O Som Do Filme - Carreiro Godoy Opolski - Sem Capa
O Som Do Filme - Carreiro Godoy Opolski - Sem Capa
O Som Do Filme - Carreiro Godoy Opolski - Sem Capa
UMA INTRODUÇÃO
Reitor: Prof. Anísio Brasileiro de Freitas Dourado
Vice-Reitor: Prof. Sílvio Romero de Barros Marques
Pró-Reitor de Extensão: Prof. Edilson Fernandes de Souza
Diretora de Extensão Acadêmica: Maria Christina de Medeiros Nunes
Diretora de Extensão Cultural: Prof. Marcos Galindo
Coordenador de Gestão da Extensão: Demócrito José Rodrigues da Silva
Coordenador de Gestão da Informação: Prof. Wellington Pinheiro dos Santos
Coordenadora de Gestão Organizacional: Eliane Aguiar
Coordenadora de Gestão da Produção Multimídia e Audiovisual: Jowania Rosas de Melo
Diagramação:
Mannu Braga
Capa:
Bureau de Design
Revisão técnica:
João Baptista Godoy de Souza
Revisão:
Carmem Lúcia Batista
O SOM DO FILME:
UMA INTRODUÇÃO
Rodrigo Carreiro (organização)
Débora Opolski
João Baptista Godoy de Souza
Recife, 2014
Catalogação na fonte:
Bibliotecária Joselly de Barros Gonçalves, CRB4-1748
Inclui referências.
ISBN (broch.)
Introdução 9
Introdução
de doutorado também se tornaram mais comuns. Mas na maior par-
te dos casos, esse material permanece em difícil acesso, disponível
apenas em bibliotecas universitárias (ALVES, 2013).
A proposta do livro que você tem em mãos foi construída para ocupar
um espaço nessa interseção entre os estudos do som e a disponibili-
zação de livros-texto sobre o campo do audiovisual. O som do filme:
uma introdução pretende ser um livro-texto sobre o som cinema-
tográfico. Isso significa que este volume tem como público-alvo o
estudante de graduação de cursos de cinema e de audiovisual. Evi-
dentemente, isso não significa que pessoas de diferentes perfis devem
deixá-lo de lado. Espero que pessoas interessadas nas possibilidades
criativas relacionadas ao uso da voz, dos ruídos, da música e do si-
lêncio em filmes, vídeos e produtos audiovisuais diversos encontrem,
aqui, rico material de pesquisa. Mas enfatizo, também, o caráter pe-
dagógico da empreitada. Este livro tem a intenção explícita de ensi- 11
nar alunos de graduação alguns elementos básicos de história, teoria,
prática e estética do som nos meios audiovisuais.
1 A expressão “trilha sonora” é tomada, neste livro, como sinônimo do conjunto completo de sons
presentes em um filme, incluindo diálogos, ruídos e músicas.
Introdução
tragem com som sincrônico pré-gravado), com uma série de expe-
riências de acompanhamento sonoro produzido ao vivo, durante as
seções de projeção. Esse capítulo pretende apresentar e discutir os
principais marcos cronológicos da evolução do uso do som no meio
audiovisual, dando destaque aos contínuos avanços tecnológicos
que permitiram o aprimoramento progressivo da qualidade de gra-
vação e da reprodução do som nos teatros. O capítulo não esquece,
contudo, de relacionar essas questões tecnológicas às implicações
estéticas que surgem como consequência, enfatizando também o
quanto a estética do som no cinema tem sido sensível às condições
socioeconômicas e culturais de produção dos filmes.
O terceiro capítulo realiza, por sua vez, uma síntese abrangente das
pesquisas e das teorias mais conhecidas que foram desenvolvidas
sobre o som cinematográfico, desde a década de 1920 até os dias
12 atuais. O texto enfatiza, de maneira bastante panorâmica, a contri-
buição dos principais teóricos clássicos do cinema ao pensamento a
respeito das possibilidades criativas oferecidas pelo som. O capítulo
apresenta o pensamento dos primeiros teóricos que se dedicaram
especificamente aos estudos do som, como Michel Chion, Claudia
Gorbman e Rick Altman. E oferece, ainda, um panorama diversifica-
do das pesquisas mais recentes sobre o campo de estudo, no Brasil
e no mundo.
