Resumos de DC 1 TESTE

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Jéssica Filipa - aluna 50008

Resumos de Direito Constitucional – 1º TESTE


1. Noção de direito constitucional

1.1 Definição
DC é a parcela de ordem jurídica que rege o próprio Estado enquanto comunidade (povo) e poder
(funcionamento político). É o conjunto de normas (disposição e princípios) que recortam o contexto jurídico
correspondente à comunidade política como um todo e aí delimitam os indivíduos e os grupos, uns em face
dos outros, e em relação ao Estado-Poder estabelecendo:
1) A titularidade do poder
2) Os modos de formação e manifestação da vontade política
3) Os órgãos de que esta vontade carece
4) Os atos em que se traduz
Mais do que um Ramo de Direito, o DC deve ser visto como um tronco da ordem jurídica estadual de
onde resultam os diversos ramos de Direito Público e Direito Privado.
O DC poderá chamar-se também Direito Político, por essas normas reportarem-se especifica e
diretamente ao Estado e estas exprimem-se numa particular ligação da instância política e da instância
jurídica da vida humana.
O DC é o direito da Constituição. A Constituição serve para organizar o poder político e limitar esse
mesmo poder assim como assegurar direitos fundamentais que corresponde à proteção do cidadão da ação
do Estado, direitos contra o Estado.
A Constituição tem variado ao longo do tempo pois vai modificando o seu conteúdo de acordo com a
evolução da sociedade. O Direito tem de acompanhar essa evolução pois para haver direito tem de haver
sociedade e vice-versa. Por isso, a definição de Constituição é mais atual mas não é acabada nem definitiva
devido à evolução da sociedade.
A Constituição contém um conjunto de normas e princípios fundamentais que vão definir os seguintes
aspetos:
1) A Estrutura
- Entende-se que o Estado tem três elementos estruturais para ser reconhecido como tal: Povo, Território e
Poder Político.
- Só podemos considerar que existe um Estado quando estes três elementos estão reunidos. O Estado
prossupõe que haja um povo que se vai fixar num determinado território com carácter permanente.
2) Os fins
- São os objetivos que o Estado propõe a atingir: Segurança, Justiça e Bem-estar económico-social
(igualdade de oportunidades).
- São os três principais fins e cabe à constituição definir estes objetivos e também definir os fins que o
Estado deve cumprir.
3) As funções do Estado
- É uma consequência dos fins do Estado. O Estado tem que desenvolver as atividades necessárias para
atingir os seus fins.
- Política, Legislativa, Judicial e Administrativa.
4) A organização
- Regula a forma como se organiza o poder e vai regular tanto a nível económico, social e político.
5) A titularidade
- O Estado é uma entidade abstrata que tem de atuar em nome do Estado e desenvolver as funções do
mesmo. Esses órgãos são apenas definidos pela Constituição, ou seja, são órgãos constitucionais.
- PR, GOV, AR e Tribunais
6) O exercício
- Quarte parte da CRP essencialmente. Define quais os meios que são necessários para controlar o poder
político. Elabora e executa as leis.
O DC é o ramo do Direito Público Interno formado pelo conjunto de normas constitucionais do
estado jurídico e do estatuto político que:
1) Estabelece os princípios políticos e jurídicos da sociedade.
2) Regula materialmente, processualmente e formalmente a organização do poder político.
3) Consagra e garante os direitos e deveres fundamentais dos cidadãos e pessoas jurídicas.
4) Define positivamente a ordem-quadro, económico, social e cultural.
NOTA: Faz parte do DC a preocupação com o seu próprio cumprimento. A CRP tem de se preocupar, não
só consagrar os direitos, mas também em fiscalizar o cumprimento desses menos direitos.
Jéssica Filipa - aluna 50008

1.2 Normas Constitucionais e Normas Ordinárias

Normas constitucionais

Normas ordinárias/Infraconstitucionais

Dentro do ordenamento jurídico a norma não tem todas o mesmo valor e, por isso, as normas
constitucionais encontram-se no topo da hierarquia da pirâmide, tem de ser respeitadas por todas as outras
normas jurídicas que se incluem nas chamadas normas ordinárias, que se encontram hierarquicamente
abaixo das normas constitucionais.

- Normas Constitucionais – são as mais importantes de um ordenamento Jurídico, são a fonte


hierarquicamente superior ao Direito, prevalecem sobre as demais normas jurídicas, constituem o suporte
e o fundamento das restantes normas jurídicas. Estão em regra reunidas num único diploma. No entanto,
existe normas que não estão dentro desse diploma além de assumirem a forma de norma ordinária versam
matéria com dignidade constitucional.

- Normas Ordinárias ou Normas Infraconstitucionais – têm de respeitar as normas constitucionais sob pena
de inconstitucionalidade, hierarquicamente abaixo das normas constitucionais e dependem dessas normas.

Pode-se definir a lei com um ato normativo geral e abstrato que é editado pelo Parlamento cuja
finalidade essencial é a defesa da liberdade e propriedade dos cidadãos.
1) Os atos legislativos têm de ser publicados
- As leis constitucionais têm de ser publicadas
- A lei determina a forma da publicidade – remete para as leis ordinárias
- Lei da publicação dos diplomas
- Impresa nacional na casa da moeda (organismo responsável por divulgar o Diário da República – jornal
oficial onde são publicados)
2) Votação
- Regra: pluralidade de votos = maioria simples
3) Validade das leis depende da observância da CRP
- Os tribunais não podem infringir a CRP
- Os órgãos e agentes administrativos estão subordinados à CRP

A nossa ordem jurídica é hierárquica:

1- CRP – No topo só temos uma lei, a Constituição, que é uma lei


constitucional.
2- Função Legislativa – A seguir à Constituição está o direito ordinário que é
infraconstitucional, está por baixo e que se subordina à Constituição.
3- Função Administrativa – Por baixo destes estão ainda os atos de
administração cujos mais importantes são os regulamentos.

1.3 As primeiras constituições escritas e os Antecedentes do Constitucionalismo

Com as revoluções liberais que ocorreram em França e na América e que pretendiam e conseguiram
pôr fim ao absolutismo e vieram implementar o Estado de Direito Liberal entendeu-se que, para pôr fim ao
absolutismo eram necessárias fundamentalmente 2 coisas:
1) Definir a organização do poder político
2) Definir um catálogo de direitos fundamentais dos cidadãos.
Entendeu-se que a definição devia ser feita através de normas escritas que definissem/regulassem
esses dois aspetos e assim criaram-se normas que deram origem a um documento chamado Constituição.
As primeiras constituições tinham um conteúdo muito restrito face à atual. Elas só surgiram já nos finais
do século XVIII e na maior parte dos casos no século XIX. Até a essa altura os governantes não eram
sujeitos a limitações por parte de normas jurídicas, apenas estavam sujeitos a normas religiosas e princípios
morais, mas cuja sanção pelo incumprimento era meramente moral. E, portanto, exerciam um poder político
sem qualquer limitação.
Após o período medieval surgiu o poder absoluto, onde todo o poder estava concentrado no monarca
e, como tal, ele decidia toda a vida dos cidadãos. Os cidadãos, por sua vez, não tinham qualquer poder.
Jéssica Filipa - aluna 50008

