Sebenta DC Tiago Jorge
Sebenta DC Tiago Jorge
Sebenta DC Tiago Jorge
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conformes, ainda que não sejam uma parte integrante deste, dada a impossibilidade
de se transpor tudo para a Constituição.
Assim não pode estranhar-se que as relações do DC com outros ramos sejam mais
intensas do que o que acontece com qualquer outro sector jurídico. Este facto permite até o
desenvolvimento de ramos jurídicos mistos (como o DC Internacional ou o DC Penal).
Dado que o DC regula o poder público, as suas relações mais intensas dão-se com o
Direito Público, havendo vários ramos onde se estabelecem as ligações:
➢ Direito Administrativo: o DC fixa as grandes linhas orientadoras dos principais
temas, como a organização administrativa (Estado-administração), os direitos
fundamentais dos administrados, as diversas manifestações do poder
administrativo ou os termos da intervenção jurisdicional na averiguação da
juridicidade administrativa;
➢ Direito Internacional Público: definição da relevância do DIP na ordem jurídica
interna, definição dos poderes das pessoas coletivas internas no que respeita à
participação nas relações internacionais, com a natural relevância que é dada
ao Estado;
➢ Direito da EU: o DC autoriza essa pertença comunitária e de definir as relações
entre as duas ordens jurídicas, sem nunca perder de vista o carácter primário
do poder estadual que se simboliza na própria ideia de Constituição como lei
unicamente estadual;
➢ Direito Penal: amplamente limitado pelos direitos invioláveis que o DC
reconhece aos cidadãos;
➢ Direito Contraordenacional: o DC define as sanções pecuniárias ou outras de
cariz acessório;
➢ Direito Judiciário: o DC estabelece as linhas mestre do seu ordenamento e da
relação dos órgãos judiciários com os restantes;
➢ Direito Processual: o DC impõe certos direitos fundamentais de cunho
processual, tais como o Habeas Corpus;
➢ Direito Financeiro: o DC estabelece as prioridades fundamentais na elaboração
do Orçamento de Estado, bem como das receitas e das despesas de diversos
organismos públicos em geral, para além dos mecanismos de controlo, político
e jurídico, daquela mesma atividade;
➢ Direito Fiscal: o DC fundamenta a tributação e institui os direitos e deveres dos
contribuintes;
➢ Direito da Religião: o DC protege a liberdade religiosa, numa perspetiva
individual e comunitária – e no domínio da relação do poder público com o
fenómeno religioso, nas suas diversas manifestações;
➢ Direito da Economia: não sendo em Estado Social a atividade económica
desregulamentada, o DC ocupa-se da disciplina fundamental do regime
económico a estabelecer;
➢ Direito da Segurança: o DC fixa as orientações fundamentais para cada uma
das suas vertentes, como a segurança externa, interna, internacional ou a
segurança do Estado.
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As Ciências Auxiliares:
• Ciência da Linguagem
• Estatística e Matemática
• História
• Sociologia
• Economia
• Antropologia
• Geografia e Astrofísica
7. Elementos de estudo
É diversa a natureza dos elementos de estudo com que se deve partir, salientando-se quatro
tipos:
1. Elementos doutrinais
2. Elementos legislativos
3. Elementos jurisprudenciais
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4. E Elementos documentais
3. Os princípios constitucionais
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4. As normas constitucionais
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O Estado
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Para além do poder político, que pode impor-se fazendo uso da força, se necessário,
existem outros poderes que movem os indivíduos e grupos sociais, podendo até ser mais
efetivos que o poder político, ainda que não se caracterizem pela coercibilidade, fazendo-se
impor através de uma lógica de persuasão.
• poder social: resume-se à circunstância da vida em sociedade estar submetida a
tradições comuns e a normas de comportamento, em conformidade com certos
padrões de etiqueta social, de onde se extrai um dever-ser (sem proteção coativa), à
qual se dá o nome de Ordem de Trato Social. Todavia, o incumprimento desta ordem
não acarreta sanções, mas antes juízos subjetivos de censura ou reprovação social.
• poder religioso: expressão da vontade das organizações religiosas ao estabelecer
normas disciplinadoras da atitude dos respetivos crentes. Trata-se da Ordem Religiosa,
disciplinadora de um dever-ser vertical (entre os crentes e Deus) e horizontal (entre
crentes). Aqueles que incorrem no incumprimento dos imperativos religiosos são
pecadores, sofrendo sanções espirituais em terra, ou no mundo pós-terreno.
• poder da comunicação social: assenta na função de intermediação que os meios de
comunicação social facultam entre as notícias e os cidadãos. Usados de certo modo, os
instrumentos de comunicação e informação podem ser desvirtuados e influenciar os
cidadãos para além dos factos que querem relatar. A força deste poder afere-se pelo
seu contributo na formação da opinião pública, que resume o conjunto das opiniões
publicadas que limitam os decisores políticos e a opinião dos cidadãos em geral.
O poder político ganha um real sentido quando associado às estruturas que exprimem a
sua concretização. Havendo poder político, a principal entidade detentora deste é o Estado. No
entanto, este não é o único, dado que delega funções a outras entidades, passando também
estas a deter uma parcela do poder e existindo outras não derivadas daquele:
1. entidades pré-estaduais
2. entidades infra-estaduais
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3. entidades inter-estaduais
4. entidades para-estaduais
4. São estruturas sem teor estadual, ainda que se aproximem desta realidade, havendo
vários motivos para tal se suceder, havendo dois grupos possíveis:
1. os beligerantes e insurretos: marcados pela brevidade da sua existência, sob a
promessa de virem a exercer poder político dentro do Estado onde atuam.
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Características do Estado:
• complexidade organizatória e funcional, um mínimo para atingir os seus objetivos,
acarretando uma pluralidade de tarefas, organismos, atividades e competências;
• institucionalização dos objetivos e das atividades: separação dos interesses pessoais e
particulares dos interesses do Estado, criando-se a ideia de personalidade coletiva;
• autonomia dos fins: o Estado dissocia os seus fins daqueles pretendidos pelos seus
membros individualmente considerados, realçando a ideia de bem comum;
• originariedade do poder: o Estado é detentor do poder político e expressa-se em
função deste. O poder político é constitutivo dele mesmo, de tal forma que é o Estado
que se autodetermina e auto-organiza;
• sedentariedade do exercício de poder: não havendo Estados virtuais ou Estados
nómadas, para o ser, o Estado carece de uma localização espacial
• coercibilidade dos meios: o Estado é o depositário supremo das estruturas de coerção,
que permitem a aplicação do Direito.
Fins do Estado
• segurança
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Os espaços aéreo, marítimo e terrestre estão sob a soberania do Estado, mas há ainda
espaços que não estão sob o poder soberano do Estado, mas este tem poderes de jurisdição e
fiscalização, sendo eles a zona contínua (espaço marítimo entre as 12 e as 24 milhas a seguir
ao mar territorial, onde o Estado exerce poderes de fiscalização) e a zona económica exclusiva
(espaço marítimo entre as 12 e as 200 milhas onde o Estado exerce direitos preferenciais de
aproveitamento de recursos biológicos).
Finalmente, existem espaços de aproveitamento de todos os Estados (sobre os quais
nenhum tem soberania): a nível terrestre só se exemplifica pela Antártida, dado que todas as
outras parcelas de terra estão já ocupas por algum Estado; a nível marítimo, o alto mar e a ZEE
(considerando apenas a vertente de navegação); a nível aéreo, o espaço aéreo internacional e
o espaço exterior.
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O Estado não pode ser apenas tido em conta sob uma ótica estática, tendo também um
caráter dinâmico, que lhe concedeu um início, que lhe concede transformações e conceder-
lhe-á um fim.
• vicissitudes políticas: referem-se às mutações no sistema político, com óbvias
implicações para o sistema constitucional. Na maior parte dos casos, não se reflete na
cena internacional, mas isso pode ocorrer quando há aumento ou diminuição da
capacidade jurídico-internacional do Estado.
• vicissitudes territoriais: estas já interferem na cena internacional, dado que operam
modificações no elemento territorial, implicando reposicionamentos.
o vicissitudes aquisitivas: o aparecimento de um novo Estado, que é o momento
a partir do qual nasce Direito Público interno e internacional para a nova
entidade jurídico-política. O aparecimento de um Estado expressa-se de
diferentes modos:
❖ processo de secessão: mantendo-se o Estado anterior, mais pequeno,
cria-se um novo, a partir de um ato de separação territorial.
