ErikaLuziaLopesDaSilvaFerreira DISSERT

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 138

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS -


DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

ÉRIKA LUZIA LOPES DA SILVA FERREIRA

A POLÍTICA DE INCLUSÃO DE ESTUDANTES CEGOS NA


EDUCAÇÃO SUPERIOR NA UFRN: DO ACESSO À
PERMANÊNCIA

NATAL/RN
2016
ÉRIKA LUZIA LOPES DA SILVA FERREIRA

A POLÍTICA DE INCLUSÃO DE ESTUDANTES CEGOS NA


EDUCAÇÃO SUPERIOR NA UFRN: DO ACESSO À
PERMANÊNCIA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço


Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como
requisito parcial para obtenção do título de mestre em Serviço Social.

Área de Concentração: Estado, Sociedade, Políticas Sociais e Direitos.

Orientadora: Prof.ª Drª. Antoinette de Brito Madureira

NATAL/RN
2016
Catalogação da Publicação na Fonte.
UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA

Ferreira, Érika Luzia Lopes da Silva.


A política de inclusão de estudantes cegos na educação superior na UFRN: do
acesso à permanência / Érika Luzia Lopes da Silva Ferreira. - Natal, 2016.
138f: il.

Orientadora: Profa. Dra. Antoinette de Brito Madureira.

Dissertação (Mestrado em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio


Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Programa de Pós-
graduação em Serviço Social.

1. Educação Superior – Dissertação. 2. Política de Inclusão - Dissertação. 3.


Deficiência visual - Dissertação. 4. Preconceito - Dissertação. I. Madureira,
Antoinette de Brito. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título.

RN/BS/CCSA CDU 378-056.262


(JOHN BRAMBLITT, s.d)
Dedico esta dissertação...

A Deus, Autor e Senhor da minha vida, por


Sua proteção durante todo este mestrado.

A Gleidson, meu esposo amado, pelo apoio


incondicional, companheiro, amigo,
incentivador e participante de mais esta etapa
de minha vida.

Aos meus genitores Edgar e Dalva, pela minha


educação e pelos valores ensinados ao longo
da vida.
AGRADECIMENTOS

A Deus, maior arquiteto do universo, que na sua infinita bondade e sabedoria, nos
oportuniza com o maior e melhor presente do infinito, o dom da vida. Ele é a força motriz,
inspiração e autor da minha vida, meu Senhor e Criador! Indubitavelmente, diante das
intempéries, adversidades pelas quais enfrentei e conquistas realizadas, até aqui, somente Ele
pode me conceder e garantir o destemor para prosseguir lutando cotidianamente.
A meu esposo, Gleidson, pelo amor, incentivo, paciência, apoio e compreensão nos
momentos em que necessitei estar ausente ou estudando.
Aos meus pais Edgar e Dalva, por serem fiéis e incansáveis incentivadores de meu
crescimento profissional. Além disso, com amor sempre me apoiaram com seus conselhos,
encorajamento, paciência e cobertura espiritual nos momentos difíceis. Obrigada minha mãe
querida, que com seu exemplo de educação, caráter, durante esta etapa, jamais titulação
alguma pode prover a um homem.
Aos meus irmãos, Patrícia, Tárcio e Majara meus sobrinhos, Brunninho, por
todos os auxílios com presteza atendidos durante a construção deste trabalho, a
presença do profeta Samuelzinho, Julinha, Larinha, Pedro e Felipe. Minha avó Alice,
pela infinitas orações e preocupações, a minha sogra Delmira e sogro Valério Santiago, as
minhas cunhadas Adriana, Diana, Joelma que compreendem a minha ausência de suas vidas
neste momento, porque acompanham e torcem por mais esta conquista em minha vida.
A minha orientadora, Antoinette querida pelas inestimáveis contribuições,
encorajamento, apoio e orientação prática durante a elaboração deste trabalho. A você o meu
muito obrigada, querida. Antoinette, este momento é nosso!
A minha amiga especial Elisa Cristiane que me incentivou e instigou a permanecer
neste árduo processo, companheira fiel e bem presente durante mais uma etapa profissional.
Muito obrigada pelo apoio incondicional, desde quando o projeto embrionário, sou
imensamente grata a você, amiga!
As minhas amigas especiais Gelsa Campelo e Raquel Maíra que estiveram comigo
durante os momentos de dúvidas, angustias e alegrias, minhas fieis companheiras!
A minha amiga especial Valéria Regina, por tudo que fez por mim. Uma pessoa ímpar
que tenho como exemplo de humanidade e amizade. Obrigada pelo incentivo para o meu
crescimento acadêmico, assim como pelo carinho, pela compreensão e pela amizade.
Aos meus amigos e amigas do mestrado, assistentes sociais, que muito me apoiaram
para a realização deste trabalho em especial: Karine, Ízala Sarah, Keilla, Josineide, Sara
Costa, Cynthya, Thaís, Ylaini, Viviane, Any, Brunilla, Íris, Adriana, Teresa, Rosineide,
Tábita, Amanda, Socorro, Eliana, Lisiê, Elaine, Teresa, Tábita, Socorro, Eliana,
Amanda, Eduardo, Vanessa, William, Keila Israely, a todas e todos vocês que me
estimularam e contribuíram em permanecer e concluir mais este percurso.
Ao professor Ricardo Lins - Coordenador da CAENE, pela implantação do Núcleo
de Acessibilidade e implementação da política inclusiva nesta Universidade. Aos amigos do
trabalho que muito me apoiaram durante esta fase de ascenção profissional: Simone,
Danielle, Fabíola, Hugo, Lisiê, Elaine, Sayonara, Margarth, Erica, Thiago, Carina,
Alessandra, Aparecida, Janecleide, Francinete.
Às professoras Rita de Lourdes e Carla Montefusco, respectivamente
Coordenadora e Vice Coordenadora do Curso de Pós Graduação em Serviço Social, pelo
incentivo, na conclusão deste mestrado.
Às professoras Lenina Lopes Soares Silva, Ilka de Lima Souza e Silvana Mara de
Morais dos Santos que prontamente e gentilmente aceitaram o convite para compor a minha
banca e assim, enriquecerem ainda mais este trabalho. A vocês desde já o meu muitíssimo
obrigada.
A Maria Lúcia, nossa querida Lucinha, Secretária do PPGSS/UFRN, por toda
gentileza no apoio e nas orientações em todas as situações.
Aos discentes com cegueira que com tanto interesse e alegria aceitaram participar
desta pesquisa nos falando pacientemente sobre suas trajetórias acadêmicas. Sem as preciosas
contribuições de vocês, este trabalho seria menos vívido e menos real.
Aos irmãos e irmãs da Igreja da qual faço parte e com os quais tenho a honra de ter
compartilhado de alguns momentos complexos. Meu muito obrigada pelas orações e
compreensão durante as minhas ausências.
Às pessoas merecedoras de um agradecimento. Para todos vocês que me
compreenderam e me ajudaram nesta trajetória, muito obrigada!
Por conseguinte, meu muito obrigada ao único Deus Supremo, por todos os
incontáveis benefícios realizados na minha vida; sem a tua força não teria conseguido chegar
aqui!

Érika Luzia Lopes da Silva Ferreira


“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria. Os
insensatos desprezam a sabedoria e a instrução.”
Provérbios 1:7

“Não olhamos para as coisas visíveis, mas para as


invisíveis, porque as visíveis são passageiras, ao passo que
as invisíveis são eternas.”
2 Coríntios 4:18
Também sou pai e, portanto, compreendo. Vocês querem o melhor para o filho, para a
filha. A melhor escola, os melhores professores, os melhores colegas. Vocês querem que
filhos e filhas fiquem bem preparados para a vida. A vida é dura e só sobrevivem os mais
aptos. É preciso ter uma boa educação. Compreendo, portanto, que vocês tenham torcido o
nariz ao saber que a escola ia adotar uma política estranha: colocar crianças deficientes nas
mesmas classes das crianças normais. Os seus narizes torcidos disseram o seguinte: Não
gostamos. Não deveria ser assim! O problema começa com o fato de as crianças deficientes
serem fisicamente diferentes das outras, chegando mesmo, por vezes, a ter uma aparência
esquisita. E isso cria, de saída, um mal-estar... digamos... estético. Vê-las não é uma
experiência agradável. É preciso se acostumar... Para complicar há o fato de as crianças
deficientes serem mais lerdas: elas aprendem devagar. As professoras vão ser forçadas a
diminuir o ritmo do programa para que elas não fiquem para trás. E isso, evidentemente, trará
prejuízos para nossos filhos e filhas, normais, bonitos, inteligentes. É preciso ser realista; a
escola é uma maratona para se passar no vestibular. É para isso que elas existem. Quem fica
para trás não entra... O certo mesmo seria ter escolas especializadas, separadas, onde os
deficientes aprenderiam o que podem aprender, sem atrapalhar os outros. Se é assim que
vocês pensam eu lhes digo: Tratem de mudar sua maneira de pensar rapidamente porque, caso
contrário, vocês irão colher frutos muito amargos no futuro. Porque, quer vocês queiram quer
não, o tempo se encarregará de fazê-los deficientes. É possível que na sua casa, num lugar de
destaque, em meio às peças de decoração, esteja um exemplar das Escrituras Sagradas. Via de
regra a Bíblia está lá por superstição. As pessoas acreditam que Deus vai proteger. Se assim
fosse, melhor que seguro de vida seria levar uma Bíblia sempre no bolso. Não sei se vocês a
lêem. Deveriam. E sugiro um poema sombrio, triste e verdadeiro do livro de Eclesiastes. O
autor, já velho, aconselha os moços a pensar na velhice. Lembra-te do Criador na tua
mocidade, antes que cheguem os dias das dores e se aproximem os anos dos quais dirás: “Não
tenho mais alegrias...” Antes que se escureça a luz do sol, da lua e das estrelas e voltem as
nuvens depois da chuva... Antes que os guardas da casa comecem a tremer e os homens fortes
a ficar curvados... Antes que as mós sejam poucas e pararem de moer... Antes que a escuridão
envolva os que olham pelas janelas... Antes que as pessoas se levantem com o canto dos
pássaros... Antes que cessem todas as canções... Então se terá medo das alturas e se terá medo
de andar nos caminhos planos... Quando a amendoeira florescer com suas flores brancas,
quando um simples gafanhoto ficar pesado e as alcaparras não tiverem mais gosto... Antes que
se rompa o fio de prata e se despedace a taça de ouro e se quebre o cântaro junto à fonte e se
parta a roldana do poço e o pó volte à terra... Brumas, brumas, tudo são brumas... (Eclesiastes
12: 1-8). Os semitas eram poetas. Escreviam por meio de metáforas. Metáfora é uma palavra
que sugere uma outra. Tudo o que está escrito nesse poema se refere a você, a mim, a todos.
[...] A primeira tarefa da educação é ensinar as crianças a serem elas mesmas. Isso é
extremamente difícil. Fernando Pessoa diz: Sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que os
desejos dos outros fizeram de mim. Frequentemente as escolas esmagam os desejos das
crianças com os desejos dos outros que lhes são impostos. O programa da escola, aquela série
de saberes que as professoras tentam ensinar, representa os desejos de um outro, que não a
criança. Talvez um burocrata que pouco entende dos desejos das crianças. É preciso que as
escolas ensinem as crianças a tomar consciência dos seus sonhos! A segunda tarefa da
educação é ensinar a conviver. A vida é convivência com uma fantástica variedade de seres,
seres humanos, velhos, adultos, crianças, das mais variadas raças, das mais variadas culturas,
das mais variadas línguas, animais, plantas, estrelas... Conviver é viver bem em meio a essa
diversidade. E parte dessa diversidade são as pessoas portadoras de alguma deficiência ou
diferença. Elas fazem parte do nosso mundo. Elas têm o direito de estar aqui. Elas têm direito
à felicidade.

“Carta aos pais” (RUBEM ALVES, 2014)


RESUMO

O trabalho analisa elementos da política de inclusão de estudantes cegos na educação


superior brasileira e para tanto, examina o processo que envolve o acesso e a permanência
deste estudante à graduação na UFRN. Considerando a categoria deficiência como premissa
socialmente erigida mediante um padrão de normalidade constituída por uma sociabilidade
que confere à deficiência um lugar de exclusão e preconceito, busca examinar o lugar da
política inclusiva para os estudantes cegos nesta instituição, identificando suas dificuldades e
desafios. Para tanto, constituiu reflexões acerca do percurso histórico das pessoas com
deficiência ao longo da história Ocidental, visando compreender como o Estado e a Sociedade
entenderam e reconheceram a existência destas pessoas ao longo do tempo. Analisa ainda as
políticas educacionais já desenvolvidas no Brasil direcionadas a pessoas com necessidades
específicas, com ênfase nas pessoas com deficiência visual. Assinala que é a partir da
concepção contemporânea de direitos universais que esta antiga percepção passa a ser
rejeitada em troca da atual noção de equidade. A metodologia, norteada por uma perspectiva
dialética da realidade social, foi efetuada através de abordagem qualiquantitativa, buscando
analisar dados oriundos de questionário, assim como de entrevista semiestruturada.
Caracteriza-se, assim, como pesquisa de modalidade documental e empírica. Foram
entrevistados 05 (cinco) estudantes cegos matriculados nos cursos de Dança, Gestão
Hospitalar, Gestão de Sistema e Serviços de Saúde, História e Música da graduação presencial
do Campus Central da UFRN, durante o ano de 2015. Os resultados do estudo mostram que
barreiras atitudinais envolvendo preconceito, estranhamento e distanciamento ao lado de falta
de interação e de empatia sofridas no cotidiano acadêmico parecem ser as maiores
dificuldades para o acesso e à permanência dos estudantes cegos na UFRN, superando
inclusive as barreiras físicas e tecnológicas.

Palavras-Chave: Política de Inclusão. Deficiência visual. Cegos na Educação Superior.


Preconceito.
ABTRACT

The paper analyze the policy of inclusion to blind students in brazilian higher education
examinating the process that involves the access and permanence of this students at
UFRN graduation courses. Considering that category of disability as a premise socially
erected according to a standard of normality constituted by a society that confers to the
disability a place of exclusion and prejudice, seeks to examine the place of the inclusive
policy for blind students in this institution, identifying their difficulties and challenges. In
order to do so, reflections are made about the history of people with disabilities
throughout Western history, aiming to understand how the State and Society understood
and recognized the existence of these people over time. It also analyzes the educational
policies already developed in Brazil aimed to people with specific needs, with an
emphasis on people with visual impairment. It points out that it is from the contemporary
conception of universal rights that this old perception is rejected in exchange for the
current notion of equity. The methodology was carried out through a qualiquantitative
approach, guided by a dialectical conception of social reality. Seeking to analyze data
from a questionnaire, as well from a direct observation and semi-structured interview.
This is characterized the research modality as documentary and empiric. Five blind
students was interviewed ther was enrolled in Dance, Hospital Management, Health
Services Management, History and Music courses at UFRN Central Campus, at the
beginning of 2016. The results of the study show that attitudinal barriers involving
prejudice, estrangement and isolation along with lack of interaction and empathy,
developed in day by of the academic space seem to be the greatest difficulties for the
access and permanence of blind students in UFRN, overcoming the physical and
technological barriers.

Keywords: Policy of inclusion. Visual impairment. Higher Education. Attitudinal


Barriers. Prejudice.
LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS

QUADRO 1 - Dispositivos legais em torno das ações inclusivas na UFRN .........................68

QUADRO 2 - Discentes com NEE atendidos pela CAENE, por tipo de NEE ....................... 76

QUADRO 3- Identificação de estudante com NEE ................................................................ 78

QUADRO 4 - Demonstrativo de tecnologias assistivas destinadas a pessoas com deficiência


visual................................................................................................................ 81

QUADRO 5- Perfil socioeconômico dos estudantes com deficiência..................................... 87

GRÁFICO 1 - Quantitativo de estudantes com NEE na UFRN por ano de ingresso no período
de 2010 a 2015................................................................................................ 76

GRÁFICO 2 - Quantitativo de estudantes com deficiência visual na UFRN por ano de


ingresso no período de 2004 a 2015..................................................................77
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT- Associação de Normas Brasileiras e Técnicas


BCZM - Biblioteca Central Zila Mamede
CAENE - Comissão Permanente de Apoio a Estudantes com Necessidades Educacionais
Especiais
CNE- Conselho Nacional de Educação
CONEB - Conferência Nacional da Educação Básica
CONSAD - Conselho de Administração
CONSEPE- Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão
CONSUNI- Conselho Universitário
EVA- Etil Vinil Acetato
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IES - Instituições de Ensino Superior
IFES - Instituições Federais de Ensino Superior
IFs - Institutos Federais
INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
LA- Laboratório de Acessibilidade
LDB - Lei de Diretrizes e Bases de Educação
LGBTTTI- Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros e Intersexos
LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais
MEC- Ministério da Educação
NEE- Necessidades Educacionais Especiais
ONGs - Organizações Não-Governamentais
ONU- Organização das Nações Unidas
PDI - Plano de Desenvolvimento Institucional
POTI- Programa de Orientação de Tutoria Inclusiva
REUNI - Programa do Governo Federal de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais
SECADI - Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão
SEESP - Secretaria de Educação Especial
T.A. -Tecnologia Assistiva
TDAH - Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade
TEA - Transtornos Específicos de Aprendizagem
TCLE- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TEC NEP - Tecnologia, Educação, Cidadania e Profissionalização para Pessoas com
Necessidades Específicas
TIC- Tecnologia de Informação e Comunicação
TI -Tecnologia de Informação
UEL- Universidade Estadual de Londrina
UFPR- Universidade Federal do Paraná
UFRN- Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UFSCAR - Universidade Federal de São Carlos
UNB- Universidade de Brasília
UNICAMP- Estadual de Campinas
UNESCO- Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
16

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 18
2 ASPECTOS HISTÓRICO-CONCEITUAIS EM TORNO DE DEFICIÊNCIA NO
OCIDENTE 32
2.1 CORPO, HARMONIA E DEFICIÊNCIA NO MUNDO GRECO-ROMANO .... 32
2.2 CORPO, ABOMINAÇÃO E DEGRADAÇÃO: O CRISTIANISMO E AS
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA ............................................................................... 35
2.3 RENASCIMENTO: O HUMANO COMO CENTRO DO UNIVERSO .............. 37
2.4 MODERNIDADE E INSTITUIÇÃO HOSPITALAR: DEFICIÊNCIA E
TRATAMENTO ENQUANTO INTERNAMENTO ................................................. 39
2.5 SÉCULO XX: A PESSOA COM DEFICIÊNCIA HABILITADA PARA O
AMBIENTE EDUCACIONAL E O TRABALHO .................................................... 42
2.6 NOÇÕES ATUAIS SOBRE A DEFICIÊNCIA: MODELO MÉDICO VERSUS
MODELO SOCIAL.................................................................................................... 42
2.6.1 Deficiência enquanto falta corporal: o modelo médico 43
2.6.2 Além da biologia: o modelo social de análise da deficiência 44
3 A INCLUSÃO DE ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA NA EDUCAÇÃO
SUPERIOR: A EDUCAÇÃO INCLUSIVA DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NA
CONTEMPORANEIDADE OCIDENTAL E NO BRASIL 47
3.1 DA INTEGRAÇÃO À INCLUSÃO: RESPOSTAS LEGAIS E
SOCIOEDUCACIONAIS FRENTE AOS DIREITOS DAS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO ........................................... 47
3.2 RESPOSTAS DO ESTADO E DA SOCIEDADE ÀS NECESSIDADES DAS
POPULAÇÕES COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL ................................................. 50
3.3 A INCLUSÃO DE ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA NA EDUCAÇÃO
SUPERIOR NO BRASIL ........................................................................................... 62
4 A POLÍTICA DE INCLUSÃO DE ESTUDANTES CEGOS NA EDUCAÇÃO
SUPERIOR NA UFRN: DO ACESSO À PERMANÊNCIA 65
4.1 UM PREÂMBULO: EM TORNO DOS DIREITOS DAS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA NA CONTEMPORANEIDADE ...................................................... 65
4.2 OS DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NA UFRN: A CAENE ........... 68
4.2.1 A atuação da CAENE: entre diferentes estratégias de apoio aos discentes com
deficiência...................................................................................................................70
4.3 FILOSOFIA DE TRABALHO DA CAENE ........................................................ 73
17

4.2 DISCENTES COM DEFICIÊNCIA ATENDIDOS PELA CAENE: QUEM SÃO


ESTES SUJEITOS? .................................................................................................... 73
4.2.1 O crescimento no número de discentes com NEE na UFRN: alguns
apontamentos........................................................................................................... 74
4.2.2 Ampliando a noção de deficiência na UFRN ...............................................78
4.3 VIABILIZANDO A ACESSIBILIDADE: DAS ESTRATÉGIAS DE
ATENDIMENTO EDUCACIONAL......................................................................... 80
4.3.1 Acessibilidade e Tecnologia Assistiva .......................................................... 80
4.3.2 A CAENE/UFRN e as Tecnologias Assistivas (TA) .................................... 82
5 "ELA NOS PROPORCIONA UMA INSERÇÃO MAIS SUAVE": A ATUAÇÃO DA
CAENE NO ACESSO E NA PERMANÊNCIA DE ESTUDANTES CEGOS NA UFRN
85
5.1 APRESENTANDO OS SUJEITOS DA PESQUISA ........................................... 85
5.2 EXPECTATIVAS ENVOLVENDO A UFRN ..................................................... 88
5.3 EM TORNO DO INGRESSO À UFRN................................................................ 89
5.4 ENTRE EDIFICAÇÕES E EQUIPAMENTOS URBANOS: A
ACESSIBILIDADE E OS ESTUDANTES CEGOS .................................................. 90
5.5 RECURSOS TECNOLÓGICOS COMO INSTRUMENTOS PARA A
AUTONOMIA ........................................................................................................... 93
5.6 "FALTA PREPARO PARA LIDAR COM AS PESSOAS QUE NÃO
ENXERGAM": PRECÁRIA QUALIFICAÇÃO DOCENTE OU DIFICULDADE
DE INTERAÇÃO COM OS CEGOS? ....................................................................... 94
5.7 "PODE ATÉ SER QUE NÃO SEJA, NÉ? MAS COM O DISTANCIAMENTO, A
GENTE FAZ ESSA LEITURA, SIM": SOBRE O PRECONCEITO ......................... 96
5.8 "HÁ ALGUMAS TÉCNICAS QUE OS PROFESSORES IMPROVISAM":
DIÁLOGO E EMPATIA PARA CONSTRUIR A INCLUSÃO .............................. 100
5.9 "ELA SE COLOCA SEMPRE NESSE "MEIO DE CAMPO"": A CAENE
MEDIANDO O DIÁLOGO ENTRE DOCENTES VIDENTES E DISCENTES
CEGOS ..................................................................................................................... 101
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.
REFERÊNCIAS 111
APÊNDICES 126
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO 127
QUESTIONÁRIO 127
APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA 135
18

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho analisa a Política de Inclusão de Estudantes Cegos na Educação


Superior, tomando como objeto o processo de acesso e permanência destes estudantes na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, o qual ocorre com o suporte da
Comissão Permanente de Apoio a Estudantes com Necessidades Educacionais Especiais-
CAENE.
Compreendemos aqui o início da educação inclusiva no Brasil a partir dos anos
1990, momento em que os estudantes com deficiência passam a ingressar de maneira mais
efetiva na Educação Superior. Um marco para este processo é a publicação da Lei
nº13.146/15, o Estatuto da Pessoa com Deficiência, em 7 de julho de 2015. Conceituamos,
assim, a categoria Deficiência de acordo com o Estatuto da Pessoa com Deficiência2. Este nos
diz:

Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo


prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em
interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e
efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
(BRASIL, 2015).

Sendo o parâmetro legal mais atual em vigência, ele está em alinhamento com o
sentido personalista da Convenção Internacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência
(CDPD). É também o primeiro tratado internacional de direitos humanos aprovado pelo
Congresso Nacional, conforme o procedimento qualificado do § 3º do art. 5º da Constituição
Federal de 1988 (promulgado pelo Decreto nº 6.949/09 e em vigor no plano interno desde
25/8/2009).
Nos dias hodiernos, a inclusão da pessoa com deficiência revela expressivo avanço
em alguns espaços e setores de nossa sociabilidade, evidenciados, por exemplo, na
produção de conhecimento, na acessibilidade nos espaços públicos, da sensibilidade das
pessoas e na elaboração de dispositivos legais. Todavia, as pessoas com deficiência ainda
enfrentam muitos obstáculos em seu processo educacional, devido a inexistência de
profissionais com formação pedagógica específica para contribuir em sua formação

2
Também importa salientar que as pessoas com algum tipo de transtorno global do desenvolvimento são
também consideradas com deficiência, conforme a Lei nº 12.764/2012, que enquadra as pessoas com transtorno
do espectro autista como "pessoas com deficiência".
19

acadêmica, além da falta de preparo da própria sociedade para lidar com essa população,
envolvendo aí os mitos e estigmas que ainda perpassam a deficiência, e por fim, a
dificuldade de acesso e permanência deste segmento social nos diferentes espaços sociais,
especialmente o ambiente universitário, lócus deste trabalho.
Apesar disso, as pessoas com deficiência estão ingressando cada vez mais nos
espaços acadêmicos, sendo no caso do Brasil, a maioria em cursos de graduação
presencial, passando de pouco mais de 19 mil alunos em 2010 para quase 30 mil em 2013,
representando um aumento de quase 50% nos últimos quatro anos, conforme os dados do
último Censo Nacional realizado no ano de 2013, divulgado pelo Ministério da Educação
(MEC) e elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (INEP).
Porém, compreendemos que a política de inclusão vai além da inserção dos discentes
com deficiência na educação superior, o chamado "ingresso". Ela perpassa também pelo
"acesso", significando este último todo o processo que envolve o pleno usufruto do ambiente
acadêmico por este sujeito. Ora, este acesso solicita modificações estruturais (em nível de
arquitetura, de tecnologia educacional, profissional e atitudinal) envolvendo este ambiente e
seus sujeitos. Ao final, é necessário não apenas uma universidade, mas também uma
sociedade que contemple os interesses de todas as pessoas, sejam elas com deficiência ou não.
Desta feita, para discutirmos o processo de acesso dos estudantes cegos ao ambiente
acadêmico (o foco deste trabalho), devemos relatar as especificidades educacionais destes
estudantes, destacando aspectos que possibilitem melhor compreensão sobre a pessoa com
deficiência visual não apenas no sistema universitário, mas também na sociedade. Devemos
então definir o que se compreende por pessoa com deficiência visual.
Ora, a pessoa com deficiência visual é aquela que possui: ou perda total da visão
(cegueira), ou seja, total ausência à simples percepção de luz, ou então aquela que possui
baixa visão, tendo resíduo visual que permite a orientação à luz e à percepção de massas, além
da visão de perto insuficiente para a vida escolar e profissional (MARTÍN; RAMÍREZ, 2003).
A cegueira pode ocorrer de forma congênita, quando se nasce sem a capacidade de enxergar.
Neste caso, o indivíduo jamais poderá formar uma memória visual nem ter lembranças
visuais. Ela também pode ser adquirida: é quando se nasce com o sentido da visão, perdendo-
o mais tarde. Desse modo, o indivíduo guarda memórias visuais e consegue se lembrar de
imagens, luzes e cores que conheceu, isto sendo muito útil para sua readaptação (GIL, 2000).
20

O sentido da visão é considerado primordial em todos os períodos históricos de todas


as sociedades, já que mediante este sentido o indivíduo tem a possibilidade de vivenciar
múltiplas experiências, obtidas de forma imediata, constante e completa. A visão tem também
uma função precípua na representação do mundo em que vivemos e é considerada central na
tessitura de inúmeras relações interpessoais que emergem ao longo do processo de
socialização.
Já a pessoa com deficiência visual (cegueira e baixa visão) obtém conhecimento de
mundo e constrói sua subjetividade por meio de sentidos remanescentes – tato, audição,
paladar, olfato. Utilizando estes sentidos, a pessoa pode executar a leitura e a escrita, via, por
exemplo, o sistema de leitura e escrita Braille3, e por um sem-número de recursos didáticos
ampliados ou adaptados (recursos ópticos como lupas, telelupas, entre outros), além da
chamada Tecnologia Assistiva – TA. Esta tecnologia é composta por equipamentos e
softwares: produtos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que
objetivem promover a funcionalidade relacionada à atividade e à participação da pessoa com
deficiência visual, visando à sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão
social (BRASIL, 2015). Trataremos mais detidamente das tecnologias assistivas no decorrer
deste trabalho.
No ambiente acadêmico, o assim chamado "acesso" – sobre o qual buscamos nos
debruçar neste trabalho – depende de maneira considerável (dentre outros fatores) dos
equipamentos e softwares supramencionados. Disponibilizados a partir da atuação de um
conjunto de profissionais inseridos em programas de assistência social, o usufruto destes
equipamentos pelos estudantes cegos é fundamental para que seu acesso se dê de maneira
consistente.
Porém, uma das críticas que podemos fazer em relação às lacunas da assistência
social no ensino superior brasileiro é a de que esta não abarca suficientemente e com
qualidade o atendimento a estes sujeitos. Os estudantes cegos têm, dentre as deficiências
existentes, talvez a mais temida por grande parte dos docentes, e o temor se dá não apenas em
virtude da incapacidade da própria sociedade em lidar com as pessoas cegas. Também se dá

3
O Sistema Braille consiste num processo de leitura e escrita em relevo e foi criado por Louis Braille, jovem
cego francês. Neste sistema, temos uma combinação de seis pontos dispostos em duas filas verticais de três
pontos cada uma, que combinados de acordo com o número e a posição geram sessenta e três símbolos,
suficientes para todo o alfabeto, números, símbolos matemáticos, químicos, físicos e notas musicais, e
recentemente símbolos da informática. A invenção do sistema Braille facultou a integração social das pessoas
cegas, sendo ainda no dias atuais utilizada mundialmente (REINO, 2000).
21

em virtude de que o arcabouço teórico e a competência profissional acumulados por estes


docentes não os capacitam minimamente para atenderem a esta demanda, muito em
decorrência de lacunas estruturais que atingem a própria universidade, que por sua vez não
oferece condições objetivas para que estes docentes se capacitem de maneira efetiva para
responder às necessidades pedagógicas destes estudantes.
Do exposto acima, Moreira (2009) afirma que, a educação especial4 esteve ausente
da matriz curricular nas diversas instituições de ensino por muitos anos e, neste sentido, um
número expressivo de docentes não obteve sequer aproximação mínima com essa realidade no
decurso de suas formações, bem como "nenhuma preparação teórica complementar que
colaborasse com seus conhecimentos em educação especial estando, portanto, fundamentados
apenas em discursos governamentais, que preferem o saber tácito ao epistemológico"
(MOREIRA, 2009, p. 33).
Nesse sentido, estes docentes, que trazem acentuada carência em formação adequada
para atender aos estudantes cegos vivenciam situações extremamente desafiadoras em seu
cotidiano acadêmico, ao lidar com estes sujeitos. Isto se torna ainda mais precário quando os
docentes desconhecem as estruturas de apoio e os recursos disponibilizados pela própria
universidade para que estes discentes obtenham acesso ao conhecimento acadêmico. O
desconhecimento por parte dos docentes pode inclusive incidir no aprofundamento de uma
percepção negativa (que já existe na própria sociedade) envolvendo a pessoa cega, desta vez
entrem a comunidade acadêmica.
Ora, sabemos que a Universidade tem a função precípua de produzir, disseminar e
transmitir conhecimentos a todos os segmentos populacionais indistintamente, por isso, torna-
se imprescindível que essa instituição esteja comprometida também com a realidade social do
estudante. Nesta perspectiva, é pertinente dizer que, além dos dispositivos legais
conquistados, é fundamental a promoção de debates intensos inerentes às políticas públicas de
inclusão em todos os níveis da Educação. Como nos diz Moreira (2004, p.152):

4 A Educação Especial é conceituada, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96,
como uma modalidade do sistema da educação que perpassa todas as etapas e níveis de ensino. Esta
conceituação faculta desvincular “educação especial” de “escola especial”. Neste caso, permite também, tomar a
educação especial como um recurso que beneficia a todos os educandos e que atravessa o trabalho do docente
com toda a diversidade que constitui o seu grupo de estudantes, de acordo com documentos que orientam o
Programa Incluir do governo federal, em especial o Documento Orientador do Programa Incluir - acessibilidade
na Educação Superior -Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI)
/Secretaria de Educação Superior (SESU) (BRASIL, 2005b).
22

Na universidade, o professor geralmente possui um conhecimento


específico do conteúdo que ministra. [...], contudo, em sua quase
totalidade é notório o desconhecimento específico acerca das necessidades
educacionais especiais (NEE), entre o corpo docente. E, diante dos
estudantes com NEE, os professores já apontaram em outros momentos, a
sua debilidade em conhecimentos e práticas que ultrapassem o campo de
sua especificidade docente. Do mesmo modo, já foi possível também
evidenciar que esses estudantes não estão alheios a essa realidade:
percebem que grande parte dos professores carece, inúmeras vezes, de
conhecimento científico-pedagógico e sensibilidade para lidar com essa
situação.

Em meados de 2007, exatamente no primeiro mandato do governo do ex-presidente


Luiz Inácio Lula da Silva, a educação superior pública atravessou um profundo processo de
reestruturação do seu sistema, no que diz respeito à construção de novos polos e aliada a isso
a ampliação do número de vagas nas universidades5 existentes, por intermédio do Programa
de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI).
O REUNI é um programa do governo federal que foi instituído pelo Decreto nº
6.096, de 24 de abril de 2007. Sua criação teve o objetivo principal de oferecer às instituições
condições de expandir o acesso e assegurar condições de permanência dos estudantes dos
segmentos sociais mais pauperizados no Ensino Superior. Para alcançar as metas imposta pelo
REUNI foram estabelecidas diretrizes a serem cumpridas pelas universidades, dentre elas:
elevação do número de vagas nos cursos de graduação, ampliação na oferta de cursos
noturnos, ocupação de vagas ociosas e redução dos índices de evasão. A proposta deste
programa foi o de contribuir na permanência dos estudantes nas ações de assistência
estudantil (BRASIL, 2007).
Pode-se afirmar então que a expansão das universidades públicas facultou a inserção
de um contingente populacional da sociedade, historicamente, à margem do sistema de ensino
superior público, gratuito e de qualidade. A expansão trouxe consigo um expressivo
crescimento do número de estudantes pretos, pobres e deficientes nas universidades públicas,
que passaram a ser demandatários de serviços que visavam assegurar sua permanência e
conclusão de seus cursos. Tal assertiva confirma-se tomando como referência os dados
fornecidos pelo IBGE, como segue: entre os jovens de 18 a 24 anos, a frequência na educação

5 Já nas universidades privadas foi implementado o Programa Universidade para Todos (PROUNI). Neste caso,
o Governo Federal assegura bolsas de estudos para discentes oriundos de escolas públicas ou privadas na
condição de bolsista com o intuito de buscar a ampliação no ingresso a educação superior. Desta feita, a
contradição do então Programa, baseia-se no elevado investimento para as instituições particulares, quando de
fato, esse repasse de recursos poderia ser destinado para a melhoria e ampliação das Universidades Federais.
23

superior passou de 22,1% em 1999 para 48,1% em 2009 (IBGE, 2010). De acordo, com os
dados do Censo da Educação Superior, o Brasil teve um aumento de 121% no número de
matrículas no ensino superior em 10 anos, passando de 2,6 milhões de matriculas em 2000
para 5,9 milhões em 2009 (INEP, 2010). Ademais, compreendemos que este crescimento não
se deu de maneira uniforme, nem tampouco nos aspectos regionais, nem em relação aos
grupos que acessaram ao ensino superior. Morche e Neves (2010) apontam, por exemplo, que:

[...] mais da metade dos estudantes que frequentam o ensino superior


(público e privado) estão no 5° quinto de renda, o mais rico da população
(20% mais ricos). Por outro lado, apenas 2,9% e 1,2% das matrículas, no
ensino superior público e privado respectivamente, são ocupadas por alunos
mais pobres, pertencentes ao 1° quinto (20% mais pobres). Este que
corresponde a mais de 30% das famílias brasileiras.

