 1986. Inspirada nos ideais da DUDH e de outros
documentos regionais, trouxe uma dimensão cultural, pois, para o africano, não era tão
somente o documento que viria estabelecer normas de proteção regional de direitos humanos,
a questão era que tais direitos não entrassem em colisão com os aspectos específicos da sua
cultura. Nessa conformidade, vimos, por um lado, a enunciação de direitos do homem e, por
outro, de direitos dos povos. As tradições históricas e os valores da civilização africana
influenciaram os Estados autores da Carta, a qual traduz, pelo menos no plano dos princípios,
uma especificidade africana do significado dos direitos do homem (PIRES, 1999, p. 2).
Segundo Comparato, o diferencial, ou “novidade da CADHP, estaria em afirmar que
os povos são também titulares de direitos humanos, tanto na esfera interna quanto na
internacional”. E não parou por aí, prosseguindo em enunciar os direitos dos povos à
existência, na primeira parte do art. 20, à livre disposição de sua riqueza e recursos naturais
(art. 21), ao desenvolvimento (art. 22), à paz e à segurança (art. 23) e também à preservação
ao meio ambiente sadio (art. 24)– até então nenhum outro documento de cariz internacional

3
Por tal razão, esta data é comemorada em todo continente como Dia do Continente Africano, porquanto nesse
dia conquistou-se a liberdade, dando início à independência em todo continente e de implementação de
regimes democráticos e de direitos.
4
A Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos é também conhecida como Carta de Banjul, pois foi
aprovada pela Conferência Ministerial da Organização da Unidade Africana (OUA) em Banjul, Gâmbia, em
janeiro de 1981, e adotada pela XVIII Assembleia dos Chefes de Estado e Governo da Organização da
Unidade Africana (OUA) em Nairóbi, Quênia, em 27 de julho de 1981.
25

havia disposto tal direito – e à preservação do equilíbrio ecológico (COMPARATO, 2007,


p.395).
A constituição da OUA surge com o objetivo principal de lutar contra a ocupação
colonial dos territórios africanos e contra regimes racistas na África do Sul e na Namíbia,
porém, só depois se viu a necessidade de ampliar tal objetivo, trazendo à liça a promoção,
proteção e defesa dos direitos humanos, responsabilizando os Estados que incorrem em ações
contrárias à dignidade da pessoa humana e impedindo atrocidades no continente. A CADHP
elenca ainda à seguinte divisão: estabelece um conjunto de direitos civis e políticos (artigos 2º
a 14 e artigo 26); direitos econômicos, sociais e culturais (artigos 15 a 17); alguns direitos das
mulheres (artigos 2º a 21) e direitos dos povos (artigos 19 a 24). Para garantia desses direitos
foi instituída uma Comissão, denominada de Comissão Africana, que se encarregava de
assegurar a promoção dos direitos humanos e dos povos e apreciar comunicações dos Estados
e petições de indivíduos e Organização Não Governamental (ONG) sobre violações de
direitos humanos expressos na CADHP (TELO 2012, p. 151-154).
Como já acima referido, o foco da CADHP não era os direitos humanos no continente,
mas sim o processo de descolonização. Porém, os objetivos da criação da organização
regional viriam a tomar um rumo diferente com a substituição da OUA para União Africana
(UA), no ano de 2000.Assim, o discurso dos direitos humanos e dos “valores democráticos”, a
promoção e proteção dos direitos dos povos passarama integrar os fundamentos da UA e,
consequentemente, a intensificação do debate no continente em torno dos direitos
humanos,viria a surgir as ONGs, cujos objetivos se cingemna promoção e defesa dos direitos
humanos, fundamentalmente dos grupos vulneráveis, se assim pudermos considerar.
Um dos aspectos positivos que se denotou na CADHP reporta-se à linguagem
inovadora dos direitos humanos. A CADHP, diferentemente de outros tratados, trouxe a
linguagem de que os direitos de segunda geração são indissociáveis dos direitos de primeira,
na medida em que não se realizam estes sem os primeiros:

Convencidos de que, para o futuro, é essencial dedicar uma particular


atenção ao direito ao desenvolvimento; que os direitos civis e políticos são
indissociáveis dos direitos econômicos, sociais e culturais, tanto na sua
concepção como na sua universalidade, e que a satisfação dos direitos
econômicos, sociais e culturais garante o gozo dos direitos civis e políticos
(CADHP, preâmbulo)5.

5
Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/africa/banjul.htm>. Acesso em: abr. 2013.
26

Assim, no entendimento do disposto na CADHP, os direitos sociais são condição sine


qua non para a realização dos direitos civis e políticos.
A Carta Africana foi aprovada a 27 de junho de 1981 e entrou em vigor em 12
deoutubro de 1986, cerca de vinte anos após a criação da Organização Angola viria a aderir ao
tratado em 02 de março de 1990 (TELO, 2012, p. 151). Com tal feito, o Estado angolano deve
cumprir com as obrigações inerentes a ele, logo, o tratado passa aproduzir efeitos jurídicos na
ordem interna, com vistas a garantir proteção e promoção dos direitos dos cidadãose se
compromete em aplicá-lo na íntegra6. Os tratados internacionais têm acolhimento no direito
pátrio, o constituinte angolanocuidou no artigo 13 o tratamento de modo geral: “Os tratados e
acordos internacionais regularmente aprovados ou ratificados vigoram na ordem jurídica
angolana após a sua publicação oficial e entrada em vigor na ordem jurídica internacional e
enquanto vincularem internacionalmente o Estado angolano” (Art. 13, 2010).
Porém, o artigo 26 da Constituição da República de Angola (CRA), foi mais enfático,
poisse trata de direitos fundamentais. Referiu o seguinte para aplicação da CADHP na ordem
jurídica angolana:

Os direitos fundamentais estabelecidos na presente Constituição não


excluem quaisquer outros constantes das leis e regras aplicáveis de direito
internacional. Os preceitos constitucionais e legais relativos aos direitos
fundamentais devem ser interpretados e integrados de harmonia com a
Declaração Universal dos Direitos do Homem, a Carta Africana dos Direitos
do Homem e dos Povos e os tratados internacionais sobre a matéria,
ratificados pela República de Angola. Na apreciação de litígios pelos
tribunais angolanos relativos à matéria sobre direitos fundamentais, aplicam-
se os instrumentos internacionais referidos no número anterior, ainda que
não sejam invocados pelas partes. (Art. 26º da CRA, 2010).

O constituinte angolanoenunciou que os diferentes tratados de que Angola seja parte


têm validade jurídica na sua ordem interna. Compreendemos que o constituinte angolano foi
ousado ao enunciar que em matéria de direitos fundamentais, ainda que não sejam invocados
pelas partes, devem ser aplicados.
À semelhança de outros documentos internacionais, a CADHP dispõe no artigo 17 que
toda pessoa temdireito à educação. O legislador da Carta adotou um critério universalque
compreendea pessoa com deficiência. Segundo Flora Telo, a CADHP enfatizou a importância
do ensino como a afirmação de outros direitos, “que, para o exercício de direitos, é

6
Relatório sobre a Implementação da Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos, p.18.
27

fundamental que haja ensino, educação e difusão dos direitos, liberdades e garantias” (TELO,
2012, p. 155).
Decorre da citação de Flora Telo a seguinte questão, que merece nossaatenção: O que
é educação? O que é possível fazer sem educação? A educação não é algo indissociável da
vida em sociedade. Segundo Carlos Brandão, a educação é uma prática social cujo fim é o
desenvolvimento do ser humano, é torná-lo capaz de responder por si (BRANDÃO, 2010,
p.84). Grosso modo, a CADHP enunciou que seria impossível a realização de outros direitos
sem instrução, sem garantia desse direito a todos, pois a vida em sociedade assim o exige.
Sem educação não há transformação social, logo não há crescimento quiçá desenvolvimento.
Com base na Carta,é daresponsabilidade dos Estados garantir que todos possam,pelo menos
nos graus elementares, ou seja,na educação básica, satisfazer seu direito: “Toda pessoa tem
direitoà educação”(Art. 17 da CADHP).
Assim, compreendemos que o alcance dessa norma de que todos, sem exceção, têm
direito à educação, portanto, pessoas com deficiência e sem deficiência. Porém, somos
obrigados a afirmar que poderia o legislador ser mais ousado e desenvolver melhor o presente
artigo, pois a educação constitui um direito humano fundamental à preservação e promoção
da paz e respeito pelos direitos humanos e as liberdades fundamentais num todo (UNESCO,
2000, p. 5). Nesta conformidade, a declaração de Pretória traz a desenvoltura de todos os
artigos econômicos sociais e culturais dispostos na CADHP e refere que do direito à educação
no continente implica o seguinte:

Prestação de gratuita e obrigatória da educação básica que também irá incluir


um programa de educação psicossocial de crianças órfãs e vulneráveis;
prestação de escolas especiais e facilidades para crianças deficientes físicos e
mentais; c. O acesso à educação acessível secundário e superior; acessível e
disponível a formação profissional e a educação de adultos; e. Dirigindo
práticas sociais, econômicos e culturais e atitudes que dificultam o acesso à
educação por meninas; disponibilidade de instituições de ensino que são
física e economicamente acessíveis a todos; desenvolvimento de currículos
que abordam diversos contextos sociais, econômicos e culturais e que
inculcar normas de direitos humanos e valores para cidadãos responsáveis.7

A CADHP não desenvolveu um rol de artigos referente à educação, tão somente


dispôs no artigo 17º, nº 1: “Toda pessoa tem direito à educação”. Mas a declaração de Pretória
7
Adotada em um seminário em Pretoria, África do Sul, em setembro de 2004, que representantes da Comissão,
de 12 estados africanos, instituições nacionais de direitos humanos e ONGs participaram. A Declaração foi
adotada pela Comissão na sessão 36, em dezembro de 2004. Lembrando que a Carta Africana consagra os
direitos econômicos, sociais e culturais, em especial no seu artigo 14, artigo 15, artigo 16, artigo 17, artigo 18,
artigo 21 e artigo 22; Declaração sobre os direitos econômicos sociais e culturais em África de 2004.
Disponível em: <http://www.achpr.org/instruments/pretoria-declaration/>. Acesso em: 11 abr. 2013.
28

adicional a ela dispõe que os direitos econômicos, sociais e culturais em África cuidaram em
salvaguardar o direito à educação da pessoa com deficiência não na perspectiva da inclusão,
mas que o direito à educaçãoimplica “prestação de escolas especiais e facilidades para
crianças deficientes físicos e mentais”. Ela não discute a possibilidade de a pessoa com
deficiência ingressar no ensino regular, muito pelo contrário, enfatiza a criação de escolas
especiais. Nessa conformidade, sendoa CADHP um instrumento pelo qual os Estados
africanos nortearam as suas constituições, pode-se afirmar que seria de todo imperioso a
mesma elencar no seu rol de direitos tais disposições que se debruçassem sobre a garantia do
direito à educação da pessoa com deficiência na perspectiva da inclusão, como promoção e
efetivação do direito humano à educação para todos, como ela bem pontua. Acreditamos que
os documentos regionais são responsáveis em direcionar os internos.Se a CADHP procurou
trazer um critério não inclusivo, por que iriam os Estados-partes fazê-lo diferente?
Contudo, a UA procurou minimizar a lacuna na carta com a criação do Conselho
Econômico Social e Cultural, composto por pessoas de diferentes grupos de estratos sociais,
com o objetivo de promover a participação popular, dentre estes está o de pessoas com
deficiência, em que se procurou abordar o direito à educação da pessoa com deficiência, mas
não na perspectiva da inclusão (SUR, 2011, p.140). A CADHP, como já acima fizemos alusão
não foi um documento criado “ab initio” para olhar pelas questões da defesa e promoção e
proteção dos direitos humanos, por isso, houve a necessidade de se adotar documentos
adicionais, para tratar das diversas temáticas, como a declaração de Pretória, que viria trazer
uma abordagem mais específica do direito à educação da pessoa com deficiência na escola
especial, a inclusão não mereceu tratamento na referida declaração – é o que pretendemos
abordar no documento que se segue.

2.2 A DECLARAÇÃO DE SALAMANCA DE 1994 SOBRE PRINCÍPIOS DE


NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS

A DUDH foi o documento norteador de todos os tratados que se seguiram. Foi


genérica, mas urgia então a necessidade de haver outros documentos com o mesmo teor que
trouxessem de forma específica os assuntos nela abordados. Sob este prisma surge a
Declaração de Salamanca (DECS) 8.

8
Em 1994 foi realizada a conferência em Espanha, na cidade de Salamanca, daí resultou a denominação da
Declaração de Salamanca Sobre Princípios, Política e Práticas na área das Necessidades Educativas Especiais.
29

Promovida pelo governo espanhol, em colaboração com a Organização para Educação,


Ciência e Cultura das Nações Unidas (UNESCO), a DECS viria trazer um novo paradigma do
direito humano à educação da pessoa com deficiência como elemento catalisador à sua
inserção na sociedade. Reafirmando o que a DUDH e o Pacto Internacional dos Direitos
Econômicos Sociais e Culturais (PIDESC), quanto à garantia do direito à educação a todos, a
DECS enunciou a realização do direito à educação da pessoa com deficiência, na rede regular
de ensino na perspectiva da inclusão. Ela constitui um marco, pois foi a partir desta que se
começou a discutir a questão do direito à educação das pessoas com deficiência na rede
regular de ensino, dito de outro modo, uma educação inclusiva e integradora, como a
afirmação do direito humano à educação. Relembrando as demais declarações da ONU,
referente ao ano de 1993, bem como as normas de igualdade e oportunidades para a pessoa
com deficiência, que orientam os Estados no sentido de optar um ensino inclusivo (DECS,
Preâmbulo).
Por outro lado, a DECS também procurou trazer alguns princípios norteadores em que
esse currículo seria organizado mediante uma política organizacional de trabalho e dotar os
profissionais da educação da necessidade de “reinventar” os métodos para melhor lidar com a
diversidade, sob o entendimento de que a educação é direito de todos, sendo que a escola deve
adaptar-se às especificidades dos alunos e não o contrário: “O ensino deve ser diversificado e
realizado num espaço comum a todas as crianças” (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1990, p.01).
Com as inovações enunciadas pela DECS, vimos à necessidade de adotar uma política
voltadaà inovação dos currículos, enfatizando que estes devem se adaptar aos alunos e não o
contrário, à acessibilidade ao espaço, àinclusão do aluno deficiente na rede regular de ensino,
à adoção de políticas públicas com a finalidade de ampliar este direito a todos, ao conceito de
educação inclusiva, formação contínua dos docentes com vistasa dotá-los de conhecimento
tendentes ao ensino inclusivo. O direito à educação é uma questão de direitos humanos e os
indivíduos com deficiências devem fazer parte das escolas, as quais devem modificar seu
funcionamento (currículos) para incluir todos os alunos (CONFERÊNCIA MUNDIAL DE
SALAMANCA, 1994)9. O que é ou para que serve a educação senão para reduzir assimetrias
e criar mentes libertadoras.Como assevera Eduardo Bittar, o educando deve aprender a
distinguir o errado do certo, o injusto do que parece justo, ter a capacidade de estabelecer
essas diferenças e, sempre que for necessário, reagir a elas (ZENAIDE et al., 2008, p. 170).

Foi aprovada por aclamação no dia 10 de Junho de 1994. O ano de 1994 foi, sem sombra de dúvidas, o ano do
reconhecimento do direito à educação da pessoa com deficiência, na perspectiva da inclusão, com finalidade
de permitir que esta se insira sem dificuldade nos diferentes espaços sociais.
9
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf, Acesso em:maio de 2013.
30

Ainda, no mesmo diapasão, enuncia Telo:“a educação deve formar sujeitos capazes de agir,
de interagir com o mundo que os rodeia, de desenvolverem sua capacidade crítica, de dúvida e
de inconformismo” (TELO, 2012, p. 116).
A educação constitui um elemento de libertação e de transformação do homem
enquanto ente dotado de direitos, em respeito à dignidade do indivíduo (FREIRE, 1975, p.52),
com a finalidade de contribuir na edificação de uma sociedade sólida, democrática e social.
Foi nessa perspectiva que surgiu a DECS, com intuito de libertar a sociedade do preconceito e
dos estigmas em volta da pessoa com deficiência. As questões surgiam da seguinte forma:
como poderiam as pessoas com deficiência ser enquadradas na rede regular e como se daria o
processo? E a resposta a esta indagação, segundo a DECS, é que a escola terá de se reformular
para se adaptar aos novos desafios, não o contrário.
A DECS seria mais um documento que Angola viria a ratificar e se obrigar a
implementar na sua ordem Jurídica. No dizer de Luciano Maia, um Estado que seja parte de
um determinado tratado tem obrigações que deve ter em conta e tais podem ser denominadas
de obrigações de condutas e obrigações de resultado:

[...] As obrigações de conduta impõem aos Estados a adoção de medidas


administrativas, legislativas, orçamentárias e outras, objetivando a plena
realização dos direitos reconhecidos na Convenção. Isto implica na adoção
de políticas públicas, voltadas para a realização dos direitos. As obrigações
de resultado tornam obrigatória a adoção de parâmetros e referenciais, para
avaliar se as medidas adotadas e as políticas públicas conduzidas estão,
efetivamente, assegurando a realização do direito garantido. Tais obrigações
têm como conteúdo mínimo: respeitar, proteger e implementar. Ao respeitar,
o Estado se compromete a não violar o direito reconhecido. Ao proteger, o
Estado defende o cidadão das violações por parte de terceiros, o que faz com
que o Estado tenha, muitas vezes, de editar leis, estabelecendo o dever dos
particulares respeitarem os direitos humanos. Por fim, o dever de
implementar significa que, em muitas situações, é o próprio Estado o
responsável pelo atendimento direto do direito, quando o titular não consiga
sozinho dele se desincumbir. (MAIA, 2007, p. 5)10.

Em face do acima exposto, nos questionamos que medidas têm sido adotadas para o
cumprimento das obrigações assumidas pelo Estado angolano ao ratificar a DECS, com a
vista a educação inclusiva. Que políticas públicas têm sido direcionadas com a finalidade de
dar cobro a esta situação? Desde 1994, que foi o ano da realização desta conferência, o que
mudou em termos orçamentários no setor da educação em Angola? Tem sido ela uma
prioridade ou relegada? Adiante pretendemos dar as possíveis respostas a essas questões.

10
Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/dados/livros/edh/br/fundamentos/07_cap_1_artigo_04.pdf>Acesso
em:abril de 2008.
31

Essas e outras, que se continuássemos seriam infindos os questionamentos em torno da


resolução da garantia do direito à educação para todos, sem discriminação em razão da
deficiência. Nos termos da convenção, compete aos Estados-parte enviar relatórios, como
pontua Luciano Maia:

[...] De relatórios periódicos, documentos formais e solenes, em que cada


Estado-parte comunica ao comitê de monitoramento, o grau de respeito – ou
de desrespeito – a cada um dos direitos previstos no instrumento
internacional. São relacionadas às políticas públicas, as inovações
legislativas, as decisões judiciais, e todos os demais aspectos positivos, que
avançam o respeito e a implementação dos direitos. Também devem ser
informados todos os recuos e retrocessos, e os aspectos econômicos,
políticos, sociais e outros que podem ter interferido na realização do direito.
(MAIA, 2007, p. 7).

Desconhecemos, até o presente, o cumprimento dessa medida, porém, vale ressaltar


que foi com a participação de Angola nesta conferência e consequente ratificação que o
discurso da educação para pessoas com deficiência viria tomar um rumo diferente do queaté
então dispunha o governo angolano (formalmente), porquanto tinha, sim, a pessoa com
deficiência direito à educação, masse realizado impreterivelmente na escola especial. Para o
efeito, a estratégia do governo cingia em informar e sensibilizar, com a finalidade de extinguir
o estigma, a discriminação da pessoa com deficiência; formação de professores; promover
estudos e investigação científica, construção de mais escolas adaptadas às necessidades destes
e materiais e equipamentos didáticos específicos à pessoa com deficiência (INEE, 2009, p.
29).
Tais estratégias adotadas pelo governo angolano são, na verdade, as linhas diretivas da
DECS, pois esta enfatizou a necessidade do direito à educação para todos, sendo obrigação da
escola adaptar-se ao aluno e não o contrário. Angola não está inerte aoque ocorre no mundo.
Até o presente momento, já ratificou vários tratados no que tange ao direito à
educação. Por outro lado, não basta tão somente ratificar por ratificar, mas é necessário um
comprometimento por parte do Estado em adotar as medidas implementadas nesses tratados e
declarações, com vista à plena realização dos direitos a ele inerentes. Ao contrário de outros
dispositivos com o mesmo cariz, a DECS não elencou só responsabilidade ao Estado
enquanto nação, mas aos demais componentes do Estado, nomeadamente aos políticos, à
mídia, aos familiares (particularmente aos pais), à sociedade civil e à comunidade
internacional – todos são responsáveis por uma educação de qualidade. Entretanto, em nosso
entendimento, ao Estado deve ser acrescida responsabilidade, pois é o gestor do fundo público
32

e, recorrendo ao ensinamento do direto administrativo, as receitas públicas servem tão


somente para prosseguir o interesse público, definir a política púbica. O gestores da “res
publica” têm seu alvo consubstanciado em prosseguir o interesse público. Nestes termos a
DECS enfatizou a necessidade de por intermédio de uma política pública eficaz à adoção da
educação inclusiva:

Cada criança tem o direito fundamental à educação e deve ter a oportunidade


de conseguir e manter um nível aceitável de aprendizagem; cada criança tem
características, interesses, capacidades e necessidades de aprendizagem que
lhe são próprias; os sistemas de educação devem ser planeados e os
programas educativos implementados tendo em vista a vasta diversidade
destas características e necessidades; conceder a maior prioridade, através
das medidas de política e através das medidas orçamentais, ao
desenvolvimento dos respectivos sistemas educativos, de modo a que
possam incluir todas as crianças, independentemente das diferenças ou
dificuldades individuais; adotar como matéria de lei ou como política o
princípio da educação inclusiva, aos governos com programas cooperativos
internacionais e às agências financiadoras internacionais, especialmente os
patrocinadores da Conferência Mundial de Educação para Todos, à
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO), ao Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), ao
Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), e ao Banco
Mundial. (DECS, 1994, p. 6,7 e8).

A DECS enunciou a necessidade deadotar leis e políticas com base na educação


inclusiva, inserindo as crianças nas escolas regulares, salvo se as razões obriguem a proceder
de outro modo, ou seja, nem todas as deficiências cabem no âmbito da educação inclusiva. A
inclusão da pessoa com deficiência não se resume tão somente a uma questão de políticas
públicas, mas se configura muito mais como uma questão de direitos humanos, com o intuito
de promover a equidade de oportunidade educacional para todos e, tal como aponta Cláudia
Prioste (2011, p. 41), permitir a inclusão pressupõe considerar a diversidade como o cenário
cultural onde os princípios democráticos devem efetivar-se. Deficientes não são as pessoas
com deficiência, somos nós que não conseguimos conviver com a diversidade, não fugimos
do padrão ou da uniformidade imposta por critérios discriminatórios. Por isso, Imbamba
(2010, p. 226) pontua que “[...] a diversidade é muito mais enriquecedora, criativa, tolerante
convivial do que a uniformidade”.
O que propunha a DECS era o que Freire já enunciara uma educação para “liberdade”,
mas liberdade de quê e para quê? Liberdade para estar e se sentir parte da sociedade, para
banir a segregação dos critérios discriminatórios, da política assistencialista e minimalista, da
coisificação, do nome pejorativo, do anonimato, para viver, crescer, desenvolver e contribuir
33

para o crescimento pessoal e emocional. É nisto que se resume o Estado democrático: garantir
as liberdades positivas e negativas aos seus em boa fé ao princípio da equidade.
Mas nossos questionamentos não param, urge ainda a necessidade em querer
compreender porque razão os Estados-partes da DECS acordaram em que seja preferencial
que a pessoa com deficiência satisfaça o seu direito à educação na rede regular de ensino. Será
apenas por uma questão de direitos humanos? Somos a firmar que tal deveu-se
fundamentalmenteà promoção e proteção dessa minoria estigmatizada ao longo dos anos
retrasados cujos direitos têm sido relegados. Ao mesmo tempo em que caiu no âmbito da nova
definição trazida pela convenção da ONU, de 2006.
Definir os marcos e meandros da educação inclusiva foi um dos muitos objetivos
traçados na DECS. Dar diretrizes aos Estados-partes, com vista a tornarem o processo da
inclusão uma questão de direitos humanos, foi, a nosso ver, seu foco crucial. Reduzir as
assimetrias sob a base da equidade, promover a inclusão na educação como afirmação social
da pessoa com deficiência. Contudo, são passados 19 anos desde a sua criação. Angola aderiu
e ratificou, porém, as práticas estão longe daquilo que acima afirmamos, porquanto há muito
boa vontade escrita no papel, sejam em leis, relatórios e outros documentos oficiais por parte
do governo angolano, mas não passa disso, não há vontade política em adotar a inclusão como
um direito humano à educação. Direitos não são garantidos com boa vontade legislativa, mas
sim com uma política direcionada capaz de dar respostas às situações a elas adversas.
A educação, como bem pontua Freire, reporta-se a uma tentativa constante de
mudança de atitude. É também, ainda segundo o mesmo autor, “um ato de amor e, por
conseguinte, um ato de coragem. Sendo que não pode a educação temer ao debate, tão pouco
à análise da realidade, e jamais se apartar da discussão, sob pena de ser conotada como farsa”.
Freire assevera que quando a educação não se pautar por tal distinção, estaremos diante de
“farsa” (1997, p. 123, 127). Portanto, Angola, estará diante de uma farsa se simplesmente se
resumir em ratificar cada vez mais tratados e declarações e não se preocupar em implementar
as medidas dispostas nele.
34

2.3 A DECLARAÇÃO DA ONU DE 1986 SOBRE O DIREITO AO DESENVOLVIMENTO

O discurso em torno de um direito ao desenvolvimento dos povos foi conceituado pela


primeira vezpor Keba Mbaye11, antigo ministro do Senegal, o primeiro jurista a conceituar o
direito ao desenvolvimento como um direito humano. Em seguida, após uns meses, Karel
Vasak teorizou que este direito seria parte da 3ª geração de direitos fundamentais. A CADHP,
por sua vez, foi o primeiro documento vinculativo que viria elencar o direito ao
desenvolvimento como um direito de todos os povos. Lembrando que a CADHP é referente
ao ano de 1981, sendo a data de sua vigência o ano de 1986.
Poderíamos afirmar que a ideia do direito ao desenvolvimento em um documento
internacional deveu-se necessariamente às desigualdades econômicas e sociais entre países
ricos e pobres, desde o final da Segunda Guerra Mundial. Tais motivos fizeram com que este
passasse a ser considerado um direito humano inalienável inerente a toda pessoa humana,
afirmado na DUDH, e viria, a posteriori, ser reafirmado em convenção específica.
Nesta senda, surge, adotada pela Resolução nº 41/128 da Assembleia Geral das
Nações Unidas de 4 de dezembro de 1986, a Declaração Sobre o Direito ao Desenvolvimento
(DSDD), com 10 artigos, tal como outros documentos do mesmo cariz vêm, mais uma vez,
reafirmar os direitos declarados na DUDH, o que vimos expresso no preâmbulo da declaração
ora referida:

[...] Reconhecendo que a pessoa humana é o sujeito central do processo de


desenvolvimento e que essa política de desenvolvimento deveria assim fazer
do ser humano o principal participante e beneficiário do desenvolvimento;
[...] pela negação dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais e
culturais, e considerando que todos os direitos humanos e as liberdades
fundamentais são indivisíveis e interdependentes, e que, para promover o
desenvolvimento devem ser dadas atenção igual [...] (DECLARAÇÃO
SOBRE O DIREITO AO DESENVOLVIMENTO de 1986.).

Nesses termos, Maria Luísa Feitosa traz uma interessante reflexão em volta da
temática do direito ao desenvolvimento, pois, segundo a autora, há dois aspectos que se deve
ter em conta, porquanto existe o direito do desenvolvimento, que faz referência ao direito
econômico, e o direito ao desenvolvimento que figura a questão atinente aos direitos
humanos. Porém, nosso objetivo em torno da DSDD, cingir-se-á à discussão do direito ao

11
Disponívelem: <http://translate.google.com.br/translate?hl=pt-
PT&sl=en&u=http://www.globalautonomy.ca/global1/glossary_entry.jsp%3Fid%3DCO.0044&prev=/search%
3Fq%3Dkeba%2Bmbaye%26biw%3D1366%26bih%3D643,>Acesso em: 18 jul. 2013.
35

desenvolvimento como um direito humano fundamental e inalienável e sua relação com o


direito à educação das pessoas com deficiência, nos termos da ora referida declaração
(FEITOSA, 2012, p. 7).
Alude-se, porém, que o direito ao desenvolvimento, como bem pontua Maria Aurea
Cecato, “Deve-se entender, portanto, o desenvolvimento constitui processo o mais abrangente
e inclusivo possível. A contrario sensu, ele não deve ser presumido em contextos de exclusão,
seja dedireitos, seja de sujeitos” (CECATO, 2012, p. 4). Em face da referida citação, o direito
ao desenvolvimento prima por ser um direito inclusivo, da pessoa com deficiência e do não
deficiente, ou seja, é um direito de todos e não comunga com práticas discriminatórias.
No dizer de Flávia Piovesan, o direito ao desenvolvimento comporta princípios
relevantes, tais como:

A inclusão, igualdade e não discriminação (especial atenção deve ser dada a


igualdade de gênero e as necessidades dos grupos vulneráveis); o princípio
da accountability e da transparência; e o princípio da participação e do
empoderamento (empowerment) mediante livre, significativa e ativa
participação; e o princípio da cooperação internacional. (PIOVESAN, 2013,
p. 187).

A ideia de desenvolvimento nos reporta à qualidade vida, ou seja, o direito a uma vida
digna. Desenvolvimento e desigualdade, exclusão e discriminação não têm pacto, por essa
razão a DSDD enunciou que todos os direitos humanos e liberdades fundamentais são
plenamente realizados através do direito ao desenvolvimento. Posto isso, o que seria, então, o
direito ao desenvolvimento? E para resposta ao nosso questionamento recorremos ao artigo
1ºda presente declaração, que estabelece uma definição do que vem a ser efetivamente o
direito ao desenvolvimento: “O direito ao desenvolvimento é um direito humano inalienável
em virtude do qual toda pessoa humana e todos os povos estão habilitados a participar do
desenvolvimento econômico, social, cultural e político, a ele contribuir e dele desfrutar, no
qual todos os direitos humanos e liberdades fundamentais possam ser plenamente realizados”
(DSDD, 1986).

Desenvolvimento humano consiste na capacidade de uma sociedade em


satisfazer as necessidades da sua população e permitir-lhe alcançar um nível
de bem-estar adequado. É um processo, mas também um fim a atingir.
(LOPES et al. 2007, p. 6).