❖ processo de descolonização política.
❖ fusão num novo Estado de territórios que pertenciam a outros Estados
que ao mesmo tempo se dissolvem.
❖ desmembramento de um Estado anterior em dois ou mais Estados.
o vicissitudes modificativas: não provocam o desaparecimento do Estado,
apenas alterações no seu território.
❖ aquisição de parcelas territoriais
❖ perda de parte do seu território, por catástrofes naturais.
❖ cessão parcial voluntária, havendo a desunião de uma parcela do
território, a integrar num novo Estado ou a edificar-se
autonomamente.
o vicissitudes extintivas: determinam o desaparecimento de um Estado.
❖ desaparecimento físico do território (ex.: Atlântida).
❖ secessão extintiva: desmembramento de um Estado.
❖ usucapião: quando há a posse de território alheio, sem contestação,
acabando por se deter soberania sobre ele.
❖ decisão unilateral de um governo de facto ou de uma organização
internacional, quando impõem a extinção de um Estado, como
consequência jurídica.
8. As estruturas do Estado
Várias soluções foram sendo preconizadas para o bom funcionamento do estado. Elas
revelam-se através da análise das seguintes características:
tipo constitucional de estado: Estado de Direito ou Estado de Legalidade;
forma política de governo: monarquia ou república;
regime político de governo: ditadura ou democracia;
forma de Estado: estado unitário ou composto;
regime económico: capitalista ou socialista;
sistema de governo: parlamentar, presidencial ou semipresidencial.
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Monarquia romana: rei eleito, que governava em conjunto com outros poderes
legislativos e judiciais;
Monarquia feudal: hereditária, em que o rei era apenas reconhecido como primus
inter pares (o primeiro entre iguais);
Monarquia limitada: o rei contrapunha-se às ordens sociais representadas em
assembleia; foi exemplo a monarquia britânica, até à atual grande limitação do poder
régio;
Monarquia absoluta: concentração de todos os poderes na pessoa do rei – Idade
Moderna tardia;
Monarquia Cesarista: modelo especificamente vivido no tempo do constitucionalismo
napoleónico, em que a posição jurídico-constitucional do “imperador dos franceses” se
reivindicava de uma legitimidade popular, de tipo plebiscitário, não hereditária ou
religiosa;
Monarquia constitucional: o rei reconhece os seus poderes limitados por uma
constituição, nem ele está acima da lei;
Monarquia parlamentar: traduziu o compromisso entre a manutenção da instituição
monárquica, no século XIX, e a sua crescente limitação material e procedimental,
realçando-se a posição do parlamento como órgão representativo da vontade popular;
Monarquia simbólica(ou democrática): o rei não possui quaisquer poderes efetivos de
intervenção política, remetendo-se para um estatuto simbólico.
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O Estado, enquanto entidade jurídico-política, não pode ser visto como imutável,
sendo que tanto a sua estrutura como incumbências se foram alterando ao longo da evolução
da História Universal.
Assim, pode desdobrar-se a evolução histórica do Estado consoante os períodos
históricos vividos.
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Esparta
Refletiu uma opção de organização política militarista, em que a liberdade individual se
indexava às exigência de defesa do território, com todo um vasto conjunto de deveres de
natureza pessoal e social, sempre sob um ótica totalitarista. Esparta acreditava que as relações
com os outros Estados deveriam ser tidas sob uma filosofia belicista.
Quanto à forma política de governo, iniciou-se com uma monarquia bicéfala, mas
evoluiu para uma oligarquia.
O Império Romano durou mais de um milénio, daí que se possam individualizar várias
fases de organização política. Contudo, há características gerais que sempre se mantiveram:
• acentuação do fator territorial, tendo sido o Estado romano expandido muito mais do
que era inicialmente previsto.
• relação de domínio do poder político sobre o fator religioso.
• preocupação com a construção do Direito e das suas fontes (bem como a publicitação
destas, como se deu com a Lei das XII Tábuas).
• afirmação de vários direitos de cidadania romana, integrando um leque de direitos
públicos e privados.
Na construção do Estado Romano, quanto à sua organização política, houve três fases
muito distintas:
1. Monarquia: fase de expansão do Império, incluía um Rei, a Assembleia Curiata e o
Senado:
o o Rei era eleito e tinha um título vitalício, desempenhando a totalidade do
poder executivo.
o a Assembleia Curiata, só constituída por patrícios, exercia funções legislativas,
judiciais, eletivas e administrativas.
o o Senado auxiliava o poder executivo do Rei (e tomava o seu lugar em caso de
vacatura).
2. República: instaurada a 509 a.C. não estabeleceu uma rutura completa com a fase
anterior, conservando alguns dos seus órgãos, mas eliminando o rei e multiplicando as
magistraturas anteriormente existentes.
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Abrangeu a estrutura estadual durante toda a Idade Média, marcada pela expansão do
Cristianismo e pela sua projeção político-social.
Caracterizando as formas políticas de governo, verificou-se uma acentuada
simplificação dos mecanismos governativos. Adotou-se a monarquia, principalmente, podendo
os Estados optar pelo uso da Lei Sálica ou não, desde que os reis fossem escolhidos com base
no critério de sucessão hereditária.
A grande extensão territorial permitiu a criação de lugares de cunho aristocrático, que
auxiliavam o rei na governação, embora se tenha dado alguma importância às assembleias
populares, nas cidades livres.
O Estado Medieval assistiu à perda de parcelas de poder em prol de estruturas infra-
estaduais, pela proliferação do feudalismo, atribuindo aos senhores feudais poderes de
natureza política, e em prol das estruturas supraestaduais, pela preponderância político-
internacional do Papado, que, pela progressiva expansão da Igreja Católica favoreceu a
concentração do poder espiritual no Romano Pontífice.
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Nascido pelas Revoluções Liberais do final do século XVIII, traçou relevantes ruturas
com o passado, sendo marcado pelo Constitucionalismo.
Este divide-se em várias fases:
1. Estado Liberal
2. Estado Socialista
3. Estado Fascista
4. Estado Social
5. Estado Pós-social
O Estado Contemporâneo é marcado pela sua conceção de Estado de Direito, que
significa que o Estado está submetido ao Direito e que este efetivamente contém o respetivo
poder, evitando-se assim o poder arbitrário.
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O nascimento de Portugal
• 1139: batalha de Ourique, a partir da qual D. Afonso Henriques começou a ser
apelidado de rei.
• 1143: Tratado de Zamora com Castela, com o reconhecimento de D. Afonso Henriques
como rei, por parte do rei de Leão e Castela.
• 1179: Bula Manifestus Probatum, em que o Papa Alexandre III reconhece a D. Afonso
Henriques o título de rex de Portugal
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Como qualquer Estado, Portugal é composto por cidadãos, que têm a sua cidadania
regulada: o regime de cidadania em Portugal obedece a duas fontes internas fundamentais,
sem esquecer também as fontes internacionais - por um lado, as normas e princípios
constitucionais; por outro, a Lei da Nacionalidade, LN, (erroneamente denominada, devendo
referir-se cidadania), que concretiza os múltiplos processos de atribuição da cidadania, bem
como os efeitos que lhe estão associados.
De uma perspetiva meramente textual, a Constituição não é clara quanto à cidadania,
não fazendo qualquer indicação substantiva a respeito da qualidade de cidadão português,
devendo assim a questão ser remetida para o Direito Infraconstitucional, ainda que isto possa
parecer condenável. De qualquer forma, tem-se reconhecido que as opções a tomar,
independentemente da abertura da Constituição para tal, têm determinados limites, devendo
comprovar-se uma peculiar ligação a Portugal nos critérios de escolha dos cidadãos
portugueses.
Perante a omissão de dados constitucionais, a LN tem sido fulcral na explicitação de
critérios a aplicar à atribuição do vínculo de cidadania:
• atribuição originário pelo nascimento: para os casos de nascimento de cidadão
português ou em território português, ainda que com limitações.
• atribuição por efeito de vontade: incluindo-se a aquisição de cidadania por filhos
menores ou incapazes quando os pais a adquirem também, e o caso da aquisição de
cidadania por casamento ou união de facto.
• atribuição por efeito de adoção.