Importa assinalar que no cenário educacional brasileiro, a política de inclusão está


alicerçada na LDB nº 9.394/96, no Plano Nacional de Educação, aprovado pela Lei nº
10.192/2001 e n° 13.005/ 2014, nas Diretrizes da Educação Especial na Educação Básica
(Resolução CNE/CEB nº 2/2001), na Convenção sobre o Direito das Pessoas com Deficiência
(ONU 2006), ratificada no Brasil através dos Decretos Legislativo nº 186/2008 e nº
6.949/2009, na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva,
aprovada em 2008, pelo Decreto do Legislativo nº 186 e Executivo nº 6.949/2009.
No Brasil, a terminologia para definir a pessoa com deficiência atravessou diferentes
momentos históricos em distintas épocas. Estes termos sofreram inúmeras mudanças. Já
passamos pelos estigmatizadores "defeituoso" e "anormal", até os atualmente utilizados.
Assim, torna-se basilar efetuar uma discussão expondo a conceituação atual envolvendo a
nomeação das pessoas com deficiência, incluindo a terminologia destinada especialmente às
pessoas cegas, sujeitos deste trabalho.
Com efeito, a terminologia atualmente aplicada às pessoas cegas foi aprovada há
mais de uma década nos referenciais legais vigentes. Porém, a sociedade brasileira não
acompanhou a mudança terminológica, e quando isto ocorre, principalmente quando se trata
de categoria relativa à deficiência, é frequente a permanência de posturas e comportamentos
sociais estereotipados e atravessados de preconceitos e estigmas. É o que nos diz Sassaki
(2002):
24

Os termos são considerados corretos em função de certos valores e conceitos


vigentes em cada sociedade e em cada época. Assim, eles passam a ser
incorretos quando esses valores e conceitos vão sendo substituídos por
outros, o que exige o uso de outras palavras. Estas outras palavras podem já
existir na língua falada e escrita, mas, neste caso, passam a ter novos
significados. Ou então são construídas especificamente para designar
conceitos novos. O maior problema decorrente do uso de termos incorretos
reside no fato de os conceitos obsoletos, as ideias equivocadas e as
informações inexatas serem inadvertidamente reforçados e perpetuados
(SASSAKI, 2002, p. 1).

Em se tratando ainda da questão da atualização da terminologia, esta foi estabelecida


nos aportes legais brasileiros com a assunção do termo pessoa com deficiência. Neste
sentido, estes aportes renunciam aos termos antigos, quais sejam: "pessoas com necessidades
especiais", "pessoas portadoras de deficiência" dentre outros. No caso das cegas e cegos, as
terminologias atuais são: pessoa com deficiência visual, pessoa com cegueira ou pessoa
cega, e se renuncia a pessoa portadora de cegueira, por exemplo. É, assim, com as atuais
denominações "pessoa com deficiência visual", "pessoa cega", "pessoa com cegueira", "cego"
ou "cega" que iremos nos debruçar em nossa discussão, de acordo com o Estatuto da Pessoa
com Deficiência, documento legal recentemente instituído.
Contudo, estas noções não nos impediram de encontrar na literatura acadêmica
questões anteriores e já em desuso, e que desta maneira aparecem no corpo deste trabalho,
visto que nosso levantamento bibliográfico referencia publicações editadas nas últimas
décadas, o que significa dizer que nossos autores designam diversificadamente as pessoas
com deficiência em geral, assim como as pessoas cegas em específico, de acordo com o
período histórico em que seus trabalhos foram publicados.
É necessário apontar que as modificações nas nomeações acima mencionadas
remetem a uma busca pela própria sociedade, a partir de lutas sociais empreendidas pelas
pessoas com deficiência exigindo mudanças não apenas nestas nomeações, mas, sobretudo,
nos próprios valores sociais, sob o desejo de que a inclusão e o respeito à dignidade humana
das pessoas com deficiência possam ser reconhecidos como direitos fundamentais.
Assim é que o novo paradigma do modelo social da deficiência está alicerçado na
noção de direitos humanos e deixa claro que a deficiência não está na pessoa como um
problema a ser tratado, e sim na sociedade, que pode, por meio de barreiras impostas às
pessoas, agravar certa limitação funcional.
Aqui necessitamos retomar a noção de acesso, já mencionada neste trabalho,
distinguindo-a de ingresso. Ora, o ingresso remete ao processo seletivo do/a estudante ao
25

ensino superior, que se faz através de certame público. Já acesso remete ao usufruto dos
diferentes direitos que circundam a chegada e permanência com qualidade e êxito do/a
estudante no ambiente acadêmico. Nesta direção, é que a instituição de ensino superior deve
garantir os recursos demandados pelo estudante com deficiência no que se refere à conclusão
do curso escolhido (CASTRO, 2011). Neste trabalho, discutiremos o conceito de acesso e os
processos que o envolvem. Já em se tratando dos termos acesso e permanência, parece-nos
óbvio: apesar de serem categorias diversas, acesso e permanência estão profundamente
interligados:

A permanência dá sentido ao acesso, configurando a continuidade da


trajetória de formação; a expansão tem relação (e impacto) com o acesso na
proporção do crescimento quantitativo [...] e das suas características (ensino
público/gratuito, organização acadêmica, curso, avaliação/qualidade). De
igual forma, poder-se-ia mencionar outros fenômenos distintos, mas a eles
articulados, como financiamento e evasão. Tais afirmações convergem para
a afirmação de que o acesso não comporta uma explicação isolada ou
descontextualizada (SILVA; VELOSO, 2010, p. 222).

Mediante os elementos já apontados, compreendemos que os processos de acesso e


de permanência de estudantes com deficiência visual na educação superior se traduzem no
debate acadêmico enquanto temática relevante tanto para a sociedade brasileira quanto para a
profissão de Serviço Social, assim como para nossas áreas afins e particularmente para a
pessoa com cegueira.
Ora, desde meados do ano 2002 passaram a ingressar na UFRN estudantes com
cegueira nos cursos de filosofia, ciências sociais e economia. Tal fato provocou na UFRN
uma mobilização envolvendo a comunidade acadêmica com o intuito de facultar o acesso aos
serviços ofertados pela universidade. Nesta perspectiva, a CAENE6, lócus deste estudo, foi
criada em respostas às necessidades demandadas pelos discentes com deficiência,
preponderantemente visual. A atuação junto aos estudantes com NEE é realizada por equipe
técnica composta por profissionais do Serviço Social, Psicologia e Pedagogia, que atuam em
seus domínios de saberes específicos, porém trabalham de forma interdisciplinar na
construção de intervenções de caráter institucional e didático-pedagógico que buscam
proporcionar o êxito acadêmico dos estudantes aludidos.

6 A CAENE foi criada pela Portaria nº 203, de 15 de março de 2010, com a finalidade de apoiar, orientar e
acompanhar a política de inclusão de estudantes com NEE (Necessidades Educativas Especiais), na UFRN.
Trataremos mais detidamente desta Comissão no decorrer deste trabalho.
26

Aliás, a escolha por pesquisar esta problemática foi gestada a partir de nossa
experiência de exercício profissional em Serviço Social. Atualmente, somos servidora desta
instituição superior de ensino e observamos que a presença de discentes com algum tipo de
deficiência, especificamente os estudantes cegos, tem modificado o cotidiano da UFRN,
como também tem instigado discussões a respeito da formação de docentes para a
diversidade. A partir de nossa experiência profissional desde 2011, como assistente social
designada a integrar a CAENE, percebemos como esta instância de apoio acadêmico intervém
nas condições de formação, sobretudo dos discentes cegos com o propósito da efetivação da
educação inclusiva como direito social. Entretanto, decorridos alguns anos após o início da
inserção destes estudantes na UFRN, percebemos que a instituição universitária ainda tem
muito a avançar na perspectiva de garantir o acesso e a permanência de tais discentes na
Educação Superior.
Ora, nossa aproximação ante a esta problemática emergiu também por percebermos
durante os atendimentos e triagens realizados na CAENE as inquietações e angústias sentidas
muito de perto pelos próprios discentes cegos. Estes percebiam que sua presença era vista
sob profundo e frequente estranhamento no ambiente acadêmico como um todo. Ora, há
que se considerar que o Ensino Superior difere em muito da dinamicidade da educação básica,
pois traz consigo novas expectativas e diferentes desafios e dificuldades a serem enfrentados.
Isto se aprofunda mais ainda em se tratando de discentes cegos.
Por outro lado, nos deparamos com reações de resistência extremada por parte de
docentes quando estes percebiam que possuíam algum discente cego ou com baixa visão
matriculado em seu componente curricular. Diante do surgimento desta demanda, era muito
frequente que os docentes viessem para o atendimento da CAENE trazendo um conjunto
considerável de dúvidas, medos e angústias, que giravam em torno não apenas dos aspectos
metodológicos e didáticos de ensino a serem adotados em suas aulas, mas também de como
lidar minimamente com estes discentes.
Quando estes docentes recorriam à equipe da CAENE percebíamos que alguns
apresentavam mesmo forte oposição em modificar seu método de ensino em virtude da
presença de por vezes um único discente cego. Não obstante, esta mudança, argumentávamos,
era absolutamente necessária, na medida em que a adequação de seus métodos para o bom
atendimento deste discente seria o que asseguraria realmente a equidade. Era, assim, bastante
frequente que os docentes lançassem mão das orientações repassadas pela CAENE somente
depois de algum tempo após o início do semestre, e ainda sob resistência e indignação.
27

Parece-nos, pois, óbvio que a inserção de discentes com deficiência visual tem
modificado o cotidiano desta instituição, tendo também provocado algumas pontuais
discussões a respeito da formação de docentes para a diversidade. Porém, conforme afirma
Bueno (1993), mais do que adaptações curriculares, faz-se necessária a efetivação de
rupturas ideológicas e mudanças de posturas metodológicas, bem como a transformação
do currículo básico da formação docente.
Foi, assim, com base neste entendimento e nessa vivência profissional que optamos
por estudar o acesso e a permanência de estudantes cegos na UFRN. A relevância da
investigação aqui proposta também se justifica a partir da incipiência de estudos acadêmicos
existentes acerca desta temática. Também há escasso material tratando dos rebatimentos
envolvendo a presença de estudantes cegos na UFRN. Por fim, diante do compromisso ético
profissional dos assistentes sociais com os Direitos Humanos, com a emancipação humana e
com a eliminação de todas as formas de preconceito e de discriminação, compreendemos
como primordial a necessidade da ampliação de estudos que possibilitem a aproximação entre
a política de inclusão e o debate atual sobre o ensino superior voltado para os estudantes com
deficiência visual.
Esperamos que os resultados desta pesquisa possam contribuir para ampliar a
discussão e reflexão relativas à presença do discente com cegueira no ensino superior, sem,
contudo, obviamente, ter a pretensão de esgotar todos os aspectos concernentes a essa
temática, dada a sua densidade e abrangência. Outrossim, acreditamos que este trabalho traz
contribuições à UFRN, ao apontar alguns dos elementos de fragilidade ainda existentes na
execução das estratégias de inclusão dos estudantes cegos na educação superior. É nosso
interesse também colaborar na discussão para o desenvolvimento de ações efetivas que
afiancem o direito dos cegos à educação superior, implicando na possibilidade de estes
discentes obterem um melhor apoio institucional.
Na própria CAENE, em meados dos anos de 2012-2013, enquanto assistente social,
tivemos a oportunidade, junto aos demais servidores da unidade, de realizar uma pesquisa que
se intitulou "Caracterização Socioeconômica e Cultural de Estudantes com Necessidades
Educacionais Especiais da UFRN" (FERREIRA, 2013). O objetivo desta foi identificar o
perfil socioeconômico, cultural e educacional dos estudantes com necessidades educacionais
especiais cadastrados na CAENE. A pesquisa teve como lócus a UFRN e como universo
todos os estudantes com necessidades educacionais especiais cadastrados no sistema da
CAENE. Entre os anos de 2012 e 2013, foram enviados 175 (cento e setenta e cinco)
28

formulários via SIGAA7 para estes estudantes. Desses, 55 (cinquenta e cinco) nos foram
devolvidos devidamente respondidos por estes sujeitos. A pesquisa suscitou já naquela época
a nossa preocupação em melhor responder aos anseios dos entrevistados, quanto as suas
efetivas dificuldades e desafios para conclusão de seus estudos. Tomamos como indicadores
empíricos iniciais para balizar este trabalho os resultados desta pesquisa ocorrida entre 2012 e
2013, bem como os atendimentos realizados pelo serviço social nesta unidade entre os anos de
2011 e 2014.
Neste trabalho, pois, algumas questões nos instigam, quais sejam: como estão
acontecendo os processos de acesso e de permanência dos estudantes com deficiência visual
na UFRN? Quais as dificuldades e os desafios atualmente enfrentados por este segmento?
Qual a situação socioeconômica e as principais necessidades acadêmicas dos estudantes cegos
que são assistidos pela CAENE?
Após essas indagações emergem os objetivos deste estudo: em primeiro lugar, o
estudo busca analisar a contribuição do sistema de apoio da CAENE no acesso e na
permanência da Educação Superior dos estudantes cegos na UFRN. Em adição, pretende
apresentar reflexões sobre o lugar da política de inclusão executada na UFRN e identificar
mecanismos voltados para a eliminação de barreiras que tolhem a permanência e a
participação plena deste segmento na educação superior. Por fim, deseja discutir estratégias
que visam contribuir com o acesso e a permanência dos discentes cegos em seus cursos, nesta
instituição, mediante observações dos desafios e dificuldades sofridos por estes na vida
acadêmica.
No que diz respeito à modalidade, nossa pesquisa se caracterizou como documental8
e empírica e para a operacionalização dos objetivos propostos, utilizamos uma abordagem
qualiquantitativa, pois buscou analisar dados oriundos de: a) questionário (formulário), b)
entrevista semiestruturada e c) Diário de campo de pesquisa para registro de experiência
profissional junto a estudantes cegos e seus professores, nas ocasiões de atendimento destes
sujeitos na CAENE. Sendo assim, utilizamos os seguintes instrumentos de pesquisa:
Instrumento 1: questionário. Foi contemplado todo o universo de estudantes com
necessidades educacionais especiais matriculados na modalidade de graduação presencial em
cursos do Campus Central da UFRN. Este formulário foi o instrumento utilizado em pesquisa

7
Sistema Integrado de Gestão e Atividades Acadêmicas da UFRN.
8
Constituído de relatórios institucionais, leis, portarias, decretos, resoluções e pareceres.
29

que empreendemos ao lado dos demais servidores da CAENE/UFRN durante este período
(FERREIRA, 2013). Para a obtenção do conjunto de dados quantitativos presentes neste
estudo, e que diz respeito a este universo, aplicamos um questionário que foi enviado a todos
estes estudantes, e que se encontra como apêndice a este trabalho. O levantamento de dados
foi possível através de nosso acesso ao Sistema Integrado de Gestão de Atividades
Acadêmicas (SIGAA). Conforme mencionado, entre os anos de 2012 e 2013, foram remetidos
175 (cento e setenta e cinco) questionários para estes estudantes, via SIGAA. Dentre estes, 55
(cinquenta e cinco) nos foram devolvidos devidamente respondidos. O levantamento dos
dados quantitativos foi finalizado no dia 20 de setembro do ano de 2013, portanto, devem-se
considerar os números apresentados referentes a essa data9.
Instrumento 2: roteiro de perguntas abertas e fechadas para aplicação em entrevista
semiestruturada e que se encontra como apêndice a este trabalho. Foi contemplado todo o
universo de estudantes cegos matriculados em graduação presencial em cursos do Campus
Central da UFRN: 05 (cinco) estudantes. A entrevista foi utilizada para o registro das
impressões, do entendimento e das vivências dos discentes cegos em sua trajetória acadêmica
na UFRN. Considerando as necessidades do público-alvo deste estudo (os estudantes cegos),
os roteiros de entrevista foram formatados em Braille, primando pela leitura das informações
pelos cegos e consequentemente pela transparência e confiabilidade da pesquisa. Mediante a
autorização destes sujeitos, as entrevistas foram realizadas com o apoio de um gravador, com
a finalidade de viabilizar a posteriori transcrição e sistematização das falas coletadas, da
maneira mais fiel possível. Este material ficará sob a nossa responsabilidade num decurso de
cinco anos, com o devido sigilo das respectivas informações obtidas. Foi então abrangido o
universo total dos sujeitos, ou seja: todos os estudantes cegos matriculados em cursos de
graduação na modalidade presencial, no âmbito do Campus Central da UFRN.
Instrumento 3: Diário de campo para o registro das experiências e vivências obtidas
enquanto assistente social da CAENE no atendimento a docentes e discentes em demanda
espontânea e programada entre os anos de 2011 e 2014. Estas vivências foram anotadas para
posterior análise.
Tomando como referência Minayo (2009), a prioridade na exploração das falas dos
indivíduos entrevistados foi ir além dos dados descritos, além do aparente. Para isso, os dados

9
Para mais detalhes, consultar Ferreira, 2013.
30

foram decompostos, buscando desvelar categorias e informações. Em consonância com esse


percurso metodológico, ressaltamos o que discorre Laville (1999, p. 214):

Uma primeira organização da documentação mostra-se logo necessária, as


entrevistas são transcritas, o material é descrito em uma lista cronológica dos
documentos, acompanhado de notas sobre a natureza e a fonte de cada um e,
eventualmente, um breve apanhado de seu conteúdo [...] será preciso um
estudo minucioso de seu conteúdo, das palavras e frases que o compõem,
procurar-lhes o sentido, captar-lhes as intenções, comparar, avaliar, descartar
o acessório, reconhecer o essencial e selecioná-lo em torno das ideias
principais [...].

A partir da transcrição e organização dos dados, efetuamos a sua distribuição em


categorias, buscando trabalhar as determinações sócio históricas e realizando também uma
nucleação das falas, separando o mais frequente e o que mais se diferenciava. O próximo
passo foi a interpretação dos resultados obtidos a partir de fontes teórico-metodológicas
atinentes ao objeto estudado.
Esta dissertação está organizada em quatro capítulos, além desta introdução que
pontua as motivações, a relevância e os objetivos do referido estudo. No segundo capítulo,
efetuamos uma discussão sobre como historicamente a sociedade Ocidental vem tratando as
pessoas com deficiência e especialmente a visual, discutindo especialmente como o corpo
com deficiência vem sendo estigmatizado e situado a partir dos signos do disforme e da
anormalidade e trazendo ao final um conjunto de teorias acerca da deficiência visual.
O terceiro capítulo apresenta alguns dos marcos na história das pessoas com
deficiência visual no Ensino Superior, discutindo desde a noção de integração até a noção
contemporânea de inclusão, e concluindo com uma discussão sobre a presença de
estudantes com deficiência na educação superior no Brasil.
O quarto capítulo tem por escopo tratar da política de inclusão de estudantes cegos
na UFRN. Para tanto, examina a ampliação da noção de deficiência que hoje tem lugar na
UFRN, discute o crescimento do número de estudantes matriculados, trata do lugar da
CAENE mediando esta política e apresenta o perfil dos estudantes atendidos pela CAENE.
O quinto capítulo analisa os dados empíricos coletados na pesquisa de campo. Em
primeiro lugar, apresenta os sujeitos entrevistados, que são identificados através de
pseudônimos, para preservar sua privacidade. Em seguida, traz suas expectativas em torno
da UFRN anteriormente ao ingresso e o processo envolvendo este ingresso. Traz então
suas considerações a respeito de acessibilidade, equipamentos urbanos e recursos
31

tecnológicos e em seguida suas observações em torno de qualificação docente,


preconceito, distanciamento/isolamento e interação social/empatia para discutir barreiras
físicas e atitudinais implicando no acesso e na permanência destes estudantes na UFRN. O
capítulo se conclui abordando o lugar na CAENE em sua busca por diminuir o impacto
destas barreiras nas trajetórias acadêmicas dos estudantes cegos nesta instituição. Em
seguida, são efetuadas as considerações finais.
32

2 ASPECTOS HISTÓRICO-CONCEITUAIS EM TORNO DE DEFICIÊNCIA NO


OCIDENTE

Neste capítulo serão vistos algumas dimensões em torno da noção de corpo e sua
vinculação com os aspectos inerentes ao “eficiente”, “capaz”, “normal” e /ou “ útil”. Em
outros termos, este resgate na forma de apreensão do corpo propiciará o desenvolvimento de
reflexões e análises acerca do estigma historicamente e culturalmente sofridos por pessoas
com deficiência, apreendidas como sujeitos, cujos corpos não atendem aos padrões
preestabelecidos tornando, esses sujeitos sociais vítimas de discriminações e de dificuldades
no acesso aos direitos sociais.
Dentre esses elementos também serão apreendidos as raízes simbólicas da noção de
deficiência no Ocidente, e como esta se encontra com o estigma, alimentando uma atitude de
exclusão que percebe os indivíduos com deficiência a partir do grotesco, do ridículo e da
noção de imperfeição. A procura pelo aperfeiçoamento, presente desde há muito no mundo
ocidental recebe atualmente inflexões peculiares. Assim, buscando compreender estas
questões e suas implicações oferecemos a seguir uma discussão histórico-conceitual.

2.1 CORPO, HARMONIA E DEFICIÊNCIA NO MUNDO GRECO-ROMANO

A noção de corpo no Ocidente percorreu conceitos, definições, subjugações,


valorizações e uma cansativa tentativa de melhor entendê-lo e encaixá-lo nos propósitos das
sociedades (RODRIGUES, 1999). Ora, desde a Antiguidade Clássica, a importância do corpo
enquanto signo está vinculada a concepções estéticas e morais que influenciam as próprias
relações sociais (SANT`ANNA, 2000). Assim, conforme Goellner (2003, p.28):

O corpo é uma construção sobre a qual são conferidas diferentes marcas em


diferentes tempos, espaços, conjunturas econômicas, grupos sociais, étnicos,
etc. Não é, portanto, algo dado a priori nem mesmo é universal: o corpo é
provisório, mutável e mutante, suscetível a inúmeras intervenções consoante
o desenvolvimento científico e tecnológico de cada cultura bem como suas
leis, seus códigos morais, as representações que cria sobre os corpos, os
discursos que sobre ele produz e reproduz.

Para Goellner, a linguagem tem um lugar fundamental na definição deste:


33

O corpo é também o que dele se diz e aqui estou a afirmar que o corpo é
construído, também, pela linguagem. Ou seja, a linguagem não apenas
reflete o que existe. Ela própria cria o existente e, com relação ao corpo, a
linguagem tem o poder de nomeá-lo, classificá-lo, definir-lhe normalidades e
anormalidades, instituir, por exemplo, o que é considerado como corpo
belo, jovem e saudável. Representações estas que não são universais nem
mesmo fixas. São sempre temporárias, efêmeras, inconstantes e variam
conforme o lugar/tempo onde este corpo circula, vive, se expressa, se produz
e é produzido. (GOELLNER, 2003, p.29, grifo nosso).

A linguagem e a cultura, portanto, instituem o que pode ser considerado como padrão
de normalidade e de “anormalidade”. Ora, na Grécia Antiga, a beleza, a perfeição e a simetria
foram atributos de tal maneira, essenciais, que “as relações sociais foram construídas e
consolidadas pelo corpo” (GONÇALVES, 1994, p.18)10.
Articulada às dualidades perfeição/ imperfeição e simetria/ assimetria, surgem as
diferentes concepções em torno de deficiência no Ocidente. Ora, durante muito tempo na
história Ocidental as pessoas com deficiência foram vistas como óbices para a sociedade,
tratadas através da segregação, e quando não eram mortas chegavam a ser desprezadas, à
própria sorte. O Ocidente durante muito tempo perseguiu, ignorou, explorou e rejeitou as
pessoas com deficiência, frequentemente considerados possuídos por espíritos demoníacos ou
vítimas da sina diabólica e feitiçaria (PESSOTTI, 1984).
No mundo greco-romano, e particularmente em Esparta, os indivíduos do sexo
masculino dos 7 (sete) aos 37 (trinta e sete) anos, deveriam estar à disposição do serviço
militar. Devido este motivo, exigiam-se homens saudáveis, capazes de proteger a nação
durante as constantes batalhas. Contudo, aqueles que tivessem algum tipo de deficiência não
possuíam aptidão para o exercício da guerra. Concomitante a esse cenário, no decurso do seu
nascimento os bebês foram conduzidos a uma espécie de comissão oficial organizada por
anciãos de autoridade eminente, de acordo com os dispositivos legais:

[...] lhes parecia feia, disforme e franzina, como refere, Plutarco, esses
mesmos anciãos, em nome do Estado e da linhagem de famílias que
representavam, ficavam com a criança. Tomavam-na logo a seguir e a
levavam a um local chamado Ápothetai, que significa depósito. Tratava-se
de um abismo situado na cadeia de montanhas Tahgetos, perto de Esparta,

10
GONÇALVES, Maria Augusta Salim. Sentir, Pensar, Agir – Corporeidade e Educação. Campinas – SP:
Papirus, 1994.
34

onde a criança era lançada e encontraria a morte, pois, tinham a opinião de


que não era bom nem para a criança nem para a república que ela vivesse,
visto como desde o nascimento não se mostrava bem constituída para ser
forte, sã e rija durante toda a vida (SILVA, 1986, p. 122).

Em Atenas, reconhecida por muitos historiadores como o berço da civilização, o


cuidado para com as pessoas com deficiência não recebia distinção daquele tratamento dado
na civilização espartana. No caso do nascimento de um bebê com alguma deficiência, o
próprio genitor deveria matá-lo. O extermínio de crianças com deficiência era tão normal que,
mesmo os maiores pensadores épicos estavam de acordo com esses hábitos. Platão (428 348
a.C.) ao discorrer como deveria ser uma república afirma: “no que concerne aos que
receberam corpo mal organizado, deixa-os morrer (...) quanto às crianças doentes e às que
sofrerem qualquer deformidade, serão levadas, como convém, a paradeiro desconhecido e
secreto” (Platão apud Silva,1986, p. 124). Quanto a Aristóteles (384 322 a.C.), sua concepção
resumia-se no seguinte pensamento: “quanto, a saber, quais as crianças que se deve abandonar
ou educar, deveria existir uma lei que proíba alimentar toda criança disforme” (Aristóteles
apud Silva, 1986 p. 124).
Cícero, que viveu entre 106 a.C. e 43 a.C., comenta em sua obra "De Legibus", que
nas Leis das Doze Tábuas havia uma determinação para o extermínio de crianças
consideradas como anormais. Tábua IV (Sobre o Direito do Pai e Direito do Casamento): Lei
III: O pai imediatamente matará o filho monstruoso e contrário à forma natural do gênero
humano que lhe tenha nascido há pouco (CÍCERO, 1967). Este mesmo pensador externou seu
ponto de vista a respeito do como se deveria proceder em relação as pessoas com deficiências
múltiplas:

[...] reunamos agora todos esses males num só indivíduo. Que ele seja surdo
e cego e que prove atrozes dores ele será logo consumido por esses
sofrimentos e, se por falta de sorte eles chegarem a se prolongar, por que
suportá-los? A morte é um refúgio seguro que o abrigará dessas horrendas
misérias (CÍCERO, 1967 apud SILVA, 1986, p.141).

Na Lei das XII Tábuas (451 a.C.) de Roma, a regra era que o filho nascido com
alguma anomalia tinha que ser morto após o nascimento. “Olho por olho, dente por dente”,
reiterava a crença de que deficiência era algo negativo e quando alguém possuísse alguma
deficiência é por que fazia jus. Neste caso, a pena de mutilação do nariz e das orelhas era
aplicada como castigo comum estigmatizador ou como vingança contra inimigos capturados
pelas legiões romanas. Caio Júlio César (100 a 44 a.C.), em sua obra de “De Bello Gallico”,
35

conta que essa pena era aplicada nos seus soldados em casos de faltas graves contra a
disciplina militar ou de desistência. Nos tempos dos Césares, muitas pessoas com deficiência
também eram consideradas incapaz e estranhas e serviam a atividades ligadas a circos
romanos, tavernas, estabelecimentos comerciais e bordeis, havendo, muitas vezes, nestes
últimos, meninas cegas sendo exploradas sexualmente.

2.2 CORPO, ABOMINAÇÃO E DEGRADAÇÃO: O CRISTIANISMO E AS PESSOAS


COM DEFICIÊNCIA

O Cristianismo funda-se na noção de que o corpo é fundamentalmente fonte de


pecado. Para o papa Gregório Magno11 o “corpo é a abominável vestimenta da alma”.
Todavia, é glorificado, nomeadamente através do corpo de Cristo, já que a dor física teria uma
"ressonância espiritual". A lição promulgada era a da morte de Cristo, o lidar bem com a dor
corporal, que seria mais substancial do que saber lidar com os prazeres (TUCHERMAN,
2004). Assim é que competia ao humano se revelar e suplantar o seu próprio corpo
externando-se como alma que deve combater os desejos a fim de escapar da morte e
conquistar a eternidade e a salvação (VAZ, 2006).
Durante a Idade Medieval, o corpo foi então reprimido e censurado pelo dogmatismo
religioso. Nesse período, a Igreja Católica era possuidora do saber, controlando, assim, as
concepções criadas. A sociedade se preocupava mais com a salvação da alma do que com os
cuidados que se deviam atentar ao corpo. A interferência da religião envolvia o campo moral,
os relacionamentos interpessoais, a vida familiar, a forma de pensar e até mesmo de se vestir
(DANTAS, 2005).
Neste sentido é que princípios filosóficos que substanciavam as práticas corporais
greco-romanas perderam sua influência e a busca por uma santidade do corpo se tornou, cada
vez mais, virtude preponderante, sendo o conhecimento corporal um ato de mácula para a
coletividade cristã. Elementos como o paraíso perdido, o pecado, as privações, a confissão, o
sacrifício, as oferendas, as penitências eram usados como controle do corpo (MOREIRA,
1996).

11
Papa Gregório I (em latim: Gregorius I), conhecido como Gregório Magno ou Gregório, o
Grande foi papa entre 3 (três) de setembro de 590 e sua morte, em 12 (doze) de março de 604. Ele é conhecido
principalmente por suas obras, mais numerosas que as de seus predecessores. Gregório é também conhecido
como Gregório, o Dialogador na Ortodoxia por causa de seus "Diálogos" e é por isso que seu nome aparece em
algumas obras listado como "Gregório Dialogus". Foi o primeiro papa a ter sido monge antes do pontificado
36

O advento do cristianismo traz também alguma mudança na concepção acerca da


pessoa com deficiência. Estas passam a ser consideradas filhas do deus cristão, assim como as
demais pessoas. Assim, conforme registro dos evangelistas bíblicos "[...] segundo seus
relatos, Jesus fez mais de 40 milagres notórios. Deles todos, pelo menos 21 são relacionados à
pessoas com deficiência física ou sensoriais [...]” (SILVA, 1986, p. 88). O evangelho eleva a
deficiência da categoria de pecado e culpa para um meio de ganhar o céu dos cristãos.
(MECLOY, 1974; PESSOTI, 1984; AMIRALIAN, 1986; SILVA, 1986; ROCHA,
1987; AMARAL, 1995). Posteriormente, o cristianismo aponta também que a aceitação da
existência dessas pessoas era a afirmação de que elas seriam "instrumentos" de seu deus para
"alertar" homens e mulheres sobre "comportamentos adequados" ou para lhes "proporcionar a
oportunidade de fazer caridade" (BIANCHETTI, 2006, p.33). Neste contexto, o cego não
seria mais aquela alma condenada a viver na escuridão e no isolamento, nem sequer o aleijado
um fardo a ser conduzido, ou motivo de desonra.
Assim é que na Idade Média, a pessoa com deficiência foi elevada ao status de
possuidor de alma, não podendo mais ser exterminado. Porém, a deficiência passou a ser
atribuída frequentemente à possessão demoníaca, e sendo assim produziram-se no processo de
sociabilidade atitudes sociais de intolerância e punição perpetradas por intermédio de torturas,
açoites, prisões e outros castigos à pessoa com deficiência (ARANHA, 1995). Por esta época
a pessoas com deficiência será levado também a se "abrigar" em conventos e igrejas, como
nos diz Pessoti (1984):

[...] o cristianismo modifica o status do deficiente que, desde os primeiros


séculos da propagação do cristianismo na Europa, passa de coisa a pessoa.
Mas a igualdade de status moral ou teológico não corresponderá, até a época
do iluminismo, a uma igualdade civil, de direitos. Dotado de alma e
beneficiado pela redenção de Cristo, o deficiente mental passa a ser acolhido
caritativamente em conventos e igrejas, onde ganha a sobrevivência,
possivelmente em troca de pequenos serviços à instituição ou à pessoa
“benemérita” que o abriga (PESSOTTI, 1984, p. 4-5).

O abrigamento foi uma forma recorrente de a sociedade tratar as pessoas com


deficiência. Iniciado no final da Antiguidade Clássica e aprofundado na Idade Média, por este
modelo temos instituições (serviços de acolhimento, nosocômios e manicômios, etc.)
usualmente mantidas pela Igreja Católica ou por senhores de posses, nas quais era internada
uma parte das pessoas senis e doentes que não reunia condições de prover meios de
subsistência. Estes lugares "serviram também de abrigamento para pessoas impossibilitadas
37

de prover seu próprio sustento, devido às limitações físicas e sensoriais" (SILVA, 1986,
p.204).
Com a criação desses "lugares de refúgio" como asilos, hospitais e hospícios (como
chamados naquela época), as pessoas com deficiência foram retirados da convivência social e
confinados, passando a compartilhar do mesmo espaço das pessoas com saúde debilitada. A
partir desse processo de acompanhamento, "a rejeição se transforma na Ambiguidade,
proteção, segregação ou, em nível teológico, no dilema caridade-castigo. (...) Mas enquanto o
teto protege o cristão, as paredes escondem e isolam o incômodo ou inútil". (PESSOTTI,
1984, p.7).
Segundo Pessotti (1984), foi apenas no século XIII que surgiu na Bélgica a primeira
instituição (uma colônia agrícola) para abrigar as pessoas em sofrimento psíquico. Na
Inglaterra, em 1325, foi elaborada a primeira legislação acerca dos cuidados a serem tomados
com a sobrevivência e, principalmente, com os bens das pessoas acometidas com transtornos
psíquicos, consideradas incapazes. No Decreto de Eduardo II, rei da Inglaterra, encontra-se,
um ‘guia para proteger os direitos e as propriedades dos “idiotas” e para os cuidados
cotidianos’ de que necessitam. Face ao exposto, foi criada uma possibilidade para impedir a
exploração das pessoas com deficiência, comumente naquele período na Europa, dominada
pelos romanos antes da predominância do Cristianismo.
O modelo místico de que a pessoa com deficiência era percebida como fruto de ações
espirituais começa a ser questionado a partir de alguns acontecimentos que ocorreram ainda
no final do Período Medieval. A ampliação do mundo geograficamente conhecido foi o
resultado das grandes descobertas feitas por portugueses e castelhanos no final do século XV
que, contribuíram para que nos séculos XVI e XVII ocorresse um progressivo aumento do
mercado por produtos manufaturados, a possibilidade de maior acumulação de capitais e o
progresso técnico-científico, impulsionando as condições do ser humano dominar a natureza.
Isso permitiu ao humano ser o agente principal, interrogando a concepção teocêntrica e
inaugurando o antropocentrismo. Essas transformações implicaram no fim do modo de
produção feudalista e no surgimento do modelo capitalista e, com isso, os tradicionais
costumes medievais cederam lugar a uma nova cultura, característica da modernidade.