Tanto a DSDD quanto a definição de Lopesconvergem no sentido de que o direito ao


desenvolvimentocabe unicamente à pessoa humana. A convenção enuncia que a realização do
36

direito ao desenvolvimento depende da paz e segurança. Como fazer esta relação de direito à
educação e direito ao desenvolvimento?
O relatório da UNESCO ressalta que a educação é direcionada para a “plena expansão
da personalidade humana e reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais”.
Entende-se como sendo uma educação cujo objetivo esteja centrado na ideia de
desenvolvimento da sociedade, que proporcionará uma “educação para todos ao longo da
vida”. E quem seria todos? Cinge-se a todas as pessoas que fazem parte da sociedade,
homens, mulheres, pessoas com e sem deficiência alguma, sendo que a sua acessibilidade
pautar-se-á em um critério igualitário para todos.
O casamento entre educação e desenvolvimento é notório em quase todos os tratados e
declarações que abordam o direito à educação de todos. Uma educação que promova sua
cultura geral, que lhe dê uma cultura rica em conhecimento para desenvolver suas
capacidades, o juízo individual, a responsabilidade tanto moral quanto a social com a
finalidade de vir a ser um membro útil para a sociedade na qual é parte (UNESCO, 2000, p.
123-124).
Há intrínseca relação entre direito ao desenvolvimento e direito à educaçãoque nos
permite aqui apontar: não conseguimos vislumbrar um país que desenvolveu sem apostar
naquele que é considerado o centro do desenvolvimento, ao que nos referimos à pessoa
humana, o caminho percorrido pelos países desenvolvido mostra-nos claramente que apostar
na formação da pessoa humana é condição “sine qua non” para o desenvolvimento cultural e
crescimento econômico e expansivo desta. Ao fim de longos anos de colonização portuguesa,
findos em 1975 com o alcance da independência, o governo angolano, deparou-se com
inúmeras dificuldades para pôr em prática o seu projeto de governação, uma vez que o
número de pessoas analfabetas era gritante, sendo que até governantes faziam parte deste
grupo. Assim, urgia a necessidade de se apostar no setor da educação como fator primordial
para que o país pudesse caminhar rumo ao tão desejado crescimento econômico e consequente
desenvolvimento para permitir que as pessoas saíssem da miséria, uma vez que só por meio
da equidade educacional se alcançará a equidade econômica e social, que vai desembocar no
desenvolvimento:

A educação é uma prática social (como a saúde pública, a comunicação


social, o serviço militar) cujo fim é o desenvolvimento do que na pessoa
humana pode ser aprendido entre os tipos de saber existentes em uma
cultura, para a formação de tipos de sujeitos, de acordo com as necessidades
e exigências de sua sociedade, em um momento da história de seu próprio
desenvolvimento (BRANDÃO, 2007, p. 73).
37

Carlos Brandão enuncia ainda que a educação atua sobre a vida e o crescimento da
sociedade em dois prismas, a saber: no desenvolvimento de suas forças produtivas, que
permitem ao homem conhecer e desenvolver seu intelecto; o segundo, e não menos
importante, tem a ver com o desenvolvimento de seus valores culturais (BRANDÃO, 2007,
p.75). Para tanto, a declaração enunciou que aos Estados12 cabem fomentar políticas
desenvolvimentistas, com a finalidade da realização do direito ao desenvolvimento, como
bem se vê no artigo que ora segue: “É da responsabilidade dos Estados, quer individual ou
coletivamente, criar políticas com a finalidade da plena e efetiva realização do direito ao
‘desenvolvimento’, sob os auspícios da equidade, permitindo deste modo o ‘acesso básico a
educação, reformas no domínio econômico e sociais de forma a banir as injustiças.
Os Estados devem encorajar a participação popular em todas as esferas, como um fator
importante no desenvolvimento e na plena realização de todos os direitos”. (DECLARAÇÃO
DA ONU SOBRE O DIREITO AO DESENVOLVIMENTO, 1986).
Falar de desenvolvimento pressupõe ou implica falar de educação. Na medida em que
compreendemos que ambos estão intrinsicamente interligados, não se realiza o primeiro sem a
existência do segundo, para concretude deste é fundamental que as pessoas tenham onde e
como estudar, quer esta seja a educação formal cívica ou técnico profissional, sendo
obrigação do Estado atender a realização de todos os direitos, não preterindo uns a outros.
Carla Rister, sublinha que há uma ligação entre educação e desenvolvimento, de modo
que é impossível atingir o segundo sem que o primeiro seja efetivado com qualidade, justiça,
igualdade e dignidade. Pressupondo dizer que a sua implementação depende de políticas
públicas visando colmatar as dificuldades enfrentadas pelo setor, de modo que comece a dar
passos firmes rumo ao desenvolvimento, tanto para o exercício da cidadania quanto para a
formação técnica profissional (RISTER, 2007, p. 402).

A educação é um amplo processo de desenvolvimento das faculdades


inerentes ao ser humano. A educação de qualidade tem como escopo formar
integralmente o indivíduo e possibilitar sua conformação em cidadão digno,
útil à sociedade e plenamente capaz de alcançar seus objetivos pessoais.
Deve transmitir ao indivíduo valores éticos e morais, tais como justiça,
verdade, coragem, solidariedade, honestidade, respeito às diferenças e
tolerância, enfim, elementos fundamentais para a formação do caráter, além
da formação técnica e intelectual. [...] (RIVA, 2008, p. 27).

12
De realçar que a convenção ora referida não foi ratificada pelo Estado angolano até o presente. Mas, não
obstante o acima exposto, pensamos ser um documento essencial para referência na questão do direito humano
a educação com afirmação do direito ao desenvolvimento.
38

A CADHP também não ficou alheia à questão do direito ao desenvolvimento e cuidou


no (art. 22) em afirmar o direito de todos os povos ao desenvolvimento, quer “econômico,
social e cultural, no estrito respeito da sua liberdade e da sua identidade, e ao gozo igual do
patrimônio comum da humanidade. [...] Os Estados têm o dever, separadamente ou em
cooperação, de assegurar o exercício do direito ao desenvolvimento”.
Tanto a CSDD quanto a CADHP enunciaram o direito ao desenvolvimento como um
direito humano e vemos que a realização deste depende de um setor da educação estruturado
com base nos desafios do novo mundo globalizado, uma educação de qualidade. Por isso,
afirmamos que não se realiza o direito ao desenvolvimento sem educação, na mesma linha
sustenta Zau:

Num mundo globalizado, onde reina a tecnologia e onde se agravam a


desigualdades da qualidade de vida das populações, só a aquisição de um
adequado nível de conhecimentos constitui fator de crescimento económico
e de desenvolvimento dos povos. Isto faz com que a educação seja vista a
várias escalas de análise, cada uma delas exigindo medidas de intervenção
adequadas, já que a chave da alteração de fundo das condições de
desenvolvimento de um país se encontra na educação e na formação
profissional dos seus recursos humanos (ZAU, 2009, p. 7).

A palavra desenvolvimento, segundo o dicionário da língua portuguesa, significa


crescimento, evolução, mas que para tal, fazendo um link com a temática que ora trazemos a
liça, precisamos de formação, instrução, sendo que deverá ser esta para todos sem exceção
independentemente de ser deficiente ou não, contribuindo para que o cidadão se sinta parte de
sua comunidade, o sentido elevado de pertença, mas tal desiderato só será possível se
dispormos de mecanismos de proteção legal eficazes, com vista a criação de instituições que
ajudem o indivíduo a sentir-se integrado na sociedade e contribuir para o desenvolvimento da
mesma (CORTINA, 2005, p. 26).
Segundo Dowbor, a educação não deve sóservir de elemento para que o ser humano se
torne uma pessoa detentora de um saber que lhe dê bases para o exercício de uma profissão,
mas também cabe para a transformação do ser, tornar-se um ente de valores, um agente
respeitador das normas da vida em sociedade, um cidadão cívico, conhecedor de seus direitos
e de suas obrigações, pois não se faz uma sociedade apenas com direitos, mas também
obrigações e todostêm o dever de observar, como bem sustenta Norberto Bobbio:
39

A existência de um direito, seja em sentido forte ou fraco, implica sempre a


existência de um sistema normativo, onde por “existência” deve entender-se
tanto o mero fator exterior de um direito histórico ou vigente quanto o
reconhecimento de um conjunto de normas como guia da própria ação. A
figura do direito tem como correlato a figura da obrigação. (BOBBIO, 2004,
p. 79-80).

A isso também chamamos de desenvolvimento, que só será possível se o Estado


compreender que não se faz um país atingir um nível considerável de desenvolvimento só
apostando em setores como, por exemplo, saúde, segurança ou mesmo só educação, mas que
é possível alcançá-lo mediante solução do que chamamos investimento comprometido em
setores prioritários, porquanto só conseguiremos pensar em gozar de uma saúde perfeita e se
sentir seguro.
A participação nos diversos problemas pelo visado, é uma cultura típica do Estado
democrático de direito, logo, “pessoas desinformadas não participam”, são meros
expectadores da violação de seus direitos, pois, se não sabem nem que eles existem, com
quais fundamentos hão-se reivindicar?(DOWBOR, 2007). O autor assegura que:

A ideia da educação para o desenvolvimento local está diretamente


vinculada a essa compreensão e à necessidade de se formarem pessoas que
amanhã possam participar de forma ativa das iniciativas capazes de
transformar o seu entorno, de gerar dinâmicas construtivas. Hoje, quando se
tenta promover iniciativas desse tipo, constata-se que não só as crianças, mas
mesmo os adultos desconhecem desde a origem do nome da sua própria rua
até os potenciais do subsolo da região onde se criaram. Para termos
cidadania ativa, temos de ter uma cidadania informada, e isso começa cedo.
A educação não deve servir apenas como trampolim para uma pessoa
escapar da sua região: deve dar-lhe os conhecimentos necessários para
ajudar a transformá-la. (DOWBOR, 2007)13.

Posto isso, ressaltamos que a deficiência não impede ninguém de aprender, mas a
segregação sim, esta contribui fortemente para subdesenvolvimento mental da pessoa com
deficiência e da sociedade de modo geral, porque a segregação afeta a todos – ao deficiente
porque é excluído e aos não deficientes porque também lhes é “retirado” o direito de conviver
na diversidade. Ao contrário do entendimento da sociedade e do Estado, a pessoa com
deficiência não carece de esmola, ela necessita que lhe sejam reconhecidasas aptidões e
garantidos os seus direitos. Nessa conformidade, Segala (2012, p. 128) afirma: “Quebremos o
ciclo da visão assistencialista e paternalista a pessoa com deficiência não precisa da pena dos
outros, precisa sim de oportunidades para se desenvolver, como qualquer um”.
13
Disponívelem:<http://www.linagalvani.org.br/pdfs/Educa%C3%A7%C3%A3o%20e%20Desenvolvimento%2
0Local%20-%20Ladislaw%20Dowbor.pdf>.Acesso em:abr. 2013.
40

A garantia do direito à educação da pessoa com deficiência pressupõe garantia do seu


direito humano ao desenvolvimento, sendo que a educação contribui para que ela se
desenvolva e contribui para sua afirmação social. Assim, efetivação do direito humano ao
desenvolvimento implica a realização dos outros direitos, como bem pontua a presente
convenção. Esses direitos dependem dos direitos econômicos sociais e culturais, essa ligação
entre educação e desenvolvimento foi observada no pacto dos direitos econômicos sociais e
culturais. A DSDD enunciou no artigo segundo que a pessoa humana é o objeto “central do
desenvolvimento” e definiu o que seria o direito ao desenvolvimento e que só seria possível
chegar ao desenvolvimento com progresso econômico e social de todos os povos, ao respeito
e observância dos direitos humanos e das liberdades fundamentais.
Para Felipe Zauapud Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),
o conceito de desenvolvimento corresponde a um conjunto de potencialidades individuais que
só se efetivará por conta da educação cuja direção pende para o crescimento econômico e
jamais se perde o fator humano como finalidade do desenvolvimento para o qual concorre o
direito à educação (ZAU, 2009, p. 3).
Refere Bethonico que sem desenvolvimento há violação de direitos humanos, não há
saúde, educação, trabalho, ou seja, a ausência de desenvolvimento contribui fortemente para a
não realização dos direitos econômicos, sociais e culturais. Enfatiza ainda a autora que os
direitos humanos devem ser respeitados, independentemente de qualquer coisa, para que o
direito ao desenvolvimento ocorra na sociedade – havendo isso, há a garantia da efetivação
dos direitos econômicos sociais e culturais, logo, as políticas públicas serão efetivadas e todos
terão direito à educação, poderá a pessoa com deficiência, sob os auspícios da equidade, gozar
plenamente do seu direito humano à educação14.
Entretanto, o constituinte angolano não tratou da questão do direito ao
desenvolvimento. Implicitamente, a Carta Magna angolana, no artigo 90 cuidou em trazer a
ideia do direito ao desenvolvimento “O Estado promove o desenvolvimento social...”. Porém,
como Angola é subscritor da CADHP, logo, em observância ao artigo 12da CRA, nos permite
fazer uma interpretação extensiva da norma. Há em Angola um notável crescimento
econômico, porém ele não se reflete nas políticas desenvolvimentistas, que são inexistentes, o
crescimento não permite garantia dos direitos econômicos sociais e culturais. Muito pelo
contrário, esse crescimento só tem permitido para a afirmação das oligarquias, sonegação de
direitos de grupos vulneráveis ou minorias como a pessoa com deficiência, relegando seus

14
Disponível em <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5165>Acesso em:maio de 2013.
41

direitos em detrimento do enriquecimento ilícito a expensas do Estado. A Convenção das


pessoas com deficiência reconheceu a importância da cooperação internacional no sentido de
melhorar as condições de vida da pessoa com deficiência, em observância ao seu pleno
desenvolvimento. Para o efeito, tal só será possível se houver uma participação efetiva de
outros atores sociais (PIOVESAN, 2013, p. 197).
A ONU instituiu, em 1981, o dia 03 de dezembro comoo “dia da pessoa com
deficiência”, sob o lema “juntos por um mundo melhor para todos incluindo pessoas com
deficiência no desenvolvimento. Plena participação e igualdade”. O direito ao
desenvolvimento, como vimos na convenção, é um direito de todos, pois nascemos todos
livres em dignidade e igualdade de direitos. Foi enfatizando, ainda, que o desenvolvimento só
pode ser “sustentável” se for pautado em igualdade e inclusivo para todos.

As pessoas com deficiência precisam ser incluídas em todas as etapas de


desenvolvimento, governos, sociedade civil e comunidade global devem trabalhar junto à
pessoa com deficiência com a finalidade de alcançar um desenvolvimento sustentável e
igualitário em todo o mundo. Contudo, o processo de desenvolvimento deve primar por ser
inclusivo, em respeito aos direitos humanos, liberdades fundamentais e ao princípio maior do
direito, expresso em todos os tratados e constituições: o princípio da dignidade humana,
princípio que, a nosso ver, norteou a elaboração da convenção que a seguir enunciamos.

2.4 A CONVENÇÃO DA ONU DE 2006 SOBRE O DIREITO DAS PESSOAS COM


DEFICIÊNCIA SUA RELEVÂNCIA JURÍDICA

Dos documentos que a priori nos referimos nenhum deles foi tão expressivo quanto o
que ora apresentamos. A Convenção de 2006 representa para as pessoas com deficiência o
direito de se sentir parte da comunidade internacional, a resposta às lutas travadas ao longo
dos anos retrasados.
Com base em dados referidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), há pelo
menos 10%, da população com alguma deficiência, sendo que este número representa
650.000.000,00 (seiscentos e cinquenta milhões); a ONU ressalta ainda que grande parte
dessas pessoas vive em países em desenvolvimento e cerca de 20% das pessoas mais pobres
são deficientes. Corroborando com Piovesan, a deficiência esta associada à pobreza, ao
analfabetismo, à nutrição precária, à inacessibilidade à agua potável, ao baixo grau de
imunidade, a doenças e condições de trabalho perigosas e insalubres, pragas, ou seja,
42

associada a práticas não ortodoxas para justificar a mesma, por conta da deficiência elas são
constantemente discriminadas e marginalizadas (PIOVESAN, 2012, p. 289).
A luta por afirmação e garantia dos direitos da pessoa com deficiência vem desde os
tempos mais remotos. Nos séculos XVI e XVII, o nascimento de uma criança com deficiência
era considerado pela família e pela sociedade como um problema, esta seria rejeitada,
discriminada, o deficiente cognitivo era internado em orfanatos, manicômios e prisões.
Nos termos da Resolução da Assembleia Geraln. 61∕106, nos mesmos marcos e
meandros de outros documentos, adota-se a Convenção da ONU Sobre os Direitos das
Pessoas Com Deficiência (CSDPCD). Surge em 2006 com o intuito de num único documento
proclamar direitos reservados a este grupo e, desde logo, dentre muitos aspectos inovadores, o
que desperta atenção reporta-se necessariamente à definição de pessoa com deficiência que a
convenção trouxe no artigo primeiro, porquanto até então o termo vinha carregado de muitos
estigmas e eufemismos. A CSDPCD e seu Protocolo Facultativo foram adotados em 2006 e
entrou em vigor em 03 de maio de 2008, em observância ao artigo 45, nº 1 e 2 da referida
Convenção.
A presente convenção, documento central da nossa temática, constitui um grande
marco na luta pelos direitos da pessoa com deficiência. Pioneira ao trazer uma definição do
que se deve entender por pessoa com deficiência, ela procurou reafirmar o disposto na DUDH
de 1948, no Pacto Internacional dos Direitos Econômicos Sociais e Culturais (PIDESC) de
1966, na DECS, e na declaração de 1990 sobre educação para todos. O diferencial da
CSDPCD reside no fato de esta ser especificamente voltada aos direitos deste grupo. Com
objetivo de promover, proteger e assegurar a efetivação dos direitos e da dignidade humana
das pessoas com deficiência, ficando os Estados obrigados a dispor de todo o aparato
administrativo para plena realização dos direitos por ela enunciados (PIOVESAN, 2013, p.
432). Ressalta a Convenção que a presente será de um tamanho significativo na medida em
que contribuirá para corrigir a desvantagem social da pessoa com deficiência e promover sua
participação, quais sejam: na vida econômica, social e cultural, em igualdade de
oportunidades, quer nos países em desenvolvimento quanto nos desenvolvidos (CSDPCD,
2006, Preâmbulo).
Ainda no Preâmbulo, alínea e, a Convenção enunciaque a deficiência é um conceito
em evolução, sendo que a deficiência não está no deficiente, mas nas dificuldades encontradas
por este para realização plena e efetiva dos seus direitos. Assim, com o objetivo de assegurar,
sob os auspícios da equidade, os direitos humanos e as liberdades fundamentais da pessoa
43

com deficiência, a convenção trouxe uma definição de pessoas com deficiência, de que
fizemos menção em nossa introdução.
Decorrem da definição que são pessoas com deficiência aqueles que padecem algumas
limitações, físicas, sensórias ou cognitivas. Porém, a barreira para que goze seus direitos
resulta das barreiras impostas pela sociedade, tais como: leis discriminatórias; linguagem
pejorativa ao se referir à pessoa com deficiência, inacessibilidade dos serviços básicos,
obstáculos à sua mobilidade e permitindo, com isso, que se sinta marginalizada, que ela
mesma tome a decisão de não reivindicar seus direitos, caindo na letargia.
A deficiência, na verdade, não cria impasse à realização de direitos, porém, os ditos
“normais” sim, não compreendem a diversidade, logo a primeira atitude, ao invés de
acolhimento, pressupõe exatamente o contrário do que seria o correto. Em face disso, João
Ribas sustenta dizendo que a sociedade é discriminadora e excludente, foi criada com base
emconcepções excludentes e divisões estruturais de classes.
Ribas entende que tal deveu-se á conotação negativa em torno da palavra deficiente,
porquanto pensamos que, todavia, será um fardo ter um membro deficiente na família, pois o
entendimento repousa no fato de este dar muito trabalho, a pessoa com deficiência não sofre
com a deficiência e sim com estigma (RIBAS, 2003, p. 53).
A presente convenção, diferente de outras que consagraram direitos da pessoa com
deficiência, enunciou uma definição, porém não deixou por isso, reafirmou o direito à
educação das pessoas com deficiência, na perspectiva da inclusão, e com a definição do que é
pessoa com deficiência ela foi categórica em afirmar que a barreira não é do deficiente, mas
sim da sociedade e de seu sistema baseado numa política com critérios excludentes que
impedem a plena realização do direito à educação na rede regular de ensino. Sendo que os
Estados-partes estão obrigados a assegurar a inclusão e jamais permitir que isto não ocorra
sob a justificação da deficiência.
Ora, no dizer de Piovesan, a história dos direitos humanos das pessoas com deficiência
nos remete a quatro fases, a saber:

a) Uma fase de intolerância em relação às pessoas com deficiência, em que


a deficiência simbolizava impureza, pecado, ou mesmo castigo divino;
b) uma fase marcada pela indivisibilidade das pessoas com deficiência;
c) Uma terceira fase orientada por uma ótica assistencialista, pautada na
perspectiva médica e biológica de que a deficiência era uma “doença a
ser curada”, sendo o foco centrado no indivíduo “portador da
enfermidade”; e d) Finalmente uma quarta fase orientada pelo paradigma
dos direitos humanos, em que emergem os direitos à inclusão social,
com ênfase na relação da pessoa com deficiência e do meio em que ela
44

se insere, bem como na necessidade de eliminar obstáculos e barreiras


superáveis, sejam elas culturais, físicas ou sociais, que impeçam o pleno
exercício dos direitos humanos. (PIOVESAN, 2012, p. 289).

Como bem pontua Piovesan, ao apontar as fases que ora denominamos de fases
históricas de evolução e afirmação dos direitos das pessoas com deficiência, recebeu, à
partida, dois tratamentos: “a rejeição e eliminação sumária, de um lado, e a proteção
assistencialista e piedosa, de outro”. Denotamos que, a partir da primeira, naépoca medieval a
deficiência era tida como algo que não era bom estar na sociedade, sob pena de todos virem a
sofrer um malefício por conta daquele, logo a política imperante na época era de extermínio; a
segunda fase, em face do que apontou Garcia, é referente ao advento do Cristianismo,
apolítica de extermínio foi afastada, porém a sociedade não as reconhecia eram como se estas
fossem invisíveis; a quarta fase é referente àIdade Média onde se acentua a pobreza e a
exclusão social, a política assistencialista em volta da pessoa com deficiência; porém, não
menos importante, a quarta fase, que começa a contar dos séculos do Renascimento (XV a
XVII), não enunciou uma solução para o problema, mas procurou trazer esclarecimentos,
partindo de uma filosofia humanista.
O reconhecimento de direitos inerentes à pessoa com deficiência surge no século XIX,
com os EUA a protelarem o direito à moradia em 1811. Porém, os avanços mais expressivos
datam do século XX, em que os governos de vários países, como os EUA e da Inglaterra,
passaram a assistir a pessoa com deficiência, criando comissões destinadas a acudir situações
em volta desta. Por outro lado, Garcia aponta que o critério excludente da pessoa com
deficiência era diferente com base na ideologia política dominante, enquanto a Alemanha
nazista exterminava as pessoas com deficiência, os Estados Unidos da América (EUA)os
honravam com medalhas de heróis da pátria (GARCIA, 2011, 5)15.
Assim, com a criação de uma organização vocacionada a zelar pela paz no mundo, a
ONU em 1945, em 1975 o debate em torno da pessoa com deficiência é diferente da
atualconvenção, ou seja, que a barreira não está na deficiência, mas nas políticas
implementadas pela ideologia dominante. A declaração de 1975 enfatiza tão somente a
deficiência como o único impedimento à realização plena dos direitos. Nesta conformidade,
afirmamos que, a posteriori, foi uma consecução de mecanismos que tenderam a necessidade
de se discutir os direitos da pessoa com deficiência, enfatizando cada vez mais os seus direitos
sociais, nos moldes de critério igual para todos. Segue abaixo um quadro com vista a ilustrar a

15
Disponível em: <http://www.bengalalegal.com/pcd-mundial>.Acesso em: maio de 2013.
45

evolução dos direitos humanos da pessoa com deficiência nos diferentes documentos
internacionais:

Quadro I - Tratados internacionais sobre direitos humanos e pessoas com deficiência


ANO DENOMINAÇÃO DO DOCUMENTO
1971 Declaração sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência Mental (1971),
aprovada pela Assembleia Geral da ONU através da Resolução 2856 (XXVI), 20
de Dezembro de 1971.
1975 Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes
Resolução aprovada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas
em 09/12/75
1990 Declaração Mundial Sobre Educação Para Todos. Organizada pela UNESCO.
1993 Normas sobre a Equiparação de Oportunidades Para Pessoa Com Deficiência∕
ONU.
1993 Inclusão Plena e Positiva de Pessoas com Deficiência em todos os aspectos da
sociedade∕ ONU.
1993 Criação da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, presidida
por Jacques Delors.
1994 Declaração de Salamanca e Linhas de Ação sobre Educação para Necessidades
Especiais∕Unesco e Governo Espanhol.
1999 Convenção Interamericana Para Eliminação De Todas As Formas De
Discriminação Contra as Pessoas com deficiência (Convenção de Guatemala)
∕OEA.
2000 Fórum mundial de Educação realizado em Dakar (Senegal).
2001 Classificação Internacional de Funcionalidade, Deficiência e Saúde (CIF)/OMS,
que substitui a Classificação Internacional de Impedimentos, Deficiências e
Incapacidades∕ OMS, de 1980.
2003 Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos e Dignidade das
Pessoas com Deficiência∕ ONU.
2003 Congresso Europeu de Pessoas com Deficiência, comemorando a proclamação de
2003 como o Ano Europeu das Pessoas com Deficiência, em 23 de março de
2002.
2004 Declaração de Montreal sobre Deficiência Intelectual∕OMS–OPAS.
2006 Convenção Sobre os Direitos da Pessoa Com Deficiência∕ ONU.
Fonte: Kassumi Sassaki, apud Paiva (2009, p. 19)

Posto isso, a CSDPCD de 2006 veio assegurar que a pessoa com deficiência é tão
capaz quanto o não deficiente desde que se não lhe coloque impedimentos à realização dos
seus direitos, pois, como bem asseverou Flávia Piovesan, as pessoas com deficiência “passam
a ser verdadeiros sujeitos, titulares de direitos” e o impedimento resulta do “ambiente
econômico e social”, reafirma ainda autora que a convenção foi inovadora, não só no
conceito, mas também no tocante ao quesito celeridade.Nunca antes um tratado de cariz
internacional fora negociado como este, denotou-se disto o reconhecimento da comunidade
internacional em ver a questão da pessoa com deficiência tomar um rumo diferente dos anos
anteriores. (PIOVESAN, 2012, p. 291).
46

O objetivo da convenção se resume em proteger, promover, assegurar os direitos


humanos da pessoa com deficiência, porém, a quem caberá esta responsabilidade? A resposta
a esta indagação não seria outra senão aos Estados, por meio de atos legislativos e
implementação de política pública inclusiva, com vista à criação de uma sociedade para todos.
Nesta conformidade, a convenção enunciou os seguintes princípios:

a) O respeito pela dignidade inerente, a autonomia individual, inclusive a


liberdade de fazer as próprias escolhas, e a independência das pessoas; b)
não discriminação; c) A plena e efetiva participação e inclusão na sociedade;
d) O respeito pela diferença e aceitação das pessoas com deficiência como
parte da diversidade humana e da humanidade; e) A igualdade de
oportunidade; f) A acessibilidade; g) A igualdade entre homem e a mulher;
h) O respeito pelo desenvolvimento das capacidades das crianças com
deficiência e pelo direito das crianças com deficiência de preservar sua
identidade. (ARTIGO 3ºDA CONVENÇÃO, 2006).

Ora, são esses os princípios norteadores da CSDPCD: dignidade, liberdade, não


discriminação, inclusão, igualdade de gênero, desenvolvimento. A convenção trouxe de uma
forma bem definida direitos de primeira, de segunda e de terceira geração, respectivamente,
sob a perspectiva integral dos direitos humanos (PIOVESAN, 2012, p. 292).
Contudo, uma vez apresentada sem síntese à convenção, resta-nos então trazer à liça a
discussão em volta do (art. 24), que faz referência ao direito à educação da pessoa com
deficiência. Para tanto, refere o documento que cabe aos Estados-partes efetivar o direito à
educação da pessoa com deficiência sem discriminação, baseadas na igualdade, sendo que o
sistema educacional deverá ser, como já acima referimos, na perspectiva da inclusão, com a
finalidade do pleno desenvolvimento humano, do senso de dignidade e autoestima, do
respeito pelos direitos humanos, pelas liberdades fundamentais e diversidade humana. As
pessoas com deficiência não podem ser excluídas com fundamento na deficiência. O art. 24
expressa que as dificuldades encontradas em exercer plenamente seus direitos devem antes de
mais ser responsabilidade do Estado.O Estado deve sem discriminação e igualdade de
oportunidadesrealizar o direito à educação inclusiva em todos os níveis da pessoa com
deficiência, em atenção ao princípio norteador da ordem constitucional a dignidade da pessoa
humana.A presente convenção no referido artigo sobre o direito à educação foi enfática, em
assegurar o direito das pessoas com deficiência não serem excluídas do sistema regular de
ensino em detrimento da sua deficiência, contanto que terão acesso há um ensino, primário,
secundário inclusivo, de qualidade, gratuito e compulsório, em base de igualdade com as
demais pessoas na comunidade em que vivemcomo bem se vê:
47

[...] Efetivas medidas individualizadas serão adotadas em meios que


maximizem o desenvolvimento acadêmico e social, compatível com a
meta de inclusão plena. Os Estados-partes assegurarão às pessoas com
deficiência a possibilidade de aprender as habilidades necessárias à vida
e ao desenvolvimento social, a fim de facilitar-lhes a plena e equitativa
participação na educação e como membros da comunidade[...]18 1.
Facilitação do aprendizado de Braille, escrita alternativa, formas de
ampliação e alternativas, meios e formatos de comunicação e orientação
sobre mobilidade e possibilidades de locomoção, além de facilitação do
apoio e orientação pelos pares; Facilitação do aprendizado de linguagem
de sinais e promoção da identidade linguística da comunidade de
deficientes auditivos; e. Garantia de que a educação de pessoas,
inclusive crianças, que são cegas, surdo cegas e surdas seja ministrada
nas linguagens e formas e modos de comunicação mais adequados ao
indivíduo e em ambientes que favoreçam ao máximo seu
desenvolvimento acadêmico e social. [...](ARTIGO 24 DA
CONVENÇÃO, 2006).

Do artigo acima exposto depreende-se ainda, que, caberá aos Estados – partes, a
responsabilidade de tomar medidas que visem empregar professores “inclusive professores
com deficiência”, com domínio da linguagem gestual e dotada para o ensino do Braille.
(CSDPCD, art., 24. 2006).16
O presente artigo constitui um desafio aos Estados subscritoresda presente convenção,
e a sua implementação depende de uma política pública capaz de dar resposta à garantia do
direito à educação na rede regular de ensino e deum compromisso por parte dos Estados na
prossecução, promoção e proteção do direito à educação da pessoa com deficiência. No
diapasão de George Leite, o direito à educação da pessoa com deficiência, visa o pleno
desenvolvimento do potencial humano e do senso de dignidade e autoestima (LEITE et al.,
2012, p. 66).
Angola aderiu à Convenção em 20 de novembro de 2012, portanto, seis anos depois da
criação e, quatro após sua entrada em vigor, também aderiu à convenção de 1990 sobre
educação para todos e, igualmente, à declaração de Salamanca sobre necessidades educativas
especiais.Recentemente, isto é em 27 de junho de 2012, aprovou a lei da pessoa com
deficiência sem ter em conta às contribuições desta na elaboração da referida legislação, e a
criação do Conselho Nacional da Pessoa com Deficiência pelo Decreto Presidencial nº 105/
12, o estatuto da Modalidade de Educação Especial, nº 20/11.O texto constitucional angolano
dispõe um direito a educação da pessoa com deficiência, no“ ensino especial.A CRA, a nosso

16
“Essa capacitação deverá incluir a conscientização da deficiência e a utilização de meios apropriados de
ampliação e alternativos, meios e formatos de comunicação e técnicas e materiais pedagógicos, em apoio de
pessoas com deficiência. 5. Os Estados-partes assegurarão que as pessoas com deficiência sejam capazes de ter
acesso a ensino terciário geral, treinamento vocacional, educação de adultos e aprendizado continuado sem
discriminação e em base de igualdade com as demais pessoas." (CSDPCD, art. 24.2006).
48

ver, não se despiu da visão assistencialista à pessoa com deficiência. Um maior


desenvolvimento a propósito pretendemos fazê-lo mais adiante sob pena de sermos
repetitivos.
Entretanto, vimos na prática que se denota vontade política por parte do Governo em
aderir ou criar leis internas para promover e proteger direitos a pessoa com deficiênciapois já
dizia o adágio “antes tarde do que nunca”. Porém a executoriedade delas está bem longe da
verdade, porquanto dizer que a fiscalização é precária seria elogio, ela é inexistente.
Concomitantemente ratificar para não aplicar, melhor não ratificar, sob pena de trair as
expectativas jurídicas do cidadão.
49

3 DIREITO HUMANO A EDUCAÇÃO: O PARADIGMA INCLUSIVO

O direito humano á educação inclusiva já ressaltado, no capitulo anterior, com


fundamento na Declaração de Salamanca e na convenção da ONU das pessoas com
deficiência é o que se impõe abordar. O que é inclusão? Como se pretende e quais os aspectos
a ter enconta à abordagem de um direito à educação inclusiva.
O constitucionalismo contemporâneo é conhecido por nortear toda sua ordem
normativa baseada no principio da dignidade da pessoa humana. Angola não foge a esta
realidade. Por conseguinte, pretendemos compreender porque razão este princípio não pode
ser descurado do processo inclusivo da pessoa com deficiência sem descurar o princípio da
igualdade que por sua vez vem complementar o primeiro, reafirmando que trata-se de um
direito de todos.
Nesta senda analisar em que medida a inclusão da pessoa com deficiência na rede
regular de ensino esta sendo prioridade do Estado, o que se pretende: o paradigma inclusivo
ou o especial? Inclusão-segregação ou integração? Pretendemos nortear a discussão dessas e
outras questões com embasamento teórico na doutrina consultada e prosseguir em busca de
possíveis respostas aos questionamentos que vimos fazendo.