• atribuição por naturalização.
O vínculo da cidadania pode ainda ser observado sob a ótica da sua perda ou renúncia.
De um modo geral, os principais critérios de atribuição de cidadania portuguesa são o
ius soli e o ius sanguinis, que funcionam em sistemas mistos, em que os dois critérios se
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Espaço terrestre
Compreende Portugal continental (incluindo os rios, lagos e lagoas) e os arquipélagos da
Madeira e dos Açores.
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Espaço marítimo
Portugal goza de um território marítimo que inclui as águas interiores, o mar territorial até às
12 milhas e uma extensa plataforma continental.
Já sem soberania, mas com jurisdição, abrange ainda a zona contígua, das 12 às 24
milhas e a Zona Económica Exclusiva, até às 200 milhas, que é, de resto, das mais extensas da
Europa.
Espaço aéreo
A Constituição não faz referência ao espaço aéreo, havendo uma flagrante lacuna neste
sentido, que convém integrar pela criação de normas idênticas àquelas para os espaços
soberanos análogos, esperando-se que esta desapareça na próxima revisão constitucional.
Apesar disto, a soberania exerce-se no espaço aérea sobrejacente aos espaços
terrestres e marítimos de soberania estadual, prolongando-se verticalmente até ao limite
inferior do espaço exterior, a definir-se de acordo com a prática do Direito Internacional.
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A origem do poder passou agora a ser a soberania popular, pelo que os cidadãos são
agora titulares do poder público do Estado. A partir daí surgiu o prisma da democracia
representativa: o poder político passou a conceber-se em nome dos interesses dos cidadãos
que integram a comunidade política, os cidadãos ativos enquanto titulares da soberania.
Densificando essa ideia de governo representativo, desabrocharam diversos e
peculiares direitos fundamentais ligados à afirmação da cidadania. São os direitos
fundamentais de natureza política, através dos quais se exercia essa soberania, ora num
primeiro momento constituinte – quando as constituições são votadas democraticamente ou
até mesmo referendadas – ora noutros momentos posteriores, de construção quotidiana da
vida da comunidade política – quando a legislação ordinária é elaborada por parlamentos
democraticamente eleitos.
Consequentemente, tais valores vieram a favorecer a ascensão do princípio
republicano de governo.
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O Estado Liberal foi a primeira fase do Estado Contemporâneo, limitando o Estado pelo
Direito e pela positivação dos direitos fundamentais (como inerentes ao Homem e anteriores
ao Estado), pela separação dos poderes e pela organização económica liberal, sem
estratificação social e sem intervenção do Estado. Três grandes parâmetros regerem este
período:
➢ A positivação dos direitos fundamentais de defesa;
➢ A ideia de um poder estadual com separação de poderes, numa conceção
orgânica e material das funções jurídico-públicas, acrescendo-lhe a
implantação do governo liberal e representativo restritivo, mas em que a
participação dos cidadãos não era intensa em face das fortes limitações
introduzidas no sufrágio político;
➢ A organização económica liberal de cunho fisiocrático, libertando a economia
das peias da sociedade estratificada que até então se conheceu.
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Caracteriza-se por:
• aparecimento de novos direitos fundamentais, em nome de uma igualdade social e
reduzindo a liberdade individual.
• sofisticação de diversos mecanismos de organização do poder político, favorecendo o
mecanismo de participação democrática.
• a criação de uma organização constitucional da economia, domínio relevante para
conduzir à intervenção social do Estado.
O setor dos direitos fundamentais sofreu grandes alterações, observando-se uma
evolução dos respetivos catálogos, e criando outros, para além daqueles de natureza liberal
que se mantiveram. As novas categorias de direitos fundamentais consagravam a proteção dos
cidadãos, concedendo-lhes direito à saúde, ao ensino e à segurança social e limitando a
propriedade privada, a fim de proteger os interesses maiores da comunidade.
No que toca a organização política, a representação liberal atingiu a plenitude da
representação democrática, com a universalização do direito de sufrágio. O aperfeiçoamento
da democracia deu-se ainda pelo desenvolvimento de outros mecanismos de expressão da
vontade popular (referendos ou iniciativas legislativas), e pela articulação dos poderes do
Estado.
Para além disto, surgiram outras instâncias, acima e abaixo do Estado, para garantirem
uma maior partilha de poder, tornando o Estado Social, para além disto (social), Democrático.
A organização económica foi reconhecida nos textos constitucionais, abolindo-se a
conceção não intervencionista, abrindo caminho para a conceção contrária, em que o Estado
deve intervir, de forma a garantir os interesses sociais e económicos dos seus cidadãos. Na
sequência deste axioma, multiplicaram-se as funções sociais do Estado, notando-se o
crescimento do setor público.
A entrada no novo milénio trouxe problemas ao Estado Social, havendo quem defenda
a entrada em simultâneo no Estado Pós-Social. Os problemas consistem na insuficiência do
aparelho social, que criou grandes cargas fiscais e ineficiente gestão de recursos, bem como a
globalização que originou uma competitividade à escala mundial, ao invés de dentro de
espaços economicamente protegidos.
Surgiu também um conjunto de novos direitos fundamentais (direitos "pós-
modernistas") que se vão moldando ao sabor das necessidades, à medida que o Estado
enfrenta novos desafios, de cariz de proteção ambiental, de progresso tecnológico (proteção
da pessoa na Bioética) e os desafios do multiculturalismo das sociedades, aparecendo direitos
para a defesa das minorias.
Os sinais da mudança dos termos dos direitos fundamentais são visíveis nas múltiplas
organizações do poder estadual e da relação deste com os seus cidadãos, pela organização do
poder público, afirmando-se a intensidade da democracia participativa (na possibilidade de os
cidadãos impulsionarem o procedimento legislativo, por exemplo). A própria execução dos
direitos fundamentais está sujeita a novas questões concorrência entre públicos, privados e
sociais, num claro recuo do exclusivismo dos sistemas públicos.
Há quem afirme, todavia, que estas mudanças são apenas acertos à longa evolução do
Estado Social, não sendo suficientemente fortes para se afirmar a existência de um novo tipo
de Estado. Ainda assim, parece que os fatores de mudança são de tal forma intensos que
permitem, sim, até por força da globalização e do multiculturalismo, afirmar um novo modelo
de Estado.
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Estado Soviético
Foi o Estado Soviético aquele que mais longe levou o socialismo científico marxista e
leninista e que mais influenciou os outros países. O seu constitucionalismo, apesar de ser o
melhor estruturado, escalonou-se em várias fases.
A Constituição Socialista transformou-se num instrumento de afirmação da ideologia,
ao serviço da ditadura do proletariado, tendo o Direito sido, portanto, submetido a esta.
A proteção dos cidadãos foi limitada àqueles que podiam protagonizar a ditadura do
proletariado e, de tal forma, que o usufruto dos direitos não se sobrepusesse aos interesses da
sociedade e do Estado.
Foi adotado o sistema de direção central, em que a economia era planificada,
definindo preços e salários e tendo os meios de produção sido coletivizados.
A URSS assentava num sistema piramidal, dada a sua organização federal, construindo-
se da base para o topo, rejeitando as teorias liberais da separação de poderes. Assim, dava-se
a concentração de poderes num órgãos colegial parlamentar, sem qualquer pluralismo
político. Havia um único partido (PCUS - Partido Comunista da União Soviética), que confundia
os seus poderes com os poderes do Estado. O princípio do centralismo democrático era a
justificação para a ausência de liberdade partidária.
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Capítulo IV
Metodologia comparatística
Pretende observar com confiança os sistemas constitucionais, dividindo-se entre macro e
micro-comparação.
• Macro-comparação: comparação entre blocos ou ordenamentos jurídicos.
• Micro-comparação: comparação de institutos jurídicos, numa ótima funcional.
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O Reino Unido tem um sistema constitucional que assenta numa lenta formação
institucional, com muitas transições suaves, apoiadas nos costumes e tradições, tendo
raramente havido a oportunidade para a eclosão de ruturas constitucionais.
Contudo, podem identificar-se quatro fases do sistema constitucional do Reino Unido:
1. estabilização territorial e predomínio do fator monárquico: a formação de Inglaterra.
2. turbulência institucional: guerras e ruturas e aparecimento de textos constitucionais
em matéria de proteção de direitos.