Embora o projeto deste livro tenha sido concebido por mim, não o es-
crevi por inteiro. Cuidei apenas dessa primeira parte, com textos cen-
trados no campo da teoria e da história, minha especialidade. Se você
não me conhece, aqui vão minhas credenciais: sou responsável, desde
2009, pelas disciplinas de som do Bacharelado em Cinema e Audiovi-
sual da Universidade Federal de Pernambuco e professor do Programa
de Pós-Graduação em Comunicação da mesma universidade.
Introdução
audiovisual, O som do filme: uma introdução certamente tem um
objetivo ambicioso. Apesar disso, e talvez paradoxalmente, é um
volume modesto em sua pretensão. O livro não pretende, de modo
algum, esgotar o tema abordado, naturalmente vasto. O caráter pa-
norâmico dos textos permite, sem dúvida, que cada uma das abor-
dagens propostas (história, teoria e prática do som no audiovisual)
seja aprofundada, em múltiplas direções, por publicações futuras.
Esperamos, nesse sentido, que este livro marque o primeiro passo de
uma jornada que promete ser longa e árdua, mas que nem por isso
deixe de ser divertida.
Boa leitura.
Rodrigo Carreiro
Recife, junho de 2014.
14
2 O termo, criado nos anos 1930 por revistas de cinema que circulavam em Hollywood, era usado
para identificar atrizes que representavam com frequência papéis de vítima de filmes de horror, sendo
escaladas para esses trabalhos geralmente por terem a habilidade de gritar de modo agudo e forte.
3 Durante a Idade Média, a utilização de intervalos em quinta diminuta era vedada pela Igreja Católica
aos compositores, pois as dissonâncias instáveis que eles produziam eram consideradas diabólicas e
temia-se que, se executadas, elas poderiam atrair seres sobrenaturais e/ou demoníacos. No século
XVIII, esse intervalo musical ficou conhecido a partir dessa expressão em latim, que significa “o diabo
na música”.
18
[Figura 1]
Existem exceções à regra dos ruídos realistas, mas são poucas. Tal-
vez a mais conhecida exceção esteja no filme Dogville (2003), de
Lars Von Trier, cujos cenários não têm nada de realista (os persona-
gens abrem portas invisíveis, e elas rangem; o cachorro é um círculo
desenhado no chão com giz, mas late). Mais recentemente, o longa-
-metragem A pele de Vênus (Venus in furs, Roman Polanski, 2013)
adotou o mesmo procedimento em alguns trechos: os personagens
se servem de café, colocam açúcar na xícara, mexem a colher e ou-
vimos todos esses sons, embora os objetos não existam, porque os
personagens são atores ensaiando uma peça teatral.
Alguns diretores, como Sergio Leone, não costumam (ou não cos-
tumavam) gravar sons nos sets. Eles optam por dublar tudo depois.
Curiosamente, há movimentos cinematográficos que dispensavam
sons gravados no set (como o neorrealismo italiano e todo o ciclo
de produção de spaghetti westerns, na Itália dos anos 1960-1970,
por causa do alto custo de produção que essa operação envolvia);
outros adotam isso, o som direto, como uma regra impossível de
quebrar, como é o caso do movimento Dogma 95, lançado na Dina-
marca nos anos 1990.
Existe, ainda, outra equipe que trabalha com ruídos pontuais, sin-
cronizados com elementos da imagem. É a equipe do foley, prática
chamada no Brasil de ruídos de sala. Esse grupo de profissionais
– os artistas foley, ou artistas de sala – trabalha para planejar,
captar e gravar pequenos ruídos necessários para dar vida à trilha
sonora. Esses ruídos são quase sempre consequência da interação
do homem com o meio ambiente: passos, vidros quebrando, portas 23
batendo, farfalhar de roupas etc. Os profissionais que produzem es-
ses ruídos são chamados de sonoplastas ou de artistas foley (em ho-
menagem a um técnico de som chamado Jack Foley, que trabalhou
na década de 1930 nos estúdios Universal). Essas pessoas precisam
criar e gravar os sons em estúdio.
Nos filmes que buscam por mais realismo, os ruídos também são
modulados e mixados cuidadosamente, para que a edição de som
possa simular, com exatidão, a forma como o ouvido humano os
percebe. Um belo exemplo está na sequência inicial de O resgate do
soldado Ryan (Saving private Ryan, Steven Spielberg, 1998), em
que as explosões deixam o protagonista momentaneamente surdo,
e a plateia, como ele, ouve em primeiro plano um forte zumbido
1.2 A música
28
[Figura 2]
4 Esta trilha, chamada no Brasil de “banda internacional”, é conhecida no mercado estrangeiro como
M&E (music and effects).