3.1 DIREITO A EDUCAÇÃO PARA TODOS

Referiu Danton, por altura da Revolução Francesa, que “Depois do pão, a educação é a
primeira necessidade do povo”. A necessidade que os seres humanos têm de se alimentar para
ter defesa no organismo, ser capaz de combater enfermidades e de sentir-se bem, no diapasão
de Danton é a mesma necessidade que os governos devem ter com a realização do direito à
educação. Como bem aponta Monteiro, não se resume em ser uma educação qualquer, mas o
direito à educação de qualidade, pois esta constitui antes uma qualidade de pão vital para uma
vida humana (DANTON apud MONTEIRO, 2003, p. 763).
A educação é um direito humano fundamental, constitucionalmente consagrado cujo
acesso deverá pautar-se no princípio da universalidade e da dignidade da pessoa humana, pois
esta é um “componente” da educação. É um direito de todos e para todos, sendo dever do
Estado em primeira instância garantir que se efetive este direito pautado na democracia
(SILVA, 2011, p. 313). A UNESCO, em seu relatório, referiu que o direito à educação é uma
questão de direitos humanos.
50

O direito à educação como um direito humano e para todos vem sendo reconhecido em
documentos internacionais de direitos humanos, a contar da declaração dos direitos do homem
de 1789 aos nossos dias. Muito antes disso, o pensamento de Aristóteles já tendia que a
educação era uma das formas de crescimento intelectual e humano. “A instrução é a
necessidade de todos. A sociedade deve favorecer todo o seu poder ao progresso da
inteligência pública e colocar a instrução ao alcance de todos os cidadãos”.
Segundo a carta da Organização dos Estados Americanos de 1948, “Os Estados
membros inspirados nos princípios de solidariedade e cooperação [...], comprometem-se a
unir esforços no sentido de que. [...] o desenvolvimento integral abrange os campos
econômico, social e educacional, cultural”. A Declaração Americana dos Direitos e Deveres
do Homem, de 1948, também fez alusão ao direito à educação no seu artigo 30, enfatizando
que “toda a pessoa tem direito à educação”. A DUDH, no seu artigo 26º nº 1 diz: “Toda
pessoa tem direito à instrução”. A Declaração dos Direitos da Criança, de 1959, no seu
princípio de nº 5º faz referência que “À criança incapacitada física, mental ou socialmente
serão proporcionados o tratamento, a educação e os cuidados especiais exigidos pela sua
condição peculiar”. Por outro lado, a Declaração sobre a Promoção entre a Juventude dos
Ideais de Paz, Respeito Mútuo e Compreensão entre os Povos, de 1965, menciona que a
educação “deve promover os ideias de paz, humanismo, liberdade e solidariedade
internacional”. Com dignidade e de igualdade entre todos. O PIDESC, que já acima fizemos
referência, na mesma senda reconhece no seu artigo 13º “O direito de toda a pessoa à
educação”.
Ainda no mesmo diapasão a Convenção dos Direitos das Crianças, de 1989, no seu
artigo 28º assevera “o direito da criança à educação [...] e em igualdade de condições.”
Declaração mundial de educação para todos de 1990, dispõem em seu artigo 1º que “cada
pessoa – criança, jovem ou adulto- deve estar em condições de aproveitar as oportunidades
educativas voltadas para satisfazer suas necessidades básicas de aprendizagem”. A Declaração
de Viena de 1993 refere que “os Estados devem garantir que a educação se destine a reforçar
o respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais.” O Plano de Ação de Dakar-
Senegal, de 2000 faz alusão de que, “a educação enquanto um direito humano fundamental é a
chave para o desenvolvimento sustentável”. Os objetivos do milênio enunciados pela ONU no
ano de 2000 foram mais enfáticos ao estabelecer uma meta para que até o ano de 2015 “todas
as crianças, de ambos os sexos, tenham recebido educação de qualidade e concluído o ensino
básico.” A Declaração de Salamanca, de 1994, por sua vez, enuncia que “toda criança tem
direito fundamental à educação, e deve ser dada a oportunidade de atingir e manter o nível
51

adequado de aprendizagem”. Finalmente e não menos importante a Convenção da ONU das


pessoas com deficiência, de 2006, artigo 24: “Os Estados-partes reconhecem o direito das
pessoas com deficiência à educação”.
O que pretendemos com isso afirmar é que o direito à educação tem ganhando
relevância jurídica quer em hard law quanto soft low, dito de outro modo documentos
vinculativos e não vinculativos, como bem refere Bobbio que:

Não existe atualmente nenhuma carta de direitos que não reconheça o direito à
instrução — crescente, de resto, de sociedade para sociedade — primeiro, elementar,
depois secundária, e pouco a pouco, até mesmo, universitária. Não me consta que, nas
mais conhecidas descrições do estado de natureza, esse direito fosse mencionado. A
verdade é que esse direito não fora posto no estado de natureza porque não emergira
na sociedade da época em que nasceram as doutrinas jus naturalistas, quando as
exigências fundamentais que partiam daquelas sociedades para chegarem aos
poderosos da Terra eram principalmente exigências de liberdade em face das Igrejas e
dos Estados, e não ainda de outros bens, como o da instrução, que somente uma
sociedade mais evoluída econômica e socialmente poderia expressar. (BOBBIO, 2004,
p. 69).

Todos os tratados, convenções, declarações ou resoluções de que acima fizemos


alusão reportaram que a educação é um direito humano e compete aos Estados a obrigação de
dispor de meios e políticas públicas tendentes à realização desse direito, em obediência aos
princípios da universalidade e da igualdade. Partindo desse pressuposto, é um direito tanto das
pessoas com deficiência como das pessoas não deficientes. Destarte, referimos que a
educação é um direito humano, porquanto se destina aos seres humanos, e os Estados devem
primar a plena realização deste direito em instituições dignas, dispor de materiais didáticos,
acessíveis, professores qualificados. No dizer de Dias:

[...] podemos aduzir que a garantia do direito à educação, enquanto direito humano
fundamental, percorre um caminho marcado por inúmeros sujeitos sociais: pelas lutas
que afirmam esse direito, pela responsabilidade do Estado em prover os meios
necessários à sua concretização e pela adoção de concepção de uma educação cujo
princípio de igualdade contemple o necessário respeito e tolerância à diversidade.
(DIAS, p. 14)

A educação é valiosa por ser a mais eficiente ferramenta para crescimento pessoal. E
assume o status de direito humano, pois é parte integrante da dignidade humana e contribui
para ampliá-la com conhecimento, saber e discernimento. Além disso, pelo tipo de
instrumento que constitui, trata-se de um direito de múltiplas faces: social, econômica e
cultural. Direito social porque, no contexto da comunidade, promove o pleno
52

desenvolvimento da personalidade humana. Direito econômico, pois favorece a auto-


suficiência econômica por meio do emprego ou do trabalho autônomo. E direito cultural, já
que a comunidade internacional orientou a educação no sentido de construir uma cultura
universal de direitos humanos. Em suma, a educação é o pré-requisito fundamental para o
indivíduo atuar plenamente como ser humano na sociedade moderna (CLAUDE, 2005, p. 6)
17
.
A universalização da educação como um direito de todos e em termos de igualdade de
gênero até o ano de 2015 é um dos objetivos do milênio proposto pela ONU, qual Angola se
propôs atingir, como bem representa o quadro:

Quadro II – Os Objetivos do Milênio (ODM)


Alcançar o ensino primário universal Meta 2-Garantir que todas as crianças de ambos
os sexos, terminem um ciclo completo de ensino
primário, até o ano de 2015.
Promover a igualdade entre sexos e a Meta 3- Eliminar as disparidades entre sexos no
autonomização das mulheres ensino primário e secundário, se possível até
2005, e em todos os níveis o mais tardar até 2015.

Fonte: Relatório do Desenvolvimento Humano 2003 apud Filipe Zau, 2009, p. 58.

Os oitos compromissos ou Objetivos do Milênio, ODM, o Estado angolano se


comprometeu, até o ano de 2015, garantir a universalização da educação, porém, tal
compromisso, segundo o que temos observado, não passou mesmo disso, porquanto ainda é
notório no país um número elevado de crianças fora do sistema de ensino, por falta de sala de
aulas, e uma taxa elevada do analfabetismo. Ora, medidas enérgicas devem ser tomadas se de
fato for pretensão do Estado em cumprir com essa meta de até o ano de 2015 universalizar a
educação, promover a igualdade, pois a educação é um direito de todos, como bem acentua
Monteiro, o direito à educação é um direito de todas as “minorias”, quer sejam étnicas ou
raciais, igualmente o é de todos os sexos, homens e mulheres (MONTEIRO, 2003, p. 769)18.
Haja vista que “a educação baseada nos direitos humanos implica garantias para o direito à
educação, os direitos humanos na educação a promoção de todos os direitos humanos através
da educação” (TOMAVESKI apud LENSKIJ, 2006, p. 27).

17
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1806-64452005000100003&script=sci_arttext>.
Acesso em: jun. 2013.
18
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v24n84/a03v2484.pdf>. Acesso em: jan. 2013.
53

Quando se diz que o direito à educação é um direito humano queremos com isso dizer
que a sua realização deve ser em condições dignas, por essa razão fizemos alusão à dignidade
da pessoa humana. São direitos para os seres humanos, ainda que representados pelos “entes
coletivos” (SARLET, 2012, p.29). Pensamos que se faz necessário pensar a educação como
um direito humano, corroborando com o que já fora enunciado nos diferentes tratados de
direitos humanos, pois sem educação não há transformação social, pois, que compreendemos
esta ser útil ao desenvolvimento e consequente “exercício de outros direitos”, a inexistência
deste direito impele a efetivação de outros direitos, mormente os civis e políticos.

3.2 DO DIREITO À EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INCLUSIVA: DEFINIÇÕES E


PERSPECTIVAS

Na Lex Mater angolana, o direito à educação tem consagração no capítulo III, Dos
Direitos e Deveres Econômicos, Sociais e Culturais (DESCS). Porém, como fizemos
referência no primeiro capítulo, mais importante do que a consagração legal entendemos ser
as medidas adotadas para realização plena e efetiva deste direito (CURY, 2002)19. Assim o
constituinte angolano elaborou deste modo o texto referente à educação em nosso entender e
já explicaremos por quê. “O Estado promove o acesso de todos à alfabetização, ao ensino, à
cultura e ao desporto, estimulando a participação dos diversos agentes particulares na sua
efetivação, nos termos da lei. 2. O Estado promove a ciência e a investigação científica e
tecnológica. 3. A iniciativa particular e cooperativa nos domínios do ensino, da cultura e do
desporto exerce-se nas condições previstas na lei”. (CRA, 2010, Art. 79).
Depreende-se do artigo acima descrito trazer à liça discussão entre educação e ensino:
serão correlatos ou estaremos em presença de duas coisas diferentes? Por que razão o
constituinte angolano preferiu a formulação ensino à educação? Ora, segundo Carlos Brandão,
“O ensino formal é o momento em que a educação se sujeita a pedagogia (a teoria da
educação), cria situações próprias para o seu exercício, produz os seus métodos, estabelece
suas regras e tempos e constitui executores especializados” (BRANDÃO, 2007, p. 26).
Em face da enunciação de Carlos Brandão, compreenderíamos a razão de ser do
constituinte angolano, porém, “os dois termos devem ser casados, para que se tenham
resultados verdadeiramente positivos”. “É possível ensinar sem educar, mas é impossível
educar sem ensinar”. [...] Para alguns, tratam-se de dois dispositivos distintos, para outros, o

19
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-15742002000200010&script=sci_arttext>
Acesso em: 23 jun. 2013.
54

segundo está inserido no conceito do primeiro. Não se nega que, em determinadas situações,
existe sim o direito ao ensino, independentemente de qualquer condicionante. [...] (CAMPOS,
2008)20.
Não pretendemos nos alongar na eventualidade de haver ou não a diferença entre
educação e ensino, pois compreendemos que o ensino é uma componente da educação, mas
que esta é mais abrangente. Enquanto o ensino se reporta à transmissão de conhecimentos, a
educação é um campo mais abrangente. Porém, faz-se necessário entendermos a razão de o
constituinte, num só artigo, mencionar vários direitos.
Data vênia ao constituinte angolano, porém, não pretendemos enfatizar que a
formulação está errada; só não conseguimos vislumbrar a razão de o constituinte em um só
artigo tratar de vários direitos tão essenciais, nosso questionamento gravita em torno de saber
quais critérios se teve em conta para o efeito. Outra seria saber por que a formulação é tão
evasiva: estará o Estado tão preocupado em garantir o direito à educação? A resposta a este
questionamento só seria possível se tivéssemos em posse dos relatórios e respectivas atas de
discussão da constituição de 2010. A educação inclusiva não mereceu consagração no texto
da CRA de 2010, mas sim o ensino especial, como bem reza o artigo 83 no seu número
quatro: “O Estado fomenta e apoia o ensino especial e a formação técnico-profissional para os
cidadãos com deficiência.” (CRA, 2010, p. 32).
Note-se que a perspectiva aludida no referido artigo não se reporta ao ensino inclusivo,
mas sim à segregação. Também queremos aqui acentuar que não se pretende com o presente
trabalho deixar vincado o entendimento de que são todas as deficiências que atendem a
inclusão. Já aqui fizemos alusão de que o debate em torno do direito à educação da pessoa
com deficiência preferencialmente em rede regular de ensino – doravante denominada
educação inclusiva – emergiu, com a Conferência Mundial de Educação Para Todos, realizada
em Jomtien, na Tailândia, em 199021, mas a conferência realizada na cidade de Salamanca,
Espanha, foi veemente, dando ênfase ao direito à educação inclusiva, impondo
responsabilidades tanto ao Estado quanto à sociedade. Com a aprovação da Convenção da
ONU de 2006, o discurso em torno da inclusão ganhou mais força, pois se, por um lado,
Salamanca foi inovadora quanto ao conceito de inclusão, a Convenção de 2006, por sua vez,

20
Disponível em: <http://www.tributacaonoensino.com.br/o-direito-a-educacao-na-constituicao-e-seus-efeitos-
sobre-as-instituicoes-de-ensino/>.
21
Essa conferência, que destacou a necessidade de se adotar medidas enérgicas para prover educação para todos,
sem distinção de qualquer espécie, contou com a participação de 155 países de todo mundo. (SHIROMA,
MOARES, EVANGELISTA apud DORZIAT, 2008, p. 10).
55

foi categórica ao afirmar o novo conceito de pessoa com deficiência22. Nesta conformidade, a
convenção de 2006 reforça que quem impõe a deficiência são as barreiras impostas pela
sociedade, então a inclusão desta na rede regular de ensino, mais do que necessário, é um
direito humano a diversidade.
Tal como os demais direitos sociais, emergiram de constantes lutas, com o direito à
educação não seria diferente, ainda mais na perspectiva que aqui pretendemos abordar. Como
se dará este direito à educação na perspectiva desse novo paradigma conhecido como
educação inclusiva e em face de ausência de professores não especializados para lidar com as
diferentes tipologias de deficiência? No que se resume a educação inclusiva? Será o direito à
educação inclusiva um direito ou uma política? Essas e outras questões pretendemos adentrar
no direito à educação inclusiva como o trampolim para inclusão social da pessoa com
deficiência e, com o processo inclusivo, vem todo um arcabouço de preconceitos que foram
construídos em torno da pessoa com deficiência. Será que é capaz?
Assim, até o presente temos nos debruçado somente ao termo pessoa com deficiência,
porém, cumpre-nos a obrigação de trazer à liça definições sobre os diversos tipos de
deficiência na qual se debruça a inclusão. Vale ainda dizer que a doutrina não faz alusão de
qual deficiência seria mais ou menos apropriada para o processo inclusivo. Por tal fato, a
doutrina a que tivemos acesso comunga a tese de que a dificuldade da inclusão da pessoa com
deficiência não reside nas pessoas, mas sim nos espaços sociais, que não são adaptáveis a
pessoa com deficiência. Cumpre-nos apresentar algumas definições dos diversos tipos de
deficiências mais comuns.
Nesta conformidade, por deficiência visual podemos compreender como a limitação
sensorial que pode anular ou reduzir a capacidade de ver, comportando vários graus de
acuidade visual, permitindo classificações da redução da visão (CIDADE; FREITAS, 2009, p.
17).

Deficiência física: É toda e qualquer alteração no corpo humano, resultado de um


problema ortopédico, neurológico ou de má formação, levando o indivíduo a uma
limitação ou dificuldade no desenvolvimento de alguma tarefa motora (COSTA apud
CIDADE; FREITAS, 2009, p. 17).23

22
Grifo nosso. A maioria das pessoas se questionava, depois de Salamanca, e partia do seguinte pressuposto:
como incluir essas pessoas na rede regular de ensino? A Convenção da ONU de 2006, com o novo conceito de
pessoa com deficiência, refere, segundo nosso entendimento, a como achar uma forma de incluir e prestar um
serviço de qualidade, porque a dificuldade não reside no grau de deficiência, mas nas barreiras impostas, pela
sociedade, que não foi preparada para lidar, viver e conviver na diversidade, seria proposital ou medida de
afastar a pessoa com deficiência do meio social? Essa é uma questão que ainda precisaremos aprofundar.
23
Podemos encontrar as tipologias de deficiência física conforme nota o site
<http://www.ibc.gov.br/?catid=83&blogid=1&itemid=396>. Acesso em 04 jun. 2013.
56

A deficiência auditiva tem a ver com a dificuldade de captação dos sons, havendo com
isso uma perturbação no conhecimento do meio, limitação da comunicação verbal resultando
na dificuldade de relacionamento com outras pessoas24.
Por sua vez, ainda no diapasão das autoras, a deficiência múltipla, resulta de que, na
mesma pessoa, haja duas ou mais deficiências primárias quais sejam: “visual, auditiva, física,
visual ou mental, com comprometimentos que acarretam consequências no seu
desenvolvimento global e na sua capacidade adaptativa” (CIDADE; FREITAS, 2009, p. 17).
Quisemos com isto enunciar os diferentes tipos de deficiência, mais comuns, porém nosso
objetivo não se reporta em analisar o processo inclusivo de cada uma delas, mas sim da
pessoa com deficiência grosso modo.
A questão envolvente os direitos de uma maneira geral das pessoas com deficiência, tal
como os direitos humanos emerge de lutas sociais, pois, se no passado eram consideradas
pessoas doentes, algumas vezes amaldiçoadas por conta da deficiência, hoje em muitas
sociedades a pessoa com deficiência tem um testemunho de superação, por conta da sociedade
inclusiva, pela qual vem lutando e granjeou alguns direitos que lhe permitiram se afirmar e
reivindicar cada vez mais por mais direitos, como o direito à educação.
Como vimos até o presente, todos os documentos que cuidaram em abordar o direito à
educação e os que trataram especificamente deste direito econômico social foram grosso
modo generalistas. A problemática da educação na perspectiva da inclusão para as pessoas
com deficiência, como acima procuramos ilustrar, surge com a DCS de 1994 e a Convenção
da ONU das pessoas com deficiência em 2006. Assim, na visão de alguns autores,
pretendemos adentrar no que especificamente a doutrina denomina de educação inclusiva,
quais os seus marcos e meandros e até que ponto ou a que tipo de deficiência ela se refere, a
visual, auditiva, física ou mental e a quem cabe a inclusão na escola regular.
Segundo Cláudia Prioste, por educação inclusiva não se reporta como modismo, como já
acima fizemos alusão; ela emerge de um gigantesco movimento em todo mundo, cujos
fundamentos e princípios radicam nos direitos humanos, com a finalidade de promover a
equidade no setor da educação para todos (PRIOSTE, 2011, p. 35). A UNESCO não está
alheia à causa da inclusão das pessoas com deficiência na rede regular como um direito
humano com a finalidade de promover o respeito à diferença e a efetiva inclusão social. Por
este fato assevera que: “A educação é uma questão de direito humanos e os indivíduos com

24
Uma análise mais aprofundada pode ser encontrada em <http://www.winaudio.com.br/produtos-e-
servicos/noticias-em-audiologia/3783-segundo-a-oms-360-milhoes-de-pessoas-no-mundo-sofrem-de-perda-
auditiva-incapacitante.html> Acesso em: 03 jun. 2013.
57

deficiências devem fazer parte das escolas, as quais devem modificar seu funcionamento para
incluir todos os alunos”. (CONFERÊNCIA MUNDIAL DE SALAMANCA, 1994).
A educação inclusiva resulta de um amplo processo, de pequenas e grandes
transformações, em ambientes físicos e na mentalidade de todas as pessoas, inclusive na da
pessoa com deficiência. Enfatizam ainda as autoras que a “inclusão é um paradigma
educacional cujo fundamento assenta na concepção dos direitos humanos, que conjuga
igualdade e diferença como valores indissociáveis”, a educação inclusiva aceita e acolhe a
diversidade, com elevado respeito às diferenças. (CIDADE; FREITAS, 2009, p. 49).
Para Abenhaim, a educação inclusiva compreende-se por ser o sistema de educação que
vai incluir as pessoas com deficiência no ensino regular, proporcionando-lhes todos os meios
no sentido de estas poderem realizar suas tarefas sem dificuldade, sentirem-se parte da escola,
cabendo ao Estado o dever de atentar para as questões arquitetônicas da escola, formação de
quadros capazes de responder ao ensino com necessidades educativas especiais
(ABENHAIM, 2007, p. 52). “[...] Inclusão é um movimento que pretende aproximar a todos,
sem que ninguém fique de fora”. (Idem).
A educação inclusiva é um modelo de educação cuja finalidade esta consubstanciada em
promover a educação de todos os alunos na rede regular de ensino, independentemente de sua
capacidade ou classe econômica (RODRIGUES, 2008, p. 11).

[...] a educação inclusiva, é um movimento que compreende a educação como


um direito humano fundamental e base para uma sociedade justa e solidária.
Constitui um espaço para que os educadores da educação comum e especial,
alunos, pais, possam criar juntos escolas democráticas e de qualidade,
preocupando-se em atender todos os alunos, considerando suas características,
e, a partir delas, organizar uma proposta de atendimento das diferentes
necessidades educacionais especiais. (PEDROZO, et al. 2008, p. 26).

A inclusão escolar é o sistema que desenvolve a nossa capacidade de


entendermos e reconhecermos o outro como ele é e, assim, termos o privilégio
de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós. A educação
inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção. [...] (MACHADO, 2012, p. 2).

O que se impõe é pensar a inclusão rompendo com estigma que se foi criando em
torno da pessoa com deficiência, o conceito de normal precisa desaparecer para dar azo à
diversidade. (ABENHAIM, 2005, p. 51).
A inclusão social da pessoa com deficiência passa necessariamente pela inclusão
escolar (ALMEIDA apud FREITAS, 2008, p. 33). “A inclusão, não se reporta somente a
pessoa com deficiência, mas sim, a toda criança, jovens e adultos que venham a sofrer
58

quaisquer tipos de exclusão educacional”. Ora, o tripé da inclusão, independência, autonomia


e emancipação, baseado no paradigma da inclusão social.
Cumpre-nos explicitar como se pretende que seja esse processo inclusivo,
diferenciando com o tipo de deficiência que enunciamos, quais sejam, visual, física, auditiva e
mental. Para a pessoa com deficiência visual25 pensamos que a escola precisa estar preparada
do seguinte forma: remoção de obstáculos que impedem que esta possa se locomover,
construção de rampas de acesso, livros em Braille26 computadores com livros falados,
professores capacitados para ensinar a leitura ao método de Braille. Tratando-se de deficiência
física, a inclusão seria possível quanto à remoção de obstáculos igualmente. Ao passo que
para a deficiência auditiva passaria pela capacitação de profissionais com a linguagem gestual
de modo a facilitar o processo inclusivo.
Finalmente, para a pessoa com deficiência mental, diríamos que esta seja o calcanhar
de Aquiles dos céticos em relação à educação inclusiva, pois, à primeira vista, o entendimento
reporta que seria impossível a inclusão desta na rede regular de ensino, porém em contato
com a doutrina a respeito da questão, tal como enunciamos nas demais deficiências, a
inclusão da pessoa com deficiência mental é tão possível quanto às demais, desde que os
docentes estejam preparados para lidar com o aluno com a deficiência mental.
Por conseguinte, tal desiderato só será possível mediante adoção de políticas públicas
e comprometimento do professor e das instituições e uma mudança no currículo escolar que
satisfaça os interesses do grupo (MOSQUEIRA, 2010, p. 119, 141).
Não mais se fala de uma escola especial, onde a pessoa com deficiência era colocada
de parte, à margem da sociedade, segregada. O paradigma da inclusão vem precisamente para
quebrar com este posicionamento de que a pessoa com deficiência tem, sim, direito à
educação, mas que será melhor para esta se satisfazer na escola especial. Assim, queremos
enfatizar para enunciar as especificidades ou diferenças tanto do paradigma especial quanto
do paradigma inclusivo, no quadro a seguir:

25
“Causas frequentes de deficiência visual. Catarata, retinopatia de prematuridade, traumas, retinoblastona,
retinose pigmentar, deficiência visual cortical, glaucoma, diabetes, doença macular senil (DMS), atrofia ótica,
hipermetropia, miopia e astigmatismo” (MOSQUEIRA, 2010, p. 53).
26
Louis Braille nasceu a 4 de Janeiro de 1809, numa pequena aldeia Francesa chamada Coupvray. Louis Braille
cegou aos três anos de idade, em consequência de um acidente que ocorreu quando brincava com apara de couro
na oficina de seu pai. Aos 10 anos de idade ingressou na Escola de Cegos Valentin Hauy, onde sedistinguiu pela
sua inteligência, tendo-se destacado na aprendizagem de órgão, tornando-se organista de profissão. Mais tarde,
assumiu a direção da escola que o acolheu, onde veio a leccionar, tendo também iniciado muitos jovens cegos
nas lides musicais. Faleceu em 1852, vítima de doença, tendo dedicado toda a sua vida à defesa dos direitos dos
cegos, que na altura eram considerados por muitos como um peso morto para a sociedade. Disponível em: <
http://www.euroacessibilidade.com/pdf/O_Braille.pdf>. Acesso em 4 jun. 2013.
59

Quadro III – Questões inerentes ao paradigma especial e inclusivo


Paradigma especial Paradigma inclusivo
Foco nos déficits da criança. Foco nas ilhas de inteligência que estão
preservadas.
Ênfase no treinamento da criança visando a Ênfase na mudança do ambiente para proporcionar
que ela se ajuste no meio escolar. a todas as crianças melhores condições de
aprendizagem e desenvolvimento.
Diagnóstico baseado em teses de inteligência, Diagnostico multidisciplinar realizado por médico,
realizado por psicólogo e médico. psicólogo, assistente social, fonoaudiólogo,
terapeuta ocupacional, pedagogo, professores, entre
outros.
O objetivo do diagnostico é identificar o O objetivo do diagnostico é identificar habilidades
quociente intelectual (QI) e as limitações prévias e necessidades de apoio com a finalidade de
para que se possa estabelecer o tipo de escola elaborar um programa educacional individualizado.
especializada, assim como o nível do
agrupamento apropriado à criança.
Atendimento em classe ou escola Atendimento em classe regular junto a seus pares
especializada, isto é, separado das demais de idade; apoio especializado com suporte ao
crianças. professor.
Escolas preparadas para receber os alunos Escolas preparadas para educar na diversidade.
com uma especificidade do problema. Por
exemplo: escola só para deficientes mentais
moderados; escolas que só recebem surdos
etc.
Professores especialistas em determinadas Educadores preparados para oferecer ensino de
deficiências. qualidade a qualquer criança.
Objetivo educacional centrado no Objetivo educacional centrado na aprendizagem
treinamento, com intuito de favorecer a significativa, favorecendo a aquisição de
adaptação social da pessoa. habilidades pessoais que contribuam para inclusão
social da pessoa com deficiência.
Fonte: Prioste, 2011, p. 19.

Desse modo, conforme nos mostra Claudia Prioste com o quadro acima, o cerne da
questão reside exatamente nas questões por ela levantadas. Afirma a autora grosso modo que
a educação inclusiva faz-se necessária. É possível, se para o efeito houver uma mudança de
paradigma de pensamento. Como o próprio quadro acima nos apresenta, o paradigma da
educação inclusiva promove a inclusão social da pessoa com deficiência sua política
pedagógica assenta na diversidade ao passo que o paradigma especial contribui fortemente
para a exclusão social, segrega, porquanto o entendimento resulta do fato de que a pessoa com
deficiência deve estar na escola especial. Portanto, não se trata de nenhum favor, mas de uma
obrigação que decorre da Lex Mater, e nossa base assenta no princípio da universalidade,
reporta que todos têm direito à educação, não discrimina ninguém.
O que se pretende é a inclusão efetiva e não a integração, cabendo às instituições estarem
preparadas para diversidade, tradutores e interpretes de libras e guia (SECRETARIA DE
EDUCAÇÃO ESPECIAL, BRASIL, 2008):
60

[...] aos professores cabe também à mudança e o desenvolvimento do próprio processo


de formação e do seu desenvolvimento profissional. O professor deve promover o
autodesenvolvimento, porém, no que concerne a modalidade de ensino da educação
especial, ainda há uma necessidade emergente, na contemplação curricular da
educação, com vistas à formação inicial e à continuidade de profissionais que sejam
capazes de trabalhar com a diversidade. (FONSECA apud HOLANDA, 1987;
CAMINHA, 2008, p, 83).

Quando abordamos a educação inclusiva queremos cimentar que está em causa não o
aluno ou suas habilidades para aprender ou desaprender, mas se o Estado e as instituições
privadas de ensino estão preparados para arcar com os custos decorrentes da educação
inclusiva, o aluno com deficiência aprende com outras “experiências”, conclamar a educação
inclusiva, é proclamar os direitos sagrados na DUDH, e em outros tratados, cujo discurso se
resume ao direito à educação para todos, “considerando a diversidade como o cenário cultural
onde os princípios democráticos devem efetivar-se” (PRIOSTE et al., 2011, p. 38, 40, 48).
Ainda a propósito asseguram Holanda e Caminha:

O que se espera, agora, na era da inclusão, é que se supere a marca da


exclusão e que a sociedade realmente se prepare para receber a diversidade e,
sem atitude piegas, busque alternativas dignas e respeitosas para as pessoas
excluídas. (HOLANDA; CAMINHA, 2008, p. 64).

A inclusão é um universo vasto. Ela se reporta a acessibilidade, barreiras


arquitetônicas, pois se incluir as pessoas com deficiência na escola e não atender tais coisas,
então não é de inclusão que estamos a falar, mas de integração. A propósito da integração,
diferencia a relatora do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU,
Katharina Tomasevsky, sobre o direito à educação. Enuncia a relatora que para garantir o
direito à educação, os Estados têm de se ater em quatros pressupostos a saber:

 Disponibilidade;
 Acessibilidade;
 Aceitabilidade;
 Adaptabilidade.

No que se refere à disponibilidade, é necessário que haja instituições e programas


educativos de quantidade suficiente, capaz de suportar a demanda, e que sejam instituições
com condições higiênicas, água potável, professores capacitados e bem remunerados e
materiais de ensino a todos.
61

Por conseguinte, a acessibilidade resulta que tanto as escolas como os programas de


ensino devem ser acessíveis a todos – princípio da universalidade –, a pessoas com deficiência
e sem deficiência. É um direito para todos sem exceção, afastando a discriminação. Dentro da
acessibilidade há ainda três características, a saber:

 Não há discriminação: acesso igualitário para todos, especialmente para os grupos


mais vulneráveis, ou seja, as minorias, como a pessoa com deficiência, minorias
étnicas e raciais.
 Acessibilidade material: a educação tem de estar ao alcance físico das pessoas, ou
seja, as escolas têm de estar o mais próximo possível da comunidade, de modo
que as pessoas não tenham que andar longas distâncias.
 Acessibilidade econômica: a educação tem de estar ao alcance econômico de
todos, deve ser universal e gratuita, sendo que os Estados devem introduzir de
forma progressiva a educação gratuita nos níveis superiores.