3. predomínio do fator aristocrático: consolidação do Reino Unido como Estado
composto.
4. prevalência do fator democrático: a base da democracia atual
2. Situado no século XVII foi marcado por turbulências, causadas por guerras civis e bem como
mudanças dinásticas. Contudo, foi o período que permitiu a consolidação de textos
constitucionais que defendem os direitos fundamentais, evidenciando-se a Petição de Direito e
a Declaração dos Direitos, na sequência do rescaldo das várias lutas.
A nível de forma institucional de governo, é de assinalar a vigência do Protetorado de
Oliver Cromwell, que se revelou uma das mais sanguinárias ditaduras.
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4. Do século XIX aos nossos dias, é o período marcado pela democracia, pela crescente
importância da Câmara dos Comuns, cujo reconhecimento formal teve início em 1832,
derivado de várias reformas parlamentares que definiriam a sua composição e competências,
firmando-se no Parliament Act de 1911.
Nesta fase deu-se também a autonomização funcional do Governo, com a figura do
Primeiro-Ministro e, depois, dos Ministros.
O Reino Unido foi uma grande influência para outros Estados, especialmente para
aqueles que foram suas colónias, havendo até uns (Austrália e Canadá) que, apesar de terem
constituições próprias, reconhecem-se ainda subordinados à coroa britânica.
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Assim, a Constituição é flexível, tanto a nível das normas costumeiras como daquelas
intencionalmente produzidas, verificando-se que a alteração ou revogação não está sujeita a
um processo com específico formalismo. Isto porque, se fosse rígida, estaria a limitar o
princípio da supremacia político-legislativa do Parlamento, fundamental na constituição do
sistema.
Magna Carta
Primeira fase de positivação de direitos fundamentais, serviu de equilíbrio entre o poder real,
o poder aristocrático e o poder eclesiástico, consagrando, entre outros, a liberdade da Igreja
Católica, o princípio democrático na criação de impostos, o princípio da intervenção judicial e a
liberdade de emigração.
Petição de Direito
Criada num período de grandes agitações, permitiu novos acertos no Direito, incluindo mais
uma limitação do poder régio, consistindo, essencialmente, na reafirmação dos direitos a favor
dos súbditos, expressos na Magna Carta.
Declaração de Direitos
Nascida na sequência da Glorious Revolution de 1688, consagrou um novo rol de direitos
fundamentais, em acordo com uma votação realizada no Parlamento, conservando aqueles
outorgados anteriormente e acrescentando-lhes outros, como a preponderância da vontade
parlamentar.
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Direito Constitucional
O Monarca
Exercendo o seu cargo a título vitalício, seguindo uma linhagem hereditária, onde não
se aplica a lei sálica, o Monarca não tem quaisquer poderes políticos reais, estando isento de
qualquer responsabilidade política ou jurídica, de tal forma que a sua intervenção pode ser
definida como "o direito de ser consultado, o direito de encorajar e o direito de advertir".
Até nos pequenos atos protocolares, o Monarca não dispõe de qualquer autonomia
funcional, sendo o Primeiro-Ministro quem lhe redige o ano discurso a proferir na abertura do
ano parlamentar (por exemplo).
Contudo, a intervenção do Monarca ainda se nota nalguns atos, ainda que sem
qualquer liberdade decisória:
• nomeação e exoneração do Primeiro-Ministro, de acordo com as eleições.
• dissolução da Câmara dos Comuns, a pedido do Primeiro-Ministro.
• direito de indulto.
• atribuição de títulos e condecorações.
• nomeação de juízes e de lordes.
O Parlamento
Bicameral, tem uma raiz monárquica, de tal forma que a sua câmara alta se destina a
fazer representar a aristocracia, hoje substancialmente atenuada em favor de uma
representação de que é de mérito.
Câmara dos Lordes (câmara alta): os pares são em número variável, nomeados pelo monarca a
título vitalício, não têm qualquer poder decisório a nível legislativo, se bem que possam atrasar
a aprovação real das leis (mas nunca o respetivo veto).
Até 2009 era também o supremo tribunal britânico, funcionando como última
instância judicial, mas, a partir daí, o Supremo Tribunal do Reino Unido foi criado, como órgão
independente da câmara.
Câmara dos Comuns (câmara baixa): composta por 650 deputados, por 5 anos, escolhidos com
base no sufrágio direto e universal, bastando atingir a maioria relativa para se ser o vencedor.
Tem competências de natureza política e legislativa, sendo os respetivo trabalhos orientados
pelo seu Presidente (o speaker), escolhido de entre os Deputados da maioria.
O Gabinete
O Governo britânico é composto pelo Primeiro-Ministro, a sua figura central, a quem
compete a defesa da política do Governo, e pelos restantes Ministros, decididos pela Câmara
dos Comuns.
O Governo reduzido e de maior confiança política do Primeiro-Ministro é composto
pelos Ministers in the Cabinet, sendo com estes que se tomam as decisões mais importantes,
contrapondo-se ao Governo extra-cabinet, com os restantes membros (Ministers not in the
Cabinet).
O Governo exerce competências legislativas delegadas pela Câmara dos Comuns, a
quem tem de justificar as medidas que vai tomando, e competências administrativas próprias
do poder executivo.
Os Tribunais
Tribunais inferiores:
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Conselho Privado
Órgão de consulta do chefe de Estado, integrando um ampla variedade de membros,
ainda que com competências limitadas, exercidas sobretudo sobre orientação governativa.
Os Partidos Políticos
O sistema constitucional britânico apresenta um sistema bipartidário, no qual o
conjunto dos mandatos da Câmara dos Comuns é distribuído por dois grandes partidos:
Partido Trabalhista, descendente dos Whigs, e o Partido Conservador, descendente dos Tories.
Todavia, este bipartidarismo tende a esbater-se pela emergência do Partido Liberal-
Democrata, resultante de uma fusão do Patido Liberal e do Partido Social-Democrata.
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Congresso Federal
Detentor do poder legislativo, é o órgão parlamentar, bicamaral.
Câmara dos Representantes: composta por um número variável de membros, de acordo com a
densidade dos eleitores de cada Estado, é o reflexo da participação direta dos cidadãos num
Parlamento à escala federal. O mandato dos representantes é de dois anos.
Senado: composto por dois senadores por cada Estado, com um mandato de seis anos, sendo
o órgão que reflete a organização federal.
O Congresso Federal é composto por estes dois órgãos, que trabalham em conjunto,
sendo necessária a aprovação de ambos para que as providências legislativas se tornem atos
legislativos. Contudo, o Senado é proeminente, dado que lhe compete dar assentimento à
designação dos membros do Governo e dos magistrados do STF, para além de competências
de fiscalização política que exclusivamente lhe competem.
Presidente
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Tribunais
Escalonados em três níveis, são responsáveis pelo exercício do poder judicial: o Supreme Court,
o único diretamente criado pela CNA, depois os Courts of Appeal (tribunais de recurso) e os
District Courts (tribunais de 1ª instância).
O Supremo Tribunal tem 9 membros eleitos pelo Presidente a título vitalício, com
competências de natureza contenciosa, sendo diretamente responsável por julgar as causas
respeitantes a embaixadores, enviados diplomáticos e cônsules, e por causas em via de
recurso.
Cabe-lhe ainda resolver a incompatibilidade entre decisões judiciais e a Constituição, e
entre leis e tratados dos Estados Unidos. Mais, de acordo com a judicial review, todos os
tribunais têm o poder de desaplicar as leis contrárias à Constituição.
Partidos Políticos
O sistema partidário norte-americano é um bipartidarismo perfeito:
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Partido Republicano: de origem nortista, com uma marca mais liberal, sendo o representante
do sector mais à direita no espectro político-ideológico.
Partido Democrata: de origem sulista e com uma marca mais social, mais progressista, situa-se
mais à esquerda no espectro político-ideológico.
Existem outros partidos, mas sem expressão eleitoral suficiente para rivalizarem com
estes dois.
As diferenças entre partidos assentam mais no plano dos princípios e valores, ao invés
de ideologias, como acontece com os Europeus.
O presidencialismo perfeito
Deve-se à exaltação do Presidente, ao nele se encarnar, formalmente, todo o poder executivo.
Os elementos que caracterizam o presidencialismo perfeito são:
• a independência política recíproca entre o Presidente e o Congresso Federal, não
podendo condicionar-se mutuamente, nem um podendo demitir o outro.