Nos finais do século XVIII ocorreram as revoluções liberais que acabaram com o absolutismo do rei e
consagraram os direitos dos cidadãos. Estas revoluções vieram gerar o aparecimento das primeiras
constituições escritas, a 1º constituição foi a do Estado da Virgínia em 1766, de seguida em 1787, surgiu a
Constituição do Estado Americano. Em França, surgiu a declaração dos direitos do Homem e do Cidadão
em 1789. Mais tarde, em 1791, surgiu a primeira constituição francesa. Em 1822, já no início do século XIX,
surge a 1º constituição portuguesa.
Estas primeiras constituições pretendiam terminar com a situação existente do Estado Absoluto. No
início elas tinham um conteúdo bastante restrito, preocupavam-se em limitar o poder do monarca e, para
esse efeito, consagraram pela primeira vez o princípio da separação de poderes e estabeleceram três
poderes:
1) Poder Legislativo a cargo de um Parlamento/Assembleia
2) Poder Executivo a cargo do Rei
3) Poder Judicial a cargo dos tribunais
O segundo grande aspeto foi consagrar os direitos fundamentais dos cidadãos que protegem
essencialmente o cidadão perante o poder político.
Com o aparecimento das Constituições escritas aparece a nova face do Estado Constitucional, onde o
Estado passa a estar dotado de um conjunto de normas escritas a que se deu o nome de Constituição e
passa assim estar sujeito à Constituição. Isso traz ainda outro conceito que é o do Estado de Direito. O
Estado de Direito é o Estado que está subordinado às próprias leis, desde logo à sua subordinação à
Constituição. Os constitucionalistas entendem que antes do aparecimento da Constituição existiram alguns
documentos que, de certo modo, já pretendiam limitar o poder do rei e proteger e defender os direitos dos
cidadãos (regulavam facetas da organização do poder político). Estes documentos, atualmente, são
denominados por antecedentes do constitucionalismo uma vez que tinham em vista a limitação do poder e
a defesa de direitos.
As constituições escritas são um produto da época moderna. Todos os países possuem e possuíram
sempre em todos momentos da sua história, uma constituição real e efetiva. Em termos cronológicos, as
primeiras constituições escritas surgem verdadeiramente na transição da Idade Moderna para a Idade
Contemporânea, mais precisamente na transição da Monarquia Absoluta para o Estado do Direito Liberal.
Assim, ao longo da história, existiram vários documentos que podem ser considerados antecedentes
do constitucionalismo:
1) Cortes de Leão 1188
- Era um Estado Estamental onde o Rei precisava de apoio do clero e da nobreza (apoio das classes sociais)
para manter a independência retomada e breve do Reino de Leão.
- Ocorre num momento de fragilidade do poder do Rei que leva a uma cedência.
- Rei promete não fazer guerra/paz sem consultar as cortes.
- Proibição de invasão da casa alheia – Reconhecimento de um direito pessoal, Limite do Poder do Rei,
Não violação de domicílio (propriedade privada).
2) Magna Carta 1215
- O Rei era tão mau que não tem base de apoio, mas ninguém o podia demover porque era uma monarquia
hereditária.
- Surge uma revolta onde ocorre o aprisionamento do Rei obrigando o mesmo ao cumprimento escrito, a
assinar a Carta Magna.
- Imposta a João Sem Terra pelos varões ingleses.
- 1º documento em que há uma limitação do poder político onde era reconhecido os direitos/privilégios por
classes (só para o clero e a nobreza).
- Compromisso de reconhecimento de privilégios:
1- Exº Não retroatividade da lei penal
2- Regulava as estruturas feudais
3 - Assegurava, às diferentes classes sociais, garantias contra a prepotência do soberano.
4 – O monarca deve respeitar os domínios e prerrogativas adquiridos.
- Importância deste documento pois foi reconfirmado por todos os 15 reis seguintes já de forma voluntária.
3) Petition of Right 1628
- Documento imposto pelo Parlamento ao monarca D.Carlos I em Inglaterra (dinastia dos Stuart).
- Tentativa de tomada de posição do Parlamento sobre os princípios fundamentais das liberdades civis.
- O Rei deveria respeitar as leis do reino.
- Tenta fixar a fronteira exata entre o poder do rei e o poder da lei pondo claro alguns princípios da Magna
Carta.
4) Convenats 1662
- Contratos de colonização ou pactos de criação de comunidades coloniais que eram celebrados entre as
colónias fixadas no continente americano e a respetiva pátria (Inglaterra, França, Holanda) nos quais se
estabeleciam direitos e deveres recíprocos.
5) Instrument of Government de Cromwell 1653
- 1º Constituição escrita de um Estado Moderno.
- Concebido para permitir o absolutismo de Cromwell e justificar a concentração de poderes no seu autor.
- Destaca-se nas lutas contra o Parlamento e que levaram à execução do Rei.
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- Redigido pelos chefes do exército.


6) Bill of Right 1689
- Reinado de Guilherme e Maria dÒrange, após a deposição de Carlos Stuart.
- Afirmava que o rei não poderia violar as leis fundamentais do reino sob nenhum pretexto, proibindo-o de
perseguir os católicos.
7) Forais
- Implica o reconhecimento pelos senhores e monarca de certas liberdades aos residentes de uma certa
circunscrição territorial.
- Normas básicas de administração local.
- O poder político reconhece um conjunto de regras que se dispõe a respeitar.
- Encontram-se a consagração de alguns direitos.
8) Pactum Subjections
- O povo confia ao monarca o seu governo.
- A governação deveria obedecer a princípios de justiça e equidade (de forma justa).
- Caso contrário, seria legítima a rebelião popular.
9) Leis fundamentais do Reino
- Os reis deveriam obedecer não podendo modificá-las.
- Representavam um limite ao poder do rei mesmo numa época de concentração de poder.
Regras relativas à sucessão do reino, à natureza e constituição, fins e privilégios das ordens, natureza e
representação nas cortes, indisponibilidade do domínio territorial do reino.
- Estabeleciam direitos recíprocos entre os súbditos e a Coroa.
- Assentavam no costume sendo que poucas normas estavam escritas (mas eram obrigatórias porque todas
as pessoas acreditam – regra estrutural).

2. Espécies de Direito Constitucional

2.1 Direito Constitucional Particular


- Dedica-se apenas à análise da ordenação constitucional de um Estado concreto.
- Estuda apenas a estrutura, fins, funções, organização, titularidade, exercício e controlo do poer político
nesse mesmo Estado.
Ex.: Estudar o Direito Constitucional Português.

2.2 Direito Constitucional Geral


- Visa a fixação de uma dogmática constitucional que servira de enquadramento teórico ao estudo do Direito
Constitucional Particular.
- Visa fixar conceitos e categorias, ordenar em institutos preceitos singulares, determinar categorias,
formular conceitos que abranjam tais institutos e categorias, declarando os princípios fundamentais que
passam pelo sistema e vivificam e a que se chamam dogmas.
Ex.: Sistemas de fiscalização em geral e de seguida enquadrarmos o nosso.

2.3 Direito Constitucional Comparado


- Tem como foco a análise a comparação das Constituições e sistemas constitucionais de diversos Estados
- Faz uma descrição dos vários sistemas constitucionais positivos, tentando captar os seus aspetos
característicos, podendo fornecer contributos para o Direito Constitucional Geral.
1) Comparação simultânea (sincrónica)
- No mesmo momento histórico
- Num espaço Geográfico diferente
Ex.: CRP Espanha
2) Comparação sucessiva (diacrónica)
- Num momento histórico diferente
- No mesmo espaço Geográfico
Ex.: CRP 1933

3. Noção de Ciência Política

3.1 O âmbito de sobreposição da Ciência Política e do Direito Constitucional


3.2 Distinção entre a Ciência Política e o Direito Constitucional

Existe uma forte ligação entre Direito Constitucional e a Ciência Política porque o DC é o direito da
Constituição e esta por sua vez pode ser definida como o estatuto jurídico, ou seja, a constituição vai
procurar regular e normatizar os fenómenos políticos. Por sua vez, a Ciência Política vai estudar/ordenar e
vai dar a conhecer os fenómenos políticos. Portanto, dedicam-se ambas aos fenómenos políticos.
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Direito Constitucional
- Normatizar os fenómenos políticos:
1) Estrutura Analógica
2) Objeto é a realidade normativa
3) Formado por normas jurídicas
4) Diz como deve ser

FENÓMENO POLÍTICO

Ciência Política
- Dar a conhecer os fenómenos políticos:
1) Estudar
2) Ordenar
3) Sistematizar
4) Diz como é
5) Complementar (1) e subsidiária (2) de DC
(1) Porque permite pesquisar aspetos que a simples consideração de normas jurídicas não o permitia.
(2) Porque ao estudar a realidade dos fatos ajuda a compreender melhor as normas jurídicas.

4. Distinção entre o Direito Público e o Direito Privado – os seus diferentes ramos

- O direito é essencialmente uno.


- No entanto, os juristas têm procurado dividir as normas jurídicas em vários ramos ou grandes núcleos
tendo como fundamento o reconhecimento da existência de certos núcleos de normas com características
singulares comuns, distintas dos outros núcleos ou ramos.
- A 1º grande divisão do direito foi o Direito Público (ius publicum) e o Direito Privado (ius privatum).
Certamente que o Direito Constitucional é um exº do Direito Público

5. Os sentidos da Constituição

Podemos definir a constituição como um conjunto de normas jurídicas fundamentais que definem:
1) A estrutura
2) Os fins
3) As funções do Estado
4) A organização
5) A titularidade
6) O exercício
7) O controlo do poder político
8) Fiscalização das normas constitucionais

5.1 O constitucionalismo e os sentidos da Constituição em sentido material e em sentido formal

Existem desde logo duas perspetivas em que pode ser considerada a Constituição:

1) Normas materialmente constitucionais


- Está ligada à Constituição
- Está sempre ligada a matéria/conteúdo
- Conteúdo de normas que a Constituição regula

2) Normas formalmente constitucionais


- O valor que as normas que se vai considerar que valor tem (qualificação própria ou não)
- Qualificação de norma jurídica
- Como ela surge através do ordenamento Jurídico

Estas perspetivas vão dar lugar/permitir falar em 3 sentidos:

1) Constituição em sentido material


- Objeto ou conteúdo da Constituição
- Matérias ou assuntos escritos na Constituição
- Abrange quase todas as normas jurídicas que regulam matéria chamada com dignidade constitucional
- Regras principais do funcionamento daquele Estado
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- Regula matéria que é considerada que tem de ser tratada/regulada pela constituição
- As que fazem parte do conceito de direito constitucional

2) Constituição em sentido formal


- Conjunto de normas fundamentais sobre a estrutura do Estado (escritas ou não)
- Atende-se à posição das normas jurídicas em função das demais normas
- Estatuto jurídico do poder político
- Atende-se ao modo como as normas se articulam no ordenamento jurídico
- Norma escrita com intenção de prevalecer sobre as restantes.
- Elementos das normas formalmente constitucionais:
a- Intencionalismo na formação
- Tem uma dignidade jurídica, diferente das restantes normas
- Tem uma forma e solenidade próprias que depois lhe atribuem uma força jurídica reforçada (no topo
da pirâmide hierárquica)
- Criadas com a intenção de serem constitucionais
- Criadas mediante um processo próprio
- Elaboradas de acordo com um processo específico na formação
- Elaboradas por um poder com legitimidade para esse fim
- Elaboras por um órgão com poderes especiais
- Normalmente inseridas num texto escrito
- Onde constam os princípios fundamentais da ordem jurídica
b- Sistematização própria
- Colocadas no topo do ordenamento jurídico
- No topo do direito positivo do Estado
- Têm unidade e coerência própria
c- Força Jurídica própria
- Manifesta-se na interpretação, integração, aplicação e garantia
- Normas qualificadas como constitucionais, revestidas de força jurídica superior face ás normas
ordinárias
- Valor supralegislativo
- Regra: Constituição material > Constituição formal
- Conceito de Constituição material mais amplo e complexo

NOTA: Os países com constituição material são também países com constituição em sentido formal
Exceção: A Inglaterra tem constituição em sentido material não tendo constituição em sentido
formal, normas qualificadas como constitucionais, normas que se diferem das constitucionais nem uma lei
chamada constituição.