O terceiro aspecto, reportado pela relatora da ONU, a aceitabilidade, resulta de que a


educação proferida seja adequada para as crianças e aceites pelos pais, e de relevância
culturais apropriadas e de boa qualidade. O Estado deve estabelecer um padrão mínimo para
regular esses aspectos.
Por derradeiro, e não menos importante, temos a adaptabilidade, que enuncia que a
educação deve responder as necessidades dos estudantes dentro de diversos contextos quer
sociais ou econômicos. O que quer isto dizer? A metodologia pedagógica ministrada para
alunos sem deficiência será diferente de um aluno com deficiência, é o sistema que precisa se
adaptar ao aluno e não o inverso. Ainda segundo a relatora, realização progressiva do direito à
educação para superar exclusões passa por três etapas27.
A Tomaveski enuncia o primeiro aspecto que tem a ver com inclusão com segregação.
Esta se resume em dar a possibilidade de a pessoa com deficiência estudar somente na escola
especial. O segundo aspecto a ter em conta, inclusão com integração, são integrados à rede
regular, porém, eles têm de se adaptar à escola, independentemente de suas necessidades
culturais e pessoais quer estas sejam língua, religião ou mesmo deficiência. Por derradeiro,
Tomaveski propõe que a inclusão seja com adaptação, na medida em que as instituições têm

27
Disponível em: http://inadi.gob.ar/promocion-y-desarrollo/publicaciones/documentos
tematicos/educacion/desde-el-paradigma-de-la-integracion-hacia-el-paradigma-de-la-inclusion/. Acesso em: 11
jun. 2013. Tradução literal do texto de Katarina Tomaveski.
62

de estar preparadas para lidar com a diversidade com a finalidade de mantê-los na escola. Para
que tal desiderato seja possível, impõe-se que se observe o seguinte, exposto pela UNESCO:

(a) Inclusión Educativa: Enfoques, Alcance y Contenido (para entender mejor la


teoría y la práctica de la inclusión educativa); (b) Inclusión Educativa: Políticas
Públicas (para demostrar la importancia del rol de los gobiernos en el desarrollo y
la implementación de políticas de Inclusión educativa); (c) Inclusión Educativa:
Sistemas Vínculos y Transiciones (para crear sistemas educativos que ofrezcan
oportunidades para el aprendizaje durante toda la vida); y (d) Inclusión Educativa:
Alumnos y Docentes (para promover un clima de aprendizaje en el marco del cual
los docentes estén capacitados para poder atender las diversas expectativas y
necesidades de alumnas y alumnos). (UNESCO, 2004, p. 02).28

Contudo, nos permite afirmar que a inclusão social da pessoa com deficiência permeia
pela garantia dos seus direitos, sociais, entre os quais nos referimos ao direito à educação,
preferencialmente na escola regular. O entrave dessa inclusão resulta da política
assistencialista, paternalista e da coisificação da pessoa com deficiência.

3.3 DIREITO À EDUCAÇÃO INCLUSIVA COMO AFIRMAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA


DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DA IGUALDADE

O direito a um ensino inclusivo é da inteira responsabilidade do Estado enquanto


administrador da coisa pública. Mas, estamos reportando este direito social, que com a
abertura do mercado desde a constituição de 1992, o Estado, mediante contrato, concedeu ao
ente privado uma função que deveria, a priori, ser sua29, no que resulta “a mercantilização da
educação”, as desigualdades são constantes e a ela só podem aderir os que podem pagar, com
isso desvirtuando o objeto deste direito, porquanto a diferença que se aponta aos direitos de
primeira dimensão em detrimento dos direitos de segunda dimensão, resulta que os últimos,
como bem observaPaulo Bonavides(2012, p. 582), “nasceram abraçados ao princípio da
igualdade30” diga-se igualdade em “sentido material”. Entretanto, queremos discorrer nosso
pensamento que não podemos entrar na discussão em torno destes dois princípios sem

28
Disponível em:
<http://www.ibe.unesco.org/fileadmin/user_upload/COPs/News_documents/2007/0710PanamaCity/Documento
_Inclusion_Educativa.pdf.>
29
“Segundo nosso entendimento, tendo enconta que a educação é direito público.”
30
“Os direitos de primeira dimensão, da segunda e terceira dimensões (assim como os da quarta, se optarmos
pelo seu reconhecimento), consoante lição já habitual na doutrina, gravitam em tornos dos três postulados
básicos da Revolução Francesa de 1789, quais sejam, a liberdade, a igualdade e a fraternidade, que,
considerados individualmente, correspondem às diferentes dimensões.” De realçar que estes direitos foram
conseguidos ou alcançados mediante constantes reivindicações, daí a doutrina rotulá-los como direitos de
lutas. (SARLET, 2012, p. 55).
63

mencionarmos a essência do Estado democrático e de direito. E este é caracterizado como


sendo aquele que reconhece direitos aos seus, por isso, elucida Noberto Bobbio (2004, p. 01):
“[...] a proteção dos direitos fundamentais do homem se integra ao conteúdo essencial do
Estado democrático, [...] sem direitos do homem reconhecidos e protegidos não há
democracia”.
A democracia, como asseverou o presidente norte-americano Abraham Lincoln,
caracteriza-se por ser o “o governo do povo e para o povo”, os governantes são eleitos para,
em nome do povo, administrar suas vidas, diríamos. O acesso à educação em Angola já se
torna um dilema para os não deficientes, imaginemos, então, a pessoa com deficiência neste
cenário, em face de cada vez menos escolas públicas, com o crescente número de escolas
privadas sem uma regulação de uma tarifa uniforme, em um mercado totalmente aberto
ediscriminatório.
Como bem assevera Canotilho, a discussão em torno dos direitos sociais figura-se
como sendo um dos temas mais relevantes do constitucionalismo moderno. Para o autor, os
direitos sociais nada mais representam se não um “conjunto de preceitos sem
determinabilidade aplicativa eivada de imposições de políticas públicas caracterizada pela
mistura de “Keynes ismo econômico” e de humanismo socializante”, o Estado democrático
tem como finalidade “a busca de uma sociedade mais justa e solidária”(CANOTILHO, 2010,
p. 14).Sobre isso, acentuaainda o Professor:

[...] Só há verdadeira democracia quando todos têm iguais possibilidades de


participar no governo da polis. Uma democracia não se constróicom fome,
miséria, ignorância analfabetismo exclusão. A democracia só é um processo
ou procedimento justo de participação política se existir uma justiça
distributiva no plano dos bens sociais. (CANOTILHO, 2010, p. 19).

Com a aprovação e consequente adesão de vários países à ONU, o discurso dos


direitos humanos com adesão na sua ordem interna da DUDH é notório nos Estados
democráticosde direito, diríamos mesmo que não é possível visualizar um regime democrático
cujadiscussão dos direitos humanos não seja sua bandeira. Os direitos humanos se tornaram o
referencial do Estado democrático de direito.
A ideia contemporânea de Estado democrático de direito vem expressa na
Constituição Angolana de 2010e nos remete ao entendimento segundo o qual seus objetivos
são soberanos, independentes, têm que ver com a justiça, a liberdade, paz igualdade e
progresso social em prol da construção de uma sociedade digna e inclusiva para todos cujo
64

foco é baseado na dignidade da pessoa humana31, se assim podemos afirmar, como princípio
norteador dos demais princípios, pois, segundo a Professora Flávia Piovesan, este princípio
nutre todo o sistema Jurídico, por isso, assevera:

[...] é esse princípio imperante nos documentos constitucionais


democráticos, que unifica e centraliza todo o sistema, e que com prioridade,
reforça a necessária doutrina da força normativa dos princípios
constitucionais fundamentais. A dignidade humana simboliza deste modo,
um verdadeiro superprincípio constitucional, a norma maior a orientar o
constitucionalismo contemporâneo, dotando-lhe especial racionalidade,
unidade e sentido. (PIOVESAN, 2013, p. 501).

Na mesma linha de pensamento acentua Sarlet:

[...] a dignidade da pessoa humana constitui valor guia não apenas dos
direitos fundamentais, mas de toda ordem constitucional, razão pela qual se
justifica plenamente sua caracterização como princípio constitucional de
maior hierarquia axiológico valorativa. (SARLET, 2012, p. 105).

A dignidade da pessoa humana, no dizer dos autores acima citados, constitui tão
somente o pulmão da ordem constitucional, o que pressupõe dizer que os demais direitos e
liberdade egarantias fundamentais devem ser formulados atentando para este, pois a dignidade
da pessoa humana, como bem aponta Sarlet, não se resume apenas na garantia negativaem
não ser alvo de humilhações, constitui também o sentido positivo que se resume no pleno
desenvolvimento da personalidade de cada indivíduo ( SARLET, 2012, p. 106).
Segundo Maria Benevides, a dignidade humana compreende um atributo inerente
exclusivamente à pessoa (ZENAIDE, 2008, p. 152).
Para Ingo Sarlet, a dignidade da pessoa humana é algo intrinsecamente reservado ao
ser humano, sendo irrenunciável, inalienável e intangível, por essa razão afirma ser
desnecessária uma definição jurídica da dignidade da pessoa humana, porquanto esta se
resume no valor próprio da natureza do ser humano. Todos nascemos livres e iguais em
dignidade, por este fato a dignidade de cada um impõe-se que seja objeto de proteção e
respeito, quer por parte do titular do “ius imperium”, no caso o Estado, quer pela sociedade no
seu todo. Ainda no diapasão de Sarlet, a dignidade da pessoa humana tem a
vernecessariamente com o “respeito à integridade física e corporal do indivíduo”32. Para o
autor, onde não houver o respeito à vida, à integridade física, às condições mínimas

31
Artigo primeiro da Constituição angolana de 2010.
32
“Como, por exemplo, a proibição da pena de morte, da tortura das penas de natureza corporal, da utilização da
pessoa humana para experiências científicas, limitações aos meios de prova (utilização de detector de
mentiras), regras relativas aos transplantes de órgãos etc.”. (SARLET, op. cit., p. 103).
65

asseguradas, onde não houver igualdade de direitos, certamente não há dignidade da pessoa
humana e esta não passará de mais um direito consagrado, cuja aplicabilidade é meramente
utópica, o que,por conseguinte, dará azo a constantes injustiças (SARLET, 2012, p. 104, 108).
Para o Professor Gomes Canotilho, os fatos históricos de aniquilação do ser humano,
tais como “[...] a inquisição, escravatura, nazismo, stalinismo, polpotismo, genocídios
étnicos”, contribuíram para que estes fossem reconhecidos como “limite e fundamento da
República”. Afirma ainda o autor que,“sob esta perspectiva, a República é uma organização
política, que existe para servir o homem, não o contrário” (CANOTILHO, 2003, p. 225).
O princípio da dignidade da pessoa humana constitui tão somente o fundamento do
Estado democrático de direito. Queremos ser ousados em afirmar que toda a orientação
política, social e econômica do Estado deve primar pela dignidade da pessoa humana, pois,
segundo o pensamento dos autores que acima citamos, esta constitui no respeito pelos
direitos,liberdades e garantias de todos.Se o Estado tem como fundamento a dignidade
humana, então pressupõe que a efetivação de direitos é sua preocupação. Ora, nosso
entendimento parte da premissa de que não haverá dignidade da pessoa humana no Estado
democrático de direito que não garante aos seus as liberdades negativas e positivas, ouseja, os
direitos de primeira e segunda dimensão respectivamente. “A dignidade constitui verdadeira
condição da democracia, que dela não pode livremente dispor”.
A dignidade humana esta intrinsicamente ligada, há um tratamento “condigno”
(MOCO, 2012, p. 53).
Luís Roberto Barroso descreve que a dignidade da pessoa humana, como “valor
fundamental”. (2013, p. 64).
Nestes termos, trouxemos a discussão de dignidade da pessoa humana, pois, em face
do acima exposto, nosso entendimento resulta de que efetivar direitos sociais, sem atentar
para dignidade da pessoa humana constitui uma clara violação do princípio ora referido.
Assim, os direitos sociais constituem “prestações positivas” emanadas pelo titular do “ius
imperium”, dispõe de positivação constitucional, com a finalidade de garantir melhores
condições de vida aos fracos direitos, na medida em que realizam a “igualização de situações
sociais desiguais”, portanto são direitos que se reportam ao direito de igualdade (SILVA,
2011, p. 286).
É da responsabilidade do Estado garantir a efetivação dos direitos econômicos sociais
e culturais, pois, o Estado democrático se pauta por princípios democráticos de igualdade e de
justiça social, e de garantir os DESCS constitui para nós à afirmação destes princípios
66

inerentes ao Estado democrático e de direito, sob os auspícios da realização da justiça social


(SILVA, 2011, p. 122).
A pessoa com deficiência, igualmente aos demais, tem sua dignidade humana.
Ninguém perde sua dignidade em razão de deficiência, pois, como já acima nos debruçamos,
esta constitui um direito inerente à pessoa humana. Por conseguinte, o Estado democrático
com fundamento na justiça e igualdade de consagração de direitos a todos (SARLET, 2012, p.
56).
Ora, no Estado democrático de direito a efetivação dos direitos sociais tem de observar
o princípio norteador da ordem constitucional à dignidade da pessoa humana, pois, se assim
não fosse, que dignidade teria o cidadão que não lhe é garantido o direito à educação?
Conquanto para nós o princípio da dignidade da pessoa humana deve ser igualmente evocado
quando não se materializam os direitos sociais, mormente o direito à educação da pessoa com
deficiência na perspectiva da inclusão como a afirmação da inclusão social desta.
Reafirmamos que há uma violação deste princípio fundamental do Estado democrático, sim
porque quem tem dignidade humana, nos termos da DUDH (Artigo 1º: “Todas as pessoas
nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem
agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade”), todos somos seres humanos,
pessoas com e sem deficiência, nascemos iguais em direitos e dignidade (SARLET, 2012, p.
102).Acentua, por derradeiro, o autor que:

[...] dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva


reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e
consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste
sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a
pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano,
como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma
vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e
corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão
com os demais seres humanos, mediante ao devido respeito aos demais seres
que integram a rede da vida. (SARLET, 2012, p. 73).

A garantia efetiva dos direitos sociais para todos na perspectiva universalista, as


mudanças políticas e sociais da sociedade no seu todo devem antes partir do próprio texto
constitucional. A efetivação dos direitos sociais deve ser responsabilidade do Estado em
primeira instância. O fundamento pelo qual este se prende hoje, que os direitos econômicos
sociais e culturais são normas programáticas e que para sua efetivação depende de um
programa, voltado a políticas públicas, não procede, na medida em que estas sejam eficazes
para garanti-las a todos, porém não procede se estas vierem eivadas desde a sua programação
67

de vícios tendentes à desigualdade. A questão atinente à garantia e efetivação dos direitos


sociais não se reporta maisà ausência de leis, mas sim à falta de vontade política para
materialização destas, como bem assevera Bobbio;

[...] Deve-se recordar que o mais forte argumento adotado pelos reacionários
de todos os países contra os direitos do homem, particularmente contra os
direitos sociais, não é a sua falta de fundamento, mas a sua inexequibilidade.
Quando se trata de enuncia-los o acordo é obtido com relativa facilidade,
independentemente do maior ou menor poder de convicção de seu
fundamento absoluto; quando se trata de passar a ação, ainda que o
fundamento seja inquestionável, começam as reservas e as oposições.
(BOBBIO, 2004, p. 23).

Debrucemo-nos um pouco em torno do que afirmara Norberto Bobbio: o problema do


Estado democrático contemporâneo já não reside na ausência de formulação ou, dito de outro
modo, na elaboração de leis, mas funda-se exatamente na exequibilidade das mesmas. É fácil
colocar no papel, o difícil se torna sair da letargia e partir para ação dando direito
aquemdireito. De outra forma, do que adianta haver leis ou o Estado ratificar tratados se não
aplica na sua ordem interna? Assim, como argumenta Bobbio, o problema não se entende por
ser filosófico, jurídico, mas é essencialmente “político”. Não há vontade política em garantir a
plena realização dos direitos sociaisem Angola, mormente o direito à educação da pessoa com
deficiência, há uma “desresponsabilização”, do titular do “ius imperium” (BOBBIO, 2004, p.
23).
O dilema em volta da efetivação dos direitos sociais reporta-se igualmente às políticas
públicas, porquanto para a sua efetivação carecem de normas, programas de dotação
orçamental para, em respeitoà dignidade dapessoa humana, haver condições socioeconômicas
básicas e disto depende a efetivação dos direitos sociais no Estado democrático. Como bem
enfatiza o luso Jorge Miranda, da efetivação dos direitos sociais depende um ato legislativo,
as normas de direitos econômicos sociais e culturais, não são exequíveis por si mesmas, pois
carecem de leis que as tornem aplicáveis, para fazer face às situações inerentes a elas, é o que
aponta a dogmática constitucional (MIRANDA, 2011, p. 304).
A falta de vontade política contribui em larga escala, para a não efetivação dos direitos
sociais, assim esta constitui “óbice” da realização dos direitos sociais, como aponta Rafael:

A eficácia social reduzida dos Direitos Fundamentais Sociais não se deve à


falta de leis ordinárias; o problema maior é a não-prestação real dos serviços
sociais básicos pelo Poder Público. A grande maioria das normas para o
exercício dos direitos sociais já existe. O problema certamente está na
68

formulação, implementação e manutenção das respectivas políticas públicas.


(ANDREAS KRELL apud RAFAEL, 2011, p. 67).

Destarte, o “Estado de direito é o Estado dos cidadãos” e como tal sua preocupação
deveria antes ser por meio das políticas públicas garantirem os direitos dos seus. Tanto a
DUDHquanto a consagração dos direitos sociais nas constituições internas servem de
documento orientador para a elaboração de politicas tendentes a realização de direitos. Angola
aderiu ao Pacto Internacional dos Direitos Econômicos Sociais e Culturais aos 10 de janeiro
de 1992 e em observância ao artigo 16º do PIDESC apresentou o primeiro relatório no ano de
2008, sendo que o próximo deverá ser depositado no dia 30 de junho do corrente ano33. A
propósito desta questão, daremos maior ênfase no capítulo subsequente.
Com a adesão de Angola ao PIDESC, o Estado angolano se compromete,
relativamente ao direito à educação, em observaro disposto no artigo 13º:

Os Estados-partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa à


educação. Concordam em que a educação deverá visar o pleno
desenvolvimento da personalidade humana e sentido de sua dignidade e
fortalecer o respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais.
Concordam ainda em que a educação deverá capacitar todas as pessoas a
participar efetivamente de uma sociedade livre, favorecer a compreensão, a
tolerância e a amizade entre todas as nações e entre todos os grupos raciais,
étnicos ou religiosos e promover as atividades das Nações Unidas em prol da
manutenção da paz.

A perspectiva universalista do direito à educação também é notória no PIDESC, sendo


que sua finalidade deve visar o “desenvolvimento da personalidade humana”, o respeito aos
direitos humanos e as liberdades fundamentais, cujo fim último seria dotar de conhecimento
tendente a participar na vida da comunidade. Para o efeito a educação deverá ser:

a) a educação primária deverá ser obrigatória e acessível gratuitamente a


todos; b)a educação secundária em suas diferentes formas inclusive a
educação secundária técnica e profissional, deverá ser generalizada e tornar-
se acessível a todos, por todos os meios apropriados e, principalmente, pela
implementação progressiva do ensino gratuito; c)a educação de nível
superior deverá igualmente tronar-se acessível a todos, com base na
capacidade de cada um, por todos os meios apropriados e, principalmente,
pela implementação progressiva do ensino gratuito; d)dever-se-á fomentar e
intensificar, na medida do possível, a educação de base para aquelas que não

33
Gostaríamos de apresentar dados referentes ao que fora apontado neste relatório enviado ao comitê do
PIDESC, no tocante ao cumprimento das suas disposições emanadas, mas ainda não tivemos acesso ao
mesmo. Porém, o que observamos, mediante relatórios internos e por ser uma realidade do nosso domínio, o
direito à educação em Angola, infelizmente, ainda não atingiu a universalidade evocada em todos os
documentos internacionais sobre direito à educação.
69

receberam educação primária ou não concluiu o ciclo completo de educação


primária; e) será preciso prosseguir ativamente o desenvolvimento de uma
rede escolar em todos os níveis de ensino, implementar-se um sistema de
bolsas estudo e melhorar continuamente as condições materiais do corpo
docente. 1. Os Estados-partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar
a liberdade dos pais - e, quando for o caso, dos tutores legais - de escolher
para seus filhos escolas distintas daquelas criadas pelas autoridades públicas,
sempre que atendam aos padrões mínimos de ensino prescritos ou aprovados
pelo Estado, e de fazer com que seus filhos venham a receber educação
religiosa ou moral que seja de acordo com suas próprias convicções.
(PIDESC, 1966).

O Estado de direito é o que respeita e cumpre os direitos do homem, consagrados nos


documentos de que seja parte, esses direitos de “prestação34” assentam a sua base sob o
princípio da igualdade, de modo que, se os não deficientes têm o direito à educaçãode
qualidade, de igual modo os têm também as pessoas com deficiência ao direito à educação
preferencialmente na rede regular quando a deficiência assim o exige, não cabendo ao Estado
restringir este porquanto o postulado constitucional do princípio da igualdade reforça a ideia
segundo a qual o Estado deve tratar os seus cidadãos iguais.(CANOTILHO, 2003, p. 233, 237
e 410).No mesmo diapasão sustenta Silva:

Assim, os direitos sociais como dimensão dos direitos fundamentais do


homem, são prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou
indiretamente, enunciadas em normas constitucionais, que possibilitam
melhores condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a
igualização de situações sociais desiguais. São, portanto direitos que se
ligam ao direito de igualdade. (SILVA, 2011, p. 286).

Os constitucionalistas Gomes Canotilho e José Afonso da Silva convergem no sentido


de que a realização do direito à educação será satisfeito em obediência ao princípio da
igualdade, porquanto este constitui “componente” do direito à educação, o cidadão instruído
participa da atividade do Estado. O Estado democrático pressupõe a participação do cidadão
em toda vida da polis, quer essa participação seja mediante os direitos de primeira dimensão
quer os de segunda, logo, ao Estado cabe ter toda sua estrutura organizativa capaz de
proporcionar sob critérios democráticos o gozo real e efetivo desses direitos fundamentais.
Seria como dizer que os direitos de primeira dimensão estão concatenados ao primeiro, pois
nosso pensamento reporta ao que Fabio Comparato já afirmara: “A liberdade individual é
ilusória, sem o mínimo de igualdade social; e a igualdade social imposta com sacrifício dos

34
Segundo Joaquim José Gomes Canotilho (2003, p. 402), os direitos de prestação são os modernamente
conhecidos como direitos econômicos sociais e culturais.
70

direitos civis e políticos acaba engendrando, mui rapidamente, novos privilégios econômicos
e sociais”. (COMPARATO, 2007, p. 338).
Ainda sob a égide de Comparato, os direitos econômicos sociais e culturais se
realizam mediante políticas públicas ou uma programação dos governos. São consideradas
pela doutrina como normas programasque carecem da ação do Estado para se realizarem. Sob
este prisma, assevera Gomes Canotilho:

Os direitos sociais só existem quando as leis e as políticas sociais os


garantirem. Por outras palavras, é o legislador ordinário que cria e determina
o conteúdo de um direito social. Este é o discurso saturado pela doutrina e
jurisprudência. Os direitos sociais ficam dependentes, na sua exta
configuração e dimensão, de uma intervenção legislativa, concretizadora e
conformadora, só então adquirindo plena eficácia e exequibilidade. [...] Os
direitos sociais, pelo contrário pressupõem grandes disponibilidades
financeiras por parte do Estado. Por isso, rapidamente se aderiu à construção
dogmática da reserva do possível (Vorbehalt des Möglichen) para traduzir a
ideia de que os direitos sociais só existem quando e enquanto existir dinheiro
nos cofres públicos. (CANOTILHO, 2003, p. 481).

Em face do acima exposto, que diremos mais senão que, com os ideaiscapitalistas deu-
se o que denomina-se de “mercantilização da educação”, vimos assistir um critério desigual
na realização do direito social à educação, porquanto o que se verifica hoje no país vai à senda
do que apontaNoronha, “a educação não é uma mercadoria que deva servir para enriquecer as
empresas, os alunos não são produtos, os pais de alunos, os estudantes não são consumidores
de educação e os profissionais de educação não são simples dispensadores do serviço”
(MAUÉS apud NORONHA, 2008, p. 40):

Na verdade, aqui, como em todos os outros campos dos direitos humanos, o


avanço no sentido de humanização da vida social depende, hoje, muito mais
da criação de mecanismos de realização ou de garantia dos direitos do que
do enunciado de meras declarações. (COMPARATO, 2007, p. 316).

Não visualizamos um único Estado que atingiu um nível de desenvolvimento que não
tenha apostado no maior recurso de todos os temposque é o ser humano e essa aposta no
homem como elemento essencial para o crescimento resulta de dotá-lo de uma educação de
qualidade e dispor todos os meios de acessibilidade para realização deste direito, sem
empecilhos. No mais, o que importa referir resume no fato de que o com a mercantilização da
educação esta passou de direito a um negócio, sendo que os alunos, como bem refere o autor
acima citado, nada mais são do quemeros “consumidores”.
71

Porém, o que se pretende é que o Estado democrático considere o cidadão não um


cliente ou consumidor, mas como um ente dotado de direitos e obrigações, que garanta
políticas públicas sob a perspectiva universalista, na realização do direito à educação. “O
sujeito, numa concepção democrática, não é cliente, ele é cidadão patrão. É o Estado que deve
ser dirigido conforme os encaminhamentos e necessidade de seu povo” (LIMA, 2008, p. 136-
148).
Não poderíamos estar mais de acordo com a feliz formulação de Lima, porquanto a
democracia resume no “governo do povo, pelo povo, para o povo”, pois o povo elege os
dignos representantes para administrar em seu favor, logo, partindo desse pressuposto, não
queremos ser repetitivos, insistindo no quesito de que compete aos governantes eleitos
enquanto gestores da “res publica”, em nome do povo, realizar efetivamente os direitos
sociais mediante a implementação de políticas destinadas ao interesse público, pois entre este
e o privado há uma grande diferença: o segundo visa o lucro ao passo que o primeiro procura
universalizar as oportunidades para todos da realização plena e efetiva do direito à educação,
como bem pontua Akkari:

Quadro IV – Diferenças entre o ensino público e o privado


Público Privado
Finalidades Universalismo, igualdade de Satisfação familiar e∕ou religiosa e
oportunidades e Educação do lucro.
cidadão.
Estatuto Controlados pelos poderes Controlado por grupos privados.
públicos (eleitos),
Organização Externa: autoridades políticas
Interna: administração da escola e
e administrativas.
pais de alunos.
Controle dasprestações Externa: autoridades políticas
Interna: administração da escola e
e administrativasrepresentantes de pais e alunos
(clientes).
Obrigação de resultados e Opinião pública; avaliação Famílias; mercado monetário.
prestação de contas externa.
(accountability)
Fonte: Akkari, 2011, p. 53.

Importa referir que o ensino não deixa de ser público, pois, como bem refere o jurista
angolano 35 Esteves Hilário36, “privadas são as instituições” que, por meio de contrato, tapam
a lacuna por conta da insuficiência ou falta de vontade política por parte do administrador da
“res publica” em colmatar a demanda.

36
Professor universitário da Universidade Metodista de Angola, mestre em direito pela PUC-São Paulo.
72

Por derradeiro, cumpre-nos referir que a efetivação do direito social à educação, no


estado democrático de direito, se materializa na medida em que haja recursos disponíveis para
o efeito conforme apontado peladoutrina dominante e dentro da dogmática constitucional, e
por via de um ato legislativo, mas particularmente ao caso de Angola, aefetivação deste
direito, resulta muito mais da vontade política do que do acima mencionado, em face de cada
vez mais escolas privadas em detrimento de estabelecimentos de ensino público, vimos de
fato o interesse do Estado em garantir mesmo este direito. Será?
Todavia, não será despiciendo referir quecom a implementação das políticas
capitalistas a educação passou de direito à fonte de riqueza de alguns, na medida em que com
esse processo dá-se o fenômeno da “mercantilização”, como já fizemos alusão, e o crescente
número de situações desiguais. Independentemente de o Estado conceder ao privado uma
responsabilidade que deveria ser somente sua, a educação não deixa de ser pública, logo,
compete a este fiscalizar se são respeitados os direitos dos seus, mormente as políticas de
inclusão relativas à educação da pessoa com deficiência. Pois, é isto que faz um Estado
democrático de direito, garante direitos aos seus de outro jeito, no pensamento freiriano seria
“farsa”.
Ao abordar o princípio da igualdade não podemos deixar de fazer apologia ao discurso
aristotélico, na medida em que este relaciona igualdade e justiça como sendo correlatas,
enfatizando “que os iguais devem ser tratados de modo igual, ao passo que os diferentes
devem ser tratados de modo desigual”. Em face da aludida citação, depreende-se que o autor
fez alusão quanto à igualdade tanto em sentido formal como em sentido material, na medida
em que a primeira reporta que todos são iguais perante a lei ao passo que a segunda reporta
que haverá tratamento diferenciado e nem por isso discriminatório para situações
desiguais.Qual seria, a título exemplificativo, a inclusão do aluno com deficiência visual
implicaria que a escola ou instituição estatal de tutela disponibilizam computadores
específicos por conta da deficiência, o que não significaria dizer que o aluno sem deficiência
teria de ter necessariamente o mesmo computador37.
O princípio da igualdade, segundo Canotilho, deve igualmente ser entendido como um
princípio de justiça social, partindo da visão aristotélica de justiça que se resume em dar a

37
A igualdade ou princípio da igualdade vem sendo consagrada nas primeiras constituições, como a Declaração
de Direitos da Virginia de 1776. Foi também um dos três ideais da Revolução Francesa, tendo igualmente seu
respaldo legal na declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789 (“os homens nascem e são livres e
iguais em direitos”). Tal postulado resulta do entendimento de que a lei entendesse por igual “tanto para proteger
como para punir” ou julgar igualdade formal ou jurídica. Diríamos que estas declarações foram o marco do
princípio da igualdade tão aclamado hoje nas constituições modernas de todo mundo, bem como em tratados
internacionais de direitos humanos (SARLET, 2012, p. 71).
73

outrem o que é devido, para o autor esta igualdade seria entendida como uma conexão entre
“justiça social” ou mesmo pela “igual dignidade social” ou de igual dignidade da pessoa
humana (CANOTILHO, 2003, p. 402, 430).
Discutir o paradigma da inclusão impõe que abordemos o princípio da igualdade, pois
entendemos ser uma afirmação deste princípio. Ora, a Constituição da República de Angola
(CRA) de 2010, consagra no seu artigo primeiro que “Angola é uma República soberana
independente, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade do povo angolano, que
tem como objetivo fundamental a construção de uma sociedade livre, justa, democrática,
solidária, de paz, igualdade e progresso”. Ao que pretendemos abordar, interessa-nos a parte
final da disposição “construção de uma sociedade justa e igualitária”, da qual se depreende
que seja igualmente inclusiva e, acima de tudo, justa. Ao legislador tratar igual a todos sem
exceção acentua-se o caráter obrigatório, decorrente da força coativa do direito (ALEXY,
2012, p. 396).
Ao olharmos a CRA de 2010, nos seus artigos 21 e 23, vimos expressa esta
formulação proposta por Robert Alexy, a qual faz menção que constitui tarefa fundamental do
Estado angolano, nos termos do artigo 21, nas alíneas c), g) e h),respectivamente. “Criar
progressivamente as condições necessárias para tornar efetivo os direitos econômicos, sociais
e culturais dos cidadãos; g) promover políticas que assegurem o acesso universal ao ensino
obrigatório gratuito, nos termos definidos por lei; h) promover a igualdade de direitos e de
oportunidades entre os angolanos, sem preconceitos de origem, raça, filiação partidária, sexo,
cor, idade, e quaisquer outras formas de discriminação”.(CRA, 2010, Artigo 21).
Por sua vez, o artigo 23 expressa o princípio da igualdade, afirmando que “todos são
iguais perante a constituição e a lei” e, por esta razão, ninguém pode ser discriminado
independentemente do motivo, o contrário esta a incorrer o cumprimento da norma.
O disposto nas normas aludidas depreende do entendimento segundo o qual à pessoa
com deficiência não se lhe pode negar o direito à educação em escola regular com
fundamento na sua deficiência, em obediência ao preceito ora enunciado. Constitui tarefa
fundamental do Estado garantir as condições para efetividade da inclusão social da pessoa
com deficiência por intermédio da educação, as pessoas com deficiência são tão humanas
quanto aos não deficiente, e por essa razão são pessoas com os mesmo direitos e “liberdades
fundamentais” que outrem na medida em que não devem sob hipótese alguma serem
submetidas a quaisquer tipo de discriminação, nisto se resume a sua dignidade e o direito a
um tratamento igualitário. (FÁVERO, 2007, p.35, 77).
74

Nesta conformidade, no dizer da autora, reivindicar a inclusão significa chamar a


esfera jurídica da pessoa com deficiência, um direito que lhe é inerente o princípio da
igualdade. Portanto, não se trata de favor algum: é um direito (FÁVERO, 2007, p. 39).

[...] para galgar a equidade que se presume, há um longo caminho a trilhar,


numa ampla e profunda reflexão para todos: para promover a equidade, é
preciso considerar, antes de tudo, que igualdade é uma questão de direitos
humanos. (HOLANDA, 2008, p. 109).