Por último, ainda vale a pena observar que a estética sonora ouvida
nos filmes de maior orçamento, e que têm objetivos mais comerciais,
costuma ser um pouco diferente da trilha de áudio que está em fil-
mes mais obscuros, mais alternativos. O cinema comercial costuma,
principalmente desde os anos 19706, investir no preenchimento to-
tal do espaço sonoro disponível, evitando os silêncios, enchendo de
5 Para uma descrição mais pormenorizada desses processos, ler o clássico ensaio Sync Tanks, escrito
por Elizabeth Weis e disponível em http://filmsound.org/synctanks/.
6 Essa estética hiperrealista só se tornou possível nos anos 1970, graças às possibilidades tecnológicas
oferecidas pelos novos equipamentos disponíveis (microfones mais sensíveis, lavaliers) e pelos novos
sistemas de reprodução (Dolby Stereo, Dolby Digital), conforme veremos no próximo capítulo.
31
7 Os teatros de vaudeville constituíam uma forma de entretenimento popular bastante comum nos
Estados Unidos e nos países da Europa, durante o século XIX e o início do século XX. Essas casas de
show exibiam uma grande variedade de números rápidos (apresentações musicais, números de circo,
projeções de filmes, exibições de fotografias, espetáculos de dança, palestras, leituras de poesias) em
sequência, todas as noites.
8 Instrumento fabricado pela American Photoplayer Company, que reunia tubos de órgão, efeitos
sonoros (sirenes, buzinas, apitos, motores) e instrumentos de percussão, acionado por teclas, botões,
cordas e alavancas.
9 Nickelodeons eram pequenas casas especializadas na projeção de filmes curtos, exibidos em sessões
que duravam de 15 a 20 minutos, e que custavam (nos Estados Unidos) cinco centavos, ou um níquel,
tendo vindo daí o nome desses empreendimentos. Essas casas eram, em geral, localizadas em bairros
de trabalhadores e obtiveram muito sucesso até os primeiros anos da década de 1910, quando come-
çaram a ser substituídas por teatros de exibição de filmes maiores, mais luxuosos e bem localizados.
10 O termo “score”, em inglês, se refere a toda a música originalmente composta para uma trilha
sonora, excluindo-se diálogos, ruídos e outros sons não musicais.
11 Tema musical associado, ao longo de um filme ou obra narrativa, a uma personagem, situação
dramática, objeto ou sentimento.
Mas ainda havia questões técnicas a serem resolvidas. Uma delas era a
dificuldade de montagem dos registros sonoros captados pela equipe
de som direto13. Nos primeiros anos de uso do sistema Vitaphone, o
som de uma cena tinha que ser utilizado na íntegra, mesmo que na
trilha de imagem o cineasta pudesse alterar o ângulo da câmera. No
[Figura 3]
55
[Figura 4]
A razão principal para este fato não era de ordem técnica, mas
sim uma questão financeira. A tecnologia estereofônica já estava
disponível desde 1933, quando a companhia telefônica Bell Labs
realizou um teste de gravação e transmissão de um concerto de
música sinfônica em dois canais. Em Nova York, no ano de 1940,
a mesma empresa, associada à AT&T, realizou uma demonstração
da tecnologia estereofônica para cinema. O sistema de gravação
desenvolvido por eles era capaz de registrar sons simultaneamente
em quatro pistas sonoras, sendo três de áudio propriamente dito e 57
uma utilizada como sinal de controle: a informação gravada nesta
pista controlava a relação de volume entre as informações sonoras
presentes nas outras três pistas (ALVAREZ, 2007, p. 26).
15 A fita magnética oferecia qualidade de reprodução sonora superior ao do som óptico (registrado
diretamente na película de 35 mm).
62
[Figura 5]
16 No início, a proporção usada era 2.55:1, ou dois metros e 55 centímetros de largura para cada
metro de altura; após alguns anos, essa janela foi ajustada para 2.35:1, que permanece até hoje.