• a eleição do Chefe de Estado por sufrágio universal dos cidadãos, embora formalmente
seja a título indireto, é vivida como eleição substancialmente direta dada a absoluta
falta de autonomia do colégio eleitoral.
• a acumulação na mesma pessoa das funções do Chefe de Estado e de Chefe de
Governo.
Distingue-se do presidencialismo imperfeito por neste o poder executivo poder ser
atribuído a um governo como órgão colegial, e não a um só titular, ainda que este o delegue
em conjuntos mais ou menos vastos de matérias.
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O Presidente
É o chefe de Estado e partilha competências executivas com o Governo, mas tem-nas em
exclusivo nos domínios da política externa e defesa. O seu mandato é de 5 anos, não havendo
qualquer impedimento à reeleição, sendo a sua escolha feita por sufrágio universal direto, a
duas voltas.
Exerce ainda a presidência do Conselho de Ministros e pode dissolver a Assembleia
Nacional.
O Parlamento
Tem uma estrutura bicamaral, se bem que se apresenta um bicameralismo assimétrico ou
imperfeito, dado que são conferidos mais poderes à Assembleia Nacional em detrimento do
Senado da República.
Assembleia Nacional: órgão de representação dos franceses, com Deputados eleitos por 5
anos, cabendo-lhe a competência legislativa, partilhada com o Senado, e a fiscalização política,
exclusivamente.
Senado da República: órgão de representação das coletividades territoriais, composto por
senadores eleitos por 6 anos.
O Governo
Órgão com funções executivas e integra os Ministros e o Primeiro-Ministro, nomeado pelo
Presidente da República, de acordo com os resultados das eleições para a Assembleia
Nacional.
O Governo está submetido a duas entidades:
• ao Presidente da República, que é quem o nomeia e exonera.
• à Assembleia Nacional, a quem tem de apresentar o seu programa, tendo esta poderes
para apresentar moções de censura.
Os Tribunais
O poder jurisdicional está repartido por três jurisdições:
1. a comum
2. a administrativa
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3. a constitucional
1. Diferencia-se por três instâncias.
2. Compreende a existência do Conseil d'État.
3. Expressa-se no trabalho do Conselho Constitucional.
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• Grundgestez (Lei Fundamental), com entrada em vigor em 1949, por acordo das
potências ocidentais vencedoras da II Guerra Mundial.
Sistema político:
É um sistema parlamentar racionalizado, limitativo das faculdades do Parlamento.
• Parlamento Federal: Deputados por votos nominativos e escrutínio proporcional.
• Conselho Federal: representa os Estados federados.
• Presidente Federal: eleito por 5 anos pela Assembleia Federal (conjunto dos membros
do Parlamento e dos membros eleitos pelas Assembleias Legislativas dos Estados).
• Governo Federal: composto pelo Chanceler e os Ministros, nomeados pelo Presidente.
O Chanceler é eleito pelo Parlamento, sendo-lhe até concedidos mais poderes do que
ao Presidente.
• Tribunal Constitucional Federal: instituição judiciária superior, composta por juízes
eleitos. É responsável pela fiscalização da constitucionalidade das leis.
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1. período liberal-monárquico
2. período liberal-republicano
3. período nacionalista-autoritário
4. período democrático-social
1. Este período integra as Constituições de 1820, 1826 e 1838, tendo por traço fundamental a
conceção do Estado de Direito, na sua modalidade liberal, com a proclamação de direitos
fundamentais de 1ª geração.
Cada um destes textos defendeu a separação orgânico-funcional de poderes,
consagrando a monarquia como forma institucional de governo, conferindo poucos poderes ao
Rei, funcionando, na prática, como uma monarquia constitucional.
3. Compreende a vigência da Constituição de 1933, que foi antecedida de 1926 a 1933, por um
período de ditadura militar sem texto constitucional.
Esta fase foi marcada pela existência de um Estado com um regime ditatorial, tendo o
nacionalismo de Estado como linha fundamental, o que se verificava em aspetos da
organização política, social e económica.
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No contexto das invasões francesas, alguns intelectuais fiéis ao Rei, numa tentativa de
impedir que Junot (que governava Portugal em nome do Imperador Francês) se
autoproclamasse rei, pediram a Napoleão a outorga de uma Constituição, que tivesse como
pontos fundamentais:
• a conservação do regime monárquico.
• a independência do poder judicial.
• a igualdade dos cidadãos perante a lei.
Ainda que tenha falhado, esta tentativa constitucional pretendia uma modernização -
pouco radical - do país, assegurando-se algumas liberdades que abririam caminho às garantias
individuais.
Com a instauração do liberalismo, houve a imediata abolição do regime monárquico de
tipo senhorial e a sua substituição por uma ordem constitucional, com orientações como:
• a aprovação de um texto constitucional que regulava o poder político.
• a consagração dos direitos fundamentais dos cidadãos.
• o estabelecimento da separação de poderes.
• a criação de uma união real entre Portugal e Brasil
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As Cortes
Órgão parlamentar unicameral, exercendo poderes legislativos e de fiscalização política, numa
base representativa e legislatura de dois anos.
Os seus membros eram eleitos por sufrágio universal e direto, ainda que de acordo
com um sufrágio restrito, censitário e capacitário.
O Rei
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Exercia o poder executivo, auxiliado por Secretários de Estado cuja ação era regulada pela
Cortes, e pelo Conselho de Estado, órgão consultivo, composto por treze membros eleitos para
um mandato de quatro anos.
Os tribunais
Protagonizavam o poder judicial, sendo divididos em várias instâncias e totalmente
independentes do poder político.
Não lhes competia a fiscalização da constitucionalidade das leis, mas antes às Cortes, o
que se mostrou totalmente ineficiente.
As entidades de governo no âmbito desta união real não eram totalmente simétricas,
tendo de comum aos dois reinos o Rei, as Cortes e o Conselho de Estado.
No plano executivo, consagrando-se a autonomia institucional no Brasil, criou-se uma
Delegação do Poder Executivo, com as funções de regência. Apesar de decidir dos assuntos de
justiça, de guerra e negócios do reino, estava fortemente limitada.
Esta união real rapidamente caducou, uma vez que o Brasil proclamou a sua
independência política, a 7 de Setembro de 1822.
A Carta Constitucional de 1826 foi o texto constitucional com a vigência mais duradoura da
Idade Contemporânea em Portugal, se bem que encaixada em três períodos:
1. Período de estabilidade inicial, na sequência do compromisso entre as duas partes, até
1828, quando D. Miguel enceta um golpe de Estado, ao qual se seguiu uma guerra civil
e um período de governo pré-constitucional.
2. A derrota dos legitimistas em 1834 permitiu a reposição da Carta Constitucional.
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3. A terceira vigência ocorreria depois do golpe de Costa Cabral, em 1842, deitando por
terra a Constituição de 1838, repondo a Carta, que estaria em vigor até 1910.
As Cortes
Com uma estrutura bicameral, desenvolviam o poder legislativo. O seu funcionamento
adequava-se a bicameralismo perfeito, em que ambas as câmaras podiam intervir na
aprovação dos diplomas, ainda que cada uma delas tivesse competências específicas.
Câmara dos Pares: constituída por aristocratas designados pelo Rei.
Câmara dos Deputados: composta por parlamentares eleitos para um mandato de quatro
anos.
O Rei
Detinha o poder moderador, que incluía a prática de atos necessários ao equilíbrio do sistema
político, como a dissolução das Cortes, a demissão dos ministros ou o poder de veto, e ainda o
poder executivo, que compreendia a prática de atos de administração.
O poder moderador era o mais importante dos poderes e a chave de toda a
organização política.
A atividade do Rei era auxiliada pelo Conselho de Estado, um órgão consultivo
composto por membros por ele nomeados, a fim de se pronunciarem sobre as grandes
questões que pairavam sobre o reino.
Os Tribunais
Exerciam o poder judicial, de forma independente.
A C1826 preocupou-se com a regulação da carreira de magistratura, com a outorga de
várias garantias de imparcialidade, mas ao mesmo tempo aceitando-se o afastamento de
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O texto constitucional, elaborado no âmbito das Cortes foi vigente durante apenas 4 anos
(de 1838 ao golpe de Costa Cabral em 1842), alcançando uma dupla legitimidade:
• parlamentar: por ter sido aprovado pelas Cortes Gerais, Extraordinárias e
Constituintes.