A inclusão supõe proporcionar todas as formas possíveis de acesso ao


desenvolvimento, considerando as diferenças individuais, numa visão de acolhimento,
respeito, igualdade de direitos e democracia (FREITAS, 2008, p. 32). Assim, precisaríamos
dizer como Boaventura: é imperioso que se “reinvente” a sociedade e todos os seus agentes,
bem como seus critérios que geram desigualdades, injustiças, critérios discriminatórios
incapazes de conviver com a diversidade, assentes em um padrão escondido na frase da pós-
modernidade de “politicamente correto”. “Direitos humanos, democracia e acessibilidade são
indissociáveis, pois representam o respeito e a valorização da diversidade humana, como
instrumento de bem-estar e desenvolvimento inclusivo”. (BRASIL apud HOLANDA;
CAMINHA, 2008, p. 109).
A igualdade que aqui se reivindica se consubstancia em as pessoas com deficiência
terem o mesmo direito que têm os nãos deficientes da realização plena do direito à educação,
ou seja, trata-se de estabelecer uma posição de paridade. Posto isso, ressaltamos que, a
deficiência não impede ninguém de aprender, mas a segregação sim, esta contribui fortemente
para subdesenvolvimento intelectual, social e mental da pessoa com deficiência, e da
sociedade de modo geral, porque a segregação afeta a todos: ao deficiente, porque é excluído,
e aos não deficientes, porque também lhes é “retirado” o direito de conviver com a
diversidade.
75

4 DIREITO À EDUCAÇÃOINCLUSIVA DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO


ORDENAMENTO JURÍDICO ANGOLANO

O direito à educação para pessoas com deficiência em escolas, especial é o postulado


nos textos legislativos, porquanto o entendimento que decorre da lei maior resulta em o titular
do “ius imperium” definir que melhor será para estes a realização do direito à educação em
uma escola especial. Ora, referiu Aristóteles “que o que é comum a todos deve também ser
aprendido em comum”, o direito à educação é um direito universal, logo as questões atinentes
à sua acessibilidade tem a ver com o princípio da igualdade e da dignidade da pessoa humana,
ambos mencionados no capítulo anterior. Devem aprendê-lo todos em ambiente integrado e
inclusivo para banir a segregação e a visão paternalista, bem como a coisificação da pessoa
com deficiência.
Assim, os questionamentos são inúmeros, porém, não trataremos de todos, sob pena de
sermos fastidiosos e por não ser objeto de nossa pesquisa, mas sim dos que consideramos
mais enfáticos para que a pessoa com deficiência possase sentir parte da sociedade e capaz de
por ela e a ela dar contributos para que esta se desenvolva.
Nestes termos, nossa questão procura saber que instrumentos normativos poderão as
pessoas com deficiência em Angola efetivamente possam reivindicar um direito à educação
inclusiva. Olhando os textos constitucionais de 1992 e 2010, que avanços e retrocessos são
notórios? Haverá em Angola um verdadeiro processo inclusivo tal como tem vindo a ocorrer
no Brasil? Pretendemos permear nosso discurso nessas questões enfatizando o quanto se faz
necessário, na medida em que compreendemos que a inclusão social da pessoa com
deficiência por intermédio da realização plena e efetiva deste direito social.
Para tal, inicialmente pretendemos trazer uma discussão à luz dos textos
constitucionais de 1992, 2010 e a Lei da Base da Educação de 2001, suas nuances aos direitos
da pessoa com deficiência bem como a lei da pessoa com deficiência lei nº21/2012. Faz-se
necessário um estudo atinente aos aspectos democráticos que se pretende da universalização
da educação das pessoas com deficiência, bem como um estudo comparativo à luz da
Constituição brasileira de 1988, que caminhos o Brasil já percorreu e quais Angola terá de
percorrer para a criação de uma sociedade que inclui e não segrega nem discrimina.
76

4.1 AS CONSTITUIÇÕES ANGOLANAS DE 1975, 1992, 2010 E A LEI DE BASE DO


SISTEMA DE EDUCAÇÃO: AVANÇOS E RETROCESSOS QUANTO À PROTEÇÃO
DOS DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

Impõe-se, antes de partir para o cerne da questão, fazer um breve recuo àhistória do
direito constitucional angolano e suas nuances – a primeira República, a segunda e a
aprovação do texto constitucional de 2010 – com o intuito de compreendermos como
chegamos até o presente.
A primeira República de Angola ocorrerá em 1975, com a declaração da
independência38, o mundo viu nascer a “República Popular de Angola (RPA)”, com base no
partido Estado39. O objetivo fundante do novo Estado angolano, nos termos do artigo 1.º da
constituinte de 1975 que contava com apenas 60 artigos sendo a sua revisão ocorrida em 1976
e 1977 respectivamente, cujo objetivo dessa revisão visou o reforço do MPLA e do poder do
Presidente da República. Centrava-se na construção de um Estado, totalmente livre do
colonialismo e da dominação e opressão do imperialismo e a posterior construção de um país
próspero e democrático onde as massas populares pudessem materializar suas aspirações.
Nesta conformidade, o MPLA40 afirmava-se como força dirigente da nação na construção de
um Estado Democrático Popular, cabendo estedireção política e econômica da nação
(CORREIA; SOUSA, 1996, p. 21).
A RPA nos termos do artigo 3.º era um Estado unitário e indivisível, e no artigo 7.º era
visível a separação entre o Estado e as instituições religiosas. No que tange a economia, o
artigo 8.º assenta que “a agricultura é a base e a indústria o fator do desenvolvimento num
Estado que orienta e planifica a economia nacional”. Os recursos existentes no solo, bem
como no subsolo aguas territoriais, são propriedade do Estado cabendo a este as condições de
aproveitamento e utilização. As atividades e propriedade privadas são reconhecidas, desde
que, sejam uteis a economia e aos interesses do povo angolano. “O combate enérgico ao
obscurantismo e o analfabetismo e o desenvolvimento da educação do Povo e de uma
verdadeira cultura nacional”, por esta razão afirmara o Presidente Neto em discurso de que
aprender a ler e escrever, mas do que “prazer” constituía um “dever”.

38
Vale lembrar que, tal facto ocorreu em 11 de Novembro de 1975, pondo fim a cinco séculos de escravidão, do
então colonizador português.
39
Partido Estado para designar o período referente ao monopartidarísmo.
40
Vale acentuar que na época o monopartidarismo, era o que vingava no sistema de governo angolano, daí o
MPLA, se arrogar como único capaz de dar seguimento aos desafios que se afiguravam pela frente.
77

Os direitos fundamentais por sua vez embora poucos, mas estavam elencados nos
artigos 17 a 30. Este primeiro momento, foi histórico para os angolanos, na medida em que
com isto poderiam se sentir livres em sua própria terra, donos de si, e mais importante eram
eles soberanos nos destinos da nação, pondo fim a cinco séculos de dominação do então
colonizador português. (IDEM, 1996, p. 155).
O segundo momento na história do constitucionalismo angolano ocorre com a lei
constitucional da RPA em 1978, o constituinte fez poucas alterações, de salientar que houve
um acréscimo ao número de artigos, que passou de 60 a 66. A RPA continuou sendo uma
República democrática com os mesmos objetivos mencionados na constituinte anterior.
Porém, o mesmo já não sucederia com o artigo 2º que mereceatenção, no que toca ao aspecto
do Partido-Estado, referia assim o constituinte, “Toda a soberania reside no Povo Angolano.
O MPLA- Partido do Trabalho constitui a vanguarda organizada da classe operária e cabe-lhe,
como PartidoSocialista, a direção política e econômica e social do Estado nos esforços para
construção da Sociedade Socialista”. (CORREIA; SOUSA, 1996, p. 155).
O ano de 1978 no que concerne ao constitucionalismo angolano, também ficou
marcado, para consagração das transformações sociopolíticas decididas pelo I Congresso do
MPLA (CORREIA; SOUSA, 1996, p. 101).
Em 1980 viria o terceiro momento, que ficou conhecido como o ano da criação da
Assembleia do Povo (poder legislativo), foi marcado como o período em que ocorreram as
mais sérias alterações a lei constitucional então vigente, igualmente as alterações tiveram em
conta ao nível da superestrutura político jurídica, as bases de organização do Poder do Estado
Democrático e Popular, sob a direção do MPLA-Partido do Trabalho, de ressaltar que foi
alterado o título III da lei constitucional anterior, porém os principais objetivos estiveram na
base da consagração do pluripartidarismo41 e a despartidarização das forças armadas
(CORREIA; SOUSA, 1996, p. 133). Ainda a propósito, ficou patente a revisão da lei
constitucional;

[...] pretende-se assim criar abertura democrática que permita ampliar a participação
organizada de todos os cidadãos na vida política nacional e na direção do Estado,
ampliar o reconhecimento e proteção dos direitos, liberdades e deveres fundamentais
dos cidadãos no âmbito de uma sociedade democrática, assim como consagrar
constitucionalmente os princípios da reforma econômica em curso, [...] (CORREIA,
SOUSA, 1996, p. 102).

41
Com isso, colocou-se um ponto final no Monopartidarísmo.
78

Por outro lado, o quarto momento daria então lugar a Segunda República de Angola
em 1992, bem com uma mudança da forma de governo, para dar azo ao Estado Democrático e
de Direito com ideias fortemente capitalistas, com isso inúmeras mudanças viriam a ocorrer
no país, estesse destinaram principalmente à criação das premissas constitucionais necessárias
a implementação da democracia pluripartidária, a ampliação do reconhecimento e garantias
dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos, assim como a consagração constitucional
dos princípios basilares da economia de mercado (PREÂMBULO, da CRA de 1992), assim, a
segunda República alterou o seguinte, como bem se vê do próprio texto:

[...] altera a designação do Estado para República de Angola, do órgão


legislativo para Assembleia Nacional e retira a designação popular da
denominação dos tribunais; - no título II, sobre os direitos e deveres
fundamentais, introduz alguns novos artigos visando o reforço do
reconhecimento e garantias dos direitos e liberdades fundamentais, com base
nos principais tratados fundamentais que Angola já aderiu; - no título III,
sobre os órgãos do Estado, introduzem-se alterações de fundo que levaram a
reformulação de toda a anterior redação. O sentido da alteração é o da clara
definição de Angola como um Estado democrático, de direito, assente num
modelo de organização do Estado baseado na separação de funções
interdependência dos órgãos de soberania e num sistema político semi-
presidencialista que reserva ao Presidente da República um papel activo e
actuante. (CORREIA, SOUSA; 1996, p. 39).

Por derradeiro temos a Constituição de 2010, conhecida pela abreviatura CRA, a qual
foi amplamente discutida que resultou na sua aprovação em 05 de Fevereiro de 2010. Com a
provação da presente Constituição não houve alguma mudança no sistema de governo,
continuo sendo uma República democrática e de direito que figurava na lei anterior.
Na verdade, como bem pontua o constituinte no preambulo a atual CRA, é o culminar
do “do processo de 1991 com a aprovação, pela Assembleia do Povo, da Lei nº 12/ 91, que
consagrou a democracia multipartidária, a garantia dos direitos e liberdades fundamentais
dos cidadãos e o sistema econômico de mercado” [...] “reafirmando o compromisso com a
soberania e Unidade do Estado democrático de direito, do pluralismo de expressão e de
organização política, da separação e equilíbrio de poderes de órgãos de soberania, do sistema
econômico de mercado e do respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais do ser
humano, que constituem as traves mestras que suportam e estruturam a presente constituição”.
Em síntese é o que, nos permitimos enunciar da evolução histórica do
constitucionalismo angolano, inicialmente criado a pressas, daí, se justificam as revisões
feitas, porquanto o momento histórico e político da época exigia que assim fosse. No entanto,
foi construído todo um percurso para chegarmos ao momento que hoje estamos. Posto isso,
79

impõe-se nos então, analisar os direitos da pessoa com deficiência nos texto constitucional de
1975, 1992, a 2010 bem como a Lei de Base do Sistema de Ensino, 13/01.
A semelhança do que ocorrera pelo mundo, no que tange a discriminação da pessoa
com deficiência, a custa do modelo médico baseado na deficiência como doença, em Angola,
o quadro não foi diferente, a pessoa com deficiência sempre tratada como incapaz, não era
capaz de reger a sua pessoa. Assim, estavam essas sob tutela dos pais quando não de
instituições estatais.
Com o alcance da independência, dá-se igualmente o rompimento de cinco séculos de
escolarização portuguesa. Nessa senda, o objetivo primordial do Estado angolano era banir
quaisquer resquícios do colonialismo e agressão do imperialismo com vista à construção de
um país próspero, democrático e livre de toda espécie de exploração do homem pelo homem.
A soberania residia no povo, sendo o Movimento Popular de Libertação de Angola
(MPLA) o seu legítimo representante, assim rezavam os artigos primeiros da constituição de
1975. Com a absorção do Partido-Estado houve em Angola o que Gramsci chamou de
“estatização” progressiva da educação ou, o que diríamos em outros termos, que o Estado
angolano retirou da esfera privada e consequentemente passou para esfera pública a
responsabilidade de garantir a educação a todos os angolanos, o que a priori pensamos ser
bom, não fosse à incapacidade do próprio Estado em se suster (GRAMSCI, 1987, p. 34).
Por essa razão, o Estado confiscou todas as escolas privadas, inclusive as que estavam
sobre tutela das Igrejas este o único a garantir em escolas públicas o direito à educação,
porquanto a organização política administrativa relegava a propriedade privada, logo, o ensino
era gratuito tudo as expensas do Estado.
Com o efeito a constituinte de 1975, não cuidou em trazer na sua gênese um art. Para
pessoa com deficiência, porém, no que tange ao direito a educação inclusiva no período em
referência esta era vista na perspectiva da segregação, não havia na época um ensino voltado
ou seja com práticas para inclusão. Pese embora a perspectiva universalista do direito
garantido na constituição, como bem se vê: “A República Popular de Angola promove e
garante o acesso de todos os cidadãos à instrução e à cultura”. “A República Popular de
Angola combate energicamente o analfabetismo e obscurantismo e promove o
desenvolvimento de uma educação ao serviço do Povo e de uma verdadeira cultura nacional,
enriquecida pelas conquistas culturais revolucionárias dos outros povos”.
Com o nascimento da segunda República em 1992 e consequente mudança do sistema
de governo até então imperante, o direito à educação que na primeira República de 1975-1992
era da responsabilidade única e exclusiva do Estado, Este se obrigava a garantir o direito à
80

educação, bem como criar as condições econômicas fundamentais para que todos os cidadãos
pudessem gozar de seus direitos. Assim, o então formado governo da República Popular de
Angola (RPA) viria reconhecer o direito à educação como elemento catalizador para o alcance
do desenvolvimento dos novos tempos que se avizinham.
Em 1992 este, deu lugar ao investimento privado, mediante contratos de concessão aos
entes privado podendo tais nos termos da lei garantir o direito à educação a quem tenha
condições de pagar para o efeito.
Nesta conformidade, a Constituição enquanto lei “mater” ou lei fundamental, que
regula os direitos fundamentais do homem, bem como toda a estrutura sócia- organizativa do
Estado (SILVA, 2011, p. 37), cuidou em seus artigos consagrar o direito à educação como um
direito de todos, mas uma vez despertamos atenção para perspectiva universalista do
legislador de 1992.
Ora, nos termos do artigo 49 quanto ao direito à educação redigira assim o constituinte
de 1992, “O Estado promove o acesso de todos os cidadãos à instrução, à cultura e ao
desporto, garantindo a participação dos diversos agentes particulares na sua efetivação, nos
termos da lei.A iniciativa particular e cooperativa nos domínios do ensino exerce-se nas
condições previstas na lei” (CRA, Art. 49,1992).
Por sua vez quanto, a contemplação da pessoa com deficiência no referido documento,
artigo 48 enuncia que:

Os combatentes da luta de libertação nacional que ficaram diminuídos na sua


capacidade assim como os filhos menores dos cidadãos que morreram na
guerra, deficientes físicos e psíquicos em consequência da guerra, gozam de
protecção especial, a definir por lei. (CRA, 1992, art. 48). 1 - Todos os
cidadãos são iguais perante a lei e gozam dos mesmos direitos e estão
sujeitos aos mesmos deveres, sem distinção da sua cor, raça, etnia, sexo,
lugar de nascimento, religião, ideologia, grau de instrução, condição
económica ou social. 2 - A lei pune severamente todos os atos que visem
prejudicar a harmonia social ou criar discriminações e privilégios com base
nesses fatores. (CRA, 1992).

No que tange ao constituinte de 2010, este no artigo 21 começou por enunciar as


tarefas fundamentais do Estado, que se resumem em garantia do acesso universal a educação,
criação de medidas ou políticas destinas a garantir os direitos econômicos sociais e culturais,
igualdade de direitos entre todos sem discriminação. Ao passo que para o direito à educação o
constituinte, formulou no (art. 79) mencionando que “O Estado promove o acesso de todos à
alfabetização, ao ensino, à cultura e ao desporto, estimulando a participação dos diversos
agentes particulares na suaefetivação, nos termos da lei” (CRA, 2010).
81

Por conseguinte, para pessoa com deficiência o constituinte reservou dois artigos a
saber, que viriam diferenciados, o primeiro se reporta a pessoa com deficiência de causas
naturais, ao passo que o segundo se reporta aos que no cumprimento do serviço militar
obrigatório adquiriram deficiência.O número 3 do art. 83 faz referência “as políticas de
inclusão, respeito e solidariedade para com os cidadãos com deficiência”, porém o nº 4 já traz
uma abordagem do ensino especial afirmando que “O Estado fomenta e apoia o ensino
especial e a formação técnico-profissional para os cidadãos com deficiência”. Ora, o artigo
84º, o constituinte protela tanto para os militares quanto para os seus filhos, na medida em que
“gozam de estatuto e proteção especial da CRA e da lei”. O (artigo 90 na alínea d) ainda do
mesmo diploma, diríamos que foi muito feliz em sua redação, quando enfatiza que para
realização da justiça social é imperioso que haja “remoção dos obstáculos de natureza
económica, social e cultural que impeçam a real igualdade de oportunidades entre os
cidadãos” (CRA, 2010).
A lei nº13/01 de 31 de Dezembro, denominada de Lei de Bases do Sistema Educativo
(LBSE), dispõe no seu artigo sexto sobre a necessidade da Democraticidade da educação,
como bem pontua o legislador ordinário, a necessidade de o ensino pautar-se na democracia,
estabelecer critérios iguais.
Esta cuidou em tratar do direito à educação da pessoa com deficiência, numa
perspectiva segregacionista. O que ela fez referência trata-se da definição legal de ensino
especial, seus objetivos, organização e condições educativas, deixando as demais
especificidades para lei própria, que, note-se só foi aprovada em Dezembro de 2012. Nestes
termos por educação especial compreende-se:

A educação especial é uma modalidade de ensino transversal, quer para o


subsistema do ensino geral, como para o subsistema da educação de adultos,
destinada aos indivíduos com necessidades educativas especiais,
nomeadamente deficientes motores, sensoriais, mentais, com transtornos de
conduta e trata da prevenção, da recuperação e da integração socioeducativa
e socioeconômica dos mesmos e dos alunos superdotados. (Art. 43 LBSE,
2001).

A LBSE, art. 44, enunciou os objetivos da educação especial que tem a ver com os
seguintes aspectos:
a) desenvolver as potencialidades físicas e intelectuais reduzindo as
limitações provocadas pelas deficiências;
b) apoiar a inserção familiar, escolar e social de crianças e jovens
deficientes ajudando na aquisição de estabilidade emocional;
82

c) desenvolver as possibilidades de comunicação;


d) desenvolver a autonomia de comportamento a todos os níveis em que
esta se possa processar;
e) proporcionar uma adequada formação pré-profissional e profissional
visando a integração na vida ativa;
f) criar condições para o atendimento dos alunos superdotados.

Ora, nosso objetivo com a enunciação desses artigos prende-se com um estudo
comparativo da evolução dos direitos da pessoa com deficiência a partir dos textos
constitucionais de 1992, 2010 e culminar com a LBSE. Assim, vimos que em 1992, em meio
ao final do conflito armado que vinha de 1975, o constituinte se preocupou em consagrar
apenas um artigo a pessoa com deficiência, que no cumprimento do serviço militar
obrigatório, sofreu alguma amputação de um membro, tal se estendia igualmente aos seus
familiares.
A diferença com a CRA de 2010 resulta de que a CRA de 1992, se reportou apenas a
pessoa com deficiência por consequência da guerra, em face do contexto. Por outro lado, a
CRA 2010 ousou mais no quesito salvaguarda de direitos da pessoa com deficiência, na
medida em que ela elenca dois artigos protelando mais direitos aos cidadãos que adquiriram a
deficiência no cumprimento do serviço militar obrigatório e menos dos que adquiriram a
deficiência por causas naturais, como bem se pode depreender da interpretação dos artigos 83
e 84 respectivamente da CRA de 2010. Porquanto esta diferenciação põe em causa se o
constituinte quis afirmar, se um é mais ou menos deficiente que outrem? Ou mesmo segundo
nosso entendimento se as dificuldades serão diferentes?

Compreendemos que a pessoa com deficiência no cumprimento do serviço militar


obrigatório tem tanta dificuldade de se locomover no caso de deficiência física só a título
exemplificativo quanto a que adquiriu a deficiência por causas naturais, logo, não
compreendemos a razão de ser do constituinte em protelar mais para os primeiros em
detrimento dos segundos.

A República de Angola nos termos do artigo 1.º ressalta como princípio “a dignidade
da pessoa humana” e sendo seus objetivos a “construção de uma sociedade de justiça e
igualdade, em face disto nos questionamos estará o constituinte de 2010 ser justo e igualitário
quanto a redação destas normas? Serão as pessoas com deficiência de causas naturais menos
digna em relação as do cumprimento do serviço militar obrigatório? Muitas questões pairam
83

em nosso entendimento quanto a essa problemática que visualizamos na norma, porém, não
achamos respostas até o presente tal critério contrasta com o princípio da igualdade por esta
razão entendemos ser discriminatório a nosso ver. A este proposito Celso António Bandeira
de Melo, acresce que, situações desiguais são atendíveis quando há“correlação lógica entre o
fator de discrímen e a desequiparação protegida, “ o que não é o caso, pois que, a necessidade
que tem uma pessoa com deficiência, auditiva, ou visual cuja a deficiência tenha sido
adquirida por causas naturais ou no cumprimento do serviço militar obrigatório (MELO,
2013, p. 27). A ordem constitucional como bem pontua Gomes Canotilho se funda na justiça;

[...] servindo ainda para legitimar a própria ordem constitucional como


ordem de liberdade e de justiça. Uma outra dimensão deve, porém, ser
revelada: não basta a consagração de direitos numa qualquer constituição. A
história demonstra que muitas constituições ricas na escritura de direitos
eram pobres na garantia dos mesmos. As «constituições de fachada», as
«constituições simbólicas», as «constituições álibi», as «constituições
semânticas», gastam muitas palavras na afirmação de direitos, mas pouco
podem fazer quanto à sua efectiva garantia se os princípios da própria ordem
constitucional não forem os de um verdadeiro Estado de direito. Isto conduz-
nos a olhar noutra direcção: a dos princípios, bens e valores informadores e
conformadores da juridicidade estatal. (CANOTILHO, p.21)42.

No diapasão de Canotilho não se figura como suficiente um texto constitucional que


consagre direitos, porquanto consagração de direitos não é sinônimo de garantia, o que se
pretende é que tais direitos sejam efetivados.
Tanto a constituição de 1975, 1992 e 2010 sua abordagem no que ao direito a
educação das pessoas com deficiência diz respeito, foi na perspectiva segregada, ou seja um
direito a educação tão somente em escola especial.
A LBSE procurou trazer uma definição de educação especial, reservando apenas,
cinco artigos para tratar da mesma, relegando questões mais específicas em lei própria.
Quanto a este item não nos pronunciaremos com ênfase, na medida em que só em 27 de Junho
do transato ano de 2012 foi aprovada o projeto lei da pessoa com deficiência, que merece
tratamento ao longo desta dissertação, em torno dos direitos da pessoa com deficiência,
mormente ao direito à educação desta preferencialmente na escola regular, porquanto
compreendemos que o Estado democrático se pretende que seja “inclusivo e socialmente
justo” capaz de garantir o respeito à “igualdade, diversidade” consequente dignidade das
pessoas.

42
Disponível em: http://www.libertarianismo.org/livros/jjgcoedd.pdf. Acesso em: 05 jul. 2013.
84

4.2INSTRUMENTOS JURÍDICOS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS SOCIAIS DA


PESSOA COM DEFICIÊNCIA

Uma das bandeiras que a pessoa com deficiência hoje pode hastear é o fato de não
mais se considerar incapaz, partindo do modelo médico, mas de que por si só é perfeitamente
capaz de reger a sua pessoa, se porventura o meio estiver preparado para tal. Em Angola há
leis que garantem direitos sociais para a pessoa com deficiência. No que se refere a este
aspecto, porém, Gomes Canotilho enfatiza que “o problema já não se resume na ausência de
leis, mas sim na aplicabilidade destas”, a questão se prende com a efetivação.
Em observância ao disposto na CRA nos artigos que acima fizemos menção, os
direitos sociais da pessoa com deficiência têm merecido positivação no direito pátrio cujo
objetivo se resume na esteira do que abordamos ao longo de nossa temática: a inclusão da
pessoa com deficiência no mais diversos espaços sociais. Nesta ordem de ideia, vimos surgir
uma coletânea de leis em favor das pessoas com deficiência que passamos de uma forma
sintetizada no quadro que se segue.
85

Quadro V – Instrumentos jurídicos referentes aos direitos sociais


Número e ano da Lei ou Decreto Nome do documento
Decreto nº 56/79 de 19 de Outubro. Implementa a Educação Especial.
Lei nº 85/81 Relativo à Reabilitação dos antigos combatentes.
Decreto nº86/81 de 16 de Outubro. Fixa a tabela de índices Médicos de
incapacidade.
Lei nº21/82 de 22 de Abril. Proteção ao diminuído físico.
Lei nº6/E/91, de 09 de Março. Cria o Instituto Nacional de reabilitação (que
nunca chegou a funcionar).
Lei nº 28/92 Proteção especial aos combatentes da guerra de
Libertação Nacional.
Lei nº 18/B/92 Lei do emprego.
Lei nº 16/94 Sistema de segurança social das forças armadas.
Lei nº6/98 de 07 de Agosto. Estabelece a atribuição de um subsidio a pessoa
com deficiência.
Lei nº13/02 Estabelece os direitos e regalias do Antigo
combatente e do deficiente de guerra.
Lei nº07/2004 de 15 de Outubro. Lei de base de proteção social.
Lei nº1/06 Lei de base do primeiro emprego.
Lei nº004/09 Bases gerais do regime jurídico da prevenção,
habilitação, reabilitação e participação da pessoa
com deficiência.
Decreto Presidencial nº 20/2011 Aprova o estatuto da modalidade de educação
especial-Revoga toda legislação que contraria o
presente decreto
Decreto presidencial, nº 151/ 2012, de 29 de Programa de assistência a pessoa com
Junho. deficiência.
Decreto Presidencial nº 237/ 11, de 30 de Estratégia de proteção à pessoa com deficiência.
Agosto.
Decreto Presidencial 237/11, de 30 de Agosto. Política para pessoa com deficiência.
Decreto Presidencial nº 105/2012 de 01 de Cria o Conselho Nacional da Pessoa com
Junho. Deficiência; abreviadamente designado
CNAPED, órgão de consulta e concertação para
execução das tarefas estabelecidas na Política
Nacional da Pessoa com Deficiência- revoga toda
legislação que contrarie o disposto no presente
diploma.
Lei, nº 21/2012 de 30 de Junho. Lei da pessoa com deficiência.
Fonte: Quadro elaborado pela pesquisadora Celmira Alfredo Barros. 2012.

Associado a este arcabouço jurídico, foi aprovada em junho do ano de 2012 a lei da
pessoa com deficiência e concomitantemente ratificada a convenção da ONU de 2006 da
pessoa com deficiência, por força do (art. 26) da CRA passando esta a vigorar na ordem
jurídica interna angolana. Ao Estado cabe não somente criar todo arcabouço jurídico e
institucionais, tendentes a atender a pessoa com deficiência, como também caberá a este o
dever de fiscalizar e saber da exequibilidade das mesmas.Se assim não for tudo não passará de
mais um conjunto de leis cujaprática não se verifica à luz dos problemas que cabem as
pessoas com deficiência.
86

Como bem podemos observar, a pessoa com deficiência em Angola não está
desprovida de leis, mas sim da aplicabilidade prática.Há muitos diplomas, porém sem
quaisquer eficácias – tanto é que alguns deles por conta disso caíram em “desuso”. O objetivo
destes diplomas esteve sempre voltado a uma abordagem na perspectiva inclusiva da pessoa
com deficiência nos diferentes espaços da sociedade, promover os direitos, “garantia de
igualdade na diversidade” ao mesmo tempo em que se destinam a empoderar estes com
instrumentos jurídicos de defesa dos seus direitos.
Outrossim, não seria despiciendo lembrar que a democratização e universalização do
ensino para pessoa com deficiência, também se reporta a observância de uma sociedade
inclusiva, que promove a igualdade entre todos, condições iguais de mobilidade urbana, o
direito de ser diferente43, em respeito à diversidade (MADRUGA, 2013, p.283).
Entretanto, o que vimos, na prática, é uma sociedade segregativa, onde não ouvimos a
voz da pessoa com deficiência, sequer a vimos ou encontramo-la, nos diferentes setores da
sociedade. Não visualizamos que o ensino em Angola para pessoa com deficiência já tenha
atingido o grau de excelência que se pretende. Nos moldes da convenção da ONU, tão pouco
com o plasmado na lei da pessoa com deficiência, qual mencionaremos a seguir.

4.3 A LEI DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

Foi aprovada a Lei, nº 21/201244 de 30 de Junho denominada Lei da pessoa (LPD)


qual dispõe de uma maneira desenvolvida os direitos da pessoa com deficiência. Assim,
cumpre-nos aqui analisar neste documento não só a questão atinente ao direito à educação na
perspectiva da inclusão se eventualmente terá sido tratado no referido diploma, bem como os
demais direitos que a mesma elenca.
O diploma traz na sua gênese, 60. arts. prosseguindo os seguintes objetivos:
a) promoção de oportunidades de igualdade no sentido de que a pessoa com
deficiência disponha de condições que permitam a plena participação na
sociedade;
b) promoção de oportunidades de educação, formação e trabalho ao longo da vida;

43
Fizemos alusão a tal afirmação, porquanto, o que parece na prática é que ser deficiente é “contralegem”, o
estigma que a pessoa com deficiência sofre, leva-nos a crer que, ao quererem usufruir de um direito que também
é seu, impõe a sociedade que deveriam ser como o “padrão”, todos tem direito a ser diferente, ninguém pede
para nascer deficiente.
44
A aprovação deste diploma constitui um marco, e acima de tudo uma vitória para pessoa com deficiência,
historicamente estigmatizada, em Angola. Porém, como toda e qualquer legislação não basta somente que esteja
escrito, mas faz-se necessário sua aplicação.
87

c) promoção do acesso à serviço de apoio;


d) promoção de uma sociedade para todos através da eliminação de barreiras e da
adopção de medidas que visem a plena participação da pessoa com deficiência.
Os princípios enunciados na presente lei ordinária, enfatizam;
a) princípio da singularidade;
b) princípio da cidadania;
c) princípio da não discriminação;
d) princípio da autonomia;
e) princípio da informação;
f) princípio da participação;
g) princípio da globalidade;
h) princípio da qualidade;
i) princípio do primado da responsabilidade pública;
j) princípio da transversalidade;
k) princípio da cooperação;
l) princípio da solidariedade.

Podemos depreender dos objetivos e princípios traçadosno referido diplomaque,


abordagem, se reporta aosdireitos ou as liberdades civis e politicas, os direitos econômicos
sociais e culturais e os de solidariedade. As questões que até aqui vimos tratando, em torno da
acessibilidade como elemento fundamental ao processo inclusivo permitindo que a pessoa
com deficiência seja igualmente parte e incluída no processo de desenvolvimento, nos mais
variados segmentos da sociedade angolana.
O art. 22. Do referido diploma que trata da questão do direito a educação, enuncia que;

Compete ao Estado adoptar medidas específicas necessárias para assegurar o


acesso da pessoa com deficiência à educação e ao ensino inclusivo, mediante
afectação de recursos e instrumentos adequados à aprendizagem e à
comunicação. (Lei da pessoa com deficiência).