65
[Figura 6]
O Dolby A-NR, porém, era uma tecnologia criada para atuar em mí-
dia magnética. A projeção cinematográfica, como já foi dito antes,
é gerada a partir de uma película óptica de 35 mm. Assim, ao lado
do sócio Ioan Allen, o proprietário da Dolby se dedicou, duran-
te quatro anos, a desenvolver um novo sistema capaz de aplicar a
técnica de redução de ruído à película cinematográfica. O sistema
deveria, ainda, ir além: permitir a estereofonia sonora a um custo
acessível. Àquela altura, em meados dos anos 1970, os executivos
dos estúdios e donos de cinemas já não temiam mais a ameaça da
televisão, tendo optado por deixar de lado os esforços no sentido de
desenvolver sistemas de reprodução sonora estereofônicos.
Foi nessa mesma época que surgiu a figura do sound designer. Esse
profissional era responsável por conceber, planejar e executar um
projeto criativo que permitisse ao filme extrair da banda sonora todo
o potencial que ela poderia oferecer. Em 1977, o termo ainda não
existia. Ele foi cunhado dois anos depois pelo braço direito de Fran-
cis Ford Coppola: um talentoso editor chamado Walter Murch, res-
ponsável pela edição de som e imagem de Apocalypse now. Murch
passara um ano inteiro concebendo e montando o som do épico de
guerra. Ele gastou outro ano trabalhando na montagem visual e foi
capaz de entregar um trabalho paradigmático. A sequência de aber-
tura – o delírio de um militar drogado num quarto de hotel vendo 71
uma floresta de palmeiras pegando fogo e confundindo o ruído de
um ventilador com os voos de helicópteros – permanece até hoje
dentre os usos mais criativos de som que se pode imaginar. Nela, o
ruído ritmado das pás dos helicópteros circula pela sala de exibição,
envolvendo o espectador completamente dentro da ação narrativa.
Uma novidade que surgiu nos anos 1980 foi a influência dos videocli-
pes no cinema. Inicialmente ligado à indústria da música e visto mais
como uma peça de marketing do que de entretenimento, o videoclipe
alcançou um sucesso tão grande, por meio da popularidade da MTV,
que sua estética fragmentada passou a ser utilizada com bastante
frequência pelos montadores de cinema. Como consequência, filmes
75
A mesma configuração de reprodução estava disponível também no
principal sistema concorrente, desenvolvido pelos estúdios Universal
e denominado “DTS” (Digital Theater System). Em 1993, o DTS foi
disponibilizado, com grande alarde, por ocasião do lançamento de
Parque dos dinossauros (Jurassic park). O diretor, Steven Spielberg,
havia, inclusive, ajudado a desenvolver o sistema. O DTS tinha uma
semelhança curiosa com o antigo Vitaphone: era um sistema dual
media, ou seja, a imagem ficava gravada em uma mídia (película de
35 mm), e o som, em outra (duas unidades de CD-ROM). Os dois
aparelhos eram sincronizados.
80
17 A outra corrente importante da teoria do cinema é constituída pelos realistas, cujo principal nome
é André Bazin.
18 Jonathan Crary e Marshall McLuhan estão entre os teóricos mais influentes a defender essa teoria.
19 O termo original foi cunhado pelo poeta John Yeats. Uma tradução aproximada seria “melodias
inaudíveis”, expressão que sintetiza de maneira bastante eficiente a tese de Gorbman. Seu livro nunca
foi traduzido para o português. Ela preparou uma edição atualizada para lançamento em 2014.
Jeff Smith, por sua vez, foi mais duro em sua crítica. Ele argumen-
tou que os processos cognitivos do espectador se alternam, durante
a fruição do filme, por várias modalidades de escuta, transitando
Com essa explicação, Michel Chion foi capaz de, indiretamente, rei-
vindicar status igual de importância para o som e a imagem no
processo de codificação do discurso cinematográfico. Se uma trilha 105
de informações influencia o modo como a outra é percebida pelo
indivíduo, afinal, não faz qualquer sentido reivindicar a superio-
ridade de qualquer uma delas. É precisamente por isso que Chion
propôs uma metodologia de análise da trilha sonora no audiovisual
que sempre leve em consideração as imagens que são apresentadas
em conjunto com os sons. Para Chion, a análise específica dos ele-
mentos sonoros resultará sempre incompleta e insuficiente.
