Tema 5 - Motivação
Tema 5 - Motivação
Tema 5 - Motivação
iH I i I Í I i 12
Motivação
Objetivos
Ao completar o estudo deste capítulo, você
deverá estar preparado para explicar e exercitar
as seguintes ideias:
Introdução
Motivo, motivação, mover, movimentar e
motor são todas palavras modernas que têm a
mesma origem e estão associadas à mesma ideia:
a palavra latina motivus, que significa aquilo
que movimenta, que faz andar. O estudo da
motivação é um dos temas centrais do enfoque
comportamental, porque é necessário compreen-
der os mecanismos que movimentam as pessoas,
254 Enfoque Comportamental
1 Significado da motivação
A palavra motivação é usada com diferentes significados. Pode-se falar em motiva-
ção para estudar, ganhar dinheiro, viajar e até mesmo para não fazer nada. A palavra
motivação indica as causas ou motivos que produzem determinado comportamento, seja
ele qual for. A motivação é a energia ou força que movimenta o comportamento e que
tem três propriedades:
Objetivo do comportamento
motivado; direção para a Magnitude da motivação: Duração da motivação:
qual a motivação leva o quão motivada a pessoa durante quanto tempo a
comportamento. A pessoa está está? pessoa ficou motivada?
motivada para fazer o quê?
A motivação é específica. Uma pessoa motivada para trabalhar pode não ter moti-
vação para estudar ou vice-versa. Não há um estado geral de motivação, que leve uma
pessoa a sempre ter disposição para tudo.
No campo da administração, a expressão pessoa motivada usualmente significa
alguém que demonstra alto grau de disposição para realizar uma tarefa ou atividade
de qualquer natureza. No entanto, as pessoas também se motivam para fazer coisas
que vão na direção oposta à desejada pela empresa, como greves, sabotagens, roubo
de mercadorias ou invasões de fábricas que demitem funcionários. Por causa disso, o
estudo da motivação para o trabalho desperta grande interesse entre administradores
e pesquisadores, dada a importância de entender e se possível manejar o estado de dis-
posição para realizar tarefas.
As teorias sobre a motivação, que explicam o desempenho das pessoas em situações
de trabalho, dividem-se em dois grupos. Há um grupo de teorias que procura explicar
como funciona o mecanismo da motivação. São as chamadas teorias de processo. O segundo
grupo procura explicar quais são os motivos específicos que fazem as pessoas agir. São
as chamadas teorias de conteúdo. Veja:
Motivação 255
.. . . . ... ...
r
,~- u' =~~ ~- ' -~.· ~--=---,-~
i I
I TEORM$ Dfi PROCESSO> noRIAS DE CONTEÚDO: I
' procuram expliçar como fuMÍona procuram expliçar quais fatores ou I
a motívaçãg. ~stlmulofo motivam as f1essgas. I
' . . . .. i
1. Modelo do comportamento 1. Teorias clássicas
. da expectativa
2. Teona . 2. Teorias das necessidades
3. Behaviorismo 3. Frustração
2 Modelo do comportamento
O modelo do comportamento (Figura 12.1) é provavelmente a teoria mais simples
que explica como os motivos determinam o comportamento. É o modelo que fornece
uma explicação fácil para o entendimento das ações individuais. O modelo baseia-se em
três hipóteses principais:
Figura 12.1
Modelo do
c) L~--P-Es_s_o_A_~I c) .
comportamento
que se baseia na '---E-ST-íM_u_Lo
_ OBJETIVO
_j i
ideia de que todo
comportamento I
é acionado por I
algum tipo de
I.
estímulo. I
I
'
:-,,-:1
1 I·' I 256 Enfoque Comportamental
! 'i'
: ::
2.1 Comportamento
Qualquer ação ou manifestação observável das competências e características indi-
viduais, como falar, pensar, escrever, decidir ou não fazer nada, é comportamento.