3) Constituição em sentido instrumental


- Documento escrito onde se inserem as normas constitucionais
- No nosso caso é só 1 CRP (mas no direito comparado não é sempre assim)
- Será todo e qualquer texto constitucional, seja ou não constituição em sentido formal
- Em sentido amplo:
- Será todo e qualquer texto constitucional independente de ser constituição em sentido formal
- Em sentido mais estrito:
- Texto da constituição dependendo sempre de uma constituição sem sentido formal
- O interesse deste sentido só avulta quando conexo com o sentido formal
- O papel da Constituição sem sentido instrumental é
- Tornar patente a Constituição em sentido formal
- Tornar patente a qualificação de certas normas constitucionais
- A constituição sem sentido instrumental depende da constituição formal sendo só relevante quando está
relacionada com a formal. O papel é precisamente dar de conhecer aos cidadãos as normas que foram
criadas para serem constituição.
- As normas formalmente constitucionais podem surgir de 4 maneiras:
1 – Constar de um só texto chamado constituição sendo a hipótese mais vulgar
2 - Constar de vários textos ou documentos elaborados com o carácter constitucional sendo a hipótese de
fazerem várias constituições em vez de uma só.
3 – Constam de um texto chamado constituição e textos posteriormente elaborados como constitucionais:
- Todos juntos formam uma unidade.
- A revisão não feita por inserção das suas normas no texto constitucional
- A revisão é feita por aditamento de leis constitucionais à constituição originária
4 – Constam de um texto chamado constituição e textos anteriormente elaborados como constitucionais.
- Mantidos ou elevados à categoria constitucional
- Leis que assumem o carácter constitucional de acordo com os preceitos da Constituição.
Jéssica Filipa - aluna 50008

EM SUMA:
Em Portugal, a constituição em sentido formal é mais ampla do que a constituição em sentido
instrumental por força do Art.290º da CRP que nos diz que as leis posteriores ao 25 de Abril de 1974 não
indicadas neste capítulo são consideradas leis ordinárias.
Existe um conflito entre duas leis, contudo, a constituição ressalvou as leis do Art.292º para
ressalvar as ideias da revolução levando a que este seja uma exceção do Art.292º, nº1 CRP.
Concluindo, a constituição em sentido formal é mais ampla do que em sentido instrumental porque
esta, para além de abranger a constituição, ainda abrange as leis no Art.292º.
No caso português, a Constituição em sentido formal é menos ampla do que a constituição em
sentido material.
Todas as normas em sentido instrumental para além de serem formais também são materiais.
Existem várias leis ordinárias que regulam matéria com dignidade constitucional Ex.: Estatutos das
Regiões Autónomas, Leis eleitorais, Leis sobre partidos políticos e direitos fundamentais.
Estas leis mantêm o valor das leis ordinárias, mas do ponto de vista do conteúdo podem ser
consideradas como materialmente constitucionais.
Concluindo, a constituição em sentido material é a mais ampla de todas, sendo esta mais ampla
do que a constituição sem sentido formal e em sentido instrumental pois esta abrange toda a matéria com
dignidade constitucional sendo que essas continuam a ser leis ordinárias.

Constituição formal > Constituição instrumental


- Norma instrumentalmente constitucional é sempre formalmente constitucional
- Há normas formalmente constitucionais que não são instrumentalmente constitucionais
- Não estão compiladas num único documento chamado constituição

Constituição material ≠ Constituição formal e instrumental


- Não coincide nem tem de coincidir, nem sequer é desejável
- Por via de regra (há exceções) as normas constitucionais formais têm força jurídica (no topo da pirâmide
normativa) (as meramente materiais não têm)
- Trade-off – custo de oportunidade
- Tem de haver sempre um equilíbrio
- Não pode estar tudo na constituição
- Nem tudo o que tem dignidade constitucional está na constituição
- Razão sobretudo pragmática
- Credibilidade do próprio texto constitucional
- Maneabilidade e praticabilidade em sentido jurídico
- Enfraquecimento das normas constitucionais se tudo tiver força constitucional
- Sob pena de diminuir a dignidade do texto
- Legislador reservado a um papel diminuto
- Categoria intermédia de leis
- Leis de valor reforçado
- Leis intermédios entre a Constituição e as restantes leis todas
- Ex.: Lei do orçamento do Estado

Do ponto de vista ideal, num modelo teórico deveriam coincidir:


- Se tem dignidade constitucional deveria ter força da constituição.
- A realidade prática faz com que isto não seja possível.

Relação entre o sentido instrumental e sentido formal:


Jéssica Filipa - aluna 50008

1ºhipótese: A constituição em sentido instrumental coincide com a constituição em sentido formal


e se os dois conceitos coincidirem é a solução ideal.
2ºhipótese: Momentos em que não há uma constituição em sentido instrumental (ainda não estava
feita) e, entretanto, havia documentos formalmente constitucionais sendo exemplo disso Portugal entre
1974 e 1976. Nesse período há leis constitucionais que são meros avulsos/separados. Não tinham a
unidade de um único documento e foram feitos para serem superiores às outras normas. Eram normas
formalmente constitucionais, feitas com esse intuito e com poder para esse fim com o objetivo de
sistematização própria não versando sobre todos os assuntos (são parciais).
3ºhipótese: Uma única constituição dos EUA de 1787 ainda em vigor com 7 artigos originais. No
estado federal a constituição não é nem pode ser muito pormenorizada porque, além da constituição federal,
há as várias constituições dos Estados Federados que vão complementar a Constituição federal. À
constituição federal norte-americana de 1787 (com algumas alterações) acrescentam-se textos (26) que se
chamam aditamentos à constituição. 1 constituição em sentido instrumental com mais textos separados que
são formalmente constitucionais funcionando em conjunto e não apenas num só documento.
4ºhipótese: No caso português atual há um texto sendo uma constituição em sentido instrumental
elaborada com o intuito de ser constituição em sentido formal. A CRP em sentido instrumental e formal
coincidem praticamente na sua plenitude, mas há umas pequenas partes que não. Porém, o próprio texto
instrumental e formal demonstra que há documentos fora que também têm valor constitucional. A
constituição em sentido instrumental ressalva um documento de valor formalmente constitucional
(acrescenta um documento externo) e a constituição em sentido formal é mais ampla do que a constituição
em sentido instrumental.

5.2 A aplicação destes conceitos à realidade constitucional portuguesa

5.2.1 A importância da existência de uma constituição formal

- Leis formalmente constitucionais (receção material)


- Não integram a constituição em sentido instrumental
- Se violadas, geram inconstitucionalidades

1) Declaração universal dos Direitos do Homem Art.16º,nº2


Trata-se de uma receção formal.
- Os textos formalmente constitucionais não estão na CRP conservando a sua força jurídica, preceitos e
princípios originários.
- A sua interpretação, integração e aplicação é feita de acordo com o seu documento de origem.
- Não sujeita os artigos da DUDH à CRP.
- Conjuga a DUDH e a CRP no que concerne a direitos fundamentais situando-os num contexto
internacional.
- Mais vasto e mais sólido que a constituição em sentido instrumental incutindo à CRP princípios da DUDH
como parte essencial do Direito.
- Todas as normas constitucionais têm de a respeitar.
- A DUDH não assume natureza de direito constitucional.
- Não há uma receção, mas uma mera remissão.
- Assumem que a DUDH tem uma base meramente interpretativa dos preceitos constitucionais.