Por fim, também tem sido muito grande a contribuição dos estudos
de Michel Chion para a construção de toda uma tipologia dos sons
fora de quadro. Há muito se sabe – pelo menos desde o manifesto
coescrito por Eisenstein, Pudovkin e Alexandrov, publicado em 1928
– que os eventos sonoros produzidos por elementos não visíveis
na tela contribuem para dar verossimilhança e enriquecer a trilha
de imagens. Chion dirigiu sua atenção especialmente a esses sons,
111
22 A gravação dos discos do sistema Vitaphone era contínua e não permitia edição do material gra-
vado, obrigando que as tomadas sonoras fossem realizadas sem interrupção e a duração da gravação
era determinada pelo tamanho do disco empregado – 7 ou 9 minutos –. Se um ator errasse um trecho
do texto ao longo da tomada, a gravação era inviabilizada e a matriz era descartada. A necessidade
técnica da realização da tomada sonora sem interrupção impedia a aplicação do método tradicional
de filmagem: decupagem da cena em vários planos, com diferentes enquadramentos, para posterior
construção da unidade da ação por meio da montagem (multiple takes method).
23 A captação em double system foi uma prática dominante no registro cinematográfico desde o
advento da captação óptica em câmera separada da imagem em meados de 1929.
24 Na prática da realização, o termo é normalmente empregado em inglês.
25 Taxa de amostragem ou sampling rate é a frequência de amostras do som original, colhidas para
serem representadas numericamente. A taxa de amostragem normalmente empregada na captação de
som direto é de 48 KHz. Na indústria fonográfica, a taxa de amostragem utilizada na confecção dos
compact discs é de 44,1 KHz.
26 O bit depth é um dos parâmetros que determinam a qualidade do som digital. Bit depth é a mag-
nitude de cada número utilizado para representar o som contido em cada pequena fração de tempo
utilizada na amostragem – sampling rate – do sinal sonoro original. Quanto maior o bit depth, maior
o intervalo dinâmico alcançado pelo som digital. Atualmente, na captação de som direto são empre-
gadas taxas de 16 ou 24 bits.
27 Conversores AD/DA são microprocessadores que transformam sinais analógicos em sinais digitais
e vice-versa. A qualidade do processo de conversão analógico-digital/digital-analógica é determinada
pelas características técnicas desses dispositivos.
Um arranjo ainda mais simples que esse pode ser constituído pela
fixação de um microfone no corpo da própria câmera, procedimento
pouco usual em realizações profissionais.
28 VU é a abreviatura de Volume Unit, dispositivo padrão usado para medição do nível médio do sinal
de áudio. Instalado em diversos equipamentos de som, ele possui tempo de resposta semelhante à
audição humana, o que possibilita a avaliação da chamada “sensação de volume de um sinal de áudio”.
29 Peak Meter é um dispositivo de medição de intensidade sonora que reage instantaneamente aos
sinais que transitam no sistema, propiciam a monitoração visual dos curtos transientes elétricos.
30 No Brasil, o termo boom é usado para indicar o dispositivo tubular leve, com extensão ajustável
e que suporta o microfone. O microfonista sustenta esse dispositivo com os braços, posicionando o
microfone para a captação do som. Nos Estados Unidos, o termo boom é usado para designar o su-
porte de microfone, normalmente construído sobre rodas, com uma longa vara metálica, que carrega
o microfone, sustentada por um eixo central. Esse sistema é operado pelo boom operator por meio de
manivelas; seu emprego é muito comum em gravações de sitcom. Fishpole ou mic boompole, termo
usado para designar o suporte de microfone leve, sustentado com os braços pelo boom operator.
124 Trabalha-se com a ideia de método que vai além daquele emprega-
do pela ciência clássica, que entende o método como um programa
que normatiza previamente uma série de procedimentos que serão
realizados, prevendo erros evitáveis, objetivando um resultado pré-
-determinado. Esse sentido dado ao conceito de método é limitante
e, segundo Edgar Morin (2000, p. 335), resulta da degradação de
seu significado original, sofrido no seio da ciência clássica. Confor-
me afirma o autor, “na perspectiva clássica o método não é mais
que um corpus de receitas, de aplicação quase mecânica, que visa
a excluir todo o sujeito de seu exercício. O método degrada-se em
técnica porque a teoria se tornou um programa”.