2.2 Motivação
O comportamento é sempre motivado por alguma causa interna ao próprio indivíduo
(motivos internos) ou alguma causa externa, do ambiente (motivos externos). Motivação,
neste modelo, é sinônimo da relação de causa e efeito no comportamento das pessoas.
Motivação não significa entusiasmo ou disposição elevada; significa apenas que todo
comportamento sempre tem uma causa.
2.3 Objetivo
Objetivo é o resultado que o comportamento procura alcançar. Pode ser atender a
uma necessidade, comprar um carro novo, a felicidade, entrar na universidade, ganhar
uma promoção, descansar. A realização do objetivo pode ser impossibilitada por três
obstáculos: frustração, conflito e ansiedade.
- " ~ w ~
I
i
i;Í I" No modelo do comportamento, o comportamento de todas as pessoas é similar,
no sentido de que o mecanismo de funcionamento de todas as pessoas tem o mesmo
i! ! desenho: todos são influenciados por motivos e perseguem objetivos. Desempenham
papel importante no modelo as diferenças individuais, influenciadas pelas variáveis
'li ambientais, que relativizam tanto os motivos quanto os objetivos, tornando-os mais ou
,li menos importantes, dependendo de cada pessoa. As demais teorias de processo e de
conteúdo introduzem elementos que explicam a influência dessas diferenças individuais
sobre os motivos e os objetivos. A primeira teoria importante que sofistica o modelo do
:I,! comportamento é a teoria da expectativa, que descreve como o objetivo pode ter maior
:ql
11,1 ou menor importância para as pessoas.
1.'1
:·"
i,'I' . I
I,
i
Motivação 257
3 Teoria da expectativa
A teoria da expectativa (expectancy theory) propõe que as pessoas se esforçam para
alcançar resultados ou recompensas, que para elas são importantes, ao mesmo tempo
em que evitam os resultados indesejáveis. Trata-se de uma teoria hedonista, segundo a
qual as pessoas escolhem os comportamentos em função da perspectiva de satisfação ou
insatisfação que os resultados desses comportamentos proporcionam.
A teoria da expectativa retrata a ideia intuitiva de que o esforço depende do resul-
tado que se deseja alcançar. Esta teoria pode ser exemplificada pelo estudante que pre-
tende entrar na universidade (a recompensa) e para isso precisa passar pelo vestibular
(o desempenho). Para passar pelo vestibular, é preciso fazer um programa de estudo
intensivo (o esforço). Assim como o estudante, as pessoas, em geral, são motivadas pela
crença de que seu esforço produz o desempenho que lhe permite alcançar os resultados
que desejam. De acordo com a teoria da expectativa, a motivação é função da crença
de que é possível alcançar um resultado, multiplicada pelo valor atribuído ao resultado:
A teoria da expectativa procura explicar a cadeia de causas e efeitos que liga o es-
forço inicial ao resultado ou recompensa final. Os componentes principais da teoria da
expectativa são os seguintes: o valor dos resultados, a associação entre o desempenho e
a recompensa e a associação entre o esforço e o desempenho (Figura 12.2).
Figura 12.2
De acordo com
a teoria da
expectativa, OBJETIVO
ESTiMULO PESSOA
o esforço
depende
do valor
percebido da
recompensa. ESFORÇO
EXPECTATIVA INFLUENCIADO PELO
DE RECEBER A VALOR ATRIBUÍDO À DESEMPENHO
RECOMPENSA RECOMPENSA E PELA
EXPECTATIVA DE ALCANÇÁ-LA
Motivação 259
é preciso estudar. Para alcançar a promoção, é precisq trabalhar e assim por diante. Para
entender esta parte da teoria da expectativa, é preciso perguntar:
• Para você é importante ser promovido. Você acredita que estudar bastante é
necessário para ser bem avaliado e ser promovido. Você irá fazer todo esforço
para estudar o necessário para ser bem avaliado e ser promovido.
• Para você, é importante ficar com a família. Você acredita (por experiência
própria ou observação) que as pessoas que são promovidas têm que se dedicar
mais ao trabalho e são obrigadas a ficar longe da família. Você deixará de se
esforçar para ser promovido, porque ficar longe da família é para você um
resultado indesejável.