Ora, temos um legislador ordinário, que foi mais enfático e como se pode depreender
do preâmbulo da presente lei, esta vem revogar toda e qualquer legislação ordinária que
disponha o contrário. Voltamos ao já aqui tratado, o processo inclusivo é da inteira
responsabilidade do Estado, para o efeito deverá dotar de recursos com vista à materialização
do direito a educação da pessoa com deficiência na perspectiva da inclusão.
88

A presente lei, tal como as demais que ao longo da dissertação vimos enunciando,
dispõe de um rol de arts. Muito bem elaborado, questões prementes pelo qual se debatem a
pessoa com deficiência, tais como: a remoção de barreiras; direito a saúde; direito a segurança
social; direito a habitação e urbanismo; direito de acesso a ajudas técnicas; direito a formação
emprego e trabalho; direito aos transportes; direito a cultura e ciência e benefícios fiscais.
Mais uma vez trazemos a liça, o luso Joaquim Gomes Canotilho e o “Jusfiloso”
italiano Norberto Bobbio, enfatizando que o dilema dos Estados “hodiernos”, consiste no
facto de existirem leis e mais leis que protelam o cidadão, porém seu problema maior resulta
na aplicabilidade das mesmas. Angola não faz parte da exceção, temos um diploma que
protege a pessoa com deficiência, o que falta é a concretude da mesma, e garante o direito a
educação inclusiva.
Uma educação inclusiva, que viabilizara a inserção da pessoa com deficiência nos
diferentes espaços, um ensino democrático e universal, baseado na dignidade da pessoa
humana e no princípio da igualdade, cujo objetivo se prende em fazer da pessoa com
deficiência autônoma e independente. Tais, princípios estão expresso na lei ora referida, muito
bem elaborada, mas, senão se pender para execução será apenas “papel” com alguns dizeres
que cairá em “desuso”.
A questão em torno da inclusão não se resolve somente, como acima mencionamos
com elaboração de leis, precisa se ter em conta outros factores, como políticas direcionadas a
dar cobro a esta situação, compromisso governamental (ministério de tutela), sociedade civil
organizada e envolvimento das pessoas com deficiência na consolidação deste processo, para
um ensino efetivamente democrático e universal.

4.4 DEMOCRATIZAÇÃO E UNIVERSALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO DA PESSOA COM


DEFICIÊNCIA

A questão atinente à democratização e universalização do ensino da pessoa com


deficiência tem a ver com o acesso à escola, a disponibilidade de instituições de ensino e,
fundamentalmente, com as políticas públicas empenhadas em atender questões de inclusão
educacional. Deste modo, a LBSE foi criada atendendo aos pressupostos da nova ordem ou,
dito de outro modo, da nova orientação política e econômica existente no país, como bem
assevera o legislador no referido preâmbulo:
89

Considerando a vontade de realizar a escolarização de todas as crianças em idade


escolar, de reduzir o analfabetismo de jovens e adultos e de aumentar a eficácia do
sistema educativo. Considerando igualmente que as mudanças profundas no sistema
socioeconômico, nomeadamente a transição da economia de orientação socialista para
uma economia de mercado, sugerem uma readaptação do sistema educativo, com vista
a responder as novas exigências da formação de recursos humanos, necessários ao
progresso sócio- económico da sociedade angolana. (LBSE, 2001, p. 1).

Ora, o processo de democratização do ensino tendente para universalização ocorrerá


em 1992 para o ensino geral, porém, o ensino especial, os dados apontam o ano de 1979, mas
foi de fato com participação de Angola na Conferência Mundial de Educação Para Todos, de
1990, como elemento catalizador do acesso ao ensino à pessoa com deficiência ou, dito de
outro modo, em que ações mais expressivas no tocante a universalização e democratização do
ensino, para esta franja da sociedade passou, desde então, a estar na pauta do Ministério de
Tutela, tendo sido criado o Instituto Nacional Para Educação Especial (INEE), vocacionado
para acudir questões atinentes ao direito à educação da pessoa com deficiência. Destarte,
nosso questionamento incide sob os critérios do INEE, assentam sobre a efetivação de um
ensino democrático universal e consequentemente tendente para o ensino inclusivo.
Vamos tentar compreender esta questão, em face dos ODM. Angola se propôs a
atingir até o ano de 2015 um dos objetivos, ou seja, o alcance de um ensino primário e
universal. Desde já, as estratégias adotadas foram a eleição de prioridades claras, elevação da
taxa de investimento público, como fatores da promoção do desenvolvimento
socioeconômico. O art. 6º da legislação infraconstitucional menciona o caráter democrático
do ensino, não permitindo quaisquer tipos de distinção, garantindo a todos os angolanos
direitos iguais quanto ao acesso nos diferentes níveis de ensino.
O ensino democrático e universal, que se pretende à pessoa com deficiência, também
resulta deste investimento sério no setor, por intermédio de políticas públicas, refletida em
ações humanas, tais como: escolas em condições de higiene adequada, professores
capacitados. O postulado na LBSE é a reafirmação do que a CRA já observara no nº 1 do
artigo 22, que consagra o princípio da universalidade, “todos gozam dos direitos, das
liberdades e das garantias constitucionalmente consagrados e estão sujeitos aos deveres
estabelecidos na Constituição e na lei”.
Segundo Machado e Costa, os direitos fundamentais encontram-se em uma posição de
subordinação ao princípio da universalidade, na medida em que tal espírito resulta do
entendimento da DUDH, que sedimentou a ideia da universalidade tanto dos direitos civis e
políticos quanto dos direitos econômicos e sociais e culturais. Ainda no diapasão dos autores,
90

o principio da universalidade constitui uma afirmação do princípio da igualdade (Machado,


Costa 2011, p 177).
Em cada subtema parece, a dada altura, vamos repetindo as ideias. Democratizar é
tornar o ensino universal para as pessoas com deficiência, passa pela adopção, de critérios
iguais, pelo respeito à diversidade, escolaridade obrigatória, em respeito à dignidade da
pessoa com deficiência, critérios iguais e de justiça, pois, na linha de pensamento de João
Ribas, pensar numa sociedade melhor para as pessoas com deficiência é também pensar em
uma sociedade melhor para todos. E tais pressupostos não são diferentes qual o governo
angolano se propôs ao assumir com os ODM, a garantia do ensino universal (RIBAS, 2003, p.
98).
Porém, de lá pra cá, em face da realidade a verdade é que o país esta longe de atingir tal
meta, na medida em que para pessoa com deficiência a democratização e universalização do
ensino não se resumem apenas em políticas públicas, mas igualmente em mudanças
curriculares, capazes de assegurar a esta um ensino inclusivo, como denota José Carvalho:
“[...] Enquanto, para uns, a democratização se caracteriza por políticas públicas de abertura da
escola para todos, para outros, ela decorre de práticas pedagógicas capazes de formar
indivíduos livres”45.
Para, Susana Sacavino, a democratização e a universalização, envolve participação de
todos os sujeitos sociais, quer sejam ao nível político quanto do envolvimento massivo da
sociedade civil “fortalecida”, partindo do pressuposto da necessidade de uma mudança efetiva
na maneira da implementação das políticas destinadas a educação, porquanto aponta autora
que:

[...]. a de que a garantia do direito à educação abre a porta para outros direitos,
enquanto a sua negação traz consigo a negação de outros direitos e a perpetuação da
pobreza. Uma nova forma de exclusão social na educação vem ocorrendo, não mais
fundamentalmente pela ausência de vagas, mas pela qualidade do ensino oferecido,
que afeta, particularmente, aos grupos excluídos, fazendo com que o aluno/a não
consiga aprender o que é necessário aprender. (SACAVINO, 2006, p. 10).46

Pretende-se com a democratização igualmente um ensino inclusivo, que não vai


discriminar o ensino, no dizer freiriano, com “práticas para liberdade”, de qualidade, assente
sobre uma axiologia jurídica. Bem como a formação de professores dotados para lidar com os

45
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1517-97022004000200011&script=sci_arttext>.
Acesso em: 09 jul. 2013.
46
Disponível em <http://www.dhnet.org.br/dados/livros/edh/br/fundamentos/27_cap_3_artigo_05.pdf>. Acesso
em: 09 jul. 2013.
91

novos saberes, os quais fizeram menção à pessoa com deficiência, garantir com isso a
inclusão social desta, na esteira do que enfatiza Sidney Madruga:

[...] a efetividade do direito à educação é um dos instrumentos à construção de uma


sociedade livre, justa e solidária; à garantia do desenvolvimento nacional; à
erradicação da pobreza e da marginalização, com a redução das desigualdades sociais
e regionais; e à promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. (MADRUGA, 2013, p. 319).

O INEE, instituto vocacionado para tratar das questões relativas ao ensino especial,
sob os auspícios da convenção, tem fundamentado os seus trabalho em atenção à diversidade,
apontando a educação inclusiva como, condição “sine qua non”, para inclusão social da
pessoa com deficiência, nos mais variados espaços sociais.
Para tanto, urge a necessidade de se criar condições tendentes a uma estabilização
macroeconômica com a finalidade de adoptar medidas democráticas e de direito para
construção de uma sociedade inclusiva, livre de quaisquer formas de discriminação
(INSTITUTO NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL, 2006, p. 11). O INEE sustenta,
ainda, que o progresso da educação passa necessariamente por um investimento sério no setor,
no que tange a construção de infraestruturas, bem como recursos humanos preparados, para
que com a finalidade de o país honrar com “os compromissos assumidos por Angola na
Cimeira do Milénio”47.
Na verdade, a inclusão é o que se pretende, porém a prática reflete o contrário da aludida
pretensão. Por um lado, o INEE, apela à inclusão como fundamental para o desenvolvimento
social e humano da pessoa com deficiência, porém, por outro, desde a sua criação vimos que
cresce cada vez mais o número de escolas especiais em detrimento de inclusivas. A propósito,
elucidaremos no próximo capítulo com os respectivos gráficos. A pessoa com deficiência em
Angola tem o INEE para responder questões relativas ao direito à educação, mas há um
arcabouço legislativo que se reporta aos direitos sociais, que pretendemos trazer a liça no
subtítulo seguinte. Serão estes essenciais para garantir direitos sociais deste grupo? É o que se
nos afigura saber. Para o efeito, cumpre-nos apontar a título comparativo alguns aspectos
dentro da dogmática constitucional brasileira.

47
Disponível em:
<http://planipolis.iiep.unesco.org/upload/Angola/Angola_EstrategiaparaEducacaoEspecial.pdf>
92

4.5DIREITO À EDUCAÇÃO EM ANGOLA UM ESTUDO COMPARATIVO À LUZ DA


CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988

Antes demais, vale lembrar que o presente estudo à luz da constituição brasileira não
se prende com o que se entende na realidade de um estudo comparativo, mas de apontar
algumas diferenças em relação à constituição angolana, o cuidado e a relevância que ambos
legisladores deram no cuidado desta matéria. Assim, importa ressaltar que o Brasil foi o
primeiro país do mundo a reconhecer Angola como República em1975 e, desde os primórdios
da primeira República angolana, a relação de cooperação nos mais diversos domínios entre os
dois países se verificam até os dias de hoje. Desde logo se propõe com a seguinte pergunta.
Qual o tratamento do constituinte brasileiro de 1988 deu, ou seja, reservou ao direito
educação, é um direitopúblico subjetivo? A pessoa com deficiência no Brasil tem dignidade
constitucional? O ensino no Brasil para pessoa com deficiência pende mais para inclusão,
integração ou segregacionista? Estas são questões que achamos serem os guias de nosso
pensamento.
O direito à educação em Angola está elencado48 como um direito humano
fundamental. A constituição prevê no seu artigo 79 e lei própria desenvolve melhor esta
matéria, porquanto o constituinte de 2010 relegou para o legislador infraconstitucional. “A
educação constitui um processo que visa preparar o indivíduo para as exigências da vida
política, económica e social do País”, assim o sistema de educação em Angola entende-se
como “conjunto de estruturas e modalidades, através das quais se realiza a educação,
tendentes à formação harmoniosa e integral do indivíduo, com vista à construção de uma
sociedade livre, democrática, de paz e progresso social”, sendo da competência do Estado “O
sistema de educação desenvolve-se em todo o território nacional e a definição da sua política
é da exclusiva competência do Estado, cabendo ao Ministério da Educação e Cultura a sua
coordenação”, mormente as questões de ordem pedagógica, andragógica, “técnicos, de apoio
e fiscalização do seu cumprimento e aplicação”. Destarte, nos termos da LBSE, oensino em
Angola estáestruturado em três níveis, o ensino primário, secundário e superior
respectivamente, cujasistematização obedece a seguinte ordem:
a) subsistema de educação pré-escolar;
b) subsistema de ensino geral;
c) subsistema de ensino técnico-profissional;

48
O direito à educação na Constituição angolana de 2010, vem elencado no capítulo III, referente a “Direitos
Econômicos Sociais e Culturais”, portanto é um direito de segunda dimensão à luz da doutrina dominante.
93

d) subsistema de formação de professores;


e) subsistema de educação de adultos;
f) subsistema de ensino superior.

O sistema de educação em Angola obedece aos princípios da laicidade, gratuidade,


obrigatoriedade, democraticidade e integridade, cujo objetivo tem a ver com o
desenvolvimento, a capacidade intelectual com vista a formar pessoas capazes de dar
respostas aos problemas que paísenfrenta, com um senso crítico e construtivo (LBSE, 2001, p.
3). Como acima podemos observar desde a CRA, que o direito à educação para pessoa com
deficiência não vem sendo abordado na perspectiva inclusiva, mais ainda na segregacionista,
por isso, a LBSE, fala em ensino especial, define e estipula os objetivos do mesmo, e remete
para lei própria, em que fizemos alusão acima, qual seja o Decreto Presidencial nº20/11, que
define Estatuto da Modalidade de Educação Especial (EMEE).
O referido diploma, adotado em 2011, diferentemente da CRA e da LBSE, já traz na
sua prole uma abordagem do direito à educação na perspectiva da inclusão, o seu objeto
denominado social aponta o seguinte:

A educação especial tem como objeto social atender, orientar, acompanhar,


formar e apoiar a inclusão socioeducativa e familiar das crianças, jovens e
adultos, com necessidades educativas especiais. (EMEE, artigo2º, 2011, p.
298).

Porém, parece mais uma questão de interpretação de um texto na gramática


portuguesa, do que propriamente hermenêutica jurídica, há uma grande diferença entre apoiar
e garantir vimos que desde a constituição o constituinte se fecha nestes termos, “promover
fomentar”, pois, que não conseguimos visualizar um comprometimento por parte do Estado
partindo dessa analise qual nos referimos. Lembramos que a LBSE foi publicada em 2001 e
só em 2011viria a aprovar este EMEE; em Junho de 2012 a lei de base da pessoa com
deficiência. Esta falta de compromisso por parte do Estado angolano,no que tange a
materialização dos direitos da pessoa com deficiência, contribui em larga escala para que
acentue a visão paternalista e assistencialista qual se demonstra a pessoa com deficiência.
Ao contrário do constituinte brasileiro de 1988, que ao ratificar a convenção da ONU
da pessoa com deficiência, tão somente agregou esta como sua lei mater, conferindo assim
dignidade constitucional ao cidadão brasileiro deficiente. O Brasil adotou a convenção e deu a
esta estatuto constitucional. No Brasil a educação é um direito publico subjetivo, sendo que o
94

constituinte de 1988 entende ser o direito à educação um direito de “aplicabilidade imediata”


(SILVA, 2011, p. 314).A constituição brasileira de 1988 diferencia-se da angolana, desde a
formulação dos artigos referente ao direito à educação, repare que o primeiro na sua lei mater
reservou 14 artigos para abordar ao passo que o segundo apenas um, e para que lei específica,
não crie um entendimento contrário, o constituinte brasileiro, já enfatizou no (art.208 da lei
mater), “o atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino”, assim como bem assevera Fávero (2006, p. 20):

A nossa Constituição delineou as escolas brasileiras como verdadeiro berço


de cidadania, para isso basta que elas se utilizem de práticas de ensino que
acolham as diferenças, fazendo com que os alunos se considerem, uns aos
outros, comopartes indispensáveis de uma mesma comunidade.

Da aludida citação vimos que o ensino brasileiro pendeu mais para um ensino
inclusivo, ao integracionista que reivindica o nosso constituinte (art. 208). Porquanto este
entendimento resulta da ideia de Estado democrático, que satisfaz os direitos e as garantias
constitucionalmente consagradas, dando a pessoa com deficiência “a garantia de igualdade na
diversidade” (RIBEIRO, 2006, p.65).
Contudo, enquanto o constituinte brasileiro de 88 entendeu dar uma relevância jurídica
formal e material em torno da temática do direito à educação da pessoa com deficiência, o
constituinte angolano, por sua vez, mencionou o aludido direito à pessoa com deficiência no
ensino especial.
95

5 O ESTADO ANGOLANO E A EFETIVAÇÃO DO DIREITO À EDUCAÇÃO DA


PESSOA COM DEFICIÊNCIA

A pessoa com deficiência em Angola é vista pelas instituições públicas, privadas e


pela sociedade de uma forma geral, segundo o modelo paternalista difundido pelo mundo na
década de 70, questões em torno da efetivação dos direitos da pessoa com deficiência. Para
tanto, a década de 80 aponta-se como sendo a da “clarividência” no que tange a discussão em
torno da inclusão da pessoa com deficiência nos diferentes espaços sociais, ou dito de outro
modo houve uma mudança de paradigma, passando o discurso dominante em torno de termos
uma sociedade onde todos possam estar e da qual todos possam sentir-se. Por conseguinte
vislumbrou-se o setor da educação como sendo primordial para cumprir com este desiderato.
No presente capítulo, pretende-se enunciar a efetivação dos direitos da pessoa com
deficiência com base nos dados recolhidos, documentalmente e na pesquisa empírica,
mormente a elaboração de questionário do tipo aberto, para permitir que os entrevistados nos
digam mais do que efetivamente questionamos, ficando por nossa conta fazer o saneamento e
trazer o que realmente seria relevante para presente pesquisa.
Para tanto, é relevante considerar que durante o conflito armado a cidade capital,
Luanda, foi a menos afetada pela guerra, daí que houve maior concentração da população
“migração”, naquela que é a menor cidade angolana e, por conseguinte, acolhedora. Por tal
fato convencionamos realizar a pesquisa de campo apenas em escolas da capital; para as
outras nos servimos da pesquisa documental como suporte.
Deste modo, nossa pesquisa empírica envolve “ab initio” um universo de cinquenta
entrevistados, tendo sido entrevistados apenas trinta e nove acima referenciado, porquanto
houve dificuldade em colher depoimentos de pessoas com deficiência auditiva, no que tange a
tradução, e disponibilidade de algumas pessoas com outras deficiência, mormente a física e
visual, associações e pessoal afeto ao INEE.
Assim, entrevistamos entre pessoas com deficiência (visual, física e alguns sem
deficiência),professores, responsáveis de associações de pessoas com deficiência e pessoal
afeto ao INEE. A pesquisa começou a ser efetuada no mês de outubro, tendo sido concluída
no mês de dezembro. Como acima referenciamos, cingimo-nos apenas em realizá-la na
província de Luanda (capital), e no que tange as restantes províncias baseamo-nos apenas em
documentos do INEE e das Associações que lutam na promoção e defesa dos direitos das
pessoas com deficiência.
96

Para cumprir com este desiderato, o universo complexo que envolve a pesquisa de
campo em busca do desconhecido, utilizamos o método qualitativo no intuito de analisar,
explicar com exatidão as premissas evocadas na presente pesquisa com a finalidade de
comprovar nossas hipóteses (ANDRADE, 2010, p. 113).
Como já acima fizemos alusão, a pesquisa de campo incidiu-se no seu todo pela
província de Luanda, convencionamos assim por esta albergar maior parte da população alvo
da pesquisa, logo, as questões que levantamos ao longo do trabalho reportam-se a todo
território angolano, mas, com maior predominância em Luanda. Destarte, realizamos a
pesquisa em duas escolas públicas e em associações de defesa e promoção dos direitos das
pessoas com deficiência em Angola, sem descurar do método bibliográfico e documental em
que nos baseamos para apresentar os avanços e retrocessos do processo inclusivo em curso no
país.
Portanto, no presente capítulo começaremos por enunciar de forma sintetizada alguns
aspectos geográficos, históricos, políticos e culturais no intuito de explicitar um pouco do
histórico político-social de Angola. Faz-se necessário um recuo histórico do direito à
educação em Angola do geral ao especial, bem como o quinhão reservado ao setor da
educação pelo Orçamento Geral do Estado (OGE), culminando com as implicações em torno
da efetivação desse direito social do ponto de vista jurídico e da perspectiva social, com a
finalidade de enfatizar a necessidade da materialização deste direito à pessoa com deficiência.

5.1 ANGOLA: ASPECTOS GEOGRÁFICOS, HISTÓRICOS, POLÍTICOS E CULTURAIS

A República Popular de Angola (RPA) situa-se na costa ocidental do continente


africano. Tem como limites geográficos a República da Namíbia a Sul; ao Norte a República
Democrática do Congo; ao Leste a República da Zâmbia e a Oeste o Oceano Atlântico.Tem
uma superfície de 1.246.700 km2, sendo que sua maior altitude situa-se no Morro do Moco,
na Província do Huambo, com 2.620 metros, o clima “é seco deserto ao tropical chuvoso de
savana temperado”. Angola foi uma colônia portuguesa de 1648 até a data da sua
independência (foram cinco séculos de colonização, perfazendo 500 anos), cujo alcance
custou à vida de muitos de seus filhos. Aluta de libertaçãoteve início na década de 1960,
culminando com a proclamação da independência nos anos subsequentes.
97

A independência resultaria de um acordo49,denominado Acordo de Alvor, assinado


entre os representantes dos três movimentos de libertação, MPLA, UNITA, FNLA e governo
português, respectivamente, em 1974. Em 11 de Novembro de 1975 é proclamada para o
mundo a primeira República de Angola, tendo adotado nesta altura, 1975 a 1992, o regime
socialista50 como forma de governo. A gestão econômica angolana no período acima
referenciado era centralizada, de matriz socialista (mais Estado, menos mercado), em que não
era notória a livre iniciativa econômica privada. O Estado era dono e senhor de tudo e, por
essa razão, ocupava-se em fazer uma distribuição equitativa em favor da igualdade, inspirado
nos ideais do socialismo.
No período de 1975 a 1992, o país conheceu um conflito interno, travado pelos três
movimentos políticos51 que até então lutaram para conquistar a independência, nomeadamente
Frente Para a Libertação de Angola (FNLA), Movimento Popular para a Libertação de
Angola (MPLA) e a União Total para Independência de Angola (UNITA). Com a realização
das primeiras eleições em 1992, houve uma ligeira paralisação do calar das armas, tendo o
MPLA saído vitorioso do pleito eleitoral. Porém, o resultado não agradara a todos, seguindo-
se a insatisfação por parte da UNITA em reconhecer a derrota. Desta feita, as armas voltaram
para definir com quem ficaria o poder52, conhecendo o seu fim somente em 2002 com a morte
do líder da UNITA. Finalmente o povo angolano viria a conhecer a tão almejada paz com o
fim do conflito que durou cerca de vinte e sete anos, podendo assim circular livremente por
todo território, uma vez que não era possível fazê-lo devido à instabilidade política, no
período acima exposto.

49
Assinado em Alvor, Algarve, aos 15 dias do mês de Janeiro de 1975, em quatro exemplares, em língua
portuguesa.
50
Socialismo é uma doutrina política e econômica que surgiu no final do século XVIII e se caracteriza pela ideia
de transformação da sociedade através da distribuição equilibrada de riquezas e propriedades, diminuindo a
distância entre ricos e pobres. Disponível em: <http://www.significados.com.br/socialismo/>Acesso em: 02
fev. 2014.
51
“O MPLA é um dos movimentos de Libertação Nacional, assim como a União para a Independência Total de
Angola (UNITA) e a Frente Nacional para a Libertação de Angola (FNLA). Os três lutaram contra a
dominação colonial e guerrearam entre si para o alcance do poder político até 1975, quanto o conflito é
dominado pelo MPLA, que proclama a independência do país, na capital, Luanda, no dia 11 de novembro de
1975. Entretanto, este passo adiante fez eclodir um conflito interno que teve de ser várias vezes negociado
entre os três movimentos, sendo que, na década de 1990, o mesmo ficou polarizado entre o MPLA e a UNITA,
devido à falta de recursos e apoio internacional da FNLA, num conflito que só veio a terminar em 2002, com a
morte do líder do último movimento, hoje constituído partido político. Porém, apesar da disputa, a alternância
do poder governativo nunca foi uma prática, estando este desde a independência nas mãos do mesmo partido, e
há 32 anos sob a presidência de José Eduardo dos Santos, que, com a morte de Kadafhi, é indicado como o
mais antigo presidente africano no poder. Por esse motivo, tanto as eleições como a governança do país estão
envolvidas em questões que envolvem um excessivo autoritarismo e falta de transparência”. (NANGACOVIE,
2013, p. 8).
52
De realçar que neste período o conflito foi travado pela UNITA e MPLA, culminando apenas em 2002.
98

Angola tem a forma de Governo Presidencialistacujo chefe do Estado é o Presidente


da República, sendo o Português o seu idioma oficial. Dispõe de uma diversidade cultural e
linguística vastíssima cujos principais grupos étnicos são: Os Ovimbundu, Ambundu ou
Akwambundu, Bakongo, Lunda-cokwe, Ngangela, Ovambo, Helelo ou Herero.Está
administrativamente dividida em 18 Províncias, 164 Municípios, 535 Comunas e 271
povoações.A capital de Angola é Luanda, por sinal a menor das províncias. A população
residente é de aproximadamente 18.000.00053 habitantes, com uma taxa média de crescimento
anual de 3,1%. A percentagem da população feminina é de 51%. A esperança de vida à
nascença é de 46 anos. Mais de 50% da população tem uma estrutura etária juvenil.
O país possui muitos recursos naturais, a saber: diamantes, petróleos, ouro, gás, ferro,
fosfato, urânio, diversidades marinha, que contribuem para o crescimento da economia
angolana54·.Angola é considerado o segundo país da África Subsaariana produtor de petróleo,
o seu PIB55 per capita está estimado em 3.890 dólares anualmente (TELO, 2012, p. 14). Não
obstante o crescimento da economia, a desigualdade social existente no país é gritante,
resultante da má distribuição da renda e da política de prioridade oque, pensamos, contribui
consideravelmente para o aumento das assimetrias enquanto um grupo restrito apoderou-se de
tudo, a maioria esta à míngua, vendo ao longe a fartura destes.
O conflito armado registado no país, por longos 27 anos, deixou consequências, com
as quais volvidos doze anos de paz temos vindo a nos debater com os mesmos problemas,
muitas infraestruturas destruídas, dentre elas escolas, contribuindo, assim, para que algumas
crianças ficassem fora do sistema regular do ensino, rede sanitária em condições precárias,
elevado índice de analfabetismo56 que contribui fortemente para o subdesenvolvimento do
país.
Com o calar definitivo das armas em 2002, ou seja, com a estabilidade política e social
estavam reunidas às condições para que o país pudesse então seguir o seu curso normal,

53
“[...] estes dados referem-se a estimativas aproximadas resultantes de pesquisas de iniciativa privada, uma vez
que o último censo populacional oficial foi realizado em 1961”. (NANGACOVIE, 2013, p. 7).
54
“Dados divulgados pelo Banco Mundial, nos últimos anos, apontam que, na África Austral, Angola é uma das
economias que mais crescem”.
55
Apesar de o governo ter duplicado o valor do PIB do país, nos últimos três anos, pesquisas do Centro de
Investigação Científica da Universidade Católica de Angola (UCAN/CEIC, 2011) dão conta de que a pobreza
e a desigualdade ainda continuam com índices elevadíssimos, calculados, em 2001, em 68%, e, em 2010,
aproximadamente em 56%. Ao passo que o Inquérito Integrado Sobre o Bem-Estar da População (IBEP),
realizado entre os anos de 2008 e 2009 pelo Instituto Nacional de Estatística – INAE (2010, p. 13) pelo
Governo Angolano, refere que cerca de 36,6% da população angolana vive abaixo da linha da pobreza.
(TELO, 2012. p, 15).
56
Índice de analfabetismo é de 58%, dos quais 70% são mulheres; fonte: Instituto Nacional para Educação
Especial. Angola. Disponível em: <http://jornaldeangola.sapo.ao/19/42/alfabetizacao_5>Acessado em: 21 set.
2012.
99

dando lugara eleições legislativas no ano de 200857 em que o MPLA sagrou-se vencedor com
uma maioria qualificada de 81,64%, o que pensamos ser péssimo para a consolidação da
“democracia”. Em 2010, com a aprovação da nova constituição – denominada por alguns
acadêmicos de “atípica”58 – o panorama eleitoral viria, então, conhecer um novo rumo,
extinguido as eleições presidenciais, dando lugar apenas ao pleito legislativo (eleição
indireta).
Assim, em 2012, pela terceira vez os angolanos puderam mais uma vez exercer seu
direito de voto, escolhendo em simultâneo, o seu Presidente bem como os representantes na
Assembleia Nacional. Mais, uma vez o pleito foi ganho pelo MPLA 59 com uma maioria que,
apesar de ter sido inferior à anterior, ainda sim, continua com uma maioria folgada, que lhe dá
espaço para melhor fazer seu jogo político e aprovar ou reprovar projetos legislativos a
seufavor, já que há ainda uma dificuldade em se pensar no país como nação e não como
partido.
Porém, desde a realização do primeiro pleito em 1992 que observadores nacionais e
internacionais, apresentam descontentamento pela maneira como ele vem sendo organizado.
Os pleitos de 2008 e 201260 não fugiram a estas colocações, várias irregularidades foram
enunciadas, como sendo cruciais para invalidação do mesmo. Contudo, tendo em conta a
periodicidade da realização do pleito, auguramos que estes venham a se realizar, respeitando o
disposto na carta magna, assim o ano de 2017, altura que acontecera o próximo sufrágio.

57
“As eleições legislativas de 2008, ganhas pelo MPLA, contaram com a participação de 15 formações políticas,
mais seis em relação ao pleito desta sexta-feira. Nessas eleições, as segundas realizadas no país após as de
1992, o MPLA obteve quatro milhões quatrocentos e catorze mil e setecentos e trinta e oito (4.414. 738) votos,
correspondendo a 81, 64 %, facto que lhe atribuiu a maioria absoluta das cadeiras no parlamento. Esta
formação política obteve 191 assentos na Assembleia Nacional, mais 62 em relação ao pleito de 1992.”
58
“Devido a uma alteração constitucional, promovida pelo MPLA no ano de 2010, as eleições presidenciais
foram definitivamente abolidas. A partir de 2012 o princípio será o seguinte: o candidato que ocupa o primeiro
lugar na lista do partido mais votado nas eleições legislativas será automaticamente eleito presidente. Deste
modo, José Eduardo dos Santos já não corre o risco de receber menos votos do que o seu partido MPLA, como
aconteceu em 1992.” Disponível em: http://www.dw.de/elei%C3%A7%C3%B5es-de-2012-em-angola/a-
16070052, acesso 06 de Fevereiro de 2014.
59
“O MPLA, Movimento Popular de Libertação de Angola foi a formação política mais votada com 71,84% dos
votos, nas eleições gerais de 31 de agosto de 2012. Com uma maioria qualificada, o MPLA consegue, assim,
eleger 175 dos 220 deputados da Assembleia Nacional angolana, o que representa uma perda de 16
parlamentares, em relação à anterior legislatura. Nas eleições de 2008 o MPLA tinha conseguido 82%.”
Disponível em: http://www.dw.de/elei%C3%A7%C3%B5es-de-2012-em-angola/a-16070052, acesso 06 de
Fevereiro de 2014.
60
“As eleições marcadas para 31 de agosto de 2012 foram, desde o início, acompanhadas de muitas polémicas.
Uma delas foi a nomeação de Suzana Inglês para presidente da Comissão Nacional Eleitoral de Angola (CNE),
nomeação essa criticada por ela pertencer ao MPLA. Realizaram-se várias manifestações exigindo o seu
afastamento do cargo”.
100

5.2 O ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO DE 2007 A 2012

O Orçamento Geral do Estado é o documento que consigna as despesas e receitas do


Estado para o ano em referência, é por excelência o documento pelo qual os demais agentes
públicos basear-se-ão para realização de tarefas, na prossecução do interesse público. O que
atrás referimos resulta de que o direito à educação é um direito de segunda dimensão cuja
materialização realiza-se por meio de políticas públicas ou programas governamentais61
(COMPARATO, 2007, p. 111). Para o efeito, impõe-se que tal recurso venha ser
implementado mediante uma política pública com vista a dar cobro:

Políticas Públicas são ações ou diretrizes, encabeçadas pelo Estado, com vista a
garantir os direitos econômicos sociais e culturais, na resolução de problemas, ligados
a educação, saúde, ou seja, é um conjunto de medidas e procedimentos que traduzem a
orientação política do Estado e regulam as atividades relacionadas ao interesse
público; com as receitas provenientes dos impostos e de outros recursos que o Estado
dispõe, consegue este alocar recursos econômicos para esta ou aquela outra política
pública conforme a sua imdediatiicidade. Porém, o Estado não trabalha, só, na
implementação de tais politicas, este conta com grupos sociais, da sociedade civil
organizada, associações para cumprir cabalmente com as suas funções, porém, a
obrigação é do Estado. (LUCCHESE, et al. 2002, p.14).