2) Leis de 1975 e 1976 Art.290º


- Trata-se de uma receção material
- Textos formalmente constitucionais que não estão na CRP
- Incorporados de acordo com o espírito da CRP
- O direito anterior mantém-se desde que não seja contrário à CRP
- Incriminação e julgamento dos agentes responsáveis da PIDE Art.292º, nº1
- Os seus atos eram lícitos e legais à luz da CRP de 1933, mas violavam todos os direitos da CRP
de 1976
- A CRP de 1976 determinava que os atos praticados são crime
- Teve de se fazer uma lei que pode julgar os antigos membros da PIDE.
- Caso não fossem elevadas à Constituição em sentido formal
- Teriam passado a leis ordinárias Art.290º, nº1
- Desvio ao princípio da irretroatividade da lei penal Art.29º
- Não se pode criminalizar algo que aconteceu antes da definição do próprio crime
- Mas há momentos em que há valores que se sobrepõe a outros valores – momentos
históricos ou razões de Estado.
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- Toda a sociedade portuguesa (preâmbulo) considerava que o que aconteceu antes era
tão grave que deveria haver uma consequência mesmo perante um princípio de direito
contrário.
- Seguindo os trâmites normais da CRP
- As leis de incriminação dos PIDE (leis ordinárias previstas no Art.292º) passariam a direito
ordinário
- Estando contra o Art.29º (não retroatividade da lei penal) deixariam de produzir efeitos –
revogação tácita
- Logo têm de manter a posição de lei constitucional
- O Art.290º prevê que o Art.292º se ressalve e continue em vigor

5.2.2 A distinção entre Constituição formal e o conceito mais amplo de Constituição material

- Regra tendencialmente os conceitos coincidem Cf = Cm


- As matérias com dignidade constitucional estão na constituição formal
- A constituição em sentido formal é constituída pelas matérias com dignidade constitucional
- Podem não coincidir – na sua plenitude Cf >Cm e/ou Cm>Cf
- Há assuntos fora da Constituição formal que têm matéria constitucional
- Há assuntos na Constituição formal que não têm razão de ser constitucional, mas são mais
difíceis de se
serem alteradas face à legislação ordinária.
- Normas instrumental e formalmente constitucionais: não são constituição material
- Discussão irrelevante embora tenha valor jurídico constitucional porque gozam de prerrogativas
face às leis ordinárias mesmo não sendo materialmente constitucionais
- Não visam matéria com dignidade constitucional embora estejam inseridas no texto constitucional
- Se estes artigos não estivessem na CRP nada mudava no Estado
- Normas materialmente constitucionais: não são constituição formal ou instrumental
- Normas que não se esgotam na constituição formal ou instrumental
- Leis ordinárias que tratam de matérias que definem o Estado português: têm dignidade
constitucional (não estão na CRP)
- Direitos que não estão no texto da constituição formal

6. Classificação das constituições

O conceito de constituição surgiu no século XVIII e triunfou no século XIX, acusando no século XX as
repercussões dos acontecimentos que o balizam. Assim sendo, a constituição torna-se um conceito aberto
a diversos conteúdos que se proceda a classificação de constituições.

1) Constituição escrita e mista


O critério toma em conta a relevância dada às fontes
Uma distinção possível é a que distingue sistemas essencialmente consuetudinárias, ou seja, entre
constituição consuetudinária, nascida do costume, escrita ou mista.
A constituição escrita baseia-se num texto escrito criado com a intenção de ser constituição.
Tanto pode ser constituição em sentido material como formal enquanto a constituição consuetudinária
só pode ser constituição em sentido material.
Esta distinção tem como base a relevância atribuída às normas escritas comparativamente com outras
normas que não as normas escritas, ou seja, com outras fontes possíveis.
Quase a totalidade dos Estados apresenta hoje uma constituição escrita, um texto escrito criado com
a intenção de ser constitucional. Contudo, alguns países por tradição do sistema de direito não têm
constituição em sentido formal. Significa que não existe um texto escrito com a intenção de ser constituição,
mas existem regras materialmente constitucionais, algumas já escritas o que significa que dificilmente
encontramos hoje uma situação de constituição consuetudinária, mas ainda encontramos uma situação
mista no sistema do escrutínio britânico, onde a lei escrita e o costume estão no mesmo plano.

Constituição escrita
- Encontramos na generalidade dos Estados Contemporâneos sendo um texto escrito com a
intenção de ser constituição.
- Predominam as normas constitucionais escritas e as outras fontes têm um papel meramente
subsidiário, ou seja, servem apenas para completar ou para integrar as normas constitucionais
escritas.
- As normas escritas são a fonte hierarquicamente superior (lei) e as restantes fontes têm um papel
meramente subsidiário (jurisprudência, doutrina, costume).
Jéssica Filipa - aluna 50008

- O costume só é considerado fonte com a função de integrar e completar normas constitucionais


escritas sendo assim fonte de direito constitucional material e não formal.
- Pode-se falar em 3 tipos de costume constitucional:
1) Costume Secundum Legem (segunda lei) – aquele que terá um conteúdo igual ou
coincidente à norma constitucional escrita.
2) Costume Praeter Legem (para além da lei) – aquele que abrange matéria não
abrangidas pela norma constitucional escrita.
3) Costume Contra Legem (contra a lei) – aquele costume que tem um conteúdo contrário
a uma norma constitucional escrita.
NOTA: Só podemos atender ao (2) como fonte de direito constitucional pelo facto de abranger normas que
não estão previstas nas normas constitucionais escritas e porque o (1) não tem autonomia visto que já tem
outras normas com o mesmo conteúdo, e o (3) não faz sentido porque é contrário à norma constitucional
escrita.
- É constituição instrumental
- Pode ser constituição em sentido formal ou material

Constituição consuetudinária
- Há regras de direito, mas funcionam muito com base no costume
- Ficam consagradas com base nas decisões dos tribunais
- Há regras estruturantes da organização do reino, mas não estão todas escritas num
documento escrito constituição
- Nascida à partida do costume (não é escrita)
- Pode ser constituição em sentido material (nunca formal ou instrumental).

Constituição mista
- Sistema constitucional britânico
- Não predominam as normas escritas, ou seja, as normas escritas, o costume e outras fontes
estão no mesmo plano e têm o mesmo valor, não existindo qualquer diferença entre elas
- A inexistência de constituição escrita não significa inexistência de constituição
- Existência de uma constituição não escrita
- Existe uma constituição em sentido material
- Existem normas consuetudinárias sobre a organização do poder político
- Não existe uma lei chamada constituição (em sentido formal)
- Não há diferenciação entre normas escritas e consuetudinárias por serem
constitucionais
- Civil law vs common law – a diferença é o papel da jurisprudência como fonte direta e imediata
da lei
- A jurisprudência acaba por elevar a valor constitucional alguma lei que pelo menos
formalmente está nível das outras
- Há situações que os tribunais se recusam a aplicar determinadas leis invocando as que
violam princípios consagrados noutras leis – o tribunal faz apelo, não apenas à lei x mas sim ao
costume, ao princípio fundamental, vertido no costume e que por acaso também está reduzido a escrito.

- As fontes de direito constitucional no sistema britânico são:


1 – Custom – Prática social da qual nasce uma norma obrigatória e aplicada judicialmente. Se não for
cumprida, é passível de sanção.
2 – Statues – Leis feitas pelo Parlamento e que são elaboradas todas da mesma forma, criam normas que,
do ponto de vista formal, são análogas às nossas leis ordinárias, mas regulam matéria com dignidade
constitucional.
3 – Judicial Precedents – Precedentes judiciais, jurisprudência e decisões de Tribunais que vão interpretar
as normas em funcionamento, interpretanto a Common Law, normas constitucionais ou Statues tendo assim
valor de fontes de Direito Constitucional.
4 – Conventions – Idênticas ao Custom, práticas sociais que vinculam os órgãos do pode político mas que
se distinguem do Custom pela ausência de uma sanção jurisprudencial Ex.:Grã-Bretanha

2) Constituição flexível, rígida e semirrígida


Esta distinção tem como critério base o processo de revisão constitucional proposto por James Bryce
- As leis são alteradas e alteráveis
- Não é por ser uma constituição rígida que não pode ser alterada
- Forma como a constituição pode ser alterada
- Se é mais fácil ou mais difícil alterar a CRP em comparação com as leis ordinárias
- Existência de regras próprias para poder alterar a constituição

Constituição Flexível
- Pode ser revista pelo mesmo processo das leis ordinárias
Jéssica Filipa - aluna 50008

- Não há regras específicas para alterar o texto da constituição


- Não há distinção entre o procedimento legislativo ordinário e o procedimento da revisão
constitucional Ex.: Grã-Bretanha

Constituição Rígida
- Só pode ser modificada de acordo com um processo específico
- Processo distinto do processo legislativo ordinário
- Exige uma transmissão específica para a revisão da constituição Ex.: CRP, Constituição dos EUA,
Constituição francesa
- As constituições rígidas, em regra, comportam vários tipos de limites ao poder de revisão
constitucional. Podem ser:
1 – Limites Formais – O órgão competente para a revisão constitucional é o mesmo que aprova a legislação
ordinária em Portugal, mas não pode ser assim e haver distinção
- Órgão encarregado de revisão constitucional
- Órgão legislativo ordinário
- Órgão legislativo especial
2 – Limites Circunstanciais – Períodos em que não se podem fazer revisões constitucionais resultando da
verificação de situações de perturbação da ordem política ou social (Estado de sitio ou de emergência).
Não visam assegurar a permanência da constituição e vão impedir que a perturbação coage os
encarregados da revisão.
3 – Limites Materiais – Visam assegurar a permanência da Constituição realçando aspetos que constam da
constituição e que a própria determina que devem ser respeitados. Além disso, determinadas matérias que
não podem ser objeto de revisão constitucional ou podem ser mas de forma limitada.
4 - Limites Temporais – Visam assegurar a permanência da constituição sendo que a mesma deve conter
os pilares de funcionamento da sociedade. Pressupõe que não esteja suscetível a mudanças com muita
rapidez e que a alteração desses pilares não deve ocorrer de forma prematura. Visam a ideia de dar alguma
estabilidade.

Constituição Semirrígida
- Certa parte pode ser revista por processo análogo ao legislativo ordinário.
- Certa parte só pode ser revista mediante um processo específico.
- Constituição dividida em 2 ou mais partes
- Uma mais flexível em que é tão fácil alterar as normas constitucionais como as leis
ordinárias e outras partes que têm limites.