2.3 RENASCIMENTO: O HUMANO COMO CENTRO DO UNIVERSO


38

O século XVI se caracteriza por certa modificação de costumes e inovações na


criação filosófica, científica e tecnológica. Houve uma busca de ruptura entre a “ordem
humana” e a “ordem natural”, e assim foram separados Deus, Homem e Natureza. Ao humano
outorgou-se o direito a se apropriar da herança do “reino natural”. Com o antropocentrismo, o
ser humano, numa concepção pragmática e colonizadora, foi contemplado como o
“proprietário da natureza” (LUZ,1988, p.152).
É neste caminho que a partir do século XVII passa-se a ter uma nova perspectiva em
torno de natureza, e, pois, de corpo. A redescoberta e revalorização das referências culturais
da antiguidade clássica, objetivando um ideal humanista e naturalista, caracterizou um
movimento ocorrido na Europa, conhecido como Renascimento que, possibilitou a transição
do pensamento medieval para uma nova abordagem do ser humano, iniciando a libertação das
amarras da visão religiosa de que as marcas corporais são fruto do pecado, da ação demoníaca
ou meio de salvação (Rodrigues, 1999). Aqui o pensamento e sentimentos eram apenas fiéis
depositários do espírito, espelho da alma, símbolo da condição física do humano.
Ou seja, se havia um cego era porque o espírito daquele desprovido visualmente não
era possuidor da perfeição, o "defeito" do corpo era reflexo da alma e do espírito. É apenas
com o surgimento da ciência médica entre os séculos XVIII e XIX que se separa corpo de
alma/espírito, deixando o corpo à explicação da ciência. A partir deste período, abriu-se o
caminho para a neurologia, a anatomia, a psiquiatria e outros ramos da medicina. Mas é só no
realmente no século XX que se vai rejeitar a ideia de "corpo defeituoso, reflexo de uma alma
penosa" (RODRIGUES, 1999).
Neste processo, corpo, tempo, espaço e natureza perdem sua sacralização e são
convertidos em materialidade. Passa-se a ter uma nova concepção de humano e sobre a
natureza que o cerca. Os hábitos pretéritos do pensamento medieval são destituídos de
significância, com o progresso de dados empíricos obtidos pela ciência, como a anatomia e as
teorias científicas, e surgem assim novas interpretações sobre a materialidade corporal. É
nesse contexto que ocorre uma mudança da concepção do corpo na medicina. Este é
transformado em um artefato, uma máquina cuja apreensão e funcionalidade passam a ser
explicados também pelos processos mecânicos, físicos e químicos, plenamente objetivos, não
mais dependendo da dinâmica do Cosmos e destituído de uma característica própria. Com o
exercício da anatomia e das teorias das ciências naturais, o corpo torna-se objeto de uma
multiplicidade de experiências. Ele deixa de ser habitado por uma alma transcendental, para
39

ser substituído pela natureza, interesse da medicina moderna no Renascimento (BRANDÃO,


2003).

2.4 MODERNIDADE E INSTITUIÇÃO HOSPITALAR: DEFICIÊNCIA E TRATAMENTO


ENQUANTO INTERNAMENTO

A Idade Moderna é o ponto de partida para a ruptura com o antigo regime feudal e a
inauguração do método científico e da razão, perseguida pelo teocentrismo dominante nos
últimos dez séculos no continente europeu. A decadência de Constantinopla e a fuga de
intelectuais da região ocupada pelo Islamismo, para o Império Romano, recuperaram noções
alicerçadas no pensamento autônomo do humano, especialmente da civilização greco-romana
dos séculos anteriores à oficialização do cristianismo como religião romana (FIGUEIRA,
2005).
Entre o final da Idade Média e o começo da Idade Moderna, presenciamos as
primeiras transformações oriundas dos discursos renascentistas, que logo revolucionaram as
artes, a economia e a política, ocasionando assim mudanças que afetariam todos os aspectos
da vida humana, pois que passariam a tomar o humano enquanto centro do mundo. Esta nova
realidade também irá afetar o que se pensava sobre a pessoa com deficiência:

Na penosa história do homem portador de deficiência começava a findar


uma longa e muito obscura etapa. Iniciava a humanidade mais esclarecida os
tempos conhecidos como ‘Renascimento’ – época dos primeiros direitos dos
homens postos à margem da sociedade, dos passos decisivos da medicina na
área de cirurgia ortopédica e outras, do estabelecimento de uma filosofia
humanista e mais voltada para o homem, e também da sedimentação de
atendimento mais científico ao ser humano em geral (SILVA, 1986, p. 221).

Silva (1986) ainda pondera que, o século XVI foi entendido como marco da
Educação Especial voltado para os estudantes surdos na Espanha. Contudo, a
institucionalização aconteceu no século XVIII, após a implantação dos institutos públicos
destinados ao “surdos-mudos”, como chamado naquela época, em Paris (1755), e
concomitantemente os institutos para cegos (1784). Sendo assim, em meados do século
XVIII, surgem as primeiras instituições públicas voltadas para a educação de pessoas com
deficiência auditiva (1760) e visuais (1784) ancoradas em concepções científicas
organizadas na França, de acordo com afirmação de Bueno:
40

O surgimento das primeiras instituições escolares especializadas


correspondeu ao ideal liberal de extensão das oportunidades educacionais
para todos, aspecto sempre presente na educação especial no mundo
moderno, respondeu também ao processo de exclusão do meio social
daqueles que podiam interferir na ordem necessária ao desenvolvimento da
nova forma de organização social (BUENO, 1993, p.64).

Na Idade Moderna houve uma melhoria no tratamento das pessoas com deficiência,
em razão da criação dos hospitais, do progresso da medicina e do surgimento de instrumentos
que facilitaram o cotidiano dessas pessoas. É nesse contexto que a sociedade passa a
compreender que esses indivíduos demandam cuidados com a finalidade de minimizar seu
sofrimento. Aranha (1995) menciona que nos séculos XVII e XVIII, a temática da deficiência
teve um grande impulso na área da medicina e da educação, com ações que foram desde o
ensino especial até a institucionalização. No entanto, esse progresso apresentava,
indubitavelmente, aspectos deficitários que demandavam aperfeiçoamentos contínuos.
Em meados do século XVIII, já no período do Iluminismo, destacaram-se mudanças
sociais e avanços científicos no âmbito da pessoa com deficiência visual que contribuíram
para elucidações sobre as condições congênitas, disfunções sensoriais e distúrbios mentais e
físicos; assim, as pessoas cegas passaram a ser vistas de forma diferente. As pessoas com
deficiência visual ingressaram no debate acerca das questões anatômicas e fisiológicas, não
mais na visão mística, pelo contrário, mas através da perspectiva científica.
Segundo Bianchetti (2006), com o desenvolvimento científico, a medicina começa a
se preocupar e investigar as possíveis causas das múltiplas deficiências. Estas são comparadas
a quadros de adoecimentos que em certos casos são passíveis de cura, mediante tratamento
comportamental. A origem da deficiência, por muito tempo vista enquanto produto de forças
transcendentais é substituída por uma concepção médica organicista, configurando-se assim,
como um problema de ordem científica e não mais religioso.
Entre os séculos XVII e XIX, consolidou-se a visão organicista da deficiência, de
corpo e de indivíduo e é então que as pessoas com deficiência tornam-se objetos de
investigação da medicina. É nesse contexto que emergem as primeiras discussões realmente
cientificas acerca da pessoa com deficiência (BALEOTTI, DEL-MASSO, 2008). Ademais,

[...] a incorporação da natureza humana pela análise científica foi feita a


partir dos progressos da biologia (século XIX), que carregou todo o
reducionismo e o determinismo biológico. [...] Estabeleceram-se, assim,
normas gerais para as propriedades, sendo qualquer desvio da norma
41

interpretado como anomalia, que poderia refletir problemas médicos, dos


quais o indivíduo deveria ser tratado. (PAN, 2008, p. 40-41).

Essa acepção biológica forneceu os primeiros pressupostos científicos para o


entendimento da deficiência numa perspectiva livre de mediações religiosas, iniciando-se já
nos dois primeiros séculos da sociedade moderna (XVI e XVII). Neste caso, o que se
constatou, principalmente, com aqueles que eram pertinentes aos setores explorados da
sociedade, foi a segregação por meio do internamento, ou seja, a institucionalização das
pessoas com deficiência. Do exposto acima, o entendimento relativo ao indivíduo com algum
tipo de deficiência perpassou, gradualmente, por várias transformações. Inicialmente, os
cuidados abarcavam apenas os filhos das famílias nobres, pois existia o predomínio da
valorização e atenção somente aos que possuíam condições objetivas ou posições sociais
eminentes.
Registra-se aí o surgimento de novos conceitos e modificações marcadas pelo
humanismo. Neste contexto, segundo Kassar (1999, p.4) “aparece uma extensa população de
pobres, mendigos e pessoas com deficiência, que se reuniam para mendigar.” Neste sentido, a
presença da miséria resultou na expectativa de que alguma estratégia deveria ser adotada no
enfrentamento da pobreza e das pessoas com deficiência. Face ao exposto, as instâncias
hospitalares apresentavam características semelhantes a cárceres, pois, sequer possuíam
qualquer tipo de atendimento especializado. Em contrapartida, introduziram um tratamento
voltado para as pessoas com deficiência visual e auditiva, com assistência especializada em
ortopedia para os mutilados oriundos das guerras.
No século XVIII, a visão de máquina e a compreensão de seus mecanismos internos,
conquistam uma complexidade antes desconhecida. Passando a ser considerado independente
dos deuses e das forças externas, o corpo deve ser educado fisicamente. Com a ascensão da
burguesia europeia, houve uma alteração nas concepções de saúde e aparência física. “Agora,
a educação dos futuros cidadãos deve passar, sistematicamente, pela educação de seus corpos,
em particular, a dirigida aos movimentos musculares” (SANT’ ANNA, 2001, p. 107).
Dá-se, então, o surgimento das indústrias e fábricas, desenvolvidas a partir da
utilização da tecnologia mecânica. Por esta época, fim do século XVII, o corpo passa a ser
considerado como uma máquina repleta de engrenagens, o que traduz o mecanicismo da visão
cartesiana (ARANHA, MARTINS, 1996). A Modernidade se configurou como a época em
que preponderou a competitividade e a individualidade. O mundo passou a ser explicado
segundo as leis físicas, matemáticas, biológicas, que criaram nas pessoas uma nova maneira
42

de pensar e de se organizar socialmente. Neste período, coube à burguesia manipular o corpo


com o intuito de obter lucro, desenvolver as indústrias e consolidar o sistema capitalista.

2.5 SÉCULO XX: A PESSOA COM DEFICIÊNCIA HABILITADA PARA O AMBIENTE


EDUCACIONAL E O TRABALHO

Durante a Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, o Estado despertou para a


questão da habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência. Até esta época, as
anomalias oriundas da herança genética, epidemias e guerras são as causas únicas das
deficiências; porém, o trabalho efetuado sob condições precárias passam a resultar muito
frequentemente em acidentes mutiladores. Aliado a isto, temos a maior frequência de doenças
profissionais (FONSECA, 2000).
Em torno deste século, tiveram início as chamadas explicações naturalistas para o
comportamento das pessoas com deficiência. Ora, a hipótese naturalista é aquela que defende
que os fenômenos da natureza – físicos, biológicos – devem ser compreendidos em si
próprios, e não a partir de crenças ou ideias preconcebidas. Neste sentido é que este foi, à
época, um pensamento avançado e que impulsionou a ciência a desvencilhar-se de maneira
efetiva do pensamento religioso (LENOBLE, 2002).
É quando as ciências biológicas passam a pesquisar explicações fisiológicas e
anatômicas para as chamadas deformidades dos corpos, desencadeando na medicina a busca
pela reabilitação das pessoas com deficiência. Mazzotta (2005, p.17) afirma que isto levou ao
surgimento, “principalmente na Europa, dos primeiros movimentos pelo atendimento às
pessoas com deficiência, refletindo mudanças nas atitudes dos grupos sociais que se
concretizaram em medidas educacionais”.
De final do século XIX até meados do século XX, o desenvolvimento de escolas e/ou
classes especiais em instituições de ensino da rede pública visou oferecer às pessoas com
deficiência uma educação específica. É, contudo, apenas por volta da década de 1970 que se
buscará inserir essas pessoas em ambientes escolares, semelhantes aqueles ofertados às
pessoas consideradas “normais” (FERREIRA, 1992).

2.6 NOÇÕES ATUAIS SOBRE A DEFICIÊNCIA: MODELO MÉDICO VERSUS MODELO


SOCIAL
43

Em meados do século XX as discussões acerca da deficiência atravessaram dois


conceitos relativos à questão, que foram identificados como modelos clássicos em torno da
deficiência: o modelo médico e o modelo social. Ambos exprimem específicos entendimentos
acerca da deficiência.

2.6.1 Deficiência enquanto falta corporal: o modelo médico

O modelo médico, também conhecido como “modelo individual” (BARNES,


BARTON, OLIVER, 2002), encontra-se alicerçado nos impedimentos funcionais do corpo, na
esfera física, intelectual ou sensorial. Neste caso, entende-se que as limitações sociais que as
pessoas com deficiência apresentam são oriundas de impedimentos corporais, não aceitáveis,
perante a sociedade. Esta abordagem não admite a deficiência como uma expressão referente
à condição da diversidade humana.
Parafraseando Pereira (2006), esse modelo caracteriza a deficiência sempre pelo viés
de um diagnóstico a ser desvelado. Ante esse contexto, considera a existência de
"anormalidades" nos corpos, e as maneiras como estas condições são configuradas revelam as
"causas" das deficiências. Neste sentido, o enfoque é aplicado como uma fatalidade pessoal,
culpabilizando o indivíduo pelo fato de este apresentar alguma “deformidade” no corpo que
demanda ser ajustado aos padrões ou “normalizado”, por intermédio de algum procedimento
médico. Assim, a ênfase reside no corpo como procedência deste quadro e abordagem médica
não responsabiliza a sociedade pelo processo de exclusão pelas quais as pessoas com
deficiência são submetidas.
Neste modelo, se observa a deficiência como um estado trágico, sem considerar as
ações, as barreiras sociais e ambientais que envolvem esta condição. (BONFIM, 2009, p. 41),
já que advém deste modelo a premissa de que as limitações do corpo com deficiência são
inerentes à lesão. A crítica que se faz a este modelo é a de que sua preocupação está voltada,
exclusivamente à chamada cura, prevalecendo o diagnóstico e desconsiderando qualquer
responsabilidade social ou emocional. Charlton (2000) aponta a tendência da medicina em
categorizar os sujeitos:

Historicamente, a deficiência tem sido considerada a priori como uma


condição médica e as pessoas com deficiência, como doentes. Isto não tem a
ver com a doença em si, mas com uma categoria médica. Se as pessoas com
deficiência são, inicialmente, uma categoria da medicina, então, por
conceituação, somos muitas vezes considerados pela aparência e "corpos"
44

enfermos. A união da ciência (medicalização) e corpo (imagem) é um eficaz


limitador. (CHARLTON, 2000, p. 56, tradução nossa).12

O questionamento ao modelo médico se dá muito em torno de sua procura pela


normalização dos sujeitos, que acaba ocasionando o que Carvalho (2011, p.4) nos afirma: “O
modelo dificulta a aceitação da deficiência e, portanto, é concebível que a sociedade mantém
barreiras físicas e atitudinais que, muitas vezes, impossibilitam as pessoas com deficiência de
usufruir seus direitos básicos.” Esta concepção médica, de “anormalidade”, ante a deficiência,
resulta frequentemente na segregação dos sujeitos com deficiência em relação à maioria da
população, impulsionando assim, a discriminação.
O modelo médico de compreensão da deficiência caracteriza um indivíduo enquanto
cego a partir do fato de que este não enxerga, ou seja, por ser alguém a quem falta à visão.
Todavia, a visão social da deficiência vai além da experiência da desigualdade pela cegueira,
que é expressa em uma sociedade pouco sensível às diferenças.

2.6.2 Além da biologia: o modelo social de análise da deficiência

Na década de 1970, surgiram novos estudos no Reino Unido e nos Estados Unidos
em torno da deficiência. Ao lado de uma perspectiva estritamente biomédica concernente aos
saberes médicos, psicológicos e de reabilitação, a deficiência passou a ser também um campo
das ciências sociais. Nessa revolução acadêmica, a deficiência deixa de ser vista como lesão
que estabelece restrições à participação social plena de um indivíduo. (DINIZ, 2007, p.9)
Esta perspectiva compreende que a pessoa com deficiência deve ter categorização
abrangente e complexa. Esta reconhece o corpo lesionado, porém também indica a
organização social que o oprime. Paul Hunt, sociólogo e com deficiência física, foi um dos
precursores do modelo social de deficiência no Reino Unido, na década de 1960. Hunt
procurava desmistificar o fenômeno sociológico da deficiência, a partir da conceituação de
estigma proposto por Erving Goffman (1988). Na visão goffmaniana, os corpos são espaços
demarcados por sinais que antecipam funções a ser exercidas pelos indivíduos. Um conjunto

12 Historically, disability has been considered a priori a medical condition and people with disabilities, sick.
This has nothing to do with disease per se but with a medical category. If people with disabilities are first a
category of medicine, then by definition we are often set apart and infirm "bodies" and their appearance. The
fusion of science (medicalization) and body (image) is a powerful constraint. (CHARLTON, 2000, p. 56).
45

de valores, simbolicamente, estaria associado aos sinais corporais. Neste sentido, deficiência
foi um dos temas que mais impulsionou os teóricos do estigma (DINIZ, 2007). Hunt escreveu
uma carta remetida ao jornal inglês “The Guardian”, em 20 de setembro de 1972, com o
seguinte teor:

Senhor Editor, as pessoas com lesões físicas severas encontram-se isoladas


em instituições sem as menores condições, onde suas ideias são ignoradas,
onde estão sujeitas ao autoritarismo e, comumente, a crueis regimes.
Proponho a formação de um grupo de pessoas que leve ao Parlamento as
ideias das pessoas que, hoje, vivem nessas instituições e das que
potencialmente irão substitui-las. Atenciosamente, (PAUL HUNT apud
DINIZ, 2007, p.13-14).

Hunt jamais conceberia o quanto este documento ocasionaria tantas repercussões.


Em decorrência deste ato diversas pessoas se manifestaram positivamente e propuseram a
representação de um grupo de pessoas com deficiência, de modo que em quatro anos foi
constituída a primeira organização política que deu origem à “Liga dos Lesados Físicos
Contra a Segregação” – Upias. A Upias foi a primeira organização política sobre deficiência a
ser formada e gerenciada por pessoas com deficiência no mundo. Instituições antigas, como o
Instituto Nacional para Cegos, talvez a mais antiga do mundo, no Reino Unido, ou o Instituto
Nacional de Educação de Surdos, no Brasil, eram entidades para a população com deficiência,
isto é, locais onde se confinavam pessoas com diferentes lesões físicas ou mentais, cuidando
delas e lhes oferecendo educação. Em geral, o objetivo dessas instituições e centros era o de
afastar as pessoas com lesões do convívio social ou o de normalizá-las para devolvê-las à
família ou à sociedade (DINIZ, 2007). A estratégia da Upias era provocadora, pois
desresponsabilizava o indivíduo pela opressão experimentada, transferindo-a para a
incapacidade da sociedade em prever e incluir a diversidade. Assim sendo, Diniz afirma que:

Oliver, Abberley, Finkelstein e tantos outros que responderam ao


chamamento de Hunt provocaram uma reviravolta no debate biomédico: ao
invés de internados para tratamento ou reabilitação, os deficientes estavam
encarcerados; a experiência da deficiência não era resultado de suas lesões,
mas do ambiente social hostil à diversidade física. O mais importante desse
movimento político vigoroso de crítica social foi que a Upias foi responsável
por um feito histórico, pois redefiniu lesão e deficiência em termos
sociológicos, e não mais estritamente biomédicos. (DINIZ, 2007, p.15).

É neste cenário que o modelo social identifica de maneira crítica o modo como a
sociedade ocidental lida com as diferenças, desconsiderando a diversidade dos cidadãos e
46

excluindo as pessoas com deficiência dos espaços sociopolíticos. Em oposição, esta


abordagem defende que o sujeito com deficiência retome o controle de sua própria vida e
ainda tenha a possibilidade de tomar decisões com sua participação ativa e politicamente na
sociedade. Nessa ótica, a deficiência é um construto coletivo entre indivíduos (com e/ou sem
deficiência) e a sociedade. Para o modelo social, a acessibilidade à saúde é um direito a ser
protegido entre tantos outros, igualmente primordiais e simultâneos como educação, emprego,
cultura, vida, lazer e desenvolvimento socioeconômico. Esses direitos contribuem para
garantir a equiparação de condições às pessoas com deficiência. É a partir desta perspectiva
que a sociedade passa a absorver conceitos como igualdade e inclusão em relação as pessoas
com deficiência.
47

3 A INCLUSÃO DE ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA NA EDUCAÇÃO


SUPERIOR: A EDUCAÇÃO INCLUSIVA DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NA
CONTEMPORANEIDADE OCIDENTAL E NO BRASIL

3.1 DA INTEGRAÇÃO À INCLUSÃO: RESPOSTAS LEGAIS E SOCIOEDUCACIONAIS


FRENTE AOS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO OCIDENTE
CONTEMPORÂNEO

Os séculos XVIII e XIX foram de grande relevância para as pessoas com deficiência,
e particularmente deficiência visual, ganhando destaque dois acontecimentos: no ano de 1784,
foi inaugurado na França o Instituto Real dos Jovens Cegos de Paris, destinado à educação de
pessoas cegas e em 1829, Louis Braille, um jovem cego e estudante desse instituto criou o
Sistema Braille (cf. ROCHA, 1987, CERQUEIRA E LEMOS, 1996 e MAZZOTA, 2001).
O Sistema Braille consiste num processo de leitura e escrita em relevo. Ele tem
como base a signografia inventada por Charles Barbier (oficial do exército francês), que
consistia num código secreto militar denominado "escrita noturna" (pois possibilitava a
comunicação noturna entre oficiais nas campanhas de guerra), composto da disposição de
doze linhas e pontos em relevo, cujas combinações formavam sílabas na língua francesa. A
significação tátil dos pontos em relevo do invento de Barbier foi a base para a criação do
Sistema Braille. Neste sistema, temos uma combinação de seis pontos dispostos em duas filas
verticais de três pontos cada uma, que combinados de acordo com o número e a posição
geram sessenta e três símbolos, suficientes para todo o alfabeto, números, símbolos
matemáticos, químicos, físicos e notas musicais, e recentemente símbolos da informática. A
invenção do sistema Braille foi extremamente importante para que as pessoas cegas pudessem
se colocar autonomamente na sociedade, pois que lhes facultava a possibilidade de ler e de
escrever (REINO, 2000).
Em 1837, a fundação do instituto "Ohio School for the Blind”, subsidiado pelo
governo americano, fez com que a sociedade americana despertasse para uma reflexão em
relação à obrigação do Estado para com a educação das pessoas com deficiência visual
(MAZZOTTA, 2001). Já no final do século XVIII e início do século XIX, foram fundadas
escolas para pessoas cegas na Alemanha e na Grã-Bretanha, baseadas no modelo do Instituto
Real dos Jovens Cegos de Paris (SILVA, 1986).
48

As duas grandes guerras mundiais no século XX fizeram com que surgisse na Europa
programas sociais para reintegrar os mutilados de guerra. Aliado a este aspecto, passou a
haver uma preocupação das organizações dos direitos humanos em garantir que essas pessoas,
depois de reabilitadas, pudessem de fato reintegrarem-se socialmente: foi a chamada "era da
integração" (cf. SANTOS, 1995, SILVA, 1986, ROCHA, 1987). Esta assim denominada
"integração" da pessoa com deficiência, nas décadas de 1960 e 1970 no Ocidente teve como
características a busca por sua inserção na escola regular e no mercado de trabalho,
objetivando a adaptação da pessoa com deficiência às exigências ou necessidades da
sociedade como um todo (SASSAKI, 1999; SANTOS, 1995). Até os anos de 1980, esta se
desenvolveu em "um contexto histórico em que pesaram questões como igualdade e direito de
oportunidades" (SANTOS, 1995, p.24).
Em face do exposto, salientamos que este chamado "movimento de integração" trazia
como princípio a ideia (hoje bastante criticada) de que as pessoas com deficiência deveriam
adaptar-se ao meio onde viviam para que pudessem ser integradas à sociedade.
O ano de 1981 proporcionou a abertura de algum espaço nos meios de comunicação
para uma maior orientação da sociedade sobre a importância desta integração da pessoa com
deficiência, depois que a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu este ano como
sendo o Ano e a Década da Pessoa com Deficiência. Devemos ressaltar também a realização
da Conferência Mundial de Educação para Todos (1990) e a Declaração de Salamanca 13 de
Princípios, Política e Prática para as Necessidades Educativas Especiais (1994).
A Declaração de Salamanca é fruto de uma Conferência Mundial sobre Necessidades
Educativas Especiais que foi realizada em Salamanca na Espanha, em junho de 1994. Com a
presença de representantes de 92 países e 25 organizações internacionais, a convenção
ratificou o comprometimento destes Países com uma Educação para Todos e assegurou o
acesso das crianças, jovens e adultos com necessidades educativas especiais ao sistema
regular de educação vigente. A Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas realizou
um evento mais recente, em 2008 na cidade de Genebra. Nesta, se reuniram ministros da
Educação, chefes de delegação e delegados dos 153 Estados-Membros, bem como
representantes de 20 organizações intergovernamentais, 25 Organizações Não
Governamentais (ONGs), fundações e outras instituições da sociedade civil, na 48ª

13 A Declaração de Salamanca nos diz que integração é "um processo dinâmico de participação das pessoas num
contexto relacional, legitimando sua interação com o meio físico e social" (Declaração de Salamanca e linha de
ação sobre necessidades educativas especiais, 1994, p. 18).
49

Conferência Internacional sobre Educação da UNESCO. Nesta Conferência na agenda


política foi discutida a Educação Inclusiva como uma das principais temáticas a serem
abordadas.
Na atualidade, vivemos a assim chamada "era da inclusão", que no entender de
Sassaki (1999), se dispõe a enfatizar: na verdade, é a sociedade que deve se adaptar para
poder incluir as pessoas com deficiência, e não o contrário. Neste sentido, estas, as "pessoas
com necessidades especiais" devem se preparar para assumir seu lugar na sociedade. Sob esta
perspectiva, cabe à sociedade como um todo o dever de se adaptar às diferenças individuais,
aceitando-as como atributo, e não como obstáculo, valorizando assim as diferenças e o
potencial de todos. Defendemos assim, de acordo com Sassaki (1999) que a inclusão social é
um processo que contribui para a construção de um novo tipo de sociedade através de
transformações, pequenas e grandes, nos ambientes físicos e na mentalidade de todas as
pessoas.
Ora, o anterior pensamento de integração atribuía a pessoa com deficiência a
responsabilidade de se "adequar" ao sistema, não havendo a necessidade de nenhuma
mudança na estrutura social vigente. Vê-se, assim, que este processo favorecia a manutenção
do sistema capitalista (MANTOAN, 1998). Já o processo que busca a inclusão é inverso, pois
além de denunciar as desigualdades e o desrespeito às minorias14, também reivindica a
mudança de estruturas físicas, concepções, pensamento e planejamento da sociedade, ou seja,
busca ser um processo contínuo, concretizado em ações cotidianas para fortalecer a identidade
social do indivíduo, procurando respeitar as diferenças individuais e não menosprezá-las.
Porém, apesar de o movimento da inclusão ter como princípio a finalidade de que as
pessoas devem ser respeitadas e inseridas socialmente independentemente de suas
características individuais, nas sociedades fundadas no modo de produção capitalista este
processo não é realizado em sua plenitude, em virtude da desigualdade estrutural do próprio
sistema; ora, no capitalismo não apenas as pessoas com deficiência são excluídas, mas
também todas aquelas que estão nos extratos mais pauperizados da sociedade ou que não se
encontram inseridas no mercado de trabalho, ou ainda as que necessitam da assistência do
Estado.

14 O conceito de minoria que adotamos é o genericamente aceito pelas Nações Unidas. Ele assinala minorias
como grupos distintos dentro da população do Estado, possuindo características étnicas, religiosas ou linguísticas
estáveis, que diferem daquelas do resto da população; em princípio numericamente inferiores ao resto da
população; em uma posição de não dominância; vítima de discriminação (cf. MORENO, 2009).
50

Ora, as populações com deficiência no mundo capitalista em geral, ainda que estejam
sob a defesa do Estado, que em termos legais as insere nos marcos da inclusão e da garantia
de direitos, ainda são vistas como "diferentes" e marcadas pelo estigma da dificuldade e da
impossibilidade. Além disso, a discriminação e o preconceito têm também cor, classe social e
gênero, gerando assim o nó da desigualdade (SAFFIOTI, 2004) que permeia a sociedade
racista/patriarcal/capitalista (CISNE, 2014), assim atingindo muito mais pessoas com
deficiência se estas são mulheres ou se são pretas/pardas ou se são pobres.

3.2 RESPOSTAS DO ESTADO E DA SOCIEDADE ÀS NECESSIDADES DAS


POPULAÇÕES COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL

Na época do Brasil Colônia, a Igreja Católica operou algumas iniciativas no que se


refere à atenção às pessoas com deficiência em nosso País. Foram encontrados escritos
datados do século XVI sobre a deficiência motora do padre Anchieta e de sistemas que
permitiam a locomoção das pessoas com deficiências motoras desenvolvidos por jesuítas
(CNBB, 2005).
Já o atendimento às pessoas cegas no Brasil iniciou-se em 1854, com a fundação do
Imperial Instituto de Meninos Cegos, na cidade do Rio de Janeiro, através do Decreto
Imperial nº 1.428, do Imperador D. Pedro II. Assim, o brasileiro José Álvares de Azevedo,
que estudou no Instituto Real dos Jovens Cegos, em Paris na França, foi o responsável por
encaminhar ao país a concepção e a iniciativa de criação de uma escola que atendesse pessoas
com deficiência visual (MAZZOTTA, 2005; BUENO, 1999).
Em 1891, com a Proclamação da República, o Imperial Instituto de Meninos Cegos
passou a ser denominado de Instituto Benjamin Constant (IBC), em homenagem ao
republicano Benjamin Constant Botelho de Magalhães, o qual administrou o educandário
entre os anos de 1869 e 1889. Pontuamos que este Instituto foi a única escola em nosso País
responsável pela educação de discentes cegos de sua fundação até meados de 1926, quando
então foi inaugurado em Belo Horizonte o Instituto São Rafael e no ano posterior em 1927, na
cidade de São Paulo se fundou o Instituto Profissional para Cegos Padre Chico.
Já na área mais ampla de educação especial para pessoas com deficiência, após a
década de 1930 surgiram instituições de caráter filantrópico, como o Lar das Moças Cegas em
São Paulo e a Sociedade Pestalozzi em Minas Gerais, que reúne hoje mais de cem entidades
em todo o País. O surgimento dos primeiros centros de reabilitação no Brasil surgiu logo após
51

a Segunda Guerra Mundial, quando o País foi afetado por uma forte epidemia de poliomielite.
Na década de 1950, como fruto da organização da sociedade civil surgiram instituições
geridas fora do aparelho estatal, tais como a então Associação de Assistência à Criança
Defeituosa (AACD) em São Paulo e no Rio de Janeiro a Associação Brasileira Beneficente de
Reabilitação (ABBR) e a primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE).
Atualmente, existem mais de duas mil APAEs espalhadas pelo Brasil, atendendo cerca de 280
mil pessoas com algum tipo de deficiência mental (CNBB, 2005).
Também na década de 1950 configurou-se um arcabouço jurídico voltado às pessoas
com deficiência. Em 1958 o Governo Federal instituiu uma campanha de educação e
reabilitação para pessoas com deficiência visual com a criação do Instituto Nacional de
Previdência Social (INPS), surgido a partir da fusão dos institutos existentes; foi quando
apareceu no Brasil o primeiro serviço governamental de reabilitação. Para Mendonça (1995,
p.160)

A preocupação central não era a assistência ao indivíduo, mas preparar as


pessoas para atender as necessidades do mercado de trabalho O objetivo era
reabilitar para que as pessoas voltassem ao mercado de trabalho adaptando-
se às novas tarefas e também desobrigando o Estado de mantê-los através da
prestação de benefícios. A reabilitação era entendida muito mais como
readaptação ocupacional (MENDONÇA, 1995, p.160).

Segundo Gugel (2006), como consequência das duas Guerras Mundiais (1914/1918 e
1939/1945), aumentou o número de ocorrências de deficiências físicas e sensoriais (visuais e
auditivas) no mundo Ocidental, com algum rebatimento no Brasil, o que levou a população
brasileira a exigir a formulação de leis e de políticas públicas voltadas para a garantia de
direitos às pessoas com deficiência.
No decurso da década de 1960, a educação especial particular prestava atendimento a
uma ínfima parcela da sociedade. Concomitantemente, neste período o Estado Brasileiro
promoveu campanhas nacionais em favor da educação das pessoas com deficiência. Nesse
contexto, surgiu a Campanha Nacional de Educação dos Cegos (CNEC) pelo Decreto nº
44.236, de 31 de maio de 1960. A partir de 1970, deu-se continuidade e ampliou-se o
atendimento na rede pública de ensino, quando foram instalados serviços de Educação
Especial em todas as Secretarias Estaduais de Educação. Em 1973, o Ministério da Educação
52

implantou o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), priorizando o plano de


inclusão da educação especial (MEC).
Porém, a mobilização autônoma das pessoas com deficiência no sentido de
desenvolverem lutas reivindicatórias próprias é fato bastante recente na história do nosso País.
Historicamente tuteladas pelas famílias, instituições especializadas e pelo Estado, sobretudo
em razão da propagação da ideia falaciosa que defendia sua "inutilidade para o trabalho",
pessoas com deficiência passaram a organizar grupos com características de luta e contestação
social mais sistematicamente em fins de 1979 e início de 1980. Foi um período que coincidiu
com o início da assim chamada "abertura política" após a ditadura militar iniciada em 1964,
uma conjuntura que passou a permitir o debate e a organização de diferentes setores da
comunidade.
As reivindicações específicas do movimento de pessoas com deficiência começaram
a ocorrer a partir de 1979, surgindo inicialmente nas cidades de Porto Alegre, Curitiba, Rio de
Janeiro, Recife, São Paulo, Salvador, Brasília e Ourinhos, no início sem articulação em
âmbito nacional. Posteriormente, estabelecida a comunicação entre os grupos organizados,
começou-se a realizar frequentes encontros em âmbitos local, regional e nacional para o
intercâmbio de informações e planejamento das ações (cf. SASSAKI, 2003).

As reuniões do movimento de São Paulo caminharam para metas concretas,


vencendo etapas com a força da união dos representantes e/ou integrantes
das associações Numa atmosfera descontraída e de aceitação mútua que,
todavia, não evitava o surgimento de confronto, às vezes duro, de ideias e
posicionamentos, os participantes do movimento discutiam acaloradamente
através de procedimentos democráticos. Tudo era anotado e, mais tarde,
duplicado para distribuição aos participantes que desta forma, iam
acumulando e lapidando as ideias mais representativas do movimento
(SASSAKI, 2003, p. 03).