De 2007 a 2012, observamos os avanços e recuos do nosso Orçamento Geral do


Estado, como bem pontua o eminente economista angolano Carlos de Carvalho no quadro a
seguir:

61
O direito à educação na Carta Magna angolana vem elencado na 2ª geração de direitos, os chamados direitos
econômicos sociais e culturais, e a particularidade destes direitos de 2ª geração diferentemente da primeira que
são exequíveis por si, na medida em que a sua aplicação fica dependendo de uma lei ordinária, para torná-las
plenamente aplicáveis aos seus programas, criação de políticas públicas. (MIRANDA, 2002, p, 304).
101

Quadro VI - Orçamento Geral do Estado

Fonte: Carlos Rosado de Carvalho Economista e docente universitário.

O gráfico apresentado pelo professor Carlos de Carvalho ilustra bem a maior


preocupação do estado angolano, apesar de termos conhecido o fim do conflito em 2002,
ainda assim há uma maior preocupação em se alocar mais recursos para a segurança, nos
indagamos, o que pretendemos erradicar, o analfabetismo, a fome a miséria, ter uma rede
sanitária com condições de dar cobro as diferentes situações que a ela acorrerem? Como
garantir uma educação de qualidade para todos com estes constantes cortes (sobe e desce), no
quinhão reservado a este setor social?
A educação, segundo José Afonso da Silva,“é um direito reconhecido a pessoa
humana e por essa razão, deve se restringir a todos, sem exceção, [...] sendo que é dever do
Estado em prover com que a realização deste direito se efetive orientar a sua política com a
vista a garantia deste direito” (SILVA, 2012, p. 840). O quadro, acima menciona uma
crescente desigualdade nos recursos para segurança, em detrimento a educação e da saúde.
A inclusão social e á inclusão educacional sobre as quais nos temos debruçado implica
uma reformulação dos curriculas. Diga-se, por oportuno, essa mudança dever-se-á se verificar
também na formação dos professores62 na estrutura da sociedade e da escola, que comporta
em si despesas. Por outro lado, se existe pretensão de um ensino verdadeiramente inclusivo é
imperioso que se revejam os recursos destinados ao setor, pois cada deficiência comporta em

62
Como por exemplo o ensino da linguagem gestual, a escrita e leitura em Braille, como pontualizou nossa
entrevistada, deficiente visual e estudante do II ciclo.
102

si sua especificidade: o que o aluno com deficiência visual necessita para estudar não é
mesmo de que necessita o deficiente auditivo, intelectual, motora, conduta ou múltipla
respectivamente, o processo inclusivo não pode descurar as especificidades de cada uma
delas.
Desde a deficiência, motora (física), auditiva, intelectual, visual, transtornos de
desenvolvimento e de conduta múltipla, temos em escolas públicas um total de 25.226,00,
sendo que 13.286, 00 são femininos e 11.940,00 masculinos. Ora, conhecemos o problema, o
público alvo foi identificado, o que falta depende tão somente de política pública direcionada,
que começaria por melhorar o quinhão destinado ao setor da educação com vista a pôr cobro,
ao número gritante de pessoas que ficam fora do sistema de ensino por falta de escolas ou
mesmo de professores fato que ocorre em alguns lugares recônditos de Angola.
Assim, essa política orçamentária, insuficiente para o setor, contribui, no nosso
entender, para a discriminação e a exclusão, que impedem muitas pessoas com deficiência de
estudar, relegando para estas apenas o curso técnico profissional, contra sua vontade63.
Se a educação é um direito social e a materialização destes (como já referimos) tem a
particularidade de depender da disponibilidade de recursos; se os recursos de que dispomos
são estes e nos colocamos nos “avanços” e “retrocessos” de sua utilização, resta-nos
questionar: que avanços auguramos para o setor educativo com estes recursos e que dignidade
queremos garantir às pessoas com deficiência, se a ela só reservamos um ensino, excludente?
Compreendemos que segurança é importante, mas compreendemos ainda a educação
e, saúde serem os mais importantes, e se nosso objetivo é o tão sonhado desenvolvimento só
vamos alcançá-lo se mudarmos nossa maneira de olhar para o setor, e todos fazem parte ou
tem uma cota parte de responsabilidade para que efetivamente possamos atingir níveis de
desenvolvimento, que esperamos, e para tal precisamos pagar um preço alto, porque foi assim
que muitos se fizeram excelentes, educação de qualidade implica gastos avultados. Tal
desiderato, reafirmamos, só mediante uma política pública, capaz de modo “gradativo” dar
cobro as assimetrias decorrentes da insuficiência de recursos ou do mau uso destes (GOMES,
2011, p. 29).

63
Ou seja, é como se tivessem a atestar um certificado de incapacidade a este, dizendo você só pode fazer isto
ou aquilo outro, melhor dizendo, interferem no direito de escolha.
103

5.3 DIREITO À EDUCAÇÃO: DA FORMULAÇÃO A SUA REAL EFETIVAÇÃO

A problemática em torno dos direitos sociais nos nossos dias, como já acima fizemos
alusão, com embasamento teórico do constitucionalista luso Joaquim Gomes Canotilho e do
jus filósofo Norberto Bobbio, prende-se à sua efetividade ou materialização. Tornou-se, muito
fácil consagrar direitos e mais direitos, os textos estão sempre muito recheados de normas que
definam o que cabe e a quem cabe, porém, sua efetividade esta longe do real pretendido pela
norma. E não estamos longe de perceber tal fato, na medida em que no país, temos, o direito à
educação, consagrado no texto constitucional no art.79, temos uma lei infraconstitucional, e
outros decretos legislativos consagrados ao setor, porém, isto é a garantia formal (está
escrito), o que auguramos é a prática tirar do papel e torná-lo exequível. Esta efetividade que
aqui evocamos, não se alcança com textos bem escritos, mas com políticas com a finalidade
de suprimir as necessidades que impedem de todos terem acesso, disponibilidade a este direito
fundamental.
Todos os anos, em início de mais um ano escolar ou letivo, o dilema do angolano é o
mesmo: faltam escolas, material escolar, para os alunos com necessidades educativas
especiais o dilema ainda é maior, pois cada deficiência tem sua especificidade. O que vimos é
que para esta minoria as barreiras são impostas partindo da própria norma que, por exemplo,
não aborda já um ensino inclusivo mais um ensino especial, no diapasão da CSDPCD, são
vários tipos de “barreiras” com que se deparam as pessoas com deficiência, para realização
plena e efetiva dos seus direitos, mormente o direito à educação.
As barreiras que a Convenção faz menção podemos compreender do seguinte modo:
para pessoa com deficiência auditiva, a barreira prende-se ao fato de o Professor desconhecer
a linguagem gestual64ao passo que ao deficiente visual tem com que ver com a escrita em
Braille e do ponto de vista arquitetônico para o deficiente motor, resulta das barreiras de
ordem arquitetônica.
Com efeito, não obstante a CRA no art. 83 nº 2 “O Estado adopta uma política
nacional de prevenção, tratamento, reabilitação e integração dos cidadãos com deficiência, de
apoio às suas famílias e de remoção de obstáculos à sua mobilidade”, ter mencionado esta
questão da mobilidade urbana, ainda, escolas e a sociedade angolana em si, não esta preparada
para este grupo minoritário (ARAÚJO, 2011, p. 33).

64
Facto este que inviabiliza a inclusão do deficiente auditivo em rede regular, ficando este sem poder de escolha,
logo, tem a escola especial para dar continuidade aos seus estudos.
104

A luz do acima aludido, Katharina Tomasevsky ilustrou-nos bem com os seus quatro
pressupostos acima referenciados quando abordamos o direito à educação inclusiva. Refere à
autora que é imperioso que haja disponibilidade e que, por conseguinte tem de ser de fácil
acesso, aceitável adaptável para todos, com a finalidade de banir a exclusão, assegura Luiz
Alberto David Araújo.

O direito à acessibilidade é direito instrumental, pois viabiliza a existência de outros


direitos. Sem a acessibilidade, não se pode falar em direito à saúde, em direito ao
trabalho, em direito ao lazer, dentre outros. Se não pode se locomover, como poderá ir
trabalhar? (ARAÚJO, 2011, p. 30).

Mas estamos falando de efetividade do direito à educação, que é o calcanhar de


Aquiles dos “direitos humanos” (NANGACOVIE, 2013, p.127). Pois, o discurso em torno da
não efetividade real prende-se sempre à insuficiência de recursos para sua execução, são
direitos sociais prestações positivas, que carecem da “participação” efetiva do Estado para sua
execução ou materialização (ARAÚJO, 2011, p. 36).
Na mesma linha de pensamento, acrescenta a Professora Flávia Piovesan que os
direitos econômicos sociais e culturais, não são tão somente uma obrigação moral do Estado,
mas fundamentalmente uma “obrigação jurídica resultante dos demais tratados de proteção
dos direitos humanos, com relevância para o PIDESC”. (PIOVESAN, 2001, p. 12).
A não efetivação do direito à educação para pessoa com deficiência contribui
sobremaneira, para exclusão desta da ordem social, e como bem pontuou o Professor Gomes
Canotilho, a “exclusão social é igualmente exclusão de direitos”, se não efetivamos direitos
estamos a permitir a exclusão social, e se o permitimos logo, contrastamos com o ideal de
Estado de justiça baseado no principio da dignidade da pessoa humana e igualdade evocada
na nossa lei mater no seu art. 1.

Analisando o conteúdo do direito à inclusão, podemos facilmente identificar que,


salvo o direito à igualdade, todo o instrumento do direito à inclusão social se encontra
no campo das liberdades positivas, ou seja, prestações desenvolvidas pelo Estado. O
direito ao transporte adaptado gera uma obrigação de o Estado fornecer e fiscalizar tal
operacionalização. O mesmo ocorre com o direito à saúde ou à eliminação das
barreiras arquitetônicas. Somente a partir da participação efetiva do Estado, é que o
direito poderá se concretizar. Não se trata, portanto, de exigir uma abstenção do
Estado, para que o direito não sofra interferência, tal como a primitiva ideia de
liberdade, mas exatamente, o contrário, estamos diante de uma típica necessidade de
intervenção do Estado para a composição da igualdade. (ARAÚJO, 2011, p. 36).
105

Mas este processo inclusivo ou a educação inclusiva como afirmação social e


empoderamento das pessoas com deficiência, sobre as quais até aqui estamos dissertando, só
será possível mediante um quadro jurídico eficaz como também, situações sociais que não
podemos descurar. Implica uma reforma no setor da educação, a qual, por sua vez, demanda
uma reforma legislativa: é imperioso que se criem leis eficazes, ocorre que, os diplomas
existentes não são aplicados quando muito desconhecidos. As implicações sociais desse
processo inclusivo, passa pela reestruturação da cidade, por exemplo; a construção de rampas
de acesso65 fundamentalmente em instituições de ensino.
A efetividade deste direito para pessoa com deficiência pode ser resolvido com
medidas de discriminação positiva, pois esta visa corrigir as disparidades como bem pontua o
Professor Eduardo Rabenhorst: “A discriminação positiva é, pois, um princípio que visa
corrigir desequilíbrios e compensar desigualdades iniciais” (RABENHORST, 2001, p. 107).
A discriminação positiva tem como escopo, “concretização do principio constitucional
da igualdade material” (SILVA, 2012, p. 58). Seria uma medida que poderia não resolver o
problema no seu todo mas, melhoraria em muito, o quadro ora presente, das barreiras físicas
as barreiras “humanas” que impedem este grupo minoritário de realizar a plena e real
efetivação deste direito social.
Os direitos sociais não bastam que sejam só enunciados ou positivados, é imperioso a
sua efetividade. Com a efetividade dos direitos sociais vem toda celeuma em torno da
disponibilidade de recursos para o efeito. Direito há um ensino inclusivo para pessoa com
deficiência, pode, não estar expresso na Carta Magna, com a mesma redação que aqui
referimos, mas, estamos tratando de um direito fundamental, nesta ordem de ideia nos
permitimos fazer uma interpretação extensiva do artigo 23 que reporta o princípio da
igualdade, tem a pessoa com deficiência o direito a educação na escola regular, e não pode ser
discriminada em razão da sua deficiência, pois, esta não impede de aprender, mas as

65
A este propósito foi construída uma nova cidade, inaugurada em 2011, à denominada cidade do Kilamba, mas,
vimos que não foi pensado na pessoa com deficiência visual e motora, não há rampas de acesso na cidade do
Kilamba, que leis são essas que o próprio Estado não se serve na feitura dos seus projetos? Porque produzir leis
se não a aplicamos? Como bem pontua Luiz Alberto Araújo as barreiras não param por ai, “O relacionamento
com estes últimos não chega a ser o único obstáculo vivido pelas pessoas com deficiência. A convivência social
é outra barreira bastante grande. Quantos indivíduos, por exemplo, estão preparados para manter relacionamento
com uma criança com síndrome de Down? Quantas pessoas se sentem tranqui1as para manter uma conversação,
sem constrangimentos, com uma pessoa paraplégica? Por mais que nos sintamos amadurecidos para enfrentar
essa situação, a pessoa com deficiência notará certa ansiedade e algum desconforto nesse relacionamento, no
mínimo, por falta de naturalidade. Isto se deve à circunstância de que a inclusão dos indivíduos deficientes não é
exercitada pela sociedade como um todo.” (ARAÚJO, 2011, p.38).
106

barreiras66 quer do ponto de vista legal, humano, arquitetônico e social estas sim são inviáveis
a efetividade do direito à educação (SASSAKI, 2010, p. 158). Sidney Madruga sustenta que:

O direito à educação, pois, é um dos indicadores do conteúdo normativo eficaz da


dignidade da pessoa humana, o que associado ao fato de que esta intrinsicamente
relacionado com os princípios fundamentais da nossa República, torna indubitável a
sua essencialidade. (MADRUGA, 2011, p. 320).

Os valores do Estado democrático e de direito angolano, se fundam no principio da


dignidade da pessoa humana, todos os direitos a luz do texto constitucional angolano são
formulados em atenção a este principio, e com o direito à educação não poderia ser diferente.
Em face, disto, mas, do que ser formulado, o que impõe é sua materialização.

5.4 EDUCAÇÃOESPECIAL– EDUCAÇÃO INCLUSIVA

O constituinte angolano se reporta a um direito à educação especial para pessoa com


deficiência dispõe o art. 83 que: “O Estado fomenta e apoia o ensino especial e a formação
técnico-profissional para os cidadãos com deficiência”. Porém, a prática nos oferece um
ensino inclusivo dentro da escola especial e não em escola regular, como acima fizemos
alusão, sustentando com recurso a doutrina por nos enunciados. Não será despiciendo lembrar
que já fizemos alusão aos conceitos inerentes à educação especial e a educação inclusiva que
se compreende a diferença entre um e outro.
Assim, a educação especial no país, segundo dados do INEE, começou a ser tratada de
forma incipiente a partir de 1972. Ainda sob a égide do colonizador português, o sistema
colonial não dispunha de atendimento escolar para as pessoas com deficiência. Volvidos
sensivelmente quatro anos após a independência, foi implementada em 1979 a Educação
Especial, por orientação do então Ministro da educação na época, Ambrósio Lukoki, com
condições mínimas criadas, o objetivo prendia-se em educar a população com necessidades
educativas especiais. Em 1980, foi criado o Departamento Nacional para a Educação Especial,
pelo Decreto nº 40 ∕ 80 de 14 de Maio, estipulando no seu artigo 17º, que a partir desta data
começou o atendimento de pessoas com necessidades educativas especiais. Sendo que tal
atendimento destinava-se tão somente ás crianças com deficiência visual e auditiva. Passado
algum tempo, surgem às primeiras salas especiais nas escolas do ensino geral (INEE, 2008,
22).

66
As barreiras para as pessoas não deficientes não são tão visíveis quanto para as pessoas deficientes.
107

Em 1994, com a ratificação por Angola da DECS adotada pela Conferência Mundial
sobre Necessidades Educativas Especiais (Espanha 1994), bebendo das experiências de outros
países, surgiu o projeto denominado 534∕Ang∕10 sobre Promoção de Oportunidades
Educativas para a reabilitação das crianças vulneráveis, permitindo a integração das crianças
com necessidades educativas especiais nas escolas do ensino regular, sendo que este período
correspondia à primeira fase do projeto que abarcou primeiro as Províncias de Luanda
(Capital), Benguela e Huíla respectivamente, seguida de um ciclo de formação para os
técnicos das restantes províncias nomeadamente, Cabinda Bié, Huambo, Huila, Bengo,
Benguela e Kwanza-sul.
No ano de 1995, criou-se a Direção Nacional para Educação Especial, pelo Decreto-
Lei nº13∕95 de 27 de Outubro, como ainda a Lei de Base da Educação – lei n.º 13/01 de 31 de
Dezembro de 2001 –, que no seu artigo 23º nº1 cria o Instituto Nacional para a educação
Especial, constituindo esses segundo o INEE, orientação e estratégica do Governo no setor da
educação para o período 2001-2015.O Decreto Presidencial nº20∕11, que aprova o Estatuto da
Modalidade de Educação Especial, com o objetivo de atender e orientar a inclusão
socioeducativa, apenas para a Educação Pré-escolar, do ensino primário, e do I e II Ciclos do
Ensino Secundário. Mas, há ainda o Decreto-Presidencial 105∕ 12, que cria o Conselho
Nacional da Pessoa com Deficiência, abreviadamente designado (CNAPED), como órgão de
consulta e concertação para a execução de tarefas estabelecidas nas políticas.
O INEE enuncia que o número de alunos com deficiência do ano de 2002, em que
havia 7.406,00 (sete mil e quatrocentos e seis),subiu em 2011para 23.193,00 (vinte três mil
ecento e noventa e três), com 12 (doze) escolas especiais, 15 (quinze) salas integradas e
12(doze) salas especiais, o aumento de escolas especiais de quatro em 2002 a 14 em 2011, e
de sete salas integradas em 2002 para 687 em 2002,contando com um número aproximado
de3.182,00 (Três mil e cento e oitenta e dois) professores (INEE, 2008, 24, 25). Com base
nesses dados, podemos verificar que a questão tratada em Angola ainda é“vamos construir
mais escolas especiais, salas especiais, vamos integrar mais alguns na sala regular”, mas não
“vamos cuidar da inclusão”, pois esta ainda está aquém das responsabilidades do Governo.
Por conseguinte, há escolas especiais em algumas províncias, como poderemos verificar no
quadro a seguir:
108

Quadro VII-Escolas especiais existentes no país

Relação Nominal das escolas especiais/Centros de recursos existentes a nível nacional


Província Número de Escolas
Cabinda -
Cunene 1
Bengo 1
Benguela 1
Bié 1
Huambo 1
Luanda 3
Lunda-Norte -
Lunda- Sul 1
Huila 1
Malange -
Moxico -
Namibe 1
Kwanza-Norte 2
Kwanza-Sul 1
Kuando- Kubango 1
Uíge -
Zaire 1
Total 16
Fonte: Instituto Nacional para Educação Especial INEE.

Como bem se vê no quadro acima, das 18 províncias que o país tem apenas 13
possuem as escolas especiais e os centros de diagnósticos, sendo que as pessoas com
deficiência residentes nestas províncias não podem satisfazer seu direito à educação, na escola
regular porquanto esta as relega para escola especial, não havendo a escola especial a pessoa
com deficiência, não tem o direito à educação. Aqui vale reafirmar que a educação constitui
um elemento catalisador para afirmação social, empoderamento e inserção nos diferentes
espaços sociais para toda pessoa com deficiência e não deficiente. Tal desiderato contrasta
com o ideal de justiça qual se incide na compreensão do estado democrático de direito que a
CRA, enuncia. O ensino segregado contrasta com ideal da Declaração de Salamanca bem
como a Convenção da ONU das pessoas com deficiência (SEGALLA; MARTA, 2013, p.
124).
John Rawls, em Justiça como equidade, ressalta que “o regime democrático
constitucional é razoavelmente justo e exequível” impõe que haja oportunidades iguais para
todos (RAWLS, 2003, p. 52-62). Outra discussão que podemos aludir do pensamento de
Rawls, resulta de que esta igualdade nem sempre pode parecer justiça, senão vejamos que o
constituinte de 2010, baseado no critério da igualdade, enuncia primeiro no artigo 83 que o
109

“estado fomenta o ensino especial” para todas as pessoas com deficiência, porém, o mesmo
constituinte vem no artigo posterior elencar mais direitos ao cidadão com deficiência no
cumprimento do serviço militar obrigatório.
O questionamento persiste, a medida decerto não se vislumbra como igualitária, resta-
nos saber, porém se será ela justa?Partindo do pressuposto de que, independentemente de
como o tenha adquirido, são todos pessoas com deficiência, daí que nosso entendimento
resulta de que o tratamento deveria ser igualitário sob os auspícios da justiça, evocado como
fundamento da formação do nosso Estado democrático e de direito e do art. 23 que reporta o
princípio da igualdade para os direitos fundamentais. Assim, compreendemos que o legislador
foi infeliz na formulação desta norma, como bem se vê:

Os combatentes da luta pela independência nacional, os veteranos da Pátria,


os que contraíram deficiência no cumprimento do serviço militar ou
paramilitar, bem como os filhos menores e os cônjuges sobrevivos de
combatentes tombados, gozam de estatuto e protecção especial do Estado e
da sociedade, nos termos da Constituição e da lei. Compete ao Estado
promover políticas que visem assegurar a integração social, económica e
cultural dos cidadãos referidos no ponto anterior, bem como a protecção,
valorização e preservação dos feitos históricos por estes protagonizados.
(CRA, 2010. p, 30).

Vimos que o constituinte reserva o estatuto e proteção especial do Estado e da


sociedade nos termos da constituição da lei às pessoas com deficiência no cumprimento do
serviço militar obrigatório, já acima referido.
Nesta conformidade a educação é, por excelência, o caminho para reais mudanças,
desde a inserção da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, a participação plena e
efetiva no exercício da sua cidadania. (SEGALLA; MARTA, 2013, p. 142).
Jacques Delors afirma, a esse propósito, que a educação contribui para “diminuição da
pobreza e da exclusão social”. Constatamos, igualmente que a pobreza esta intrinsicamente
ligada à pessoa com deficiência. Não queremos com isto afirmar que possuir alguma
deficiência é sinônimo de pobreza, mas o entendimento resulta de que, grosso modo, as
pessoas com deficiência vivem em situações de extrema pobreza (2012, p.58). Ora, o meio
por excelência para que a pessoa com deficiência trilhe um caminho menos pesaroso é a
garantia do direito a educação e preferencialmente a inclusiva. Em face disto, nos
questionamos: Porque não à adopção de políticaseficazes tendentes a dar uma nova
perspectiva de vida para a pessoa com deficiência?
110

Jacques Delors nos apresenta quatro pressupostos para a compreensão e formulação de


um conceito de educação, quais sejam: “aprender a conhecer, aprender a ser, aprender a fazer
e aprender a conviver”. Para o autor, enuncia que não se deve simplesmente dotar o aluno
para uma qualificação profissional, prossegue elucidando o que o aluno deve aprender “a
compreensão do outro e das interdependências, com o intuito de melhor desenvolver a
“personalidade e agir com capacidade de autonomia, de discernimento e de responsabilidade
pessoal” (DELORS, 2012, p.83).
Ora, o enunciado por Delors está relacionado com o que até aqui temos vindo a
mencionar, no que tange a esta inclusão por intermédio da realização do direito à educação,
para esta minoria historicamente discriminada, discriminação esta associada ao facto do
desconhecimento destes de seus direitos, que é atribuída à ausência de formação e instrução.
(HILÁRIO; WEBBA; 2010 p. 31). Não obstante a isso, acresce-se a fraca cultura jurídica
existente no país, como bem pontua Emiliana Nangacovie:

A cultura jurídica, no geral, é deficitária e, por cultura jurídica, entende-se por todo o
conhecimento que qualquer cidadão tem sobre os seus direitos enquanto pessoa,
enquanto membro de uma comunidade política. (NANGACOVIE, 2014, p.146).

Porquanto, tanto a pessoa com deficiência como a pessoa sem deficiência, em Angola,
não tem essa cultura jurídica, de indagar quer os decisores da coisa pública ou particulares,
quando determinado direito está a ser protelado ou violado. Se o fizer, grosso modo o faz, em
fóruns como os Mass Média, que nada mais podem fazer a não ser veicular a informação.

5.5 UM OLHAR CRÍTICO SOBRE A EFETIVAÇÃO DA EDUCAÇÃO DA PESSOA COM


DEFICIÊNCIA NO ESTADO ANGOLANO

Nosso estudo empírico procurou enfatizar os quatro pressupostos enunciados por


Katarina Tomaveski disponibilidade, acessibilidade, aceitabilidade e adaptabilidade, e ás
ações realizadas pelo INEE, no que tange à educação inclusiva como elemento catalisador a
inserção da pessoa com deficiência nos diferentes espaços sociais.
Partindo, da tônica que à educação no dizer freiriano “liberta”, e para problemática
que aqui vimos discutindo, a educação vai libertar a pessoa com deficiência do
assistencialismo, paternalismo, da coisificação, mendicância, permitindo que esta por si só se
desenvolva e contribua para o desenvolvimento pessoal, bem como da coletividade.
111

A inclusão da pessoa com deficiência, na rede regular de ensino segundo apurado, no


estudo, é formal, existentes até aqui em discursos, documentos oficiais e em documentos
internacionais de que Angola é parte assim, como a DECS, porquanto a prática se mostra
contrária ao acima referenciado.
Nosso estudo empírico foi realizado em Luanda (Capital), em duas escolas, a primeira
destinada a deficientes visuais ao passo que a segunda é de pessoas com deficiência auditiva e
múltiplas. A pesquisa de campo teve como objetivo, verificaros quatro pressupostos
elaborados por Katarina Tomaveski, para uma efetiva educação inclusiva, bem como as ações
acabo levadas pelo INEE no que tange ao processo inclusivo.
Prevíamos incialmente, entrevistar cinquenta (50) pessoas divididas da seguinte forma:
dez pessoas com deficiência visual; dez pessoas sem deficiência: cinco deficientes auditivos;
sete deficientes físicos; cinco com deficiências múltiplas; duas associações que lutam pela
defesa e promoção dos direitos da pessoa com deficiência; oito professores; e quatro técnicos
do INEE. Por razões que a seguir explicaremos, só nos foi possível entrevistar trinta e nove
(39) pessoas dentre pessoas físicas e jurídicas. Ao encontro do desconhecido, em busca de
possíveis respostas, a pesquisa empírica tem como finalidade a observação e verificação dos
factos, tal como na prática ocorrem.
Para o efeito elaboramos um questionário do tipo aberto, com intuito de permitir
obtenção de respostas para além do que foi perguntado. Em face de problemas relacionados
com disponibilidade, a pesquisa teve seu início no mês de outubro, culminando apenas no mês
de dezembro.
Nesta conformidade, as perguntas elaboradas seguiram-se nesta ordem para as pessoas
com deficiência:
1- Como se Chama?
2- Que idade tem?
3- Com quem vive?
4- Qual o tipo de deficiência?
5- Como adquiriu?
6- O que sabe sobre educação inclusiva?
7- Conhece escolas que adotaram essa modalidade de ensino?
8- O que acha que deve ser feito, para realização plena do direito a um ensino
inclusivo?
9- Como é o acesso a escola?
10- Você teve de se adaptar a ela ou ocorreu o inverso?
112

11- Já sofreu alguma discriminação por conta deficiência?


12- Quer acrescentar mais alguma coisa?

Para, as pessoas sem deficiência, elaboramos o seguinte questionário:


1- Como se chama?
2- Já estudou com um colega, que possua alguma deficiência?
3- Como foi essa convivência?
4- O que sabe sobre educação inclusiva?
5- Se você tivesse um parente com deficiência, que tipo de ensino você, haveria
de querer para ele. Especial ou inclusivo?
6- Mais alguma coisa a acrescentar?

Para as associações que, trabalham em prol da defesa da pessoa com deficiência,


cingimo-nos nas seguintes indagações?
1- Nome da instituição?
2- Tempo de existência?
3- Qual a participação da associação, no processo inclusivo em curso no país, para
pessoa com deficiencia?
4- Em que termos avaliam as políticas adoptadas pelo Instituto Nacional Para
educação Especial. Pende mais para inclusão ou a segregação?
5- Os critérios da acessibilidade, disponibilidade, adaptabilidade e aceitabilidade,
têm sido observados?
6- Algo mais a acrescentar?

Para os professores tivemos o cuidadode inquiri-los nos seguintes moldes:


1- Como se chama?
2- Tempo de trabalho?
3- O que pode dizer sobre a educação inclusiva?
4- Já trabalhou com algum aluno com deficiência? Se sim. Como foi?
5- Quais são os desafios que se impõema você enquanto professor?
6- Conhece ou entende a linguagem de sinais?
7- Ao nível da formação, há alguma orientação curricular para lidar com aluno
com deficiência?
8- Acha que a inclusão educacional é um facto?
113

O questionário elaborado para técnicos do INEE, pensamos ser desnecessário, aqui


enunciar, porquanto não nos foi permitido realizar o estudo empírico e sim documental.
Foram-nos concedidos, legislações e alguns informes, sobre o que convencionamos chamar de
ensino inclusivo dentro da escola especial, porquanto foi o que verificamos a luz do que o
INEE nos forneceu de documentação. Não será despiciendo lembrar que a inclusão da pessoa
com deficiênciavisual será diferente da deficiência motora, porquanto cada deficiência tem
sua especificidade.
Os alunos com deficiência visual envolvidos no estudo empírico são pertencentes à
X67que é uma escola do primeiro e segundo ciclo de escolaridade, destina-se a alunos com
deficiência visual. Nesta instituição, ao terminarem o segundo ciclo de escolaridade os
deficientes visuais são encaminhados, para o Instituto Médio Normal de Educação IMNE
(escola de formação de professores).
Ao passo que a segunda escola é a denominada escola especial de Luanda (Capital),
existente desde 1994, que compreende o primeiro ciclo e segundo ciclo de escolaridade, conta
com 36 salas, 170 professores e 1.600 alunos, funciona nos períodos de manhã e tarde, com
alunos com deficiência intelectual e auditiva.
Na referida instituição, diferentemente da primeira, o encaminhamento para
continuação dos estudos é da responsabilidade dos alunos e seus encarregados de educação.
Ao realizarmos nossa pesquisa nesta instituição, não pudemos entrevistar alunos porquanto,
estavam em períodos de prova. Deste modo, realizamos a entrevista com quatro professores
que mostraram-se disponíveis (uma professora deficiente auditiva) e o Vice-diretor da escola.
Nestes termos, das primeiras entrevistas quais foram pessoas com deficiência,
referiram, que, a educação inclusiva ou o direito há um ensino inclusivo, tem de “sair do
papel”, ou seja, é meramente formal. Porquanto, as questões em torno da acessibilidade,
disponibilidade, aceitabilidade e adaptabilidade não se verificam, na prática.
Estes formam unanimes em afirmar que o Estado, enquanto administrador da coisa
pública, precisa ter um olhar diferente no que tange a proteção, defesa, e promoção dos
direitos da pessoa com deficiência. Enfatizaram que as leis emanadas precisam ser eficazes,
com intuito de dar respostas a estas situações que inviabilizam o processo de inclusão.
Consideram que urge a necessidade da construção de escolas, mais que tais, sejam acessíveis
do ponto de vista da remoção de barreiras, quer físicas, quer humanas.