• régia: por ter sido expressamente sancionado pela rainha de então, D. Maria II.
Assim, a C1838 foi um texto pactuado, conciliando a legitimidade democrática com a
legitimidade monárquica.
A C1838 não esteve sujeita a quaisquer revisões constitucionais, ainda que
consagrasse o procedimento para o fazer.
As Cortes
Exerciam o poder legislativo, com uma estrutura bicameral, com a Câmara dos Deputados e a
Câmara dos Senadores, mas agora com a particularidade de os membros de ambas as câmaras
serem eleitos por sufrágio direto, ainda que limitado.
Os diplomas careciam da aprovação de ambas as câmaras, embora a Câmara dos
Deputados tivesse um maior peso político por lhe competir a iniciativa legislativa em matéria
de impostos.
O Rei
Exercia o poder executivo, através dos Ministros e Secretários de Estado, com competências
administrativas e de intervenção noutros órgãos do Estado.
Os Ministérios foram autonomizados e tornaram-se limitadores do poder do Rei, na
medida em que todos os atos por ele assinados deveriam ser referendados pelos Ministros e
Secretários de Estado competentes, sob pena de não terem efeito.
Os Tribunais
Exerciam o poder judicial, divididos em várias instâncias em razão da matéria e hierarquia.
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Uma das maiores mudanças trazidas pela corrente republicana sentir-se-ia no plano da
garantia dos direitos fundamentais, tanto ao nível sistemático (reposicionando-os no início do
articulado constitucional), quanto nalguns novos tipos de direitos que viriam a ser
consagrados.
Os direitos fundamentais estavam concentrados em dois artigos, sentindo-se a força
da conceção republicana que ocorria, apesar de tudo, numa linha mais liberal do que social.
Manteve-se a maioria dos direitos anteriormente previstos, acrescentando outros:
• liberdade religiosa.
• abolição da pena de morte.
• a garantia do habeas corpus.
• o direito de indemnização em caso de condenação injusta.
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Poder Legislativo
Competia ao Congresso da República, estrutura bicameral, com competências vastíssimas o
que fazia deste órgão o centro político do sistema de governo.
Câmara dos Deputados: eleitos por 3 anos, por sufrágio direto.
Senado: eleitos por 6 anos, por sufrágio direto.
Poder Executivo
Competia ao Presidente da República, eleito pelo Congresso em sessão conjunta, por maioria
de dois terços, podendo ser destituído, e aos Ministros.
Pela primeira vez no Direito Constitucional Português observa-se a autonomização do
Primeiro-Ministro (designado Presidente do Ministério), nomeado pelo Presidente, e
responsável pela sua pasta e pelos negócios de política geral.
Poder Judicial
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Estava distribuído por um Supremo Tribunal de Justiça e por tribunais de primeira e segunda
instâncias, assumindo-se já a plenitude de uma escalonamento hierárquico do poder judicial.
Os juízes dispunham já de todas as garantias inerentes ao exercício do poder judicial:
vitaliciedade, inamovibilidade e irresponsabilidade.
Em matéria de poder judicial, a novidade seria a introdução, pela primeira vez na Europa,
do mecanismo do judicial review, que significou que foi, pela primeira vez, deferida aos
tribunais a competência expressa de defesa da ordem constitucional, estabelecendo-se eles
mesmos como protetores da Constituição, o que permitiu:
• uma fiscalização a cargo de todos os tribunais, possibilitando o acesso direto de todos
à Constituição.
• uma fiscalização protetora da globalidade do texto constitucional.
• uma fiscalização abrangente de qualquer ato de poder político, independentemente
da sua autoridade legislativa.
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Com a viragem para uma conceção de Estado corporativo, a C1933 consagrava novos
direitos sociais:
• proteção da família.
• associação do trabalho à empresa.
• direito à educação e cultura.
• liberdade de criação de escolas particulares.
No plano das relações entre o Estado e a religião, retomou-se a normalidade, com uma
separação cooperativa, não se rejeitando, no entanto, uma preferência pela religião Católica
que, após a revisão de 1971, foi considerada a religião oficial de Portugal.
O Chefe de Estado
Durante uma boa parte da vigência da C1933 foi eleito por sufrágio direto, ainda que bastante
restrito. Era totalmente independente dos outros órgãos de poder, não lhes devendo
justificações.
As suas competências incluíam aspetos de natureza administrativa e política, como a
nomeação dos membros do Governo ou a faculdade de dissolução da Assembleia Nacional.
A atividade do Chefe de Estado era auxiliada pelo Conselho de Estado, órgão de
consulta obrigatória no caso da tomada de decisões mais relevantes de natureza política.
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A Assembleia Nacional
Composta por Deputados eleitos por sufrágio direto para um mandato de 4 anos, as suas
competências eram muito vastas, mais do foro legislativo do que da fiscalização política. Na
sua atividade era coadjuvada pela Câmara Corporativa, composta por representantes e
autarquias e interesses locais, a quem competia relatar e dar parecer sobre todas as propostas
ou projetos de lei presentes à Assembleia Nacional.
O Governo
Constituído pelos Ministros e pelo Presidente do Conselho, que se apresentava como
politicamente responsável perante o Chefe de Estado, devendo responder pela política geral e
dirigir a atividade de todos os Ministros.
As competências do Governo integravam a prática de atos de natureza legislativa,
administrativa e política, sendo o seu Chefe o fulcro do sistema político, dadas as amplas
competências de que dispunha, para além do controlo exercido sobre o Chefe de Estado,
através da referenda ministerial.
Os Tribunais
Desempenhavam o poder judicial, estando divididos entre tribunais ordinários e tribunais
especiais.
Aos juízes eram oferecidas as garantias da vitaliciedade, a inamovibilidade e
irresponsabilidade, sendo necessário a sua independência face aos outros poderes públicos.
A C1933 foi alvo de várias revisões constitucionais, com alcances distintos, a fim de
fazer face a muitas e diversas circunstâncias político-sociais.
O regime de revisão constitucional foi constitucionalmente estabelecido, podendo
ocorrer de três formas:
• procedimento geral: a revisão constitucional acontecer ao fim de dez anos.
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O texto constitucional conta com 296 artigos, sendo antecedido por um preâmbulo
que se mantém inalterado desde a versão inicial da CRP, apesar de esta já ter passado por sete
revisões constitucionais.
O conjunto dos artigos que antecedem a Parte I, traçam os Princípios Fundamentais da
Ordem Constitucional Portuguesa, bem como assinalam indicações precisas acerca dos
elementos do Estado: o povo, a soberania e o território.
• Parte I: direitos fundamentais, na generalidade e na especificidade.
• Parte II: dedicada à organização da economia, evidenciando aspetos fundamentais da
ordenação económica pública e não pública, assim como da atividade financeira
pública.
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Brasil
• a atual Constituição é de 1988
• Estado Federal:
o União: entidade política máxima
o 26 Estados federados
o Distrito federal (equiparado ao Estado federal, mas autónomo)
o Municípios
Sistema político:
Semelhante ao dos EUA:
• poder legislativo - Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal)
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Angola
• Lei Constitucional de 1992, que durou apenas algumas semanas, devido à Guerra Civil
• atual Constituição é de 2010
Cabo Verde
• Lei da Organização Política do Estado, em 1975
• Constituição de 1980, de inspiração soviética
• atual Constituição é de 1992, já com várias alterações, consagrando o
Parlamentarismo
Guiné-Bissau
• atual Constituição é de 1993
Moçambique
• 1ª Constituição - 1975
• 2ª Constituição - 1990
• atual Constituição é de 2005, se bem que é muito semelhante à Constituição de 1990
Timor-Leste
• Estado nascido a 20 de Maio de 2002
• elaboração da Constituição em Março, mas entrada em vigor só em Maio
• grande relevo à matéria de defesa e segurança
Sistema político:
Tem quatro órgãos de soberania: o Presidente da República, o Parlamento Nacional, o
Governo e os Tribunais.
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Mas nem sempre este foi o sentido de Constituição. Aristóteles definiu-a como “Politeia”,
ou seja, como ordenamento das magistraturas e principalmente da chefia de estado e
governo.