• Você trabalha em uma cadeia de fast food para sustentar seus estudos. A em-
presa oferece aos empregados um elogio de "melhor fazedor de hambúrguer
da semana". Para você, o elogio não tem nenhum valor e, além disso, para
consegui-lo, você deve trabalhar mais do que deseja, para não comprometer
seus estudos. Você não fará nenhum esforço para receber o elogio.
• Deputados, senadores e juízes corruptos enriquecem por meios ilícitos, tais como
desviar dinheiro de projetos e obras públicas, por acreditarem que, devido aos
cargos que ocupam, nada lhes acontece.
4 Behaviorismo
O behaviorismo é um ramo do estudo do comportamento que se baseia em expe-
rimentações de laboratório com animais. Os princípios do behaviorismo são usados
para treinar os golfinhos e baleias dos parques de diversões. Este ramo de estudo não
focaliza especificamente a motivação humana para o trabalho, mas suas proposições e
hipóteses oferecem alguns elementos para a compreensão dos mecanismos que ativam
:i
o comportamento humano, especialmente no que diz respeito à recompensa. O beha-
viorismo é uma área controversa do enfoque comportamental, dada sua associação
! com o adestramento de animais. No entanto, aborda conceitos que o administrador
i
,,:J
moderno deve conhecer.
I'
I:
f
t, 4.1 Condicionamento operante
'
I,,· O primeiro conceito importante do behaviorismo é o condicionamento operante.
Segundo B. E Skinner, o principal pesquisador e ideólogo do behaviorismo, o compor-
tamento é reforçado por suas próprias consequências (chamadas reforços). Sempre que
o organismo apresentar a necessidade de sobreviver, atender a alguma necessidade ou
proteger-se, e o comportamento produzir esse resultado, haverá a tendência de repetição
desse mesmo comportamento. Como o organismo repete o comportamento para obter o
mesmo resultado, o behaviorismo é também uma teoria que explica alguns mecanismos
de aprendizagem.
O mecanismo de repetição é chamado condicionamento operante. O comportamento
que se repete chama-se comportamento operante, ou apenas operante. Como o compor-
tamento produz o efeito desejado, a pessoa fica condicionada a repeti-lo nas situações de
necessidade. Muitos comportamentos na situação de trabalho são operantes. Por exemplo:
usar temo e gravata ou chegar na hora em que o expediente tem início.
'I :
Motivação 261
Figura 12.3
Exemplo de
condicionamento
operante.
D D D D
ESTIMULO RESPOSTA ESTIMULO DE RESPOSTA NÃO
CONDICIONADO OPERANTE REFORÇO CONDICIONADA
CONDICIONADA
4.3 Punição
Punição ou castigo é a consequência desagradável que ocorre após algum compor-
tamento. Pode parecer que a punição é o oposto da recompensa e que, portanto, o com-
portamento que se castiga tende a não se repetir. Porém, o comportamento não funciona
assim. Enquanto a recompensa aumenta a probabilidade de repetição do comportamento,
não parece que o castigo aumente a probabilidade de evitá-la. O castigo é um método
ruim de motivação, porque:
4.5 Extinção
'! Extinção é o que acontece quando o comportamento não é reforçado e tende a de-
I saparecer. Um comportamento condicionado a uma recompensa enfraquece e tende a
'
I desaparecer quando a recompensa não é fornecida.
I
:.1
5 Teoria da equidade
~
O ponto central da teoria da equidade (ou teoria do equilíbrio) é a crença de que as
..lji i recompensas devem ser proporcionais ao esforço e iguais para todos. Se duas pessoas
'~"
I
realizam o mesmo esforço, a recompensa de uma deve ser igual à da outra. Idealmente,
, I
:'I
deve haver equidade ou equilíbrio. As premissas da teoria da equidade estabelecem que
i.: as pessoas sempre fazem comparações entre seus esforços e recompensas com os esforços
1.'·' e recompensas dos outros, especialmente quando há algum tipo de proximidade.