Sob a conjuntura mundial de luta pelos direitos humanos durante os anos de 1980,
também em nosso País foram intensificadas lutas populares exigindo a garantia de direitos
plenos a todos os cidadãos, independentemente de raça/etnia, sexo/gênero, classe social,
religião ou deficiência física. Estes movimentos desembocaram na chamada "Constituição
Cidadã" de 1988, que traz no caput do artigo 5º o direito à igualdade sem distinção de
qualquer natureza. No entender de Gugel (2006), esta é uma noção importante na construção
de uma sociedade inclusiva.
Ainda consta na Constituição Federal em seus artigos 1° e 3° que os fundamentos da
Nação são promover a dignidade da pessoa humana e garantir o exercício da cidadania, para
53

que não haja desigualdades sociais e sejam eliminados quaisquer preconceitos ou


discriminações. Desta forma, é assinalado como norma constitucional que todas as pessoas,
inclusive as pessoas com deficiências têm direitos sociais à educação, à saúde, ao trabalho 15,
ao lazer, à segurança e à previdência social, garantidos em seu artigo 6°. Além disso, passa a
ser competência da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios cuidar da saúde
e prover assistência pública, proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência (artigo
23, inciso II). Neste ínterim, a Assistência Social vem disciplinada pelo artigo 203 da
Constituição; ela será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à
seguridade social, e traz como um de seus objetivos a habilitação e reabilitação das pessoas
portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária16.
Foi com a CF de 1988 que o atendimento educacional especializado às pessoas com
deficiência passou a ser oferecido, preferencialmente, na rede regular de ensino por
intermédio da Lei de Diretrizes e Bases Nacional (LDBEN) n° 9.394 de 1996, a educação
inclusiva foi implantada nos sistemas educacionais brasileiros, bem como em suas etapas e
modalidades da Educação Básica até a Educação Superior. Apesar de ter afiançada nos
dispositivos legais já mencionados, este documento depara-se com obstáculos que abarcam
questões subjetivas como: cultura, ideologia, indiferenças e discriminação; e objetivas como:
deslocamento, arquiteturas, suporte pedagógico, apoio social e outros, além de assegurar a
educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade.
Conforme Odeh (2000), as recomendações internacionais influenciaram
decisivamente nas políticas públicas de inclusão do estudante com deficiência na escola e que
foram aceitas, sem questionamentos pelos quadros legais dos países da América Latina,
embora sua regulamentação tenha acontecido com morosidade abstrata, de acordo com os

15
A partir de 1991, no Brasil, o artigo 93 da lei nº 8.213/91 obriga às empresas contratar um mínimo de pessoas
com deficiência, proporcional ao número total de seus trabalhadores. Esse dispositivo tem contribuído para a
inclusão social das pessoas com deficiência no trabalho. Porém, com base no Censo de 2000, estima-se que mais
de nove milhões de brasileiros em idade produtiva estão fora do mercado formal do trabalho, devido a condições
inadequadas de acessibilidade. Ora, existem ainda um número considerável de empresas que descumprem a lei
de cotas; há respaldo das leis, todavia, existe descompasso para pô-las em prática, o que dificulta a inclusão das
pessoas com deficiência no mercado de trabalho formal (cf. GUGEL, 2006).
16
Ressaltamos ainda um dos marcos conceituais na área do trabalho: a Convenção 159 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT); ela visa garantir medidas convenientes de reabilitação profissional a todas as
categorias de pessoas com deficiência, e promover oportunidades de emprego para essas pessoas no mercado
regular de trabalho (GUGEL, 2006). Também deve ser destacada a Lei Federal nº 8.112, de 1990, que dispõe
sobre o Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da União, das autarquias e das fundações públicas
federais. De acordo com seu artigo 5º, parágrafo segundo: "Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o
direito de se inscrever em concurso público para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a
deficiência de que são portadoras; para tais pessoas serão reservadas até 20% das vagas oferecidas no concurso".
54

instrumentos legislativos de cada país. A consequência desse processo é uma “integração não-
planejada"17, que tem início na educação básica com o acesso dos estudantes com
necessidades educacionais nas escolas regulares.
Percebe-se que o sistema educacional, desde o início dos anos 1990, está legalmente
assegurado no discurso inclusivo, nos princípios democráticos de igualdade, equidade e
diversidade e que a prescrição normativa legal, que prevê a garantia dessa igualdade de
direitos e condições seja, de tal modo, importante; as leis por si só, não garantem práticas
inclusivas na educação, muitas demonstram distanciamento das proposições teóricas e legais.
Logo, em uma sociedade justa organizada, não se pode admitir diferenças, todavia, o que se
percebe é que, o modo pelo qual a sociedade atual lida com a educação inclusiva ainda, esta
muito distante do que se prevê na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência
(Estatuto da Pessoa com Deficiência), instituída em 2015, destinada a assegurar e a promover,
em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa
com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania (BRASIL, 2015).
Assim é que, na atualidade, o Brasil possui amplo aparato legislativo destinado as
pessoas com deficiência, aprovados desde Constituição Federal de 1988. Este aparato é fruto
de conquistas sociais e se materializam em políticas públicas direcionadas à inclusão
educacional. Este marco legal, de acordo com a cartilha Política Nacional de Educação
Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva e demais documentos legais e normativos, se
consubstancia em:

I- Constituição Federal/1988, arts. 205, 206 e 208: assegura o direito de


todos à educação (art. 205), tendo como princípio do ensino a igualdade de
condições para o acesso e a permanência na escola (art. 206, I) e garantindo
acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística,
segundo a capacidade de cada um (art. 208, V).
II- Decreto nº 3.956/2001 Promulga a Convenção Interamericana para
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas
Portadoras de Deficiência.
III- Lei nº 10.436/2002, que reconheceu a Língua Brasileira de Sinais como
meio legal de comunicação e expressão, determinando que sejam garantidas
formas institucionalizadas de apoiar seu uso e difusão, bem como a inclusão
da disciplina de Libras como parte integrante do currículo nos cursos de
formação de professores e de fonoaudiologia.
IV- Portaria nº 2.678/2002, que aprovou diretriz e normas para o uso, o
ensino, a produção e a difusão do Sistema Braille em todas as modalidades

17
Terminação usado por Odeh (2000).
55

de ensino, compreendendo o projeto da Grafia Braile para a Língua


Portuguesa e a recomendação para o seu uso em todo o território nacional.
V- Portaria nº 3.284/2003 Substituiu a Portaria nº 1.679/1999, sendo ainda
mais específica na enumeração das condições Referenciais de acessibilidade
na educação superior que devem ser construídas nas IES para instruir o
processo de avaliação das mesmas.
VI- Em 2003, o Ministério da Educação cria o Programa Educação
Inclusiva: direito à diversidade, visando transformar os sistemas de ensino
em sistemas educacionais inclusivos, que promove um amplo processo de
formação de gestores e educadores nos municípios brasileiros para a garantia
do direito de acesso de todos à escolarização, a organização do atendimento
educacional especializado e a promoção da acessibilidade.
VII- Em 2004, o Ministério Público Federal divulga o documento O Acesso
de Estudantes com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede
Regular, com o objetivo de disseminar os conceitos e diretrizes mundiais
para a inclusão, reafirmando o direito e os benefícios da escolarização de
alunos com e sem deficiência nas turmas comuns do ensino regular.
VIII- A ABNT NBR 9.050/2004, que dispõe sobre a acessibilidade
arquitetônica a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos.
IX- Impulsionando a inclusão educacional e social, o Decreto nº 5.296/04
regulamentou as leis nº 10.048/00 e nº 10.098/00, estabelecendo normas e
critérios para a promoção da acessibilidade às pessoas com deficiência ou
com mobilidade reduzida. Nesse contexto, o Programa Brasil Acessível é
implementado com o objetivo de promover e apoiar o desenvolvimento de
ações que garantam a acessibilidade.
X- O Decreto nº 5.626/2005, que regulamenta a Lei nº 10.436/2002, visando
a inclusão dos discentes surdos, dispõe sobre a inclusão de Libras como
disciplina curricular, a formação e a certificação de professor, instrutor e
tradutor/intérprete de Libras, o ensino da Língua Portuguesa como segunda
língua para alunos surdos e a organização da educação bilíngue no ensino
regular.
XI- Em 2005, com a implantação dos Núcleos de Atividade das Altas
Habilidades/Superdotação – NAAH/S em todos os estados e no Distrito
Federal são formados centros de referência para o atendimento educacional
especializado aos estudantes com altas habilidades/superdotação, a
orientação às famílias e a formação continuada aos professores.
Nacionalmente, são disseminados referenciais e orientações para
organização da política de educação inclusiva nesta área, de forma a garantir
esse atendimento aos alunos da rede pública de ensino.
XII- A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada
pela ONU em 2006, da qual o Brasil é signatário, estabelece que os Estados
Parte devam assegurar um sistema de educação inclusiva em todos os níveis
de ensino, em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e
social compatível com a meta de inclusão plena.
XIII- Em 2006, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, o Ministério da
Educação, o Ministério da Justiça e a UNESCO lançam o Plano Nacional de
Educação em Direitos Humanos que objetiva, dentre as suas ações,
fomentarem, no currículo da educação básica, as temáticas relativas às
pessoas com deficiência e desenvolver ações afirmativas que possibilitem
inclusão, acesso e permanência na educação superior.
XIV- Em 2007, no contexto com o Plano de Aceleração do Crescimento -
PAC, é lançado o Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE,
reafirmado pela Agenda Social de Inclusão das Pessoas com Deficiência,
tendo como eixos a acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares, a
56

implantação de salas de recursos e a formação docente para o atendimento


educacional especializado.
XV- O Decreto nº 6.094/2007 estabelece dentre as diretrizes do
Compromisso Todos pela Educação, a garantia do acesso e permanência no
ensino regular e o atendimento às necessidades educacionais especiais dos
alunos, fortalecendo a inclusão educacional nas escolas públicas (BRASIL,
2008, p. 9-11).
XVI- Programa Acessibilidade Ensino Superior (Incluir/2005): Determina a
estruturação de núcleos de acessibilidade nas instituições federais de
educação superior, que visam eliminar barreiras físicas, de comunicação e de
informação que restringem a participação e o desenvolvimento acadêmico e
social de estudantes com deficiência.
XVII- Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU,
2006): assegura o acesso a um sistema educacional inclusivo em todos os
níveis. Define pessoas com deficiência como aquelas que têm impedimentos
de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com
diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na
sociedade com as demais pessoas.
XVIII- Plano de Desenvolvimento da Educação/2007 Objetiva melhorar
substancialmente a educação oferecida pelas escolas e IES brasileiras.
Reafirmado pela Agenda Social, o Plano propõe ações nos seguintes eixos,
entre outros: formação de professores para a educação especial, acesso e
permanência das pessoas com deficiência na educação superior.
XIX- Decreto nº 6.949/2009: ratifica como Emenda Constitucional a
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006), que
assegura o acesso aos referenciais de acessibilidade na educação superior,
segundo a constituição de um sistema educacional inclusivo em todos os
níveis.
XX- Decreto nº 7.234/2010: dispõe sobre o Programa Nacional de
Assistência Estudantil – PNAES. O Programa tem como finalidade a
ampliação das condições de permanência dos jovens na educação superior
pública federal e, em seu Art. 2º, expressa os seguintes objetivos:
“democratizar as condições de permanência dos jovens na educação superior
pública federal; minimizar os efeitos das desigualdades sociais e regionais na
permanência e conclusão da educação superior; reduzir as taxas de retenção
e evasão; e contribuir para a promoção da inclusão social pela educação”.
Ainda, no art. 3º § 1º, consta que as ações de assistência estudantil do
PNAES deverão ser desenvolvidas em diferentes áreas, entre elas: “acesso,
participação e aprendizagem de estudantes com deficiência, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades e superdotação”.
XXI- Portaria (MEC) nº 29/ 2010: disciplinar a forma de operacionalização
da Ação Educação, Tecnologia e Profissionalização para Pessoas com
Necessidades Educacionais Especiais – TEC NEP, que tem por objetivo a
inclusão, permanência e conclusão com êxito deste público-alvo em cursos
de formação inicial e continuada, técnicos, tecnológicos, licenciaturas,
bacharelados e pós-graduação no âmbito da Rede Federal de Educação
Profissional, Científica e Tecnológica;
XXII- CONEB/2008 e CONAE/2010: referendaram a implementação de
uma política de educação inclusiva, o pleno acesso dos estudantes público
alvo da educação especial no ensino regular, a formação de profissionais da
educação para a inclusão, o fortalecimento da oferta do Atendimento
Educacional Especializado (AEE) e a implantação de salas de recursos
multifuncionais, garantindo a transformação dos sistemas.
57

XXIII- Decreto nº 7.611/2011: dispõe sobre o Atendimento Especializado


Educacional, que prevê, no art. 5º, § 2º, a estruturação de núcleos de
acessibilidade nas instituições federais de educação superior, com o objetivo
de eliminar barreiras físicas, de comunicação e de informação que
restringem a participação e o desenvolvimento acadêmico e social de
estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação.
XXIV- Parecer CNE/CP 8/2012: recomenda a transversalidade curricular
das temáticas relativas aos direitos humanos. O Documento define como
“princípios da educação em direitos”: a dignidade humana, a igualdade de
direitos, o reconhecimento e valorização das diferenças e das diversidades, a
laicidade do Estado, a democracia na educação, a transversalidade, vivência
e globalidade, e a sustentabilidade socioambiental.
XXV- Plano Nacional de Educação- 2014/2024. Lei nº 12.005/2014, trata-se
de um instrumento de planejamento do nosso Estado democrático de direito
que orienta a execução e o aprimoramento de políticas públicas do setor.
XXVI- Lei 13146/2015 – Lei Brasileira de Inclusão da pessoa com
deficiência: acesso à educação superior e à educação profissional e
tecnológica em igualdade de oportunidades e condições com as demais
pessoas. Projeto pedagógico que institucionalize o atendimento educacional
especializado, assim como os demais serviços para atender às características
dos estudantes com deficiência e garantir o seu pleno acesso ao currículo em
condições de igualdade, promovendo a conquista e o exercício de sua
autonomia. Libras como primeira língua e na modalidade escrita da língua
portuguesa como segunda língua. Pesquisas voltadas para o desenvolvimento
de novos métodos e técnicas pedagógicas, de materiais didáticos, de
equipamentos e de recursos de tecnologia assistiva. Planejamento de estudo
de caso, de elaboração de plano de atendimento educacional especializado.
Formação e disponibilização de professores para o atendimento educacional
especializado, de tradutores e intérpretes de Libras, de guias intérpretes e de
profissionais de apoio. Oferta de ensino da Libras, do Sistema Braille e de
uso de recursos de tecnologia assistiva. Inclusão em conteúdos curriculares,
em cursos de nível de temas relacionados à pessoa com deficiência nos
respectivos campos de conhecimento. Acessibilidade para todos os
estudantes, trabalhadores da educação e demais integrantes da comunidade
escolar às edificações, aos ambientes e às atividades concernentes a todas as
modalidades, etapas e níveis de ensino. Oferta de profissionais de apoio
escolar. Os tradutores e intérpretes de Libras, quando direcionados à tarefa
de interpretar nas salas de aula dos cursos de graduação e pós-graduação,
devem possuir nível superior, com habilitação em Tradução e Interpretação
em Libras. Nos processos seletivos para ingresso e permanência nos cursos
oferecidos pelas instituições de ensino superior devem ser adotadas as
seguintes medidas: Atendimento preferencial à pessoa com deficiência nas
dependências das Instituições de Ensino Superior (IES) e nos serviços;
disponibilização de formulário de inscrição de exames com campos
específicos para que o candidato com deficiência informe os recursos de
acessibilidade e de tecnologia assistiva necessários para sua participação;
disponibilização de provas em formatos acessíveis para atendimento às
necessidades específicas do candidato com deficiência; disponibilização de
recursos de acessibilidade e de tecnologia assistiva adequados, previamente
solicitados e escolhidos pelo candidato com deficiência; dilação de tempo,
conforme demanda apresentada pelo candidato com deficiência, tanto na
realização de exame para seleção quanto nas atividades acadêmicas,
mediante prévia solicitação e comprovação da necessidade; adoção de
58

critérios de avaliação das provas escritas, discursivas ou de redação que


considerem a singularidade linguística da pessoa com deficiência, no
domínio da modalidade escrita da língua portuguesa; tradução completa do
edital e de suas retificações em Libras.

Do exposto acima, pode-se afirmar que, indubitavelmente, não é pela inexistência de


dispositivos legais no Brasil, que são descumpridas os direitos já conquistados a população
com deficiência, como as portarias ministeriais, leis federais, estaduais e convenções
internacionais dos quais o Brasil é signatário. Contudo, apesar da importância da
acessibilidade para cada cidadão, para a vida em comunidade das pessoas com deficiência
ainda não é uma realidade experimentada por muitos, como relata Ferreira (2007 b). Em
consonância com a assertiva de Moreira, “[...] os mecanismos declaratórios e garantidores do
direito à educação ainda esbarram em obstáculos práticos para sua efetivação, o que acaba
restringindo a noção de cidadania.” (MOREIRA, 2012, p. 98).
Com efeito, importa destacar que estas legislações descritas e todos os propósitos
devem ser seguidos e, rigorosamente, efetivados por todas as Instituições de Ensino, inclusive
nas instâncias de Educação Superior, mediante as ações perpetradas pela administração e
políticas de cada instituição, pautadas no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI),
conforme apontam (FRAUCHES; FAGUNDES, 2012).
É possível afirmar que até o ano 2000 nosso país conheceu uma enorme evolução na
legislação relativa às pessoas com deficiência. Na área de educação, o artigo 208, III da
Constituição brasileira determina o atendimento educacional especializado PARA estudantes
com deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. Porém, a qualidade da educação
ofertada aos discentes com deficiência nas escolas comuns traz insatisfação, tanto para os
estudantes com deficiência quanto para pessoas sem deficiência.
De acordo com os indicadores coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE no censo demográfico de 2000, o segmento das pessoas com pelo menos
uma das deficiências perfazia um contingente de 24.600.256 pessoas, ou 14,5% da população
brasileira. Em 2010, esse número aumentou para 45.606.048 de pessoas, ou 23,9% da
população total, sendo que 18,8% apresentavam deficiência visual, a maior ocorrência.
Em segundo lugar está a deficiência motora, ocorrendo em 7% da população, seguida da
deficiência auditiva em 5,10% e da deficiência mental ou intelectual, em 1,40% (IBGE,
2015). Os indicadores deste Censo desvendaram que a população brasileira com deficiência
se aproximava às de outros países que aplicaram este mesmo parâmetro como, por exemplo:
a Áustria com 14,4%; Espanha, com 15%; a Inglaterra, com 12,2% e Noruega, com 13%.
59

Contudo, devemos dizer que no Brasil, há diferenciações nas estatísticas acerca da


deficiência, a depender das regiões verificadas. Daí temos que a região Norte mostra um
índice de 16,1%; já o Nordeste, 16,7%; o Sudeste, 12,9%; o Sul, 14,1% e o Centro-Oeste,
13,7%. Como podemos inferir, as regiões Norte e Nordeste se destacaram em maior
proporção de pessoas que se declaram com algum tipo de deficiência, no transcurso da
pesquisa aplicada. O Estado com o índice mais elevado de pessoas com deficiência foi o da
Paraíba (18,8%); já o Estado de São Paulo registrou o menor percentual: 11,4%. É importante
atentar que os estados brasileiros de maior incidência de deficiências são os do Rio Grande do
Norte e da Paraíba, com taxas de 27,76% e 27,58%, respectivamente, bem acima da média
nacional de 23,9% (BRASIL, 2010).
Ao comparamos o Censo realizado também pelo IBGE em 201018 com o do ano de
2003, vemos que os indicadores nos mostram expressivo aumento de pessoas com algum tipo
de deficiência no Brasil. Tal investigação apresentou que houve quase uma duplicação nos
números de pessoas que possuem algum tipo de deficiência no decurso de dez anos. Ainda
com base nos dados do Censo de 2000, foi realizada pelo Centro de Políticas Sociais da
Fundação Getúlio Vargas a pesquisa Retratos da Deficiência no Brasil; nela, foi apresentado
um panorama das condições de vida de grupos excluídos socioeconomicamente, cruzando
este dado com a variável deficiência. De acordo com os dados da pesquisa, o Estado do Rio
Grande do Norte tem 17,64% de pessoas neste segmento (pessoas vulnerabilizadas
socioeconomicamente e ainda com algum tipo de deficiência). Os municípios que
apresentaram as menores taxas dessas populações foram Jardim de Angicos com 2,48%,
Santana do Seridó com 2,67% e Viçosa com 2,95%. O que apresentou maior presença destas
populações foi o município de Pilões, com 32,98%.
Em face do exposto, podemos afirmar que após o exame destes dados, que se 45,6
milhões de brasileiros - 23,9% da população revelou ter alguma deficiência (visual, auditiva,
intelectual ou física), conforme Censo do IBGE de 2010, há uma parcela considerável de
pessoas no Brasil que possui alguma deficiência, e, pois, demanda atendimento especializado.
É absolutamente fundamental assinalar que as maiores dificuldades relatadas por
estas pessoas residem muito menos nas barreiras propriamente funcionais decorrentes das
deficiências (física, auditiva, visual, mental, múltipla, surdez, cegueira, mobilidade reduzida e

18 Convém pontuar que comparecemos in loco neste organismo público com o escopo de atualizar os dados,
contudo, isto não possível pelo fato deste órgão não possuir a devida informação.
60

outras) e muito mais nas barreiras sociais, donde comparecem preconceitos, estigmas,
discriminações diversas, sob a antiga, porém ainda vigente ideia, alimentada por um conjunto
de mitos em nossa sociedade, e que enxerga a pessoas com deficiência a partir do preconceito.
Voltaremos a este ponto quando apresentarmos os dados colhidos a partir de entrevistas com
estudantes cegos matriculados em cursos de graduação na UFRN, no último capítulo deste
trabalho.
A política para a educação brasileira adotada pelo governo federal traz como um de
seus objetivos a expansão das iniciativas educacionais por meio da “inclusão” da população
no Ensino Superior, através de programas, como o Incluir, o Reuni e o TEC NEP, visando a
ampliação do nível de escolarização da população marginalizada em relação à educação
superior.
A nível internacional, a política de inclusão social das pessoas com deficiência
encontra-se alicerçada na Declaração de Salamanca, já apontada neste trabalho. Já no Brasil, a
preocupação aparece como preceito na Constituição de 1988, e posteriormente na Lei n°
7.853/1989, regulamentada pelo Decreto n° 3.298/199919. Ainda em âmbito nacional,
destacam-se os seguintes documentos que passaram a influenciar a formulação das políticas
públicas de educação inclusiva: a lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº
9.394/96), as Resoluções CNE/CEB nº 2/2001, institui as Diretrizes Nacionais para a
educação de estudantes que apresentem necessidades educacionais especiais, na Educação
Básica, em todas as suas etapas e modalidades e CNE/CEB nº 4/2009, institui Diretrizes
Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica,
modalidade Educação Especial, o Plano Nacional de Educação aprovado pela Lei nº
10.192/2001, as Diretrizes da Educação Especial na Educação Básica (Resolução CNE/CEB
nº 2/2001) e a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
(PNEEPE), aprovada em 2008, pelo Decreto Legislativo nº 186. Estes parâmetros legais

19
Decorrido um ano da Constituição Federal de 1988, foi implementada a lei 7.853 de 24 de outubro de 1989,
que estabelece, em seu art. 1º, as normas gerais que asseguram o pleno exercício dos direitos individuais e
sociais das pessoas, na ocasião chamadas de portadoras de deficiências, e sua efetiva integração social, nos
termos desta lei. Em seu § 1º, na aplicação e interpretação desta lei, serão considerados os valores básicos da
igualdade de tratamento e oportunidade, da justiça social, do respeito à dignidade da pessoa humana, do bem-
estar, e outros, sinalizados na Constituição ou justificados pelos princípios gerais de direito. E ainda está presente
no art. 2º que ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de deficiência o pleno
exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência
social, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem
seu bem-estar pessoal, social e econômico. Em seu capítulo IV na área de recursos humanos, requer a formação e
qualificação de recursos humanos que, nas diversas áreas de conhecimento, inclusive de nível superior, atendam
à demanda e às necessidades reais das pessoas, ora mencionadas como portadoras de deficiências.
61

nacionais, dentre outros (com ressalvas para as Leis n° 10.048 e 10.098, de 2000 e o Decreto
n° 5.296/2004, conhecido como o decreto da acessibilidade), nos posicionam em igualdade
com os preceitos contidos na Convenção da ONU.
As questões concernentes às pessoas com deficiência são regidas no âmbito dos
direitos humanos desde 1995 pelo governo federal, mediante a Secretaria Nacional de
Cidadania do Ministério da Justiça. Necessário se faz esclarecer que estes avanços são
resultados de lutas encampadas por movimentos sociais na defesa da promoção e dos direitos
deste segmento. Assim é que as ações relativas ao direito das pessoas com deficiência, no
Brasil, obedecem aos princípios e diretrizes que são pautados por diversos países
democráticos do mundo.
Mesmo com todos os avanços, devemos apontar que a política de educação brasileira
possui um desafio real no que se refere ao acesso e a permanência dos estudantes com
deficiência, na perspectiva da educação inclusiva. Para as preocupações que envolvem nosso
objeto de estudo, aqui salientamos mais precisamente o ensino superior.
Nesta perspectiva é que surge o Programa TEC NEP (Tecnologia, Educação,
Cidadania e Profissionalização para Pessoas com Necessidades Específicas) enquanto política
educacional. Tendo viés inclusivo, o programa foi institucionalizado no ano 2000 pela rede
federal de ensino, coordenada pela então Secretaria de Educação Tecnológica e pela extinta
Secretaria da Educação Especial, ambas pertencentes ao Ministério da Educação (MEC)20. O
objetivo precípuo do Programa TEC NEP é executar ações que facultem o acesso, a
permanência e a conclusão dos cursos de formação inicial, continuada, técnica, tecnológica,
de licenciatura, bacharelado e de pós-graduação na Rede Federal de Educação Profissional e
Tecnológica, voltados para os estudantes com necessidades educacionais especiais. Ainda
estão contemplados os cursos que habilitem ou reabilitem esses discentes a ofícios
específicos que proporcionem o seu ingresso no mundo da produção e consequentemente a
sua emancipação econômica. O TEC NEP tem, assim, propósito de assegurar o acesso à
educação e ao mundo do trabalho para pessoas com necessidades específicas dentro da
perspectiva da efetivação dos direitos humanos. A ação TEC NEP busca ampliar,
especialmente no que se refere à oferta de vagas da Educação Profissional para as pessoas

20
Importa destacar que o Programa TEC NEP coaduna-se com a posterior Política Nacional de Educação
Especial na perspectiva da Educação Inclusiva enquanto política pública que evoca a ampliação de igualdade
educacional, a formação para a inserção no mundo do trabalho e a efetiva participação social dos estudantes com
deficiência. Suas ações são pautadas no sentido de incluir no ensino regular todos os estudantes com deficiência
ou não, bem como altas habilidades e condutas típicas.
62

com necessidades educativas especificas, contemplando o acesso, a permanência e a


terminalidade dos estudos, bem como a inserção dessas pessoas no mercado de trabalho. O
programa procura tornar esta população apta tecnologicamente para desenvolver suas
habilidades e conhecimentos, como base para uma plena e efetiva emancipação social e
econômica desses sujeitos.
Para o alcance dos objetivos propostos pelo Programa, foi prevista a implantação de
Núcleos de Apoio voltados para os estudantes com Necessidades Educacionais Específicas
(NAPNE)21 em todas as Instituições Federais de Educação Tecnológica, de maneira que
atualmente, dos 402 campi da Rede Federal 272 possuem NAPNE em funcionamento, ou
seja, cerca de 68%. Os NAPNEs trazem como objetivo precípuo a disseminação de uma
cultura de "educação para a convivência", aceitação da diversidade e, principalmente, a
eliminação de quebra das barreiras arquitetônicas, educacionais e atitudinais na instituição.
Neste sentido, buscam a consolidação dos direitos das pessoas com necessidades educacionais
especiais, conforme a Declaração de Salamanca (1994) e os preceitos da atual LDB.

3.3 A INCLUSÃO DE ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA NA EDUCAÇÃO SUPERIOR


NO BRASIL

A educação é reconhecida no Brasil como direito fundamental do indivíduo e das


coletividades, sendo dever do Estado assegurá-la a todos, igualitariamente (cf. DALLARI,
2004). No entanto, nem todo cidadão brasileiro, efetivamente, goza desse direito basilar, pois
nossa sociedade traz desigualdades estruturais próprias à sociabilidade capitalista.
É importante compreender que o processo de exclusão e discriminação capitalista
atua negando direitos não apenas às pessoas com deficiência, mas também aos pretos e pretas,
às mulheres, aos idosos, à população LGBTTTI22, às populações mais pauperizadas
economicamente dentre outros grupos sociais historicamente vulnerabilizados. Nesta
sociabilidade, vigora a intolerância com as diferenças Nesses termos, a exclusão, a negação

21
O NAPNE tem como objetivo principal fornecer apoio didático-pedagógico para os discentes com
necessidades educacionais especiais e seus docentes; articular ações de ensino, pesquisa e extensão na área das
demandas educacionais específicas; promover cursos de capacitação; promover a acessibilidade virtual do
campus; pesquisar e adquirir as tecnologias assistivas e por fim realizar a adaptação do mobiliário, bem como da
estrutura arquitetônica de toda a instituição de forma a promover a acessibilidade a todos.
22
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros e Intersexos.
63

dos direitos, a discriminação e a violência sofridas pelas pessoas com deficiência são, na
verdade, expressões da "questão social", que nas palavras de Iamamoto (2005) consiste no
Conjunto das expressões das desigualdades sociais determinadas na
sociedade capitalista pelo processo de produção social que é coletivo,
enquanto a apropriação dos resultados e dos meios de produção é
monopolizada nas mãos de poucos, de uma parte reduzida da sociedade
(IAMAMOTO, 2005, p. 27).

Neste sentido é que apontamos que as causas da deficiência são históricas e


estruturais. Destacamos aqui dados de um documento divulgado na Assembleia Geral da
Organização das Nações Unidas (ONU), em 03 de dezembro de 1982, sobre as várias causas
da deficiência, a saber: consequências oriundas das guerras seguidos de processos de
violência e destruição, desencadeando fome, pobreza, epidemias e expressivos movimentos
migratórios; crescimento de famílias em situação de vulnerabilidade social e sob excessivas
taxas de natalidade; habitações insalubres e intensamente povoadas; precárias condições de
higiene; altos índices de pessoas não alfabetizadas e falta de informação acerca de seus
direitos sociais, bem como de medidas sanitárias e educacionais; desconhecimento em torno
das formas de prevenção (da deficiência) e de sua reabilitação; preconceito, estigmatização,
discriminação e acepções equivocadas da deficiência, dentre outros (ONU, 1982, resolução
37/52).
É possível assinalar, assim, que os aspectos desencadeadores das deficiências são
oriundos de uma sociabilidade fundada na violência, na intolerância, na desigualdade
estrutural, na má distribuição de renda, dentre outras mazelas, impedindo assim de a equidade
ser realizada. Assim é que "temos o próprio sistema sociopolítico e econômico que é desigual,
por isso torna-se motivador do crescimento expressivo de pessoas com deficiência".
(CERIGNONI; RODRIGUES, 2006, p.28).
A partir destes dados refletimos que há hoje no Brasil um quantitativo expressivo de
população autodeclarada com deficiência. Aliada a isso, temos extensa legislação bem como
políticas públicas buscando assegurar o direito de pessoas com deficiência a obterem o devido
acesso à Educação Superior. Apesar disso, não registramos proporcionalmente um número
considerável de pessoas com deficiência matriculadas no ensino superior em relação a
estudantes sem deficiência, o que reforça o entendimento de que o acesso à educação superior
é elitizada, ou seja, o ingresso nesta etapa do ensino marginaliza todos aqueles que não
atendem aos padrões objetivos e subjetivos preestabelecido por esta sociabilidade capitalista.
Parte desta explicação reside no fato de que a exclusão aparece antes: ela também é resultado
64

do comprometimento do processo de escolarização nos anos iniciais, sendo assim é diminuto


o número de estudantes com deficiência que consegue ingressar na educação superior em
nosso País. A esse respeito, Georgen (2010) destaca que, mesmo reconhecendo os avanços
mais recentes no que diz respeito a expansão da educação superior, evidencia-se que esse
nível de ensino permanece sendo elitista e excludente.
Efetivamente, foi apenas na década de 1990 que se iniciou de maneira mais
sistemática a inclusão de estudantes com Necessidades Educacionais Especiais (NEE)23 na
educação superior brasileira, sob o advento de preceitos legais. O percentual de estudantes
com deficiência24 que ingressam na educação superior é cada vez mais evidente, tanto nas
instituições nacionais25, quanto em todo o mundo. Para Dechichi, Silva e Gomide (2008):

A chegada de estudantes com necessidades educacionais especiais aos cursos


de graduação das universidades públicas tem revelado a necessidade
emergencial que os aspectos educacionais relacionados ao processo de
atendimento acadêmico deste grupo sejam trazidos ao debate, buscando
oferecer condições mínimas de acesso e permanência dessa população no
meio universitário. (DECHICHI, SILVA; GOMIDE, 2008, p. 338).

A materialização da política da educação inclusiva é uma das questões mais


desafiadoras do sistema educacional de países do mundo inteiro. O princípio basilar é garantir
a igualdade de condições e a plena integração dos discentes com deficiência na vida
acadêmica (VALDÉS, 2004). Logo, a educação de estudantes com deficiência deve
considerar as singularidades exigidas de um acompanhamento diverso dentro da mesma
matriz curricular (BRASIL, 1998). Entretanto, o exercício dessa concepção pedagógica, no
processo de ensino-aprendizagem requer, simultaneamente, o aperfeiçoamento contínuo de
práticas inclusivas.
Ora, nos últimos anos, vem surgindo um expressivo número de pesquisas abordando
a questão dos discentes com deficiência no ensino superior. No entanto, é escasso o
conhecimento acerca de como vem se dando o processo de acesso, permanência e conclusão

23
De acordo com as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial CNE/2001, são considerados estudantes com
necessidades educacionais especiais aqueles que apresentam deficiências (mental, visual, auditiva, física/motora
e múltiplas); condutas típicas de síndromes e quadros psicológicos, neurológicos ou psiquiátricos; bem como de
discentes que apresentam altas habilidades/superdotação (BRASIL, 2001).
24
O termo “estudantes com deficiência” atende as prerrogativas da “Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva”. Todavia, também se encontra em consonância com a Convenção dos
Direitos da Pessoa com Deficiência (BRASIL, 2008). Porém, outros termos serão mencionados devido às
citações de autores ou dos documentos pesquisados.
25
No que se referem aos dados no contexto brasileiro esses serão expostos e analisados no item 4.2.1.
65

destes estudantes, com êxito, nesse nível de ensino. É nosso entendimento de que as
Instituições de Ensino Superior (IES) devem oportunizar as condições que possibilitem a
permanência destes estudantes mediante o atendimento de suas necessidades. Portanto, as IES
não podem negligenciar a imperativa necessidade de inclusão, acesso, permanência e
conclusão dos discentes com deficiência em suas unidades acadêmicas.
No contexto brasileiro, a Política de Educação Inclusiva envolve aspectos
socioeconômicos, políticos e culturais. Este é, nos dias atuais, um dos desafios maiores
enfrentados pelo sistema educacional. Neste ínterim, é possível indagar: que ações são
primordiais para assegurar a permanência e conclusão desses estudantes no ensino superior?
A partir desta indagação, buscaremos oferecer nas próximas páginas um conjunto de
reflexões envolvendo o acesso e a permanência de estudantes cegos em uma universidade
pública situada no Nordeste do Brasil, mais precisamente no Estado do Rio Grande do Norte:
a UFRN. Em nossa discussão, trouxemos cinco interlocutores que nos falaram sobre sua
trajetória acadêmica. São cinco estudantes cegos matriculados em cursos de graduação desta
universidade, que nos ajudaram a pensar sobre deficiência visual, exclusão, estigma,
violência, direitos. Em diálogo com estes estudantes e com um conjunto de autores, é nosso
desejo tratar sobre a política de inclusão de estudantes cegos na educação superior na UFRN,
do acesso à permanência, e neste ínterim, analisar o trabalho efetuado pela CAENE.