31 Visita técnica se origina de technical scout ou tec scout, termo usado na realização audiovisual
norte-americana para designar as visitas, organizadas pela produção, com todos os chefes de equipe
às locações aprovadas. Nessas visitas, cada departamento detalha as necessidades operacionais e ma-
teriais para a filmagem. Em geral participam das visitas o diretor, o assistente de direção, o diretor de
arte, o fotógrafo, o chefe de elétrica, o eletricista, o maquinista, o diretor de produção, o produtor de
set e o técnico de som direto. No cotidiano da produção brasileira, o termo é normalmente utilizado
em inglês.
32 O termo “decupagem” é utilizado com o sentido de processo de decomposição da ação em planos
que constituirão as unidades de montagem para a construção de uma sequência.
33 Grid é o termo utilizado para designar uma estrutura quadriculada suspensa acima do cenário que
permite a fixação de refletores e outros dispositivos necessários para a realização cinematográfica.
34 Gaffer é o eletricista chefe, responsável pela coordenação das equipes de eletricistas e dos maqui-
nistas. É o profissional responsável pela execução da iluminação das cenas.
35 A “maquinária” é o departamento responsável pela instalação das estruturas para a fixação dos re-
fletores de luz e pela operação dos equipamentos que movimentam a câmera, tais como, dollys e gruas.
36 Vídeo assist é o sistema de vídeo que registra a imagem e o som da tomada e permite ao diretor
assistir a cena captada.
[Figura 10]
É indiscutível que filmar com som direto torna o set mais complexo
e demorado, pois são mais variáveis que precisam ser satisfeitas si-
multaneamente. Além das necessidades da imagem, há, também, as
necessidades do som; portanto, a demanda de tempo para obtenção
do resultado desejado é maior. Os diretores que valorizam a opção
do som direto reconhecem as vantagens estéticas e orçamentárias
do direto sobre o dublado e, compreendendo as limitações técnicas
da captação de som, estabelecem procedimentos de filmagem que
possibilitam o registro sincrônico.
40 Momento de decisão conta a história de duas bailarinas, Deedee e Emma, que seguem caminhos
diferentes na vida, a primeira constitui família e a outra carreira profissional. O contato entre as duas é
reatado quando Emilia, a filha de Deedee, tem a chance de dançar na companhia pertencente a Emma.
159
[Figuras 11 e 12]
43 Como definido por Ismail Xavier, “o que caracteriza a decupagem clássica é seu caráter de sistema
cuidadosamente elaborado, de repertório lentamente sedimentado na evolução histórica, de modo a
resultar num aparato de procedimentos precisamente adotados para extrair o máximo rendimento dos
efeitos da montagem e ao mesmo tempo torná-la invisível” (XAVIER, 1984, p. 24).
Mesmo que parte da sequência tenha sido dublada, o que não pa-
rece, a análise realizada não se invalida. A decupagem estabelecida
pela direção possibilita que os planos com fala sincrônica sejam
captados independentemente da presença real do trem. A articula-
ção estabelecida pela montagem com a pós-sincronização dos ruí-
dos cria a ilusão de continuidade da chegada do trem. A decupagem
164 da sequência Despedida na estação denota a prioridade da direção
pelo registro sonoro direto, criando condições adequadas para a
captação de falas inteligíveis nessa complexa situação de filmagem.
Filmar com som direto obriga a realização de escolhas que viabili-
zem o trabalho de captação.
44 Uma versão diferente deste capítulo está disponível também no livro Introdução ao desenho de
som, da autora, publicado em 2013 pela Editora da UFPB.
45 Segundo o banco de dados IMDb, no filme citado anteriormente A identidade Bourne, a equipe
de som foi composta por 47 pessoas.
175
Supervisor de som
Compositor
Sound-designer
[Figura 13]
Grupo 1: Diálogos
46 Formato de arquivo que permite a comunicação de material digital por programas e interfaces
distintas.
47 Arquivo de texto onde estão listados todos os cortes feitos pelo montador.
[Figura 14]
Grupo 2: Foley
Os sons captados pelo som direto são utilizados apenas para som
49 O termo objeto sonoro, utilizado pela autora, denota o sentido criado por Pierre Schaeffer na
década de 50. Em uma analogia simples com objetos luminosos, Schaeffer diz que “o que o ouvi-
do escuta não é nem a fonte, nem o ‘som’, mas verdadeiramente objetos sonoros, do mesmo jeito
que aquilo que o olho vê não é diretamente a fonte, ou mesmo a sua ‘luz’, mas objetos luminosos”
(SCHAEFFER, 1993, p. 72).