EM SUMA:
- Critério clássico – Apenas se baseia nos limites formais
- Hoje – Há outros limites ao poder constituinte derivado, poder de alteração constitucional
- Revisão total – O poder de revisão está subordinado ao poder constituinte originário e é apenas possível
quando a constituição o preveja expressamente. Sob pena de existir uma rotura constitucional:
- Revisão formal – criação de um novo texto constitucional
- Revisão material – alteração da principologia
- Entende-se que para a distinção entre constituição rígida e flexível há que ter em conta, para além do
processo de revisão, os limites apostos a esse processo pelas constituições. O critério básico baseava-se
apenas em limites formais.
- Entende-se então que deve ter em linha de contar a existência ao menos de limites formais, temporais e
materiais para a distinção entre constituição rígida e flexível.
- As constituições rígidas acrescentam à prevalência hierárquica das normas constitucionais sobre as leis
ordinárias uma outra característica: prevalência formal dadas as exigências para a revisão.

3) Constituição normativa, nominal e semântica


Esta distinção tem como critério ontológico proposto por Karl Loewnstein
Concordância das normas constitucionais com a realidade do exercício do poder constitucional.
- Tese de que uma constituição escrita não funciona por si mesma
- Depende do meio social e político que a constituição deve ser aplicada
- Deve ser vivida pelos detentores e destinatários do poder

Constituição normativa Ex.: Países Ocidentais


- As normas constitucionais dominam o processo político.
- O processo do poder adapta-se às normas constitucionais e submete-se a elas.
- Os seus preceitos operam como controlo da atividade e tutela dos governantes.
- A constituição é válida e eficaz:
- Válida porque tem um conteúdo que se espera para uma constituição - limita o poder
político e defende os direitos fundamentais.
Jéssica Filipa - aluna 50008

- Eficaz porque traduz a realidade do país em que é aplicada – Funciona e é vivida. No


sentido de cumprir o fim a que se destina. A sociedade sente-se vinculada por aquela
constituição e cumpre-a. Condiciona quem está vinculado e segue a norma condicionando
o legislador e os atores políticos seguindo o seu conteúdo.

Constituição nominal Ex.: Estados Africanos, Asiáticos e CRP 1976 + 1933


- A dinâmica do processo político não se adapta às suas normas.
- A constituição carece da realidade existencial.
- Os pressupostos sociais e económicos operam contra uma concordância absoluta entre as
normas constitucionais e as exigências do processo do poder.
- Acontece porque o constitucionalismo ocidental e democrático se implantou sem uma prévia
preparação espiritual ou política.
- A constituição é válida, mas ineficaz:
- Válida porque tem um conteúdo que se espera para uma constituição - limita o poder
político e defende os direitos fundamentais. Juridicamente está em vigor produzindo efeitos jurídicos – é
apenas de iure.
- Ineficaz porque não traduz a realidade do país em que é aplicada não funcionando, não
sendo válida nem seguida e não condiciona os que deveria condicionar. Não condiciona os destinatários
em todos os aspetos (apenas alguns) e há normas que são juridicamente válidas, em vigor, que produzem
efeitos jurídicos, mas as normas não são observadas pela sociedade.

Constituição semântica Ex.: Sistema de governo ditatorial e CRP 1826 + 1933


- Formalização da situação do poder político existente em benefício de detentores do poder.
- A constituição é inválida, mas eficaz:
- Inválida porque não limita o poder político sendo um mero instrumento de estabilização
do poder político e não é elaborada de acordo com os cânones de direito liberal violando
os principais fundamentais de um Estado de Direito.
- Eficaz porque é observada e seguida na prática sendo vivida de forma como está
redigida. É imposta não estando de acordo com os valores e ideias dominantes, é apenas
de facto.

4) Constituição utilitária e ideológica-programática


Esta distinção tem como critério o conteúdo da constituição, num critério cronológico feita com base na
evolução das constituições.
- Esta distinção tem pouco relevo.
- Maior parte das constituições contemporâneas são programáticas com maior ou menor grau
ideológico.
- Mesmo as constituições liberais ainda vigentes não são rigorosamente neutras, está-lhes sempre
implícita certa ideologia.

Constituição utilitária
- 1ª Constituições típicas do Estado Liberal (conteúdo mínimo)
- Só serve para existir não tendo nenhum objetivo patente porque o momento histórico ainda não
o permite.
- Utilidade da constituição fixando os direitos fundamentais, tendo como princípio a separação de
poderes e limitando o exercício do poder político.
- Já envolvem alguma parte ideológica não contemplando normas ideológico-programáticas.

Constituição Ideológica-Programática Ex.: CRP 1933 e 1976


- Surge na transição para o Estado Social e Democrático de Direito
- Possui um conteúdo ideológico acentuado tendo uma determinada ideologia e um determinado
programa (objetivos).
- A constituição determina quais são os objetivos a que se propõe o Art.9º (Conteúdo, programa e
objetivo).
- Estabelece a organização do poder político, objetivos económicos e sociais e a constituição
económica.

7. Classificação das normas constitucionais

- As normas constitucionais são normas jurídicas.


- Podem agrupar-se tendo em conta diversos critérios.
- Normas constitucionais escritas, criadas pelo poder constituinte originário ou pelo poder constituinte
derivado, como principal realidade jurídica integradora de uma constituição.
- Tendo em conta a eficácia podemos distinguir entre:
Jéssica Filipa - aluna 50008

1) Normas constitucionais preceptivas


- São de aplicação direta devido à sua natureza sendo que a sua eficácia não depende de condições
institucionais ou de facto.
- Norma constitucional que determina uma regra
- Não é necessária a existência de uma lei ordinária
- A norma constitucional é suficiente para fazer valer o direito
- As especificidades serão complementadas em legislação ordinária
- Vinculam diretamente todos os sujeitos do direito – destinatários:
- Legislador Ordinário
- Particulares/Empresas
- Por norma consagram direitos subjetivos do particular ou têm conteúdo diretamente aplicáveis

2) Normas constitucionais programáticas


- Normas de aplicação diferida
- O que está escrito na CRP não chega para fazer valer o direito
- A norma da CRP determina que o Estado deve legislar sobre o assunto
- Sem esse pormenor a norma não funciona
- É preciso algo mais
- Os objetivos não resultam da norma
- É preciso estabelecer políticas de atingir esse fim.
- Norma da constituição que estabelece objetivos a serem atingidos
- Indicam uma intenção, um programa
- Consagram incumbências legiferantes – destinatário legislador- obrigação de legislar
- Estabelece incumbências para o Estado (não necessariamente de legislação)
- Nunca pode ser exequível porque a natureza estabelece incumbências para o Estado.
- Dirigem-se apenas aos órgãos do poder (ao Estado)
- Têm como destinatário o legislador (órgão do sistema político)
- Não podem ser invocados em tribunal pelos cidadãos uma vez que não lhes dirigem, nem
regulamentam relações entre os particulares antes se destinam aos órgãos do poder, não podem fazer
valer direitos com base nestas normas antes de serem concretizadas.
- Determinam a inconstitucionalidade de normas anteriores que disponham em contrário: enquanto
o direito pré-constitucional de conteúdo contrário: enquanto o direito pré-constitucional de conteúdo
contrário a normas preceptivas é automaticamente revogado, o contrário a normas programáticas
mantém-se em vigor até ser declarada a inconstitucionalidade superveniente pois não se pode falar
neste caso de um contraste direto e pontual.
- Possuem um sentido proibitivo duplo: proíbem a emissão de normas legais contrárias e pratica
de atos que tendam a impedir a produção de atos por elas impostos.
- Função: incumbir o legislador de uma determinada tarefa.

3) Normas constitucionais exequíveis


- Consegue-se extrair um determinado conteúdo mínimo aplicável.
- Invocável por um particular mesmo que não haja legislação específica sobre ele (que pode existir).
- Aplicáveis por si só uma vez que é direta e imediata.
- Sem necessidade de lei que as complemente.
- O conteúdo é claro e retire-se da própria norma conseguindo determinar com rigor o alcance específico
deste direito e sendo possível extrair o modo de funcionamento que a norma consagra. Não é necessária
nenhuma intervenção do legislador para tornar aquele direito aplicável.
- Caso não existe legislação ordinária o cidadão poderia invocar o seu direito porque a CRP regula de forma
específica e só com base no preceito constitucional o particular poderia invocar esse direito – é
perfeitamente percetível.

4) Normas constitucionais não exequíveis


- Necessita de intermediação legislativa
- Necessita de uma normação do legislador para tornar aquela norma exequível no sentido de
atribuir uma posição jurídica subjetiva precisando de normação do legislador.
- Carecem de normas legislativas que as tornem plenamente aplicáveis
- Não está tudo escrito na CRP
- Não se consegue retirar da CRP um conteúdo mínimo
- A lei ordinária vai ter que completar e explicar como se faz
- Falta alguma resposta legislativa que o antigo constitucional não dá
- O conteúdo do direito não é determinável a partir do preceito constitucional
- Normalmente direitos económicos e sociais porque precisam da intermediação do Estado que legisle sobre
conteúdo em concreto e implica uma prestação por parte do Estado.
Jéssica Filipa - aluna 50008

EM SUMA:
Todas as normas exequíveis por si mesma podem considerar-se preceptivas, mas nem todas as
normas preceptivas são exequíveis por si mesmas.
As normas programáticas são todas as normas não exequíveis por si mesmas o que quer dizer
que a segunda classificação é mais envolvente do que a primeira porque, entre as normas não exequíveis
por si mesmas, tanto se encontram normas programáticas como preceptivas.
Enquanto as normas programáticas se dirigem a todos os órgãos do poder exigindo não só uma
lei, como decisões políticas, administrativas ou matérias para se efetivarem, as normas não exequíveis por
si mesmas preceptivas dirigem-se apenas ao legislador ordinário para que se torne efetivas.
A norma exequível por si mesma atualiza-se ou efetiva-se por si só.
Entre as normas preceptivas e programáticas não há uma diferença de natureza ou de valor. Umas
e outras são normas jurídicas e constitucionais, as diferenças assinaladas são de estrutura e de projeção
da norma de ordenamento, ou seja, enquanto a preceptiva necessita de normas ordinárias para se tornar
exequível, a pragmática é mais consistente.