4 A POLÍTICA DE INCLUSÃO DE ESTUDANTES CEGOS NA EDUCAÇÃO


SUPERIOR NA UFRN: DO ACESSO À PERMANÊNCIA

4.1 UM PREÂMBULO: EM TORNO DOS DIREITOS DAS PESSOAS COM


DEFICIÊNCIA NA CONTEMPORANEIDADE

Após a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência26, inaugura-se no


mundo Ocidental um novo paradigma no trato às questões que dizem respeito à pessoa com
deficiência, concedendo-lhe a oportunidade de sair da invisibilidade, do ser considerado não-
humano, para o de cidadão com direitos humanos. O texto oriundo da Convenção é um

26
Essa reunião contou com a participação de 192 países membros da ONU e de centenas de representantes da
sociedade civil de todo o mundo. No dia 13 de dezembro de 2006, em sessão solene da ONU, foi aprovado o
texto final deste tratado internacional, firmado e ratificado pelo Brasil e por mais 85 nações, em 30 de março de
2007.
66

documento emblemático aprovado pela ONU, cujo objetivo foi equalizar o direito
internacional sobre as garantias jurídicas mundialmente das pessoas com deficiência
(DHANDA, 2008).
A Convenção da ONU sobre os direitos das pessoas com deficiência foi incluído
enquanto documento na legislação brasileira em 2008. Após reunião de liderança durante o
processo de elaboração, o Brasil decidiu, soberanamente, ratificá-la com equivalência de
emenda constitucional, nos termos previstos no Artigo 5º, § 3º da Constituição brasileira, e,
quando o fez, reconheceu um instrumento que gera maior respeito aos Direitos Humanos.
(BRASIL, 2012).
Em outras palavras, o Brasil passou a ser signatário da Convenção dos Direitos das
Pessoas com Deficiência da ONU em 2007 e para que ela tivesse status constitucional era
preciso ser ratificada pelo Congresso Nacional, o que aconteceu em 2008 (DINIZ et. al, 2009;
DHANDA, 2008). De acordo com o artigo 5.º da Constituição Federal, que acrescentou o §
3º, quando agregados ao ordenamento jurídico interno conforme votação com quórum
qualificado nas duas Casas do Congresso (Câmara dos Deputados Federais e Senado), em
dois turnos, os tratados de direitos humanos serão equivalentes a emendas constitucionais27.
Devemos ter em vista que a democratização da educação nos últimos anos vem
ganhando destaque no contexto brasileiro, acompanhada da ampliação das medidas de acesso
e de inclusão no ensino público superior, através da instituição do Programa de Apoio a
Planos e Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) pelo Decreto nº
6.096 de 24 de abril de 2007. Esta proposta e o desdobramento da necessidade de uma política
nacional de assistência estudantil que oferecesse sustentação à adoção de políticas
afirmativas28 no âmbito da democratização do ensino superior passou a ser concretizada com

27
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:(...) § 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm
aplicação imediata. § 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do
regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil
seja parte. § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada
Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão
equivalentes às emendas constitucionais. (Incluído pela Emenda Constitucional n.º45, de 2004).
28
28 Políticas afirmativas: inicia-se no Brasil permeado de várias conceituações refletidas nos debates históricos
dos países em que foram desenvolvidas. O termo originou-se nos Estados Unidos nos idos de 1960, os norte-
americanos atravessaram momentos de reivindicações democráticas internas, sobretudo em prol do movimento
dos direitos civis, cuja bandeira abordava a igualdade de condições a todos. Assim sendo, as legislações
segregacionistas em vigor no país passaram a ser revogadas, e o movimento negro emerge como uma importante
atuação composta por líderes nacionais, sustentados por grupos liberais e progressistas brancos, com o objetivo
da expansão da defesa de direitos. Neste âmbito, é que surge a concepção de uma ação afirmativa, pois o Estado
67

o advento do Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) pelo Decreto nº 7.234 de 19


de julho de 201029.
Neste panorama, destacamos o surgimento do Programa Nacional de Assistência
Estudantil, cuja criação teve como finalidade prover os recursos necessários para transposição
dos obstáculos e superação dos impedimentos ao bom desempenho acadêmico, visando a
adoção de "estratégias de combate às desigualdades sociais e regionais, bem como a
ampliação e a democratização das condições de acesso e permanência dos jovens no ensino
superior público federal" (MEC - Portaria Normativa nº 39, de 12 de dezembro de 2007).
Esta política abrange todas as áreas dos direitos humanos, incluindo ações que
propiciem desde as ideais condições de saúde, o acesso aos instrumentais pedagógicos
necessários à formação profissional nas mais diferentes áreas do conhecimento, o
acompanhamento às necessidades educacionais especiais, até o provimento dos recursos
mínimos para sobrevivência do estudante.
O Plano Nacional de Assistência Estudantil proporcionou a consolidação do REUNI
(PDE, 2007, p.27), que tem como principal objetivo, garantir a expansão democrática do
acesso ao ensino superior em universidades públicas. A proposta dessa expansão democrática
possibilitou o ingresso de uma diversidade de estudantes demandando assim uma atenção
específica, na medida em que presenciamos uma sociedade na qual os preconceitos e as
discriminações se materializam, não sendo diferentes na esfera da universidade.
Neste caso, podemos explicitar uma diversificada população de pobres, negros,
indígenas, mulheres, o público LGBTTTI30, inclusive as pessoas com deficiência, todos são
cidadãos que pleiteiam o direito a educação. É importante destacar, que essas populações se
encontravam à margem desse sistema, e hoje, se fazem presentes na universidade ocupando
espaços que, majoritariamente, pertenciam à elite da sociedade.

é solicitado compulsoriamente assegurar dispositivos legais antissegregacionistas. Ademais, o Estado deveria


adotar uma posição com o escopo de otimizar as condições da população afrodescendentes. Convém pontuar,
que os Estados Unidos possuem mais de cinquenta anos de vivências, pois a ele é facultado realizar
analiticamente por longo prazo a execução e influência dessa política.
29
O Programa Nacional de Assistência Estudantil – PNAES, executado no âmbito do Ministério da Educação,
tem como finalidade ampliar as condições de permanência dos jovens na educação superior pública federal.
30
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros e Intersexos.
68

4.2 OS DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NA UFRN: A CAENE

A CAENE – Comissão Permanente/ Núcleo de Apoio ao Estudante com Necessidades


Educacionais Especiais é atualmente a Comissão responsável pela institucionalização da
Política de Acessibilidade na UFRN, com a finalidade de afiançar o direito da pessoa com
deficiência à educação superior nesta Instituição, fundamentado nos princípios e diretrizes
contidos na Convenção sobre os Direitos das Pessoas (ONU, 2006) e nos Decretos n°.
186/2008, 6.949/2009, 5.296/2004, 5.626/2005 e 7.611/201131. Esta comissão foi criada no
ano de 2010, através da Portaria nº. 203/10-R, de 15 de março de 2010. Está vinculada ao
Gabinete do Reitor, seu trabalho foi regulamentado pela Resolução nº. 193/2010 –
UFRN/CONSEPE, de 21 de setembro de 2010, que passou a dispor sobre o atendimento
educacional a estudantes com necessidades educacionais especiais na UFRN.
O surgimento da CAENE a partir do desdobramento da Política Nacional de
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (MEC, 2008). Esta política foi
institucionalizada na UFRN mediante o incentivo financeiro do Programa Incluir, a partir do
fomento a propostas submetidas junto ao Ministério da Educação e Cultura (MEC) nos anos
de 2006, 2008 e 2010. A UFRN institucionalizou, na gestão 2011-2015, a sua política de
inclusão destinada aos estudantes com NEE, após a implementação de diversos marcos legais
que foram delimitados com o escopo de efetivar as ações inclusivas dessa população no
âmbito acadêmico e social, consoante veremos no quadro a seguir:

QUADRO 1 - Dispositivos legais em torno das ações inclusivas na UFRN

DISPOSITIVOS DESCRIÇÃO
LEGAIS/UFRN

Portaria Nº. 203/10-R, de 15 Institui a CAENE na UFRN com a finalidade de apoiar, orientar e

31 Decreto Legislativo n°. 186/2008: aprova o texto da Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência
e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova Iorque, em 30 de março de 2007. Decreto da Presidência da
República nº 6.949/2009: promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e
seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Decreto da Presidência da
República nº 5.296/2004: regulamenta as Leis nos 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de
atendimento às pessoas que especifica, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e
critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade
reduzida, e dá outras providências. Decreto da Presidência da República nº 5.626/2005: regulamenta a Lei
no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei
no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Decreto da Presidência da República nº 7.611/2011: dispõe acerca da
educação especial, o atendimento educacional especializado e dá outras providências.
69

de março de 2010. acompanhar a política de inclusão de estudantes com Necessidades


Educacionais Especiais (NEE).
Resolução Nº. 193/2010- Dispõe sobre o atendimento educacional a estudantes com NEE na
CONSEPE, de 21 de UFRN.
setembro de 2010.
Plano de Desenvolvimento A inclusão de estudantes com NEE na UFRN insere-se no PDI, em
Institucional – PDI (2010 - resposta aos dispositivos legais no contexto brasileiro, atendendo
2019). particularmente às exigências da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDBEN/96).
Portaria Nº. 1.169/2011 – R, Institui comissão para constituírem uma banca especial para o
de 19 de setembro de 2011. vestibular 2012, com a finalidade de analisar os requerimentos dos
candidatos ao vestibular com NEE.
Resolução Nº. 014/2011- Regimento interno da Reitoria.
CONSUNI, de 11 de
novembro de 2011.
Fonte: Criação da autora.

Para efetuar suas ações, a CAENE conta com uma equipe interprofissional
constituída por psicólogas, assistente social, bibliotecárias, pedagogas, analista de sistema,
arquiteto, intérpretes de libras e docentes das áreas de psicologia, fisioterapia e educação.
Estes buscam atender estudantes com deficiência física, auditiva, visual ou intelectual, com
transtornos específicos32 ou dificuldades secundárias da aprendizagem33, com altas
habilidades/superdotação e com transtornos globais do desenvolvimento.

32
Os Transtornos Específicos da Aprendizagem (TA) são definidos como alterações em domínios específicos
diretamente relacionados à aprendizagem, como a leitura, a escrita e o cálculo. Deste modo, estima-se que tais
transtornos afetam 2 a 10% da população em idade escolar, cujos resultados em leitura, escrita e/ ou cálculo se
encontram significativamente abaixo do esperado em relação ao nível de desenvolvimento, escolaridade e
capacidade intelectual, associados à preservação das capacidades intelectuais, sensoriais ou motoras, bom ajuste
emocional e boa escolarização (ROTTA; OHLWEILER; RIESGO, 2007, p. 128).
33
Já as dificuldades da aprendizagem (DA), por sua vez, consistem em um grupo heterogêneo de problemas que
afetam a aprendizagem na ausência de alterações neurológicas que comprometam especificamente os domínios
da leitura, da escrita e do cálculo. As DA podem ser classificadas como de percurso ou primárias, causadas por
problemas escolares, familiares, por fatores conjunturais temporários ou por problemas psicoafetivos, como
baixa motivação e autoestima, e secundárias, cuja emergência está associada a outros quadros diagnósticos, tais
como alterações das funções sensoriais, doenças crônicas, transtornos psiquiátricos, deficiências ou doenças
neurológicas, dentre as quais se destacam os transtornos mentais, tais como o Transtorno do Déficit de
Atenção/Hiperatividade e transtornos de ansiedade e de humor (ROTTA; OHLWEILER; RIESGO, 2007, p.
127).
70

4.2.1 A atuação da CAENE: entre diferentes estratégias de apoio aos discentes com
deficiência

O chamado processo de apoio na CAENE dar-se, inicialmente, por intermédio da


solicitação espontânea do próprio estudante com deficiência via Sistema Integrado de Gestão
e Atividades Acadêmicas (SIGAA). Após esta etapa, a coordenação do curso ao qual aquele
se encontra matriculado é notificado, via sistema, acerca da presença deste discente e de sua
solicitação de apoio.
A coordenação de curso então formaliza um requerimento específico via Sistema e,
posteriormente à equipe técnica (assistente social, pedagoga e psicóloga) da CAENE realiza
entrevista de triagem com o discente em busca de conhecer sua realidade social e educacional
e condições psicológica, quando necessário. Após este procedimento, a equipe emite parecer
contendo uma súmula da condição especial do discente e as estratégias educacionais a serem
aplicadas à luz dos dispositivos legais existentes (UFRN, 2010). As etapas posteriores a serem
percorridas para a execução deste trabalho são as seguintes:

a) Entrevista de triagem realizada pelo Serviço


Social/Psicologia/Pedagogia;
b) Reunião da equipe para discussão dos casos; elaboração de parecer
técnico com as devidas orientações e estratégias educacionais à
coordenação e ao corpo docente;
c) Remessa do parecer para coordenação/ corpo docente; submissão do
parecer ao sistema;
d) Contato com professores, quando necessário; oficinas de capacitação
semestrais;
e) Realização de acompanhamento semestral ao estudante, ou consoante
demandas espontâneas aduzidas.

De acordo com a Resolução em vigor da CAENE, (RESOLUÇÃO 193/2010-


CONSEPE/UFRN), os discentes assistidos, conforme as suas necessidades podem requerer as
seguintes estratégias de atendimento educacional:

f) Adaptação das atividades avaliativas;


g) Tempo adicional de (01) uma hora, ou mais para a realização das
atividades avaliativas;
h) Adaptação de recursos instrucionais: material pedagógico e
equipamento;
i) Adaptação de recursos físicos: eliminação de barreiras arquitetônicas e
adequação de ambiente de comunicação;
j) Apoio especializado (intérprete de língua de sinais e ledor);
71

k) Adequação de mobiliário e espaços físicos da instituição;


l) Materiais de leitura e escrita em Braille, em impressão com fonte
ampliada, livros falados ou digitais, ledores e sintetizadores de voz ou
outros recursos de tecnologia assistiva e/ou didático-pedagógicas que
atendam às suas necessidades.

Integrando o rol de estratégias de acessibilidade aos discentes com deficiência, há


também a Bolsa Acessibilidade. Implementada a partir do semestre de 2014.2 e
operacionalizada pelo Serviço Social da CAENE, em parceria com a PROAE, esta é uma
bolsa financeira que o discente percebe no decurso de toda sua trajetória acadêmica.
Esta modalidade de bolsa atende a estudantes com deficiência física, sensorial,
intelectual, pessoas com transtorno do espectro autismo ou múltiplas deficiências. Todavia,
não inclui as pessoas com Transtornos Globais do Desenvolvimento, Altas Habilidades/
Superdotação; transtornos de dislexia, discalculia, disortografia ou dificuldade secundária de
aprendizagem (TDA/H). Também não abarca os estudantes com afecções crônicas, alterações
neurológicas ou neuropsiquiátricas (UFRN/CONSEPE, 2014).
O discente com deficiência deve dispor dos critérios de elegibilidade, preconizados
pela Resolução Nº. 163/2014-CONSEPE, de 19 de agosto de 2014, que busca identificar o
nível de vulnerabilidade econômica. A bolsa tem como finalidade possibilitar a que estes
discentes obtenham o custeio de suas despesas com deslocamentos, bem como a aquisição de
instrumentos pessoais e de apoio aos estudos.
Ainda nessa tessitura, dentre as estratégias de apoio institucional oferecida pela
CAENE temos o Programa de Orientação e Tutoria Inclusiva (POTI) destinada aos estudantes
com necessidades educacionais especiais na UFRN, com deficiências, com transtornos
específicos ou dificuldades secundárias da aprendizagem. Ele é estruturado por meio de uma
rede de apoio de estudantes tutorados (com NEE) e estudantes tutores, selecionados por edital
publicado anualmente.
Logo, o Programa de Tutoria tem como objetivo viabilizar o processo educacional
inclusivo no contexto da UFRN visando à desconstrução de barreiras pedagógicas e
atitudinais, bem como, contribuir para a emancipação dos discentes estimulando sua formação
acadêmica e sua preparação para a transição e integração no mercado de trabalho; apoiar nos
aspectos acadêmicos e sociais dos estudantes, acompanhados pela CAENE; e analisar as
72

percepções dos atores envolvidos no POTI; desenvolver ações ao longo do projeto e suas
contribuições para o processo inclusivo na UFRN34
A partir do desenvolvimento do POTI, espera-se contribuir para o processo
educacional inclusivo no contexto da UFRN, o que traz repercussões positivas para estudantes
e servidores, técnicos e professores, da instituição. Logo, destacamos alguns resultados
esperados com o POTI:

 Aperfeiçoamento da qualidade e do desempenho acadêmico dos


alunos com transtornos específicos ou dificuldades secundárias de
aprendizagem e alunos tutores;
 Melhoria da interação social dos alunos tutorados no meio acadêmico;
 Realização de práticas que possibilitem inovações curriculares,
adequadas ao princípio da flexibilidade, que passam pela construção de
itinerários formativos diversificados e pela adoção de currículos integrados
que promovam a articulação entre os conteúdos disciplinares e os níveis de
formação;
 Redução de taxas de retenção e evasão do alunado com transtornos
específicos ou dificuldades secundárias de aprendizagem;
 Alunos tutores capacitados para lidar com a inclusão em contextos
acadêmicos e profissionais.
 Conhecimentos e práticas educacionais que possibilitem mudanças de
conceitos e atitudes frente às pessoas com transtornos específicos ou
dificuldades secundárias de aprendizagem no contexto universitário;

Através da ação da CAENE, a UFRN vem propondo uma visão ampliada do conceito
de Necessidade Educacionais Especiais, em sua política de inclusão, com a perspectiva de
atender como público-alvo de suas ações, além daqueles defendidos pela Política Nacional de
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), como também os
estudantes com transtornos específicos e dificuldades secundárias da aprendizagem. A
inclusão dessa população se justifica pela alta incidência de tais quadros no contexto do
ensino superior, pelo impacto dos mesmos sobre o desenvolvimento da aprendizagem e
efetivo processo acadêmico dos estudantes por eles atendidos, e pelas NEE potencialmente
advindas das referidas condições.

34
Dados obtidos em documentos institucionais da CAENE/2016.
73

4.3 FILOSOFIA DE TRABALHO DA CAENE

Reconhecendo a deficiência como um conceito em permanente discussão e


atualização, em sua perspectiva de trabalho a CAENE não a compreende como algo que se
esgota em si mesma, mas que se produz na interação entre pessoas com deficiência e as
diferentes barreiras criadas socialmente, que são tanto de natureza atitudinal quanto de
natureza ambiental, que frequentemente impedem a plena e efetiva participação das pessoas
com deficiência, em igualdade de condições com as demais pessoas. Alinha-se, assim, à
perspectiva preceituada pela Convenção dos Direitos da Pessoa com Deficiência:

Pessoas com deficiência são, antes de mais nada, pessoas. Pessoas como
quaisquer outras, com protagonismos, peculiaridades, contradições e
singularidades. Pessoas que lutam por seus direitos, que valorizem o respeito
pela dignidade, pela autonomia individual, pela plena e efetiva participação e
inclusão na sociedade e a busca constante pela igualdade de condições.
Evidenciando, portanto, que a deficiência é apenas mais uma característica
da condição humana (CDPD, 2012, p.18).

Trazendo a missão de propor ações através da consolidação de redes de apoio e


serviço institucional que incidam na eliminação de barreiras arquitetônicas, atitudinais,
pedagógicas e de comunicação na UFRN, a CAENE busca propiciar o acesso, a permanência
e a conclusão dos estudos de estudantes com NEE na UFRN, os apoiando, orientando e
acompanhando durante todo o seu percurso acadêmico, bem como a garantia de práticas
cidadãs na comunidade universitária. Defender e garantir condições de permanência com
dignidade a todos os discentes que apresentam alguma NEE na UFRN é, assim, objetivo
primordial da CAENE.

4.2 DISCENTES COM DEFICIÊNCIA ATENDIDOS PELA CAENE: QUEM SÃO ESTES
SUJEITOS?

A CAENE foi criada para responder às necessidades demandadas pelos discentes


com NEE matriculados na UFRN. Atualmente esta universidade conta com 180 discentes com
74

NEE, sendo 31 estudantes com deficiência visual35, dos quais 26 deles têm baixa visão36 e
apenas 05 possuem cegueira total37; 03 estudantes com altas habilidades ou superdotação; 14
estudantes surdos38; 10 estudantes com deficiência auditiva39; 29 estudantes com deficiência
física; 01 com deficiência múltipla; 11 estudantes com deficiência intelectual; 02 Transtorno do
Espectro do Autismo; 16 discentes com transtornos de aprendizagem; 63 outras necessidades.

4.2.1 O crescimento no número de discentes com NEE na UFRN: alguns apontamentos

O debate sobre política de acessibilidade parece ganhar força com a divulgação de


dados que atestam a realidade em números, em destaque: entre os anos de 2000 e 2010, houve
aumento de 933,6% no número de estudantes com deficiência nas instituições de Ensino
Superior brasileiras, passando de 2.173 no começo do período para 20.287 em 2010 - sendo
6.884 na rede pública e 13.403 na particular, segundo o Censo da Educação Superior de 2010.
O Censo aponta que, no ano de 2010, o Brasil possuía 6,37 milhões de estudantes
matriculados nas universidades, de modo que a população de universitários com deficiência
representa apenas aproximadamente 0,3% deste universo.

35 Podemos afirmar que os graus de visão abrangem um amplo espectro de possibilidades: desde a cegueira
total, até a visão perfeita, também total. A expressão ‘deficiência visual’ se refere ao espectro que vai da cegueira
até a visão subnormal.
36 Neste caso, define-se baixa visão, à alteração da capacidade funcional decorrente de fatores como
rebaixamento significativo da acuidade visual, redução importante do campo visual e da sensibilidade aos
contrastes e limitação de outras capacidades. Entre os dois extremos da capacidade visual estão situadas
patologias como miopia, estrabismo, astigmatismo, ambliopia, hipermetropia, que não constituem
necessariamente deficiência visual, mas que na infância devem ser identificadas e tratadas o mais rapidamente
possível, pois podem interferir no processo de desenvolvimento e na aprendizagem. Uma definição simples de
visão subnormal é a incapacidade de enxergar com clareza suficiente para contar os dedos da mão a uma
distância de 3 metros, à luz do dia; em outras palavras, trata-se de uma pessoa que conserva resíduos de visão.
37 A cegueira, ou perda total da visão pode ser adquirida ou congênita (desde o nascimento). O indivíduo que
nasce com o sentido da visão, perdendo-o mais tarde, guarda memórias visuais, consegue se lembrar das
imagens, luzes e cores que conheceu, e isso é muito útil para sua readaptação. Quem nasce sem a capacidade da
visão, por outro lado, jamais pode formar uma memória visual, possuir lembranças visuais. Deficiência visual /
Marta Gil (org.). – Brasília : MEC. Secretaria de Educação à Distância, 2000.
38 Já o surdo que se identifica com a língua de sinais brasileiras- Libras. Ressalta-se um dado relevante é que a
comunidade surda não gosta de ser reconhecido como pessoa com deficiência auditiva. Ele tem orgulho de ser
surdo e não se considera um deficiente. Já a situação da pessoa que não se identifica com a comunidade surda
tende a ser mais delicada: alguns se incomodam muito quando seu déficit auditivo é percebido, outros se
reconhecem como pessoas com deficiência auditiva (dependendo de sua história pregressa, da etiologia da
surdez, de suas condições atuais de vida, etc.).
39 A pessoa com deficiência auditiva ela será percebida pelos demais quando se nota a presença de uma prótese
auditiva ou se percebe alguma dificuldade (geralmente pequena) de fala. Comumente, pessoa com deficiência
auditiva exerce esforça redobrado para que sua dificuldade não seja percebida. A perda auditiva causa
desconforto e é muitas vezes motivo de discriminação e preconceito. Geralmente, eles fazem uso de uma prótese
auditiva, também conhecida como aparelho auditivo
75

Dados estatísticos da educação das pessoas com deficiência no Brasil ainda apontam
que o crescimento de matrículas no ensino superior cresceu, em dez anos, aproximadamente
575,4% passando de 5.078 matrículas em 2003 para 29.221 matrículas em 2013 (BRASIL,
2013).
É importante destacar que o número de instituições de educação superior que atendem
estudantes com deficiência duplicou no período, ao passar de 1.180 no fim do século passado
para 2.378 em 2010, apenas contam com uma estrutura de acessibilidade para os estudantes,
ainda de forma incipiente, e às vezes sequer dispõe dessa estrutura.
Os dados da CAENE demonstram um crescimento exponencial do número de
estudantes ingressantes com NEE na UFRN. Mediante indicadores inferimos que o
crescimento de discentes com deficiência na universidade é produto das políticas e
instrumentos normativos que passaram a reestruturar o sistema de acesso à educação superior
no Brasil.
Em outros termos, um elemento que justifica elevado número de discentes com NEE
na UFRN diz respeito à implantação do Programa de Apoio a Planos e Reestruturação e
Expansão das Universidades Federais (REUNI) em concomitância com os aportes teóricos e
legais presentes no Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI (2010-2019). Neste caso,
podemos ressaltar que um dos princípios do Plano de Desenvolvimento Institucional da
UFRN está alicerçado no respeito à diversidade, a saber:

Como valor geral para garantir o direito de identidade - pessoal, de grupos e


institucional – atendendo às diferenças, sem discriminação, de modo a
contemplar as características próprias de cada um com vistas a permitir o
desenvolvimento pleno de suas potencialidades (PDI, 2012, p.17).

Segundo indicadores catalogados pela própria UFRN, o trabalho da CAENE vem


demonstrando resultados animadores no contexto da inclusão educacional nesta Universidade.
Os dados apontam para um crescimento exponencial do número de estudantes ingressantes
com NEE na UFRN. No período de 2010 a 2015, a CAENE recebeu um total de 429
solicitações de apoio de estudantes de todos os níveis de ensino através do SIGAA. Desse
modo, observa-se, desde a criação da CAENE em 2010, uma relação crescente nos números
de novas solicitações por ano, que se estabilizaram a partir de 2014. Este número coincide
com a submissão de propostas para o Programa Incluir, a partir de 2006 e com a implantação
da CAENE. Conforme ilustração a seguir:
76

GRÁFICO 1 - Quantitativo de estudantes com NEE na UFRN por ano de ingresso no período de
2010 a 2015.
140
120
100
80
60
40
20
0
2010 2011 2012 2013 2014 2015
Total 28 45 48 64 115 129

Fonte: Arquivo CAENE; Módulo NEE/ SIGAA, acessado em dezembro de 2015.

Este dado demonstra que após a inserção factual da política de inclusão na UFRN, a
instituição vem apresentando avanços na minimização de barreiras em relação,
especificamente, ao acesso de estudantes com NEE em seu quadro, de modo que, totaliza 180
estudantes com NEE registrados pela CAENE em 2015, vejamos quadro a seguir:

QUADRO 2 – Discentes com NEE atendidos pela CAENE, por tipo de NEE.
TIPO DE NEE 2015
Altas Habilidades/superdotação 3
Deficiência Auditiva 10
Surdez 14
Deficiência Física 29
Deficiência Intelectual 11
Deficiência Múltipla 1
Deficiência visual – baixa visão 26
Deficiência visual – cegueira 5
Outras necessidades 63
Transtorno do Espectro do Autismo 2
Transtornos de Aprendizagem 16
Total 180
Fonte: Arquivo CAENE, acessado em dezembro de 2015.

Ainda nessa direção, trazemos abaixo também o quantitativo de estudantes com


deficiência visual na UFRN por ano de ingresso a seguir:
77

GRÁFICO 2 - Quantitativo de estudantes com deficiência visual na UFRN por ano de ingresso
no período de 2004 a 2015.

18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
2004 2006 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Total 1 1 1 2 6 9 3 6 17 9

Fonte: Dados internos da CAENE, acessado em dezembro de 2015.

Estes dados são bastante significativos e apontam que, após a implementação da


política de inclusão na UFRN em 2010, a instituição vem apresentando avanços na
desconstrução das barreiras arquitetônicas, atitudinais e de comunicação enfrentadas pelos
estudantes com NEE, que são demonstradas no cotidiano institucional. Entretanto, sabemos
que a inserção, nas mais diversas modalidades de ensino na UFRN, não assegura a
permanência e a conclusão. Assim, este segmento traz consigo diferentes demandas em
termos de serviços, condições objetivas e subjetivas. Trataremos destes elementos mais à
frente neste estudo.
Embora seja um trabalho recente, destacamos que, como resultado apreendido desta
atuação, os estudantes vêm reivindicando a efetivação dos seus direitos, e vêm ampliando a
sua participação política, inserindo a temática da inclusão educacional na pauta do movimento
estudantil da UFRN. Neste sentido, podemos destacar a criação de uma representação dos
estudantes com NEE e a mobilização da comunidade universitária no que diz respeito à
realização de campanhas pela garantia dos direitos dos estudantes. A título de exemplo, temos
a campanha educativa realizada na UFRN pelos estudantes e intitulada "Esta vaga não é sua
nem por um minuto". Este é o desdobramento de uma ação local com base na campanha
nacional pelo respeito aos diretos das pessoas com deficiência.
78

4.2.2 Ampliando a noção de deficiência na UFRN

De acordo com a Lei nº 7.853 de 24 de outubro de 1989, notadamente a Política


Nacional e Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), são
considerados estudantes com NEE aqueles que necessitem de procedimentos e/ou recursos
educacionais especiais decorrentes de deficiência física, auditiva, visual ou intelectual; altas
habilidades/ superdotação ou transtornos globais do desenvolvimento. Porém, a UFRN tem
buscado a ampliação deste segmento de estudantes, partindo da ótica de que não somente as
condições anteriormente aludidas podem gerar necessidades educacionais especiais. Neste
sentido é que Ferreira (2007) nos diz:

As deficiências e as afecções são condições, definitivas ou transitórias, que


implicam em determinadas necessidades, que são chamadas de especiais –
NE - se não forem compartilhadas pela maioria das pessoas. Caso essas
necessidades especiais não possam ser atendidas pelos meios tradicionais de
ensino, por demandarem uma série de recursos e estratégias de caráter mais
especializado por parte da instituição, elas passam a denominar-se de
necessidades educacionais especiais – NEE (FERREIRA, 2007, p.48).

O quadro abaixo explicita bem o caminho apontado por Ferreira (2007), ampliando a
identificação do estudante com NEE, a saber:

QUADRO 3 - Identificação de estudante com NEE

Condições Especiais Geram Limitações ou dificuldades



Deficiência: física, auditiva, visual, crônica (Restrições para adaptação do
física ou emocional, dificuldade para estudante ao meio físico, social e
aprendizagem ou para comunicação por meio acadêmico).
da fala, leitura ou escrita, condição múltipla.
Limitações ou dificuldades Podem Necessidades Especiais (NE)
2° produzir (Demandas não compartilhadas pela
maioria das pessoas).
Necessidades Especiais (NE) Necessidades Educacionais
3° Podem Especiais (NEE) (Demandas não
tornar-se atendidas pelos recursos e
estratégias tradicionais de ensino).
Necessidades Educacionais Especiais (NEE) Apoio Institucional Especial
4° Demandam (Respostas educacionais que
equiparam as oportunidades para o
processo de ensino - aprendizagem -
avaliação).
Fonte: FERREIRA (2007, p.48).
79

Com efeito, esta perspectiva concebe que as condições desses estudantes podem
gerar necessidades educacionais especiais abrangentes e complexas e que, portanto, são
requeridas metodologias e estratégias de ensino distintos e com caráter especializado. Dessa
forma, além do já definido segmento de discentes com deficiência preconizado pela política
nacional, a UFRN vem atendendo a estudantes que apresentam condições diversas que podem
desencadear necessidades educacionais especiais, como é o caso dos Transtornos de
Aprendizagem (Dislexia, Disortografia, Discalculia) e das Dificuldades Secundárias de
Aprendizagem (doenças crônicas, alterações neurológicas ou neuropsiquiátricas, Transtorno
do Déficit de Atenção/Hiperatividade- TDHA). Assim é que, ampliando a noção de
deficiência, a CAENE categoriza os estudantes da seguinte forma:

 Estudantes com Deficiência (auditiva, visual, intelectual ou múltipla);


 Estudantes com Transtornos Globais do Desenvolvimento;
 Estudantes com Altas Habilidades/Superdotação;
 Estudantes com transtornos (dislexia, discalculia, disortografia) ou
dificuldade secundária de aprendizagem (TDA/H);
 Estudantes inseridos com afecções crônicas, alterações neurológicas
ou neuropsiquiátricas.

Hodiernamente, a CAENE identifica o discente com NEE mediante o Sistema


Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas/SIGAA, que fornece um cadastro geral de
estudantes com condições que possam vir a engendrar necessidades educacionais especiais.
Atualmente, encontram-se nesse cadastro os respectivos estudantes:

a) Estudantes que, no ato de sua inscrição no Exame Nacional do Ensino


Médio- ENEM/ Sistema de Seleção Unificado (SISU) apontaram sua
deficiência ou outra condição que possa vir a gerar (NEE);
b) Estudantes que, somente após a inserção no curso, solicitaram apoio
diante de alguma condição que possa vir a gerar NEE, tendo identificado tal
condição através de formulário específico da coordenação de curso e;
c) Estudantes que, adquiriram alguma condição especial após o ingresso no
curso, diante de solicitação de apoio realizada através de formulário
específico emitido pela coordenação de curso.

É neste sentido que, compreendendo de maneira ampliada a noção de deficiência, a


própria universidade, através da CAENE, passa a buscar atender um número maior de sujeitos
para que chegue ao maior número de pessoas o direito efetivo à educação, assim como, à
dignidade e à cidadania nesta instituição.
80

4.3 VIABILIZANDO A ACESSIBILIDADE: DAS ESTRATÉGIAS DE ATENDIMENTO


EDUCACIONAL

4.3.1 Acessibilidade e Tecnologia Assistiva

A acessibilidade é parte constitutiva de uma recente linha de pesquisa, a da


Tecnologia Assistiva (TA)40. Esta, conforme o Comitê Nacional de Ajudas Técnicas
(BRASIL, 2007) é definida como ramo do conhecimento de natureza trans e multidisciplinar,
que abrange a pesquisa e a conceituação de produtos, serviços e métodos, que se direcionam
para pessoas com limitações permanentes ou momentâneas.
Assim é que o termo Tecnologia Assistiva (TA) é aplicado para assinalar todo o
conjunto de recursos e serviços que contribuem para a formação de habilidades funcionais de
pessoas com deficiência, aliada a promoção da vida independente e inclusão social.
(BERSCH & TONOLLI, 2006).
Em se tratando de tecnologias assistivas para pessoas cegas, os mais importantes
(por sua rapidez em processar informações) talvez sejam os diversos programas
sintetizadores de voz, sendo os mais conhecidos o Dosvox, o Virtual Vision e o
Jaws.
O Dosvox (desenvolvido pelo Núcleo de Computação Eletrônica da UFRJ) é
disponibilizado gratuitamente e pode ser adquirido pela internet. É um
programa para microcomputadores, que interage através da comunicação entre o usuário
por meio de síntese de voz, viabilizando a utilização de computadores por pessoas com
deficiência visual, facultando-lhes certa independência nas questões de trabalho ou
estudos, por intermédio de um sistema operacional que contém os elementos de interface
com o usuário. É um sistema de síntese de vocalização na língua portuguesa, editor de
textos, entre outros programas, específico para a pessoa cega.
O Programa Virtual Vision foi desenvolvido pela Micro Power – Tecnologia em
Educação e Negócios. É um software privado, mas pode ser obtido gratuitamente através de
duas redes bancárias, desde que a pessoa seja correntista das agências bancarias. É um
programa que favorece a autonomia de pessoas com deficiência visual no que se refere à

40
Ajudas Técnicas foi um termo utilizado anteriormente para designar o que hoje é chamado de Tecnologia
Assistiva (BRASIL, 2007a).
81

utilização do Windows, da internet e outros aplicativos, através da leitura dos menus e telas
desses programas, feita por um sintetizador de voz. Atualmente é considerado o leitor de tela
mais popular no mundo, em específico tem a capacidade de ler certos recursos de página da
internet.
O JAWS (da Norte American Freedom Scientific) é um software privado, do tipo
leitor de tela, que fornece assistência para as pessoas com deficiência visual utilizarem o
computador. O uso do computador tem facilitado o aprendizado, com os recursos de escrita,
leitura, bem como pesquisa de informação. Através dos programas, a pessoas com deficiência
visual pode não apenas ler escrever textos no computador, como também navegar na internet.
Em se tratando de programas que utilizam a técnica do Braille, existe o BR Braille,
desenvolvido pela Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da UNICAMP; este é
um programa de transcrição de textos em caracteres em Braille para alfanuméricos em
português. Outro recurso é o Braille Creator, que consiste em um software que permite criar
textos em Braille no computador com vários recursos e é compatível com as principais
impressoras Braille existentes no mercado. Já o Braille Fácil é um recurso que tem sido muito
utilizado nas instituições que possuem a impressora Braille. Este recurso consiste em um
programa que permite digitar ou importar um texto de um editor de texto convencional para
preparar textos que podem ser remetidos para uma impressora Braille.
Outro programa utilizado é o Tecla Fácil, que permite o treinamento de técnicas de
digitação, com o uso do teclado alfanumérico e numérico do microcomputador, por cegos e
pessoas com baixa visão, pois as teclas são sonoras.
A utilização dessas ferramentas trouxeram para as pessoas com deficiência visual
novas formas de inclusão, como ressalta Borges (1996 apud SONZA; SANTA ROSA, 2005,
p. 2), ao relatar sobre as dificuldades de inclusão de pessoas cegas, no que se refere aos
obstáculos ao seu aproveitamento produtivo na sociedade, é necessária “uma educação
adaptada à realidade destes sujeitos e o uso da tecnologia para diminuir as barreiras”.