67
Escola X é o nome que achamos, para identificar. Repare que é uma única escola, para deficientes visuais na
cidade de Luanda, cuja mobilidade urbana para as pessoas com deficiência, é um transtorno imaginemos então
para pessoa com deficiência? Que precisa de muito mais, que simplesmente um transporte público disponível,
mas, que ele seja acessível e adaptável.
114

Indagados sobre as dificuldades mais prementes com as quais se deparam, relataram-


nos deficientes visuais, que, nem sempre os professores ditam pausadamente, e que com
frequência tem de se socorrer dos colegas após o final da aula com a finalidade de auxiliá-los
para que possam ter assim a matéria. Outra situação que muitos deles pontuaram está
relacionada com a falta de possibilidade financeira para adquirir uma máquina Braille ou
mesmo um computador, pois só têm acesso à máquina na escola, quando chegam a casa fica
difícil consolidar a matéria.
Ainda nos foi reportado por alunos com deficiência visual que depois de terminar o
primeiro ciclo de escolaridade onde estão inseridos, os mesmos são transferidos para escola
de formação de professores, algo que nos indagamos por quê. Só ali? Será que só podem ser
professores? Tem a escola o direito de interferir no seu direito de escolha? Se o aluno não
quiser ser professor? O fato é que por conta desta e outras situações muitos deles acabam por
matricular-se, para o curso de Direito, com a finalidade de conhecer seus direitos e saber os
meios de defesa e impugnação diante de injustiças.
O primeiro contato com a escola, segundo nossos entrevistados, convergiram de que,
os colegas estranharam a maneira de escrever, as máquinas em Braille, porém, fora isso o
ambiente é de convivência saudável, de respeito. Entretanto, convergem ainda, no sentido de
que a inclusão deve começar sim pela escola, mas, que não fique por “ai”, pois eles têm
também o direito ao lazer, e nem sempre “tem o familiar disponível para acompanhá-lo,”
chamam à atenção do Estado no sentido de criar uma sociedade inclusiva em todos os
sentidos (transportes públicos adaptados, barreiras arquitetônicas), de modo a tornar o
deficiente visual, auditivo e com deficiência motora mais autônomo.
Alertam à discriminação por parte dos agentes do Estado e da sociedade, apontam que
o caminho para solucionar esta situação, estaria na organização de fóruns, em Escolas, Igrejas
e fundamentalmente nos Mass Media, com vista a discutir à questão da inclusão educacional e
social como um direito. Urge a necessidade, de discutir estas questões, não só no dia das
pessoas com deficiência instituída pela ONU aos 03 de Dezembro de 1998, como tem sido
prática, mas, que fosse um programa do governo a cumprir com disposto nas leis por si
emanadas.
Para os deficientes auditivos, sua maior preocupação com a inclusão envolve a
linguagem de sinais, que os Professores não dominam. Assim, para estes só mesmo a escola
especial até ao II ciclo de escolaridade. Para os deficientes motores o processo já se torna
diferente, porquanto estes se deparam com as barreiras do ponto de vista arquitetônico.
115

A inclusão da pessoa com deficiência implicaria para o Estado, reformas do ponto de


vista legal, estrutural das escolas e da sociedade em si. Porquanto, a locomoção da pessoa
com deficiência não se confina somente ao espaço escolar, existem os demais espaços sociais
que pede a participação desta como membro ativo e parte desta sociedade.
As pessoas sem deficiência (alunos da escola Óscar Ribas) abordadas no curso da
pesquisa empírica, enfatizaram que: é imperioso que o Estado dê mais atenção à pessoa com
deficiência; apontam necessidades como a substituição de máquinas em Braille para o
computador, por ser mais célere; a construção de mais escolas. Indagados sobre esta
experiência de conviver com a diversidade. Cinco deles responderam que eles são pessoas
como qualquer outra, com a mesma capacidade de raciocínio, sendo que o que os diferencia é
o facto de não “verem”. Porém, outros cinco apontam que os colegas com deficiência
denotam mais inteligência na “teoria” (isto é ao expressar-se) do que na “prática” (na escrita).
Mas, são unanimes quando enunciam que a inclusão é o melhor para pessoa com deficiência
do que a integração ou o ensino segregado.
Referiram ainda, que o facto destes serem deficientes visuais, em nada afeta o seu
aprendizado, e de modo algum são favorecidos pelos professores por conta da deficiência. Por
outro lado, são solidários com os colegas, e reclamam da impaciência de alguns professores.
Entretanto, apontam outras necessidades, como: transportes públicos adaptados e passeios
adequados. Para que efetivamente a pessoa com deficiência possa se sentir incluída e parte da
sociedade angolana.
Procuramos também envolver na pesquisa empírica aqueles que assumiram, por
solidarizarem-se com a causa, dar voz às demais pessoas com deficiência. Falamos das
associações, que lutam pela defesa, promoção e proteção dos direitos das pessoas com
deficiência. Assim, das quatro com as quais mantivemos contatos solicitando entrevista,
apenas duas responderam o nosso pedido.
A primeira por nós contatada, enuncia que a inclusão da pessoa com deficiência na
rede regular de ensino é meramente utópica ou formal, porquanto o que a prática denota é
ainda, um ensino segregado ou integrado na escola especial. A associação fala de uma
“política de desenvolvimento que pende mais para efetiva inclusão da pessoa com
deficiência”, para tanto enunciamo OGE como meio suficiente para, “refletir a promoção
socioeconômica dos cidadãos com deficiência”. A associação aponta ainda como preocupante
a falta de mobilidade que impede muitos de locomoverem para ir à escola68.

68
http://www.acessibilidadetotal.com.br/angola-pessoas-com-deficiencia-sem-meios-de-compensacao-para-
participar-nas-eleicoes/. Acesso em Janeiro de 2014.
116

Ao passo que a segunda tem uma parceria com a escola Especial, no ensino do Braille.
Estes responderam que “as barreiras do ponto de vista arquitetônico e humano” são, em parte,
o empecilho para concretização plena e efetiva do direito à educação. Advogam que o que o
Estado faz trata-se de um ensino integrado, poréma inclusão como tal esta longe. Isso porque
o acesso sob os mais diversos domínios já aqui evocados é o calcanhar de Aquiles para a
pessoa com deficiência.
Não há crianças com deficiência auditiva e visual nas escolas regulares, apesar de
algumas dificuldades do ponto de vista das barreiras físicas. Encontra-se um ou outro aluno
com deficiência motora. Mas, não podemos afirmar que por conta disto haja, no país um real
ensino inclusivo. Professores não tem formação para lidar com crianças deficientes, mormente
as deficiências múltiplas. Logo, o que sobra para estas é o ensino especial, segregado.
Nosso caminho pelo universo vasto que é a pesquisa empírica, não poderia prosseguir,
sem ouvir a voz daqueles, que são os que mostraram a pessoa com deficiência, a “liberdade”,
por intermédio do conhecimento. Assim, entrevistamos nove professores dentre eles, uma
deficiente auditiva que leciona a mais de vinte anos.
Estes, responderam as nossas indagações, afirmando que, “a educação inclusiva só
será um facto se para o efeito a mudança ocorrer a partir dos curriculas”, de formação de
professores. Menciona que urge a necessidade de ações de educação cívica e ações
afirmativas, porquanto o empecilho não resulta só por parte de programas governamentais,
masda sociedade, da família em que pais, não acreditam que seu filho deficiente visual possa
concluir os estudose desencorajam este ou aquele outro se quer tentar, relegando para o filho
um futuro de mendicância.
Dos três professores de alunos com deficiência auditiva, apenas uma conhece e
entende a língua de sinais. Porém, foram peremptórios em afirmar que ainda assim, não
encontram dificuldade para trabalhar com os alunos, “aos poucos desenvolvemos um método
que facilitatanto o trabalho do professor quanto o do aluno”.
Sobre a questão da acessibilidadee da disponibilidadeé mais uma vez referenciado que
ás escolas, em sua maioria, não dispõem de rampas de acesso para facilitar a locomoção de
pessoas com deficiência motora e visual. Estes reclamam da inexistência das rampas em
escolas, e outros espaços sociais, como “Bancos, transportes públicos, Hospitais, Igrejas” não
são construídos em atenção a esta minoria. Já aqui fizemos menção da nova centralidade do
Kilamba, que é o exemplo mais acabado, do ora, referido. Estas constatações excluem,
marginalizam e discriminam a pessoa com deficiência.
117

Os relatos aqui apresentados registram que tanto a sociedade quanto o Estado (através
de suas instituições), não se despiram da visão assistencialista e paternalista, descurando das
pessoas com deficiência e ignorando que elas são tão capazes de realizar esta ou aquela tarefa
quanto qualquer pessoa não deficiente.
O facto é que o ensino até então adoptado é segregado, integrado, discriminatório,
contrasta com o princípio da universalidade e da igualdade, assim como exclui e nega o
direito a ser diferente, interfere no direito de escolha das pessoas com deficiência.
Infere-se da CSDD que o desenvolvimento é necessariamente inclusivo. Asociedade
do presente será a do futuro, razão pela qual faz-se imprescindível um olhar mais crítico sobre
a questão da inclusão. Para tal devemos nos questionar que sociedade pretendemos ter no
futuro? Se for inclusiva, precisamos firmar os alicerces dessa sociedade agora, do contrário
teremos uma sociedade cada vez mais excludente, incapaz de conviver com a diversidade.
Abordar a inclusão da pessoa com deficiência implica uma mudança das relações
sociais, é imperioso quea pessoa com deficiência seja considerada cidadã, pois, são tão partes
da sociedade quanto os nãos deficientes, com objetivo de reduzir assimetrias. A inclusão da
pessoa com deficiência por intermédio da materialização do direito à educação, não é utópico
se efetivamente os decisores da “res publica”, compreenderem a partir do OGE, que
segurança é fundamental, mas, que à educação é o meio por excelência capaz de levar o país a
atingir os níveis desejados de desenvolvimento.
A pessoa com deficiência em Angola, não esta desprovida de leis, estas precisam é ser
adequadas à realidade atual. A CSDPCD, reafirmou a abordagem de um direito à educação na
escola inclusiva, onde todos possam aprender com as diferenças. Porém, nossa Carta Magna e
a lei infraconstitucional trazem aindapreceitos de um ensino segregado e excludente. O ensino
segregado contrasta com o ideal da Declaração de Salamanca, bem como a Convenção da
ONU das pessoas com deficiência (SEGALLA; MARTA, 2013, p. 124).
O Estado com todo seu aparato administrativo e legal, precisa tomar medidas severas,
mesmo quando os infratores sejam seus agentes, para acudir situações em que pessoas com
deficiência sejam discriminadas, contrastado com o que refere a CRA, no artigo 23.

Ninguém pode ser prejudicado, privilegiado, privado de qualquer direito ou


isento de qualquer dever em razão da sua ascendência, sexo, raça, etnia, cor,
deficiência, língua, local de nascimento, religião, convicções políticas,
ideológicas ou filosóficas, grau de instrução, condição económica ou social ou
profissão. (CRA, 2010, p.11).
118

Como poderia então o administrador da coisa pública dar cobro a esta questão? Senão
mediante uma política pública orçamentária direcionada. Essa observação, aliás, abre outra
discussão, que já acima enunciamos, com o embasamento teórico do jus filósofo Norberto
Bobbio, em que a questão de fundo dos direitos de nossa “era”, resumem-se na sua
“realização” e consequente “proteção” (BOBBIO, 2004, p. 23).
Paulo Freire elucidou-nos, para cultura de uma educação para liberdade. A convenção
da ONU enuncia um direito a educação inclusiva. Deste modo, o que se pretende é um ensino
que seja de fato e de “jure”, inclusivo, dispondo a escola dos meios necessários para que estes
possam efetivamente realizar suas tarefas de estudantes. Com o intuito de por cobro a este
capitalismo, que evoca uma educação excludente, garantindo este direito que é universal (de
todos), não só para minoria capaz de pagar mas, igualmente para minoria discriminada.
(CARVALHO, 2005, p. 113). Para tal é imperioso que haja acima de tudo vontade política,
um quadro jurídico eficaz e recursos disponíveis.
119

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O que temos estado a evocar durante o trabalho resulta de que o Estado deve sair deste
“status quo”, de produzir ou adotar medidas legislativas que entram em desuso mesmo antes
de entrar no ordenamento jurídico, e pautar-se de um quadro mais eficaz de proteção,
promoção e defesa dos direito humanos da pessoa com deficiência, pois a tão aclamada
inclusão nos diferentes espaços sociais, mormente na escola, saúde, trabalho, só ocorrerá
efetivamente se o direito à educação for a partida garantida, pois este fornece ferramentas,
essenciais à afirmação social do ente. Não será despiciendo reportar que medidas de ações
afirmativas e discriminação positiva são tidas como essenciais para colmatar esta
problemática.
Vimos que Angola adotou um ensino “inclusivo especial”, ao que apuramos ao longo
da pesquisa de campo resulta de que na escola X, que é especificamente para alunos com
deficiência visual, encontramos alunos sem deficiência alguma, o que é bom quer para pessoa
com deficiência como o aluno não deficiente, porquanto o que evocamos é a convivência na
diversidade.
A sociedade tem sua cota parte, ressaltamos ao longo do trabalho que as barreiras são
impostas pelos progenitores, que a partida vão impingindo a criança com deficiência de que
ela é incapaz de realizar esta ou aquela tarefa, depois vem o professor que em alguns casos
mais prejudica do que efetivamente ajuda, a sociedade também tem sido o impedimento para
que muitos não consigam realizar este direito. O Estado tem sua cota parte na discriminação,
mediante a feitura de leis que não conhecem uma força jurídica eficaz de dar cobro a situação
a ela adversa. Aqui vale ressaltar o trabalhodas associações que, por sua vez, têm
incentivando aqueles que perderam a esperança de em busca de um amanhã melhor.
Por outro lado, os princípios do Estado angolano, se baseiam na “justiça, na dignidade
da pessoa humana, solidariedade, igualdade e progresso”. Pois o direito à educação é um
direito fundamental, cujo acesso deverá pautar-se nestes tão evocados princípios da dignidade
da pessoa humana, da igualdade e universalidade de direitos.
A inclusão social da pessoa com deficiência através do direito humano à educação
impõe a reflexão de uma sociedadeonde da qual todos possam fazer parte, de um meio social
efetivamente inclusivo, onde todos tenham o direito a ser diferente, mas que isto não sirva
para ser excluído, muito pelo contrário,que sirva para inclusão nos diferentes espaços sociais,
120

sob o fundamento que a deficiência em nada o impede de frequentar os mesmos espaços


desde que não haja barreiras impostas pela sociedade e seus agentes.
Nossa primeira hipótese dá conta de que, de fato, as pessoas com deficiência não
estarem em classes inclusivas aumenta o estigma e convida esta para estar distante dos
diferentes espaços sociais, na medida em que, em alguns casos como da deficiência auditiva
em que o professor do ensino regular não domina a língua gestual angolana, mais contribui
para exclusão do que efetivamente a inclusão. O desconhecimento das leis por falta de
informação e formação eausência de fiscalização e materialização das leis que visamà
proteção, promoção e defesa dos direitos das pessoas com deficiência, contribui para violação
destes. Quanto a esta diríamos que não só, porquanto alguns diplomas conhecem sua
ineficácia jurídica69 antes mesmo de entrar na ordem jurídica, a falta de desconhecimentos
contribui sim para o estigma, na medida em que reportamos do estudo de campo, que alunos
de escolas especiais do I ciclo secundário são impelidos à seguir com a sua formação, mas só
para ser Professor se este pretender outra coisa então, está por sua conta, o individuo é
forçado a fazer o que não quer (não o que é capaz), interferindo no seu direito de escolha. A
última e não menos importante de nossa hipótese tem a ver com a necessidade de o Estado
adotar políticas que visem um ensino com práticas para educação inclusiva. O entendimento
que retiramos da norma constitucional relega para um ensino inclusivo na escola especial,
mas o que auguramos é o direito a um ensino inclusivo em classe regular, como fator
preponderante para inclusão social da pessoa com deficiência.
Efetivar direitos é o problema dos Estados modernos, é imperioso que haja um
compromisso sério com a causa, em prol do bem comum, enunciado no art. 23 da CRA,
principio da igualdade. A garantia efetiva dos direito à educação numa perspectiva
universalista tem a ver com mudanças políticas no domínio do entendimento da alocação de
recursos para o setor, mas também por mudanças sociais, mas do poder político resulta tudo,
se este funcionar em pleno e realizar o ideal de nação, todo o resto é consequência. A
efetivação do direito à educação é responsabilidade em primeira instância do Estado, pois é
este que tem por obrigação realizar ações em prol da prossecução do interesse público. A
pessoa com deficiência não carece do paternalismo, da coisificação e do assistencialismo, ela
pretende que lhe sejam garantidos direitos.
Aqui referimo-nos ao fato de que a solução para a pessoa com deficiência é o ensino
inclusivo e não integrativo.

69
Foi o que ocorreu com a lei da pessoa com deficiência, aprovada em 2012, em que uma norma proíbe as
pessoas com deficiência motora de conduzir, quando o código de estrada diz o contrário.
121

Auguramos por dias melhores em que os decisores da “res publica” hão, de fato e de
iure, cumprir com o ideal de nação onde se pode englobar todos sem exceção. O ensino
universal, de um espírito democrático, uma educação gratuita, libertadora, uma educação que
prepare homens e mulheres para vida em sociedade, contribuindo para o desenvolvimento da
mesma sociedade para a qual foram criados, uma educação que não exclui. O
desenvolvimento pende para inclusão e o país que pretendemos desenvolvido precisa e deve
apostar no maior de todos os recursos, o recurso humano, como fundamental para que
atinjamos a meta do tão evocado e sonhado desenvolvimento.E o desenvolvimento é
imperativamente inclusivo.
Contudo, a inclusão social da pessoa com deficiência através do direito humano à
educação é um tema quenão se esgota. Compreendemos que nem chegamos a frisar metade
das preocupações que assolam esta minoria, pois são infindas resultam dos mais variados
segmentos da sociedade. Assim, abordar vale registrar que a pessoa com deficiência não perde
sua dignidade por conta da deficiência, ela é tão capaz de realizar as tarefas que os não
deficientes realizamse, para tal, deixarem de existir barreiras sob todos os pontos de vista.
A sociedade do presente será a do futuro, razão pela qual faz-se imprescindível um
olhar mais crítico sobre a questão da inclusão. Para tal devemos nos questionar que sociedade
pretendemos ter no futuro? Se for inclusiva, precisamos firmar os alicerces dessa sociedade
agora, do contrário teremos uma sociedade cada vez mais excludente, incapaz de conviver
com a diversidade.
Abordar a inclusão da pessoa com deficiência implica uma mudança das relações
sociais, é imperioso que a pessoa com deficiência seja considerada cidadã, pois, são tão partes
da sociedade quanto os nãos deficientes, com objetivo de reduzir assimetrias. A inclusão da
pessoa com deficiência por intermédio da materialização do direito à educação, não é utópico
se efetivamente os decisores da “res publica”, compreenderem a partir do OGE, que
segurança é fundamental, mas, que à educação é o meio por excelência capaz de levar o país a
atingir os níveis desejados de desenvolvimento.
Portanto, por um direito a convivência na diversidade, pelo direito a igualdade e sob
auspícios da justiça, em observância aos preceitos emanados na CRA e demais tratados,
declarações e convenções que Angola seja parte, enfatizamos que deve o Estado criar leis que
sejam de fato exequíveis, e cuidar da fiscalização das mesmas, com intuito de proteger e
promover os direitos reservados a esta minoria, e banir o discurso da insuficiência de recursos
para real efetivação deste direito.
122

A educação é dum direito humano fundamental, como bem ilustram diversos dos
tratados de direitos humanos, assim como assevera a nossa lei Magna. O que auguramos é
uma ação mais efetiva do Estado, dos seus colaboradores mais diretos, e das políticas
inerentes a esta minoria, para com isso devolver a dignidade que tem sido roubada a esta por
intermédio da discriminação e estigma. A inclusão é possível mediante uma política séria, a
segregação discrimina, exclui, denigre, torna-os incapaz, ou seja, a segregação é uma violação
do direito da pessoa com deficiência. Inclusão social por intermédio da educação é o que se
depreende da ideia de desenvolvimento em que queremos que todos façam parte. Afinal é um
direito inclusivo.
123

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ONU. Declaração Mundial sobre Educação para Todos. Plano de ação para satisfazer as
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em:<http://unesdoc.unesco.org/images/0008/000862/086291por.pdf>
O Marco de Ação de Dakar. Educação Para Todos: Atingindo nossos Compromissos
Coletivos. Dakar/Senegal, 2000. Disponível em:<
http://www.oei.es/quipu/marco_dakar_portugues.pdf>. Acessado em03/09/2012.
Resolução das Nações Unidas sobre as Normas Uniformes Sobre a igualdade de
Oportunidades para a pessoa Com Deficiência.
131

ANEXOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB


CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS – CCJ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS JURÍDICAS – PPGCJ
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: DIREITOS HUMANOS

Pesquisa Empírica

Tema: A inclusão social da pessoa com deficiência através do direito humano a educação.
Orientadora: Maria Áurea Baroni Cecato

Questionários

Referente ao aluno com deficiência (visual, auditiva, sensorial e motora).


1- Como se Chama?

2- Que idade tem?

3- Com quem vive?

4- Qual o tipo de deficiência?

5- Como adquiriu?

6- O que sabe sobre educação inclusiva?

7- Conhece escolas que adotaram essa modalidade de ensino?

8- O que acha que deve ser feito, para realização plena do direito a um ensino
inclusivo?

9- Como é o acesso a escola?

10- Você teve de se adaptar a ela ou ocorreu o inverso?

11- Já sofreu alguma discriminação por conta deficiência?

12- Quer acrescentar mais alguma coisa?


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CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS – CCJ


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS JURÍDICAS – PPGCJ
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: DIREITOS HUMANOS

Pesquisa Empírica

Tema: A inclusão social da pessoa com deficiência através do direito humano a educação.
Orientadora: Maria Áurea Baroni Cecato

Questionários

Para, as pessoas sem deficiência, elaboramos o seguinte questionário:


1- Como se chama?

2- Já estudou com um colega, que possua alguma deficiência?

3- Como foi essa convivência?

4- O que sabe sobre educação inclusiva?

5- Se você tivesse um parente com deficiência, que tipo de ensino você, haveria
de querer para ele. Especial ou inclusivo?

6- Mais alguma coisa a acrescentar?


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CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS – CCJ


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS JURÍDICAS – PPGCJ
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: DIREITOS HUMANOS

Pesquisa Empírica

Tema: A inclusão social da pessoa com deficiência através do direito humano a educação.
Orientadora: Maria Áurea Baroni Cecato

Questionários

Para as associações que, trabalham em prol da defesa da pessoa com deficiência.


1- Nome da instituição?

2- Tempo de existência?

3- Qual a participação da associação, no processo inclusivo em curso no país, para


pessoa com deficiencia?

4- Em que termos avaliam as políticas adoptadas pelo Instituto Nacional Para


educação Especial. Pende mais para inclusão ou a segregação?

5- Os critérios da acessibilidade, disponibilidade, adaptabilidade e aceitabilidade,


têm sido observados?

6- Algo mais a acrescentar?


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CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS – CCJ


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS JURÍDICAS – PPGCJ
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: DIREITOS HUMANOS

Pesquisa Empírica

Tema: A inclusão social da pessoa com deficiência através do direito humano a educação.
Orientadora: Maria Áurea Baroni Cecato

Questionários

Para os professores:
1- Como se chama?

2- Tempo de trabalho?

3- O que pode dizer sobre a educação inclusiva?

4- Já trabalhou com algum aluno com deficiência? Se sim. Como foi?

5- Quais são os desafios que se impõem a você enquanto professor?

6- Conhece ou entende a linguagem de sinais?

7- Ao nível da formação, há alguma orientação curricular para lidar com aluno


com deficiência?

8- Acha que a inclusão educacional é um facto?

Nos anexos, pretendemos trazer, testemunhos de pessoas com deficiência, que não
obstante a deficiência estudaram em ambiente inclusivo e foram excelentes naquilo que
fizeram, com objetivo de enfatizarmos que o processo inclusivo é possível, se houver
compromisso, mediante a adopção de uma política eficaz e inclusiva. Recortes de jornais
gentilmente cedidos pela LARDEF, e a lei da pessoa com deficiência angolana.
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Anexos I

Carla Cristina António Luís,Diretora Executiva Nacional,LARDEF - Liga de Apoio à


Integração dos Deficientes, licenciada em Matemática, pela Universidade Agostinho Neto.

Venceslau Muginga, deficiente visual licenciado em relações internacionais pela ULA


(Universidade Lusíada de Angola). Presidente da AANCA (Associação Nacional de Cegos e
Amblíopes).Aprendeu a lidar com o estigma, vezes sem conta, ouviu palavras
desencorajadoras quer de professores, como de alguns colegas, sendo veementes em afirmar
que jamais seria possível este terminar o curso, com a mesma qualidade que seus colegas não
deficientes.

Ana Sebastião de 36 anos, (deficiente visual) é professora da escola (Óscar Ribas),


do primeiro ciclo.

Silvia Almeida, (deficiente), auditiva e professora da escola especial de deficientes


auditivos e mentais.

“Helen Keller (EUA- de 1880 a 1968)Cega e surda foi a primeira pessoa nessas
condições a ganhar um diploma, graças especialmente ao trabalho de sua professora Anne
Sullivan em torná-la apta para a sociedade, apesar de suas deficiências. Tornou-se escritora,
filosofa e ativista social”.

“Médica, professora e ativista. A incansável Izabel Maior, ex Secretária Nacional de


Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, tem um currículo extenso. A carioca que
conheceu o bonde de São Januário, subiu em árvore e andou de bicicleta em pleno Rio de
Janeiro dos anos 1950, se recorda com carinho da época de aluna no Instituto de Educação
(hoje, Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro), à Rua Mariz e Barros, no bairro da
Tijuca. Foi lá que se formou professora primária. Nesse período, era atleta do Clube de
Regatas Vasco da Gama. "Sou vascaína! Fui nadadora infanto-juvenil. Não era um talento
muito grande, mas dava para subir ao pódio. Esta médica carioca, inconformada com o
descaso e preconceito com que são tratados os deficientes físicos, tornou-se grande ativista
pela busca de acessibilidade no Brasil e no exterior. Colaborou com a Convenção da ONU
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e batalhou para incluí-los na Constituição
brasileira. Coordenou a Subsecretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com
Deficiência, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Izabel também é
autora do livro Reabilitação Sexual de Paraplégicos e Tetraplégicos.”
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“Ela é uma indiana, nascida na cidade de Chenai. Ela é formada em economia em uma
faculdade de Mumbai. Em uma de suas viagens de Mumbai para casa, Sudha sofreu um
acidente e precisou amputar a perna. Ela recebeu uma prótese e, lutando contra sua
deficiência, acabou se tornando uma das mais aclamadas dançarinas indianas, recebendo
convites para se apresentar em vários lugares do mundo.”

“Marla é cega, mas isso não a impediu de ser uma incrível corredora. Quando tinha
nove anos ela desenvolveu uma doença chamada “Doença de Stargardt”, que causa a perda
progressiva da visão. Mas Marla não desistiu e foi campeã nacional dos 5000 metros por três
vezes. Em 92, ela ganhou quatro medalhas nas Paraolimpíadas. Além de ter quebrado vários
recordes de velocidade, em 2001 ela escreveu sua autobiografia “Não há linha de chegada:
minha vida como eu a vejo.”

“Van Gogh era um pintor holandês e é conhecido como um dos maiores pintores do
mundo. Além de seus quadros é famoso também por ter cortado fora uma das orelhas. Em um
período de dez anos, ele conseguiu produzir mais de 900 pinturas e 1100 desenhos. Hoje,
essas pinturas valem milhões – a famosa “Retrato de Doutor Gachet” foi vendida por 82,5
milhões de dólares. No entanto ele sofria de depressão. Em 1889, ele foi internado em um
hospital psiquiátrico e em 1890 ele se suicidou, com um tiro no peito. Suas últimas palavras
foram “a tristeza irá durar para sempre”.

“Que Beethoven era um gênio musical todos sabem, mas que sua genialidade foi
extremamente precoce é um fato conhecido por poucos. Sua primeira apresentação como
pianista para uma grande audiência foi quando ele tinha apenas 8 anos. Ele estudou em
Vienna, tendo como mestre nada mais nada menos que Mozart. Antes de completar 20 anos
ele já era conhecido como um pianista e compositor brilhante. Mas, a partir de 1796, ele
começou a perder a audição. Mesmo com esse problema ele mergulhou no trabalho e criou
inúmeras sinfonias e concertos. Reza a lenda que ele, para conseguir perceber o som do que
estava tocando, cortou uma parte dos pés de seu piano e colocava o ouvido no chão, para
perceber as vibrações do instrumento.”

“Uma renomada pintora mexicana que, em sua maioria, pintou retratos. Todas as suas
obras são coloridas e de uma intensidade impressionante. Ela contraiu Pólio quando tinha seis
anos, o que deixou sua perna esquerda bem mais fina que a direita. Frida disfarçava esse
problema usando longas e coloridas saias mexicanas. Alguns especialistas acham que ela
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também sofria de espinha bífida, o que causa uma dor imensa e pode ter alterado a maneira
com que ela andava. A dor era tanta que ela chegava a passar meses no hospital.”

“Christy Brown era um escritor, poeta e pintor irlandês que teve paralisia cerebral. Por
causa da doença ele passou anos sem falar ou se mexer direito e os médicos acreditavam que
sua capacidade intelectual estivesse danificada também. Sua mãe, no entanto, persistiu, e
continuou a falar com ele e a lhe ensinar. Quando tinha cinco anos apenas seu pé esquerdo
“obedecia” a seus comandos. Foi usando o pé que ele passou a se comunicar. Posteriormente
ele teve uma recuperação e tornou-se famoso por sua autobiografia chamada “meu pé
esquerdo”.

“Jean Dominique Bauby, Jean era um famoso jornalista francês, editor da famosa
revista Elle. Em 1995 ele sofreu um ataque cardíaco e entrou em coma por 20 dias. Depois
que saiu do coma, ele desenvolveu a “síndrome do confinamento” – a pessoa tem consciência
de tudo que acontece ao seu redor e suas faculdades mentais estão em perfeitas condições,
mas é impossível mover um músculo do corpo sequer. Apesar de sua condição ele conseguiu
escrever um livro. Quer saber como? Jean conseguia mover apenas uma pálpebra. Uma
pessoa o ajudava recitando o alfabeto. Quando ela chegava a letra que Jean desejava ele
piscava. E assim ele ia formando palavras. O livro foi publicado em 97 – Bauby morreu dois
dias após o lançamento.”

“Stephen Hawking é um famoso físico teórico britânico com mais de 40 anos de


carreira. Seus livros o tornaram um membro da Sociedade Real de Artes, um membro da
Pontifícia Academia de Ciências e, no ano passado, ganhou a Medalha Presidencial da
Liberdade, uma das maiores honrarias nos EUA. Hawking tem seu corpo comprometido por
uma doença neurológica chamada Esclerose Amiotrófica Lateral. Os sintomas apareceram
quando ele era um estudante universitário em Cambridge. Ele simplesmente perdeu o
equilíbrio e caiu. Os médicos disseram que ele não sobreviveria mais de dois ou três anos.
Seus movimentos foram comprometidos gradualmente, mas sua capacidade intelectual está
intacta e ele faz questão que todos saibam disso com suas grandes realizações.”70

“Nicholas James Vujicic (Melbourne, 4 de dezembro de 1982) é um evangelista e


palestrante motivacional e diretor da Life Without Limbs. Nascido sem pernas e braços

70
http://hypescience.com/26744-10-pessoas-com-deficiencia-que-possuem-habilidades-incriveis/, acesso em 08,
de março de 2014.
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devido a rara síndrome Tetra-amelia, Vujicic viveu uma vida de dificuldades e privações ao
longo de sua infância. No entanto, ele conseguiu superar essas dificuldades e, aos dezessete
anos, iniciou sua própria organização sem fins lucrativos chamada Life Without Limbs (em
português: Vida sem Membros). Depois da escola, Vujicic frequentou a faculdade e se formou
com uma bidiplomação. Deste ponto em diante, ele começou suas viagens como um
palestrante motivacional e sua vida atraiu mais e mais a cobertura da mídia de massa.
Atualmente, ele dá palestras regularmente sobre vários assuntos tais como a deficiência, a
esperança e o sentido da vida.”

Segue-se fotos que retratam o trabalho e ação voltada a pessoa com deficiência pela
LARDEF.

Segue-se fotos que retratam o trabalho e ação voltada a pessoa com deficiência pela
LARDEF.

Equipe da LARDEF com crianças com e sem deficiência


participam no Jardim do Livro Infantil/Luanda

Entrega de kits profissionais na comunidade de


Sangondo/Moxico
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LARDEF promove Debate Radiofónico/Huambo

Encontro com Deputados de várias Bancadas


Parlamentares – Luanda

LARDEF discute problemas da criança com deficiência


com os pais/Zorrô – Moxico
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Seminário sobre “Direitos Humanos” para Mulheres


com Deficiência – Benguela
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