,,,
'.· .. ;'.'1;
1;1 A dissonância cognitiva, analisada no Capítulo 11, é o que as pessoas sentem quando
1 I'
i:,ljil percebem a falta de equidade. Há desarmonia entre a expectativa de igualdade e o que
:'!:,":i:: acontece na realidade: alguns esforçam-se menos e conseguem mais, ou vice-versa. A
teoria da equidade ajuda a entender a reação das pessoas à distribuição das recompensas
'' no grupo de trabalho e sua influência sobre a motivação.
I'
As comparações são feitas com base em referências, que são outras pessoas ou a
própria pessoa, numa situação diferente. Há quatro tipos principais de referências:
Motivação 263
r.
I
264 Enfoque Comportamental
1I .
1 corresponde a uma hipótese sobre a nature,za humana. Uma quarta hipótese reconhece
'.1':: !!;~li que as três primeiras são simplificações e estabelece que a natureza humana é comple-
xa demais para ser explicada por apenas um motivo. A hipótese correspondente é a do
! I homem complexo.
.'·I::., ·,·r·
i'':
I
A Figura 12.4 apresenta um resumo dessas hipóteses, explicadas a seguir.
Figura 12.4
, HIPÓTESES SOBRE A MOTIVAÇÃO f!UMANA
Quatro
hipóteses Homem econômico..,racional A motivação encontra-se na perspectiva do ganho. O
convencionais motivo importante é ter bens materiais.
sobre a
motivação Homem social A motivação é o grupo. Os motivos Importantes são o
humana. reconhecimento e a aceitação pelos colegas.
Figura 12.5
Hierarquia de
necessidades, • Necessidades
com dois sociais
• Materiais
grupos. INFLUENCIADAS
• Psicológicas
PELA SOCIEDADE,
• Interesses
PERSONALIDADE
profissionais
E DIFERENÇAS
NECESSIDADES
INDIVIDUAIS
SECUNDÁRIAS
• Alimentação
• Reprodução
NECESSIDADES
• Abrigo COMUNS A
PRIMÁRIAS
• Segurança TODAS AS
PESSOAS
1 Necessidades básicas
2 Necessidades adquiridas
Figura 12.6
Hierarquia das
necessidades NECESSIDADES DE
humanas) AUTORREALIZAÇÃO
segundo Maslow.
NECESSIDADES
DE ESTIMA
NECESSIDADES
SOCIAIS
NECESSIDADES
DE SEGURANÇA
NECESSIDADES
BÁSICAS
Essa visão a respeito da motivação é bastante positiva. De acordo com essa teoria de
Maslow, as pessoas estão em processo de desenvolvimento contínuo. As pessoas tendem a
progredir ao longo das necessidades, buscando atender uma após outra, e orientando-se
para a autorrealização. A autorrealização não está, necessariamente, no topo da hierar-
quia- não é uma necessidade em si nem a necessidade definitiva, aquela que só pode ser
satisfeita uma vez que todas as demais tenham sido atendidas. A autorrealização pode
ocorrer em qualquer ponto da escala da motivação, e com o atendimento de qualquer
tipo de necessidade, dependendo do indivíduo.
Outro ponto importante na noção da hierarquia das necessidades é a predominância
de determinada necessidade sobre as demais. Uma necessidade ou um grupo de neces-
sidades pode ser predominante nos motivos internos de uma pessoa, devido a fatores
como idade, meio social ou personalidade.
8 Teoria ERG
Clayton Alderfer é o autor de uma versão revista da teoria de Maslow. Sua proposta
tem o nome de Teoria ERG. Alderfer entende que há três grupos principais de necessi-
dades (cujas iniciais formam a sigla):
Alderfer difere de Maslow porque acredita que a satisfação das necessidades não é
sequencial, mas simultânea. Dois princípios formam a base da teoria de Alderfer:
'
i
'
Motivação 269
9 Teoria de McClelland
Outra teoria que se baseia na ideia das necessidades foi proposta por David Mc-
Clelland. Ele identificou e estudou três necessidades específicas, que se encaixam nas
propostas por Maslow, ou a elas se acrescentam. Essas necessidades específicas são as
seguintes: necessidade de realização, necessidade de poder e necessidade de associação
ou filiação (Figura 12. 7).