No entanto, foi somente com a Idade Média que se começou a estabelecer o princípio de
leis fundamentais medievais.
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A Constituição ostenta a sua faceta legal, colocando-se no quadro mais vasto da lei
como fonte de Direito, neste caso do Direito Constitucional. Quer isto dizer que a Constituição
representa uma regulação intencionalmente orientada, e que não provém da espontaneidade
social. Contudo, o costume pode ser compatível com a regulação constitucional.
Sendo uma lei estadual, a Constituição resulta do poder estadual como expressão
máxima do poder público, que se representa no Estado através da sua soberania interna.
A Constituição como lei nuclear significa que o seu conteúdo assume o mais alto relevo
que é possível conceber na tarefa que um ato legislativo vai desempenhar: ser o núcleo do
Ordenamento Jurídico.
Assim, a centralidade da Constituição pode ser duplamente perspetivada:
• centralidade qualitativa, uma vez que o texto constitucional inseres as grandes linhas
de orientação da vida em comunidade e dentro do aparelho do Estado.
• centralidade quantitativa, uma que o texto constitucional acolhe apenas os aspetos
mais importantes para a dada orientação, permitindo que outros sejam deixados aos
patamares inferiores do OJ.
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A Constituição Portuguesa conta atualmente com 296 artigos, estando distribuída por
quatro partes:
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Esta revisão foi mínima, sendo apenas a preparação para o Tratado da União Europeia,
entretanto aprovado e, posteriormente, incorporado no Ordenamento Jurídico Português,
limitando-se a ajustar o texto constitucional em face da incorporação daquele tratado,
reformulando o papel do Banco de Portugal, no sentido de permitir a criação de uma moeda
única; e tornar os princípios fundamentais mais sensíveis à integração europeia.
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1. Qualquer um pode fazer a sua interpretação do DC, contudo a interpretação autêntica cabe
ao órgão que dispõe da competência para aprovar a revisão constitucional.
4. O que importa realmente na interpretação são os seus resultados, sendo estes, geralmente,
de natureza declarativa. No entanto, há casos em que o sentido literal não corresponde ao
sentido lógico da fonte constitucional, devendo admitir-se outras conclusões:
• interpretação restritiva: o sentido deve ficar aquém daquilo que está na letra
constitucional.
• interpretação extensiva: o sentido normativo deve ir além do sentido literal.
• interpretação enunciativa: quando do sentido literal se inferem outros sentidos, a
partir de argumentos lógicos, que assim fazem revelar novas determinações de dever-
ser.
• interpretação ab-rogante: sempre que a fonte constitucional está desprovida de um
sentido ordenador.
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179. A admissão das orientações gerais sobre a integração das lacunas jurídicas
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1. O início da vigência significa a projeção da respetiva eficácia, podendo ser apenas para o
futuro, para o futuro e para o passado ou apenas para o passado.
A vigência pode ser determinada pela própria fonte constitucional, no caso em que é a
própria Constituição a fonte, sendo que a entrada em vigor coincide com o início da vigência
de todo o texto constitucional.
Pode também ser supletivamente imposta por outra fonte normativa, sempre que na
fonte constitucional nada se diga, as fontes constitucionais submetem-se a um prazo supletivo
geral de vacatio legis (5 dias após a publicação).
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A sucessão dos textos constitucionais não pode ser feita abruptamente, sem esquemas de
comunicação. Até nas situações de mutação global da Constituição, é de não esquecer que a
passagem da antiga à nova OC não se realiza instantaneamente, sendo até frequente, que os
procedimentos constituintes se prolonguem no tempo.
A situação mais frequente é a da eliminação da fonte antiga com o aparecimento de
uma nova fonte constitucional, de forma a que a nova vontade constituinte seja respeitada,
por exprimir o desejo atualidade de regulação político-social, de acordo com os fundamentos
de legitimidade desse poder público.
A eliminação da OC anterior surge como inevitável, dada a respetiva incompatibilidade
com a nova OC, mas há outros esquemas a considerar:
• a sucessão entre preceitos da OC antiga e a OC global nova.
• a sucessão entre preceitos da Ordem Infraconstitucional antiga e a OC global nova.
De acordo com o 1º cenário são possíveis duas relações:
1. desconstitucionalização: a manutenção de preceitos da OC anterior a título de
preceitos infraconstitucionais.
2. passagem constitucional: a manutenção de preceitos da OC anterior como integrando
a nova OC.
Quanto ao 2º cenário, já são possíveis três relações:
1. caducidade constitucional: a eliminação das fontes infraconstitucionais por ausência
de fundamento constitucional, no caso de se mostrarem contrárias à nova OC.
2. constitucionalização: manutenção das fontes infraconstitucionais antigas, mas
promovendo-as a fontes constitucionais.
3. novação constitucional: manutenção das fontes infraconstitucionais antigas, mas
sendo novadas no contexto da nova OC.
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Antiguidade Clássica
Na Grécia, a ideia de justiça, natural e transcendente, transparecia em Thémis e Diké que eram
a personificação do sentido ideal que governa de maneira obrigatória o comportamento social.
Já em Roma, Cícero argumentava que só existia um Direito e que esse era derivado da
Natureza; se não o fosse, a Justiça não seria absoluta e todas as virtudes desapareceriam.
Idade Média
O entendimento de Justiça passou a ser marcadamente teológico, com fundamento no
Cristianismo, nascendo uma conceção jusnaturalista de raiz religiosa, em que a lei humana
necessariamente encontrava o seu limite na lei de Deus. Daqui destacam-se Santo Agostinho e
São Tomás de Aquino.
Idade Moderna
As novas orientações foram inicialmente trazidas por Descartes, que fundamentou o Direito e
o Poder como imanentes ao próprio homem. Depois, Grócio marcou a viragem para a
fundamentação racionalista, apelando ao Direito Natural descoberto pela Razão,
independentemente de considerações religiosas.
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encontrasse protegida por essas leis. Esta foi uma mera limitação formal do poder, que,
instituindo certas normas, teria que as levar até ao fim.
Na Áustria, com Kelsen, nasceu o positivismo normativista, fechando a porta a
valorações supra-positivas, considerando a OJ um conjunto de normas com uma validade
aferida em função da sua conformidade com a norma superior, tudo culminando numa
"normas constitucional hipotética", que apenas determinaria a existência de um poder
constituinte, em favor do Estado, a fim de criar uma Constituição com qualquer conteúdo.
Kelsen afirmava que as normas valem porque são criadas de determinada forma,
independentemente do que contêm.
Assim se abandonou o jusnaturalismo.
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• a sua admissão genérica: reconhece-se que nem todas as normas jurídicas têm o
mesmo peso, admitindo-se a inconstitucionalidade daquelas que pusessem em causa
valores que devessem ser genericamente aplicados.
• a sua rejeição total: porque as normas constitucionais inconstitucionais eram
livremente criadas pelo legislador constituinte, que poderia legitimamente criar
compromissos pois que só existe um Constituição material.
• a aceitação de normas constitucionais inconstitucionais, mas só supervenientemente,
por ter havido, entretanto, uma revisão constitucional.
• a admissão teorética, mas reconhecendo a sua impossibilidade prática: aceita que
umas normas valem mais que outras, mas na prática não se consegue superar os
obstáculos de encontrar uma exemplificação prática.
Esta teoria de Bachof, contudo, chamou a atenção para a necessidade de limitar o
poder constituinte e, por maioria de razão, os poderes constituídos, bem como para o
reconhecimento de que o legislador constituinte está sujeito ao erro.
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Tendo como âncora a dignidade da pessoa humana, muito embora nela não podendo
esgotar-se, o conceito de Constituição pode ser encarado de acordo com as seguintes
dimensões:
conceito supra-positivo: orientações metafísicas, de raiz axiológica;
conceito normativo-legalista: expressa uma dada conceção de poder e de
organização da sociedade, segundo opções políticas inteiramente livres;
conceito de raiz sociológica: reflete a consciência social dominante.
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Este princípio explicita o sentido sistemático da Ordem Jurídica como conjunto de normas
e princípios, da qual o Ordenamento Constitucional é soberana. As diversas parcelas da Ordem
Jurídica apresentam, por natureza, imparidade, pelo que carecem de uma ordenação
hierárquica tendo em conta:
a importância das matérias reguladas;
a autoridade dos órgãos que as produzem;
o âmbito subjetivo da aplicação dessas fontes.