QUADRO 4 - Demonstrativo de tecnologias assistivas destinadas a pessoas com deficiência visual


FERRAMENTA PRODUTOR FUNCIONALIDADE INDICAÇÃO

Ampliador de tela Microsystems Software para leitura e Para uso de pessoas com
MAGIC Software, Inc. ampliação de tela, possui o baixa visão ou cegueira.
recurso Speech que lê em Apresenta vários níveis de
voz alta o conteúdo. alto contraste e níveis de
ampliação de tela. Além de
poder ser executado ao Jaws.
82

LentePro Núcleo de Software que amplia a tela Para uso de pessoas com
(DosVox) Computação em uma janela tendo a baixa visão. Este software
Eletrônica da função de uma lupa. aceita os controles
UFRJ convencionais de todos os
programas para Windows.
ZoomText Aisquared Amplia tamanho do que é Para uso de pessoas com
mostrado na tela. baixa visão. Este software é
capaz de ampliar até 36 vezes
o conteúdo da tela com alta
definição.
Jaws Freedom Software que lê o conteúdo Para uso de pessoas com
Scientific Blind da tela através de síntese de cegueira. Utilizado por mais
fala de 50.000 usuários, este
software processa leitura
integral, durante a utilização
do Windows programas da
Microsoft.
Virtual Vision MicroPower Software que lê o conteúdo Para uso de pessoas com
da tela através de síntese de cegueira. Software leitor de
fala. tela que pode ser utilizado em
diversas versões do Windows,
possuindo um módulo de
treinamento é considerado
autoexplicativo.
Window-Eyes GW Micro Software que lê o conteúdo Para uso de pessoas com
da tela através de síntese de cegueira. Capaz de ser
fala. utilizado em todas as versões
do Windows ele conta também
com a compatibilidade com
diversos dispositivos Braille.
DOSVOX Núcleo de Software que lê o conteúdo Para uso de pessoas com
Computação da tela através de síntese de baixa visão ou cegueira.
Eletrônica da fala.
UFRJ
Fonte: Mari (2011, p. 41-42)

4.3.2 A CAENE/UFRN e as Tecnologias Assistivas (TA)

Para a implementação das tecnologias assistivas na UFRN, a CAENE criou em 2011


o Laboratório de Acessibilidade (LA). Situado na Biblioteca Central Zila Mamede, o LA
objetiva promover inclusão informacional mediante o oferecimento de produtos de
informação acessível destinados ao atendimento das demandas dos usuários com NEE.
83

Uma das atividades centrais do LA é a produção e adaptação de textos acadêmicos


acessíveis41. Este trabalho iniciou-se com uma pequena produção, em 2011. No ano de 2013
houve um aumento significativo do acervo, advindo da requisição de exemplares de livros
completos. O consumo dos materiais, e em decorrência, sua produção foram ampliados no
ano de 2014, muito em decorrência do sistemático trabalho executado pela equipe do LA, ao
incentivar e orientar os estudantes com deficiência visual no manuseio de computadores
(cedidos ou não pela CAENE) munidos dos softwares que permitem a leitura do material
digital.
Atualmente, o LA dispõe de um acervo digital com 2.692 exemplares de textos
adaptados de livros, capítulos de livros, artigos de revistas e apostilas, elaborados em diversos
formatos acessíveis (DOC e PDF em fonte ampliada e áudio MP3), que podem ser oferecidos
aos usuários com NEE de acordo com suas demandas. Os usuários atendidos pelo LA são
majoritariamente discentes com deficiência visual (cegos ou com baixa visão) e discentes com
dificuldades de aprendizagem (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade/ TDHA e
Dislexia)42.
Os principais serviços oferecidos pelo LA são: digitalização de textos43; Revisão
Braille, que transforma textos de qualquer formato em Braille, assim acessível à leitura tátil44;
produção de textos em fontes ampliadas/conversão de textos para áudio em MP3; capacitação
para utilizar os softwares acessíveis; orientação à pesquisa bibliográfica e digital;
disponibilização de público interno/externo para conhecer o trabalho executado pelo
laboratório. Ainda no quesito da produção de materiais acessíveis pelo LA, assinalamos que
as páginas a serem adaptadas são oriundas dos textos fotocopiados ou originais de livros que
são convertidos em formato acessível.

41
Um trabalho importante que as universidades brasileiras efetuam com alguma recorrência para os estudantes
com deficiência visual é a produção e adaptação de textos acadêmicos destinados ao tipo de deficiência visual de
cada discente, que podem demandar material acadêmico em formatos diferenciados e acessíveis como: em
Braille, em fonte ampliada, formato digitalizado ou mp3.
42
O LA ainda dispõe para toda a comunidade acadêmica diferentes serviços de informação, como a produção de
materiais em diferentes formatos acessíveis, digitalização de textos em conformidade com a Lei nº 9.610, 19 de
fevereiro de 1998, versa sobre Direitos Autorais, orientação bibliográfica e normalização de trabalhos,
orientação e mobilidade na UFRN, visitação guiada, revisão de textos no sistema Braille, consultoria em
questões de acessibilidade institucional e extra institucional a UFRN, capacitação de servidores e bolsistas de
apoio técnico na área voltada para bibliotecas acessíveis.
43
Produzidos de acordo com a Lei nº 9.610 de 19 de fevereiro de 1998, a Lei de Direitos Autorais (BRASIL,
1998).
44
Este é serviço especializado que requer conhecimento de códigos, normas técnicas, grafia de impressão e dos
softwares destinados à transcrição do material a ser trabalhado.
84

No LA, há também a produção e adaptação de textos com descrição de imagens. Esta é


uma técnica que implica em um conhecimento de audiodescrição, pois objetiva o repasse de
todas as informações dos textos (incluindo suas imagens). Essa é uma demanda que solicita
específicas capacitações técnicas, uma vez que a leitura imagética e a descrição da imagem
são efetivadas na íntegra, o que requer maior desprendimento de tempo na elaboração do
material.
Em 2012, foi criado o Repositório de Informação Acessível (RIA), com a finalidade
de reunir, integrar e disponibilizar num sítio eletrônico específico, os materiais
confeccionados pelo LA. Por intermédio da CAENE, o RIA foi institucionalizado através da
Resolução Nº. 054/2014-CONSEPE, de 11 de março de 2014. Este repositório possibilita o
acesso ao material de estudo e pesquisa requeridos pela formação acadêmica aos estudantes
com deficiência visual matriculados regularmente nos cursos de Graduação e Pós-Graduação
da UFRN.
85

5 "ELA NOS PROPORCIONA UMA INSERÇÃO MAIS SUAVE": A ATUAÇÃO DA


CAENE NO ACESSO E NA PERMANÊNCIA DE ESTUDANTES CEGOS NA UFRN

Neste capítulo do trabalho, desejamos oferecer uma discussão em torno de diferentes


rebatimentos do trabalho da CAENE, a partir de depoimentos dos estudantes cegos atendidos
por esta comissão. Nossa hipótese é a de que não obstante seja fundamental o trabalho da
CAENE em facilitar a acessibilidade dos estudantes em termos de seu acesso à tecnologia (a
atuação nas chamadas barreiras tecnológicas), a atuação da CAENE que aparece como mais
profundamente significativa para os estudantes é o diálogo que sua equipe empreende com o
corpo docente da UFRN, atuando assim em uma barreira menos visível e pouco palpável, mas
extremamente poderosa, pois atravessada por preconceitos e compreensões errôneas e
distorcidas sobre as pessoas com deficiência: as chamadas barreiras atitudinais. Advogamos a
ideia de que a atuação nestas barreiras é primordial para que o acesso e a permanência,
notadamente dos estudantes cegos (nosso objeto de estudo) se efetivem plenamente.

5.1 APRESENTANDO OS SUJEITOS DA PESQUISA

A partir desta seção discutiremos os dados coletados nas entrevistas que efetuamos
com cinco discentes cegos matriculados em cursos de graduação da UFRN e atendidos pela
CAENE. Foi utilizado em sua efetuação o roteiro semiestruturado que se encontra no
Apêndice B deste trabalho. As entrevistas forneceram elementos essenciais para subsidiar a
compreensão das trajetórias acadêmicas destes sujeitos e foram realizadas durante o ano de
2015.
É necessário explicarmos que para preservar a privacidade dos sujeitos, seus nomes
originais foram substituídos por pseudônimos. Para efetuar esta renomeação, escolhemos
nomes de pessoas cegas e de baixa visão que se tornaram personalidades importantes de nossa
época e que neste trabalho buscamos homenagear. Estes são:
Ray Charles, 1930-2004. Multinstrumentista, compositor e cantor estadunidense.
Ficou cego aos sete anos de idade;
Stevie Wonder , 1950. Compositor, cantor e ativista de causas humanitárias e sociais
estadunidense. Ficou cego com poucos dias de vida, devido a uma doença chamada
retinopatia da prematuridade;
86

Helen Keller, 1880-1968. Escritora, filósofa, conferencista e ativista social


estadunidense. Ficou cega e surda aos dezenove meses de idade. Foi a primeira pessoa cega e
surda a conquistar um bacharelado. Conhecida por seu extenso trabalho em favor das pessoas
com deficiência, era militante do Partido Socialista da América e participou de intensas lutas
pelo sufrágio universal, ou seja, pelo direito a voto às mulheres, negros, pobres e deficientes,
assim como por direitos trabalhistas. Foi membro honorário de várias sociedades científicas e
organizações filantrópicas nos cinco continentes;
Andrea Bocelli, 1958. Cantor lírico, compositor e produtor musical italiano. Nasceu
com glaucoma congênito que o deixou parcialmente cego. Aos doze anos, durante uma
partida de futebol levou um golpe na cabeça que fez com que sua cegueira fosse total;
Evgen Bavcar, 1946. Fotógrafo esloveno. Ficou cego aos doze anos após sofrer dois
acidentes: o olho esquerdo perdeu a visão quando perfurado por um galho de árvore e o
direito foi afetado durante a explosão de um detonador de minas com o qual brincava. Relata
que em suas fotografias exterioriza suas imagens interiores. Entre algumas características de
seu trabalho, destaca-se a composição da luz em contraste com ambientes totalmente escuros.
É doutor em História, Filosofia e Estética pela Universidade de Sourbonne, na França.
Do exposto acima, pretendemos dar visibilidade a estas pessoas, que com sua arte,
suas reflexões e sua atuação política, superaram suas pretensas incapacidades. Sendo assim,
ao invés de nomear nossos interlocutores com seus nomes civis, os renomearemos neste
trabalho com os nomes das personalidades acima homenageadas. Os estudantes são quatro
homens e uma mulher, oriundos de famílias das classes trabalhadoras urbanas e moradores da
cidade do Natal. Na época das entrevistas estavam matriculados nos seguintes cursos de
graduação: Teatro, Música, Gestão Hospitalar, Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde e
História, distribuídos conforme o quadro abaixo. De início, os sujeitos nos deram algumas
informações gerais que nos ajudaram a pensar sobre o seu perfil socioeconômico:
sexo/gênero, curso onde se encontravam matriculadas/os, faixa etária, estado civil, número de
filhos, ano de ingresso na UFRN, renda familiar e quantidade de processos seletivos já
submetidos para a graduação em andamento.
Em seguida, eles verbalizaram em torno de suas expectativas antes de ingressar na
UFRN, logo após relataram o processo do ingresso, e em seguida trataram sobre
acessibilidade no Campus, recursos tecnológicos necessários para sua aprendizagem,
qualificação docente, interação social, preconceito e por fim relataram seu entendimento em
87

torno da atuação da CAENE. Conforme apresentamos o quadro abaixo podemos visualizar


melhor o perfil que estamos analisando, a seguir:

QUADRO 5 - Perfil socioeconômico dos estudantes com deficiência visual

PERFIL SOCIOECONÔMICO

Nº DE
ESTUDANTE/ S CURSOS FAIXA ESTADO Nº DE ANO DE PROCESSOS RENDA
ENTREVISTADO E ETÁRIA CIVIL FILHOS INGRESS SELETIVOS FAMILIAR
X (Anos) O SUBMETIDO (Em Salários
O S45 Mínimos)
Educação
HELEN KELLER F Física 41 Solteira 0 2015.1 1 De 4 a 5
(concluído)
Teatro (em
andamento)
De 1 a 2
RAY CHARLES Música (em (Benefício de
M andamento) 35 Casado 1 2014.1 1 Prestação
Continuada
(BPC) + Bolsa
Acessibilidade)
Gestão
STEVIE WONDER M Hospitalar 54 Casado 2 2014.1 1 De 2 a 3
(em
andamento)
Medicina
EVGEN BAVCAR M (concluído) 29 Solteiro 0 2014.1 2 Acima de 5
Gestão de
Sistemas e
Serviços de
Saúde
(em curso)
De 2 a 3
ANDREA História (em 24 Solteiro 0 2011.1 1 (Aposentadoria
BOCELLI M andamento) dos avós +
Bolsa Atleta)
Fonte: Criação da autora (Coleta de dados, 2016).

Os dados mostram que a média de idade dos estudantes corresponde a 36,6 anos,
evidenciando que todos ingressaram na educação superior já na idade adulta (um deles aos
vinte e três anos, outro aos vinte e um anos e os demais após os trinta anos), diferentemente
do que ocorre com a maior parte dos estudantes videntes. Tendemos a pensar que o ingresso
tardio destes estudantes faça parte do processo mais amplo de exclusão.
Os dados coletados também mostram que quatro dos cinco estudantes entrevistados
obtiveram aprovação no primeiro processo seletivo a que se submeteram e que já se
encontram próximos da conclusão dos cursos. Apenas um dos entrevistados foi submetido a

45
Destacamos que todos os estudantes entrevistados não foram submetidos a processos seletivos diferenciados
como requeridos, atualmente, a Lei dos sistemas de cotas implantadas pelo ENEM. Em outros termos os
entrevistados tiveram apenas as suas provas adaptadas de acordo com as necessidades especiais de cada, por
meio de softwares, dentre outros mecanismos.
88

(03) três processos seletivos, dentre esses no primeiro o mesmo ainda não se encontrava na
condição de pessoa com deficiência, diferentemente, das demais seleções.
Isto se afasta do que constatam Oka e Nassif (2010): eles revelam que os estudantes
com deficiência “vêm encontrando dificuldades em permanecer e concluir os cursos” (OKA e
NASSIF, 2010, p. 412). Ora, historicamente, no Brasil, pode se afirmar que é ínfimo o
número de cegos que conseguem o devido acesso à universidade. Oliveira (2012) em 2010
constata ainda que 6,7% das pessoas com deficiência possuíam diploma de cursos superior,
enquanto 10,4% das pessoas sem deficiência o possuíam, em nosso País.
Neste caso, a inserção desta população na educação superior, que aqui
compreendemos sob a perspectiva do direito social, pressupõe a conquista de uma das
dimensões da cidadania, que conforme o modelo marshalliano é um conjunto de direitos,
incluindo: direitos civis – de locomoção, de imprensa, de credo, de propriedade, à liberdade
de pensamento e de expressão; direitos políticos – de votar e ser votado, de participar de
assembleias, associações, sindicatos, partidos políticos e, por fim, direitos sociais –
identificados como o acesso a um mínimo de bem-estar econômico e de segurança, voltados
para proporcionar a vida de um ser civilizado (Marshall, 1967). Neste caminho, Faria (2005),
alerta que:

[...] deve haver compromisso do Estado e da sociedade no sentido de


proporcionar aos “excluídos” socialmente o acesso ao ensino superior, até
em razão de, através desse comportamento, não apenas diminuir as
desigualdades existentes no nosso País, mas também visando o
desenvolvimento do Brasil (FARIA 2005, p. 93).

Ora, é sabido que no modelo de cidadania realizado no Ocidente moderno as


desigualdades são veladas, disfarçadas sob uma igualdade formal, e ainda que possa
concretizar direitos sociais e políticos, mantém invioláveis as injustiças sociais.
Em seguida, traremos alguns elementos que nos falam da compreensão destes
estudantes sobre sua inserção na UFRN em torno de seu acesso e permanência, assim como
de seu entendimento da atuação da CAENE.

5.2 EXPECTATIVAS ENVOLVENDO A UFRN

É recorrente nas falas dos entrevistados o reconhecimento da graduação como


importante para o crescimento pessoal. Ainda consideram a UFRN uma instituição pública de
89

qualidade, gratuita e comprometida com a acessibilidade dos estudantes com deficiência.


Diante dos comentários apresentados abaixo, notamos que os entrevistados já possuíam
conhecimento prévio ao que se refere a algumas das condições de ensino presentes nesta
universidade, ou através da participação anterior em projetos de extensão, ou por serem ex-
alunos, o que gerou um conjunto de expectativas.

[Antes de ingressar na UFRN] eu já estava me sentindo já aqui. Acho que a


UFRN tem um diferencial em relação à inclusão e a preocupação dessa
assessoria que a CAENE oferece, que acho isso um modelo. (Ray Charles).
Eu já participava da Escola de Música e aí fiquei no mesmo ambiente. O
projeto de extensão de flauta doce para deficientes visuais considero que foi
a porta de entrada que me levou hoje para eu estar na graduação. (Evgen
Bavcar).

Igualmente, no discurso dos entrevistados identificamos dimensões referentes acerca de suas


expectativas no processo de inserção e acessibilidade no Campus da UFRN, por meio, da
valorização da educação superior e da gratuidade. Entretanto, destacamos ainda nas suas narrativas
os seus receios quanto ao enfrentamento do preconceito e discriminação desprendidos pelos
colegas de sala e docentes.

Eu acho que quando eu entrei tive certo receio de ter muitas barreiras a
serem enfrentadas e muitas dificuldades, a questão da resistência dos
colegas e dos professores, né? (Evgen Bavcar).
[Escolhi estudar na UFRN porque] pra mim sempre foi a melhor
universidade do Rio Grande do Norte, no mínimo, e também por ser gratuita
(Stevie Wonder).

5.3 EM TORNO DO INGRESSO À UFRN

Uma das dificuldades para o ingresso constitui no momento da seleção, onde nem
sempre os recursos necessários para realização da prova são atendidos de maneira plena.
Como por exemplo, relatado por um dos entrevistados.

[...] Solicitei ledor de tela e notebook, porém a COMPERVE negou (Andrea


Bocelli).

Porém, na maioria das vezes, o candidato pode ser auxiliado durante o processo
seletivo (vestibular/ENEM/Outro) com vistas a ingressar na universidade. No caso, dos
candidatos cegos, os ledores e escribas são os principais profissionais para atuarem nesse
momento. Os resultados das entrevistas evidenciaram isso:
90

No ENEM? Tive ledor e escriba. (Ray Charles)


No ENEM tive ledor para a prova escrita e transcritor. E na prova prática
também tive alguém para descrever. Na verdade fiz minha avaliação de
acordo com o que a pessoa descreveu para mim. Solicitei o transcritor, pois
temos um teste de habilidades específicas para a prova de teatro. (Helen
Keller)
No ENEM, prova ampliada, com ledor e escriba, só pela opção que tinha lá.
Tive uma prova bem assessorada (Evgen Bavcar).

5.4 ENTRE EDIFICAÇÕES E EQUIPAMENTOS URBANOS: A ACESSIBILIDADE E OS


ESTUDANTES CEGOS

Nas entrevistas com os estudantes cegos, várias falas apontaram para a necessidade
premente de melhorias nas condições de acessibilidade no Campus da UFRN. Um dos
entrevistados colocou, inclusive, da necessidade de haver uma pessoa responsável na própria
CAENE para dirimir estes problemas envolvendo a acessibilidade e que emergem no dia a
dia da instituição, assim como o remover os obstáculos oriundos após a construção das obras,
os quais são apresentados na rota de passeio dos entrevistados, assim como ter celeridade no
que diz respeito às resoluções das questões de acessibilidade de um modo geral, para que não
interfiram na permanência desses estudantes e nem tampouco sejam fatores para uma possível
evasão acadêmica. Algumas destas solicitações foram efetuadas na própria CAENE no início
do ano de 2012, como a implantação de piso tátil em algumas rotas passeios. Algumas delas
foram atendidas no ano de 2016. A respeito disso, nos disseram:

Tem árvores nas rotas de passeio, pedregulhos de reformas de construções,


em andamento ou já de obras realizadas, que não foram removidas e sim
deixadas nos percursos das instalações das salas de aula, nos pontos de
transportes coletivos até a via que dá acesso as instalações da sala de aula
(Stevie Wonder).
Tem coisas que não precisam demorar tanto. Coisas que a gente solicitou no
início do curso e só vieram resolver agora, mas, essa demora, eu já estou
praticamente saindo do curso, sei que vai ficar para outros, mas poderiam ter
feito antes, entendemos a burocracia do sistema (Stevie Wonder).
Somos muito bem atendidos no RU (Restaurante Universitário), sou bem
atendido, mas na questão do acesso, você tem um passeio todo pavimento,
calçado... Mas tem as árvores que ficam no passeio e atrapalham o percurso
(Stevie Wonder).
O cara vai fazer a ciclovia e não conserta depois. Ciclovia nova, calçada
velha danificada pela obra (Stevie Wonder).
Tem um bloco de concreto no meio do meu caminho que está lá há dois
meses. Estava na calçada, tentei remover, mas é muito pesado e não
consegui.
Eu desço na calçada do setor II, venho numa calçada bem estreitinha (Stevie
Wonder).
91

Já no túnel, quando vou entrar pela praça cívica, o caminho é bem estreitinho
(Stevie Wonder).
Faz tempo que não vou à CAENE, por isso não informei lá. Acho que teria
que ter alguém que resolvesse, uma pessoa que resolva os problemas do dia
a dia (Stevie Wonder).

Ora, Vizioli e Peres (2004) apontam que a acessibilidade se revela como uma
condição para obter a utilização das edificações, espaço mobiliário e equipamentos urbanos,
por intermédio da necessidade de adequações para garantir que ela se consolide nos diversos
locais, bem como possibilite a utilização de equipamentos de tecnologia para auxílio nas
atividades cotidianas. Desta feita, a acessibilidade é definida pela Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT), pela norma NBR 9050/2004, como: “[...] Possibilidade e condição
de alcance, percepção e entendimento para a utilização com segurança e autonomia de
edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos” (ABNT, 2004, p.2).
Ainda de acordo com o Manual de Acessibilidade da ABNT (2006) obstáculos são:
escadas sem corrimão e sem contraste de cor nos degraus; ausência de corrimão e/ou
guardacorpos normatizados; ausência de banheiros adaptados; pouca iluminação; ausência de
rampas de acesso para cadeirante; ausência de telefones públicos, extintores de incêndio e
caixas de correio adaptados à altura de usuários de cadeira de rodas; ausência de sinalização
tátil no chão; salas de aula, teatros, ginásios sem vagas ou espaços para cadeiras de rodas nos
corredores entre as poltronas, carteiras e arquibancadas; desníveis nas portas que sejam
maiores do que 5 metros; portas e corredores estreitos; catracas sem porta alternativa; portas
emperradas e com maçanetas roliças ao invés do tipo alavanca, principalmente em banheiros
adaptados; banheiros sem identificação escrita, ao invés de símbolo que desenhem o gênero e
em relevo; falta de manutenção de ruas e calçadas, bueiros sem tampa ou grades de proteção;
e falta de abrigos para sol e chuva nos pontos de ônibus. Acerca das estratégias de
acessibilidade, Sassaki (2005) elenca:

Acessibilidade arquitetônica, sem barreiras ambientais físicas em todos os


recintos internos e externos e nos transportes públicos;
Acessibilidade comunicacional, sem barreiras na comunicação interpessoal
(face-a-face, língua de sinais, linguagem corporal, linguagem gestual e etc.),
na comunicação escrita e na comunicação virtual;
Acessibilidade metodológica, sem barreiras nos métodos e técnicas de
estudo;
Acessibilidade instrumental, sem barreiras nos instrumentos e utensílios de
estudo, de atividades da vida diária e de lazer, esporte e recreação;
Acessibilidade programática, sem barreiras invisíveis embutidas em políticas
públicas, em regulamentos e em normas em geral;
92

Acessibilidade atitudinal, por meio de programas e práticas de sensibilização


e de conscientização das pessoas em geral e da convivência na diversidade
humana resultando em quebra de preconceitos, estigmas, estereótipos e
discriminações (SASSAKI, 2005, p.23).

De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT (2006),


acessível é o espaço, edificação, mobiliário ou elemento que possa ser alcançado, visitado e
utilizado por qualquer pessoa, inclusive aquelas com deficiência. Dessa forma, o termo
acessível implica tanto em acessibilidade física como de comunicação. Representa para o
usuário não só o direito de acessar a rede de informações, mas, também, o direito de que
sejam eliminadas as barreiras arquitetônicas, que haja disponibilidade de comunicação, de
acesso físico, de equipamentos e programas adequados, de conteúdo e apresentação da
informação em formatos alternativos. A promoção da acessibilidade, assim, é um dos meios
que pode dar oportunidades às pessoas com deficiência de participarem plenamente na
sociedade, em condições próximas às dos demais.
93

5.5 RECURSOS TECNOLÓGICOS COMO INSTRUMENTOS PARA A AUTONOMIA

No tocante aos recursos e/ou equipamentos próprios para apoiá-los na realização de


suas atividades acadêmicas, auxiliando desse modo na sua permanência na instituição, os
estudantes informaram possuir pelo menos um equipamento (entre notebook e gravador)
fornecido pela CAENE, o que demonstra a assistência prestada pela UFRN aos estudantes que
não possuem condições de adquirir algum aparelho que facilite ou auxilie na execução das
suas atividades.
Uso um gravador em áudio MP3, um reglete46 pessoal e também um
computador cedido pela CAENE, que também acho que deveria ser nosso
(Ray Charles).
Possuo um notebook, um digitalizador, um book reader e softwares que me
auxiliam (Evgen Bavcar).

Há ainda um conjunto de dificuldades relacionadas à utilização da informática, mais


especificamente no uso da tecnologia assistiva.

Tive várias dificuldades na parte textual, na voz do NVDA, pois o


computador cansa muito a visão. (Ray Charles).

Importa ressaltar que dar atenção a esses métodos de ensino e recursos não é
suficiente para que as diferentes questões do cotidiano envolvendo o acesso e a permanência
destes estudantes na universidade estejam solucionadas. Porém, estas tecnologias são de
extrema importância para que a inclusão destas pessoas se efetive. Ter acesso a estes
mecanismos pode forjar a necessária autonomia acadêmica destes sujeitos.

Eu acho extremamente importante e válido que a gente vá conquistando cada


vez mais a independência, de procurar a autonomia e tudo o mais (Evgen
Bavcar).

Raposo (2006) afirma que, comumente, as atividades aplicadas para o aprendizado


de cegos na educação superior consistem em viabilizar o acesso ao conhecimento apoiado na

46
A reglete foi um dos primeiros instrumentos criados para a escrita Braille e serve para que pessoas cegas
possam escrever. Ela é uma espécie de régua que contém "celas" (espaços vazados) para que qualquer letra possa
ser escrita. É usada com um instrumento chamado de punção, que serve para fazer as marcas em escrita Braille
no papel (cf. CERQUEIRA e FERREIRA, 2000).
94

tecnologia. A autora ressalta que os recursos tecnológicos são mecanismos que favorecem o
aprendizado dos estudantes cegos.
Ora, ponderamos que a dificuldade em relação ao acesso aos materiais é uma
constante e permanece no decorrer do curso. Porém, em se tratando de como um estudante
cego tem acesso ao conhecimento através da tecnologia, nos diz Radabaugh (1993): “Para as
pessoas sem deficiência a tecnologia torna as coisas mais fáceis. Para as pessoas com
deficiência, a tecnologia torna as coisas possíveis”. (RADABAUGH, 1993).
Não obstante, há mais uma ressalva que desejamos fazer aqui. Reconhecemos a
importância dos recursos tecnológicos atuais, assim como de seu pleno acesso e por fim de
seu uso adequado, para a efetiva inclusão das pessoas cegas no ambiente acadêmico e na
sociedade. Não obstante, os dados contidos nas falas dos estudantes cegos nos dizem que é, na
verdade, a interação com professores e colegas o fator primordial, sine-qua-non, para que haja
real motivação e bom desempenho destes estudantes nas atividades acadêmicas.
Desenvolveremos este aspecto nas próximas páginas deste trabalho.

5.6 "FALTA PREPARO PARA LIDAR COM AS PESSOAS QUE NÃO ENXERGAM":
PRECÁRIA QUALIFICAÇÃO DOCENTE OU DIFICULDADE DE INTERAÇÃO COM
OS CEGOS?

O percurso trilhado pela população com deficiência foi historicamente permeado por
inúmeras dificuldades, donde comparecem de início ações de marginalização até o surgimento
das primeiras políticas atravessadas pelo assistencialismo, e em seguida iniciativas fundadas
na ideia de educação, para que se dessem então as iniciativas de reabilitação e integração e
chegássemos até a noção de inclusão social, como resultado de um conjunto de lutas e
reivindicações sociais (PACHECO, ALVES, 2007).
Porém, a inclusão da população cega ao ensino superior deve aparecer também nas
iniciativas de capacitação docente. Ora, a atuação docente na educação superior voltada para
os estudantes com deficiência visual demanda políticas educacionais que, reconhecendo a
diversidade humana, reiterem a inclusão desta população como elemento indispensável para
uma educação de qualidade.
É neste sentido que os estudantes cegos apontam a necessidade de qualificação do
corpo docente. Este é um dos elementos mais recorrentes das falas coletadas: os estudantes
cegos apontam a difícil relação com seus professores: esta é descrita como sendo eivada por
95

um sem-número de tensões e dificuldades, devido ao fato de que os docentes não estariam


sabendo como lidar pedagogicamente com estes sujeitos:

Em relação às dificuldades, só tive decepções em relação a alguns


professores (Andrea Bocelli).

Acontece dos professores usarem muitos slides, e para apresentar eles


apontam para as figuras ou palavras na projeção e dizem: "isso aqui é tal
coisa, isso é outra coisa". Assim, nós ficamos sem entender, pois não
conseguimos enxergar o que está sendo apontado. (Stevie Wonder)

Em dança eu tive muitas dificuldades. Por exemplo: um professor tem que


ter uma metodologia para um cego conseguir realizar (Helen Keller).

Pra fazer de um jeito mais fácil eles formam grupos e aquele colega
[vidente] do grupo não está preparado para trabalhar comigo, pois ele
também está concorrendo à nota, e não tem tempo de ficar lendo pra mim,
então ele começa a fazer [o trabalho] comigo, mas ele termina fazendo
sozinho (Stevie Wonder).

Por uma atitude que o professor não refletiu bem, não dialogou de que forma
seria mais interessante a ser feita. (Evgen Bavcar).

O professor tem que sair da zona de conforto, pois ele não sabe lidar com a
situação. Falta preparo para lidar com as pessoas que não enxergam. (Helen
Keller).

Aliada à falta de capacitação dos docentes para lidar com os estudantes cegos
comparece a dificuldade de interação. Em primeiro lugar, as falas nos mostram que estes
estudantes necessitam ser ouvidos pelos professores, para que possam responder às atividades
propostas de maneira mais autônoma possível. Assim, a necessidade de diálogo é algo
premente e condição para a interação se fazer. A interação é apontada como não realizada ou
realizada de maneira difícil. Esta interação difícil é apontada como elemento fundamental e
dificuldade maior a ser vencida nas trajetórias acadêmicas dos estudantes cegos, e ela permeia
tanto a relação destes com os professores como também com os estudantes videntes.

Para ser honesto, acho que [o maior problema] é essa barreira atitudinal, de
não querer interagir ou ajudar (Evgen Bavcar).

A dificuldade ainda é a da interação com as pessoas, as atividades em grupo.


(Evgen Bavcar).

De forma geral [os professores] são bem preocupados comigo, mas às vezes
deixam a desejar em interagir com a gente (Andrea Bocelli).
96

[Os professores] alguns ainda se fecham, não querem interagir com você,
saber de que forma podem ajudar (Evgen Bavcar).

Às vezes, por exemplo, passam trabalhos em dupla para você, diferentes


[dos outros estudantes, que fazem individualmente], e isso acaba fazendo
você se sentir diferente em relação aos outros (Evgen Bavcar), por uma
atitude que o professor não refletiu bem, não dialogou de que forma seria
mais interessante a ser feita. (Evgen Bavcar).

Uma coisa importante é o diálogo que a gente tem com cada professor, no
início de cada semestre, que a gente vai ajustando a metodologia de cada um,
[levando a] mais dependência ou não (Stevie Wonder).

Os dados supramencionados permite inferir o quanto é necessário que os docentes


sejam incentivados a buscar continuamente uma formação adequada para o exercício da
profissão. Essa formação é um processo, por isso “[...] é necessário pensar, no nível das
instituições e do Estado, as trajetórias da capacitação e qualificação do docente de educação”
(ARAÚJO, 2008, p. 2).
Ressaltamos estes elementos pelo fato de que ainda se registra pouca qualificação de
parcela considerável da comunidade acadêmica e mais especificamente entre os docentes em
relação ao trato para com os estudantes cegos. Ao lado deste elemento, há também o
desconhecimento desta comunidade em relação aos direitos contidos na política de inclusão
na UFRN, específica para estes sujeitos.
Nesta perspectiva, a falta de capacitação aliada à difícil interação entre pessoas
videntes e cegas é apontada como podendo levar a atitudes de preconceito, como veremos a
seguir.

5.7 "PODE ATÉ SER QUE NÃO SEJA, NÉ? MAS COM O DISTANCIAMENTO, A
GENTE FAZ ESSA LEITURA, SIM": SOBRE O PRECONCEITO

O preconceito aparece como uma noção fundamental a permear as experiências dos


estudantes cegos em sua trajetória acadêmica. Apontado como aparecendo nas interações (ou
na ausência delas) com os colegas, na relação (ou distanciamento) estabelecido pelos/com os
professores, nos encontros com funcionários do RU, da biblioteca, dos demais lugares de
sociabilidade do campus, o preconceito, também denominado por outros termos, comparece
assinalando uma espécie de lugar menor para estes sujeitos. Para refletir sobre este conceito, e
ainda antes de trazer os dados empíricos, recorremos a Agnes Heller (1989) para nos ajudar a
pensá-lo.
97

Agnes Heller (1989) nos diz que para nos aproximarmos do que é o preconceito,
devemos analisar a estrutura da vida cotidiana, pois para ela o preconceito é a categoria
própria, característica da vida cotidiana; é o preconceito o que guia o pensamento e o
comportamento cotidianos. Assim, a chave para compreendermos o preconceito é o cotidiano:
lugar onde estamos, nós humanos, irremediavelmente mergulhados, rodeados por seus
fenômenos superficiais, e onde somos chamados a proferir opiniões e a tomar decisões
práticas sobre o turbilhão de acontecimentos que em todos os momentos nos atravessam. Não
há como refletir profundamente no interior do turbilhão de acontecimentos cotidianos, então
neste lugar – o do cotidiano – somos estimulados a proferir o que Heller chama de
"pensamentos ultrageneralistas", frequentemente grosseiros e superficiais, por serem
alimentados pela cultura tradicional, que em nossa sociedade é hegemonicamente racista,
machista, misógina, homofóbica, violenta, etc. Também por serem ultrageneralistas, estes
pensamentos não estão preocupados em refletir/indagar/respeitar as possíveis diversidades. O
cotidiano é também pragmático: não há distinção entre pensamento e ação. Também estão
ligados a dimensão do útil e do correto: o que parece ter utilidade é visto como correto e
adquire estatuto de verdade e é também o que parece oferecer ao humano uma base de
orientação, conduzindo-o ao êxito.
Para superar o preconceito, nos diz Heller (1989), há que se efetuar a busca pela
realização do humano-genérico. A atividade humano-genérica ocorre quando colocamos
nossas forças e habilidades em movimento livre para que se efetue a livre criação. Neste
sentido é que o trabalho é categoria ontológica central e é através do trabalho que há
possibilidades de superação das relações alienadas do cotidiano em direção à atividade
humano-genérica. Para Heller, assim, a busca pela realização do humano genérico é a busca
pela emancipação humana. Esta busca também pode se dar através da arte, entendida por ela
como memória da humanidade ou através da ciência, buscando romper com a visão
individualista do humano, pois que a teleologia do humano-genérico jamais se orienta pelo
“eu”, mas sempre para o “nós” (HELLER, 1989).
Ora, o preconceito muitas vezes não é algo que possa ser claramente evidenciado. No
entanto, os estudantes cegos, ao observar certo distanciamento de colegas e/ou professores em
relação a eles, indagam: qual o sentido das evitações? O distanciamento e a precária – ou
ausência de – interação são atitudes frequentemente percebidas como fundadas no
preconceito. Conduzidas pelo desconhecimento e pelo medo de não saber lidar com a situação
de ter uma pessoa cega no espaço acadêmico, estas situações podem, no limite, facultar ao
98

estudante cego o afastamento e por vezes o isolamento em relação às pessoas videntes.


Repetimos aqui a citação da fala de Evgen Bavcar, que compreendemos como emblemática
para ilustrar esta situação:

Eu acho que a dificuldade maior é ainda por parte de professores e alguns


colegas de sala que ainda por não saberem lidar ou temerem com o
desconhecido para eles, acabam se isolando, se distanciando, sem querer
participar, sem querer se envolver e isso muitas vezes gera uma atitude
preconceituosa (Evgen Bavcar. Grifo nosso).
Sobre o preconceito, a gente faz uma leitura desse tipo, mas pode até ser que
não seja, né? Que as pessoas não estejam agindo com preconceito. Mas com
o distanciamento a gente faz um pouco desta leitura, sim (Evgen Bavcar.
Grifo nosso).