Figura 12.7
DEfiNIÇÃO
Três
necessidades Necessidade de realização nAch Necessidade de sucesso, avaliado
estudadas por (achievemeni) segundo algum padrão internalizado de
McClelland. excelência.
As pessoas nAff, com necessidade de associação, por outro lado, valorizam as rela-
ções humanas. Não se preocupam tanto com as realizações e preferem atividades que
proporcionem muitos contatos com outras pessoas.
270 Enfoque Comportamental
As pessoas que têm alto nível de nPow (elevada necessidade de poder) procuram
cargos que tenham poder e procuram também influenciar outras pessoas e seu ambiente.
,li·
:.:
• Pode-se satisfazer à necessidade de poder de muitas maneiras (controle de
recursos, informação e pessoas).
il
I.
• Normalmente, a necessidade de poder desconsidera o valor material - o que
importa é o que se consegue fazer com o poder.
• Normalmente, pode-se contar com os nPows para realizar atividades extras.
Segundo McClelland, os nPows têm duas orientações distintas: poder pessoal e poder
institucional. O poder pessoal é perigoso porque pode conduzir à tentativa de domina-
ção, ao passo que o poder institucional é benéfico porque enfatiza o desenvolvimento de
grupos eficazes, trabalho organizado, recompensas equitativas e o bem da organização.
Esta ideia de McClelland será retomada no estudo da liderança.
1O Frustração
As necessidades humanas "motorizam" o comportamento humano de diferentes
maneiras. Em primeiro lugar, a própria manifestação das necessidades, conforme sua
intensidade e natureza, impulsiona as pessoas a procurar objetivos como empregos, reali-
zação pessoal, satisfação de vaidades ou outros interesses individuais. Em segundo lugar,
a incapacidade de satisfazer a uma necessidade produz um sentimento de frustração.
A frustração que decorre da necessidade insatisfeita, ou da percepção de falta de
equidade, gera outras manifestações do comportamento humano. Uma necessidade in-
satisfeita, cada vez mais intensa, produz crescente sentimento de frustração e ansiedade.
I
Como consequência dessa frustração, pode ser que uma pessoa adote um comportamento
'I de fuga, compensação, agressão ou deslocamento. Em seguida, serão analisados os efeitos
.I, da frustração no ambiente de trabalho .
Motivação 2 71
10.1 Compensação
A compensação consiste em buscar uma forma alternativa de satisfação de uma
necessidade ou buscar a satisfação de uma necessidade alternativa. Por exemplo, pro-
curar outro emprego ou profissão, quando não há possibilidade d,; progredir, filiar-se a
uma associação profissional ou sindicato, para defesa de interesses não atendidos pelo
empregador, ou dedicar-se a alguma atividade derivativa, artística ou esportiva, que
possibilite liberar tensões.
10.2 Resignação
A resignação consiste em entregar-se a um estado de desânimo ou passividade ("eu
desisto", "não adianta lutar", "é o destino", "é assim que tem que ser"). A resignação dos
funcionários é um estado mental que pode ser interessante para os gerentes autoritários,
porque a passividade produz a obediência. Numa situação de trabalho, a resignação
manifesta-se po.r meio da apatia, da depressão e do desinteresse pela organização e seus
objetivos. Não sem razão, diz-se das pessoas que se encontram neste estado que elas
estão desmotivadas.