É neste contexto que vale o princípio da constitucionalidade como especificação do
princípio da juridicidade, parcialmente atendendo àquelas funções.
Segundo Montesquieu, muito embora a teoria já houvesse sido trabalhado por outros
pensadores, distinguem-se três poderes:
poder legislativo – parlamento;
poder executivo – rei e governo;
poder judicial – tribunais.
Estes direitos comunicam e influenciam-se mutuamente, de acordo com as seguintes
dimensões:
➢ faculdade de estatuir, de fazer e dispor ativamente sobre certas matérias;
➢ faculdade de impedir, de negar a realização ou a consecução de certo ato.
A separação de poderes, quer como teoria política quer como jurídica, desenvolveu-se
em duas importantes direções, com o escopo comum da defesa do estatuto dos cidadãos
frente ao poder político.
O primado da lei, pela qual só se admitiria a intervenção do Estado nos direitos dos
cidadãos através da lei prévia, geral e abstrata;
A defesa desses direitos em face de atos antijurídicos a cargo de tribunais
independentes, os quais poderiam depreciá-los.
Com o nascimento do Estado Social, no século XX, a separação entre a função legislativa e
administrativa foi esbatendo-se, pela necessidade de uma mais rápida e maior intervenção do
estado na vida em sociedade.
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A separação de poderes no século XX, por tudo isto, deixou de ser uma separação
matematicamente firmada num esquema orgânico-funcional, mas permitiu a dissociação entre
a perspetiva material ou objetiva – na qual se avaliam as características de tipo de intervenção
jurídica que se quer – e a perspetiva formal ou organizatória (ou ainda subjetiva) – em que se
atende ao órgão do Estado que fica incumbido de a exercer, segregando os correspondentes
atos.
Toda a lei, para vigorar como tal, tem que ser publicada no jornal oficial do estado para
se considerar estar em vigência, já depois de decorrido o tempo de vacatio legis, a fim de
permitir tomar um conhecimento prévio da normação produzida antes de esta ser eficaz.
Em contraponto, ninguém pode alegar, no Ordenamento Jurídico Português, a
ignorância da lei para não a cumprir, embora com algumas exceções.
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Esta forma de governo é muito mais tardia, tendo surgido com o Constitucionalismo. No
entanto, o princípio republicano foi dos que teve mais dificuldade em obter a aceitação dos
textos constitucionais.
A república caracteriza-se pela aceitação de que a Chefia de Estado deve ser atribuída a
um órgão unipessoal ou colegial, que seja democraticamente legitimado.
Caracteriza-se, ainda pela separação formal entre o Estado e o fenómeno religioso. Esta
pode consistir na separação cooperativa (diferenciada ou igualitária), no princípio da
neutralidade religiosa, ou ainda no princípio do pluralismo religioso.
O princípio republicano relaciona-se, ainda, com o princípio democrático, que subjaz na
Chefia do estado e na relação entre o poder político e a religião, permitindo o
aperfeiçoamento da democracia.
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Existe uma exceção a esta regra: O Conselho de Estado integra cidadãos a título vitalício.
Neste caso, o princípio republicano é violado.
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Portugal, para além de ser uma república, é também um Estado democrático. Este
princípio assume-se como princípio geral do Direito Constitucional Português sendo
mencionado, em inúmeras ocasiões, ao longo da CRP. Estas indicações começam no
preâmbulo e estendem-se ao articulado do texto constitucional.
Estas alusões surgem no contexto dos direitos fundamentais, da soberania popular, do
tipo de sufrágio utilizado nas diferentes eleições, e no pluralismo político.
Denota-se que a eleição é um aspeto importante na democracia. Esta pode assumir várias
classificações: política, legislativa, administrativa ou internacional… Podem ainda ser externas
ou internas, conforme o colégio eleitoral seja composto pelos cidadãos ou por órgãos políticos
já eleitos, respetivamente. Por fim, podem ser gerais ou intercalares.
O sistema eleitoral é o método que permite traduzir em mandatos os votos que foram
depositados nas urnas pelos cidadãos eleitores. Este sistema permite várias combinações,
sejam elas: a representação proporcional, a representação maioritária e a representação de
minorias.
Em Portugal o voto é universal (por oposição ao censitário ou capacitário), uma vez que
todos os maiores de 18 anos votam; igual, sendo que todos os votos têm o mesmo valor;
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periódico, por se repetir nos períodos de tempo determinados pela lei; direto, secreto, e
pessoal.
O sufrágio constitui, na CRP, um dever cívico. Não se trata de uma obrigação, trata-se
apenas de um dever do plano moral.
O procedimento eleitoral efetua-se da seguinte forma:
1. Marcação da data das eleições;
2. Apresentação das candidaturas;
3. Campanha eleitoral;
4. Organização das Assembleias de voto;
5. Votação;
6. Apuramento;
7. Contencioso da votação e apuramento;
Segundo a CRP, o referendo nacional “…só pode ter por objeto questões de relevante
interesse nacional que devam ser decididas pela Assembleia da República ou pelo Governo
através da aprovação de convenção internacional ou de ato legislativo”.
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Apesar de cada partido ser livre de adotar a organização interna que lhe aprouver, A LPP,
quanto à organização interna dos partidos, tem algumas exigências.
Por exemplo, nas eleições internas vigora sempre o sufrágio pessoal e secreto, delas
sempre cabendo recurso para o Tribunal Constitucional.
Nos órgãos internos são de destacar o órgão representativo, o órgão de direção política e
o órgão de jurisdição.
• Caráter regionalizado: Este incide na existência das RA. Estas diferenciam-se dos
Estados federados pro não terem poder constituinte, nem poder na alteração dos
estatutos regionais. O estatuto jurídico dos arquipélagos dos Açores e da Madeira
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• Caráter unitário II: O princípio da unidade do Estado relaciona-se com a integração das
RA e com a aceitação de autarquias locais e outras estruturas com poder público
secundário. Para este efeito, são necessárias divisões no território administrativo:
distritos (a divisão distrital só se aplica em Portugal continental).
O estatuto jurídico das autarquias locais é definido na CRP, na LAL (Legislação das
Autarquias locais) e noutras legislações complementares. Esta vasta legislação visa
regular assuntos como: a estrutura orgânica, as finanças locais, as atribuições e
competências, o referendo local, a tutela administrativa…
Constitucionalmente, as autarquias locais são “… pessoas coletivas territoriais dotadas
de órgãos representativos, que visam a prossecução de interesses próprios das
populações respetivas”. Este conceito engloba quatro elementos das autarquias locais:
❖ Elemento formal: existência autónoma como pessoa coletiva de direito
Público;
❖ Elemento humano: vinculação da entidade coletiva a um conjunto de
cidadãos;
❖ Elemento territorial: delimitação da atividade da pessoa coletiva em função
da dimensão territorial;
❖ Elemento funcional: atribuições e competências de Direito Administrativo;
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As grandes linhas de viragem dos séculos XIX e XX que implicaram alterações a nível da
consagração de direitos fundamentais organizam-se segundo:
1. Período liberal: Caracteriza-se pela primeira geração de direitos fundamentais,
através dos quais se tinha em mente a garantia de um espaço de autonomia e de
defesa dos cidadãos face ao poder público;
2. Período social: Consagrou uma segunda geração de direitos fundamentais
relacionados com a proteção de natureza social;
3. Período cultural: Traduz uma terceira geração de direitos fundamentais associados a
questões ambientais;
Os direitos fundamentais não são direitos infalíveis e, por isso, existe perigos que
atualmente se concebem e que podem lançar dúvidas quanto à efetividade da sua proteção.
1. Multiplicação do número de direitos fundamentais existentes: esta pode levar à
adulteração da hierarquia de valores que são implícitos aos direitos fundamentais e
levar a pensar que os direitos valem todos o mesmo. Este facto afeta ainda a menor
proteção que recai sobre cada direito.
2. Uniformização dos direitos fundamentais: No que diz respeito à globalização, é cada
vez mais difícil lidar corresponder a heterogeneização dos direitos fundamentais, em
resposta às diversidades – culturais, religiosas…
3. Processualização dos direitos fundamentais: Esta pode resultar na perda da
fundamentação material dos direitos que é a chave para responder a um conjunto de
opções que dizem respeito à vida coletiva.
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