8. O Poder Constituinte

8.1 Definição e espécies


- Poder de elaborar normas constitucionais ou de criar uma constituição.
- Poder de elaborar a lei fundamental
- Como se organiza o Estado
- Quais os seus órgãos
- Como funciona
- Poder mais elevado
- É através dele que o Estado se realiza plenamente
- O órgão que o vai exercer vai determinar uma opção global para o futuro no que diz respeito a
toda a organização daquele Estado.
- Em sentido amplo
- Produção de todas as normas constitucionais incluindo as consuetudinárias
- Em sentido estrito
- Elaboração de normas constitucionais escritas
- Trave mestre do ordenamento jurídico
- Como se predominam os sistemas constitucionais escritos vamos usar este conceito no sentido estrito,
ou seja, o poder de criação de normas constitucionais escritas.
- Para criar uma constituição em sentido formal é necessário exercer o poder constituinte.
- Poder ou faculdade atribuído a um órgão com competências de criar normas constitucionais e decidindo
assim o futuro daquela constituição.
- O poder constituinte pode ser:

1) Poder Constituinte Originário


- É lógica e cronologicamente anterior à Constituição pelo que não lhe está vinculado. (1)
- É o poder de criar uma constituição ex novo.
- Para um Estado que nunca teve uma constituição ou para um Estado cuja constituição não sirva por
virtude de uma desagregação social.
- Poderes criados pelo poder constituinte originário – poderes constituídos Legislativo, Executivo, Judicial e
Poder constituinte derivado.

(1). O poder constituinte originário é anterior aos poderes constituídos


A – A constituição define-os e enquadra-os.
B – Não podem ser exercidos fora do âmbito da Constituição
C – Estes poderes resultam do exercício das definições previstas na CRP e são cronologicamente
posteriores ao poder constituinte.

2) Poder Constituinte Derivado


Jéssica Filipa - aluna 50008

- Poder de revisão da constituição existente


- Corrigir imperfeições
- Colmatar imperfeições
- Adaptar à evolução da sociedade
- Faculdade concedida pela constituição
- Tem de respeitar as normas constitucionais
- Poder constituído, são todos os restantes poderes criados pelo poder constituinte originário: o legislativo,
executivo e judicial.

O ato constituinte, o ato jurídico criador da constituição legal, a que corresponde a constituição em
sentido formal, é sempre um ato intencional.
A vontade que está na origem tanto poder unilateral como bilateral:
- No ato unilateral há um só sujeito do poder constituinte, seja o povo, o monarca ou qualquer outro
detentor singular ou colegial da soberania.
- No ato bilateral há dois sujeitos do poder constituinte, sejam o povo e o monarca ou um grupo. O
ato constituinte bilateral é necessariamente um auto complexo, para alguns um ato-união.
Pode ser também um ato complexo resultante da adição ou aglutinação de atos vindos de dois ou
mais órgãos. O poder constituinte é logicamente anterior e superior aos ditos constituídos (legislativo,
executivo e judicial).
A constituição define-os e enquadra-os: não podem ser exercidos senão no âmbito da constituição
e as decisões e as normas que resultem desse exercício não podem contrair o sentido normativo da
constituição.
O poder constituinte não é um poder soberano, está sujeito a limites.

8.2 Natureza e Características

Quanto à sua natureza, a questão coloca-se porque ela surge da atribuição de poderes de criação de
um texto constitucional a uma entidade que normalmente resulta de uma revolução ou de um Golpe de
Estado, visto que em períodos de normalidade social não se manifesta este poder. Sendo assim, questiona-
se qual a natureza deste poder, ou seja, como se ele vai resultar de um golpe de Estado, isto é, se ele é
apenas um poder de facto ou se pode ser considerado um poder jurídico.
Existem fundamentalmente 2 teses:

1) Tese dos positivistas


- O principal defensor é Kelsen.
- As revoluções são atos contrários ao direito uma vez que o poder vai cair necessariamente nas mãos dos
mais fortes e, por isso, será uma manifestação de força.
- O poder constituinte originário reside na Nação.
- É exercido através dos representantes.
- As revoluções são atos contrários ao direito (lei do mais forte).
- Por isso, os atos preparatórios de uma constituição são pré-jurídicos.
- A revisão Constitucional acontece com a desagregação social existindo a necessidade de criação de uma
nova constituição.
- Por isso, o poder constituinte originário é legitimo (deriva das ideias políticas) mas ilegal.
- Só será legalizado posteriormente depois da criação da constituição.
- Portanto, para os positivistas é apenas um poder de facto.
- Só o poder constituinte derivado é jurídico.

2) Tese contemporânea
- A que tem mais adesão
- As revoluções não são propriamente um facto ou um fenómeno contrário ao direito.
- Podem ser e normalmente são contrárias ao Direito da ordem constitucional derrubada.
- São um fenómeno que é regulado pela sua própria ideia de Direito.
- Portanto, as revoluções não visam acabar com o Direito, mas sim substituir uma ideia por outra.
- A revolução já tinha a sua ideia de Direito subjacente.
- As revoluções são uma rotura na ordem constitucional e não uma rotura da ordem constitucional.
- Não rompem com o direito.
- Transformam a substância de Direito
- O poder constituinte originário é um poder jurídico.

Assembleia da República – exercício de poderes constituídos


- É representativa de todos os cidadãos
- É criada pelo poder constituinte: existe e resulta do texto da constituição (É o exercício dos poderes
constituídos)
Jéssica Filipa - aluna 50008

- A AR tem determinados poderes:


- A AR pode rever a constituição
- Não há nada que impeça o órgão legislativo de criar normas constitucionais porque se continua
a cumprir o conceito de constituição em sentido formal e porque existe essa previsão constitucional
prevista pelo poder constituinte originário.
- É um poder constituído porque resulta do texto da CRP.

Exercício do poder constituinte originário


- Resulta da atribuição de poderes de elaboração no texto constitucional a uma entidade emergente de uma
resolução.
- Só é exercido em 3 casos:
1. Quando há uma rotura de ordem constitucional
2. Perante um golpe de Estado
3. Quando existe um novo Estado
- Tese dos positivistas
- Tese contemporânea

Exercício do poder constituinte derivado


- É o poder previsto no Art.284º e seguintes, mas ao mesmo tempo é um poder constituído previsto no
Art.161º, a)
- A exercer nos termos dos Art.282º a 289º.
- O poder de revisão é uma manifestação do poder constituinte.
- No nosso caso porque a CRP é rígida
- O poder de revisão é exercido de acordo com as regras previstas na CRP
- É também um poder constituído
- O poder constituinte derivado não tem de ser rígido, mas no nosso caso é porque as regras estão lá e por
isso temos de observar o que está escrito na constituição.
- No nosso caso o poder constituinte derivado é também um poder constituído.

EM SUMA:
O poder constituinte originário cria os poderes constituídos.
O poder constituinte derivado:
- Art.161º, a) + 282º é a AR que faz as revisões constitucionais
- É a AR que tem essa tarefa
- Isto é o poder constituído
- Mas a CRP é rígida (Art.284º a 289º)
O legislador constituinte originário estabeleceu regras para se alterar o próprio poder constituinte
- Uma revisão faz se de acordo com o poder constituinte originário
- O poder constituinte originário previu regras para fazer revisões constitucionais atribuindo esse
poder na AR
- Mas isso é alterar normas constitucionais que, por definição, é o poder constituinte derivado.
- As duas coisas são verdade:
- O poder constituinte derivado = um poder constituído
- Há tantos poderes constituídos quantas competências existem na constituição (há
muitos poderes constituídos criados na constituição).

Caraterísticas do poder constituinte originário segundo Abade Sieyès:


- Este poder cabia ao povo ou à Nação
- Os poderes criados pela constituição seriam a emanção da vontade do povo ou da nação
- Os poderes criados pela constituição seriam a emanção da vontade do povo ou da nação
- O povo delegava parte dos seus poderes às entidades constituintes, mas conservava para si o seu poder
constituinte.
- Nesta perspetiva atribuiu ao poder constituinte originário três características:
1) Inicial não existindo antes dele qualquer poder que lhe sirva de fundamento e criar pela 1º vez um
conjunto de regras estruturantes de um grupo social.
2) Autónomo porque só a ele lhe compete decidir se, como e quando deve elaborar a constituição e de
forma independente.
3) Onipotente não estando subordinado a nenhuma regra de fundo ou de forma e não está sujeito a
limitações ao criar uma constituição.