É mister ponderar algumas considerações aqui. Durante a nossa atuação na


CAENE47, foi-nos possível perceber muito de perto diferentes inquietações e angústias
vivenciadas pelos discentes com deficiência visual, durante seu ingresso e permanência na
UFRN. Ora, no cotidiano da instituição é perceptível que os discentes com deficiência visual
são frequentemente vistos (tanto por parte dos discentes videntes quanto por parte dos
docentes e também dos técnicos administrativos) a partir do signo do estranhamento,
assinalando alta presença de preconceito. Como afirma Amiralian (1997), as histórias que se
remetem às pessoas cegas são perpassadas por noções pejorativas.
Estas atitudes e posturas envolvendo estigma e preconceito comparecem ao
atendimento da CAENE: a equipe se depara com reações as mais diversas, apresentadas
recorrentemente por docentes da UFRN quando estes tomam ciência de que possuem algum
discente cego matriculado em seu componente curricular. É perceptível que a esmagadora
maioria desses docentes universitários não participou de nenhum treinamento básico para
lidar com discentes com qualquer deficiência. Tais posturas são verificadas quando esses

47 Importa esclarecermos que antes da institucionalização do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) a
CAENE participava de todo o processo seletivo, isto é, desde o momento em que a pessoa com deficiência se
inscrevia para prestar o vestibular, atendendo as solicitações requeridas pelos candidatos com deficiências.
Assim, com o apoio do Núcleo Permanente de Concursos (COMPERVE) e a atuação da CAENE, a UFRN
disponibilizava-se de um controle preliminar acerca do quantitativo de pessoas com deficiência que poderiam
ingressar na Universidade e demandar assistência (tecnologia assistiva, acompanhamento de interpretes de libras,
dentre outros) Entretanto, contraditoriamente, com a adesão ao ENEM, em meados de 2013, o processo de
cadastro e controle do número de pessoas com deficiência na Universidade tornou-se inacessível, pois as
inscrições para a participação do certame deixou de ocorre diretamente por meio da COMPERVE sendo
realizada pelo próprio Ministério da Educação(MEC), via Sistema de Seleção Unificada(SISU), inviabilizando o
acolhimento e a devida assistência do pretenso acadêmico. Daí a assistência à pessoa com deficiência,
atualmente, ser espontânea, pois o próprio discente é quem solicita o apoio junto a CAENE via Sistema
Integrado de Gestão e Atividades Acadêmicas (SIGAA).
99

docentes recorrem à equipe da CAENE e são apresentados à necessidade de modificar seu


método de ensino em virtude da presença de mesmo um único discente cego. É
frequentemente apenas após as orientações e capacitações através da formação continuada
realizadas pela CAENE48 em parceria com algumas Pró-Reitorias e outros setores da UFRN
que os docentes tomam conhecimento de que existem recursos tecnológicos, adaptações
curriculares, além de diversas ferramentas metodológicas e didáticas de ensino que podem ser
adotadas e que também há maneiras alternativas de efetuar as avaliações destes discentes.
Ora, o preconceito pode gerar na pessoa com deficiência sentimentos de baixa auto-
estima, dificuldades nos relacionamentos afetivos e sociais, além de trazer danos à qualidade
de vida desta população. A forma como se “vê” o indivíduo com deficiência é modificada de
acordo com os valores sociais, morais, filosóficos, éticos e religiosos adotados pelas
diferentes culturas em diferentes momentos históricos. Desta forma, o preconceito
relacionado à deficiência embora muitas vezes apareça com outra configuração, ainda ocorre
nos tempos atuais, sendo relevante pontuarmos o percurso histórico dessa população
(PACHECO, ALVES, 2007, p. 243).
Conforme Pessoti (1984), a compreensão das diversas ideias na evolução histórica
do conceito de deficiência é importante, pois: "... entendo-as como raízes, por vezes seculares,
de cuja seiva se nutrem os preconceitos e os conceitos de hoje, nesse campo”. Desta forma,
conhecer o processo histórico sobre a questão da deficiência pode nos facilitar o entendimento
do por que, mesmo com toda política de inclusão social que vem sendo desenvolvida no
Brasil e no mundo, ainda assim há uma desvalorização social da pessoa com deficiência,
mesmo que de forma implícita.
Crochik (1995) nos diz que o preconceito pode surgir no processo de socialização,
sendo um fenômeno psicológico, com manifestação individual, afinal “o preconceito diz mais

48 Salientamos que a CAENE realiza capacitações para os docentes e de técnicos administrativos em parceria
com a Pró- Reitoria de Graduação (PROGRAD), por meio do Programa de Atualização Pedagógica – PAP e da
Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (PROGESP), além das demandas específicas solicitadas pelas diversas
instâncias da Universidade como: centros, departamentos, coordenações de cursos, Superintendências de
Infraestrutura e de informática, Pró-reitoria de Pós-Graduação -PPG, SEDIS, Escola de Música, Centro de
Educação entre outros) da UFRN. Neste caso, a PROGRAD considerando a importância dessa formação para
docentes estabelece a Portaria Nº. 001/2012-PROGRAD, de 12 de março de 2012, a qual é instituída uma
comissão responsável pela elaboração de proposta de formação continuada em educação para pessoas com NEE
na UFRN. Registramos também a iniciativa da Pró- Reitoria de Pós Graduação (PPG) em solicitar a presença da
CAENE para participar das capacitações (desde 2011) nos Cursos de Iniciação à Docência destinada aos
discentes dos cursos de Pós-Graduação, com temas relacionados à educação inclusiva. Nessas discussões a
CAENE busca introduzir orientações gerais de como lidar com o estudante que tem NEE, apresentar os serviços
oferecidos pela CAENE e instigá-los para a necessidade de pesquisas nessa área de conhecimento.
100

respeito às necessidades do preconceituoso do que às características do seu objeto”. Desta


forma, ao mesmo tempo em que a cultura é a base do preconceito, quem irá atribuir
características particulares (de acordo com suas necessidades individuais) ao objeto de
preconceito, é o próprio preconceituoso (CROCHIK, 1995 apud PACHECO; ALVES, 2007,
p. 247).
É fato que os estudantes com deficiência visual são recorrentemente vistos como
sujeitos incapazes de ingressar e frequentar uma Universidade por capacidade própria. Assim
é que as muitas barreiras enfrentadas por este segmento social vão além dos aspectos
arquitetônicos/ urbanísticos: elas são barreiras, sobretudo atitudinais ou comportamentais.
Nesta medida, o preconceito se materializa em diferentes dificuldades concretas existentes no
percurso acadêmico dos discentes com deficiência visual.

5.8 "HÁ ALGUMAS TÉCNICAS QUE OS PROFESSORES IMPROVISAM": DIÁLOGO E


EMPATIA PARA CONSTRUIR A INCLUSÃO

Em síntese, compreendemos que a interação social se dá efetivamente quando se


reconhece o humano no outro. E, assim, sob o espírito da empatia é que são forjadas atitudes
favorecendo a inclusão de maneira mais plena. As verbalizações dos sujeitos entrevistados
nos apontam frequentemente estes elementos. É neste sentido que trazemos o relato do
estudante Stevie Wonder, nos apresentando o caso de um docente que buscou oferecer-lhe
diferentes estratégias de acessibilidade e apoio educacional, adaptando diversos materiais a
fim de favorecer o seu desenvolvimento acadêmico, assegurando e garantindo sua
permanência bem sucedida na disciplina:

Há algumas técnicas que os professores improvisam. Teve um professor que


elaborou um fluxograma em material E.V.A em alto relevo, ficou muito
melhor.
Também trabalhou com massa de modelar. Parece material bem simples,
mas que dá um entendimento muito bom; ajuda muito.
Além de carretilha de costura cedida pela CAENE para fazer leitura dos
gráficos, marcando no papel, é um recurso que a CAENE foi que cedeu esse
material.
Além de cola para fazer material em alto-relevo, para fazer uma explanação
do gráfico.
Esse foi o único professor que apareceu aqui e que inovou, se interessou
(Stevie Wonder).
101

Há a necessidade de construir a interação com os colegas discentes, também. Por


vezes é necessário um apoio, por exemplo, nos espaços abertos, onde os colegas videntes
auxiliam o estudante cego em seu deslocamento no Campus, assim como na busca de material
na biblioteca ou em outros lugares. Nestas situações as interações sociais são fundamentais,
ainda que nos façam refletir de que se o apoio tecnológico fosse adequado, o discente não
necessitaria da presença de um vidente a auxiliá-lo. Porém, a necessidade de interação como o
outro vai além do seu lugar no deslocamento físico ou no desempenho acadêmico, já que a
existência humana é impensável sem a sociabilidade. É apenas sob esta perspectiva que
podemos compreender a fala de Helen Keller, quando indagada sobre os equipamentos de
tecnologia mais avançada que comumente usa para ler os materiais. Ela preferiu nos dizer,
sorrindo:

Só a coleguinha ao lado para fazer a audiodescrição. Ou qualquer pessoa que


sentar ao meu lado! (Helen Keller).

5.9 "ELA SE COLOCA SEMPRE NESSE "MEIO DE CAMPO"": A CAENE MEDIANDO


O DIÁLOGO ENTRE DOCENTES VIDENTES E DISCENTES CEGOS

Faz parte do processo de construção da cidadania plena em nossa sociedade a clareza


do lugar da universidade enquanto espaço para o ser cidadão se viabilizar. No caso da
população de cegas e cegos de nosso País, este processo se dá quando a universidade
viabiliza o acesso, a permanência e a participação destas pessoas na comunidade acadêmica
de maneira efetiva.
Para Oliveira (2007) para que o acesso, a inserção e a permanência dessas pessoas
aconteçam, é necessário que a universidade se prepare, inclusive, com apoios institucionais,
políticas de assistência, projetos pedagógicos e preparação da comunidade universitária,
com ênfase na pesquisa e na formação de professores. Oliveira (2007) também nos diz:

[...] as ações de acessibilidade ao Ensino Superior, quando


pensamos nas pessoas com deficiência, devem ser pensadas em cinco
campos: o acesso, que se caracteriza pela preparação básica com a
conclusão do Ensino Médio, requisito necessário para entrada no
Ensino Superior; o ingresso, provido por uma adaptação nos
processos de seleção; a permanência, ou seja, criar mecanismo de
assistência durante a formação universitária; a conclusão, com a
ampliação quando necessária; e, o exercício profissional, onde a
instituição formadora pode mediar as interações, de formação ao
102

mercado de trabalho. Entretanto, para que essas ações se constituam,


são necessárias parcerias, políticas sociais, projetos pedagógicos
principalmente pesquisa científicas. (OLIVEIRA, 2007, p.78, grifo
nosso).

Nos tópicos acima, a partir das falas dos estudantes cegos ouvidos nesta pesquisa,
buscamos trazer um conjunto de inquietações assinalando diversas demandas advindas do
cotidiano destes discentes, que implicam em seu acesso e em sua permanência na UFRN.
Neste momento, desejamos trazer considerações destes discentes em torno do trabalho
empreendido pela CAENE.
Adquire recorrência nas falas o elemento da mediação que, dizem os estudantes
ouvidos, a CAENE oportuniza. São ilustrativas disto falas apontando que em relação a
diferentes conflitos com os professores, é a CAENE que possibilita essa mediação,
favorecendo uma "inserção mais suave", como apontam os entrevistados:

A CAENE se coloca sempre nesse "meio de campo" (Evgen Bavcar).Ela é


uma porta aberta para a gente, sabe? Uma porta aberta para a colocação das
dificuldades (Evgen Bavcar).

No final de cada semestre sempre são feitas essas avaliações [falando do


acompanhamento da CAENE] onde a gente expõe as dificuldades, as
barreiras, os entraves daquele semestre individualmente com os professores,
e na realidade externa também, físicas, como a locomoção. (Evgen Bavcar)
.
Então, a CAENE é uma porta aberta para esse diálogo (Evgen Bavcar).

Eles procuram dentro do possível intermediar com os professores na busca


de solucionar sempre alguns impasses que possa haver. Isso tudo favorece
nossa inserção mais suave (Evgen Bavcar).

Por exemplo: através da CAENE, eu tive um treinamento na parte de


acessibilidade no início que entrei aqui. Que a gente andou quase o percurso
todo da universidade toda, a gente andou no meu prédio. Foi feito contato
com os professores do período, foi enviada a carta com meu diagnóstico,
inclusive para minha coordenadora do curso, que se tornou minha
orientadora acadêmica. Isso favorece um processo mais suave. Não tem
aquele impacto daquela inserção mais abrupta, né? (Evgen Bavcar).

Então eu acho uma grande alegria minha foi essa, um pouco dessa surpresa
de também ver o envolvimento da CAENE, de ver os funcionários lá todos
envolvidos nesse processo, de ter um grupo assim que eu acho extremamente
seleto e extremamente capacitado, né? Modelo inclusive para outras
Universidades. Então, isso também alegra muito a gente (Evgen Bavcar)
.
Percebendo a boa vontade da CAENE, que eu particularmente já tenho como
referência como centro de apoio aos “portadores de necessidades especiais”
em um meio acadêmico, e pelo que já conversei sobre outras universidades
103

não tem esse apoio, então estou satisfeito com os serviços oferecidos
(Andrea Bocelli).

A CAENE com certeza tem dado todo o suporte necessário, e podemos


perceber uma boa vontade por parte dos integrantes, principalmente dos que
iniciaram desde 2011 (Andrea Bocelli).

Um apoio grande é o que a CAENE faz em transformar o material em


acessível. Por que na minha primeira graduação eu gastava muito com Xerox
ampliada. Além de que eu cansava muito lendo (Helen Keller).

Muitos dos estudantes tomaram conhecimento destes recursos através da própria


CAENE, ou por meio da mídia, ou de colegas, como observamos nos relatos abaixo:

A CAENE manteve contato comigo e falou acerca dos serviços, durante meu
ingresso (Ray Charles).

Conheci um servidor cego da UFRN que trabalha no Laboratório de


Acessibilidade, e assim conheci o trabalho da CAENE (Helen Keller).

Como soube da CAENE? Não lembro, mas acho que foi pela coordenação
de curso (Andrea Bocelli).

Antes de entrar na universidade já ouvia notícias veiculadas na mídia sobre a


CAENE, e isso já foi me chamando à curiosidade, pois quando eu participei
na outra graduação que eu fiz, eu não tive o contato e não sei se existia a
CAENE, e eu não tinha o grau de deficiência que eu adquiri depois (Evgen
Bavcar).

Como eu poderia me ajudar a recuperar um pouco da minha independência,


e aí eu via na mídia as atividades que a CAENE vinha desenvolvendo pros
alunos da UFRN, e isso foi gerando aquele desejo de participar disso (Evgen
Bavcar).
Foi um dos fatores que me motivaram a vir para a universidade (Evgen
Bavcar).

Neste último relato, percebe-se a importância da existência da CAENE, em ter


motivado este estudante a reingressar na UFRN após seu quadro de cegueira.
Ora, uma das ações relevantes que a UFRN promove e que tem participação ativa da
CAENE é o conjunto de capacitações49 para servidores (docentes e técnicos administrativos)
destinados ao atendimento dos discentes com NEE, que também têm sido estratégias de

49
Esclarecemos ainda que são realizadas por meio da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (PROGESP), através da
divisão de treinamento de Recursos Humanos, também às solicitações com demandas específicas pelas diversas
instâncias (centros, departamentos, coordenações de cursos, Superintendências de infraestrutura e de informática,
Pró-reitoria de Pós-Graduação -PPG, Secretaria de Educação à Distância (SEDIS), Escola de Música, Centro de
Educação entre outros) da UFRN.
104

atividades realizadas pela PROGESP e PROGRAD, através do Programa de Atualização


Pedagógica (PAP) no início de cada semestre. Nestas, a UFRN propicia formações
continuadas com temáticas voltadas para a inclusão na educação superior. Na verdade, estas
iniciativas só passaram a ter lugar quando do aumento considerável no número de discentes
com deficiência na UFRN.
É perceptível, assim, que a presença dos discentes com deficiência visual tem
modificado o cotidiano da instituição, como também tem provocado discussões a respeito da
formação de docentes para a diversidade.
É importante assinalar que a inserção na educação superior dos estudantes com
deficiência visual muitas vezes parece ser vista por eles como caminho para romper com
alguns dos estigmas que sofrem em seu cotidiano. Neste caso, a inserção na educação
superior, que em nosso trabalho é compreendida sob a perspectiva de direito social.
O Relatório Mundial sobre a deficiência esclarece que ela é uma questão de direitos
humanos, pois as pessoas com deficiência enfrentam desigualdades, por exemplo, quando têm
negado o acesso igualitário a serviços de saúde, emprego, educação, ou participação política
devido à sua deficiência. As pessoas com deficiência também estão sujeitas a violações da sua
dignidade, por exemplo, quando são sujeitas à violência, abuso, preconceito ou desrespeito
devido à sua deficiência. Pessoas com deficiência perdem sua autonomia, por exemplo,
quando são levadas a esterilização involuntária ou quando são confinadas em instituições
contra sua vontade ou ainda quando são vistas como legalmente incompetentes devido à sua
deficiência.
Desta forma, é a partir de Sawaia que:

[...] podemos falar da exclusão como um processo complexo e


multifacetado, uma configuração de dimensões materiais, relacionais e
subjetivas, que se entrecruzam com a inclusão, como parte constitutiva dela,
e envolvem o ser humano por inteiro e suas relações com as outras pessoas (
SAWAIA, 1999, p. 09).

De acordo com Filho (2011, p.61), "a sociedade é que deve continuamente adaptar-se à
coletividade para permitir ampla e irrestrita participação de todos, de maneira autônoma e
independente". Ora, sendo assim, entendemos que o poder público deve criar mecanismos
para a promoção da eliminação de barreiras na comunicação e estabelecer mecanismos e
alternativas técnicas que tornem acessíveis os sistemas de comunicação às pessoas com
105

deficiência sensorial e com dificuldades de comunicação para garantir-lhes o direito de acesso


à informação (BRASIL, 2000).
É verdade que em torno de fenômenos como os da discriminação e do preconceito, é
possível verificar nas últimas décadas respostas coletivas fundadas o engendramento na
tolerância e no respeito à diferença e à alteridade, valores que adquirem uma dimensão ético-
política mais abrangente por implicarem liberdade e busca pela equidade. Tolerância e
alteridade, mais do que valores, também são conceitos que perpassam as relações entre os
seres humanos, e que pertencem às conquistas da sociedade moderna. Estes valores estão
presentes na noção de tolerância religiosa, com Locke, ou de tolerância política, com Voltaire
e os ilustrados no século XVIII ou ainda por Stuart Mill e Bentham, no século XIX (Vázquez,
1999).
Tolerância, em geral é definida como uma relação social que supõe a existência de
alguma diferença aceita como um direito: o direito de ser diferente. Alguns autores tratam de
dois tipos de tolerância: a positiva e a negativa (Exteberria, 2001). A positiva, quando a
diferença nos afeta de modo que não possamos ficar indiferentes a ela (Vázquez, 1999). A
negativa, quando não a aceitamos, mas, a "toleramos" com indiferença. De acordo com
Jacquard (1988) não podemos confundir respeito com tolerância, uma vez que a tolerância é
"atitude muito ambígua. Tolerar é julgar-se em condições de dominar, julgar; é ter de si
mesmo um conceito o bastante positivo para aceitar o outro com todos os seus defeitos"
(Jacquard, 1998, p. 04).
Ele nos propõe substituir tolerância por alteridade: "É necessário tomar um rumo
completamente diferente e tomar consciência da contribuição dos outros, que se torna tanto
mais rica quanto maior for à diferença em relação consigo mesmo" (Jacquard, 1998, p. 04).
Ora, na alteridade, o respeito ao outro complementa a defesa da diversidade enquanto direto
de todo o ser humano. Assim, valorizar a alteridade é também efetuar uma crítica ao
individualismo burguês, ou seja, ao pensamento de que respeitar o outro é entender que "o
limite da nossa liberdade acaba aonde começa a do outro"; portanto, uma liberdade "sem o
outro".
Assim é que a tolerância positiva e a alteridade implicam na liberdade e na equidade,
pois que exigem, como vimos, uma aceitação consciente do que é diferente de mim; uma
aceitação que vê o outro como sujeito livre e que respeita a sua decisão, embora ela não seja
compartilhada por mim. Não existe indiferença, nem isolamento - como na liberdade liberal
do tipo "cada um na sua", o que representa uma completa indiferença. Salientamos que
106

embora exemplos a respeito das práticas culturais de violação aos direitos humanos acabem
recaindo sobre os países não ocidentais (como é o exemplo das violações dos direitos das
mulheres nos países muçulmanos), isso não significa dizer que a civilização ocidental seja um
exemplo de não violação. A medida é dada pelas conquistas da humanidade, em termos
genéricos e históricos, levando em conta o que a humanidade e cada segmento específico já
conseguiu avançar no tocante às conquistas dessas questões, sempre tendo por medida a
liberdade, a sociabilidade, a universalidade, ou seja, as capacidades que ampliam as
possibilidades do ser humano e que estão objetivados em documentos, leis, declarações em
âmbito nacional e internacional, enquanto produto de lutas por direitos. Ilustrando esta
questão, lembramos que no Brasil existe um grande descompasso entre a legislação criada e a
efetivação de Políticas Sociais, voltadas para pessoas com deficiência, gerando um hiato entre
a idealização e a execução dessas políticas.
Assim, o desenvolvimento de pesquisas abrangendo diferentes áreas do conhecimento
e relacionando-as com a área da tecnologia assistiva pode tornar-se um importante mecanismo
para o avanço da inclusão social, se forem fundamentadas no princípio da transversalidade, do
desenho universal e no reconhecimento e valorização da diferença humana.
107

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mediante delimitação dos objetivos desse trabalho assumimos a perspectiva de


promover reflexões, em torno de respostas concretas, operacionalizadas pelo sistema de apoio
da CAENE/UFRN, a um conjunto de dificuldades, que envolvem o acesso e a permanência de
estudantes com deficiência visual, matriculados na graduação do Campus Central da UFRN.
Em nosso entendimento, estas são respostas dadas também à histórica estigmatização do
corpo deficiente no Ocidente e no Brasil, fazendo parte de uma política mais geral do Estado
para incluir, institucionalmente, sujeitos que até há pouco tempo eram oficial e socialmente
vistos a partir da noção de grotesco e percebidos enquanto rebotalhos da sociedade.
Entendemos que a educação deve ser direcionada ao processo de inclusão na
Universidade, no que diz respeito à eliminação de preconceitos, estereótipos e estigmas, bem
como a aceitação do princípio da diversidade humana. Nesta direção, consideramos que a
Política de Educação Inclusiva na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
constitui-se em ação relevante para os estudantes com deficiência, sobretudo o discente com
cegueira, foco desta pesquisa, já que esses estudantes necessitam enfrentar um conjunto
considerável de limites e desafios para o acesso e a permanência dos seus estudos nas
instituições de educação superior no Brasil.
Com efeito, importa destacarmos que o debate acerca das limitações e dificuldades
enfrentadas pelos estudantes cegos, nas universidades brasileiras, não deve assumir
direcionamentos reducionistas que desconsideram os entraves do sistema capitalista de
produção, pois além de oprimir, determina os elementos estruturais de um Estado, que em
nome de uma produtividade lucrativa se afirma no discurso dos direitos humanos sem
promover mudanças de base para aqueles que demandam e se apropriam das políticas
inclusivas, poupando-os de sofrimento humano, pela condição de ser ou estar cego.
As atividades desempenhadas pela equipe técnica da CAENE, neste domínio, estão
exigindo em seu cotidiano um conhecimento amplo sobre a realidade da deficiência no âmbito
acadêmico, bem como instando capacidade de criar meios para transformar este ambiente na
direção de assegurar os direitos à educação para todos os estudantes com deficiência. Nesta
perspectiva, é urgente a necessidade da Universidade, por intermédio da CAENE, continuar
garantindo as condições necessárias para possibilitar aos estudantes com Necessidade
Educacionais Especiais (NEE) a igualdade de condições para que estes possam ter o sucesso
acadêmico almejado. Para tanto, é primordial que a CAENE se empenhe em discussões
108

coletivas em torno das proposições constantes da Convenção Sobre os Direitos da Pessoa com
Deficiência na UFRN, do Estatuto da Pessoa com Deficiência, através da proposição de
políticas públicas que concedam dignidade aos estudantes com NEE na educação superior.
No entanto, é importante efetuarmos alguns apontamentos críticos a respeito do
trabalho da CAENE: este poderia se realizar de maneira mais efetiva e teria um alcance
quantitativo e qualitativo superior se fosse equacionada a atual escassez de profissionais para
atender aos discentes com deficiência. Ora, atualmente a CAENE traz em seu quadro de
profissionais duas psicólogas efetivas, seis pedagogas (sendo duas efetivas e quatro
terceirizadas) e apenas uma assistente social.
Devido ao volume de trabalho deste setor, é nossa avaliação de que neste caso seria
necessário um quantitativo maior de assistentes sociais, além da admissão de pedagogas
efetivas. Cabe destacar que outras instituições da educação superior que oferecem serviço
semelhante ao da CAENE e contam com um número significativo de profissionais na área do
Serviço Social: estes são os casos da Universidade Federal de Brasília (UNB), da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), da Universidade Estadual de Londrina
(UEL), da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP).
Não obstante, consideramos que a CAENE, apesar das dificuldades e desafios,
representa um marco na história da UFRN. Surgida após cinco décadas de dívida social da
UFRN com este segmento de estudantes, a CAENE parece delimitar uma considerável
mudança na política institucional voltada para os estudantes com NEE. Através da atuação da
CAENE, é perceptível, pelos dados coletados pela própria UFRN, que estes estudantes têm
conseguido sair da invisibilidade e permanecer vinculados à instituição, tendo-se verificado
avanços em seu desenvolvimento acadêmico.
Outro aspecto importante a ser considerado consiste nas dificuldades enfrentadas
durante a realização dessa pesquisa, principalmente no que se refere ao levantamento de
indicadores atualizados acerca do acesso e da permanência dos estudantes cegos na educação
superior. A título de esclarecimento, destacamos que por vezes solicitamos esses indicadores,
formalmente aos órgãos responsáveis pelo gerenciamento desses dados, porém não obtivemos
retornos adequados que pudessem superar a invisibilidade das questões que permeiam o
processo acadêmico vivenciado pelos estudantes cegos na educação superior.
Cabe-nos ainda refletir, diante dos resultados desta pesquisa, em torno do conceito de
diversidade. À luz de Barroco (2006), a diversidade está presente nas diferentes culturas,
109

raças, etnias, gerações, formas de vida, escolhas, valores, concepções de mundo, crenças,
representações simbólicas. Ela aparece nas particularidades do conjunto de expressões,
capacidades e necessidades humanas historicamente desenvolvidas. É elemento constitutivo
do gênero humano e afirmação de suas peculiaridades naturais e socioculturais, sendo
componente intrínseco da realidade social.
Não obstante, para nós é claro que a diversidade não deveria resultar em relações de
exclusão, desigualdade, discriminações e preconceitos. Isso ocorre, não raro, porque as
diferenças não são aceitas socialmente e neste caso estamos entrando no campo das questões
de ordem ética e política, espaço da luta pelo reconhecimento do direito à diferença, uma das
dimensões dos direitos humanos, questões que precisamos enfrentar se o nosso objetivo for
promover o acesso e a permanência no âmbito da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN) ao discente com deficiência.
Para tanto, olhar sobre essa parcela de estudantes, não nos restringindo somente à
adequação de certa estrutura física, mas, sobretudo, na perspectiva de pensar acerca da
necessidade de um atendimento inclusivo e acolhedor para esses discentes por parte da
comunidade acadêmica, no intuito de fomentar o respeito à diversidade, de incluir iniciativas
culturais, pedagógicas, artísticas, políticas, esportivas e de quaisquer outras dimensões que
contemplem também as demandas requeridas pelos estudantes com deficiência, para que o
ambiente acadêmico potencialize nesses estudantes o prazer pelo ensino, pela pesquisa e pela
extensão, mas também pela cultura, pelo lazer e pela arte.
Nesse debate, é primordial imprimir o aprofundamento da visibilidade à educação
inclusiva no ambiente universitário, transcendendo seus muros, para que se possa disseminar
não apenas a filosofia, como também comportamentos fundados na inclusão em toda a
sociedade. Não obstante, é preciso assinalar que cabe à Universidade a função social de
formar profissionais que efetivamente contribuam para a construção de uma sociedade menos
excludente.
É premente que os docentes sejam plenamente amparados pela instituição
universitária, que esta instituição lhes dê a oportunidade de obterem conhecimento sobre as
políticas públicas de apoio aos estudantes deficientes, assim como em torno das
especificidades que circundam cada deficiência, em particular a deficiência visual. Que sejam
destinadas a estes docentes condições objetivas de capacitação real para atuar com os
discentes com deficiência, em especial, aqueles que são público alvo desse trabalho: os
estudantes com deficiência. Este apoio é necessário para que estes profissionais possam
110

dominar ao menos parcialmente o leque considerável de estratégias de ensino destinadas aos


estudantes com necessidades educacionais especiais, estratégias que já estão disponíveis e que
são eficazes se forem aplicadas com competência e sensibilidade.
Apenas desta forma a Academia poderá então oferecer condições objetivas para a
inclusão real das pessoas com deficiência. É neste sentido também que ao final assinalamos: é
necessário não esquecer que os determinantes, não das deficiências, mas sim do estigma, do
preconceito e da exclusão social das pessoas com deficiência são oriundos de uma
sociabilidade assinalada pela intolerância e pela violência.
Nesses termos, esta pesquisa buscou agregar conhecimentos no sentido de contribuir
na discussão de uma temática que consideramos atual e importante não apenas para a
sociedade brasileira, mas também para o debate acadêmico, para a profissão de Serviço Social
e áreas afins, e fundamentalmente para as próprias pessoas com deficiência visual.
Para tanto, desejamos que os resultados desta pesquisa sirvam de embasamento para
a elaboração de políticas sociais, assim como para subsidiar ações em diversos níveis com
vistas a promover a inclusão de estudantes com deficiência no âmbito universitário e,
concomitantemente, otimizar a formação de profissionais aptos a discutir e intervir na área de
direitos e diversidade.
Dito isto, destacamos a importância do desenvolvimento de novas pesquisas
emergentes na perspectiva de aprofundar o debate e avaliar as condições objetivas e
subjetivas, bem como, o processo de implementação de políticas de inclusão das pessoas com
deficiência. Nessa direção, reforçamos a necessidade de apreender e analisar as vicissitudes
vivenciadas pelos docentes a experiência profissional a um estudante com deficiência visual.
Por fim, consideramos que o objeto ora em estudo ultrapassa o cumprimento dos
rituais acadêmico, por ser um objeto de luta que requer contínuo debate, estudo e reflexões,
logo finalizamos este trabalho com a certeza de novas inquietações no que consiste,
especificamente, o processo de formação dos docentes tanto na educação superior quanto na
educação básica.
111

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050: Acessibilidade


a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, 2004.
Disponível em:
<http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/arquivos/%5Bfield_gen
erico _imagens-filefield-description%5D_24.pdf>. Acesso em: 25 fev. 2016.

______. Manual de Acessibilidade da Pessoa com Deficiência. Rio de Janeiro, 2006


Disponível em:
<http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/arquivos/%5Bfield_gen
erico _imagens-filefield-description%5D_24.pdf>. Acesso em: 25 fev. 2016.

AINLAY, S. C.; BECKER, G.; COLMAN, L. M. A. Stigma reconsidered. En AINLAY, S.


C.; BECKER, G.; COLMAN, L. M. A. (Ed), The Dilemma of Difference (1-13). New York:
Plenum, 1986.

ALBERT, Jacquard. A equação do Nenúfar: Os Prazeres da Ciência. Lisboa: Terramar,


1998.

ALVES, Jolinda Moraes. A Assistência Estudantil no Âmbito da Política de Ensino


Superior Pública. Serviço Social em Revista. V.5, N.1. Jul/dez 2002. Londrina- PR: UEL,
2002. Disponível em: <http://www.ssrevista.uel.br> Acesso em: 30 nov. 2014.

AMARAL, L. A. Alguns apontamentos para reflexões/ discussão sobre: diferença


/deficiência/necessidades educacionais especiais. Temas sobre Desenvolvimento, v. 8, n. 47,
1999, p.17-23.
______. Pensar a diferença: deficiência. Brasília: CORDE, 1994.

AMIRALIAN, M. L. T. M. Compreendendo o cego: uma visão psicanalítica da cegueira por


meio de desenhos – estórias. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997.

______. Psicologia do Excepcional. São Paulo: EPU, 1986.


112

ARANHA, M.S.F. Integração Social do Deficiente: Análise Conceitual e Metodológica.


Temas em Psicologia, número 2, 1995 p. 63-70.

ARAÚJO, Ronaldo Marcos de. Formação de Docentes para a Educação Profissional e


Tecnológica: Por uma pedagogia integradora da educação profissional. In: Políticas públicas
Educacionais / ROSÁRIO, Maria José Aviz do; ARAÚJO, Ronaldo Marcos de Lima (Org.),
Campinas: Alínea, 2008.

AVELINO, N. Apresentação: Foucault e a anarqueologia dos saberes. In: FOUCAULT, M.


O governo dos vivos: Curso no Collège de France, 1979-1980 (excertos).

GIACOMONI, M. P. e VARGAS, A. Z. Foucault, a Arqueologia do Saber e a Formação


Discursiva. SP: CCS-SP/Achiame, 2010, p.7-27.

BALEOTTI, L. R.; DEL MASSO, M. C. S. Diversidade, diferença e deficiência no contexto


educacional. In: OLIVEIRA, A. A. S. et al. (Org.). Inclusão Escolar: as contribuições da
Educação Especial. São Paulo: Cultura Acadêmica Editora; Marília: Fundepe Editora, 2008,
p. 33-44.

BARBOSA FILHO, Antônio Nunes. Qualidade de Vida no Trabalho: um modelo de


avaliação da qualidade de vida no trabalho para pessoas com deficiência. São Paulo:
Blucher Acadêmico, 2011.

BARNES, Colin; BARTON, Len; OLIVER, Mike. Disability studies today. Cambridge:
Polity Press, 2002.

BARROCO, M. L. S. Ética, Direitos Humanos e Diversidade. In: Cadernos Especiais n. 37,


2006, Edição: 28/ago a 25/set/2006.

BELARMINO, J. Associativismo e política: a luta dos grupos estigmatizados pela cidadania


plena. João Pessoa: Ideia, 1996.
113

BERTUCCI, Liane Maria. Forjar o povo, construir a nação: ciência médica e saúde pública no
Brasil. In: CARBÓ, E. R.; VARGAS, H. M.; MARTÌN, P. S. (Org). La integración del
territorio en una idea de Estado. México y Brasil, 1821-1946. Ciudad do México:
IG/UNAM, Instituto Mora, 2007, p. 146-147.

BIANCHETTI, L. Um olhar sobre a diferença: Interação, trabalho e cidadania. 7. Ed.


Campinas, SP: Papirus, 2006.

BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. 2ª edição. Rio de Janeiro: Campus, 2004.

BONFIM, Symone M. M. A luta por reconhecimento das pessoas com deficiência:


Aspectos teóricos, históricos e legislativos. Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de
Janeiro, 2009.

BRANDÃO, Carlos Antônio Leite. O Corpo do renascimento. In: NOVAES, Adauto (org.).
O Homem-máquina: a ciência manipula o corpo. São Paulo: Companhia das letras, 2003. 392
p. 275-297.

Brasil. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas especiais.


Brasília: CORDE,1994.

______. Decreto nº 5.296, 2 de dezembro de 2004 (Regulamenta as Leis nº 10.048, de 8 de


novembro de 2000, e nº. 10.098, de 19 de dezembro de 2000). Brasília, DF, 2004.

______. Decreto Nº 7.234, de 19 de julho de 2010. Dispõe sobre o Programa Nacional de


Assistência Estudantil – PNAES.

_______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização,


Diversidade e Inclusão, Secretaria de Educação Superior. Documento orientador
Programa Incluir: acessibilidade na Educação Superior. Brasília: MEC: SECADI/SESU,
2013a.Disponívelem:<http://wp.ufpel.edu.br/cec/files/2013/06/documento_orientador_prog
rama_incluir.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2015.
114

______. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Censo da Educação Superior
2010.

______. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a lei brasileira de inclusão da pessoa
com deficiência (estatuto da pessoa com deficiência), Brasília, DF, 6 jul. 2015. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm>. Acesso
em: 10 mar. 2016.

______. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.

______. O Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE): razões, princípios e programas.


Brasília: MEC, 2007.

______. Plano Nacional de Assistência Estudantil. Disponível em <http://portal.mec.gov.br>.


Acesso em: 05 de mar. 2015.

______. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, Protocolo Facultativo à
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. CORDE - Coordenadoria
Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Secretaria Especial dos Direitos
Humanos, Presidência da República, Brasília, 2007.

BRUNO, M.M.G.; MOTA, M.G.B. Programa de Capacitação de Recursos Humanos do


Ensino Fundamental: deficiência visual vol. 1 fascículos I – II – III. Brasília, DF: Ministério
da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2001.

BUENO, J. G. Educação Especial Brasileira: Integração/segregação do aluno diferente.


São Paulo: EDUC, 1993.

BUENO, J.G.S. Educação especial brasileira: integração/segregação do aluno diferente.


2. ed. São Paulo: EDUC, 1999.
115

CAMPBELL, Jane. Growing Pains: Disability politics - the journey explained and described.
In: BARTON, Len; OLIVER , Michael. Disability Studies: past, present and future. Leeds:
The Disability Press, 1997, p. 82.

CARVALHO, Alfredo Roberto de. As condições de existência das pessoas com deficiência
na história da humanidade: as bases objetivas de sua exclusão social. Monografia
(Especialização em Fundamentos da Educação) - Universidade Estadual do Oeste do
Paraná/UNIOESTE, Cascavel, 2003. Disponível em:
<http://unioeste.br/.../aprendizagem_e_desenvolvimento_da_pessoa_cega_na_perspectiva_so
cio_histórica.txt-103>Acesso em: 03 de novembro de 2015.

CARVALHO, Renata C. e MARQUEZAN, R. Representações sociais sobre a deficiência


em documentos oficiais. Revista Educação CE/UFSM, Edição: 2003 vol. 28, n° 02. 2003.
Disponível em: <http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs-
2.2.2/index.php/reveducacao/article/view/4169.> Acesso em: 02. Out. 2015.

CASTRO, S. F. Ingresso e Permanência de Alunos com deficiência em universidades


públicas brasileiras. 278 p. Tese (Doutorado em Educação Especial) – Universidade Federal
de São Carlos, São Carlos, 2011.

CAVALCANTI, Maria Laura V. C. Oracy Nogueira e a antropologia no Brasil: o estudo


do estigma e do preconceito racial. RCBS, 1996.
CERIGNONI, Francisco Nuncio; RODRIGUES, Maria Paula. Deficiência: uma questão
política? São Paulo, 2006.

CERQUEIRA, J. B. & LEMOS, E. R. O Sistema Braille no Brasil. In: Revista Benjamin


Constant, (2), p. 13-17. Rio de Janeiro: IBCENTRO/MEC, 1996.

CERQUEIRA, Jonir Bechara & FERREIRA, Elise de Melo Borba Ferreira (2000). Recursos
didáticos na educação especial. Revista Brasileira para Cegos. Intituto Benjamin Constant,
RJ.
116

CHARLTON, Jame I. Nothing about us without us: disability oppression and


empowerment. England, Londo: University of California Press, 2000.

CÍCERO, Marcus Tullius. Das leis. Tradução de Otávio T. de Rito. São Paulo: Cultrix,1967.
CISNE, Mirla . Feminismo e consciência de classe no Brasil. SP: Cortez, 2014.

CRESS/SP (2007). Legislação brasileira para o serviço social: coletânea de leis, decretos e
regulamentos para instrumentação da (o) assistente social. 3. ed. São Paulo: O Conselho.

CROCHIK JL. Preconceito, indivíduo e cultura. São Paulo: Robe Editorial; 1995.

DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos humanos e cidadania. Ed. especial. São Paulo:
Modena, 2004.

DANTAS, E. H. Pensando o corpo e o movimento. Rio de Janeiro: Shape, 2005.

DE LUCA, T. R. A revista do Brasil: um diagnóstico para a (N)ação. São Paulo: Ed.


UNESP, 1999.

DHANDA, Amita. Construindo um novo léxico dos direitos humanos: Convenção sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiências. Sur, Rev. int. direitos humanos. São Paulo, V. 5, n.
8, Jun. 2008.

DINIZ, D. O que é deficiência. 1. Ed. São Paulo: Brasiliense, 2007.

DIWAN, Pietra. Raça pura: uma história da eugenia no Brasil e no mundo. São Paulo:
Contexto, 2007.

ENGELS, F. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Rio de Janeiro:


Civilização Brasileira, 1984.
ETXBERRIA, X. Etica de la diferencia. Espanha, Bilbao, Universidad de Deusto, 2001.
117

FARIA, Danielle de Oliveira Cabral. Vagas reservadas no ensino superior: igualdade de


oportunidades. In: NEME, Eliana Franco (coord.). Ações afirmativas e inclusão social. Bauru:
Edite, 2005.

FERREIRA, Érika Luzia et al. Caracterização Socioeconômica e Cultural de Estudantes


com Necessidades Educacionais Especiais da UFRN – Relatório Final de Pesquisa.
Digitado. Natal, UFRN, 2013.

FERREIRA, J. R. Escola, educação e sociedade inclusivas. Temas Sobre Desenvolvimento,


São Paulo, v.7, n. 39, 2007, não paginado.

FERREIRA, J.R. Notas sobre a Evolução dos Serviços de Especial no Brasil; Revista
Brasileira de Educação Especial; número 1; 1992, p.21-48.

FERREIRA, Solange Leme (2007). Ingresso, Permanência e Competência: uma Realidade


possível para Universitários com Necessidades Educacionais Especiais. Revista Brasileira
Educação Especial. Marília, Jan.-Abr. 2007, v.13, n.1, p.43-60.

FIGUEIRA, D. G. História. São Paulo: Ática, 2005.

FONSECA, Ricardo Tadeu. O trabalho protegido do Portador de Deficiência, 2015.


Disponível em: <http:// http://www.pgt.mpt.gov.br/publicacoes/pub60.html.> Acesso em: 02
out. 2015.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 4. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1984.

FRAUCHES, C. C.; FAGUNDES, G; M. LDB: Anotada e Comentada e reflexões sobre a


educação superior. 3. ed. Brasília: ILAPE, 2012.

GEORGEN, P. Educação superior na perspectiva do sistema e do Plano Nacional


de Educaçao. Educação e Sociedade, Campinas, v. 31, n. 112, p.895-917, jul./set.
2010.
118

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed São Paulo: Atlas, 2010.
184p.

GIL, Marta (org.). – Brasília: MEC. Secretaria de Educação à Distância, 2000.

GLAT, R. Inclusão total: mais uma utopia? Revista Integração, (20), p. 08-10. Brasília:
SEESP/MEC, 1998.

GLAT, Rosana; BLANCO, Leila de Macedo Varela (2007). Educação especial no contexto de
uma educação inclusiva. In: GLAT, Rosana (Org.). Educação inclusiva: cultura e
cotidiano escolar. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2007. p. 15-35.

GLAT, Rosana; PLESTSCH, Márcia Denise. O papel da universidade frente às políticas


públicas para educação inclusiva. Revista Benjamim Constant, Rio de Janeiro, ano 10, n.
29, 2004, p. 3-8.

GOFFMAN, Erving (1988). Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 3.


Ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

GOFFMAN, Erving (1963). Stigma: notes on the management of spoiled identity.


Englewood Cliffs NJ: Prentice-Hall.

GONÇALVES, M. A. S. Sentir, pensar, agir: corporeidade e educação. Campinas: Papirus,


1994.

GUGEL, Maria Aparecida. Pessoas com deficiência e o direito ao concurso público:


reserva de cargos e empregos públicos, administração pública direta e indireta. Goiânia: ed.
da UCG, 2006.

GUGEL, Maria Aparecida. Pessoa com Deficiência e o Direito do Trabalho: reserva de


cargos em empresas, emprego apoiado. Florianópolis: Obra Jurídica, 2007.
119

HEGEL, G. W. F. Princípios da Filosofia do Direito. Trad. O. Vitorino. São Paulo: Martins


Fontes, 2000.

HELLER, Agnes. O Cotidiano e a História. 3.ed. RJ: Paz e Terra, 1989.

HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995, p. 202.

HOCHAMAN, Gilberto (org.). Cuidar, Controlar, Curar: Ensaios Históricos sobre Saúde e
Doença na América Latina e Caribe./ Organizado por Gilberto Hochaman. Rio de Janeiro:
Editora Fiocruz, 2004. Coleção História e Saúde.

Homem-máquina: a ciência manipula o corpo. São Paulo: Companhia das letras, 2003. 392
p. 275-297.

IAMAMOTO, Marilda Vilela. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e


formação profissional. 14. ed. – São Paulo: Cortez, 2008.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico de 2000. Estatísticas


sobre deficientes no Brasil. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/pesquisas/default.shtn>. Acesso em: 20 mar. 2015.

KASSAR, Mônica de Carvalho Magalhães. Deficiência múltipla e educação no Brasil:


discurso e silêncio dos sujeitos. Campinas: Autores Associados, 1999.

LANNA Júnior; Mário Cléber Martins (Comp.). História do Movimento Político das
Pessoas com Deficiência no Brasil. - Brasília: Secretaria de Direitos Humanos. Secretaria
Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, 2010.

LENOBLE, Robert. História da Ideia da Natureza. Tradução Teresa Louro Pérez. Lisboa:
Edições 70, 2002.

LUZ, Madel Terezinha. Natural Racional Social. Rio de Janeiro: UFRJ, 1988, p. 152.
120

MAHAJAN, A. et al. Stigma in the HIV/Aids epidemic: a review of the literature and
recommendations for the way forward. AIDS, (22): S 67-79, 2008.

MAIOR, Loureiro de M.M. Políticas públicas sociais para pessoas portadoras de


deficiência no Brasil. Nº7 MAIO DE 1997. Disponível em:
<http://www.cebrap.org.br/v2/files/upload/biblioteca_virtual/politicas_publicas_sociais .pdf>.
Acesso em: 13 jan. 2015.

MANTOAN, M.T.E. Ensino inclusivo/educação (de qualidade) para todos. Revista


Integração, Brasília, Nº 20, 1998, p. 29-32.

MARTINS, Lúcia de Araújo Ramos. Fundamentos em educação Inclusiva. Natal, RN:


Editora da UFRN, 2011.

MAZZOTTA, Marcos José Silveira. Educação especial no Brasil: história e políticas


públicas. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2005.

MECLOY, E. P. Psicologia de La Ceguera. Madrid: Editorial Fragua, 1974.

MEDEIROS M, Diniz D, Squinca F. Estudo do Programa Brasileiro de Transferências de


Renda para a População com Deficiência e suas famílias no Brasil: uma análise do
Benefício de Prestação Continuada. Texto para discussão nº 1184. Brasília: IPEA; 2006.

MELO, F. R. L. V. et al. Experiências e Iniciativas em Acessibilidade e Inclusão na


UFRN: o Laboratório de Acessibilidade da Biblioteca Central Zila Mamede. Revista Gestão
& Conexões, v.3, p. 43-67, 2014. Disponível em: <
www.periodicos.ufes.br/ppgadm/article/download/5052/5579>. Acesso em: 3 out. 2015.

MENDES, E. Perspectivas para a Construção da Escola Inclusiva no Brasil. In: MARINE,


Simone; PALHARES, Marina Silveira. Escola Inclusiva: São Carlos: EDUFSCAR, 2002.
121

MORCHE, Bruno e NEVES, Clarissa E. B. A questão racial no acesso ao ensino superior:


políticas afirmativas e equidade. Florianópolis: Seminário Fazendo Gênero, 2010.

MONTEIRO, S.; VILLELA, W. (org.). Estigma e Saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2013.

MOREIRA, L. C. Universidade e alunos com necessidades educacionais especiais: das


ações institucionais às práticas pedagógicas. 2004. Tese (Doutorado em Educação) Faculdade
de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP.

MOREIRA, Maria Helena Bimbatti. Políticas educacionais e inclusão num contexto político
econômico neoliberal. In: DALL’ACQUA, Maria Júlia Canazza; ZANIOLO, Leandro
Osni (Org.). Educação inclusiva em perspectiva: reflexões para a formação de professores.
Curitiba: Ed. CRV, 2009. p. 25-40.

MOREIRA, W. W. Século XXI: a era do corpo ativo. São Paulo: Moderna, 1996.

MORENO, Jamile Coelho. Conceito de minorias e discriminação. Revista USCS - Direito


- Ano X, Nº.17 - Jul/dez.2009

NEVES, M. S. Os Cenários da República. O Brasil na virada do século XIX para o século


XX. In: FERREIRA, J. & DELGADO, L. O Brasil Republicano: o tempo do liberalismo
excludente. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

ODEH, M. M. O atendimento educacional para crianças com deficiências no hemisfério


sul e a integração não planejada: implicações para as propostas de integração escolar.
Revista Brasileira de Educação Especial, v. 1, n. 6, 2000, p. 27-42.

OKA, C. M.; NASSIF, M. C. M. Recursos escolares para o aluno com cegueira. In:
SAMPAIO, M. W. et. al. Baixa visão e cegueira: os caminhos para a reabilitação, a
educação e a inclusão. Rio de Janeiro: Cultura Médica; Guanabara Koogan, 2010.

OLIVEIRA, L.M.B. Cartilha do Censo 2010 – Pessoas com Deficiência. Secretaria de


Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) / Secretaria Nacional de Promoção
122

dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SNPD) / Coordenação-Geral do Sistema de


Informações sobre a Pessoa com Deficiência; Brasília: SDH-PR/SNPD, 2012.

OMOTE, S. Ética e cidadania em educação especial. Marília, 2001. Mimeografado


ONU, Programa de Ação Mundial para Pessoas Deficientes. Disponível em <
htt://www.educacaoonline.pro.br/docprograma de ação.asp. Acesso em: 15 abr. 2015.

PAN, M. A. S.G. O direito à diferença: uma reflexão sobre deficiência intelectual e


educação inclusiva. Curitiba: IBPEX, 2008.

PARKER, R. & AGGLETON, P. HIV and Aids related stigma and discrimination: a
conceptual framework and implications for action. Social Science & Medicine, 57, 2003, p13-
24.

PEREIRA, Ana B. O Corpo(-) Sentido: reflexões sobre “deficiência” e doença


crônica. Revista Electrónica do Programa de Doutoramento Pós- Colonialismos e Cidadania
Global, n.2, 2006. Disponível em: <http://cabodostrabalhos.ces.uc.pt/n2/ensaios.php>. Acesso
em: 8 set. 2015.

PACHECO, K. M. B., ALVES, V. L. R. TENDÊNCIAS E REFLEXÕES. A história da


deficiência, da marginalização à inclusão social: uma mudança de paradigma. ACTA
FISIATR, 2007; p. 242 – 248.

PESSOTTI, I. Deficiência mental: da superstição à ciência. São Paulo: EDUSP / Queiroz,


1984.

PIANA, Maria Cristina. SERVIÇO SOCIAL E EDUCAÇÃO: OLHARES QUE SE


ENTRECRUZAM (Ver citação de PONTES, 2000, p.186) Serviço Social 186 & Realidade,
Franca, v. 18, n. 2, 2009, p. 182-206.

RABIN, D.L; BARNETT, C.R; Arnold, W.D; Freiberger, R.H; BROOKS, G. Untreated
congenital hip disease. A study of the epidemiology, natural history, and social aspects of the
disease in a Navajo population. Am J Public Health Nations Health 1965; 55(1):44.
123

RADABAUGH, M. P. NIDRR's Long Range Plan - Technology for Access and Function
Research Section Two: NIDDR Research Agenda Chapter 5: TECHNOLOGY FOR
ACCESS AND FUNCTION - http://www.ncddr.org/rpp/techaf/lrp_ov.html.

REINO, Victor. 170 Anos Depois: algumas considerações de ordem histórica, sociológica e
psicopedagógica sobre o Sistema Braille. Lisboa: BN, 2000.

RESENDE, A.P.C.; VITAL, F.M. de P. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência Comentada. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Coordenadoria Nacional
para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Brasília, 2008.

RODRIGUES, David (Org.). Inclusão e educação: doze olhares sobre a educação inclusiva.
São Paulo: Summus, 2006.

RODRIGUES, José Carlos. O Corpo na História. Rio de Janeiro, Fio Cruz, 1999.

ROSE, Michael. O espectro de Darwin: A teoria da evolução e suas implicações no mundo


moderno. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.

ROTTA, N. T.; OHLWEILER, L.; RIESGO, R. dos S. Transtorno de Aprendizagem:


abordagem neuropsicológica e multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2007.

SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani (2004). Gênero, patriarcado, violência. São Paulo;
Fundação Perseu Abramo; 2004, p. 151.

SANT´ANNA, Denise Bernuzzi de. Educação física e história. In: CARVALHO, Yara Maria
de. de; RUBIO, Katia. (Org.). Educação física e ciências humanas. São Paulo: Hucitec, 2001.
170 p. 105-114.

SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de. “Descobrir o corpo: uma história sem fim”. Educação e
Realidade. Porto Alegre. [s.e.]. Vol.25, jul. -dez, 2000, p. 49-58.
124

SANTOS, M. P. Educação inclusiva e a Declaração de Salamanca: consequências ao


sistema educacional brasileiro. Revista Integração, Brasília, nº 22, 2000, p. 34-40.

SANTOS, M. P. Perspectiva histórica do movimento integracionista na Europa. Revista


Brasileira de Educação Especial, (3), Piracicaba: UNIMEP, 1995, p. 21-29.

SASSAKI, R. K. Entrevista. Revista Integração, (20). Brasília: SEESP/MEC, 1998, p. 08-10.


SASSAKI, R. K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. 3. ed. Rio de Janeiro:
WVA, 1997.

VÁZQUEZ, A. S. Entre larealidad e la utopia: ensayos sobre política, moral y socialismo.


México, Fondo de Cultura Económica, 1999.

SASSAKI, R. K. Como chamar as pessoas que têm deficiência? 2005. Artigo disponível
em: http://www.mid.org.br/index.php/o-mid/51-como-chamar-os-que-tem-deficiencia. Acesso
em 22/09/2015.

SASSAKI, R. K. Terminologia sobre Deficiência na Era da Inclusão. Artigo disponível


em: http://www.mp.pe.gov.br. Acesso em 22/09/2015.

SAWAIA, B.B. (org.) As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da


desigualdade social. Petrópolis: Vozes, 1999.

SCHMIDT, M. F. Nova História Crítica. São Paulo: Nova Geração, 2005.

SILVA, M.G. da. Processo de Trabalho e Serviço Social. Revista Interações – Cultura e
Comunidade, Uberlândia/MG. V. 2, n. 2, 2007, p. 35-47.

SILVA, O. M. da. A Epopéia Ignorada: a pessoa deficiente na história do mundo de ontem e


de hoje. São Paulo: Ed. CEDAS, 1986.

SILVA, M. das G. M.; VELOSO, T. C. M. A. Acesso à educação superior: significados e


tendências em curso. Série Estudos, Campo Grande, n. 30, 2010, p. 221-235, jul./dez. 2010.
125

STEPAN, N. L. A hora da eugenia: raça, gênero e nação na América Latina. Rio de Janeiro:
Editora Fiocruz, 2005.

TUCHERMAN, I. (2004). Breve história do corpo e de seus monstros. Lisboa: Veja, 2004.

VAZ, Paulo. (2006). Corpo e risco. [versão online]. Disponível em


<http://www.angelfire.com/mb/oencantador/paulovaz/INDEX.html>. Acesso em: 23 set. 15.

VALDÉS, M. T. M.; VITAL, I. L. V.; SANTOS, G. C. S.; BASTOS, M. G. A.;


FERNANDES, M. L. C. N.; MAGALHÃES, R. C. B. P. A integração das pessoas com
deficiência na educação superior no Brasil. 1. ed. Caracas: IESALC/ UNESCO, 2005. v. 1, n.
1, p. 142.
VAZ, P. (2006). Corpo e risco. [versão online]. Acesso em 12 de janeiro, em
http://www.angelfire.com/mb/oencantador/paulovaz/INDEX.html

VASH, C. Enfrentando a deficiência: a manifestação, a psicologia, a reabilitação. São


Paulo: Pioneira/EDUSP, 1988.

VELLOSO, M. P. O Modernismo e a questão nacional. In: FERREIRA, J.; DELGADO, L.


O Brasil Republicano: o tempo do liberalismo excludente. 2. Ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2006, p. 356.
126

APÊNDICES
127

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE


COMISSÃO DE APOIO A ESTUDANTES COM
NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS

QUESTIONÁRIO

Aluno:
Matrícula: Curso:
 DADOS DO ESTUDANTE:
1. Que condição você apresenta?
( ) Deficiência Física

( ) Paralisia Cerebral
( ) Distrofia Muscular
( ) Má formação
( ) Amputação
( ) Hemiplegia
() Paraplegia
() Tetraplegia

() Outra. Qual?

Dispositivo de auxílio utilizado:


( ) Muletas auxiliares
( ) Muletas canadenses
( ) Andador
( ) Cadeira de rodas
( ) Prótese

( ) Outro. Qual?

( ) Deficiência Visual
( ) Cegueira
( ) Baixa Visão

( ) Deficiência Auditiva
( ) Leve
( ) Moderada
( ) Severa
( ) Profunda

Qual o nível de perda auditiva?


( ) Bilateral
( ) Unilateral

( ) Deficiência Intelectual
( ) Leve
( ) Moderada
( ) Severa

( ) Deficiência Múltipla
Quais?
128

( ) Transtorno Global do Desenvolvimento


( ) Autismo
( ) Síndrome de Asperger
( ) Síndrome de Rett

( ) Outro. Qual?

( ) Altas Habilidades/Superdotação
( ) Cognitivo-Acadêmica
( ) Musical
( ) Cinestésico-Corporal
( ) Artística
( ) Outra. Qual?

( ) Transtorno/Dificuldade de Aprendizagem
( ) Dislexia
( ) Discalculia
( ) Disgrafia
( ) Disortografia
( ) TDA/H
( ) Outro. Qual?

( ) Transtorno Mental
( ) Transtorno do Pânico
( ) Transtorno de Ansiedade Generalizada
( ) Fobia Específica
( ) Fobia Social
( ) Transtorno Obsessivo-Compulsivo
( ) Dependência Química
( ) Depressão
( ) Transtorno Bipolar
( ) Distimia
( ) Ciclotimia
( ) Esquizofrenia
( ) Sintomas Psicóticos

( ) Outro. Qual?

2. Qual a origem da sua deficiência/necessidade especial?


() Genética
( ) Adquirida

3. Há quanto tempo possui a deficiência/necessidade educacional especial?


( ) 0-6 meses
( ) 12-18 meses
( ) 18-24 meses
( ) 24-30 meses
( ) 30-36 meses
( ) Mais de 36 meses.

______________________________________________________________________

4. Você atualmente faz algum tipo de tratamento?


( ) Sim ( ) Não.

5. Qual?
( ) Neurologia
( ) Psiquiatria
129

( ) Psicologia
( ) Fisioterapia
( ) Outro(s)
Qual?

6. Utiliza algum tipo de medicação?


( ) Sim
( ) Não.
Qual (is)?

7. Possui alguma dificuldade sensorial (corrigível)?


( ) Sim
( ) Não.

Tipo?
( ) Auditiva
( ) Visual

8. Você possui alguma dificuldade no âmbito cognitivo?


( ) Sim ( ) Não.

Tipo?
( ) Atenção
( ) Memória
( ) Leitura/Escrita

9. Sua condição produz necessidades educacionais especiais, ou seja, o seu quadro


leva à necessidade de recursos didático-pedagógicos diferenciados para que
consiga obter êxito acadêmico?
( ) Sim
( ) Não

10. Você se considera um (a) aluno (a) com necessidades educacionais especiais?
( )Sim
( ) Não.

11. Você é assistido pela CAENE?


( )Sim
( ) Não.

Por que?
( ) Desconhecimento do serviço na UFRN
( ) Não demanda apoio

 DADOS ESCOLARES DO ESTUDANTE:


 ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO:

12. Que tipo de escola freqüentou antes de ingressar na UFRN?


Educação Infantil:
( ) Pública
( ) Particular

Ensino Fundamental:
( ) Pública
( ) Particular
130

Ensino Médio:
( ) Pública
( ) Particular
13. Na(s) escola(s) em que você estudou, foi fornecida alguma forma de apoio
especializado?
( ) Sim
( ) Não

Se sim, qual?
( ) Sala de recursos multifuncionais
( ) Apoio técnico especializado (psicopedagogos, psicólogos, fonoaudiólogos, assistentes
sociais etc.)

14. Você enfrentou dificuldades ao longo de sua trajetória escolar?


( ) Sim
( ) Não

15. Quais dificuldades?


( ) Barreiras Arquitetônicas (falta de acessibilidade física, falta de adaptação de mobiliários
e equipamentos)
( ) Barreiras Atitudinais (preconceito, desestímulo ao desenvolvimento, indisposição
pessoal para oferecer apoio)
( ) Barreiras ao processo de ensino-aprendizagem. Qual (is)?
( ) Dificuldade em ter acesso ao conteúdo ministrado em sala de aula
( ) Dificuldades decorrentes da inadequação do material didático às suas NEE
( )Dificuldades decorrentes da inadequação dos métodos de ensino-aprendizagem-avaliaçãoàs
suas NEE

 SOBRE O INGRESSO NA UFRN

1. Com que idade ingressou na UFRN?


( ) 17-20 anos
( ) 21-25 anos
( ) 26-30 anos
( ) Acima de 30 anos

2. Quantos vestibulares prestou?


( ) Apenas 1
( ) 2-5
( ) Acima de 5

3. O que levou a optar pela UFRN?


( )Pública Federal
( )Qualidade
( )Oportunidade

4. Como se preparou para o vestibular?


( ) Individualmente
( ) Cursinho preparatório
( ) Grupo de estudos
( ) Não me preparei

5. O que influenciou na escolha do seu curso?


( ) Vocação
131

( ) Concorrência
( ) Pais/ Família
( ) Mercado de trabalho
( ) Outro motivo.

6. Você solicitou algum tipo de apoio/recurso à COMPERVE para a realização das


provas?
( ) Sim
( ) Não

Se não, por quê?


( ) Falta de conhecimento dos meus direitos
( ) Desconhecimento do edital
( ) Não julgou necessário

7. Foi atendido em suas solicitações?


( ) Sim
( ) Não.

8. Os recursos disponibilizados pela Comperve foram suficientes para tornar o


processo seletivo acessível?
( ) Sim
( ) Não.

 SOBRE A PERMANÊNCIA NA UFRN

1. Setor de aula onde estuda:


( ) Setor I
( ) Setor II
( ) Setor III
( ) Setor IV
( ) Setor V
( ) CB
( ) ECT
( ) CCS/HUOL
( ) Escola de Música
( ) Escola/Depto de Enfermagem
( ) Departamento de Fisioterapia
( ) Escola Agrícola de Jundiaí
( ) Núcleo de Educação da Infância/NEI
( ) CERES Caicó
( ) CERES Currais Novos
( ) FACISA

2. Semestre de ingresso no curso:

3. Em que período do curso se encontra:

4. Turno que estuda:


( ) Matutino
( ) Vespertino
( ) Noturno
( ) Matutino e Vespertino
( ) Matutino e Noturno
( ) Vespertino e Noturno
( ) Matutino, Vespertino e Noturno
132

5. Está satisfeito com o curso?


( ) Sim
( ) Não.

Por quê?
( ) Falta de vocação para a área
( ) O curso não correspondeu às minhas expectativas
( ) Falta de apoio às minhas necessidades

16. Você enfrentou dificuldades ao longo de sua trajetória acadêmica na UFRN?


( ) Sim
( ) Não.

17. Que dificuldades encontrou?


( ) Barreiras Arquitetônicas (falta de acessibilidade física, falta de adaptação de mobiliários
e equipamentos)
( ) Barreiras Atitudinais (preconceito, desestímulo ao desenvolvimento, indisposição
pessoal para oferecer apoio)
( ) Barreiras ao processo de ensino-aprendizagem. Qual (is)?
( ) Dificuldade em ter acesso ao conteúdo ministrado em sala de aula
( ) Dificuldades decorrentes da inadequação do material didático às suas NEE
( )Dificuldades decorrentes da inadequação dos métodos de ensino-aprendizagem-avaliaçãoàs
suas NEE

18. Seu processo de avaliação no curso é condizente com as suas NEE?


( ) Sim
( ) Não.

19. Você teve alguma reprovação em disciplinas ao longo de sua trajetória na


UFRN?
( ) Sim
( ) Não.

Se sim, quantas?
( ) Apenas 1
( ) 2-5
( ) Acima de 5

A que você atribui a(s) reprovação(ões)?


( ) Problemas de saúde
( ) Problemas de saúde mental
( ) Falta de motivação
( ) Dificuldade inerente à disciplina
( ) Não adaptação dos métodos e materiais às suas NEE
( ) Outro. Qual?

20. Você já realizou trancamento de disciplina?


( ) Sim
( ) Não.

Se sim, quantos?
( ) Apenas 1
( ) 2-5
( ) Acima de 5
A que você atribui o(s) trancamento(s)?
( ) Problemas de saúde
133

( ) Problemas de saúde mental


( ) Falta de motivação
( ) Dificuldade inerente à disciplina
( ) Não adaptação dos métodos e materiais às suas NEE
( ) Outro. Qual?

21. Você já realizou trancamento de semestre?


( ) Sim
( ) Não.

Se sim, quantos?
( ) Apenas 1
( ) 2-5
( ) Acima de 5

A que você atribui o(s) trancamento(s)?


( ) Problemas de saúde
( ) Problemas de saúde mental
( ) Falta de motivação
( ) Dificuldade em acompanhar o curso
( ) Não adaptação dos métodos e materiais às suas NEE
( ) Outro. Qual?

22. Você possui algum recurso e/ou equipamento próprio utilizado para apoiá-lo na
realização de suas atividades acadêmicas?
( ) Sim
( ) Não

23. Você participa de atividades oferecidas pelo seu curso?


( ) Sim
( ) Não

Em caso afirmativo, qual(is)?


( ) Extensão
( ) Pesquisa
( ) Eventos
( ) Monitoria

24. Alguma vez teve seus direitos negligenciados na UFRN?


( ) Sim
( ) Não.

 ASPECTOS SÓCIO-AFETIVOS

1. Como você classifica seu estado de humor atual?


( ) Excelente
( ) Bom
( ) Razoável
( ) Ruim
( ) Péssimo

2. Como você classifica seu nível de ansiedade atual?


( ) Muito Alto
( ) Alto
( ) Médio
( ) Baixo
( ) Muito Baixo
134

3. Apresenta-se motivado?
( ) Sim
( ) Não

4. Tem se engajado em atividades de lazer?


( ) Sim
( ) Não

5. Faz algum exercício físico?


( ) Sim
( ) Não

6. Possui bom relacionamento familiar?


( ) Sim
( ) Não

7. Possui bom relacionamento social (dentro e fora da UFRN)?


( ) Sim
( ) Não

8. Como é o seu relacionamento com os professores de seu curso na UFRN?


( ) Excelente
( ) Bom
( ) Razoável
( ) Ruim
( ) Péssimo

9. Como é o seu relacionamento com os colegas de curso na UFRN?


( ) Excelente
( ) Bom
( ) Razoável
( ) Ruim
( ) Péssimo

10. Como é o seu relacionamento com os funcionários da UFRN?


( ) Excelente
( ) Bom
( ) Razoável
( ) Ruim
( ) Péssimo

11. Como teve acesso à CAENE?


( ) Não sabia da existência da CAENE anteriormente à participação na pesquisa
( ) Página da Internet
( ) Informações no cadastramento
( ) Coordenação de curso
( ) Conhecidos
( ) Outro. Qual?
135

APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE


CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL
MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL
ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

1. DADOS GERAIS

1.1 Identificação em código (Nº da entrevista): ____________________________


1.2 Data da entrevista:___/___/___
1.3 Sexo:_____________
1.4 Data de nascimento: ___/___/___
1.5 Cor/ etnia:
( ) Branca ( ) Amarelo ( ) Negra ( ) Indígena ( ) Parda
( ) Não sabe responder ( ) Outras________________
1.6 Estado civil
( ) Solteiro ( ) Casado ( ) União Estável ( ) Viúvo ( ) separado/desquitado/
divorciado ( ) Outros________________

2. DADOS SÓCIOECONÔMICOS
2.1 Onde e como você mora atualmente?
( ) Em casa de outros familiares
( ) Em casa de amigos
( ) Habitação coletiva: hotel, hospedaria, quartel, pensionato, república, etc.
( ) Casa/apto, mantidos pela família para moradia do estudante
( ) Outra situação, qual? ______________________________________

2.2 Quantas pessoas moram em sua casa? (Obs.: incluindo você)


( ) 2 pessoas ( ) 3 pessoas ( ) 4 pessoas ( ) 5 pessoas ( ) 6 pessoas ( ) mais de 6
pessoas ( ) mora sozinho

2.3 Qual é a sua renda familiar? (Considere a renda de todos os integrantes da família,
inclusive você)
( ) até 1 salário mínimo ( ) de 4 a 5 salários mínimos
( ) de 1 a 2 salários mínimos ( ) Acima de 5 salários
( ) de 2 a 3 salários mínimos ( ) Outros__________

2.4 Você desenvolve alguma atividade remunerada?


( ) Sim ( ) Não
Se sim, qual?
( ) Estagiário ( ) Aposentado
( ) Autônomo com registro no INSS ( ) Pensionista
136

( ) Servidor Público Federal / Estadual ( ) Informal


( ) Servidor Público Municipal ( ) Outras_______________

2.5 Qual é o principal meio de transporte que você utiliza para chegar à Universidade?
( ) a pé/ carona/ bicicleta ( ) transporte coletivo
Você solicitou algum tipo de apoio/recurso para se submeter o processo seletivo
(vestibular/ENEM/Outro) com vistas a ingressar na universidade? ( ) Sim ( ) Não.
Em caso afirmativo, qual (is)? _____________________________________________
Foi atendido em suas solicitações? ( ) Não ( ) Sim
( ) transporte escolar ( ) transporte próprio (carro/ moto)
3. DADOS SOBRE O INGRESSO NA UFRN
3.1 Período de Ingresso:___________
3.2 Com que idade ingressou na UFRN? __________________________________________
3.3 O que levou optar pela
UFRN?_____________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________
3.4 Qual o curso escolhido?_____________________________________________________
3.5 O que determinou a escolha do seu
curso?______________________________________________________________________
___________________________________________________________
3.6 Forma de ingresso:
( ) ENEM ( ) Reingresso ( ) Outra ____________________________________________

4- DADOS SOBRE A PERMANÊNCIA NA UFRN


4.1 Setor de aula onde estuda: ___________________________________________________
4.2 Em que período do curso se encontra: _________________________________________
4.3 Turno que estuda: _________________________________________________________
4.5 Está satisfeito com o curso? ( ) Sim ( ) Não. Por quê?
___________________________
4.6 Tem encontrado alguma dificuldade(s) no curso?
( ) Sim ( ) Não.
Se sim, quais? _______________________________________________________________
4.7 Já foi reprovado(a) em alguma disciplina?
( ) Sim ( ) Não.
Se sim, quais foram os motivos? ________________________________________________
4.8 Já precisou trancar alguma disciplina?
( ) Sim ( ) Não.
Se sim, quais foram os motivos? ________________________________________________
4.9 Você possui algum recurso e/ou equipamento próprio para apoiá-lo na realização de suas
atividades acadêmicas?
( ) Não ( ) Sim. Qual(is)?____________________________________________________
4.10 Você participa de atividades oferecidas pelo seu curso?
( ) Não ( ) Sim
Caso sim, quais? ( ) Extensão ( ) Pesquisa ( ) Eventos ( ) Monitoria
Deseja participar? ( ) Não ( ) Sim . Por quê? _____________________________________
4.11 Você conhece o trabalho da
CAENE?____________________________________________________________________
___________________________________________________________
137

4.12 Como teve acesso à


CAENE?____________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________
4.13 No momento, qual é o apoio educacional que em sua opinião é primordial para você
desenvolver as suas atividades e os seus estudos?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________

Você também pode gostar