10.3 Agressão
A agressão compreende ataques físicos ou verbais, associados a sentimentos de
ira e hostilidade. A agressão pode ser um palavrão, chute na parede, ou martelo que o
operário "deixa cair por acidente", no prédio em construção, na cabeça do mestre de
obras. Considera-se como agressão apenas o comportamento de fundo emocional, e não
aqueles comportamentos que usam a agressão como estratégia. Por exemplo, o jogador
de futebol que empurra um adversário com o corpo não o está agredindo, a menos que
o empurrão seja deliberadamente agressivo ou causado por raiva.
resulta de fatores que podem ser divididos eD;l duas categorias principais, como mostra
a Figura 12.8:
Figura 12.8
A teoria de
Herzberg divide Fatores higiênicos
os fatores que
influenciam o
desempenho
Fatores motivacionais
em dois grupos:
os que se
CONTEÚDO DO TRABALHO
relacionam
ao conteúdo
e os que se
relacionam ao AMBIENTE DE TRABALHO
contexto do
trabalho.
~·~
1. Fatores relacionados ao próprio trabalho, chamados fatores motivacionais ou
I' intrínsecos.
,li
:,i ~I
• Conteúdo do trabalho em si (natureza das tarefas e sua sintonia com os
111
1,!:1 interesses e qualificações da pessoa).
I,··~
.." I
I • • Sentido de realização de algo importante.
• Exercício da responsabilidade.
• Possibilidade de crescimento.
• Orgulho e sentimento de prestígio decorrentes da profissão.
• Reconhecimento pelo trabalho bem feito.
Ambiente de trabalho produz satisfação ou insatisfação com o próprio ambiente, mas não
motivação para o trabalho.
>
segundo MOTIVACIONAIS MOTIVACIONAIS
Herzberg,
SATISFAÇÃO NÃO SATISFAÇÃO
representam
duas dimensões <,---------JI I
independentes
da motivação.
INSATISFAÇÃO
< c==>
AUSÊNCIA DE
FATORES
PRESENÇA DE
FATORES
NÃO INSATISFAÇÃO
HIGIÊNICOS HIGIÊNICOS
Figura 12.10
Efeitos da FATORES HIGI~NICOS FATORES HIGIÊNICOS
combinação AUSENTES PRESENTES
de fatores • Salários baixos • Salários e benefícios
higiênicos e • Não há benefícios satisfatórios
o Condições de trabalho • Ambiente físico de
motivacionai.s trabalho agradável
precárias
no trabalho. • Equipe sem sintonia • Ambiente humano
amigável
Figura 12.11
HERZBERG MASLOW
Uma
comparação FATORES MOTIVACIONAIS AUTORREALIZAÇÃO
entre a teoria
dos doi.s fatores Trabalho em si
Desafio ESTIMA
de Herzberg
Responsabilidade
e a teoria da
hierarquia das SOCIAIS
necessidades de
Maslow. SEGURANÇA
FATORES HIGIÊNICOS
NECESSIDADES BÁSICAS
Grupo de trabalho
Carreira
Emprego e salário
Ambiente físico de trabalho
276 Enfoque Comportamental
Diversas técnicas específicas, algumas dl'las muito atuais, têm os princípios do enri-
quecimento do trabalho. Os grupos autogeridos, que serão estudados no final do livro,
são a principal modalidade de "trabalho enriquecido" nas organizações da atualidade.
Figura 12.12
O conceito
de qualidade
de vida n,o
trabalho amplia FATORES DE MOTIVAÇÃO
as teorias (conteúdo do cargo)
tradicionais da
motivação.
FATORES DE SATISFAÇÃO
(ambiente de trabalho)
Segundo esse enfoque, saúde não é apenas ausência de doenças, mas também o
completo bem-estar biológico, psicológico e social. Esta definição, adotada pela Organi-
zação Mundial de Saúde (OMS) em 1986, abre espaço significativo para a compreensão
e administração de fatores psicossociais na vida moderna, especialmente no ambiente
de trabalho. Um desses fatores é o stress.