Poder constituinte formal e poder constituinte material


- Poder constituinte formal é poder de elaborar normas constitucionais escritas e é o poder de criar um
complexo normativo ao qual se atribui a força de constituição.
- Poder constituinte material é a faculdade de selecionar, de entre as normas materialmente constitucionais,
as que também devem ser constitucionais do ponto de vista formal.
Jéssica Filipa - aluna 50008

Para este primeiro teorizador não existe qualquer limite ao poder constituinte originário quer formal
quer material, pois ele seria omnipotente.
Com a evolução da sociedade no século XX, o entendimento mudou e desde essa altura entendeu-
se que ele é inicial, autónomo, mas seria onipotente. E não é omnipotente porque em todas as sociedades
existe uma ordem de valores que são anteriores à própria constituição e essa ordem constitui pilares da
própria civilização. Esses valores não são eternos, mudam com o tempo e consoante o tipo da sociedade
e fazem parte da maneira de sentir do próprio povo. E, como tal, o poder constituinte ao criar a constituição
tem a necessidade de os respeitar porque senão vai criar normas inconstitucionais.
Não existe limites ao poder constituinte formal, mas haverá alguns limites quanto ao poder
constituinte material.
A constituição não pode consagrar por exº desigualdades, poligamia, tortura, pois, seria
formalmente constitucional, mas materialmente inconstitucional.
O poder constituinte mesmo da natureza originária não é ilimitado, omnipotente (Há várias
correntes e preveem uma origem diferente dos limites).
Quanto aos limites ao poder constituinte originário:
1) Limites formais
- Maioria
- Órgão previsto
2) Limites materiais
- Tem de respeitar a ordem de valores anteriores à constituição
- Tem de respeitar os pilares morais da civilização
- Resulta da civilização e não da natureza humana
3) Limites de legitimidade
- Deve respeitar o sentimento dominante da sociedade a que se dirige
- A constituição, além de válida, tem de ser legitima
- Deve estar de acordo com os interesses e aspirações do povo
- Logicamente não há um consenso universal, mas deve haver uma sintonia dos critérios de justiça,
valores e ideias enraizados na sociedade.
4) Direito natural
- Valores éticos superiores de uma consciência jurídica coletiva que se impõe à vontade do Estado
5) Regras do direito internacional
- Conjunção com outros ordenamentos jurídicos
6) Direitos humanos
- Noção de dignidade humana
7) A forma do estado
- Limites ligados à configuração do Estado
- Limites que se reportam à soberania do Estado

8.3 Formas de exercício do poder constituinte

São condicionadas pelas estruturas económicas, políticas e sociais dominantes em cada sociedade e em
cada momento histórico.
Existem fundamentalmente três formas de exercício:

1) Forma Democrática
- Pressupõe a participação da vontade popular
- É o povo, em liberdade, quem exerce o poder constituinte
- Intervindo direta ou indiretamente na elaboração da constituição
- Pode ser:
- Representativa onde o poder constituinte cabe ao povo e o mesmo elege os seus representantes
onde estes reúnem-se na Assembleia Constituinte elaborando a Constituição.
- Direta onde o poder constituinte é exercido diretamente pelo povo e a constituição é elaborada
por uma assembleia formada por todos os cidadãos eleitorais pelo povo sem mediação de
quaisquer representantes.
- Semidireta ou referendária onde a constituição é elaborada por um órgão eleito e é submetida à
aprovação popular. Os cidadãos votam através de um referendo.

2) Forma Ditatorial ou Autocrática


- É exercido por um individuo ou um grupo de indivíduos sem a participação do povo.
- Pode ser:
- Monocrática quando o poder é exercido por um só indivíduo:
- Monárquica onde o monarca elabora uma constituição à Nação
Jéssica Filipa - aluna 50008

- Bonapartista quando o ditador elabora a constituição em nome do povo


- Autocrática quando o poder é exercido por um grupo de indivíduos e pode ser feita a título próprio
ou em nome do povo.

3) Forma Mista ou Pactuada


- A constituição resulta de um acordo entre o monarca e o povo (ou os seus representantes).
- Pode ser:
- Plebiscitária (CRP 1933)
- Misto de bonapartismo e democracia
- Elaborada por um individuo (poder ditatorial)
- Submetida a aprovação popular
- Pactuada ou Dualista
- Misto de democracia e monarquia
- Resulta de um acordo entre a Assembleia Representativa e o monarca.
- Outras formas também são possíveis: pode o acordo ocorrer entre o monarca e uma
autoridade não monárquica ou entre o povo e uma autoridade monárquica e revolucionária.

Conteúdo do exercício do Poder Constituinte


- As constituições inseridas de forma democrática no exercício do poder constituinte têm um conteúdo
democrático.
- As constituições nascidas de forma ditatorial de exercício do poder constituinte podem ter um conteúdo
ditatorial (bonapartista) ou democrático.

9. Subsistência e Modificação da Constituição

O poder constituinte originário foi exercido no nosso país 6 vezes:


- O poder constituinte originário deu origem a novas constituições
- Houve 6 novas constituições em Portugal
- Criou-se uma nova constituição mesmo havendo anterior: não se queria manter
O exercício do poder constituinte através de uma forma democrática apenas por 3 vezes:
- Através de uma assembleia constituinte que criou uma constituição
- 1822
- 1826 e 1838 através do poder monárquico
- 1911
- 1933 através do plebiscito
- 1976
Na constituição de 1976 foram usadas 7 vezes o poder constituinte derivado:
- Revisão constitucional Ex.: 1982/89/92/97/2001/04/05
- A constituição tem de ser republicada com os devidos ajustes Art.287º, nº2 sendo que a lei constitucional
nasce e morre quando aparece e a CRP terá os artigos em conformidade com a lei constitucional.
- A constituição continua a ser um só documento.

Para Duverger:
- O poder constituinte derivado é omnipotente e incondicionado (tal como poder originário).
- A revisão total é sempre possível

Para Burdeau e Hariou:


- O poder constituinte derivado está limitado pelo poder constituinte originário
- O poder constituinte derivado está sujeito a limites consagrados na constituição
- O poder constituinte originário só pode ser exercido em caso de rotura constitucional
- A revisão total só é possível quando a constituição o preveja ou em caso da rutura constitucional

A relação existente entre estes poderes tem interesse quanto à revisão total da constituição.
Assim, enquanto para os primeiros autores a revisão total é sempre possível, para os segundos
só é possível quando a própria constituição o preveja pois de outro modo a revisão total será uma rutura na
ordem constitucional
A revisão total pode ser formal quando engloba todo o texto constitucional, quando engloba a
alteração da principologia filosófica da constituição, alterando as normas constitucionais caracterizadoras
de um Estado.
Mesmo que a constituição preveja a revisão total, será apenas formal porque teremos sempre
limites materiais implícitos.
Deve-se assegurar a continuidade da constituição para que ela possa cumprir a sua tarefa o que
implica não só a proibição da revisão total, mas também alterações que devastem a identidade da própria
constituição.
Jéssica Filipa - aluna 50008

A revisão pode consistir em:


- Modificação de um preceito constitucional – substituição
- Eliminação de um processo constitucional – supressão
- Introdução de um preceito constitucional – aditamento
As substituições deixam normalmente intocado o âmbito material da constituição, apenas alteram
o regime. Já as outras duas intervenções não, pode acontecer que as supressões venham a retirar da
constituição certa matéria.

Dois fenómenos podem ainda ocorrer:

1) Rutura Constitucional onde são regulamentações constitucionais específicas, contrárias ao regime


genérico consagrado na constituição e que vale para os restantes casos. No entanto, são
admitidas pela própria constituição e só se verificam em casos excecionais
Ex.:
- Auto-ruturas, disposições constitucionais de conteúdo contrário a outras normas constitucionais gerais e
abstratas.
- Os atos decorrentes da vigência do regime do estado de sítio ou estado de emergência. Atos estes que
podem ser leis, atos políticos ou administrativos. A constituição admite esta rutura para poder sobreviver.
- Lei-medida constitucional, consiste na possibilidade, respeitados os limites ao poder de revisão, de a
revisão revestir a forma de uma lei concreta na modalidade de lei-medida. Caso em que a revisão criaria
certos regimes concretos, diferentes dos regimes genéricos consagrados na constituição.
NOTA: Quer as auto-ruturas, quer os atos decorrentes de regimes excecionas integram-se na própria
constituição. Já as ruturas introduzidas pela revisão dependem da existência ou não de limites materiais
estreitos ao poder de revisão.

2) Desconstitucionalização que consiste na transformação de normas constitucionais anteriores em


normas legislativas ordinárias. Pode ser:
- Originária resultando do exercício do poder constituinte originário
- Superveniente resultando do exercício do poder de revisão
- Expressa se a transformação é expressamente prevista na constituição
- Tácita se a transformação resulta do silêncio do legislador sobre normas que não revoga
de forma explicita.
NOTA: Mas a revisão tem de ser expressa. A nível constitucional não pode existir a incerteza que
eventualmente possa ser encontrada no ordenamento infraconstitucional. A constituição é influenciada
pelas estruturas económicas, políticas e sociais em vigor numa dada comunidade e num dado momento
histórico.
Como garantias:
- Redução das possibilidades de verificação de ruturas constitucionais
- Maleabilidade do texto constitucional para se adaptar às novas circunstâncias económicas,
políticas, sociais, culturais, etc.
- Sobrevivência da constituição é a consagração de limites ao exercício do poder de revisão.
O desfasamento entre constituição e a realidade constitucional pode levar à formação de normas
constitucionais consuetudinárias de conteúdo contrário ao de normas escritas e pode levar a ruturas na
ordem constitucional

9.1 Limites de revisão constitucional

Os limites são regras previstas para a alteração da Constituição (rígida).


A rigidez de uma constituição é caracterizada pela existência de limites formais, temporais ou materiais
ao processo de revisão.
Em geral, todas as constituições admitem o poder constituinte.