50 Autora do livro The foley Grail: the art of performing sound for film, games and animation.
51 Durante as aulas, nas práticas de gravação de foley, é comum ouvirmos a pergunta: “professora,
não precisa bater claquete?”. Talvez esse seja o momento de esclarecer isso, pois da forma como a
gravação é feita, dentro de um programa de gravação de som e em sincronia com a imagem, não ne-
cessitamos de claquete, pois o editor de foley recebe o material sonoro já sincronizado com a imagem,
de acordo com a precisão do artista de foley.
Grupo 3: Efeitos
No clássico Era uma vez no oeste (Once upon a time in west, Ser-
gio Leone, 1968), ouvimos, durante toda a primeira cena do filme,
o rangido de um moinho de vento que só consegue ser identifica-
do aos 3’58”, quando a imagem do moinho aparece pela primeira
vez. O efeito sonoro criado para o movimento das pás do moinho
de vento antecipa a imagem, intrigando o ouvinte durante quatro
minutos até se apresentar efetivamente na narrativa, fazendo jus à
característica de efeito sonoro on frame, visível pelo espectador. A
cena é longa e lenta e o som do rangido do moinho pode se tornar
irritante pela constância. O som permanece até os 5’30”, quando é
interrompido por dois minutos, retornando aos 7’30”. O retorno do
efeito sonoro acontece logo depois da resolução da problemática
do personagem com a mosca, que também irritava com seu zunido,
sendo uma lembrança auditiva ao espectador de que o som irritante
continua ali. O moinho é esquecido aos 8’56”, quando a chegada
do trem na estação desloca a atenção do espectador para a ação.
52 A proximidade dos sound effects com a música aumenta à medida que a composição musical uti-
liza instrumentos não convencionais e adentra no campo da música eletroacústica.
200
[Figura 16]
5.5. Mixagem
54 Vale a pena lembrar que um filme é resultado de trabalho em conjunto. No caso do som, existe
uma interdependência das etapas, portanto, as escolhas técnicas e estéticas devem ser realizadas em
concordância.
Uma cena como a descrita acima precisa de som para existir. Exem-
plo de uma história que utiliza o som como um elemento atuante,
fundamental para o desenvolvimento da narrativa. A ação da meni-
na é movida pelo evento sonoro; logo, se não existisse o evento, não
55 É possível verificar esse tipo de problema acústico observando as falas do personagem Robbie
(James McAvoy) aos 10’20” e aos 12’00”.
56 Não necessariamente nessa ordem. A primeira pré-mixagem é a de diálogo; as outras variam de
acordo com a concepção estética do desenho de som.
Mixagem Final
209
[Figura 17]
ALTMAN, Rick. Introduction: four and a half film falacies. In: ALT-
MAN, Rick (Org.). Sound theory, sound practice. London: Routled-
ge, 1992a. p. 35-45.
ALTMAN, Rick. Sound space. In: ALTMAN, Rick (Org.). Sound theory,
210
sound practice. London: Routledge, 1992b. p. 46-64.
CLAIR, René. The art of sound. In: BELTON, John; WEIS, Elizabeth
(Orgs.). Film sound: theory and practice. New York: Columbia Uni-
versity Press, 1985. p. 92-95.
Referências
EISENSTEIN, Sergei; PUDOVKIN, Vsevolod; ALEXANDROV, Grigori.
Declaração sobre o futuro do cinema sonoro. In: EISENSTEIN, Ser-
gei. A forma do filme. São Paulo: Jorge Zahar Editores, 2002.
Referências
SÁ, Simone Pereira de; COSTA, Fernando Morais da (Orgs.). Som +
imagem. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2013.
SALT, Barry. Film style & technology: history and analysis. London:
Stardword, 2009.
214 SMITH, Jeff. Atmos, all around. Observations on film art (blog).
1º maio 2013. Disponível em: <http://www.davidbordwell.net/
blog/2013/05/01/atmos-all-around-a-guest-post-by-jeff-smith/>.
Acesso em: 28 mar. 2014.
Referências
O som do filme: uma introdução
Design Gráfico
Bureau de Design da PROEXT
Manu Braga
Formato
15,5 x 22 cm
Tipografia
Frutiger 57 Condensed
FrutigerLTStd
Libre Semi Serif SSi
Libre Serif SSi
Papel
Miolo: Pólen - 90g/m2
Capa: Triplex 270 - g/m2