As teorias convencionais da motivação preocupam-se predominantemente com a
satisfação das pessoas, sem abordar explicitamente o stress. No entanto, a correlação
entre o stress e o trabalho é evidente. Atividades que rl'querem exaustivo esforço físico, ou
que são alienantes, ou realizadas em ambiente de tensão, produzem efeitos psicológicos
negativos, mesmo que a pessoa esteja fisicamente bem. O stress depende da capacidade
de adaptação, que envolve o equilíbrio entre a exigência que a tarefa faz a quem a rea-
liza e a capacidade da pessoa que a realiza. Equilíbrio produz bem-estar. Sem equilíbrio,
resultam diferentes graus de incerteza, conflito e sensação de desamparo. O equilíbrio,
--- I
:I
Motivação 2 77
J
I
ou desequilíbrio, pode ser produzido não apenas pela, tarefa, mas por uma conjuntura.
Já se observou, por exemplo, que uma situação de crise econômica e a perspectiva da
perda do emprego deixam as pessoas em estado de grande tensão. Uma pessoa que perde
o emprego pode passar a sofrer de diversos males, decorrentes da perda de estima pela
dificuldade de recolocação. Tão sério é esse problema que algumas empresas investem
no apoio psicológico a seus executivos.
Além do enfoque biopsicossocial, o conceito de QVT baseia-se em uma visão ética
da condição humana. A ética, como base da QVT, procura identificar, eliminar ou, pelo
menos, minimizar todos os tipos de riscos ocupacionais. Isso envolve desde a segurança
do ambiente físico, até o controle do esforço físico e mental requerido para cada ativida-
de, bem como a forma de gerenciar situações de crise, que comprometam a capacidade
de manter salários e empregos.
A QVT pode ser avaliada sob dois ângulos: a satisfação dos funcionários e as práticas
da empresa. :I
li
I
'
'
I'[
12.1 Satisfação dos funcionários I
i I
Quanto maior a satisfação dos funcionários, mais alta é a qualidade de vida no tra-
balho. Os funcionários podem estar mais ou menos satisfeitos, não apenas com os fatores
ii' I
:i
motivacionais e higiênicos (conforme mostrou o Capítulo 10), mas também com outros
fatores, como sua própria educação formal, vida familiar e oportunidades para desfrutar
de atividades culturais e sociais. Estes dois últimos estão claramente fora do ambiente
de trabalho. No entanto, é inegável seu papel na saúde psicológica e na produtividade :I
1
].
• Alguns executivos têm sérias dificuldades para assimilar a divisão de respon- ··'
'
Para lidar com problemas como esses, algumas empresas oferecem programas de
apoio psicológico. Esses programas procuram realizar objetivos como:
i' I
I
Estudo de caso: Diálogo na livraria
:1!
li.;
Moisés, Massahiro e Lívio são amigos desde que se conheceram na faculdade. Moisés
está há pouco tempo trabalhando como estagiário em uma corporação multinacional.
I
L.~
,,
Motivação 279 i
I
i
i;
Um dia destes, Moisés encontrou em uma livraria seus .amigos Massahiro, que é professor
de um colégio particular, e Lívio, que também é estagiário em outra grande empresa.
Massahiro: E então, Moisés, que nos conta de seu novo emprego?
Moisés: Ah, Massahiro, é uma empresa grande, com atuação no mundo todo, cheia de
recursos e benefícios. Como desafio, estou gostando muito. Só que há alguns problemas, I!I'
que estou precisando discutir com alguém. E vai ser com vocês. Imaginem, meus amigos, ,I
''i
que nessa empresa há gerentes que acreditam que os funcionários devem trabalhar até i iI
tarde, sem horário para sair, em nome da lealdade à empresa.
Massahiro: Ah, essa história é conhecida. Pelo que sei, muita gente pensa e age I''
assim. A propósito, há pouco tempo uma revista de negócios publicou um artigo sobre '
li
o sucesso dos executivos. A recomendação principal era a seguinte: se você quiser fazer
carreira, tem que se dedicar totalmente. Você não tem o projeto de se tornar um alto
executivo, Moshe? Então ...