1) Limites Formais
- Dizem respeito ao procedimento para alterar a constituição (estabelecimento de regras para o processo
de revisão constitucional).
A. Órgão compete para exercer a iniciativa de revisão:
- Parlamento
- Executivo (Governo)
- Iniciativa Partilhada (Governo+AR)
- Iniciativa Popular
B. Órgão competente para aprovar a lei de revisão:
- Um órgão especial ou específico cujos titulares são eleitos apenas para a tarefa de revisão
constitucional e órgão distinto do órgão legislativo.
Jéssica Filipa - aluna 50008

- Órgão legislativo ordinário com ou sem referendo e com ou sem parecer de outro órgão.
- O mesmo órgão que tem a iniciativa, mas renovado, pois, há eleições e as pessoas não são as
mesmas.
C. Maioria Exigida
- Momento de votação – contagem de votos (Apuramento de resultado)
- As deliberações podem ser tomadas por:
- Unanimidade (100%)
- Maioria simples ou relativa
- Qualificada (absoluta, 2/3, ¾,…)

2) Limites Temporais
- Impõe um determinado prazo para se poder realizar uma revisão constitucional
- Objetivo de assegurar uma certa estabilidade às instituições constitucionais
- Possibilidade ou não de antecipar por via de maioria qualificada

3) Limites Materiais
- Matéria, assuntos ou conteúdos que, pela sua natureza ou determinação constitucional, são consideradas
essenciais e que por isso não podem ser alteradas.
- Procuram garantir estabilidade social e respeito pela ideia de direito que a constituição originária
estabeleceu (Art.288º).
- Classificação dos limites materiais:
- Objeto:
- Limites inferiores – impedem a inserção de novas matérias na constituição. São limites
à constitucionalização.
- Limites superiores – impedem que certas matérias sejam objeto de revisão
constitucional. São limites à desconstitucionalização. Normalmente, nas constituições, o
que mais existe são limites superiores.
- Natureza:
- Expressos – quando a própria constituição fixa um conjunto de matérias que são
consideradas como o seu núcleo essencial e, por isso, não podem ser objeto de revisão
constitucional.
- Implícitos – limites materiais que não são expressamente indicados, mas decorrem do
próprio texto constitucional/normas constitucionais.
- Podem ser imanentes ou textuais implícitos
- Imanentes são aqueles que decorrem da ordem de valores próprios de cada civilização
e que é superior à própria constituição e como tal, condicionam não só o poder constituinte
originário, como o de revisão.
- Textuais implícitos são os limites materiais que se encontram implícitos nas normas
constitucionais em vigor.
- Âmbito:
- Princípios gerais – não impedem que se altere normas constitucionais concretas desde
que não se altere a essência de tais princípios.
- Disposições concretas – impedimento da alteração dessas disposições/normas.

4) Limites circunstanciais
- Impedimento de realizar uma revisão constitucional em períodos de perturbação da ordem política ou
social.
- Estado de sítio (guerra)
- Estado de emergência (catástrofes)
- Sob pena dos órgãos de revisão estarem coagidos e não atuarem com rigor.

9.2 O poder de revisão constitucional na atual Constituição portuguesa


O título II da parte IV é dedicado à matéria de revisão da constituição
Da leitura dos Art.282º e seguintes da constituição concluiu-se que a CRP é rígida porque exige para
a sua modificação um processo mais exigente em comparação com o processo de modificação das leis
ordinárias. O legislador ordinário não pode livremente alterar a CRP. É uma garantia da CRP. A rigidez
constitucional é um limite absoluto ao processo de revisão. Assegura uma relativa estabilidade da CRP:
1. Revisão extraordinária (se aplicável).
2. Iniciativa
3. Projeto
4. Voto
5. Aprovação
6. Promulgação
7. Publicidade
Jéssica Filipa - aluna 50008

8. Entrada em vigor

1) Limites Formais
- Iniciativa
- Compete só aos deputados apresentar projetos de revisão constitucional e a iniciativa da lei de
revisão é especial.
- Mais exigente que a iniciativa exigida às leis ordinárias
- Deputados
- Grupos Parlamentares
- Governo
- Assembleias Legislativas Regionais
- Grupos de cidadãos eleitorais
- Aprovação
- Compete só à AR aprovar revisões constitucionais sendo a AR o órgão legislativo ordinário.
- O órgão competente para a aprovação da revisão constitucional é o mesmo com competência
legislativa, mas renovado por eleições (a legislatura dura 4 sessões legislativas)
- Maioria
- Regra especial de 2/3 dos deputados em efetividade de funções.
- 230 deputados (máximo e é o que vigora)
- Regra de maioria para as decisões maioria simples
- Exigência de publicação do texto completo em cada revisão
- Há quem considere ser um limite formal

2) Limites Temporais
- Revisões ordinárias
- De 5 em 5 anos
- Contados a partir da data de publicação da última lei de revisão ordinária
- Conjugar com o Art.171º de 5 em 5 anos para dar tempo à renovação parcial da AR (de 4 em 4
anos).
- Revisões extraordinárias
- Possibilidade de antecipar o prazo de revisão
- Exigências de aprovação de 4/5 (para a iniciativa, não aprovação)
- Tem mesmo de haver uma vontade de todos os representantes do povo para se conseguir atingir
os 4/5 (vários governos partidários)
- Maioria exigida para justificar a superação do limite temporal
- Publicada no DR

3) Limites Circunstanciais
- Impossibilidade de fazer revisão perante estado de sítio ou emergência
- Estado de sítio ou emergência:
- Declarado pelo PR
- Ouvir o Governo
- Autorização da AR
- Incumprimento do formalismo – inconstitucionalidade formal (ato inexistente)

4) Limites Materiais
- Núcleo essencial da CRP
- Visam garantir os princípios fundamentais
- A sua permanência é necessária para a identidade da CRP
- Alteração dos limites materiais – 2 possibilidades
- O limite não impede a alteração das normas
- Apenas impede a revisão total das normas
- Os limites materiais devem ser respeitados, mas podem ser modificados
- Os limites não podem ser alterados devendo sempre manter a sua expressão
- Ex.: Direitos Fundamentais
- Limite absoluto
- Possibilidade de revisão alargar o âmbito
- Impossibilidade de revisão eliminar 1 direito
- Ex.: Separação e Interdependência dos órgãos de soberania
- É possível alterar o sistema de governo
- Tem de garantir a separação dos órgãos
- Pode-se alterar os poderes do PR (não se pode ter Rei)
- Limites materiais implícitos
- Estão no Art.288º mas não estão explicados
- Decorrem do texto constitucional
Jéssica Filipa - aluna 50008

- O Art.288º não lista os artigos que não podem ser modificados


- Coloca as matérias por disposições específicas
Ex.: Integridade de território nacional, direitos, liberdades e garantias sufrágio
- Os limites materiais da CRP são superiores
- Significa que as matérias do Art.288º não podem deixar de figurar na CRP
- São limites à desconstitucionalização
- Impede que se remova do texto estas matérias
- Também existe limites inferiores (não na nossa CRP)
- Matérias que não podem ser constitucionalizadas
- Matérias que nunca podem ser escritas na Constituição
-Isso não existe na nossa CRP – pode-se por o que quiser

9.3 A problemática dos limites materiais

Tese Posição
Tese da irrelevância jurídica dos limites materiais Os limites materiais são ilegítimos e ineficaz
Tese da relevância jurídica absoluta dos limites Os limites materiais são imprescindíveis e
materiais insuperáveis
Tese da relevância jurídica relativa dos limites Os limites materiais são admissíveis, mas com
materiais ou do duplo processo de revisão carácter relativo

Coloca-se a questão de saber se os limites materiais serão:


1) Limites absolutos
- Não podem ser superados pelo exercício do poder de revisão
- Os limites materiais da CRP são expressos

2) Limites relativos
- Não impedem a alteração das normas constitucionais
- Apesar de condicionarem o exercício do poder de revisão
- Devia ter um nº2 “os limites materiais não podem ser alterados”

Surgiram, na nossa doutrina, várias teses sobre a relevância jurídica dos limites materiais:

1) Tese da irrelevância jurídica dos limites materiais


- Tudo na constituição escrita pode ser objeto de revisão
- O Art.288º é uma indicação, mas não é inultrapassável
- A soberania não pode ser limitada ad eternum pelo legislador
- Se assim fosse haveria um golpe de Estado sempre que a constituição deixasse de estar em conformidade
com a realidade.
- O povo tem o poder soberano, se o povo quer faz-se

2) Tese da relevância jurídica relativa dos limites materiais


- Os limites materiais não podem, por si só, impedir alterações
- Obrigação à adoção de 2 processos de revisão
- Os limites materiais não são absolutos – existem – devem ser respeitados
- Igualdade entre o poder constituinte originário e o poder de revisão
- O Art.288º tem de ser respeitado enquanto lá estiver, mas o próprio artigo não diz que ele próprio não
pode ser alterado – então pode.
- Tese do duplo processo de revisão
- 1º elimina-se o limite da forma republicana do Art.288º, b)
- 2º elimina-se a matéria da República Art.1º

3) Tese da relevância jurídica absoluta dos limites formais


- O Art.288º contém um núcleo essencial de matérias que caracterizam a CRP e não é possível alterá-lo
sem perder a identidade da CRP
- O poder de revisão é um poder derivado, logo subordinado ao poder constituinte originário
- Alterar limites materiais seria criar uma Constituição

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