Lívio: Na minha empresa, todo mundo leu esse artigo. Meu chefe, o presidente, pensa
desse jeito. Ele acha que o funcionário só pode sair depois do chefe. Não pergunte o que
a empresa pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer por ela.
Massahiro: Tenha dó, Lívio. Não me diga que você leva isso a sério. Eu achei esse
artigo uma obra-prima do mau gosto. Um canto de louvor ao sacrifício pessoal em nome
da competitividade de uma empresa que, quando não precisar mais de você, te dá um
pé no traseiro. Oh, quanta nobreza.
Lívio: Escute, Massa, se há trabalho para fazer, as pessoas precisam ficar até quando
for necessário. Depois, os mais dedicados são recompensados. Sempre foi assim. Pergunte
a quem é diretor ou presidente. Só faz carreira quem vive para a empresa.
Moisés: Sim, é verdade, mas fica todo mundo neurótico. Na empresa em que estou
agora, ninguém mais tem direito à vida pessoal. Ninguém mais pode pegar filho na escola
ou ir ao cinema. Até nos fins de semana tem trabalho para fazer. E o diretor de recursos
,,li
humanos tem a coragem de dizer que "precisamos de gente que ame a empresa". Ora,
1'.
com licença.
I
Lívio: Moisés, e o que há de errado nisso? De fato, quem trabalha mais é mais eficien- I
te e mais competitivo. Veja os japoneses, que se matam por suas empresas. Além disso,
a convivência entre pessoas que enfrentam os mesmos problemas reforça o espírito de I
I '
equipe. Veja os japoneses novamente. Eu acho que, se você quiser subir na empresa, e
eu quero, tem que deixar outras coisas em segundo plano.
Massahiro: Eficiente, espírito de grupo? Eu não acredito! Tenha a santa paciência,
Lívio-san! Eficiente é quem trabalha menos, como já dizia Taylor há quase 100 anos.
Como? Você não sabe quem foi Taylor? Em que escola você estudq? Eficiente é quem
trabalha menos e não mais, é claro. Esse argumento seu é de gente ineficiente, que não
consegue fazer o trabalho direito durante o horário normal do expediente. Essa gente é
ineficiente, isso sim, e fica vendendo essa lorota da dedicação. Depois, faça isso com as
pessoas para ver o que acontece. Elas ficam frustradas, doentes e acabam se tornando
ineficientes. Isso se não se matarem, literalmente. Ou se não matarem os chefes e cole- ,,
,.
'
gas antes, como acontece de vez em quando no chamado Primeiro Mundo. Há, há, há ...
280 Enfoque Comportamental
Lívio: Calma, Massa, não se exalte. Nem faça ironia do Moisés aqui. Se seguirmos suas
ideias, todo mundo debanda e a empresa fica às moscas. Aliás, meu amigo, interessante
sua posição, não é mesmo? Você que é professor, certamente sabe que há professores
que ficam pulando de uma escola para outra, de manhã até a noite. E no fim de semana,
corrigindo provas. Também sem tempo para mulher, filhos e diversão. Não é seu caso?
Como se explica isso?
'I Massahiro: Isso é diferente, pessoal. O professor ganha de acordo com o quanto
trabalha. Na empresa, você ganha a mesma coisa, trabalhando mais ou menos.
Moisés: Sim, Massa, mas há a perspectiva da promoção para os mais dedicados. Mas,
de qualquer forma, acho que há algo de errado nisso. Parece que não há mesmo muito
trabalho para fazer, ainda mais agora. As pessoas ficam até tarde só para mostrar que
vestem a camisa e ganhar pontos com seus chefes.
Questões
1. Que problemas de administração de pessoas estão ilustrados neste caso?
2. Quais teorias explicam as motivações e frustrações dos três personagens?
3. Faça uma síntese dos argumentos de cada um dos personagens e indique quem está
concordando com quem.
4. Indique com qual personagem você mais se identifica.
5. Qual é seu ponto de vista a esse respeito? Como você defenderia seus argumentos?
Faça uma síntese das respostas de seus colegas de grupo.